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— Mamã, olha! — disse a Lila, entrando a
correr na cozinha, onde a Bé e o Fil já esta-
vam a tomar o pequeno-almoço. — Já che-
gou!
— É o convite? — perguntou a mãe ao ver
o sobrescrito prateado, enquanto acabava
de acondicionar o lanche da Bé. — Oh, é
mesmo bonito, e tem florezinhas em relevo no
papel… — disse ao abrir o sobrescrito da
irmã com todo o cuidado.
— Lindo… — comentou a Lila, deslum-
brada.
O convite
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— O que é isso? — perguntou o Fil.
A Lila e a mãe olharam-no, muito admira-
das. — É o convite para o casamento da tia
Ema e do Elias, é claro!
O Fil encolheu os ombros. — Então não
percebo essa vossa excitação. Há muito tempo
que nós sabemos do casamento! Para que é
que precisamos de um convite?
A Lila suspirou e a mãe abanou a
cabeça.
O Meu Caozinho Traquinas
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O Meu Caozinho Traquinas
— Claro que é importante, Fil! A tia estava
à espera de que eles chegassem aos convida-
dos. São um elemento muito especial e tu
sabes bem como a tia quer que tudo esteja
perfeito para o casamento.
O Fil resmungou: — Sim… Vocês não pa-
ram de falar nisso. Só ficarei contente quando
tudo tiver terminado. Ainda vamos ter mais
um mês de casamento, casamento e casa-
mento…
— Posso ver, mamã? — pediu a Bé, aproxi-
mando-se para observar o bonito convite cor-
-de-rosa e prateado. — Olha, tem todos os
nossos nomes. Menina Isabel Tomás — leu ela
a rir-se. Aquilo soava-lhe a qualquer coisa
de muito chique. Depois franziu um pouco o
sobrolho e comentou: — Mas não menciona
o Quinas…
A Lila revirou os olhos. — Já agora! Não
me digas que estavas à espera de que a tia
Ema fosse convidar um cão para o seu casa-
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mento… — comentou a Lila a olhar para o
cesto onde o Quinas dormia. — E ainda por
cima «este cãozinho»…
A Bé teve de sorrir. O Quinas dormitava
deitado de costas e com as quatro patas vira-
das para cima. De vez em quando as patitas
tremelicavam, parecia que estava a sonhar
com alguma corrida ou assim. — Ele é tão
querido! — observou a Bé voltando-se para a
sua irmã.
— Sim, é um «mons-
trinho» muito queri-
do, Bé! O Quinas
no casamento! Pensa
bem! — disse, olhando
para a irmã muito fixamen-
te e com os braços cruzados.
A Bé suspirou. — Pois… — tinha de admi-
tir que a Lila estava certa. Onde quer que
fosse, o Quinas parecia que era acompanha-
do pelo caos…
O Meu Caozinho Traquinas
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O Meu Caozinho Traquinas
Então e quando é o casamento? — per-
guntou o Tiago.
— No início de maio — respondeu a Bé.
— A minha tia Ema quer que seja na prima-
vera, para que o tempo não esteja demasiado
frio.
Os dois estavam à espera de começar a
sessão de treinos para cães e a Bé tinha-lhe
estado a contar tudo sobre o casamento, es-
pecialmente o facto de o Quinas não poder ir.
— Então vai ser um grande acontecimen-
to, estou a ver. Vais ter de usar um daqueles
vestidos cor-de-rosa, todo chique, não?
— Vai ser em grande, vai. E eu já vou pro-
var o meu vestido de dama de honor na pró-
xima semana — lembrou a Bé, com um ar
importante. — Estou ansiosa, e como a minha
tia não sabia que as sessões de treino agora
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são às quartas-feiras, vou ter de faltar na pró-
xima semana.
O Quinas e o Brutus, o enorme cão do
Tiago, um grand danois, tinham passado para
o grupo intermédio, que agora se reunia às
quartas-feiras. As aulas eram um pouco mais
exigentes e havia alguns cães que eram real-
mente muito inteligentes. Entre eles um pastor
alemão chamado Travesso, um nome que a Bé
achava que não lhe assentava nada bem, pois
era o cão mais bem comportado que alguma
vez vira. A Bé até estava convencida de que se
o seu dono, o Dani, o mandasse atravessar o
pátio apenas sobre as patas traseiras e com um
biscoito entre os dentes, ele fá-lo-ia sem sequer
lamber o biscoito. Mas o Dani era muito sim-
pático, tinha dito à Bé que ensinar um jack
russel era um verdadeiro pesadelo e comentou
que ela se estava a sair muito bem com o Qui-
nas, isto mesmo depois de o cãozinho se lhe
ter atravessado à frente, fazendo-o tropeçar.
