Upload
francismar-leal
View
3.591
Download
9
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Palestra sobre a Síndrome Anomalia de Chédiak-Higashi (Chediak, Higashi) ministrada em 18 de novembro de 2013, no Hospital Metropolitano de Sarandi/PR.
Citation preview
© L. A. Burden 2005
Síndrome de CHÉDIAK-HIGASHI
Dr Francismar Prestes Leal (CRM/PR 18829)
Médico Hematologista (UFSM/UNIFESP)
Professor Uningá/Maringá/PR
Novembro/2013
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Descrita inicialmente por Beguez Cesar (1943), Steinbrinck (48), Chédiak (52) e Higashi (1954)
• Inicialmente, caracterizada como uma desordem na qual neutrófilos, monócitos e linfócitos tinham grânulos (ou inclusões) gigantes no citoplasma
• Hoje, sabe-se que é uma síndrome com disfunção celular, caracterizada por fusão aumentada de vesículas/grânulos do citoplasma de uma grande variedade de células, de diversos tecidos/órgãos
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Doença hereditária (autossômica recessiva), mais frequente em filhos de pais consanguíneos e talvez menos frequente em negros (subdiagnóstico?)
• Rara (<500 casos publicados nos últimos 20 anos)
• Caracterizada clinicamente por albinismo parcial (oculocutâneo), infecções (piogênicas) de repetição, sangramentos (em pele e mucosas), neuropatia (geralmente periférica) e tendência de evolução para uma fase acelerada (linfoma-símile)
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• O gene CHS1/LYST (1q42-43) codifica uma proteína (chamada de “regulador do tráfego lisossomal”) que regularia a síntese, o transporte e a fusão de grânulos/vesículas citoplasmáticos
• A SCH/CHS decorre de mutações no gene CHS1, que levam à suposta codificação de proteínas anormais (CHS1) e, consequentemente, defeitos (maior fusão) de vesículas/grânulos de vários tipos de células (tecidos/órgãos)
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Vesícula citoplasmática: pequeno saco, formado no citoplasma das células a partir de membranas celulares pré-existentes (bicamada lipídica), que armazena, transporta, digere ou secreta estruturas (moléculas, organelas, corpos estranhos etc.)
• Grânulo citoplasmático: qualquer partícula visível em MO (termo comumente usado para descrever uma vesícula secretora; mas pode ser de pigmento)
• Ou seja, vesículas e grânulos podem ser sinônimos
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
http://www.nature.com/labinvest/journal/v80/n5/fig_tab/3780067f3.html#figure-title
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
G – grânulos densos; V- vesículas translúcidas; R- retículo endoplasmático rugoso ; N – núcleo; Nu – nucléolo;
(Granulócito; 22.000x) Moura WL, 1997
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• A anomalia de CH resulta em vesículas/grânulos grosseiramente aumentados e disfuncionais, vistas na citologia habitual (Romanovsky) como grânulos azurofílicos ou purpúricos gigantes e coalescentes, principalmente em granulócitos
• Estas inclusões também podem ser vistas em monócitos, linfócitos, plaquetas, fibroblastos, melanócitos (pele/fâneros), células neurais, renais, hepáticas, adrenais, gástricas e outras células
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Estes grânulos anormais são “específicos” da SCH e sua presença em granulócitos do sangue e da medula óssea é a base para o diagnóstico
• Embora a fisiopatogenia da SCH seja ainda pouco entendida, alterações de membrana são evidentes
• Na SCH, as membranas celulares são mais fluidas, o que pode reduzir a expressão de receptores e a interação de microtúbulos com lisossomos, com menor resposta quimiotática dos leucócitos
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Problemas na fusão de fagossomos e lisossomos resultariam em menor atividade microbicida dos leucócitos, mormente granulócitos e monócitos
• Células NK (com deficiência de perforina) também têm uma profunda redução da atividade citotóxica
• Há formação de melanossomos gigantes, que resultam em diluição pigmentar (albinismo parcial) de pele, fâneros íris e retina (fundo do olho)
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Para possível classificação ou diferenciação de tratamento e prognóstico, há pelo menos duas apresentações clínicas:
– Precoce (neonato/criança)
– Tardia (adolescente/adulto)• Dentro destas:–Fase crônica–Fase acelerada
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Cerca de 85% dos pacientes com a forma precoce desenvolvem uma fase acelerada (infiltração linfoistiocítica do fígado, baço, linfonodos e medula óssea, que resulta em hepatoesplenomegalia, linfonodomegalia e pancitopenia - adinamia, febre, infecções, hemorragias, icterícia, RNC etc.)
