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DISCURSOS BARROCOS: A IMPORTÂNCIA DO SPHAN E DO IHGP PARA A

PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA SOBRE O BARROCO1

RESUMO

Pensar o barroco na América Portuguesa, olhando pelo seu viés

teórico, é algo instigante, complexo, exigindo diversas cautelas

por parte do pesquisador, devido às interfaces que o tema possui.

Na tentativa de compreender e sistematizar a concepção do Barroco

construída pelos estudiosos e intelectuais brasileiros foi preciso

penetrar o universo das culturas histórica e historiográfica

brasileira, o que se intentou fazer por meio da análise de

publicações periódicas específicas, escolhidas por sua relevância

quanto à temática, bem como por sua longevidade, contribuindo para

a construção de uma teoria sobre o barroco brasileiro e o

litorâneo. Dessa forma, procedeu-se uma análise meticulosa sobre

as revistas do SPHAN e do IHGP, devido a importância desses

1 Essa pesquisa foi fruto do projeto intitulado O barroco no Brasil:(Des)conexões históricas, cujo plano de trabalho está intitulado: Uma revisãoacerca das teorias sobre o barroco no Brasil, financiado pelo CNPq entre os anosde 2011 e 2012.

1

institutos, em paralelo a um aprofundamento no campo da Teoria,

Crítica e História da Arte.

PALAVRAS CHAVE: Barroco; América Portuguesa; Teorias.

O mundo no século XX se via frente a constantes

mudanças. Inovações tecnológicas, após a Primeira Guerra

mundial trouxeram novas significações paulatinas para o mundo

através de elementos advindos da tecnologia. Como ápice deste

processo, já às portas do século XXI podemos mencionar a

telefonia móvel e a internet. Essas inovações foram,

gradativamente, interferindo cada vez mais no modo de ser e

de viver no mundo contemporâneo, o que despertou o interesse

das nações pela preservação do patrimônio nacional. O passado

passou a ser visto com outros olhos, a modernidade

ressignificou muitas coisas e ‘esqueceu’ propositalmente de

outras. A preservação do patrimônio tornou-se necessária,

visto que “na atualidade, a noção de patrimônio passa a ser

2

prioritariamente entendida como memória do futuro” (CHUVA2,

2009, p. 44). Dessa forma, preservar o patrimônio é guardar a

memória dos antepassados para que ela seja de fato um legado

para as gerações vindouras.

Essa ideia de preservar o patrimônio em seus diversos

aspectos – sejam eles o cultural, o natural, o arqueológico

ou o imaterial – adquire morosamente um caráter cada vez mais

relevante e é estimulada por diversas instituições e,

consequentemente, pelas políticas que estas defendem. Dentre

tais organizações, podemos destacar a própria ONU, que

através da UNESCO, procura fomentar a adoção de políticas

públicas pelos Estados que dela participam, elaborando

documentos e diretrizes que se consolidaram por meio de uma

agenda diversificada e de largo alcance, que chega mesmo a

influenciar até empresas privadas que se voltam para a

questão do patrimônio cultural e de sua preservação, mesmo

que por meio de renúncias fiscais e do marketing cultural.

Prova disso pode ser percebida no fato de a União Europeia

ter proclamado a década de 1990 como “a década do

patrimônio,” incentivando estudos, formação de profissionais2 CHUVA, Márcia Regina. Os arquitetos da memória: sociogênese das práticas depreservação do patrimônio cultural no Brasil (anos 1930-1940). Rio de Janeiro:Editora UFRJ, 2009. Esse trabalho é de grande importância para quem deseja seaprofundar na temática.

3

e implantação de políticas e ações de educação patrimonial, a

fim de envolver todos num processo de preservação patrimonial

constante.

Entre esses órgãos de preservação, temos o SPHAN, órgão

de proteção ao patrimônio cultural criado por Getúlio Vargas

em 1937, por meio do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro

daquele ano, tornou-se responsável por uma série de pesquisas

e levantamentos documentais acerca dos bens históricos,

artísticos e culturais brasileiros. Dessa forma, surgiu já

naquele ano a Revista do SPHAN, com o intuito de divulgar os

resultados de tais pesquisas e contribuir para a circulação

das ideias sobre os temas foco da instituição.

A busca por elementos fundantes da identidade brasileira

e sua respectiva proteção, no âmbito patrimonial, foi durante

muitos anos a bandeira do órgão. A Revista do SPHAN expunha suas

principais atividades e durante muitas décadas foi

praticamente o único veículo de divulgação dos estudos sobre

os temas objeto do órgão. Foi em suas páginas que começou a

ser esboçada uma História Geral da Arte e da Arquitetura do

Brasil colonial, inclusive com a presença de intelectuais

4

estrangeiros pioneiros no que se refere à pesquisa sobre o

Barroco no e do Brasil, como Hanna Levy e Robert Smith.

