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ARTIGOCiências & Cognição 2015; Vol 20(2) 344-354 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & CogniçãoSubmetido em 18/07/2014 | Aceito em 13/08/2015 ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 30/09/2015

A virtualidade para a cognição situadaVirtuality and embodied cogniti on

Isabel Ferreira da Silva Corrêa e Castro, Flávia Sollero-de-Campos

Departamento de Psicologia da Puc-Rio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Resumo

A separação entre Mente e Corpo, introduzida pelo dualismo cartesiano vem, gradati vamente, sendo substi tuída por novos modelos de representação do organismo humano. A Teoria da Cognição Situada introduz paradigmas que rompem com a hegemonia do cérebro frente a outras partes do corpo e com a ideia de que os processos cogniti vos ocorrem exclusivamente a parti r de etapas mentais e internas. Ao apresentar a cognição como fruto do acoplamento entre organismo e ambiente, esta teoria muda o eixo de muitas questões atuais. A parti r disso, são abordados temas contemporâneos, como a virtualidade e algumas produções cientí fi cas e cinematográfi cas recentes – como os fi lmes Matrix e Avatar – com o intuito de aprofundar esta discussão e apresentar alguns questi onamentos a essa concepção de cognição.

Abstract

The historical divorce beetween body and mind, introduced by Descartes’s dualismo, is gradually being substi tuted by other models of the human organism. The theory of embodied cogniti on brings in paradigms that rearrange the hegemony of the brain over the body and discloses the ideia that cogniti on processes occur exclusively from inner and mental acti viti es. By introducing cogniti on as the result of the connecti on between organism and enviroment, this theory changes the axle of many present issues. From that on, some contemporaneous subjects – like virtuality e some movies, as “Matrix” and “Avatar” - can be approached with the goal of deepen this discussion and can present some other issues linked to this concepti on of cogniti on.

Autores de Correspondência: I.F.S.C. Castro – Rua João Lira, 103/205, Rio de Janeiro, RJ. E-mail: [email protected] F. Sollero-De-Campos – Rua Gilberto Cardoso, 300 apt 501, Rio de Janeiro, RJ.E-mail: [email protected]

Palavras-chave: mente; corpo; cognição situada; virtual; paradigma.

Keywords: mind; body; embodied cogniti on; virtual;patt ern

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1. Introdução

A maioria das pessoas faz uma separação entre o “mundo real” e o “mundo virtual”. Neste sentido, o discurso do senso comum aponta para a compreensão de duas realidades distintas, que diferem basicamente pela materialidade física que se acredita ocorrer nos fenômenos considerados reais, mas que parece não fazer parte dos fenômenos ditos virtuais. De acordo com esse raciocínio, o indivíduo que acessa a Internet é alguém que está presente em uma realidade e que, de lá, estabelece conexão com “outra realidade”. Lévy (1999), ao falar sobre aspectos gerais do virtual, descreve essa compreensão do senso comum:

Mas no uso corrente, a palavra virtual é muitas vezes empregada para significar a irrealidade – enquanto a “realidade” pressupõe uma efetivação material, uma presença tangível. A expressão “realidade virtual” soa então como um oxímoro, um passe de mágica misterioso. Em geral, acredita-se que uma coisa deva ser real ou virtual, que ela não pode, portanto, possuir as duas qualidades ao mesmo tempo. (Lévy, 1999, p.47).

Segundo essa compreensão, para que o acesso ao “irreal” aconteça, mente e corpo precisam se separar. Sendo assim, o corpo fica “de fora”, ou seja, se presentifica no mundo real – que acontece fora das telas do aparelho (computador, smartphone, ipad)–, enquanto a imaterialidade da mente se “tele transporta” para o ambiente da efetiva interação on-line. Isso acontece porque a condição virtual desta outra realidade só possibilita que o indivíduo apresente as parcelas imateriais de si. Já o corpo, só pode estar presente em ambientes dotados de materialidade, pois, neste sentido, ele só pode se apresentar fisicamente na realidade (off-line).

Esta situação é um exemplo da analogia proposta pelo experimento de pensamento do “cérebro no balde”(1), em que hipoteticamente seria possível retirar o cérebro do corpo e mantê-lo em pleno funcionamento. Tal ideia tornou-se bastante comum em roteiros de filmes e de romances de ficção científica, nos quais o cérebro de uma pessoa é removido de seu corpo por um cientista, colocado num balde com nutrientes e conectado a um supercomputador que se encarregaria de fornecer ao cérebro os estímulos elétricos necessários a seu funcionamento. Outras formas de representar esta separação – sem ser a retirada literal e concreta do cérebro – também foram apresentadas ao público, mas o que vale destacar é que, em todas elas, o computador simularia a realidade – inclusive as respostas às próprias reações do cérebro e este, estando conectado corretamente, traria à pessoa a oportunidade de vivenciar as experiências conscientes normais, mesmo que estas não estivessem relacionadas a acontecimentos ou a objetos do mundo real. Os exemplos de filmes recentes mais conhecidos que abordam a possibilidade da existência de um cérebro funcionante, desencarnado de seu corpo, são a trilogia Matrix, Avatar e Contra o Tempo.

