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Público – 6657 – 22.06.2008

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Versão integral da edição n.º 6657 do diário “Público” que se publica em Lisboa, Portugal. Director: José Manuel Fernandes. 22.06.2008. Visite-nos em www.ismt.pt, www.youtube.com/youtorga, http://torgaemsms.blogspot.com, http://diarioxii.blogspot.com, http://torgaemsms2.blogspot.com, http://mapastorga.blogspot.com/ ~~~~~~~~~ Site oficial de Dinis Manuel Alves: www.mediatico.com.pt Encontre-nos no twitter (www.witter.com/dmpa) e no facebook (www.facebook.com/dinis.alves). Outros sítios de DMA: www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/camarafixa, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/3 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , www.mediatico.com.pt/redor/ , www.mediatico.com.pt/fe/ , www.mediatico.com.pt/fitas/ , www.mediatico.com.pt/redor2/, www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm, www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , www.mediatico.com.pt/nimas/ www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , www.mediatico.com.pt/luanda/, www.slideshare.net/dmpa , www.panoramio.com/user/765637

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Page 1: Público – 6657 – 22.06.2008

Dom 22 Jun Edição LisboaDomingo 22 de Junho de 2008Ano XIX, nº 6657Portugal: 1,40€ (IVA incluído) Espanha: 2,00€ (IVA incluído)Director: José Manuel FernandesDirectores adjuntos: Nuno Pacheco, Manuel Carvalho e Paulo Ferreira

FamíliaTelevisão entra cada vez mais cedo no quarto das criançasP2

Ana MouraA fadista gostava que Pessoa fosse vivo e escrevesse para ela Pública

Ferran AdriàNa cozinha com o génio da gastronomiaPública

Colecção Disney em BD Hoje RatatuiNão perca mais um clássico de todas as gerações: a história de Ratatuipor apenas mais 2,90€ com o PÚBLICO

FR

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CIS

CO

LE

ON

G/A

FP

Presidente da Comissão Europeia denuncia slogans de dirigentes que “criticam Bruxelas de 2ª a sábado” e ao domingo pedem apoio para a EuropaA José Sócrates, primeiro-ministro de “um país cuja capital se chama Lis-boa”, inspirou-se em Ortega y Gasset para dizer, numa sessão na Assem-bleia da República com os presidentes dos Parlamentos da União Europeia, que a Europa de “muitas abelhas em

um só voo” tem de ser feita com to-dos. “Não queremos deixar ninguém para trás. Para nós 26 é igual a zero. Só 27 interessa”, disse. À veemen-te defesa do tratado seguiu-se o tom impaciente de Durão Barroso, que disse que “o mundo não vai esperar

pela Europa” para tomar decisões e insistiu na urgência de ter o processo de ratificação do Tratado de Lisboa concluído em breve: “Quando um go-verno assina um tratado, assume a responsabilidade da sua ratificação.” c Mundo, 18-19 e 21

Barroso critica líderes europeus e Sócrates quer tratado a Vinte e Sete

Congresso do PSD

Passos Coelho e Santana Lopes perdem aliadosa Pedro Passos Ceolho e Pedro San-tana Lopes, que tiveram quase 60 por cento de votos nas directas de há três semanas, perderam ontem importantes apoios. No fim do se-gundo dia do congresso do PSD, as oposições a Manuela Ferreira Leite perderam unidade. Na nova máqui-na do maior partido da oposição, há muitos estreantes na direcção nacio-nal. c Portugal, 4 a 7

Novo plano para Lisboa

Não vai haver construção à beira TejoA Num passeio pelo Tejo, o presi-dente da Câmara de Lisboa garantiu ontem que não vai haver construção à beira-rio. António Costa assegurou também que a demissão de José Mi-guel Júdice da empresa que reabilita-rá uma parte da frente ribeirinha na-da teve a ver com divergências entre ambos. O advogado cansou-se dos 15 meses de espera pela constituição da empresa. c Local, 24/25

“Não queremos deixar ninguém para trás, 26 é igual a 0”, diz primeiro-ministro

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Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, ontem na Assembleia da República

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Destaque2 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Justiça Americana responde em tribunal por caso que levou a suicídio de adolescente

A ré terá fornecido dados falsos quando se registou no MySpaceA falsa identidade na Internet pode ser crimeUm tribunal americano prepara-se para decidir se uma mulher vai para a prisão por uma das práticas mais antigas no mundo on-line

João Pedro Pereira

a Uma americana de 49 anos vai ser julgada no próximo mês, acusa-da de criar uma identidade falsa na Internet, fazendo-se passar por um rapaz de 16 anos. O caso seria banal, não fosse o facto de ter terminado com o suicídio de uma adolescente com quem o “rapaz” se relacionara on-line.

À falta de enquadramento legal no estado do Missouri, onde a situação se desenrolou, a justiça americana recorreu a uma lei destinada a punir piratas informáticos. O caso está a di-vidir juristas e pode abrir o preceden-te de criminalizar uma das práticas mais comuns na Internet: fornecer dados fictícios para entrar num siteou para ser membro de uma comu-nidade on-line.

O argumento da acusação que recai sobre Lori Drew (pequena empresária numa cidade minúscula no interior dos EUA) é simples: terá fornecido dados falsos quando se registou no

MySpace, um site de socialização mui-to usado também em Portugal. Ao criar supostamente uma falsa iden-tidade, Drew desrespeitou as normas de utilização do serviço e terá, assim, acedido ilicitamente à informação na página de Megan Meier, de 13 anos, uma adolescente com problemas de auto-estima e medicada com antide-pressivos, para quem o fim do namo-ro on-line foi a gota de água que levou ao suicídio.

O crime de que Drew é acusada é, no entanto, informático. A vítima é o MySpace (e não a jovem ou a família da jovem), o processo decorre no es-tado de Los Angeles (onde o site está sediado) e, pela primeira vez, uma lei feita a pensar em quem entra ilegal-mente em sites protegidos – como os do Governo ou de bancos – é aplicada a um caso deste género.

A situação faz lembrar a detenção de Al Capone, nota o especialista em direito informático Manuel Lo-pes Rocha, recordando que a justiça só conseguiu prender o conhecido gangster por causa de uma fuga aos impostos e não pela prática de crime organizado.

Contornos vagosO caso de Drew não está absoluta-mente definido. Megan conheceu no MySpace “Josh Evans”, suposta-mente um rapaz de 16 anos. Ao longo de cinco semanas, mantiveram uma relação entusiasta, sempre pela In-ternet, sem qualquer contacto físico. Um dia, “Josh” decidiu romper. Pelo meio, trocam-se algumas frases des-critas como “emocionalmente cruéis” no dossier do caso. “O mundo seria um lugar melhor sem ti”, terá escrito “ele”. Megan tem uma discussão com a mãe, que sempre receara o MySpace e autorizara a filha a abrir uma conta apenas depois de muita insistência. A adolescente enforcou-se nesse dia, no armário do próprio quarto.

Seis semanas depois, graças à de-núncia de uma outra adolescente que estava a par do embuste, foi descober-to que “Josh” era uma personagem criada a partir de uma casa vizinha de Megan. A conta no MySpace foi aberta com a ajuda de Ashley Grills, uma jovem de 18 anos, que trabalhava na empresa de publicidade por cor-reio de Drew.

A página era mantida em conjun-to com a filha adolescente de Drew. Mas não é claro se a mulher teve uma participação activa nas mensagens trocadas entre “Josh” e Megan (Grills diz que teve), se estava a par da “brin-cadeira” e sancionou a situação, ou se tinha apenas uma vaga ideia do que se passava (é a versão da própria).

O caso recebeu ampla cobertura mediática, há vários sites dedicados a insultar e a expor a vida privada da família Drew e a questão serviu de mote para inú-meras discussões sobre ciberbullying, a versão on-line do fenó-meno de agres-são, física ou psicológica,

que ocorre entre colegas de escola ou de trabalho. O bullying, porém, im-plica que haja uma agressão entre pa-res (não é o caso de Drew e Megan) e ofensas continuadas (Megan e “Josh” mantiveram contacto durante cinco semanas, mas só no final é que as mensagens se tornaram agressivas).

Impossível em PortugalFoi impossível às autoridades levarem Drew a tribunal pela suposta “tensão emocional” causada a Megan (uma situação prevista na lei de alguns es-tados americanos, mas não no Mis-souri) ou por ofensas na Internet (o Missouri, entretanto, aprovou uma lei para contemplar estas situações – mas o caso remonta a 2006). A op-ção que sobrava para processar Drew foi recorrer a uma lei de 1986 sobre ci-bercrime – um diploma do qual, expli-ca Manuel Lopes Rocha, a legislação portuguesa é uma “herdeira longín-qua”: em 1989, o Conselho da Europa baseou naquela lei americana uma recomendação sobre cibercrime, e esta recomendação inspirou a lei ac-tualmente vigor em Portugal.

Tipicamente, a justiça americana tem grande influência nesta área do direito. Caso Drew seja condenada – é acusada de um crime de conspi-ração e três crimes de acesso ilegal a computadores, o que pode implicar

1 Partilhe com os seus filhos a experiência de navegar na

Internet. Fale com eles sobre os amigos com quem se relacionam nas “redes sociais”.

2 Inscreva-se nos sites que eles gostam de frequentar e

navegue por lá.

3 Deixe claro que nunca devem aceitar encontrar-se com

alguém que conheceram on-line.

4 Explique-lhes que nunca devem fornecer dados

pessoais, como o telemóvel ou o correio electrónico, sem a sua autorização. Será ainda pior divulgarem esses dados em blogues ou em perfis nas redes

sociais.

5 Ensine-os a não aceitarem

transferências de conteúdos da parte de

desconhecidos. Podem ter vírus.

6 Habitue-os a avisarem-no quando se depararem com

atitudes ou mensagens estranhas.

7 Coloque o computador num local da casa de utilização

comum e não no quarto deles.

8 Dialogue com eles sobre as salas de chat que frequentam

e insista para que utilizem apenas salas monitorizadas.

9 Crie-lhes contas de utilizador restritas. Analise

as ferramentas de filtragem de conteúdos na Internet (disponíveis de forma gratuita: Blok Free, K9 Web Protection, Naomi Family Safe Internet e Parental Control Bar).

10 Se notar algum sinal grave de alarme, verifique as

respectivas comunicações electrónicas on-line: salas de chat,fóruns, mensagens instantâneas e redes P2P (peer to peer).Inês Sequeira

Tem filhos na Net?10 dicas de segurança

20Lori Drew arrisca 20 anos de prisão pelos quatro crimes de que é acusada

O número

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 3

CHRISTIAN CHARISIUS/REUTERS

um máximo de 20 anos de prisão –, a decisão poderá ter impacto não ape-nas na forma como os EUA encaram estas situações, mas também ao nível da justiça de outros países, admite o advogado.

Nos EUA, muitos defendem que os advogados de acusação estão a pisar os limites da lei para levar Drew a tri-bunal. Contudo, em Portugal, clarifi-ca Lopes Rocha, seria praticamente impossível um julgamento semelhan-te. A legislação portuguesa não prevê identidades falsas on-line e o acesso indevido a sistemas informáticos é punido, lê-se na lei sobre a crimina-lidade informática, quando o infrac-tor tem intenção de obter “um be-nefício ou vantagem ilegítimos”. Já a convenção europeia sobre cibercrime de 2001 – que Portugal assinou, mas não ratificou – permitiria uma actua-ção semelhante à das autoridades americanas, nota o advogado.

Esta é uma área onde Portugal tem ainda muito trabalho pela frente, con-sidera Lopes Rocha. “Legislar sobre a Internet e, em particular, sobre as redes sociais está na ordem do dia, até pela razão simples de que são um dos mais extraordinários negócios na Internet. [Mas] nem se pode entrar numa espiral legislativa desenfreada, nem descurar o assunto, como acon-tece entre nós.”

Casos cada vez mais comuns em Portugal

Aumentam as queixas por uso não autorizado de fotografias e dados pessoaisa Teresa é o nome fictício de uma portuguesa que, durante “três ou quatro meses”, recebeu telefonemas e mensagens de homens entusiasma-dos com o que julgavam ser o seu per-fil no Hi5, a rede social on-line mais popular em Portugal. A página tinha fotografias e frases sexualmente su-gestivas e pertenceria a uma mulher chamada Mafalda.

Na verdade, Mafalda não existia e o número de telemóvel que acompa-nhava as fotos era o de Teresa – “o número pessoal, de há muitos anos” –, através do qual passou a ser contac-tada por desconhecidos a qualquer hora do dia ou da noite.

Teresa tentou resolver a situação através de uma funcionalidade do si-te que serve para denunciar práticas abusivas – mas não obteve resultados. Depois de contactos com os respon-sáveis pelo serviço, acabou por con-seguir que a página fosse apagada. Mas o caso não terminou.

A pessoa que criara a página re-

solveu então usar o MSN Messenger, um muito popular programa de con-versação instantânea. A técnica era simples: iniciava diálogos com outras pessoas, sempre de cariz sexual, e, no fim, dava o telemóvel de Teresa. De-pois disto, seguiu-se uma nova página no Hi5, “desta vez ainda pior”. E, des-ta vez, o nome verdadeiro de Teresa já estava na página. Tudo terminou

com um e-mail ameaçador, enviado por uma pessoa que se identificava como a mulher de um colega de tra-balho de Teresa.

Teresa entregou à polícia os núme-ros das pessoas que lhe ligavam, có-pias impressas da falsa página, bem como o e-mail final. O caso acabou, contudo, por ser arquivado.

Histórias como esta são cada vez mais comuns em Portugal. Estão a aumentar as pessoas que apresentam queixa por publicação não autoriza-da de fotografias ou dados pessoais na Internet, assegura Jorge Duque, inspector-chefe da Polícia Judiciária. Tipicamente, o objectivo é “pertur-bar a vida da pessoa”, causando-lhe danos na imagem ou problemas fa-miliares.

Este é o tipo de actos, explica Du-que, em que a pessoa “se sente se-gura”, porque “está em casa, atrás de um computador”. O inspector da Judiciária reconhece que “muitos ca-sos são arquivados”. J.P.P.

O direito ao anonimato

a Houve uma altura em que se falava do anonimato da grande cidade, das pessoas perdidas no meio das multidões urbanas. Se por anonimato se pretendia dizer solidão, a expressão é provavelmente cada vez mais verdadeira. Mas passar despercebido no meio da multidão foi uma expectativa que a tecnologia dos últimos anos frustrou de forma radical.

Na era electrónica pós-11 de Setembro, a multiplicação dos sistemas de vigilância, dos controlos de identidade, dos cruzamentos de documentos tornaram o anonimato impossível. Quase tudo o que fazemos está registado. Quantas câmaras de videovigilância filmam os nossos gestos?

Há sistemas electrónicos a controlar as transacções comerciais, a informação clínica, os transportes, as telecomunicações, a água, o gás e electricidade. O nosso carro e o nosso telemóvel têm dispositivos de localização que permitem saber por onde andamos – e há poucas coisas mais pessoais que um carro ou um telemóvel.

Muitas coisas que eram objectos físicos hoje são apenas registos em computadores, dos nossos salários aos bilhetes

de cinema e aos próprios filmes. E quem diz registos em computadores diz informação a que é possível seguir a pista. E um dia até os objectos terão identificadores e será possível saber por onde andou cada peça de roupa que trazemos vestida no corpo.

O sociólogo espanhol Manuel Castells diz que a vida privada morreu com a Internet. O problema é que, sem essa reserva, a nossa liberdade fica restringida.

A maior parte das pessoas não se sente ameaçada por esse controlo – porque confia nos sistemas sociais que o enquadram. Outros dizem que não se importam de ser vigiados porque não têm nada a esconder. Mas todos temos. E temos o direito de esconder. Uma sociedade que se arroga o direito de tudo espreitar é uma sociedade totalitária. A possibilidade de anonimato é condição de liberdade. Não é por acaso que as democracias defendem o voto secreto.

Paradoxalmente ou não, o anonimato floresceu na Internet, último espaço onde se pode ser outro e explodir em heterónimos nas redes sociais que são os novos espaços de convívio global. O infeliz caso de Megan Meier e o julgamento de Lori Drew arrisca--se a resultar numa redução dessa liberdade. Descobrimos que dar um nome falso ou mentir sobre a idade na Internet pode ser crime.

Os riscos destas imposturas – nomeadamente para os jovens – são reais, mas eles podem ser usados para pôr em causa aquilo que é hoje uma das últimas reservas da liberdade individual.

Comentário

José Vítor Malheiros

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Portugal4 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Congresso do PSD Nova líder apresentou nomes em Guimarães

A nova líder frisou ter divulgado nomes só no congresso, não pelos mediaOposição aFerreira Leite divide-seA presidente do partido apresentou uma série de estreantes na comissão política e viu Passos Coelho e Santana Lopes perder apoios

a Manuela Ferreira Leite atingiu on-tem o seu objectivo de travar a espiral mediática e apresentar a sua direcção em primeira mão aos delegados ao congresso do PSD. Ao mesmo tem-po, a nova presidente do partido viu durante a tarde as suas oposições internas – personificadas nos dois candidatos derrotados à líderança, Pedro Passos Coelho e Pedro Santa-na Lopes – irem-se esboroando em pequenas cisões.

Sentada na primeira fila do Pavi-lhão Multiusos, em Guimarães, ou-vindo os oradores que desfilavam no palco e conferenciando com os seus companheiros de direcção, que se revezavam ao seu lado, Ferreira Leite foi sabendo do que se passava nos bastidores do congresso, como as pequenas rupturas que atingiam os seus adversários.

A confusão na constituição das lis-tas para os órgãos do partido levou mesmo o presidente da mesa, Ânge-lo Correia, a adiar a hora da entrega para as dez da noite. Mas, quando os trabalhos pararam para jantar, não era perceptível se a líder irá tirar par-tido destas divisões nas votações de hoje e se aumentará ou baixará os 38 por cento que obteve nas directas de 31 de Maio.

O decorrer dos trabalhos dava si-nal de que tudo estava a acontecer de acordo com o guião traçado pela nova presidente. E foi com um ar de triunfo que Ferreira Leite declarou do palanque: “Comunico aos senhores congressistas antes de o fazer à co-municação social.” E depois indicou os principais nomes da sua direcção (ver infografia na pág. 6).

Surpresas e estreantesA sua equipa é constituída por seis vi-ce-presidentes, onde a novidade é So-fia Galvão, antiga secretária de Estado da presidência do Conselho de Minis-tros do Governo de Santana Lopes. O primeiro vice é Rui Rio, seguindo-se os nomes de Paulo Mota Pinto, José Pedro Aguiar Branco, António Borges e Manuel Castro Almeida.

Mas se entre os vices a maioria dos nomes eram mais ou menos espera-dos, já entre os vogais surge uma sé-rie de dirigentes que se estreiam na direcção nacional do partido. Ape-nas Francisco Araújo e José Eduardo

Martins, ambos antigos vogais com Durão Barroso, já haviam integrado a comissão política. As estreias: Antó-nio Marques (mandatário de Ferreira Leite em Braga), Fernando Marques (presidente da distrital de Leiria), Jaime Marta Soares (presidente da distrital de Coimbra e da Câmara de Vila Nova de Poiares), Marco Al-meida (vereador em Sintra), Maria Mercês Borges (ex-governadora ci-vil e mandatária em Setúbal), Paulo Marcelo (empresário), Ricardo Rio (candidato autárquico em Braga) e Vasco Cunha (presidente da distrital de Santarém).

Na secretaria-geral confirmou-se Marques Guedes, dirigente da con-fiança pessoal da líder, enquanto na presidência do conselho de jurisdi-ção fica Nuno Morais Sarmento. Já nos primeiros lugares da lista para o conselho nacional, encabeçada pelo presidente da Câmara de Cascais, An-tónio Capucho, surgem Mota Amaral e Alexandre Relvas.

São José Almeida

Engripado, Santana Lopes ainda não havia discursado no congresso de Guimarães à hora de fecho desta edição

Porta-voz de campanha faz lista própria

Santana perde aliados, mas mantém listas

A Apareceu tarde no Multiusos de Guimarães, e nem chegou a entrar na sala do congresso, pelo menos até às dez da noite. Pedro Santana Lopes, que anunciara que falaria ontem ao partido, refugiou-se numa sala “a um beber chá de limão” e não quis falar aos jornalistas. Mas os seus apoiantes davam como certo que ainda falaria durante a noite.

Além da gripe, o líder parlamen-tar demissionário tinha outras dores de cabeça: fugiu-lhe o apoio do seu porta-voz de campanha e vice-presi-dente da bancada, Luís Montenegro, que encabeçará uma lista própria ao conselho nacional (CN). Outro dos seus vice-presidentes, Vírgílio Costa, da direcção da distrital de Braga, tam-

bém não integrará nenhuma das listas de Santana aos órgãos do partido: “A decisão da estrutura é de não aceitar cargos, nem apoiar qualquer lista.”

“Foi-me lançado este repto por parte de companheiros. O objectivo é enriquecer os trabalhos do CN com o contributo de pessoas ligadas às au-tarquias e às estruturas distritais e lo-cais”, justificou Montenegro à Lusa.

O vice-presidente da bancada “la-

ranja”, Pedro Pinto, que encabeça a lista da candidatura de Santana ao conselho nacional, tem outra visão da “fuga”: “O dr. Montenegro quis encabeçar a lista, mas não conseguiu perceber que as pessoas têm de ser humildes. Ele é uma invenção minha e do dr. Santana Lopes. É triste que um porta-voz de uma candidatura acabe fora dela formando uma lista própria. Acho que esta demarcação começou a 31 de Maio às sete da tarde.”

Além de Pinto, estão na lista Firmi-no Pereira, vereador em Gaia, e Paula Carloto, que integrou a comissão polí-tica de Menezes. Arlindo de Carvalho é primeiro na lista à mesa do congres-so, para o conselho de jurisdição é Rui Gomes da Silva. J.F.C.

Paulo Rangel deverá ser eleito na quinta-feira líder parlamentar do PSD. Ontem, o deputado anunciou aos jornalistas que se candidata ao cargo com o apoio da nova líder do partido, e depois de uma conversa com outros deputados. Rangel – que regressou ao Parlamento na semana passada, depois de ter interrompido o mandato por razões de saúde – afirmou que se candidata com “sentido de humildade”, e com a “convicção de quem está em plena sintonia com o projecto político do partido”. O jurista e professor universitário adiantou ainda que o faz com sentido “de serviço, numa altura em que o país atravessa uma situação muito grave” a que o PSD deve dar resposta. Rangel foi secretário de Estado adjunto de Aguiar Branco – nome apontado inicialmente para encabeçar o grupo parlamentar –, quando este foi ministro da Justiça, no Governo de Santana Lopes. J.F.C.

Rangel para a ARVai candidatar-se com apoio de Ferreira Leite

ADRIANO MIRANDA

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 5

Sócrates contra a “maledicência”

José Sócrates escusou-se a comentar críticas de Manuela Ferreira Leite, que acusara o seu Governo de estar “esgotado”, mas disse: “Não sei

como [a oposição] pode contribuir para a vida política nacional apenas com maledicência, sem qualquer proposta ou ideia para o país.”

Passos Coelho recusou a “alternância” do “rotativismo”

ADRIANO MIRANDA

Passos Coelho promete lealdade, mas quer propostas

Filomena Fontese Margarida Gomes

Inconformada com o número de lugares, distrital do Porto avançou com listas próprias

a Pedro Passos Coelho ofereceu on-tem um “apoio sincero” à nova líder do partido, mas desafiou abertamente Manuela Ferreira Leite a esclarecer o partido sobre as propostas políticas que propõe para o país. “Estamos to-dos aqui a apoiá-la. Mas, senhora dou-tora, temos de saber qual é o projecto político que vai encabeçar em nome do PSD”, pediu. “Não tenha medo de dizer o que pensa, nem o partido nem o país têm obrigação de adivinhar”, chegou a afirmar, recebendo um forte aplauso dos congressistas.

Estava aberto o caminho para Pas-sos Coelho se demarcar da avaliação

que a nova líder fizera, no seu pri-meiro discurso ao congresso, sobre os erros políticos do PS; contrapôs a sua própria análise. “O maior erro do PS não foi desprezar o PSD, foi não ser carne nem peixe.” Nem na saúde, nem na educação, nem na eco-nomia, nem mesmo na própria linha de afirmação política. “O engenheiro Sócrates conseguiu mostrar que tinha medo de Manuel Alegre”, disse.

Determinado em mostrar diferen-ças, o ex-líder da JSD começou por cobrar a Ferreira Leite a forma como anunciou o seu propósito de derrotar o PS nas próximas legislativas, ao de-fender que o “PSD tem de se afirmar como alternância”. “Não”, clamava Passos Coelho, “um partido alternan-te é cair no rotativismo”.

“Não queremos dizer ao país para contar com um PSD que vai fazer o mesmo que o PS de José Sócrates”, declarou, assumindo-se como pro-tagonista de um projecto novo que romperá com o “Estado gordo, iníquo

e cheio de nepotismo” que os socia-listas alimentam.

“O que queremos em relação ao Estado? Temos ou não um problema de liberdade? Há ou não uma confu-são terrível entre Governo e Estado?”,

interrogava, para concluir, que “há hoje em Portugal empresas que têm medo de ter um comportamento diferente do ministro da Economia e do primeiro-ministro”: “Temos um problema de liberdade, hoje.”

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Passos Coelho, que não está dis-ponível “para chefiar uma facção interna”, apresentou-se livre (“Não me apresento aqui nem com a corda ao pescoço por ter pensado de modo diferente do dr. Luís Filipe Menezes ,nem como seu carrasco”), mas pe-diu o apoio dos que se reconhecem no seu projecto, votando na lista que encabeça ao conselho nacional.

O apelo foi feito já depois de o ex-candidato à liderança ter visto esca-par o apoio da maioria dos delegados eleitos pelo distrito do Porto que, sob o comando de Marco António Costa e Agostinho Branquinho, decidiram avançar com listas próprias.

Insatisfeitos com o número de lu-gares oferecidos e a sua colocação na lista (o quarto nome entrava já numa zona não elegível), foi feita uma vo-tação e a maioria dos delegados de-fendeu candidaturas próprias, quer para o conselho nacional, quer para o conselho de jurisdição. E Passos Co-elho ficou mais sozinho.

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Portugal6 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Congresso do PSD Nova líder apresentou nomes em Guimarães

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 7

O que disseram em Guimarães as figuras do partido

Miguel Relvas quer PSD “em bloco” para derrotar PS

O ex-secretário-geral do PSD Miguel Relvas defendeu ontem que “a única coligação que se impõe”, o único bloco

que o partido pode admitir, é o de “todos os sociais-democratas para derrotar o PS”.No discurso aos delegados no congresso de Guimarães, perante uma plateia dividida nos apoios às três principais candidaturas às directas de Maio, o braço direito de Passos Coelho na corrida à liderança do PSD defendeu a necessidade de união interna e mobilização do partido. Mas uma união que não se faça pela integração em listas aos órgãos nacionais, mas pela diversidade de opiniões. “A riqueza do PSD está no debate”, frisou. “A verdade é que só conseguiremos unir o PSD, torná-lo forte e dinâmico, se todos tivermos oportunidade de dar voz às nossas ideias.” E insistiu: “não há que ver na divergência uma crítica, nem na crítica um processo de intenções”.Relvas insistiu que não é possível esperar mais tempo para o PSD se afirmar e derrotar o socialismo. “Vencer em 2009 é um estado de necessidade nacional e o que os portugueses esperam de nós”, concluiu. J.F.C.

António Borges pretende uma nova ética na política

O PSD irá oferecer à sociedade portuguesa uma nova ética política, garantiu ontem António Borges,

um dos principais apoiantes de Manuela Ferreira Leite. Considerando que o congresso do PSD tem uma “importância crucial para o partido e o país”, Borges considerou que de Guimarães sairá uma “nova forma de fazer política”. António Borges afimou que “o país perdeu a esperança no seu futuro”, pelo que “o PSD tem de estar à altura das suas responsabilidades”.A inevitabilidade de o PSD ter de se preparar para ser poder foi salientada por Borges: “Os portugueses querem alternativas e a alternativa só pode vir do PSD. Precisamos de nos mobilizar.” Borges alertou ainda os congressistas para que é necessária a renovação no PSD: “Temos de conseguir gente nova, patriótica, competente e empenhada.” Essas mudanças permitirão, segundo Borges, fazer uma oposição com “inteligência”, “atacando o que é errado e não

o que também faríamos se estivéssemos no poder”. S.J.A.

José Luís Arnault e o encargo de ganhar eleiçõesUm dos protagonistas do barrosismo, José Luís Arnaut, fez questão de subir ao palco do congresso para lembrar ao partido que tem de regressar ao poder – ou seja, que o PSD tem três eleições pela frente. “Temos um pesado caderno de encargos, um verdadeiro caderno de encargos”, afirmou para referir que vêm aí “três actos eleitorais” e concluir: “Temos de nos preparar para poder vencer.”O antigo ministro do Governo Durão Barroso alertou que, para “cumprir esse caderno de

encargos”, o PSD tem de se tornar de novo alternativa. Para o conseguir deve “trabalhar com a sociedade

civil”. E terminou apelando à mobilização para que o PSD volte a ser “o maior partido de Portugal”. S.J.A.

Ribau Esteves despede-se com duras críticas ao partido O secretário geral do PSD de Menezes, José Ribau Esteves, despediu-se ontem do cargo com duras críticas ao partido e farpas a alguns dos novos protagonistas, num dos dicursos mais aplaudidos da tarde, e que quebrou o tom morno da sessão.Lamentando o abandono de lideranças que têm marcado os últimos anos no partido, lembrou que Manuela Ferreira Leite foi a sétima líder do PSD em 13 anos. “Numa altura em que devíamos estar a lutar pelos portugueses, continuamos a lutar para dentro pelos maus motivos”, disse o secretário-geral, que hoje cessa funções. “Há companheiros que só sabem desestabilizar e promover a intriga dentro do PSD. São pessoas cujos projectos são pessoais [e não do partido], que devemos combater e ignorar”, declarou. Defendendo que “o partido tem de mudar de vida”, deixou avisos a Ferreira Leite. Há o “risco de de institucionalização das facções internas”, alertou, para depois lembrar que alguns dos apoiantes da nova líder

se revelam “fenómenos de mutação rápida”. Considerando que a decisão de Luís Filipe Menezes de

abandonar a liderança foi “uma atitude gravemente prejudicial ao PSD”, disse que o partido “tem de seguir o seu caminho” e que este passa pelo vincar das diferenças com o PS. J.F.C.

Rui Rio queixa-se do mau funcionamento da justiçaRui Rio foi ontem ao congresso de Guimarães para desferir um ataque cerrado contra o actual estado da justiça – “o maior dos

problema que nós temos” –, apresentando-se como um exemplo-vítima deste estado de coisas. “É

normal que o presidente da segunda maior câmara do país seja arguido quase desde que tomou posse e esteja com termo de identidade e residência?”, perguntou, recebendo como resposta uma sonora ovação dos congressistas.“A justiça não pode continuar neste caminho”, insurgiu-se, considerando que o problema põe em causa o funcionamento da própria democracia, porque gera “um sentimento de impunidade”. O presidente da Câmara do Porto, que vai ocupar uma das vice-presidências da direcção de Ferreira Leite, alertou ainda para o perigo de “interesses minoritários condicionarem a posição das maiorias”, porque enfraquecem o Estado. “Não quero um Estado autoritário mas um Estado com autoridade”, explicou. Rio falou ainda das diferenças entre PS e PSD para dizer que os socialistas combatem os problemas nacionais com “aspirina”, enquanto os sociais-democratas usam “antibiótico”. M.G.

Marco António Costa diz que voltaria a votar em Passos CoelhoApesar de ter rompido o acordo para as listas de Pedro Passos Coelho, o líder da distrital do Porto disse ontem aos congressistas em Guimarães que, se as eleições

directas se realizassem hoje, voltaria a dar seu apoio ao ex-líder da JSD. “É uma declaração

de quem faz política com frontalidade”, disse Marco António Costa, considerando que “neste momento não há lugar para divisões no PSD”. “Temos de unir esforços para vencer o PS”, apelou, tentando amortecer o efeito, nas votações de hoje, de a distrital ter assumido a ruptura por causa de lugares na lista para o conselho nacional. Vice-presidente de Luís Filipe Menezes, o líder dos sociais-democratas portuenses não deixou de lembrar ao congresso que, se Sócrates “ignorou o PSD”, também houve no partido quem tivesse dado a sua ajuda. “Foi ajudado por muitos companheiros nossos e isso não podemos esquecer”, disse. M.G.

Entre os discursos de ontem, ouviu-se a rejeição do bloco central, apelos à mudança, vontade de regressar ao poder

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Alberto João Jardim explicou a sua ausência do congresso do PSD devido a reuniões “importantes”: “Foram três dias muito intensos, não houve tempo para brincar aos partidos”, disse à Lusa. “Tenho varizes e a sobrecarga de viagens pode produzir problemas vasculares.”

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Portugal8 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Pobreza Serviços no Porto convocaram cinco mil eventuais beneficiários

Segurança Social abriu ao sábado para falar de CSI aos idososO complemento solidário para idosos, agora alargado a maiores de 65 anos, é uma bandeira do Governo de José Sócrates

Ana Cristina Pereira

a A varina Maria Gomes saía toda contente dos Serviços da Seguran-ça Social de Vila Nova de Gaia. Era “bom” estar ali, num sábado, a tra-tar do complemento solidário para idosos (CSI). De segunda a sexta “há muito trabalho, ninguém imagina”. Ao sábado, até viera um filho trazê-la de carro.

Nem só na Avenida de República se podia observar idosos a sair com formulários de candidatura ao CSI. Os serviços do Centro Distrital do Porto convocaram perto de cinco mil para comparecer em cinco balcões de Vi-la Nova de Gaia, Porto e Gondomar. Uma ideia do director adjunto do centro, Afonso Lobão, com repetição marcada para o próximo sábado.

Maria não o reconheceu, mas o presidente do Instituto de Seguran-ça Social (ISS), Edmundo Martinho, passou por ela. Também ele satisfeito com a iniciativa, que lhe parecia es-tar a “garantir um atendimento mais tranquilo” aos maiores de 65 anos, ao mesmo tempo que lhes permitia “virem acompanhadas de familiares ou amigos”.

Direito essencial“Isto é um direito essencial e temos de fazer tudo para ninguém ficar de fora só por não o conhecer”, comen-tava Martinho. “Esta é a única possi-bilidade que milhares de pensionistas têm de aumentar os seus rendimen-tos” – de terem pelo menos 400 euros por mês (342,9 euros vezes 14 meses por ano).

Em 2005, antes de o CSI sequer ser aprovado, 28 por cento da população com 65 e mais anos vivia abaixo do limiar da pobreza. O limiar da pobre-za, este ano, pelo cálculo do Instituto Nacional de Estatística, corresponde a 397 euros mensais.

Maria não chegava lá. Já tem 66 anos, mas ainda não descontou os 15 anos necessários para a pensão de velhice. E o luto cobre-a. O mari-do morreu há 14 meses e ela ficou a receber “43 contos e uns miúdos” de pensão de sobrevivência – prestação concedida ao cônjuge de alguém que à data da sua morte tenha descontado pelo menos 36 meses para a Segu-rança Social.

“Com 43 contos não se pode viver! Eu andava a vender peixe, mas a 25 do mês passado deu-me um enfarte”,

esclarecia a mulher de cabelos bran-cos, curtos, ao abandonar o centro de atendimento. “Agora tenho de acabar de encher isto”, sorria, mostrando o formulário de candidatura ao CSI. “Só botei três filhos, falta os outros dois. Tenho cinco, sabe? Todos po-bres.”

Maria olha para aquela papelada e nem desconfia, mas o processo de candidatura foi simplificado. A regra que obrigava os idosos a apresentar o IRS dos filhos estava a travar o avan-ço da medida, lembra o coordena-dor do serviço de Vila Nova de Gaia, Aventino Barros. Havia filhos que não queriam mostrar a declaração, idosos que não a pediam por medo ou ver-gonha. Agora, os serviços só pedem o nome e cruzam dados com outros serviços.

