View
218
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Mesa Temática: Nuevas Cartografías de Feminismos del Sur
NATIVA: FEMINISMOS NA MOBILIZAÇÃO DE MULHERES
INDÍGENAS, ESTADO DE MATO GROSSO, BRASIL.
Autora
Profª Ms. em História - Paula Faustino Sampaio.
Endereço Eletrônico: paulafasutinosampaio@hotmail.com
Universidade Federal de Mato Grosso/Departamento de História.
A gente achou que os homens não estavam tomando a luta como deveria
ser.
E nós achou que pela luta dos homens nós não ia ter chegado ao que nós
temos chegado hoje. Valéria Pereira – Documentário “Nativa- Movimento
Feminino nas Aldeias” - 2005
Iracema, a virgem dos lábios de mel, mulher indígena jovem, casta
e bela, personagem central e nome da obra do escritor José de Alencar,
publicada em 18651; “Índia, seus cabelos nos ombros caídos, linda como a
noite que não tem luar”, desde o ano de lançamento em 1953, pela dupla
Cascatinha e Inhana2, cantada no cancioneiro popular do Brasil;
Paraguaçu e sua irmã Moema no triângulo afetivo com Caramuru3, o
português Diogo Alvares, no filme, gênero comédia, lançado em 2001. Na
literatura indianista romântica, do século XIX, nas canção popular de
meados do século XX e no filme do começo do século XXI a imagem da
mulher indígena está associada a natureza, a sexualidade e ao passado.
1ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Moderna, 2011. 2CASCATINHA E INHANA. Índia. Disponível em http://letras.mus.br/cascatinha-e-
inhana/225175/. Acesso em 24/10/2014. 3Caramuru- A Invenção do Brasil. Filme (1h28min). Diretor Miguel Arraes. Gênero:
Comédia. Columbia Pictures do Brasil .Coprodução Globo Filmes. 2011.
No entender do historiador Ronald Raminelli, os cronistas, os
viajantes, os padres da Companhia de Jesus que escreveram sobre o
Brasil e sua gente, ao longo dos séculos XVI ao XVII, apresentaram a
mulher indígena como selvagem, feiticeira, lasciva e luxuriosa. A mulher
da etnia Tupinambá foi vista, dita e mostrada pelos cronistas como a
mulher primordial da América, a nossa Eva. 4
De acordo com a historiadora Laura de Mello e Sousa, estes relatos
edenizaram a América, enquanto território, mas demonizaram os
habitantes, vistos como monstros, diabos e selvagens. No âmbito do
imaginário medieval, em transformação em função das ocupações da
América, cronistas projetaram imaginário europeu cristão sobre a
América, e, assim, afirmaram para a América “algo que, de certa forma,
já estava concebido: via-se o que se queria ver, o que se ouvira dizer.”5
Em outra leitura do passado colonial, produzida no começo do século
XX pelo sociólogo Gilberto Freyre, autor da obra Casa Grande e Senzala,
clássico da história do Brasil, as mulheres indígenas, por gera filhos para
trabalhar e povoar a terra do Brasil, submissas aos homens brancos,
foram mostradas como facilitadora da colonização, contribuindo no projeto
português de colonização e de formação da sociedade no Brasil.6 Na
interpretação do sociólogo, da mulher indígena, “da cunhãé que nos veio o
melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho.
O caju. O mingau. O brasileiro de hoje (...) reflete a influência de tão
remotas avós.”7
Na leitura dos cronistas do século XVI, as mulheres indígenas foram
entendidas a partir da misoginia cristã católica e protestante, em seu afã
colonizador e cristianizador das populações da América. Na leitura do
4RAMINELLI, Ronald. Eva Tupinambá. In: DEL PRIORE,Mary(Org.).História das
Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.p.11-44. 5SOUZA, Laura de Mello. O novo mundo ente Deus e o Diabo. In: SOUZA, Laura de Mello
e. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil
Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. P. 43. 6FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: Formação da família brasileira sob o
regime da economia patriarcal. 51 ed. São Paulo: Global, 2006. 7FREYRE, Gilberto. Idem. P. 16
sociólogo Gilberto Freyre, as mulheres indígenas contribuíram com sua
cultura na formação da sociedade e da cultura Brasil. Em ambas as
interpretações, as mulheres indígenas são ditas pelo olhar androcêntrico,
colonizador e patriarcal, que nega a atuação de mulheres, a diversidade
de experiências e seus papeis nas sociedades.
Este conjunto de imagens do passado colonial é recorrente sobre as
mulheres indígenas no imaginário do (as) brasileiras do século XXI, o que,
por um lado, apresenta-as como personagens coadjuvantes de um
passado distante, e, por outro lado, invisibiliza as experiências de
mulheres ao longo dos tempos.
Ademais, a historiografia brasileira, somente a partir dos anos 1980
passou a dar atenção para as mulheres enquanto sujeito da história.