Transpondo a analogia para o uso da Internet, poder-se-ia dizer que o acesso ao espaço virtual seria o balde no qual se acredita ser possível “depositar” uma mente descolada do corpo. Neste sentido, o trâmite pelo real acompanharia a percepção da cognição como uma máquina que pode ser operada sem intercursos com as emoções e sensações corpóreas. Neste tipo de conexão, a ligação que o corpo estabelece seria algo parecido com o toque dos dedos no teclado ou os efeitos de uma vista que se cansa após uma longa exposição à luminosidade da tela; nada mais profundo do que isso. Em verdade, esta compreensão a respeito do real e do virtual retoma uma longa discussão a respeito da relação entre mente e corpo. O que vale destacar dessa trajetória filosófico-científica, no entanto, é que o dualismo cartesiano que apresentou ao mundo a separação entre mente e corpo, hoje vem sendo questionado por estudos recentes a respeito da cognição.

2. Cognição situada

Cognição situada foi a terminologia escolhida na língua portuguesa para dar conta de uma nova concepção de cognição. Muitas vezes acontece de certos termos serem criados em uma língua e,

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no processo de tradução, acabarem esbarrando em alguns impasses semânticos e culturais da língua a que se pretende traduzir. Foi precisamente isto que aconteceu no caso da tradução brasileira.

Quando se tentou traduzir as siglas da abordagem 4EA (“embodied”, “enacted”, “embedded”, “extended” e “affective”) para o português, muitas controvérsias surgiram, pois a tradução da característica “embodied” apontava para a palavra ‘encarnada’ e essa terminologia remetia, culturalmente, à incorporação de espíritos tal como se descreve na doutrina espírita. A terminologia escolhida para dar conta desta nova concepção de cognição acabou sendo cognição situada, pois nos pressupostos contemporâneos todo ato cognitivo está situado em um ato experiencial (Venâncio & Borges, 2006, p. 32). Atualmente, emprega-se o uso das palavras ‘encarnada’ ou ‘incorporada’, ‘enativa’, ‘imersa’, além de ‘situada’, que é a terminologia mais genérica dessa nova abordagem no estudo da cognição.

A proposta da cognição situada difere completamente da analogia do cérebro no balde, pois parte do pressuposto de que o processo cognitivo compreende fenômenos experienciais, por isso, a separação entre mente e corpo não se aplica. Esse princípio epistemológico rompe radicalmente com o paradigma das Ciências Cognitivas – predominante até então – de que os fenômenos mentais compõem uma instância pronta e separada de um meio ambiente externo e autônomo. Neste sentido, seria como dizer que a mente é algo da ordem de um maquinário de representações a ser gerenciado em concordância com os padrões de realidade que “independem” desta instância psíquica. Venâncio e Borges (2006) descrevem bem este paradigma:

As abordagens dominantes das ciências cognitivas são baseadas no objetivismo. As principais, conhecidas como cognitivismo e conexionismo, partilham alguns princípios, sendo o principal deles o princípio cartesiano-analítico-objetivista. Esse princípio caracteriza-se por estabelecer a separação sujeito/objeto, ou “mundo das coisas” e “mundo da mente”, e por considerar o mundo como algo objetivo cujas características e relações podem ser captadas e representadas na mente do indivíduo, restando aos observadores a tarefa de recuperá-las adequadamente, seja por meio de símbolos ou estados sub-simbólicos globais (Venâncio & Borges, 2006, p.30).

Latour (2008) os complementa:Neste outro modelo, há um corpo correspondente a um sujeito; há um mundo correspondente aos objectos; e há um intermediário que corresponde à linguagem que estabelece ligações entre o mundo e os sujeitos. Se recorrermos a este modelo, ser-nos-á extremamente difícil tornar dinâmica a aprendizagem pelo corpo: o sujeito está ‘ali dentro do corpo’ como uma essência defendida e a aprendizagem não é necessária para sua existência; o mundo está fora do corpo, ali, e afectar os outros não é necessário para a sua essência. Por sua vez, os intermediários – linguagem, kits e odores – desaparecem mal seja estabelecida a ligação, porque o seu papel é apenas esse, conduzir uma relação (Latour, 2008, p.41).

