Outlook 2024 Pt

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Projeções de produção para as principais commodities do mercado brasileiro.

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  • PROJE

    ES PARA O AGRONEGCIO

    BRASILEIRO

    www.fiesp.com.br/outlook

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    2024

    PROJEES PA

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    IRO

    Outlook Fiesp2024

    4 capa 1capa

  • Outlook Fiesp 2024PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO

    So Paulo, 2014

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 3

  • Catalogao na Fonte

    Federao das Indstrias do Estado de So Paulo Outlook Fiesp 2024: projees para o agronegcio brasileiro / Federao das Indstrias do Estado de So Paulo. -- So Paulo: FIESP, 2014.100 p. : il.

    Bibliografia. ISBN: 978-85-7201-017-7

    1. Agronegcio 2. Projees 3. Fertilizantes 4. China 5. Economia agrcola 6. rea plantada 7. Produo agrcola 8. Consumo domstico 9. Exportao 10. Uso da terra I. Ttulo

    CDU 338.13F293o

    Catalogao na Fonte

    4 Outlook Fiesp 2024

  • PresidentePaulo Skaf

    DEPARTAMENTO DO AGRONEGCIO

    Diretor TitularBenedito da Silva Ferreira

    DiretoresDiviso de Insumos: Mario Sergio Cutait

    Diviso de Produtos de Origem Vegetal: Laodse Denis de A. Duarte

    Diviso de Produtos de Origem Animal: Francisco Srgio Turra

    Diviso de Caf, Confeitos, Trigo e Panificao: Nathan Herszkowicz

    GerenteAntonio Carlos P. Costa

    Equipe TcnicaAnderson dos Santos

    Fabiana C. Fontana

    DiretorJos Roberto Mendona de Barros

    Alexandre Mendona de Barros

    Jos Carlos Hausknecht

    Equipe TcnicaAna Laura Menegatti

    Cesar de Castro Alves

    Eduardo Pessina

    Francisco Queiroz

    Renata Marconato

    Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

    Departamento do Agronegcio DEAGRO

    Av. Paulista, 1.313, 5 andar

    CEP: 01311-923 So Paulo SP

    www.fiesp.com.br

    [email protected]

    MB Agro Consultoria

    R. Henrique Monteiro, 90, 12 andar

    CEP: 05423-020 So Paulo SP

    www.mbagro.com.br

    [email protected]

    Projeto Grfico e Diagramao: Laura Doi/Studio MRK

    Reviso: Hassan Ayoub

    Impresso: Grfica HRosa Ou

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    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 5

  • O Outlook FIESP 2024 Projees para o Agronegcio Brasileiro refora a importncia do Brasil

    no cenrio internacional de alimentos, fibras e energia: o Pas aumentar a j relevante partici-

    pao no comrcio internacional de produtos como a soja e o acar, que atingiro, em 2024,

    o patamar de 50% e 55% das exportaes mundiais, respectivamente, alm de manter uma

    grande presena comercial nas protenas animais, como as carnes bovina e de frango, entre

    outros destaques positivos. Nesse caso, ampliar a condio de maior supervit comercial agr-

    cola do mundo nos prximos dez anos. Esse desempenho seguir favorecendo diretamente as

    indstrias ligadas ao setor, que, em termos nacionais, representam cerca de 40% do total do

    PIB do Agronegcio.

    No entanto, apesar do desempenho favorvel de longo prazo, sustentado por slidos funda-

    mentos de demanda global, existe uma srie de variveis ainda em aberto, dentro e fora do

    Brasil, cujos desdobramentos afetaro, j em 2015, tanto a produo quanto o consumo, com

    reflexos para o futuro.

    Sob a tica internacional, aguardada uma safra mundial recorde para a soja e o milho, com

    destaque para os Estados Unidos, o que tem depreciado os preos internacionais, com refle-

    xos na queda da expectativa de agentes desse segmento, como as indstrias de insumos e os

    produtores agrcolas. Contribui para isso o provvel aumento dos juros da economia norte-

    -americana em 2015, acompanhado pela reduo dos mecanismos de estmulo economia

    dados pelo Banco Central (Fed) daquele pas.

    Algumas notcias vindas de fora, por outro lado, favoreceram o Brasil, j que os recentes

    embargos da Rssia a pases da Unio Europeia e aos EUA abriram oportunidades para o

    incremento das exportaes brasileiras de carnes, embora no se saiba ao certo quando e

    como a situao ser normalizada. Espera-se, de qualquer modo, a fidelizao de uma parte

    importante do mercado russo at l, dando continuidade aos bons resultados desses seg-

    mentos, ampliando os incentivos a novos investimentos e crescente intensificao da pe-

    curia nacional.Cart

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    6 Outlook Fiesp 2024

  • As incertezas domsticas em relao ao clima, seus possveis efeitos sobre o plantio de soja e

    a consequente perda da janela ideal de plantio do milho segunda safra em algumas regies,

    tornam difcil prever com preciso o impacto para a colheita do prximo ano. Isso sem contar

    as demais culturas, que j foram afetadas na safra atual. Em alguns casos, como o caf, por

    exemplo, a estiagem severa j comprometeu a florao, a estrutura das plantas e, consequen-

    temente, uma parte da produo de 2015.

    Alm disso, o Pas assistiu a uma acirrada disputa eleitoral para a escolha do presidente da

    Repblica, da qual saiu vitoriosa a situao, agregando um discurso de mudana. Fica a ques-

    to de como ela ser efetivada, especialmente na rea econmica, pois o baixo crescimento

    atual, aliado a uma inflao pressionada, j afeta o agronegcio de forma direta, uma vez

    que, para boa parte dos produtos avaliados, o mercado domstico o principal vetor de cres-

    cimento, como no caso das protenas animais em geral. Nesse caso, a retomada de uma ati-

    vidade econmica mais vigorosa ser fundamental para sustentar o desempenho de diversos

    setores do agronegcio.

    Se, por um lado, a indefinio acerca de todos esses fatores um desafio em termos de proje-

    o para os prximos anos, as anlises realizadas nesta publicao permitem a manuteno do

    otimismo em relao ao setor em geral, e ao Brasil em particular, ao longo do perodo projeta-

    do. Essa premissa est refletida nos nmeros.

    Em momentos como este, de cenrio menos favorvel do que o verificado em anos anteriores, o

    Pas ganha a oportunidade de aprimorar suas polticas pblicas, por meio de aes estruturais

    para potencializar a competitividade do seu agronegcio, e de ampliar a sua insero interna-

    cional, possibilitando atingir um desempenho ainda melhor que o projetado neste trabalho.

    Boa leitura para todos.

    Paulo SkafPresidente

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 7

  • nd

    ice

    1 Consideraes, 10

    2 Cenrio Macro, 12

    3 China, 17

    Resultados das Projees

    4 Algodo, 26

    5 Arroz, 30

    6 Caf, 35

    7 Cana-de-acar, acar e etanol, 40

    8 Outlook Fiesp 2024

  • Shutterstoc

    k

    8 Feijo, 46

    9 Milho, 50

    10 Soja: gro, farelo e leo, 54

    11 Trigo, 59

    12 Carne bovina, 63

    13 Carne de frango, 68

    14 Carne suna, 72

    15 Lcteos, 76

    16 Celulose, 80

    17 Suco de laranja, 84

    18 Fertilizantes, 89

    19 Uso da terra, 94

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 9

  • 1Esta nova verso do Outlook uma continuao do trabalho iniciado em 2013, quando foi esta-

    belecida a parceria entre a FIESP e a MB Agro com o intuito de disponibilizar projees para os di-

    versos setores do agronegcio brasileiro. Para tanto, a MB Agro tem utilizado seu modelo de oferta

    e demanda de produtos agrcolas, desenvolvido e aperfeioado ao longo dos ltimos dez anos. A

    continuidade desse trabalho resultado de um projeto de longo prazo que tem o objetivo de trazer

    elementos para discusses acerca dos diversos setores envolvidos com o agronegcio, e com isso

    auxiliar na identificao de gargalos e na elaborao de propostas para o futuro do setor, possibili-

    tando antever as aes necessrias tendo em vista o crescimento esperado.

    O modelo estabelece um balano de oferta e demanda mundial que mantenha consistncia entre

    as principais economias produtoras e consumidoras de alimentos do mundo. A consistncia ava-

    liada a partir das relaes estoque/uso, que devem manter o mercado estabilizado no longo prazo.

    O modelo de projeo da produo brasileira, no caso das commodities consideradas, parte de um

    balano mundial da produo e do consumo de alimentos, no qual a demanda de cada pas esta-

    belecida a partir das expectativas de aumento da populao e do crescimento da renda per capita,

    combinados s elasticidades-renda dos alimentos em cada um dos pases. As previses de renda uti-

    lizadas so as divulgadas pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI) e da populao, pela Organizao

    das Naes Unidas (ONU). No caso brasileiro, as estimativas de crescimento da economia foram feitas

    pela MB Associados, baseadas em seu modelo macroeconmico de consistncia para o Pas.

    Do ponto de vista da oferta, a produo dos alimentos projetada com base na tendncia da produ-

    tividade e da rea disponvel em cada um dos principais produtores. O Brasil varivel-chave para o

    fechamento do balano internacional, dado que uma das poucas regies em que ainda possvel

    obter um ganho de produtividade, aliado ao aumento da rea agrcola, ao contrrio, por exemplo,

    dos EUA, onde a produo s pode crescer a partir de ganhos restritos de produtividade ou de me-

    nor produo de uma determinada commodity em detrimento de outra.

    Obtida a produo brasileira necessria para que a relao estoque/consumo mundial se mantenha

    em um patamar em que os preos justifiquem o crescimento da oferta global, as reas demandadas

    para alcanar tais produes so estimadas a partir da curva projetada de produtividade para cada

    uma das commodities agrcolas em cada uma das regies brasileiras.

    Uma peculiaridade no caso do etanol que o consumo interno brasileiro derivado de um modelo

    de crescimento e depreciao da frota de veculos em funo do PIB, tendo como varivel exgena

    a participao dos veculos Flex Fuel nas vendas totais.

    Consideraes 1

    10 Outlook Fiesp 2024

  • No caso da celulose, a demanda por rea plantada com florestas vem dos novos investimentos em

    fbricas programados pelo setor, que, no longo prazo, atendem demanda para exportao e para

    o mercado interno da celulose produzida no Pas.

    As reas e as produtividades esperadas so as variveis de entrada no modelo de demanda de ferti-

    lizantes da agricultura brasileira. Associando essa produtividade com a curva de resposta aduba-

    o, estabelece-se a necessidade de NPK por hectare para cada cultura. Multiplicando a rea total

    de cada cultura pela necessidade de NPK, chega-se ao consumo de NPK para as lavouras. Adicio-

    nando a esse consumo o de fertilizantes para as pastagens, o reflorestamento e a adubao de base

    para abertura de novas reas, totaliza-se a demanda de NPK para o Brasil em 2024.