O imenso incentivo feito pelo SPHAN, nos anos

iniciais foi no sentido de construir uma arte

brasileira que se enquadrasse nos padrões

universais. O resultado foi, propriamente, a

invenção do barroco brasileiro. A partir da

década de 1950, a arquitetura do Brasil passaria

a ser incorporada nas histórias das artes e da

arquitetura de caráter geral ou regional. A

Revista do Sphan foi, portanto, peça-chave nesse

processo. (CHUVA, 2009, p. 29)

Com esse direcionamento para construir uma arte

brasileira, temos a influência no órgão de vários estudiosos

da área. Inúmeras foram as contribuições de Rodrigo Mello

Franco de Andrade3 para a instituição: além daquelas de cunho

prático e teórico, suas relações com instituições e

pesquisadores estrangeiros foi base para a própria concepção

e circulação da revista. No periódico podem ser encontrados

3 Crítico de Arte e historiador, dirigiu o SPHAN por 30 anos, entre 1937 e 1967.

5

artigos referentes a monumentos, arqueologia, movelaria e

história da arquitetura, ou seja, a revista abrangia os mais

diversos níveis do patrimônio, através da exposição dos temas

e de incentivo à sua preservação.

O conjunto de autores da Revista emprestou, além de

sua incontestável qualidade literária, um caráter

de “seriedade científica” aos meios e técnicas

que, aos poucos, eram criados e se configuravam

na ação do Sphan. A Revista seria um dos

instrumentos para a consolidação da nova área de

intervenção estatal, participando do processo em

que foi criada a “causa” do patrimônio. Esses

autores exerceram, assim, importante papel da

criação e legitimação da “causa” e na

hegemonização das concepções de patrimônio

história e artístico nacional que insistentemente

veicularam, por meio do privilégio dado ao

recorte temático, que coincidia em grande medida,

com o recorte na seleção dos bens para

tombamento. (CHUVA, 2009, p. 263-264)

A Revista do SPHAN pode ser vista, assim, como um exemplo

de veículo de divulgação de cultura histórica, pois abarcava

6

discursos provenientes dos mais diferentes meios e voltados

para a História. Contribuições de sociólogos, arquitetos,

engenheiros civis, escritores, historiadores (gerais e da

arte) e restauradores estiveram sempre presentes nas páginas

do periódico. Trata-se de uma produção que, para os

historiadores, foi indelével por ter sido feita, muitas

vezes, a partir de fontes inéditas e por tratar de temáticas

também inéditas, o que contribuiu sobremaneira para a

produção da historiografia brasileira ao longo do século XX,

já que o periódico circulou, mesmo com algumas interrupções,

até 2002.

Outro órgão que também foi produtor de uma

historiografia brasileira foi o IHPG, o Instituto Histórico e

Geográfico Paraibano foi fundado em 7 de setembro de 1905.

Ele é a mais antiga instituição cultural da Paraíba,

totalizando 107 anos de funcionamento. No acervo do Instituto

encontram-se diversas fontes importantíssimas para os

historiadores e pesquisadores da História da Paraíba e do

Brasil: documentos originais que vão da Colônia à República,

7

mapas antigos, coleções de jornais e revistas, obras raras e

arquivos privados4.

A historiografia paraibana iniciou-se justamente com as

principais figuras fundadoras do Instituto.

A iniciativa dos pais do Instituto foi bem

acolhida pelos seus sucessores, que continuaram,

num labor incessante, a “fazer”, a História da

Paraíba. E nesse rol vamos encontrar Adhemar

Vidal, Alcides Bezerra, Antônio Freire, Celso

Mariz, Clóvis Lima, Eduardo Martins, Elpídio de

Almeida, Florentino Barbosa, Francisco Coutinho

de Lima e Moura, Francisco Barroso, Francisco

Lima, Horácio de Almeida, Humberto Nóbrega,

Irineu Joffily, João Lélis, João de Lira Tavares,

José Américo de Almeida, José Baptista de Mello,

José Gomes Coêlho, José Leal, Lauro Xavier. Leon

Clerot, Luiz Pinto, Matheus de Oliveira, Oscar de

Castro, Pedro Baptista, Pedro da Cunha Pedrosa,

4 Essas informações foram extraídas do sítio eletrônico oficial da instituição.IHGP. Sítio institucional. Disponível em: <http://www.ihgp.net/>. Acesso em: 18 set.2012.

8

Raul de Góes, Rodrigues de Carvalho, Sabiniano

Maia, Veiga Júnior e outros já falecidos.5

Esses autores, nas suas mais diversas áreas,

contribuíram para a produção de uma cultura histórica e

historiográfica sobre a Paraíba, já que a partir de 1909 a

instituição passou a publicar sua Revista, que se torna um

periódico muito significativo para a divulgação das pesquisas

de historiadores e pesquisadores de áreas afins na Paraíba,

já antes da criação de um meio acadêmico no Estado, posto que

o curso de graduação em História hoje vinculado à UFPB foi

criado apenas em 1955, na antiga Faculdade de Filosofia,

federalizada anos depois.

As produções do SPHAN e o IHPG foram fulcrais para a

formação da historiografia brasileira, principalmente no que

tange ao período colonial. A fim de visualizar a formação da

história da arte colonial no Brasil, busquei inicialmente os

artigos sobre a História da Arte, o Barroco e sobre a Arte na

Paraíba.