Apesar de apresentarem com clareza o paradigma das abordagens dominantes, Venâncio e Borges (2006) também descrevem o novo paradigma da Cognição situada, afirmando que a realidade passa a ser considerada como dependente do observador; neste sentido, é o ser humano quem constrói a “dinâmica do viver” (p.31).

Nesta nova perspectiva, não se pode falar do “mundo das coisas”, como algo pronto e separado do “mundo da mente” – ou como se referem os autores, separando o sujeito do objeto. O sujeito existe e o objeto existe, mas, na cognição situada, o “mundo da mente” não é visto como o resultado de conversões representacionais do “mundo das coisas”. Venâncio e Borges nos colocam que, apesar das inúmeras abordagens da cognição situada (biologia do conhecer, enactive view, ecologia da mente,...) todas elas têm como “principio epistemológico fundamental a existência do organismo-em-seu-ambiente, ou seja, organismo e ambiente constituem uma unidade inseparável, e a dinâmica de interação ocorre contínua e simultaneamente”.

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Por isso, de acordo com esta abordagem, “mundo da mente” e “mundo das coisas” – ou sujeito e objeto – são sistemas acoplados que se coconstroem. Em outras palavras, trata-se de uma unidade relacional que se estabelece entre organismo e ambiente. E a cognição, neste sentido, aparece como um dos frutos deste acoplamento.

Latour exemplifica a cognição como resultado dessa coconstrução através da analogia que faz com o “kit de odores”. Para falar sobre este fenômeno, o autor se refere à diferença que existe entre um especialista em fragrâncias e um leigo, estimulando a reflexão a respeito de como nossas experiências sensório-motoras interferem na constituição de nossos padrões cognitivos. Esta reflexão é um dos pilares dessa nova concepção de cognição, uma vez que a realidade não é objetiva, ou pronta, ou dada, mas, em si, uma construção feita na interação do indivíduo com o ambiente. Sobre este fenômeno, Latour diz:

[...] o corpo é, portanto, não a morada provisória de algo de superior – uma alma imortal, o universo, o pensamento – mas aquilo que deixa uma trajetória dinâmica através da qual aprendemos a registrar e ser sensíveis àquilo de que é feito o mundo (Latour, 2008, p. 39).

Essa perspectiva muda completamente a noção de como o corpo está envolvido no processo cognitivo, pois se a cognição é constituída em consonância com aquilo que o corpo experimenta e da forma como ele experimenta, então, estamos falando de uma mente que não pode estar de maneira nenhuma descolada das vivências corporais. Ao exemplo de Latour, não se poderia dizer que existe uma resposta única e estática para o cheiro de um perfume, pois, para um especialista, esse questionamento remeterá a uma gama extensa de respostas, enquanto, para outra pessoa, o mesmo perfume lembrará o cheiro de um ente querido e, ainda para outrem, sua alergia, e, assim, se compõe a variedade de respostas possíveis. Sendo assim, quando uma pessoa fala sobre o que é o cheiro de um perfume, ela, na verdade, está revelando a forma como a sua cognição está acoplada ao seu corpo. Isso significa dizer que a realidade a respeito das coisas será constituída em concordância com aquilo que se experimenta dela – sensorial, motora e emocionalmente. O resultado desse conjunto de experiências, em intensidade e/ou frequência, é o que ajudará a formar os padrões cognitivos que serão referidos como a cognição de cada sistema vivo.

Além do universo de experiências – que acontecem ao longo da vida de um indivíduo – significarem diferentes padrões cognitivos para cada um, ainda sim, essas experiências estarão inseridas num contexto de interatividade com outros sistemas vivos que, ainda, se coconstruirão. Na unidade dessa relação, no entanto, também existem fronteiras e constrangimentos próprios de cada um desses sistemas. É precisamente este limite que estrema o que forma um e outro sistema vivo.

Damásio (1996) defende que aquilo que atualmente identificamos como sendo nosso eu particular (self, mim) é apenas a ponta mais complexa da constituição desse processo cognitivo. Para o autor, há um nível de eu, denominado por ele de proto-self, cuja constituição é muito mais rudimentar do que aquilo que reconhecemos como o sentido de si e como nossa identidade pessoal. O alcance deste “eu” se daria pelos marcadores somáticos, ou seja, pela “leitura” dos sinais corporais. Isso porque o proto-self é o conjunto de registros que se forma no corpo a partir da dinâmica das experiências vividas, assim como a química que se forma entre elas. Introduzindo-os como membros deste conjunto, Winograd & Sollero-de-Campos (2012, p. 395) explicam claramente que “o corpo e os sinais corporais relativos às emoções são referência básica para o entendimento do que é a mente”.