• Sem um TCTH/TMO (transplante de células tronco hemopoéticas/medula óssea), a maioria destes pacientes morre na primeira década de vida
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• A forma tardia costuma ser menos agressiva clinicamente e o comprometimento neurológico pode ser a característica mais marcante
• Neste grupo, neuropatia progressiva é frequente, mormente periférica, axonal e/ou desmielinizante, com alterações sensoriais e/ou fraqueza muscular
• A neuropatia pode ser central, com convulsões, ataxia cerebelar, comprometimento cognitivo etc.
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Infecções são a principal causa de morte e os agentes mais comuns são vírus e espécies de estafilococos, estreptococos e hemófilos (HiB)
(7 pacientes) Carnide EG et al. Rev Paul Med 1998;116(6):1873
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Apresentação clínica habitual (pelo menos um)
– Albinismo oculocutâneo parcial (agregação anormal de melanina em melanócitos, originando melanossomos gigantes)• Íris acinzentada, azulada ou acastanhada;
retina hipopigmentada; fotofobia, menor acuidade visual, nistagmo; hipopigmentação cutânea (variável); Pelos/cabelos acinzentados/prateados, com brilho metálico
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
http://eyewiki.aao.org/Albinism
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
Coloração prateada dos cabelos e hipopigmentação cutânea
Fantinato GT, et al. An Bras Dermatol 2011;86(5):1029
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
http://www.ijtrichology.com/viewimage.asp?img=IntJTrichol_2011_3_2_107_90825_f2.jpg
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Apresentação clínica habitual (pelo menos um)
– Infecções bacterianas/piogênicas recorrentes e/ou graves, na pele, orofaringe (periodontite), vias aéreas, com resposta mais lenta aos antibióticos; podem ocorrer infecções fúngicas ou virais (EBV, CMV, HIV, vírus herpes etc.)
– Os agentes mais comuns são Staphylococcus aureus e diversas espécies de Estreoptococos
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Pneumonia+Estafiloc%C3%B3cica&lang=3
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Apresentação clínica habitual (pelo menos um)
– Sangramentos, em pele e mucosas, de leves a moderados; graves na “fase acelerada”
– Ocorre principalmente por um defeito na quimiotaxia (disfunção) e na síntese de plaquetas (trombocitopenia; fase acelerada)
– A tendência ao sangramento somada à imunodeficiência pode causar alveolite, culminando com perda dentária precoce
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)http://www.portalocupacional.com.br/portal/materias/2/28/724
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Apresentação clínica habitual (pelo menos um)
– Manifestações neurológicas (centrais e/ou periféricas), com neurodegeneração progressiva
– Presentes em até metade dos casos, no final da infância ou no início da vida adulta
– Mesmo em pacientes submetidos a um TMO, efetivo contra as outras manifestações da SCH, a neuropatia (e o albinismo) costuma persistir
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Apresentação clínica habitual (pelo menos um)
– As principais manifestações neurológicas são:• Anormalidades no equilíbrio/Ataxia• Tremores/Parkinsonismo• Neuropatia periférica e/ou de pares cranianos• Redução de reflexos tendinosos profundos• Piora da atividade cognitiva global• Outras neuropatias motoras, sensitivas ou
autonômicas
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Apresentação clínica habitual (pelo menos um)
