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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 27 (II série) De 16 a 29 de Maio de 2007 1 euro (iva incluído) Moda em duas das 7 Maravilhas COIMBRA FASHION NA INTERNET PÁG. 3 PÁG. 4 Universidade disponibiliza 550 anos de História Exposição colectiva de pintura de Luís Albuquerque, Célia Brandão e Conceição Mendes “Queima” foi de arromba REMODELAÇÃO POESIA PÁG. 6 e 7 PÁG. 2 Encontro Internacional e prémio da FLUC PÁG. 12 e13 Rui Pereira substitui António Costa A “Queima das Fitas” da Academia de Coimbra terá sido das mais animadas dos últimos anos, como documentam as muitas imagens que publicamos nesta edição

O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

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Page 1: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |

Autorizado a circular em invólucro

de plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 27 (II série) De 16 a 29 de Maio de 2007 ���������� 1 euro (iva incluído)

Moda

em duas

das 7

Maravilhas

COIMBRA FASHION NA INTERNET

PÁG. 3PÁG. 4

Universidade

disponibiliza

550 anos

de História

Exposição colectiva de pintura de Luís Albuquerque,Célia Brandão e Conceição Mendes

“Queima” foi de arromba

REMODELAÇÃO POESIA

PÁG. 6 e 7PÁG. 2

Encontro

Internacional

e prémio

da FLUC

PÁG. 12 e13

Rui Pereira

substitui

António

Costa

A “Queima das Fitas” da Academia de Coimbra terá sido das mais animadas dos últimos anos,

como documentam as muitas imagens que publicamos nesta edição

Page 2: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

2 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007

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Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

NACIONAL

Maria Manuel Leitão Marques vaiassumir a partir de amanhã (quinta-feira) a nova Secretaria de Estado daModernização Administrativa, tendoliderado desde 2005 a Unidade de Co-ordenação da Modernização Adminis-trativa.

Professora catedrática da Faculda-de de Economia da Universidade deCoimbra desde 2003, vai dirigir umanova Secretaria de Estado, uma mu-dança na orgânica do Governo na se-quência da substituição de AntónioCosta por Rui Pereira à frente do Mi-nistério da Administração Interna(MAI).

Licenciada em Direito pela Facul-dade de Direito da Universidade deCoimbra, Maria Manuel Leitão Mar-ques coordenou o Observatório do En-dividamento dos Consumidores e oObservatório Permanente da JustiçaPortugueses e diversos projectos na-cionais e internacionais nas áreas doDireito Económico e da Sociologia doDireito.

A Unidade de Coordenação da Mo-dernização Administrativa (UCMA)está integrada na Presidência do Con-

selho de Ministros e na dependênciado Ministro de Estado e da Adminis-tração Interna.

Esta Unidade foi responsável peloDocumento Único Automóvel, o Car-tão do Cidadão, que agrega o Bilhetede Identidade, cartões da SegurançaSocial, de contribuinte, de utente doServiço Nacional de Saúde e de elei-tor.

É ainda responsável pelo Simplex,programa de simplificação administra-tiva e legislativa que engloba um con-junto de iniciativas que visam facilitara vida dos cidadãos e das empresas.

Maria Manuel Leitão Marques éainda autora de diversas publicaçõesem português, inglês e francês sobretemas como segurança alimentar, so-breendividamento, crédito, consumo etribunais.

A Secretária de Estado da Moder-nização Administrativa, que vai ficarna dependência do Ministro da Presi-dência, e Rui Pereira, novo Ministroda Administração Interna, tomam pos-se amanhã (quinta-feira), às 10:00 noPalácio de Belém.

Da equipa que estava com António

Costa mantém-se José Magalhãescomo Secretário de Estado Adjunto eda Administração Interna, Ascenso Si-mões como secretário de Estado daProtecção Civil e Fernando RochaAndrade como Subsecretário de Es-tado da Administração Interna.

Eduardo Cabrita, Secretário de Es-tado Adjunto e da Administração Lo-

O actual juiz do Tribunal Consti-tucional (TC) Rui Pereira, ontem in-dicado pelo Governo para Ministroda Administração Interna, já desem-penhou funções neste Ministérioquando em Dezembro de 2000 subs-titui Luís Patrão como Secretário deEstado.

Antigo Sirector do Sistema de In-formações e Segurança (SIS), entre1997 e 2000, e até recentemente co-ordenador da Unidade de Missão paraa Reforma Penal, Rui Pereira leccio-

DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL PARA O GOVERNO

Rui Pereira substitui António Costanou Direito Penal na UniversidadeNova de Lisboa e foi um dos funda-dores do Observatório da Segurança,da Criminalidade Organizada e doTerrorismo (OSCOT).

Rui Pereira, 50 anos, catedrático,exerceu advocacia entre 1983 e 1990,altura em que tornou assessor junto doTribunal Constitucional, funções quemanteve até 1994, ano em que a suamulher, a juíza conselheira FernandaPalma, substituiu António Vitorino nocolectivo de juízes do Palácio Ratton.

No seu vasto currículo, Rui Pereiraconta com vários trabalhos científicossobre temas jurídicos, criminais econstitucionais e participou em diver-sas reformas legislativas, sendo apon-tado, por quem o conhece na intimi-dade, como um defensor dos direitos,liberdades e garantias.

Nascido a 24 de Março de 1956 emDuas Igrejas, no concelho de Miran-da do Douro, Rui Pereira concluiu oliceu em Chaves e licenciou-se emDireito, com 17 valores, pela Univer-

sidade Clássica de Lisboa. Na vidaparticular, é conhecido por ser benfi-quista, adepto de uma boa partida dexadrez, amante da culinária, sem es-quecer as suas raízes transmontanas.

Rui Pereira foi também membro doConselho Superior do Ministério Pú-blico (CSMP) e o seu nome chegou,em dado momento, a ser falado comoprovável Procurador-Geral da Repú-blica (PGR), mas seria o juiz conse-lheiro Pinto Monteiro a suceder a Sou-to Moura à frente da Procuradoria.

Maria Manuel Leitão Marques é a nova Secretária

de Estado da Modernização Administrativacal, mantém-se no cargo, mas passapara a dependência directa do Primei-ro-Ministro, José Sócrates.

Esta mudança na orgânica do Go-verno resulta da saída de António Cos-ta, que deixa se ser “número dois” doexecutivo de José Sócrates para secandidatar à Câmara de Lisboa naseleições intercalares de 1 de Julho.

“Transnatura Videolab”no Jardim Botânico

Cerca de quatro dezenas de filmes, de ficção e documentários, provenientesde diversos países, integram a programação do festival Transnatura Videolab,que se inicia depois de amanhã (sexta-feira) no Jardim Botânico de Coimbra,inspirado na relação entre corpo e pensamento.

Subordinada ao tema “Imagem-corpo/imagem-pensamento”, esta quarta edi-ção do Transnatura Videolab decorre até 16 de Junho, com a exibição ao arlivre, no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (UC), de uma série deobras oriundas de países europeus, Estados Unidos da América (EUA), Índia,Turquia, África do Sul ou Canadá, permitindo apreciar as novas tendências dofilme em vídeo.

Com entrada livre, as sessões decorrem a partir das 21:30 e compreendemainda, a 28 de Maio, a projecção do filme “Primavera, Verão, Outono, Inverno”,marcando o arranque do “Ciclo de Vida, Ciclo de Cinema”, organizado peloCentro de Psicopedagogia da UC.

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3DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007

O jornal “Centro” tem uma alician-te proposta para si.

De facto, basta subscrever uma as-sinatura anual, por apenas 20 euros,para automaticamente ganhar uma va-liosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expressa-mente concebido para o jornal “Cen-tro”, com o cunho bem característicodeste artista plástico – um dos maisprestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível inter-nacional, estando representado em co-lecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, como seu traço peculiar e a inconfundívelutilização de uma invulgar paleta decores, criou uma obra que alia grandequalidade artística a um profundo sim-bolismo.

De facto, o artista, para representara Região Centro, concebeu uma flor,composta pelos seis distritos que inte-gram esta zona do País: Aveiro, Caste-lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria eViseu.

Cada um destes distritos é represen-tado por um elemento (remetendo pararespectivo património histórico, arqui-tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta formatão original, está a desabrochar, sim-bolizando o crescente desenvolvimen-

to desta Região Centro de Portugal, tãorica de potencialidades, de História, deCultura, de património arquitectónico, dedeslumbrantes paisagens (desde as prai-as magníficas até às serras verdejantes)e, ainda, de gente hospitaleira e traba-lhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE, estamagnífica obra de arte, que está repro-duzida na primeira página, mas que temdimensões bem maiores do que aquelasque ali apresenta (mais exactamente 50cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-

ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que omanterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

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O Arquivo da Universidade de Coim-bra (AUC) anunciou ontem a disponibi-lização pública, em meados de 2008 eatravés da Internet, de mais de um mi-lhão de registos de nascimentos ou ca-samentos, entre outros documentos dosúltimos 550 anos.

“O projecto é todo ele gigantesco. Sãomais de um milhão de documentos, 570mil imagens, livros que perfazem 75 me-tros lineares” disse à agência Lusa Ma-ria José Santos, Directora do Arquivo daUniversidade de Coimbra.

Entre os documentos a digitalizar edisponibilizar na Internet contam-se 13mil livros paroquiais respeitantes a nas-cimentos, casamentos e óbitos no distri-to de Coimbra, desde 1459 (século XV)até à actualidade.

ARQUIVO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

VAI DISPONIBILIZAR NA INTERNET

Mais de um milhão de registos

de nascimento e casamento

dos últimos 550 anosCerca de 21 mil fichas de registos

notariais - escrituras de compra e vendade propriedades, testamentos ou doações- do mesmo período, integram igualmen-te o projecto.

“Estamos a falar de informação domais alto valor histórico, genealógico edemográfico. Trata-se de levar o conhe-cimento destas fontes históricas ao mai-or número de pessoas em todo o mundo,24 horas por dia”, frisou a responsáveldo AUC.

O projecto, intitulado “Digitalizarpara divulgar e preservar o conheci-mento”, estará concluído em meadosde 2008.

Envolve uma equipa de cinco pesso-as, que inclui técnicas superiores de ar-quivo e uma engenheira informática, ten-

do um custo estimado em cerca de 300mil euros, apoiado pelo Ministério da Ci-ência, Tecnologia e Ensino Superior, atra-vés do Programa Operacional POS-Co-nhecimento.

Os tradicionais ficheiros em papel, deconsulta apenas presencial nas instala-ções do AUC, serão convertidos em for-mato digital, permitindo, igualmente, pre-servar os documentos originais ao redu-zir a sua exposição pública “em nome damemória futura”.

O Arquivo da Universidade de Coim-bra possui cerca de 10 quilómetros deestantes, com documentos nacionais eprovenientes de países tão diversos comoAngola, Índia ou Brasil, entre outros, sen-do procurado por leitores e investigado-res de todo o mundo.

Uma das maiores conquistas daexploração espacial foi e é conhe-cer o planeta Terra, defendeu on-tem (terça-feira) em Coimbra Eli-zabeth Williams, responsável pelacooperação internacional daNASA (Agência Espacial Norte-Americana).

A cientista, que proferiu umaconferência sobre o tema“NASA, Agora e o Futuro” noMuseu da Ciência da Universida-de de Coimbra, sublinhou que umdos principais objectivos da agên-cia é estudar os efeitos das alte-rações climáticas na Humanidade.

Sublinhou ainda a importânciade algumas empresas portugue-sas que estão a criar softwarepara uso da agência espacial nor-te-americana, como, por exemplo,a Critical Software, com sede emCoimbra.

A NASA

em Coimbra

COIMBRA

Page 4: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

4 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007REPORTAGEM

Dois investigadores da Universida-

de de Coimbra defendem que a esta-

ção ferroviária da Lousã, cujo antigo

armazém de mercadorias está amea-

çado de destruição, deve ser preser-

vada como conjunto relevante do pa-

trimónio concelhio do século XX.

Para José Amado Mendes, especia-

lista em Arqueologia e Património In-

dustrial, o armazém da estação da Lou-

sã, a grua e o cais de carga, desacti-

vados há alguns anos, poderão ser reuti-

lizados para outros fins públicos, desig-

nadamente na área turístico-cultural.

Em Abril, um empresário da vila, Luís

Carvalho, mandou imprimir 2.000 pos-

tais ilustrados (com a imagem do arma-

zém, construído em madeira, e um tex-

to em que preconiza a sua manutenção)

e distribuiu-os aos cidadãos já com fran-

quia paga, incentivando o seu envio ao

presidente da Câmara Municipal.

“Acho que temos tratado mal o pa-

trimónio ferroviário português. Noutros

países, esse património tem sido valo-

rizado”, declara à agência Lusa Ama-

do Mendes, professor da Faculdade de

Letras da Universidade de Coimbra

(FLUC).

Nos anos 90, a CP demoliu diversos

edifícios adstritos ao Ramal da Lousã,

entre Coimbra B e Serpins, como os

abrigos dos apeadeiros da Trémoa e

Padrão, ou as habitações dos guardas

de passagem-de-nível no Arneiro e

Lousã: especialistas defendem património

ameaçado em ferrovia centenáriaLousã A.

Agora, um projecto de ligação rodo-

viária do centro da Lousã à variante

da EN-342, assumido pela Refer e pela

autarquia no âmbito do Sistema de Mo-

bilidade do Mondego (SMM, que visa

a instalação de um comboio ligeiro, o

“tram-train”, na ferrovia local), prevê

que sejam eliminados o cais de merca-

dorias, o armazém e a grua.

Se não for alterado o projecto do in-

terface rodo-ferroviário do SMM, será

destruído um conjunto emblemático da

Lousã do século XX, para dar lugar a

um parque de estacionamento, enquan-

to o edifício principal (onde residia o

chefe da estação, acolhendo bilhetei-

ras e diferentes serviços ferroviários

no rés-do-chão,) ficará isolado no cen-

tro de uma rotunda.

Outro docente da FLUC, Paulo Car-

valho, recomenda que a Câmara da

Lousã, a Refer e a Metro Mondego fa-

çam “todos os esforços para conciliar

aquilo que patrimonialmente é relevan-

te” com a modernização da Lousã, de-

vendo, nesse sentido, apostar na pre-

servação da estação dos comboios

como um conjunto.

“Trata-se de um espaço que vale

como um todo”, refere à agência Lusa

Paulo Carvalho.

Ao sugerir que a preservação passa

por atribuir aos imóveis ferroviários

uma função social ou cultural, alerta

que existe na zona “um tecido urbano

já consolidado”, que deve, dentro do

possível, ser respeitado.

“Precisam de nos demonstrar que

não é possível fazer nada” em sua de-

fesa, afirma, exigindo “que a socieda-

de tenha acesso aos projectos” em

causa, designadamente plantas e ou-

tras peças da obra.

Em 24 de Fevereiro, a convite da

Câmara da Lousã, de onde é natural,

Paulo Carvalho, doutorado em Geogra-

fia, apresentou uma conferência alusi-

va ao centenário do ramal.

Com o título “O caminho-de-ferro e

a construção da modernidade: uma ge-

ografia da memória da linha férrea Co-

imbra - Lousã”, o trabalho será publi-

cado na revista “Arunce”, editada pela

Biblioteca Municipal.

Tendo sabido, entretanto, que está

prevista a demolição do armazém da

estação, contestada já pelo PSD e BE,

Paulo Carvalho acrescentou uma nota

de rodapé ao artigo, por considerar que

“tudo deve ser feito” para evitar a

anunciada perda.

Em 16 de Dezembro de 1906, os sil-

vos de um comboio a vapor foram ou-

vidos pela primeira vez na linha que liga

Coimbra B (Linha do Norte) à Lousã.

Estão ainda a decorrer as comemo-

rações do centenário do mais impor-

tante investimento público de sempre

na região, que veio alterar radicalmen-

te a organização do território de três

municípios - Coimbra, Miranda do Cor-

vo e Lousã -, incrementando o desen-

volvimento do interior.

Amado Mendes entende que deve

ser evitada a destruição do património

ferroviário, como o armazém da esta-

ção da Lousã.

“Devemos lutar e apresentar propos-

tas para a sua reutilização como espa-

ço lúdico ou de exposições. Caso con-

trário, este património será um custo e

degrada-se”, adverte.

Na sessão comemorativa do 25 de

Abril, na Assembleia Municipal da Lou-

sã, o presidente da Câmara, Fernando

Carvalho, desvalorizou a iniciativa dos

cidadãos e partidos que defendem a

preservação dos imóveis da estação.

Revelou ter recebido, até esse dia,

cerca de 150 dos 2.000 postais distri-

buídos por Luís Carvalho, o que, na sua

opinião, “vale o que vale”.

O autarca do PS, sem nunca assu-

mir a defesa do cais e armazém ferro-

viário, comprometeu-se a comunicar a

petição à Refer e à Metro Mondego,

cuja administração integrou durante

oito anos, até 2004.

Desenganando os presentes, disse

que apoiará a sua demolição, caso a

preservação comprometa o projecto do

interface rodo-ferroviário, primeira

obra de um metro ligeiro prometido há

14 anos. (LUSA)

APRESENTAÇÃO EM CONIMBRIGA

“Coimbra Fashion” em Junho na Universidade

Decorreu na passada semana no Mu-

seu de Conimbriga, a apresentação de

mais uma edição do “Coimbra Fashion”,

um desfile de moda que vai ter como

palco, a 1 de Junho, o “Páteo das Esco-

las” da Universidade de Coimbra.

