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Projeções de produção para as principais commodities do mercado brasileiro.
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PROJE
ES PARA O AGRONEGCIO
BRASILEIRO
www.fiesp.com.br/outlook
Outlo
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2024
PROJEES PA
RA O AGRONEGCIO BRASILE
IRO
Outlook Fiesp2024
4 capa 1capa
Outlook Fiesp 2024PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO
So Paulo, 2014
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 3
Catalogao na Fonte
Federao das Indstrias do Estado de So Paulo Outlook Fiesp 2024: projees para o agronegcio brasileiro / Federao das Indstrias do Estado de So Paulo. -- So Paulo: FIESP, 2014.100 p. : il.
Bibliografia. ISBN: 978-85-7201-017-7
1. Agronegcio 2. Projees 3. Fertilizantes 4. China 5. Economia agrcola 6. rea plantada 7. Produo agrcola 8. Consumo domstico 9. Exportao 10. Uso da terra I. Ttulo
CDU 338.13F293o
Catalogao na Fonte
4 Outlook Fiesp 2024
PresidentePaulo Skaf
DEPARTAMENTO DO AGRONEGCIO
Diretor TitularBenedito da Silva Ferreira
DiretoresDiviso de Insumos: Mario Sergio Cutait
Diviso de Produtos de Origem Vegetal: Laodse Denis de A. Duarte
Diviso de Produtos de Origem Animal: Francisco Srgio Turra
Diviso de Caf, Confeitos, Trigo e Panificao: Nathan Herszkowicz
GerenteAntonio Carlos P. Costa
Equipe TcnicaAnderson dos Santos
Fabiana C. Fontana
DiretorJos Roberto Mendona de Barros
Alexandre Mendona de Barros
Jos Carlos Hausknecht
Equipe TcnicaAna Laura Menegatti
Cesar de Castro Alves
Eduardo Pessina
Francisco Queiroz
Renata Marconato
Federao das Indstrias do Estado de So Paulo
Departamento do Agronegcio DEAGRO
Av. Paulista, 1.313, 5 andar
CEP: 01311-923 So Paulo SP
www.fiesp.com.br
deagro@fiesp.org.br
MB Agro Consultoria
R. Henrique Monteiro, 90, 12 andar
CEP: 05423-020 So Paulo SP
www.mbagro.com.br
contato@mbagro.com.br
Projeto Grfico e Diagramao: Laura Doi/Studio MRK
Reviso: Hassan Ayoub
Impresso: Grfica HRosa Ou
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p 2
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PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 5
O Outlook FIESP 2024 Projees para o Agronegcio Brasileiro refora a importncia do Brasil
no cenrio internacional de alimentos, fibras e energia: o Pas aumentar a j relevante partici-
pao no comrcio internacional de produtos como a soja e o acar, que atingiro, em 2024,
o patamar de 50% e 55% das exportaes mundiais, respectivamente, alm de manter uma
grande presena comercial nas protenas animais, como as carnes bovina e de frango, entre
outros destaques positivos. Nesse caso, ampliar a condio de maior supervit comercial agr-
cola do mundo nos prximos dez anos. Esse desempenho seguir favorecendo diretamente as
indstrias ligadas ao setor, que, em termos nacionais, representam cerca de 40% do total do
PIB do Agronegcio.
No entanto, apesar do desempenho favorvel de longo prazo, sustentado por slidos funda-
mentos de demanda global, existe uma srie de variveis ainda em aberto, dentro e fora do
Brasil, cujos desdobramentos afetaro, j em 2015, tanto a produo quanto o consumo, com
reflexos para o futuro.
Sob a tica internacional, aguardada uma safra mundial recorde para a soja e o milho, com
destaque para os Estados Unidos, o que tem depreciado os preos internacionais, com refle-
xos na queda da expectativa de agentes desse segmento, como as indstrias de insumos e os
produtores agrcolas. Contribui para isso o provvel aumento dos juros da economia norte-
-americana em 2015, acompanhado pela reduo dos mecanismos de estmulo economia
dados pelo Banco Central (Fed) daquele pas.
Algumas notcias vindas de fora, por outro lado, favoreceram o Brasil, j que os recentes
embargos da Rssia a pases da Unio Europeia e aos EUA abriram oportunidades para o
incremento das exportaes brasileiras de carnes, embora no se saiba ao certo quando e
como a situao ser normalizada. Espera-se, de qualquer modo, a fidelizao de uma parte
importante do mercado russo at l, dando continuidade aos bons resultados desses seg-
mentos, ampliando os incentivos a novos investimentos e crescente intensificao da pe-
curia nacional.Cart
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6 Outlook Fiesp 2024
As incertezas domsticas em relao ao clima, seus possveis efeitos sobre o plantio de soja e
a consequente perda da janela ideal de plantio do milho segunda safra em algumas regies,
tornam difcil prever com preciso o impacto para a colheita do prximo ano. Isso sem contar
as demais culturas, que j foram afetadas na safra atual. Em alguns casos, como o caf, por
exemplo, a estiagem severa j comprometeu a florao, a estrutura das plantas e, consequen-
temente, uma parte da produo de 2015.
Alm disso, o Pas assistiu a uma acirrada disputa eleitoral para a escolha do presidente da
Repblica, da qual saiu vitoriosa a situao, agregando um discurso de mudana. Fica a ques-
to de como ela ser efetivada, especialmente na rea econmica, pois o baixo crescimento
atual, aliado a uma inflao pressionada, j afeta o agronegcio de forma direta, uma vez
que, para boa parte dos produtos avaliados, o mercado domstico o principal vetor de cres-
cimento, como no caso das protenas animais em geral. Nesse caso, a retomada de uma ati-
vidade econmica mais vigorosa ser fundamental para sustentar o desempenho de diversos
setores do agronegcio.
Se, por um lado, a indefinio acerca de todos esses fatores um desafio em termos de proje-
o para os prximos anos, as anlises realizadas nesta publicao permitem a manuteno do
otimismo em relao ao setor em geral, e ao Brasil em particular, ao longo do perodo projeta-
do. Essa premissa est refletida nos nmeros.
Em momentos como este, de cenrio menos favorvel do que o verificado em anos anteriores, o
Pas ganha a oportunidade de aprimorar suas polticas pblicas, por meio de aes estruturais
para potencializar a competitividade do seu agronegcio, e de ampliar a sua insero interna-
cional, possibilitando atingir um desempenho ainda melhor que o projetado neste trabalho.
Boa leitura para todos.
Paulo SkafPresidente
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 7
nd
ice
1 Consideraes, 10
2 Cenrio Macro, 12
3 China, 17
Resultados das Projees
4 Algodo, 26
5 Arroz, 30
6 Caf, 35
7 Cana-de-acar, acar e etanol, 40
8 Outlook Fiesp 2024
Shutterstoc
k
8 Feijo, 46
9 Milho, 50
10 Soja: gro, farelo e leo, 54
11 Trigo, 59
12 Carne bovina, 63
13 Carne de frango, 68
14 Carne suna, 72
15 Lcteos, 76
16 Celulose, 80
17 Suco de laranja, 84
18 Fertilizantes, 89
19 Uso da terra, 94
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 9
1Esta nova verso do Outlook uma continuao do trabalho iniciado em 2013, quando foi esta-
belecida a parceria entre a FIESP e a MB Agro com o intuito de disponibilizar projees para os di-
versos setores do agronegcio brasileiro. Para tanto, a MB Agro tem utilizado seu modelo de oferta
e demanda de produtos agrcolas, desenvolvido e aperfeioado ao longo dos ltimos dez anos. A
continuidade desse trabalho resultado de um projeto de longo prazo que tem o objetivo de trazer
elementos para discusses acerca dos diversos setores envolvidos com o agronegcio, e com isso
auxiliar na identificao de gargalos e na elaborao de propostas para o futuro do setor, possibili-
tando antever as aes necessrias tendo em vista o crescimento esperado.
O modelo estabelece um balano de oferta e demanda mundial que mantenha consistncia entre
as principais economias produtoras e consumidoras de alimentos do mundo. A consistncia ava-
liada a partir das relaes estoque/uso, que devem manter o mercado estabilizado no longo prazo.
O modelo de projeo da produo brasileira, no caso das commodities consideradas, parte de um
balano mundial da produo e do consumo de alimentos, no qual a demanda de cada pas esta-
belecida a partir das expectativas de aumento da populao e do crescimento da renda per capita,
combinados s elasticidades-renda dos alimentos em cada um dos pases. As previses de renda uti-
lizadas so as divulgadas pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI) e da populao, pela Organizao
das Naes Unidas (ONU). No caso brasileiro, as estimativas de crescimento da economia foram feitas
pela MB Associados, baseadas em seu modelo macroeconmico de consistncia para o Pas.
Do ponto de vista da oferta, a produo dos alimentos projetada com base na tendncia da produ-
tividade e da rea disponvel em cada um dos principais produtores. O Brasil varivel-chave para o
fechamento do balano internacional, dado que uma das poucas regies em que ainda possvel
obter um ganho de produtividade, aliado ao aumento da rea agrcola, ao contrrio, por exemplo,
dos EUA, onde a produo s pode crescer a partir de ganhos restritos de produtividade ou de me-
nor produo de uma determinada commodity em detrimento de outra.
Obtida a produo brasileira necessria para que a relao estoque/consumo mundial se mantenha
em um patamar em que os preos justifiquem o crescimento da oferta global, as reas demandadas
para alcanar tais produes so estimadas a partir da curva projetada de produtividade para cada
uma das commodities agrcolas em cada uma das regies brasileiras.
Uma peculiaridade no caso do etanol que o consumo interno brasileiro derivado de um modelo
de crescimento e depreciao da frota de veculos em funo do PIB, tendo como varivel exgena
a participao dos veculos Flex Fuel nas vendas totais.
Consideraes 1
10 Outlook Fiesp 2024
No caso da celulose, a demanda por rea plantada com florestas vem dos novos investimentos em
fbricas programados pelo setor, que, no longo prazo, atendem demanda para exportao e para
o mercado interno da celulose produzida no Pas.