    A partir dos projetos de investimento no aumento da capacidade instalada de produo de ferti-

    lizantes no Pas, estima-se a oferta domstica futura de nutrientes, tendo como pressuposto um

    nvel histrico de utilizao dessa capacidade instalada. Com a oferta desses nutrientes por regio,

    o balano entre demanda e oferta calculado, obtendo-se a necessidade de importao em 2024.

    Vale ressaltar, como observao para todo este trabalho, que as projees adotam pressupostos

    que podem ser modificados ao longo do perodo considerado: eventos climticos mais severos,

    abertura de mercados, modificao do status sanitrio e reduo ou aumento do protecionismo

    internacional so apenas algumas das variveis que podem afetar as expectativas para determi-

    nado produto.

    Atualmente, no caso do leite, a produo basicamente direcionada pela demanda do mercado

    domstico, dado que o Pas no se configura como um grande player internacional desse produto.

    No entanto, a combinao da alta do dlar no mercado domstico com a maior profissionalizao e

    intensificao da produo, alm da possibilidade de aumento mais expressivo do consumo na Chi-

    na, pode levar o Brasil a se consolidar como um relevante exportador ao longo do perodo avaliado.

    No entanto, essa no a premissa utilizada na reviso deste modelo, ao menos por hora.

    Em relao projeo divulgada em 2013, alguns parmetros utilizados na pecuria foram altera-

    dos, devido falta de informaes confiveis sobre o nmero efetivo de cabeas do rebanho na-

    cional, o que faz com que esses nmeros apresentem grande variao de uma fonte de dados para

    outra. Nesta atualizao foram feitas modificaes das premissas de produtividade e rebanho que

    levaram a diferenas nas estimativas futuras do nmero de animais.

    Devido possibilidade de alterao nas produes e estimativas de demanda em razo dos fatores

    de risco inerentes ao setor agrcola ou a mudanas nas expectativas macroeconmicas, as estima-

    tivas sero revisadas de forma dinmica, caso algum evento mais relevante signifique uma mo-

    dificao importante das perspectivas para as commodities analisadas. As atualizaes realizadas

    podero ser acompanhadas por meio do endereo: www.fiesp.com.br/outlook.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 11

  • O atual contexto macroeconmico representa uma virada de ciclo econmico. Isso verdade no

    cenrio internacional, brasileiro e agrcola.

    O ponto central de virada no contexto internacional a macroeconomia dos EUA. Os indicadores econ-

    micos sugerem que a economia norte-americana est reencontrando sua trajetria de crescimento de

    longo prazo. O PIB desse pas alcanou um crescimento anualizado de 3,5% no terceiro trimestre de 2014

    e todas as expectativas indicam que, em 2015, o crescimento ser de 3%. Embora o pleno emprego no

    seja realidade presente, as sinalizaes do Banco Central americano (Fed) indicam que, em 2015/2016, o

    mercado de trabalho convergir para nveis histricos, da ordem de 5% de desemprego. Nesse contexto,

    a taxa de juros deve ser elevada, reiniciando o ciclo de valorizao do dlar. O mundo voltaria a ser o que

    era, com os EUA como seu protagonista do ponto de vista econmico. A valorizao do dlar, consequ-

    ncia da elevao da taxa de juros do pas, ter forte impacto nos mercados agrcolas. Alm desse fato, a

    baixa de preos e a variao de custos criaro problemas aos fazendeiros americanos.

    Desde a crise de 2008, o mundo assistiu a um aumento significativo da presena de capitais especu-

    lativos em todos os mercados futuros de commodities agrcolas. O contexto era de proteo perda

    do valor do dlar. Na medida em que havia a expectativa de elevao do consumo de alimentos, a

    alta nos preos desses produtos em dlar asseguraria a preservao dos ativos (em dlar) com o

    enfraquecimento da moeda. O movimento agora se inverte. O fortalecimento do dlar reduzir o

    componente especulativo dos futuros agrcolas. Eis o primeiro impacto da mudana da macroeco-

    nomia internacional sobre os mercados agrcolas. Se verdade que a recuperao econmica dos

    EUA segue trajetria segura, o inverso pode ser dito do que ora passa o continente europeu.

    Os dados de crescimento so decepcionantes em toda a Europa. At mesmo a Alemanha, economia

    lder e motor econmico do continente, vem dando sinais de baixo dinamismo. Alm disso, o qua-

    dro de movimentos dos preos internos preocupante, uma vez que em diversos pases registra-se

    deflao. Como do conhecimento de todos os economistas, a deflao um fenmeno de difcil

    2Cenrio Macro

    Fiesp

    - Everto

    n Amaro

    12 Outlook Fiesp 2024

  • controle, uma vez que a poltica monetria perde a eficcia. Os preos dos ttulos pblicos de diver-

    sos pases europeus so os mais baixos em mais de um sculo, no obstante os investimentos no

    retornarem regio. Caberia poltica fiscal buscar o reaquecimento da economia. Entretanto, a

    viso dominante na Europa de austeridade fiscal, dado o seu elevado ndice de endividamento.

    Cria-se, pois, uma macroeconomia da estagnao.

    A situao ainda agravada pelo quadro atual de conflito no Leste Europeu. A questo Rssia/Ucr-

    nia e a dinmica de embargo econmico que surgiu em 2014 criam dificuldades adicionais. bom

    ter presente que o embargo da Rssia aos EUA e a pases europeus, gera mudanas expressivas no

    comrcio mundial de carnes, o que acaba por afetar positivamente o Brasil, uma vez que a Rssia ,

    individualmente, o maior importador mundial desses produtos.

    O quadro internacional completado com o crescimento asitico. Como sempre, a questo recai

    quanto mudana macroeconmica na China. Como ser mencionado no captulo relativo a esse

    pas, a estratgia de crescimento vem sendo progressivamente revista na direo da ampliao da

    participao do consumo. A China ficou grande demais para alavancar seu crescimento por meio

    da demanda externa. A transio do modelo chins para uma sociedade de consumo seguramente

    alterar o mix de demanda de commodities energticas e metlicas. Entretanto, mudar pouco o

    consumo de alimentos. Os dados econmicos da China parecem sugerir um crescimento da ordem

    de 7% no horizonte mais prximo. Por ser hoje a segunda maior economia do mundo, essa taxa

    representa um potencial expressivo de aumento da demanda de alimentos. Somada ndia e aos

    demais pases no entorno dessas duas grandes economias, espera-se que a sia continue sendo o

    propulsor do crescimento mundial e do comrcio de alimentos.

    Do ponto de vista da economia brasileira, o momento tambm de mudanas, embora o cenrio

    seja ainda incerto, a depender do conjunto de polticas econmicas escolhido daqui para a frente. A

    nova matriz econmica alterou substancialmente os princpios que marcaram os governos de 1998

    a 2006. Os pilares daquela poltica econmica eram (i) o controle das contas pblicas (metas fiscais

    rgidas), (ii) regime de metas de inflao e (iii) taxa de cmbio flexvel. O equilbrio macroeconmico

    proposto por esse modelo era o de seguir persistentemente reduzindo simultaneamente, no longo

    prazo, a inflao e a taxa de juros, deixando o cmbio flexvel realizar o ajustamento das contas

    externas. O controle fiscal rigoroso e a volta do crescimento econmico assegurariam a queda no

    endividamento da economia brasileira, garantindo, assim, a reduo da taxa de juros e o aumento

    nos investimentos, sejam eles pblicos ou privados.

    A partir de 2006, esses pilares foram sendo progressivamente alterados. A aposta da poltica econ-

    mica foi a de estmulo demanda, no entanto, ela no veio acompanhada de medidas mais robustas,

    do ponto de vista estrutural, de incentivo competitividade dos setores produtivos como um todo. O

    conceito por trs da estratgia utilizada que os estmulos de demanda, associados reduo no cus-

    to do capital, criariam um ambiente propcio aos investimentos que promoveriam o crescimento eco-

    nmico. No entanto, o crescimento ocorreu at o limite de ocupao de toda a mo de obra existente,

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 13

  • atingindo-se o pleno emprego, e os investimentos no vieram. Sem eles, a produtividade da mo de

    obra ficou estagnada, exceto na agricultura. A consequncia da expanso da demanda sem a contra-

    partida do crescimento da oferta acabou por elevar a inflao e o dficit nas transaes correntes.

    Atingiu-se, em 2013 e 2014, o limite desse modelo. A inflao alcanou 6,5% e o crescimento econ-

    mico deve situar-se prximo de zero em 2014. A taxa de investimento no Pas chegou ao patamar de

    16% no segundo trimestre deste ano. A taxa de poupana bruta, em meados de 2014, atingiu apenas

    12%, o menor nmero em muitos anos. No intuito de evitar que a inflao passasse do teto da meta,

    a poltica econmica conteve o preo de diversos produtos que so monitorados pelo governo, tais

    como energia eltrica e gasolina. Alm disso, o Banco Central passou a operar mais ativamente no

    mercado cambial, contendo a desvalorizao com operaes de venda de dlares nos mercados

    futuros. Para completar o quadro, o baixo crescimento (e, portanto, a baixa arrecadao) e a eleva-

    o dos gastos geraram ainda uma piora nas contas pblicas, criando um cenrio de preocupao

    quanto trajetria da dvida pblica no futuro.

    A pergunta macroeconmica relevante para as projees deste Outlook se o modelo atual de poltica

    econmica seguir sendo utilizado no prximo governo ou se o Pas retornar ao trip macroeconmico

    anterior. As projees indicam que qualquer um dos dois modelos gerar pouca diferena para o ano de

    2015, mas seus impactos sero muito maiores se considerados os dez anos do horizonte das projees.

    Ocorre que a trajetria de longo prazo muda muito com os dois cenrios desenhados. Para 2015,

    difcil recuperar a economia a ponto de mudar significativamente seus resultados. Espera-se que o

    crescimento seja modesto, posto que a inflao seguir alta e diversos preos represados tero de

    ser reajustados. Alm disso, a conjuntura internacional e o dficit nas transaes correntes sinali-

    zam uma desvalorizao do Real. Para completar o quadro, como a atividade econmica ruim, a

    taxa de juros no deve sair muito dos nveis atuais. Entretanto, no mdio prazo, mantida a poltica

    atual, a tendncia de piora nas contas pblicas, na inflao e no emprego, uma vez que o inves-

    timento dever seguir baixo, seja pela incapacidade do setor pblico de investir, seja pela falta de

    confiana do setor privado, o que acarretar baixo crescimento econmico.