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O Meu Caozinho TraquinasO Meu Caozinho Traquinas
Infelizmente a Amélia e a sua cadela tam-
bém tinham passado para o grupo intermé-
dio, o que significava que ela continuaria a
fazer permanentemente comentários mesqui-
nhos sobre o Quinas e o Brutus. Com ar de
superioridade e a sua cadela Estrela ao lado,
estava sentada perto deles, também à espera
de que começassem os treinos.
A Amélia tinha o cabelo apanhado num
rabo-de-cavalo, preso por uma fita decorada
com penas e, como sempre,
dava ares de quem se sen-
tia muito superior em re-
lação «àquilo dos treinos
para cães».
— Também fui pajem
no casamento da minha
prima quando tinha
cinco anos — disse o Tiago.
— Obrigaram-me a ves-
tir um fato de veludo azul,
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horrível. Foi um verdadeiro desastre — con-
tou, com um arrepio.
— O que é que aconteceu? — perguntou
a Bé.
— Eu tinha de ir atrás da noiva com as
alianças, só que ela estava a andar mesmo
muito devagar, tropecei e fui cair em cima da
cauda do vestido, e a minha prima acabou
por me puxar pela igreja fora em cima dele.
Mas não larguei as alianças! — relatou o
Tiago.
A Bé riu-se, sem conseguir deixar de pensar
o que seria se lhe acontecesse o mesmo.
— Vais ficar horrível vestida de dama de
honor — disse alguém. A Bé arregalou os
olhos e olhou para o lado. Era a Amélia, claro,
com aquele sorriso maldoso na cara. — Tu és
aquele tipo de pessoa que usa sempre calças
de ganga, Bé. Vais parecer uma maltrapilha!
A Bé olhou para ela e sorriu. — Olha,
Amélia…
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— O quê? Tu sabes bem que eu tenho
razão, Bé!
— Ah, o meu «olha» não era por causa do
que disseste. Já reparaste que o Brutus está a
comer a tua fita do cabelo?
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A Bé tinha de admitir que até era simpáti-
co estar numa sessão de treinos em que o
Quinas não era o cão que se comportava pior.
A mãe do Tiago pegou na fita do cabelo da
Amélia e foi limpá-la na casa de banho, mas
a Bé tinha a sensação de que já nunca fica-
ria igual.
A verdade é que isso não impediu que ela e
o Tiago passassem o resto da sessão a entreo-
lharem-se com ar de gozo impagável. Afinal
a aula assim até ficava um bocadinho menos
séria.
O nível intermédio estava a ser um pouco
complicado para o Quinas. A Jo tentava en-
sinar aos cães as mesmas coisas que tinham
aprendido no nível dos principiantes, mas com
um grau de exigência maior. Tinham de ser
treinados para ficarem sentados, só que agora
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deviam consegui-lo durante mais de dois mi-
nutos.
Para o Quinas o pior era mesmo o treino
relacionado com a comida, em que os cães ti-
nham de ignorar uma malga cheia de ração
ou não podiam saltar junto dos donos à es-
pera de que eles lhes dessem um biscoito que
entretanto seguravam na mão.
Para o Quinas, ignorar uma malga de co-
mida era uma verdadeira tortura.
O Travesso e o Bill, um labrador que era
quase tão pouco travesso como o Travesso,
sentaram-se ao lado das malgas olhando-as
com um ar angelical, e até mesmo o Brutus
conseguiu resistir a comer qualquer coisita,
embora ficasse expetante a olhar para o
dono.
Entretanto, o Quinas já tinha devorado
metade da comida da malga e ficara a olhar
fulo para a dona, quando esta lhe retirou a
malga da frente.
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A Bé suspirou. — Talvez te portes melhor
quando o Fil te trouxer na próxima quarta-
-feira — disse para o Quinas. Mas as espe-
ranças eram muito poucas.