Quanto ao objeto de temática tratado, a Revista do Sphan,

entre 1937 e 2002 teve, 67 artigos recenseados. Com o

5 Idem.

9

intenção de contribuir para a construção de uma teoria do

barroco brasileiro e litorâneo, foi feito o recenseamento da

Revista do IHGP. A primeira edição da Revista do IHGP foi publicada

em 1909. Analisamos 35 números do periódico, estabelecendo o

mesmo limite temporal de 2002 (definido pela descontinuação

da Revista do SPHAN), buscando nosso objeto de estudo. Nestas 35

edições encontramos 15 artigos referentes à história da arte

e do Barroco na Paraíba.

Além da leitura das revistas do SPHAN e do IHGP as

leituras de Affonso Ávila, em Barroco: teoria e análise6 (1997),

John Bury, em Arquitetura e arte no Brasil colonial (2006) e Percival

Tirapeli e Wolfang Pfeiffer7, em As mais belas igrejas do Brasil

(1999), contribuíram para a produção do conhecimento

histórico sobre as teorias do Barroco que circulam pelo

Brasil. Essas leituras foram feitas paralelamente com as

leituras de Peter Burke8, aliadas a textos de Roger Chartier

e outros autores afins.

6 ÁVILA, Affonso. Barroco: Teoria e Análise. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte:Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, 1997.7 TIRAPELI, Percival & PFEIFFER, Wolfang As mais belas igrejas do Brasil. São Paulo:Hamburg Donnelley gráfica e Editora, 1999.8 BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Tradução de Vera Mª Xavier dosSantos. Bauru: EDUSC, 2004 [2001].

___________. O que é História Cultural? Tradução de Sergio Góes de Paula. Rio deJaneiro: Jorge Zahar, 2005 [2004].

10

Depois de recenseados tais artigos nas aludidas

revistas, busquei os principais quanto às temáticas e

analisei as suas principais ideias. Sobre história da arte,

pude encontrar nas revistas do SPHAN três artigos referentes

ao tema, de autoria da alemã Hanna Levy, historiadora da arte

que chegou ao Brasil como refugiada do Nazismo, e produziu

artigos referentes à área e contribuiu com os serviços do

órgão, realizando estudos sobre patrimônio e discussões

jurídicas durante o período em que viveu no país.

Com foco voltado para as questões referentes à história

da arte colonial brasileira, o primeiro número de publicação

da Revista do SPHAN, em 1937, traz um artigo de autoria de

Gilberto Freire intitulado Sugestões para o estudo de História da Arte

brasileira em relação com a de Portugal e das colônias9. No referido

artigo, as necessidades e problemas quanto à arte culta e

popular referentes ao Brasil e Portugal são expostas. O

‘plasticidade’ do homem português é exaltada por Freire, como

se pode observar na citação abaixo:

Um povo com uma capacidade única de perpetuar-se

em outros povos. Dissolvendo-se neles a ponto de

parecer ir perder-se nos sangues e nas culturas

9 Revista do SPHAN, n. 1, 1937, p. 45-48.

11

estranhas mas ao mesmo tempo comunicando-lhes

tantos dos seus motivos essenciais de vida e

tantas das suas maneiras mais profundas de ser

que, passados séculos, os traços portugueses se

conservam na face dos homens e na fisionomia das

casas, dos móveis, dos jardins, das embarcações,

das formas de bolo. (FREIRE, 1937, p. 41)

Como dito acima, nota-se a exaltação que o autor faz ao

povo luso, exaltação essa que nos deparamos não apenas nesse

artigo, mas também em obras importantes do autor, como Casa

Grande e Senzala, no qual o autor deixa claros alguns aspectos de

sua visão sobre a superioridade do português ante os povos

indígenas e africanos.

A arte portuguesa no além-mar dissolveu-se e persistiu

em suas combinações inesperadas, mas que guardam

essencialmente o sabor do original: das raízes hispânicas. A

arquitetura religiosa e militar portuguesa permaneceram no

Brasil quase sem alterações:

(...) a força criadora do português, em vez

de se impor, com intransigência imperial,

12

ligou-se no Brasil ao poder artístico do

índio e do negro, e mais tarde, ao de outros

povos, sem entretanto desaparecer:

conservando-se em quasi [sic] tudo o elemento

mais característico. (FREIRE, 1937, p. 45)

Essa sentença é apreendida por vários autores, como por

exemplo, a Janice Theodoro10 (1997), que expõe a plasticidade

do barroco e seu poder de penetração e de ressignificação,

através da incorporação de elementos locais e trocas com o

mesmo ambiente. Visto que a arte oriunda da América

Portuguesa também influenciou a arte lusa.

O poder de persistência na arte portuguesa deve ser

estudado, como também a influência de outras culturas tais

como a da Índia, África, China e do Japão através de

Portugal, que assimilou para a América portuguesa traços

exóticos.