    Por outro lado, caso a poltica fiscal persiga um ajuste nas contas pblicas, o sistema de metas de

    inflao resgate a credibilidade de longo prazo da poltica monetria e a poltica cambial permi-

    ta a desvalorizao do real e o ajuste nas contas externas, a capacidade de investimento do setor

    pblico e privado ser resgatada, trazendo de volta o crescimento econmico esperado. Nota-se,

    portanto, que so trajetrias com efeitos muito distintos em uma dcada. O ano de 2015 marcar,

    ou no, uma mudana no contexto atual.

    A tabela a seguir apresenta o resultado dessas duas trajetrias em relao s protenas animais,

    que so diretamente afetadas pelo desempenho da economia domstica. possvel observar que

    nos diferentes cenrios, dependendo do ritmo de crescimento do PIB, o mercado interno de carnes,

    ovos e leite apresentar uma forte variao em termos de consumo ao final do perodo projetado.

    14 Outlook Fiesp 2024

  • Apesar de o consumo crescer nos dois cenrios em relao ao perodo atual (2013), a hiptese pes-

    simista representa uma variao significativamente menor, quando comparada a uma expectativa

    mais otimista, que chamamos de cenrio-base, o qual pressupe uma gradual recuperao da eco-

    nomia a partir de 2016. Dependendo do produto, essa diferena pode chegar a 12%. Isso explicita a

    importncia da retomada do crescimento econmico do Brasil, como forma de assegurar o desem-

    penho do agronegcio no Pas.

    Impactos do cenrio macroeconmico no mundo agrcola

    O quadro de demanda mundial de alimentos seguir forte. O crescimento da sia, da Amrica La-

    tina, da frica e do Oriente Mdio promover o aumento do consumo de alimentos. Nos pases de-

    senvolvidos, ainda que o desempenho no seja to forte, sempre bom ter presente que os gastos

    com alimentao representam parcela no to relevante do consumo total, o que garante, pelo

    menos, a estabilidade do consumo. claro que problemas de oferta que elevem sobremaneira o

    preo de alimentos (como o caso da carne vermelha no momento) contribuem para a procura de

    produtos substitutos (que, no caso, seriam as carnes de frango e suna). Entretanto, o cenrio geral

    bom sob a tica da procura de alimentos. A poltica energtica dos EUA dever ser mantida, uma

    vez que o consumo de etanol de milho atingiu seu patamar previsto no mandato e nem por isso tem

    comprometido os preos do gro.

    Sob a tica da demanda, o ponto potencialmente baixista para os preos justamente aquele re-

    lativo aos mercados financeiros, como mencionado anteriormente. O fortalecimento do dlar, pre-

    visto para os prximos anos, diminuir o apetite dos fundos em comprar commodities agrcolas:

    a volta do modelo pr-2008.

    O ano de 2014 marca a recuperao de estoques mundiais de gros. O fenmeno El Nio mostrou-

    -se mais fraco do que o esperado e, com isso, a excepcional safra norte-americana que est para ser

    colhida, somou-se a uma boa safra na sia. Assim, os estoques mundiais de praticamente todos os

    gros indicam boa recuperao projetada para 2015. A queda dos preos dos gros, por consequn-

    Consumo domstico brasileiro Desempenho dos setores selecionados a partir de diferentes cenrios econmicos

    Produtos Unidade 2013 2024 Diferena Variao (em %) Atual (A) Base (B) Pessimista (C) (C/B) (B/A) (C/A)

    Carne Suna Mil toneladas 2.696 3.484 3.117 -11% 29% 16%

    Carne de Frango Mil toneladas 8.829 10.890 10.247 -6% 23% 16%

    Carne Bovina Mil toneladas 7.885 9.617 9.085 -6% 22% 15%

    Leite Mil toneladas 33.670 49.116 43.467 -12% 46% 29%

    Ovos Milhes de unidades 32.319 42.807 37.759 -12% 32% 17%

    Caf Mil sacas 20.750 25.920 24.039 -7% 25% 16%

    Fonte: Outlook Fiesp. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 15

  • cia da boa oferta, permitir a recuperao nas margens das cadeias de protenas animais aps anos

    consecutivos de rentabilidades apertadas, o que deve seguir sendo verdade para 2015.

    claro que, assegurada a safra da Amrica do Sul e mantidos os preos dos gros nos patamares

    atuais, a produo de carnes e leite tender a crescer, dado o forte estmulo econmico para a pro-

    duo. Contudo, alguns desequilbrios de oferta podem manter os preos elevados no mercado

    internacional de protena animal. Esse fato especialmente verdadeiro para a carne suna em con-

    sequncia do problema da doena PED1, que vem elevando a mortandade de leites nos EUA. Alm

    disso, no caso da carne vermelha, os rebanhos dos EUA, da Austrlia e do Brasil encontram-se em

    fase de reteno de matrizes, o que limita a oferta para 2015. Isso pode manter margens positivas

    na cadeia, evitando-se uma reduo substancial dos preos internacionais. bom lembrar que a

    reao da Rssia aos embargos impostos pelos EUA e Europa, se mantida em 2015, pode fortalecer

    acima das expectativas as exportaes brasileiras de carnes para aquele pas.

    Internamente, as polticas setoriais dos ltimos anos atingiram de maneira negativa o setor sucro-

    energtico. A conteno dos preos da gasolina colocou um teto baixo nos preos do etanol. Para

    tentar ampliar minimamente a rentabilidade, os produtores brasileiros migraram a produo em

    direo ao acar. A expanso da oferta brasileira de acar derrubou as cotaes internacionais,

    uma vez que o Pas representa quase a metade do comrcio mundial da commodity.

    O setor que havia iniciado seus investimentos no ciclo de alta de preos e, portanto, j estava ala-

    vancado, com a perda de rentabilidade, devido aos menores preos, viu sua situao financeira se

    deteriorar ainda mais. Essa piora limitou a renovao e os investimentos nos canaviais, o que afetou

    a produtividade, agravando o quadro financeiro. A poltica pblica tambm desestimulou os inves-

    timentos em cogerao, que poderia agregar mais renda aos produtores.

    O quadro resultante de alto endividamento e de baixa produtividade. Para se ter uma ideia, es-

    tima-se no mercado que, no comeo da dcada passada, o total de dvida do setor alcanava R$ 3

    bilhes. Atualmente, esse montante da ordem de R$ 70 bilhes. Fica fcil perceber que o desenho

    para essa cadeia na prxima dcada depender da poltica econmica que ser adotada para o

    setor nos prximos quatro anos. Os preos da gasolina seguiro o mercado internacional? A coge-

    rao de biomassa far parte relevante da matriz energtica brasileira? O carro Flex seguir sen-

    do prioridade da poltica pblica? A poltica tributria favorecer a energia renovvel? A resposta

    a essas perguntas desenhar o quadro de crescimento de to importante cadeia do agronegcio

    brasileiro. Nas prximas pginas sero projetados cenrios para os 20 produtos considerados no

    Outlook, tomando por base os fundamentos macroeconmicos aqui delineados.

    1 A diarreia epidmica em sunos (PED) uma doena que tem provocado a morte de leites em vrios pases produtores.

    16 Outlook Fiesp 2024

  • O fim da autossuficincia chinesa nos mercados agrcolas

    As transformaes na economia chinesa nos ltimos 40 anos mudaram o mundo. O espetacular

    crescimento do pas que abriga o maior contingente populacional dentre todas as naes alterou

    sobremaneira o rumo da economia internacional, especialmente do fluxo de comrcio de bens

    industrializados e de commodities. A China mudou a direo e o ritmo de crescimento de diversas

    economias, em especial daquelas dotadas de grande capacidade de produo de commodities,

    como o caso brasileiro.

    O modelo de desenvolvimento chins pautou-se na estratgia asitica de crescimento baseada

    em altas taxas de poupana associada exportao de manufaturados, tal como concebido ini-

    cialmente pelo modelo japons e dos Tigres Asiticos. A exportao de poupana para financiar o

    dficit em transaes correntes do mundo ocidental (leia-se Estados Unidos), associada mo de

    obra barata oriunda da migrao rural-urbana e ao forte investimento em capital, capital humano

    e tecnologia, permitiu aumentos simultneos tanto na expanso da fora de trabalho subempre-

    gada no campo quanto nos expressivos ganhos de produtividade da mo de obra j empregada no

    meio urbano. Esses dois movimentos mantiveram o custo unitrio do trabalho chins muito baixo

    por dcadas, garantindo forte competitividade aos produtos chineses no mercado internacional,

    reforada, ademais, pela construo de uma robusta infraestrutura.

    Os ganhos de produtividade da mo de obra foram apoiados por uma poltica de desvalorizao da

    taxa de cmbio, possvel de ser sustentada por muitos anos em razo dos elevados nveis internos

    de poupana e, por consequncia, das baixas taxas de juro, assim como de um custo fiscal quase

    nulo da poltica cambial.

    China3

    Shutterstock

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 17

  • A estratgia asitica partiu sempre da viso de que o mercado internacional serviria para apoiar a

    expanso da produo de produtos industriais de maior valor adicionado, uma vez que os baixos n-

    veis de renda existentes no incio do processo de desenvolvimento restringiriam a demanda interna

    e, portanto, limitariam o potencial de expanso da industrializao. Evidentemente, na medida em

    que a renda per capita interna fosse expandindo, o mercado interno se consolidaria e, em decor-

    rncia, a importncia das exportaes como elemento indutor central ao modelo de crescimento

    perderia fora para a expanso do mercado interno.

    O baixo poder aquisitivo do mercado interno no incio do processo requereria outra fonte de

    demanda, que no somente a internacional, para assegurar um crescimento acelerado. Cabia,

    portanto, ao investimento ser o principal elemento indutor da demanda interna. As elevadas

    taxas internas de poupana permitiram um ritmo acelerado e sem precedentes de acumulao

    de capital e de incorporao da mo de obra na histria do crescimento asitico. Por mais de

    trs dcadas a China cresceu a taxas superiores a 10% ao ano. A cada seis ou sete anos o PIB

    chins dobrou de tamanho.

    China: evoluo do PIB per capita

    PIB

    per c

    apita

    (US$

    /hab

    )

    1980

    1982

    1984 19

    8619

    8819

    9019

    9219

    9419

    96 1998

    2000

    2002

    2004

    2006

    2008

    2010

    2012

    2014

    2016

    2018

    18.000

    16.000

    14.000

    12.000

    10.000

    8.000

    6.000

    4.000

    2.000

    0

    Fonte: FMI. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    18 Outlook Fiesp 2024

  • O estudo das estratgias asiticas de desenvolvimento permite notar que as commodities tiveram

    um papel central no modelo, uma vez que diversos pases no detinham grande oferta interna de

    energia, minrios e alimentos.