O programa, introduzido em Março de 2006, foi lançado de forma gradu-al: em 2006, destinava-se apenas a maiores de 80 anos; em 2007, abar-cava maiores de 70; desde Janeiro de 2008, maiores de 65. No final do ano passado, abrangia 61 mil idosos. No final de Maio, 76,5 mil.

Ontem, talvez por auto-exclusão, nem metade dos convocados apare-ceram, mas a experiência do centro distrital do Porto repetir-se-á noutras zonas “de maior densidade” demo-gráfica. Esta é uma das bandeiras do Governo de José Sócrates. O ISS já apelou a sacerdotes, presidentes de junta e instituições particulares de so-lidariedade social para espalharem a palavra nas zonas rurais. Assinou até um protocolo com o Instituto Portu-guês de Juventude (IPJ) para grupos de voluntários visitarem centros de saúde e falarem com os idosos sobre esta medida de combate à pobreza.

A varina mal pode esperar para contar ao filho que a espera no carro a boa notícia. Não é só o seu rendi-mento mensal que irá quase duplicar. Maria, como qualquer beneficiária de CSI, terá benefícios adicionais de saúde. Nos medicamentos, um des-conto de 50 por cento na parcela não comparticipada pelo Estado. Nos ócu-los e nas lentes, um desconto de 75 por cento, até um limite de 250 euros por cada três anos. Nas próteses den-tárias removíveis, a mesma coisa. E terá porta aberta para o consultório do dentista. Se precisar de consulta ou tratamento, o seu centro de saú-de pode entregar-lhe um “cheque-dentista”.

Cinco balcões da Segurança Social no Porto disponibilizaram ontem informação sobre o complemento

76.525era o número de beneficiários do complemento solidário para idosos (CSI) a 30 de Maio de 2008. No início do ano, logo em Janeiro, havia 61.386 beneficiários, e o CDS-PP criticava a aplicação da medida por este valor estar aquém do que fora previsto pelo Governo.

21.689é o número de requerimentos indeferidos desde que o CSI entrou em vigor. As razões de indeferimento tendem a ser três: os rendimentos, se quem pede apoio ou dos seus filhos ficam acima do valor de referência, determinam a exclusão, ou se o idoso não tem a idade legal para se candidatar.

93,78é o valor médio mensal da prestação actualmente. No ano passado, quando o CSI só abrangia maiores de 70 anos, a média era 80,6 euros. E em 2006, quando só se aplicava a pessoas com mais de 80 anos, a média era 89,33 euros.

O complemento em números

Recebia 144 euros “de viuvez”

Silvina só descobriu agora que

Ana Cristina Pereira

Reportagem

a Ao ouvir um carro parar, Silvina Lima espreita pela janela. Passo lento, dá a volta à casa térrea. Mal abre o portão ferrugento, que ameaça cair, anuncia.

– Não estou nada bem!– O que se passa?– Levaram-me a neta!Já lhe levaram a neta há 14

meses. Levaram-lhe a neta, estava a filha Isabel ainda no hospital, a recuperar da cesariana. Isabel tem 37 anos, não trabalha, “é doente da cabeça”. Vive com a mãe, dois irmãos e uma cunhada neste degradado pré-fabricado, virado para a Rua Monte de San Gens, em Matosinhos.

Silvina está cansada. Pesam-lhe os seus 76 anos. E é uma dor de cabeça permanente gerir a família, pagar as contas. Só recebe 144,07 euros “de viuvez” (pensão de sobrevivência). E é com isso que se amanha. Com isso e com os 175 euros de subsídio mensal vitalício de Isabel.

Não faz contas ao dinheiro dos outros que com ela vivem. O filho solteiro “também é doente da cabeça”, também recebe subsídio mensal vitalício, mas “gasta tudo no tabaco, no que veste, nas coisas lá dele”. O filho casado “anda a ganhar de dia o que come à noite”. A mulher “não tem saúde”. Silvina até teoriza: “Parece que pobreza chama pobreza, que desgraça chama desgraça.”

Havia ali na rua um zunzum sobre complemento solidário para idosos (CSI). De vez em quando, um vizinho instigava-a: “Você tem direito! Vá lá perguntar à Segurança Social!” E em Abril último, Silvina foi com o filho a um serviço de atendimento da Segurança Social. E descobriu que sim, que tinha direito. Tinha direito a CSI e a pensão social.

– Já tinha direito [a pensão social] há muitos anos. Não sabia. O meu filho meteu os papéis. Estou à espera.

Os seus requerimentos já foram processados. Receberá 92,4 euros de pensão social (a diferença entre a pensão de sobrevivência e

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 9

MÁRIO AUGUSTO CARNEIRO

tem direito a pensão social

a pensão mínima). E 131,14 euros de CSI. Atendendo ao que recebe hoje, aquilo até lhe parece “uma fartura”.

Foi uma surpresa “aquela coisa da pensão”. Nunca descontou para a Segurança Social. Começou a trabalhar ainda pequenina, com a mãe, que era lavadeira. Depois casou com um trolha e pôs-se “a procriar”. Morreram-lhe seis filhos. Quando enviuvou, há 37 anos, tinha sete para criar.

– Não podia ficar com eles todos. Fiquei com três e internei quatro. E mesmo assim cheguei a pedir esmola.

O mais velho tinha nove anos. Silvina ficou com os mais novos (de quatro meses, três anos, quatro anos).

Mora aqui, neste pré-fabricado pintado de branco, com estacas no lado direito que o impedem de cair, há uns 30 anos. Agradece “a Deus e às alminhas” só pagar 10 euros de renda à Câmara de Matosinhos. Irrita-a, revolta-a, tal senhorio nunca ali ter vindo fazer obras.

– A câmara ficou de fazer obras quando a minha filha estava

grávida, que era para quando a menina nascesse. Até hoje!

A miúda nasceu há 14 meses. Um documento do Tribunal de Família e Menores, datado de 30 de Março de 2007, enumera o que pesou na decisão de a tirar à família: falta de condições de habitabilidade, debilidade mental materna, ausência de retaguarda familiar. O progenitor, deficiente de uma perna, recebe à volta de 300 euros de pensão de invalidez. Dias antes de Isabel dar à luz, “deixou-a ficar à porta”. “Nunca mais apareceu.” Isabel só o tornou a ver no dia de fazer o teste de ADN.

A avó tentou ficar com a criança. Mas a avó está velha, cansada. O tempo levou-lhe os dentes quase todos e alguma saúde. E só agora, com a pensão social e o CSI, deixará de estar (pelo menos tecnicamente) abaixo do limiar da pobreza. Há sete meses, “o tribunal proibiu” avó e mãe de visitar o bebé no centro de emergência infantil. Silvina e Isabel não perceberam bem, mas adivinham. Encaminharam-no para adopção.

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Portugal

A Espanha ainda se lembra da cotovelada de Tassotti Desporto, página 39

PS está em “crescente isolamento social e político”, afirma Jerónimo

a O secretário-geral do PCP, Jeróni-mo de Sousa, afirmou que o PS está em “crescente isolamento social e político” e que abandonou os seus planos de ficar no Governo “toda a próxima década”.

“Aqueles que nos davam como um partido liquidado passaram a levan-tar o espantalho do perigo do refor-ço comunista”, afirmou Jerónimo de Sousa sexta-feira à noite, perante centenas de militantes num comício em Lisboa. Referia-se ao fundador do PS Mário Soares, que, há algumas se-manas, alertava para a possibilidade de crescimento eleitoral do PCP e do Bloco de Esquerda.

O ataque a Soares e ao PS – adver-sário do PCP no pós-25 de Abril de 1974 – fez levantar das cadeiras os mi-litantes comunistas no Fórum Lis-boa, com gritos de “PCP, PCP”.

Jerónimo aproveitou a ocasião para lembrar que, no anterior congresso comunista, há quatro anos, muitos comentadores previam que “se o partido não mudasse morreria” ou “mesmo que mudasse iria morrer lentamente”.

“Não assobiem, camaradas” “É verdade que estamos a crescer e nos estamos a reforçar, isso é um bem e não um mal”, clamou do pal-co do Fórum Lisboa, decorado com um painel onde se podia ler a frase “É preciso dizer basta!”, contra os “aumentos dos preços e o Código do Trabalho”.

Para o líder comunista, a “falência das políticas de direita” dos últimos anos, “com o PS, mas também com PSD e CDS”, resultaram num “contí-nuo atraso do país, as persistentes e

inaceitáveis desigualdades sociais”, além do “agravamento” das condi-ções de vida.

“A economia do país afunda-se a cada dia que passa e a vida da larga maioria dos portugueses piora todos os dias, com cada vez mais pessoas a viverem uma situação dramática”, disse.

O que preocupa a maioria PS, acu-sou, “não são os problemas do país mas manter o poder a todo o custo para garantir intocável o bloco cen-

tral de interesses”. E é esta preocupação que, disse Je-

rónimo de Sousa, levará os sociais-de-mocratas a voltar ao debate sobre o Bloco Central e “uma eventual alian-ça com o PS para governar”.

Os presentes vaiaram a nova líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, nesta referência ao Bloco Central, mas o líder comunista fez uma “reprimen-da”: “Não assobiem, camaradas, por-que assim sempre acabam de enganar o povo português.” Lusa

Líder do PCP responde a Mário Soares dizendo que não se cumpriram os prognósticos de morte do partido – pelo contrário, este está reforçado

O líder do PCP diz que a economia “afunda-se a cada dia que passa”

CARLOS LOPES

BE prepara para o Verão 20 comícios e uma marcha contra a precariedade

a O líder do Bloco de Esquerda (BE) anunciou ontem que a sua força po-lítica vai promover este Verão uma “resistência tenaz” ao Governo, or-ganizando 20 comícios em todo o país e uma marcha nacional contra a precariedade.

Na sequência de uma reunião da Mesa Nacional do BE,Francisco Lou-çã adiantou que os 20 comícios “con-tra a diminuição real dos salários e das pensões” terão lugar entre Julho e Agosto.

Segundo a estimativa do coorde-nador da comissão política do Blo-co, “ao longo de 2008, o corte nos salários atingiu os 60 euros por mês – um décimo do salário médio”, em consequência das subidas dos com-bustíveis e bens alimentares. Em

resposta, Louçã exigiu ao Governo “o controlo dos preços e uma subida dos salários”.

Em Setembro, será realizada uma marcha nacional contra a precarie-dade no emprego, uma iniciativa que surge na sequência da marcha nacio-nal pelo emprego que os bloquistas já realizaram em 2006. De acordo com Francisco Louçã, as iniciativas que serão promovidas no Verão constituirão também “um espaço

de debate” com outras correntes de esquerda.

“Não descansaremos de lutar por uma alternativa, que represente um compromisso com a esquerda e com as políticas sociais de esquerda”, re-feriu o líder do BE, antes de manifes-tar a sua confiança de que, “com uma resistência tenaz, é possível vencer as políticas do Governo do PS”.

Interrogado sobre se conta com a ala esquerda do PS, designadamente com a corrente de Manuel Alegre, nessa “resistência tenaz”, Francisco Louçã recusou-se a comentar esse cenário, dizendo apenas que o BE está aberto ao diálogo com “todas as forças que pretendam um com-promisso com a políticas sociais de esquerda”. Lusa

Francisco Louçã não disse se conta com a corrente “alegrista” do PS na “resistência tenaz” ao Governo

Governo reprimiria trabalhadores num bloqueio, diz líder da CGTP

A O líder da CGTP, Carvalho da Sil-va, disse ontem em Setúbal que o Go-verno teria actuado de forma mais repressiva, se o bloqueio efectuado pelos empresários do sector dos transportes rodoviários tivesse sido levado a cabo por trabalhadores.

“Se alguns dos comportamentos que os pequenos empresários – que têm razões de protesto, isso não está em causa – tivessem sido protagoni-zados por trabalhadores, levavam cargas de polícia em cima que não era brincadeira. Mesmo que tivessem agido na legalidade”, disse Carvalho da Silva.

O sindicalista falava perante meia centena de pessoas que assistiam a um debate sobre a “Actualidade do sindicalismo”, no âmbito de um ciclo da Universidade de Verão da Federa-ção Distrital de Setúbal do PS.

Carvalho da Silva falou dos desafios do sindicalismo face ao “neoliberalis-mo” do mundo globalizado, e defen-deu que os “sindicatos têm de con-frontar a sociedade com os erros que está a cometer, ao dizer aos jovens que têm de trabalhar por 500 ou 600 euros e sem direitos sociais”.

O líder da CGTP referiu ainda a necessidade de os sindicatos reflec-tirem sobre as novas formas das re-lações de trabalho e reconheceu que as respostas para muitos problemas laborais também dependem da acção política.

Na mesma sessão, o secretário-ge-ral da UGT, João Proença, lembrou que a globalização se caracteriza pe-las multinacionais e pela livre circu-

lação de capitais, salientando que muitas vezes os “fundos de pensões são utilizados para eliminar postos de trabalho, tendo apenas como pre-ocupação o lucro”.

“Hoje o dinheiro a circular é sobre-tudo para especular; 75 por cento do capital que circula no mundo – por vezes vai e vem em menos de uma semana – é capital especulativo. E a União Europeia é incapaz de comba-ter esses movimentos.”

Proença defendeu ainda que o au-mento da competitividade das em-presas portuguesas não pode ser fei-to à custa de “baixos salários” e que “nada justifica a diminuição de di-reitos, nomeadamente em Portugal, face aos nível de desenvolvimento do país”. Lusa

Carvalho da Silva

Anglicanos portugueses festejam 50 anos do 1.º bispo e de autonomia

António Marujo

A Os anglicanos portugueses, que se reúnem na Igreja Lusitana, vive-ram ontem um importante momento simbólico: comemoraram os 50 anos da ordenação do seu primeiro bispo, facto que só aconteceu 70 anos de-pois da sua implantação em Portugal. Ter um bispo significou conseguir a autonomia da Igreja. “Sendo a Igreja Lusitana de espírito episcopal, era fundamental ter um bispo”, explicou ao PÚBLICO António Manuel Silva, historiador e responsável pela área de arquivo da Igreja.

A comunidade – que integra a Co-munhão Anglicana – foi criada em 1880. No início, era constituída por in-gleses residentes em Lisboa. Durante décadas, os seus membros tentaram ter um bispo, sem êxito. Só em 1958, com o apoio de várias comunidades anglicanas no estrangeiro, é que tal objectivo se concretizou.

Antes disso, já em 1894 os anglica-nos portugueses tinham escolhido Thomas Pope. Em 1922, a escolha do Sínodo (assembleia máxima da Igre-ja) recaiu sobre Joaquim dos Santos Figueiredo. Em ambos os casos, a or-denação nunca se concretizou.

Um bispo, nas igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana (ou Episcopa-liana, como é chamada em alguns

países) é fundamental para a identi-dade da hierarquia. É ele que preside a uma diocese, a comunidade cristã por excelência. Além de outras com-petências, cabe ao bispo a ordenação de padres ou presbíteros.

O primeiro bispo lusitano foi Antó-nio Ferreira Fiandor, que esteve no cargo apenas por dois anos, tendo em conta a idade com que fora escolhido. Em 1960, resignou ao lugar, dando a vez a Luís César Rodrigues Pereira, que desempenhou a função até 1981,

quando foi substituído por D. Fernan-do Soares, ainda em funções.

Ontem, 300 pessoas (além de re-presentantes de outras Igrejas angli-canas, protestantes e do patriarcado católico de Lisboa) encheram a Cate-dral de S. Paulo da Igreja Lusitana, em Lisboa, vindas de todas as comu-nidades do país. Os lusitanos são cer-ca de três mil, embora só um terço frequente os cultos dominicais. Há 15 comunidades distribuídas sobretudo nas zonas de Lisboa, Porto, Ribatejo, Setúbal e Alcácer.

15Os anglicanos da Igreja Lusitana reúnem-se em dezena e meia de comunidades em Lisboa, Porto, Ribatejo e Setúbal

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Portugal12 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Ensino Os infantários ambulantes para as crianças das regiões mais desertificadas

Educadoras itinerantes levam o pré-escolar a locais isoladosTodos os dias, por todo o país, deslocam-se a montes, aldeias e localidades com poucas crianças para garantir que elas têm acesso à mesma educação que as outras

No Ameixial (Algarve), há aulas para apenas cinco crianças

a A rotina repete-se há anos, mas por vezes Célia Brito ainda tem de parar para pensar qual é o dia de semana e para que aldeia se deve dirigir. É que, ao contrário da maioria dos colegas, a educadora não acompanha os meninos de um único jardim-de-infância, mas desloca-se em dias alternados para aldeias diferentes, onde as crianças são tão poucas – e cada vez são menos – que não se justifica abrir um estabelecimento de ensino fixo.

Podia estar num jardim-de- infância perto de casa, em Faro, com salas repletas de crianças e outro colegas com quem partilhar o dia-a-dia, mas foi esta a vida que escolheu logo que o projecto da educação pré-escolar itinerante se disseminou no Algarve, no final dos anos 90. “Quanto mais trabalho na serra, mais quero continuar por lá. Gosto de trabalhar com as comunidades. As pessoas são muito acolhedoras”, explica ao volante do seu Peugeot comercial, no início de mais um dia e mais uma viagem.

Da sua casa em Faro ao Ameixial, em plena serra do Caldeirão, onde acompanha cinco meninos às terças e quintas, são 50 quilómetros. Praticamente todos de curvas e contra-curvas, num percurso que, ao longo de 45 minutos, põe à prova a resistência de qualquer passageiro. “Quando chove e está vento, parece que as árvores vão cair em cima de mim. Nessas alturas penso se vale a pena fazer estes quilómetros todos para depois chegar lá e não haver crianças. Mas, a não ser que estejam doentes, nunca faltam”, garante Célia Brito, 52 anos, educadora itinerante há seis e actualmente responsável por dois pólos. Às segundas, quartas e sextas desloca-se a Querença, também no concelho de Loulé, onde está com mais três meninos.

A serra entregue aos idososEm todo o distrito de Faro, Célia e mais 11 educadoras asseguram que uma centena de crianças de localidades mais ou menos isoladas tenham o mesmo direito que as outras e acedam a programas de educação pré-escolar. Para algumas, estes são mesmo os únicos momentos em que conseguem brincar com miúdos da mesma idade. Há quem fale

factores humanos e da educação”, argumenta. “Se não fosse esta solução, estas crianças tinham menos possibilidades. E, se acabar, os pais que querem dar este tipo de estímulos aos seus filhos vão mesmo ter de ir para outros sítios. A serra fica entregue aos idosos.”

Os argumentos parecem ter colhido até agora junto do Ministério da Educação, mas nada está garantido, antecipando-se já o encerramento da escola do 1.º ciclo, este ano frequentada por cinco meninos e, no próximo, provavelmente por apenas três. A ordem é para, até 2010, fechar todas as escolas com menos de 10 alunos ou de 20 e taxas de insucesso elevadas. “Este ano já foi resvés”, diz Célia.

“São tão poucos...”Poucos metros ao lado da escola do 1.º ciclo, numa sala cedida pelo Grupo Desportivo Ameixialense, Alexandra, André e Derrie, um inglês chegado há dois anos, brincam, desenham, conversam e ouvem histórias. “Uma das coisas de que tenho mais saudades é dos grandes momentos de histórias. Com grupos grandes, eles vão atrás uns dos outros, há muito mais feedback”, explica Célia, tentando cativar a atenção dos três para a história do elefante Elmer.

Do lado das vantagens, a educadora destaca a relação “muito mais estreita e rica que se estabelece com cada uma das crianças”. E com as famílias, para quem Célia se torna bastante mais do que a educadora de infância que vai duas vezes por semana ao Ameixial. “Todas as crianças do 1.º ciclo e algumas que já estão no 2.º ciclo, na escola de Salir, passaram por mim”, diz orgulhosa. Às mães dá conselhos e traz o que for preciso de Faro.

À hora do almoço, Odete, tia de um dos alunos do 1.º ciclo, passa à porta da escola para “ver os meninos”. Mal se cruza com a educadora e com a professora, o lamento sai-lhe pronto: “Ai são tão poucos! Fico tão triste...”

Mas, nesse dia, Célia ainda ia receber uma boa notícia e mais um argumento a favor da sua causa. Um casal de um monte próximo apareceu na escola interessado em inscrever a sua filha no pré-escolar no próximo ano. Com a frequência dos gémeos Rafael e Rodrigo também assegurada, a educadora poderá vir a ter um recorde máximo de seis crianças, se o pólo

Isabel Leiria

Reportagemcomo os avós, por serem as únicas pessoas com que estão habituadas a conversar.

Com a deslocação das famílias para o litoral são, no entanto, cada vez menos as crianças a precisar deste apoio. Em todo o país, o número de educadores itinerantes ascende às seis dezenas, que acompanham meio milhar de meninos. Mas só no Algarve já foram o triplo do que são actualmente. “Por mim, enquanto houver crianças no Ameixial, é na itinerância que quero continuar.”

O futuro é incerto, numa freguesia com pouco mais de 600 habitantes e onde 90 por cento da população tem acima de 65 anos, admite Abílio Sousa, presidente da junta. “Acima dos factores económicos, devem estar os

78%era a percentagem de crianças entre os 3 e os 5 anos inscritas em jardins-de-infância (quase metade em estabelecimentos privados), no ano lectivo de 2005/2006.

A taxa de cobertura, contudo, varia muito de região para região, com o Algarve e Lisboa a terem os maiores problemas de oferta. Há concelhos em que a cobertura é inferior a 50 por cento.

O programa do actual Governo prevê um alargamento progressivo da taxa de cobertura a todas as crianças na idade adequada à educação pré-escolar.

Número

Retrato da educação itineranteEducação pré-escolar itinerante por direcção regional de Educação (2007/2008)

Centro11 pólos11 educadoras de infância101 crianças

Alentejo15 pólos18 educadoras de infância211 crianças

Algarve15 pólos12 educadoras de infância92 crianças

Norte12 pólos16 educadoras de infância136 crianças

Lisboa e Vale do Tejo4 pólos4 educadoras70 crianças

Fonte: direcções regionais de Educação

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 13

MELANIE MAPS

do Ameixial continuar a funcionar. Em Querença, apenas restará uma.

“Este apoio é fundamental. Para ajudar na transição para o 1.º ciclo e para a socialização e interacção com outras crianças e adultos”, reforça. E é por isso que os projectos de educação pré-escolar implicam o contacto com os alunos mais velhos e visitas às escolas.

No Ameixial, juntam-se todos nos intervalos e à tarde para fazer actividades em conjunto. Quando é possível, organizam-se visitas fora do concelho. Nem que seja ao Fórum Algarve, em Faro, para uma ida ao cinema.

Em todo o concelho de Alcoutim não há um único jardim-de- infância público – existem apenas duas instituições particulares de solidariedade social – mas todas as crianças entre os três e os cinco anos têm educação pré-escolar. “A itinerância é a rede pública do concelho”, explica Cristina Ginja, educadora itinerante desde 1991.

Actualmente colocada em Vaqueiros, apoia nove meninos, nenhum deles sendo da aldeia, mas sim dos montes à volta. As crianças são transportados diariamente em várias levas por uma carrinha da câmara municipal até ao museu local, que já foi escola primária e que, provisoriamente, volta a fazer as vezes de sala de aula.

“Num ano temos um pólo, noutro temos outro. A evolução é constante à medida das necessidades”, explica Cristina Ginja.

Antes eram as educadoras que tinham de bater todas as localidades em busca de crianças em idade pré-escolar e sensibilizar os pais. Actualmente, são os pais que vão procurar pelas educadoras.

Para além dos pólos fixos, criados em localidades onde se consegue reunir um número mínimo de crianças, a educação pré-escolar itinerante também abrange o apoio ao domicílio, prestado a crianças de localidades muito isoladas, ou, numa primeira fase, para preparar a transição para um pólo e “quebrar o gelo”, explica Cristina.

No seu caso, é ainda responsável por uma “ludoteca itinerante”. A “ludoteca” é na verdade uma carrinha Renault branca, transformada em centro de recursos ambulante.

Na carrinha transportam-se secretárias, materiais e equipamentos didácticos, que circulam pelas estradas deste concelho do distrito do Faro para promover actividades conjuntas entre os mais novos e os alunos do 1.º ciclo.

Substitutas da rede públicaDas visitas a casa à ludoteca itinerante

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14 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Portugal

Detenções, feridos e um morto ensombram a vitória turca, Desporto, página 37

Samuel Silva

a Perto de 60 por centro dos es-tudantes do 12.º ano recorrem a ex-plicações para melhorar os seus de-sempenhos escolares. A competição nos exames nacionais de acesso ao ensino superior é a principal razão destes números.

As conclusões são de um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) que, desde 2005, es-tuda o fenómeno. O projecto “Xplika” decorre há três anos; os resultados conhecidos partem da análise da re-lação dos alunos do 12.º ano com as explicações em várias escolas públi-cas e do ensino profissional.

António Neto-Mendes, um dos in-vestigadores, diz que as explicações já não fazem parte do “campeonato das dificuldades”: “Tradicionalmen-te, eram as dificuldades de aprendi-zagem e os baixos rendimentos es-colares que explicavam o recurso às explicações”. Hoje em dia, “há um outro campeonato, o dos bons e mui-to bons alunos, que tem a ver com o acesso ao ensino superior e com os exames nacionais”.

Multinacionais da explicaçãoNos agrupamentos de Ciências e Artes, há turmas onde mais de 90 por cento dos alunos recorrem a apoio fora da escola. São jovens que querem aceder a cursos como Medicina e Arquitectu-ra, “áreas em que a competitividade é mais acentuada e as notas estão infla-cionadas”, diz Neto-Mendes.

A Matemática é a disciplina mais procurada pelos estudantes. Seguem--se Química, Física e Geometria Des-critiva. Por semana, os alunos pas-

sam, em média, sete horas com os ex-plicadores; os custos mensais para as famílias andam à volta dos 150 euros.

Os custos são o principal problema detectado pelo estudo: “Os preços das explicações colocam em causa o aces-so às explicações a famílias com mais baixos rendimentos”. Estas famílias estão por isso sub-representadas em cursos como Medicina e Arquitectu-ra. “Esta realidade devia preocupar os responsáveis políticos, em termos de equidade e justiça social.”

O investigador rejeita, contudo, que o problema se deva a fragilidades no ensino público: “Não tem nada a ver com a qualidade do ensino. Há ques-tões de poder de compra e de ostenta-ção associadas, já que os pais se esfor-

çam por colocar os filhos nos melhores explicadores, não olhando a custos”. De resto, os dados conhecidos apon-tam para que o recurso a explicações no ensino privado tenha “números se-melhantes aos nas escolas públicas”.

Neto-Mendes fala mesmo de um “sistema educativo na sombra” que está a atrair empresas multinacionais. Estas oferecem explicações, especial-mente nas áreas das ciências e das línguas, contratando recém-licencia-dos nas áreas de ensino. Os números não são precisos, mas apontam para milhares de explicadores em todo o país e, muitas vezes, sem o conheci-mento do Ministério da Educação, a quem é necessário pedir autorização para exercer a actividade.

As explicações já não são só para alunos com dificuldades

Mais de metade dos alunos do secundário recorrem a explicações no acesso ao superior

PEDRO CUNHA

40%dos alunos têm explicações a Matemática, a disciplina mais procurada. Química, Física e Geometria Descritiva são as outras matérias onde há mais apoio extra.

7horas semanais é quanto, em média, os estudantes dedicam às explicações. Há, contudo, quem chegue a ter 12 horas de explicações por semana.

Matemática no topo

Reitores pedem cem milhões para reforço do orçamento

Bárbara Wong

a A “grave situação financeira das universidades” pode pôr em causa o pagamento de salários ainda este ano, alerta o Conselho de Reitores das Uni-versidades Portuguesas (CRUP), para quem é preciso um reforço de cem milhões de euros para que as institui-ções consigam ultrapassar as dificul-dades financeiras que vivem – entre elas, a capacidade de pagar aos seus funcionários.

O CRUP decidiu manifestar a José Sócrates a “grande preocupação pela grave situação financeira” das insti-tuições, um cenário que os reitores já anteciparam há muito, desde que tiveram conhecimento do Orçamento do Estado deste ano. Por isso, pedem uma reunião de urgência com o pri-meiro-ministro.

Em comunicado, os reitores lem-

bram que, com a aplicação da Lei do Orçamento, foram retirados “mais de 13 por cento da massa salarial global (11 por cento referentes ao aumento das transferências para a Caixa Ge-ral de Aposentações e 2,1 por cento correspondentes aos aumentos sa-lariais)” dos orçamentos das univer-sidades para 2008. “Numa primeira abordagem, há, assim, que repor, no mínimo, esses montantes” ainda este ano, exigem.

Neste contexto, o CRUP considera necessário transmitir ao primeiro-mi-nistro a “sua grande preocupação”

com o arranque do próximo ano lectivo. Já em Fevereiro, os reitores enviaram um ofício a Sócrates, cha-mando a atenção para o “deficit real de tesouraria” e a impossibilidade de cumprir os seus compromissos.

“Clima de diálogo”Antes, em Janeiro, Sócrates reuniu com os responsáveis das universida-des e prometeu agendar nova reunião para Março, que não aconteceu. Os reitores “lamentam” que “nenhuma evolução tenha ocorrido”. Para eles, só “em clima de aproximação e de diálogo com o primeiro-ministro se poderão encontrar os meios de resol-ver as dificuldades criadas”.

Por isso, pretendem chamar a “atenção para a extrema urgência que estes assuntos agora assumem, já que entendem não poderem parti-cipar em exercícios de preparação do

Orçamento de 2009 em qualquer ou-tro contexto que não seja o que lhes foi proposto pelo primeiro-ministro”. Na altura, Sócrates garantiu-lhes que o Orçamento de Estado de 2009 irá prever o reforço de verbas para o en-sino superior.

Também esta semana, o Conse-lho Coordenador dos Institutos Su-periores Politécnicos denunciou que o pagamento de salários pode estar em risco se não houver uma transfe-rência de 30 milhões de euros para as instituições. O problema dos poli-técnicos é exatamente o mesmo das universidades: os encargos com a Caixa Geral de Aposentações.

O Ministério da Ciência, Tecnolo-gia e Ensino Superior anunciou ainda este mês que tenciona transferir 9,5 milhões de euros para distribuir por quatro universidades e três politécni-cos em risco de colapso financeiro.

Universidades e politécnicos dizem que podem ter salários em risco e pedem reforços financeiros para repor equilíbrio

“A Ler Mais” com 32 escolas inscritas em 2008/2009

Daniela Gouveia

a Alunos de 32 escolas, professores e famílias vão começar no próximo ano lectivo “A Ler Mais”, uma pro-posta do Plano Nacional de Leitura (PNL), da Rede de Bibliotecas Escola-res e da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas. Baseado no programa Re-ading Connects, do National Reading Trust, do Reino Unido, o projecto português será posto em prática em escolas dos ensinos pré-escolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclos.

Alexandra Marques, coordenadora deste projecto, disse que o objectivo é “criar uma filosofia de trabalho para a promoção da leitura e do prazer de ler não confinada à biblioteca e da sala de aula”. Para a criação de uma cultura de leitura, diz Marques, é pre-ciso alargar a leitura a outras discipli-nas que não só a Língua Portuguesa, e para além das obras dos grandes autores da Literatura: “É também o acesso à leitura através dos jornais, das revistas e dos sites para chegar aos mais novos”.

Ao cargo do PNL fica a disponibi-lização de livros, em suporte digital e papel. Nas escolas, serão criadas equipas locais, que vão coordenar as actividades e servirão de “interlocu-tores” do PNL.

Apoiante de Alegre contra política educativa de Sócrates

Lusa

a O sociólogo Manuel Sarmento, da Universidade do Minho, acusou ontem no Porto o actual Governo de abdicar de lutar por “uma política de igualdade de oportunidades na educação”. Sarmento que integra a corrente “Opinião Socialista”, cria-da por Manuel Alegre, participava no encontro Nova Esquerda e Educa-ção: que Políticas?, que contou com a participação da deputada socialista Manuela de Melo.

O Governo “abdicou da política da igualdade de oportunidades em nome” da melhoria dos resultados, disse Sarmento. “Entre este dois ob-jectivos há uma diferença fundamen-tal: podemos melhorar os resultados considerando, à esquerda, a necessi-dade prioritária de promover a igual-dade de oportunidades ou podemos pensar em melhorar os resultados criando os instrumentos e os dispo-sitivos necessários para que, estatis-ticamente, de uma forma global, se atinjam os objectivos.”

Para o sociólogo, o Governo tem apostado na segunda via, ao importar modelos empresariais “com incidên-cia na organização das escolas e na regulação do sistema educativo, dos alunos e dos professores”.

Famílias gastam em média 150 euros por mês com explicações. Investigadores da Universidade de Aveiro falam no risco de desigualdades sociais

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PortugalPúblico • Domingo 22 Junho 2008 • 15

Bastonário dos Notários acusa Governo de lhes retirar competências

Paula Torres de Carvalho

Notários dizem que o executivo beneficia os advogados e que está em risco a “segurança jurídica”

a Os notários prosseguem a “guerra” com o Governo. O seu bastonário, Joa-quim Barata Lopes, acusa o Ministério da Justiça de ter feito uma reforma para lhes retirar competências e en-tregá-las a outros profissionais do di-reito, particularmente aos advogados. E alerta para o risco de abandono do sistema de justiça preventiva e para o aumento dos litígios em tribunal.

Estas questões foram expostas na reunião plenária anual dos notariados da União Europeia, que decorreu na sexta-feira e ontem em Cascais, desti-nada a encontrar as melhores formas de cooperação em matérias como o combate ao branqueamento de capi-tais, a escritura pública e a sua livre circulação em todo o espaço comu-

nitário e os efeitos patrimoniais do casamento e uniões de facto nos di-ferentes países europeus.

Em conferência de imprensa, Bara-ta Lopes afirmou que a reforma do no-tariado, em Portugal, só beneficiou os que “obtiveram novas competências e novos negócios, à conta das com-

petências retiradas aos notários, os advogados em primeiro lugar” e que “a colaboração activa dos notários é sistematicamente rejeitada”.

Enquanto “todos os ministérios da Justiça [europeus] pediram o apoio activo e intervenção dos diversos no-tariados para preparar a resposta, o

Governo português recusou o apoio que o notariado português se disponi-bilizou para prestar”, afirmou Barata Lopes, acrescentando : “Mais do que isso, recusou estar presente nas reu-niões no sentido de trocar impressões sobre esta matéria”.

Insurgiu-se ainda contra o facto de, ao longo da reforma da actividade no-tarial, nunca os notários portugue-ses terem sido “previamente ouvidos para darem as suas sugestões”, mas apenas depois, “formalmente quando os diplomas já estão elaborados”, ao contrário do que acontece com “todas as outras profissões jurídicas”.

Barata Lopes nota que “uma das principais vantagens da intervenção dos notários é a prevenção de con-flitos e a segurança jurídica” e prevê que, “dispensando a intervenção do notário, especialmente preparado pa-ra garantir que a vontade das partes está em estrito cumprimento da lei”, aumentará o recurso aos tribunais pa-ra dirimir os conflitos: “A vida dos ci-dadãos deve ser simplificada mas sem descurar a segurança jurídica”.

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Só seis foram ao jantar do buzinão de 94

Daniela Gouveia

a O “jantar de antigos combatentes” do buzinão de 1994 na Ponte de 25 de Abril, que a meio da semana tinha 22 inscritos, teve apenas seis lugares ocupados. Na noite de sexta-feira, na sala de conferências do Café Império, em Lisboa, uma outra mesa ainda re-clamava pessoas, mas sem sorte.

O organizador Aristides Teixeira, número um da Associação de Utentes da Ponte de 25 de Abril (ADUP) e “pai do buzinão” (como o próprio se intitu-la), estava feliz com o reencontro. Evo-cando o primeiro grupo de cidadãos para a revolta da ponte em 1994, ape-lou-se ao convívio, entre dois cartazes que diziam “não ao pagamento injusto de portagens”, uma televisão ligada na Liga dos Últimos, previsões de “uma guerra civil inevitável” e brindes “à cidadania” com copos de água.