Outro texto com a temática a fim é o artigo Ligeiras notas

sobre a arte religiosa do Brasil11, de Augusto de Lima Júnior. Como o

10 THEODORO, Janice. O barroco como conceito. Revista do IFAC, Ouro Preto, Institutode Filosofia Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto, n. 4, dez.1997, p. 21-29.

11 Revista do SPHAN, n. 2, 1938, p 83-107.

13

próprio título sugere, o autor expõe notas alusivas à arte

religiosa no Brasil.

Iniciando, o autor critica a ideia de barroco-jesuítico;

segundo ele, a maioria das nossas capelas são pré-românicas

portuguesas ou barrocas da Escola de Mafra ou de Nasoni. O

barroco brasileiro tem seu aparecimento notável no século

XVIII, tendo a arte jesuítica papel influenciador

principalmente na pintura. Sobre caracteres arquitetônicos o

autor fala que

Até o final do século XVII a preocupação do

símbolo supera a decoração e o espirito religioso

domina o conjunto. Em certa altura verifica-se um

equilíbrio entre as duas tendências até que a

suntuária decorativa apossa-se inteiramente da

concepção. Esta, depois de 1770 decái na

simplicidade monótona e deselegante, clássica nos

modelos do final do século. (LIMA JR, 1938, p.

84)

Essa preocupação com o símbolo reafirma a ideia de uma

arte-arquitetura voltada para uma educação visual, tão

necessária na época e no local. Tendo em vista o poder

14

simbólico do barroco e sua utilização, podemos observamos na

citação abaixo:

A figura deve evocar a santidade porque é ao

sentido divino e edificante que os Santos

representam que se dirige o culto e não

propriamente aos aspectos físicos da imagem. Tudo

quanto puder atrair a atenção da criatura e

incutir uma sugestão do amor a Deus, indicar uma

lição de piedade, mostrar o caminho da perfeição,

constitui uma boa técnica da imagem. (LIMA JR,

1938, p. 88 – grifos nossos)

Como se pode observar, a função do barroco na colônia

através do poder simbólico foi algo bastante útil e

constantemente empregado, tendo em vista a profusão de

elementos desse tipo nas nossas igrejas. Sobre o uso da

simbologia como um poder de persuasão mergulhei nas ideias de

Carla Mary Oliveira12 (2003) e de Omar Calabrese13 (1987)

sobre simbologia e encontrei a veracidade desse poder

12 OLIVEIRA, Carla Mary S. O barroco na Paraíba: arte, religião e conquista. JoãoPessoa: Ed. Universitária/ UFPB; IESP, 2003.13 CALABRESE, Omar. A linguagem da arte. Lisboa: Presença, 1986 [1985].

15

simbólico. Vale ressaltar que os símbolos não são utilizados

apenas para a catequese: “No cristianismo, quando se trata de

mistérios intraduzíveis ou que envolvam concepções

transcendentes, intervêm os símbolos” (LIMA JR, 1938, p. 88),

dessa forma todo o universo cristão pode ser utilizado sendo

temática para esse artifício.

Dando continuidade a análise sobre os artigos

selecionados, temos outro artigo notável que é de autoria de

Lúcio Costa, Arquitetura dos Jesuítas no Brasil14. No aludido artigo a

expressão e influência artística dos jesuítas é posta em

pauta.

Alguns críticos denominaram a arte religiosa do período

entre os séculos XVII e XVIII de arte jesuítica. Lúcio Costa

acredita que o barroco, dito europeu, ao chegar à América

Portuguesa, vai paulatinamente perdendo suas características

naturais e incorporando uma marca que vai identificar a sua

personalidade, que é o “espirito” jesuítico”: “O ‘espirito’

jesuítico, vem sempre à tona: – é a marca, o ‘cachet’ que

identifica todas elas e as diferencia, à primeira vista, das

demais” (COSTA, 1941, p. 10).

14 Revista do SPHAN, n. 5, 1941, p 7-98.

16

Considerando que os jesuítas são uma ordem nova e

diferente. O estilo jesuítico traz as manifestações 'mais

desenvoltas do barroco'. Aqui no Brasil a obra dos jesuítas

remonta o que temos de mais “antigo”, descendendo de um

estilo renascentista e contrarreformista: “Não se trata, por

conseguinte, de uma arte bastarda, como pretendem alguns, mas

de uma nova concepção plástica, liberta dos preconceitos

anteriores e fundados em princípios lógicos e sãos” (COSTA,

1941, p. 11), que, por conseguinte, contribui para a

originalidade do Barroco brasileiro.

Outro assunto abordado nessa temática relativa à arte do

Brasil colonial é A azulejaria no Brasil15, que foi objeto de

pesquisa no artigo de José Miguel dos Santos Simões. A

azulejaria é uma temática bastante ampla, mas com poucos

trabalhos direcionados para tal. O artigo vem ser inovador

nessa temática nas revistas do SPHAN. O emprego das cerâmicas

no revestimento de prédios tem gerado algo bastante peculiar

para a arte-arquitetura lusitana no Brasil. Em 1955, Mário

Barata faz uma tese sobre azulejos no Brasil, que foi de

grande contribuição para a temática. O artigo de José Miguel

15 Revista do SPHAN, n. 14, 1959, p. 6-15.

17

tem por objetivo pormenorizar a situação dos estudos sobre

azulejo.

