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sobre apostila balabhadra.
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em 25 Liesbhakti
Chandramukha Swami
em 25 Liesbhakti
Estas 25 lies sobre o yoga devocional (bhakti) fazem parte do
material didtico dos grupos de discusso denominados Lapidar, um
projeto da ISKCON, Sociedade Internacional da Conscincia de
Krishna, coordenado por Chandramukha Swami, e que tem como
fundador e mestre Sua Divina Graa A. C. Bhaktivedanta Swami
Prabhupada. Estes textos baseiam-se nos seus divinos ensinamentos
e a ele so dedicados com profunda gratido.
Textos: Chandramukha Swami (contato: cmsw108@gmail.com)
Reviso: Dhira Chaitanya
Os interessados em obter os livros de Sua Divina Graa A. C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada ou outros livros sobre a
Conscincia de Krishna so convidados a visitarem os websites
www.bbt.org.br e www.sankirtana.com.br
A reproduo integral ou parcial desses textos so permitidas,
desde que seja citada a fonte.
lapidarbrasil.com | facebook.com/lapidarbrasil
Agradecimentos especiais a todos
aqueles que tm participado
ativamente. Em especial Daiva Jna e
Yamuna (Caxias do Sul),
Liladas, Uddhava Mitra e Prema
Kirtana (Porto Alegre), Marcos
Donaduce e Giovana (Viamo), Ananda
Canuto, Sonia Wild e Cristian
(Londrina), Deva Yajna, Abhiceta e
Rasananda (Guarulhos), Nama-Shakti
(Trememb), Radhika Prasada
(Taubat), Sarvabhauma e Yogindra
(So Jos dos Campos), Daniel
Perdigo e Jamile (So Carlos), Mrcia
Regina Janurio (Araraquara), a turma
da Unicamp de Campinas, Martha
Leiros, Marcelo e Krishna Chandra
(Terespolis), Tulasi Bhakti e
Radharani (Paty de Alferes), Nila
Madhava, Daru Krishna, Nilacala e
Jnior (Niteri), Raja Rama e Mariana
(Bauru), Parama Purusha (Petrolina),
Vasudeva, Prana Natha e
Damodara (Manaus), Suniti e
Sarvanubhuti (Belm), Nityananda
Raya, Nrsimhananda, Dhira Caitanya,
Balabhadra, Carmen, Dana Raja,
Gustavo etc.
CARO LEITOR, 05.
A MISSO LAPIDAR, 06.
SEO 1
01. A VIBRAO TRANSCENDENTAL DO MAHA-MANTRA, 08 | O cantar cumpre todos os propsitos dos
Vedas, 09 | Nada pode ser mais eficiente, 10.
02. A AUTORIDADE DOS VEDAS E AS GLRIAS DA GITA, 11 | A Gt no contexto vdico, 11 | A escolha do
cenrio, 12 | A batalha entre o bem e o mal, 13.
03. SABOREANDO UM GOSTO SUPERIOR, 14 | A busca natural pelo prazer, 15 | A alma tambm plena
de bem-aventurana, 15.
04. PERCEBENDO A PRESENA DO ABSOLUTO, 17 | Tudo manifestao do poder do Senhor, 18 | A
Superalma est em todo tomo, 18.
05. O VALOR DA ASSOCIAO DOS DEVOTOS, 19 | Libertao das concepes materiais, 19 | As
caractersticas dos devotos, 19.
SEO 2
06. PRINCIPAIS CANES DEVOCIONAIS, 22 | Prabhupda praati, 22 | Panca-tattva mantra, 23 | Mah-
mantra, 23 | Jay Rdh-Mdhava, 23.
07. O QUE BHAKTI?, 24 | Um fluxo ininterrupto de amor a Deus, 24 | Um cultivo transcendental,
24 | Sem a influncia da especulao e sem a busca por recompensas, 25 | A mais sublime
experincia humana, 26.
08. CONQUISTANDO A MENTE, 27 | A harmonia perfeita entre a alma e a Superalma, 27 | O perigo da
contemplao dos objetos mundanos, 28.
09. O CONCEITO DO SAGRADO NO COTIDIANO, 29 | Um mtodo simples e sublime, 29 | Oferecendo os
frutos das aes, 30.
10. DIGA-ME COM QUEM ANDAS, 31 | Os corvos e os cisnes, 31 | Transferindo os apegos, 31 | A
principal funo do devoto, 32.
SEO 3
11. O CANTO REPETITIVO DO MANTRA, 34 | Evidncias dos astras, 34 | Evidncias dos sdhus, 34 |
Evidncias do guru, 34 | Algumas dicas, 35.
12. O CULTIVO DO AMOR A DEUS, 36 | A ocupao prtica dos sentidos, 36 | O prazer espiritual vir
automaticamente, 37.
13. PROTEGENDO-SE DO KARMA, 38 | O principal beneficirio, 38 | O sacrifcio da era atual, 39 |
Cumprindo todos os propsitos dos sacrifcios, 39.
14. INTRODUZINDO O AVATARA CAITANYA, 40 | Entendendo o conceito de avatra, 40 | A misso de
Caitanya, 40 | Os ensinamentos de Caitanya, 41.
15. DIKSA, A INICIAO ESPIRITUAL, 42 | Egosmo centralizado e estendido, 42 | Renascimento
espiritual, 42 | A verdadeira iniciao espiritual, 43.
SEO 4
16. A NATUREZA ABSOLUTA DO SANTO NOME, 46 | A mais dinmica forma de espiritualidade, 46 |
Somente o Senhor possui a supremacia, 46 | Esforando-se para cantar com pureza, 47.
17. ENTENDENDO O EU VERDADEIRO, 48 | Uma existncia relativa, 48 | A partcula atmica e
infinitesimal, 48 | A individualidade eterna, 49 .
S u m r i o
07
21
33
45
18. AUSTERIDADE E VERACIDADE, 50 | Tapsya, o pilar da austeridade, 50 | Satyam, o pilar da
veracidade, 51.
19. A ENTREGA AMOROSA, 52 | As seis diretrizes, 52 | Uma ligao ntima com o Senhor, 53.
20. AS QUALIDADES DE UM VERDADEIRO DEVOTO, 54 | O sofrimento no passa de um sonho, 54 | Os
processos direto e indireto, 55 | Caractersticas apreciadas pelo Senhor, 55.
SEO 5
21. ESTGIOS DO CANTAR DOS SANTOS NOMES, 54 | O sol do santo nome e as nuvens da ignorncia, 58 |
Trs tipos de maus-hbitos, 58 | As glrias do estgio intermedirio, 59.
22. AS CINCO VERDADES ESSENCIAIS, 60 | Jva, o ser vivo, 55 | Prakti, a natureza material, 60 | Os trs
modos da natureza, 60 | Karma, as atividades, 61 | Kla, o tempo eterno, 61 | vara, o Controlador
Absoluto, 62.
23. PUREZA E NO-VIOLNCIA, 64 | aucam, o pilar da pureza, 64 | Ahimsa, o pilar da no-violncia, 65.
24. A FORMA TRANSCENDENTAL DA DEIDADE, 66 | No h diferena entre o Senhor e a Deidade, 66 |
Aprendendo a se relacionar com o Senhor, 66 | A misericrdia especial, 67 | A diferena entre
idolatria e servio s Deidades, 68.
25. A RELAO DE MESTRE E DISCPULO, 69 | Disciplinas voluntrias em prol da autorrealizao, 69 | O
guru deve estar fixo no servio ao Senhor, 69 | Por favor, me instrua, 70.
REPASSAR A EXPERINCIA, 71.
GLOSSRIO, 74.
57
C a r o L e i t o r
05
nquanto palestrvamos no
Eano passado em diferentes lugares, tivemos a grata surpresa de constatar quo
sedentas as pessoas esto pela
alternativa de vida proposta pelo
caminho de bhakti. Nossos eventos
ocorriam basicamente em espaos
de yoga e universidades, onde boa
parte do pblico j tinha ouvido
falar da Bhagavad-gt e do Vednta.
Na maioria das vezes, eram pessoas
f i l i a d a s a a l g u m g r u p o
espiritualista ou comprometidas
com alguma modalidade do yoga e,
portanto, tinham mentes e
coraes abertos. Como evidncia
de seu interesse pelo yoga da
devoo, muitos deles adquiriam
livros e indagavam como poderiam
d a r c o n t i n u i d a d e q u e l a
experincia. Isso nos levou a criar
um mecanismo que pudesse
transmitir os pontos essenciais de
b h a k t i d e fo r m a d i d t i c a ,
sistemtica e com linguagem
universal. Desse modo, juntamos
os interessados de cada cidade e
criamos vrios grupos, que
passaram a se reunir semanal ou
quinzenalmente.
Como estamos falando de um
conhecimento que tem sido
praticado na ndia h tempos
imemoriais, fcil entender quo
grande a influncia cultural e
tnica que ele tem recebido desse
pas que tem um modo particular
de vida, voltado ao misticismo.
Considerando isso, sugerimos que
os grupos no se restringissem
meramente ao estudo, mas
discutissem amplamente sua
aplicao prtica no nosso
cotidiano. Se por um lado, devemos
tomar o devido cuidado para que a
essncia do conhecimento no seja
alterada, por outro, importante
ficarmos atentos para que no seja
dada importncia exagerada a
alguns detalhes da cultura indiana,
principalmente queles que, para
ns, ocidentais, so de difcil
aplicao. A proposta tem sido
recebida com muito entusiasmo e,
em poucos meses, vrios grupos
foram espalhados pelo Brasil,
enquanto muitos outros esperam
ansiosamente seu incio. A esses
grupos, demos um nome bastante
sugestivo: Lapidar, j que cada
uma das letras dessa palavra
representa os principais temas de
nossos estudos: L: limpeza do
corao, A: autoconhecimento, P:
proteo espiritual, ID: interao
com Deus, A: associao favorvel,
R: repassar a experincia.
Durante sua leitura, voc ir
constatar que as lies se referem
especificamente aos 5 primeiros
temas. E, como so 5 lies para
cada tema, temos um total de 25
lies. Para sistematizar melhor as
lies, decidimos formar uma seo
com cada grupo de 5 lies. No que
se refere ao ltimo item, repassar a
experincia, como ele de
natureza muito especfica, no
vimos a necessidade de dar-lhe a
mesma ateno que os outros 5
itens receberam. Mas, por se tratar
de um assunto igualmente
importante, ao final do livro
dedicamos um captulo especial
para ele.