Teixeira reitera que a reunião foi “para o convívio” mas não deixou de referir que, “na história, tudo se repete”. E prometeu “mais buzinões, mais marchas lentas”.

Os notários acusam o Governo de “não ouvir” as suas sugestões

NELSON GARRIDO

A área ardida em Portugal nos primeiros cinco meses deste ano mais do que duplicou relativamente ao mesmo período do ano passado, segundo dados provisórios da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, citados pela Lusa. Os distritos mais afectados foram Braga e Vila Real.

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Mundo16 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Tibete Polícias e soldados impedem manifestações em Lhasa

Os militares tornaram a sua presença bem notada durante a cerimóniaNIR ELIAS/REUTERS

Chama olímpica percorreu sob estreita vigilância as ruas da capital tibetanaJornalistas e populares foram rigorosamente controlados pelas autoridades para poderem assistir à coreografia preparada em Lhasa pelo regime comunista chinês

a A chama olímpica passou mesmo pelo Tibete, apesar de todos os pro-testos que houve em todo o mundo. O desfile terminou, sob fortes me-didas de segurança, por baixo do imponente palácio de Potala (antiga residência principal do Dalai Lama), depois de fazer, durante mais de duas horas, um percurso a que só tiveram acesso pessoas cuidadosamente es-colhidas.

Os funcionários do Partido Comu-nista da China (PCC) encarregados da administração do Tibete aprovei-taram a passagem da chama olímpica por essa região autónoma para criti-carem o Dalai Lama, líder espiritual do território, desde há muito exila-do. E assim defenderem o controlo da mesma por Pequim.

“O céu do Tibete jamais se alterará e a bandeira vermelha, com as cinco estrelas (símbolo da China), aí ondea-rá para sempre, bem alto”, procla-mou o chefe regional do PCC, Zhang Qingli, na cerimónia que assinalou o fim do cortejo. “Conseguiremos es-magar totalmente os esquemas sepa-ratistas da clique do Dalai Lama.”

Dalai Lama fez “coisas más”Pequim acusa o chefe tradicional de uma terra profundamente religio-sa de ter feito “muitas coisas más”. Uma delas parece ser não amar devidamente a China, que deveria considerar a sua pátria. Mas o Dalai Lama deixou o Tibete em 1959, por ter entrado em conflito com o regime comunista.

Segundo as autoridades, o 14.º Da-lai Lama incitou aos protestos e à agi-

tação de Março, em Lhasa como em todo o Tibete, com o alegado objecti-vo de vir a prejudicar o êxito dos Jogos Olímpicos de Pequim, que abrem a 8 de Agosto. Mas ele nega as acusações e diz preferir a via do diálogo.

A chama olímpica que percorreu o mundo e agora dá a volta à China tem originado grande controvérsia, pelo que toda a gente estava atenta ao que iria acontecer no dia em que ela chegasse a Lhasa. Havia polícias e sol-dados a cada esquina, fiscalizando os grupos de habitantes que deveriam aplaudir a tocha, numa coreografia planificada ao milímetro.

“A passagem da chama dos Jogos Olímpicos de Pequim ateará ainda mais o espírito patriótico do povo”, disse outro líder do PCC no Tibete, Qin Yizhi, em sintonia com os dísticos desfraldados por grupos de estudan-

tes, numa manobra propagandística própria dos regimes totalitários.

Algumas dezenas de jornalistas estrangeiros receberam uma auto-rização especial para cobrir a ceri-mónia. Mas tiveram de viajar numa caravana fortemente guardada, sem hipótese de circular livremente por entre a população, nem de lhe faze-rem perguntas que revelassem o seu verdadeiro estado de espírito.

Há três meses, aliás, que os jorna-listas estrangeiros não podem andar pelas ruas de Lhasa, conforme notava ontem a BBC; e de igual modo são muito escassos os turistas que ac-tualmente conseguem autorização para conhecer o Tibete — região pla-náltica da Ásia Central que é a mais elevada de todo o planeta, e por isso é por vezes referida como o “Tecto do Mundo”.

Jorge Heitor

Meio milhar de tibetanos exilados no Nepal e que ontem se manifestavamfrente à embaixada da China em Katmandu, contra a passagem da chama olímpica pela cidade de Lhasa, foidetido pela polícia local e conduzido a diversas esquadras, com a promessa de que mais tarde viria a ser libertado, quando chegasse a noite. Os manifestantes, na sua maioria freiras e monges budistas, ostentavam o pavilhão do Governo tibetano no exílio e gritavam: “China mentirosa, deixa o Tibete”.

Detenções no Nepal

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 17

Obama com 15 por cento de vantagem sobre McCain

Barack Obama tem 15 pontos de vantagem sobre o seu rival republicano nas eleições presidenciais dos EUA, segundo

uma sondagem da revista Newsweek, ontem revelada: tem 51 por cento das intenções de voto, contra 36 para McCain.

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Ramos-Horta sempre esteve na mira da espionagem australiana

DADANG TRI/REUTERS

Espionagem australiana começou a seguir Ramos-Horta em 1974

a A Australian Security Intelligence Organization (ASIO, serviços secre-tos) desclassificou ontem centenas de documentos referentes ao actual Presidente de Timor-Leste, José Ra-mos-Horta. Mas ainda conserva por desvendar cinco dossiers que tem sobre ele.

Naquilo que o jornal The Canberra Times considerou “um passo em falso diplomático”, a ASIO e o ministério australiano dos Negócios Estrangei-ros nem sequer teriam consultado ou avisado o chefe de Estado de que iam trazer a público todo o seu passa-do, desde que, em Outubro de 1974, o começaram a espiar. Foi quando se tornou claro que era o principal representante internacional da causa nacionalista timorense.

A divulgação de ficheiros secretos sobre um Presidente em exercício num país vizinho é algo “sem prece-dentes”, comentou Clinton Fernan-des, professor da Universidade da Nova Gales do Sul.

“Primeiro a Austrália espia a vida de Ramos-Horta, depois Camberra

trai Timor para benefício dos milita-res indonésios e, três décadas depois, divulga os documentos sem sequer se dar ao trabalho de um telefonema para lhe dizer”, referiu.

O material vindo a lume revela que, em Maio de 1975, a ASIO contou à sua congénere indonésia BAKIN os con-tactos que Ramos-Horta tivera com a Comissão Australiana para um Timor--Leste Independente e com o Parti-do Comunista da Austrália. Sabe-se que o primeiro-ministro australiano do período 1972-1975, o trabalhista Gough Whitlam, achava que Timor--Leste “era demasiado pequeno e eco-

Jorge Heitor

Os serviços secretos de Camberra teriam dito a Jacarta tudo o que sabiam sobre o principal representante internacional da causa timorense

nomicamente inviável para se tornar independente”.

Whitlam “lamentará um dia a nego-ciata que fez com Suharto” (o ditador indonésio), para que Jacarta ocupas-se Timor-Leste, teria escrito em dada altura Ramos-Horta, segundo uma carta sua incluída nas mais de 550 páginas agora desclassificadas.

Nos últimos tempos, tem-se repeti-do que Ramos-Horta está a ponderar a hipótese de renunciar à presidência para se candidatar a alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, como sucessor da cana-diana Louise Arbour.

José Eduardo dos Santos pede tolerância a Mugabe

a O Presidente José Eduardo dos Santos pediu ao seu homólogo zimba-bweano, Robert Mugabe, que “obser-ve um espírito de tolerância e respei-te as regras democráticas”, noticiou ontem o Jornal de Angola, no dia em que seguiram para Harare o ministro sul-africano da Administração Local, Sydney Mufamadi, e o conselheiro presidente M’Kojanku Gumbi, encar-regados por Pretória de uma missão de bons ofícios.

Na mensagem verbal enviada pelo ministro da Juventude e Desportos, José Marcos Barrica, chefe da missão de observadores da Comunidade pa-ra o Desenvolvimento da África Aus-tral (SADC), o chefe de Estado ango-lano pediu o fim de todos os actos de intimidação e violência que se têm estado a registar em todo o Zimba-bwe, para que então possa haver “confiança, transparência e lisura no processo”.

Como responsável pelo órgão de Cooperação Política, Defesa e Segu-rança da SADC, José Eduardo dos Santos afirmou-se preocupado com o actual clima político num país aliado,

ao aproximar-se o dia marcado para a segunda volta das presidenciais, a próxima sexta-feira, 27 de Junho.

Entretanto, amanhã é a vez de o Conselho de Segurança das Nações Unidas debater se realmente existem condições para que a população zim-babweana possa ir às urnas, sem te-mer ser presa ou espancada.

Dos Santos quer “transparência”

Irão não acredita em ataque de Israel

A O exercício militar israelita do início do mês no Mediterrâneo foi mesmo um ensaio para um ataque às instalações nucleares iranianas, e foi tornado público como uma forma de aviso a Teerão, confirmou ao jornal britânico The Times um responsável político de Israel não identificado.

A resposta oficial de Teerão era mais em tom de desafio. “Tamanha audácia de lançar um assalto aos in-teresses e integridade territorial do nosso país é impossível”, disse à BBC Gholam Hoseyn Elham, um porta-voz oficial.

Mas Israel não quer ambiguidades. “Foi um ensaio geral, e o iranianos devem conhecer o guião antes de decidirem continuar com o seu pro-grama para a construção de armas nucleares”, disse a fonte não identi-ficada ao diário de Londres.

No entanto, o Irão confirma que está a analisar a oferta feita por seis países para conversações prelimina-res a um quadro negocial de novos incentivos para o país abandonar o seu programa nuclear.

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Mundo18 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Diga Lá Excelência Vítor Martins, ex-secretário de Estado da Integração Europeia

Sem outro referendo não se pode reverter o “não” irlandêsAinda a CEE não tinha nascido e já tinha crises comparáveis a esta. Daí que desdramatize e recomende humildade democrática

José Manuel Fernandes e Raquel Abecasis (Renascença)

a Foi secretário de Estado a Integração Europeia e hoje é um dos consultores do Presidente da República para os temas europeus. Em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, que a RTP2 emitiu ontem, defendeu que “um recuo no Tratado de Lisboa também colocará em causa o alargamento”, pelo que a Europa deve tentar, em conjunto com a Irlanda, encontrar soluções que dêem aos eleitores daquele país as garantias que lhes faltaram para votarem “sim”. Esperava o resultado deste referendo?Não, mas entendo que o devemos aceitar com humildade democrática. O resultado negativo tem de ser aceite nas suas consequências — e que são negativas para a União Europeia, sobretudo porque está há cerca de 12 anos mergulhada em negociações sobre o seu modelo institucional. Foi um período em que o Mundo mudou e a Europa esteve a olhar para dentro. Como a Europa já não comanda o ritmo do mundo…Na última semana, falou-se do cenário de uma Europa a duas velocidades, os que disseram que a Irlanda tinha era de votar outra vez e ainda os que, como a revista The Economist, recomendaram que se enterrasse o Tratado de Lisboa. Qual prefere?É bom recordar que esta não é a primeira crise da Europa. Logo no início, em 1954, foi a França quem chumbou a comunidade da Defesa, que até tinha sido proposta por franceses. Houve mais crises na integração europeia e foram sendo superadas.Nas crises dos referendos anteriores, o dinamarquês de 1992 e o irlandês de 2000, foi possível pedir-lhes para repetirem a votação. Isso pode voltar a ser pedido à Irlanda?Para já, não se pode pedir coisa nenhuma. Primeiro, os responsáveis irlandeses têm de fazer uma análise profunda do referendo, situar as dúvidas dos irlandeses, e só depois a União poderá ver se encontra algo que possa fazer para ajudar os

irlandeses a aprovarem o Tratado. Fala como um homem que constrói a Europa, não como o povo que constituiu a Europa, fala como se os irlandeses tivessem de corrigir um erro…Falo como alguém com convicções sobre o tema. E por isso acho que a Europa deve procurar perceber se tem instrumentos para resolver as dúvidas dos irlandeses.Um estudo do Eurobarómetro mostra que as razões dos irlandeses tocam em muitos pontos concretos do Tratado, como a perda do comissário permanente ou a existência de uma espécie de ministro dos Negócios Estrangeiros, que indicia um caminho mais federalista…Não sei se é necessário retirar do tratado todos os pontos contestados na campanha irlandesa. Mas a existência de um comissário permanente por Estado, pode resolver-se, pois o próprio Tratado prevê que o Conselho, desejando-o, mantenha a actual situação em que há na Comissão um nacional de cada Estado. É uma hipótese, de que, de resto, Portugal também beneficiaria e se calhar até traria vantagem para todos. Outro exemplo, também muito sensível na Irlanda: o da neutralidade. Também aqui se poderia dar garantias adicionais, um opting out, solução que até já serviu para ultrapassar o “não” dinamarquês. Isso obrigaria sempre a um segundo referendo.Não vejo que haja outra possibilidade de reverter o “não” irlandês. Por isso, o que defendo é que se encontrem respostas europeias que permitam chamar de novo os irlandeses às urnas. O mesmo Eurobarómetro indica que, entre os que votaram “não”, é esmagadora a maioria dos que querem continuar na União Europeia. O que não querem é uma Europa mais federal e mais transferências de poderes políticos, em especial na política externa, para Bruxelas. Não acha que esse é o sentimento de muitos outros europeus que não puderam votar?Não sei se esse sentimento é assim tão generalizado. Até no Reino Unido, onde a maioria dos

cidadãos continua a não querer o euro e prefere a libra, uma sondagem indicou que eram mais os que estavam preparados para assumir uma política externa e de segurança comum a toda a Europa. Por outro lado, penso que a integração económica, apoiada de forma geral pela opinião pública, dificilmente será sustentável a prazo se não tiver um suporte político. Acho que a opinião pública vai compreendendo isso. Em contrapartida, e esse será o aspecto mais negativo da actual situação, os cidadãos desconfiam das instituições europeias.Isso não é muito culpa dos governos, nomeadamente dos governos de que fez parte, que culpam sempre a Europa quando têm de enfiar um pílula mais amarga pela garganta abaixo dos eleitores?

Essa observação é pertinente, pois os governos usam e abusam de Bruxelas. Quando as notícias são boas, são vitórias negociais; quando as notícias são más, o bode expiatório são as instituições europeias. É bom que haja uma tensão natural entre os governos e as instituições europeias, mas não se pode extremar. E não há dúvida que por vezes vi surgir, na mesa do conselho, directivas caricatas…Por exemplo?Perdi horas —não perdi, ganhei — a discutir em conselho os decibéis que podiam emitir as máquinas de cortar relva ou as dimensões das grades de transporte de galinhas. Mas nem sempre é simples colocar estas discussões de lado, porque, muitas vezes, é nesses detalhes de regulamentação interna que os Estados se refugiam para regressar ao proteccionismo nacional.

Há 12 anos quea Europa estámergulhada emnegociações sobreo seu modeloinstitucional, e nesteperíodo o mundomudou muito

PEDRO CUNHA

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 19

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Tanto no referendo irlandês, como na The Economist,defende-se que não vale a pena preocuparmo-nos tanto com os temas institucionais, pois, com as instituições actuais, é possível enfrentar muitos problemas urgentes, como a política energética, o combate à mudança climática, os problemas de fiscalidade. É mesmo preciso mudar o funcionamento?Comecei por dizer que era favorável à desdramatização, em nome da humildade democrática. A União Europeia não ficou sem Governo e não tem de ficar paralisada, tem de continuar a dar resposta aos problemas urgentes. A UE também tem uma longa experiência que permite que nem todos avancem ao mesmo tempo em tudo, a chamada “geometria variável”, pelo que é possível encarar avanços na defesa, na política externa, na justiça, em que nem todos vão ao mesmo ritmo. Onde não é possível existir geometria variável é no modelo institucional, e daí a sensibilidade do “não” irlandês. A 25 ou 26 não se pode passar a ter um presidente do Conselho Europeu.E porque não reduzir o Tratado ao mínimo essencial?Isso seria voltar ao princípio e

já perdemos muito tempo. Os problemas existem porque há mais países e mais ambição.Integrar mais países e ter mais ambição é sempre possível? Uma Europa com outra ambição mundial pode, por exemplo, integrar a Turquia?Integrar a Turquia faz parte dessa ambição. A questão turca vai ser fundamental para definir a Europa como actor global. Se não integrar a Turquia, será vista como um clube cristão defensivo e limitado. Por isso é que regressar a um tratado redutor teria a consequência gravíssima de nos fazer perder a oportunidade de aprofundarmos áreas tão centrais como a política externa, defesa ou imigração. Há dimensões de aprofundamento da integração europeia que não podem ser adiadas, mesmo tendo de dar tempo para resolver a questão da Irlanda. E temos de evitar expressões infelizes, como a de um comissário que sugeriu que devíamos encostar a Irlanda à parede — nem queria acreditar no que estava a ouvir. Agora um recuo no Tratado de Lisboa também colocará em causa o alargamento, pois é nele que está o novo modelo institucional desenhado para acolher os novos países.

Diplomacia e economia

Sem o peso que a UE tem nas negociações internacionais todos perdíamos

a Para defender os interesses económicos dos europeus, a UE precisa de se apresentar nos fóruns internacionais como uma frente unida, diz Vítor Martins.A Europa construi-se em torno de três grandes ideias: a paz, a democracia e a prosperidade. Ora, para quem já está na União Europeia, para quem a paz e a democracia são dados adquiridos, para quem a prosperidade tem vacilado nestes últimos anos, que novo sonho pode a Europa oferecer para mobilizar os cidadãos em torno de projectos mais ambiciosos? Não concordo com essa leitura. O que se passa é que a necessidade de ter uma Europa com capacidade de projecção internacional deriva da necessidade de só assim a Europa poder defender melhor os seus interesses, a começar pelos seus interesses económicos. Se a Europa for para as reuniões internacionais

sobre comércio, sobre defesa, sobre relações regionais, sobre as relações com a Rússia, a China ou a Índia, em formação desordenada, quem perde é o cidadão europeu. E perde no seu bolso, na sua situação económica.Isso pode ser verdade, mas quem é que, em Portugal, sabe que é um tal senhor Mendelson que anda a negociar as novas condições para a agricultura europeia? Quem se revê nele? Quem confia nele?Voltamos ao problema da distância e da desconfiança, mas a verdade é que se é difícil ultrapassar esses problemas, também é indispensável que o façamos. Há muita pedagogia sobre o valor da integração que tem de ser feita, e não só na agricultura. Por exemplo nas áreas da energia e do ambiente. Ninguém imagine que nessas áreas possamos ter um papel liderante sem uma Europa unida.

A integraçãoeconómicadificilmente serásustentável sem umsuporte político

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20 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Mundo

Direito internacional Pode ser levantada a imunidade dos capacetes azuis?

Familiares recordam as vítimas em 2001, seis anos após o massacreMassacre de Srebrenica leva Holanda e a ONUa tribunalFamiliares dos cerca de 8000 muçulmanos bósnios assassinados querem assacar a culpa às Nações Unidas. O caso não tem precedentes

a Adma Mustafic está ali em memó-ria do pai. Hasan Nuhanovic perdeu toda a família e diz que só está vivo porque era tradutor e tinha uma cre-dencial da ONU. As famílias dos 8000 muçulmanos bósnios assassinados pelas forças sérvias em Srebrenica, no Leste da Bósnia-Herzegovina, fo-ram esta semana a tribunal para pro-cessar o Estado holandês e as Nações Unidas. Em 1995 tinham-lhes prome-tido uma zona de segurança. Em vez disso, assistiram a um massacre.

Já passaram 13 anos desde que Sre-brenica se tornou um sinónimo de morte. Em Julho de 1995, as forças sérvias comandadas pelo general Ratko Mladic assassinaram cerca de 8000 rapazes e homens muçulmanos bósnios, os que estivessem em idade de combater. Foi o pior massacre na Europa após a II Guerra Mundial.

A cidade tinha sido declarada zona de segurança da ONU, mas a segu-rança estava a cargo de apenas 400 capacetes azuis holandeses. Por isso, é na Holanda, em Haia, que os repre-sentantes de cerca de 6000 vítimas pediram esta semana o levantamento da imunidade aos participantes nas missões de paz das Nações Unidas.

A 10 de Julho, o tribunal dirá se abrirá um precedente ao levantar es-sa imunidade. Mas especialistas em direito internacional acham pouco provável que isso aconteça.

“Sobrevivi à tomada de Srebrenica. Estou aqui pelo meu pai. Foi come-tida uma injustiça contra nós”, disse Adma Mustafic, de 26 anos, testemu-nha no processo civil movido por du-as famílias de sobreviventes contra o a Holanda.

O seu pai, Rizo Mustafic, era elec-tricista na base de Potocari, junto a Srebrenica, onde os soldados holan-deses tinham a missão de proteger a população que fugia das tropas sér-vias durante a guerra na Bósnia, entre 1992 e 1995. “O meu pai não foi pro-tegido, foi abandonado”, disse Adma à agência noticiosa AFP.

Hasan Nuhanovic perdeu os pais e o irmão mais novo. Como intérprete, pôde ficar na base militar holandesa. Esta semana voltou a relatar os acon-tecimentos que se transformaram na sua causa. “Os soldados holandeses estavam à entrada da base, com os sérvios. Viram-nos separar os ho-mens e os rapazes das mulheres.”

“A imunidade funcional não signi-fica que as organizações internacio-nais estejam completamente acima da lei”, defendeu Axel Hagedorn, um dos advogados que representa as víti-mas. Mais: “A imunidade ilimitada da ONU é inaceitável e indesejável para a própria credibilidade da organiza-ção”, disse à Reuters.

Os argumentos contrários são apre-sentados pelo advogado do Governo holandês, Bet-Jan Houtzagers, que considerou que a imunidade da ONU “é importante para que a organização possa cumprir os seus deveres sem a interferência dos tribunais dos pa-íses-membros”.

Defendeu ainda que o tribunal ho-landês deve considerar-se incompe-tente para julgar as acusações con-tra a ONU. “Os sérvios bósnios são os únicos que devem ser acusados, especialmente o general Mladic. Ele é um criminoso de guerra”, disse Hout-zagers à BBC. Mas Mladic continua a monte, embora seja procurado pelo tribunal internacional que julga os crimes de guerra da ex-Jugoslávia — que aliás funciona na Holanda.

Missão cumprida?“Em Srebrenica, a força de paz das Nações Unidas foi encarada como uma pequena força militar e não como um grupo capaz de enfrentar um ataque à cidade”, disse ao PÚ-BLICO Michael Scharf, professor na Faculdade de Direito da Case Wes-tern Reserve University (Ohio, EUA). No entanto, “se os soldados de paz tivessem feito o que lhes competia, o seu empenho teria provocado uma resposta agressiva da ONU e da NATO face aos atacantes sérvios”.

Terem falhado nesse aspecto fun-damental da sua missão, acrescenta Scharf, “levou ao assassinato de mi-lhares de civis numa área que tinha sido declarada segura e pôs em causa o papel dissuasor das missões de paz da ONU em todo o mundo”.

A imunidade prevista na Conven-ção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas estende-se aos funcionários da ONU e aos chamados “peritos de missão”, o que inclui os participantes em missões de paz.

“Não há nenhuma provisão legis-lativa, nem qualquer precedente que sugira que a imunidade pode ser le-vantada, se forem cometidos actos que violam as normas imperativas do direito internacional, chamadas jus

cogens”, explica Michael Sharf. Essas normas incluem, por exemplo, o ge-nocídio ou o tráfico de escravos.

Actualmente, a ONU tem cerca de 100 mil soldados em missões de paz em todo o mundo, 26 mil dos quais na região sudanesa do Darfur. Já há dificuldades em juntar as tropas ne-cessárias para colocar onde são pre-cisas, e quem defende a imunidade da ONU considera que o julgamento dos capacetes azuis holandeses pode aumentar o receio de os países parti-ciparem em missões de paz.

Que decisão poderá resultar, en-tão, do tribunal holandês? “É muito provável que o processo seja recusa-do”, considera Sharf. Depois explica: “Para além dos obstáculos legais, o Governo e os tribunais holandeses sa-bem que, se permitirem que este pro-cesso sem precedentes avance, a ONU pode considerar seriamente a deslo-cação de algumas das instituições in-ternacionais mais importantes, como o Tribunal Internacional de Justiça, o Tribunal Permanente de Arbitragem e o Tribunal Penal Internacional de Haia para a ex-Jugoslávia, o que seria um golpe terrível para a economia e o prestígio da Holanda.”

Isabel Gorjão Santos

DAMIR SAGOLJ/REUTERS

6 a 8 de Julho de 1995 — Militares sérvios da Bósnia, comandados pelo general Ratko Mladic, cercam Srebrenica, onde dezenas de milhares de civis se tinham refugiado. A segurança estava a cargo de capacetes azuis holandeses. Os sérvios bombardearam a cidade. Os holandeses pedem apoio aéreo.

9 de Julho – Os sérvios bósnios intensificam o bombardeamento e milhares de refugiados fogem. Postos da força de paz são atacados e 30 soldados holandeses são feitos reféns. Umsoldado de paz morre.

11 de Julho – O coronel Karremans, dos capacetes azuis holandeses, recebe a informação de que o pedido de ajuda aérea não foi feito da forma correcta, e volta a pedi-la. Mais de 20.000 refugiados pedem ajuda na base holandesa de Potocari. Dois F-

16 holandeses bombardeiam posições sérvias, e em resposta os sérvios ameaçam matar os reféns holandeses. Mladic propõe um encontro com Karremans.

12 de Julho – Autocarros levam as mulheres e as crianças para território muçulmano. Os sérvios começam a separar os rapazes e homens, entre os 12 e os 77 anos, para os “interrogar por suspeita de crime de guerra”. Em 30 horas, cerca de 23 mil mulheres e crianças são deportadas.

13 de Julho – Os soldados de paz holandeses entregam 5000 muçulmanos que estavam abrigados em Potacari, e em troca os sérvios bósnios libertam os reféns holandeses.

16 de Julho – Chegam as primeiras notícias do massacre. Cerca de 8000 muçulmanos foram mortos.

Mortes que pareciam anunciadas

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MundoPúblico • Domingo 22 Junho 2008 • 21

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O presidente honorário do Partido Popular espanhol, José María Aznar, deu ontem em Valência o seu “apoio responsável” ao actual líder, Mariano Rajoy, deixando entender que a linha por este seguida não lhe desperta grande entusiasmo.

“Não queremos deixar ninguém para trás”na Europa, garante Sócrates

Leonete Botelho

Durão Barroso criticou “populismo” de dirigentes europeus numa conferência na Assembleia da República

a Foi preciso regressar a Lisboa para a tensão europeia se desanuviar um pouco. Ontem, o primeiro-ministro de “um país cuja capital se chama Lis-boa” inspirou-se em Ortega y Gasset para afirmar que a Europa de “muitas abelhas em um só voo” tem de ser feita com todos, sem excepção. “Não que-remos deixar ninguém para trás. Para nós 26 é igual a zero. Só 27 interessa”, afirmou José Sócrates, no encerramen-to da Conferência dos Presidentes dos Parlamentos da União Europeia, na Assembleia da República.

Antes, o presidente do Parlamento irlandês, John O’Donoghue, garanti-ra que o seu país terá uma “solução rápida” para responder à vitória do “não” no referendo sobre o tratado.

“Reconhecemos a necessidade de novos instrumentos de decisão num futuro não muito distante”, disse. Os irlandeses estão “gratos pelo espaço e tempo” concedido (até Março de 2009) e aceitam que o processo de ratificação continue.

Em duas citações explicou a situ-ação da Irlanda, onde “95 por cento dos partidos apoiam o Tratado de Lis-boa”. Primeiro, recorreu ao general Charles De Gaulle para reafirmar que “os eleitores votam mais de acordo com factos que nada têm a ver com a pergunta que é feita”. Depois a Wins-ton Churchill: “O fim não é agora, mas talvez seja agora o início do fim.”

Mas o tempo escasseia, frisaram on-tem os dois líderes portugueses que há seis meses selaram o acordo com um “porreiro, pá”. “Não há alternativa ao Tratado de Lisboa. A alternativa é a UE ficar parada e a Europa não pode fazer isso”, sustentou Sócrates.

O tom veemente do primeiro-minis-tro foi apimentado com a impaciência de Durão Barroso. Se para o primeiro “o mundo precisa da Europa”, a ponto

de “haver um vazio”, se não for consa-grada a “voz europeia” contida no Tra-tado de Lisboa, também é certo que “o mundo não vai esperar pela Europa” para tomar decisões, sublinhou o pre-sidente da Comissão Europeia.

Barroso insistiu na urgência de ter

o processo de ratificação concluído a tempo de preparar as eleições eu-ropeias de Julho de 2009. E esticou a corda no pedido a que todos os Esta-dos-membros o façam rapidamente: “Quando um Governo assina um tra-tado, assume a responsabilidade da sua ratificação”.

Num passo, rejeitou recriminações e criticou o populismo de alguns di-rigentes europeus: “Não é possível andar a criticar Bruxelas de segunda a sábado e aos domingos pedir aos ci-dadãos um voto favorável na Europa. Não é com slogans populistas que se renova a confiança dos cidadãos.”

Refutava assim as correntes de opi-nião que referem a existência de um défice democrático e excesso de bu-rocracia nas instituições europeias. “Na Comissão estão vários ex-primei-ros-ministros e ministros dos Negó-cios Estrangeiros e todos fomos eleitos pelo Parlamento Europeu”, lembrou. E sacudia a outra crítica: “Só há uma coisa pior que os burocratas de Bruxe-las, são os burocratas dos 27 que vão a Bruxelas pedir legislação inútil.”

Sócrates fez discurso emocionado

Socialistas sérvios cortam com nacionalistas

a O Partido Socialista sérvio aban-donou o diálogo com o bloco na-cionalista para a formação de uma coligação governamental e iniciou negociações com a aliança pró-Eu-ropa liderada pelo Partido Demo-crático, anunciaram fontes oficiais socialistas. A notícia foi dada pelo próprio líder descontente, Ivica Dacic, segundo o qual “não houve pontos de vista comuns em relação às questões” em discussão.

As opções agora são uma nova eleição, uma coligação entre os so-cialistas e os pró-europeus, ou um governo sem os socialistas.

Uma aliança entre estes e os de-mocratas tem sido nas últimas sema-nas uma das hipóteses mais faladas, com os media a afirmarem que as duas partes terão feito um acordo secreto.

Um comunicado do Partido Demo-crático, do Presidente, Boris Tadic, anunciou que iam começar negocia-ções de imediato.

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22 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Mundo

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As bases europeias que têm bombas nucleares dos EUA não respeitam as exigências de segurança do Pentágono, diz um relatório oficial obtido pela Federação dos Cientistas Americanos. Itália, Alemanha, Holanda e Alemanha têm centenas de bombas termonucleares.

Fernando Sousa

Dissidentes do regime também não apreciaram medida europeia, por considerarem que faz avaliação errada da realidade na ilha

a Cuba reagiu ao levantamento das sanções que a União Europeia lhe impôs em 2003, mas não através do Governo. Quem se pronunciou foi o ex-Presidente Fidel Castro, que consi-derou o gesto uma “hipocrisia”.

“Na minha idade e no meu estado de saúde, ninguém sabe quanto tem-po vai viver, mas desejo manifestar o meu desprezo pela enorme hipocrisia que encerra essa decisão”, diz o líder cubano num artigo publicado no sitewww.cubadebate.cu.

As suas “reflexões” são, em regra, publicadas no Granma, o jornal oficial do Partido Comunista de Cuba. Mas desta vez foi no site de “jornalistas cubanos e de outras nacionalidades [...] contra o terrorismo mediático. Castro diz que a hipocrisia é “ainda mais evidente quanto coincide com a brutal medida europeia de expulsar os imigrantes não autorizados proce-dentes dos países latino-americanos, nalguns dos quais a população é na sua maioria de origem europeia”.

Quando deu o lugar ao irmão, Raúl Castro, em Fevereiro, os analistas adi-vinharam que Fidel continuaria de alguma maneira no poder. O artigo que agora publicou foi conhecido antes pelo Ministério das Relações Exteriores, segundo o diário espa-nhol El Mundo.

Fidel Castro qualifica o levantamento das sanções da UE como uma “hipocrisia”

Fidel com o Presidente venezuelano, Hugo Chávez, esta semana

ESTUDIOS REVOLUCION/AFP

Pânico em discoteca no México provoca 12 mortos

A A festa estava rija numa discoteca da zona norte da Cidade do México, quando alguém disse que havia po-lícias na sala. Em pânico, centenas de jovens quiseram sair ao mesmo tempo e foi a tragédia: 12 mortos.

Eram 18h30 (meia-noite e meia em Portugal) e dançava-se na New Divi-ne, que estava à cunha, com cerca de mil pessoas, mais do que a sua ca-pacidade. Festejava-se o fim do ano escolar. A certa altura uma pessoa disse ao microfone, segundo a AFP terá sido o gerente da casa, que havia polícias na sala, numa “operação de verificação”.

Assustados, os jovens precipita-ram-se para a saída, que encontraram quase bloqueada por caixas de cerve-ja, saindo em tropelo. Sete morreram logo. Do lado de fora, três polícias ficaram debaixo da multidão. Dois outros estudantes, de 15 e 18 anos, su-cumbiram mais tarde no hospital.

“As mortes deveram-se a asfixia ou sufocamento”, explicou depois o procurador Rodolfo Félix numa conferência de imprensa na Cidade do México. Alguns media tinham dito que a polícia lançara gás lacrimogé-neo, ou fizera disparos, o que esta desmentiu. O raide destinara-se a comprovar denúncias de que se ven-diam bebidas alcoólicas a menores de idade e drogas.

No meio da confusão, de gritos e das sirenes de muitas ambulâncias, alguns jovens regressaram para ape-drejar a polícia, que chamou por sua vez o seu corpo de choque. As auto-ridades anunciaram a detenção do responsável pela discoteca, Alfredo Maya Ortiz, e de 39 jovens. F.S.

a A bloguista cubana Yoani Sánchez voltou a ser notícia, por via de uma crítica do ex-Presidente Fidel Castro. O texto caiu-lhe mal, e ao marido, o jornalista Reinaldo Escobar, que acu-sa o líder cubano de ter condecorado “assassinos”.

O caso começou com a saída há dias de um livro, Fidel, Bolívia y algo más, com prólogo de Castro, onde este lamenta declarações da jornalis-ta, galardoada com o Prémio Ortega y Gasset de jornalismo digital mas impedida de o ir receber a Madrid, à agência mexicana Notimex.

“Nunca fui da Juventude Comu-nista, nunca tentei militar no Parti-do Comunista; fui pioneira porque todos até aos 16 anos tínhamos que o ser”, afirmou Yoani, entre outras coisas.

No prólogo da obra, Castro escre-ve que o “grave” não são as “afirma-ções”, divulgadas pelos “meios de massas do imperialismo”. O “pior” é “que haja jovens cubanos que pen-sem assim, que façam o trabalho de sapa da imprensa neocolonial da

antiga metrópole espanhola que os premeia”. O prémio da bloguista foi atribuído pelo diário espanhol El País.

A visada não gostou, mas renun-ciou a responder no seu blogue pre-miado, Generación Y. Pediu antes ao marido que o fizesse, e ele fê-lo no seu blogue, Desde aqui. “Ao sentir-me atacada por alguém com um po-der infinitamente superior ao meu, com mais do dobro da minha idade e além disso — como diriam as minhas vizinhas de infância, por ‘macho-va-rão-masculino’ — decidi que fosse o meu marido a responder.”

Escobar foi direito ao assunto. Depois de dizer que “a responsabi-lidade de receber um prémio nunca será comparável à de o outorgar”, lembra a Castro que “Yoani ao menos nunca colocou no peito de nenhum corrupto, traidor, ditador e assassino alguma condecoração”, como o ex-Presidente fez ao impor a Ordem José Martí a Nicolae Ceausescu, Mengistu Haile Mariam, Robert Mugabe e Erick Honneker, entre outros.