A importação e instalação dos azulejos acompanharam o

desenvolvimento artístico da época.

Serão de cerca de 1620-1640, os exemplares mais

recuados no tempo – os que foram do Convento de

Santo Amaro-o-Velho conhecido por Santo Amaro de

Água-fria, do Engenho Fragoso, em Olinda, ora

recolhidos no Museu Regional de Olinda; os da

capitular do Convento Franciscano, também em

Olinda; alguns do antigo Colégio dos Jesuítas

desta mesma cidade; os estranhos exemplares, de

padrão para mim desconhecido, do magnífico

cenóbio franciscano de João Pessoa (Paraíba),

enfim, os da Igreja e sacristia dos Jesuítas do

Salvador, agora Sé Catedral. (SIMÕES, 1959, p.

11-12, grifos nossos)

Os esquemas decorativos seguem a linha tradicional

portuguesa. A influência europeia teve todo o aparato

decorativo nas igrejas. Durante o séc. XVII intensificam-se a

18

construção de engenhos, templos e sobrados. O autor se refere

aos azulejos de produção joanina.

Mas, quanto a mim, e independentemente do valor

histórico ou artístico que a azulejaria do

período dito ‘colonial’ possa ter, é o fenômeno

‘brasileiro’ do século XIX o que mais merece ser

estudado deste lado do Atlântico, já que ele

representa a continuação no tempo da grande

tradição azulejar portuguesa, agora com novos

aspectos, adaptada ao novo país e que, por sua

vez, vai influenciar, passados anos, a própria

azulejaria em Portugal! (SIMÕES, 1959, p. 15)

Na vinda da família real para o Brasil, o autor remonta

a ideia de que os azulejos saem dos interiores e passam a

decorar a parte externa dos edifícios. A circulação de

folhetos e imagens contribuiu bastante para esse fenômeno

brasileiro. A presença de azulejos holandeses também faz

parte do acervo azulejar brasileiro.

A partir do nº 19 da Revista do SPHAN, lançado em 1984,

começam a surgir questões acerca de educação patrimonial e

políticas públicas. Nessa edição da revista temos o último

19

artigo referente ao O Barroco no Brasil: análise da bibliografia crítica e

colocação de pontos de consenso e de dúvidas16, de autoria de Augusto

C. da Silva Telles.

Com a criação do SPHAN, o barroco teve uma ascensão e

diversos estudos voltados para o mesmo. Para Teles os autores

estrangeiros são os primeiros a discutir aspectos teóricos do

barroco no SPHAN. O fato do Barroco se ter iniciado no Brasil

é outra controvérsia, através de antigas talhas.

Na segunda metade do setecentos, em duas áreas –

no Nordeste e em Minas Gerais ocorreu o

aparecimento de partidos arquitetônicos que se

apresentaram como características próprias,

apesar de acompanharem, de uma maneira geral, o

que ocorria em Portugal. (TELLES, 1984, p. 170)

Essa apropriação do barroco dos elementos locais,

reservando suas características gerais é elemento típico do

barroco. Esse artigo é o último nas revistas do SPHAN,

referente à arte barroca brasileira, os próximos artigos

analisados possuem peculiaridades regionais em que são

analisadas experimentações barrocas regionais.

16 Revista do SPHAN, n. 19, 1984, p. 125-137.

20

Ainda sobre a arte barroca brasileira, se tem o artigo

de título Arte religiosa no Brasil17 de autoria do Pe. Francisco

Lima. O autor inicia o texto falando que não existe uma arte

essencialmente religiosa ou essencialmente pagã, o que existe

é uma arte essencialmente arte nos limites da sua compreensão

lógica.

O que caracteriza principalmente a obra de

arte é a beleza que contém o gôzo estético

que provoca. Comover é o fim superior e a

virtude primordial da arte. E o artista para

comover é preciso que tenha na sua criação

pensamento, emoção, imaginação e a forma que

constituem a inspiração, excluindo a

imperfeição e a deformidade que enojam o

espirito. (LIMA, 1961, p. 77).

O autor mistura frases e pensamentos de Michelangelo e

de Rafael para mostrar a essência da obra de arte e da

sentimentalidade do autor. A arte cristã no Brasil dos

séculos XVII-XIX traz consigo uma tendência do homem para o

absoluto, para o infinito. O autor segue sua análise falando

17 Revista do IHGP, n. 14, 1961, p. 77-84.

21

sobre o barroquismo na arte religiosa do Brasil. Sobre o

barroquismo, o autor fala que:

O barroquismo é a tortura da forma, dizem, é

o exibicionismo na arte, é angústia e a

perplexidade no tentame de concretizar o

belo, é o enxunáioso, o desnecessário, o

perifrástico, o refolhudo, procurando afogar

num oceano de ornatos e às vezes num mar de

ouro o elemento que recebeu do classicismo:

uma coluna, uma arquitrave, uma pilastra um

triglifo. Com todos estes percalços, dizemos

nós, o barroquismo é simplesmente humano,

traduzindo a inquietude humana na busca do

ideal, a sede da perfeição humana que neste

mundo nunca se sacia... (LIMA, 1961, p. 79)

Perfeição, humanidade, inquietude... esses termos são

usados pelo Lima para se referir ao barroco. Por fim, o autor

conclui sua análise chamando atenção para alguns dos

monumentos de arte religiosa no Brasil. Dessa forma, os

artigos presentes em ambas revistas sobre o Barroco no Brasil

se findam.