As reas e as produtividades esperadas so as variveis de entrada no modelo de demanda de ferti-
lizantes da agricultura brasileira. Associando essa produtividade com a curva de resposta aduba-
o, estabelece-se a necessidade de NPK por hectare para cada cultura. Multiplicando a rea total
de cada cultura pela necessidade de NPK, chega-se ao consumo de NPK para as lavouras. Adicio-
nando a esse consumo o de fertilizantes para as pastagens, o reflorestamento e a adubao de base
para abertura de novas reas, totaliza-se a demanda de NPK para o Brasil em 2024.
A partir dos projetos de investimento no aumento da capacidade instalada de produo de ferti-
lizantes no Pas, estima-se a oferta domstica futura de nutrientes, tendo como pressuposto um
nvel histrico de utilizao dessa capacidade instalada. Com a oferta desses nutrientes por regio,
o balano entre demanda e oferta calculado, obtendo-se a necessidade de importao em 2024.
Vale ressaltar, como observao para todo este trabalho, que as projees adotam pressupostos
que podem ser modificados ao longo do perodo considerado: eventos climticos mais severos,
abertura de mercados, modificao do status sanitrio e reduo ou aumento do protecionismo
internacional so apenas algumas das variveis que podem afetar as expectativas para determi-
nado produto.
Atualmente, no caso do leite, a produo basicamente direcionada pela demanda do mercado
domstico, dado que o Pas no se configura como um grande player internacional desse produto.
No entanto, a combinao da alta do dlar no mercado domstico com a maior profissionalizao e
intensificao da produo, alm da possibilidade de aumento mais expressivo do consumo na Chi-
na, pode levar o Brasil a se consolidar como um relevante exportador ao longo do perodo avaliado.
No entanto, essa no a premissa utilizada na reviso deste modelo, ao menos por hora.
Em relao projeo divulgada em 2013, alguns parmetros utilizados na pecuria foram altera-
dos, devido falta de informaes confiveis sobre o nmero efetivo de cabeas do rebanho na-
cional, o que faz com que esses nmeros apresentem grande variao de uma fonte de dados para
outra. Nesta atualizao foram feitas modificaes das premissas de produtividade e rebanho que
levaram a diferenas nas estimativas futuras do nmero de animais.
Devido possibilidade de alterao nas produes e estimativas de demanda em razo dos fatores
de risco inerentes ao setor agrcola ou a mudanas nas expectativas macroeconmicas, as estima-
tivas sero revisadas de forma dinmica, caso algum evento mais relevante signifique uma mo-
dificao importante das perspectivas para as commodities analisadas. As atualizaes realizadas
podero ser acompanhadas por meio do endereo: www.fiesp.com.br/outlook.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 11
O atual contexto macroeconmico representa uma virada de ciclo econmico. Isso verdade no
cenrio internacional, brasileiro e agrcola.
O ponto central de virada no contexto internacional a macroeconomia dos EUA. Os indicadores econ-
micos sugerem que a economia norte-americana est reencontrando sua trajetria de crescimento de
longo prazo. O PIB desse pas alcanou um crescimento anualizado de 3,5% no terceiro trimestre de 2014
e todas as expectativas indicam que, em 2015, o crescimento ser de 3%. Embora o pleno emprego no
seja realidade presente, as sinalizaes do Banco Central americano (Fed) indicam que, em 2015/2016, o
mercado de trabalho convergir para nveis histricos, da ordem de 5% de desemprego. Nesse contexto,
a taxa de juros deve ser elevada, reiniciando o ciclo de valorizao do dlar. O mundo voltaria a ser o que
era, com os EUA como seu protagonista do ponto de vista econmico. A valorizao do dlar, consequ-
ncia da elevao da taxa de juros do pas, ter forte impacto nos mercados agrcolas. Alm desse fato, a
baixa de preos e a variao de custos criaro problemas aos fazendeiros americanos.
Desde a crise de 2008, o mundo assistiu a um aumento significativo da presena de capitais especu-
lativos em todos os mercados futuros de commodities agrcolas. O contexto era de proteo perda
do valor do dlar. Na medida em que havia a expectativa de elevao do consumo de alimentos, a
alta nos preos desses produtos em dlar asseguraria a preservao dos ativos (em dlar) com o
enfraquecimento da moeda. O movimento agora se inverte. O fortalecimento do dlar reduzir o
componente especulativo dos futuros agrcolas. Eis o primeiro impacto da mudana da macroeco-
nomia internacional sobre os mercados agrcolas. Se verdade que a recuperao econmica dos
EUA segue trajetria segura, o inverso pode ser dito do que ora passa o continente europeu.
Os dados de crescimento so decepcionantes em toda a Europa. At mesmo a Alemanha, economia
lder e motor econmico do continente, vem dando sinais de baixo dinamismo. Alm disso, o qua-
dro de movimentos dos preos internos preocupante, uma vez que em diversos pases registra-se
deflao. Como do conhecimento de todos os economistas, a deflao um fenmeno de difcil
2Cenrio Macro
Fiesp
- Everto
n Amaro
12 Outlook Fiesp 2024
controle, uma vez que a poltica monetria perde a eficcia. Os preos dos ttulos pblicos de diver-
sos pases europeus so os mais baixos em mais de um sculo, no obstante os investimentos no
retornarem regio. Caberia poltica fiscal buscar o reaquecimento da economia. Entretanto, a
viso dominante na Europa de austeridade fiscal, dado o seu elevado ndice de endividamento.
Cria-se, pois, uma macroeconomia da estagnao.
A situao ainda agravada pelo quadro atual de conflito no Leste Europeu. A questo Rssia/Ucr-
nia e a dinmica de embargo econmico que surgiu em 2014 criam dificuldades adicionais. bom
ter presente que o embargo da Rssia aos EUA e a pases europeus, gera mudanas expressivas no
comrcio mundial de carnes, o que acaba por afetar positivamente o Brasil, uma vez que a Rssia ,
individualmente, o maior importador mundial desses produtos.
O quadro internacional completado com o crescimento asitico. Como sempre, a questo recai
quanto mudana macroeconmica na China. Como ser mencionado no captulo relativo a esse
pas, a estratgia de crescimento vem sendo progressivamente revista na direo da ampliao da
participao do consumo. A China ficou grande demais para alavancar seu crescimento por meio
da demanda externa. A transio do modelo chins para uma sociedade de consumo seguramente
alterar o mix de demanda de commodities energticas e metlicas. Entretanto, mudar pouco o
consumo de alimentos. Os dados econmicos da China parecem sugerir um crescimento da ordem
de 7% no horizonte mais prximo. Por ser hoje a segunda maior economia do mundo, essa taxa
representa um potencial expressivo de aumento da demanda de alimentos. Somada ndia e aos
demais pases no entorno dessas duas grandes economias, espera-se que a sia continue sendo o
propulsor do crescimento mundial e do comrcio de alimentos.
Do ponto de vista da economia brasileira, o momento tambm de mudanas, embora o cenrio
seja ainda incerto, a depender do conjunto de polticas econmicas escolhido daqui para a frente. A
nova matriz econmica alterou substancialmente os princpios que marcaram os governos de 1998
a 2006. Os pilares daquela poltica econmica eram (i) o controle das contas pblicas (metas fiscais
rgidas), (ii) regime de metas de inflao e (iii) taxa de cmbio flexvel. O equilbrio macroeconmico
proposto por esse modelo era o de seguir persistentemente reduzindo simultaneamente, no longo
prazo, a inflao e a taxa de juros, deixando o cmbio flexvel realizar o ajustamento das contas
externas. O controle fiscal rigoroso e a volta do crescimento econmico assegurariam a queda no
endividamento da economia brasileira, garantindo, assim, a reduo da taxa de juros e o aumento
nos investimentos, sejam eles pblicos ou privados.
A partir de 2006, esses pilares foram sendo progressivamente alterados. A aposta da poltica econ-
mica foi a de estmulo demanda, no entanto, ela no veio acompanhada de medidas mais robustas,
do ponto de vista estrutural, de incentivo competitividade dos setores produtivos como um todo. O
conceito por trs da estratgia utilizada que os estmulos de demanda, associados reduo no cus-
to do capital, criariam um ambiente propcio aos investimentos que promoveriam o crescimento eco-
nmico. No entanto, o crescimento ocorreu at o limite de ocupao de toda a mo de obra existente,
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 13
atingindo-se o pleno emprego, e os investimentos no vieram. Sem eles, a produtividade da mo de
obra ficou estagnada, exceto na agricultura. A consequncia da expanso da demanda sem a contra-
partida do crescimento da oferta acabou por elevar a inflao e o dficit nas transaes correntes.
Atingiu-se, em 2013 e 2014, o limite desse modelo. A inflao alcanou 6,5% e o crescimento econ-
mico deve situar-se prximo de zero em 2014. A taxa de investimento no Pas chegou ao patamar de
16% no segundo trimestre deste ano. A taxa de poupana bruta, em meados de 2014, atingiu apenas
12%, o menor nmero em muitos anos. No intuito de evitar que a inflao passasse do teto da meta,
a poltica econmica conteve o preo de diversos produtos que so monitorados pelo governo, tais
como energia eltrica e gasolina. Alm disso, o Banco Central passou a operar mais ativamente no
mercado cambial, contendo a desvalorizao com operaes de venda de dlares nos mercados
futuros. Para completar o quadro, o baixo crescimento (e, portanto, a baixa arrecadao) e a eleva-
o dos gastos geraram ainda uma piora nas contas pblicas, criando um cenrio de preocupao
quanto trajetria da dvida pblica no futuro.
A pergunta macroeconmica relevante para as projees deste Outlook se o modelo atual de poltica
econmica seguir sendo utilizado no prximo governo ou se o Pas retornar ao trip macroeconmico
anterior. As projees indicam que qualquer um dos dois modelos gerar pouca diferena para o ano de
2015, mas seus impactos sero muito maiores se considerados os dez anos do horizonte das projees.