Bloguista cubana atacada pelo ex-Presidente

O velho líder, com 82 anos, qualifi-cou de “desacreditada” a maneira co-mo a UE fez as coisas. “De Cuba, em nome dos direitos humanos, exigem a impunidade daqueles que preten-dem entregar, de pés e mãos atados, a pátria e o povo do imperialismo”, escreveu, referindo-se ao embargo dos Estados Unidos, em vigor há 48 anos. Bruxelas justificou o levanta-mento com os sinais positivos que a ilha dá.

As sanções europeias foram deci-

didas a seguir à prisão de 75 dissiden-tes, 20 dos quais foram libertados por motivos de saúde.

Dissidentes torcem narizA Alemanha, a Suécia e a República Checa foram os Estados-membros mais renitentes, mas acabaram por concordar, a instâncias da Espanha e devido à garantia de que dentro de um ano as coisas serão revistas.

A dissidência também não gostou da iniciativa, mas por motivos dife-

rentes. “É uma apreciação errada da realidade”, disse Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, afirmando que a repres-são continua.

A polícia cubana interpelou na sexta-feira seis dissidentes em Ma-tanzas, a leste de Havana, que acu-sou de “desacato”, “atentado” e “resistência”, anunciou a opositora Martha Beatriz Roque. Todos foram já libertados.

Agricultores argentinos reabrem estradas

A Os agricultores argentinos puse-ram ontem fim ao bloqueio das es-tradas com que tentaram pressionar o Governo a rever o imposto sobre os cereais. Os carros e os transportes voltaram a ter combustível e os super-mercados a ter que vender.

A decisão de acabar com o quarto protesto do género desde Março foi tomada pelas quatro federações amo-tinadas — Federação Agrária Argen-tina, Confederação Intercooperativa Agropecuária, Confederações Rurais Argentinas e Sociedade Rural Argenti-na. Anunciaram agora que vão seguir “outra estratégia”, sem dizer qual.

O conflito intensificou-se há uma se-mana, com a prisão do líder de uma federação, e diminuiu há três dias, quando a Presidente, Cristina Fernán-dez, enviou ao Parlamento o projecto de lei que aumenta 25 por cento dos impostos sobre as exportações de so-ja, milho, trigo e girassol. Mas a sua popularidade desceu 36 pontos.

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 23

Tribo nova da Amazónia afinal já era conhecida há muito

a A história era sensacional e ge-rou entusiasmo a nível internacional: tinha sido descoberta uma tribo na Amazónia que nunca teria tido con-tacto com o homem branco e não estava interessado em tê-lo: as fotos tiradas a partir do avião em que se-guia o especialista nos sertões brasi-leiros José Carlos Meirelles mostra-vam índios com o corpo pintado de vermelho a atirarem setas contra a invasão aérea do seu território. Mas a história era tão boa que tinha de ser falsa: Meirelles confessou agora que a inventou, para tentar afastar os madeireiros que avançam sem dó pela Amazónia dentro.

A ideia veiculada com a divulgação daquela fotografia era a de que era preciso defender a Amazónia, pois entre os muitos segredos que guar-da, até tinha uma tribo que não tinha ainda contactado com a civilização, na fronteira do Brasil com o Peru.

“Eles podem não desaparecer fisi-camente, mas vão desaparecer cul-turalmente, se a situação continuar como está”, disse Meirelles numa entrevista publicada no início do mês pelo jornal brasileiro Folha de São Paulo. Ele trabalha com a agên-

cia de protecção dos índios, a Funai, desde 1971.

Mas agora a organização que di-vulgou a fotografia, a Survival Inter-national, reconheceu que a Funai conhecia esta tribo há mais de duas décadas, e que, embora tenha per-manecido afastada da civilização, há notícias dela desde há quase um século, noticiava ontem o jornal bri-tânico The Guardian.

A tribo em causa, afinal, é conheci-da há quase um século, e o encontro foi procurado por Meirelles. Mas a Survival International defendeu o logro dizendo que a divulgação des-tas fotos obrigou o Governo do Peru aL reexaminar a sua política relativa ao abate de árvores na Amazónia na zona onde vive esta tribo.

O ex-presidente da Funai Sydney Possuelo concordou também com a divulgação das imagens, para chamar a atenção para o desaparecimento acelerado do habitat e da forma de vida das tribos da Amazónia, relata o Guardian.

Meirelles, por seu lado, não está arrependido do que fez. Segundo o diário britânico, imagens como estas são provas irrefutáveis de que ainda existem mesmo tribos isoladas, em-bora muitos digam que isso é já coisa do passado.

O Presidente do Peru, Alan Gar-cía, declarou há pouco tempo que as histórias de índios isolados são uma criação da imaginação dos ambienta-listas e antropólogos. “Agora temos imagens”, disse.

Fotos que mostravam índios a atirar setas contra um avião foram usadas como um golpe publicitário para chamar a atenção para os problemas dos indígenas

Há cada vez menos meninas a nascer na Índia

a No estado indiano do Punjab, há apenas 300 raparigas para cada 1000 rapazes nas famílias das castas mais elevadas, denuncia a organização não governamental Action Aid. Num novo relatório, diz que o número de me-ninas que nascem e sobrevivem ao parto na Índia nunca foi tão baixo, em relação ao de meninos.

Por causa da tradição do pagamen-to de dotes para casar as filhas, as ecografias são intensamente usadas para descobrir o sexo do bebé ainda na barriga da mãe. Se for menina, o passo seguinte é muitas, mas mesmo muitas vezes o aborto. Outras vezes, a criança do sexo feminino é simples-mente abandonada para morrer, de-pois do parto.

O futuro é bem negro para a Índia, se a situação não se inverter, diz a Ac-tion Aid, que se juntou ao Centro de Investigação para o Desenvolvimento Internacional do Canadá para produ-zir o estudo As Filhas Desaparecidas,noticiado pela BBC. Foram recolhidos dados em mais de 6000 casas fami-liares em cinco estados no Noroeste da Índia, comparados depois com os dos censos nacionais.

Numa situação normal, deveriam existir 950 raparigas para cada 1000 rapazes. Mas em três dos cinco es-tados analisados, há menos de 800 raparigas por cada milhar de rapazes. E em quatro dos cinco estados, a situ-ação piorou desde os censos de 2001, sobretudo nas zonas urbanas mais prósperas — onde há maior acesso às ecografias.

O problema é os dotes

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Público

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Local24 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Ordenamento Frente ribeirinha perde dirigente e cidade preserva vistas ao Tejo

Não vai haver construção à beira-rio, promete Câmara de LisboaJosé Miguel Júdice abandonou reabilitação da zona do Terreiro do Paço e de Belém, depois de estar há 15 meses à espera de ser nomeado. António Costa nega divergências e desvaloriza: “É uma questão lateral”

Ana Henriques

a Não vai haver construção à bei-ra-rio. A promessa foi ontem repeti-da pelo vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, durante a apresentação dos planos da autarquia para os 19 quilómetros de frente de rio da cidade. Na vés-pera, soube-se que o advogado en-carregue pelo Governo de dirigir a reabilitação de Belém e ao Terreiro do Paço, José Miguel Júdice, abando-nou o projecto, depois de ter estado 15 meses à espera de ser nomeado para o cargo.

José Miguel Júdice, que já em Mar-ço tinha ameaçado o primeiro-mi-nistro José Sócrates de se ir embora, caso não fosse rapidamente empos-sado como presidente da sociedade de capitais públicos Frente Tejo – pa-ra a qual tinha sido convidado pelo governante, e em que ia trabalhar a título gracioso – salienta os 15 me-

ses que ficou à espera de começar a dirigir uma empresa que continua por constituir. As várias obras a cargo da Frente Tejo, que viu o seu orça-mento reduzido em 20 milhões de euros, têm de estar prontas a tempo das comemorações do centenário da República, em Outubro de 2010.

Depois de, como figura indigitada por Sócrates, ter levado a cabo inú-meros contactos com as várias ins-tituições com responsabilidades na frente ribeirinha, como a Marinha e vários ministérios, o advogado clau-dicou perante os obstáculos às suas intenções de transformar estas duas zonas da cidade. E diz que um dia vai escrever um livro sobre a experiência por que passou, por esta ser revela-dora sobre a forma como se trabalha – ou não – em Portugal.

José Miguel Júdice nega quaisquer desentendimentos com o presidente da câmara, António Costa. O autarca também. Menos pacífico terá sido o

Futuro da zona da

Docapesca, entre Pedrouços e Algés, mantém--se por definir: plano ontem apresentado não contempla

a sua requalificação, referindo apenas o surgimento no local de

um centro de investigação da Fundação Champalimaud, em 2010, com projecto assinado

pelo arquitecto Charles Correia.

Aproveitamento da desactivada doca do Poço do Bispo e de

Algés para zonas de praia, onde também serão instaladas

piscinas em batelões. A concretização desta ideia não

tem ainda um prazo definido, até porque para ser levada

à prática precisa da concordância da administração

Retirada de grande parte

do tráfego rodoviário da zona ribeirinha, desviando-

-o para a zona da cidade mais a norte, e enterramento parcial da Avenida de Brasília, que passará

em vala. Não faz sentido continuar a haver carros parados à beira-rio,

diz o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado.

Museu dos Coches,

defronte da estação ferroviária de Alcântara-Mar. É um dos projectos

emblemáticos da Sociedade Frente Tejo, este equipamento

cultural da autoria do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha,

para substituir o actual museu que fica ao lado do Palácio de

Belém.

Planos para a

frente do Tejo nos próximos

25 anos

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 25

Festa da Cereja leva a ofertas na cidade de Lisboa

Este fim-de-semana são oferecidas 3500 caixas de cereja do Fundão. A acção, que alerta para as alterações climáticas, arrancou ontem no

Funchal e prossegue hoje em Lisboa. A distribuição parte às 10h00 do M. Moniz para o Terreiro do Paço e Campo Mártires da Pátria.

seu relacionamento com Manuel Sal-gado, com quem esgrimiu divergên-cias sobre a construção de um silo automóvel na zona do futuro Museu dos Coches, em Belém. O vereador do Urbanismo disse ter sabido do abandono de Júdice pela televisão, apesar de António Costa ter garanti-do que o advogado o avisou pessoal-mente da sua decisão. Seja como for, o presidente da câmara desvaloriza a saída: “Lamento. [Mas] trata-se de uma questão lateral, porque ele ia di-rigir uma sociedade com duas inter-venções muito precisas, nas zonas de Belém e do Terreiro do Paço, a que o Governo dará execução no prazo que definiu”.

“Mais em que pensar”O abandono de Júdice em nada com-promete o andamento da reabilitação da beira-rio, afirmam os responsáveis máximos da autarquia, que esperam agora a sua substituição. Por quem?

“O primeiro-ministro tem estado no Conselho Europeu de Bruxelas. Tem com certeza mais em que pensar”, respondeu António Costa.

Mas não era só com Salgado que Júdice tinha divergências. Aliado dos socialistas na câmara, o vereador Jo-sé Sá Fernandes mostrou-se sempre avesso ao advogado. O executivo ca-marário acabou por se recusar a vo-tar a sua nomeação para a sociedade Frente Tejo, alegando que não cabia nas suas competências pronunciar-se sobre tal matéria.

Ontem, na apresentação dos pla-nos da autarquia para a frente de rio nos próximos 25 anos, falou-se pou-co dos projectos de Júdice – embora se tenha percebido que, pelo menos num dos casos, o do enterramento das vias rodoviárias que passam à frente dos Jerónimos, os responsáveis camarários preferem que seja a linha do comboio a passar no subsolo. Os custos da obra podem, no entanto, in-

viabilizá-la, admite Salgado. Por outro lado, percebeu-se que o anunciado alargamento do terminal de conten-tores de Alcântara negociado pelo Governo não é do seu agrado.

Os projectos camarários merece-ram elogios do presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, eleito comunista pouco dado a este tipo de louvores, e do arquitecto Manuel Graça Dias. Este último deixou, no entanto, um reparo relacionado com o futuro funcionamento dos trans-portes à beira-rio. Para o arquitecto, uma linha de eléctrico rápido entre o Trancão e Algés é indispensável. O vereador do Urbanismo assegurou--lhe que serão privilegiados os mo-dos de transporte mais leves, sejam o trólei, o eléctrico ou a bicicleta. E o andar a pé. António Costa chamou a atenção para a mobilização da socie-dade civil, que, “com as suas críticas e sugestões, pode fazer com que este plano se torne irreversível”.

Na assistência que ouvia António Costa apresentar os planos para reabilitar a frente ribeirinha a curto, médio e longo prazo a pergunta foi feita com insistência: que garantias poderia dar o autarca de que o projecto irá por diante, independentemente de quem vier a assumir a governação da câmara? Mesmo este mandato está sujeito aos entendimentos entre as diferentes forças políticas, uma vez que Costa não tem maioria, nem na câmara, nem na assembleia municipal. “Este plano vai ser negociado com o Estado”, respondeu ex-ministro de

Sócrates, não sem antes recordar que já não estamos no tempo do marquês de Pombal e de Duarte Pacheco, cujo autoritarismo se revelou essencial à evolução de Lisboa. “Não sei se vou ser eleito daqui a ano e meio”, prosseguiu António Costa. “Mas posso garantir que serei candidato à câmara municipal.” A.H.

“Sou candidato nas próximas eleições”António Costa salientou que o plano vai ser negociado com o Estado para ser executado

Enterramento, a médio prazo, da

linha do comboio na zona de Belém, entre o Bom

Sucesso e a Cordoaria. Este plano põe em causa um túnel rodoviário

para o local projectado pela Sociedade Frente Tejo, destinado

a fazer desaparecer o trânsito em frente ao Mosteiro dos

Jerónimos.

Jardim na plataforma

portuária de Alcântara, em frente da gare marítima.

O projecto passa por criar uma área em cima do pavimento

já existente, apesar da prevista ampliação do cais de contentores entretanto negociada e anunciada

entre o Governo e a empresa Mota-Engil.

Passagens para ligar a

cidade ao rio: um atravessamento aéreo

entre o Museu Nacional de Arte Antiga e a beira-Tejo,

outro partindo da Praça D. Luís e cruzando igualmente

a Avenida 24 de Julho e uma terceira passagem na Avenida

D. Carlos I, esta última subterrânea.

Requalificação da Baixa, igualmente a cargo da Sociedade

Frente Tejo. O projecto mais marcante passa pela revitalização do Terreiro do Paço, com

a instalação de um hotel no Ministério da Administração Interna e a abertura dos pisos

térreos a comércio e esplanadas.

Frente ajardinada entre

o Parque das Nações e Braço de Prata,

paga pelos promotores imobiliários da zona;

e um parque entre o Beato e a Madredeus, no local onde a terceira ponte sobre o Tejo amarrará à margem norte, de modo a que os pilares

assentem numa zona verde.

PEDRO ELIAS

Page 26: Público – 6657 – 22.06.2008

26 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Local

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PSP deteve suspeitos de carjacking

a Dois jovens de 19 anos foram in-terceptados e detidos ontem de ma-drugada, na zona do Cacém, depois de roubarem um automóvel e agre-direm a sua condutora, anunciou fonte da Polícia de Segurança Pú-blica de Lisboa. O assalto aconteceu às 3h40, na Estrada da Malveira da Serra (Cascais), quando uma mulher de 49 anos foi abordada pelos dois homens, que a retiraram do carro e a agrediram, fugindo no automóvel roubado. O carro foi detectado pela polícia, poucos minutos mais tarde, quando circulava no Itinerário Com-plementar 19, na zona de Sintra. Após uma perseguição a alta velocidade, que durou cerca de dez minutos, o carro entrou no Cacém, onde foi interceptado numa rua sem saída e após se ter despistado.

Os dois suspeitos, de acordo com a mesma fonte policial, citada pela Lusa, tentaram fugir a pé, mas acaba-ram por ser detidos, tendo sido ainda ontem presentes ao Tribunal de Cas-cais, que determinou como medida de coacção apresentações semanais na esquadra das respectivas áreas de residência.

Confrontos na praia de Santo Amaro de Oeiras

a Confrontos na praia de Santo Ama-ro de Oeiras obrigaram ontem à in-tervenção da brigada de intervenção rápida da PSP, tendo um agente sido ferido com o arremesso de uma gar-rafa, disse fonte policial.

De acordo com a mesma fonte, ci-tada pela Lusa, o incidente começou com uma rixa entre dois jovens, cerca das 17h30, tendo dois agentes da PSP presentes no local sido obrigados a pedir reforços, depois de terem ten-tado, sem sucesso, controlar os dois indivíduos e alguns outros que, en-tretanto, se envolveram na luta. Três equipas da brigada de intervenção rápida da PSP deslocaram-se, então, ao local, tendo um dos agentes sido agredido com uma garrafa, que lhe provocou um hematoma na cabeça. O agente foi assistido no local por uma equipa do INEM, tendo-se deslocado depois ao hospital para ser suturado. Fonte da PSP garantiu que não houve qualquer detido. Uma testemunha contou à estação televisiva SIC que os agentes foram recebidos com pedras e garrafas e que responderam com tiros para o ar.

Detidos após perseguição policial

Portela 2050: das pistas boulevards rodeadas de mata espontânea à horta de 20 milhões

Catarina Prelhaz

Construir Manhattan em Lisboa. Instalar um ninho de empresas ou a Feira Popular. Para a Portela já se pensa na vida depois da morte

a Uma nova-iorquina Manhattan de-bruçando-se sobre o seu Central Park em plena Lisboa: poderá não ser este o destino da Portela depois da saída do aeroporto para Alcochete, mas é a paisagem que os visitantes da últi-ma Trienal de Arquitectura gostavam de ver nascer nos 500 hectares que aquela transferência irá libertar.

Construir arranha-céus ou plantar uma horta maior que o Parque das Nações: ontem foi a vez de arquitec-tos de renome e da nova geração e dos decisores políticos esgrimirem ideias para o futuro da Portela em 2050 num debate promovido pela Ordem dos Arquitectos.

Transformar as pistas do actual ae-roporto em boulevards de um parque de actividades (a definir no futuro) envoltas numa mata espontânea é a proposta do arquitecto Nuno Portas e do ateliê NPK. A ideia é usar as pistas como suporte de edifícios de cons-trução ligeira e delimitar a mata com carvalhos para potenciar o desenvol-vimento espontâneo desta, evitando os “elevados” custos de implantação e de manutenção de uma área verde tradicional.

Já os arquitectos Gonçalo Byrne e Manuel Fernandes de Sá imaginam a manutenção de um aeroporto na Portela. O objectivo é limitar o tráfego a voos de pequeno e médio curso, ar-ticulando-o com o transporte de heli-cóptero. A Portela tornar-se-ia, assim, uma cidade virada para a função ae-roportuária, recheada de actividades terciárias, centros de congressos e de residências de curta duração.

Rechear a Portela com a Feira Popular, um hipódromo uma zona residencial e comercial, centros de exposições e de concertos, hotéis e escritórios são as ideias do ateliê de arquitectura paisagista PROAP.

Equilibrar a vertente ecológica e o tecido urbano é a proposta dos arqui-tectos João Carrilho da Graça e João Gomes da Silva. “É mais realista do que fazer um parque ou um espaço indeterminado que serão progressi-vamente ocupados de forma desre-grada e infeliz”, observaram.

“Pulmão de comida”Já o colectivo de jovens arquitectos Embaixada preferiu auscultar as ideias do público da Trienal de Arqui-tectura de Lisboa de 2007, concluin-do que a construção densa também é uma opção. Ideia diferente teve o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, para quem a Portela deveria dar ori-gem a um megaparque hortícola com um rendimento de 20 milhões euros anuais, para fazer face às necessida-

des alimentares da região. “Lisboa não precisa de um pulmão, mas de comida”, reiterou.

Portugal vai deitar 4,9 milhões de euros ao lixo caso o aeroporto da Portela não seja encerrado em 2017. O aviso é do vice-presidente da ANA- Aeroportos de Portugal, Carlos Madeira, que quer ver a zona aero-portuária totalmente livre das actuais funções sob pena de o novo aeropor-to de Alcochete não passar de uma infra-estrutura fantasma. “Conside-rando os outros casos no mundo, há uma possibilidade de 30 por cento da Portela nunca chegar a encerrar, sobretudo quando temos dez milhões de especialistas aeronáuticos em Por-tugal”, ironizou.

Segundo um estudo da ANA, do Boston Consulting Group e da Uni-versidade Católica, “Lisboa não cum-pre com os critérios para possuir dois aeroportos a funcionar simultanea-mente”. Com 14 milhões de passagei-ros anuais de origem, a capital fica aquém das cidades com dois aero-portos bem sucedidos, que atraem mais de 35 milhões, explicou Carlos Madeira, acrescentando que as com-panhias preferem concentrar-se num só local para potenciar a procura e as pessoas preferem ter oferta variada sem terem de deslocar-se. Partilhar o tráfego de aeronaves entre Alco-chete e a Portela é, segundo o vice--presidente da ANA, ou “proibido” ou “inviável”: “não se pode discriminar companhias” e Portugal não tem voos de carga suficientes que justifiquem um aeroporto suplementar.

“No Canadá, aquele que era para ser o maior aeroporto do mundo – Mi-rabel – foi fechado 35 anos depois de construído, porque o velho nunca chegou a ser encerrado. Não pode-mos deixar que isso aconteça cá”. Fechar a Portela em 2017, evitando períodos de transição, e garantir liga-ções rápidas e cómodas a Alcochete são as soluções da ANA.Nuno Portas e NPK apostam numa mata natural rodeando as pistas

O futuro da Portela “não é uma prioridade” para a Câmara de Lisboa e como tal não será contemplado no próximo PDM, cuja revisão deverá estar concluída até ao fim de 2009. A garantia foi dada ontem pelo vereador do Urbanismo na autarquia lisboeta, Manuel Salgado, e a ideia já tem o aval da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, entidade responsável pela avalização daquele documento. “Não vamos precisar de construir nada na Portela em 2017, porque ela não vai financiar o aeroporto de Alcochete, ao contrário da Expo, cujo grande mal foi ter de ser paga com o pêlo do mesmo cão”, assegurou o vereador perante cerca de 50 pessoas.

Câmara sem pressas

DR

Comerciantes queixam-se de quebras de mais de metade nas vendas no mercado provisório do Barreiro

a Os vendedores do mercado pro-visório do Barreiro queixam-se que as vendas diminuíram mais de 50 por cento desde que se mudaram para permitir a construção do novo Mercado 1.º de Maio e defendem que não aguentam até as obras estarem construídas.

Devido às obras de requalificação do centro do Barreiro e de construção do Mercado 1.º de Maio, no mesmo espaço onde se situava o antigo, os vendedores tiveram que se deslocar para uma zona provisória que fun-ciona mais longe do centro da cida-de. “No mercado, vendia-se pouco mas aqui não tem comparação. Te-nho dias que faço cinco e dez euros e assim não vou aguentar estar aqui pois não chega para pagar as dívidas. Venho porque tenho material, mas vou passar a vir menos e já deixei

material na Casa do Gaiato para não deitar fora”, disse uma vendedora, Teresa Ramos.

“Isto está muito fraco, vendemos muito menos e o aumento das taxas não veio ajudar nada. Já tive dias de fazer 20 euros, e, com calor, aqui é complicado, as pessoas não se sentem bem e deixam de cá vir”, acrescentou Sílvia Estaca, que faz parte dos 108 vendedores. “As pessoas que vivem só aqui do mercado não vão aguentar e no mês que pedimos para suspen-der as taxas levamos com o aumento.

Estamos esmorecidos, vendemos me-nos de metade do que no antigo mer-cado”, reclamou Joaquim Gonçalves, que possui uma banca de peixe.

O mercado provisório funciona dentro de um insuflável e as queixas com o calor que se sente no interior aumentam com o chegar do Verão. “Lá em cima sobrevivia e aqui não consigo. Já tenho que recorrer a fa-miliares para pagar as contas e é uma vergonha a câmara não dar a cara”, afirmou Jorge Ramalho, que se queixa de vender um quarto do que vendia. “Prometerem climatizar o pavilhão e o que vão fazer é regar o insuflável. De uma coisa para outra vai um gran-de bocado”, salientou.

O vereador da Câmara do Barreiro João Soares explicou que o problema das poucas vendas já vinha do ante-rior mercado e lembrou que esta

localização, entre três opções, foi a defendida pela maioria dos vende-dores depois de um inquérito e de reuniões. “O problema das vendas já vem do outro mercado. Os preços também não são muito baixos que puxem as pessoas ao mercado. Pa-ra estimular, já temos carreiras do centro para o mercado provisório, de forma gratuita e de 15 em 15 mi-nutos e até queremos lançar triagens de diabetes e tensão arterial para cha-mar as pessoas”, disse o autarca, lem-brando que a saída do antigo espaço era indispensável para avançar com a requalificação da zona e afirman-do que o mercado provisório tem mais condições, apesar de reconhe-cer que, em relação às temperaturas elevadas no insuflável, a empresa que o montou garantiu que vai resolver o problema. Lusa

Autarca diz que lhe responderam “que preferem alimentar os porcos do que vender os produtos mais baratos”

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LocalPúblico • Domingo 22 Junho 2008 • 27

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Associações querem travar construção em quinta na ria de Alvor

a O grupo de acompanhamento da ria de Alvor, constituído por seis asso-ciações ambientalistas, interpôs uma acção no Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé exigindo a reposição de espécies e habitats prioritários destruídos ao longo de cerca de três anos na Quinta da Rocha. Nesta pro-priedade, com cerca de 205 hectares, desenha-se a tentativa de erguer mais um empreendimento turístico.

Os ambientalistas das associações A Rocha, Almargem, GEOTA, Liga pa-ra a Protecção da Natureza e Socie-dade Portuguesa para o Estudo das Aves justificam o recurso à justiça como forma de “impedir o avanço predador e inexorável da constru-ção que continua a desafiar todas as normas de ordenamento”. Antiga

propriedade agrícola, pertencente a Aprígio Santos (presidente do clube Naval 1.º de Maio), possui mais de uma dezena de casas em ruínas. Os novos proprietários, desde 2005, têm vindo a remover o terreno, invocan-do necessidades de proceder a tra-balhos agrícolas. Segundo a queixa ao tribunal, fizeram uma “remoção selectiva de bioindicadores de habi-tats protegidos”.

A Comissão de Coordenação e De-senvolvimento Regional do Algarve já por várias vezes levantou autos, mas não travou os trabalhos. A associação A Rocha, para impedir o que conside-ra ser um crime ambiental de forma continuada, interpôs em Agosto do ano passado uma providência cau-telar, ainda em apreciação. O valor da Quinta da Rocha, há três anos, foi estimado em 1,5 milhões de euros, mas as perspectivas de poder vir a ser urbanizada, pelas contas dos am-bientalistas, fez aumentar o seu valor para 15 milhões. Idálio Revez

Ambientalistas recorrem a tribunal para tentar salvaguardar antiga propriedade agrícola

La Féria pede propostas para auditório do Rivoli

a A empresa Todos ao Palco, de Fi-lipe La Féria, enviou a vários grupos de teatro do Porto um convite para que apresentem propostas para ocu-pação do pequeno auditório do Rivoli Teatro Municipal.

A directora de produção da Todos ao Palco, Isabel Rocha, convidou por mensagem electrónica companhias portuenses a “apresentar projectos de cariz cultural que dinamizem” o pequeno auditório “e, com isso, tra-gam uma mais-valia ao público e à ci-dade”. Fonte da autarquia confirmou que a carta foi enviada a pedido da câmara. “Decidimos pedir a La Féria

que fizesse essa diligência porque é uma pessoa do meio, mas a selecção dos projectos a apresentar será sem-pre da responsabilidade do pelouro da Cultura”, frisou a fonte à Lusa.

Francisco Alves, do Teatro Plásti-co, não recebeu o convite, que teria recusado. “Essa proposta apenas tem por objectivo legitimar a ocupação indevida e ilegal de um teatro muni-cipal por um produtor comercial à custa de toda a comunidade teatral” e branquear o facto de a concessão “ser uma troca de favores políticos lesiva, cultural e economicamente da cidade”.

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RECTIFICAÇÃO DE ANÚNCIOInformam-se os interessados que foi efectu-ada uma rectificação ao anúncio referente à abertura do concurso acima referido, publi-cado no Diário da República, II Série, n.º 111 de 11.06.2008 e no Jornal Oficial da União Europeia de 05.06.2008.

Lisboa, 18 de Junho de 2008

Prof. Doutor Nuno Manuel GuimarãesPresidente do Conselho Directivo

Page 29: Público – 6657 – 22.06.2008

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COMARCA DO SEIXAL2.º Juízo Cível

Processo n.º 2536/03.2TBSXL

ANÚNCIOExecução OrdináriaExequente: Banco de Investimento Imobi-liário, S.A.Executado: José Manuel Martins e outro(s)...Nos autos acima identificados foi designado o dia 28-07-2008, pelas 11:00 horas, neste Tribunal, para a abertura de propostas, que sejam entregues até esse momento, na Se-cretaria deste Tribunal, pelos interessados na compra do(s) seguinte(s) bem/bens:TIPO DE BEM: ImóvelREGISTO: 03057, Amora - Conservatória Registo PredialART. MATRICIAL: 3028, Seixal - Serviço de Finanças-2DESCRIÇÃO: Fracção autónoma designada pelas letras “AT”, correspondente ao 10.º andar D, para habitação, do prédio urbano em regime de propriedade horizontal, sito na Rua Mário Henriques Leiria, n.ºs 6 e 6 A, Miratejo, freguesia de Corroios, concelho do Seixal.PENHORADO A:EXECUTADO: Alexandre Almeida Monteiro Brito. Estado civil: Solteiro. Documentos de identificação: BI. 10699993, NIF - 203738357. Endereço: Traseiras da Estrada Militar, 31, Damaia, 2720 Amadora.EXECUTADO: José Manuel Martins. Estado civil: Solteiro. Documentos de identificação: BI 16167426, NIF - 215513690. Endereço: Rua Mário Henrique Leiria, N.º 6 - 10.º Dto., Miratejo, 2855-243 Corroios.FIEL DEPOSITÁRIO: Nuno Manuel Almeida Rebelo Pinto. Estado civil: Casado. Docu-mentos de identificação: NIF - 103395890. Endereço: Rua das Gencianas 47, Belverde, 2845-495 Seixal.MODALIDADE DA VENDA: Venda mediante proposta em carta fechada .VALOR-BASE DA VENDA: € 90.000,00OBSERVAÇÕES: 70% do valor-baseN/Referência: 5007592Seixal, 13-06-2008

A Juíza de DireitoDr.ª Patrícia Alves Escórcio

A Oficial de JustiçaMaria de Fátima da Silva Gomes Sousa

Público, 22/06/2008 - 2.ª Pub.

TRIBUNAL JUDICIAL DE ÁGUEDA

3.º JuízoProcesso n.º 483/1999

ANÚNCIOExecução OrdináriaExequente: Caixa Central - C. C. de Créd. Agric. M., Crl.Executado: Áurea Silva A. C. Pereira e Armando Clemente Batista Ribeiro Ferreira, Alina Manuel O. C. V. Xavier Campos Pereira e Fernando Manuel Freitas Sucena ResendeCorrem éditos de 20 dias para citação dos credores desconhecidos que gozam de garantia real sobre os bens penhorados ao(s) execudo(s) abaixo in-dicados, para reclamarem o pagamento dos respectivos créditos pelo produto de tais bens, no prazo de 15 dias, findo o dos éditos, que se começará a contar da segunda e última publicação do pre-sente anúncio.Bens penhorados:TIPO DE BEM: Crédito no valor de �

12.683,95.DESCRIÇÃO: Crédito que a Executada detinha na firma falida “Imporab - Indús-tria Portuguesa de Abrasivos, nos autos de Falência n.º 157/1999, a correr ter-mos no 2.º Juízo da Comarca de Ílhavo.PENHORADO EM: 16-01-2004, 00:00:00, AVALIADO EM: € 12.683,95.TIPO DE BEM: Depósito BancárioDESCRIÇÃO: Depósito bancário no valor de � 21,28.PENHORADO EM: 23-05-2007, 0:00:00, AVALIADO EM: � 21,28.BENS PENHORADOS À EXECUTADA: Áurea Silva A. C. Pereira. Documentos de identificação: BI - 1486218, NIF - 146451279. Endereço: VILLAGE ALTA VILA, ALA 3 - 8.º, 3750 ÁGUEDA.N/Referência: 1676040Águeda, 12-03-2008

A Juíza de DireitoDr.ª Susana DireitoO Oficial de Justiça

José Alberto da Silva Lopes

Público, 22/06/2008 - 2.ª Pub.

VARAS DECOMPETÊNCIA MISTA

DE SINTRA2.ª Vara Mista

Exec. Ordinária 2158/03.8TCSNT

ANÚNCIOExequente: Banco BPI, S.A., So-ciedade AbertaExecutada: Maria Helena Silva Rebelo e outro(s)...Correm éditos de 20 dias para citação dos credores desconhe-cidos que gozem de garantia real sobre os bens penhorados ao(s) executado(s) abaixo indicados, para reclamarem o pagamento dos respectivos créditos pelo produto de tais bens, no prazo de 15 dias, findo o dos éditos, que se começará a contar da segunda e última publicação do presente anúncio.Bens penhorados:TIPO DE BEM: ImóvelREGISTO: 148, Queluz - Conser-vatória Registo PredialART. MATRICIAL: 5740DESCRIÇÃO: Fracção autónoma designada pela letra C, corres-pondente ao piso um, 1.º andar, letra C, do prédio urbano sito na Av.ª Dr. Leão de Oliveira, n.ºs 29, 29A, 29B, 29C, 29D, 29E, 29F, 29G, 29H, 29I, 29J, 29L e 29M, freguesia de Belas, concelho de Sintra.PENHORADO EM: 16-02-2006PENHORADO A EXECUTADA: Maria Helena Silva Rebelo. Esta-do civil: Divorciada. Documentos de identificação: NIF - 170032680. Endereço: Av. Dr. Leão Oliveira, 29, 1.ºC, Belas, 2605-037 Belas.N/ Referência: 1090102Sintra, 09-06-2008.

O Juiz de DireitoDr. Paulo Fernandes da Silva

A Oficial de JustiçaMaria Teresa Comédias

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Page 30: Público – 6657 – 22.06.2008

Público • Domingo 22 Junho 2008 • 31

NOTAS ÀS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

NOTA 1 - BASES DE APRESENTAÇÃO E PRINCIPAIS POLÍTICAS CONTABILÍSTICAS

1.1 Bases de apresentação As demonstrações financeiras do Fundo de Garantia de Depósitos (Fundo) foram prepa-radas em conformidade com o Plano de Contas do Fundo, o qual tem por base o Plano Oficial de Contabilidade, adaptado à natureza específica da actividade do Fundo.

De acordo com o Decreto-Lei n.º 35/2005, de 17 de Fevereiro, em 2005 foram introduzidas alterações no Plano de Contas relativas à classificação de provisões e à renomeação das dotações para amortizações do exercício.

1.2 Resumo das principais políticas contabilísticasAs principais políticas contabilísticas e critérios valorimétricos utilizados na preparação das demonstrações financeiras relativas ao exercício de 2007 são os seguintes:

a) Contribuições periódicasAs instituições participantes entregam ao Fundo uma contribuição, de periodicidade anual, cujo valor é determinado de acordo com escalões de contribuição fixados pelo Banco de Portugal, em função do saldo médio dos depósitos do ano anterior.

As instituições participantes poderão realizar esta contribuição em numerário ou serem dispensadas de efectuar o respectivo pagamento, até ao limite de 75% (para o exercício de 2007 foi fixado pela Instrução n.º 12/2006 do Banco de Portugal o limite de 15%), desde que assumam o compromisso, irrevogável e caucionado por penhor de valores mobiliá-rios, do pagamento ao Fundo, em qualquer momento em que este o solicite, da totalidade ou de parte do montante da contribuição que não tiver sido paga em numerário.

