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ADOÇÃO: FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO À ADAPTAÇÃO PSICOLÓGICA Profa. Ludmila de Moura 1

Adoção fatores de risco e proteção

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O texto trata de estudos sobre crianças e adolescentes adotados e os cuidados de suas familias adotivas. Procura responder quais comportamentos, tipos de relações familiares e de praticas educativas protegem ou colocam em risco o desenvolvimento dos filhos.

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ADOÇÃO: FATORES DE RISCO E

PROTEÇÃO À ADAPTAÇÃO PSICOLÓGICA

Profa. Ludmila de Moura

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Pesquisas

• Últimas décadas – preocupação em descrever os processos de adaptaçãopsicológica de indivíduos diante de situações adversas ao desenvolvimento sócioafetivo

• Adoção como situação de risco

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Pesquisas

• Diversidade de resultados sobre a adaptação psicológica dos adotivos• Vulnerabilidade psicológica – similaridades nos

índices de adaptação de adotivos e não-adotivos• Comportamento pró-social – adotados apresentam

melhores resultados

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População clínica

•Relativa super-representação dos adotivos na população clínica, especialmente na adolescência

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População não-clínica

• Crianças e adolescentes adotados - maior risco de problemas emocionais e comportamentais

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Pesquisas: críticas

• limitações metodológicas: • Intencionalidade e• Não representatividade da amostra

Viés:- Pais adotivos tem maior cautela em relação ao

ajustamento psíquico dos filhos

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Pais adotivos

- São menos tolerantes e menos negligentes ante as dificuldades – encaminham com mais frequência a atendimento especializado

- Resultado de pressão social – senso comum estabelece entre adoção e problemas?

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Adaptação psicológica

• Steinberg (1999) = ausência de problemas psicossociais, os quais podem ser classificados em 3 categorias:

• Problemas de internalização;• Problemas de externalização;• Abuso de substâncias.

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Problemas de internalização• São aqueles direcionados internamente e

manifestos por meio de perturbações emocionais e cognitivas, tais como depressão, ansiedade, fobia, queixas somáticas.• são mais comuns na puberdade;• + Baixa auto-estima (Fergusson, Lynskey e

Horwood, 1995)

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Problemas de externalização

• São perturbações psicológicas voltadas para o exterior e evidenciadas por problemas de comportamento:

- agressividade, hiperatividade etc

• São mais comuns na infância.

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Investigações dos processos adaptativos

• Historicamente – diferentes perspectivas

• Primeiros estudos – análise dos fatores de risco que agravavam a vulnerabilidade individual• Pesquisas = ocorrência de eventos estressores,

como a negligência e a ausência dos membros familiares

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Adaptação: estudos atuais

• Visam não apenas à explicação das psicopatologias e dos distúrbios evolutivos,

•Mas também os fatores protetivos que moderam a relação entre os riscos e o desenvolvimento dos sujeitos.

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Fatores protetivos

•mecanismos descritos como processos que alteram o comportamento dos indivíduos em ambientes que predispõem a respostas mal adaptativas, possibilitando a adequação à situação adversa e a superação de prejuízos decorrentes de eventos passados (Rutter, 1987, 1993)

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Estudos sobre adoção

•EVENTOS ESTRESSANTES

• X

•FATORES DE PROTEÇÃO

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Enfoque: Eventos Estressantes

• Pesquisas – objetivo de determinar as psicopatologias relacionadas à adoção:

• O abandono e a perda de referências da família de origem justificam, por si, a classificação dos filhos adotivos como uma população de risco.

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Enfoque: Fatores de proteção• Enfatizam, além da experiência de perda

vivenciada pelo adotado:

• Variáveis que desempenham um papel protetivo sobre o desenvolvimento – o autoconceito, as estratégias de coping utilizadas, as relações familiares e as condições socioculturais parentais.

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coping

• Conjunto de esforços emocionais, cognitivos e comportamentais que os indivíduos utilizam para lidar com demandas internas ou externas que surgem ante situações adversas (Antoniazzi, Dell`Aglio e Bandeira, 1998)• Exemplos: busca de suporte social, distração,

evitação cognitiva, busca de informação e modificação do evento estressor.

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Processos de proteção

• Qualidades pessoais dos indivíduos bem adaptados = auto-estima e ausência de depressão = índice de saúde emocional;• Importância de elementos externos:

aspectos familiares (como o estilo parental) e o apoio social.

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Estudos sobre adaptação e resiliência

• Têm supervalorizados as variáveis externas, como condições sócioeconômicas e índices comportamentais de competência, como desempenho escolar.

• Resiliência refere-se à capacidade dos indivíduos de superar as situações de risco vivenciadas

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Auto-estima

• Refere-se à apreciação que os sujeitos fazem de seus próprios atributos•Medida global de auto-representação que

implica um julgamento de valor afetivo do indivíduo sobre seus predicados pessoais• considerado com o principal indicador de

saúde mental

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Auto-estima

• Embora no início da adolescência os indivíduos sejam suscetíveis à maior inconstância dos sentimentos sobre si, a auto-estima tende à estabilidade ao longo do ciclo vital.

