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Disfunções iatrogênicas no trabalho de parto - A razão fundamental para o aumento dos índices de intervenção é certamente uma falha universal no entendimento das necessidades básicas das mulheres em trabalho de parto. - Hoje em dia, há uma incompreensão absoluta da fisiologia do parto até mesmo pelos médicos e pelo próprio movimento de parto natural. - Precisamos da linguagem e da perspectiva de fisiologistas modernos para voltar às nossas raízes, para ver o que é cultural e universal, e portanto redescobrir as necessidades básicas das mulheres em trabalho de parto. - Há um período curto mas crucial, imediatamente após o nascimento que nunca mais se repetirá: liberação de um coquetel de hormônios do amor Aláya Dullius de Souza – dezembro 2011

Hormônios do Parto

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Um singelo trabalho sobre a importância dos hormônios como a ocitocina durante o trabalho de parto. E da relevância de respeitarmos a fisiologia da mulher, permitindo que seu neocórtex não seja estimulado. Baseado em artigos da internet e especialmente em Michel Odent.

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Disfunções iatrogênicas no trabalho de parto

- A razão fundamental para o aumento dos índices de intervenção é certamente uma falha universal no entendimento das necessidades básicas das mulheres em trabalho de parto.

- Hoje em dia, há uma incompreensão absoluta da fisiologia do parto até mesmo pelos médicos e pelo próprio movimento de parto natural.

- Precisamos da linguagem e da perspectiva de fisiologistas modernos para voltar às nossas raízes, para ver o que é cultural e universal, e portanto redescobrir as necessidades básicas das mulheres em trabalho de parto.

- Há um período curto mas crucial, imediatamente após o nascimento que nunca mais se repetirá: liberação de um coquetel de hormônios do amor

Aláya Dullius de Souza – dezembro 2011

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OCITOCINA A ocitocina, hormônio secretado no hipotálamo e armazenado na

glândula pituitária posterior (Neuroipófise), é essencial durante o processo de parto.

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Até recentemente a ocitocina era conhecida apenas por seus efeitos mecânicos. Esses conhecidos efeitos mecânicos incluem a contração da musculatura lisa do útero para o nascimento do bebê e a liberação da placenta, a contração de células especiais no seio para tornar possível o reflexo de ejeção de leite, a contração da próstata e das vesículas seminais durante o reflexo de ejeção do esperma e também a contração do útero durante o orgasmo feminino, que tende a facilitar o transporte do esperma em direção ao óvulo.

Em retrospecto entendemos porque levou um tempo tão longo para reconhecer também seus importantes efeitos comportamentais; simplesmente porque a ocitocina não chega ao cérebro quando é injetada por via intravenosa

Efeitos comportamentais – Amor e violência em sociedades antigas. - Havia uma vantagem evolutiva em desenvolver o potencial humano para a agressão, em vez da capacidade de amar.

Vínculo mãe-bebê nos mamíferos. Preservação da espécie.

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SISTEMA LÍMBICO X NEOCÓRTEX Para parir uma mulher precisa liberar um coquetel de hormônios

que inclui a ocitocina, endorfina, prolactina, ACTH, catecolaminas, etc... Quando uma mulher está em trabalho de parto, a parte mais ativa de seu corpo é o cérebro primitivo, o sistema límbico, o hipotálamo, a hipófise, que compartilhamos com todos os mamíferos. Quando há inibições durante o processo de parto (ou durante qualquer outra experiência sexual), elas se originam em outra parte do cérebro, o neocórtex.

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A mulher que dá a luz tem necessidade de estar abrigada de todos os estímulos de seu neocórtex

Se visualizarmos uma mulher em trabalho de parto do ponto de vista da fisiologia, visualizamos a parte primitiva e profunda do cérebro dela, que esta trabalhando arduamente e liberando um fluxo de hormônios. Hoje, também estamos em condição de entender que sempre que há inibições – durante o processo de parto ou durante qualquer tipo de experiência sexual – essas inibições originam-se do “cérebro novo”, a parte do cérebro que é altamente desenvolvida nos seres humanos e que pode ser considerada como o cérebro do intelecto, ou o cérebro do pensamento, o neocórtex.

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REDUÇÃO DA ATIVIDADE NEOCORTICAL

Qualquer situação que implique na secreção de hormônios da família da adrenalina, tende a estimular o neocórtex e inibir o processo de parto. Portanto, é essencial que a mulher em trabalho de parto sinta-se segura.