No final de cada seo, h
tambm um resumo de cada uma
das 5 lies que formam a
respectiva seo (esses resumos
servem como base da discusso
durante as reunies dos grupos
Lapidar). O que recomendamos
que os componentes do grupo
leiam o texto completo de cada
lio na semana que haver a
reunio. O ideal que eles
aproveitem a leitura antecipada
para anotarem suas dvidas e
comentrios. Isso ajudar muito no
d i n a m i s m o d a r e u n i o .
Gostaramos de ressaltar que todo o
material disponibilizado atravs
dessas 25 lies se fundamenta na
tradio dos Vedas e nos preceitos
dos mestres antecessores da linha
devocional, principalmente nos
ensinamentos de Sua Divina Graa
A. C. Bhaktivedanta Swami
Prabhupda, o fundador e mestre da
ISKCON (International Society for
Krishna Consciousness), da qual
temos o privilgio de pertencer.
A este maravilhoso mestre e
inquestionvel lapidador de almas,
conhecido como rla Prabhupda,
deixamos aqui registrado a nossa
profunda admirao e oferecemos
os nossos respeitos e reverncias.
Na verdade, esse trabalho nossa
humilde oferenda a ele, que fundou
sua instituio transcendental em
agosto de 1965.
Como estamos falando
de um conhecimento
que tem sido praticado
na ndia h tempos
imemoriais, fcil
entender quo grande
a influncia cultural e
tnica que ele tem
recebido desse pas
que tem um modo
particular de vida,
voltado ao misticismo.
Considerando isso,
sugerimos que os
grupos no se
restringissem
meramente ao estudo,
mas discutissem
amplamente sua
aplicao prtica no
nosso cotidiano.
Segue abaixo as trs principais
diretrizes da Misso Lapidar, a qual
se coaduna com os propsitos do
mestre, pois se destina a espalhar a
cincia de bhakti de acordo com
seus divinos ensinamentos:
1. Com profundo respeito por todas
as convices f i losf icas e
religiosas, criar e manter grupos de
pessoas que tenham interesse em
discutir a aplicao prtica da
cincia universal de bhakti no
cotidiano do homem moderno.
2. Divulgar os ensinamentos da
Bhagavad-git e demais escrituras
vdicas, de modo sistemtico e,
a s s i m , a j u d a r a p r o p a g a r
verdadeiros valores humanos,
proporcionar equilbrio emocional
e encorajamento espiritual.
3. Disseminar a ideia de que todo ser
vivo uma centelha da Divindade
S u p r e m a , u m d i a m a n t e
transcendental que pode ser
lapidado atravs de prticas de vida
simples e de pensamento elevado.
Se procurarmos a palavra
lapidar nos dicionrios, veremos
que ela carrega em si alguns
conceitos muito expressivos. No
que se refere s pedras preciosas,
essa palavra est ligada a talhar,
polir, lavrar e aperfeioar. Mas, ela
tambm pode ser traduzida como
educar, cultivar e, novamente,
polir e aperfeioar. Por isso, uma
pessoa educada chamada de
polida. Na nossa logomarca,
inserimos a imagem do diamante
na palma de uma mo singela e
multicolorida, que representa a
mo magnnima do Criador. Ela se
encontra aberta e, num gesto
mstico, est nos oferecendo suas
bnos.
Como sabemos, o diamante o
mais precioso dos minerais. Sua
in igua lve l prec ios idade
explicada pelo fato de ele ser o mais
antigo de todos os materiais
existentes na Terra e, ao mesmo
tempo, o ma i s re s i s tente .
Curiosamente, quando refletimos
no verdadeiro ser que habita no
ntimo de cada entidade viva, nos
deparamos com um ponto
fundamental que sugere uma bela
analogia: o corpo nada mais do
que a mera cobertura do verdadeiro
Eu, que pode ser comparado a um
diamante espiritual, infinitamente
precioso, eterno e imutvel.
Segundo a Bhagavad-gt, o livro
que nos serve como principal (1)
referncia , o Eu verdadeiro a
conscincia, aquilo que d vida ao
corpo. Portanto, nada pode ser
mais precioso do que ela .
Diferentemente do corpo, que
feito de matria, a conscincia (ou a
alma) de natureza espiritual
eterna, o que significa dizer que ela
sempre existiu e sempre existir.
Portanto, a alma mais antiga do
que o primeiro diamante da Terra!
Mas, ser que, alm de preciosa e
e te rna , a a lma t ambm
resistente? ...Segundo a Gt, nada
mais resistente do que a alma,
pois ela imutvel e nada desse
mundo pode afet-la ou destru-la.
Vamos ref letir sobre as suas (2)
qualidades :
Para a alma, em tempo algum,
existe criao ou destruio. Ela
no passou a existir ou passar a
existir a partir de um momento da
histria. Ela no-nascida, eterna,
sempiterna, primordial e no
morre juntamente com o corpo (...)
Ela no pode ser ferida por
nenhuma arma, queimada pelo
fogo, umedecida pela gua ou
definhada pelo vento. Ela
i n q u e b rve l , i n d i s s o l ve l ,
permanente, imutvel e est em
toda parte.
1. Com profundo
respeito por todas as
convices filosficas e
religiosas, criar grupos
com interesse em
discutir a aplicao
prtica da cincia
universal de bhakti no
cotidiano do homem
moderno.
2. Divulgar os
ensinamentos da
Bhagavad-gita e demais
escrituras vdicas de
modo sistemtico e,
assim, ajudar a
propagar verdadeiros
valores humanos,
proporcionar equilbrio
emocional e
encorajamento
espiritual.
3. Disseminar a ideia de
que todo ser vivo uma
centelha da Divindade
Suprema, um diamante
transcendental que
pode ser lapidado
atravs de prticas de
vida simples e de
pensamento elevado.
06
A m i s s o L a p i d a r
S E O 0 1
07
O sucesso nos diferentes empreendimentos depende muito da dedicao, do
entusiasmo e da pacincia da pessoa, que so frutos da confiana. Isso no
diferente no que diz respeito espiritualidade. Portanto, para seguir seu
caminho com confiana e firmeza, o aspirante precisa saber onde est pisando,
tem que conhecer os obstculos que eventualmente iro surgir e, ao mesmo
tempo, precisa estar preparado para agir quando se defrontar com eles. De fato,
preciso muita compreenso e discernimento para no se exaltar ou se
deprimir desnecessariamente.
ma confiana baseada em
Ure f e r n c i a s f a l s a s o u insuficientes pode levar a pessoa a se super estimar e a criar
uma entusiasmo sem fundamento,
o que ir prend-la nas armadilhas
do ego falso. Por outro lado, por
falta de compreenso espiritual
adequada, uma pessoa pode
esmorecer e naufragar num mar de
dvidas e desnimo. De fato, sem
bom senso, a possibilidade da
desistncia ou da confiana
exagerada ser um fato concreto.
Logo, o propsito dessa seo,
composta pelas 5 primeiras lies,
dar subsdios para que o aspirante
em bhakti possa entender melhor
esse no caminho para seguir sua
jornada com confiana equilibrada.
I n d e p e n d e n t e m e n t e d o
segmento espiritual escolhido por
algum, todos precisam de
referncia das diferentes escrituras
r e ve l a d a s , b e m co m o d a s
experincias anteriores das
grandes almas que, por terem
seguido as diretrizes escriturais,
obtiveram resultados maravi-
lhosos. Por isso, Ka afirma que
muitas pessoas no passado, atravs
das prticas devocionais do bhakti-
yoga, puderam superar os trs
principais obstculos da vida: o
apego, o medo e a ira (Gt 4.10) e
despertaram sua conscincia
transcendental. Ele revela tambm
quais so os dois segredos da vida
espiritual: conhecimento (jna) e
austeridade (tapas). Trata-se de
uma combinao perfeita. Por um
lado, a pessoa cultiva seriamente o
conhecimento transcendental e,
por outro, aplica-o na sua vida
pessoal. Essa postura to eficiente
que, mesmo hoje em dia, quando
observamos os resultados daqueles
que esto aplicando essa frmula,
constatamos o sucesso de sua
aplicabilidade. De qualquer modo,
devemos cons iderar que o
conhecimento transcendental
apresentado nessas 25 lies
universal, milenar e j passou pelas
difceis provas do tempo e da
contextualizao. Embora, nos
diferentes momentos da histria
humana, o tempo, o lugar e as
circunstncias sejam diferentes,
e n te n d e m o s q u e t a n to o s
problemas quanto as solues so
sempre as mesmas.
Problemas materiais, solues
espirituais, dizia o mestre. A ideia
que, embora as solues materiais
tragam tambm alguns valiosos
benefcios, elas no solucionam
definitivamente os problemas, pois
dificilmente atuam na eliminao
da verdadeira causa: a falta de
conscincia de Deus. Por isso, o
mestre tambm comparava as
solues materiais com o ato de
s o p r a r o f u r n c u l o. D e
qualquer modo, a confiana e o
entusiasmo na vida espiritual so
frutos de experincias pessoais,
pois a fora para eliminar os maus-
hbitos depende de um trabalho
interior, que onde acontecem as
mudanas de paradigmas.
Problemas materiais,
solues espirituais,
dizia o mestre.
No h como negar que
as solues materiais
trazem tambm alguns
valiosos benefcios, mas
geralmente elas no
solucionam
definitivamente os
problemas, pois
dificilmente atuam na
eliminao da
verdadeira causa:
a falta de conscincia
de Deus.
L I O 01
A v i b r a o t r a n s c e n d e n t a l d o m a h a - m a n t r a
Desde o primeiro contato da
pessoa com o conhecimento
vdico, quando um mundo novo se
descortina, ela se v diante de
diversas modalidades de yoga e
diferentes mtodos de meditao,
ambos acompanhados de uma
infinidade de mantras. Alguns
desses mantras se destinam a obter
bnos materiais dos semideuses,
outros proteo do corpo e da
mente. Alguns garantem eficincia
no combate dos inimigos, outros
oferecem cura s doenas. Embora
haja vrias promessas, bom saber
que existem mantras que oferecem
muito mais do que benefcios
temporrios efmeros. So mantras
que podem ajudar o ser vivo a
escapar do ciclo interminvel de
nascimentos e mortes e transferi-lo
ao mundo espiritual, assegurando-
lhe uma posio permanente e de
plena bem-aventurana. Um
desses mantras o Hare Ka,
tambm conhecido como mah-
mantra, o grande cntico da
libertao.
