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ciênciaEFSEGUNDA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 2009 ★ A16

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PerdadeDNAfazcélulase‘especializar’Falta ou sobra de cromossomos parecem ser típicas da transformação de células-tronco em neurônios, mostra pesquisa

Roberto Price - 01.jun.2008/Folha Imagem

................................................................................................EDUARDO GERAQUEENVIADO ESPECIAL AO RECIFEREINALDO JOSÉ LOPESDA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém imaginaria que ar-rancar pedaços substanciais doDNA das células pudesse serimportante para a correta es-truturação do cérebro, mas éjustamente isso que o trabalhode pesquisadores da UFRJ(Universidade Federal do Riode Janeiro) anda demonstran-do. A degola de material genéti-co parece estar ligada à divisãode tarefas nos muitos tipos decélulas do sistema nervoso.

Ainda é difícil afirmar exata-mente o que os achados signifi-cam, mas Stevens Rehen, Bru-na Paulsen e seus colegas daUFRJ já flagraram o fenômenoestudando dois tipos diferentesde células-tronco, as embrio-nárias (como o nome diz,oriundas de embriões no está-gio inicial de seu desenvolvi-mento) e as iPS (células adultasque, manipuladas em laborató-rio, retornam a um estado quelembra muito o embrionário).

A alteração detectada pelaequipe é conhecida como aneu-ploidia, forma indigesta de di-zer que as células ditas aneu-ploides possuem um númeroirregular de cromossomos, as

estruturas parecidas com car-retéis que carregam o DNA.

Como regra geral, toda célulado corpo humano deveria car-regar 23 pares de cromosso-mos. Cada membro do par é“doado” respectivamente pelopai e pela mãe aos filhos. Aaneuploidia consiste na pre-sença de pares “mancos”, semum dos membros, ou “excessi-vos”, formados por trios, porexemplo. Há doenças impor-tantes ligadas à aneuploidia,como a síndrome de Down (cu-jos efeitos, aliás, vão muitoalém do desenvolvimentomental do portador).

Lado bomA hipótese de trabalho de Re-

hen e companhia, no entanto,reabilita parcialmente o núme-ro irregular de cromossomos.“A aneuploidia também podefuncionar para o bem, paramoldar o cérebro de uma formaúnica”, afirma o pesquisador,que foi o primeiro a detectar ofenômeno no sistema nervoso,em pesquisa de 2001. Até 30%dos neurônios do córtex (a áreamais desenvolvida e complexado cérebro em seres humanos)podem ser aneuploides.

Mais recentemente, Rehentopou outra vez com a aneu-ploidia ao estudar como as cé-lulas-tronco embrionárias, res-ponsáveis por construir todo oorganismo humano, passampelo processo de diferenciação(especialização) que as trans-forma em neurônios. A surpre-sa é que, quando viram neurô-

nios, as células também per-dem cromossomos. Coincidên-cia ou relação de causa e efeito?

“Chegamos a pensar que aaneuploidia poderia ser efeitodo ácido retinoico [substânciaempregada para induzir as cé-lulas a se especializar]”, diz Re-hen. Não era, a julgar por expe-rimentos posteriores. O mes-mo fenômeno foi verificado en-quanto as células iPS, tambémcom propriedades embrioná-rias, foram “convencidas” a vi-rar neurônios, afirma ele.

Os pesquisadores ainda estãolonge de bater o martelo em re-lação a esse paradoxo. A próxi-ma fase dos experimentos deveenvolver o caminho oposto: emvez de induzir especializaçãocelular e observar aneuploidia,Rehen e companhia planejamarrancar cromossomos das cé-lulas e ver se isso as ajuda a sediferenciar em neurônios.

Ainda é cedo para dizer aon-de essas pistas conduzem, masnão é impossível que a aneu-ploidia esteja ligada à grande

complexidade celular do cére-bro, que está repleto de neurô-nios de todos os tipos e especia-lidades. E talvez ajude a eluci-dar por que, afinal, nenhumacabeça pensa igual à outra.

“Ele poderá até ajudar a ex-plicar a diferença que existe en-tre o comportamento de gê-meos idênticos, por exemplo”,diz Rehen. A alteração nos cro-mossomos introduziria um ele-mento de inesperado no pro-cesso que leva à maturação docérebro ao longo da vida.

FOTO3.027.0

DNA saltadortambém podeforjar órgão

.................................................................................DA REPORTAGEM LOCAL

Se a perda de cromosso-mos adiciona um elemen-to interessante de “jogo dedados” à formação de neu-rônios, um fenômeno ain-da mais amalucado talveztransforme a estruturaçãodo cérebro em algo muitoparecido com uma loteria.Trata-se da intensa ativi-dade de DNA saltador nogenoma neuronal.