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Auto-estima: pesquisas

• Indivíduos de maior poder aquisitivo ou do sexo masculino – apresentam níveis mais elevados de auto-estima;

•Menor auto-estima entre o sexo feminino – as meninas apresentam menor satisfação com sua auto-imagem.

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Antecedentes e Consequentes da Auto-estima

•Na adolescência – a alta auto-estima é vinculada principalmente à aprovação social e ao desempenho acadêmico

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Adolescentes adotivos

•Dificuldades de adaptação de adolescentes adotivos:• relacionadas à questões de aprovação

social – experienciou a não- aceitação da família biológica e, em muitos casos, a discriminação por ser adotivo.

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Preconceito sobre adoção

• 28% de 410 adultos – acreditam que os adotivos sofrem preconceitos e que, “cedo ou tarde, apresentarão problemas de ajustamento psicológico” (Weber, 1999)

• 70 % das mães adotivas investigadas relataram já ter vivenciados episódios de discriminação em razão da situação adotiva de seu(s) filho(s) (Reppold e Hutz, 2001)

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Ajustamento psicológico e adoção•A exposição a situações estressantes

altera a auto-estima e a rede de apoio familiar, tornando os indivíduos mais vulneráveis a disfunções psicológicas (Rutter, 1987)

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Ajustamento psicológico e adoção• Pesquisas longitudinais – a maioria dos

adotados tem baixa auto-estima.• A baixa auto-estima pode estar associada às

adversidades do processo de crise de identidade inerente à adolescência; • A falta de conhecimento sobre sua origem

genealógica dificulta o desenvolvimento da auto-imagem e da auto-estima dos adotados;

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Ajustamento psicológico e adoção•Perda de auto-referência:• troca do prenome na ocasião da adoção

– maior problema com crianças adotadas tardiamente – negação da história pregressa e necessidade de reconhecer-se em uma nova identidade.• (Berry, 1992)

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Ajustamento psicológico e adoção• Outros estudos;• Não encontram diferenças significativas em relação

à auto-estima nos grupos adotados e não-adotados.• Adolescentes de 16 anos, criados só por um dos

pais biológicos, tem duas vezes menos auto-estima do que adolescentes adotivos ou criados por ambos os pais biológicos (Fergusson, Lynskey e Horwood, 1995).

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Ajustamento psicológico e adoção• Adoção internacional: os indivíduos

adotados por famílias estrangeiras, em geral, desenvolvem uma auto-estima positiva.

• Indicações de que adotados apresentam melhores índices de auto-estima do que outros não-adotados (Groze, 1992)

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Ajustamento psicológico e adoção

• Estas pesquisas mostram que, em alguns casos, a adoção modera o risco de desadaptação psicológica que poderia haver, em potencial, na história pregressa do sujeito.

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Estilos parentais

•Os comportamentos parentais influenciam a auto-estima dos adolescentes em geral, podendo atuar como um fator de risco ou de proteção ao desenvolvimento psicológico.•Pais afetivos são mais propensos a

terem filhos com auto-estima positiva.

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Efeitos da auto-estima

• a literatura descreve um impacto causal da auto-estima sobre diversos problemas de internalização, inclusive a depressão (Grotevant, 1998).

• A auto-estima é um preditor dos sintomas depressivos (Nolen-Hoeksema, Girgus e Seligman, 1992)

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Depressão

• Experiências estressoras, como o acúmulo de perdas, a exposição a julgamentos preconceituosos e os conflitos familiares, promove a diminuição da auto-estima e a emergência de sentimentos de desamparo e rejeição.

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Etiologia da depressão

•Diversidade de hipóteses:

•Modelos teóricos mais coerentes = integrar adversidades contextuais (eventos de vida estressores) a fatores biogenéticos.

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Depressão

•distúrbio psicológico de maior prevalência na adolescência:

• - amostras não-clínicas:• - meninos – 20 a 35 %• - meninas – 25 a 40 %

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Adolescentes adotados

•Aumento do índice de problemas de comportamento e uma diminuição nos aspectos relativos à competência, contrário do que ocorre na população em geral.•Podem ser indício de uma “depressão

mascarada”

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Adolescentes adotados

• Resultados controversos – vulnerabilidade psicológica associada à adoção:• Pesquisas = não encontrada diferença quanto à

depressão em adotivos e não-adotivos;• Crianças e adolescentes criados por sua família de

origem apresentavam mais sintomas depressivos do que os adotados;

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Riscos de vulnerabilidade – dos adotados• Experiências de perda;• Vivências pré-natais;• História pregressa em instituições;• Desconhecimento de sua origem genealógica;• Problemas relacionados à identidade pessoal;• Dificuldades no processo de revelação da adoção;• Estigma social que envolve o processo adotivo.