As trs palavras contidas nesse
poderoso mantra so referncias
diretas ao Absoluto e s Suas
e n e rg i a s e , p o r t a n to , s o
i n d i s c u t v e i s a g e n t e s d e
purificao. De fato, quem pratica
com regularidade esse canto
transcendental pode experimentar
o desvanecimento gradual das
i m p u re z a s q u e h av i a m s e
acumulado na mente. Entretanto, a
sua atuao no se limita a isso.
Depois dessa purificao inicial, os
santos nomes passam a penetrar
delicadamente a conscincia do ser
vivo e agem de modo a produzir o
despertar de sua natureza
constitucional.
Como esse surpreendente e
maravilhoso processo acontece
explicado filosoficamente por rla
Prabhupda. A explicao que
daremos a seguir est baseada em (1)
seus ensinamentos :
A v ibrao t ranscendenta l
estabelecida pelo canto de Hare
Ka Hare Ka Ka Ka Hare
Hare | Hare Rma Hare Rma Rma
Rma Hare Hare o mtodo sublime
para revivermos nossa conscincia
de Ka.
A ideia que o cantar ajuda o ser
vivo a reviver sua conscincia
original e verdadeira, que agora est
encoberta pela poluio da
atmosfera material. Em outras
palavras, todo ser vivo uma alma
e s p i r i t u a l o r i g i n a l m e n t e
consciente de Deus, mas, por viver
na atmosfera material de my
(iluso), insiste na tentativa v de
ser o senhor da natureza material.
My significa aquilo que no .
Um bom exemplo dessa my
acontece quando o ser vivo, em
nome de tentar explorar os recursos
da natureza material, acaba se
enredando em suas complexidades
e fica cada vez mais dependente
dela. Essa mentalidade ilusria
pode ser removida pelo cantar
constante do mah-mantra, ou o
grande cntico da libertao da
mente. rla Prabhupda continua a (2)
explicar :
Por experincia prtica tambm, a
pessoa pode perceber que,
cantando este mah-mantra, ela
pode de imediato sentir um xtase
transcendental proveniente da
camada espiritual. E quando estiver
r e a l m e n t e n o p l a n o d e
c o m p r e e n s o e s p i r i t u a l
superando as fases dos sentidos,
mente e inteligncia , ela situa-se
no plano transcendental.
Como provm diretamente da
plataforma espiritual, o mantra
Hare Ka ajuda o praticante
sincero a sentir seus efeitos
08
Alguns mantras se
destinam a obter
bnos dos
semideuses, outros
proteo do corpo e da
mente. Alguns garantem
eficincia no combate
dos inimigos, outros
oferecem cura s
doenas. Mas, existem
mantras que oferecem
muito mais do que
benefcios temporrios
efmeros, pois podem
ajudar o ser vivo a
escapar do ciclo e
nascimentos e mortes e
transferi-lo ao mundo
espiritual, assegurando-
lhe uma posio
permanente e de plena
bem-aventurana.
O CANTAR CUMPRE TODOS OS
PROPSITOS DOS VEDAS
J que a literatura vdica
tambm prope uma variedade de
prticas espirituais, tais como yoga,
meditao e diferentes sacrifcios e
austeridades, algum poder
questionar se o cantar um
processo completo. Em resposta, (4)
podemos citar a Gt que garante
que o cantar do santo nome cumpre
todos os propsitos dos Vedas:
Todos os propsitos satisfeitos por
u m p o o p e q u e n o p o d e m
imediatamente ser satisfeitos por
um grande reservatrio d'gua.
Similarmente, todos os propsitos
dos Vedas so cumpridos para
aquele que conhece o propsito
subjacente.
Sobre esse ponto, h duas
consideraes importantes. Uma
que os diferentes rituais e
sacrif cios mencionados na
literatura vdica tem como
finalidade o encorajamento do
desenvolvimento gradual da
autorrealizao. A outra que a
etapa em que a entidade viva
individual revive sua conscincia
de Ka a mais elevada perfeio
do conhecimento vdico. Ora, se o
cantar se destina especificamente a
esse reviver da conscincia, no h
necessidade de outro mtodo alm
dele. As seguintes palavras (5)
confirmam isso :
meu Senhor, uma pessoa que
esteja cantando Seu santo nome,
embora nascida em famlia inferior
como a de um cala (comedor de
ces), est situada na mais elevada
plataforma da autorrealizao. Essa
pessoa deve ter executado todas as
espcies de penitncias e sacrifcios
segundo os rituais vdicos e, tendo
tomado seu banho em todos os
lugares santos de peregrinao, na
certa estudou os textos vdicos
muitssimas vezes. Tal pessoa
considerada a melhor da famlia
ariana.
09
extticos. Superando passo a passo
as trs camadas inferiores de
conscincia a corprea ou
sensual, a mental e a intelectual a
pessoa atinge a plataforma
transcendental. Para finalizar sua
explicao do mah-mantra, rla (3)
Prabhupda diz :
A palavra Har a forma de dirigir-
se energia do Senhor, e as palavras
Ka e Rma so formas de se
dirigir ao prprio Ka. Tanto
Ka quanto Rma significam o
prazer supremo, e Har a suprema
energia de prazer do Senhor,
modificada para Hare no vocativo.
A suprema energia de prazer do
Senhor ajuda-nos a alcanar o
Senhor.
A energia material, chamada my,
tambm uma das multifrias
energias do Senhor. E ns, as
entidades vivas, tambm somos
uma energia a energia marginal
do Senhor. As entidades vivas so
descritas como superiores energia
material.
Quando a energia superior est em
contato com a energia inferior, uma
situao incompatvel surge, mas
quando a energia marginal superior
est em contato com a energia
superior, chamada Har, a entidade
viva se estabelece em sua condio
normal e feliz.
Essas trs palavras, a saber, Hare,
Ka e Rma, so as sementes
transcendentais do mah-mantra. O
canto uma maneira espiritual de
dirigir-se ao Senhor e Sua energia
interna, Har, pedindo-Lhes que
d e e m p r o t e o a l m a
condicionada.
Esse canto exatamente como o
choro genuno de uma criana por
sua me. A me Har auxilia o
devoto a alcanar a graa do
supremo pai Hari, ou Ka, e o
Senhor Se revela ao devoto que
canta esse mantra sinceramente.
Nenhum outro mtodo de
percepo espiritual, portanto,
to eficaz nesta era quanto o canto
do mah-mantra: Hare Ka Hare
Ka Ka Ka Hare Hare | Hare
Rma Hare Rma Rma Rma Hare
Hare.
rla Prabhupda explica ainda
que os sintomas de uma pessoa
realmente inteligente, e que
compreende o propsito dos Vedas,
que ele no se deixa apegar apenas
aos seus rituais e rejeita a ideia de se
elevar aos reinos celestiais visando
uma qua l idade melhor de
satisfao dos sentidos.
Especialmente nesta era, um
homem comum incapaz de seguir
todas as regras e regulaes dos
rituais vdicos e de estudar
exaustivamente as escrituras
avanadas como o Vednta e as
Upaniads, pois ele carece de
recursos para por em prtica os
propsitos dos Vedas. A concluso
que o melhor propsito da cultura
vdica alcanado cantando o
santo nome do Senhor, como foi
re co m e n d a d o p e l o S e n h o r
Caitanya:
Como a maioria da populao no
recebe treinamento espiritual,
cumpre melhor o propsito dos
Vedas quem canta puramente o
santo nome do Senhor. Vednta a
ltima palavra em sabedoria vdica,
e o autor e conhecedor da filosofia
vednta o Senhor Ka; e o maior
vedantista a grande alma que
Quando a energia
superior est em
contato com a energia
inferior, uma situao
incompatvel surge, mas
quando a energia
marginal superior est
em contato com a
energia superior,
chamada Hara, a
entidade viva se
estabelece em sua
condio normal e feliz.
Bhakti em 25 lies
quando a maioria leva a vida
afastada da meditao, dos
sacrifcios vdicos e da adorao s
Deidades, a possibilidade de
liberao atravs desses trs
processos se tornou praticamente
nula. Em outras palavras, estamos
em grande desvantagem, pois,
alm do nosso tempo ser reduzido,
somos afligidos frequentemente
por doenas fsicas e emocionais.
Na realidade, o cultivo da filosofia,
as prticas do yoga mstico ou a
e specu lao f i los f i ca so
insuficientes para nos livrar dos
maus-hbitos.
Com a influncia nefasta desta
era, os grupos religiosos ou ligados
s atividades caritativas se
tornaram carentes de fora
espiritual e, geralmente, em vez de
serem realizados para purificar a
conscincia, se destinam ao mero
desfrute. Se, nos dias de hoje, j
d i f c i l e n c o n t r a r p e s s o a s
interessadas em entender o
verdadeiro significado de vida
espiritual, o que dizer encontrar
algum que se disponha a aplicar
com determinao as respectivas
disciplinas? Isso para no dizer que
existem obstculos que so
praticamente intransponveis.
Portanto, devido a esse panorama
to desfavorvel, o bondoso Senhor
Se compadece e, assim, Se oferece
atravs do krtana, ou o cantar dos
santos nomes.
O cantar dos santos nomes
tanto o processo (sdhana) quanto
o objetivo (sdhya). No que se refere
a faci l i tar a l iberao dos
praticantes (sdhakas), nada pode
ser mais eficiente do que esse
mtodo. Na verdade, mesmo que as
pessoas fortemente enredadas nos
assuntos mundanos encontrem
dificuldade em adotar o sdhana
com a devida seriedade, qualquer
pequeno esforo nesse cantar
poder produzir verdadeiros
milagres. Isso ocorre porque os
santos nomes de Ka so
comparados a uma rvore-dos-
desejos transcendental que
outorga diferentes bnos aos
mais variados praticantes. Por
exemplo, atravs do cantar, um
materialista poder alcanar
verdadeira religiosidade, fortuna,
desfrute e at a liberao. Mas, as
almas purificadas e entregues aos
ps de ltus do Senhor recebem da
rvore-dos-desejos dos santos
nomes a meta suprema da vida:
ka-prema, amor puro por Ka!
Como Ka e Seu nome so
absolutamente idnticos, uma
nica Verdade Absoluta, tudo est
contido e includo nele e faz dele a
m a i s d i n m i c a f o r m a d e
espiritualidade. A vibrao dos
santos nomes manifesta bondade
espiritual plena, pois personifica a
doura mais elevada. Nesta era, o
som transcendental dos nomes do
Absoluto veio ao mundo para
ajudar o praticante a se familiarizar
com os demais aspectos do
Absoluto: Sua forma transcen-
dental, qualidades divinas e
atividades inconcebveis. Como
Ka o Absoluto, Sua forma
s i n g u l a r m e n t e b e l a , S u a s
qualidades e passatempos so
idnticos a Ele. O cantar do nome
de Ka, portanto, o agente
poderoso que conecta o praticante
Sua bela forma, s Suas
qualidades e demais atributos e
preenche seu corao com
harmonia plena.