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O que estimula o neocórtex?

- Linguagem: Quando nos comunicamos com a linguagem, processamos o que percebemos com o nosso neocórtex.

- Luz: A atividade cerebral é estimulada pelo estímulo visual

- Sensação de ser observada: Todos nos sentimos diferentes quando sabemos que estamos sendo observados. A privacidade é um fator que ajuda a reduzir ocontrole neocortical. A presença de muitas pessoas no ambiente de parto impede que o neocórtex da mulher seja desativado, e então ela deixa de estarà vontade para assumir seu cérebro instintivo. Aparelhos que possam ser percebidos como observadores, como uma câmera fotográfica ou um monitor fetal eletrônico, também interferem. Nossos esfíncteres são tímidos.

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O QUE A MULHER PRECISA DURANTE O TP?

Privacidade Penumbra Sensação de segurança Liberdade de movimentação Silêncio

Quando uma mulher está dando à luz por si mesma, sem nenhuma medicação, há um momento em que ela tem uma tendência óbvia de se isolar do mundo exterior, como se estivesse indo para outro planeta. Ela ousa fazer o que jamais faria em sua vida social diária, por exemplo, gritar ou xingar. Ela pode se ver nas mais inesperadas posições, fazendo os mais inesperados barulhos. Isso significa que ela esta reduzindo o controle feito pelo neocórtex, Do ponto de vista prático, essa redução da atividade do neocórtex é o aspecto mais importante da fisiologia do parto. Isso nos leva a entender que a mulher em trabalho de parto precisa, antes de mais nada, ser protegida de qualquer tipo de estímulo de seu neocórtex.

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Privacidade?

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As culturas atrapalham o processo fisiológico quando negam a necessidade de privacidade dos mamíferos: todos os mamíferos desenvolveram uma estratégia para não serem observados quando dão à luz

Parto domiciliar de Mariana Braga, filha da Ana Maria Braga.

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ADRENALINA NO PARTO

Hormônios da família da adrenalina, quando disparados, tendem a estimular o neocórtex e inibir o processo de parto. Quando há algum perigo iminente, os mamíferos tendem a ficar alertas e atentos.

Faz com que o trabalho de parto pare de progredir

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O que pode desencadear uma produção de adrenalina?

- Frio - Mau Humor

- Medo (do parto, da dor, do expulsivo, de não ser boa mãe, de ter que cuidar de um bebê, do marido não gostar mais de você, etc)

- Auto-piedade- Dificuldade de mudar uma situação que está te deixando de saco cheio- Distrações (dificulta a concentração em si mesma)

- Falta de privacidade (se sentir observada por estranhos). - Vergonha (de gemer, chorar, gritar, se movimentar, ou qualquer outra coisa) - Excesso de toques (sejam vaginais ou não)

- Excesso de expectativa- Se chega muito cedo ao hospital (no início do trabalho de parto)

- Preocupação excessiva e preocupação com outras pessoas (por ex, filho que ficou em casa...) 

- Conversas excessivas (incluindo ter que ficar respondendo a muitas perguntas).- Se sentir dependente dos outros. - Ambiente muito iluminado - Ambiente muito barulhento- Necessidade de estar "alerta" a tudo...- Se você tem muita coisa na sua cabeça e não consegue relaxar e se entregar o suficiente para atingir o nível instintivo.

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QUANDO A ADRENALINA É NECESSÁRIA

Adrenalina tem um papel na interação entre mãe e bebê após o parto. Durante as ultimas contrações antes do nascimento a adrenalina se eleva bruscamente, é por isso que assim que o “reflexo de ejeção do feto” começa, as mulheres tendem a ficar em posição vertical, cheias de energia, com uma súbita necessidade de se agarrarem a alguém ou algo. A adrenalina faz a mãe ficar alerta quando o bebe nasce.

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No caso do bebê, um afluxo de noradrenalina possibilita que ele se adapte à privação de oxigênio, e que esteja alerta para achar o seio da mãe

O bebê ativo abre os olhos e busca o contato com a mãe, o que libera mais ocitocina. Mecanismo de preservação

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No processo de parto a mãe também secreta endorfinas, e hoje sabe-se que o bebê também secreta suas próprias endorfinas. Logo após o parto o cérebro dos dois está impregnado de opiáceos, dopaminas, que induzem estados de dependência, vínculo.