De acordo com o Regulamento do Fundo1, as contribuições periódicas são, na sua totalida-de, parte integrante dos seus Recursos Próprios, sendo que a parcela correspondente aos compromissos irrevogáveis é reconhecida por contrapartida da rubrica activa “Contribuições Periódicas - Compromissos assumidos”, relevada no agregado de “Dívidas de Terceiros”.

b) Títulos NegociáveisA carteira de títulos negociáveis encontra-se valorizada a preços de mercado, para títulos com cotação. Aquando da sua aquisição, os títulos em carteira são escriturados pelo valor global de aquisição, incluindo os custos directos de transacção. Estes títulos são reava-liados diariamente com base na cotação de mercado, sendo as diferenças de reavaliação registadas na conta de resultados.

Os títulos para os quais não existe cotação de mercado são valorizados a “justo valor”, com base no montante apurado através do desconto dos fluxos financeiros futuros, sendo utilizadas as taxas de juro que se adequam à estrutura temporal dos fluxos e ao risco dos emitentes.

c) Imobilizações CorpóreasAs Imobilizações Corpóreas são registadas ao valor de aquisição. As amortizações são calculadas em base anual, segundo o método das quotas constantes, aplicando ao custo histórico as taxas anuais máximas permitidas para efeitos fiscais, as quais traduzem os períodos de vida dos activos do Fundo.

d) Especialização de exercíciosO Fundo segue o princípio contabilístico da especialização dos exercícios, nomeadamente no que se refere aos juros das operações activas e passivas que são registados à medida que são gerados, independentemente do momento do seu pagamento ou cobrança.

e) Imposto sobre lucrosO Fundo é uma pessoa colectiva de direito público que beneficia de isenção de IRC, con-sagrada no artigo 9.º do Código do IRC, não se compreendendo nessa isenção os rendi-mentos de capitais tal como são definidos para efeitos de IRS.Relativamente a rendimentos de capitais auferidos no estrangeiro, os quais não estão su-jeitos a retenção em Portugal, o Fundo está sujeito a tributação por meio de declaração à Administração Fiscal Portuguesa. No caso de não existir qualquer tributação destes rendi-mentos de capital no país de origem, aplica-se a taxa liberatória de 20%. Caso haja lugar a retenções no país de origem, o valor sujeito a tributação corresponde à diferença entre a taxa de imposto aplicada em Portugal e a taxa de retenção aplicada no estrangeiro.

NOTA 2 - DÍVIDAS DE TERCEIROSA rúbrica “Estado e Outros Entes Públicos” regista a retenção na fonte efectuada pelo Estado Espanhol relativa aos rendimentos sobre obrigações do governo espanhol e cujo pedido de reembolso está em curso.

O valor registado em “Contribuições Periódicas - Compromissos Assumidos” refere-se aos compromissos irrevogáveis de pagamento assumidos pelas Instituições de Crédito participantes perante o Fundo. O incremento de 5 009 391 euros verificado no corrente exercício é justificado pelos compromissos assumidos aquando das contribuições anuais, efectuadas em Abril de 2007.

NOTA 3 - TÍTULOS NEGOCIÁVEIS

O agregado “Títulos Negociáveis” regista os títulos de dívida adquiridos pelo Fundo no âmbito da sua política de investimentos.

(euros)

31-12-2007 31-12-2006

Obrigações de Empresa 48 089 677 101 315 647

Títulos da Dívida PúblicaObrigações 796 606 960 686 847 954

Total de Títulos Negociáveis 844 696 638 788 163 601

Todos os emitentes de títulos de dívida pública que integram a carteira do Fundo são países da zona euro. Relativamente à dívida privada, os títulos em carteira são, na sua totalidade, títulos de dívida hipotecária emitidos por Instituições de Crédito europeias com elevado rating.

NOTA 4 - DEPÓSITOS BANCÁRIOS

A rubrica “Depósitos Bancários” releva os depósitos à ordem no Banco de Portugal e em diversas instituições financeiras, no montante total de 383 098 euros (2006: 341 984 euros).

NOTA 5 - ACRÉSCIMOS E DIFERIMENTOS

A rubrica “Acréscimos de Proveitos” regista os juros a receber dos títulos negociáveis com cupão que se encontram em carteira a 31 de Dezembro de 2007.

A rubrica “Custos Diferidos” regista o pagamento, em Dezembro de 2007, da renda das instalações referente ao mês de Janeiro de 2008 e o pagamento, efectuado em Maio de 2006, da renovação do registo na Fundação de Computação Científica Nacional, referente ao período de 2007 a 2011.

A rubrica “Acréscimos de Custos” regista os honorários a pagar pela auditoria às contas financeiras do Fundo, respeitantes a parte dos trabalhos efectuados no exercício de 2007 (6838 euros) e os emolumentos a pagar ao Tribunal de Contas pela apreciação das contas de 2006 (16 338 euros).

NOTA 6 - DÍVIDAS A TERCEIROS

O valor registado na rubrica passiva “Estado e Outros Entes Públicos” diz respeito, es-sencialmente, ao imposto a pagar, não retido na fonte, sobre rendimentos de Títulos da Dívida Pública (ver Nota 1.2. e).

A rubrica “Consultores, Assessores e Intermediários Financeiros” regista o valor de operações de compra de títulos, efectuadas com os corretores UBS (2 728 480 euros) e JP-Morgan Chase (908 595 euros), ainda não liquidadas à data de 31 de Dezembro de 2007. Os saldos aqui reconhecidos foram regularizados nas datas de liquidação das operações em causa, ou seja, 2 e 3 de Janeiro de 2008, respectivamente.

NOTA 7 - RECURSOS PRÓPRIOS

A rubrica “Contribuições Iniciais” releva o montante de contribuições por início de activi-dade, realizadas pelas Instituições de Crédito participantes. O acréscimo de 150 000 euros verificado nesta rubrica refere-se à entrada, no ano em análise, das seguintes Instituições participantes: AS Paritate Banka, CREDIBOM - Instituição Financeira de Crédito, SA e Ban-que Privée Espírito Santo, SA.----------------------------------------------------------------------A rubrica “Contribuições Periódicas - Realizadas” releva o montante de contribuições realizadas pelas Instituições de Crédito participantes.

A rubrica “Contribuições Periódicas - Compromissos” refere-se à parte das contribui-ções cujo pagamento, nos termos da lei, foi substituído por assunção, por parte das Insti-tuições de Crédito participantes no Fundo, de compromissos irrevogáveis de pagamento, caucionados por penhor mercantil de títulos para o efeito elegíveis (ver Notas 2 e 10).

Os acréscimos verificados, em 2007, nestas duas últimas rubricas, devem-se às contribui-ções anuais efectuadas por parte das Instituições de Crédito participantes, pelos montan-tes respectivos de 29 032 323 euros e 5 009 391 euros.

NOTA 8 - FORNECIMENTOS E SERVIÇOS EXTERNOS

O agregado “Fornecimentos e Serviços Externos” engloba as seguintes rubricas:

(euros)

31-12-2007 31-12-2006

Livros e Documentação Técnica 27 24Material de Escritório 8 27Rendas e Alugueres 11 041 10 778Despesas de Representação - 106Comunicação 1 270 1 091Deslocações e Estadas 2 018 2 967Comissões 95 855 100 436Honorários 24 924 24 352Contencioso e Notariado 12 -Conservação e Reparação 539 16Publicidade 5 929 5 687Trabalhos Especializados 13 465 13 041Outros Fornecimentos e Serviços 1 -

Total 155 089 158 525

NOTA 9 - RESULTADOS FINANCEIROS

Os “Resultados Financeiros” do Fundo decompõem da seguinte forma:(euros)

31-12-2007 31-12-2006

Margem de juros 19 561 179 10 989 801Resultados Realizados em Títulos Negociáveis 6 763 500 7 867 344Resultados Potenciais em Títulos Negociáveis 5 631 078 1 603 654Outros Resultados Financeiros 377 640

Total 31 956 133 20 460 158

NOTA 10 - GARANTIAS RECEBIDAS

A rubrica extrapatrimonial “Garantias Recebidas” regista o penhor mercantil recebido como garantia do compromisso irrevogável de pagamento por parte das Instituições de Crédito ao Fundo de Garantia de Depósitos, no montante global de 454 593 013 euros (ver Notas 2 e 7).

PROPOSTA DE APLICAÇÃO DOS RESULTADOS

Propõe-se que o resultado do exercício de 2007, no montante de 27 812 671,10 euros seja afecto a Reservas Livres.

Lisboa, 27 de Fevereiro de 2008

A Comissão DirectivaPedro Miguel de Seabra Duarte Neves - Presidente

João Maurício Fernandes Salgueiro - VogalAntónio Amaro de Matos - Vogal

1 Aprovado pela Portaria n.º 285 - B/95 (2.ª Série), de 19 de Setembro, com as alterações introduzidas pela Portaria n.º 530/2003, de 14 de Abril.

PARECER DO CONSELHO DE AUDITORIA DO BANCO DE PORTUGAL

Em conformidade com o artigo 171.º do Regime Geral das Instituições de Crédito e Socie-dades Financeiras (RGICSF) e com o disposto na alínea d) do art.º 25.º do Regulamento do Fundo de Garantia de Depósitos (FGD), o Conselho de Auditoria do Banco de Portugal emite o seu parecer acerca do Relatório e Contas do FGD referentes ao exercício de 2007.

As demonstrações financeiras do FGD foram elaboradas tendo em atenção o estipulado no artigo 170.º do RGICSF sobre a organização do plano de contas do FGD. Este tem por base o Plano Oficial de Contabilidade com os ajustamentos implícitos à natureza específica da actividade do FGD.

O FGD tem por objecto garantir, dentro dos limites fixados, o reembolso de depósitos constituídos nas Instituições de Crédito (IC) que nele participam, nas condições e de acor-do com os limites estabelecidos no RGICSF e respectivos diplomas regulamentares. O FGD poderá igualmente colaborar, com carácter provisório, em acções destinadas a resta-belecer as condições de solvabilidade e liquidez de instituições de crédito participantes, no âmbito de programas de intervenção, previsto no artigo 142.º do RGICSF.

Em 31 de Dezembro de 2007, o universo das instituições participantes no FGD (52 no total) era constituído por 42 Bancos, 5 Caixas Económicas e 5 Caixas de Crédito Agrícola Mútuo não pertencentes ao Sistema Integrado de Crédito Agrícola Mútuo.

O Conselho de Auditoria, no âmbito das competências que lhe são atribuídas, acompanhou, de forma sistemática, a actividade do FGD através da análise da documentação periodica-mente remetida pela Comissão Directiva, complementada com informações e esclarecimentos adicionais solicitados.

Tal como vem acontecendo desde o início das operações do FGD em 1994, durante o exercício não se verificou qualquer situação de indisponibilidade de depósitos por parte das IC participantes, nem o Fundo foi chamado a colaborar em nenhuma acção destinada a restabelecer as condições de solvabilidade e liquidez de qualquer dessas IC.

Na determinação das contribuições periódicas do ano de 2007 foi aplicada a taxa de base de 0,03% (idêntica à de 2006), ponderada pelo indicador de solvabilidade de cada instituição participante, ao montante dos depósitos abrangidos pela garantia. Foi mantida no mesmo período a taxa reduzida de 0,01% sobre os depósitos constituídos nas sucursais financeiras exteriores das zonas francas da Madeira e da Ilha de Santa Maria. A contribuição mínima foi mantida, igualmente, em 17500 euros.

Os depósitos abrangidos pela garantia do FGD representavam, no final de 2006, 47% do total dos depósitos captados pelas IC participantes no FGD. No agregado dos depósitos excluídos da garantia do FGD, com base no artigo 165.º do RGICSF, continuam a ter po-sição relevante os depósitos titulados pelo sector público administrativo, pelas instituições de crédito, sociedades financeiras e empresas de seguros.

O total das contribuições das IC participantes atingiu cerca de 34 milhões de euros, em comparação com 33,2 milhões de euros em 2006. O grau de cobertura dos depósitos garantidos pelos recursos do FGD, definido como a relação entre os recursos do FGD (contribuições entregues ao FGD, incluindo os compromissos irrevogáveis de pagamento, acrescidas dos resultados acumulados) e os depósitos abrangidos pela garantia do FGD, ascende a 0,99% em 2006 (0,98% em 2005).

Os compromissos irrevogáveis de pagamento ascenderam no ano em análise a cerca de 5 milhões de euros.

O total acumulado de compromissos irrevogáveis de pagamento relativo ao conjunto das IC participantes ascendeu a 430,2 milhões de euros, representando 39,6% das contribui-ções iniciais e periódicas anuais efectuadas pelas instituições participantes desde a cons-tituição do FGD (1085,8 milhões de euros).

Tal como referido em anteriores pareceres, na revelação contabilística dos compromissos irrevogáveis de pagamento, celebrados entre o FGD e as IC participantes, existem critérios distintos naquele e nestas para o registo dos referidos compromissos. Enquanto no FGD estes comprimissos são relevados como dívidas de terceiros, nas IC são tratados como passivos contingentes com divulgação nas cotas anexas às contas anuais.

Os recursos próprios do FGD, em 31 de Dezembro de 2007, totalizaram 1282,6 milhões de euros. A variação face ao exercício anterior (+ 62 milhões de euros) foi originada pelas con-tribuições periódicas das instituições participantes, incluindo os compromissos irrevogáveis (34,2 milhões) e pelos resultados do Fundo (27,8 milhões).

A gestão dos recursos financeiros do FGD (artigo 159.º do RGICSF) tem em atenção os critérios fixados pela Comissão Directiva, para as operações de aplicação desses recur-

sos, no âmbito das orientações e das regras estabelecidas no “Plano de Aplicações dos Recursos Financeiros do FGD”.

A carteira do FGD manteve um perfil de risco bastante conservador, quer em termos de ma-turação, quer no que respeita ao perfil de risco de crédito (concentração dos investimentos em obrigações do tesouro emitidas por Estados da zona euro, cerca de 94,4%).

A prossecução da rentabilidade da carteira foi balizada pelos objectivos de salvaguarda da solvabilidade e preservação do valor dos activos, bem como de um elevado grau de liquidez dos mesmos.

A rentabilidade da carteira do FGD foi superior à rentabilideade de activos de risco mínimo pelo que se revelou adequada.

As demonstrações financeiras do FGD passaram, a partir deste exercício, a ser verificadas por um auditor externo; anteriormente esta auditoria era limitada à avaliação da gestão de activos.

O resultado líquido do exercício ascendeu a 27.812.671,10 euros, montante que a Comis-são Directiva propõe seja afecto a Reservas Livres.

Com base na análise efectuada, tendo presentes as considerações anteriores, a Certifica-ção das Contas da Gestão de Activos do FGD emitida pelo Auditor Externo e o relatório do Departamento de Auditoria do Banco de Portugal, o Conselho de Auditoria nada tem a objectar à aprovação do Relatório e Contas do FGD referentes ao exercício de 2007, bem como à proposta de aplicação de resultados, apresentados pela Comissão Directiva.

Lisboa, 25 de Março de 2008

O CONSELHO DE AUDITORIA

Emílio Rui da Veiga Peixoto VilarRui José da Conceição NunesAmável Alberto Freixo Calhau

CERTIFICAÇÃO DAS CONTAS

Introdução

1. Examinámos as demonstrações financeiras anexas do Fundo de Garantia de De-pósitos (Fundo), as quais compreendem o Balanço em 31 de Dezembro de 2007 (que evidencia um total de 1.290.216.220 euros, e um total de recursos próprios de 1.282.648.600 Euros, incluindo um resultado líquido de 27.812.671 Euros), as Demons-traões dos Resultados por Natureza e a Demonstração dos Fluxos de Caixa do exercício findo naquela data, e o correspondente Anexo.

Responsabilidades

2. É da responsabilidade da Comissão Directiva a preparação de demonstrações financei-ras que apresentem de forma verdadeira e apropriada a posição financeira do Fundo, o resultado das suas operações e os fluxos de caixa, bem como a adopção de políticas e critérios contabilísticos adequados e a manutenção de um sistema de controlo interno apropriado.

3. A nossa responsabilidade consiste em expressar uma opinião profissional e indepen-dente, baseada no nosso exame daquelas contas financeiras.

Âmbito

4. O exame a que procedemos foi efectuado de acordo com as Normas Técnicas e as Directrizes de Revisão/Auditoria da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, as quais exigem que o mesmo seja planeado e executado com o objectivo de obter um grau de segurança aceitável sobre se as demonstrações financeiras estão isentas de distorções materialmente relevantes. Para tanto o referido exame incluiu:

- a verificação, numa base de amostragem, do suporte das quantias e divulgações constantes das contas financeiras e a avaliação das estimativas, baseadas em juízos e critérios definidos pela Comissão Directiva, utilizadas na sua preparação;

- a apreciação sobre se são adequadas as políticas contabilísticas adoptadas e a sua divulgação, tendo em conta as circunstâncias;

- a verificação da aplicabilidade do princípio da continuidade; e

- a apreciação sobre se é adequada, em termos globais, a apresentação das contas financeiras.

5. O nosso exame abrangeu também a verificação da concordância da informação finan-ceira constante do relatório de gestão com as demonstrações financeiras.

6. Entendemos que o exame efectuado proporciona uma base aceitável para a expressão da nossa opinião.

Opinião

7. Em nossa opinião, as demonstrações financeiras apresentam de forma verdadeira e apro-priada, em todos os aspectos materialmente relevantes, a posição financeira do Fundo de Garantia de Depósitos, em 31 de Dezembro de 2007, o resultado das suas operações e os fluxos de caixa no exercício findo naquela data, em conformidade com os princípios contabilísticos geralmente aceites em Portugal, com as adaptações referidas na Nota 1 do Anexo às Demonstrações Financeiras.

Lisboa, 7 de Março de 2008

ERNST & YOUNG AUDIT & ASSOCIADOS, SROC, S.A.Sociedade de Revisores Oficiais de Contas (n.º 178)Representada por:

Ana Rosa Ribeiro Salcedas Montes Pinto (ROC n.º 1230)

LISTA DAS IC PARTICIPANTES NO FGD

BANCOSCaixa Geral de Depósitos, SABanco ActivoBank (Portugal), SABanco Bilbao Vizcaya Argentaria (Portugal), SABanco BAI Europa, SABanco BPI, SABanco do Brasil, SA (sucursal)Banco Cetelem, SABanco Banif e Comercial dos Açores, SABanco Comercial Português, SABanco Credibom, SABanco Efisa, SABanco Espírito Santo, SABanco Espírito Santo dos Açores, SABanco Espírito Santo de Investimento, SABanque Privée Espírito Santo, SA (sucursal)Banco Finantia, SABanco Invest, SABanco ltaú Europa, SABanco de Investimento Imobiliário, SABanco de Investimento Global, SABanco Madesant - Sociedade Unipessoal, SABanco Mais, SABanco Millennium BCP Investimento, SABanco Popular Portugal, SABanco Português de Gestão, SABanco Português de Investimento, SABanco Privado Português, SABanco Primus, SABanco Rural Europa, SA

Banco Santander Consumer Portugal, SABanco Santander Totta, SABanif - Banco de Investimento, SABanif - Banco Internacional do Funchal, SABest - Banco Electrónico de Serviço Total, SABPN - Banco Português de Negócios, SABSN - Banco Santander de Negócios Portugal, SACaixa - Banco de Investimento, SACredifin - Banco de Crédito ao Consumo, SADeutsche Bank (Portugal), SAFinibanco, SAAS “PrivatBank” (sucursal)Sanpaolo IMI Bank (International), SA

CAIXAS ECONÓMICASCaixa Económica Montepio GeralCaixa Económica da Associação de Socorros Mútuos de Empregados no Comércio de LisboaCaixa Económica da Misericórdia de Angra do HeroísmoCaixa Económica do PortoCaixa Económica Social

CAIXAS DE CRÉDITO AGRÍCOLA MÚTUO (*)Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Bombarral, CRLCaixa de Crédito Agrícola Mútuo da Chamusca, CRLCaixa de Crédito Agrícola Mútuo de Leiria, CRLCaixa de Crédito Agrícola Mútuo de Mafra, CRLCaixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras, CRL

(*) Não pertencentes ao Sistema Integrado de Crédito Agrícola Mútuo

Page 31: Público – 6657 – 22.06.2008

32 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Administração Regionalde Saúde do Norte, I.P.

Ministério da Saúde

Concurso interno geral para preenchimento de 42 lugares de Assistente da carreira Médica de Medicina Geral e Fami-liar, constantes dos mapas de pessoal dos Centros de Saú-de pertencentes ao distrito do Porto, no âmbito do Serviço Regional da Administração Regional de Saúde do Norte, IP

Nos termos do disposto no ponto 50, Secção III, da Por-

taria n.º 47/98, de 30/01, torna-se público que se encon-

tra aberto o concurso acima mencionado, pelo prazo de

20 dias úteis, devendo observar-se as condições referi-

das no aviso de abertura publicado no Diário da Repúbli-

ca, II.ª série, n.º 116, de 18 de Junho de 2008.

ARS do Norte, IP

O Vogal do Conselho Directivo

Dr. A. Pimenta Marinho

Público, 2008.06.22

COMUNIDADE INTERMUNICIPALDO VALE DO MINHO

AVISOOferta de Estágio

Torna-se público que a Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho (Vale do Minho-CI) promove um estágio, no âmbito do Programa Estágios Profissionais na Administração Local (PEPAL), com as seguintes características:Destinatários: Jovens entre os 18 e os 30 anos possuidores de Licenciatura, recém-saídos do sistema de educação e formação à procura do 1.º emprego ou desempregados à procura de novo emprego.Número de estágios por habilitação e área funcional de oferta: 1 estágio para Licenciados em Direito, para prestar apoio jurídico-administrativo na gestão da Vale do Minho-CI, designadamente aos técnicos responsáveis pelo planeamento e exe-cução de projectos apoiados pelos fundos comunitários.Local de realização do estágio: Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho, Av.ª Miguel Dantas, Valença.Duração do estágio: 12 meses.Método de selecção: Avaliação Curricular e Entrevista Profissional de Selecção, po-dendo as candidaturas serem objecto de análise preliminar para verificação dos re-quisitos exigidos, em momento prévio à aplicação do método de selecção, sendo, de imediato, elaborado a lista dos candidatos admitidos e a de candidatos excluídos. Requisitos essenciais e eliminatórios de candidatura: Os requisitos gerais pre-vistos no art.º 29, do Decreto-Lei n.º 204/98, de 11 de Julho; Habilitação literária de acordo com a área exigida; Jovens com idade compreendida entre os 18 e os 30 anos, recém-saídos dos sistema de educação e formação à procura do primeiro emprego ou desempregados à procura de novo emprego, que não tenham frequen-tado o PEPAL/1.ª edição ou o PEPAP-Programa de Estágios Profissionais na Admi-nistração Pública Central. Deverão apresentar prova da situação de desemprego, que pode ser feita por declaração de entidade pública idónea para o efeito, a pedido do próprio, desde que permita demonstrar, de forma inequívoca, a situação de desem-prego, nomeadamente IEFP, Segurança Social e Direcção-Geral dos Impostos.Requisitos Preferenciais de Candidatura: Têm prioridade no acesso ao PEPAL os jovens à procura de emprego que, nessa qualidade, se encontrem inscritos há mais de três meses nos centros de emprego, sendo da responsabilidade do can-didato informar a Vale do Minho-CI da verificação da prioridade, através de decla-ração do IEFP.Conhecimento dos problemas e tarefas inerentes à função a exercer; formação profissional complementar, capacidade de relacionamento interpessoal e iniciativa; interesse e motivação profissional. Oferece-se: Bolsa de estágio mensal, no montante de 2 salários mínimos nacionais (correspondendo actualmente a € 852), subsídio diário de refeição (de montante equivalente ao fixado para os trabalhadores da Administração Pública).Prazo para formalização da candidatura: As candidaturas devem ser entregues na Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho, Av.ª Miguel Dantas, 69, 4930 – 678 Valença até às 17h30 do dia 04 de Julho de 2008. Só serão consideradas as candidaturas recebidas até esta data. Formalização da candidatura: As candidaturas são formalizadas obrigatoria-mente utilizando o formulário que se encontra disponível nos sítios da Internet www.valedominho.pt ou www.dgaa.pt, em PEPAL / 2.ª edição Pepal, acompa-nhadas de fotocópia do certificado de habilitações, Curriculum Vitae, certificado comprovativo das acções de formação, declaração da situação de desemprego, fotocópia do Bilhete de Identidade e do Cartão de Contribuinte.Os candidatos admitidos à entrevista de selecção, a realizar no dia 11 ou 14 de Julho, na sede da Vale do Minho-CI, serão contactados via telefone. Todos os can-didatos, admitidos e excluídos, serão informados por carta registada. Informações complementares: A obter mediante solicitação aos serviços da Vale do Minho-CI, durante o horário de expediente.

Valença, 22 de Junho de 2008

O Presidente do Conselho DirectivoAntónio Rui Esteves Solheiro

UNIÃO EUROPEIAFundo Social Europeu

Pretende ContratarJurista

Assessor da Direcção ExecutivaN.º de lugares: 1 (Técnico Superior)Local de Trabalho: Lisboa

Qualificações:a) Licenciatura em Direito com classificação mínima de 14 valores;b) Bons conhecimentos de inglês falado e escrito.

Condições Preferenciais:a) Experiência em direito administrativo;b) Experiência em direito do trabalho;c) Experiência em direito da função pública.

Os currículos deverão ser enviados, até ao dia 30 de Junho, para a Direcção Executiva da ERC, Avª 24 de Julho, n.º 58, 1200-869 Lisboa ou para o endereço electrónico [email protected]

PRECISA-SEDE COLABORADOR

M/FGaleria de Arte Contemporânea/Moderna de prestígio, em Lisboa, está a admitir co-laborador/a para a sua galeria de Lisboa com experiência no ramo e com carteira de clientes. Bons incentivos e prémios de produtividade. Conhecimentos de línguas e informática Windows, Mac e Ms Office.

Confidencialidade nas candidaturas.

Resposta a este jornal ao n.º 1/2671

EditalNos termos do art.º 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de Janeiro, com a redacção que lhe foi dada pelo artigo 2.º Lei 51/2005 de 30 de Agosto, faz-se público que, por despacho de 20.05.2008 do Presidente do Insti-tuto Politécnico de Lisboa, pelo prazo de 10 dias úteis a contar da data de publicação do presente edital no Diário da República, se encontra aberto procedimento concursal com vista ao provimento de uma vaga de Director de Serviços de Assessoria de Planeamento e Gestão, cargo de direcção de nível intermédio, em regime de comissão de serviço para os Serviços Centrais do Instituto Politécnico de Lisboa.

Área Funcional - Gabinete de Assessoria de Planeamento e Gestão.

Requisitos de Admissão - Os candidatos deverão ser detentores de licenciatura e ter experiência profissional em carreiras de administra-ção pública em cujo provimento seja legalmente exigível uma licencia-tura num mínimo de seis anos.

Perfil Pretendido - Experiência mínima de seis anos no exercício de funções ligadas à gestão de estabelecimentos do ensino superior em geral e do ensino politécnico em particular;Competência e aptidão técnica para o exercício de funções de direcção, coordenação e controlo;Licenciatura em Economia; Capacidade de liderança, comunicação, iniciativa, relacionamento in-terpessoal e trabalho em equipa;

Métodos de selecção a utilizar - A selecção é feita por escolha, nos termos do disposto no n.º 5 do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de Janeiro, republicada em anexo à Lei n.º 51/2005, de 30 de Agosto, e recairá no candidato que, em sede de apreciação de candidaturas com discussão curricular e entrevista profissional de selecção, melhor corresponda ao perfil desejado.

Formalizações das candidaturas - As candidaturas devem ser for-malizadas mediante requerimento, do qual deve constar a identifi-cação do candidato, bem como o cargo a que se candidata, dirigido ao Presidente do Instituto Politécnico de Lisboa, Estrada de Benfica, n.º 529, 1549-020 Lisboa, com menção da referência do processo de selecção, podendo ser entregue em mão ou remetido pelo correio, em carta registada com aviso de recepção. Os requerimentos de admis-são ao procedimento concursal devem ser acompanhados da seguinte documentação:a) Curriculum Vitae detalhado, devidamente datado e assinado;b) Fotocópia do certificado de habilitações literárias;c) Documento comprovativo dos requisitos previstos no n.º 1 do artigo 20.º da Lei n.º 2/2004, de 15 de Janeiro, com a redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 51/2005, de 30 de Agosto.

Prazo de entrega das candidaturas: dez dias úteis contados do dia imediato ao da publicação do presente aviso.

O júri é composto pelos seguintes elementos:

Presidente: António José Carvalho Marques, Administrador do Insti-tuto Politécnico de Lisboa.

Vogais Efectivos: Teresa Maria Oliveira Cabeçudo Torres Martins, Ad-ministradora dos Serviços de Acção Social;Graciete Pinto Correia, Secretária do Instituto Superior de Contabili-dade e Administração de Lisboa.

Vogais Suplentes: Maria Teresa Martins Campanella de Carvalho, Secretária da Escola Superior de Educação de Lisboa;Paula Cristina Abraços Moniz Almeida, Secretária da Escola Superior de Comunicação Social.

Assiste ao júri a faculdade de exigir a qualquer candidato, em caso de dúvida sobre a situação que descreveu, a apresentação dos documen-tos comprovativos das suas declarações.

O júri pode considerar que nenhum dos candidatos reúne as condições para ser nomeado.

Os candidatos são notificados do resultado do concurso, não havendo lugar à audiência dos interessados, conforme estipulado no n.º 11 do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004,de 15 de Janeiro, com a redacção que lhe foi dada pela Lei 51/2005, de 30 de Agosto.

Instituto Politécnico de Lisboa, 02.06.2008

O AdministradorAntónio José Carvalho Marques

A Simple SolutionsProcura um programador com experiência mínima de um ano.O interessado deve ter conheci-mentos nas tecnologias .Net e Sql Server.As suas tarefas serão realizadas nas nossas instalações no Taguspark.

Respostas para:[email protected]

EMPREGO

Page 32: Público – 6657 – 22.06.2008

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Desporto34 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Transferência Benfica e uruguaio não se entenderam e clube anunciou a ruptura

Rodríguez nunca escondeu o agrado pelo interesse do FC PortoFRANCISCO LEONG/AFP

Cristián Rodríguez, jogador “prioritário” para Rui Costa, vai assinar pelo FC PortoUruguaio de 22 anos está perto de rubricar um contrato de quatro anos com os “dragões”. Raid-relâmpago a Milão decidiu futuro de “Cebola”, que chegou a dizer sim ao Benfica

A Cristián Rodríguez era esperado em Lisboa para negociar, de forma defi-nitiva, o futuro com o Benfica, após o empréstimo de um ano por parte do PSG. Mas uma operação-relâmpago dos dirigentes do FC Porto a Milão, no consulado português daquela ci-dade, e depois de várias semanas de negociações, acertou tudo com o em-presário do atleta, que deverá assinar nos próximos dias um contrato para as próximas quatro temporadas com os “dragões”.

O internacional urugaio era um “jogador prioritário” para o novo director desportivo da Luz, Rui Cos-ta, como o próprio o admitiu, mas ontem a relação entre Rodríguez e os “encarnados” chegou mes-mo ao fim, depois de uma novela

que dura desde o final da época.Rodríguez chegou a aceitar prolon-

gar o seu vínculo com o Benfica, onde iria auferir o mais alto salário do plan-tel, mas voltou atrás com a decisão, disse ontem fonte do clube “encarna-do” à Lusa. Perante a situação de im-passe, o Benfica chegou à conclusão de que não existiam condições para continuar a negociar com o jogador, dando por encerrado o processo de renovação do contrato. “O Benfica precisa de jogadores que queiram ga-nhar com o Benfica e não à custa do Benfica”, disse a mesma fonte. Mas o facto de o destino do uruguaio ser o Dragão está a provocar mal-estar na Luz, como se depreende das palavras: “A história do Benfica nunca se fez com traidores”.

Quando tudo parecia indicar que o avançado urugaio (utilizado em 24

jogos, 22 como titular, e com seis go-los apontados na época passada) iria continuar no Benfica, o clube da Luz anunciou, ontem, através de um co-municado oficial, que o futebolista já não irá fazer parte do plantel para a temporada 2008/09.

“Sempre foi intenção do Sport Lis-boa e Benfica, Futebol SAD renovar o vínculo contratual com o jogador Cristián Rodríguez em condições que fossem vantajosas para ambas as partes. Tal não foi possível. Os sinais equívocos e contraditórios que foram sendo dados pelo jogador e seus re-presentantes, a par das exigências in-comportáveis que foram apresenta-das, levaram o Sport Lisboa e Benfica, Futebol SAD a dar por concluídas as negociações com o jogador”, está es-crito no comunicado. Que conclui de forma definitiva: “Cristián Rodríguez

não será jogador do Benfica”.O desfecho é tão rápido quanto

inesperado. Ainda há pouco mais de um mês, Rodríguez havia dito que, em Portugal, só jogaria no Benfica, apesar de se mostrar satisfeito com a “hipótese” de rumar ao FC Porto. “Não percebi a confusão criada por admitir que fico contente pelo inte-resse do FC Porto. Mas, em Portugal, a opção será o Benfica, pois não me vejo a jogar noutro clube.”

Os rumores que o ligavam ao FC Porto vêm de longe. Em Fevereiro úl-timo, Pinto da Costa, em entrevista à SIC, garantia até que Rodríguez não seria contratado. Mas o dossier inver-teu-se e Jesualdo Ferreira vai passar a contar, assim, com mais uma con-tratação, a quarta do defeso, depois de Rolando, Tomás Costa e Nelson Benítez.

Filipe Escobar de Lima

O uruguaio Cristián Rodríguez não é o primeiro a trocar o Benfica pelo FC Porto. Aliás, a história das últimas duas décadas tem registado um grande intercâmbio entre os dois clubes. Desde Rui Águas e Dito, em 1988, até Sokota, há três anos, passando por Yuran e Kulkov (em 1994), Maniche e Jankauskas (em 2002), ou Pedro Henriques (1997) e Panduru (1998). Das Antas para a Luz transferiram-se Paulo Pereira, João Manuel Pinto, Peixe, Drulovic ou Miklos Fehér. Rodríguez é o primeiro deste defeso. F.E.L.

De Rui Águas a Sokota

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 35

Marco Caneira livre para rumar a AlvaladeCaneira está livre para decidir o seu futuro. De acordo com o siteMaisFutebol, os responsáveis do Valência e o empresário do

jogador, Paulo Barbosa, chegaram a um acordo, que autoriza o defesa português a negociar com outros clubes, nomeadamente o Sporting.

Visite as fotogalerias do PÚBLICO www.publico.pt/fotogalerias/fotogalerias.aspx

Quando é que vamos de férias?

a 1. Confesso que estas primeiras palavras surgem sem desfecho determinado. Há que dizer algo e, por vezes, sentimo-nos cansados. A vida – desportiva ou não – cansa e não há forma de fugir a esse sentimento. Poderia começar por retirar um efeito positivo da eliminação de Portugal no Euro 2008: o retorno à vida política activa do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, depois de mais um brilhante “acompanhamento” da selecção com opinião sobre o treinador e tudo. Estou até convencido de que, com um esforço do Governo, percorrendo o caminho que seguiu quanto ao apoio a Tiago Monteiro, haver-se-ia de arranjar dinheiro, patrocínios de empresas públicas, etc. que deitariam por terra qualquer presunção de

Roman Abramovich.Contudo, numa segunda

leitura, era bem melhor que Laurentino Dias não retomasse a vida governativa em pleno. Na verdade, para quê, fazendo o quê? Ausência por ausência, pelo menos que o governante assista a espectáculos desportivos. Não fal-tarão, é certo, com a aproximação das férias e dos Jogos Olímpicos.