(1, 2 e 3) Canes Vainavas (pg. 14 e 15).
(4) yvn artha udapne... (Gt 2.46).
(5) aho bata va-paco 'to gariyn... (Bhg. 3.33.7).
10
sente prazer em cantar o santo
nome do Senhor. Esse o objetivo
ltimo de todo o misticismo vdico.
NADA PODE SER MAIS EFICIENTE
O processo de autorrealizao
na era de Satya consistia na
meditao. Numa atmosfera
plenamente favorvel, os sbios se
concentravam profundamente no
Senhor do corao. Quando
alcanavam a pureza espiritual,
eles eram premiados com o tesouro
de bhakti. Na era de Tret, o sucesso
espiritual consistia em satisfazer o
Senhor atravs da execuo de
s a c r i f c i o s e x t r e m a m e n t e
impecveis, enquanto na era de
Dvpara, o Senhor concedia
devoo pura queles que aderiam
perfeitamente senda da adorao
Deidade. Mas, nesta era de Kali,
Mesmo que as pessoas
fortemente enredadas
nos assuntos mundanos
encontrem dificuldade
em adotar o sadhana
(disciplinas) com a
devida seriedade,
qualquer pequeno
esforo nesse cantar
poder produzir
verdadeiros milagres.
Isso ocorre porque os
santos nomes de
Krishna so comparados
a uma rvore-dos-
desejos transcendental
que outorga diferentes
bnos aos mais
variados praticantes.
LIO 01 | A vibrao transcendental do maha-mantra
11
L I O 0 2
A a u t o r i d a d e d o s V e d a s e a s g l r i a s d a G i t a
H quatro influncias a que
todos esto sujeitos, a saber,
tendncia iluso, propenso a
cometer erros e a enganar os outros
e percepo sensorial defeituosa.
Infelizmente, no incomum
constatar pessoas manifestando
um ou mais desses defeitos de uma
s vez. Diante desse quadro, como
algum pode adquirir conhecim-
ento perfeito?
Os Vedas afirmam que, alm de
ser a fonte original de todo
conhecimento, seus textos so
sagrados e de origem supra-
mundana. Ou seja, por ser
originalmente transmitidos pela
Pessoa Suprema, uma fonte
completamente transcendental, os
Vedas esto isentos dos quatro
defeitos anteriormente mencio-
nados. O receptor original desse
conhecimento foi o primeiro ser
vivo, Brahm, que existia antes
mesmo dessa criao material.
Brahm foi dotado de poder pelo
Senhor para criar o mundo material
com o propsito de dar uma nova
o p o r t u n i d a d e s a l m a s
condicionadas que no alcanaram
a liberao na criao anterior.
Depois de cumprir essa misso,
Brahm transmitiu o conhecimento
que recebera da Pessoa Suprema ao
sbio Nrada. O sbio, por sua vez, o
transmitiu a seu discpulo
Vysadeva que, com o propsito de
preserv-lo, registrou-o na forma
literria h cerca de cinquenta
sculos.
A GITA NO CONTEXTO VDICO
Uma vez que os Vedas tm como
p ro p s i to l t i m o fo r n e ce r
conhecimento sobre autorrea-
lizao espiritual, os seus temas so
compreendidos apenas por pessoas
com excepcionais qualidades. Por
esse motivo, no incio da era de Kali,
o grande sbio Vysa dividiu os
Vedas em vrios ramos, tornando
esse conhecimento acessvel s
pessoas comuns e sem tanto brilho
intelectual. Compreendendo que a
maioria das pessoas se interessam
muito mais por narrat ivas
fascinantes do que por filosofia
profunda, ele preparou tambm o
Mahbhrata, uma compilao
admirvel repleta de histrias que
prendem a ateno de qualquer
tipo de pessoa. Assim, atravs do
Mahbhrata, Vysadeva quis atrair
os leitores com a incrvel histria da
disputa pelo trono entre as
dinastias Kaurava e Pava. Sua
estratgia que, no momento mais
crtico da histria exatamente
quando a Batalha de Kuruketra
est por comear Ka entra em
cena e transmite Sua mensagem
maravilhosa na forma da Bhagavad-
gt. Na verdade, toda a trama
p o l t i c a e e n v o l v e n t e d o
Mahbhrata no passa de um
arranjo divino para prender a
ateno dos leitores para que Ka
derrame o oceano infinito de
instrues sublimes sob a forma da
Bhagavad-gt, a nata dos Vedas.
Nesta era atual ningum
verdadeiramente qualificado para
estudar toda a imensido dos textos
vdicos, tais como os Puras,
Upaniads, Vednta-stra, etc., mas
por estudar simplesmente a
Bhagavad-gt uma pessoa poder
se elevar ao estado de sabedoria e
iluminao transcendental. Basta
que ela seja fiel e que tenha o desejo
sincero de se livrar das garras da
existncia material e alcanar uma
existncia eterna e plena de
fe l i c idade . Cons id era - se a
Bhagavad-gt como o livro perfeito
para a introduo de valores
e s p i r i t u a i s . S u a f u n o
primeiramente elevar a conscincia
do seu estudante para lhe dar
condies para que inicie o seu
estudo da filosofia Vednta atravs
da leitura do Bhgavatam e,
posteriormente, elev-lo ao
bhgavata-dharma, a ocupao no
servio amoroso ao Senhor.
Segundo os Vedas, o cosmos
material se manifesta em ciclos de
quatro eras: Satya, Tret, Dvpara e
Kali. A era de Satya caracterizada
pelas boas virtudes e todos os seres
humanos que vivem na Terra so
repletos de qualidades divinas. Na
era de Tret, h um declnio das
virtudes e a Terra passa a abrigar ao
mesmo tempo seres divinos e seres
demonacos. Na era de Dvpara, o
aumento da irreligio e da
Nesta era atual ningum
verdadeiramente
qualificado para estudar
toda a imensido dos
textos vdicos, tais
como os Puranas,
Upanisads, Vedanta-
sutra, etc., mas por
estudar simplesmente a
Bhagavad-gita uma
pessoa poder se elevar
ao estado de sabedoria
e iluminao
transcendental.
Basta que ela seja fiel e
que tenha o desejo
sincero de se livrar das
garras da existncia
material e de alcanar
uma existncia eterna e
plena de felicidade.
12
f o i c o l o c a d o e m i l u s o
pessoalmente pelo Senhor, que
d e s e j a v a t r a n s m i t i r o s
ensinamentos da Bhagavad-gt
para as futuras geraes. Ao
representar o papel de uma pessoa
absorta em sofrimento material e
formular perguntas relevantes
sobre os verdadeiros problemas da
vida, Arjuna ajudou as prximas
geraes a compreender os
mistrios mais intrigantes da nossa
condio humana. Em outras
palavras, ele ilustra a condio
daqueles que, influenciados pela
existncia material, so forados a
c o n v i v e r c o m f r e q u e n t e s
ansiedades e temores. A lio a se
aprender que, assim como Arjuna,
ningum tem a capacidade de
encontrar as devidas solues para
os problemas que surgem na vida
(independentemente do nvel de
educao ou inteligncia que se
possa ter), pois a vida prtica
como o campo de Kuruketra onde
acontece a todo instante a batalha
entre o bem e o mal, o religioso e o
irreligioso, o tico e o no tico.
Do ponto de vista material, a
associao entre uma pessoa e
outra depende do contato pessoal
fsico, mas, no que diz respeito
associao espiritual, isso
diferente. Na realidade, no campo
absoluto, Ka e Suas instrues
so absolutamente idnticos.
Portanto, Ka transmitiu a Gt
p a ra q u e to d o s te n h a m a
oportunidade de receber Suas
instrues mesmo que Ele esteja
fora do alcance da viso material.
Como ficar claro na leitura desta
obra, o Senhor possui poderes
inconcebveis e pelo Seu divino
desejo a energia material pode ser
espiritualizada. A concluso que a
Gt uma representao sonora do
Senhor, no-diferente Dele e,
portanto, estuda-la a melhor
maneira de recebermos Sua
associao direta.
A ESCOLHA DO CENRIO
Por que, para expor a cincia
eterna da alma, r Ka escolheu o
cenrio de uma guerra, onde, nos
momentos seguintes, haveriam
milhes de vtimas?
Enquanto experimenta uma
condio de felicidade e conforto,
uma pessoa comum no busca
seriamente por conhecimento
espiritual e nem procura por Deus.
Mas, uma pessoa piedosa percebe
que a melhor alternativa diante de
alguma calamidade se refugiar no
Senhor. J que as perplexidades
fazem parte desse mundo, melhor
encar-las como oportunidades
para se buscar uma relao tangvel
com Deus e, assim, progredir em
compreenso espiritual.
Batalha significa mortes e
mortes, perda de corpos. Portanto,
pelo arranjo da Providncia,
Arjuna representou o papel de uma
pessoa que, mesmo tendo recebido
profundo treinamento espiritual,
sofre um tipo de apago da
conscincia no momento mais
crucial da vida, e, dominado pela
iluso, se esquece do conhecimento
espiritual adquirido. Deixando-se
l e v a r p e l o e g o f a l s o , e l e
desconsidera que o verdadeiro Eu
a alma espiritual e, assim,
demonstra uma identificao
desmedida com seu corpo e com os
corpos ligados a ele por afeio
familiar. Diante do seu grande
sofrimento e temor, ele decide
sabiamente aceitar Ka como seu
mestre espiritual e Lhe faz
perguntas de grande relevncia. A
condio adversa na qual Gt foi
falada indica que todos podem se
valer dessas instrues atemporais,
por mais dif cil que seja a
circunstncia. Se Arjuna foi capaz
de praticar a obedincia ao Senhor
enquanto lutava fortemente no
campo de batalha, o que dizer de
uma pessoa que vive numa
impiedade se acentua a ponto do
divino e do demonaco passarem a
v i v e r n a m e s m a f a m l i a .