Entretanto, muito há que se pensar historicamente sobre as experiências
das mulheres indígenas. Como afirma Sara Beatriz Guardia, “La
identificación de funeste y documentacións para la história de las mujeres
implica rastrear a las mujeres en la historia no a través de datos olvidados
sino más bien como um problema de relacionoes entre os seres y grupos
humanos que antes habian sido omitidas.”8
Fazer novas perguntas, buscar novas fontes e propor outros ângulos
para pensar os sujeitos femininos indígenas, estabelecendo diálogos por
meio da categoria analítica gênero, implica também problematizar a
imposição de leitura do colonizador. Romper com a leitura colonial, implica
pensar um “Un mapa en ruínas”, como metoforiza Marta Sierra, en el cual
el feminismo poscolonial está pensando justamente esas intersecciones,
esos espacios "in-between" donde se articulan las diferencias comunes y
se elaboran estrategias de identidad colectivas, como afirma Homi
Bhabba”.9
8GUARDIA, Sara Beatriz. Las mujeres en del discurso histórico de América Latina. In:
TEDESCHI, Losandro Antonio. (Orgs.) Leituras de gênero e interculturalidade. Dourados,
MS: UFGD, 2013. P. 484. 9BIDASECA, Karina; SIERRA, Marta. Políticas de lo mínimo: genealogías coloniales en los
mapas del Sur.Rev. Estud. Fem., Florianópolis , v. 22, n. 2,Aug. 2014 .Available from
Atualmente, no Brasil, conforme dados Censo populacional realizado
em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística10, dos 896.000
mil indígenas, sendo 305 etnias, as quais possuem hábitos, costumes e
línguas próprios, a metade são mulheres, observando-se, “equilíbrio entre
os sexos para o total de indígenas (100,5 homens para cada 100
mulheres), com mais mulheres nas áreas urbanas e mais homens nas
rurais.” Apesar deste contigente populacional total indígena, que
representa 0,4% da população do Brasil, existe muitos silêncios em torno
de suas vidas, presentes e passadas.
Os estudos de antropólogos, de historiadores, de demógrafos,11
entre outros, vem buscando superar os silêncios sobre a história indígena,
conquanto as dificuldade em realizá-los. Na perspecitva de gênero, os
estudos mostram o espaço político das mulheres nos percursos do
movimento indígenas na Amazônia Legal Brasileira e os dados sobre
organizações de mulheres indígenas, notadamente para a Amazônia
Brasileira12.
Para Eliane Potiguara, ao discursar sobre os povos indígenas na
Conferência Mundial contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia
e a intolerância Correlatas, em Durban, África do Sul, 2001, que se
organizou em Durban na África do Sul em setembro 2001, quanto à de
gênero, afirmou que “a luta tem sido dobrada pelo preconceito, pelo
desconhecimento e pelo desinteresse dos envolvidos, o que contribui para
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2014000200013&lng=en&nrm=iso>.access on 21 Oct. 2014.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2014000200013. P. 6. 10IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os indígenas do Censo
demográfico 2010: primeiras considerações com base no quesito cor e raça. Rio de
Janeiro,2012. Disponível em ttp://www.ibge.gov.br/home/. Acesso em 20/08/2014. 11MONTEIRO, John M.Negros da Terra: Índios e Bandeirantes Nas Origens de São
Paulo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 320 p. MONTEIRO, John M.Guia
de Fontes para a História Indígena e do Indigenismo em Arquivos Brasileiros:
Acervos das Capitais. 1. ed. São Paulo: Núcleo de Hístória Indígena e do
Indigenismo/Fapesp, 1994. 496 p.CUNHA, Manuela Carneiro da. Histórias dos Índios no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 12MONAGAS, Ângela Célia Sachhi. União, Luta, Liberdade e Resistência: as
organizações de mulheres indígenas da Amazônia Brasileira. Tese. Programa de Pós-
Graduação (Doutorado) em Antropologia. UFPE. Recife, PE, 2006. 245p.
tornar invisívela situação das mulheres indígenas no Brasil. Por isso, para
falar da participação das mulheres indígenas na Conferência Mundial
contra o Racismo, há um outro histórico que não pode ser ignorado.13
Fala algo aqui.
Apesar dos preconceitos com a presença feminina no movimento
indígena e com a organização de movimento de mulheres indígenas, a
líder do Grupo Grumim, voltado a educação e produção escrita indígena,
destaca a existência de indicativas, e se coloca como mulheres indígenas
atuante na defesa dos direitos indígenas.
Segundo Maria Helena Ortolan Matos, que enfatiza o protagonismo
das mulheres indígenas em seus grupos e fora deles, antes e após
incorparar a perspectiva de gênero na agenda política recentemente,
As mulheres indígenas jamais estiveram totalmente
excluídas dos espaços etnopolíticos nos quais concepções e
práticas são definidas para lidar com os/as Outros/as (sejam
grupos de outras etnias ou agentes não indígenas em
contato). O fato de as mulheres indígenas não frequentarem
lugares públicos ou mesmo de serem limitadas quanto dele
participam, não significa que estão sendo mantidas
alienadas das tomadas de decisão coletivas sobre o destino
de seu povo. Para chegar a essa compreensão, torna-se
necessário reposicionar olhar analítico para conseguir
enxergar a diferença de perfis entre as esferas públicas e
privada quando vivenciadas nas sociedades indígenas e as
mesmas esferas quando vivenciadas nas sociedades não
indígenas. 14
13POTIGUARA, Eliane. Participação dos povos indígenas na Conferência em Durban. Rev.