2. A semana jurídica do futebol começou com a decisão do Comité de Apelação da UEFA, integrando o FC Porto na próxima Liga dos Campeões, e terminou com uma partida de ténis de mesa disputada entre o Conselho de Disciplina da FPF e a Comissão Disciplinar da Liga. Caberá (?) ao assoberbado Conselho de Justiça da FPF “decidir sobre quem tem de decidir” nos processos que envolvem Gondomar e Vizela.

Os processos foram (de camioneta?) de Lisboa para o Porto, pois o Conselho de Disciplina da FPF deliberou que a competência é da Comissão Disciplinar da Liga; agora, voltam para Lisboa (no Alfa ou no Intercidades?), pois este último órgão afirma-se incompetente e deliberou que competente é o Conselho de Disciplina da FPF.

Uma coisa tem-se por certa: não compete a Laurentino Dias decidir ou mesmo decidir quem sobre quem tem que decidir. Aliás, se dúvidas restassem, como poderia o membro do Governo responsável (?) pela área do desporto decidir algo, quando, à partida, nada decide e, caso decida, decide mal?

3. Seja-nos permitido, no entanto, sem qualquer objectivo (escondido) que não seja o de problematizar e reflectir o relacionamento entre os órgãos federativos a quem incumbe aplicar a justiça, adiantar algo sobre essa matéria.

Não existe qualquer norma que expressamente preveja a competência do Conselho de Justiça da FPF para decidir sobre este aparente “conflito negativo de competência” entre os dois órgãos disciplinares de primeira instância. Tal não invalida, é certo, que a “natureza das coisas”, a “lógica”, o “faz todo o sentido”, imponham essa resposta, como que naturalmente.

Contudo, não é menos verdade que tal ausência pode também legitimar sérias dúvidas quanto a saber se ela não é mesmo querida pelo sistema normativo em causa.

4. Já se sabe que a Comissão Disciplinar da Liga assume mais que uma veste. É mesmo parte em processos disciplinares que se encontrem, por via de recurso, no Conselho de Justiça. Ou seja, este estado de coisas – não muito claras – poderá ser suficiente para sustentar uma via alternativa àquela solução tida por “natural”?

Compliquemos (deu-nos para aqui): havendo uma deliberação do Conselho de Disciplina da FPF que atribui competência à Comissão Disciplinar da Liga, não deveria esta recorrer – da decisão – para o Conselho de Justiça? Dir-se-á que vai dar no mesmo, pois, em ambas as situações, quem decide sobre quem decide acaba por ser o Conselho de Justiça.

No entanto, este resultado é enganador. Com efeito, a entender-se como certa (e única) a via do recurso, não tendo sido ele interposto, lá temos um famigerado “caso julgado”, não deixando outra alternativa que não seja a de a Comissão Disciplinar decidir.

5. Seria bom que alguém aproveitasse as férias para limar muitas das arestas jurídicas do futebol. [email protected]

Opinião

José Manuel Meirim

João Moutinho apto para a pré-época

Hugo F. Leitão

a A garantia é dada pelos médicos do Sporting, num comunicado exi-bido no site do clube: a entorse no joelho esquerdo do médio João Mou-tinho, sofrida durante o encontro dos quartos-de-final do Euro2008 frente à Alemanha, em que Portugal foi der-rotado por 2-3, não deverá pôr em causa a pré-época.

Quando chegou a Lisboa, o médio leonino foi observado pelo director clínico da Sporting SAD, José Gomes Pereira, tendo sido submetido a exa-mes complementares. O diagnóstico apenas confirmou a existência de um estiramento do ligamento lateral in-terno: “A lesão apenas implica trata-mento conservador e não é previsível que coloque a aptidão do jogador em causa para o início da época, em Ju-lho”, esclarece o comunicado.

João Moutinho, que conta com 16 internacionalizações no currículo, foi um dos jogadores mais utilizados da Liga na última época e efectuou um total de 67 jogos em competições oficiais em 2007/08.

No Euro 2008, foi uma aposta de primeira linha de Scolari, alinhan-do nos quatro jogos disputados por Portugal e actuando em três deles como titular.

Lesão não é grave

Torino persegue central Geromel, do V. Guimarães

a Depois de uma época de alto nível na Liga portuguesa, Geromel des-pertou o interesse de alguns clubes europeus. O mais recente é o Torino, da Série A italiana, que terá de fazer um esforço financeiro da ordem dos 5 milhões de euros para contratar o defesa-central.

O negócio não está concluído, mas o presidente do V. Guimarães reconhece que será difícil segurar o brasileiro: “O Vitória tem de vender sempre um ou dois activos, é inevi-tável. É evidente que não fechamos a porta a grandes negócios, mas só os anunciamos quando estiverem con-cretizados”, afirmou Emílio Macedo ao site Maisfutebol.

O defesa de 22 anos, que alinha no Vitória de Guimarães e foi uma das peças fundamentais da equipa de Manuel Cajuda, é um dos reforços desejados pela formação italiana para o eixo da defesa, segundo avançou ontem o jornal Gazzetta dello Sport. A favor do brasileiro – que iniciou a sua carreira em Portugal no Desp. Chaves – pesa o facto de Geromel ter descen-dência italiana por parte do pai.

Mercado

Cristiano Ronaldo decidiu pelo Real Madrid ainda antes da final da Liga dos Campeões

Victor Ferreira

Opção de sair do Manchester United já estava tomada em Maio, revela o jogador, que já só pensa em Espanha

a A decisão está tomada e não é de agora. Em Maio, Cristiano Ronaldo já tinha decidido que queria trocar o Manchester United (com quem tem contrato até 2012) pelo campeão de Espanha, Real Madrid.

Foi o próprio número sete da se-lecção portuguesa quem revelou, numa entrevista à emissora espa-nhola Cadena Ser, que a decisão de abandonar a Premier League estava tomada antes mesmo da final da Li-ga dos Campeões, que disputou com as cores do United a 21 de Maio, em Moscovo.

“É uma decisão minha, tomada há algum tempo, antes da final da Liga dos Campeões”, revelou o avança-do, de 23 anos. “Não quis dizer nada antes porque estávamos envolvidos numa competição importante”, jus-tificou. “No Euro 2008 também não queria dizer nada, porque era im-portante para Portugal”, prosseguiu, acrescentando: “Como já terminou,

agora vou dizer alguma coisa mais conclusiva”. E prometeu um “comu-nicado” dentro de “dois dias”. Um prazo que terminaria hoje, tendo em conta que a entrevista foi gravada no dia do regresso da selecção a casa, anteontem. “Vou dizer o que quero, mas as coisas não dependem só de mim”, admitiu ainda, antes de reite-rar que “jogar no Real é um sonho” antigo.

“Não sei com quem é que tenho

de falar, mas vou dizer aquilo que eu quero e aquilo que eu penso”, acres-centou. Quem até agora não tem esta-do pelos ajustes é o clube inglês, que ainda anteontem colocou um comu-nicado no seu site onde declara que Ronaldo “não está à venda”. Aliás, os red devils queixaram-se à FIFA por causa do assédio madridista, mas a entidade que supervisiona o futebol a nível mundial não acolheu a pre-tensão dos ingleses.

Cristiano Ronaldo saiu do Sporting em 2003, rumo ao Manchester Uni-ted, que pagou 18 milhões de euros ao clube de Alvalade pelo avançado, então com 18 anos de idade. Cinco épocas depois, o jovem prodígio nas-cido (5/02/1985) na Madeira quer mu-dar de ares.

“Não é pessoal, é uma coisa que eu quero, com a qual sonho”, refor-çou na entrevista emitida pela emis-sora espanhola, reconhecendo que “é sempre difícil sair” porque a de-cisão está nas mãos de muita gente. “Espero que o meu sonho se cum-pra”, expressou, considerando que o interesse do Real Madrid “é uma grande oportunidade”. “E, como disse o Scolari, há comboios que só passam uma vez e por isso temos que aproveitar, agarrar as oportunidades quando elas surgem.”

Ao serviço dos red devils, Ronaldo disputou 166 jogos e marcou 63 golos, foi duas vezes campeão de Inglater-ra e conquistou uma Liga dos Cam-peões. A título individual, sagrou-se melhor jogador jovem da Liga ingle-sa, melhor futebolista em Inglaterra por duas vezes, melhor marcador e terceiro melhor jogador do mundo, em 2007. Além disso, recebeu este ano a Bota de Ouro, prémio de me-lhor marcador europeu.

Avançado promete comunicado para breve

Ronaldo: “Não é pessoal, é uma coisa que eu quero, com a qual sonho”

PAULO CORDEIRO/AFP

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Desporto36 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Euro 2008 Segundos classificados da fase de grupos dominam quartos-de-final

Holanda provou o próprio venenoHá um holandês na meia-final do Euro 2008, mas chama-se Guus Hiddink e é seleccionador da Rússia. Ontem, ganhou o título de “traidor” do ano

a Pelos vistos, perder um jogo e ficar em segundo na fase de grupos não é nenhum drama neste Campeonato da Europa. A Rússia apurou-se para as meias-finais, depois de dar uma lição de técnica em movimento à Holanda (3-1), em Basileia. Foi no prolonga-mento que os russos garantiram um encontro com a Espanha ou a Itália na quinta-feira, mas o domínio sobre uma “laranja” enferrujada prolongou-se pelo jogo inteiro.

A Holanda foi a terceira equipa eli-minada depois de poupar os seus titu-lares na última jornada da fase de gru-pos. Até ver, a Rússia, orientada pelo “traidor” do ano na Holanda, Guus Hiddink, encontra soluções para to-dos os problemas. Arranjou antídoto para curar uma estreia no lado mau de uma goleada (1-4 com a Espanha) e também para a ausência por casti-go nos dois primeiros jogos da estrela da equipa, Arshavin – apresenta-se a prova A (Suécia) e B (Holanda) para justificar a convocatória do avançado do Zenit São Petersburgo.

Depois de domar o campeão do mundo, o vice-campeão e uma Romé-nia que tinha deixado boa imagem até

lhe aparecer no caminho, a Holanda caiu perante o adversário mais ines-perado. E caiu bem. O golo de Ruud van Nistelrooy quase no fim anulou o de Pavlyuchenko e salvou a equipa mais impressionante da fase de gru-pos. Mas só temporariamente. No pro-longamento, houve mais do mesmo, mas também um bocadinho mais de eficácia da selecção russa, que se far-tou de falhar oportunidades.

Voltou a haver futebol total com a Holanda em campo, mas quem o pra-ticou foi o adversário. Todos atacam e todos defendem. A selecção laran-ja esteve a jogar contra um espelho que reflectiu os tempos que lhe de-ram fama. Houve alturas em que a rapidez e o jogo ao primeiro toque do meio-campo russo humilharam os holandeses. Foi impressionante a for-ma como a energia de Sergei Semak (1,78 metros), Konstantin Zyryanov (1,76m), Igor Semshov (1,70m), Ivan Saenko (1,78m) e Andrei Arshavin (1,72m) ocuparam o campo. Engela-ar (1,96m) pareceu mais gigante que nunca e, como ele, quase nenhum dos seus colegas conseguiu disfarçar a atrapalhação. A Rússia pressionou e jogou no meio-campo do adversário. As oportunidades surgiram, mas Van der Sar, teimoso, estava decidido a não terminar a sua carreira interna-cional no St. Jakob Park.

Foi preciso o melhor da Rússia para quebrar o dique. Jogada rápida com avançados a fazer de médios de con-tenção (Arshavin) – como se houvesse contenção nesta equipa –, trincos a fazer de extremos (Semak) e pontas-de-lança a fazer de pontas-de-lança (Pavlyuchenko). As oportunidades para aumentar a vantagem alterna-ram com as tentativas de empate de Sneijder, mas foi preciso um livre para a Holanda marcar. O centro de Snei-jder permitiu a Nistelrooy aumentar a sua lenda.

O jogo de ruptura da Rússia conti-nuou no tempo extra – foi assim que Zhirkov sofreu um penálti não san-cionado e foi assim que o suplente Torbinski, num toque difícil, fez o 2-1, aos 22 minutos do prolongamento. Os holandeses desesperavam, mas ainda havia tempo para fazer um “turco”. Oito minutos dá para muitos “turcos”. Mas o que voltou a haver foi um “rus-so”: lançamento lateral directamente para Arshavin e este, desta vez, não perdoou. O contador de Van der Sar parou nas 128 internaciona-lizações. O da Rússia ainda vai rodar pelo menos mais uma vez neste Europeu.

Chamam-lhe lucky Guus, mas desconfia-se que Hiddink, depois dos exemplos Coreia do Sul, Austrá-lia e Rússia, tem tudo menos sorte.

Ficha de jogo

Jogo no Estádio St. Jakob-Park, em Basileia. Assistência 42.500 espectadores.

Holanda Van der Sar, Boulahrouz (Heitinga, 54’), Ooijer, Mathijsen, Van Bronckhorst, de Jong, Engelaar (Afellay, 62’), Sneijder, Kuyt (van Persie, 46’), Van der Vaart, Van Nistelrooy.

Rússia Akinfeev, Anyukov, Ignashevich, Kolodin, Zhirkov, Semak, Zyryanov, Semshov (Bilyaletdinov, 69’), Saenko (Torbinski, 81’), Arshavin, Pavlyuchenko (Sychev, 115’).

Árbitro Lubos Michel (Eslováquia).Amarelos Boulahrouz (50’), Van Persie (55’), Van der Vaart (60’), Kolodin (71’), Zhirkov (103’), Torbinski (111’).

Golos 0-1, por Pavlyuchenko, aos 56’; 1-1, por van Nistelrooy, aos 86’; 1-2, por Torbinski, aos 112’; 1-3, por Arshavin, aos 116’.

Holanda 1Rússia 3 a.p.

Manuel Assunção

Zhirkov, um dos melhores laterais esquerdos (e extremos) do campeo-nato, foi o primeiro a testar o guarda-redes holandês. Seguiram-se Arshavin e Kolodin (as bombas do central não vão ser vistas na meia-final, porque viu o segundo amarelo). A Holanda também teve os seus momentos, qua-se invariavelmente através de livres indirectos, uma das poucas manei-ras que tinha para chegar perto da zona de Akinfeev. Foi talvez o único aspecto em que a Rússia mostrou fra-gilidade, mas os holandeses falharam a bola por pouco onde Ballack e Klose teriam feito uma festa.

Pavlyuchenko abriu o marcador no início da segunda parteMICHAEL KOOREN /REUTERS

Reacções

Guus HiddinkSeleccionador da Rússia

“Normalmente, a Holanda é uma equipa impossível de dominar

tacticamente, tecnicamente e fisicamente, mas conseguimos fazê-lo. Sabíamos que não podíamos conceder-lhes muitos espaços, mas quando a fadiga se faz sentir as falhas aparecem. Mesmo assim, os meus jogadores, em vez de esperarem pelo contra-ataque, continuaram à procura do golo da vitória.”

Ivan SaenkoMédio da Rússia

“Estamos muito contentes. Agora temos de saborear esta incrível vitória. Jogámos no nosso estilo, rápido, com passes curtos. O nosso treinador insistiu sempre que poderíamos bater qualquer adversário.”

Van BastenSeleccionador da Holanda

“É pena que tenhamos tido problemas a nível físico. Os russos jogaram

muito melhor do que nós e mereceram a vitória. Vou ter de me conformar com o facto de terem sido realmente melhores. Fizemos jogos memoráveis na primeira fase, mas hoje [ontem] não conseguimos reeditar essa performance.”

Arshavin arriscava-se a ser o único dos 368 jogadores do Europeu a ser eliminado ainda antes de começar a competir. O playmaker do Zenit praticamente autoexcluiu-se da prova quando resolveu dar uma “patada” num jogador de Andorra no último jogo da qualificação. Foi castigado com dois jogos, mas Hiddink acreditou que os seus colegas lhe ganhariam tempo suficiente para ser decisivo. Foi ele que desmembrou a Suécia e ontem ajudou a fazer o mesmo à Holanda, embora com muita ajuda, especialmente de Semak. Participou no 1.º, assistiu no 2.º e marcou o 3.º golo. Arshavin

acredita sempre que pode bater o seu adversário no 1x1, a mesma insolência que o fez mandar calar o Vélodrome de Marselha

quando marcou um golo que reduziu a desvantagem para 3-1

na 1.ª mão dos oitavos-de-final da Taça UEFA. O Zenit, tal como a

Rússia, teve tempo para recuperar.

O protagonistaAndrei Arshavin

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 37

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UEFA vai analisar confrontos de Viena

Detenções, feridos e um morto ensombram a vitória turca

Victor Ferreira

a O balanço do segundo encontro dos quartos-de-final do Euro 2008, entre turcos e croatas, não tem nada de festivo: três detidos no interior do Estádio Ernst Happel, 12 detidos nas ruas de Viena e dois feridos ligeiros (um polícia e um peão).

Nem a maior operação policial montada até agora a propósito do torneio (Viena destacou 4600 agen-tes na sexta-feira) evitou um saldo ne-gativo, que a polícia austríaca acabou por desvalorizar. “Doze detenções no meio de 200 mil visitantes regis-tados no dia do jogo são números que podem deixar-nos satisfeitos”, afirmou um porta-voz da polícia de Viena, citado ontem pelo diário DerStandart.

A UEFA remete para as autorida-des austríacas o que se passou nas ru-as, mas vai chamar a si os incidentes verificados dentro do estádio durante o jogo, que terminou com uma vitória turca arrancada nos penáltis.

William Gaillard, director de comu-nicação da UEFA, adiantou ontem ao PÚBLICO que o Comité de Controlo e Disciplina daquele órgão aguarda pelo relatório do árbitro e dos dele-

gados ao jogo para decidir se haverá lugar a alguma sanção. Isto porque, segundo o mesmo responsável, “hou-ve confrontos nas bancadas reserva-das aos croatas”, que resultaram em “três detenções”. Além disso, do lado croata voltaram a surgir “tochas e pe-tardos”, uma situação que desagrada à UEFA e que poderá justificar um castigo à federação croata de futebol. “O destino dos detidos está nas mãos das autoridades locais. Quanto à uti-lização de petardos, cabe ao Comité de Controlo e Disciplina decidir”, sublinhou Gaillard, em declarações ao PÚBLICO.

Na Turquia, os festejos de qua-

lificação da equipa de Fatih Terim – num jogo que terminou rodeado de grande emoção – causaram um morto e 16 feridos, dois deles em estado grave. Em todos os casos, a culpa é das balas.

Em diferentes localidades turcas, os adeptos saudaram a vitória sobre a Croácia disparando tiros para o ar. Resultado: na localidade de Gazian-tep (Sudeste) um homem foi atingi-do mortalmente na cabeça e, em Is-tambul, cinco pessoas, entre as quais uma menina de 10 anos, acabaram baleadas. O disparo de armas de fogo para o ar é comum na Turquia. com Agências

A organização destacou 4600 agentes para o jogo de sexta-feira

DAMIR SAGOL/REUTERS

“Portugal deu-nos confiança”, afirma Klose

Hugo F. Leitão

A O avançado da Alemanha Miroslav Klose disse ontem que a vitória so-bre Portugal deu confiança à equipa e aos jogadores para continuarem a fazer um bom Europeu. O triunfo (3-2) sobre os portugueses deu moral para abordarem a eliminatória com a Turquia de acesso à final.

“Qualificámo-nos para os quartos--de-final sem conseguirmos mostrar o nosso futebol, mas a vitória frente a Portugal deu-nos confiança para continuarmos a jogar nesse registo”, afirmou Klose. “Contra Portugal, to-dos pudemos ver que nos sentimos bem durante o jogo. Mostrámos que somos capazes de batalhar e correr durante 90 minutos, que nos comple-mentámos uns aos outros”, analisou o jogador do Bayern de Munique.

O atacante, de 30 anos, revela que até agora tem cumprido bem a sua missão, porque a equipa joga em 4-5-1 e tem o papel de ocupar os defesas e guardar a bola. Sobre a meia-final

frente à surpresa do torneio, a Tur-quia, Klose destaca o seu colega de equipa do Bayern, Hamit Altintop.

O goleador disse mostrar-se honra-do com os elogios do seleccionador francês, Raymond Domenech: “A Alemanha é apenas mais uma equi-pa a competir. Desde o início da pro-va que pretendemos ir o mais longe possível...”.

O jogador revelou ainda as conver-

sas que manteve com o seu compa-nheiro de equipa no Bayern e avança-do da Itália, Luca Toni. “Após a vitória sobre Portugal, trocámos mensagens [SMS]. Ele disse-me que estava a ter problemas com a sua melhor amiga, que era a bola, e que ela não estava a fazer o que ele queria”, contou.

Alemanha defronta Turquia nas meias-finais

Klose marcou um dos três golos ao guarda--redes português Ricardo. No Mundial de 2002 apontou cinco pela Alemanha

Não digam que foi sorte

A Já houve pelo menos um jogo neste Europeu resolvido num desempate por grandes penalidades (talvez dois, dependendo de como tenha acabado o Holanda-Rússia, que se jogou depois de esta crónica ter sido redigida). E já certamente alguém terá dito ou escrito (talvez até neste jornal) que o Turquia-Croácia se decidiu “na lotaria dos penáltis”.

É um cliché descrever os desempates por grandes penalidades como “uma lotaria”. Mas lá por ser um cliché não quer dizer que seja verdade.

Muito pouco depende da sorte nas grandes penalidades. Um penálti bem marcado é indefensável.

Mesmo o melhor dos guarda--redes com o mais miraculoso dos instintos sobre para que lado vai o remate é incapaz de defender um penálti genuinamente bem marcado. O único contributo digno de nota da selecção

austríaca neste Europeu foi um penálti perfeito, o cobrado por Ivica Vastic nos instantes finais do Áustria-Polónia: bola a meia altura, com muita força, colocada a centímetros do poste.

Claro, um penálti como o de Vastic não é nada fácil de cobrar. Exige muito treino e técnica. E exige coragem e nervos de aço. Sobretudo num jogo decisivo, com a monstruosa pressão sobre o futebolista de um estádio cheio, de milhões de pessoas a ver na televisão, da ameaça de ficar para a história como o homem que falhou. Mas a questão é mesmo essa: um penálti bem marcado é uma questão de talento e sangue frio. Não de sorte.

Desconfio que a tese da “lotaria” foi adoptada por jogadores e treinadores como uma forma de autojustificação de um sistema que, para eles,

é, de facto, injusto. Afinal, com excepção dos guarda-redes, os penáltis não fazem heróis dos vencedores – mas devastam os derrotados.

Ninguém se lembrará de quem foi o último jogador do PSV a marcar um penálti na final da Taça dos Campeões de 1988 (foi Anton Janssen) – mas toda a gente se recorda do penálti de Veloso. Ninguém saberá hoje quem cobrou o terceiro penálti que deu golo ao Brasil na final do Mundial de 1994 (Dunga) – mas muitos ainda se recordarão do remate por cima da barra de Roberto Baggio.

Esta crueldade dos desempates por penáltis para quem falha é amplamente compensada pelo espectáculo fantasticamente emocionante que eles proporcionam. Há jogos aborrecidos, mas desempates por penáltis são sempre electrizantes.

O Turquia-Croácia, tépido durante 118 minutos, foi exactamente o tipo de jogo que merecia acabar em penáltis. Ganharam os turcos; não digam que foi sorte.

O Turquia-Croácia, tépido durante 118 minutos, foi exactamente o tipo de jogo que merecia acabar em penáltis

Incidentes registados no Estádio Ernst Happel e nas ruas de Viena terminaram com 12 detenções. Na Turquia, os disparos da festa fizeram uma vítima mortal

Pedro Ribeiro

Bolas Fora

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Desporto38 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Euro 2008 Itália e Espanha discutem a última vaga nas meias-finais

A selecção que quer ser e a selecção que já é

a Os espanhóis sabem-no, têm o dia 22 de Junho assinalado no calendá-rio a marcador vermelho. Hoje é dia de ir ao cinema, de ir comer tapas com os amigos ou de ficar em casa. Tudo menos futebol. 22/06/1986 (derrota com a Bélgica no Mundial), 22/06/1996 (derrota com a Inglater-ra no Europeu), 22/06/2002 (derrota com a Coreia do Sul no Mundial). Pior só mesmo se este fosse o Europeu que premeia os segundos classificados da fase de grupos: a Turquia, a Alema-nha, a Rússia e... a Itália.

A história dos Europeus tem mais uma armadilha preparada para a equipa orientada por Luis Aragonés. Diz o almanaque que há 24 anos que uma equipa que faz o pleno na fase de grupos não ergue o troféu Henri De-launay (fê-lo pela última vez a França, quando disputou o Europeu em casa numa final jogada precisamente fren-te a Espanha). Villa, melhor marcador da prova com quatro golos, respon-deu assim: “Este plantel não existia no passado.”

Arrigo Sacchi, antigo seleccionador italiano, dizia há dias que, se as duas equipas jogarem o que sabem, hoje a vitória será italiana. E a Espanha sabe que terá de superar-se, se quiser ultra-passar aquela equipa que esteve para não estar nesta fase do Euro – pode dizer-se que está por culpa da ponta das chuteiras de Buffon e de Toni –, a selecção comatosa que reanimou quando alguém já se preparava para

A Espanha defronta a campeã do Mundo no dia mais azarado do seu calendário desportivo

Luís Octávio Costa, em Viena

Vencedor do jogo de hoje vai defrontar a Rússia

desligar a máquina. “Não me sinto como se tivesse sido atropelado por um comboio”, disse ontem Roberto Donadoni com a maior naturalidade do mundo. “Toda a gente viu ontem [anteontem] que algo que parece certo pode mudar completamente.” Para o jogo de hoje, essa afirmação vale para os dois lados. Porque a se-lecção italiana, apesar de moribun-da, é sempre favorita. Porque a se-lecção espanhola, apesar de eterna derrotada, tem algo de diferente.

“Não é nenhuma coincidência esta-rem aqui”, concordou Donadoni. “A Espanha nunca conseguiu grandes resultados, mas eles querem”, com-pletou o seleccionador, que recordou o jogo do Mundial de 1994, em que ajudou a derrotar a selecção de Javier Clemente. “Ganhámos, mas podia muito bem ter sido ao contrário.”

Hoje, em Viena, será um duelo en-tre duas equipas diferentes. Uma se-lecção retraída contra uma selecção que pisa muito a área adversária, uma equipa que pensa nos detalhes contra uma equipa que age antes de pensar, uma equipa com um goleador (mais Torres) contra uma equipa com um ponta-de-lança em fase menos boa (a propósito, o alemão Klose revelou ter uma aposta com o italiano: “Eu já marquei o meu e ele enviou-me uma mensagem a dizer que está a ter pro-blemas com a sua melhor amiga, a bola.”) Uma Itália calculista contra uma Espanha de peito feito.

“Se quiserem ganhar, terão que ser melhores que nós”, apontou Xa-bi Alonso. “Uma equipa que se preze tem que entrar no relvado convencida de que vai ganhar”, concluiu o seu seleccionador.

Quanto à maldição... Dia 22 de Ju-nho de 1930: particular e vitória es-panhola frente à Itália.

TORSTEN SILZ/AFP

Suíça-Rep. Checa 0-1 07 JUNEstádio St. Jakob ParkPortugal-Turquia 2-0 07 JUNStade de GenèveRep. Checa-Portugal 1-3 11 JUNStade de GenèveSuíça-Turquia 1-2 11 JUNEstádio St. Jakob ParkSuíça-Portugal 2-0 15 JUNEstádio St. Jakob ParkTurquia-Rep. Checa 3-2 15 JUNStade de Genève

J V E D G P1.º PORTUGAL 3 2 0 1 5-3 62.º Turquia 3 2 0 1 5-5 63.º Rep. Checa 3 1 0 2 4-6 34.º Suíça 3 1 0 2 3-3 3

Grupo BÁustria-Croácia 0-1 08 JUNEstádio Ernst HappelAlemanha-Polónia 2-0 08 JUNEstádio WortherseeCroácia-Alemanha 2-1 12 JUNEstádio WortherseeÁustria-Polónia 1-1 12 JUNEstádio Ernst HappelPolónia-Croácia 0-1 16 JUNEstádio WortherseeÁustria-Alemanha 0-1 16 JUNEstádio Ernst Happel

J V E D G P1.º Croácia 3 3 0 0 4-1 92.º Alemanha 3 2 0 1 4-2 63.º Áustria 3 0 1 2 1-3 14.º Polónia 3 0 1 2 1-4 1

Grupo CRoménia-França 0-0 09 JUNEstádio LetzigrundHolanda-Itália 3-0 09 JUNStade de SuisseItália-Roménia 1-1 13 JUNEstádio LetzigrundHolanda-França 4-1 13 JUNStade de SuisseHolanda-Roménia 2-0 17 JUNStade de SuisseFrança-Itália 0-2 17 JUNEstádio Letzigrund

J V E D G P1.º Holanda 3 3 0 0 9-1 92.º Itália 3 1 1 1 3-4 43.º Roménia 3 0 2 1 1-3 24.º França 3 0 1 2 1-6 1

Grupo DEspanha-Rússia 4-1 10 JUNEstádio Tivoli NeuGrécia-Suécia 0-2 10 JUNEstádio Wals-SiezenheimSuécia-Espanha 1-2 14 JUNEstádio Tivoli NeuGrécia-Rússia 0-1 14 JUNEstádio Wals-SiezenheimGrécia-Espanha 1-2 18 JUNEstádio Wals-SiezenheimRússia-Suécia 2-0 18 JUNEstádio Tivoli Neu

J V E D G P1.º Espanha 3 3 0 0 8-3 92.º Rússia 3 2 0 1 4-4 63.º Suécia 3 1 0 2 3-4 34.º Grécia 3 0 0 3 1-4 0

ClassificaçõesGrupo A

Quartos-de-final1. Portugal-Alemanha 2-3 19 JUNEstádio St. Jakob Park, Basileia2. Croácia-Turquia 1-1 (1-3) 20 JUNEstádio Ernst Happel, Viena 3. Holanda-Rússia 1-3 21 JUNEstádio St. Jakob Park 4. Espanha-Itália 22 JUNEstádio Ernst Happel 19h45, TVI

Meias-finaisAlemanha-Turquia 25 JUNEstádio St. Jakob Park 19h45, TVI

Rússia-Venc.4 26 JUNEstádio Ernst Happel 19h45, TVI

FinalEstádio Ernst Happel 19h45, 29 JUN

MELHORES MARCADORES4 Golos David Villa (Esp)3 Golos Pavlyuchenko (Rús), Podolski (Ale) e Hakan Yakin (Suí)2 Golos Ballach (Ale), Sneijder e Van Persie (Hol), Ibrahimovic (Sué), Turan e Nihat (Tur)

Aragonés falou com os jornalistas durante os últimos minutos da primeira parte do Holanda-Rússia. E o seleccionador espanhol mostrou-se confiante em chegar lá, às meias-finais do Europeu – onde defrontaria uma dessas duas equipas. “Se tivermos que morrer em campo, vamos morrer, morrer entre aspas”, disse.

Se a Itália “está acostumada a ganhar”, a Espanha quer criar esse hábito e “ultrapassar de uma vez por todas esse problema”, o trauma de falhar nos momentos decisivos. “Tenho um grupo que merece”, disse o seleccionador. “No fundo, estou convencido de que vamos passar”, arriscou, apesar de revelar um “respeito terrível” pelo adversário. Aragonés falou do jogo mais importante da sua carreira. “Sei que serei recordado para o bem e para o mal. Já tive jogos importantes,

mas agora estou a defender o meu país. E nesse sentido patriótico este é o jogo mais importante.”

Tentou transmitir “tranquilidade” ao grupo, disse que “a táctica é um dos motivos do futebol, mas não o mais importante” e comparou as duas selecções, com uma vantagem para o seu lado da barricada. “AItália defende bem, nós sentimos mais dificuldades nesse capítulo, mas acho que nós atacamos melhor.” Admitiu que a posse de bola é “fundamental” para a sua equipa, que Espanha vai jogar “mais ou menos como jogou os primeiros jogos” e que a altura é

um dos handicaps de “la roja”(“Por aí somos batíveis”), mas que esse pormenor pode ser compensado com um contra-ataque bem

medido (“Temos dois homens tremendamente rápidos”). Um desejo final? “Que Espanha jogue como sabe.” L.O.C., em Viena

Espanha“Se tivermos que morrer em campo, vamos morrer”

Derrota profunda, empate providencial e vitória obrigatória. Foi assim o percurso italiano no Grupo C do Europeu. Um percurso tipicamente italiano? “Não há nenhuma regra nesse sentido. Algumas selecções começaram de uma forma majestosa e outras foram melhorando com o passar dos jogos. Algumas equipas tiveram sorte, outras foram menos afortunadas. Nós perdemos, empatámos e ganhámos”, respondeu Roberto Donadoni, que hoje mais uma vez será obrigado a mexer na equipa, dado os castigos de Gattuso e de Pirlo – Ambrosini e Aquilani estão preparados para avançar.

Sem querer ser “lírico” , Donadoni diz confiar nas suas escolhas para o jogo de hoje (disse, aliás, estar a pensar deixar Pirlo e Gattuso de fora “de qualquer das formas”). Toni não marca há 415 minutos? “Se um

defesa marcar, está tudo bem. Contra a França o Toni provocou o penálti e a expulsão...” Na sua opinião, “a estratégia é tudo”, mas nesse “tudo” ainda arranjou espaço para “a força”, “o empenho”, “a resistência” e... “Podia fazer uma lista de 20 pormenores que fazem o futebol”, disse. O “prazer de jogar” também está incluído. E ainda a diferença entre “acertar no poste ou marcar golo”. “Pode significar tudo. Normalmente não me queixo demasiado quando perco, nem fico demasiado eufórico quando ganho”, prosseguiu, fazendo referência a um pormenor deste Europeu

chamado Turquia. “Acho que podemos envelhecer com um jogo daqueles. Quando saí do quarto, telefonaram-me a dizer que a Croácia tinha

marcado. Voltei para trás e quando cheguei ainda vi o golo da Turquia. Isto é futebol, é o destino.” L.O.C., em Viena

ItáliaPara Roberto Donadoni, “a estratégia é tudo”

Luca Toni está a ter problemas com a sua “melhor amiga, a bola”

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 39

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Única vitória oficial frente à Itália foi há 88 anos

A Espanha ainda se lembra da cotovelada de Tassotti

Manuel Assunção

Italianos e espanhóis já se defrontaram duas vezes no Campeonato da Europa, mas é do jogo no Campeonato do Mundo nos Estados Unidos a recordação mais viva

A “Vendetta, vendetta”, repetiu Luis Enrique quando lhe perguntaram há uns dias o que esperava do Espanha-Itália de hoje, o terceiro na história do Europeu. Catorze anos depois, a cara ensanguentada do ex-futebolista de Barcelona e Real Madrid após sofrer uma cotovelada de Mauro Tassotti nos quartos-de-final do Campeonato do Mundo de 1994 ainda é a imagem mais conhecida dos jogos entre as se-lecções espanhola e italiana.

No dia seguinte a ter ficado decidi-do o último jogo dos quartos-de-final deste Campeonato da Europa, o diário desportivo espanhol Marca fez man-chete com a fotografia de Luis Enri-que com uma expressão de dor e com o massagista a limpar-lhe o sangue do nariz partido e acompanhava com o título “Itália, isto não se esquece”. É esse o símbolo que os espanhóis têm da selecção italiana: um cotovelo a chocar num nariz. Provavelmente, porque o jogo disputado em Foxbo-rough, no estado de Massachusetts, também foi o mais importante dos disputados entre as duas equipas.

Estava em jogo um lugar nas meias-finais de um dos Mundiais mais bo-nitos e abertos de sempre. Quando Luis Enrique caiu ao chão agarrado à cara dentro da área italiana, o re-sultado ainda estava empatado 1-1 (golos de Dino Baggio e José Luis Ca-minero). “Creio que o lance deveria ter sido sancionado”, criticou Javier Clemente, o seleccionador espanhol. Tinha razão, mas o árbitro húngaro Sándor Puhl mandou seguir. Tassot-ti seria castigado com seis jogos com base nas imagens televisivas. “Estava

seguro que tinha sido apenas um cho-que. Depois, quando vi na televisão, claro que me arrependi”, explicou Tassotti. “Apanhei seis jogos, perdi a final do Mundial e nunca mais joguei pela Itália. Que mais querem?”, refe-riu o adjunto do Milan na Marca.