Finalmente, na era de Kali, ou era
das trevas, h um predomnio total
de i r re l ig io, h ipocr i s ia e
desavenas, e a natureza divina e
demonaca habitam lado a lado no
mesmo corpo. Desse modo, foi h
cinco mil anos, entre o final da era
de Dvpara e o comeo da era de
Kali, que r Ka veio Terra para
t r a n s m i t i r p a r a A r j u n a o
co n h e c i m e n to s u b l i m e d a
Bhagavad-gt e, assim, remover
todas as suas dvidas, ansiedades e
lamentaes.
Como um eterno companheiro
de Ka, o guerreiro Arjuna est
sempre fora da iluso. dito que ele
Por que, para expor a
cincia eterna da alma,
Sri Krishna escolheu o
cenrio de uma guerra,
onde, nos momentos
seguintes, haveriam
milhes de vtimas?
Enquanto experimenta
uma condio de
felicidade e conforto,
uma pessoa comum no
busca seriamente por
conhecimento espiritual
e nem procura por Deus.
Mas, uma pessoa
piedosa percebe que a
melhor alternativa
diante de alguma
calamidade se
refugiar no Senhor.
LIO 02 | A autoridade dos Vedas e as glrias da Gita
13
condio muito mais tranquila?
De acordo com sua posio social, o
dever do guerreiro Arjuna era se
ocupar na batalha. Mas, essa
mesma regra deveria ser aplicada
numa situao em que parentes e
benquerentes se apresentam como
adversrios? Outra importante
considerao era a presena da
t o d o - a u s p i c i o s a S u p r e m a
Personalidade de Deus no campo
sagrado de Kuruketra. Ao mesmo
tempo que Ka desejava a
batalha, Ele pregava a paz interior e
a serenidade mental. Como
conciliar tantas diversidades?
A BATALHA ENTRE O BEM E O MAL
Considerando a sua posio
como guerreiro, claro que Arjuna
deveria cumprir seu dever de
prosseguir na batalha com firmeza.
Porm, no se deve pensar que a
batalha girava simplesmente em
torno de interesses materiais.
claro que o interesse dos filhos de
Dhtarra era mundano. Mas, o
interesse de Arjuna e seus irmos,
os Pavas, era o de unicamente
promover o dharma e estabelecer a
justia e paz no mundo. Entretanto,
como conciliar seus deveres de
guerreiro com os sentimentos
amorosos que Arjuna nutria pelos
seus membros familiares?
medida que o leitor progride
em seus estudos da Bhagavad-gt,
ele passa a entender claramente
que a batalha verdadeira seria
travada entre o bem e o mal, o
divino e o demonaco. Os
menc ionados sent imentos
amorosos podem ser comparados
aos apegos e aos desejos mundanos,
enquanto a figura do simples
g u e r re i ro, a o ve rd a d e i ro
guerreiro espiritual adormecido
no interior de todos. evidente que
a famlia e os amigos no so
necessariamente inimigos da vida
espiritual, mas como no exemplo
dos Kauravas e seus aliados, isso
poder acontecer. Nesse caso, um
verdadeiro guerreiro espiritual no
poder recuar e desistir da luta.
Como nos esclarece o Mestre
Jesus, temos que odiar o pecado, e
no o pecador. um fato que todo
aquele que tem um propsito
sincero de prosseguir firme na sua
vida espiritual deve estar preparado
para travar uma batalha com o
pecado em seu interior, mas
nunca declarar guerra com os ditos
pecadores que existem fora dele.
No caso da batalha de Kuruketra, a
vitria de Arjuna sobre Duryodhana
e seu grupo mal-intencionado
significaria que toda a sociedade da
poca inclusive das prximas
geraes receberia os benefcios.
De forma semelhante, uma vitria
espiritual no campo de batalha da
nossa conscincia significar que,
na verdade, todos nossos familiares
e amigos, indiretamente, recebero
v e r d a d e i r o s b e n e f c i o s
especialmente nossos filhos e
demais descendentes.
rla Prabhupda frequen-
temente mencionava em suas
palestras e conversas que uma
pessoa que recupera plenamente a
sua conscincia espiritual, ou
conscincia de Ka, garante a
liberao de todos os seus parentes
por dez geraes anteriores e dez
geraes posteriores. Desse modo,
assim como, ao cumprir seu dever
de confrontar com os aliados a
Duryodhana, Arjuna estava em
completa consonncia com o
dharma e no incorreria no menor
pecado, de forma semelhante, uma
pessoa sincera que ajusta sua vida
de forma madura, responsvel e
inteligente com as instrues dadas
pelo Senhor na Bhagavad-gt, est
em totalmente harmonia com as
leis supremas e universais que
regem o padro mais elevado de
tica. Agindo assim, ela tambm
b e n e f i c i a r to d o s o s s e u s
familiares.
A natureza de Arjuna o adornava
com as qualidades santas, tais como
o d e s a p e g o , o p e r d o , a
A batalha verdadeira
seria travada entre o
bem e o mal,
o divino e o demonaco.
Os mencionados
sentimentos
amorosos podem ser
comparados aos apegos
e aos desejos
mundanos, enquanto a
figura do simples
guerreiro, ao
verdadeiro guerreiro
espiritual adormecido
no interior de todos.
indulgncia, etc. Portanto, foi por
uma questo de compaixo que
Arjuna quis desistir da luta e
abandonar seu dever de guerreiro.
Embora, de um modo geral, essa
atitude seja plenamente louvvel,
do ponto de vista de quem tem o
compromisso de proteger a
sociedade, essa postura foi
considerada um ato de covardia,
pois a pessoa nunca deve colocar
seus interesses familiares acima
dos seus deveres para com toda a
sociedade. Alm de tudo que foi
dito, devemos considerar que r
Ka, a Suprema Personalidade de
Deus, estava ao lado de Arjuna
isso transformava a batalha numa
a t i v i d a d e c o m p l e t a m e n t e
transcendental. Portanto, a deciso
de Arjuna de no lutar era definiti-
vamente incorreta, pois ele tinha a
seu lado a presena auspiciosa de
Ka, que o protetor eterno do
dharma. Isso garantia a liberao
ltima de todos os guerreiros que
tivessem que ser sacrificados em
nome do dharma.
Bhakti em 25 lies
L I O 0 3
S a b o r e a n d o u m g o s t o s u p e r i o r
Mais uma vez, vamos contar
com a a juda da Gt para
entendermos um dos mais
importantes temas desse estudo a
substituio dos prazeres materiais
pelos prazeres da vida espiritual, os
quais so superiores.
A alma corporificada pode se
restringir do prazer dos sentidos,
embora o gosto pelos objetos dos
sentidos permanea. Porm,
interrompendo tais ocupaes ao
experimentar um gosto superior, (1)
ela se fixa em conscincia .
De fato, uma pessoa identificada
com o corpo e com as iluses desse
mundo no ter como evitar o
desfrute mundano dos sentidos.
Ela poder tentar se abster
artif icialmente dos prazeres
mater ia is , o que pode ser
comparado postura de um doente
que se priva de alguns alimentos
que lhe so atrativos somente por
uma questo de sade. claro que,
at certo ponto, essa restrio pode
ser til, mas aquele que est
plenamente satisfeito por conhecer
as glrias do Supremo e por
desfrutar da Sua beleza e
amorosidade no precisa dessa
restrio artificial. Por estar
empregando de modo natural os
sentidos, a mente e o intelecto na
vida espiritual, ela pode perceber
com total clareza que seu corpo
um veculo perfeito para ser usado
para a autorrealizao. Com o
tempo, essa compreenso se
aprofunda e faz com que a pessoa
definitiva-mente perca o gosto
pelas coisas materiais inspidas e
mortas.
Os sentidos so to fortes e
impetuosos, Arjuna , que
arrebatam fora at mesmo a
m e n t e d e u m h o m e m d e
discriminao que se esfora por (2).
control-los
N a s e s c r i t u r a s v d i c a s ,
encontramos histrias de muitos
yogs, sbios e filsofos eruditos que
no obtiveram xito em controlar
os sentidos, apesar de suas
rigorosas penitncias e prticas de
yoga. Isso mostra que, sem ocup-
los em atividades transcendentais,
praticamente impossvel obter
resultado positivo e duradouro.
Para se interromper as ocupaes
materiais, preciso conectar as
funes da mente (sentir, pensar e
desejar) Transcendncia e a tudo
relacionado Ela. Um exemplo
prtico dado por r Ymuncrya,
um grande santo e devoto do sculo
passado, que afirmou que desde o
momento em que passou a se
ocupar no servio aos ps de ltus
do Senhor Ka, sua experincia
de prazer transcendental ganhava
vida nova a cada instante. Assim,
quando sua mente se lembrava ou
propunha o gozo dos sentidos
mundanos, seu rosto imediata-
mente se contorcia e ele rejeitava tal
pensamento. Isso uma evidncia
de que, por conceder prazer
espiritual superior, a conscincia
de Ka um fenmeno to
poderoso que torna desinteres-
sante o prazer mundano e de
qualidade inferior. Uma pessoa
consciente de Ka comparado a
um homem que tenha satisfeito sua
fome com suficiente quantidade de
alimentos nutritivos e saborosos.
Aquele que restringe seus sentidos,
mantendo-os sob completo
controle, e fixa sua conscincia em
Mim, conhecido como um (3)
homem de inteligncia estvel .
O significado desse verso que,
ao manter a conscincia fixa em
K a , u m a p e s s o a e s t a r
cumprindo com a mais elevada da
perfeio da prtica do yoga. Caso
c o n t r r i o , n o l h e s e r
absolutamente possvel controlar
os sentidos. Existe uma famosa
histria de um desentendimento
entre o grande yog mstico Durvs
e o rei Ambara. Devido ao orgulho,
Durvs acabou se zangando toa
com Ambara e, assim, perdeu o
controle dos seus sentidos e o
ofendeu. Entretanto, mesmo no
sendo um yog to poderoso como
ele, Ambara era um grande devoto
do Senhor e, por isso, foi capaz de
tolerar pacificamente as injustias
do sbio. Suas qualificaes so (4)
abaixo mencionadas :
O rei Ambara fixou sua mente nos
ps de ltus do Senhor Ka,
ocupou suas palavras na descrio
da morada do Senhor, suas mos
em limpar o Templo do Senhor,
Por estar empregando
de modo natural os
sentidos, a mente e o
intelecto na vida
espiritual, ela pode
perceber com total
clareza que seu corpo
um veculo perfeito para
ser usado para a
autorrealizao.
Com o tempo, essa
compreenso se
aprofunda e faz com que
a pessoa definitiva-
mente perca o gosto
pelas coisas materiais
inspidas e mortas.