Trata-se de uma iniciativa da ACIC

(Associação Comercial e Industrial de

Coimbra), em colaboração com diversas

outras entidades, que promete trazer a

Coimbra alguns dos nomes mais sonan-

tes da moda, desde os criadores aos

manequins.

Certamente não por acaso, a apresen-

tação decorreu no magnífico cenário de

Conimbriga, com figurantes envergando

trajes romanos (como as imagens mos-

tram), uma vez que, tal como a Univer-

sidade de Coimbra, é uma das candida-

tas às 7 Maravilhas de Portugal.

Page 5: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

5DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 CULTURA

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“Revolução” na vida amorosa

de Camilo Castelo Branco. Novos amores!... (III)

(Continuação da anterior edição)

Renato de Santa Clara

O povo, vítima secular de mais pesa-

dos e penalizantes abusos do poder, acon-

selha, na sua humilde sabedoria, que até

das contrariedades se deve extrair o

possível benefício. Quanto a mim e nes-

te caso, tive que me contentar com a

aquisição do qualificativo jesuítico,

medíocre paliativo para o incómodo cau-

sado por algumas, felizmente poucas,

deficiências nos textos que transcrevo.

Sem pretender instruir um processo

de intenções, sempre direi que penso que

a grosseira e insólita arbitrariedade da

Direcção do Instituto, terá sido motiva-

da pela vontade de promover a publica-

ção de um estudo literário sobre a rela-

ção dos manuscritos com romance de

Camilo, da autoria de um padre da Com-

panhia, conjugada com a estimativa de

que este meu trabalho, apesar de exclu-

sivamente biográfico e descritivo, pode-

ria, não sei como nem porquê, prejudi-

car esse objectivo.

No momento em que escrevo estas

linhas, as últimas deste livro, não apare-

ceu ainda a edição dessa obra, que me

afirmaram estar pronta há mais de dois

anos e que julgo saber que se prepara

na editora do Estado. Em tempos, nos

primeiros contactos que mantive com o

Instituto, chegou a aventar-se a possibi-

lidade de inclusão de um texto meu numa

publicação conjunta. Acabei por me abs-

ter, por estimar que a cedência aos ter-

mos que me eram propostos, limitando a

contribuição a uma escassa nota biográ-

fica inserida num volume que desse pri-

mazia a Camilo Castelo Branco e ao belo

romance que, com base nestes manus-

critos, compôs, constituiria um inaceitá-

vel menosprezo da autora do diário e das

cartas.

Entendi e entendo que Gertrudes da

Costa Lobo deve, no momento da publi-

cação do textos que escreveu, ocupar o

lugar central que, por direito próprio, lhe

pertence.

Acredito que o leitor, ao fechar este

livro, concordará comigo

Manuel Tavares Teles

Porto, 6 de Março de 2004

Notas finais: Aqui fica o desafio aos

estudiosos do nosso grande Camilo Cas-

telo Branco, para que investiguem e des-

vendem os “mistérios” que envolvem

este novo romance de amor, e a envol-

vência cultural da sua época, só agora

trazido à luz do dia, através de um vulto

feminino de rara cultura – Gertrudes

da Costa Lobo, uma ilustre portuense

que repousa no Cemitério de Prado Re-

pouso da nossa Invicta Cidade. Para os

menos letrados e dada a rara qualidade

da sua escrita, não resisto à tentação de

transcrever alguns enxertos do diário e

cartas.

“Camilo, ali, crê-me, houve um ins-

tante em que o meu coração escutou

do teu alguma coisa que lhe deu mui-

to sofrimento, muita vida, e muita es-

perança; foi junto ao túmulo da Dula,

que encontrei n`um olhar teu, melan-

cólico, a expressão d`uma saudade

indefenível pelo amor para sempre

morto, ou n`um vago desejo de amar

com um amor de que principiavas a

sentir as primeiras agitações” – In

“Carta de Junho de 1854”

“Olha; eu não pergunto ao meu

coração o que ele sentirá amanhã, e

não o interrogo também pelo que sen-

tiu ontem. O passado, esqueci-o, o

futuro entreguei-o a Deus; e o presente

devo-to, porque a vida que vivo, dás-

ma tu. O meu pensamento não pene-

tra mais longe do que ao dia que me

espera, e nesse aguardo uma carta

tua: o que tenho eu com os anos que

não sei se me pertencerão?” –In “Car-

ta de Julho de 1854”.

“Há dois dias que luto com uma ansi-

edade cruel. Não me escreves!

Tantas coisas se têm passado entre

nós, que já nem distingo o certo do

duvidoso. Estivemos quase próximos

a entendermo-nos e dizermo-nos mu-

tuamente tudo o que sentíamos! Deus

não o permitiu. Na véspera do dia em

que havia falar-te, sofri e gozei bas-

tante. O pensamento de que ia estar

perto de ti, que havia escutar a tua

voz e dizer-te sem constrangimento

tudo o que me inspiras, perturbava-

me a tal ponto que eu não sabia o que

ia ser de mim; essa ideia, esse pensa-

mento roubou-me o sono e o apetite:

não comi dois dias e não dormi duas

noites” - In “O Diário da Paixão”.

Page 6: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

6 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007CULTURA

“Poesia e Violência” é o tema quevai reunir em Coimbra cerca de meiacentena de poetas de perto de 20 naci-onalidades, no VI Encontro Internaci-onal de Poetas, que decorre entre ospróximos dias 24 e 27.

Este Encontro, que volta a reunir emCoimbra, pelo sexto anos, alguns dosmais reputados poetas do Mundo, é or-ganizado, como os anteriores, pelo Gru-po de Estudos Anglo-Americanos daFaculdade de Letras da Universidadede Coimbra. De acordo com GraçaCapinha, docente do referido grupo,neste VI encontro visa-se “divulgar apoesia portuguesa e apresentar os po-etas portugueses aos estrangeiros e,por outro lado, democratizar o cânoneliterário, com a introdução de jovenspoetas e outros menos reconhecidos”.

Dos poetas que estarão em Coim-bra pode destacar-se o nome de XiaoKaiyu, um dos maiores poetas chine-ses da actualidade, mas virão tambémpoetas de Angola, Cuba, Espanha, Itá-lia, Irlanda, Peru, Israel, Palestina,Reino Unido, Cabo Verde, Canadá,Finlândia, Brasil, Holanda, Itália, Rús-sia e Estados Unidos.

“Temos a preocupação de trazer po-etas de Israel e Palestina, de diferen-

ENCONTRO INTERNACIONAL EM COIMBRA

Poetas de todo o Mundo

debatem “Poesia e Violênia”

tes quadrantes da política internacio-nal, permitindo um diálogo que noutroslugares não acontece”, realçou GraçaCapinha, numa alusão ao conflito queopõe israelitas e palestinianos.

O VI Encontro Internacional de Po-etas pretende ainda, segundo a respon-sável, “trazer a Portugal a diversidadepoética e dos movimentos existentes

pelo mundo fora”.O encontro começa no dia 24 com

uma conferência do norte-america-no C. D. Wright e o lançamento daantologia bilingue “Poesia do Mundo5” e do número especial da “Oficinade Poesia”, seguindo-se a inaugura-ção da exposição dos seus 10 anosde actividade.

O encontro não é apenas para es-pecialistas, antes aberto à cidade, peloque o programa inclui actuações noParque Verde do Mondego e no Jar-dim da Sereia.

As manhãs serão preenchidas porsessões de carácter mais académico eas tardes e noites com sessões de lei-tura de poesia para o público em geral,havendo sempre um dia inteiro em quese sai de Coimbra.

Assim, no dia 25 estão previstas lei-turas de poesia na Figueira da Foz, noHotel Costa de Prata, durante a tarde,e no Palácio Sotto-Mayor, à noite.

Graça Capinha destacou a assina-tura de um protocolo entre a Universi-dade de Coimbra e a Câmara Munici-pal de Idanha-a-Nova, no dia 27, no Pa-lácio de São Marcos, que vai permitira um poeta fixar residência numa ha-bitação disponibilizada na Vila de Mon-santo, com despesas pagas pela autar-quia (habitação, água, luz e gás), e vi-agens suportadas pela Universidade.

Trata-se de uma aspiração agoraconcretizada do Grupo de Estudos An-glo-Americanos, que desde 1992 so-nhava ter um poeta-residente a cola-borar com a Faculdade de Letras daUniversidade de Coimbra.

Xiao Kaiyu

Nos próximos dias 19 e 20 (sábadoe domingo) decorrem em Coimbra osúltimos espectáculos da mais recenteprodução d’A Escola da Noite: no sá-bado às 21h30, e no domingo às 16h00.

Estreado no passado dia 15 de Mar-ço, “Tchékhov e a arte menor” incluia apresentação de seis peças em umacto do dramaturgo russo AntonTchékhov: “O Trágico à Força”, “OUrso”, “O Pedido de Casamento”, “OCanto do Cisne”, “Os Malefícios doTabaco” e “O Jubileu”.

Sobre o espectáculo referem osresponsáveis d’ A Escola da Noite:

“Partindo, todas elas, de uma situ-ação aparentemente banal – um de-sabafo entre amigos, a cobrança deuma dívida, uma conferência com finsfilantrópicos, a comemoração do ani-versário de um banco, o velho actorque adormece no camarim depois doespectáculo – estas peças são apre-sentadas num registo predominante-mente cómico e até, por vezes, no li-mite do burlesco mais extravagante.

ÚLTIMOS ESPECTÁCULOS EM COIMBRA

“A Escola da Noite” com “Tchékhov e a arte menor”

Como todas as grandes obras deTchékhov, elas convidam, no entanto,a adoptar diferentes níveis de leitura:enquanto nos divertem, confrontam-nos simultaneamente com os dramas

e as tragédias pessoais que marcama generalidade das personagens.

A par da riqueza dos textos apre-sentados, do exigentíssimo trabalhodos actores e do ritmo e do humor

constantes, tem sido valorizado pelosespectadores o original dispositivocénico que, embora despojado e re-duzido a um conjunto de objectos es-senciais, tira o máximo partido daspotencialidades da Oficina Municipaldo Teatro, reservando, até ao final doespectáculo, várias surpresas. É, ali-ás, esta conjugação de ingredientesque faz de “Tchékhov e a Arte Me-nor” um inesquecível espectáculopara todos aqueles que a ele já vie-ram ou virão ainda a assistir, nestasúltimas oportunidades”.

À encenação, dramaturgia e espa-ço cénico de António Augusto Barrospara este “Tchékhov e a Arte Menor”,juntam-se os figurinos de Ana RosaAssunção, os objectos e adereços deAntónio Jorge e as luzes de DaniloPinto e Sílvia Brito. Do elenco fazemparte António Jorge, Maria João Ro-balo, Sílvia Brito e Sofia Lobo a quemse juntam, numa primeira colaboraçãocom a companhia os actores MiguelMagalhães e Pessoa Júnior.

Cena da peça “O Pedido de Casamento”

Page 7: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

7DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 CULTURA

O Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá,

instituído pela Faculdade de Letras de

Coimbra, acaba de ser atribuído a Pedro

Manuel Martins Baptista que apresen-

tou a concurso um trabalho intitulado

“Variações sobre tema de Vítor Matos e

Sá: invenção de Eros”.

O Júri foi presidido pela Doutora Ma-

ria Helena da Rocha Pereira, contando

ainda com a participação dos Doutores

Fernando Guimarães, Maria António

Horster, José Carlos Seabra Pereira e

Isabel Pedro dos Santos.

O Prémio, no valor de 2500 Euros, será

distribuído por ocasião do Encontro In-

ternacional de Poetas a decorrer em

Coimbra, sob organização do Grupo de

Estudos Anglo-Americanos, de 24 a 27

de Maio próximo (como se noticia na

página anterior).

De registar que é a segunda vez que

Pedro Baptista conquista este prestigi-

ante galardão.

BREVE NOTA BIOGRÁFICA

Pedro Manuel Martins Baptista nas-

ceu em Coimbra em 1968. Na sua cria-

ção poética utiliza o pseudónimo de Zar-

co Xavier, tendo já várias obras publica-

das e conquistado diversos prémios.

Publicou em livro: O livro dos mur-múrios, Palimage Editores, Viseu, Por-

tugal, 1998; O guardador das águas,

Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá -

2004, organizado pelo Conselho Científi-

co da Faculdade de Letras da Universi-

dade de Coimbra, em 2004, livro prefa-

ciado por Andityas Soares de Moura, Mar

da Palavra, Coimbra, Portugal, 2005; Ofogo A cinza, Prémio de Poesia do Con-

curso Literário Manuel Maria Barbosa

du Bocage - 2005, promovido pela

LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e

Azeitão, em 2005, LASA, Setúbal, 2005.

Em formato electrónico, pela Virtual-

books (Brasil) editou: No rumor das

PRÉMIO DE POESIA VÍTOR MATOS E SÁ DA FACULDADE DE LETRAS DE COIMBRA

Mais uma prestigiante distinção

para Pedro Baptista (Zarco Xavier)águas, 2001; Acordes de azul, 2002;

Palavras no vento, 2003; In memori-am de John Lee Hooker, 2003; Or-dálio, 2004; O ciclo do viandante,

2005; Stanley Williams, 2006; À beirado silêncio, 2006; Afluentes do poe-

ma, 2006; e Trinta mais uma odes,

2007; e pela ArcosOnline (Arcos de Val-

devez, Portugal), Monte maior sobreo Mondego, Menção Honrosa (Poesia)

do Prémio Literário Afonso Duarte -

2004, organizado pela Câmara Munici-

pal de Montemor-o-Velho, 2006.

Em DVD, encontra-se registrado:

Hino de Santa Clara, Poema vencedor

do Concurso para a letra do Hino da Fre-

guesia de Santa Clara, promovido pela

Junta de Freguesia de Santa Clara, em

2004, dvd, Junta de Freguesia de Santa

Clara, 2005.

Inéditos:

O livro do regresso, Prémio de Po-

esia Raúl de Carvalho - 2005, promovi-

do pela Câmara Municipal do Alvito; e

Variações sobre tema de Vítor Ma-tos e Sá: Invenção de Eros, Prémio

de Poesia Vítor Matos e Sá - 2007, or-

ganizado pelo Conselho Científico da Fa-

culdade de Letras da Universidade de

Coimbra.

Registe-se, por último, que Pedro Bap-

tista é um dos membros da equipa deste

jornal, pelo que o “Centro”, e quantos

neles trabalham, aqui lhe deixam um pú-

blico voto de felicitações e de regozijo

pela conquista de mais este importante

galardão.

“CAFÉ COM LETRAS”

Entretanto, realiza-se amanhã (quin-

ta-feira), no Café Pigalle, em Coimbra,

a segunda sessão do projecto cultural e

de intervenção cívica “Café com letras”.

Iniciativa da editora conimbricense Mar

da Palavra, visa dessacralizar a literatu-

ra, trazendo-a para os sítios frequenta-

dos pelo cidadão comum. “Ando onde

há espaço - Meu tempo é quando”, es-

creve Vinicius de Moraes.

Com vontade de saborear o tempo, o

café pode ser um espaço onde podemos

estrear um primeiro poema e partilhar

sensações e emoções, entre os aromas

de uma chávena fumegante na mesa.

Assim, falar com escritores (novos ou

consagrados) e conversar sobre as di-

versas manifestações literárias e artísti-

cas, num ambiente descontraído e sem

presunção nem receio de que “isto ou

aquilo não caia bem”, é a intenção do

“Café com letras”. A ideia não é inova-

dora mas reconfortante…

Para o segundo encontro, foi convi-

dado o poeta Xavier Zarco, que irá falar

do seu mais recente livro “O guardador

das águas”, obra editada pela Mar da

Palavra e que foi distinguida com o Pré-

mio de Poesia Vítor Matos e Sá (Conse-

lho Científico da Faculdade de Letras da

Universidade de Coimbra), em 2004 -

prémio literário que acaba de ser nova-

mente atribuído ao escritor, através da

obra inédita “Variações sobre tema de

Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros”.

No encontro, estarão presentes outros

escritores e conhecedores do trabalho

poético de Xavier Zarco, havendo tam-

bém oportunidade para cada um dos in-

tervenientes dar conta das suas preocu-

pações culturais e dos processos que lhe

são subjacentes aos actos da escrita e

da criação. Será o campo inventivo e

poético um território exclusivo só para

alguns? Porque os acontecimentos se

fazem sobretudo com pessoas, o autor -

que se dispõe a autografar os seus livros

no café - partilhará a sua própria visão

dos acontecimentos literários e promo-

verá as leituras possíveis de textos ainda

por descobrir.

Page 8: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

8 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007OPINIÃO

A ESPERANÇA

(…) A actual situação económica esocial do país não é brilhante. O afã re-formista escolhido como antídoto a estasituação tem suscitado um clima de com-preensível tensão social. A elevada taxade desemprego configura a expressãomais forte e sensível dessa situação. Nofundo, uma geração sem trabalho é sem-pre uma geração que maldiz o seu viver.O desemprego é uma das mais perigo-sas “epidemias” sociais porque arrastaconsigo tantas outras situações que en-tram nos patamares da saúde mental efísica, da coesão social e na degradaçãodo ambiente e da pessoa humana.