Estud. Fem., Florianópolis, v. 10, n. 01,jun. 2002. Disponível em
<http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2002000100016&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 out. 2014. 14MATOS, Maria Helena Ortolan. Mulheres no movimento indígena: do espalo de
complementariedade ao lugar da especificidade. In: SACCHI, Ângela; GRAMKOW, Márcia
Maria. (Orgs.). Gênero e povos indígenas: coletânea de textos produzidos para o
“Fazendo Gênero 9”e para a “27ª Reunião Brasileira de Antropologia”. Rio de Janeiro,
Brasília: Museu do Índio/GIZ/FUNAI, 2012. P. 46.
Entretanto, apesar dos esforços para refletir sobre estas
problemáticas indígenas na perspectiva dos estudos de gênero, ainda há
muito que ser realizado, especialmente no que diz respeito a mostrar os
agenciamentos, os discursos e as mobilizações de mulheres indígenas
dentro do movimento indígena e em associações e movimento de
mulheres.
Anualmente, nas celebrações, nas marchas, nos atos, nas
manifestações e nos eventos no chamado “Dia Internacional da Mulher
Indígena”, em 05 de setembro, instituído no 1983, durante o II Encontro
de Organizações e Movimentos da América, em Tihuanacu (Bolívia), a
“Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o
Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres)” reafirma “apoio às
mulheres indígenas na busca por justiça e em defesa dos direitos
individuais e coletivos”. Nesta data, relembra-se a morte de Bartolina
Sisa, “uma mulher quéchua, esquartejada pelas forças realistas durante a
rebelião anticolonial de Túpaj Katari, no Alto Peru” em 05 de setembro de
1782.
No ensejo do dia Internacional da Mulher Indígena, a ONU-Mulheres,
afirmou que “no Brasil e nos países do Cone Sul, as mulheres indígenas
desempenharam historicamente um papel fundamental como agentes de
mudança nas famílias, comunidades e na vida do povo.” Para a ONU-
Mulheres, “É importante reconhecer as lutas, conquistas, habilidades, e
contribuições culturais das mulheres indígenas, e também sua enorme
responsabilidade na transferência de conhecimento.” 15 A ONU Mulheres
destacou também que as indígenas são essenciais em diversas economias,
trabalhando por segurança e soberania alimentar e pelo bem-estar de
famílias e comunidades.
Para Valéria Pereira, liderança da etnia Arara, ao discursar para
mulheres, de 16 etnia, no Encontro de Mulheres Indígenas na Terra
15ONU-MULHERES. ONU Mulheres apoia o dia internacional da mulher indígena.
Disponível em http://www.onu.org.br/onu-mulheres-apoia-o-dia-internacional-da-
mulher-indigena/. Acesso em 30/09/2014.
Indígena Arara, em 2005, “Nós num pode mais baixar a cabeça, a mulher
tem que aprender a se defender também.”16 Para ela,
Nós num nascemos só para carregar filhos não, nós
nascemos também para ter responsabilidade. Daqui ..
amanhã sai uma advogada, uma promotora, pode ser
uma índia também, num é só branco que tem direito
não, indío também tem, nós também somos povo, tem
sangue, tem luta, tem vida, também tem esperança.17
Frente a lógica colonial, patriarcal, machista que atribui às mulheres
os papéis de mãe e dona de casa, Valéria Pereira fala sobre deslocamento
necessário para as mulheres indígenas do presente, ou seja, indica a
possibilidade da mulher indígena ocupar funções na esfera jurídica, na
liderança e na política, brando um grito de esperança e de conclamação
das demais mulheres em nome de si e do seu povo.
O discurso de Valéria Pereira assim como discursos de outras
mulheres indígenas apresentado e disponível na rede mundial de
computadores por meio do Documentário Nativa- Movimento Feminino
nas Aldeias, de 200518, não é isolado, não é a-histórico nem individual
apenas.
O discurso de Valéria Pereira bem como das demais mulheres
indígenas apresentadas no Documentário “Nativa” nos permitir discutir a
relação entre as organizações de mulheres indígenas e os pensamentos
feministas, especificamente no Estado de Mato Grosso, o terceiro com
maior população indígena no Brasil, com o intento de problematizar os
discursos e as historicidades sobre mobilização feminina e feminista para
apresentar como tem acontecido a organização de mulheres indígenas e
16NATIVA- Movimento de Mulheres nas Aldeias. Cuiabá, MT, 2005. Documentário
(16min h 56 seg.). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=IkA9XaGTYAM.
Acesso em 15/05/2014. 17NATIVA- Movimento de Mulheres nas Aldeias. Idem. 18NATIVA- Movimento de Mulheres nas Aldeias. Ibidem.
em que medida os discursos eurocêntrico, colonizador e patriarcal fazem-
se presente nas chamadas novas vozes dos feminismos no Brasil.
Assim, fundamentada nos estudos feministas decoloniais, entendo
que “é preciso lutar contra o machismo a partir das próprias concepções
que imperam entre os homens, dentro das comunidades indígenas a que
pertencem.”19 apresento o documentário denominado “NATIVA –
movimento feminino nas aldeias” enquanto uma das faces da organização
de mulheres indígena, ancorada nos mais diversos discursos feministas,
na sociedade brasileira, gravado no 4º Encontro de Mulheres Indígenas de
Mato Grosso, 2005.