A ideia de que a cognição se constitui acoplada aos estados do corpo e de que é continuamente influenciada por estes (Adam & Galinski, 2012; Clark & Chalmers, 1998) é um dos eixos principais da Teoria da Cognição Situada, ou da mente encarnada/incorporada. Lakoff & Johnson (1980; 1999) afirmam, inclusive, que os conceitos mais abstratos estão embasados e inscritos nos estados do corpo e exemplificam esse processo de coconstrução viva através da apresentação de metáforas comuns, que fazem parte do nosso dia a dia, e que, sem percebermos, estão diretamente ligadas às características físicas do nosso corpo e à sua relação com o ambiente. Por exemplo, quando nos referimos ao futuro, pensamos em “à frente”, “para frente”, enquanto a dimensão do passado é imaginada como “atrás”,

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“para trás” (Miles, Lind & MacRae, 2010). Neste sentido, testemunhamos “a natureza peculiar da forma dos nossos corpos moldarem nossas próprias possibilidades de conceitualização e de categorização” (Lakoff & Johnson, 1999, p.19).

Das várias referências teóricas que traduzem esse novo paradigma, temos a visão neopragmática que propõe, do ponto de vista filosófico materialista naturalista, que a inscrição corporal do sujeito está diretamente relacionada à sua ação no mundo (Bezerra Junior, 2001), ampliando a relação entre corpo e mente, para corpo, mente e mundo. Essa tríade também aparece no livro de Varela, Thompson & Rosch (1991), intitulado “The embodied mind”(2), em que os autores descrevem a mente não só como encarnada, como também inscrita no mundo, configurando uma relação indissociável entre corpo, mente e mundo (Arreguy, 2008).

Cabe observar que a cognição encarnada – no sentido de estar acoplada à carne, à matéria e, portanto, ao corpo – não enfatiza aquilo que comumente chamamos de ‘cognitivo’ –isto é, memória, raciocínio, consciência ou pensamento simbólico –; ela dedica-se mais a outras atividades mentais, tais como as funções motoras, perceptuais e regulatórias do organismo e a influência da experiência “na carne”, no corpo, sobre o pensamento. Sendo assim, o processo cognitivo não reside apenas nas representações que estão registradas em nossas mentes; a cognição também está ancorada em processos corporais e perceptuais, o que faz com que o cérebro não seja o único recurso de que dispomos para nos movimentarmos no mundo e nele sobrevivermos. A incorporação – isto é, o fenômeno que trata de como nossos corpos e nossas ações são guiados pela percepção – (Reed, 1996), de alguma maneira, complementa e até substitui a necessidade de representações mentais. Neste sentido, desloca-se o eixo dos processos cognitivos da hegemonia cerebral para situá-lo como resultado de múltiplos sistemas acoplados.

Se todos os sistemas estão interligados e dialogando dinâmica e constantemente para que uma pessoa possa sentir, pensar, se coordenar, tomar decisões, agir e compreender o mundo, como a teoria da cognição situada explicaria fenômenos que incluem a separação destes mesmos sistemas? Seria possível viver as mesmas experiências, ou mudaria completamente a realidade e a compreensão do que se experimenta? O que se preserva e em quais limites e condições de materialidade física?

3. O virtual para a cognição situada

Falar sobre uma mente que, para ser entendida, precisa da inclusão do corpo problematiza a questão do virtual. Se não é possível haver uma separação entre mente e corpo, como falar de um acesso ao espaço virtual em que o corpo não esteja inserido? O virtual está descolado do corpo, afinal? Como podemos pensar a experiência do acesso à Internet dentro da perspectiva da cognição situada?

Em primeiro lugar, é preciso repensar a realidade não física que atualmente se atribui à virtualidade. Um caso atual e peculiar nos mostra o início dessa interpenetração entre “ambas as realidades” no que se refere ao envolvimento do corpo, do self e dos processos cognitivos presentes na interação com os elementos dessa experiência. Em 14 de Novembro de 2008, o jornal O Estado de São Paulo publica uma notícia com o seguinte título: “Traição no Second Life termina em divórcio no mundo real”. Trata-se de uma reportagem sobre o caso de uma mulher que dá entrada no divórcio após descobrir que seu marido está traindo-a no Second Life. Supostamente, o avatar criado por ele para representa-lo estaria se relacionando com outro avatar, fazendo com que ele estivesse desonrando seu compromisso matrimonial. Sua esposa entende esse ato como uma traição e inicia sua separação conjugal.