14
seus ouv idos em ouv i r os
passatempos do Senhor, seus olhos
em ver a forma do Senhor, seu corpo
em tocar o corpo do devoto, suas
narinas em cheirar o aroma das
flores oferecidas aos ps de ltus do
Senhor, sua lngua em saborear as
folhas de tulas oferecidas a Ele, suas
pernas em viajar para o lugar santo
onde Seu Templo est situado, sua
cabea em oferecer reverncias ao
Senhor e seus desejos em cumprir
os desejos do Senhor.
Diferentemente de alguns
mtodos de yoga e meditao que
no enfatizam a ocupao prtica
da mente e dos sentidos, o processo
d e b h a k t i - y o g a o f e r e c e a
possibilidade de envolv-los
plenamente no processo de
autorrealizao. Com isso, fica
mais fcil abandonar o conceito de
vida mundana. rla Prabhupda
comenta:
Se uma criana tem nas mos
alguma coisa para comer, e lhe
oferecemos algo mais saboroso, ela
deixa de lado o gosto inferior pelo
superior. Assim tambm, na
conscincia de Ka, oferecemos
melhores ocupaes, vida melhor,
filosofia melhor, conscincia
melhor tudo melhor. Portanto,
aqueles que se ocupam em servio
devocional podem abandonar as
a t i v i d a d e s p e c a m i n o s a s e
promoverem-se conscincia de
Ka.
Devemos simplesmente nos
reunir com outros devotos com o
intuito de aprender sobre Ka,
cantar e danar com eles e, ao final,
nos deliciarmos com o alimento
santificado. Mas, ainda assim,
algumas pessoas relutam em
aceitar essa frmula prazerosa e
preferem uma vida impura,
caracterizada pela intoxicao,
promiscuidade e consumo de
alimentos imprprios. O que se
pode fazer?
A BUSCA NATURAL PELO PRAZER
Quando foi informado que, ao
ser mascada, a cana-de-acar
produzia um sabor muito doce e
agradvel, um certo homem se
interessou em provar sua doura.
Como ela ?, perguntou cheio de
curiosidade. Ela se parece com um
bambu, responderam-lhe. O
homem tolo, ento, passou sua vida
mascando todos tipos de bambus
que encontrava pela frente, mas
morreu sem conhecer o verdadeiro
sabor doce da cana-de-acar.
De forma similar, estamos o
tempo todo buscando por
felicidade e prazer, mas, ser que
fazemos ideia real do que eles
significam? Nesse mundo, existe
intensa propaganda de que a
felicidade e prazer se encontram na
sociedade, amizade ou amor
mundanos, mas, na realidade, isso
no passa de bambus secos, de onde
no se pode extrair verdadeiro
nctar. Por outro lado, existe a
afirmao vdica de que nossa
existncia se destina felicidade.
Nesse caso, onde podemos
encontr-la?
Nessa busca, temos que, antes
de mais nada, compreender que
somos muito mais do que meros
corpos materiais temporrios.
Somos centelhas individuais da
D i v i n d a d e S u p r e m a q u e ,
temporariamente, est ocupando
este veculo chamado corpo.
imprescindvel que a pessoa se
entenda como tal, pois isso ir livr-
la da identificao com o ego falso,
ou o eu inferior. Em suma, medida
que ela estiver identificada com o
eu inferior, continuar dando as
costas para Deus e se distanciar
cada vez mais da sua verdadeira
identidade, do seu Eu superior.
A verdadeira ocupao do Eu
superior o servio devocional
amoroso, que fonte de eternidade,
conhecimento e real felicidade e,
em essncia, verdadeiramente
mais doce do que a cana-de-acar.
Em algum momento, a pessoa ter
que despertar a percepo da
divindade dentro dela e ter de se
voltar para Deus. Somente, ento,
ela deixar de ser como o homem
tolo que permanece mascando os
bambus secos da existncia
material, vida aps vida.
A ALMA TAMBM
PLENA DE BEM-AVENTURANA
Ka define a alma como
m a m a i v a h , u m a p a r t e (5)
integrante do Supremo , enquanto
o Supremo definido no Vednta-
stra como: Aquele que pleno de (6)
bem-aventurana por natureza .
Ora, se a alma individual parte do
Supremo e o Supremo pleno de
bem-aventurana, ela tambm
plena de bem-aventurana.
Entretanto, o seu livre arbtrio lhe
permite fazer suas prprias
15
Na ndia, encontramos
yogis que aceitam votos
muito estritos de
austeridades (tapasya).
Alguns acendem um
crculo de fogo em volta
de si, sentam e
meditam, em pleno
vero escaldante;
outros entram nos rios
glidos, em pleno
inverno rigoroso e, com
gua at o pescoo,
ocupam-se em
meditao.
A conscincia de
Krishna, porm, no
exige nada disso.
Bhakti em 25 lies
escolhas. Assim sendo, quando
escolhe abandonar a companhia do
Supremo e decide tentar sua sorte
no mundo material ilusrio, ela
perder sua bem-aventurana
natural. rla Prabhupda explica
melhor esse ponto:
A Suprema Personalidade de Deus
Se expandiu em muitos por Sua
s e m p r e c r e s c e n t e b e m -
aventurana espiritual, e as
entidades vivas so partes e parcelas
dessa bem-aventurana espiritual.
Elas tambm tm independncia
parcial, mas por abuso de sua
independncia sua atitude de
servio se transforma na propenso
ao gozo dos sentidos e elas ficam
dominadas pela luxria.
Este mundo criado pelo Senhor de
tal maneira que, devido ao
s o f r i m e n t o e d e c e p e s
acumuladas de muitas vidas, a alma
se frustra em sua busca v de prazer,
quando comea a questionar,
Quem sou eu?, Como poderei
realmente ser feliz?, etc. No
Vednta-stra est dito, janmdy
asya yata: O Supremo a origem
de tudo. Sendo assim, a propenso
de buscar prazer tambm existe na
prpria Suprema Personalidade de
Deus, r Ka. Em outras palavras,
se temos a tendncia de buscar
prazer por que Deus, como origem
de tudo, tambm busca por prazer.
Somos inf initesimais e nos
contentamos com um prazer
i g u a l m e n t e i n f i n i t e s i m a l .
Entretanto, uma vez que as
manifestaes de Ka so
infinitas, o Seu prazer tambm
infinito.
Quando queremos prazer, no
podemos obt-lo sozinhos e, assim,
procuramos prazer na companhia
da sociedade, amizade e amor. Da
Quando queremos
prazer, no podemos
obt-lo sozinhos e,
assim, procuramos
prazer na companhia da
sociedade, amizade e
amor. Da mesma forma,
para expandir o Seu
prazer, Krishna, a
Verdade Absoluta, o
Supremo Desfrutador,
expande-Se
infinitamente. Isso
explica a existncia de
infinitas almas
individuais, que so
Suas partes integrantes
e se destinam a dar
prazer a Ele. Quando se
dedica a cumprir esse
propsito, a alma no
apenas se livra de todas
as espcies de
sofrimento, mas
tambm alcana seu
estado original de
eternidade,
conhecimento e bem-
aventurana plena.
16
mesma forma, para expandir o Seu
prazer, Ka, a Verdade Absoluta, o
Supremo Desfrutador, expande-Se
infinitamente. Isso explica a
existncia de infinitas almas
individuais, que so partes
integrantes de Ka e se destinam a
dar prazer a Ele. Quando se dedica a
cumprir esse propsito, a alma no
apenas se livra de todas as espcies
de sofrimento, mas tambm
alcana seu estado original de
eternidade, conhecimento e bem-
aventurana plena. Portanto, a
alma uma potncia de prazer
i n f i n i t e s i m a l d o S e n h o r.
Desempenhando seu papel, ela
sentir felicidade ilimitada. Para
isso, ela precisar simplesmente
abandonar o abrigo falso de may, a
energia ilusria, e aceitar o abrigo
da potncia de prazer principal de
r Ka. Essa potncia divina se
personifica na forma de rmat
Rdhr, a mocinha que est
sempre ao lado de Ka, dando
prazer a Ele. Porque Ela a principal
fonte de prazer de r Ka, Rdh
est sempre junta Dele. Assim, se
quisermos nos aproximar de Ka,
precisamos da misericrdia de
rmat Rdhr, a potncia de
prazer de Ka.
(1) viay vinivartante... (Gt 2.59).
(2) yatato hi api kaunteya... (Gt 2.60).
(3) tni sarvi samyamya... (Gt 2.61).
(4) sa vai manah ka... (Bhg. 9. 4.18-20).
(5) mamaivmo jva-loke (Gt 15.7).
(6) nanda-mayo 'bhyst... (Vednta-stra 1.1.12).
LIO 03 | Saboreando um gosto superior
L I O 0 4
P e r c e b e n d o a p r e s e n a d o A b s o l u t o
D e p o i s d e t e r o u v i d o
diretamente de Ka os quatro
importantes versos que descrevem ( 1 )
Sua opulncia , Arjuna se
emociona e O proclama como a
Verdade Absoluta. Ele aceita
totalmente como verdade tudo o
que acabara de ouvir e reconhece
que, alm de Ka, ningum
capaz de compreender Sua
personalidade divina. Portanto,
Arjuna pede para que Ele prprio
descreva Suas opulncias atravs
das quais Ele Se manifesta e (2)
mantm tudo :
mstico supremo, como devo
pensar em Voc e como devo Lhe
conhecer? Quais Suas vrias formas
que devem ser lembradas?
Descreva, por favor, em detalhes o
poder mstico de Suas opulncias,
pois nunca me canso de ouvir sobre
Voc. Na verdade, quanto mais ouo,
mais quero saborear o nctar de Suas
palavras.
Ao ser indagado assim, Ka
concorda em descrever uma
minscula parcela de Suas
opulncias, pois deseja que Seus
devotos O conheam ao mximo,
embora saiba que eles no sero
capazes de conhec-Lo por
completo em nenhuma fase da
vida. Em outras palavras, os
devotos compreendem a grandeza
e as opulncias de Ka de acordo
com suas respectivas habilidades,
assim como cada pssaro voa no cu
t a n to q u a n to p e r m i te s u a
capacidade. De qualquer modo,
sentir grande deleite ao ouvir,
cantar os santos nomes e comentar
exaust ivamente os tp icos
t r a n s c e n d e n t a i s u m a
caracterstica marcante do bhakta.