Ocorre que a trajetria de longo prazo muda muito com os dois cenrios desenhados. Para 2015,
difcil recuperar a economia a ponto de mudar significativamente seus resultados. Espera-se que o
crescimento seja modesto, posto que a inflao seguir alta e diversos preos represados tero de
ser reajustados. Alm disso, a conjuntura internacional e o dficit nas transaes correntes sinali-
zam uma desvalorizao do Real. Para completar o quadro, como a atividade econmica ruim, a
taxa de juros no deve sair muito dos nveis atuais. Entretanto, no mdio prazo, mantida a poltica
atual, a tendncia de piora nas contas pblicas, na inflao e no emprego, uma vez que o inves-
timento dever seguir baixo, seja pela incapacidade do setor pblico de investir, seja pela falta de
confiana do setor privado, o que acarretar baixo crescimento econmico.
Por outro lado, caso a poltica fiscal persiga um ajuste nas contas pblicas, o sistema de metas de
inflao resgate a credibilidade de longo prazo da poltica monetria e a poltica cambial permi-
ta a desvalorizao do real e o ajuste nas contas externas, a capacidade de investimento do setor
pblico e privado ser resgatada, trazendo de volta o crescimento econmico esperado. Nota-se,
portanto, que so trajetrias com efeitos muito distintos em uma dcada. O ano de 2015 marcar,
ou no, uma mudana no contexto atual.
A tabela a seguir apresenta o resultado dessas duas trajetrias em relao s protenas animais,
que so diretamente afetadas pelo desempenho da economia domstica. possvel observar que
nos diferentes cenrios, dependendo do ritmo de crescimento do PIB, o mercado interno de carnes,
ovos e leite apresentar uma forte variao em termos de consumo ao final do perodo projetado.
14 Outlook Fiesp 2024
Apesar de o consumo crescer nos dois cenrios em relao ao perodo atual (2013), a hiptese pes-
simista representa uma variao significativamente menor, quando comparada a uma expectativa
mais otimista, que chamamos de cenrio-base, o qual pressupe uma gradual recuperao da eco-
nomia a partir de 2016. Dependendo do produto, essa diferena pode chegar a 12%. Isso explicita a
importncia da retomada do crescimento econmico do Brasil, como forma de assegurar o desem-
penho do agronegcio no Pas.
Impactos do cenrio macroeconmico no mundo agrcola
O quadro de demanda mundial de alimentos seguir forte. O crescimento da sia, da Amrica La-
tina, da frica e do Oriente Mdio promover o aumento do consumo de alimentos. Nos pases de-
senvolvidos, ainda que o desempenho no seja to forte, sempre bom ter presente que os gastos
com alimentao representam parcela no to relevante do consumo total, o que garante, pelo
menos, a estabilidade do consumo. claro que problemas de oferta que elevem sobremaneira o
preo de alimentos (como o caso da carne vermelha no momento) contribuem para a procura de
produtos substitutos (que, no caso, seriam as carnes de frango e suna). Entretanto, o cenrio geral
bom sob a tica da procura de alimentos. A poltica energtica dos EUA dever ser mantida, uma
vez que o consumo de etanol de milho atingiu seu patamar previsto no mandato e nem por isso tem
comprometido os preos do gro.
Sob a tica da demanda, o ponto potencialmente baixista para os preos justamente aquele re-
lativo aos mercados financeiros, como mencionado anteriormente. O fortalecimento do dlar, pre-
visto para os prximos anos, diminuir o apetite dos fundos em comprar commodities agrcolas:
a volta do modelo pr-2008.
O ano de 2014 marca a recuperao de estoques mundiais de gros. O fenmeno El Nio mostrou-
-se mais fraco do que o esperado e, com isso, a excepcional safra norte-americana que est para ser
colhida, somou-se a uma boa safra na sia. Assim, os estoques mundiais de praticamente todos os
gros indicam boa recuperao projetada para 2015. A queda dos preos dos gros, por consequn-
Consumo domstico brasileiro Desempenho dos setores selecionados a partir de diferentes cenrios econmicos
Produtos Unidade 2013 2024 Diferena Variao (em %) Atual (A) Base (B) Pessimista (C) (C/B) (B/A) (C/A)
Carne Suna Mil toneladas 2.696 3.484 3.117 -11% 29% 16%
Carne de Frango Mil toneladas 8.829 10.890 10.247 -6% 23% 16%
Carne Bovina Mil toneladas 7.885 9.617 9.085 -6% 22% 15%
Leite Mil toneladas 33.670 49.116 43.467 -12% 46% 29%
Ovos Milhes de unidades 32.319 42.807 37.759 -12% 32% 17%
Caf Mil sacas 20.750 25.920 24.039 -7% 25% 16%
Fonte: Outlook Fiesp. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 15
cia da boa oferta, permitir a recuperao nas margens das cadeias de protenas animais aps anos
consecutivos de rentabilidades apertadas, o que deve seguir sendo verdade para 2015.
claro que, assegurada a safra da Amrica do Sul e mantidos os preos dos gros nos patamares
atuais, a produo de carnes e leite tender a crescer, dado o forte estmulo econmico para a pro-
duo. Contudo, alguns desequilbrios de oferta podem manter os preos elevados no mercado
internacional de protena animal. Esse fato especialmente verdadeiro para a carne suna em con-
sequncia do problema da doena PED1, que vem elevando a mortandade de leites nos EUA. Alm
disso, no caso da carne vermelha, os rebanhos dos EUA, da Austrlia e do Brasil encontram-se em
fase de reteno de matrizes, o que limita a oferta para 2015. Isso pode manter margens positivas
na cadeia, evitando-se uma reduo substancial dos preos internacionais. bom lembrar que a
reao da Rssia aos embargos impostos pelos EUA e Europa, se mantida em 2015, pode fortalecer
acima das expectativas as exportaes brasileiras de carnes para aquele pas.
Internamente, as polticas setoriais dos ltimos anos atingiram de maneira negativa o setor sucro-
energtico. A conteno dos preos da gasolina colocou um teto baixo nos preos do etanol. Para
tentar ampliar minimamente a rentabilidade, os produtores brasileiros migraram a produo em
direo ao acar. A expanso da oferta brasileira de acar derrubou as cotaes internacionais,
uma vez que o Pas representa quase a metade do comrcio mundial da commodity.
O setor que havia iniciado seus investimentos no ciclo de alta de preos e, portanto, j estava ala-
vancado, com a perda de rentabilidade, devido aos menores preos, viu sua situao financeira se
deteriorar ainda mais. Essa piora limitou a renovao e os investimentos nos canaviais, o que afetou
a produtividade, agravando o quadro financeiro. A poltica pblica tambm desestimulou os inves-
timentos em cogerao, que poderia agregar mais renda aos produtores.
O quadro resultante de alto endividamento e de baixa produtividade. Para se ter uma ideia, es-
tima-se no mercado que, no comeo da dcada passada, o total de dvida do setor alcanava R$ 3
bilhes. Atualmente, esse montante da ordem de R$ 70 bilhes. Fica fcil perceber que o desenho
para essa cadeia na prxima dcada depender da poltica econmica que ser adotada para o
setor nos prximos quatro anos. Os preos da gasolina seguiro o mercado internacional? A coge-
rao de biomassa far parte relevante da matriz energtica brasileira? O carro Flex seguir sen-
do prioridade da poltica pblica? A poltica tributria favorecer a energia renovvel? A resposta
a essas perguntas desenhar o quadro de crescimento de to importante cadeia do agronegcio
brasileiro. Nas prximas pginas sero projetados cenrios para os 20 produtos considerados no
Outlook, tomando por base os fundamentos macroeconmicos aqui delineados.
1 A diarreia epidmica em sunos (PED) uma doena que tem provocado a morte de leites em vrios pases produtores.
16 Outlook Fiesp 2024
O fim da autossuficincia chinesa nos mercados agrcolas
As transformaes na economia chinesa nos ltimos 40 anos mudaram o mundo. O espetacular
crescimento do pas que abriga o maior contingente populacional dentre todas as naes alterou
sobremaneira o rumo da economia internacional, especialmente do fluxo de comrcio de bens
industrializados e de commodities. A China mudou a direo e o ritmo de crescimento de diversas
economias, em especial daquelas dotadas de grande capacidade de produo de commodities,
como o caso brasileiro.
O modelo de desenvolvimento chins pautou-se na estratgia asitica de crescimento baseada
em altas taxas de poupana associada exportao de manufaturados, tal como concebido ini-
cialmente pelo modelo japons e dos Tigres Asiticos. A exportao de poupana para financiar o
dficit em transaes correntes do mundo ocidental (leia-se Estados Unidos), associada mo de
obra barata oriunda da migrao rural-urbana e ao forte investimento em capital, capital humano
e tecnologia, permitiu aumentos simultneos tanto na expanso da fora de trabalho subempre-
gada no campo quanto nos expressivos ganhos de produtividade da mo de obra j empregada no
meio urbano. Esses dois movimentos mantiveram o custo unitrio do trabalho chins muito baixo
por dcadas, garantindo forte competitividade aos produtos chineses no mercado internacional,
reforada, ademais, pela construo de uma robusta infraestrutura.
Os ganhos de produtividade da mo de obra foram apoiados por uma poltica de desvalorizao da
taxa de cmbio, possvel de ser sustentada por muitos anos em razo dos elevados nveis internos
de poupana e, por consequncia, das baixas taxas de juro, assim como de um custo fiscal quase
nulo da poltica cambial.
China3
Shutterstock
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 17
A estratgia asitica partiu sempre da viso de que o mercado internacional serviria para apoiar a
expanso da produo de produtos industriais de maior valor adicionado, uma vez que os baixos n-
veis de renda existentes no incio do processo de desenvolvimento restringiriam a demanda interna
e, portanto, limitariam o potencial de expanso da industrializao. Evidentemente, na medida em
que a renda per capita interna fosse expandindo, o mercado interno se consolidaria e, em decor-
rncia, a importncia das exportaes como elemento indutor central ao modelo de crescimento
perderia fora para a expanso do mercado interno.