Está a gerar-se na sociedade portu-guesa um perigoso sentido epidemiológi-co de só sobrelevar o que está mal, es-quecendo o que está melhor, e bem. Osociólogo António Barreto não pode ser,de modo algum, identificado como umlouvaminhas face ao panorama social epolítico actual. Nem tão-pouco face aoactual Governo socialista. Antes, é re-conhecida a sua atitude muito crítica eaté altamente “castigadora”.

Contudo, para além de outros méri-tos, o “perfil social” de Portugal que tra-çou na série televisiva “Portugal - Umretrato social” constitui um notável do-cumento de demonstração das profun-das mudanças positivas que este país eo seu povo registaram no pós-25 de Abril.Entre o Portugal de hoje e o Portugal dehá 30 anos, não há comparação possí-vel. Não obstante todos os males e mi-sérias de que nos queixamos. (...)

Paquete de Oliveira (sociólogo)JN 10/05/07

LIBERDADE E RELIGIÃO

Segundo a organização norte-america-na “Freedom House”, o número de paí-ses com elevado grau de liberdade políti-ca e democrática é actualmente de 147, omaior de sempre. Segundo a UNESCO,o número de adultos alfabetizados nuncafoi tão elevado como actualmente. Segun-do o Banco Mundial, a média de pessoasque vivem com menos de um dólar pordia - 22 por cento - nunca foi tão baixacomo agora. A população mundial pareceter um maior grau de liberdade, estar maisinstruída e ter a sua riqueza material maisbem distribuída.

Curiosamente, também as grandesreligiões monoteístas tiveram um impor-

tante incremento durante o século XX e,eventualmente, uma importante influên-cia na evolução verificada. Segundo aWorld Christian Encyclopedia, o númerode adeptos do cristianismo, do islamismoe do hinduísmo nunca foi tão elevadocomo actualmente, em que 64 por centoda população mundial professam umadestas religiões, incluindo os seus maisdiversos ramos. (…)

Luís Portela (médicoe administrador de empresas)

JN 09/05/07

O PECADO ORIGINAL

Depois de uma conferência, no perío-do das perguntas, uma senhora atirou-me: “Sempre é verdade o que dizem: osenhor nega dogmas da Igreja!” Pedi-lhe para dar exemplos. Ela: que tinhanegado o dogma do pecado original.

Aí, perguntei-lhe se tinha filhos. E ela:“Sim, tenho duas filhas.” Dei-lhe para-béns sinceros e desafiei-a a dizer-me seacreditava sinceramente que as duas fi-lhas tinham sido geradas em pecado eque ela tinha andado nove meses de cadavez carregando com duas filhas em pe-cado dentro dela. Ela: “Nem pense nis-so! É claro que não.”

Fiquei então, mais uma vez, a saberque, frequentemente, há na religião o quese chama dissonância cognitiva: afirma-se uma coisa, mas realmente não seacredita nela, porque se pensa outra coi-sa. Aquela senhora, confrontada com aquestão, viu claramente que não podiaacreditar que uma criaturinha inocente,concebida com amor, tivesse sido gera-da e tivesse nascido em pecado, um pe-cado de que não era autora nem culpa-da. Mas ao mesmo tempo acusava deheresia quem dissesse o contrário do quelhe ensinaram que devia dizer, sem pen-sar. Ora, a fé não pode entregar-se àcegueira, abandonando a razão.

Anselmo Borges (padree professor universitário)

DN 11/05/07

DEZ ANOS DE INÉRCIA

(…) Na revisão constitucional de 1997foi decidido flexibilizar as regras da nos-sa lei fundamental sobre o sistema elei-toral e de governo das câmaras e assem-bleias municipais, abrindo assim as por-tas a uma clarificação do modelo de go-verno autárquico. Passados dez anos,ainda nada se fez neste domínio, em boaparte porque não há um consenso alar-gado sobre um modelo alternativo.

O impasse quanto a uma reformadeve-se à inércia dos partidos políticosque não gostam de arriscar e preferemmanter um sistema cujas grandezas emisérias já conhecem bem e com o qualse habituaram a viver. Em certa medida,a inacção também se explica porque osmodelos alternativos de funcionamentonunca foram devidamente explicitadosjunto da opinião pública em termos de

vantagens que poderiam comportar nãopara as máquinas partidárias mas simpara a eficiência do funcionamento daspróprias câmaras ao serviço dos interes-ses dos seus munícipes.

A título de exemplo, refira-se que umaevolução no sentido do reforço da com-ponente parlamentar, em que o executi-vo camarário dimanasse da assembleiamunicipal, defronta-se com a resistênciada generalidade dos autarcas dos dife-rentes partidos, especialmente quandoestão na oposição, para quem estar pre-sente no próprio executivo camarário(mesmo que “na oposição”) constitui umobjectivo a preservar a todo o custo. Porisso pagamos o preço da menor transpa-rência nas relações entre maioria e opo-sição e a diluição das alternativas de go-vernação no nosso sistema autárquico...

A clarificação deste ponto no debatepolítico por parte dos vários partidos nopreciso momento em que ocorre umacrise grave na principal autarquia do Paíspoderia ser particularmente útil para fi-nalmente dar cumprimento à revisãoconstitucional de 1997. É que sempre jápassaram dez anos...

António Vitorino (jurista)DN 11/05/07

A ENTIDADE CRONOMETRA

Pegue-se numa página de jornal efaça-se, com regra e esquadro, váriosquadradinhos iguais. Em 1975, foi issoque levou os jornais portugueses à qua-se ruína. Nos quadradinhos, colocavam-se os comunicados dos partidos. Os gran-des, PS ou PSD, eram medidos por igualcom os minorcas, como a AOC... Agora,o jornalismo ao palmo volta a atacar, nãotão igualitário mas igualmente parvo. AERC - que nem sabe adequar a sua siglacom o número de palavras que ela repre-senta (as três letrinhas querem dizer Enti-dade Reguladora para a ComunicaçãoSocial) - decidiu medir, não com regra eesquadro mas com calculadora e relógio,o tempo de informação na RTP: 50% parao PS e Governo, 48% para a oposiçãoparlamentar (PSD, PCP, PEV, CDS eBE) e 2% (?!!) para o maralhal não elei-to. Os cronometristas da informação ex-plicam a sua vigilância, assim: “Existeconflitualidade latente e constante nestamatéria...” E quem fala assim tem a latade ensinar os outros como se informa.

Ferreira Fernandes (jornalista)DN 11/05/07

DA INFÂMIA DOS FINSÀ CORRUPÇÃO DOS MEIOS

(…) A questão posta à votação nopassado dia 11 de Fevereiro tratava ape-nas da “despenalização da interrupçãovoluntária da gravidez”. Mas a lei que amaioria apresentou e aprovou prevê a“exclusão da ilicitude” (Lei n.º 16/2007de 17 de Abril). Os nossos legisladoresconhecem bem a diferença, pois há anosdecretaram a despenalização do consu-

mo de droga (Lei 30/2000 de 29 de No-vembro), sem com isso excluir a ilicitudenem, pior, impor a sua banalização. Des-ta vez porém deram esse salto lógico semdificuldades ou contemplações. O Siste-ma Nacional de Saúde prepara-se parafornecer livremente o aborto em nomeda suposta legitimidade democrática doreferendo.

Agora junta-se insulto à infâmia. Naproposta de Lei de Política Criminal pre-vê-se que “toda a criminalidade menosgrave vai deixar de estar sujeita a penasde prisão. Nela se inclui ‘o aborto comconsentimento da mulher grávida fora dassituações de não punibilidade legalmen-te prevista’ – lê-se no artigo 10.º da pro-posta” (DN de 20 de Abril). Assim a ar-gumentação do campo abortista não pas-sou de grotesca impostura. Falavam depobres mulheres presas e grave repres-são policial, mas este diploma em prepa-ração eliminará a questão da prisão parao aborto consentido em toda a gravidez.Para quê então tanto esforço e despesano referendo? Nem sequer houve o pu-dor de deixar passar algum tempo paradisfarçar a burla.

O embuste vem de longe. A lei do abor-to é há muito um festival de aldrabice edistorção, pois começou por ser rejeita-da em 1997, para ser aprovada pela mes-ma Assembleia, menos de um ano de-pois, após manipulação dos deputados.Agora, com base num voto que só fala-va de despenalização, as autoridades vãoimpondo os caprichos que escamotearamdurante a campanha. Na altura o primei-ro-ministro prometeu “as melhores práti-cas europeias” e falou no caso alemão.Depois, desavergonhadamente, acabamoscom uma solução pior que soviética.

A questão curiosa é saber como é pos-sível tal grau de desonestidade. A expli-cação simplista, de afirmar que temosuma elite corrupta e mentirosa, nada diz.Primeiro não pode ser levada a sério semimplicar a única solução coerente, a emi-gração. Depois porque hoje um tal nívelde indignidade nunca pode vir apenas dacorrupção da elite. O mal é demasiadogrande para a explicação directa.

João César das Neves

(professor universitário)DN 07/05/7

A MINHA VEIAE OS PULMÕES DOS OUTROS

Quando já parecia não haver mais ar-gumentos ridículos para apresentar emdefesa dos fumadores coitadinhos que selimitam, pobres deles, a impor as conse-quências da sua ausência de bom sensoe de força de vontade ao mundo em ge-ral e aos clientes da mesa do lado emparticular, surgiu o golpe de misericór-dia: então não é que as coimas a aplicara quem fume em locais públicos fecha-dos são superiores às impostas a quemuse substâncias ilícitas como heroína,cocaína, haxixe, ecstasy e quejandas? Ó,escândalo. Dos comentadores televisivosaos ilustres deputados da nação, passan-

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9DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 OPINIÃO

do pelos argutos jornalistas, todos se en-gasgam de pasmo e de justa fúria, empartes iguais.

Realmente, não se compreende: comopode uma lei que visa proteger os quenão fumam dos que fumam ser mais se-vera sobre os que prevaricam que umalei que visa proteger de si próprio quemusa certas substâncias tidas como preju-diciais? Está-se mesmo a ver que o Es-tado deve ser muito mais brutal comquem faz mal a si próprio do que comquem faz mal aos outros. Tipo: é óbvioque se eu estiver num descampado a in-jectar-me na minha veia com heroína oucocaína ou outra “ína” qualquer estou acometer uma falta muitíssimo mais gra-ve que se estiver a fumar cigarro atrásde cigarro num restaurante ou num bar,bafejando generosamente os pulmões dospresentes com alcatrões tóxicos, cance-rígenos e outros mimos. (…)

Fernanda Câncio (jornalista)DN 04/05/07

ÉTICA

Num curto espaço de tempo, o Parti-do Socialista propôs três leis, fez apro-var duas e prepara-se para um terceiroround parlamentar. Leis que noutrospaíses dessa Europa que tomamos comofigurino envolveram grande polémica, riosde tinta nos jornais, debates, a participa-ção da comunidade científica, etc... Aquivai de mansinho, subtilmente, sem dor.

A Lei da Procriação Medicamente As-sistida, aprovada em 2006, continha lacu-nas graves, não se clarificando se o legis-lador queria ou não consagrar a investiga-ção em embriões humanos viáveis. A ques-tão não é de somenos já que se derroga adistinção fundamental entre sujeito/pessoae objecto/coisa no que se refere a embri-ões humanos não transferidos.

A Lei do Aborto estabeleceu umaopção clara de desvalor da vida huma-na embrionária face a uma mera ma-nifestação de vontade da mulher. En-tra em vigor sem a respectiva regula-mentação, para a qual foi transferidamatéria essencial. Em termos práticos,hoje, uma mulher pobre continuará aabortar no tal vão de escada, o pontoessencial do aconselhamento foi atira-do às urtigas, o Serviço Nacional deSaúde reconhece, por fim, que não temcapacidade para satisfazer as expec-tativas que a lei criou.

Agora, o mesmo PS apresenta um pro-jecto de Lei sobre a utilização de célulasestaminais para investigação e aplicaçãoterapêutica. De novo o preâmbulo, aliáspaupérrimo, nada tem a ver com o articu-lado. Tal como sucedeu com as anterio-res leis.

O resultado vai ser a utilização deembriões excedentários e dos “produtos(...) resultantes da interrupção voluntá-ria da gravidez” na investigação e res-pectivas utilizações terapêuticas. (…)

Maria José Nogueira Pinto

DN 03/05/07

MADELEINE

País segue angustiado a história da pe-quena Madeleine. Sobretudo desde quese soube que não se tratava de um desa-parecimento de casa por mera desorien-tação. As informações da polícia confir-mando que se trata de um rapto deramuma dimensão dramática ao caso que avisibilidade das notícias ainda mais empo-lou. Ainda bem que a Comunicação Soci-al deu sequência ao episódio. A repetiçãoda notícia e da fotografia da pequenaMadeleine pode ser um decisivo contri-buto para que alguém forneça informa-ções que conduzam à solução deste dra-ma. (…)

Percebe-se o transtorno dos pais. Enem as autoridades policiais nem a popu-lação lhes têm recusado solidariedadeactiva, ajudando nas buscas, incansáveisnos esforços para encontrar sinais quelevem à descoberta da pequena Madelei-ne. Mas as condições do seu desapareci-mento são, por outro lado, uma lição deprevenção para outros pais que desde oconhecimento dos factos, de alguma for-ma, sentiram inquietação pelos seus pró-prios filhos. É que a ser verdade o notici-ado, que os pais terão deixado os filhosem casa sem guarda durante cerca de trêshoras, estamos perante um comportamen-

to de alto de risco cujos efeitos podemser, como se viu, devastadores.

Esta afirmação não pretende ser umacensura a quem neste momento tanto deveestar a sofrer e com múltiplos sentimen-tos de culpabilização. É, antes de mais,uma prevenção a todos os pais. As crian-ças são cada vez um bem mais escasso eobjecto de cuidados especiais. É precisoque o controlo familiar, ou de quem é res-ponsável pela sua educação, não seja des-curado a pretexto de qualquer motivo.Agora foi um rapto, noutra vez pode serum desaparecimento ou um acidente.

Francisco Moita Flores

CM 06/05/07

A HISTERIA DE LAGOS

O Público refere na primeira página,na passada quarta-feira, que todos os anosmuitos milhares de crianças desaparecemna Europa e informa que, segundo aUNICEF; 1,2 milhões de crianças serãoanualmente traficadas. A criança que de-sapareceu em Lagos é o primeiro casode m menor desaparecido em Portugal aser incluído no site da polícia britânica quetrata desse flagelo.

Estes os factos. O resto é pura e sim-plesmente histeria. (…)

A criança desaparecida é inglesa

branca, filha de médicos bem integradosna comunidade, seguramente pessoasestimáveis que pagam impostos e con-tribuem para o progresso do seu país.Mas outras crianças oriundas de territó-rios menos favorecidos, com pais menosintegrados, desaparecem, morrem ou sãoraptadas todos os dias aos milhares poresse mundo fora. Mesmo em Portugalisso vem acontecendo, infelizmente, comalguma regularidade. Citando de novo oPúblico, no meritório texto que divulgou,em 2006 desapareceram em Portugal 31crianças, mais de metade das quais comidades entre 11 e 15 anos. Apesar dissonão vi helicópteros e aviões fretados porcanais de televisão, centenas de políciase cães mobilizados , embaixadores a fa-zer declarações no meio de ambulânci-as, o Presidente da República a ser soli-citado paa declarações públicas. (…)

José Miguel Júdice

Público 11/05/07

“SOCIALISMO” DA DELAÇÃO

(…) Quando um governo “socialista”promove a delação como conduta, e con-substancia a infâmia num folheto sórdi-do, tal acontece porque ainda nos encon-tramos moralmente enfermos. Logoapós Abril, os números do aviltamentosobressaltaram os espíritos mais cândi-dos: quatro milhões de portugueses comficha na PIDE, e cerca de quatrocentosmil informadores. Agora, na Socratolân-dia, propõe-se a setecentas mil pessoasque delatem, sugerindo-lhes que praticamuma acção moralizante quando se tratade procedimento desonroso. Este Gover-no, incapaz de cortar cerce a raiz da cor-rupção, avilta-nos a todos, ao acirrar àdenúncia. E, ao incorrer no crime de cor-rupção moral, coloca-se na zona da de-linquência que propugna punir.

Três séculos de Inquisição deramcabo do assomadiço que éramos. O ter-ror da fogueira, a purificação das almas,o preço da salvação com que a Igrejapagava a denunciantes colocou-nos nolazareto espiritual. O mar desconhecidoinfundia-nos apreensão e susto. Não tan-to quanto o dedo indicador do vizinhodespeitado, do familiar desavindo, daamante abandonada.

Portugal - Um Retrato Social pro-cede ao retrospecto de uma política, asalazarista, concebida como variante dainfâmia. Porém, o que ocorre nesta “de-mocracia”, notoriamente avariada, con-funde-se com a indecência de um tempoem que, profusas vezes, permitimos queo mal se convertesse em fatalidade ine-lutável. A democracia deve suscitar in-quietações éticas nos cidadãos, nuncainspirá-los para cometimentos repugnan-tes. Com base no princípio da decência,a recusa à delação configura o mais no-bre direito à desobediência. E o delatornão passa de um vulgar canalha. Assimcomo quem o fomenta e exalta.

Baptista Bastos

(Escritor e jornalista)DN 02/05/07

Os pais de Madeleine passeiam os outros dois filhos gémeos na Praia da Luz,

sempre seguidos pelas câmaras das televisões (Foto Luís Forra / LUSA)

Page 10: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

10 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007OPINIÃO

Varela Pècurto

Uma data tão significativa tinha de sercomemorada. Não se fazem por aí fes-tas sem qualquer justificação credívelpara a sua realização?