Grande liberação de ocitocina, formação do vínculo afetivo Ejeção do leite e aumento da produção de prolactina Ocitocina que ajuda na dequitação placentária e previne

hemorragias

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Há milhares de anos esse mecanismo fisiológico tem permitido que a espécie humana se perpetue. As intervenções médicas nesse processo, contudo, têm acarretado partos difíceis, traumáticos, e com seqüelas comportamentais e emocionais, que se mostram seja nas mulheres com depressão pós-parto ou sentindo-se incapazes de cuidarem de seus filhos e com dificuldades na amamentação, seja na instituição de uma sociedade mais violenta, devido aos seus “novos integrantes” não terem recebido doses de hormônios previstos pelo cérebro.

A essas intervenções que desequilibram o balanceamento hormonal, causando conseqüências futuras negativas tanto para mãe quanto para o bebê, as chamamos de disfunções iatrogênicas. Isto é, disfunções resultantes de tratamento médico inadequado que ignora a fisiologia do parto.

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OCITOCINA SINTÉTICA

Hormônios sintéticos (utilizados para induzir e/ou acelerar o trabalho), analgésicos, epidurais, ou mesmo condições externas como luz forte, por exemplo, podem interferir nessa rede hormonal e interromper o encadeamento fisiológico e a seqüência do trabalho. Hormônios sintéticos causam efeitos físicos em determinada parte do corpo, mas não atuam no comportamento como os hormônios produzidos pelo próprio cérebro, além de possuírem uma ação isolada, não sendo regulados de acordo com o que está acontecendo no resto do corpo da mãe e do bebê.

Quando é ministrada ocitocina sintética a uma mulher durante o trabalho de parto, o número de receptores de ocitocina no útero é reduzido pelo corpo para prevenir uma estimulação em excesso. Isso significa que a mulher tem maiores riscos de hemorragia pós-parto, pois sua própria liberação de ocitocina, crítica nesse momento para contrair o útero e prevenir a hemorragia, será inútil devido ao baixo número de receptores.

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A ocitocina materna atravessa a placenta e entra no cérebro do bebê durante o trabalho, agindo para proteger as células cerebrais fetais “desligando-as”, e diminuindo o consumo de oxigênio em um momento em que os níveis de oxigênio disponíveis para o feto são naturalmente baixos. A ocitocina sintética, porém, não tem a capacidade de atravessar a parede placentária, e não atingirá o organismo do bebê.

Além disso, a ocitocina sintética intensificará em até três vezes a força das contrações. A duração delas também será maior, e os intervalos entre cada uma mais curtos. Isso aumenta a dor, podendo aumentar a tensão da mãe, que produzirá mais adrenalina.

As contrações mais fortes do que o que seria natural para o corpo, e com menores intervalos, podem gerar estresse fetal e diminuir o fluxo de oxigênio para o feto, podendo levar a um quadro de braquiardia, que requerirá mais intervenções.

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CESARIANA ELETIVA Tabulações feitas pela “Folha” no

DataSUS, sistema do Ministério da Saúde, mostram que o percentual de partos cesáreos chegou a 52% do total em 2010. A Organização Mundial da Saúde recomenda uma taxa em torno de 15%. A cirurgia, quando bem indicada, traz benefícios à gestante e ao recém-nascido, mas, quando feita indiscriminadamente, pode elevar os riscos para a mãe e para o feto.

O pulmão é o último órgão a se desenvolver no feto. O trabalho de parto dá início quando há maturação fetal. O pulmão do bebê libera surfactante no liquido amniótico, causando o inicio das contrações. Quando é feita uma cesárea antes dos sinais do TP, a chance de haver complicações respiratórias é muito maior. No Brasil há um sério problema de UTIs neonatais lotadas devido à desconforto respiratório causado por cesarianas prematuras.

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Outro resultado da disfunção iatrogênica é o alarmante número de bebês nascidos com baixo peso no Brasil. Dados do Ministério da Saúde mostram que, no ano passado, o índice de bebês nascidos com menos de 2,5 kg foi de 8,4%. Há dez anos, era de 7,9% --o ideal, para a OMS (Organização Mundial da Saúde), é abaixo de 5%. Para o Ministério da Saúde, o aumento é "progressivo e preocupante". "Estamos criando uma geração de baixo peso, que terá muito mais chance de ter obesidade, diabetes e hipertensão", afirma Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde. O baixo peso ao nascer traz risco de doenças crônicas e reduz a expectativa de vida.