– Durante a fase acelerada é comum a presença de convulsões e distúrbios comportamentais
– A fisiopatologia envolve a presença de inclusões citoplasmáticas densas em células neurais, como astrócito, célula de Schwan ou gânglio posterior
– Em necrópsia/exames de imagem nota-se atrofia cerebral difusa, principalmente em lobo temporal
Síndrome de Chédiak-Higashi (SCH)
• Apresentação clínica habitual (pelo menos um)
– Fase acelerada• Pode ocorrer em qualquer idade• Linfoproliferação em fígado, baço, LN e MO• Hepatoesplenomegalia e/ou adenomegalia• Pancitopenia (ou citopenias isoladas)• Febre, infecções, hemorragias, cansaço• Similar: síndrome hemofagocítica “viral” (EBV)
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Diagnóstico
– A meta é realizar o diagnóstico precoce
– A maioria dos diagnósticos é feita aos 5-6 anos
– Diagnóstico pré-natal: pesquisa de “células de Chédiak-Higashi” em células de vilosidades coriônicas (cultura) e/ou no sangue periférico dos pais (heterozigotos); fosfatase ácida (+) nos lisossomos fetais pode confirmar a doença
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Diagnóstico
– Laboratório• Extensão corada do sangue periférico
(Romanowsky) ou da medula óssea (MGG)–Grânulos/inclusões gigantes (2-4nm) no
citoplasma de leucócitos (blastos, pró-mielócitos, mielócitos, PMN, monócitos, linfócitos) ou plaquetas (patognomônico)
Síndrome de Chédiak-Higashi
Fantinato GT, et al. An Bras Dermatol 2011;86(5):1029
Esfregaço de sangue periférico demonstrandoleucócito com grânulos gigantes intracitoplasmáticos
Chédiak-Higashi Sindrome giant azurophilic granules in peripheral blood. A- Eosinophil; B- Lymphocyte; C-
Neutrophil; D- Monocyte
Azambuja AP et al. Rev Bras Hematol Hemoter. 2011;33(4):315
Síndrome de Chédiak-Higashi
Antunes H et al. Lancet 2013;382:1514
Síndrome de Chédiak-Higashi
Antunes H et al. Lancet 2013;382:1514
Síndrome de Chédiak-Higashi
Antunes H et al. Lancet 2013;382:1514
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Diagnóstico
– Laboratório• Grânulos/inclusões gigantes, peroxidase-
positivos, no citoplasma de melanócitos (melanossomos gigantes na amostra de pele; grandes grânulos de pigmento nas hastes de pelos/cabelos), hepatócitos, células tubulares renais, pneumócitos, neurônios, outras células
Síndrome de Chédiak-Higashi
Fantinato GT, et al. An Bras Dermatol 2011;86(5):1029
Grânulos de pigmentos agrupados/salpicados num cabelo
Síndrome de Chédiak-Higashi
Cabelo, MO (x100)
Cabelo, MO com luz polarizada (x40)
Valente NYS et al. Clinics 2006;61(4):327
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Diagnóstico
– Laboratório (outros)• Citopenias (neutropenia) ou presença de
blastos no hemograma (fase acelerada)• Coagulopatia (tempos de coagulação e de
sangramento prolongados; fase acelerada)• Hepatopatia (fase acelerada)• Hiper/Hipogamaglobulinemia etc.
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Diagnóstico
– Outros exames• Radiografias orais: perda do osso alveolar• Microscopia eletrônica: confirmam defeitos
de granulação (pele, mucosa oral, cabelo etc.)• TC/RNM: atrofia cerebral/medula espinhal• Mutação do gene CHS1 (1q42-43)?• Outros, para diagnóstico diferencial
Síndrome de Chédiak-Higashi
http://www.clinicateles.pt/Implante%20-%20Periodontia%20(6).htm
Síndrome de Chédiak-Higashi
Morrone K, Wang Y, Huizing M, Sutton E, White JG, Gahl WA, Moody K - Case Rep Med (2010); Microscopia eletrônica
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Diagnóstico diferencial
– Outras causas de albinismo, associadas a infecções (orais, pioderma gangrenoso etc.)• Síndromes de Griscelli-Prunieras, Elejalde,
Cross, Hermansky-Pudlak etc.