Esta, ao menos, teve motivos de so-bra para se realizar.

Como cidadão sinto-me beneficiadocom os progressos da R.T.P., avançan-do ao ritmo possível mas necessário auma estação pública.

Nem será necessário lembrar quan-tas organizações estatais permaneceminalteradas, ganhando bolor ao longo dosanos… As melhorias técnicas agora in-troduzidas são refinadas, o “último gri-to” como se soe dizer-se.

Este saudável crescimento e o nívelalcançado, certamente desarma os cép-ticos e derrotistas.

Com a “família” reunida nas estupen-das instalações em que impera o digital,preparados para a alta definição, tudoavançada tecnologia, programas renova-dos, quatro estúdios, um com catorzemetros de pé direito, coração (régie) ecentro de produção que são um “espan-to”, são garantia de que Portugal estábem servido. Não vi todas as emissõesrelacionadas com as comemorações,mas ainda assim foram muitas as emo-ções que senti.

Revi caras, ouvi vozes inconfundíveisde figuras expressivas, passaram can-

Ainda os 50 anos da RTP

tores, músicos, escritores, poetas, pales-trantes de nomeada, actores, grandes co-municadores já desaparecidos fisica-mente mas presentes na lembrança eno coração de muitos. E foi bonita apresença de figuras agora a trabalharna concorrência, mas cuja iniciação édevida à R.T.P..

Todos desbravaram caminhos, contri-

buindo para a estação que temos hoje.Nesses tempos também os operado-

res-correspondentes se esforçaram nocumprimento das suas missões. Suplan-tavam as suas naturais falhas com umadedicação sem limites, ao ponto dos seusesforços atingirem níveis de risco de vida.Trabalhando com câmaras pouco volu-mosas e leves, movimentavam-se à-von-tade. Lembro-me de ter filmado um con-curso hípico empoleirado numa árvore;e vários jogos de basquetebol do alto deum escadote.

Percorrendo caminhos inventados,derrubando tabús com a alegria dospioneiros decididos, alcançaram remo-tas paragens, autênticas viagens ex-ploratórias.

Refeições fora de horas, calor, cam-pos sem estradas, sobre pedras, frio come sem neve, atravessando ribeiros coma água a entrar na viatura, tudo suporta-ram tendo no pensamento o que conta-va: a reportagem.

Quantas vezes, após regresso peno-so, o carro ia direitinho à oficina, tudopor nossa conta.

Recebia-se por cada quilómetro roda-do e metro de filme projectado. Consi-derando o lado material, alguns serviçosacarretavam elevados saldos negativos.

Nem um simples acessório para amáquina ou a contratação de um ajudan-te para a iluminação deixava de ser des-pesa nossa.

Para minorar estes gastos, nem uma só

vez debitei quilómetros não percorridos ese, ao almoço apressado entre duas repor-tagens bebia um galão acompanhado deum bolo de arroz, era esse o custo quemandava escrever no recibo em respostaà pergunta “Quanto quer que ponha?” Dacontabilidade perguntavam-me como con-seguia almoçar ou jantar tão barato…

Ameaçado de multa por excesso develocidade, o que era necessário comfrequência, lembrava ao GNR que oseu patrão era o meu e que se viesseem comitiva oficial até viria a maiorvelocidade e com batedor da B.T. aabrir caminho.

Se calhava chegar à estação da C.P.a uma hora em que o comboio a passarera dos que não transportavam tarifasespeciais, recorria aos mais diversos ex-pedientes, incluindo a ameaça de medeitar sobre a linha onde o comboio pas-saria, provocando escândalo, levando ochefe a pensar. Os meus exageros sem-pre resultaram, tanto que os filmes che-gavam na hora prevista.

São e escorreito para agora lembrarestes tempos, não significa que o nosso

trabalho estivesse isento de riscos. Àminha conta sobrevivi em dois ralis, doisdesabamentos, electrocussão, três incên-dios, um em que fiquei cercado pelaschamas e noutro em que perdi um ami-go jornalista e o bombeiro que tentousocorrê-lo.

Até houve, longe da minha área, um“homem ao mar” numa reportagem ao

largo da nossa costa.Estes casos exemplificam como foi

grande o empenho dos operadores-cor-respondentes. Podemos concluir que estegrupo de servidores da R.T.P. contribuiupara a fase ora alcançada. Um só ele-mento filmava e escrevia o texto. Era o“dois em um”.

Nós, os que estivemos atrás das câ-maras (como no estúdio e noutros servi-ços de apoio) somos os ignorados. Hoje,tanto o jornalista como o operador têm onome citado no final da reportagem, oque é de louvar.

Tinha feito sentido a presença de umou dois dos antigos correspondentes, emrepresentação de todos, em tão bela gala.

Era fácil encontrá-los em Viana doCastelo, Bragança, Aveiro, Viseu e mes-mo no Porto ou seus arredores. Não citoos do sul porque não os conheci. Todostêm histórias para contar.

Ontem, como hoje, as reportagem sãoindispensáveis no telejornal, informan-do o País, perto e longe, fazendo destarubrica a preferida de muitos tele-es-pectadores.

Page 11: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

11DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007ARTES PLÁSTICAS

Tânia Saraiva

“A vitalidade do desenho provém da

sua capacidade inerente de forjar um

elo imediato entre o que pensamos e o

que sentimos.”

Erika Naginski

Nos últimos anos temos assistido àcriação e divulgação de uma série decolecções privadas no território nacional,

cada uma com as suas especificidades edirectrizes, algumas ligadas a fundaçõesou a empresas, como acontece com acolecção da Fundação PLMJ ou a Ellip-se Foundation, outras mais associadasaos seus promotores, como é o caso daColecção António Cachola ou da Colec-ção Berardo. No que diz respeito à Co-lecção Madeira Corporate Services, estateve origem na motivação pessoal deLuiz Augusto Teixeira de Freitas, desdeo princípio consciente dos benefícios quea constituição de uma colecção poderiatrazer para a imagem da empresa e, tam-bém, no estímulo que poderia suscitar noâmbito do coleccionismo privado, emparticular na Ilha da Madeira.

Pensar uma colecção passa necessa-riamente por idear a imagem que comela se pretende transmitir e que carácterse lhe pretende outorgar. Assim, dinamis-mo, criatividade e inovação foram aspalavras de ordem que prevaleceram no

- Colecção Madeira Corporate Services

Desenhar é um verbo

momento da conceptualização da Colec-ção Madeira Corporate Services – ca-racterísticas imputadas à própria empre-sa. O projecto é comissariado pelo críti-co brasileiro Adriano Pedrosa, igualmenteresponsável pela colecção particular deLuiz Augusto Teixeira de Freitas, querapidamente traçou as linhas orientado-ras na aquisição das peças. Como acon-tece com o coleccionismo em geral, umacolecção de arte supõe, impreterivelmen-

te, a definição de alguns critérios paraque o resultado seja um todo coerente,singular e relevante. Neste sentido, apreferência por um conjunto devotado ajovens artistas, sem limitações geográfi-cas, mas unidos pela prática do desenho,com uma forte componente conceptual,configurou-se como a opção curatorialidónea, dado que a maioria das obras seencontra instalada na sede da empresa.

«No momento em que o lema pare-ce ser “quanto maior, melhor”, – afir-ma Adriano Pedrosa – nossa colecçãoelege um meio um tanto negligencia-do, frágil e de pequeno formato, apa-rentemente tímido, singelo, e delicado– o desenho.» Com efeito, muitas ve-zes se considera o desenho como umadisciplina menor, um degrau preliminarno processo criativo, o esboço da obra

de arte final. Não obstante, uma tela embranco é uma maravilha - dizia Kan-dinsky - muito mais que certas pinturas.

É a infinidade do branco a primeira ima-gem de um desenho. No processo ínti-mo, soliloquial que o artista estabelececom o suporte despojado liberta-se a or-denação do caos. É essa a essência dodesenho: uma relação profunda in cres-

cendo, uma busca temporal por aprisio-nar o subjectivo, a melodia, a memória ea experiência num plano bidimensional.É no desenho que o artista se revela uno,autêntico e inconsciente. É o ritmo damão que nem sempre obedece ao pen-samento. É o tempo que não atende àsnecessidades. O que permanece sãofragmentos de desejos, réstias de espe-ranças, linhas de contradições e mensa-gens subliminares.

Esta liberdade que a prática do dese-nho supõe, estende-se também a ques-tões curatoriais, pois pelas suas caracte-rísticas inerentes, o desenho comporta

algumas facilidades – na hora de adqui-rir peças e no seu armazenamento – queoutros meios não permitem. Assim, amissão da Colecção Madeira CorporateServices é oferecer «um amplo panora-ma do meio», dado que «uma colecçãonão pode hoje aspirar a uma verdadeiraabrangência de todos os meios, períodose territórios, talvez possa reunir um nú-

mero de desenhos contemporâneos sig-nificativos», como assevera o seu res-ponsável. Com este objectivo bem pre-sente e definidos clara e coerentemen-te os critérios subentendidos, esta co-lecção revela-se de um enorme inte-resse e diversidade. Trata-se, especi-almente, de desenhos realizados na úl-tima década, por artistas nascidos após1960, com um número expressivo deportugueses e brasileiros. Na sendadestas linhas, a colecção apresenta umnúcleo principal de obras de artistasemergentes, para além de obras de ar-tistas consagrados internacionalmente,como Julião Sarmento, Pedro CabritaReis, Adriana Varejão, Francis Alÿs ouMona Hatoum; e ainda autores indis-cutíveis no discurso crítico deste meioe outros cujo trabalho em desenho émenos relevante ou menos conhecido.

Da variedade de artistas resulta umaimensa multiplicidade de tendências,motivos, associações, referências, mate-riais e técnicas.

Desenhar é um verbo

- Colecção Madeira Corporate ServicesGaleria Porta 33, Funchal

(Até 26 de Maio).

Gabriel Orozco, Sem título, 2002

Rui Toscano, Itália, 2003

Page 12: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

12 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007QUEIMA DAS FITAS

PUB.

Críticas ao Governo, em especial às polí-

ticas nas áreas da educação e da saúde,

com algumas alusões pelo meio à licencia-

tura do primeiro-ministro José Sócrates, do-

minaram o tradicional cortejo da Queima das

Fitas da academia de Coimbra.

As temperaturas quase estivais, os cân-

ticos dos jovens universitários e o elevado

consumo de bebidas alcoólicas juntaram-se

ao inevitável calor humano de uma longa

tarde de festa, que mais uma vez, desde fi-

nais do século XIX, levou às ruas de Coim-

bra as cores identificativas dos diferentes

cursos e a alegria dos estudantes que ante-

cipam um ano a sua previsível despedida da

Universidade (UC).

O Cortejo dos Quartanistas juntou 87

carros alegóricos, em representação das

Cortejo da “Queima das Fitas”: bFaculdades da Universidade de Coimbra e

dos diferentes institutos de ensino superior

não universitário, que desfilaram desde as

14:30 entre a Alta e o parque de Manuel

Braga. Foi aqui que a exibição foi terminan-

do aos poucos, com as viaturas a demanda-

rem a margem esquerda do Rio Mondego,

a fim de serem desmanteladas as ornamen-

tações à base de flores de papel colorido,

sobre estruturas em madeira, ferro e rede

de capoeira que são adaptadas às carroça-

rias.

Daqueles 87 carros, 66 eram das Facul-

dades e os restantes dos institutos, segundo

o estudante João Madureira, que nesta edi-

ção da Queima das Fitas de Coimbra foi o

responsável pela organização do cortejo e

da garraiada.

Apenas uma dezena dos carros reunia

as condições previstas no Código da Praxe

académica para poderem disputar os pré-

mios do concurso.

O “dux veteranorum” João Luís de Je-

sus, dirigente máximo do Conselho de Ve-

teranos (órgão que zela pelo cumprimento

da praxe), explicou à agência Lusa que ape-

nas os carros que integram exclusivamente

alunos do penúltimo ano de um mesmo cur-

so poderão disputar o concurso, cujo júri,

em que participou o vereador da Cultura da

Câmara Municipal, Mário Nunes, observou

atentamente a criatividade de cada grupo

concorrente quando as viaturas passaram

na Praça da República.

O cortejo simboliza a despedida dos quar-

tanistas, “o seu último ano de excessos”,

devendo apostar no ano seguinte na con-

clusão dos estudos e na preparação para

ingressar no mercado de trabalho, salientou

João Luís de Jesus.

O “dux” disse que dentro de dois anos,

após a próxima revisão do Código da Pra-

xe, em fase de conclusão, haverá “uma

margem de manobra e uma tolerância mui-

to maiores” para que mais carros alegóri-

cos se apresentem a concurso.

“Hoje, liga-se mais aos grupos de ami-

gos”, independentemente dos percursos

académicos de cada aluno, devendo aquele

código ser no futuro mais flexível às novas

realidades, anteviu o mesmo responsável.

O carro 41, da licenciatura de Engenha-

ria Civil da Faculdades de Ciência e Tec-

nologia da UC, satirizava as vivências pes-

Page 13: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

13DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007QUEIMA DAS FITAS

rincar a dizer coisas sérias

soais e académicas de vários colegas de

curso, representadas numa galeria de cari-

caturas com diferentes “bocas”.

“O Sócrates não passou por isto!”, su-

mariavam os futuros engenheiros, num dos

dísticos, utilizando ainda frases sobre betão

armado, como “Dá-lhe brita” e “Queima

das vigas”.

Mais à frente, ao cimo das escadas

Monumentais, um ecrã digital móvel publi-

citava, alto e bom som, o concerto que o

músico britânico George Michael iria reali-

zar sábado, no estádio Cidade de Coimbra,

tirando partido de uma concentração de

milhares de pessoas de todo o país.

Um grupo de quartanistas do Desporto

entregou ao “dux veteranorum” uma caixa

de música que este se comprometeu a en-

tregar ao Reitor da Universidade de Coim-

bra, Seabra Santos.

“Esta caixinha simboliza a ‘música’ que

andam a dar, há vários anos, sobre a cons-

trução da nova Faculdade do Desporto”,

referiu João Luís de Jesus.

Pelo terceiro ano consecutivo, em cum-

primento de uma deliberação da Assembleia

Magna da academia, Seabra Santos não foi

convidado para assistir ao cortejo da Quei-

ma na tribuna de honra, instalada junto aos

Arcos do Jardim.

No carro 23, de Medicina, estava em foco

a prestação dos cuidados de saúde em Por-

tugal, designadamente nos Hospitais da

Universidade de Coimbra (HUC).

“Titan’ HUC - Venha afundar-se con-

nosco!”, “Por favor, dirija-se à urgência mais

próxima” e “Bien-venido a España” eram

algumas das críticas.

Emolduradas por verdadeiras bóias de

salvação (da saúde), havia ainda frases como

“Nova especialidade: Obstetrícia bombeiris-

ta” e “Zona não abrangida pelo INEM”.

Como manda a tradição de Coimbra, uma

viatura de Medicina abria o desfile, logo

depois de Carlitos, aliás Carlos Duarte, ca-

beça de cartaz e figura típica da cidade que

gosta de fardas militares, com muitos ga-

lões e divisas, fitas com as cores das facul-

dades e da bandeira nacional.

Carlitos erguia bem alto um estandarte

improvisado de cores garridas.

“Diz que é uma espécie de curso de Me-

dicina”, lia-se na frente do carro, plagiando o

humor televisivo dos “Gato Fedorento”.

Um boneco, representando um paciente

hospitalizado, encimava o carro.

“HUC que te dói?”, perguntavam os fu-

turos médicos.

Entretanto, carros da polícia e ambulân-

cias não tinham sossego, fazendo soar as

sirenes entre a multidão.

Com dores, cortes nos pés causados pe-

los vidros das garrafas ou simples bebedei-

ras, estudantes e outros foliões eram assim

transportados para os HUC e outras unida-

des de saúde da cidade.

Casimiro Simões (LUSA)

Page 14: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

14 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007EDUCAÇÃO / ENSINO

No próximo ano lectivo quase 90 por

cento das licenciaturas e mestrados em

Portugal estarão a funcionar adaptados

já às regras de Bolonha, ficando o pro-

cesso praticamente concluído dois anos

antes do fim do prazo estabelecido.

Estes são alguns dos dados nacionais

avançados pelo Ministério do Ensino

Superior e que serão apresentados no

debate sobre os resultados a nível euro-

peu, a decorrer esta semana em Lon-

dres na reunião bianual dos ministros do

Ensino Superior dos 45 países que ade-

riram ao Processo de Bolonha.

De acordo com a nota, no ano lectivo

em curso, 2006/07, cerca de 38 por cen-

to da oferta de 1º e 2º ciclo de estudos

(respectivamente licenciaturas e mestra-

dos) estão a ser oferecidos de acordo

com as regras introduzidas no âmbito do

Processo de Bolonha, estando previsto

que mais cerca de 50 por cento dessa

oferta seja oferecida no próximo ano lec-

tivo, de 2007-2008.

Assim, ficarão apenas cerca de 12 por

cento da oferta de 1º e 2º ciclo para adap-

tação em 2008/09.

A adequação dos programas deve ser

feita até ao final desse ano lectivo, uma

vez que em 2009/2010 todos os ciclos de

estudo devem já estar organizados de acor-

do com o processo europeu de Bolonha.