22

Depois te findar a análise sobre os artigos que

dissertam sobre a arte barroca no Brasil, inicie uma breve

discussão sobre os artigos que falam de peculiaridades

regionais e até mesmo locais. Para começar, observei o artigo

de Godofredo Filho intitulado Alguns monumentos de arquitetura

religiosa no Brasil18. O autor inicia o texto se referindo aos

monumentos religiosos do Brasil, os mais notáveis como os do

Rio, Bahia, Minas Gerais e São Paulo. O artigo é repleto de

uma documentação fotográfica e estruturado da seguinte forma,

como se pode observar no quadro 1:

CONSTRUÇÃO RELIGIOSA CARACTERISTICAS

Igreja do antigo colégio

dos jesuítas em São Pedro

da Aldeia

Fachada simples, pura e equilibrada,

construído em 1723

Seminário de Belém da

Cachoeira

O edifício possui uma simplicidade externa

e uma decoração interna impecável por uma

beleza oriental. As linhas arquitetônicas

partem de uma fria correção e de uma

rebuscada severidade em que o barroco se

adapta a exuberância da natureza e da

imaginação

Igreja dos Montes Construída na época da invasão holandesa, a

18 Revista do SPHAN, n. 1, 1937, p. 118-140.

23

Guararapes igreja foi refeita e resta da atual uma

lousa na qual o seu mentor escreveu a sua

promessa. Ela possui no seu interior um

painel de arabescos, típicos das

construções beneditinas.

Quadro 1: Construções religiosas e suas características na obra de Godofredo Filho, 1937

Essa caracterização dada por Godofredo é bastante

didática quanto à forma de se catalogar e descrever as

experimentações artísticas barrocas, tendo em vista que esse

estudo influenciou notavelmente os sucessivos.

Outro artigo com uma discussão regional é o de Ayrton

Carvalho, Algumas notas sobre o uso da pedra na arquitetura religiosa do

Nordeste19. Nele o autor trata do uso da pedra nas construções

das igrejas colônias do Nordeste. Tendo em vista que a pedra

é um dos principais materiais usados nas construções das

igrejas coloniais nordestinas. O material usado na maioria

dos casos é local, visto que o barroco se apropria desses

elementos locais, e trabalha de acordo com recursos técnicos

que são favoráveis.

Os padres e os artistas procuraram tirar partido

da facilidade com que o calcáreo é trabalhado,

19 Revista do SPHAN, n. 6, 1942, p. 275-292.

24

ornamentando primorosamente as portadas das

igrejas, os lavabos, os socos do altar-mor,

chegando mesmo a executar verdadeiras esculturas,

como as que suportam as taças dos púlpitos da

Igreja de Santo Amaro. (CARVALHO, 1942, p. 278)

Alguns tipos de rochas, como as utilizadas em Sergipe,

impossibilitavam o manejo e o detalhamento em busca de

decorações mais sofisticadas, mas, sempre que possível, os

jesuítas buscavam esse rebuscamento de ornamentos entalhados

nas rochas.

O autor alerta para o uso e transporte de pedras, até

mesmo de ilhas, como no caso de Recife.

Na Paraíba, onde jesuítas, beneditinos,

franciscanos e carmelitas rivalizaram na execução

de uma arquitetura religiosa monumental,

verifica-se, ainda uma vez, a existência

abundante do calcário, coincidindo com o seu

emprego em alvenaria e cantaria. (CARVALHO, 1942,

p. 286)

25

O autor exalta a admirável construção da igreja de nossa

senhora da guia, em Lucena- PB e remete-se a fonte existente

próximo a Igreja de São Francisco, o que facilita a

construção da mesma. A Igreja de Nossa Senhora da Guia é uma

caso original na arquitetura religiosa do Brasil. “Há uma

forte influência regional na composição da fachada, cujos

elementos são inspirados ora na própria natureza da região,

ora nas Igrejas levantadas sob inspiração erudita” (CARVALHO,

1942, p. 288). A Igreja da Guia é exemplo esplendoroso para o

autor, que termina seu discurso falando que,

A Igreja da Guia é, desse modo, uma manifestação

artística inesperada da arquitetura religiosa do

Nordeste Brasileiro. A sua desordem aparente não

consegue esconder o forte impulso artístico que a

concretizou. Tem sido infrutíferas até agora

todas as tentativas de identificação do artista e

da época exata – provavelmente dentro do século

XVIII – em que o monumento foi erguido. A riqueza

plástica e a espontaneidade do conjunto estão

exigindo um estudo demorado, por um técnico que

alie à intimidade da nossa história religiosa o

26

indispensável sendo arquitetônico. (CARVALHO,

1942, p. 293-294).