Na cesariana eletiva não ocorre a liberação do coquetel de hormônios que beneficiarão mãe e bebê. A ausência dessa “explosão” de ocitocina no corpo prejudica a formação do vínculo. Mulheres submetidas à cesariana têm mais chance de adquirir depressão pós-parto em relação a mamães que optaram pelo parto natural. Certamente a ausência do “hormônio do amor” é um fator contribuinte.

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No parto normal, a placenta já está pronta e já está tudo pronto para o bebê nascer. Assim que nasce, todos os hormônios estão em perfeita harmonia e há a descida do leite, facilitando a primeira mamada.

O mesmo não ocorre na cesariana; a placenta pode não estar totalmente madura, desorganizando os hormônios, fazendo com que a descida do leite demore mais, prejudicando a primeira mamada do bebê. O desmame precoce é mais incidente em bebês nascidos de cesariana. Estudos indicam uma relação do desmame precoce com o aumento da obesidade infantil, do diabetes, e do aparecimento de alergias.

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AO INVÉS DE OCITOCINA, DROGAS Durante o período pré-natal, o cérebro do bebê está mais vulnerável a

danos irreversíveis. Estudos indicam que substâncias ministradas por volta da hora do parto, mesmo em pequenas doses, podem causar efeitos colaterais na estrutura do cérebro e na química do recém-nascido que talvez não sejam claros até a idade adulta. Os medicamentos ministrados à mãe entram imediatamente na corrente sangüínea e vão igualmente ao bebê, e alguns desses medicamentos serão absorvidos preferencialmente pelo seu cérebro. A meia-vida das substâncias ministradas é muito maior no organismo do bebê

Os medicamentos utilizados em procedimentos de rotina nos partos continuam agindo no corpo da mãe e do bebê por horas após o parto, fazendo com que a mãe esteja sedada no momento de seu primeiro encontro com seu filho, e que o bebê nasça sob efeito dessas drogas, o que causa um imprinting químico no seu cérebro. As conseqüências desse fenômeno poderão ser percebidas na vida adulta como tendência física em reviver tal sensação experienciada no parto, causada por essas substâncias anestésicas. O imprinting previsto pela natureza para o cérebro do bebê neste momento seria aquele realizado pela ocitocina produzida pelo cérebro da mãe e do bebê durante um trabalho de parto sem interferências.

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A primeira impressão deve ser aquela de amor, impulsionada pela ocitocina.

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Recém-nascidos também tem suas necessidades fisiológicas básicas ignoradas. Necessitam de amamentação na primeira hora de vida e contato pele-a-pele.

O “método canguru”, que estimula o colo e o contato pele-a-pele, tem sido um grande auxílio na recuperação mais rápida de bebês, prematuros ou não, que se encontram em UTIs neonatais. O contato torna-se uma ferramenta de cura, é importante que o bebê não fique apenas na incubadora.

A rotina hospitalar é cercada de violência (frio, luz forte, manuseio grosseiro, isolamento). O bebê é induzido a um estado de estresse. A liberação de cortisol também vai prejudicar o desenvolvimento cerebral.

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“PARA MUDAR O MUNDO

É PRECISO MUDARA FORMA DE NASCER”(Michel Odent, obstetra)

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BIBLIOGRAFIA

ODENT, Michel. A Cesariana. 2004 ODENT, Michel. A Cientificação do Amor. 2002 AMORIM, Melânia. Parto Normal vs. Cesárea - (parte 1): a magnitude do

problema. http://guiadobebe.uol.com.br/parto-normal-vs-cesarea-parte-1-a-magnitude-do-problema/

AMORIM, Melânia. Parto domiciliar: refletindo sobre paradigmas. http://guiadobebe.uol.com.br/parto-domiciliar-refletindo-sobre-paradigmas/

LEBOYER, Frederick. Nascer Sorrindo. 1996 Cresce número de bebês nascidos com baixo peso no país

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1014267-cresce-numero-de-bebes-nascidos-com-baixo-peso-no-pais.shtml

Cesárias superam partos normais pela 1ª vez no Brasil - http://www.casaangela.org.br/?p=1580

Cesarianas podem aumentar as chances de depressão pós-parto. http://saude.terra.com.br/noticias/0,,OI5235318-EI16561,00-Cesarianas+podem+aumentar+as+chances+de+depressao+posparto.html

Cesariana prejudica relação afetiva entre mãe e bebê, diz estudo. http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080904_bebe_parto_dg.shtml