– Outras imunodeficiências (SIDA, DGC etc.) e/ou hemopatias (neutropenias, linfomas, leucemias)
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Manejo/Tratamento
– Interconsultas• Hematologista (diagnóstico, inclusive
diferencial, e tratamento, inclusive TMO)• Neurologista (se neuropatia presente)• Oftalmologista (perda visual etc.)• Infectologista (auxílio na terapia antinfecciosa)• Outros (cirurgiões etc.)
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Manejo/Tratamento
– Transplante de células tronco (TMO) de doador HLA-compatível é o tratamento de escolha, principalmente na fase precoce da doença ou após controle da fase acelerada
– O TMO é a única opção de cura da SCH: melhora a imunodeficiência e “previne” a fase acelerada, mas não melhora a neuropatia ou o albinismo; sem TMO, a morte é mais precoce
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Manejo/Tratamento
– A SCH, mormente na fase acelerada, pode ser controlada com: Ig (0,4g/kg/dia, 5 dias); drogas microtubulíticas/quimioterápicas (vincristina, vimblastina, metotrexato, ciclofosfamida, ciclosporina A, etoposídeo, dexametasona, prednisona, colchicina – isoladas ou em associação); aciclovir
– Interferon/IL-2: restaura (in vitro) função das NK
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Manejo/Tratamento
– Drogas• Imunoglobulina intravenosa (alta dose)–Bloqueia receptores Fc dos macrófagos–Reduz resposta inflamatória, inclusive INF-
gama, do complemento e linfócitos B/T–Neutraliza anticorpos antimielina,
promovendo remielinização
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Manejo/Tratamento
– Drogas• Vincristina/Vimblastina– Inibem crescimento/proliferação celular
(fase acelerada)• Colchicina–Reduz motilidade leucocitária e fagocitose
(fase acelerada)
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Manejo/Tratamento
– Vitamina C (até 2g/dia): controverso? – Usar!
– Orientação nutricional (para imunodeficiência)
– Tratar infecções agressivamente
– Drenar abscessos rapidamente
– Evitar antiplaquetário/coagulante (hemorragias)
– Evitar procedimento invasivo ou manejar plaquetopatia/sangramentos se necessário
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Manejo/Prevenção
– Esplenectomia: fase acelerada não responsiva à outras medidas terapêuticas (melhora sobrevida e quimiotaxia dos neutrófilos)
– Medidas de higiene/proteção, vacinação contra germes capsulados, profilaxia com antibióticos?
– Aconselhamento genético das famílias com casos comprovados
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Prognóstico
– Morte precoce (<10 anos) por sangramento ou infecção (respiratórias/cutâneas); poucos pacientes vivem >20-30 anos
– Quanto maior a idade, maior a chance de aceleração (linfoproliferação)?
– Depende também do diagnóstico precoce e do manejo/tratamento adequado
Síndrome de Chédiak-Higashi
• Fontes
– Willians Hematology, Seventh Edition, 2006;932-35
– Chédiak-Higashi Syndrome: emedicine/medscape reviews
– Carnide EMG et al. Chédiak-Higashi syndrome: presentation of seven cases. Rev Paul Med 1998;116(6):1873-8
– Colla VA et al. Síndrome de Chediak-Higashi: Relato de Caso e Revisão da Literatura. Rev Bras Alerg Imunopatol 1998;21(3):83-90
– Freitas GR et al. Seizures in Chédiak-Higashi syndrome: case report. Arq Neuropsiquiatr 1999;57(2-B):495-7
– Azambuja AP et al. Four case of Chédiak-Higashi syndrome. Rev Bras Hematol Hemoter 2011;33(4):315-22
Obrigado!