O baixo poder aquisitivo do mercado interno no incio do processo requereria outra fonte de
demanda, que no somente a internacional, para assegurar um crescimento acelerado. Cabia,
portanto, ao investimento ser o principal elemento indutor da demanda interna. As elevadas
taxas internas de poupana permitiram um ritmo acelerado e sem precedentes de acumulao
de capital e de incorporao da mo de obra na histria do crescimento asitico. Por mais de
trs dcadas a China cresceu a taxas superiores a 10% ao ano. A cada seis ou sete anos o PIB
chins dobrou de tamanho.
China: evoluo do PIB per capita
PIB
per c
apita
(US$
/hab
)
1980
1982
1984 19
8619
8819
9019
9219
9419
96 1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018
18.000
16.000
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
Fonte: FMI. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
18 Outlook Fiesp 2024
O estudo das estratgias asiticas de desenvolvimento permite notar que as commodities tiveram
um papel central no modelo, uma vez que diversos pases no detinham grande oferta interna de
energia, minrios e alimentos.
O Japo, que foi o artfice do modelo asitico de crescimento, estruturalmente sempre soube que
seria dependente da importao de commodities. Num certo sentido, a reduzida produo interna
de alimentos, energia e metais pautou a estratgia de industrializao exportadora, uma vez que
seria desde logo necessrio gerar divisas externas para abastecer a indstria domstica com com-
modities. Todos os demais Tigres Asiticos, em maior ou menor medida, tambm requeriam impor-
tao de matrias-primas no mercado internacional.
Nesse contexto, talvez a exceo seja a China. Por se tratar de um pas de dimenses continentais,
os chineses, por muitos anos, conseguiram manter um bom crescimento econmico sem participar
intensamente do mercado internacional de commodities. certo, entretanto, que, na medida em
que a economia foi se transformando e expandindo, no houve como no aumentar as importa-
es: o tamanho da populao e da economia chinesa chegou a tal ordem que se tornou inevitvel
adquirir matrias-primas no mercado internacional.
Esse movimento deu-se inicialmente nos mercados de metais e energia, dada a estratgia de cres-
cimento por meio do investimento, em especial para atender ao nmero crescente de aporte em
infraestrutura, construo civil etc.
Participao das famlias urbanas chinesas, por classe de renda
* Nmero de famlias urbanas na China (em milhes de famlias)
1985
66* 109* 191* 280* 373*
1995 2005 2015 2025
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0
Fonte: National Bureau of Statistics of China; McKinsey Global Institute Analysis. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
muito alta (>200.000 renminbi)
classe alta (100.001-200.000 renminbi)
classe mdia alta (40.001-100.000 renminbi)
classe mdia baixa (25.001-40.000 renminbi)
pobre (
curioso notar que as commodities agrcolas foram as ltimas a ser importadas em larga escala. No
caso da agricultura, as polticas internas de produo sempre foram pautadas pela ideia de perse-
guir a autossuficincia na produo de alimentos e fibras. A histria da fome em larga escala nos
anos 1950 marcou muito a poltica chinesa e, desde os anos 1970, eles montaram polticas agrcolas
voltadas rpida expanso da oferta interna, com vistas a garantir a autossuficincia na produo
de carnes, gros, hortalias e fibras.
As primeiras reformas da estrutura agrria aconteceram nos anos 1970. As propriedades coletivas
foram substitudas por propriedades privadas de pequena escala. Foi tambm nessa dcada que os
chineses comearam a desenvolver agressivamente a indstria de fertilizantes e de defensivos agr-
colas, subsidiando o uso desses insumos. A pesquisa gentica tambm avanou bastante, a ponto
de promover forte melhora na produo de gros, especialmente o trigo e o arroz.
Outra relevante mudana ocorreu na poltica de preos pagos pelo Estado. Nas fazendas coletivas
havia o princpio de uma meta mnima de produo a um preo preestabelecido pelo Estado. No
novo modelo, a produo adicional meta era premiada com preos tambm adicionais, estimu-
lando dessa forma a apropriao privada dos ganhos de produtividade. Os resultados de to im-
portantes mudanas institucionais, associados ao choque de tecnologia no campo, produziram
efeitos expressivos. A partir da segunda metade da dcada de 1970, a produo de gros na China
finalmente explodiu.
O pas , hoje, a maior agricultura do mundo. Gera cerca de 500 milhes de toneladas de gros.
Responde, atualmente, pela maior produo global de trigo, mais de duas vezes a safra norte-
-americana. o segundo maior produtor mundial de milho, atingindo o patamar de 220 milhes
de toneladas. ainda o maior produtor de arroz do planeta. Nas carnes (de aves, suna e bovina)
aproxima-se da marca de 80 milhes de toneladas. Na carne suna responde por metade da produ-
o e do consumo mundial. o maior consumidor global de fertilizantes e defensivos. Na produo
de hortalias e frutas destaca-se como maior produtor mundial em diversas cadeias. No h dvida
de que um modelo de extraordinrio sucesso.
No obstante os expressivos nmeros, a importao de alimentos segue crescendo anualmente na
China. Eis aqui o ponto central da anlise do setor agrcola em todo o mundo. Como j foi menciona-
do, a estratgia chinesa sempre foi a da autossuficincia. O risco de instabilidade social, associado
ao consumo de alimentos, motivo de preocupao para qualquer governo no mundo, e em um
pas com 1,4 bilho de habitantes, essa preocupao se exacerba.
20 Outlook Fiesp 2024
Quando o tamanho do mercado consumidor cresce substancialmente, o problema da segurana
alimentar tambm aumenta, caso a dependncia interna esteja associada s regies agrcolas mui-
to concentradas geograficamente. Ocorre que, no caso chins, so poucas as regies, comparativa-
mente ao tamanho do pas, que apresentam alto potencial agricultvel. Isso significa que qualquer
evento climtico mais forte poder criar um risco de desabastecimento no desprezvel.
No por outra razo que as empresas agrcolas chinesas esto ampliando sua presena no mundo
todo. A originao de gros, protena animal e fibra tornou-se fundamental para a estabilidade da
oferta no mercado interno, alm, claro, de reduzir o risco de desabastecimento e, dessa forma,
elevar a segurana alimentar do pas. O paradigma da autossuficincia no mais vantajoso nas
escalas de consumo atuais. na soja que esse modelo mais se evidenciou.
A ausncia de reas agrcolas para a expanso e a pouca disponibilidade de gua (em quantidade e
qualidade) impedem que a China produza milho e soja nas quantidades necessrias. Assim, foi ne-
cessrio escolher entre uma cultura e outra. Como a soja tem um consumo duas a trs vezes menor
que o do milho, a poltica agrcola chinesa privilegiou a produo de milho em detrimento da soja.
A China produz hoje apenas 12 milhes de toneladas de soja, para um consumo que chega prximo
dos 85 milhes de toneladas, obtendo no mercado externo esse diferencial. Vale destacar que essa
produo de soja quase 20 vezes menor que a de milho.
A importao de soja tornou-se vital para atender modernizao da suinocultura e da avicultura
chinesas. Historicamente, o suno sempre foi produzido como um produto de fundo de quintal, com
milhes de criadores tendo uma pequena produo caseira, pouco padronizada e profissionalizada.
China: autossuficincia na produo de carnes e gros
Fonte: USDA. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
Gros Carnes
110%
105%
100%
95%
90%
85%
80%
83%
101%99%
86%
1990
/199
119
91/1
992
1992
/199
319
93/1
994
1994
/199
519
95/1
996
1996
/199
719
97/1
998
1998
/199
919
99/2
000
2000
/200
120
01/2
002
2002
/200
320
03/2
004
2004
/200
520
05/2
006
2006
/200
720
07/2
008
2008
/200
920
09/2
010
2010
/201
120
11/2
012
2012
/201
320
13/2
014
2014
/201
5
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 21
O risco sanitrio desse modelo de produo sempre foi muito alto. A crescente urbanizao exigia me-
lhoras na produtividade e na qualidade da distribuio das carnes. Dessa forma, o mundo assistiu a
uma grande tecnificao da estrutura produtiva chinesa e a dieta da suinocultura migrou para a rao
baseada em milho e soja. Essa foi a razo fundamental para o expressivo crescimento no comrcio
mundial de soja. Nas duas ltimas dcadas, a China praticamente explicou todo o crescimento do
comrcio mundial de soja em gros. O boom do Cerrado brasileiro deve-se mudana tecnolgica da
suinocultura chinesa. Dois mundos conectam-se atravs de to profunda mudana estrutural.
Populao Rural e Urbana da China
Rural Urbana
Milh
es d
e ha
bita
ntes
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050
1.600
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
Fonte: ONU. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
China participao da Agricultura no PIB e no Emprego
Agricultura 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2012% do PIB 40% 41% 33% 25% 21% 17% 17%% do Emprego 61% 51% 48% 45% 40% 36% 35%
Fonte: National Statistical Bureau of China. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
Projeo
22 Outlook Fiesp 2024
Comrcio mundial de soja
A melhor maneira de visualizar a transformao no comrcio mundial de alimentos decorrente do
crescimento chins observar os saldos e os dficits comerciais agrcolas no mundo. A figura a
seguir ilustra os pases com o maior dficit ou supervit agrcola no mundo. Os dados so apresen-
tados em bilhes de dlares e so da Organizao Mundial do Comrcio (OMC). A classificao de
produtos includos nesses nmeros ligeiramente diferente da forma utilizada no Brasil. Optamos,
entretanto, por utilizar a mesma base para melhor comparar os pases.
15,2
27,1
37,040,7
EUA
1,4 4,4 3,6 3,7
Mxico
2,5
15,5
38,0
44,0
Brasil
1,0 2,5 5,05,5
Paraguai
4,5 7,39,710,3
Argentina
17,611,8 12,3
EU
1,3 1,9 2,0Tailndia
1,0
13,2
6169
China
4,4 4,8 2,8 2,9
Japo2,2 2,3 2,4 2,5
Taiwan
0,5 1,3 1,92,0
Indonsia
Exportao Importao
1990/91 1990/912000/01 2000/012012/13 2012/132013/14 2013/14
25,5 26,56
54,2 53,07
97,8 95,4109,3 105,2
Fonte: USDA. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 23
Balana agrcola: dficits e supervits (bilhes de US$, WTO data)
2013
Coria do Sul
29
76
39
5
-75
-21
-79
-95
24EUA
UE27
China
-15
Rssia
Japo
Tailndia
IndonsiaAustrlia
Oriente MdioBrasilArgentina
2321
Fonte: WTO. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.