    O Japo, que foi o artfice do modelo asitico de crescimento, estruturalmente sempre soube que

    seria dependente da importao de commodities. Num certo sentido, a reduzida produo interna

    de alimentos, energia e metais pautou a estratgia de industrializao exportadora, uma vez que

    seria desde logo necessrio gerar divisas externas para abastecer a indstria domstica com com-

    modities. Todos os demais Tigres Asiticos, em maior ou menor medida, tambm requeriam impor-

    tao de matrias-primas no mercado internacional.

    Nesse contexto, talvez a exceo seja a China. Por se tratar de um pas de dimenses continentais,

    os chineses, por muitos anos, conseguiram manter um bom crescimento econmico sem participar

    intensamente do mercado internacional de commodities. certo, entretanto, que, na medida em

    que a economia foi se transformando e expandindo, no houve como no aumentar as importa-

    es: o tamanho da populao e da economia chinesa chegou a tal ordem que se tornou inevitvel

    adquirir matrias-primas no mercado internacional.

    Esse movimento deu-se inicialmente nos mercados de metais e energia, dada a estratgia de cres-

    cimento por meio do investimento, em especial para atender ao nmero crescente de aporte em

    infraestrutura, construo civil etc.

    Participao das famlias urbanas chinesas, por classe de renda

    * Nmero de famlias urbanas na China (em milhes de famlias)

    1985

    66* 109* 191* 280* 373*

    1995 2005 2015 2025

    100%

    90%

    80%

    70%

    60%

    50%

    40%

    30%

    20%

    10%

    0

    Fonte: National Bureau of Statistics of China; McKinsey Global Institute Analysis. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    muito alta (>200.000 renminbi)

    classe alta (100.001-200.000 renminbi)

    classe mdia alta (40.001-100.000 renminbi)

    classe mdia baixa (25.001-40.000 renminbi)

    pobre (

  • curioso notar que as commodities agrcolas foram as ltimas a ser importadas em larga escala. No

    caso da agricultura, as polticas internas de produo sempre foram pautadas pela ideia de perse-

    guir a autossuficincia na produo de alimentos e fibras. A histria da fome em larga escala nos

    anos 1950 marcou muito a poltica chinesa e, desde os anos 1970, eles montaram polticas agrcolas

    voltadas rpida expanso da oferta interna, com vistas a garantir a autossuficincia na produo

    de carnes, gros, hortalias e fibras.

    As primeiras reformas da estrutura agrria aconteceram nos anos 1970. As propriedades coletivas

    foram substitudas por propriedades privadas de pequena escala. Foi tambm nessa dcada que os

    chineses comearam a desenvolver agressivamente a indstria de fertilizantes e de defensivos agr-

    colas, subsidiando o uso desses insumos. A pesquisa gentica tambm avanou bastante, a ponto

    de promover forte melhora na produo de gros, especialmente o trigo e o arroz.

    Outra relevante mudana ocorreu na poltica de preos pagos pelo Estado. Nas fazendas coletivas

    havia o princpio de uma meta mnima de produo a um preo preestabelecido pelo Estado. No

    novo modelo, a produo adicional meta era premiada com preos tambm adicionais, estimu-

    lando dessa forma a apropriao privada dos ganhos de produtividade. Os resultados de to im-

    portantes mudanas institucionais, associados ao choque de tecnologia no campo, produziram

    efeitos expressivos. A partir da segunda metade da dcada de 1970, a produo de gros na China

    finalmente explodiu.

    O pas , hoje, a maior agricultura do mundo. Gera cerca de 500 milhes de toneladas de gros.

    Responde, atualmente, pela maior produo global de trigo, mais de duas vezes a safra norte-

    -americana. o segundo maior produtor mundial de milho, atingindo o patamar de 220 milhes

    de toneladas. ainda o maior produtor de arroz do planeta. Nas carnes (de aves, suna e bovina)

    aproxima-se da marca de 80 milhes de toneladas. Na carne suna responde por metade da produ-

    o e do consumo mundial. o maior consumidor global de fertilizantes e defensivos. Na produo

    de hortalias e frutas destaca-se como maior produtor mundial em diversas cadeias. No h dvida

    de que um modelo de extraordinrio sucesso.

    No obstante os expressivos nmeros, a importao de alimentos segue crescendo anualmente na

    China. Eis aqui o ponto central da anlise do setor agrcola em todo o mundo. Como j foi menciona-

    do, a estratgia chinesa sempre foi a da autossuficincia. O risco de instabilidade social, associado

    ao consumo de alimentos, motivo de preocupao para qualquer governo no mundo, e em um

    pas com 1,4 bilho de habitantes, essa preocupao se exacerba.

    20 Outlook Fiesp 2024

  • Quando o tamanho do mercado consumidor cresce substancialmente, o problema da segurana

    alimentar tambm aumenta, caso a dependncia interna esteja associada s regies agrcolas mui-

    to concentradas geograficamente. Ocorre que, no caso chins, so poucas as regies, comparativa-

    mente ao tamanho do pas, que apresentam alto potencial agricultvel. Isso significa que qualquer

    evento climtico mais forte poder criar um risco de desabastecimento no desprezvel.

    No por outra razo que as empresas agrcolas chinesas esto ampliando sua presena no mundo

    todo. A originao de gros, protena animal e fibra tornou-se fundamental para a estabilidade da

    oferta no mercado interno, alm, claro, de reduzir o risco de desabastecimento e, dessa forma,

    elevar a segurana alimentar do pas. O paradigma da autossuficincia no mais vantajoso nas

    escalas de consumo atuais. na soja que esse modelo mais se evidenciou.

    A ausncia de reas agrcolas para a expanso e a pouca disponibilidade de gua (em quantidade e

    qualidade) impedem que a China produza milho e soja nas quantidades necessrias. Assim, foi ne-

    cessrio escolher entre uma cultura e outra. Como a soja tem um consumo duas a trs vezes menor

    que o do milho, a poltica agrcola chinesa privilegiou a produo de milho em detrimento da soja.

    A China produz hoje apenas 12 milhes de toneladas de soja, para um consumo que chega prximo

    dos 85 milhes de toneladas, obtendo no mercado externo esse diferencial. Vale destacar que essa

    produo de soja quase 20 vezes menor que a de milho.

    A importao de soja tornou-se vital para atender modernizao da suinocultura e da avicultura

    chinesas. Historicamente, o suno sempre foi produzido como um produto de fundo de quintal, com

    milhes de criadores tendo uma pequena produo caseira, pouco padronizada e profissionalizada.

    China: autossuficincia na produo de carnes e gros

    Fonte: USDA. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    Gros Carnes

    110%

    105%

    100%

    95%

    90%

    85%

    80%

    83%

    101%99%

    86%

    1990

    /199

    119

    91/1

    992

    1992

    /199

    319

    93/1

    994

    1994

    /199

    519

    95/1

    996

    1996

    /199

    719

    97/1

    998

    1998

    /199

    919

    99/2

    000

    2000

    /200

    120

    01/2

    002

    2002

    /200

    320

    03/2

    004

    2004

    /200

    520

    05/2

    006

    2006

    /200

    720

    07/2

    008

    2008

    /200

    920

    09/2

    010

    2010

    /201

    120

    11/2

    012

    2012

    /201

    320

    13/2

    014

    2014

    /201

    5

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 21

  • O risco sanitrio desse modelo de produo sempre foi muito alto. A crescente urbanizao exigia me-

    lhoras na produtividade e na qualidade da distribuio das carnes. Dessa forma, o mundo assistiu a

    uma grande tecnificao da estrutura produtiva chinesa e a dieta da suinocultura migrou para a rao

    baseada em milho e soja. Essa foi a razo fundamental para o expressivo crescimento no comrcio

    mundial de soja. Nas duas ltimas dcadas, a China praticamente explicou todo o crescimento do

    comrcio mundial de soja em gros. O boom do Cerrado brasileiro deve-se mudana tecnolgica da

    suinocultura chinesa. Dois mundos conectam-se atravs de to profunda mudana estrutural.

    Populao Rural e Urbana da China

    Rural Urbana

    Milh

    es d

    e ha

    bita

    ntes

    1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

    1.600

    1.400

    1.200

    1.000

    800

    600

    400

    200

    Fonte: ONU. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    China participao da Agricultura no PIB e no Emprego

    Agricultura 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2012% do PIB 40% 41% 33% 25% 21% 17% 17%% do Emprego 61% 51% 48% 45% 40% 36% 35%

    Fonte: National Statistical Bureau of China. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    Projeo

    22 Outlook Fiesp 2024

  • Comrcio mundial de soja

    A melhor maneira de visualizar a transformao no comrcio mundial de alimentos decorrente do

    crescimento chins observar os saldos e os dficits comerciais agrcolas no mundo. A figura a

    seguir ilustra os pases com o maior dficit ou supervit agrcola no mundo. Os dados so apresen-

    tados em bilhes de dlares e so da Organizao Mundial do Comrcio (OMC). A classificao de

    produtos includos nesses nmeros ligeiramente diferente da forma utilizada no Brasil. Optamos,

    entretanto, por utilizar a mesma base para melhor comparar os pases.

    15,2

    27,1

    37,040,7

    EUA

    1,4 4,4 3,6 3,7

    Mxico

    2,5

    15,5

    38,0

    44,0

    Brasil

    1,0 2,5 5,05,5

    Paraguai

    4,5 7,39,710,3

    Argentina

    17,611,8 12,3

    EU

    1,3 1,9 2,0Tailndia

    1,0

    13,2

    6169

    China

    4,4 4,8 2,8 2,9

    Japo2,2 2,3 2,4 2,5

    Taiwan

    0,5 1,3 1,92,0

    Indonsia

    Exportao Importao

    1990/91 1990/912000/01 2000/012012/13 2012/132013/14 2013/14

    25,5 26,56

    54,2 53,07

    97,8 95,4109,3 105,2

    Fonte: USDA. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 23

  • Balana agrcola: dficits e supervits (bilhes de US$, WTO data)

    2013

    Coria do Sul

    29

    76

    39

    5

    -75

    -21

    -79

    -95

    24EUA

    UE27

    China

    -15

    Rssia

    Japo

    Tailndia

    IndonsiaAustrlia

    Oriente MdioBrasilArgentina

    2321

    Fonte: WTO. Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO.

    1990

    -34 2

    9

    19

    EUA

    UE27

    China

    -7

    Coria do Sul

    -47

    Japo

    5

    Tailndia2

    Indonsia

    Austrlia

    -6

    Oriente Mdio

    7

    Brasil7

    Argentina

    24 Outlook Fiesp 2024

  • Fica evidente que, em 1990, o maior dficit comercial do mundo era do Japo, alcanando, apro-

    ximadamente, 50 bilhes de dlares. A China, por incrvel que possa parecer, era superavitria no

    comrcio de alimentos. A renda per capita era to baixa, que o pas era um exportador lquido de

    alimentos.