A população autodeclarada indígena nos censos IBGE 1991, 2000 e
2010, por Unidades da Federação do Brasil e cinco grandes regiões
(Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste), demonstra crescimento
da população indígena no Brasil. Na região Centro-Oeste, no ano de 1991,
a população total era 52.735; no ano de 2000 a população era de 104.360
e no ano de 2010 a população registrada foi 130.494. Nesta região
localiza-se o Estado de Mato Grosso, cuja população indígena registrada
em 1991 foi 16.548, em 2000 foi 29.196 e em 2010 foi 42.538.
Na Terra Indígena Arara do Rio Branco, em Aripuanã – Estado de
Mato Grasso, Brasil, no ano de 2005, reuniram-se aproximadamente cem
mulheres, entre elas Valéria Pereira, cuja fala é epigrafe deste texto.
Segundo o Documentário “Nativa”, estas mulheres são representantes de
dezesseis etnias para debater problemas de suas aldeias, reivindicar mais
espaço para as mulheres nas lutas em defesa da terra e da cultura e para
mostrar os enfrentamentos que as mulheres vivenciam em seus
cotidianos, notadamentea discutir a noção de submissão e de violência
contra a mulher, uma vez as mulheres indígenas em suas singularidades
19RAGO, Margareth; Poéticas e políticas das indígenas da Bolívia. In: RAGO, Margareth;
MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. Paisagens e Tramas: o gênero entre a História
e a Arte. São Paulo: Intermeios, 2013.p. 98.
“vivem os seus próprios processos, que nem sempre coincidem com os tempos e
agendas do feminismo urbano.”20
Parte dos debates deste encontro são mostrados no documentário
“NATIVA-Movimento Feminino nas Aldeias”, com direção de José Luiz
Medeiros e Rodrigo Vargas, produzido pelo Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) e pelo Projeto Andanças. Por meio da analíse do
discurso das mulheres contidos no documentário, cujo nome remete à
ideia de sujeito próprio do lugar, natural, autóctone, e a idéia de que as
mulheres presentes no documentário são as mulheres naturais da terra do
Brasil,é possível pensar história da organização de mulheres índigenas,
uma vez que a visibilidade das práticas de organização de mulheres
indígenas tem se dado por meio de documentário21. Segundo Marcos
Napolino, Eduardo Morettin e Mônica Hornis, o documentário vem
desempenhando papel decisivo nos debates culturais do país desde o
chamado cinema da retomada, questionando os limites das
representações , entre outros importantes debates no fazer da história. 22
O Conselho Indigenista Missionário é um organismo vinculado à
CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) cujas ações são
voltadas para povos indígenas. Criado no ano de 1972, no âmbito da
política integracionista das populações indígenas à sociedade envolvente.
O CIMI tem como objetivo de atuação definido pela Assembleia Nacional
de 1995:
Impulsionados(as) por nossa fé no Evangelho da vida,
justiça e solidariedade e frente às agressões do modelo
20SALGADO, Aída Hernandéz Castillo. Diferentes formas de ser mulher diante a
construção de um novo feminismo indígena. Disponível em
http://uniaocampocidadeefloresta.wordpress.com/2011/01/26/diferentes-formas-de-ser-
mulher-diante-a-construcao-de-um-novo-feminismo-indigena/. Acesso em 23/09/2014.
O mesmo texto pode ser encontro CEMHAL Centro de Estudos da Mulher na História de
América Latina. O CEMHAL é um Centro de Estudos Acadêmicos de Gênero com
expressão sediado no Peru. Disponível em
http://mujeresylasextaorg.wordpress.com/2007/08/08/mujeresindigenas-y-feminismo. 21Existe outros documentários como o Hiper-Mulheres e mulheres xinguanas,que em
outra oportunidade serão estudados. 22MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos. KORNIS, Monica Almeira. História e
documentário. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.
neoliberal, decidimos intensificar a presença e apoio
junto às comunidades, povos e organizações indígenas
e intervir na sociedade brasileira como aliados (as) dos
povos indígenas, fortalecendo o processo de autonomia
desses povos na construção de um projeto alternativos,
pluriétnico, popular e democrático.23
O notório o fomento da organização do movimento indígena pelo
CIMI, e atualmente o fomento das organizações de mulheres, como
podemos notar no Documentário “Nativa-Movimento Feminino nas
Aldeias.”, indica que “a parceria com indígenas e não indígenas é buscada
para defender seus direitos e possibilitar o processo organizativo”24,
afirma a antropóloga Angela Célia Sachhi, em sua tese sobre as
organização de mulheres indígenas da Amazônia Brasileira.
Para a antropóloga, o movimento de mulheres indígenas é entendido
no sentido de exercer o papel de defesa dos direitos das mulheres,
evidenciando a exclusão das demandas das mulheres indígenas das
agendas feministas e o não diálogo entre o movimento feminista e o
movimento de mulheres indígenas.