1990
-34 2
9
19
EUA
UE27
China
-7
Coria do Sul
-47
Japo
5
Tailndia2
Indonsia
Austrlia
-6
Oriente Mdio
7
Brasil7
Argentina
24 Outlook Fiesp 2024
Fica evidente que, em 1990, o maior dficit comercial do mundo era do Japo, alcanando, apro-
ximadamente, 50 bilhes de dlares. A China, por incrvel que possa parecer, era superavitria no
comrcio de alimentos. A renda per capita era to baixa, que o pas era um exportador lquido de
alimentos.
A Europa aparecia j como uma regio deficitria na produo de alimentos, importando um mon-
tante de 34 bilhes de dlares acima das suas exportaes. Os Estados Unidos detinham a liderana
nas exportaes lquidas, atingindo o patamar 19 bilhes de dlares. O Brasil e a Argentina apresen-
tavam supervit da ordem de 7 bilhes de dlares cada um.
Passados 23 anos, a transformao impressiona. A China transformou-se, no ano passado, no maior
importador lquido de alimentos, superando pela primeira vez o Japo e alcanando nmeros pr-
ximos a 90 bilhes de dlares. importante notar tambm o enorme dficit comercial agrcola que
surgiu no Oriente Mdio. A alta no preo do petrleo permitiu um ganho de renda importante nos
pases dessa regio. Assim, o consumo de alimentos no Norte da frica e no Oriente Mdio cresceu
consideravelmente.
Pode-se notar tambm que o dficit comercial agrcola europeu caiu, embora siga sendo uma re-
gio importadora lquida de alimentos. Seria maior ainda no fossem as barreiras tarifrias e no
tarifrias impostas aos produtos do resto do mundo. Fica evidente que as Amricas se tornaram as
grandes regies exportadoras do globo terrestre. O Brasil assumiu a posio de maior exportador
lquido de alimentos do mundo.
Direta ou indiretamente, a China promoveu um crescimento significativo no consumo de alimentos
em todo o mundo. O mapa de comrcio evidencia que a concentrao da populao na sia (60%
da populao mundial), associada a um aumento do poder aquisitivo decorrente do crescimento
econmico, gera um polo importador de alimentos que seguir crescendo, uma vez que j utiliza os
recursos naturais disponveis para a produo.
Na verdade, o processo de urbanizao reduz o potencial produtivo, seja por competir por rea, seja por
gua. Do outro lado do mundo h sobra de recursos naturais relativamente demanda por alimentos.
Constri-se, assim, um elo estrutural e robusto, de mtua dependncia, entre o Brasil e a sia.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 25
Sendo uma das lavouras que mais demandam a habilidade empresarial do produtor rural, o algo-
do brasileiro vem ganhando a confiana do mercado, devido alta qualidade do produto ofertado.
O Brasil figura entre os cinco principais produtores mundiais e o terceiro maior exportador. A bus-
ca pela fibra de melhor qualidade resultado de anos de pesquisa, adaptao de cultivares e siste-
mas de plantio para os solos e clima brasileiros, principalmente do Cerrado, sendo uma resposta da
agricultura nacional indstria consumidora.
Essa cultura se diferencia das demais por apresentar elevados investimentos em estrutura produ-
tiva (mquinas) e pacote tecnolgico (sementes e defensivos), sendo normalmente os produtores
mais tecnificados que se dedicam atividade. Grandes grupos produtores, localizados principal-
mente no Centro-Oeste e no oeste da Bahia, respondem pela maior parte da oferta nacional (o que
deve se acentuar nos prximos anos) e adaptam sua produo realidade do mercado. Em anos
recentes ocorreram os melhores preos da histria, mas logo em seguida a produo reagiu e o
mercado deparou-se com a realidade de oferta excessiva, levando a uma forte reduo de preos.
Com isso, o quadro mundial do algodo encontra-se hoje sobre-ofertado. A relao estoque/consu-
mo mundial vem h alguns anos caminhando em volumes muito altos, o que no justificaria o preo
da pluma nos nveis atuais: mais de 20 milhes de toneladas de algodo esto estocadas, o que
equivale a, praticamente, uma safra mundial. Alm disso, a produo no apresentou uma queda
significativa que levasse reduo nos estoques globais. Para tentar entender melhor o que ocorre
nesse mercado, necessrio verificar o que acontece na China.
Maior produtora, importadora e consumidora mundial de algodo, a China concentra tambm em
suas mos os maiores estoques: cerca de 60% do produto armazenado globalmente est com os
chineses e esse quadro vem sendo mantido assim por alguns anos. Como esses estoques no so
colocados no mercado, ficam indisponveis para os demais pases consumidores, que no tm aces-
so a essa fibra. Com isso, os preos tm se mantido em um patamar relativamente elevado para a
disponibilidade atual do produto.
4Algodo
Editor
a Gazeta
Santa C
ruz
26 Outlook Fiesp 2024
Alm de no ser clara a forma com que o governo chins disponibilizar esse estoque, existem dvi-
das sobre os volumes efetivos e a qualidade do produto armazenado, o que coloca mais uma ques-
to em aberto nesse mercado e corrobora para a manuteno dos preos nos nveis atuais.
Recentemente, a China deu sinais de que comearia a desestimular a produo interna de algodo,
provavelmente visando um equilbrio maior no mercado, e nesta safra j verificamos uma reduo
nas estimativas de produo do pas, de 8%, em relao safra anterior, mas nada muito claro
sobre a permanncia dessa poltica.
Espera-se que a correo dos estoques seja feita de forma gradativa, para que o mercado no tenha
um choque de preos, pois, caso essa premissa seja alterada, momentos de instabilidade podero
atingir o mercado, levando a uma reduo mais drstica dos preos e, consequentemente, da pro-
duo brasileira e mundial.
Dessa forma, considerando um cenrio de ajuste gradual nos estoques, a produo brasileira segui-
r crescendo, a um ritmo de 4,6% ao ano, alcanando 2,5 milhes de toneladas no fim do perodo
projetado, sendo os ganhos de produtividade o principal fator para a elevao da oferta. Neste caso,
estimamos que a rea plantada deve crescer 27% no mesmo perodo.
Em relao dinmica regional, o Centro-Oeste, pela grande aptido, seguir como o principal
produtor brasileiro, com uma participao de 63% do total produzido, seguido pelo Nordeste,
com 35%. Isso se deve tanto pela aptido dessas regies quanto pela especializao e investi-
mentos demandados pela lavoura, o que cria uma barreira natural ao desenvolvimento da cultura
em outras regies.
Do lado da demanda, o mercado interno seguir com sua importncia, porm, o mercado externo,
principalmente sia e Oriente Mdio, importantes destinos da exportao brasileira, que dever ab-
sorver a maior parte dos aumentos de produo projetados.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 27
Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**
de hectares plantados1,4 MILHO
1,3 MILHOtoneladas lquidas exportadas
de toneladas produzidas2,5 MILHES
15%
Algodo(pluma)
em 2023/2024*
Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.
ser o crescimento da produtividade (t/ha)
1,5 1,82013/2014 2023/2024
crescimento de 110% em relao safra 2013/2014
demanda domstica
crescimento de 23% (2,2% a.a.)
1,1milho de t
0,9milho de t2013/14 2023/24
produo por regio
crescimento de 3,2% a.a. ou 27% em relao a safra 2013/2014
crescimento de 4,6% a.a. ou 47% em relao safra 2013/2014
Sul
-64%0%
Norte
86%0,5%
Centro-Oeste
39%63%
Sudeste
-18%1%
Nordeste
66%35%
Algodo Variao 2013/14 a 2023/24
1000
tone
lada
s
Produo, rea e Produtividade Brasileira de Algodo
Prod
uo
(100
0 t)
e r
ea (1
000
ha)
Produo rea Produtividade
2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
500
-
1.800
1.750
1.700
1.650
1.600
1.550
1.500
1.450
1.400
Prod
utiv
idad
e (k
g/ha
)
Consumo Domstico e Exportao Lquida de Algodo
1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
-2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24
Consumo Domstico Exportao lquida
Participao Regional na Produo de Algodo2023/24
Produo Total: 2,5 Milhes de Toneladas2013/14
Produo Total: 1,7 Milho de Toneladas
Participao*:
Norte 0,4%
Nordeste 31%
Sudeste 2%
Sul 0%
Centro-Oeste 66%
Participao*:
Norte 0,5%
Nordeste 35%
Sudeste 1%
Sul 0%
Centro-Oeste 63%
Consumo Domstico
+23%
Exportao Lquida
+110%
Produo
+47%
rea Plantada
+27%
Produtividade
+15%
* A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO 28
Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**
de hectares plantados1,4 MILHO
1,3 MILHOtoneladas lquidas exportadas
de toneladas produzidas2,5 MILHES
15%
Algodo(pluma)
em 2023/2024*
Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.
ser o crescimento da produtividade (t/ha)
1,5 1,82013/2014 2023/2024
crescimento de 110% em relao safra 2013/2014
demanda domstica
crescimento de 23% (2,2% a.a.)
1,1milho de t
0,9milho de t2013/14 2023/24
produo por regio
crescimento de 3,2% a.a. ou 27% em relao a safra 2013/2014
crescimento de 4,6% a.a. ou 47% em relao safra 2013/2014
Sul
-64%0%
Norte
86%0,5%
Centro-Oeste
39%63%
Sudeste
-18%1%
Nordeste
66%35%
29
O arroz o terceiro cereal mais produzido no mundo e seu cultivo ocupa, aproximadamente, 160
milhes de hectares. Anualmente, cerca de 480 milhes de toneladas so ofertadas, atrs somente
do milho e do trigo. Grande parte do cultivo encontra-se em pases da sia e Oceania, sendo a base
da alimentao para a populao.