    A Europa aparecia j como uma regio deficitria na produo de alimentos, importando um mon-

    tante de 34 bilhes de dlares acima das suas exportaes. Os Estados Unidos detinham a liderana

    nas exportaes lquidas, atingindo o patamar 19 bilhes de dlares. O Brasil e a Argentina apresen-

    tavam supervit da ordem de 7 bilhes de dlares cada um.

    Passados 23 anos, a transformao impressiona. A China transformou-se, no ano passado, no maior

    importador lquido de alimentos, superando pela primeira vez o Japo e alcanando nmeros pr-

    ximos a 90 bilhes de dlares. importante notar tambm o enorme dficit comercial agrcola que

    surgiu no Oriente Mdio. A alta no preo do petrleo permitiu um ganho de renda importante nos

    pases dessa regio. Assim, o consumo de alimentos no Norte da frica e no Oriente Mdio cresceu

    consideravelmente.

    Pode-se notar tambm que o dficit comercial agrcola europeu caiu, embora siga sendo uma re-

    gio importadora lquida de alimentos. Seria maior ainda no fossem as barreiras tarifrias e no

    tarifrias impostas aos produtos do resto do mundo. Fica evidente que as Amricas se tornaram as

    grandes regies exportadoras do globo terrestre. O Brasil assumiu a posio de maior exportador

    lquido de alimentos do mundo.

    Direta ou indiretamente, a China promoveu um crescimento significativo no consumo de alimentos

    em todo o mundo. O mapa de comrcio evidencia que a concentrao da populao na sia (60%

    da populao mundial), associada a um aumento do poder aquisitivo decorrente do crescimento

    econmico, gera um polo importador de alimentos que seguir crescendo, uma vez que j utiliza os

    recursos naturais disponveis para a produo.

    Na verdade, o processo de urbanizao reduz o potencial produtivo, seja por competir por rea, seja por

    gua. Do outro lado do mundo h sobra de recursos naturais relativamente demanda por alimentos.

    Constri-se, assim, um elo estrutural e robusto, de mtua dependncia, entre o Brasil e a sia.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 25

  • Sendo uma das lavouras que mais demandam a habilidade empresarial do produtor rural, o algo-

    do brasileiro vem ganhando a confiana do mercado, devido alta qualidade do produto ofertado.

    O Brasil figura entre os cinco principais produtores mundiais e o terceiro maior exportador. A bus-

    ca pela fibra de melhor qualidade resultado de anos de pesquisa, adaptao de cultivares e siste-

    mas de plantio para os solos e clima brasileiros, principalmente do Cerrado, sendo uma resposta da

    agricultura nacional indstria consumidora.

    Essa cultura se diferencia das demais por apresentar elevados investimentos em estrutura produ-

    tiva (mquinas) e pacote tecnolgico (sementes e defensivos), sendo normalmente os produtores

    mais tecnificados que se dedicam atividade. Grandes grupos produtores, localizados principal-

    mente no Centro-Oeste e no oeste da Bahia, respondem pela maior parte da oferta nacional (o que

    deve se acentuar nos prximos anos) e adaptam sua produo realidade do mercado. Em anos

    recentes ocorreram os melhores preos da histria, mas logo em seguida a produo reagiu e o

    mercado deparou-se com a realidade de oferta excessiva, levando a uma forte reduo de preos.

    Com isso, o quadro mundial do algodo encontra-se hoje sobre-ofertado. A relao estoque/consu-

    mo mundial vem h alguns anos caminhando em volumes muito altos, o que no justificaria o preo

    da pluma nos nveis atuais: mais de 20 milhes de toneladas de algodo esto estocadas, o que

    equivale a, praticamente, uma safra mundial. Alm disso, a produo no apresentou uma queda

    significativa que levasse reduo nos estoques globais. Para tentar entender melhor o que ocorre

    nesse mercado, necessrio verificar o que acontece na China.

    Maior produtora, importadora e consumidora mundial de algodo, a China concentra tambm em

    suas mos os maiores estoques: cerca de 60% do produto armazenado globalmente est com os

    chineses e esse quadro vem sendo mantido assim por alguns anos. Como esses estoques no so

    colocados no mercado, ficam indisponveis para os demais pases consumidores, que no tm aces-

    so a essa fibra. Com isso, os preos tm se mantido em um patamar relativamente elevado para a

    disponibilidade atual do produto.

    4Algodo

    Editor

    a Gazeta

    Santa C

    ruz

    26 Outlook Fiesp 2024

  • Alm de no ser clara a forma com que o governo chins disponibilizar esse estoque, existem dvi-

    das sobre os volumes efetivos e a qualidade do produto armazenado, o que coloca mais uma ques-

    to em aberto nesse mercado e corrobora para a manuteno dos preos nos nveis atuais.

    Recentemente, a China deu sinais de que comearia a desestimular a produo interna de algodo,

    provavelmente visando um equilbrio maior no mercado, e nesta safra j verificamos uma reduo

    nas estimativas de produo do pas, de 8%, em relao safra anterior, mas nada muito claro

    sobre a permanncia dessa poltica.

    Espera-se que a correo dos estoques seja feita de forma gradativa, para que o mercado no tenha

    um choque de preos, pois, caso essa premissa seja alterada, momentos de instabilidade podero

    atingir o mercado, levando a uma reduo mais drstica dos preos e, consequentemente, da pro-

    duo brasileira e mundial.

    Dessa forma, considerando um cenrio de ajuste gradual nos estoques, a produo brasileira segui-

    r crescendo, a um ritmo de 4,6% ao ano, alcanando 2,5 milhes de toneladas no fim do perodo

    projetado, sendo os ganhos de produtividade o principal fator para a elevao da oferta. Neste caso,

    estimamos que a rea plantada deve crescer 27% no mesmo perodo.

    Em relao dinmica regional, o Centro-Oeste, pela grande aptido, seguir como o principal

    produtor brasileiro, com uma participao de 63% do total produzido, seguido pelo Nordeste,

    com 35%. Isso se deve tanto pela aptido dessas regies quanto pela especializao e investi-

    mentos demandados pela lavoura, o que cria uma barreira natural ao desenvolvimento da cultura

    em outras regies.

    Do lado da demanda, o mercado interno seguir com sua importncia, porm, o mercado externo,

    principalmente sia e Oriente Mdio, importantes destinos da exportao brasileira, que dever ab-

    sorver a maior parte dos aumentos de produo projetados.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 27

  • Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**

    de hectares plantados1,4 MILHO

    1,3 MILHOtoneladas lquidas exportadas

    de toneladas produzidas2,5 MILHES

    15%

    Algodo(pluma)

    em 2023/2024*

    Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.

    ser o crescimento da produtividade (t/ha)

    1,5 1,82013/2014 2023/2024

    crescimento de 110% em relao safra 2013/2014

    demanda domstica

    crescimento de 23% (2,2% a.a.)

    1,1milho de t

    0,9milho de t2013/14 2023/24

    produo por regio

    crescimento de 3,2% a.a. ou 27% em relao a safra 2013/2014

    crescimento de 4,6% a.a. ou 47% em relao safra 2013/2014

    Sul

    -64%0%

    Norte

    86%0,5%

    Centro-Oeste

    39%63%

    Sudeste

    -18%1%

    Nordeste

    66%35%

    Algodo Variao 2013/14 a 2023/24

    1000

    tone

    lada

    s

    Produo, rea e Produtividade Brasileira de Algodo

    Prod

    uo

    (100

    0 t)

    e r

    ea (1

    000

    ha)

    Produo rea Produtividade

    2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24

    3.000

    2.500

    2.000

    1.500

    1.000

    500

    -

    1.800

    1.750

    1.700

    1.650

    1.600

    1.550

    1.500

    1.450

    1.400

    Prod

    utiv

    idad

    e (k

    g/ha

    )

    Consumo Domstico e Exportao Lquida de Algodo

    1.400

    1.200

    1.000

    800

    600

    400

    200

    -2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24

    Consumo Domstico Exportao lquida

    Participao Regional na Produo de Algodo2023/24

    Produo Total: 2,5 Milhes de Toneladas2013/14

    Produo Total: 1,7 Milho de Toneladas

    Participao*:

    Norte 0,4%

    Nordeste 31%

    Sudeste 2%

    Sul 0%

    Centro-Oeste 66%

    Participao*:

    Norte 0,5%

    Nordeste 35%

    Sudeste 1%

    Sul 0%

    Centro-Oeste 63%

    Consumo Domstico

    +23%

    Exportao Lquida

    +110%

    Produo

    +47%

    rea Plantada

    +27%

    Produtividade

    +15%

    * A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO 28

  • Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**

    de hectares plantados1,4 MILHO

    1,3 MILHOtoneladas lquidas exportadas

    de toneladas produzidas2,5 MILHES

    15%

    Algodo(pluma)

    em 2023/2024*

    Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.

    ser o crescimento da produtividade (t/ha)

    1,5 1,82013/2014 2023/2024

    crescimento de 110% em relao safra 2013/2014

    demanda domstica

    crescimento de 23% (2,2% a.a.)

    1,1milho de t

    0,9milho de t2013/14 2023/24

    produo por regio

    crescimento de 3,2% a.a. ou 27% em relao a safra 2013/2014

    crescimento de 4,6% a.a. ou 47% em relao safra 2013/2014

    Sul

    -64%0%

    Norte

    86%0,5%

    Centro-Oeste

    39%63%

    Sudeste

    -18%1%

    Nordeste

    66%35%

    29

  • O arroz o terceiro cereal mais produzido no mundo e seu cultivo ocupa, aproximadamente, 160

    milhes de hectares. Anualmente, cerca de 480 milhes de toneladas so ofertadas, atrs somente

    do milho e do trigo. Grande parte do cultivo encontra-se em pases da sia e Oceania, sendo a base

    da alimentao para a populao.

    Comparativamente aos outros gros, a participao do arroz no comrcio mundial baixa: apenas

    8% da produo comercializada entre os pases, enquanto na soja esse valor de 40% e no trigo

    chega a 23%. O custo do frete diante do valor do produto influencia essa movimentao e a dinmi-

    ca de comercializao do arroz acaba sendo mais regionalizada.

    Alm disso, o tipo do gro e a forma de preparo variam de acordo com o hbito alimentar local. O

    fato de ser um produto bsico na alimentao da populao tambm influencia de forma impor-

    tante a dinmica de comrcio observada, j que a maioria dos pases adota polticas pblicas de

    incentivo produo local, visando uma maior segurana no abastecimento.