Segundo Dominique Fougeyrollas-Schwebel, alguns movimentos de
lutas por igualdade entre homens e mulheres, a exemplo das mulheres da
2ª e 3ª Internacionais, rejeitaram a qualificação “feminista, porque
entendiam que estava marcada por fundamentos burgueses.25
Como quem tece uma rede, escrever sobre a organização de
mulheres indígenas no Estado de Mato Grosso, dando visibilidade as
tessituras em processo de produção, é deparar-se com fios diversos
fragmentados. Por meio de notícias curtas e esparsas de informativos de
23CIMI- Conselho Indigenista Missionário. Quem somos. Disponível em
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/ Acesso em 25/09/2014. 24MONAGAS, Ângela Célia Sachhi. União, Luta, Liberdade e Resistência. Idem. P. 127 25FOUGEYROLLAS-SCHOWEBEL, Dominique. Movimentos Feministas. In: HIRATA, Helena
et all. (Orgs.) Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora UNESP, 2009. P. 144.
órgãos oficiais, como a FUNAI26, e ONG’s (Organizações não
governamentais)é possível encontrar alguns fios desta tessitura e começar
a formar o primeiro entrelaçamentos do tecido das organizações de
mulheres índigenas do Estado de Mato Grosso.
Nesta tessitura, vamos mostrar os fios possíveis no documentário
“Nativa- Movimento Feminino nas Aldeias”. O documentário inicia-se com
a apresentação de sete mulheres e suas respectivas etnias. Jocineide
(Arara), Rute (Karajá), Luciana (Munduruku), Neide (Kaioá), Urugureudo
(Bororo), Irene (Arara) e Morô (Tapirapé). Dentre estas mulheres que se
apresentam, em meio a sorrisos e timidez, algumas com os filhos nos
braços, apenas Jocineide declara-se líder de mulheres em sua aldeia. Além
dela, no decorrer dos dezesseis minutos e cinquenta e seis segundos,
conhecemos Valéria Pereira e a Cacique dos Arara Ana Anita, reconhecida
também por ter liderado a retomada as terras tradicionais dos povo Arara,
ao longos das décadas de 1980 e 1990.
Dentre as vozes das mulheres, destaca-se o discurso de Valéria
Pereira, no qual é perceptível as especificidades do encontro destas
mulheres indígenas:
Quantas mães não deixou hoje seus filhos para trás
para está aqui hoje a procurar saber como está nossas
aldeias hoje, a nossa terra, o nosso alimento? Por que a
vida nossa, o movimento de mulheres indígenas, a
nossa política indígena é essa, não é nós pegar um
arco, está na nossa boca, está no nosso coração, está
no nosso espírito, tá na nossa vontade lutar por aquilo
que nós quer. Nós achou que os homens não estavam
tomando a luta como deveria ser e nós achou que pela
luta dos homens nós nunca poderia chegar ao que nós
26FUNAÍ- Fundação Nacional do Índio. Disponível em http://www.funai.gov.br/
está chegando hoje.”27 Depoimento - Valéria Pereira
(Etnia Arara)
As falas acentuam a ideia de que as mulheres para estar ali reunidas
deixaram marido, casa e cuidado dos filhos para poder engajar-se. São
expressões que atrelam o primeiro lugar das mulheres aos cuidados com a
família.
O tema central do documentário é a mobilização de mulheres
indígenas do Estado de Mato Grosso em prol de melhores condições de
vida, de trabalho, de alimentação, de saúde, de demarcação de terras e
de não violência doméstica.
Incentivado e promovido pelo Conselho Indigenista Missionário,
CIMI, o documentário “Nativa” tem participação da missionária CIMI –
Regional Mato Grosso, Elizabeth Aracy Rondon Amarante,
missionária/CIMI. Para a missionária,
Os movimentos das mulheres indígenas que, está
sendo o 4º realmente, está sendo para nós uma
certeza sobre o papel destas mulheres indígenas. As
mulheres indígenas, às vezes muito veladamente,
muito ostensivamente, são aqueles que decidem os
rumos e o futuro de seu povo. A mulher tem uma
sensibilidade muito maior aquilo que ameaça e que fere
a gente” (...) “Estes encontros tem papel importante e
que a gente tem que investir na formação das
mulheres.” (...) “Escrever a história de uma povo a
partir da mulher, com olhos de mulher, estilo de
mulher, coração de mulher, como os rumos da
mulher.28
27NATIVA- Movimento de Mulheres nas Aldeias. Op. Cit. 2005. 28NATIVA- Movimento de Mulheres nas Aldeias. Idem.
Percebe-se no documentário “Nativa” que o CIMI fomenta o
Movimento Feminino nas Aldeias e no discurso da missionária Elizabeth
Aracy Rondon Amarante podemos pontuar três aspectos: 1. Exaltação da
atuação das mulheres nas aldeias; 2. Características própria das mulheres
que a singulariza; 3. Formação das mulheres.