Para o Ministério de Mariano Gago,

Bolonha: quase 90% das licenciaturase mestrados adaptados em 2007/2008

“Portugal registou durante o último ano

progressos significativos na concretiza-

ção do processo de Bolonha no Ensino

Superior, mostrando hoje um desempe-

nho considerável face ao processo em

curso em toda a Europa para a moderni-

zação da oferta educativa e dos padrões

de mobilidade de estudantes no espaço

europeu”.

Em números concretos, estão actual-

mente a funcionar 820 cursos que foram

adequados a Bolonha e 282 novos cur-

sos criados especificamente no âmbito

deste programa europeu.

No próximo ano lectivo entrarão em

funcionamento mais 842 cursos adapta-

dos e 366 novos.

Feitas as contas, no próximo ano lec-

tivo, as instituições de ensino superior

terão para oferecer aos estudantes um

total de 1662 cursos “antigos” adapta-

dos a Bolonha e 648 novos cursos cria-

dos de raiz.

Contudo, os pedidos que deram entra-

da na Direcção-Geral do Ensino Superi-

or para 2006/2007 e 2007/2008 excedem

em muito os que foram autorizados e

registados por aquele organismo: 2068

pedidos para adequação e 1666 para

novos cursos.

Adicionalmente, todos os estudantes

graduados em 2007 já receberão um

Suplemento de Diploma de acordo com

as regras de Bolonha, emitido em portu-

guês e em inglês e correspondendo ao

formato europeu.

Além disso, cerca de 70 por cento dos

programas oferecidos em universidades

públicas já aplica o regime europeu de

créditos (ECTS), assim como 60 por cen-

to dos institutos politécnicos públicos.

Entre os privados, esse regime é apli-

cado por 99 por cento das universidades

e 70 por cento dos politécnicos.

A mobilização das instituições portu-

guesas e da comunidade académica na

adequação ao Processo de Bolonha foi

recentemente analisada no âmbito de um

inquérito conduzido pela Comissão de

Acompanhamento do Processo de Bo-

lonha, com o apoio da Direcção Geral

do Ensino Superior.

Este processo foi desenvolvido duran-

te o último ano na sequência da publica-

ção pelo Governo, no início de 2006, de

três diplomas que regulamentaram as

alterações à Lei de Bases do Sistema

Educativo decorrentes da aplicação do

Processo de Bolonha no sistema de en-

sino superior português.

Esses diplomas consistem no regime

jurídico dos graus e diplomas de ensino

superior, regime jurídico dos cursos de

especialização tecnológica, e regime es-

pecial de acesso ao ensino superior para

maiores de 23 anos.

Os partidos da oposição acusaram na

passada semana o Executivo de preten-

der controlar a avaliação das universi-

dades e institutos politécnicos, governa-

mentalizando a agência independente

criada para avaliar e acreditar as insti-

tuições de ensino superior.

No debate parlamentar sobre a pro-

posta de Lei do Governo relativa ao novo

regime de avaliação do ensino superior,

a oposição foi unânime nas críticas ao

ministro Mariano Gago, contestando a

composição da futura agência, cujo con-

selho geral será constituído por três mem-

bros, todos nomeados pelo Governo.

Para o deputado social-democrata Emí-

dio Guerreiro, “esta reforma mais não visa

do que controlar e asfixiar o ensino superi-

or”, através de “uma clara tentativa de go-

vernamentalização” do regime de avaliação.

“Trata-se de um sistema de governa-

mentalização que faz colapsar totalmen-

te a autonomia das instituições”, corro-

borou Fernando Rosas, do Bloco de Es-

querda, numa crítica partilhada pelas res-

tantes bancadas da oposição.

Além da estrutura e composição da

agência, os partidos criticaram ainda os

critérios que vão presidir à avaliação dos

cursos e das universidades e institutos

Executivo acusado de querer governamentalizar

avaliação do ensino superior

politécnicos, considerando “totalmente

descabidos” parâmetros como a capta-

ção de receitas próprias por parte das

instituições, a empregabilidade dos diplo-

mados ou a procura dos estudantes.

Alvo de contestação, sobretudo por

parte dos partidos à esquerda do Gover-

no, foi também a possibilidade de consti-

tuição de um ranking de instituições, pre-

visto no novo regime e baseado nos re-

sultados da avaliação externa assente

naqueles critérios.

“Cai o disfarce da qualidade e vislum-

bra-se a verdadeira intenção de estabele-

cer uma relação hierárquica entre insti-

tuições, acentuando a dita excelência de

instituições de primeira e cavando o fosso

entre estas e todas as outras para mais

facilmente depois as extinguir”, acusou o

deputado comunista Miguel Tiago.

Aos protestos, o Ministro do Ensino

Superior, Mariano Gago, respondeu com

críticas ao regime de avaliação ainda em

vigor, introduzido em 1994 pelo Gover-

no do PSD, e alegando que a proposta

de Lei em discussão segue as “boas prá-

ticas internacionais consensualmente

definidas”.

“Parece que estas práticas são miste-

riosas em Portugal mas foram adopta-

das em todos os restantes países da

União Europeia”, sustentou, consideran-

do que “a nova Lei é uma peça funda-

mental da reforma e qualificação do en-

sino superior”, tornando obrigatória a

avaliação externa das instituições e fa-

zendo depender dessa avaliação a acre-

ditação dos cursos e o financiamento.

Para o Ministro, o anterior regime pa-

decia de “dois pecados capitais”, nome-

adamente por estabelecer uma avaliação

não independente e levada a cabo por

uma comissão representativa das insti-

tuições e ainda por não se traduzir em

consequências práticas, por exemplo, ao

nível da acreditação.

Relativamente aos rankings, Mariano

Gago afirmou que a comparação de insti-

tuições ocorre há mais de dez anos ao ní-

vel dos centros públicos de investigação, o

que diz ter contribuído para “melhorias sig-

nificativas”, sendo a sua elaboração pre-

ferível à existência de “rankings secretos,

não controláveis e falsificáveis”. A proposta

de Lei do Executivo terá ainda de ser dis-

cutida em sede de especialidade e só de-

pois da sua aprovação será publicado o

decreto-lei que estabelece a criação e com-

posição da agência para a avaliação e cer-

tificação do ensino superior.

Page 15: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

15DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 SAÚDE

Mais de meio milhar de especialis-tas portugueses e estrangeiros estive-ram em Coimbra a participar num tri-plo congresso de otorrinolaringologia(ORL), que terminou ontem (terça-fei-ra), na Quinta das Lágrimas.

Assim, em simultâneo com o 54ºCongresso Nacional da SociedadePortuguesa de Otorrinolaringologia(SPORL) e Cirurgia Cérvico-Facial,decorreu do XII Congresso Luso-Es-panhol e o 4.º Congresso Luso-Brasi-leiro de ORL.

Aquele que terá sido o maior en-contro científico desta especialidadeaté hoje realizado em Portugal iniciou-se na passada sexta-feira, com um en-contro multidisciplinar. Mas abertura

TERMINOU ONTEM EM COIMBRA

Mais de 500 especialistas

em triplo Congresso de Otorrinolaringologiaoficial aconteceu no sábado, na Quin-ta das Lágrimas, em sessão que con-tou com a presença de diversas enti-dades, entre as quais responsáveis dasinstituições de saúde da região e ain-da o Reitor e a Vice-Reitora da Uni-versidade de Coimbra, que proferiuuma palestra sobre Miguel Torga (que,como se sabe, é o pseudónimo domédico Adolfo Rocha, que durantedécadas foi otorrinolaringologista emCoimbra, com consultório no Largo daPortagem).

Numa intervenção muito aplaudida,Cristina Robalo Cordeiro (que é a cu-radora da futura Casa-Museu MiguelTorga e Centro de Estudos Torguia-nos, que a autarquia de Coimbra está

a instalar na vivenda que o poeta ha-bitou durante décadas, até ao faleci-mento) fez várias referências à obraliterária de Torga, mas também alu-sões à sua forma de ser e de estar.

Nas sessões do Congresso partici-param especialistas portugueses, detodo o País, e ainda reputados nomesdesta área da Medicina de diversasnacionalidades, nomeadamente ale-mães, austríacos, brasileiros, espa-nhóis, franceses e italianos.

No final do Congresso, era a unâ-nime, entre os participantes, a opiniãode que esta reunião científica atingirainvulgar êxito.

Balanço positivo foi também feitopelo Presidente da SPORL, António

Paiva (Professor da Faculdade deMedicina e Director do Serviço deORL dos Hospitais da Universidadede Coimbra) que salientou o carácterabrangente deste grande encontro deespecialistas, o elevado nível científi-co e técnico, a troca de experiênciase de conhecimentos, a aprendizagemde novas terapias e de inovadoras for-mas de intervenção.

À margem do Congresso decorreuum variado programa social, que in-clui manifestações culturais e de la-zer e passou por diversos pontos daRegião Centro, numa demonstraçãodas grandes riquezas históricas e na-turais e das invulgares potencialida-des turísticas desta zona.

MAIO É MÊS DO CORAÇÃO

Delegação Centro da Fundação Portuguesa

de Cardiologia assinalou aniversário

A Delegação Centro da FundaçãoPortuguesa de Cardiologia assinalou oseu sétimo aniversário, nos passados dias10 e 11, com um variado programa.

De destacar as VII Jornadas Cientí-ficas, este ano subordinadas ao tema“Previna Hoje... Viva Amanhã”, quedecorreram na Escola Universitária Vas-co da Gama (Convento de S. Jorge deMilreu), e destinadas essencialmente aMédicos de Família

Isto porque, como sublinhou o o Presi-dente da Delegação Centro da FPC, Prof.Polybio Serra e Silva, a estes médicoscabe papel primordial na promoção da saú-de pela prevenção da doença, nomeada-

mente das doenças cardiovasculares.No âmbito das Jornadas foi apresen-

tado o projecto regional “Pão. Come”,em colaboração com os Serviços Regio-nais de Saúde Pública da ARS Centro.Foi ainda assinado um protocolo com oMuseu do Pão, de Seia, em que a chan-cela da Fundação “Escolha Saudável” sevai associar ao “Pão São”, que vai serlançado pelo referido Museu.

Nas Jornadas foi ainda lançado um CDinteractivo como auxiliar de rastreios.

Efectuou-se também um jantar deconvívio entre os participantes nas Jor-nadas, membros da Delegação da FPCe seus apoiantes.

Polybio Serra e Silva usando na palavra no decorrer das Jornadas

(imagens acima) e aspecto do jantar de convívio

Page 16: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

16 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007SAÚDE

Paula Beirão

Valente

Nutricionista

NUTRICIONANDO

O conceito de alimentação saudável émais complexo hoje do que no passado.Actualmente, não se trata apenas de pre-venir deficiências nutritivas, mas de esco-lher os alimentos que contribuam para umaboa saúde e evitar os que agravem os ris-cos de doença. É importante ter a noçãoque necessitamos de proteínas, hidratos decarbono e gorduras para viver; mas é igual-mente importante saber fazer as melhoresescolhas dentro daquelas categorias.

Os macronutrientes (proteínas, gordu-ras e hidratos de carbono) são a categoriabásica de nutrientes de que o organismonecessita. Produzem energia e permitem-lhe realizar as variadas funções biológicas.Uma alimentação saudável é aquela quecontém todos aqueles macronutrientes,embora não necessariamente em quanti-dades iguais.

As proteínas estão presentes sobretudoem alimentos como leite e derivados, carne,peixe e ovos, e em menor quantidade emalgumas leguminosas. São fundamentaispara quase todas as funções básicas do or-ganismo. Uma alimentação pobre em pro-teínas pode atrasar o crescimento, diminuira massa muscular, baixar as defesas do or-ganismo, enfraquecer o coração e o siste-ma respiratório e, mesmo, provocar a mor-te. Para uma alimentação saudável e, simul-taneamente, rica em proteínas, deve-se pri-vilegiar os alimentos proteicos com baixo teorde gordura saturada (a mais prejudicial),como peixe, leite desnatado, iogurte magro,feijão, lentilhas, soja, etc.

Durante muito tempo, gordura e saúdeeram termos incompatíveis. Mas hoje sabe-se que a gordura é uma das principais fon-tes de energia do organismo, participandoainda na absorção de certos nutrientes. Umaalimentação pobre em gordura não é ne-cessariamente mais saudável; a solução estána sua correcta selecção. As recomenda-ções actuais apontam no sentido do aumen-to do consumo de gorduras saudáveis. Es-tas são “boas” para o coração, reduzem orisco de hipertensão e favorecem a estabili-

zação do peso e, mesmo, a sua redução.Alimentos como carnes vermelhas, queijoscurados, óleos animais e manteigas deve-rão ser evitados, pois na sua composiçãoentram essencialmente gorduras saturadas,responsáveis pelo aumento dos níveis do“mau colesterol”, ou colesterol LDL no or-ganismo. Óleos parcialmente hidrogenados,como os casos das margarinas e de algunsprodutos cozidos e embalados (p.e. bolos ebiscoitos), são piores que as gorduras satu-radas, pois aumentam não só os níveis do

“mau colesterol”, como também diminuemos níveis do “bom colesterol”, ou colesterolHDL. As boas gorduras incluem as polin-saturadas, essenciais para as funções vitaisdo organismo. O único meio para a sua ob-tenção é através da alimentação. Tanto osácidos gordos ómega-3 (existentes no sal-mão, atum, cavala e sardinha), como osómega-6 (presentes em alguns óleos vege-tais), são bastante benéficos para a saúde.As gorduras monoinsaturadas, como o azei-te e algumas oleaginosas, são igualmentemuito saudáveis, devendo preferir-se emsubstituição das gorduras saturadas e dos

ácidos gordos hidrogenados.Os hidratos de carbono estão presentes

em alimentos como o açúcar, a batata ecereais, nomeadamente arroz e trigo. Sãoa nossa fonte primária de energia. Emborasejam essenciais na alimentação, estudosrecentes mostram que se deverá dar pre-ferência aos hidratos de carbono que pro-vêm de cereais integrais e fruta, pois osmais refinados (pão branco, batatas e ar-roz branco) provocam aumento de peso eagravam o risco de desenvolvimento de

doenças crónico-degenerativas.É sabido que as frutas e os legumes fa-

zem bem à saúde, contêm muitos micronu-trientes, como vitaminas e minerais, queapresentam um largo leque de vantagens.Uma alimentação rica em fruta e legumesajuda a diminuir o risco de hipertensão, dedoenças cardíacas e AVC, e investigaçõesrecentes mostram que também pode redu-zir o risco de cancro da garganta, boca, pul-mões, vesícula, estômago, cólon, recto,mama e próstata.

As cores fortes são a chave de selecçãodos alimentos mais saudáveis: frutos cítri-

cos, legumes vermelhos, amarelos ou ala-ranjados e leguminosas são os mais benéfi-cos para a saúde; o licopeno, existente notomate, previne o cancro da próstata; a lu-teína, presente nos legumes de cor verdeescura, ajuda a prevenir as cataratas.

È muito importante reduzir o consumo desal e produtos salgados (produtos da char-cutaria/salsicharia, alimentos enlatados, ba-tatas fritas, aperitivos…); a substituição porervas aromáticas e especiarias é uma boaalternativa para adicionar sabor e realçar acor dos alimentos.

O que nos ensina então a nova roda dosalimentos? Esta é uma representação grá-fica que tem como objectivo ajudar a esco-lher e a combinar os alimentos que devemfazer parte da alimentação diária. A suaimagem associa-se deliberadamente a umprato, para evitar a hierarquização dos ali-mentos e dar-lhes igual importância. É com-posta por sete grupos de alimentos de dife-rentes dimensões, que indicam a proporçãode peso em que cada um deve estar pre-sente na alimentação diária. Embora a águanão possua um grupo próprio, encontra-se no centro da roda por ser um consti-tuinte básico de quase todos os alimen-tos, imprescindível à vida. A cada grupocorrespondem funções e característicasnutricionais específicas, pelo que todosdevem estar presentes na alimentaçãodiária, não devendo ser trocados entresi. Mas dentro de cada grupo os alimen-tos devem ser regularmente substituídosuns pelos outros, pois são nutricionalmen-te semelhantes, assim se assegurandouma maior variedade. De uma forma sim-ples, a roda transmite as orientaçõespara uma alimentação saudável, ou seja,para uma alimentação completa (comeralimentos de todos os grupos e beberágua diariamente), equilibrada (comermaior quantidade de alimentos perten-centes aos grupos de maior dimensão evice-versa) e variada (variar os alimen-tos dentro de cada grupo), semanalmen-te e sazonalmente.

Em suma, seguir as recomendações danova roda dos alimentos e praticar activida-de física moderada e regular é fundamentalpara uma vida saudável.

Para uma alimentação saudável

[email protected]

Alimentação deficiente prejudica rendimento escolarCrianças que se alimentam mal ao

pequeno-almoço e nas refeições inter-médias têm pior rendimento escolar, aler-tou a nutricionista Helena Cid, que apontaos pais de classes sociais mais favoreci-das como os que mais erram na alimen-tação dos filhos.

É precisamente para combater estarealidade, promovendo hábitos alimenta-res saudáveis, que incluem as várias re-feições do dia, e incentivando as crian-ças a adoptá-los como forma de melho-

rar o seu rendimento escolar, que se ini-ciou, na passada semana, em escolas deCoimbra, a segunda edição do ProjectoBom Dia.

Helena Cid sublinha que está compro-vada a baixa de rendimento escolar, eaté nas brincadeiras, quando não há umaalimentação equilibrada diária, porque aescassez de determinados nutrientes pre-judica o desenvolvimento físico e cogni-tivo das crianças.