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No sábado de manhã, a tia Ema e o Elias
passaram lá por casa para falar dos prepara-
tivos para o casamento. Ela trazia uma enor-
me pasta cheia de recortes de revistas e uma
outra com todos os pormenores sobre a igreja
e o hotel onde ia ser servido o copo-de-água.
Já tinha escolhido o vestido de noiva, mas
ia continuar a ser um segredo bem guardado,
pois só a mãe da Bé tinha tido permissão
para o ver. Agora deviam escolher os vestidos
para as damas de honor e o traje de pajem
que o Fil iria usar.
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Planos para a festa
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A Bé já lhe tinha contado das aventuras do
Tiago com o fato de veludo azul e o irmão
revelou-se absolutamente contra a ideia de
vestir qualquer coisa parecida.
Ao olhar para as fotografias que a tia tirou
da pasta, não resistiu e disse muito aborrecido:
— Não vou vestir nada parecido com isso!
Ema tinha espalhado algumas fotografias
sobre a mesa e ele olhava espantado para um
rapazito de cabelo encaracolado que vestia
uns calções de cetim e uma camisa com fo-
lhos.
A Lila pegou na fotografia e disse: — Ena,
pá! Acho que ias ficar lindo assim vestido!
— Nunca na vida! — vociferou o Fil.
— Não te preocupes, Fil — disse o Elias,
tocando-lhe no ombro. — Achamos que vais
vestir algo parecido com o que eu usar, um
fato de cerimónia.
— Ai é? — perguntou o Fil ainda duvido-
so. — Prometes?
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A tia Ema suspirou e a Bé suspeitou de que
ela teria apreciado mais os calções de cetim e
a camisa aos folhos. Provavelmente não tinha
gostado de que o Elias não tivesse conversa-
do sobre isso com ela antes.
Na verdade, até parece que já tens dezas-
seis anos — comentou o Elias. — Vai ser fixe!
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— OK — murmurou o Fil. — Desde que
não tenha de fazer nada embaraçoso.
— Bem, de qualquer maneira tenho aqui
uma coisa e de certeza que tu vais gostar
— disse a tia, que tirou uma caixa de cartão
do saco enorme onde tinhas as coisas para o
casamento. — Olha, passámos pela pastela-
ria e trouxemos amostras do bolo de noiva
para provarem — completou, ao mesmo
tempo que colocava as pastas no chão para
poder espalhar as diferentes fatias de bolo.
— Há bolo de frutas, um pão-de-ló de bau-
nilha e bolo de chocolate. Foi deste que gos-
taste mais, não foi, Elias? Preciso de ajuda
para escolher.
O Fil ficou mais animado e
enfiou uma enorme fatia de
bolo de chocolate na boca.
— De…pfe…ni…pti…
p f a…men…p f t e ,
es…pfte é que é…
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— disse com a boca cheia e a salpicar toda a
gente. — Pf…antástico!
A Bé provou um bocadinho de cada um dos
sabores. — Temos mesmo de escolher só um?
É que eles são todos deliciosos...
— Não tinha pensado nisso. Mas como o
bolo tem três andares, podemos ter mais do
que um sabor, suponho — disse a tia Ema,
pensativa. — Acho que já li algures uma coisa
sobre bolos assim, numa das minhas revis-
tas — e baixou-se para pegar na pasta.
— Quinas, seu traquinas! Sai já daí!
Ofegante, a Bé saiu da mesa para ir ver o
que o seu cão estava a fazer. Se calhar a pasta
cheirava a comida, pois tinha vindo no mes-
mo saco das amostras dos bolos, ou então o
Quinas gostava do tom cor-de-rosa das capas,
que agora também estavam mordiscadas nas
pontas. O cão tinha ainda alguns recortes na
boca e tentava escapar à tia Ema, abanando
a cauda, como se estivesse a pedir desculpa.
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O Meu Caozinho Traquinas
A Bé conhecia bem aquele olhar compro-
metido. — Vou levá-lo a dar uma volta no
quintal — anunciou a Bé, tirando-lhe apres-
sadamente as fotografias da boca para que a
tia as guardasse na pasta.
— Vou contigo — disse o Fil de imediato.
A Bé levou o cão lá para fora e olhou para
trás para a cozinha onde a mãe, a tia e a Lila
estavam de novo debruçadas sobre as pastas.
Agora é que já não havia maneira de con-
seguir levar o Quinas ao casamento…
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