Embora o discurso destas mulheres reunida no 4ª Encontro de
Mulheres Indígenas de Mato Grosso evidencie a luta por igualdade de
oportunidade entre homens e mulheres, por melhores condições de vida
para todas e todos, contra a violência nas relações conjugais, por maior
participação das mulheres nas esferas públicas, bandeiras de lutas dos
feminismos ocidentais e urbanos, não se percebe nas falas das mulheres
indígenas o uso do termo feminismo. Na fala da missionáriaElizabeth
Amarantes a ênfase é para o termo movimento de mulheres e para a
escrita de uma história no feminino, que aparece no discurso da
missionário enquanto sujeito com sensibilidade que lhe é própria.
A ausência do termo feminismo, segundo Aída Hernandéz Castillo
Salgado, tem explicação relacionada à conotação liberal e urbana, e
acrescentou colonial, do termo. Para Aída Hernandéz Castillo Salgado
embora a construção de relações mais equitativas entre
homens e mulheres tornou-se em um ponto medular na luta
das mulheres indígenas organizadas, o conceito de
feminismo não foi reivindicado dentro de seus discursos
políticos. Este conceito continua sendo identificado como o
feminismo liberal urbano, que para muitas delas tem
conotações separatistas que as afastam de sua necessidade
de uma luta conjunta com os seus companheiros indígenas.
Aqueles que chegaram ao feminismo depois de uma
experiência de militância em organizações de esquerda
sabem que a força ideológica que tiveram os discursos que
representam ao feminismo como uma “ideologia burguesa,
separatista e individualista” que separa às mulheres das
lutas por seus povos. As experiências do feminismo liberal
anglo, que de fato, partiram de uma visão muito
individualista dos “direitos dos cidadãos”, foram utilizadas
para criar uma representação homogeneizadora do
“feminismo.29
Embora não assumam diálogos com correntes de pensamento e
movimentos feministas e/ou com discursos descolonial, as mulheres do
“Nativa- movimento feminino nas aldeias” do Estado de Mato Grosso,
apontam para uma experiência singular nas aldeias de organização
comunitária de mulheres, que segundo Margareth Rago, “se opõe ao
individualismo característico do feminismo desde seu início na Europa, no
século XIX, e que sobretudo investe contr as formas de dominação
neliberal global.”30. Neste sentido, as necessidades de lutar para conseguir
a demarcação da terra ou para coibir a violência domèstica ou para
ampliar a atuação de mulheres no movimento indígenas e nos
movimentos de mulheres indígenas estabelece uma perspectiva política
própria para estas mulheres.
Levantamento realizado pela Articculación Feministas Marcosur
mapeou quarenta e três organizações de mulheres indígenas no Brasil.
Deste total, um número de vinte e cinco organizações situada-se na
Região Norte, das quais vinte no Estado da Amazôniana, e dez na Região
Centro-Oeste, sendo oito no Estado de Mato Grosso. 31
As oito organizações do Estado de Mato Grosso, 3ª maior população
indígena do Brasil, com tantas terras demarcadas, abrigando o Parque
Nacional do Xingu, são: Associação de Mulhere Indígenas da Aldeia
Formoso, Associação de Mulheres Indígenas do Povo indígenas do Carajá
– Barra do Garça, COAMI-MT – Comissão de Articulação de Mulheres
Indígenas do Mato Grosso, AOMP – Associação Oridiona das Mulheres
29SALGADO, Aída Hernandéz Castillo. Op. Cit. 30RAGO, Margareth; Poéticas e políticasd das indígenas da Bolívia. In: RAGO, Margareth;
MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. Paisagens e Tramas: o gênero entre a História
e a Arte. São Paulo: Intermeios, 2013.p. 98. 31Articculación Feministas Marcosur. Dados disponíveis em: http://www.mujeresdelsur-
afm.cotidianomujer.org.uy/joomdocs/mapeobrasil.pdf. Cf. www.mujeresdelsur-
afm.cotidianomujer.org.uy/.../mapeobrasil.pdf Acesso em 20/08/2014.
Paresi, Associação de Mulheres de Otaparé, Articulação das Mulheres
Indígenas Xavantes – Aldeia São Domingos Savio, AMINTU – Associação
de Mulheres Indígenas Terena Urbana, CONAMI – Conselho Nacional de
Mulheres Indígenas e APIB – Associação dos Povos Indígenas do Brasil.
O mapeamento realizado pela Articculación Feministas Marcosur, em
2011, com apoio da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), que entre
suas membros tinha duas mulheres indígenas, e de entrevistas, telefones
e contatos sistematizados, mapearam oito organizações para o Estado de
Mato Grosso, sendo duas delas de abrangência nacional (CONAMI –
Conselho Nacional de Mulheres Indígenas e APIB – Associação dos Povos
Indígenas do Brasil) , uma de abrangência estadual (COAMI-MT –
Comissão de Articulação de Mulheres Indígenas do Mato Grosso) e sete de
abrangência local/aldeia/etnia.
Este levantamento nos mostrar a existência de organizações de
mulheres indígenas e abrangência, o que nos permite mais perguntas do
que respostas: quem são estas mulheres? Quando fundaram estas
associações? Quais as formas de atuação? Quais bandeiras defendem? E
tendo em vista as dificuldades destacadas no relatório para localizar e
mapear estas associações, podemos perguntar: existe outras?