Segue abaixo um resumo descritivo
das principais manifestaes
divinas feita pelo prprio Ka, a (3)
Suprema Personalidade de Deus :
Eu sou a Superalma situada nos
coraes de todas as entidades
vivas. Eu sou o princpio, sou o meio
e o fim de todos os seres (...) Entre as
luzes, sou o Sol radiante; entre as
es t re las , sou a Lua . . . Dos
semideuses, sou Indra, o rei dos
cus; dos sentidos, sou a mente; e
nos seres vivos, sou a fora viva
(conscincia). De todos os Rudras,
sou o Senhor iva (...) Dos corpos de
gua, sou o oceano; das vibraes,
sou o o transcendental; dos
sacrifcios, sou o cantar dos santos
nomes (japa); e dos objetos inertes,
sou os Himlayas (...) De todas as
rvores, sou a figueira-da-bengala;
dos sbios entre os semideuses, sou
Nrada e entre os seres perfeitos,
sou o sbio Kapila (...) e entre os
homens, sou o monarca (...) Das
armas sou o raio; entre as vacas sou a
surabhi, das causas que fomentam a
procriao, sou Kandarpa, o deus do
amor; e das ngas de muitos
capelos, sou Ananta. Entre os seres
aquticos, sou o semideus Varua;
entre aqueles que impem a lei, sou
Yama, o senhor da morte (...) e entre
os subjugadores, sou o tempo.
Entre os animais selvagens, sou o
leo; e entre as aves, sou Garua.
Dos purificadores, sou o vento; dos
manejadores de armas, sou Rma;
dos peixes, sou o tubaro; e dos rios
que correm, sou o Ganges. De todas
as criaes, sou o comeo, o fim e
tambm o meio. De todas as
cincias, sou a cincia espiritual do
eu; e entre os lgicos, sou a verdade
conclusiva. Das letras, sou a letra A
( . . . ) Sou tambm o tempo
inexaurvel, e dos criadores, sou
Brahm. Eu sou a morte que tudo
d e vo r a e s o u o p r i n c p i o
encarregado de gerar tudo o que vai
existir. Entre as mulheres, sou a
fama, a fortuna, a linguagem afvel,
a memria, a inteligncia, a firmeza
e a pacincia (...) Da poesia, sou o
Gyatr; dos meses, sou novembro e
dezembro; e das estaes, sou a
primavera florida. Sou tambm a
jogatina em que se fazem trapaas, e
do esplndido, sou o esplendor. Eu
sou a vitria, a aventura e a fora dos
fortes. Dos descendentes de Vi,
sou Vsudeva; e dos Pavas, sou
Arjuna. Dos sbios, sou Vysa, e
entre todos os meios que reprimem
a ilegalidade, sou o castigo; e
daqueles processos que visam
vitria, sou a moralidade. Das
coisas secretas, sou o silncio; e dos
sbios, sou a sabedoria. Sou
tambm a semente geradora de
todas as existncias. No existe ser
algum mvel ou inerte que possa
existir sem Mim. poderoso
vencedor dos inimigos, Minhas
17
Quanto mais uma
pessoa reconhece as
opulncias do Senhor,
mais desenvolve sua
devoo e mais
desperta seu interesse
na vida espiritual.
Assim, sua inclinao
por ouvir os temas
espirituais e por cantar
os santos nomes s
aumenta. Com isso,
alm de sua f e
devoo serem
fortalecidas, ela
desenvolve inteligncia
espiritual, amplia seu
discernimento e, por
dirimir suas dvidas e
superar sua iluso,
sente mais facilidade
em abandonar seus
maus hbitos.
manifestaes divinas nunca
chegam ao fim. O que te disse
apenas um mero indcio de Minhas
opulncias infinitas.
TUDO MANIFESTAO DO
PODER DO SENHOR
Assim como o corpo existe
devido presena da alma
individual, a manifestao csmica
existe unicamente porque a Alma
Suprema, Ka, est presente nela
atravs de Sua energia, sem a qual,
nada poderia existir. Portanto, tudo
quer seja material ou espiritual
no passa de uma manifestao do
poder do Senhor. Desse modo,
quando nos deparamos com
alguma coisa de extraordinria
opulncia, devemos entend-la
como um fragmento da opulncia
mstica do Senhor. Na verdade,
quanto mais uma pessoa reconhece
o Senhor por trs de ta is
opulncias, mais ela desenvolve sua
devoo e mais desperta seu
interesse na vida espiritual. Assim,
sua inclinao por ouvir cada vez
mais os temas espirituais e por
cantar os santos nomes s
aumenta. Com isso, alm de sua f e
devoo serem fortalecidas, ela
desenvolve inteligncia espiritual,
amplia seu discernimento e, por
dirimir suas dvidas e superar sua
iluso, sente mais facilidade em
abandonar seus maus hbitos. Ou
seja, um verdadeiro bhakti-yog
alm de conseguir diferenciar a
energia espiritual da energia
material, compreende tambm que
o Senhor a fonte de ambos. Com
isso, a interao constante com Ele
se torna absolutamente natural.
O glorioso Arjuna pode ouvir
diretamente do Senhor sobre Sua
prpria natureza transcendental, o
que uma verdadeira bno. Mas,
no devemos pensar que tal bno
exclusividade dele, j que esse
mesmo conhecimento vem sido
transmitido at os dias de hoje pela
sucesso discipular e continua
acessvel a todos os interessados.
Portanto, a pessoa que recebe e
estuda a Bhagavad-gt nessa
corrente de sucesso discipular
tambm muito afortunada, pois
e s t p r o t e g i d a d a s f a l s a s
interpretaes. Como estudaremos
m a i s f r e n t e , r e c e b e r o
conhecimento atravs da sucesso
discipular constitui a maior
oportunidade de aprender a arte da
interao com Deus. Por outro
lado, qual seria o benefcio em
receber a Gt de um acadmico
materialista e envaidecido pela sua
erudio mundana?
A SUPERALMA EST EM TODO TOMO
Como uma manifestao
temporria da energia do Senhor,
esse mundo material se caracteriza
pela iluso. Na verdade, tudo o que
existe um produto da combinao
de matria e esprito, e tudo se
desenvolve devido presena da
Superalma, o Senhor Viu que
habita cada tomo. Ela a grande
causa deste Universo, Nela tudo
repousa e por Ela tudo mantido. A
verdadeira finalidade de se praticar
yoga poder perceb-La em cada
mil metro dessa criao e,
finalmente, prestar-Lhe servio
devocional.
Na etapa preliminar, o Supremo
pode ser percebido atravs da
manifestao de Suas energias,
assim como o Sol percebido
p r i m e i ra m e n te a t rav s d a
manifestao de sua energia. Mas,
no podemos nos esquecer que por
trs de toda energia h sempre um
energtico, uma fonte. Portanto,
enquanto os bhakti-yogs percebem
Deus como a Pessoa Suprema, a
fonte de toda energia; outros s
conseguem perceb-Lo como
energia impessoal. Por exemplo, o
Senhor afirma que o sabor da
gua. Alguns entendem que o
Absoluto a prpria energia que
proporciona o sabor da gua,
enquanto os bhaktas glorificam
diretamente a bondade da Pessoa
Suprema em nos suprir com gua
pura. Ambos esto corretos e no
h verdadeira contradio entre as
duas vises. O que existe, de fato,
a diferena de nveis de percepo
espiritual. H uma bela descrio
na Bhagavad-gt em que Ka
revela a Arjuna como possvel
perceber Sua presena em tudo. O
que se segue uma traduo livre (4)
dessa descrio :
Querido amigo, meditar em Mim e
estar sempre comigo muito
simples, pois Eu sou a vida presente
em tudo e a semente eterna de toda
existncia. Quando, nas noites
frias, teu corpo suplica por
conforto, mesmo que no saibas, tu
M e d e s e j a s , p o i s o c a l o r
aconchegante sou Eu.
Quando tua garganta seca clama
por gua, na verdade tu Me chamas,
pois o sabor agradvel da gua
tambm sou Eu.
Quando teu corpo faminto anseia
por sustento, mesmo que no
saibas, tu Me queres, pois o suco da
vida presente nos alimentos sou Eu.
E, quando nos momentos de
lamentao, rogas por alvio, na
verdade, imploras por Mim, pois Eu
sou o verdadeiro refgio.
Quando o Sol aparece e ilumina o
dia, essa luz divina que te enche de
vida sou Eu a te animar. E quando a
lua nasce e refresca a noite, esse
frescor suave sou Eu a te acalentar.
Quando a chuva cai na terra e
produz um delicado aroma, essa
fragrncia doce sou Eu a te inspirar.
E quando, diante do mais
angustiante pesar, experimentas
conforto, esse alvio repentino sou
Eu a te consolar. Portanto, quem
sempre Me v em todas as coisas
desfruta eternamente de Minha
companhia. Para essa grande alma,
Eu dou o que ela necessita e
preservo o que ela j possui.
18
LIO 04 | Perecebendo a presena do Absoluto
(1) aham sarvasya prabhavo... (Gt 10. 8-11).
(2) katham vidym aham yogims... (Gt 10. 17-18).
(3) aham tm gudkea... (Gt 10. 20-40).
(4) Extrado do Cd
Meditando com Ka, do mesmo autor.
N a s e s c r i t u r a s v d i c a s ,
encontramos vrias citaes que
do nfase importncia da
associao com os devotos de
Ka. Isso porque, sem a ajuda
deles, no h como conhecer
verdadeiramente r Ka, Seus
ensinamentos, passatempos e
demais aspectos. De fato, devido s
prticas regulares de bhakti, os
devotos desenvolvem inteligncia
devocional e, assim, obtm acesso
aos mistrios da compreenso da
Suprema Personalidade de Deus.
Quanto a isso, encontramos a (1)
seguinte citao :
somente atravs de bhakti que
algum pode Me compreender
como sou, como a Suprema
Personalidade de Deus. E quando,
mediante tal devoo, desenvolve
plena conscincia de Mim, ele pode
entrar no reino de Deus.
No que se refere compreenso
e percepo espiritual, ningum
poder ir muito longe valendo-se
unicamente da especulao mental
ou baseando-se na opinio dos
no-devotos. De fato, existem
enigmas transcendentais que os
cticos, agnsticos, ateus ou
mesmo aqueles que nunca tiveram
experincias prticas com bhakti
so incapazes de decifrar. Nem
mesmo uma pessoa que se limita
em visitar formalmente um Templo
de Ka para Lhe oferecer
adorao interesseira pode
compreend-Lo.