Saindo da temática relativa ao uso da pedra, que

extrapola o uso convencional de alicerce chegando a ser

elemento de decoração, entramos em outro elemento de

decoração que são os azulejos. O autor Carlos Ott, traz o

artigo Os azulejos do Convento de São Francisco da Bahia,20no qual ele

refaz uma história do azulejo e expõe os azulejos aludidos.

Os azulejos portugueses da primeira metade do século

XVIII denotam características do barroco. O autor data os

azulejos presentes no convento de São Francisco da Bahia. “Os

deliciosos azulejos profanos de Portugal não revelam o seu

segredo. Nem existiu para que soubesse. As pessoas não tem

nome, as coisas não tem indicação, os fatos se contentam com

um vago simbolismo” (OTT, 1943, p. 12). O autor questiona

saber em que olaria portuguesa foram fabricados os azulejos

do Convento de São Francisco. A identificação dessa produção

não é feita. Em alguns azulejos, tem-se a assinatura de

Bartolomeu Antunes.

20 Revista do SPHAN, n. 7, 1943, p. 6-33.

27

Uma questão relativa à temática dos azulejos é feita

pelo autor: Foi o próprio pintor dos azulejos que inventou o

enredo e lhes inspirou suas ideias? O artigo da Hannah Levy

mostrando a influência da arte europeia na arte brasileira,

como a de Demarne, por exemplo, pode chegar a ser uma

resposta alternativa a esse questionamento. A semelhança de

séries de azulejos com pinturas de Otto van Veen são

palpáveis.

Fechando a análise dos artigos da Revista do SPHAN,

concluo com o documento transcrito pelo Frei Venâncio

Willeke, OFM, intitulado Livro dos guardiões do Convento de Santo

Antônio da Paraíba21. Os livros dos guardiões tem a finalidade de

perpetuar os nomes dos guardiões e suas realizações nos seus

respectivos conventos. A composição ocorreu na congregação de

1745 presidida pelo Provincial Frei Ruperto de Jesus. O LGPB

atualmente encontra-se no Arquivo Provincial dos Franciscanos

do Recife.

O convento foi instalado em 1585, com sede em Olinda.

Entre 1588 e 1589 Frei Melchior examinou o terreno e deixou

alguns frades na região, iniciando a missão almagra. A

terminologia franciscana da antiga província de Santo Antônio

21 Revista do SPHAN, n.16, 1968, p. 269-320.

28

está presente no texto, além de uma bibliografia com as

siglas usadas. O artigo possui um documentário histórico,

possuindo soldo, certidão e documentário e também fala de

assuntos interinos do convento.

Sobre a temática, nas revistas do IHGP, escolhemos

alguns artigos para expor a nossa ideia central. O artigo do

Cônego Florentino Barbosa, intitulado O convento de São Francisco22,

fala da história e do cotidiano do convento de São Francisco

na Paraíba. A casa de religiosos franciscanos foi solicitada

em 1589 com o intuito de converter o gentio (que eram

considerados perigos latentes) e cuidar da manutenção dos

cultos religiosos. “as necessidades da fé juntavam-se as da

civilização.” (BARBOSA, 1934, p. 3).

Sobre a construção do convento, observo que era

facilitada, pois o terreno possuía diversos recursos naturais

(pedreira, água de qualidade, etc.), o que dificultou a

construção foi à falta de franciscanos. Frei Melchior, ao

retornar de Olinda, trouxe franciscanos que iniciaram a

construção, que terminou em 1591. Frei Francisco dos Santos

foi quem delineou a planta do edifício. Lembrando que aquela

primeira construção era apenas provisória.

22 Revista do IHGP, n. 8, 1934, p. 5-16.

29

A sua Igreja é tão bem a de melhor, e mais

ajustada arquitetura de todas as que temos, com

bons e perfeitos retábulos de tribuna e altares.

É também de painéis o forro do seu teto com

molduras de talha e boas terjes da mesma,

distribuídas pelo primeiro cornijamento da parede

sobre que assenta o seu forro (BARBOSA, 1934, p.

7)

Elias Herckmans fala que os franciscanos abandonaram o

convento no momento em que os holandeses invadiram a

capitania. A fachada da igreja foi construída em 1734. A

igreja estava ricamente ornamentada e caracterizada no estilo

barroco-romano. O altar-mor e a talha que o revestia estavam

corroídos e foram substituídos por novas construções em

estilos diferentes e inferior valor. “Com estes reparos

forçados pelas contingencias da ocasião, tiveram de

desaparecer os belos quadros que no forro da capela-mor

figuravam com esplendida clareza os milagres de s. Antônio”

(BARBOSA, 1934, p. 11).

Sobre a estrutura da igreja, vê-se que no corpo da

igreja, está localizado o painel contando a vida de s.

Francisco. “Em todo o corpo da igreja se observa igualmente

30

um largo rodapé de azulejo antigo, com interessantes cenas da

vida de José do Egypto” (BARBOSA, 1934, p. 11).