“O combustível do cérebro é o açú-

car, pelo que é fundamental as criançascomerem diariamente pão, um alimentocom açúcar de absorção lenta que per-mite ter sempre energia, contrariamentea um bolo que tem elevados níveis desacarose e que facilmente se converteem gordura”, exemplifica.

Segundo a especialista, os pequenos-almoços fracos ou à base de cereais car-regados de açúcar, bem como as refei-ções ligeiras constituídas por alimentosgordos, doces e pouco nutritivos são um

“problema real” que se verifica maiori-tariamente em crianças oriundas de fa-mílias com melhor nível económico e in-telectual.

A nutricionista sublinha ainda a impor-tância de comer fruta, sobretudo ao pe-queno-almoço, por ser um anti-oxidante.

“Como em Portugal não temos o hábitode comer fruta ao pequeno-almoço, deve-se comer uma peça pelo menos a meio damanhã”, recomenda, lembrando ainda aimportância de beber bastante água.

Page 17: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

17DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 SAÚDE

Massano

Cardoso

A mulher do chapéu-de-chuva

Volta e não volta sou confrontado com

pedidos de ajuda por parte de algumas

pessoas que se sentem prejudicadas pe-

las radiações electromagnéticas. As ra-

zões prendem-se com pareceres que já

tive oportunidade de elaborar e, até, de

um projecto de resolução apresentado

sobre o assunto na anterior legislatura.

Os efeitos na saúde têm sido ob-

jecto de vários relatórios, uns apontando

para efeitos perniciosos, outros nem por

isso. De qualquer modo existe evidência

de algum perigo, nomeadamente nas cri-

anças, caso de um ligeiro risco acresci-

do de certas formas de leucemia, por

exemplo.

A polémica tem os seus altos e

baixos. Veja-se o caso recente de terem

sido apontadas como responsáveis pelo

estranho desaparecimento das abelhas

com consequências ecológicas difíceis de

quantificar.

Perante esta situação, as atitudes das

pessoas poderão classificar-se em qua-

tro grupos: as que não manifestam qual-

quer interesse ou preocupação, as que

tentam estudar o problema e contribuir

para a minimização de eventuais impac-

tos, as que negam quaisquer efeitos ne-

gativos e um quarto grupo que, embora

pequeno, apresenta manifestações com-

portamentais muito sérias.

A propósito das radiações, e de cer-

tos comportamentos, recordei-me de um

episódio ocorrido há muitos anos.

Nos meus tempos de estudante o local

de trabalho favorito eram os cafés. O meu

café de estudo preferido era o Café So-

fia, situado na rua com o mesmo nome.

Rua central e muito movimentada. Com

o tempo acabámos por conhecer muitas

pessoas. Uma delas era uma senhora de

idade, baixa, meio-obesa, não arranjada,

cabelos desgrenhados e que usava inva-

riavelmente um chapéu de chuva fizesse

chuva, fizesse sol, fosse dia ou fosse noi-

te. Ao princípio, justifiquei o seu compor-

tamento com algum tipo de cuidado espe-

cial, mas, rapidamente, concluí que a se-

nhora não era boa da cabeça. Não inco-

modava ninguém. Tinha os seus hábitos e

um horário certinho, acabando por entrar

na sua habitação, instalada num dos ve-

lhos colégios da rua, através de umas es-

cadas escuras e íngremes. Era conheci-

da pela “mulher do chapéu”. Ninguém

sabia o seu nome nem nunca lhe tinham

ouvido a sua voz.

Passados uns anos, e na qualidade de

jovem médico interno, encontrava-me no

serviço de urgência dos velhos HUC. A

primeira sala, verdadeira sala de choque,

era reservada aos mais novos, os quais

tinham que fazer a triagem. A noite já ia

um pouco avançada, quando de repente

entra a “mulher de chapéu” muito agita-

da e ofegante. Conheci-a de imediato.

Olhando para o seu estado pensei que

poderia estar perante um problema respi-

ratório ou cardíaco grave e comecei a in-

terrogá-la nesse sentido. Perguntei-lhe se

tinha falta de ar ou dores no peito. Res-

pondeu-me que não. – Mas o que é que a

senhora sente? Olhava para todos os la-

dos com um ar muito ansioso mas não

respondia. Repeti-lhe mais do que uma

vez a pergunta, tentando chamar a aten-

ção, até que me disse, muito baixinho:

– São os russos!

– São o quê?!

– São os russos, senhor doutor! An-

dam atrás de mim e lançam radiações

sobre a minha cabeça. Querem matar-

me! Mas eu protejo-me.

– Mas como é que a senhora se pro-

tege?

– Com o meu chapéu, claro!

Foi então que comecei a deslindar o

mistério do chapéu de chuva.

– A senhora usa sempre o chapéu de

chuva?

– Claro!

– Mas em casa não o usa, pois não?

– Uso pois! Então não sabe que os

russos vivem por cima de mim?

– Mas a senhora não traz o chapéu!

– Pois não, roubaram-mo, e foram os

russos!

Neste ponto a agitação acentuou-se

e o delírio tornou-se mais do que evi-

dente, o que me levou a chamar o psi-

quiatra de serviço que, muito contrafei-

to e com a arrogância típica de um sé-

nior incomodado por um novato, lá a

levou para a última sala, a do fundo, a

da psiquiatria, onde a examinou e fez a

terapêutica injectável apropriada à si-

tuação. Passado alguma tempo, ao sair,

sem abrandar o passo, e sem me olhar,

disse-me entre os dentes que a senhora

ia dormir umas horas e depois poderia

ir para casa. A minha vontade foi man-

dá-lo à outra banda.

Pela madrugada, felizmente calma, com

os colegas a dormirem em posições mui-

to pouco ortodoxas, encontrava-me na sala

de entrada, reclinado numa cadeira, sem

dormir, porque se dormisse durante a noi-

te, ao acordar sentia um embrutecimento

mental que me impedia de raciocinar.

Assim, preferia não dormir e manter uma

lucidez suficiente, evitando fazer asneiras.

Eis que, subitamente, me aparece a “mu-

lher do chapéu” visivelmente mais calma

a olhar para mim.

– Então, está melhor? Vai para casa?

A senhora olhava para a porta, espe-

cada e disse-me:

– Eu ia, mas...

Foi então que tive uma ideia. Como

tinha o carro estacionado muito perto da

entrada das urgências, levantei-me e fui

buscar um chapéu de chuva que guarda-

va sempre no porta-bagagens. Em me-

nos de um minuto ofereci-lhe o meu cha-

péu. Os olhos dela riram-se e comentou:

– Agora sim, estou salva, posso ir para

casa. Os malditos russos já não me po-

dem fazer mal!

E foi-se embora.

Durante algum tempo, e apesar de já

não frequentar o meu café de estudante,

ainda tive oportunidade de a ver, algu-

mas vezes, na rua da Sofia com o meu

chapéu de chuva.

A Rede Europeia de Serviços de Saúde

sem Tabaco distinguiu, na passada semana,

os Hospitais da Universidade de Coimbra

(HUC) com o diploma de Nível Prata pelo

combate ao consumo de cigarros pelos seus

funcionários.

O director clínico dos HUC, João Pedro-

so de Lima, disse à agência Lusa que “vári-

os trabalhadores” da instituição consegui-

ram libertar-se daquele vício desde que a

unidade hospitalar iniciou, em Março de

2006, o projecto “HUC sem Tabaco”.

A European Network of Smoke-free

Hospitals (ENSH), que integra delegações

HUC sem tabaco e com pratade 25 países da União Europeia, entregou

aos HUC o diploma Nível Prata “como re-

conhecimento pelo patamar de desenvolvi-

mento do projecto já conseguido”.

Nos HUC, segundo João Pedroso de

Lima, “há pessoas que ainda fumam, mas

sente-se mais inibição no consumo e mais

motivação para deixarem de fumar”.

Em geral, acrescentou, “há uma vontade

muito grande de que têm de fazer alguma

coisa para fumar noutros sítios”, fora dos

espaços hospitalares, e de preferência para

que abandonem o vício.

Pedroso de Lima acentuou, no entanto,

que os trabalhadores “são livres de o fazer,

desde que não prejudiquem os outros”, ca-

bendo aos HUC fazer avançar o projecto

anti-tabágico de “forma progressiva”.

“Temos consciência de que vai durar

muito tempo”, confessou, admitindo que, em

breve, a administração poderá aplicar as

medidas punitivas previstas na lei.

Os Hospitais da Universidade de Coim-

bra empregam 5.000 pessoas, entre pes-

soal médico e de enfermagem, circulando

nos seus edifícios uma média de 15 mil in-

divíduos por dia.

“Os direitos dos não fumadores têm que

ser prevalecentes” sobre os dependentes

desse vício e nos HUC, um ano depois, “já

é raríssimo haver médicos que fumem em

frente aos doentes”.

Page 18: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

18 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007A PÁGINA DO MÁRIOwww.apaginadomario.blogspot.com

[email protected]

Mário Martins

DIA DA EUROPA

Hoje é o “Dia da Europa”.

Assinalo a data com uma simples homenagem a uma jovem muito especial

– a minha filha.

Nos últimos quatro anos tem viajado pela Europa, de norte a sul e de leste a

oeste, desempenhando as funções para as quais foi eleita: primeiro como vice-

presidente, agora como presidente dos Estudantes Democratas Europeus.

Ao mesmo tempo, estudou um ano em Itália, concluiu o curso de Direito e

acaba de terminar a 1.ª fase do estágio em advocacia.

Como é evidente, tenho muito orgulho nela e naquilo que tem realizado.

Parabéns, filhota!

(publicado em 9 de Maio)

AINDA A EUROPA...

Ontem, quando publiquei o “post”

anterior, ainda não sabia dos factos

que agora divulgo – e faço-o porque

julgo que isso é especialmente apro-

priado.

Assim, a protagonista do “post” an-

terior vai hoje para Lisboa, amanhã,

sábado e domingo estará em Esto-

colmo, na segunda e na terça-feira

em Bruxelas, virá a Coimbra na quar-

ta e na quinta-feira e estará em Ma-

drid na sexta, sábado e domingo.

Ou seja: nos próximos 10 dias, an-

dará em oito pela Europa fora, com

actividades em três países diferentes.

Felicidades!Boa(s) viagem(ens)! (publicado em 10 de Maio)

DOIS “RECORTES”PARA UM “CANUDO”

Diário de Notícias, 3 de Maio Diário As Beiras, 9 de Maio

COVA DA IRIA

A Comunicação Social afirma hoje

que esta é a maior peregrinação depois

das que tiveram João Paulo II como prin-

cipal protagonista.

Estive com o anterior Papa em 1982,

em 1991 e em 2000. E sempre em re-

presentação de órgãos de comunicação

social diferentes: “Notícias da Tarde”

(1982), “Jornal de Notícias” (1991) e

“Diário de Coimbra” (2000).

A reportagem que nunca sairá da me-

mória foi a de 1991: fomos para Fátima

no início de Maio, instalámo-nos num ho-

tel ainda por inaugurar e por lá ficámos

até ao dia 13. Dada a escassez de aloja-

mento, chegámos a ser oito ou nove jor-

nalistas no mesmo quarto.

A extensão da reportagem, por outro

lado, levou-nos a ouvir personagens tão

diferentes como... a santinha da Ladei-

ra. Inesquecível!

(publicado em 13 de Maio)

PORTUGAL, SÉCULO XXI

Estou a acompanhar a Taça do Mun-

do de Triatlo na RTP1.

Vanessa segue na frente.

A prova é um cartaz turístico de gran-

de qualidade.

O Parque das Nações, à beira Tejo,

proporciona imagens espectaculares!

(Aditamento às 12h11: A Vanessa ga-

nhou, num Pavilhão Atlântico arrepian-

te! Emocionei-me – e muito.)

(publicado em 6 de Maio)

O “SR. APPLE”

Pedro Aniceto, o “senhor Apple” em

Portugal, esteve hoje em Coimbra para

apresentar/explicar o “Keynote”, progra-

ma de apresentações dos utilizadores da

maçã.

Foi uma manhã bem passada.

Obrigado, Pedro.

(Quem utiliza o “Power Point” nem

imagina aquilo de que o “Keynote” é

capaz...)

(publicado em 5 de Maio)

ASSIM, SIM!

A SIC acaba de transmitir uma repor-

tagem sobre a vida de Nelly Furtado.

Durante 45 minutos, no “Jornal da

Noite”.

Brilhante!(publicado em 4 de Maio)

ATÉ O MINISTRO!...

Hoje de manhã, numa reunião com

autarcas e empresários, em Alcobaça, o

ministro Mário Lino (na foto) afirmou ser

“licenciado em engenharia civil”.

“Inscrito na Ordem dos Engenheiros”,

acrescentou.

A sala explodiu em gargalhadas.

(publicado em 4 de Maio)

TRIGO LIMPO, FARINHA AMPARO

Quando era miúdo, usava-se muito esta

expressão.

“Trigo limpo, Farinha Amparo” era sinó-

nimo de “é clarinho como a água”. Isto é,

usava-se quando algo era indiscutível.

Lembrei-me da frase ao ler o último arti-

go de José António Lima no “Sol” de sába-

do, 28 de Abril.

Trago aqui a parte final…

“O que se estranha é que aqueles, como

o Bloco de Esquerda, que reclamam demis-

sões e eleições em Lisboa, não apliquem

essa regra de exigência a si próprios e ao

caso de Salvaterra de Magos. Ou que o PS,

tão crítico e rigoroso em princípios na Câ-

mara da capital, seja o último sustentáculo

partidário da manutenção de Isaltino Mo-

rais em Oeiras. O qual não é apenas argui-

do mas já acusado de três crimes de cor-

rupção passiva, além de participação eco-

nómica em negócio, branqueamento de ca-

pitais e abuso de poder. O actual responsá-

vel do PS em Oeiras e bengala de Isaltino,

Emanuel Martins, escolhido para a lista elei-

toral socialista por Jorge Coelho, diz que

acusação de Isaltino “é um problema que

diz respeito a ele, é uma questão da vida

privada”. Ficamos esclarecidos”.(publicado em 3 de Maio)

Page 19: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

19DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 TELEVISÃO

ERC VAI AVALIAR

O PLURALISMO

POLÍTICO-PARTIDÁRIO

NA RTP

O Conselho Regulador da ERC (Enti-dade Reguladora para a ComunicaçãoSocial) apresentou ao Ministro dos As-suntos Parlamentares, como representan-te do Governo, as regras que vai adoptarna avaliação do cumprimento das obriga-ções do operador público quanto ao plu-ralismo político-partidário, na sequência deidêntica apresentação aos partidos comrepresentação parlamentar.

A avaliação baseia-se na monitoriza-ção sistemática da informação emitidapela RTP1, RTP 2 e RTP-N, abrangendotambém os programas de informação nãodiária. Segundo a ERC, as regras visam“verificar de forma rigorosa e sistemáti-ca, através do número e natureza das pe-ças emitidas tendo como protagonistas o Go-verno e os Partidos Políticos, se existe tra-tamento equitativo e plural nos espaços in-formativos do serviço público de televisão”.

Entretanto, Manuel Pinto, docente deCiências da Comunicação na Universida-de do Minho, veio chamar a atenção parao facto de ser “problemática a quantifica-ção apresentada. Em si mesma, parece-me equilibrada a distribuição. No entanto,não se percebe bem como é que essesvalores quantitativos irão incorporar os as-pectos qualitativos e, em qualquer caso,não poderão deixar de ter um valor infor-mativo, indicativo ou referencial. E istoporque não se está a ver muito bem comoé que os editores dos canais monitoriza-dos se vão pôr, na apreciação jornalísticada actualidade, a verificar se uma deter-minada cobertura não sairá fora da quotajá atingida. Ou, ao contrário, a hipervalo-rizar um dado assunto ou um dado partidoapenas ou sobretudo para cumprir a quo-ta ou dela se aproximar.”

Mais umas quantas dúvidas e críticassaídas nos jornais e eis que Estrela Serra-no, membro do Conselho Regulador daERC, dá a conhecer um esclarecimentoem nota enviada ao blog “Jornalismo eComunicação”: “É completamente abu-sivo e pouco rigoroso afirmar, como se lêhoje em alguma imprensa, que o Governoe o PS vão ter 50% do tempo de informa-

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco Amaral

[email protected]

ção da RTP e a Oposição parlamentar 48%e extra-parlamentar 2%”... “De facto” -acrescenta a nota – “a ‘pequena’ nuanceé que esta avaliação incide apenas sobreas peças em que os partidos e o Governosurjam como protagonistas. E não sobretoda a informação emitida pela RTP.”

Estrela Serrano faz notar, por outrolado, que “o operador de serviço públicomantém a sua liberdade editorial, uma vezque a avaliação se faz à posteriori e numtempo alargado”. “Isso contempla, natu-ralmente” - prossegue a nota – “o factode a actualidade poder determinar queuma força política/partidária possa, em de-terminados momentos, obter uma cober-tura de maior expressão”.

Esclarece ainda que, “semestralmen-te, a ERC publicará os resultados dessaavaliação indicando, por um lado, os valo-res percentuais obtidos por cada forçapolítica e pelo Governo e, por outro, a aná-lise qualitativa desses dados. Significa issoque os dados quantitativos são sempre re-lacionados com os qualitativos”.