LIBERTAO DAS
CONCEPES MATERIAIS
Como afirma rla Prabhupda,
Se algum quer compreender a
Suprema Personalidade de Deus,
ele deve aceitar a orientao de um
devoto puro e tambm adotar o
servio devocional. Caso contrrio,
L I O 0 5
O v a l o r d a a s s o c i a o d o s d e v o t o s
a verdade sobre a Suprema
Personalidade de Deus nunca se
manifestar. Ka mesmo diz que
Se reserva ao direito de no Se
revelar queles que limitam-se
erudio acadmica ou simples-
mente se submetem s severas
austeridades, penitncias ou
prticas do mstico . claro (2)
yoga
que todos esses processos so de
grande valia, mas, no que diz
respeito compreenso das
verdades mais confidenciais de
D e u s , e s s e s s e m o s t r a m
insuficientes. Mas, quando se tem
associao com algum que j
familiarizado com a cincia de
Ka (em outras palavras, com um
devoto), fica muito mais fcil
compreender as qualidades
transcendentais e as opulncias do
Senhor Supremo. Aquele que tem a
associao dos devotos muda
gradualmente sua mentalidade e,
com o tempo, se promove fase
conhecida como em brahma-bhuta,
que se liberta das concepes
materiais. O item mais importante
para se alcanar essa fase
bhagavat-ravana, uma referncia
importncia de ouvir os tpicos
sobre o Absoluto. Quanto a isso,
rla Prabhupda diz:
Quando ele ouve sobre o Senhor
Supremo, a fase brahma-bhuta
desenvolve-se automaticamente e a
contaminao material a
ganncia e a luxria inerentes ao
gozo dos sentidos desaparecem.
medida que a luxria e os desejos
desaparecem do corao do devoto,
ele se torna mais apegado a servir o
Senhor, e com esse apego se livra da
contaminao material. Nesse
estado de vida, ele capaz de
compreender o Senhor Supremo.
AS CARACTERSTICAS DOS DEVOTOS
Ser um devoto no quer dizer ser
impecavelmente perfeito, acertar
sempre, manifestar o mximo de
excelncia em todos os campos de
atuao. Muito menos, nunca
falhar, no cometer o menor erro,
no ter nenhum momento de
fragilidade, no recuar, no chorar.
O devoto chora, mas no se
lamenta, pois usa sua lgrima como
combustvel que alimenta o fogo do
d e s e j o d e re co n s t r u i r s u a
personalidade devocional. O
devoto tambm erra, mas faz de seu
erro uma oportunidade de cultivar
humildade verdadeira e, assim, no
cria mscaras para se esconder atrs
delas. Ser devoto no significa
sentir-se simplesmente todo-
poderoso e, por conta prpria,
tentar cruzar qualquer barreira ou
superar qualquer obstculo que a
vida lhe impuser. Diante da
19
Ser devoto no significa
sentir-se todo-poderoso
e tentar cruzar por conta
prpria qualquer
barreira ou superar os
diferentes obstculos
que a vida lhe impuser.
Diante da poderosa
energia material, o
devoto admite sua
pequenez e fragilidade.
Assim, para se livrar da
repetio dos erros, ele
usa os possveis
fracassos do dia a dia
para corrigir rotas e
melhorar o seu
desempenho.
poderosa energia material, o
devoto admite sua pequenez e
fragilidade. Assim, para se livrar da
repetio dos erros, ele usa os
possveis fracassos do dia a dia para
corrigir rotas e melhorar o seu
desempenho.
Quando tudo se encaminha
bem, o devoto adepto da
humildade e da simplicidade, mas,
ao mesmo tempo, se mantm
atento para as possveis mudanas
do tempo.
Quando as coisas se tornam
difceis, ele amante da gravidade e
da introspeco, mas continua
amigo da humi ldade e da
simplicidade, pois sabe que elas so
as razes da pacincia e da
tolerncia qualidades impres-
cindveis para quem se prope a
cruzar com segurana qualquer
tempestade.
O devoto tem motivos de sobra
para nunca desacreditar da vida
espiritual, para nunca desistir ou
perder a determinao, pois sua
mente, purificada pelo santo nome,
o ensinou a arte de destilar
sabedoria dos momentos difceis.
Seu corao, suavizado por
austeridades voluntrias, aprendeu
a fazer escolhas, que no incluem
apenas ganhos, mas implica
pr inc ipa lmente em perdas
conscientes.
Ser devoto significa entender
que cada ser um diamante
infinitamente valioso, uma das
obras-primas mais perfeitas de
Ka. Signif ica respeitar a
individualidade de todos e saber
que, mesmo tendo sido escrita com
insegurana, frustrao e falhas,
toda vida tambm ilustrada com
parcelas de sinceridade, ousadia e
sucesso.
Para um devoto que entende que
a vida que pulsa dentro dele e,
certamente, dentro de todos o
prprio Ka, como poderia ser
diferente? Como ele poderia deixar
de respeitar algum incluindo a si
mesmo se ele sabe que cada ser
um mundo maravilhoso a ser
explorado, um diamante a ser
lapidado, um jardim a ser
cultivado?
Ser devoto significa entender
que s existimos porque Ka
existe e que, assim como a alma d
vida ao corpo, Ele d vida alma.
Ser devoto no significa fazer
parte de uma massa que teme a arte
da crtica saudvel, dissimula a
dvida, duvida de tudo, mal
i n t e r p r e t a o s ve r d a d e i r o s
p e n s a d o r e s , t e c e c r t i c a s
inescrupulosas. Ele aprende com a
experincia alheia, no para repetir
a dor dos que vieram antes, mas
para seguir os passos das grandes
almas do presente e do passado.
Um verdadeiro devoto est to
empenhado em proteger seu
tesouro interior, obtido pela graa
do guru, e to ocupado em cuidar da
sua trepadeira da devoo que
nunca v motivos para se deprimir
ou perder o entusiasmo.
Sua gratido tamanha que,
mesmo quando contrariado ou
criticado, no sente a menor pena
de si mesmo, pois se compara ao
pobre garimpeiro que, depois de
passar a vida toda removendo
cascalhos, finalmente encontrou o
maior de todos os diamantes!
Ser devoto significa no se sentir
a causa do prprio avano espiritual
e muito menos culpar algum por
seu regresso.
Nem signif ica manifestar
somente desejos imaculados. Sua
mente pode produzir pensamentos
e desejos indesejveis, mas ele a
observa com ateno e exercita
constantemente o seu gerencia-
mento para, assim, poder ter
controle sobre suas emoes.
Um devoto no perito em
resolver unicamente os problemas
externos, mas d tambm total
ateno aos internos.
No significa que ele est
disposto unicamente a ajudar aos
outros, mas tambm humilde a
ponto de pedir ajuda deles.
20
Ele sempre transparente e
estabelece relacionamentos
verdadeiramente confiveis, sabe
em quem confiar e se comporta de
modo a ser tambm absolutamente
confivel, pois muito consciente
da importncia de ser uma
excelente associao para os
outros.
Entendendo que possvel
avanar em conhecimento e prtica
a cada dia e sempre, sua vida gira em
torno de cultivar a veracidade, de
desenvolver gestos, atitudes e
hbitos devocionais. Com isso, ele
nunca se lamenta, nem deseja nada
materialmente e substitui a
propenso a criticar pela propenso
a elogiar. Mas, todas essas suas
caractersticas so secundrias e
externas. Seu principal predicado,
e de onde surgem naturalmente os
outros, que sua meta est
claramente definida: tornar-se um
exemplo vivo dos ensinamentos do
seu mestre. Assumindo para si a
responsabilidade de represent-lo
da maneira mais impecvel
possvel, ele no apenas adornado
com belssimas e profundas
qualidades devocionais, mas
contribui na perpetuao das
glrias imensurveis de seu
Gurudeva!
(1) bhakty mam abhijnti... (Gt 18.55).
(2) nham prakah sarvasya... (Gt 7.25).
LIO 05 | O valor da associao dos devotos
21
S E O 0 2
No captulo 6 da Gita, Arjuna revela sua dificuldade de conter sua mente, que,
segundo ele, inquieta, instvel, turbulenta, obstinada e muito forte.
Admitindo a complexidade dessa tarefa rdua, Krishna expressa Sua opinio
transcendental: Sem dvida, muito difcil refrear a mente inquieta, mas
isso possvel pela prtica constante e pelo desapego. Quanto a isso,
Prabhupada comenta que, na era atual, ningum consegue se refugiar num
lugar sagrado, focalizar a mente na Superalma, refrear os sentidos e a mente,
observar celibato, etc. Entretanto, pela prtica da conscincia de Krishna,
podemos nos ocupar em uma grande diversidade de prticas devocionais.
A mais importante
dessas ocupaes
devocionais ouvir
sobre Krishna. Esse
um poderosssimo
mtodo que elimina da
mente todas as dvidas.
Quanto mais praticamos
o ouvir, mais nos
iluminamos e nos
desapegamos de tudo o
que afasta a mente de
Krishna. Assim, ao
impedir que a mente se
interesse por atividades
mundanas e ocupando-
a em autorrealizao,
fica mais fcil praticar o
desapego da matria.
mais importante dessas ocupaes devocionais ouvir sobre Ka.
AEsse um poderosssimo mtodo que elimina da mente todas as dvidas. Quanto mais praticamos o ouvir, mais nos iluminamos e nos desapegamos de tudo o que afasta a mente de Ka. Assim, ao impedir
que a mente se interesse por atividades mundanas e ocupando-a em
autorrealizao, fica mais fcil praticar o desapego da matria. O desapego
espiritual impessoal mais difcil do que fazer a mente se apegar s
atividades de Ka. Isso prtico porque, ouvindo sobre Ka, logo nos
apegamos ao Esprito Supremo. Embora, nessa era atual, no se exija
grandes austeridades, desapego ou penitncias at porque o homem
moderno incapaz de adotar tais prticas importante que se saiba que o
xito na vida espiritual (salvo algumas raras excees) ser proporcional ao
grau de dedicao do praticante. De fato, quanto mais a pessoa se dedica a
ouvir o conhecimento transcendental, mais os vus da iluso se dissipam,
eliminando as impurezas que afastariam sua mente da Transcendncia.
Assim sendo, ao perder seu interesse pelas atividades mundanas, a vida
espiritual se torna cada vez mais natural e prazerosa.
Assim como um homem faminto experimenta satisfao medida que
ingere o alimento, de modo semelhante, as prticas do servio devocional
provm satisfao transcendental e produz desapego gradual dos objetivos
materiais. Quanto mais ouvir sobre as atividades transcendentais do
Sen
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