Conhecidos como retro-transposons, esses ele-mentos de DNA, que tal-vez sejam resquícios deantigos vírus, podem secopiar de um ponto a ou-tro do genoma, alterando ofuncionamento dos genesnos quais se enfiam.

O brasileiro AlyssonMuotri, da Universidadeda Califórnia em San Die-go, é um entusiasta dessalinha de pesquisa e já con-seguiu demonstrar queparece haver um elo entrediferenciação dos neurô-nios e atividade do DNA-saltador. “E essa atividadeé muito maior no cérebrodo que em tecidos como ocoração, por exemplo”,afirma Muotri. (RJL)

Stevens Rehen com imagem de células-tronco na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Moedas perdidas revelam quedapopulacional na Roma antigaTesouro era enterrado durante guerras, o que dá pista sobre despovoamento

Rep

rodu

ção................................................................................................

RICARDO BONALUME NETODA REPORTAGEM LOCAL

Estudando a distribuição, aolongo do tempo, de moedas ro-manas escondidas durante pe-ríodos de conflito interno, doispesquisadores nos EUA con-cluíram que houve um declínioda população da Itália duranteo século 1º a.C., resolvendo umaquestão há muito debatida.

“Em tempos de violência aspessoas tendem a esconderseus objetos de valor, que sãodepois recuperados —a menosque seus donos tenham morri-do ou sido expulsos. Assim, adistribuição temporal de moe-das escondidas é uma excelentepista da intensidade de guerrainterna”, escreveram os auto-res em artigo na revista cientí-fica americana “PNAS”.

Os dois são de áreas diferen-tes do conhecimento e, no caso,complementares. Peter Tur-chin é do Departamento deEcologia e Biologia Evolutivada Universidade de Connecti-cut e Walter Scheidel é do De-partamento de Estudos Clássi-cos da Universidade Stanford.

“Os tesouros escondidos ti-nham desde três a quatro moe-das até algumas dezenas de mi-lhares. Cem denários equiva-liam à metade do salário anualde um soldado”, disse Turchinà Folha. O “denarius” (plural:“denarii”) era uma moeda deprata com cerca de quatro gra-mas de peso. A palavra está naorigem da palavra “dinheiro”.

Perdendo o censoOs romanos, tanto no perío-

do republicano (do século 5ºa.C ao século 1º a. C.) quanto noImpério que o seguiu, realiza-vam censos de seus cidadãos,necessários para fins de taxa-ção, recrutamento militar e di-reito de voto em assembleias.Contavam-se apenas os ho-mens adultos. Os números re-gistrados passaram de cerca de200 mil para perto de 400 mil

entre a metade do século 3º a.C.e o final do século 2º a.C.

Com a extensão da cidadaniaromana ao resto da Itália de-pois da chamada Guerra Social(91-89 a.C. ), os números prati-camente triplicaram. Três cen-sos feitos pelo imperador Au-gusto em 28 a.C., 8 a.C. e 14 d.C.mostram um número de 4 mi-lhões passando para 5 milhões.

Mesmo levando em conta aextensão da cidadania, os nú-meros não batem. Falta expli-car como a população de roma-nos teria aumentado até trêsvezes no século anterior ao pri-meiro censo de Augusto. É quetodo esse período foi marcadopor três grandes guerras civis,sem falar em conflitos meno-res, doenças e fome.

A solução de uma corrente depesquisadores foi concluir queos censos de Augusto passarama incluir também mulheres e

menores. É a chamada hipótesede “contagem baixa”. Mas asfontes históricas não fazemmenção a contagens diferentes.

Outra corrente, a da “conta-gem alta”, assume que não hou-ve mudança na identidade daspessoas recenseadas. Ela se ba-seia na crença de que os censosrepublicanos se tornaram cadavez mais imprecisos, e portantoexagerariam a escala de au-mento populacional.

O problema é que isso resul-taria em uma população totalque iria de 15 milhões a 20 mi-lhões. Seria alta demais para aépoca romana, pois só na meta-de do século 19 é que a Itáliaatingiu essa cifra.

O modelo criado pelos doispesquisadores, adicionando ostesouros de moedas como umavariável ao longo do tempo, de-monstrou ser mais compatívelcom a “contagem baixa”.

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Denário feito a mando de Quinto Antônio Balbo em 82 a.C.

Grupo da UFRJ propõe quefenômeno pode ter relaçãocom complexidade cerebrale variabilidade do órgãovista de pessoa para pessoa

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