    O Brasil o 9 produtor mundial, com cerca de 12 milhes de toneladas. Esse volume tem variado en-

    tre 11 milhes e 13 milhes de toneladas, a depender do preo do produto e das condies de plantio

    e desenvolvimento da lavoura, que acabam por afetar a oferta final. Em anos de preos bons, a rea

    cultivada tende a apresentar aumentos e o investimento tecnolgico na lavoura pode ser maior.

    Ao observar um perodo mais longo, no entanto, a rea cultivada apresentou contnuo declnio, sen-

    do o crescimento da produtividade o responsvel pelos incrementos na produo nacional, o que

    resulta em uma concentrao da produo nas regies de maior aptido natural.

    A concorrncia com outras culturas de melhor rentabilidade potencializa esse movimento: nos lti-

    mos anos, por exemplo, a soja tem sido utilizada como opo de cultivo para essas reas. O cultivo

    nessas circunstncias pode, ao longo dos prximos dez anos, provocar uma maior competio na

    ocupao das vrzeas se a rentabilidade da soja for mais interessante.

    5Arroz

    Shutte

    rstock

    30 Outlook Fiesp 2024

  • As projees mostram que, em 2023/2024, a rea plantada ser de 2,3 milhes de hectares, reduo

    de 5,2% sobre a rea atual.

    Nesse mesmo perodo, as estimativas indicam ganho de 13,4% na produtividade, chegando a 5,8

    toneladas por hectare no fim do perodo projetado, o que seria suficiente para garantir, mesmo com

    a reduo de rea, uma produo satisfatria.

    Em relao produo, deve chegar a 13,1 milhes de toneladas em 2023/2024, aumento de 7,5%

    em relao safra 2013/2014, um avano relativamente baixo se comparado a outros produtos.

    Porm, como o consumo per capita de arroz no Brasil tende a ficar estagnado nesse perodo, a de-

    manda seguir o crescimento populacional do Pas.

    Isso porque, em decorrncia da melhora do poder aquisitivo da populao e da maior variedade de

    opes de alimentos qual est exposta, o consumo de arroz pouco tem crescido nos ltimos anos.

    O aumento do consumo praticamente nulo quando a renda aumenta. Assim, o crescimento da

    populao influencia mais a demanda nacional do que os ganhos de renda.

    Nos ltimos dez anos, o consumo anual per capita de arroz caiu cerca de 9,0 kg, chegando a 60,7

    kg por habitante em 2014. Esse volume, de acordo com as projees, manter relativa estabilidade,

    chegando a 61,4 kg por habitante em 2023/2024.

    Dessa forma, considerando o crescimento populacional, a demanda nacional deve chegar a 13,3 mi-

    lhes de toneladas em 2023/2024, o que representaria um aumento de 8,7% para o perodo analisado.

    O Brasil tradicionalmente um importador lquido de arroz, muito embora, nos ltimos quatro

    anos, o Pas tenha modificado essa realidade por meio da exportao do produto, apresentando

    um saldo comercial positivo, ainda que pequeno.

    O comrcio local existente com o Uruguai e a Argentina, que colocam no mercado um produto de

    qualidade semelhante demandada no mercado interno, dever continuar presente no horizonte

    das projees e a tendncia de importar mais do que exportar ser retomada, ainda que o dficit

    seja pouco representativo.

    A produo nacional ser suficiente para atender ao crescimento da demanda interna. Da mesma

    forma, a exportao de arroz continuar existindo, possibilitando ao Pas escoar um produto com

    caractersticas diferentes das exigidas pelo mercado domstico.

    O cultivo do arroz concentra-se basicamente na Regio Sul do Pas, onde a irrigao predomina. A

    aptido natural do Rio Grande do Sul, que possui reas inundveis, determinante nessa concen-

    trao. Nas outras regies, o arroz de sequeiro considerado uma cultura de baixa exigncia, por

    isso plantado em reas de abertura ou de pastagens degradadas.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 31

  • O arroz de sequeiro normalmente possui menor produtividade em razo do reduzido investimento

    tecnolgico e por estar mais sujeito s adversidades climticas. De uma forma geral, esse tipo de

    produo apresenta uma qualidade inferior e utilizado preponderantemente para a subsistncia,

    sendo a demanda por um produto de maior valor suprida pela produo sulina.

    Pela aptido mencionada, a Regio Sul concentra a maior parte da produo nacional de arroz,

    com cerca de 77% da oferta em 2013/2014.

    J a produo nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste muito semelhante e responde, cada

    uma delas, por, aproximadamente, 7% e 8% do total. A Regio Sudeste aquela com a menor par-

    ticipao, ou seja, 1% do total.

    A concentrao na Regio Sul ser ampliada para 82% da produo no horizonte da projeo.

    O Sudeste manter 1% do total, enquanto Norte, Nordeste e Centro-Oeste perdem importncia.

    No entanto, principalmente no caso das regies Norte e Nordeste, a lavoura de subsistncia dificil-

    mente dever desaparecer.

    32 Outlook Fiesp 2024

  • * A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO

    Arroz Variao 2013/14 a 2023/24

    Produo

    +7,5%

    rea Plantada

    -5,2%

    Produtividade

    +13,4%

    Produo, rea e Produtividade Brasileira de Arroz

    Prod

    uo

    (100

    0 t)

    e r

    ea (1

    000

    ha)

    Produo rea Produtividade

    2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24

    6.000

    5.800

    5.600

    5.400

    5.200

    5.000

    4.800

    4.600

    Prod

    utiv

    idad

    e (k

    g/ha

    )

    14.000

    12.000

    10.000

    8.000

    6.000

    4.000

    2.000

    -

    Consumo Domstico e Importao Lquida de Arroz

    2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24

    Consumo Domstico Importao lquida

    14.000

    12.000

    10.000

    8.000

    6.000

    4.000

    2.000

    -

    -2.000

    Participao Regional na Produo de Arroz2023/24

    Produo Total: 13,1 Milhes de Toneladas2013/14

    Produo Total: 12,2 Milhes de Toneladas

    Participao*:

    Norte 8%

    Nordeste 8%

    Sudeste 1%

    Sul 77%

    Centro-Oeste 7%

    Participao*:

    Norte 7%

    Nordeste 6%

    Sudeste 1%

    Sul 82%

    Centro-Oeste 4%

    Consumo Domstico

    +9%

    Importao Lquida

    -180%

    1000

    tone

    lada

    s

    33

  • Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**

    de hectares plantados2,3 MILHES

    80 MILtoneladas lquidas importadas

    consumo per capita

    de toneladas produzidas13,1 MILHES

    13,4%

    Arroz

    em 2023/2024*

    ser o crescimento da produtividade (t/ha)

    5,1 5,82013/2014 2023/2024

    crescimento de 180% em relao safra 2013/2014

    demanda domstica

    crescimento de 8,7% (0,9% a.a.)

    13,3milhes de t

    12,2milhes de t

    (kg/hab/ano)

    61,460,7crescimento de 1%

    2013/14 2023/24

    2013/14 2023/24

    produo por regio

    reduo de 0,7% a.a. ou 5,2% em relao a safra 2013/2014

    crescimento de 0,5% a.a. ou 7,5% em relao safra 2013/2014

    Sul

    +15%82%

    Norte

    -3%7%

    Centro-Oeste

    -36%4%

    Sudeste

    -11%1%

    Nordeste

    -10%6%

    Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.

    34

  • Caf6

    A cafeicultura mundial passa por um momento de ajuste, com estoques historicamente bai-

    xos e a oferta de cafs arbica em queda, em contraste com um consumo mundial que tem

    crescido ao redor de 2,0% ao ano. Praticamente, toda a Amrica Central est se recuperando

    de um forte surto de ferrugem e as indicaes so de que esse processo dever levar alguns

    anos, dada a descapitalizao dos cafeicultores e, em muitos casos, a necessidade de re-

    plantio das lavouras e sua substituio por variedades mais resistentes.

    O Brasil contribui para esse cenrio, j que o ano de 2014 est marcado por uma importante

    alterao: aps colher, segundo dados da Conab, 49,2 milhes de sacas em 2013, teorica-

    mente, o Pas deveria produzir em 2014 um volume superior quele, devido ao ciclo bienal1

    da produo. Entretanto, na primeira estimativa da safra 2014/2015, a Conab alertou para o

    fato de que neste ano haveria, pela primeira vez, uma quebra na bienalidade, ou seja, aps

    colher uma safra menor em 2013, 2014 registraria nova queda na produo.

    Basicamente, dois motivos explicam esse cenrio: a forte seca combinada com altas tem-

    peraturas que assolaram em particular os estados de Minas Gerais e So Paulo, onde est

    localizada a maior parte do parque cafeeiro, e as modificaes no manejo da cultura.

    Em relao questo climtica, segundo o Instituto Agronmico de Campinas (IAC), a esta-

    o chuvosa de outubro de 2013 a maro de 2014 foi a pior em mais de 124 anos, o que aca-

    bou comprometendo duas safras simultaneamente. Primeiro, a produo 2014/2015, que

    1 O ciclo bienal ou bienalidade a alternncia de safras com alta e baixa produtividade, uma caracterstica fisiolgica do caf arbica, que resulta em uma variao do Market Share do Brasil no comrcio internacional de um ano para o outro.

    Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**

    de hectares plantados2,3 MILHES

    80 MILtoneladas lquidas importadas

    consumo per capita

    de toneladas produzidas13,1 MILHES

    13,4%

    Arroz

    em 2023/2024*

    ser o crescimento da produtividade (t/ha)

    5,1 5,82013/2014 2023/2024

    crescimento de 180% em relao safra 2013/2014

    demanda domstica

    crescimento de 8,7% (0,9% a.a.)

    13,3milhes de t

    12,2milhes de t

    (kg/hab/ano)

    61,460,7crescimento de 1%

    2013/14 2023/24

    2013/14 2023/24

    produo por regio

    reduo de 0,7% a.a. ou 5,2% em relao a safra 2013/2014

    crescimento de 0,5% a.a. ou 7,5% em relao safra 2013/2014

    Sul

    +15%82%

    Norte

    -3%7%

    Centro-Oeste

    -36%4%

    Sudeste

    -11%1%

    Nordeste

    -10%6%

    Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2013/2014 e 2023/2024 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.

    Shutterstock

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 35

  • j estava em estgio de desenvolvimento, sofreu restries de gua que resultaram em m

    formao e baixo peso dos gros. Em segundo lugar, a mesma seca fez com que o desenvol-

    vimento vegetativo dos cafezais durante o vero fosse comprometido e, como a florada de

    2014 acontece sobre esses ramos novos, tambm est prevista uma possvel frustrao na

    safra para 2015.