Comparativamente aos outros gros, a participao do arroz no comrcio mundial baixa: apenas
8% da produo comercializada entre os pases, enquanto na soja esse valor de 40% e no trigo
chega a 23%. O custo do frete diante do valor do produto influencia essa movimentao e a dinmi-
ca de comercializao do arroz acaba sendo mais regionalizada.
Alm disso, o tipo do gro e a forma de preparo variam de acordo com o hbito alimentar local. O
fato de ser um produto bsico na alimentao da populao tambm influencia de forma impor-
tante a dinmica de comrcio observada, j que a maioria dos pases adota polticas pblicas de
incentivo produo local, visando uma maior segurana no abastecimento.
O Brasil o 9 produtor mundial, com cerca de 12 milhes de toneladas. Esse volume tem variado en-
tre 11 milhes e 13 milhes de toneladas, a depender do preo do produto e das condies de plantio
e desenvolvimento da lavoura, que acabam por afetar a oferta final. Em anos de preos bons, a rea
cultivada tende a apresentar aumentos e o investimento tecnolgico na lavoura pode ser maior.
Ao observar um perodo mais longo, no entanto, a rea cultivada apresentou contnuo declnio, sen-
do o crescimento da produtividade o responsvel pelos incrementos na produo nacional, o que
resulta em uma concentrao da produo nas regies de maior aptido natural.
A concorrncia com outras culturas de melhor rentabilidade potencializa esse movimento: nos lti-
mos anos, por exemplo, a soja tem sido utilizada como opo de cultivo para essas reas. O cultivo
nessas circunstncias pode, ao longo dos prximos dez anos, provocar uma maior competio na
ocupao das vrzeas se a rentabilidade da soja for mais interessante.
5Arroz
Shutte
rstock
30 Outlook Fiesp 2024
As projees mostram que, em 2023/2024, a rea plantada ser de 2,3 milhes de hectares, reduo
de 5,2% sobre a rea atual.
Nesse mesmo perodo, as estimativas indicam ganho de 13,4% na produtividade, chegando a 5,8
toneladas por hectare no fim do perodo projetado, o que seria suficiente para garantir, mesmo com
a reduo de rea, uma produo satisfatria.
Em relao produo, deve chegar a 13,1 milhes de toneladas em 2023/2024, aumento de 7,5%
em relao safra 2013/2014, um avano relativamente baixo se comparado a outros produtos.
Porm, como o consumo per capita de arroz no Brasil tende a ficar estagnado nesse perodo, a de-
manda seguir o crescimento populacional do Pas.
Isso porque, em decorrncia da melhora do poder aquisitivo da populao e da maior variedade de
opes de alimentos qual est exposta, o consumo de arroz pouco tem crescido nos ltimos anos.
O aumento do consumo praticamente nulo quando a renda aumenta. Assim, o crescimento da
populao influencia mais a demanda nacional do que os ganhos de renda.
Nos ltimos dez anos, o consumo anual per capita de arroz caiu cerca de 9,0 kg, chegando a 60,7
kg por habitante em 2014. Esse volume, de acordo com as projees, manter relativa estabilidade,
chegando a 61,4 kg por habitante em 2023/2024.
Dessa forma, considerando o crescimento populacional, a demanda nacional deve chegar a 13,3 mi-
lhes de toneladas em 2023/2024, o que representaria um aumento de 8,7% para o perodo analisado.
O Brasil tradicionalmente um importador lquido de arroz, muito embora, nos ltimos quatro
anos, o Pas tenha modificado essa realidade por meio da exportao do produto, apresentando
um saldo comercial positivo, ainda que pequeno.
O comrcio local existente com o Uruguai e a Argentina, que colocam no mercado um produto de
qualidade semelhante demandada no mercado interno, dever continuar presente no horizonte
das projees e a tendncia de importar mais do que exportar ser retomada, ainda que o dficit
seja pouco representativo.
A produo nacional ser suficiente para atender ao crescimento da demanda interna. Da mesma
forma, a exportao de arroz continuar existindo, possibilitando ao Pas escoar um produto com
caractersticas diferentes das exigidas pelo mercado domstico.
O cultivo do arroz concentra-se basicamente na Regio Sul do Pas, onde a irrigao predomina. A
aptido natural do Rio Grande do Sul, que possui reas inundveis, determinante nessa concen-
trao. Nas outras regies, o arroz de sequeiro considerado uma cultura de baixa exigncia, por
isso plantado em reas de abertura ou de pastagens degradadas.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 31
O arroz de sequeiro normalmente possui menor produtividade em razo do reduzido investimento
tecnolgico e por estar mais sujeito s adversidades climticas. De uma forma geral, esse tipo de
produo apresenta uma qualidade inferior e utilizado preponderantemente para a subsistncia,
sendo a demanda por um produto de maior valor suprida pela produo sulina.
Pela aptido mencionada, a Regio Sul concentra a maior parte da produo nacional de arroz,
com cerca de 77% da oferta em 2013/2014.
J a produo nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste muito semelhante e responde, cada
uma delas, por, aproximadamente, 7% e 8% do total. A Regio Sudeste aquela com a menor par-
ticipao, ou seja, 1% do total.
A concentrao na Regio Sul ser ampliada para 82% da produo no horizonte da projeo.
O Sudeste manter 1% do total, enquanto Norte, Nordeste e Centro-Oeste perdem importncia.
No entanto, principalmente no caso das regies Norte e Nordeste, a lavoura de subsistncia dificil-
mente dever desaparecer.
32 Outlook Fiesp 2024
* A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO
Arroz Variao 2013/14 a 2023/24
Produo
+7,5%
rea Plantada
-5,2%
Produtividade
+13,4%
Produo, rea e Produtividade Brasileira de Arroz
Prod
uo
(100
0 t)
e r
ea (1
000
ha)
Produo rea Produtividade
2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24
6.000
5.800
5.600
5.400
5.200
5.000
4.800
4.600
Prod
utiv
idad
e (k
g/ha
)
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
-
Consumo Domstico e Importao Lquida de Arroz
2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24
Consumo Domstico Importao lquida
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
-
-2.000
Participao Regional na Produo de Arroz2023/24
Produo Total: 13,1 Milhes de Toneladas2013/14
Produo Total: 12,2 Milhes de Toneladas
Participao*:
Norte 8%
Nordeste 8%
Sudeste 1%
Sul 77%
Centro-Oeste 7%
Participao*:
Norte 7%
Nordeste 6%
Sudeste 1%
Sul 82%
Centro-Oeste 4%
Consumo Domstico
+9%
Importao Lquida
-180%
1000
tone
lada
s
33
Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**
de hectares plantados2,3 MILHES
80 MILtoneladas lquidas importadas
consumo per capita
de toneladas produzidas13,1 MILHES
13,4%
Arroz
em 2023/2024*
ser o crescimento da produtividade (t/ha)
5,1 5,82013/2014 2023/2024
crescimento de 180% em relao safra 2013/2014
demanda domstica
crescimento de 8,7% (0,9% a.a.)
13,3milhes de t
12,2milhes de t
(kg/hab/ano)
61,460,7crescimento de 1%
2013/14 2023/24
2013/14 2023/24
produo por regio
reduo de 0,7% a.a. ou 5,2% em relao a safra 2013/2014
crescimento de 0,5% a.a. ou 7,5% em relao safra 2013/2014
Sul
+15%82%
Norte
-3%7%
Centro-Oeste
-36%4%
Sudeste
-11%1%
Nordeste
-10%6%
Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.
34
Caf6
A cafeicultura mundial passa por um momento de ajuste, com estoques historicamente bai-
xos e a oferta de cafs arbica em queda, em contraste com um consumo mundial que tem
crescido ao redor de 2,0% ao ano. Praticamente, toda a Amrica Central est se recuperando
de um forte surto de ferrugem e as indicaes so de que esse processo dever levar alguns
anos, dada a descapitalizao dos cafeicultores e, em muitos casos, a necessidade de re-
plantio das lavouras e sua substituio por variedades mais resistentes.
O Brasil contribui para esse cenrio, j que o ano de 2014 est marcado por uma importante
alterao: aps colher, segundo dados da Conab, 49,2 milhes de sacas em 2013, teorica-
mente, o Pas deveria produzir em 2014 um volume superior quele, devido ao ciclo bienal1
da produo. Entretanto, na primeira estimativa da safra 2014/2015, a Conab alertou para o
fato de que neste ano haveria, pela primeira vez, uma quebra na bienalidade, ou seja, aps
colher uma safra menor em 2013, 2014 registraria nova queda na produo.
Basicamente, dois motivos explicam esse cenrio: a forte seca combinada com altas tem-
peraturas que assolaram em particular os estados de Minas Gerais e So Paulo, onde est
localizada a maior parte do parque cafeeiro, e as modificaes no manejo da cultura.
Em relao questo climtica, segundo o Instituto Agronmico de Campinas (IAC), a esta-
o chuvosa de outubro de 2013 a maro de 2014 foi a pior em mais de 124 anos, o que aca-
bou comprometendo duas safras simultaneamente. Primeiro, a produo 2014/2015, que
1 O ciclo bienal ou bienalidade a alternncia de safras com alta e baixa produtividade, uma caracterstica fisiolgica do caf arbica, que resulta em uma variao do Market Share do Brasil no comrcio internacional de um ano para o outro.
Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**
de hectares plantados2,3 MILHES
80 MILtoneladas lquidas importadas
consumo per capita
de toneladas produzidas13,1 MILHES
13,4%
Arroz
em 2023/2024*
ser o crescimento da produtividade (t/ha)
5,1 5,82013/2014 2023/2024
crescimento de 180% em relao safra 2013/2014
demanda domstica
crescimento de 8,7% (0,9% a.a.)
13,3milhes de t
12,2milhes de t
(kg/hab/ano)
61,460,7crescimento de 1%
2013/14 2023/24
2013/14 2023/24
produo por regio
reduo de 0,7% a.a. ou 5,2% em relao a safra 2013/2014
crescimento de 0,5% a.a. ou 7,5% em relao safra 2013/2014
Sul
+15%82%
Norte
-3%7%
Centro-Oeste
-36%4%
Sudeste
-11%1%
Nordeste
-10%6%
Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.