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Experiências prévias dos adotivos• Em geral – história difícil, com recursos e estímulos

escassos;• Crianças institucionalizadas, adotadas até o

primeiro ano de idade, não apresentam problemas de comportamento (Bohman e Sigvardsson, 1980)• Diferenças no níveis de ajustamento psicológico

entre adolescentes adotados são minimizadas com o passar do tempo;

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Predisposição genética

• Pais adotivos tem menor propensão aos distúrbios psíquicos do que pais biológicos – oferecem melhores condições de adaptação aos adotados;• Pais adotivos apresentam menores índices de

alcoolismo e criminalidade do que os pais biológicos;• Pesquisa com filhos adotivos - os efeitos congênitos

da depressão são menores do que os efeitos ambientais;

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Fatores protetivos de depressão• Autopercepção positiva,• Competência social;• Bom rendimento escolar;• Apoio social percebido;• Responsividade e atitudes disciplinares dos

pais.

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Estilos parentais

• Características da interação entre pais e filhos;• Conjunto de expressões (comportamentos

verbais e não-verbais) emitidas pelos pais durante as situações em que almejam a socialização de seus filho.

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Estilos parentais - duas dimensões:•Responsividade – oferta de assistência

emocional e o respeito à individualidade do filho;

• Exigência – supervisão e disciplina oferecidas pelos pais.

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Quatro estilos parentais

• Autoritativo: alto grau de monitoramento e aquiescência;• Autoritário: disciplina rígida e pouco afetiva;• Indulgente: baixo nível de controle parental

e alto nível de responsividade;• Negligente: pouca atenção e apoio e baixa

imposição de regras ou limites.

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Estilos parentais e adaptação psicológica

•Reppold (2001) – novas perspectivas na avaliação psicológica das famílias adotivas ao propor os estilos parentais como um fator moderador da adaptação dos adolescentes adotados;

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Avaliações psicodiagnósticas• não supervalorizarem a condição adotiva,

mas considerarem a influência de outras variáveis socioculturais, como a interação familiar, as estratégias de socialização utilizadas pelos pais, o histórico da adoção, as experiências prévias e o apoio social.

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Padrões de socialização parentais• Filhos adotivos: percebem os pais

adotivos como mais indulgentes;

• Filhos biológicos: percebem os pais biológicos como mais negligentes.

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Pais adotivos

• Alta frequência de estilos indulgente ou autoritativo:• Grande investimento afetivo que envolve a adoção;• Entrevistas de avaliação psicossocial – habilitação

legal – refletir sobre motivação e expectativas quanto à parentalidade, às diferenças entre a afiliação adotiva e a biológica, quanto à história precedente da criança.

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Famílias adotivas - indulgentes

•Tentativa de compensação das situações adversas vividas pelo filho, ou fantasiadas pelos pais?;

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Famílias adotivas - indulgentes•A permissividade parental pode ser

uma estratégia (não muito assertiva) de (super)proteção dos pais, visando à demonstração de apoio e aceitação do filho no círculo familiar;

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Famílias adotivas - indulgentes• Idéia de compensação – representação de que a

entrega à adoção implica necessariamente em falta de afeto e rejeição por parte da família biológica.

• Doação do filho – motivos:• Morte ou psicopatologia dos cuidadores;• Falta de recursos econômicos;• Ausência do companheiro para criar a criança.

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Famílias adotivas - indulgentes• Insegurança parental – valorização social dos laços

consanguíneos;

• Pais não se sintam legitimados a assumir suas funções de parentalidade e a determinar ordens que contrariem a vontade do filho, sem temer que este o abandone.

• fantasia de “roubo” do filho

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Famílias adotivas - indulgentes•Características de adolescentes criados

sob um estilo indulgente: problemas de comportamento, baixo rendimento acadêmico; melhores índices de comportamento pró-social = comum também em adolescentes adotados;

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Famílias adotivas - indulgentes• Super representação de adotivos em

amostras clínicas – baixo índice de negligência dos pais, que oferecem atenção e apoio aos problemas apresentados por suas crianças e adolescentes.• Os pais adotivos são menos omissos diante

das dificuldades dos filhos.

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Conclusões

• Fornecer subsídios para que as famílias adotivas possam qualificar suas estratégias de ação, promover melhores índices de adaptação, minimizar os receios, muitas vezes infundados, sobre o ajustamento dos filhos adotados e compreender que a família é uma realidade social que interage com a biologia, mas não se subjuga a esta.

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Conclusões

• Encorajar os pais adotivos a assumir suas funções de parentalidade (um ambiente afetivo + um controle protetivo) e preparados para apoiar os filhos em tarefas importantes, como o resgate de suas origens culturais e biológicas.

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Referência

• REPPOLD, C. T. E HUTZ, C.S. Adoção: Fatores de Risco e Proteção à Adaptação Psicológica. In: HUTZ, C.S. (org.) Situações de Risco e Vulnerabilidade na Infância e na Adolescência – aspectos teóricos e estratégias de intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

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