    Em relao ao manejo, segundo fator que ajuda a explicar o comportamento atpico da safra

    2014, foi possvel verificar que muitos produtores realizaram podas drsticas e esqueleta-

    mentos em razo da baixa rentabilidade da cultura. Pela importncia que vem ganhando a

    cafeicultura, vlida uma breve explicao: a poda drstica (ou recepa) consiste no corte do

    tronco da planta em torno de 50 cm acima da superfcie do solo aps a colheita, enquanto

    o esqueletamento uma tcnica de poda dos ramos laterais. Ambas as tcnicas tm como

    objetivo alongar a vida til do cafeeiro, evitando o replantio, que bem mais custoso. No

    caso do esqueletamento, a tcnica leva chamada safra zero no ano seguinte, mas a partir

    do segundo ano tem-se uma boa recuperao do potencial produtivo.

    Apenas para ilustrar, em razo da bienalidade, uma lavoura com manejo tradicional produz, hi-

    poteticamente, 50 sacas/ha em um ano e 20 sacas/ha no prximo. Com o esqueletamento, esse

    cenrio se altera, pois, se a poda impede a produo no ano seguinte em que foi realizada, dois

    anos depois o resultado ser equivalente soma das duas safras com o manejo tradicional, ou

    seja, 70 sacas/ha para o exemplo citado. Isso permite otimizar a utilizao dos insumos, a infra-

    estrutura e os recursos humanos, concentrando os mesmos no ano de safra cheia.

    A partir da popularizao dessa tcnica, em um mesmo ano-safra, diferentes regies pos-

    suem lavouras com safras muito altas, enquanto outras apresentam safras baixas, ambas

    influenciadas pelo manejo mencionado. O fato pode ajudar a quebrar em algum momento,

    como em 2014, a lgica de safra baixa em um ano e safra alta em outro.

    De todo modo, o nmero final da safra brasileira 2014/2015 ser oficializado no fim de 2014,

    porm, com a colheita praticamente encerrada at o incio de setembro, o volume dever fi-

    car em torno de 44 milhes de sacas, 10% menor que o ano anterior. Neste caso, a produo

    de caf do tipo arbica dever recuar 19%, para cerca de 31 milhes de sacas, enquanto a

    safra de caf conilon, que no foi afetada pela estiagem, dever apresentar um crescimento

    de 20%, para 13 milhes de sacas.

    Para 2015, h um relativo consenso de que o comprometimento da produo grande, o que

    poder ser melhor quantificado apenas no fim do ano, aps a verificao do pegamento da

    florada principal. Alm disso, as pssimas condies das lavouras, devido ao dficit hdrico

    ocorrido, forar os produtores a realizarem novos esqueletamentos e podas drsticas ao

    fim de 2014, o que significa que nesses cafezais no haver produo em 2015, apesar de

    haver um grande potencial de recuperao da produtividade em 2016.

    36 Outlook Fiesp 2024

  • Ainda assim, o Brasil um dos pases mais competitivos na produo de caf arbica no

    mundo, tanto em termos de custo de produo como de produtividade, e possivelmente o

    nico com condies de incrementar relativamente rpido seus volumes produzidos. A Co-

    lmbia tambm dever se destacar nos prximos anos, devido aos replantios realizados, vi-

    sando aumentar a produtividade com a utilizao de variedades resistentes ferrugem. Mas

    vale lembrar que esse pas produz apenas 30% da produo brasileira, o que significa que

    o Brasil ainda seguir como o principal produtor mundial, especialmente de caf arbica.

    Nesse sentido, estimamos que, apesar de uma reduo esperada da rea plantada em pro-

    duo de 1,1%, a safra brasileira de caf crescer 26% at 2024, significando um incremen-

    to mdio anual de 1,9%, com a oferta chegando a 56 milhes de sacas ao fim do perodo

    projetado. Isto ser possvel devido ao crescimento da produtividade, de 28% no perodo,

    partindo das atuais 23 sacas/ha para 29 sacas/ha em 2024.

    As lavouras de caf devero continuar fortemente concentradas na Regio Sudeste, devido

    s necessidades especficas de altitude e clima demandadas pela cultura, que so encon-

    tradas na regio.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 37

  • Crescimento (de 2014/2015 a 2024/2025)Participao em 2024/25**

    de hectares plantados1,9 MILHO

    30,5 MILHESde sacas exportadas

    consumo per capita

    de sacas produzidas56 MILHES

    28%

    Caf

    em 2024/2025*

    ser o crescimento da produtividade (sacas/ha)

    23 292014/2015 2024/2025

    reduo de 9% em relao safra 2014/2015

    demanda domstica

    crescimento de 24% (2,2% a.a.)

    25,9milhes de sacas

    20,9milhes de sacas

    (kg/hab/ano)

    7,26,2crescimento de 16%

    2014/15 2024/25

    2014/15 2024/25

    produo por regio

    reduo de 0,2% a.a. ou 1% em relao a safra 2014/2015

    crescimento de 1,9% a.a. ou 26% em relao safra 2014/2015

    Sul

    -18%0,7%

    Norte

    3%-7%

    Centro-Oeste

    -2%0,7%

    Sudeste

    30%92%

    Nordeste

    0%4%

    Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: * Comparativo entre as safras 2014/2015 e 2024/2025- Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.

    Caf Variao 2014/15 a 2024/25

    Produo

    +26%

    rea Plantada

    -1%

    Produtividade

    +28%

    Produo, rea e Produtividade Brasileira de Caf

    Prod

    uo

    (100

    0 sa

    cas)

    e

    rea

    (100

    0 ha

    )10

    00 sa

    cas

    Produo rea Produtividade

    2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25

    2.000

    30

    25

    20

    15

    10

    5

    0

    Prod

    utiv

    idad

    e (s

    acas

    /ha)

    60.000

    50.000

    40.000

    30.000

    20.000

    10.000

    -

    Consumo Domstico e Exportao Lquida de Caf40.000

    35.000

    30.000

    25.000

    20.000

    15.000

    10.000

    5.000

    -2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25

    Consumo Domstico Exportao lquida

    Participao Regional na Produo de Caf

    Participao*:

    Norte 3%

    Nordeste 5%

    Sudeste 89%

    Sul 1%

    Centro-Oeste 1%

    Participao*:

    Norte 3%

    Nordeste 4%

    Sudeste 92%

    Sul 1%

    Centro-Oeste 1%

    2024/25Produo Total: 56 Milhes de Sacas

    2014/15Produo Total: 44 Milhes de Sacas

    Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAgro

    Consumo Domstico

    +24%

    Exportao Lquida

    -9%

    * A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO 38

  • Crescimento (de 2014/2015 a 2024/2025)Participao em 2024/25**

    de hectares plantados1,9 MILHO

    30,5 MILHESde sacas exportadas

    consumo per capita

    de sacas produzidas56 MILHES

    28%

    Caf

    em 2024/2025*

    ser o crescimento da produtividade (sacas/ha)

    23 292014/2015 2024/2025

    reduo de 9% em relao safra 2014/2015

    demanda domstica

    crescimento de 24% (2,2% a.a.)

    25,9milhes de sacas

    20,9milhes de sacas

    (kg/hab/ano)

    7,26,2crescimento de 16%

    2014/15 2024/25

    2014/15 2024/25

    produo por regio

    reduo de 0,2% a.a. ou 1% em relao a safra 2014/2015

    crescimento de 1,9% a.a. ou 26% em relao safra 2014/2015

    Sul

    -18%0,7%

    Norte

    3%-7%

    Centro-Oeste

    -2%0,7%

    Sudeste

    30%92%

    Nordeste

    0%4%

    Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: * Comparativo entre as safras 2014/2015 e 2024/2025- Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.

    39

  • A crise no setor sucroalcooleiro persiste. Foram cerca de 60 usinas fechadas na regio Centro-Sul desde

    a safra 2007/2008. A moagem de cana no Pas quebrou um ciclo de dez anos de crescimento, iniciado em

    2000/2001, depois de alcanar 620 milhes de toneladas na safra 2010/2011.

    Alm do clima, que afetou bruscamente as safras entre 2011 e 2014, a dificuldade de manter um nvel

    necessrio de tratos culturais dos canaviais, a adaptao ampliao da mecanizao da colheita e,

    posteriormente, do plantio, somando-se poltica de preos da gasolina do Governo Federal, foram al-

    guns dos fatores que levaram o setor sucroalcooleiro a um cenrio marcado por recuperaes judiciais,

    paralisaes e desligamentos.

    Reflexo disso, a produtividade da cultura despencou: a produo de cana por hectare caiu de 75,9 tone-

    ladas na safra 2007/2008 para 68 toneladas em 2014/15, ao mesmo tempo que a qualidade da matria-

    -prima, medida em quantidade de ATR (acar total recupervel) por tonelada de cana, passou de 144

    toneladas em 2007/2008 para 133 em 2013/2014.

    Em 2014, o setor sucroalcooleiro atingiu o auge de uma crise anunciada, na qual pesaram no somente

    as adversidades climticas e de mercado, mas tambm a poltica adotada pelo governo federal, de ma-

    nuteno dos preos dos combustveis artificialmente baixos, por meio da comercializao da gasolina

    aos consumidores a valores inferiores aos pagos na gasolina importada.

    Com isso, o etanol hidratado, que tem como limite de preo na bomba um porcentual em torno de 70%

    em relao gasolina, no pde passar pelos necessrios reajustes de preos, diante dos seguidos au-

    mentos dos custos de produo.

    7Cana-de-Acar, Acar e Etanol

    Edito

    ra Gaze

    ta Sant

    a Cruz

    40 Outlook Fiesp 2024

  • Para ilustrar a situao, em 2013 o preo mdio do etanol hidratado nas usinas de So Paulo, sem

    impostos, foi de R$ 1,18. Se o preo da gasolina praticado pela Petrobras no mercado interno

    fosse equivalente ao preo internacional, e considerando a mesma paridade de preo do etanol

    em relao gasolina observada em 2013, o preo do hidratado na usina deveria estar em R$ 1,34

    por litro. Nesse caso, haveria tambm um reajuste proporcional no preo do etanol anidro. Essas

    diferenas de preo representariam um aumento de cerca de R$ 4,5 bilhes, somente nas receitas

    do setor com etanol.

    Isso sem contar que o etanol, voltando a ser atrativo, traria ganhos potenciais para o acar tam-

    bm, pois haveria um redirecionamento do mix de produo mdio do setor mais voltado ao com-

    bustvel, por conta da maior demanda pelos consumidores e pela melhora das margens. Por essa

    lgica, e por ser o maior exportador mundial de acar, ao reduzir a oferta do produto, o Brasil

    contribuiria de forma importante para acelerar a recomposio dos preos desse produto no mer-

    cado internacional. Essas receitas adicionais seriam muito importantes para um setor que chegou,

    em 2013, a um endividamento total de R$ 66 bilhes, equivalente a, praticamente, todo o valor da

    receita auferida pelas usinas no ano.