Estrela Serrano refere, a terminar:“Compreendem-se as reacções vindas

a público uma vez que é a primeira vezque em Portugal se utilizam critérios e me-todologias testadas no campo universitá-rio das ciências da comunicação e da so-ciologia da comunicação que enriquecemuma regulação até agora apenas baseadana interpretação casuística dos preceitoslegais ou no subjectivismo do regulador.As críticas são sempre muito úteis e estetexto não pretende mais que contribuir paraque a discussão seja informada e não ba-seada em notícias pouco rigorosas”.

Não devo esconder a admiração (e res-peito) que tenho pela Doutora Estrela Ser-rano, minha antiga sub-directora na RDP,mas não posso também esconder a mi-nha perplexidade perante estas afirma-ções. Não é pacífica a afirmação de quea “avaliação incide apenas sobre as pe-ças em que os partidos e o Governo sur-jam como protagonistas. E não sobre todaa informação emitida pela RTP.” A reali-dade do quotidiano informativo mostrauma série de meta-acontecimentos que secriam precisamente para esconder os in-teresses partidários ou de poderes instituí-dos. Perante esta metodologia, onde searrumam, por exemplo, os assuntos autár-quicos, com a sua enorme capacidade dese dissimular das mais diversas formas?

“O operador de serviço público man-tém a sua liberdade editorial, uma vez quea avaliação se faz à posteriori e num tem-po alargado.” E isto não será o suficientepara condicionar os responsáveis pelaescolha das notícias? Começar a pensarem critérios de noticiabilidade em funçãode percentagens é, no mínimo, bizarro.

Finalmente, “... é a primeira vez queem Portugal se utilizam critérios e meto-dologias testadas no campo universitáriodas ciências da comunicação e da socio-logia da comunicação...”. Esta necessi-dade de legitimar o exposto com o “cam-po universitário”, em Portugal, e precisa-mente na área da Comunicação, parece-me ser um argumento muito pouco con-sistente. É que salvo raras excepções (e

Estrela Serrano até é uma delas ...), amaioria da investigação em Ciências daComunicação feita em Portugal é da res-ponsabilidade de académicos sem qual-quer experiência no meio, suficientemen-te desconhecedores dos processos de pro-dução, mas muito eficientes na produçãode estatísticas.

Para mim é surpreendente observarcomo se procura explicar quase tudo comestatísticas, num meio que está em per-manente construção e consequente alte-ração, sendo aqui, muito mais do que nou-tras áreas, absolutamente impossível irmais além do que as simples amostragens.A Comunicação Social vive, nos anos maisrecentes, numa tal interdependência comuma infinidade de factores, que contabili-zar os números ou as posições nos ali-nhamentos é uma mistificação que surge,esta sim, para legitimar alguns estudosuniversitários.

PRÓS E CONTRAS

Um exemplo flagrante de como esteprocesso das percentagens, em Comuni-cação Social, e em particular em Televi-são, é arriscado, revelou-se com o resul-tado da queixa apresentada à ERC peloPSD a propósito do programa da RTP-1“Prós e Contras”. O motivo da queixavem de Novembro de 2006, na sequênciado programa sobre o Orçamento de Es-tado para 2007 e em vésperas do debate

parlamentar sobre a matéria. As posiçõesdo Governo foram defendidas pelo pró-prio ministro das Finanças, Fernando Tei-xeira dos Santos, e pelo ex-titular daquelapasta no Governo de Guterres, DanielBessa. O contraponto foi feito por Henri-que Medina Carreira (também este ex-ministro no governo PS, de Mário Soa-res) e Octávio Teixeira (economista e ex-deputado do PCP). Miguel Macedo, de-putado do PSD, aproveitou o exemplo dopainel de convidados neste programa paraalegar que os critérios de escolha foram“bem elucidativos do tratamento discrimi-natório de que o PSD tem sido alvo” porparte da RTP, desde que o actual Execu-tivo tomou posse.

A verdade é que a ERC analisou umrelatório da RTP sobre os 145 programasque foram para o ar desde 2002, com oGoverno PSD/CDS de Durão Barroso,Santana Lopes e durante o Executivo de

José Sócrates, e a surpresa foi grande. Éque se concluiu que é o PSD “o partidocom maior percentagem de representan-tes em palco” naquele programa, totali-zando 101 participantes (38,8%).

No entanto, e porque houve um votocontra e uma abstenção, com as respec-tivas declarações de voto, ficámos a sa-ber que o “Prós e Contras” está na de-pendência da Direcção de Programas enão na de Informação, o que só pode serexplicado por alguma inércia e rotina ain-da presentes na RTP. É bom recordar queo “Prós e Contras” é uma herança, devi-damente remodelada, deixada por EmídioRangel. Na sua passagem pela RTP, crioueste programa que, no seu início, era fun-damentalmente uma espécie de “peixei-rada moderada” pela estridente Júlia Pi-nheiro. Ora enquanto Rangel anda a ven-der ideias para a criação de televisão pri-vada na sua Angola natal, o certo é que oseu “velho” produto, mesmo pacificado,mantém-se polémico.

Gonçalves da Silva, o conselheiro quevotou contra, criticou a metodologia usa-da pela ERC, ao ter adoptado uma “me-todologia analítica” assente “essencial-mente em elementos quantitativos”. Oconselheiro pôs em causa a avaliação feitaaos 145 programas entre Março de 2002e 15 de Janeiro de 2007, na qual “os doisexecutivos PSD/CDS tiveram 22 mem-bros presentes, enquanto o actual teve 20”,sem que fossem tidos em conta outros

dados, como por exemplo os temas deba-tidos de forma a identificar-se a relevân-cia da presença governamental.

O PCP também já mostrou o seu de-sagrado, tendo mesmo havido uma mani-festação de militantes daquela partido àporta da Casa do Artista (onde é realiza-do) enquanto decorria a transmissão doprograma da semana passada.

Há duas conclusões a tirar. Quando nopoder, nunca (ou muito raramente) os par-tidos questionam o pluralismo da RTP. Nopoder, ou fora dele, preocupam-se poucocom a ausência de debate na estação pú-blica de televisão. Se assim não fosse, se-guramente que estariam menos preocu-pados com os lugares a ocupar no “Próse Contras”. De facto, se houvesse maisespaço para o debate (já agora em horasaceitáveis) na RTP, duvido que todos seprecipitassem tão vorazmente sobre aque-le reduto das segundas à noite.

Page 20: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

20 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007OPINIÃO

Jorge Côrte Real *

ASTROLOGIA – A LUA

* Jurista

(II)

Carta Astrológica de Portugal

Saber que signo ocupa Lua na altu-ra em que nascemos, é fundamentalpara sabermos de que forma e comonos emocionamos, ou somos impeli-dos geneticamente a fazê-lo. Assim e muito resumi-damente.

Quem nasce com Luanos primeiros 30º da eclíti-ca, ou zona de Aires, se-gundo as estatísticas, tantochora como ri, humor quen-te e rápido, não manda re-cado, diz de frente, é muitoousado, fala o que pensa.Adora desafios.

Quem nasce com lua nossegundos 30º, em ou na zonade Touro, é calmo e ponde-rado. Uma vez decidido, nãovolta atrás. Aprecia o con-forto e os prazeres da vida,necessidade de ser estimu-lado por amigos leais e em-preendedores. É possessivoe carece de segurança ma-terial e afectiva.

Se for Gémeos o signolunar, gosta de falar e deescrever acerca das suasemoções, com amigos e vi-zinhos. Valoriza os contac-tos sociais, com pessoas in-telectuais e inteligentes.Tende a racionalizar asemoções e raramente iden-tifica o que sente.

Se for em Câncer, é mui-to emotiva e sensível, melindrando-secom facilidade com a opinião alheiasobre si. Estabelece laços fortes coma mãe e a família. Absoluta necessi-dade de se sentir em casa e no lar ede um modo geral protegida.

Se for em Leão é emocionalmentevaidosa e orgulhosa e sente necessi-dade constante de admiração, reconhe-cimento e valorização pessoal. Emo-ções fortes que influenciam os que arodeiam. Líder emocional, romanesca,atraente, encantadora e sedutora, só serende a quem considere superior emqualquer domínio. Orgulho nos filhos ena escolha das diversões.

Se em Virgem, é extremamente cri-tica exigente e reservada. Demons-tra as suas emoções através dos ser-viços que adora prestar. Emocional-mente organizada não se deixa desvi-ar das suas rotinas que constituem abase da sua segurança emocional.

Em Balança, admira a arte, o belo,o requinte, desprezando a vulgarida-de, a rudeza, e os baixos sentimentos.

Valoriza a harmonia, a paz, e o equilí-brio que fazem dele um juiz imparcialporque não deixa que a emoção influ-encie a razão. Valoriza o casamentoe as associações.

Em Escorpião, emoções fortes e du-radouras. Seja bom ou mau, o que lhefizerem, é retribuído, depois de corri-gido e aumentado. Muito leal, se feri-do, pode ser cruel e vingativo ou indi-

ferente. Valoriza os prazeres sensu-ais. Pode assumir reacções emocio-nais devastadoras. Gosta de dominaremocionalmente e sem reservas.

Em Sagitário, emoções positivas eoptimistas, gosto pela liberdade emo-cional, posições definidas de forma fo-gosa, mas sem ressentimentos. Senti-do de oportunidade e conveniência so-ciais. Valoriza as viagens.

Em Capricórnio, emoções contidas,cautelosas e reservadas. Detesta avulnerabilidade emocional. Impõe-sepelo respeito. Emocionalmente ambi-cioso, quer saber tudo o que sentempor ele de forma exaustiva e minucio-sa. Quando quer transmitir amor a al-guém, fá-lo por escritos, ou ofertasmateriais conseguidas pelo seu esfor-ço. Valoriza a posição social.

Em Aquário, é emocionalmente in-dependente, livre e imprevisível. Nãodepende nem quer depender emocio-nalmente de ninguém. Valoriza os ami-gos e todos aqueles que gostam deles.

Em Peixes, é emocionalmente mui-

to sensível, sente o que sentem aque-les que o rodeiam. Romântico, vulne-rável e frágil, é tímido, delicado e bon-doso. Espírito de sacrifício. Valorizaaqueles que se sacrificam por eles.

O dia da Lua é a segunda-feira.Para os espanhóis (Lunes), os fran-ceses (Lundi) os ingleses (Monday),e os alemães (Montag) usam deriva-dos da palavra lua, na língua respecti-

va, para designar a segunda-feira.O metal associado, é a prata, (Luar

de prata).Na antiguidade, Maria, em hebrai-

co significa, senhora da luz. Mariatambém Virgem Maria tão querida aosTemplários que a representavam qua-se sempre curvada lembrando umquarto crescente ou figurativamenteerecta sobre uma lua em forma dequarto, com as pontas viradas paracima. Maria, Virgem, Mulher, Lua,Feminino, Emoções, Protecção, Agua(doce), Espada, Milagre, Contempla-ção, Alimento, Lar, Casa, Branco, Con-forto e Paz, são conceitos indissociá-veis e historicamente relacionados.

A Lua simboliza a luz da reflexão.A luz indirecta, a luz misteriosa.

Os ângulos que a Lua forma com oSol, na carta astrológica do indivíduo,são os mais minuciosamente estuda-dos da estatística que serve de fun-damento á astrologia científica. Des-te modo, sabemos que aqueles quenascem com ambos os astros em as-

pecto favorável (60º e 120º), expres-sam facilmente os seus sentimentos,usufruem de boa comunicação com osoutros, especialmente os do sexooposto, e exibem uma vitalidade cons-tante. Se em aspecto difícil (90ºe180º), o individuo sente dificuldade emexpressar sentimentos, cala-se, espe-ra, e quando o faz é tardiamente, e oude forma abrupta e rude, especialmen-

te com o sexo oposto. Exi-bem frequentes quebras devitalidade ao longo do mêsconsiderado. Isto sucedeporque o Sol representao”eu masculino” que há emnós. A Lua representa o “eufeminino”, emocional e sen-timental. E nós somos o re-sultado destas interacções.Não é por acaso que umafatia considerável dos casa-mentos ocorre quando o Soldo homem, está no mesmosigno com uma orbe de maisou menos 10º, da posição daLua no horóscopo da mulher.

A Lua interage com o nos-so Sol e com os demais as-tros, mas também com osdaqueles que entram emcontacto connosco. E isto émuito importante, porqueexplica indubitavelmenteaquela sensação que todosnós já experimentámos denão simpatizar inexplicavel-mente com alguém ou o in-verso, não sabermos porquegostamos tanto de determi-nada companhia, quando re-conhecemos intelectualmen-te ser exagerado o tempoque lhe concedemos. São asdesignadas ligações lunares.

Está estatisticamente demonstradoque quando conhecemos alguém coma Lua conjunta ou em aspecto favo-rável com a nossa, não é difícil nas-cer uma amizade e uma cumplicidadesentimental consequência da identida-de das emoções de ambos.

Finalmente, é pela Lua que ajuda-mos o próximo, sem esperar agradeci-mentos ou reconhecimentos. Que nosintegramos em escolas cujo lema é:“Dar de si antes de pensar em si”,como sucede nos movimentos: Rotary,Lyons, Quiwanis, e em quase todas asFraternidades. É com a nossa Lua queassumimos actos heróicos. É aindacom a Lua que temos e criamos osnossos filhos que garantem a sobrevi-vência da espécie humana, sem delesesperarmos qualquer retribuição.

A quem age com a Lua o povo dizque o faz com o coração.

E do coração me despeço com umaté breve para conhecermos Mercúrio.

Abraço a todos.

(Continuação da anterior edição)

Page 21: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

21DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 OPINIÃO

Renato Ávila

É bom falar de democracia. Melhor,senti-la. Vivê-la.

Há muita gente com ela nos lábios.Nem todos a vivem. Muito poucos asentem, a têm na alma.

A maioria entende a democraciacomo sinónimo de direitos. Mal a com-preendem quando e rata de deveres.

Muitos acham que a democracia éum dado adquirido, um bem congéni-to, um atributo implícito no banal fun-cionamento da sociedade. Jamais en-tendem que se conquista, que se de-fende, que se aperfeiçoa. Muito me-nos dispostos estarão a dar um con-tributo mínimo nesse sentido.

Criou-se mesmo um certo e redu-tor senso comum de que a democra-cia é uma questão para os políticos Aosimples cidadão caberá tão somentecumprir as leis e pagar os impostos.

Esta tibieza, esta distorcida concep-ção de democracia parece ter-se ins-talado na sociedade portuguesa.

Certamente cómoda para alguns, osque dela se servem. Preocupante, semdúvida, para os que genuína, devotadae desinteressadamente a prosseguem.

Viver a democraciaDemocracia, é, também e sobretu-

do, participação. Quando o cidadãonão intervém por desmotivação ouporque lhe é vedado ou dificultadoesse direito, a democracia adoece,enfraquece tornando-se presa fácildos que a manipulam, a subvertem.

E é desse débito participativo que,no nosso modesto entender, enfermaa nossa comunidade.

Uns, por comodismo, outros por re-ceio, alguns por ignorância e carên-cia de formação cívica, muita gentese alheia, se recusa a participar navida associativa, na vida partidária,nos eventos políticos, associativos esócio-culturais.

Esta pobreza facilita os planos demuitos que da democracia têm umavisão egoisticamente restritiva e inte-resseiramente pragmática, pois quesabem de antemão que a militância cí-vica não será suficientemente forte eesclarecida para os denunciar e com-bater e que o absentismo dos capazeslhes facilitará o caminho.

É por demais conhecida as dificul-dades de constituição de listas quan-do se trata de eleições nas nossasagremiações culturais e profissionais.Sente-se um débito de participação navida social.

Quando se trata de intervir na vidapolítica a situação assume especialgravidade.

Passados os confusos e generososfervores da revolução de Abril, espe-rava-se que, especialmente, as orga-nizações partidárias tomassem a pei-to a acção pedagógica que se impu-nha numa sociedade renascida dumalonga e tenebrosa ditadura. Espera-va-se que os governos delas emergen-tes empreendessem a nível escolar edos media uma vigorosa e consisten-te campanha de educação cívica doscidadãos.

Esperava-se que, no seu seio, os par-tidos se tornassem em alfobres de es-clarecidos e entusiastas dinamizadoresduma moribunda sociedade civil, capa-zes de galvanizá-la à participação.

Ao invés, os partidos fecharam-se cri-ando mecanismos selectivos de segre-gação e de reserva. Em vez de assem-bleias e escolas cívicas tornaram-se emmáquinas de manipulação do poder.

Hoje, os governos constituídos noseu âmbito não actuam segundo a von-tade do povo mas segundo um poderderivante tendenciosamente distorci-do em função dos interesses das clas-ses dominantes.

Afloram todos os dias fenómenos

de perversão e abuso de poder, de cor-rupção, de injustiça social, de esva-ziamento das competências do estadosoberano e democrático dos quais ospartidos são frequentemente correspon-sáveis. Surgem inopinadamente intrigan-tes manifestações de grupos fascizan-tes. Perpassa una espécie de pré-teo-ria apologista da democracia directa.

Entendemos que há perigos na es-teira da democracia representativa epartidária. Os partidos não podem con-tinuar com a cabeça na areia a igno-rar a necessidade de reformularem, dedemocratizarem os seus métodos defuncionamento e intervenção, privile-giando a abertura e a participaçãoface à perversidade dos mecanismosde reserva do poder, a competênciaface à subserviência, a transparênciaface ao hermetismo, a democraticida-de face à autocracia e à ilegítimapressão dos grupos de interesses.