O trunfo BaggioDepois, a dois minutos do fim, apa-receu novamente Roberto Baggio, in-falível até ao penálti falhado na final com o Brasil, a fazer avançar a Itália mais uma ronda. Foi o terceiro dos cinco golos do avançado na prova, tantos quantos os de Romário (Bra-sil), Klinsmann (Alemanha) e Kenneth Andersson (Suécia) e menos um que os de Stoichkov (Bulgária).

Em 1994, parecia que o futebol es-panhol não fazia mais nada do que perder com o italiano. O campeonato

espanhol era considerado o segundo melhor do mundo, atrás somente da Série A; e na final da Liga dos Campe-ões, dois meses antes, o Dream Teamdo Barcelona esbarrou no pesadelo AC Milan (0-4). Cinco jogadores do Barcelona e cinco do Milan (incluindo Roberto Donadoni e Tassotti, que era o lateral direito de uma defesa len-dária dos rossoneri, juntamente com Baresi, Costacurta e Maldini) que se defrontaram em Atenas também es-tiveram em Foxborough.

Foi a nona e última vez que os dois países se defrontaram oficialmente. A primeira, em 1920, foi a única que a Espanha ganhou. Segundo Luis Enri-que, agora a selecção espanhola tem um trunfo. “Pelo menos teremos uma vantagem clara”, disse. “O Tassotti não vai jogar e nesse aspecto pode-mos estar tranquilos.”

DR

Luis Enrique exibe a marca resultante da agressão do defesa italiano

Recordações e realidades

A Anda a Espanha comovida. E com receios. Nos quartos-de-final de hoje tem pela frente a Itália. Um dos pesadelos que assombra o futebol espanhol. O tropeção do pontapé sempre na mesma pedra.

Evitaram a Holanda. Queriam a Roménia e ficaram com a Itália. Nesta geografia de preferências da bola, os espanhóis viajaram por sucessivos estados de ânimo: alívio, depressão e pavor. E alguma expectativa.

No ar anda vontade de desforra que, para a ocasião domingueira, é chamada “vendetta”. Nunca, em competições oficiais, a Espanha ganhou no futebol à Itália. Apenas um triunfo nas Olimpíadas de Barcelona de 1992. Mas já se sabe: a competição olímpica na bola não passa para a história.

E houve derrotas especialmente dolorosas. Em 1994, a opinião pública espanhola admirava um trio de países: Japão, Itália e Alemanha. A sondagem não dizia os motivos, mas os especialistas entregaram as chaves. Os nipónicos pelo seu engenho. Os transalpinos por serem os mestres do desenho. Título que os espanhóis lhes roubariam anos depois. Já menos estética era a admiração pelos teutónicos: a constância era a virtude invejada.

Então, em 1994, decorria o Campeonato do Mundo do pontapé nos Estados Unidos, a Espanha chegou aos quartos-de-final que, mais uma vez, se mostraram fronteira intransponível. Foi um jogo duro e tenso. Os italianos empatam no minuto 84. No prolongamento, Luis Enrique recebe na plenitude do seu nariz o cotovelo de Tassotti. O árbitro não assinala grande penalidade. O asturiano Enrique acabou com o nariz partido e Roberto Baggio entrou

na baliza de Zubizarreta.É esta a recordação que

atemoriza os espanhóis. O ultraje de uma derrota conseguida com más artes. Temem o mesmo esta noite. Como uma fatalidade. A altivez habitual é substituída pela desconfiança. Sem razão.

A realidade é outra. Não de italianos. Mas dos espanhóis. A prova foi dada com a segunda equipa da selecção espanhola. Já qualificada, não se conformou com o golo dos gregos. Respondeu. Trabalhou. Reivindicou o talento dos seus artistas. Deu-me inveja. Já sabem porquê.

Gente de bom gosto na bola marcou. De la Red, jogador do Real Madrid emprestado ao Getafe, igualou. David Guiza, artilheiro do campeonato e dianteiro do Maiorca, conseguiu o segundo. Nervoso, não conseguiu celebrar o feito como sempre: imitando um arqueiro. Saiu-lhe um gesto equívoco, a lembrar tristes saudações. Foi sem querer. São estas as realidades que podem abafar as más recordações.

Nuno Ribeiro, Madrid

Comentário

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40 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Desporto

Administração da SLN/BPN “está a analisar toda a situação do grupo”, Economia página 43

Dobradinha dá 200.ª pole position à Ferrari

Ana Marques Gonçalves

A primeira pole da Ferrari foi de José Froilán González. 57 anos depois, é Kimi Raikkonen a entrar na história como o autor da 200.ª da escuderia italiana

A Em Magny-Cours baralhou-se, deu Ferrari duas vezes, voltou-se a bara-lhar, e deu Fernando Alonso. Não pe-la pole position (foi terceiro na sessão de qualificação), não por um domínio extraordinário, nem por nenhuma arrancada fenomenal. Simplesmente porque a presença do espanhol nos lugares do pódio na fila de partida é coisa rara – tão rara que em sete Gran-des Prémios só se viu uma vez, no mais previsível dos palcos, Espanha – e inevitavelmente o assunto terá de ser ele mesmo. Mas o GP de França não começa e acaba em Alonso por-que existem os dois Ferrari (e a 200.ª pole da escuderia italiana). Porque existem as penalizações dos Mclaren. E finalmente porque existe o brilhan-tismo de Nelsinho Piquet.

Primeiro, Alonso. “O carro melho-rou muito e pela primeira vez esta temporada temos uma hipótese real de lutar pelo pódio. Os Ferrari estão claramente num patamar acima, mas vamos dar o nosso máximo para con-seguir um bom resultado amanhã [hoje].” E bem precisa de um bom resultado para acabar com o ruído à sua volta: “Estou cansado de ficar sempre nos lugares de trás e que me perguntem pelo próximo ano e de ter de ouvir prognósticos sobre quando vou melhorar.”

Alonso é um homem de promessas – esta semana prometeu que o R28 iria melhorar a sua performance em Magny-Cours e cumpriu-o – portanto,

Raikkonen conseguiu ontem a 16.ª pole position da carreira

EAN-PAUL PELISSIER/REUTERS

não é de estranhar que tenha feito mais uma: “Daqui até ao final do ano vou dar 150 por cento para vencer.”

Melhor, os inevitáveis Ferrari, com uma dobradinha Raikkonen-Massa para festejar a 200.ª pole da scude-ria. A distância entre os dois pilotos foi mínima (0,041s), com o finlandês

a levar a melhor para segurar a 16.ª pole da carreira – está bem lançado para repetir vitória no circuito fran-cês e para voltar a entrar na luta pe-la primeira posição no Mundial de pilotos. “Se não vencer, obviamente vou ficar muito desapontado, mas o mais importante é terminar e trazer

para casa o maior número de pontos possível, porque precisamos mesmo deles”, disse um satisfeito Kimi.

Só o McLaren de Hamilton esteve próximo dos Ferrari, mas a penali-zação de dez posições, resultado do acidente com Raikkonen no GP do Ca-náda, atirou-o para a 13.ª posição na grelha de partida. E as penalizações começam a ser hábito na equipa in-glesa, com Kovalainen a perder cinco lugares por ter bloqueado a passagem a Mark Webber.

Um último destaque para Nelsinho Piquet, que arrasou toda a concor-rência nos últimos treinos livres – os dotes do pai começam a revelar-se.

Fórmula 1: Grande Prémio de França

FC Porto ganha na Luz e vence sétimo título consecutivo

Filipe Escobar de Lima

A Dois golos de Reinaldo Ventura (3 e 7 minutos) e ainda de André Aze-vedo (35’) e Caio (46’) deram ontem ao FC Porto uma suada vitória frente ao Benfica (4-3), na Luz, garantindo a conquista do sétimo título nacional consecutivo de hóquei em patins.

Ao intervalo, as duas equipas esta-vam empatadas 2-2, com golos de Ri-cardo Barreiros (8’) e Tó Silva (13’).

Na segunda metade, o FC Porto chegou a estar a vencer por 4-2, com golos de André Azevedo e Caio, mas o Benfica conseguiu reduzir, a dois minutos do final, com Tó Silva a es-tabelecer o resultado final.

A história do encontro conta-se em poucas palavras, com os portistas a conseguirem rapidamente uma im-portante vantagem no marcador, os benfiquistas a reporem a igualdade, e depois, no segundo tempo, a não conseguirem contrariar a maior fres-cura dos “dragões”.

O técnico do FC Porto, Franklin Pais, fez uma inteligente gestão do seu “banco”, fazendo rodar vários jogadores, enquanto, no Benfica, a ausência por castigo disciplinar de Mariano, expulso no anterior jogo, em Fânzeres, retirou opções à equipa de Carlos Dantas.

A sorte também não acompanhou a equipa lisboeta. No segundo tempo, o Benfica viu a bola ser devolvida três vezes pelos postes da baliza à guarda de Edo Boch, ao invés do que se pas-sou com os portistas, que nos dois úl-timos golos beneficiaram de ressaltos felizes para o fundo das redes.

O quarto jogo da final do playoff fi-cou marcado por incidentes dentro e fora do pavilhão, com a polícia a car-regar sobre os adeptos “encarnados” e a isolar a zona comercial do estádio, enquanto, no exterior, foi incendiado o autocarro dos apoiantes da equipa nortenha. As chamas terão deflagra-do por volta das 17h15m na Avenida do Colégio Militar, 15 minutos depois do início da partida, incêndio que foi combatido por 6 bombeiros acompa-nhados por uma viatura de combate a incêndios, sem vítimas a registar.

Fonte da PSP afirmou à agência Lusa que testemunhas no local indi-caram ter visto três pessoas junto da viatura, imediatamente antes do iní-cio do incêndio, não havendo porém indicação de que o incêndio possa ter contornos de origem criminosa.

Segundo um adepto presente no jogo relatou ao PÚBLICO, os espec-tadores afectos ao clube da Luz fo-ram alvo de carga policial, chegando mesmo a haver tiros disparados para o ar por parte das autoridades. Com H.F.L.

Hóquei em Patins

Ana Marques Gonçalves

a Donington Park é um lago – ou pelo menos era-o ontem, quando a sessão de qualificação para o Grande Prémio (GP) da Grã-Bretanha viu luz verde debaixo de um dilúvio. Por en-tre a chuva, apenas um sobrevivente: Casey Stoner. Numa actuação espan-tosa, Stoner esteve imparável – uma hora de luta ombro a ombro com a chuva, uma hora de tempos sucessi-vamente mais baixos, uma hora de clara superioridade em relação aos outros pilotos. E uma volta (a última) a arrasar a concorrência: 1m38,232s, mais de 6 décimos para Rossi, mais de um segundo para 15 dos 17 pilotos. Segunda pole esta temporada, 12.ª da carreira para o australiano.

Donington Park até pode ser um lago hoje também, mas Stoner está preparado – no ano passado já venceu no circuito britânico e prepara-se pa-ra repetir o feito, com a vantagem de conhecer bem os truques da pista. E

nem o inimigo mais temido (o tempo) assusta: “Nunca podemos confiar na previsão meteorológica aqui, por isso vou apenas dormir sobre o assunto e ver o que a manhã me reserva. O que quer que seja, estou confiante.”

Quem também conhece bem os truques da pista é Valentino Rossi, que aí levantou sete vezes o troféu de campeão. Apesar do segundo lugar, Il Dottore estava feliz (estado recorrente nos últimos tempos, in-dependentemente dos resultados): “Estou tão feliz com o resultado, é muito importante para nós estar na fila da frente amanhã [hoje]. É a mi-nha 200.ª corrida e para mim é muito excitante atingir outra marca histó-rica na minha carreira, mas agora só quero pensar na prova”.

A novidade nos três primeiros pos-tos dá pelo nome de Chris Vermeulen, que sai pela primeira vez esta época da fila da frente – Donington Park pa-ra ele não é um lago, é um amuleto, já que na temporada passada aí subiu

ao pódio. E com Vermeulen estava feito o pleno da Bridgestone - um, dois, três pilotos nos três primeiros lugares, algo que ainda não se tinha visto esta temporada.

E ontem o nome de James Toseland deve ter caído a pique nas bolsas de apostas - como o próprio caiu, três ve-zes, no seu “circuito”. Não sabemos se foram os nervos ou simplesmente a chuva a trair o rookie (inexplicável porque Toseland conhece a pista e o tempo melhor do que qualquer dos outros pilotos), mas não conseguiu ir além do 16.º lugar. E hoje o pódio, pa-ra não falar do primeiro lugar, vai ser uma verdadeira miragem, a menos que a chuva derrube os 15 que estão à sua frente, dando aos 80 mil espec-tadores esperados em Donington Pa-rk uma grande surpresa – a primeira vitória em casa de um piloto da casa. Mesmo assim, Toseland não desarma: “Vou tentar fazer o meu melhor e o apoio dos adeptos da casa vai esti-mular-me.”

Moto GP: Grande Prémio da Grã-Bretanha

Casey Stoner sobreviveu ao lago de Donington Park

4-3foi o resultado do último jogo da final do campeonato de hóquei em patins, entre Benfica e FC Porto

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DesportoPúblico • Domingo 22 Junho 2008 • 41

Este ano, o campeão nacional de futsal pode ser uma estreia: o Belenenses recuperou de um parcial negativo (0-1) para vencer o Benfica, por 4-3, no primeiro jogo da final do play-off do campeonato nacional de futsal e está a uma vitória do título.

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Portugal em alta na primeira Liga da Taça da Europa

Luís Lopes

A As selecções portuguesas de atletis-mo estão a ter um bom desempenho na primeira Liga (segunda divisão) da Taça da Europa, que se está a dispu-tar em Leiria, no Estádio Magalhães Pessoa, e que hoje termina. Em espe-cial a equipa masculina, que segue na frente da classificação com 58 pontos, mais dois que a República Checa, vin-do a seguir a Holanda (51), Bélgica (47), Finlândia (42), Áustria (41), Bie-lorrússia (36) e Noruega (28).

A equipa feminina, com menos am-bições, encontra-se em quarto lugar, com 47 pontos, estando no comando a Espanha (58), seguida da Bélgica (50) e Rep. Checa (49). Atrás de Por-tugal estão a Holanda (45), Lituânia (40), Irlanda (36) e Finlândia (33).

As maiores figuras da selecção nacional contribuíram com vitórias

nas suas especialidades, mas o único recorde nacional acabou por surgir no lado feminino, no lançamento do dardo. Atrás da campeã mundial che-ca Barbora Spotáková, que chegou a 63,79m, Sílvia Cruz conseguiu no último ensaio 59,76m, suficientes pa-ra o segundo lugar, e subiu em dois centímetros o seu anterior máximo, conseguido em Lisboa a 29 de Julho do ano passado.

Quanto às figuras de topo, Fran-cis Obikwelu venceu nos 100m, com vento favorável regular a 1,5 m/segun-do, e ficou (com 10,16s) a apenas um centésimo do seu melhor do ano. Teve, porém, mais luta que o espe-rado do holandês Patrick van Luijk, que estabelceu uma marca pessoal com 10,25s. Mais tarde, Francis (com Dany Gonçalves, João Ferreira e Ar-naldo Abrantes) estaria na estafeta de 4x100m, que confirmou a subida de Portugal nesse evento, ganhando a competição com 39,47s.

Nélson Évora ganhou no salto em comprimento, a primeira de duas provas que disputa (hoje será o tri-plo), com 7,88m obtidos no quarto

Selecção masculina está a meio da competição na frente, com dois pontos mais do que os checos

e derradeiro ensaio com vento nulo. O benfiquista seguia atrás do meda-lhado dos Mundiais de 2005, o finlan-dês Tommi Evilae, que se colocou na frente logo de início com 7,81m e no terceiro salto melhorou para 7,86m.

Os outros resultados positivos no sector masculino foram obra de Rui

Pedro Silva nuns lentos 5000m, em que foi segundo com 14m19,12s atrás do austríaco Guenther Weidlinger (14m18,73s), e de Edivaldo Monteiro, também segundo em 400m barreiras com 50,23s, o seu melhor do ano.

Há a destacar também a prestação de Marco Fortes num muito bom con-

Atletismo

curso do peso, em que foi terceiro com 19,69m, voltando a denotar subida de forma após ter atingido os 20m no Inverno passado. Fortes ficou atrás do holandês Rutger Smi-th, inabordável, de facto (20,50m), e do bielorrussso Andrey Sinyakov (19,93m), mas venceu um atleta de classe mundial como é o finlandês Robert Haeggblom (19,53m).

Nos 400m, António Rodrigues foi quarto (48,37s), nos 1500m Manuel Damião obteve a mesma posição (3m44,04s), Paulo Gonçalves acabou em terceiro igualado no salto em al-tura, com 2,15m (ganhou o checo To-más Janku, com 2,30m), e Vítor Costa foi quinto no martelo (66,10m).

No lado feminino, Portugal não obteve vitórias mas conseguiu mais dois segundos lugares para além do de Sílvia Cruz. Jéssica Augusto atingiu um deles, com 9m01,96s nos 3000m, batida pela revelação espanhola Dolo-res Checa (8m54,92s),e Sandra Hele-na Tavares obteve o outro, ao passar 4,35m na vara, apenas cedendo para a espanhola Naroa Agirre (4,40m), e conseguindo o mínimo olímpico B.

Francis Obikwelu venceu os 100m com 10,16 segundos

SUSANA VERA/REUTERS

a O português Tiago Cruz registou ontem a sua terceira volta conse-cutiva abaixo do par-72 do Telenet Trophy, prova do Challenge Tour (II divisão do golfe europeu profis-sional) que decorre no percurso do Limburg Golf & Country Club, em Houthalen, Bélgica, mas isso não o impediu de descer do 16.º ao 24.º lu-gar, que partilha com seis jogadores. O estorilense soma 209 (69-70-70) e está a oito do líder, o inglês D. Horsey (67-66-68).

Campeão nacional amador em 2002 e 2005, profissional desde Fe-vereiro de 2006, Cruz procura recu-perar a forma que o evidenciou nas últimas duas épocas, e que culminou no 31.º lugar, em Novembro passado, na Escola de Qualificação do Europe-an Tour (o principal circuito europeu de profissionais), quando falhou o

Rodrigo Cordoeiro acesso a este por apenas uma pan-cada. Com sete torneios disputados no Challenge Tour em 2008, na 206.ª posição do respectivo ranking, com um 28.º lugar como melhor marca (Machester), este pode ser o torneio do seu relançamento.

No European Tour, o alemão Mar-tin Kaymer, de 23 anos, está a fazer questão de se afirmar. Ele foi, na época passada, o primeiro alemão a ganhar o título de rookie do ano. Na presente temporada, venceu o Abu Dhabi Championship, nos Emi-rados Árabes Unidos, e foi segundo no Dubai Desert Classic, atrás de Ti-ger Woods.

Hoje, inicia a última volta do BMW International Open, em Munique, a liderar com seis pancadas de van-tagem sobre o sul-africano Char-les Schwartzel. O alemão, 41.º no ranking mundial, soma 198 pancadas (68-63-67), contra as 204 (69-69-66) de Schwartzel. Segue-se, empatado em terceiro, um trio de ingleses com-posto por Benn Barham (68-68-69), Paul Casey (70-68-67) e Ross Fisher (70-68-67).

A nível amador, o irlandês Adrian Morrow venceu o Campeonato In-ternacional da Europa de Seniores (acima de 55 anos), em Vilamoura. Totalizou 211 (69-73-69), oito abaixo do par-73 do campo Oceânico Old Course, e deixou Arthur Pierse (214, 71-71-72) a três shots de distância. O melhor português foi José Sousa e Mello, em 14.º lugar, com 228 (74-75-79). No quadro feminino (acima de 50 anos), a francesa Virginie Burrus revalidou o título com 225 (75-74-76) no Oceânico Pinhal (par-72).

Golfe

Tiago Cruz sempre abaixo do par no Challenge Tour

Tiago Cruz

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Economia42 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Entrevista Armando Tavares, presidente da Qimonda Portugal

“Investimos 700 milhões de euros numa década em Portugal”O líder da maior exportadora nacional diz que a especialização em produtos diferenciadores é o segredo para bater a concorrência

José Manuel Rocha

a Ultrapassou a Autoeuropa em vendas ao estrangeiro, no ano pas-sado – 1,6 mil milhões de euros. Concluiu um investimento e está a preparar outro, numa nova área de negócio, a das células fotovoltaicas. Armando Tavares, presidente da Qimonda Portugal, com instalações em Vila do Conde, diz que num mercado tão importante como o dos semicondutores é preciso es-pecialização e aposta em produtos onde seja possível fazer a diferença.Esta fábrica foi inaugurada há dez anos. Quanto é que já foi investido aqui?Nós formámos a empresa em 96 e ela começou a produzir em 1998. Entre 96 e agora, investimos na Qimonda Portugal cerca de 700 milhões de euros.E há novos investimentos previstos?Essa pergunta é sempre um problema. Nós somos uma empresa cotada na bolsa de Nova Iorque e, portanto, não podemos fazer quaisquer comentários nem sobre volumes de produção, nem sobre evolução de vendas, nem sobre investimentos. Estamos completamente proibidos de o fazer.E o que fizeram até agora?Estamos a completar um investimento que foi anunciado há pouco mais de um ano. Mais 70 milhões de euros, para reforçar a nossa aposta em produtos de maior valor acrescentado. Temos vindo a apostar mais e mais neste tipo de produtos, onde temos possibilidade de competir. Para além disso, anunciámos, há um mês e meio, um novo investimento da Qimonda juntamente com uma empresa alemã que está já há muitos anos na energia solar para formarmos uma nova empresa, que irá operar aqui, em Vila do Conde, para produzir células fotovoltaicas.Diversificar é estratégico?O negócio da Qimonda (produção de memórias) era quase exclusivamente virado para os computadores pessoais. Com

a digitalização de quase todo o tipo de equipamentos – câmaras fotográficas, telemóveis, leitores de música e DVD – criou-se uma gama nova de produtos e as memórias digitais, muito viradas para a parte informática, passaram a ter um campo mais alargado de aplicação.

Não é, portanto, uma aposta conjuntural. Há todo um conjunto de novas aplicações que gerou este novo mercado e a nossa aposta tem sido a de aumentar a nossa penetração nesses novos segmentos.

Hoje em dia, a Qimonda, a nível mundial, já tem mais de 50 por cento da sua produção direccionada para estas áreas novas. A Qimonda Portugal também apostou nesses novos produtos – mais diferenciados, mais especializados, mais específicos –, e é, actualmente, dentro do grupo, a empresa que está mais direccionada para esse segmento do negócio.Esse é um seguro de vida para evitar que a qualquer momento possa haver um cenário de deslocalização para outro país?Eu acho que já não há seguros de vida. O que procuramos é manter a empresa permanentemente competitiva. O que pode ancorar e manter uma empresa viva no mercado é ser competitiva e apresentar vantagens relativamente aos seus concorrentes. É nisso que estamos apostados. Temos consciência de que estamos a concorrer num mercado aberto e global, com países onde não existem os mesmos níveis de protecção social, não há respeito pelo ambiente, onde, portanto, os custos de produção são menores. E por isso temos que apostar naquilo em que podemos tirar partido.A empresa foi criada pela Siemens, depois passou a ser da Infineon Technologies e agora é Qimonda. O que é que mudou em Portugal?Não há grandes diferenças. Em 96 estabelecemos uma visão, uma ambição, estabelecemos valores

e objectivos. Ao longo dos anos, mudámos de donos. Mas a empresa continua a ser a mesma, com os mesmos princípios, a mesma visão, apesar de toda a evolução que foi feita.Mas houve impactos visíveis?É evidente que as mudanças têm sempre alguns reflexos. Mas nada que tenha afectado o nosso plano estratégico.

Tínhamos dito que queríamos entrar em produções mais competitivas, o que fizemos; tínhamos dito que queríamos trazer para Portugal áreas de investigação e desenvolvimento, o que também fizemos. Temos, neste momento, três centros de desenvolvimento em Portugal, nas áreas de produto e de processos. Não afectou o ritmo e o que era para fazer...Temos um percurso muito seguro. Mas é muito difícil concorrer neste negócio. A situação mundial não está boa, a situação do mercado de semicondutores já não era boa antes desta crise, que afecta todo o mundo. O ano passado foi um ano

muito mau.Porquê?O nosso negócio é cíclico, é feito de altos e baixos. Cresce de forma muito rápida, mas não gradual, estabilizada. Há sempre variações, com excesso de oferta e procura que provocam mexidas substanciais de preços.

Em 97 houve um ciclo que nos causou grandes transtornos e no ano passado tivemos um outro muito difícil. Para se ter uma ideia do contexto em que tivemos que lidar, bastará dizer que o preço de venda de um produto de memória de 512 megabites, que é o produto cruzeiro no nosso negócio, vendia-se no início de 2007 a seis dólares. No final do ano, estava abaixo de um dólar. Caiu para um sexto.Como é possível aguentar?Não é. Todas as indústrias deste sector perderam dinheiro. O próprio grupo Qimonda perdeu dinheiro. Houve uma conjunção de factores – tecnológicos, de mercado – que contribuíram para essa situação e que nos obrigam a procurar outras soluções.

A fabricante desemicondutoresultrapassoua Autoeuropaem vendas aoestrangeiro em2007, facturando 1,6mil milhões de euros

Armando Tavares revela que a próxima aposta da empresa são as células fotovoltaicas

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 43

Governo estuda introdução da taxa Robin dos Bosques

O Governo dirá “em breve” se vai criar um imposto especial para as petrolíferas (a taxa Robin dos Bosques), para financiar programas

de assistência social às famílias mais afectadas pela subida do preço dos combustíveis, disse ontem o primeiro-ministro no Parlamento.

ADRIAMO MIRANDA

A Qimonda é acusada de ter muitas flutuações de mão-de--obra. É verdade?Não, pelo contrário. Temos vindo a aumentar o número de postos de trabalho. Nós começámos, há dez anos, com menos de três centenas de trabalhadores e, neste momento, temos 2000. Os trabalhadores têm real importância, ou são peças de uma máquina?São fundamentais na Qimonda. Porque são eles que nos podem tornar mais competitivos. A sua capacidade, a sua dedicação, a intervenção no sentido de melhorar os nossos processos são determinantes para o sucesso. Isso implica formação...E permanente. Todos os trabalhadores têm, pelo menos, 40 horas de formação por ano. Mas o mais importante é que esse

programa de formação chegue ao maior número de pessoas. NaQimonda, cerca de 98 por cento num universo laboral em que há 400 licenciados.Tem havido cooperação com as universidades?Sim e de várias formas: cadeiras ministradas nas faculdades e que têm a ver com o nosso negócio e os nossos produtos, realização de estágios curriculares nas nossas instalações, produção de projectos de investigação conjuntos. Temos tido uma colaboração muito intensa com o meio académico e há exemplos muito interessantes que podem ser destacados, como aquele em que alunos de uma faculdade podem recorrer, via Internet, a uma máquina da Qimonda, que a escola não poderia comprar, para realizarem os seus estudos.

Formação é prioridade“Todos os anos aumentamos postos de trabalho”

Administração da SLN/BPN “está a analisar toda a situação do grupo”

a A administração da Sociedade Lu-sa de Negócios (SLN) garantiu ontem que a situação financeira do BPN não requer acções urgentes, mas diz-se preparada para tomar medidas que reforçem a solidez da instituição, melhorem indicadores e rácios de supervisão e regularizem “factos pa-trimoniais e operações onde e quan-do, eventualmente, eles possam estar carecidos de regularização”.

A nova equipa de gestão do grupo SLN, que controla o Banco Português de Negócios (BPN), reagiu assim a uma notícia do PÚBLICO de sábado sobre problemas de insuficiência fi-nanceira da instituição, que poderá ascender a 800 milhões de euros, e que a coloca em risco potencial de insolvência.“O conselho de administração [da SLN] não vê nenhuns motivos para converter em emergência a tomada de medidas cujo alcance e cuja deci-são vêm estando em normal curso de ponderação”, refere o comuni-cado divulgado pela holding ao final do dia.No mesmo texto, o conselho de ad-ministração adianta que “tem estado a analisar toda a situação do grupo e, a seu tempo, tomará as medidas que entender necessárias e adequa-das (...) se for caso disso”.

Segundo uma investigação do PÚ-BLICO, o grupo SLN/BPN encontra-se já numa situação de incumprimento dos rácios de capital recomendados pelo Banco de Portugal, que já exigiu à instituição um aumento de capital de 235 milhões de euros. O conselho de administração presidido por Cadi-lhe confirma que o banco irá “em bre-ve” proceder a um aumento de capi-tal (embora não revele o montante) e sustenta que “algumas regras não têm significado absoluto, nem absoluta imperatividade”, referindo-se aos rá-cios definidos pelo Banco de Portugal.

Nesse sentido, explica que “pode

Ana Brito

Equipa de gestão liderada por Miguel Cadilhe está a preparar aumento de capital para breve no BPN

PEDRO CUNHA

O novo presidente da SLN, Miguel Cadilhe, enfrenta uma missão difícil

uma entidade estar temporariamente fora de um certo limite e, todavia, isso ser pouco significativo ou de-monstrativo da sua real valia, ou nem sequer ser conclusivo sobre as suas veras capacidades financeiras e veras potencialidades económicas, nem sobre a sua natural vontade de respeitar a lei”.

Segundo a investigação do PÚBLI-CO, em causa no BPN (que tem 224 mil clientes) está um somatório de situações que afectaram os fundos próprios da instituição e que demons-tra que as regras de boa gestão não foram acauteladas. Níveis elevados de crédito malparado não reconhecido,

transferências de perdas do BPN para offshores e situações de accionistas que adquiriram títulos da holdingcom financiamento do BPN via offsho-res são alguns dos casos que têm es-tado a ser investigados pelo Banco de Portugal. Mas, além da entidade supervisora da banca, a SLN também está a ser investigada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), pelo Instituto de Seguros de Portugal e pelo Ministério Público, este último no âmbito da Operação Furacão. Para além da análise às con-tas e à gestão de activos do grupo, as entidades reguladoras averiguam ain-da eventuais actos de gestão danosa.

a A Anacom, entidade que regula o sector das comunicações, lançou na sexta-feira uma consulta pública que visa preparar o enquadramento regulatório das novas redes de gera-ção (NGN). O assunto, que tem estado em debate a nível europeu, mas ain-da não teve uma clarificação ao nível regulatório por parte da Comissão Europeia, divide os operadores his-tóricos e os operadores alternativos. Enquanto os primeiros recusam in-

vestir nas novas plataformas de fibra óptica sem garantias de poder fechar as redes à concorrência, os segundos sustentam que sem garantias de aces-so a estas plataformas está aberto o caminho a que se recriem situações de monopólio. A Anacom assegura que o seu objectivo é assegurar “que a regulação seja orientada à promo-ção do investimento e da inovação, sem perder, no entanto, de vista o importante objectivo da promoção

da concorrência”, e deu 30 dias úteis aos interessados para se pronuncia-rem sobre o tema.

A Anacom está a trabalhar com os demais reguladores europeus e com a Comissão Europeia para preparar uma recomendação sobre as novas plataformas de comunicações, “que se espera para breve”, revelou uma nota divulgada pela entidade presi-dida por José Amado da Silva na sua página de Internet.

Redes de nova geração em consulta

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44 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Cartas ao Director

Vivem-se tempos em que, ao acedermos aos meios de comunicação, é incontornável que nos falem dos problemas da escassez de alimentos, com pendor para os provenientes da agricultura, da fome, da pobreza, da deficiente distribuição de rendimentos, do preço do crude, das catástrofes naturais, da queda da natalidade e dos pensamentos dos apóstolos da diminuição ou supressão do apoio financeiro a pessoas em situação social desfavorecida.

É um ambiente propício a levar-nos ao período entre 1798 e 1826, quando Thomas Malthus produziu seis edições do seu tratado An Essay on the Principle of Population.Naquele tempo, para Malthus, qualquer progresso no padrão de vida das pessoas seria temporário, já que tinha como consequência um fatal aumento da população que obstaria a qualquer melhoria posterior.

Descortinava uma incompatibilidade entre o crescimento demográfico e a

disponibilidade de recursos. Considerava a capacidade produtiva do solo como limitada e concluía que o aumento proporcional dos bens de subsistência não acontecia na mesma progressão que o da população, o que provocaria escassez e miséria crescente. Escreveu, então, algo chocante: “... Uma pessoa que nasce num mundo já ocupado, se a respectiva família o não puder sustentar, nem a sociedade utilizá-lo, não tem o menor direito a reclamar qualquer pedaço de alimento e está a mais na terra....” Como meio preventivo para a superpopulação, aconselhou o “celibato honesto”, o retardamento do acasalamento até que houvesse meios suficientes para custear as necessidades dos futuros filhos e pronunciou-se contra as esmolas e a beneficência porque, segundo ele, apenas serviam para aumentar o número de miseráveis.

Fez escola, mas, posteriormente, foi refutado por economistas e sociólogos das mais diversas doutrinas.

Porém, hoje, vale a pena questionar: porque será que um número expressivo de pessoas

O espectro de Malthus?

Contactos do provedor do LeitorEmail: [email protected]: 210 111 000

em países desenvolvidos e em desenvolvimento, como é o caso de Portugal, perante um quadro sócio-económico-laboral precário, segue o princípio malthusiano de assumir compromissos conjugais o mais tarde possível ou de ser celibatário toda a vida, não tendo filhos ou restringindo-se ao mínimo? E porque será que, perante situações de pobreza, desemprego e exclusão sociais reais, aparecem alguns políticos e comentadores a clamar contra ou pela redução drástica dos apoios solidários do Estado, à laia de Malthus?

Se os campos, hoje, até são mais férteis por via da utilização de adubos, pesticidas e engenharia genética, porque acontecerá o alarido em torno da escassez de alguns cereais e o prenúncio de mais fome, mostrando-se milhares de pessoas famintas, correndo-se o risco de passar a imagem malthusiana de que as epidemias e as catástrofes naturais são bem-vindas para nivelar o excesso de população, causador da desgraça social?

Cremos que sem se combater a profanação da lei da oferta e da procura e a especulação financeira, e sem se implementar uma política

económica verdadeiramente dirigida para a manutenção de níveis adequados de emprego e capaz de evitar flutuações brutais da actividade económica, com o Estado a actuar através de instrumentos monetários e fiscais orientados para aqueles objectivos, não haverá eficiência nem estabilidade.

Num ambiente sem regras monetárias independentes, permanentes e estáveis, os políticos ficam com campo aberto a todo o tipo de manipulações eleitorais e, por esse caminho, corre-se o risco de ressuscitar Malthus!António Lares dos SantosLisboa

A crise gerada no passado Com Portugal quase à venda, não é de estranhar que o crédito malparado tenha subido 15% em Março. Malogradamente, o famigerado “apertar do cinto” que se iniciou em 2003 parece eternizar-se. Com os bancos a verem a cobrança duvidosa a aumentar a este ritmo, aflora agora no nosso país a classe dos novos-

pobres, i.e. pessoas provenientes da classe média e na sua maioria licenciados. Se, no passado, o recurso ao crédito era uma quase banalidade, parece que Portugal e o mundo estão a pagar hoje os maus cálculos que fizeram no passado. Mais do que a influência das entidades bancárias, a grande responsabilidade recaiu no cidadão normal que se endividou com a nítida percepção de que, no futuro, dificilmente poderia pagar. Não é por acaso que este é dos países onde a maioria da população tem segunda habitação e é precisamente daqui que todos os anos saem centenas de milhar de turistas em direcção ao Brasil e a outros destinos paradisíacos. Se, há uns anos, a febre do consumo fez com que muitos vivessem bem acima das possibilidades, o tempo de vacas magras de hoje é sobretudo uma consequência dos excessos do passado. Gonçalo TapadasLisboa

Editorial

Quandoo voto popularé um“problema”

Durão Barroso não poupou ontem nas palavras para criticar o comportamento dos governos nacionais da União Europeia que não

hesitam em fazer de Bruxelas o bode expiatório de muitas dificuldades que sentem perante os seus eleitorados.