Shutterstock
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 35
j estava em estgio de desenvolvimento, sofreu restries de gua que resultaram em m
formao e baixo peso dos gros. Em segundo lugar, a mesma seca fez com que o desenvol-
vimento vegetativo dos cafezais durante o vero fosse comprometido e, como a florada de
2014 acontece sobre esses ramos novos, tambm est prevista uma possvel frustrao na
safra para 2015.
Em relao ao manejo, segundo fator que ajuda a explicar o comportamento atpico da safra
2014, foi possvel verificar que muitos produtores realizaram podas drsticas e esqueleta-
mentos em razo da baixa rentabilidade da cultura. Pela importncia que vem ganhando a
cafeicultura, vlida uma breve explicao: a poda drstica (ou recepa) consiste no corte do
tronco da planta em torno de 50 cm acima da superfcie do solo aps a colheita, enquanto
o esqueletamento uma tcnica de poda dos ramos laterais. Ambas as tcnicas tm como
objetivo alongar a vida til do cafeeiro, evitando o replantio, que bem mais custoso. No
caso do esqueletamento, a tcnica leva chamada safra zero no ano seguinte, mas a partir
do segundo ano tem-se uma boa recuperao do potencial produtivo.
Apenas para ilustrar, em razo da bienalidade, uma lavoura com manejo tradicional produz, hi-
poteticamente, 50 sacas/ha em um ano e 20 sacas/ha no prximo. Com o esqueletamento, esse
cenrio se altera, pois, se a poda impede a produo no ano seguinte em que foi realizada, dois
anos depois o resultado ser equivalente soma das duas safras com o manejo tradicional, ou
seja, 70 sacas/ha para o exemplo citado. Isso permite otimizar a utilizao dos insumos, a infra-
estrutura e os recursos humanos, concentrando os mesmos no ano de safra cheia.
A partir da popularizao dessa tcnica, em um mesmo ano-safra, diferentes regies pos-
suem lavouras com safras muito altas, enquanto outras apresentam safras baixas, ambas
influenciadas pelo manejo mencionado. O fato pode ajudar a quebrar em algum momento,
como em 2014, a lgica de safra baixa em um ano e safra alta em outro.
De todo modo, o nmero final da safra brasileira 2014/2015 ser oficializado no fim de 2014,
porm, com a colheita praticamente encerrada at o incio de setembro, o volume dever fi-
car em torno de 44 milhes de sacas, 10% menor que o ano anterior. Neste caso, a produo
de caf do tipo arbica dever recuar 19%, para cerca de 31 milhes de sacas, enquanto a
safra de caf conilon, que no foi afetada pela estiagem, dever apresentar um crescimento
de 20%, para 13 milhes de sacas.
Para 2015, h um relativo consenso de que o comprometimento da produo grande, o que
poder ser melhor quantificado apenas no fim do ano, aps a verificao do pegamento da
florada principal. Alm disso, as pssimas condies das lavouras, devido ao dficit hdrico
ocorrido, forar os produtores a realizarem novos esqueletamentos e podas drsticas ao
fim de 2014, o que significa que nesses cafezais no haver produo em 2015, apesar de
haver um grande potencial de recuperao da produtividade em 2016.
36 Outlook Fiesp 2024
Ainda assim, o Brasil um dos pases mais competitivos na produo de caf arbica no
mundo, tanto em termos de custo de produo como de produtividade, e possivelmente o
nico com condies de incrementar relativamente rpido seus volumes produzidos. A Co-
lmbia tambm dever se destacar nos prximos anos, devido aos replantios realizados, vi-
sando aumentar a produtividade com a utilizao de variedades resistentes ferrugem. Mas
vale lembrar que esse pas produz apenas 30% da produo brasileira, o que significa que
o Brasil ainda seguir como o principal produtor mundial, especialmente de caf arbica.
Nesse sentido, estimamos que, apesar de uma reduo esperada da rea plantada em pro-
duo de 1,1%, a safra brasileira de caf crescer 26% at 2024, significando um incremen-
to mdio anual de 1,9%, com a oferta chegando a 56 milhes de sacas ao fim do perodo
projetado. Isto ser possvel devido ao crescimento da produtividade, de 28% no perodo,
partindo das atuais 23 sacas/ha para 29 sacas/ha em 2024.
As lavouras de caf devero continuar fortemente concentradas na Regio Sudeste, devido
s necessidades especficas de altitude e clima demandadas pela cultura, que so encon-
tradas na regio.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 37
Crescimento (de 2014/2015 a 2024/2025)Participao em 2024/25**
de hectares plantados1,9 MILHO
30,5 MILHESde sacas exportadas
consumo per capita
de sacas produzidas56 MILHES
28%
Caf
em 2024/2025*
ser o crescimento da produtividade (sacas/ha)
23 292014/2015 2024/2025
reduo de 9% em relao safra 2014/2015
demanda domstica
crescimento de 24% (2,2% a.a.)
25,9milhes de sacas
20,9milhes de sacas
(kg/hab/ano)
7,26,2crescimento de 16%
2014/15 2024/25
2014/15 2024/25
produo por regio
reduo de 0,2% a.a. ou 1% em relao a safra 2014/2015
crescimento de 1,9% a.a. ou 26% em relao safra 2014/2015
Sul
-18%0,7%
Norte
3%-7%
Centro-Oeste
-2%0,7%
Sudeste
30%92%
Nordeste
0%4%
Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: * Comparativo entre as safras 2014/2015 e 2024/2025- Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.
Caf Variao 2014/15 a 2024/25
Produo
+26%
rea Plantada
-1%
Produtividade
+28%
Produo, rea e Produtividade Brasileira de Caf
Prod
uo
(100
0 sa
cas)
e
rea
(100
0 ha
)10
00 sa
cas
Produo rea Produtividade
2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25
2.000
30
25
20
15
10
5
0
Prod
utiv
idad
e (s
acas
/ha)
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
-
Consumo Domstico e Exportao Lquida de Caf40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
-2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25
Consumo Domstico Exportao lquida
Participao Regional na Produo de Caf
Participao*:
Norte 3%
Nordeste 5%
Sudeste 89%
Sul 1%
Centro-Oeste 1%
Participao*:
Norte 3%
Nordeste 4%
Sudeste 92%
Sul 1%
Centro-Oeste 1%
2024/25Produo Total: 56 Milhes de Sacas
2014/15Produo Total: 44 Milhes de Sacas
Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAgro
Consumo Domstico
+24%
Exportao Lquida
-9%
* A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO 38
Crescimento (de 2014/2015 a 2024/2025)Participao em 2024/25**
de hectares plantados1,9 MILHO
30,5 MILHESde sacas exportadas
consumo per capita
de sacas produzidas56 MILHES
28%
Caf
em 2024/2025*
ser o crescimento da produtividade (sacas/ha)
23 292014/2015 2024/2025
reduo de 9% em relao safra 2014/2015
demanda domstica
crescimento de 24% (2,2% a.a.)
25,9milhes de sacas
20,9milhes de sacas
(kg/hab/ano)
7,26,2crescimento de 16%
2014/15 2024/25
2014/15 2024/25
produo por regio
reduo de 0,2% a.a. ou 1% em relao a safra 2014/2015
crescimento de 1,9% a.a. ou 26% em relao safra 2014/2015
Sul
-18%0,7%
Norte
3%-7%
Centro-Oeste
-2%0,7%
Sudeste
30%92%
Nordeste
0%4%
Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: * Comparativo entre as safras 2014/2015 e 2024/2025- Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.
39
A crise no setor sucroalcooleiro persiste. Foram cerca de 60 usinas fechadas na regio Centro-Sul desde
a safra 2007/2008. A moagem de cana no Pas quebrou um ciclo de dez anos de crescimento, iniciado em
2000/2001, depois de alcanar 620 milhes de toneladas na safra 2010/2011.
Alm do clima, que afetou bruscamente as safras entre 2011 e 2014, a dificuldade de manter um nvel
necessrio de tratos culturais dos canaviais, a adaptao ampliao da mecanizao da colheita e,
posteriormente, do plantio, somando-se poltica de preos da gasolina do Governo Federal, foram al-
guns dos fatores que levaram o setor sucroalcooleiro a um cenrio marcado por recuperaes judiciais,
paralisaes e desligamentos.
Reflexo disso, a produtividade da cultura despencou: a produo de cana por hectare caiu de 75,9 tone-
ladas na safra 2007/2008 para 68 toneladas em 2014/15, ao mesmo tempo que a qualidade da matria-
-prima, medida em quantidade de ATR (acar total recupervel) por tonelada de cana, passou de 144
toneladas em 2007/2008 para 133 em 2013/2014.
Em 2014, o setor sucroalcooleiro atingiu o auge de uma crise anunciada, na qual pesaram no somente
as adversidades climticas e de mercado, mas tambm a poltica adotada pelo governo federal, de ma-
nuteno dos preos dos combustveis artificialmente baixos, por meio da comercializao da gasolina
aos consumidores a valores inferiores aos pagos na gasolina importada.
Com isso, o etanol hidratado, que tem como limite de preo na bomba um porcentual em torno de 70%
em relao gasolina, no pde passar pelos necessrios reajustes de preos, diante dos seguidos au-
mentos dos custos de produo.
7Cana-de-Acar, Acar e Etanol
Edito
ra Gaze
ta Sant
a Cruz
40 Outlook Fiesp 2024
Para ilustrar a situao, em 2013 o preo mdio do etanol hidratado nas usinas de So Paulo, sem
impostos, foi de R$ 1,18. Se o preo da gasolina praticado pela Petrobras no mercado interno
fosse equivalente ao preo internacional, e considerando a mesma paridade de preo do etanol
em relao gasolina observada em 2013, o preo do hidratado na usina deveria estar em R$ 1,34
por litro. Nesse caso, haveria tambm um reajuste proporcional no preo do etanol anidro. Essas
diferenas de preo representariam um aumento de cerca de R$ 4,5 bilhes, somente nas receitas
do setor com etanol.