O que aqui se consigna não temqualquer intenção moralista como,agora, alguns dos instalados entendemas reflexões dos cidadãos.

Trata-se, isso sim, de um alerta, daspreocupações de quem, dia a dia, vêmaltratar, vê definhar esse bem ines-timável que os capitães de Abril nosrestituíram.

Casamentos “gay”

e Centenário

da República Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

A avaliar pela notícia publicada noDN, de 30 de Abril, sob o título: “Casa-

mentos ‘gay’ para celebrar a Repú-

blica”, sobre o pré-programa para ce-lebração do centenário da República ela-borado por um grupo presidido pelo Pro-fessor Vital Moreira, este ilustre cons-titucionalista aparentemente não perce-beu que o casamento entre homosse-xuais não interessa unicamente aos ho-mossexuais, mas sim a toda a comuni-dade, por mudar a natureza de um con-trato em vigor, o casamento, que na suaessência é, fundamentalmente, um con-trato entre pessoas de sexos diferentes.

Convém que a legislação se adapteà evolução dos costumes e, possivel-mente, é a altura dos deputados portu-gueses começarem a pensar na cria-ção de um pacto entre pessoas de se-xos diferentes ou do mesmo sexo, quequeiram viver em comum e queiram terum estatuto reconhecido pela socieda-de, como é o caso, em França, dosPACSs, registados nas Mairies.

Se deputados partidários do casa-

António BrotasProfessor CatedráticoJubilado do InstitutoSuperior Técnico

mento de homossexuais não se satisfi-zerem com este tipo de contrato, po-derão sempre propor na Assembleia daRepública que se realize um referendosobre o assunto. Têm toda a legitimi-dade para o fazer, sobretudo se tive-

rem indicado este seu propósito nosseus programas eleitorais antes de se-rem eleitos. Se a sua proposta for acei-te, o País decidirá.

A Assembleia da República existepara representar o Povo Português elegislar em seu nome e tem toda a le-gitimidade para o fazer, sempre que es-tiver convicta de que interpreta a suavontade profunda. Não será o caso seaprovar, como parece desejar o Pro-fessor Vital Moreira, uma lei que alte-ra toda uma situação existente evitan-

do referendá-la, exactamente por sa-ber que a maioria da população muitoprovavelmente a rejeitaria.

Aprovar uma lei nestas condições,é um abuso.

E usar esta distorção da Democra-cia para comemorar a República, é uminsulto aos que fizeram a República e sou-beram – mas com outros motivos – des-pertar esperanças e entusiasmos do PovoPortuguês, a que muitas vezes se segui-ram períodos de recuos e desânimos.

E é uma cegueira política pretendercom ela “dar um impulso para refor-

mas legislativas e medidas políticas

que completem aspectos inacabados

do projecto republicano”, por nãover que os recuos e os aspectos inaca-bados do projecto republicano são ou-tros, e que é a combater os recuos ecom outros objectivos que nos pode-mos mobilizar e criar novas esperan-ças, e não com um problema que temevoluído e pode (e deve) dar passosem frente, mas não impondo alteraçõesbruscas ao País sem o ouvir.

Aprovar uma lei

nestas condições

é um abuso

O bailado dos nomes! Por-tugal mantém grande respeitopela mulher: quando contraimatrimónio, não perde o apeli-do, pode (se quiser) adoptar odo marido e, inclusive, é-lhefacultada a hipótese de dar aomarido o seu.

Na quase totalidade dos paí-ses europeus, ditos «mais adi-antados», «mais igualitários», asenhora – salvo raras excep-ções – passa a ser «a senhorade…» (nome do marido). Só. Enós temos o privilégio de man-ter apelidos de mãe e, até, dosavós. Algo de inteiramente in-compreensível para os civiliza-dos europeus. Daí que, há dias,o bilhete de avião me foi emiti-do em nome de… DOSSAN-TOSENCARNACAO.

Page 22: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

22 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007MÚSICA

Distorções

José Miguel Nora

[email protected]

No que toca a actuações ao vivo,esta quinzena apenas há a destacar aconfirmação dos Editors para a edi-ção de 2007 do Festival SudoesteTMN (2, 3, 4 e 5 de Agosto).

Era absolutamente impossível viverem Coimbra e ficar indiferente ao con-certo de George Michael, não só por-que se trata de um dos grandes no-mes da música mundial, assim comoinaugurava em Coimbra a fase euro-peia da “25 Live Tour” – que come-mora os seus 25 anos de carreira –,que já arrebatou uma série de prémi-os pelas actuações no continente ame-ricano. Por tudo isto, acabei por ir ecom o decorrer do concerto até mefui surpreendendo a mim mesmo en-quanto conhecedor da carreira do can-tor britânico, por quem já tinha algu-ma admiração, não só por causa dosseus temas, mas, sobretudo, porque foium dos maiores vultos na “luta” dosartistas contra o despotismo das edi-toras discográficas. Chegando, mes-mo, a estar dez anos sem editar qual-quer disco por força do seu contratocom a Sony, só tendo regressando àsedições em 1996 com “Older”.

O concerto foi fantástico, sobretu-do no que toca aos efeitos visuais, ba-tendo quanto a mim, quer os das di-gressões “Popmart” ou “Vertigo Tour”dos U2, quer da “Licks Tour” ou “Bi-gger Bang Tour” dos Rolling Stones,que normalmente andam sempre àfrente em espectáculos ao vivo. O fac-to de George Michael actuar em cima

de um dos ecrãs, é de uma enorme ori-ginalidade, servindo para engrandecertemas como: “Flawless”, “Fast Love”,“Spinning The Wheel”, “Shoot TheDog”, ou, mesmo “Outside”.

****É já na próxima sexta-feira, 18 de

Maio, que vou voltar a ver “ao vivo”os Bloc Party, uma das minhas ban-das preferidas do momento, sobretu-do pelo que nos mostraram em “Si-lent Alarm”, e que o seu mais recentetrabalho de originais, “A Weekend InThe City” – que é um dos meus discospreferidos e, quanto a mim, o melhordeste ano de 2007 até ao momento –,confirmou. São grandes as expectati-

vas para este concerto que terá lugarno Coliseu dos Recreios (Lisboa) às 21horas.

****Há dias colocaram-me uma série

de questões relativas à discografiados Nouvelle Vague, às quais vou ten-tar responder. Depois de terem edi-tado em 2004 um álbum homónimo,regressaram às edições discográficasno ano de 2006, com “Band À Part”,tendo o seu regresso marcado para opróximo dia 27 de Maio com a edi-ção de “New Wave”. Os NouvelleVague também escolheram uma sé-rie de temas para uma compilaçãointitulada “Late Night Tales: Compi-

led by Nouvelle Vague”.

PARA SABER MAIS:

www.musicanocoracao.ptwww.georgemichael.comwww.blocparty.comwww.nouvellesvagues.com

George Michael “Twenty Five” (Sony)Bloc Party “Silent Alarm” (Wichita)Bloc Party “A Weekend In The City”(Wichita)Nouvelle Vague “Nouvelle Vague” (Pe-acefrogs)Nouvelle Vague “Band À Part” (Pias)Nouvelle Vague “New Wave” (District 6)“Late Night Tales: Compiled by Nouve-lle Vague (Azuli Records)

Imagem do concerto de George Michael no Estádio Cidade de Coimbra, no passado sábado, dia 12

Leilão de manuscrito de Mendelsohn com canção inéditaUm manuscrito autógrafo de Felix

Mendelsohn Bartholdy (1809-1847) da-tado de 1825 e com uma canção inéditado compositor alemão vai ser leiloado,no próximo dia 23, na sedede londrina daSotheby’s.

Além da canção, intitulada “SeltsamMutter geht es mir” (Mãe, sinto-me es-tranho), o manuscrito inclui ainda duascomposições para voz e piano, sendouma delas a versão completa de “DerWasselfall” (A Cascata), da qual atéagora se conhecia apenas um fragmen-to conservado em Berlim.

Segundo Simon Maguire, especialistaem manuscritos musicais da leiloeira, ojovem Mendelsohn é, com WolfgangAmadeus Mozart, “o génio musical pre-coce por excelência”.

“Escreveu obras-primas com apenas16 anos e uma composição nova sua é oequivalente a um poema inédito de Ke-ats”, disse.

A canção “Seltsam Mutter geht esmir” não aparece registada na documen-tação existente sobre o compositor.

Datada dos anos 1824-25, está com-posta em Dó Maior e tem três estrofes:a segunda repete a linha melódica daprimeira e esta aparece ligeiramente al-terada na terceira.

Porventura de maior interesse do pon-to de vista estritamente musical, na opi-nião de Maguire, é a descoberta da ver-são completa de “Der Wasserfall”, daqual apenas se conhecia a primeira pá-gina, num manuscrito conservado emBerlim.

A terceira estrofe da canção é, segun-do o mesmo especialista, “belíssima” ede uma grande força harmónica, porquepassa de um modo quase imediato de SiMaior para Dó Maior.

“Der Wasserfall” data da mesmaépoca do Octeto de Mendelsohn(1825) e tem interesse e importânciaconsideráveis pelo seu carácter expe-rimental.

Tanto a versão fragmentária de “DerWasserfall” como a terceira canção domanuscrito que agora vai ser leiloado,“Der Verlassene” (O abandonado), emSi Maior, datada de 1821-22, eram co-nhecidas através de um manuscrito quese conserva em Berlim.

O manuscrito tem um valor estimadoentre 30.000 e 45.000 euros.

Page 23: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

23DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês Amaral

Docente do Instituto Superior Miguel Torga

FREECYCLE

CURTAS DIGITAIS

LIBRARY THING

GO ALENTEJO

ENCYCLOPEDIA OF LIFE

ALIBI NETWORK

Na Internet há um espaço que promove redes detrocas de bens a nível local, mas que funciona em todoo mundo. O conceito é de uma organização sem finslucrativos criada no Arizona, nos Estados Unidos, como nome de Freecycle. Polémicas à parte, o objectivonão é obter bens gratuitamente, mas antes evitar queobjectos que ainda podem ser utilizados sejam deitadosao lixo.

O Freecycle utiliza os grupos de discussão do Yahoo,onde cada cidade está representada. A regra-chavepara o bom funcionamento da rede é não pedir, ofere-cer ou aceitar nada em troca. O site está na rede des-de 2003 conta com mais de 3,5 milhões de utilizadoresem 88 países, onde se contabilizam cerca de 4 mil co-munidades. Em Portugal, o primeiro grupo foi constitu-ído em Coimbra em 2004. Actualmente contam-se cin-co grupos – Lisboa, Porto, Aveiro, Coimbra e Braga –e mais de 500 utilizadores portugueses.

FREECYCLE

endereço: http://www.freecycle.org/categoria: comunidades

O concurso Curtas Digitais é organizado pelo Fes-troia – Festival Internacional de Cinema – e o portalSapo. O objectivo é «dar oportunidade aos novos ta-lentos de apresentarem os seus trabalhos on-line, a umaaudiência de centenas de milhar de utilizadores». Cadaparticipante pode inscrever até cinco vídeos, com omáximo de dez minutos cada um. O tema é livre.

O vencedor será escolhido através de uma vota-ção on line, onde os utilizadores do Sapo podem parti-cipar. Os dez vídeos que forem mais votados vão serapreciados por um júri composto por elementos do Sapo

Vídeos e do Festroia. O concurso decorre até 31 deMaio e o primeiro lugar recebe dois mil euros e ainda aoportunidade de ver a sua curta exibida no Festroia, a10 de Junho.

CURTAS DIGITAIS

endereço: http://videos.sapo.pt/festroiacategoria: vídeos, concursos

A organização dos livros nem sempre é fácil. Porisso mesmo, o Library Thing é o site adequado paracatalogar todos os seus livros. Aqui é ainda possívelencontrar pessoas que têm os mesmos gostos literári-os, ler críticas, descobrir novos escritores, pedir suges-tões do que ler ou até do que não ler.

Após um registo muito básico, cada utilizador podecriar o seu perfil e começar a catalogar os seus livros.Para isso, basta inserir o ISBN dos livros (ou então otítulo) e logo se encontra a edição com a respectivacapa e informações. O site tem ainda outras funciona-lidades como as estatísticas que permitem ver quantosoutros utilizadores partilham o mesmo livro. Há tam-bém uma galeira de autores e tags que classificam oslivros. Uma importante ferramenta para quem gosta deler e organizar a sua biblioteca.

LIBRARY THING

endereço: http://www.librarything.com/categoria: leitura

Na Internet há lugar para todas as ideias. Mesmo paraas mais estranhas, como é o caso da empresa Alibi Ne-

twork, que arranja desculpas para que os seus clientesse possam livrar de situações embaraçosas ou indeseja-das e, sobretudo, não sejam apanhadas a mentir.

A empresa está na rede há dois anos e apresentaalibis para todas as ocasiões possíveis e imaginárias. Osclientes podem optar por uma taxa anual ou por um pa-gamento individual, sendo que o valor depende da com-plexididade da desculpa. A maioria dos clientes é norte-americana, mas o site tem recebido visitas de mais de150 países.

ALIBI NETWORK

endereço: http://alibinetwork.com/categoria: comércio

Com a época balnear a aproximar-se e as tem-peraturas a aumentarem, vale a pena pensar nasférias. O site Go Alentejo é um bom ponto de par-tida para quem pretende descobrir esta região. Nesteespaço é possível planear as férias em torno daagenda cultural ou de interesses, como golfe ou ar-tesanato.

Localidades, alojamento, gastronomia e restau-rantes, artesanato, desporto, castelos, natureza,praias, golfe, termalismo, parques temáticos, agen-da, postos de turismo e rotas são algumas das sec-ções deste site. Há ainda informação sobre os qua-tro monumentos alentejanos qeu foram apuradospara a final do concurso 7 Maravilhas de Portugal.Seja qual for o interesse ou a motivação, todas asférias podem ser planificadas neste espaço.

GO ALENTEJO

endereço: http://www.goalentejo.ptcategoria: turismo

A Encyclopedia of Life pretende ser uma novaenciclopédia digital, ao jeito da Wikipedia. A ideia éreunir informação sobre todas as espécies vivas doplaneta. Este projecto está pensado para reunir ima-gens, mapas, vídeos, e informações de publicaçõesespecializadas. Vai ficar oficialmente disponível em2008, mas já estão online alguns conteúdos.

À semelhança de outras enciclopédias digitais,os voluntários vão ser o motor da Encyclopedia of

Life. Quando ficar disponível, deverá contabilizarconteúdos sobre 1,8 milhões de espécies vivas ca-talogadas. É um projecto ambicioso que vai segu-ramente beneficiar a comunidade científica.

ENCYCLOPEDIA OF LIFE

endereço: http://www.eol.orgcategoria: biologia, ambiente

Page 24: O Centro - n.º 27 – 16.05.2007

24 DE 16 A 29 DE MAIO DE 2007REPORTAGEM

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obra de arteAPENAS 20 • POR ANO

- LEIA NA PÁG. 3Esta é a reprodução da obra de Zé

Penicheiro que será sua gratuitamente

Líder mundial de robóticaapresentou ontem em Coimbrarobô industrial inovador

A empresa líder mundial em robóti-ca apresentou ontem (terça-feira), naUniversidade de Coimbra, o primeirorobô redundante de sete eixos, con-cebido para solucionar situações in-dustriais exigentes, em espaços muitolimitados, como a montagem de auto-móveis.

Trata-se de um robô produzido pelaempresa japonesa Motoman Robotics,maior fabricante mundial de robôs, quese adapta a ambientes de trabalho ad-versos, devido à sua elevada mobili-dade em espaços muito limitados.

A apresentação a nível mundial de-correu em ambiente técnico e científi-co, no Departamento de EngenhariaMecânica da Faculdade de Ciências eTecnologia da Universidade de Coim-bra (FCTUC), contando com a pre-sença de cerca de 150 pessoas, entreacadémicos e industriais de Portugal,Espanha e Alemanha.

As explicações científicas couberama Robert Andersson, da Motoman, se-guindo-se uma demonstração práticado novo robô no Laboratório de Ro-bótica Industrial.

“Sendo a Motoman empresa líder

mundial de robótica industrial é muitorelevante que tenham escolhido a FC-TUC para a primeira apresentaçãoMundial deste tipo de robôs revoluci-onários”, disse à Agência Lusa o Prof.Norberto Pires, Presidente da Socie-dade Portuguesa de Robótica.

“É o reconhecimento da nossa ca-pacidade científica e técnica na áreada robótica industrial”, sublinhou o es-pecialista.

O investigador da FCTUC disse àAgência Lusa que o robô “permite vá-rias posturas, estando concebido paraactuar em espaços de reduzida dimen-são, nas indústrias automóvel, de plás-ticos, cerâmica e electrónica”.

“Como tem sete eixos, o robô podeser utilizado para soldaduras, monta-gem de portas e de motores na indús-tria automóvel, adaptando-se a váriasposições de trabalho como um braçohumano”, explicou Norberto Pires.

O primeiro cliente português do robôredundante de sete eixos é o labora-tório de investigação da Universidadedo Minho, ligado à indústria dos plás-ticos e dos moldes, áreas em que Por-tugal é líder.

Norberto Pires, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade

de Coimbra durante a apresentação do robô Motoman-IA20, um robô redundante de 7

eixos, apresentado pela primeira vez a nível mundial em ambiente técnico, ontem, na

Universidade de Coimbra. (foto Paulo Novais/LUSA)