Levantamento por mim realizado entre agosto e outubro de 2014
nos jornais locais, em entidades ligadas às políticas públicas para as
mulheres, à Igreja Católica, FUNAI, com páginas nas redes mundial de
computadores, relativo à questões indígenas percebemos a existência de
mais associações de mulheres indígenas no Estado de Mato Grosso, são
elas: TAKINÁ– Organização de Mulheres Indígenas e Associação
Yamurikumã das Mulheres Xinguanas.
TAKINÁ– Organização de Mulheres Indígenas aparece em
reportagem de jornais, sua própria página na rede social Facebook e nas
páginas dos Conselhos Indigenista Missionário enquanto organizadora do
Encontro Estadual de Mulheres Indígenas de Mato Grosso, 2010, da II
Assembleia de Mulheres Indígenas do Estado de Mato Grosso, em 2012, e
do XI Encontro de Mulheres Indígenas do Estado de Mato Grosso, em
2013. Especialmente a TAKINÁ– Organização de Mulheres Indígenas
aparece em notícias da Secretaria de Politicas Públicas Para as Mulheres,
dos Governos Federal, em noticiário eletrônico da FUNAI e da CIMI, o que
me permite afirma atuação permanente nos último anos.
Associação Yamurikumã das Mulheres Xinguanas aparece na página
do Instituto Catitu. O Instituto Catitu foi criado em 2009 e define-se como
“uma associação sem fins lucrativos qualificada como Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que propõe aos povos
indígenas novas possibilidades de expressão, transmissão e
compartilhamento de suas visões de mundo e de seus conhecimentos.” O
Instituto Catitu, apoiado pela Embaixada da Noruega,tem com uma das
linhas de atuação “fomentar ações que estimulem e ampliem o
protagonismo indígena, especialmente o das mulheres;”. Neste sentido,
“Destaca-se a formação audiovisual para povos indígenas, que resultou na
produção de aproximadamente 30 filmes – que conquistaram novos
públicos e inúmeros prêmios Brasil afora.”
O Instituto Catitu, “a ATIX (Associação Terra Indígena do Xingu),
SPDM/UNIFESP, FUNAI, o Instituto Socioambiental e a Rainforest do
Japão” objetivando fortalecer o protagonismo das mulheres da Terra
Indígena do Xingu, localizada no Estado de Mato Grosso, promoveram o
1º Encontro de Lideranças Indígenas Mulheres do Xingu, de 11 a 13 de
outubro, 2013, evento que foi filmado gerando o vídeo “Encontro das
Mulheres Xinguanas (versão em português., objetivando “divulgar as
ideias discutidas no Encontro e mobilizar parceiros para dar apoio às ações
das mulheres xinguanas.”
Apesar do levantamento da Articculación Feministas Marcosur,
constituída em 2000 no Seminário sobre Integracição Regional e de
Gênero, sob organização do “Centro de Comunicación Virginia Woolf
(Cotidiano Mujer)”, que se define enquanto “es una corriente de
pensamiento y acción política feminista que tiene como eje central de su
estrategia, promover el desarrollo de un campo político feminista a nivel
regional y global”32, com integrantes feministas da Argentina, Brasil,
Bolívia, Colômbia, Paraguiai e Peru, ao realizar os “Diálogos Inerculturais
no Brasil”, em agosto de 2011, nomear oito associações de de mulheres
indígenas para o Estado de Mato Grosso, não há referência ao Nativa-
Movimento Feminino de Mulheres, seja enquanto movimento de mulheres,
seja enquanto documentário, realizado em 2005, cujo encontro como
assevera a missionária Elizabeth Amarantes, estava em sua 4ª edição, e
como é perceptível pelos depoimentos das sete mulheres indígenas
entrevistadas no documentário, trata-se de um momento que, iniciou no
começo do século XX, e que deita raízes no movimento indígenas dos
anos 1970/80/90 pela demarcação de terras, como podemos destacar na
fala da Cacique Ana Anita sobre sua presença e liderança na demarcação
de terras do seu povo.
Embora não assumam discurso feminista, os discursos das mulheres
no documentário Nativa e mesmo as notícias de associações de mulheres
e realização de encontros e assembleias indicam atuação de mulheres
indígenas dentro e fora de suas aldeias, quase sempre com fomento de
organizações como o CIMI, o Instituto Catitu, a FUNAÍ, em que “el lugar
fronterizo donde es posible cerrar la herida colonial para que nasca una
nueva mestiza; esa cicatriz en el alma.”33
Considerações finais
Percebe-se dois momentos de organização destas mulheres. 1º
entorno das demarcações das terras; 2ª entorno de problemas como
saúde, educação, segurança alimentar, alcoolismo, violência doméstica e
32Dados disponíveis em http://www.mujeresdelsur-afm.cotidianomujer.org.uy/que-somos
Acesso em 10/08/2014. 33BIDASECA, Karina; SIERRA, Marta. Políticas de lo mínimo: genealogías coloniales en los
mapas del Sur.Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 22, n. 2, Aug. 2014. Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2014000200013&lng=en&nrm=iso>.access on 21 Oct. 2014.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2014000200013. P. 6.
atuação policia delas dentro fora das aldeias enquanto representantes da
sua aldeia/etnia. Nas linhas delineadas perceber-se a tessitura de maior
participação nas decisões das comunidades e a atuação de mulheres por
meio de associações bem como a divulgação de suas ações por meio de
documentários, reportagens e redes sociais, o que visibiliza as ações.