Isso sem contar que o etanol, voltando a ser atrativo, traria ganhos potenciais para o acar tam-
bm, pois haveria um redirecionamento do mix de produo mdio do setor mais voltado ao com-
bustvel, por conta da maior demanda pelos consumidores e pela melhora das margens. Por essa
lgica, e por ser o maior exportador mundial de acar, ao reduzir a oferta do produto, o Brasil
contribuiria de forma importante para acelerar a recomposio dos preos desse produto no mer-
cado internacional. Essas receitas adicionais seriam muito importantes para um setor que chegou,
em 2013, a um endividamento total de R$ 66 bilhes, equivalente a, praticamente, todo o valor da
receita auferida pelas usinas no ano.
Com esse cenrio, o processo de reestruturao do setor significar uma nova fase de fuses e aquisies
no Brasil. A retomada de investimentos s se dar aps o equilbrio entre o endividamento das empresas
e sua capacidade de gerao de renda. No mdio prazo, o setor no ter condies de crescer significa-
tivamente, mas o incio de um novo ciclo deve se dar em 2015, ano em que a produo global de acar
ser deficitria em relao ao consumo, delineando novos patamares de preos.
A velocidade dessa retomada depender, em boa parte, de uma mudana na poltica de regulao dos
preos dos combustveis, o que definir, de certa forma, o futuro do etanol hidratado no Pas. Uma po-
ltica de equalizao dos preos dos combustveis ao mercado externo promoveria um cenrio de reto-
mada do setor.
J a continuidade do artificialismo dos preos internos da gasolina pode comprometer de forma grave as
empresas, reduzindo gradativamente a oferta de etanol hidratado, que ser convertido em aumento da
oferta de etanol anidro e um excedente de acar, condio que impedir uma recuperao dos preos.
Para compreender a situao do acar e a abrangncia da crise do setor, destaca-se que o produto en-
frenta, desde meados de 2011, queda nos preos internacionais.
O fenmeno foi resultado do aumento da produo em pases menos expressivos para esse mercado,
principalmente os asiticos, e da resposta dos produtores de acar de beterraba forte quebra de safra
na ndia em 2009/2010, que na ocasio gerou um dficit no mercado mundial e, consequentemente,
uma elevao expressiva dos preos do produto, reavendo as margens para esses produtores. Isso levou
a quatro anos de supervit no mercado de acar global, trazendo seus preos para prximo do custo de
produo brasileiro.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 41
No caso das projees que sero apresentadas a seguir, fundamental destacar que, para a elaborao
das mesmas, consideramos um cenrio otimista, ou seja, de conformidade dos preos da gasolina com
o mercado internacional para os prximos anos.
Assim, a produo de acar e etanol dever chegar, em 2024, a 48,7 milhes de toneladas e 42,8 bilhes
de litros, respectivamente, o que demandar uma rea plantada de 10,5 milhes de hectares e uma pro-
duo de 851 milhes de toneladas de cana-de-acar.
No cenrio projetado, o Brasil dever enviar ao mercado externo 36,8 milhes de toneladas de acar, o
que representa 18% da demanda mundial.
No caso especfico do etanol, com uma frota flex atendida em 27% pelo combustvel, a demanda chega-
ria, em 2024, a 40,4 bilhes de litros. O mercado internacional no deve trazer notcias suficientes para
modificar o cenrio do produto, j que a demanda de etanol avanado, estabelecida no Renewable Fuels
Standard dos EUA, tende a se manter no patamar atual ou ser revista para baixo, provocando a reduo
da demanda do etanol importado do Brasil.
42 Outlook Fiesp 2024
Cana-de-Acar, Acar e Etanol Variao 2014/15 a 2024/25
Produo, rea e Produtividade Brasileira de Cana-de-Acar
Prod
uo
(100
0 t)
e r
ea (1
000
ha)
Produo rea Produtividade
2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25
900.000
800.000
700.000
600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
8.000
85
80
75
70
65
60
Prod
utiv
idad
e (t/
ha)
Destino da Cana-de-Acar100%
80%
60%
40%
20%
0%2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25
Cana para acar Cana para etanol
Mix2024/25
Acar
41%
Etanol
59%
Produo
+41%
rea Plantada
+19%
Produtividade
+19%
Consumo Domstico e Exportao Lquida de Acar40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
-2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25
Consumo Domstico Exportaes lquidas
Consumo Domstico
+6%
Exportao Lquida
+59%
1000
tone
lada
s
43Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO
Cana-de-Acar, Acar e Etanol Variao 2014/15 a 2024/25
Evoluo da frota brasileira de veculos
1000
uni
dade
s
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
-2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25
Frota Total % Frota Flex com Hidratado
26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 27% 27%
Participao Regional na Produo de Cana-de-acar
Participao*:
Norte 1%
Nordeste 9%
Sudeste 64%
Sul 7%
Centro-Oeste 19%
Participao*:
Norte 1%
Nordeste 10%
Sudeste 61%
Sul 6%
Centro-Oeste 23%
2024/25Produo Total: 851 Milhes de Toneladas
2014/15Produo Total: 603 Milhes de Toneladas
Frota brasileira de veculos
+54%
Consumo Domstico de Etanol Anidro e Hidratado
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
-2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25
Consumo Anidro Consumo Hidratado
Etanol Anidro
+44%
Etanol Hidratado
+81% Milh
es d
e lit
ros
44 * A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO
Cana-de-Acar,Acar e Etanol
em 2024/2025*
rea(hectares)
10,5mi Produo(toneladas)
Produtividade(t/ha)
crescimento de 19%
crescimento de 41%
crescimento de 19%
10,5mi 850,9mi 81
Ac
ar
MIx de prod
uoProduo
(toneladas)
crescimento de 41%
crescimento de 59%
crescimento de 6%
2024/25
Acar
48,7mi
Exportaeslquidas (t)
36,8mi
Demandadomstica (t)
11,9mi 41% 59%
Etanol
Cana
-de-ac
ar
Etan
ol
Sudeste
33%61%
Crescimento
(de 2014/2015 a 2024/2025)
Participao em 2024/25**
Nordeste
56%10%
Sul
14%6%
Centro-Oeste
71%23%
Norte
88%1%
Produo(litros)
Exportaeslquidas (l)
Demandadomstica (l)
crescimento de 68%
crescimento de 54%
crescimento de 65%
42,8bi 2,6bi 40,4bi 27% flex hidratado
frota brasileira de veculos leves
53 mi unid
produo por regio
(em relao safra 2014/2015)
(em relao safra 2014/2015)
(em relao safra 2014/2015)
Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2014/15 e 2024/2025 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.
45
A produo mundial de feijo gira ao redor de 23 e 24 milhes de toneladas. Pases como China e
ndia, principais produtores mundiais, fazem com que a sia responda por 46% da oferta no mundo.
As Amricas, principalmente Brasil e Mxico, respondem por mais 31% dessa oferta, enquanto a
frica perfaz 21% e Europa e Oceania concentram os 2% restantes. Embora o feijo seja consumido
em muitos pases, o comrcio mundial possui pouca representatividade e as compras ocorrem ge-
ralmente entre pases prximos.
A produo brasileira varia de acordo com a rentabilidade dos produtores e o comportamento do
clima. Na safra 2013/2014, aps a excelente rentabilidade verificada em 2013, a produo nacional
dever alcanar 3,3 milhes de toneladas. No entanto, j na prxima safra alguma reduo deve
ocorrer, em virtude dos preos menos atraentes pelo qual a lavoura vem passando ao longo do ano.
A produo do gro dividida em trs safras, cultivadas em perodos e locais diferentes. A primeira
e a segunda safras tm maior representatividade, porm a terceira essencial para complementar a
demanda do mercado interno ao longo do ano. As projees indicam que a produo de feijo, nos
prximos dez anos, ter pequeno acrscimo de 229 mil toneladas em relao oferta de 2013/2014,
chegando a 3,7 milhes de toneladas em 2023/2024.
A rea cultivada, que hoje de 3,3 milhes de hectares, deve passar a 3 milhes de hectares no fim
do perodo analisado. Essa reduo de 10% nos prximos dez anos segue a tendncia histrica, que
se iniciou na dcada de 90. Os acrscimos de produtividade obtidos no decorrer do tempo tm sido
suficientes para garantir a produo necessria para atender o mercado interno, liberando reas
de plantio para culturas mais dinmicas. As projees indicam que a produtividade mdia do feijo
ter um acrscimo de 19% no perodo.
O hbito do brasileiro de consumir feijo no deve mudar. O consumo tem variado muito pouco
h anos e oscila ao redor dos 3,5 milhes de toneladas. Assim como o arroz, o feijo um produto
8Feijo
Shutte
rstock
46 Outlook Fiesp 2024
bsico da alimentao e a elevao de renda produz uma substituio do produto por alimentos
mais elaborados. Nesse caso, o crescimento populacional o principal determinante do aumento
da demanda, que dever variar pouco no perodo da projeo.
Estimamos um acrscimo na demanda atual de cerca de 188 mil toneladas, chegando a 3,5 milhes
de toneladas em 2023/2024. Em mdia, o consumidor brasileiro deve demandar menos do que hoje,
com o consumo passando de 16,7 kg para 16,4 kg por pessoa em 2023/2024.
Como a produo deve atingir os 3,7 milhes de toneladas na safra 2023/2024 e, apesar de o volu-
me ser suficiente para atender demanda interna, consideramos que algum movimento importa-
dor continuar ocorrendo. Nos ltimos anos, pelo menos 300 mil toneladas foram importadas para
atender eventual falta de produto no mercado, seja porque a entressafra foi mais longa ou porque
a safra apresentou alguma reduo de produo.
A produo de feijo bem distribuda no territrio brasileiro, com exceo da Regio Norte, que
de 2,3% da oferta total. J as regies Sul, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste possuem grande impor-
tncia na composio da oferta nacional.
As projees indicam que, nos prximos dez anos, continuar havendo essa diversidade na produ-
o brasileira, porm, a Regio Centro-Oeste dever ganhar importncia. O crescimento da lavoura
de feijo nessa regio tem sido significativo nos ltimos anos e sua participao dever passar de
25% para 30% da produo nacional.
PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 47
Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**
de hectares plantados3,0 MILHES
40 MILtoneladas
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