    Com esse cenrio, o processo de reestruturao do setor significar uma nova fase de fuses e aquisies

    no Brasil. A retomada de investimentos s se dar aps o equilbrio entre o endividamento das empresas

    e sua capacidade de gerao de renda. No mdio prazo, o setor no ter condies de crescer significa-

    tivamente, mas o incio de um novo ciclo deve se dar em 2015, ano em que a produo global de acar

    ser deficitria em relao ao consumo, delineando novos patamares de preos.

    A velocidade dessa retomada depender, em boa parte, de uma mudana na poltica de regulao dos

    preos dos combustveis, o que definir, de certa forma, o futuro do etanol hidratado no Pas. Uma po-

    ltica de equalizao dos preos dos combustveis ao mercado externo promoveria um cenrio de reto-

    mada do setor.

    J a continuidade do artificialismo dos preos internos da gasolina pode comprometer de forma grave as

    empresas, reduzindo gradativamente a oferta de etanol hidratado, que ser convertido em aumento da

    oferta de etanol anidro e um excedente de acar, condio que impedir uma recuperao dos preos.

    Para compreender a situao do acar e a abrangncia da crise do setor, destaca-se que o produto en-

    frenta, desde meados de 2011, queda nos preos internacionais.

    O fenmeno foi resultado do aumento da produo em pases menos expressivos para esse mercado,

    principalmente os asiticos, e da resposta dos produtores de acar de beterraba forte quebra de safra

    na ndia em 2009/2010, que na ocasio gerou um dficit no mercado mundial e, consequentemente,

    uma elevao expressiva dos preos do produto, reavendo as margens para esses produtores. Isso levou

    a quatro anos de supervit no mercado de acar global, trazendo seus preos para prximo do custo de

    produo brasileiro.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 41

  • No caso das projees que sero apresentadas a seguir, fundamental destacar que, para a elaborao

    das mesmas, consideramos um cenrio otimista, ou seja, de conformidade dos preos da gasolina com

    o mercado internacional para os prximos anos.

    Assim, a produo de acar e etanol dever chegar, em 2024, a 48,7 milhes de toneladas e 42,8 bilhes

    de litros, respectivamente, o que demandar uma rea plantada de 10,5 milhes de hectares e uma pro-

    duo de 851 milhes de toneladas de cana-de-acar.

    No cenrio projetado, o Brasil dever enviar ao mercado externo 36,8 milhes de toneladas de acar, o

    que representa 18% da demanda mundial.

    No caso especfico do etanol, com uma frota flex atendida em 27% pelo combustvel, a demanda chega-

    ria, em 2024, a 40,4 bilhes de litros. O mercado internacional no deve trazer notcias suficientes para

    modificar o cenrio do produto, j que a demanda de etanol avanado, estabelecida no Renewable Fuels

    Standard dos EUA, tende a se manter no patamar atual ou ser revista para baixo, provocando a reduo

    da demanda do etanol importado do Brasil.

    42 Outlook Fiesp 2024

  • Cana-de-Acar, Acar e Etanol Variao 2014/15 a 2024/25

    Produo, rea e Produtividade Brasileira de Cana-de-Acar

    Prod

    uo

    (100

    0 t)

    e r

    ea (1

    000

    ha)

    Produo rea Produtividade

    2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25

    900.000

    800.000

    700.000

    600.000

    500.000

    400.000

    300.000

    200.000

    100.000

    8.000

    85

    80

    75

    70

    65

    60

    Prod

    utiv

    idad

    e (t/

    ha)

    Destino da Cana-de-Acar100%

    80%

    60%

    40%

    20%

    0%2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25

    Cana para acar Cana para etanol

    Mix2024/25

    Acar

    41%

    Etanol

    59%

    Produo

    +41%

    rea Plantada

    +19%

    Produtividade

    +19%

    Consumo Domstico e Exportao Lquida de Acar40.000

    35.000

    30.000

    25.000

    20.000

    15.000

    10.000

    5.000

    -2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25

    Consumo Domstico Exportaes lquidas

    Consumo Domstico

    +6%

    Exportao Lquida

    +59%

    1000

    tone

    lada

    s

    43Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO

  • Cana-de-Acar, Acar e Etanol Variao 2014/15 a 2024/25

    Evoluo da frota brasileira de veculos

    1000

    uni

    dade

    s

    60.000

    50.000

    40.000

    30.000

    20.000

    10.000

    -2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25

    Frota Total % Frota Flex com Hidratado

    26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 27% 27%

    Participao Regional na Produo de Cana-de-acar

    Participao*:

    Norte 1%

    Nordeste 9%

    Sudeste 64%

    Sul 7%

    Centro-Oeste 19%

    Participao*:

    Norte 1%

    Nordeste 10%

    Sudeste 61%

    Sul 6%

    Centro-Oeste 23%

    2024/25Produo Total: 851 Milhes de Toneladas

    2014/15Produo Total: 603 Milhes de Toneladas

    Frota brasileira de veculos

    +54%

    Consumo Domstico de Etanol Anidro e Hidratado

    25.000

    20.000

    15.000

    10.000

    5.000

    -2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25

    Consumo Anidro Consumo Hidratado

    Etanol Anidro

    +44%

    Etanol Hidratado

    +81% Milh

    es d

    e lit

    ros

    44 * A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento. Fonte: Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRO

  • Cana-de-Acar,Acar e Etanol

    em 2024/2025*

    rea(hectares)

    10,5mi Produo(toneladas)

    Produtividade(t/ha)

    crescimento de 19%

    crescimento de 41%

    crescimento de 19%

    10,5mi 850,9mi 81

    Ac

    ar

    MIx de prod

    uoProduo

    (toneladas)

    crescimento de 41%

    crescimento de 59%

    crescimento de 6%

    2024/25

    Acar

    48,7mi

    Exportaeslquidas (t)

    36,8mi

    Demandadomstica (t)

    11,9mi 41% 59%

    Etanol

    Cana

    -de-ac

    ar

    Etan

    ol

    Sudeste

    33%61%

    Crescimento

    (de 2014/2015 a 2024/2025)

    Participao em 2024/25**

    Nordeste

    56%10%

    Sul

    14%6%

    Centro-Oeste

    71%23%

    Norte

    88%1%

    Produo(litros)

    Exportaeslquidas (l)

    Demandadomstica (l)

    crescimento de 68%

    crescimento de 54%

    crescimento de 65%

    42,8bi 2,6bi 40,4bi 27% flex hidratado

    frota brasileira de veculos leves

    53 mi unid

    produo por regio

    (em relao safra 2014/2015)

    (em relao safra 2014/2015)

    (em relao safra 2014/2015)

    Fonte : Outlook Fiesp Elaborao: FIESP/DEAGRO e MBAGRONotas: *Comparativo entre as safras 2014/15 e 2024/2025 - Projeo de 10 anos. ** A soma das participaes, quando maiores/menores que 100%, so explicadas pelo sistema de arredondamento.

    45

  • A produo mundial de feijo gira ao redor de 23 e 24 milhes de toneladas. Pases como China e

    ndia, principais produtores mundiais, fazem com que a sia responda por 46% da oferta no mundo.

    As Amricas, principalmente Brasil e Mxico, respondem por mais 31% dessa oferta, enquanto a

    frica perfaz 21% e Europa e Oceania concentram os 2% restantes. Embora o feijo seja consumido

    em muitos pases, o comrcio mundial possui pouca representatividade e as compras ocorrem ge-

    ralmente entre pases prximos.

    A produo brasileira varia de acordo com a rentabilidade dos produtores e o comportamento do

    clima. Na safra 2013/2014, aps a excelente rentabilidade verificada em 2013, a produo nacional

    dever alcanar 3,3 milhes de toneladas. No entanto, j na prxima safra alguma reduo deve

    ocorrer, em virtude dos preos menos atraentes pelo qual a lavoura vem passando ao longo do ano.

    A produo do gro dividida em trs safras, cultivadas em perodos e locais diferentes. A primeira

    e a segunda safras tm maior representatividade, porm a terceira essencial para complementar a

    demanda do mercado interno ao longo do ano. As projees indicam que a produo de feijo, nos

    prximos dez anos, ter pequeno acrscimo de 229 mil toneladas em relao oferta de 2013/2014,

    chegando a 3,7 milhes de toneladas em 2023/2024.

    A rea cultivada, que hoje de 3,3 milhes de hectares, deve passar a 3 milhes de hectares no fim

    do perodo analisado. Essa reduo de 10% nos prximos dez anos segue a tendncia histrica, que

    se iniciou na dcada de 90. Os acrscimos de produtividade obtidos no decorrer do tempo tm sido

    suficientes para garantir a produo necessria para atender o mercado interno, liberando reas

    de plantio para culturas mais dinmicas. As projees indicam que a produtividade mdia do feijo

    ter um acrscimo de 19% no perodo.

    O hbito do brasileiro de consumir feijo no deve mudar. O consumo tem variado muito pouco

    h anos e oscila ao redor dos 3,5 milhes de toneladas. Assim como o arroz, o feijo um produto

    8Feijo

    Shutte

    rstock

    46 Outlook Fiesp 2024

  • bsico da alimentao e a elevao de renda produz uma substituio do produto por alimentos

    mais elaborados. Nesse caso, o crescimento populacional o principal determinante do aumento

    da demanda, que dever variar pouco no perodo da projeo.

    Estimamos um acrscimo na demanda atual de cerca de 188 mil toneladas, chegando a 3,5 milhes

    de toneladas em 2023/2024. Em mdia, o consumidor brasileiro deve demandar menos do que hoje,

    com o consumo passando de 16,7 kg para 16,4 kg por pessoa em 2023/2024.

    Como a produo deve atingir os 3,7 milhes de toneladas na safra 2023/2024 e, apesar de o volu-

    me ser suficiente para atender demanda interna, consideramos que algum movimento importa-

    dor continuar ocorrendo. Nos ltimos anos, pelo menos 300 mil toneladas foram importadas para

    atender eventual falta de produto no mercado, seja porque a entressafra foi mais longa ou porque

    a safra apresentou alguma reduo de produo.

    A produo de feijo bem distribuda no territrio brasileiro, com exceo da Regio Norte, que

    de 2,3% da oferta total. J as regies Sul, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste possuem grande impor-

    tncia na composio da oferta nacional.

    As projees indicam que, nos prximos dez anos, continuar havendo essa diversidade na produ-

    o brasileira, porm, a Regio Centro-Oeste dever ganhar importncia. O crescimento da lavoura

    de feijo nessa regio tem sido significativo nos ltimos anos e sua participao dever passar de

    25% para 30% da produo nacional.

    PROJEES PARA O AGRONEGCIO BRASILEIRO 47

  • Crescimento (de 2013/2014 a 2023/2024)Participao em 2023/24**

    de hectares plantados3,0 MILHES

    40 MILtoneladas