Prosseguindo sua explanação, o autor fala do púlpito e

da sacristia do conjunto, ressaltando suas características

barrocas e atentando para o abuso feito pelo poder local,

visto que boa parte dos elementos está pintada a óleo. Sobre

o convento, ele ocupa toda a parte leste e nordeste da

igreja. Sobre o claustro do convento, o autor indica que o

mesmo possui arcadas e colunas de estilo toscano. O azulejo

esta presente nas mais diversas experimentações do conjunto.

O complexo sofreu várias intervenções do bispo dom

Adauto. Em 1894, ele procura instalar um seminário no

convento e encontra o convento ocupado por um hospital e uma

escola de aprendizes marinheiros, visto que as atividades

religiosas no mesmo estavam paradas. Depois de solicitação

junto ao governo, o bispo consegue reocupar o convento. Em 26

de abril de 1894 o seminário foi transferido para o conjunto,

que recebeu alguns reparos feitos pelo bispado. Por fim,

sobre o altar mor, o bispo cita a necessidade urgente de se

restaurar ou refazer o altar, visto que esse está corroído

por cupins, ameaçando cair, dessa forma o novo altar, de

31

estilo neoclássico, foi feito no inicio dos séc. XX e

continua no lugar até a contemporaneidade.

Além da Igreja de S. Antônio, temos na Paraíba a Igreja

e o Mosteiro de São Bento, que foram objetos de estudo pelo

mesmo autor, no artigo A Igreja e o Mosteiro de São Bento na Paraíba: O

patrimônio da ordem beneditina – construções e obras d’arte23. O autor

inicia o artigo traçando um histórico da fundação do mosteiro

na PB. Religiosos partiram de Lisboa, em 1595 com a intenção

de fundar o convento de São Bento na Parahyba. Em 1595 frei

Damião da Fonseca, vem chegar à capitania com o intuito de

fundar um convento da sua ordem, ele é bem recebido pelo

então presidente da província. Feliciano Coelho, aceita a

irmandade e doa um terreno para a mesma. Além do terreno,

todos os materiais naturais e as entradas e saída presentes

no terreno eram de posse dos beneditinos. As obras de

construção do mosteiro foram iniciadas em 1604, pelo Frade

Anastácio. Prosseguindo na temática, o Cônego Florentino fala

das posses dos beneditinos, as que foram ofertadas e as

compradas pelos mesmos, juntamente com o número de escravos.

Em 1595, frei Damião da Fonseca e Feliciano Coelho

fizeram uma cláusula para que a construção do templo se

23 Revista do IHGP, n.10, 1946, p. 5-29.

32

iniciasse em até dois anos, o que não ocorreu, visto que a

construção só pôde se iniciar em 1600. Uma descrição feita em

1601 sobre a cidade expõe a o mosteiro de São Bento, como uma

construção inicial, rústica e que não estava coberto, estando

com os paredões prontos, visto que foram usados pelos

holandeses como posição estratégica. Elias Herckmans em 1634,

fala pouco sobre o mosteiro de São Bento.

Desde 1634, por conseguinte, emudecem todos os

arquivos relativamente as obras da igreja do

grande patriarca do Monte Cassino, e só trinta e

dois anos mais tarde é que se projeta uma

pequena claridade sobre os esforços do Fr. Gondim

empregados no intuito de ornar aquele templo.

(BARBOSA, 1946, p. 9)

Seguindo na explanação, o autor cita os administradores

do convento e suas obras, como por exemplo, Frei Manuel da

Glória que mandou colocar o ladrilho, o retábulo e o trono e

etc. Em 1740 se acha concluída a capela-mor da igreja, foi

celebrada uma magnifica solenidade para comemorar tal feito.

Continuando a análise, o autor fala de elementos decorativos

33

da igreja e convento. O altar-mor é uma obra singela em talha

de madeira paraibana. O estilo dominante na igreja é o

barroco-romano. Prosseguindo o autor faz uma analise

sublimando as principais características da arquitetura do

mosteiro. Ressaltando suas tumbas, imagens e outros elementos

que julgou importante para a compreensão do que é o mosteiro

de São Bento.

Outros artigos de temática semelhantes foram expostos

nas revistas do IHGP sobre a temática, mas como estava em

busca de uma teoria acerca do barroco brasileiro e litorâneo,

analisei por último o artigo de Carla Mary Oliveira,

intitulado Arte e religião: O imaginário cristão e as igrejas barrocas da

Parahyba, no artigo a autora fala sobre os monumentos do

barroco na Paraíba colonial, elencando elementos simbólicos

que transpõem a ideia de apenas um elemento estético. O

simbolismo e o imaginário são colocados de uma forma presente

e marcante na construção e formação dessas igrejas.

Em suma, quando pensamos na importância das produções

advindas dos Institutos Históricos e do Serviço de Patrimônio

histórico, artístico e nacional, vemos a contribuição sumária

dessas produções historiográficas. Por fim, concluo esse

34

artigo deixando através dele possíveis indícios capazes de

desenrolar novas pesquisas futuras que certamente serão

fundamentais para a memoria histórica do povo brasileiro.