Enquanto a missionária Elizabeth Amarante destaca o caráter
complementar entre mulheres e homens nas aldeias, Valéria Pereira,
enquanto uma voz dissonantes, aponta para um protagonismo feminino
que supera o papel até o momento atraído para o feminino. Vera não quer
ser complemento, Vera tem um discurso dissonante em relação ao da
missionária. Disso vem a indagação: Que tipo de organização de mulheres
e com que finalidade é incentivada pelo CIMI? Qual a relação destas
mulheres (16 etnias) com o CIMI? Onde começa e onde termina a
influência, se é que ela existe concretamente? Qual relação da
organização de mulheres indígenas com a defesa da tradição e
manutenção dos valores tradicionais? Até que ponto o pensamento
colonizador permanecer vigente na organização de mulheres? Estas são
questões para continuar a conhecer o universo de mulheres indígenas do
Estado de Mato Grosso.
Bibliografia
ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Moderna, 2011.
BIDASECA, Karina; SIERRA, Marta. Políticas de lo mínimo: genealogías
coloniales en los mapas del Sur.Rev. Estud. Fem., Florianópolis , v.
22, n. 2,Aug. 2014 .Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2014000200013&lng=en&nrm=iso>.access on 21 Oct. 2014.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2014000200013. P
CUNHA, Manuela Carneiro da. Histórias dos Índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993.
FOUGEYROLLAS-SCHOWEBEL, Dominique. Movimentos Feministas. In:
HIRATA, Helena et all. (Orgs.) Dicionário crítico do feminismo. São Paulo:
Editora UNESP, 2009.
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: Formação da família
brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51 ed. São Paulo: Global,
2006.
GUARDIA, Sara Beatriz. Las mujeres en del discurso histórico de América
Latina. In: TEDESCHI, Losandro Antonio. (Orgs.) Leituras de gênero e
interculturalidade. Dourados, MS: UFGD, 2013. P. 484.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os indígenas do
Censo demográfico 2010: primeiras considerações com base no quesito
cor e raça. Rio de Janeiro,2012. Disponível em
ttp://www.ibge.gov.br/home/. Acesso em 20/08/2014.
MATOS, Maria Helena Ortolan. Mulheres no movimento indígena: do
espalo de complementariedade ao lugar da especificidade. In: SACCHI,
Ângela; GRAMKOW, Márcia Maria. (Orgs.). Gênero e povos indígenas:
coletânea de textos produzidos para o “Fazendo Gênero 9”e para a “27ª
Reunião Brasileira de Antropologia”. Rio de Janeiro, Brasília: Museu do
Índio/GIZ/FUNAI, 2012.
MONTEIRO, John M.Negros da Terra: Índios e Bandeirantes Nas Origens
de São Paulo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
MONTEIRO, John M.Guia de Fontes para a História Indígena e do
Indigenismo em Arquivos Brasileiros: Acervos das Capitais. 1. ed.
São Paulo: Núcleo de Hístória Indígena e do Indigenismo/Fapesp, 1994.
496 p.
MONAGAS, Ângela Célia Sachhi. União, Luta, Liberdade e Resistência:
as organizações de mulheres indígenas da Amazônia Brasileira. Tese.
Programa de Pós-Graduação (Doutorado) em Antropologia. UFPE. Recife,
PE, 2006. 245p.
MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos. KORNIS, Monica Almeira.
História e documentário. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.
ONU-MULHERES. ONU Mulheres apoia o dia internacional da mulher
indígena. Disponível em http://www.onu.org.br/onu-mulheres-apoia-o-
dia-internacional-da-mulher-indigena/. Acesso em 30/09/2014.
POTIGUARA, Eliane. Participação dos povos indígenas na Conferência em
Durban. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 10, n. 01,jun. 2002.
Disponível em
<http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2002000100016&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 out. 2014.
RAGO, Margareth; Poéticas e políticasd das indígenas da Bolívia. In:
RAGO, Margareth; MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. Paisagens e
Tramas: o gênero entre a História e a Arte. São Paulo: Intermeios, 2013.
RAMINELLI, Ronald. Eva Tupinambá. In: DEL PRIORE,Mary(Org.).História
das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.
SALGADO, Aída Hernandéz Castillo. Diferentes formas de ser mulher
diante a construção de um novo feminismo indígena. Disponível em
http://uniaocampocidadeefloresta.wordpress.com/2011/01/26/diferentes-
formas-de-ser-mulher-diante-a-construcao-de-um-novo-feminismo-
indigena/. Acesso em 23/09/2014. O mesmo texto pode ser encontro
CEMHAL Centro de Estudos da Mulher na História de América Latina. O
CEMHAL é um Centro de Estudos Acadêmicos de Gênero com expressão
sediado no Peru. Disponível em
http://mujeresylasextaorg.wordpress.com/2007/08/08/mujeresindigenas-
y-feminismo.
SOUZA, Laura de Mello. O novo mundo ente Deus e o Diabo. In: SOUZA,
Laura de Mello e. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e
religiosidade popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras,
1986.
Recommended