Num tom ácido que lhe é pouco habitual, o presidente da Comissão Europeia disse que “não é possível andar a criticar Bruxelas de segunda a sábado e aos domingos pedir aos cidadãos um voto favorável na Europa” e, indo ainda mais longe nas críticas, defendeu que “só há uma coisa pior que os burocratas de Bruxelas, são os burocratas dos 27 que vão a Bruxelas pedir legislação inútil”.

Durão Barroso tem razão, sendo inútil recuar no tempo para saber se o agora presidente da Comissão é coerente com o então governante português, ou se, pelo contrário, foi um dos que diabolizou a União Europeia quando lhe deu jeito para consumo interno.

Todos conhecemos exemplos: das apertadas regras orçamentais às quotas de pescas, da actividade policial da ASAE aos problemas dos agricultores, a UE e os seus regulamentos são usados e abusados para justificar muita coisa.

E sobre a filigrana jurídica a que se refere Barroso não é preciso ir além desta edição. Por coincidência, Vítor Martins, na entrevista que publicamos nas páginas 18 e 19, ilustra bem em que é que governantes nacionais e

eurocratas perdem muito do seu tempo: “Perdi horas a discutir em conselho os decibéis que podiam emitir as máquinas de cortar relva ou as dimensões das grades de transporte de galinhas.”

As declarações irritadas dos últimos dias, das quais as palavras de Durão Barroso são apenas o último exemplo, são típicas de

uma casa “onde não há pão”, sendo esta crise não a da economia mas sim a que resultou do resultado do referendo irlandês ao Tratado de Lisboa.

Acontece que, curiosamente, os pecados apontados pelo presidente da Comissão são filhos da essência da construção política da União Europeia, que assenta na partilha de poderes e de soberania (e de atribuição de culpas ou responsabilidades, se quisermos) entre os vários Estados-membros e entre estes e a estrutura comunitária.

E nesta matéria também para os euro-entusiastas a todo o custo os argumentos têm geometria variável, dependendo do momento: quando chega a hora de partilhar o sucesso, todos se aproximam para ficar na fotografia; mas quando se mergulha numa crise, como acontece agora, poucos recusam assumir responsabilidades.

A forma como os responsáveis da União lidam com o défice democrático e com o envolvimento das opiniões públicas nacionais é, a esse nível,

paradigmática.A “Europa dos cidadãos” e a

“aproximação entre os cidadãos europeus e as instituições europeias”, chavões obrigatórios em qualquer discurso politicamente correcto, perdem imediatamente o seu prazo de validade quando esses mesmos cidadãos têm a ousadia democrática de votar contra as arquitecturas políticas traçadas pelos dirigentes.

A forma como as elites europeias estão a lidar com o “não” irlandês está a fazer mais para aumentar o afastamento dos cidadãos da construção europeia do que a contribuir para a sua aproximação.

Referirem-se ao voto do povo irlandês como “um problema” que precisa de “uma solução” não pode deixar de ser lido com um sinal de grande desprezo pela voz das opiniões públicas que, a prazo, se transformarão em “problemas” cada vez maiores.

Ninguém gosta de sentir que o seu votou foi ignorado e desrespeitado. Mas é isto que os dirigentes europeus têm feito sucessivamente após cada referendo cujos resultados não batem certo com as suas decisões para a União.

Se os cidadãos não entendem a União, a culpa é da União e nunca dos cidadãos. Enquanto esta ideia não for genuinamente assimilada nas capitais nacionais e em Bruxelas, o fosso que separa eleitores e construtores não vai parar de crescer.

Se os cidadãos não entendem a construção da União Europeia, a culpa é desta e não dos cidadãos

Paulo Ferreira

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 45

Luís Afonso

Preto,branco...e também cinzento

Só nos contos de fadas é que os gnomos mandam e os anões derrotam os gigantes

O estado da União

Os países europeus, sobretudo os grandes e com mais responsabilidades, não podem deixar-se submeter às decisões dos mais pequenos, muito menos aos resultados de um referendo de que resultou uma maio-

ria de escassos milhares de votos. Imaginar que toda a Europa possa ficar condicionada pelos irlandeses é quase uma deficiência intelectual. Tal como imaginar que a União, de carácter federalista, se possa fazer com a unanimidade dos Estados e dos povos. A França e a Alemanha, ajudadas pelos seus clientes e arrastando atrás de si os pequenos países que não se importam de ver aumentar as suas dependências, vão pois tomar as providências necessárias para que a constituição do Tratado de Lisboa seja aprovada. No que serão ajudadas pela enorme, luxuosa e apátrida burocracia europeia. Com ou sem Irlanda. Com ou sem favores prestados e dinheiros dados aos irlandeses. Não podia deixar de ser assim. Só nos contos de fadas é que os gnomos mandam e os anões derrotam os gigantes.

O referendo irlandês teve as suas virtudes. Revelou, uma vez mais, a crise europeia. Exibiu a verdadeira na-tureza desta União. E mostrou, sem deixar dúvidas, o caminho que esta se prepara para seguir. A reforma das instituições europeias ficará na história como um caso exemplar de esbulho de independências, de esmagamen-to pacífico de autonomias e de tentativa de destruição de culturas e de carácter. Toda a gente percebeu que a saga da aprovação do Tratado de Lisboa, depois de Maastri-cht e de Nice, tem como principal objectivo o de retirar poder aos povos e de lhes administrar as soluções das elites esclarecidas. O tratado foi inventado para retirar aos povos a possibilidade de os discutir e aprovar. O tra-tado é incompreensível? A Constituição é absurda? Tanto melhor. São documentos que, justamente, não devem ser compreendidos. E que oferecem explicações úteis para a indiferença crescente dos cidadãos. Votam em eleições e em referendo, dizem os iluminados, por razões nacionais e não por razões europeias! Votam, acrescentam, por causa da crise económica, das desigualdades, dos preços

dos combustíveis, das questões laborais e da imigração. Na Irlanda, então, para cúmulo, dizem eles, o “não” foi motivado pelo aborto, pela eutanásia e pelos impostos. Tudo, asseguram, questões locais, paroquiais, nacionais, sem a importância dos reais problemas europeus. Estes argumentos, infantis e destituídos de qualquer inteligên-cia, são repetidos candidamente por todos os servos, sobretudo juristas, da plutocracia europeia. E ninguém, entre essas luminárias, se deu ao trabalho de reflectir nas últimas eleições europeias que deram dois resulta-dos inesquecíveis. Primeiro, uma enorme abstenção. Segundo, o facto de que quase todos os que perderam essas eleições foram recompensados, directa e indirec-tamente, com cargos, responsabilidades e decisões nos actos que se seguiram. Chirac, Schroeder, Tony Blair e Durão Barroso, entre outros, perderam as eleições, mas, pelo jogo do federalismo, moldaram a União que se se-guiu! De qualquer modo, ficámos a saber, mais uma vez: para os dirigentes europeus, o emprego, os impostos, a liberdade, a demografia, a família, o sistema de saúde, a educação, a idade de reforma, a legislação laboral e as desigualdades sociais não são questões europeias. Não são problemas relevantes!

Acrise, muito séria, é a do desajustamento en-tre as intenções e as realidades. A do abismo irreversível que se instalou entre os Estados e as classes políticas, por um lado, e os po-vos e as sociedades, por outro. A do desvir-

tuamento definitivo do, sempre equívoco, “projecto europeu”, que vai perdendo os valores, que tanto pro-clamou, da diversidade, da autonomia e da liberdade. A da futilidade dos desejos das elites políticas europeias que pretendem unanimidade e federalismo, homogenei-dade e uniformização. A Europa é vaidosa como uma velha gaiteira. E arrogante como um fidalgo falido de smoking coçado. Os seus dirigentes gabam-se do Estado de protecção mais generoso do mundo, da construção política mais original, da cultura mais consistente, das mais belas cidades, da liberdade mais enraizada e da paz

mais duradoura. Ano após ano, os mitos vão ruindo. A cultura europeia é americana. O trabalho é imigrado. A produção é chinesa. O capital estrangeiro. A economia frágil. A ciência dependente. A tecnologia subalterna. A impotência manifesta. Os europeus não querem correr riscos, nem tratam da sua defesa. Estão disponíveis para negociar com o diabo. Não têm energia, não possuem forças armadas. Comportam-se como se tivessem um inimigo comum, os Estados Unidos. Não os terroristas, não as ditaduras, mas os Estados Unidos. Os europeus são cada vez mais utilizados por terceiros endinheirados que assim perdem o respeito por tanta cultura, tanta originalidade e tão glorioso passado. Os dinheiros do petróleo, dos armamentos, de todos os tráficos ilícitos e da grande especulação começam a mandar na Europa e a condicionar as suas políticas e a sua diplomacia.

AUnião vai sair, aparentemente, desta crise. Dentro de um ou dois anos, uma nova enge-nharia terá sido encontrada. Dentro ou fora, a Irlanda deixará de incomodar. Novas pertur-bações serão evitadas por novos mecanismos.

Alguém virá dizer que a crise está ultrapassada e que a União entrará numa nova era. A mecânica da Comissão, do Conselho e do Parlamento Europeu estará oleada e preparada para funcionar a 27 ou mais. As decisões se-

rão mais fáceis. Evidentemente, sabe-se, haverá alguns problemas. Na economia, na sociedade, no comércio externo, na ciência e na tecnologia. Forças centrífugas em acção. Dificuldades no emprego e no crescimento económico. Problemas so-ciais e demográficos. Conflitos laborais e desigualdades sociais. Deriva dos sistemas de saúde, educação e segurança. Aumen-to dos preços da energia e dos alimentos. Certo. Mas são todos problemas locais. Nada disso é europeu. A grande Europa, a grande União passa ao lado disso. Passa ao lado de questões menores.

António Barreto Retrato da semana

A crise, muito séria, é a do

desajustamento entre as

intenções e as realidades. A

do abismo irreversível que

se instalou entre os Estados

e as classes políticas, por

um lado, e os povos e as

sociedades, por outro

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Espaçopúblico46 • Público • Domingo 22 Junho 2008

Uma teologia que não se deixe interrogar pela cultura actual estorva a apreensão do sentido da simbólica bíblica

Deixemos as polémicas

1Entre o mundo religioso e o campo ateu anunciava-se uma tempestade que se desfez em precipitações muito ligeiras. Para uns, a religião continuará a ser um fruto da ignorância e para outros o ateísmo re-presenta o maior drama da humanidade. Certas

expressões da hierarquia católica e as Cartas da Associa-ção Ateísta Portuguesa – recentemente constituída – ao presidente da CEP e ao patriarca em Lisboa mostram que o diálogo ainda não começou.

No passado 14 de Maio, Bento XVI evocou um caminho que, para os cristãos, é o mais aconselhável. Um céle-bre teólogo do século VI, de nome desconhecido, usou o pseudónimo de Dionísio Areopagita – um convertido de S. Paulo – para assinar os seus escritos, a sua teologia litúrgica, cósmica e mística, mais conhecida como “te-ologia negativa”.

Depois do Concílio de Calcedónia (451), vivia-se, na Igreja, um tempo de polémicas acesas. O pseudo-Dio-nísio, na sua Sétima Epístola, escolheu outro método: “Não gostaria de fazer polémicas. Digo simplesmente a verdade, procuro a verdade.” E, como a procurava, em todo o lado a podia encontrar, mesmo encoberta e, muitas vezes, de sinal contrário. Foi o que aconteceu em contacto com o platonismo tardio do filósofo Proclo, que morreu em Atenas no ano 485. Este tinha tentado transformar a filosofia de Platão numa grande apologia do politeísmo grego, regressando, depois do sucesso do cristianismo, à antiga religião grega. É um pensamento de nítida militância anticristã. Pseudo-Dionísio vai per-correr o mesmo caminho, mas em sentido inverso.

Para este teólogo, o mundo é o canto das criaturas, um coro cósmico, um louvor litúrgico. Embora a sua teologia seja cósmica, eclesial e litúrgica, é também a primeira grande teologia mística, o caminho da alma para Deus. Não há conceitos que O possam abarcar ou prender. Por outro lado, na simplicidade das imagens, consegue dar o salto para o Indizível e, no rosto do Cru-cificado, encontra a expressão mais pura da divindade. O olhar do amor ilumina o olhar da razão. Pelo processo da afirmação e da negação, através da materialidade dos símbolos, consegue uma superafirmação de Deus para além de todos os limites. A sua teologia foi de grande importância, embora de forma diferente, para o pen-samento medieval de S. Boaventura e de S. Tomás de

Aquino que retomaram o encontro do Evangelho com o pensamento grego.

2Dir-se-á que as tarefas actuais da teologia são mais complexas do que as do pseudo-Dionísio, de S. Boaventura ou de S. Tomás de Aquino. O mundo está sempre em mudança. Uma teologia que não se deixe interrogar pela cultura actual, em vez de

ajudar a compreensão da realidade só pode estorvar a apreensão do sentido da simbólica bíblica. Já Santo Agosti-nho (354-430) se irritava com certos cristãos por causa da sua ignorância acerca daquilo que se pode conhecer pela razão e pela experiência. Quando os que estão fora da Igre-ja encontram esses cristãos a falar, em nome das Sagradas Escrituras, mas em flagrante contradição com matérias que eles conhecem bem, como é que estes poderão confiar nessas Escrituras acerca da ressurreição dos mortos, da esperança da vida eterna e do reino dos céus?

Este alerta é retomado por Jean-Michel Maldamé, um dominicano, professor do Instituto Católico de Toulouse, membro da Academia Pontifícia das Ciências e especia-lizado no estudo das relações entre cultura científica e cultura teológica, numa obra de confronto com uma das dificuldades maiores da catequese, da pastoral e da teo-logia cristãs: O Pecado Original (1).

Começa por explicitar as motivações que o levaram a esta investigação. Por razões de ministério, acompanhava jovens que deixavam de tomar a sério a pregação cristã inscrita numa visão arcaica do mundo. Como podiam eles, que estudavam as ciências da terra e da vida, suportar que a explicação última da condição humana tivesse a ver com ridículas apresentações da simbólica aventura de Adão e Eva?

Não repete o estudo histórico – já traduzido em portu-guês – de Georges Minois sobre As Origens do Mal e é dife-rente da obra de Daniel Béresniak sobre O Mito do Pecado Original, que visita a história das religiões para encontrar nelas um mito fundador universal sem relação objectiva com os termos de pecado, salvação ou graça.

O percurso de Maldamé é especificamente teológico: a teologia funda-se sobre a interpretação crítica das Escritu-ras; analisa a tradição patrística na sua dinâmica e nos seus contextos; estuda as circunstâncias e os limites das decisões conciliares; integra, não apenas a experiência espiritual,

mas também as mudanças de conhecimento na antro-pologia, nas ciências da na-tureza, na filosofia, sabendo que uma autêntica fé cristã não pode ser inimiga da ra-zão; a teologia deve ser cria-tiva, propondo perspectivas novas com a preocupação de servir a comunidade dos crentes e de se poder dirigir aos não-crentes.

Um programa destes só pode ser realizado, depois de uma vasta investigação, de que Maldamé já tinha dado provas em várias obras. Esta é a coroa de um longo cami-nho de confrontos vários sem polémicas.

(1) Le péché originel. Foi chrétienne. Mythe et métaphy-sique, Paris, Cerf, 2008.

Frei Bento Domingues, O.P.

Já Santo Agostinho se

irritava com certos

cristãos por causa da

sua ignorância acerca

daquilo que se pode

conhecer pela razão

e pela experiência

Barack Hussein Obama terá com certeza aquele dom particular de saber negociar as suas múltiplas identidades

Esperança em Obama

Acor de pele de quem está no poder continua a ser determinante na antecipação da quali-dade do desempenho. Temos grande dificul-dade em desligar o botão do preconceito e da estigmatização. No caso de Barack Hussein

Obama, por exemplo, fala-se da sua natureza “afro-ame-ricana” e, para seu bem ou mal, do seu lado muçulmano, apesar de sabermos que viveu mais entre os cristãos. É uma novidade que se qualifique pela primeira vez na história dos EUA alguém como sendo de cor diferente. Sim, porque é só da cor de pele que se trata quando se refere Obama como “afro-americano”. Porque do ponto de vista cultural, étnico, religioso, de classe ou educação, as suas caracteristicas não são muito diferentes das de um americano, bem instruído, com dinheiro, e posição social e política importantes. Noutros candidatos não me lembro de se ter enaltecido o factor cor de pele. Um americano é o produto de uma confluência histórica, política e cultural múltipla e colorida. E Barack Obama é, ele próprio, produto de uma história americana bem sucedida.

A sua herança de um passado próximo dos muçulma-nos pode considerar-se uma mancha nessa produção da história. Talvez por isso a tenha rejeitado desde o início. Fazemos isso com frequência, quando reapresentamos a nossa identidade. Os muçulmanos moçambicanos tam-bém rejeitam África; para estigmatizar já basta serem muçulmanos! E eu digo: ainda bem que assim é. Para

uns é bom saber que este Hussein cria uma dissonância cognitiva face aos muçulmanos e tiranos que conhe-cemos. Para os muçulmanos, é bom perceber que há filhos de muçulmanos que não pensam em “fazer islão” 24 horas por dia e que há mais a fazer no mundo e que a fé pode servir enquanto nos serve e que deixa de ser util quando nos aprisiona.

Não deve ter sido fácil para Barack Hussein carregar um nome com conotações desfavorecedoras, num am-biente maioritariamente hostil ao islão e aos muçulmanos em geral, ser cristão cultural, filho de homens de tribos pobres do Quénia, com uma história de discriminação por ter sangue de negro, apesar de ter sido gerado por uma mulher branca e de ter estado mais perto da cultura materna, e gerir essa multiplicidade de identidades cons-truídas por si próprio e atribuídas pela sua sociedade.

Mas o facto de existir um Obama é um verdadeiro desafio intelectual e social; percebemos que o poder e força das ideias boas para provocar transformações positivas no mundo não têm que ter uma cor de pele como selo de garantia de sucesso. É disto que eu gosto na América. E duvido que alguma vez possa assistir a fenómeno semelhante na Europa. O sucesso de Obama será o de qualquer bom gestor e decisor inteligente, com principios éticos de pluralismo, e que consiga encontrar as melhores plataformas de entendimento, tolerância e entendimento sobre a diferença. Por outro lado, mesmo que Obama não admita a importância da sua herança

muçulmana, até porque no contexto em que está nem lhe convém fazer isso, apesar de se rever em muitas das suas ideias e aspirações políticas os princípios éticos que eu facilmente encontraria no islão, o que importa é que a multiplicidade das suas origens e heranças po-derão servir para que este potencial Presidente de um país de referência mundial possa desenhar, construir e implementar medidas e acções que reflictam o plura-lismo que a sua própria identidade antecipa, deixando conviver em harmonia e integração os parentes de várias cores e culturas, as múltiplas expressões religiosas, os pobres e os ricos. Barack Hussein Obama é para mim esse símbolo de poder de transformação e de harmo-nização social, política e económica. Se ele for eleito Presidente dos EUA, o que espero, faço votos de que seja capaz de deixar intervir a sua natureza pluralista e hifenizada. Porque Barack, não é só queniano, ame-ricano, negro, branco, político, com nome muçulma-no, de fé cristã; Hussein Obama não é nenhuma destas categorias isoladamente, nem será todas elas juntas; mas terá com certeza aquele dom particular de saber negociar estas múltiplas identidades e, com inteligência, tomar as decisões na base da sua hifenidade particular. Espero, principalmente, por isto, que oriente as suas intervenções no mundo com a parceria dos que têm vindo a dar mostras suficientes de serem notáveis im-pulsionadores para o desenvolvimento das sociedades humanas. Estudiosa de temas islâmicos

Faranaz Keshavjee

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Público • Domingo 22 Junho 2008 • 47

Um suplemento humorístico é jornalismo? Existem limites para a sátira? Uma conhecida escritora suscita questões

As “tropelias” de O Inimigo Público

Oprovedor recebeu da escritora Maria Te-resa Horta (M.T.H.) uma carta no míni-mo curiosa. Figura pública ao longo de décadas, destacada activista pela eman-cipação feminina, corajosa co-autora de

um livro (Novas Cartas Portuguesas) que, ainda no tempo da ditadura, ousou questionar a opressiva si-tuação da mulher em Portugal – pelo que, com as outras autoras (“As Três Marias”), foi então levada à barra do tribunal –, M.T.H. sentiu-se ofendida por algumas frases ficcionadas que O Inimigo Público (IP), suplemento humorístico deste jornal, na edição de 6 de Junho, colocou na sua boca, sob o título “Femi-nistas modernas vão queimar implantes de silicone na Gulbenkian”.

“A minha dignidade é gravemente posta em causa”, considera. “Vivemos em liberdade, não em licencio-sidade. O legítimo exercício do direito de cada um finda onde começa a violação dos direitos do outro.” No essencial, M.T.H. dá conhecimento de outra carta que a propósito escreveu à direcção do PÚBLICO para publicação ao abrigo do direito legal de resposta, “na estrita defesa do [seu] bom nome, imagem e palavra (...), enquanto cidadã, feminista e escritora, que esse jornal, grosseiramente, entendeu ofender”.

Nela, a escritora limita-se a pedir a “urgente rectifi-cação deste abuso”: “A propósito da próxima reunião do Congresso Feminista 2008, organizado pela União das Mulheres Alternativa e Resposta na Fundação Calouste Gulbenkian, [o IP] atribui-me afirmações, entre aspas, que eu jamais proferi.” Solicita ainda “um pedido de desculpas, o que não prejudicará o [seu] direito a processar judicialmente o PÚBLICO pelos danos morais causados”.

Na carta ao provedor, M.T.H. acrescenta uma justi-ficação: “Como jornalista que também sou, conheço bem o Código Deontológico que rege a profissão e que sempre respeitei. O que me leva a perguntar se, para a direcção do PÚBLICO, a ética profissional não conta. A pergunta faz todo o sentido, atendendo a que essa direcção aceita a publicação de um caderno, parte integrante do jornal por que é responsável, onde se cometem tropelias como esta de que fui vítima.”

Quase em simultâneo, o provedor descobriu um forte núcleo de admiradoras de M.T.H. entre o cor-po docente de São Paulo, Brasil, que são também leitoras do IP. Escreve com efeito Carmem Sílvia de Almeida (C.S.A.), professora da rede pública em São Paulo: “Li o IP (...) e fiquei estupefacta com as pala-vras que puseram na boca de M.T.H., figura pública irrepreensível, referência na literatura e na defesa dos direitos das mulheres.” Acrescenta Marlise Vaz Bridi, professora de Literatura Portuguesa da Univer-sidade de São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie: “É absolutamente inadmissível o que este anónimo [a nota do IP está assinada] inimigo público atribui a M.T.H.!” E remata Ana Maria Domingues de Oliveira (A.M.D.O.), professora de Literatura Portu-guesa da Universidade Estadual Paulista: “Considero de extremo mau gosto a nota – inverídica, bem o sei – publicada no IP (...) envolvendo o nome de M.T.H., numa clara tentativa de desqualificá-la e de desqua-lificar também o movimento feminista.”

O que o provedor acha curioso é M.T.H. levar a sério as palavras que lhe atribuem, ignorando que todas as declarações imputadas pelo IP a figuras públicas não passam de mera efabulação. É a regra do jogo deste suplemento, que nada tem de jornalismo, mas sim de entretenimento (como muitos outros conteúdos dos media), pelo que não se coloca aqui uma questão de deontologia jornalística. Ao fim de 246 números (quase cinco anos de publicação), será suposto que os leitores do PÚBLICO conheçam a regra, maxime al-guém como M.T.H., veterana na área da comunicação social e da intervenção no espaço público.

É certo que M.T.H. reconhece na sua carta o carác-ter sarcástico do IP, ao admitir tratar-se da “recupe-ração por um órgão de comunicação de massas da vetusta tradição oral de escárnio e mal-dizer”, mas logo retoma a circunspecção para opinar que isso “não exime (bem pelo contrário) a direcção desse jornal do cumprimento dos princípios que a Lei de

Imprensa de um país democrático do século XXI prevê”. Também as suas apoiantes de além-Atlântico enveredam pelo mesmo raciocí-nio: “A matéria é satírica, mas (...) envolver dessa maneira um nome de repercussão internacional é, no mínimo, deselegante e desrespeito-so” (C.S.A.); “Não creio que textos desse quilate, ainda que satíricos,

possam contribuir para ampliar as discussões acer-ca da condição da mulher (...); em lugar disso, notas assim fomentam, através da perversa caricatura que traçam com as palavras, a intolerância e o preconcei-to (A.M.D.O.).

Apesar do carácter do suplemento, as contestárias partem assim do princípio de que os seus textos são passíveis de correcções, como se notícias fossem: “Sugiro uma retractação no mesmo diário onde as falsas ideias atribuídas à escritora foram veiculadas” (C.S.A.); “Envolver seu nome numa notícia falsa é tratar com leviandade uma mulher que engrandece o nome de Portugal” (A.M.D.O.).

Solicitado pelo provedor a pronunciar-se, o direc-tor do PÚBLICO, José Manuel Fernandes, anuncia que, após consulta jurídica, o jornal decidiu recusar a M.T.H. o exercício do direito de resposta. E enu-mera as razões:

“a) O IP é um suplemento humorístico cujo concei-to é o de editar notícias imaginárias (...). O seu lema, inscrito na primeira página, é ‘Se não aconteceu podia ter acontecido’.

b) Este conceito cria um paradoxo: não se supõe que no IP se editem notícias verdadeiras, como um ‘direito de resposta’ (...).

c) O carácter humorístico do IP criou, no início, alguns incómodos, até porque houve quem visse as suas peças como verdadeiras e não como sátiras. (...) Até ao momento (...) apenas se editou um direito de resposta, tendo-se confirmado que a fórmula não funcionava bem.

d) Sem discutir a capacidade que cada um tem pa-ra que se brinque, com maior ou menor gosto, com ele, o que habitualmente sugerimos é que os que se sentirem lesados se exprimam no espaço das Cartas ao Director.

e) Os termos em que M.T.H. colocou a questão (...) não deixam margem de manobra para uma solução desse tipo, pelo que, para não incumprir os prazos da lei, se optou por formalmente negar o direito de resposta, ganhando-se assim tempo para, com mais alguma serenidade, se tentar chegar a uma solução razoável que não impeça o direito de M.T.H. protes-tar (...).

f ) Até ao momento não recebemos qualquer sinal de que o tema pudesse ser tratado com serenidade; pelo contrário, apesar de termos tentado algumas vias informais de mediação.

g) Sobre as ‘tropelias’ do IP apenas posso referir que o humor em Portugal, mesmo no IP, é muito menos cortante do que o praticado noutros países. Talvez porque nem todos sabem rir-se de si mesmos.

h) O IP já se meteu muitas vezes comigo. Ao princí-pio ainda vinham mostrar-me, mas eu disse-lhes que não era preciso. Prefiro ocupar-me das notícias que realmente aconteceram.”

Ficará desapontado o leitor que veio até este pon-to da crónica à espera que o provedor reproduza o conteúdo da nota do IP sobre M.T.H., pois não o fará. Não porque o considere ofensivo para a escritora. O IP apenas faz uma caricatura da sua militância fe-minista no tom habitual, pelo exagero e o excesso (no estilo do título citado), não vislumbrando o pro-vedor razões para a indignação da visada ou da sua claque paulista. A sátira pressupõe distanciamento, tolerância, poder de encaixe e um sorriso... mesmo que amarelo. Não que a levem demasiado a peito, como aqui sucedeu.

A única coisa a poder eventualmente apontar-se ao texto do IP é o gosto – e é por isso que o provedor não o transcreve. Mas gostos, como se sabe, não se discutem – pelo menos nesta página. De qualquer modo, quem o desejar poderá ler a nota entre os ane-xos a esta crónica no blogue do provedor, onde estão também na íntegra as cartas citadas.

Com ou sem direito de resposta, será porém bom, como princípio, que o PÚBLICO encontre uma fórmu-la que permita a M.T.H. expressar o seu protesto.

Joaquim VieiraProvedor do leitor

Teresa Horta leva a sério

as citações que

O Inimigo Público

lhe atribui e ignora

que tudo no suplemento

é mera invenção

Desafios para o Policiário

a Ainda a propósito de entretenimento, duas das habituais secções dominicais do P2, Policiário e Desafios, não saíram há uma semana, tendo surgido inopinadamente na segunda-feira. A alteração, sem aviso ou explicação, suscitou coléricos protestos de leitores, sobretudo fiéis acompanhantes do Policiário: “Enorme falta de consideração (...). Privaram-se desse texto os policiaristas que (muitos por revolta!) não adquiriram a edição de segunda-feira! (Gustavo Barosa); “Se eu compro este jornal ao domingo e não outro é por causa dessa secção. Se estas situações perdurarem, sem dúvida que deixarei de ser leitor” (Hugo Marques); “Estou certamente entre os muitos que (...) se sentiram defraudados (...). Deverá ser salvaguardado o devido respeito

pelas legítimas expectativas que o Policiário desperta” ( José Gigante); “Não se compreende (...) o porquê da não existência de uma nota a explicar a razão [do adiamento], e já agora com um pedido de desculpas aos leitores” (Eduardo Oliveira). E também entre os apaixonados de Desafios: “O respeito pelos leitores é muito mais importante que as gralhas de História ou Geografia (...). Deveria ser um princípio inviolável num jornal dito de referência” ( José Carlos Silva).

A explicação da editora do P2 Isabel Salema (I.S.), que reconhece razão nos protestos: “As secções não saíram porque excepcionalmente o P2 de domingo só teve 20 páginas, e devia ter havido uma nota de esclarecimento com a indicação de que seriam publicadas no dia seguinte. A direcção tinha-me dado

essa indicação e o esquecimento foi meu.” O director corrobora: “A razão de ser da medida (...) derivou da necessidade de equilibrar a informação importante entre os dois cadernos do jornal, sendo que fazer um P2 com mais de 20 página (24, mais exactamente) implicaria, devido a constrangimentos das máquinas (...), acrescentar mais quatro páginas ao outro caderno, o que não se justificava nem era possível. (...) Pedi que se incluísse uma nota aos leitores, [que] não saiu por lapso, como I.S. já assumiu.”

O provedor compreende a frustração dos reclamantes e julga assinalar, não só no adiamento como na falta de aviso, manifesto desinteresse, ou mesmo menosprezo, pelos anseios dos leitores, que devem ser fim último da existência do PÚBLICO.

DANIEL ROCHA

Contribuinte n.º 502265094Depósito legal n.º 45458/91Registo ICS n.º 114410E-mail [email protected] LisboaRua de Viriato, 13 – 1069-315 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial 210111006; Agenda 210111007; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 PortoRua de João de Barros, 265 – 4150-414; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213;

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Fax: 213613469 Distribuição Logista Portugal – Distribuição de Publicações, SA; Lisboa: Telef.: 219267800, Fax: 219267866; Porto: Telef.: 227169600/1; Fax: 227162123; Algarve: Telef.: 289363380; Fax: 289363388; Coimbra: Telef.: 239980350; Fax: 239983605. Assinaturas 808200095Tiragem média total de Maio65.352 exemplaresMembro da APCT – Associação Portuguesa do Controlo de Tiragem

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Julgamento Americana acusada de usar identidade falsa na Internet Pág. 2/3

Estados UnidosJohn Mercer Langston foi um Obama antes de Obama P2

EnsinoMais de metade dos alunos do 12.º têm explicações Pág. 14

PobrezaSegurança social aberta ao sábado para os idososPág. 8/9

Sorteio do JokerNúmero sorteado: 6760947

Sorteio do TotolotoChave sorteada: 2, 14, 33, 37, 43, 49 + 8

Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, criticou ontem, na Assembleia da República, os líderes europeus que “criticam Bruxelas de segunda a sábado e ao domingo pedem aos seus cidadãos um voto favorável à Europa”. Não é com “slogans populistas”, disse, que se vai conseguir “renovar a confiança dos cidadãos europeus”. É o óbvio, mas foi a frase do dia. B.R.

Sobe e desce

Durão Barroso Passos Coelho e Santana Lopes

Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes perderam ontem apoios importantes no PSD. Passos Coelho perdeu a distrital do Porto, que apresentou uma lista alternativa ao Conselho Nacional. Pedro Santana Lopes, que foi primeiro-ministro e é líder da bancada demissionário, perdeu o apoio de Luís Montenegro, que foi o porta-voz da sua campanha. B.R.

Guus Hiddink

Holanda, Coreia do Sul, Austrália e agora Rússia. Desafio após desafio, a reputação de Guus Hiddink permanece intacta. De pouco (ou quase nada) o holandês consegue fazer muito (ou quase tudo). Ontem, operou mais um pequeno milagre: eliminou a “sua” Holanda do Euro 2008 e deixou os russos a sonhar com a geração de 1960. A “Guusmania” está de volta. N.S.

Os Serviços da Segurança Social de Vila Nova de Gaia, Porto e Gondomar abriram ontem, um sábado, porque é esse o dia em que quem trabalha pode ir com os familiares mais velhos “tratar de papéis”. Cinco mil idosos foram chamados para falar do novo complemento solidário para idosos (CSI). A máquina da burocracia com coração. B.R.

Serviços de Segurança Social

Opinião

O Bloco Central?

Por causa de uma alusão do DN (logo duas vezes desmentida em editorial) e de uma insinuação de Marcelo Rebelo de

Sousa, o PSD e o público entendido entraram em histeria: preparava ou não a dra. Manuela um novo Bloco Central? Pacheco Pereira falou sombriamente de moinhos de vento e de uma manobra indescrita e vil. O Expresso acusou Marcelo de “ter iniciado” a sua “habitual labuta de queimar o líder”. O “populismo” declarou com raiva que ficava

a ver. E a própria dra. Manuela resolveu intervir, jurando que não “era doida” e nunca aceitaria uma aliança com o PS. A quem está de fora pareceu que a legitimidade eleitoral no PSD ia outra vez ser assaltada e arrasada pela demagogia e a calúnia. Mas, muito francamente, a hipótese é assim tão absurda?

Primeiro, no plano da pura mecânica parlamentar. Se nem o PS, nem o PSD chegarem à maioria absoluta (o que provavelmente vai acontecer), precisam um e outro de uma coligação. O PS não se pode

juntar ao Bloco (de Esquerda), sem se enfraquecer e provavelmente dividir: Sócrates não é miscível com Louçã. E o PSD, com a dra. Manuela à frente, e Santana de lado, não se pode juntar a este CDS, sem estabelecer no governo e, tarde ou cedo, no regime, a barafunda universal. Qualquer pessoa de senso percebe facilmente que em 2009 o país se arrisca a cair num segundo e mais perigoso “pântano”; e que só há uma saída – o Bloco Central. O Presidente da República, que não anda na lua, com certeza que não ignora isto; ou subestima as consequências na economia e nas finanças do Estado de um colapso da autoridade política.

Mas, mesmo tirando as razões de expediente, existem razões de fundo para um Bloco Central. Não vale a pena insistir na situação por que passamos, manifestamente a mais grave desde o princípio do século XX. O consulado de Sócrates provou que nenhum partido, até com maioria absoluta, consegue sem ajuda impor as reformas de que o país precisa: a reforma constitucional e as reformas da justiça, da administração, da saúde e da educação. Com um programa exacto e um acordo prévio, o Bloco Central talvez contribuísse para resolver o assunto. O que separa o PS de José Sócrates do PSD de Manuela Ferreira Leite não é muito, nem intransponível. Claro que um entendimento prejudicaria as duas partes, sobretudo antes da eleição de 2009; e daí os gritinhos de virtude para uso do congresso de Guimarães. Não interessa. Como dizia De Gaulle, as coisas são o que são.

Vasco Pulido Valente

A própria dra. Manuela jurou

que não era doida e nunca

aceitaria uma aliança com

o PS. Mas, francamente, a

hipótese é assim tão absurda?

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