O paradoxo que gira em torno do ato do marido ter sido uma traição ou não remonta a discussão entre os limites que tornam possível a separação entre mente e corpo. O dicionário on-line informal Wikipédia, por sua própria dinâmica de interatividade com os usuários, reflete palavras e concepções do senso comum. Sobre o programa Second Life, encontra-se a seguinte definição:

O Second Life (também abreviado por SL1) é um ambiente virtual e tridimensional que simula em alguns aspectos a vida real e social do ser humano. Foi criado em 1999 e desenvolvido em 2003 e é

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mantido pela empresa Linden Lab.2 Dependendo do tipo de uso, pode ser encarado como um jogo, um mero simulador, um comércio virtual ou uma rede social. O nome "second life" significa em inglês "segunda vida", que pode ser interpretado como uma vida paralela, uma segunda vida além da vida "principal", "real". Dentro do próprio jogo, o jargão utilizado para se referir à "primeira vida", ou seja, à vida real do usuário, é "RL" ou "Real Life" que se traduz literalmente por "vida real"(Wikipédia, Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Second_Life).

De acordo com a definição, há duas realidades: a “primeira vida” e a “segunda vida” – uma tratando de existir no mundo real e outra no mundo virtual. Para a esposa, no entanto, essa separação não parece tão nítida assim. Por isso, dentro desta discussão, aparecem questionamentos como a possibilidade de entender o marido como duas pessoas diferentes em uma realidade e em outra. O avatar criado por ele na realidade virtual não estaria circunscrevendo suas emoções? Os traços escolhidos para caracterizar o personagem não implicariam seu senso de identidade ou o desejo de seu self ideal? As experiências de atração seriam algo descolado do corpo? O fato de estar transitando na virtualidade faria com que nada disso fosse real para o sujeito que a experimenta ou para aqueles que o cercam? Mais ainda, as consequências dessa experiência, não farão parte do repertório de sensações e aprendizados que ajudarão a constituir o sentido da percepção de si, do mundo e dos relacionamentos?

Esses questionamentos não visam julgar se o marido traiu ou não sua esposa, nem se esse ato seria moralmente condenável; mais do que isso, procuram incitar a reflexão a respeito do lugar do corpo na virtualidade. Parece impossível descolar o corpo de toda essa experiência, pois fazer isso seria considerar “corpo” apenas aquilo que é materialmente concreto e palpável. Sem saber – e talvez por motivos diferentes dos propostos neste artigo –, a esposa estaria refletindo sobre questões que estão em sintonia com as levantadas pela cognição situada. O que é o corpo? Quais os seus limites? Até onde ele participa dos processos cognitivos? E a virtualidade ajuda ambos a perceberem que não é só aquilo que está em formato concreto e ao alcance do toque das mãos que pode ser considerado corpo e que afeta processos mais complexos de relacionamento e identidade. Em vez disso, a cognição situada acredita que todos os fenômenos que acontecem sensorial e emocionalmente também fazem parte destes sistemas vivos que dinamicamente se coconstroem, uma vez que esses elementos contribuem para a percepção de si, para a formação dos contornos do self e para a articulação dos processos cognitivos. Da mesma forma, as ações e sensações despertadas no individuo fazem parte do conjunto de experiências e de constrangimentos deste como sistema vivo em interação com o meio ambiente (físico + virtual). Pode-se dizer que há uma presença real do corpo que não precisa da materialidade física no ambiente da interação, uma vez que as sensações despertadas no próprio ato de interação com esta realidade compõem a presença e o efeito real desta interação sob o indivíduo.

Como visto, a ideia de um avatar ainda traduz a suposta separação entre mente e corpo, se entendermos este personagem como algo que representa a realidade apenas no sentido de uma virtualidade. Se compreendermos o avatar como uma ferramenta que modifica experiências e padrões cognitivos, então, estamos falando de uma realidade inter-relacional, ou seja, coconstruída, fazendo pouca diferença se seus elementos são constituídos ou destituídos de materialidade física.

O filme Avatar talvez ofereça maior clareza em relação a essa diferença de perspectiva a respeito da cognição situada. Por um lado, esta produção cinematográfica ainda está fundamentada no princípio cartesiano-analítico-objetivista, quando sugere que é possível um ser humano, literalmente, entrar em uma maquinaria X e, pela conexão com inúmeros fios, ter seu corpo “traduzido” no formato de um avatar. Um avatar viria a ser uma criatura azul, mais ou menos, animalesca, que conseguiria transitar corpórea e sensorialmente num mundo cuja realidade não se situa como real. Neste caso, o ingresso de um ser humano a este universo só se faria possível pela reserva do corpo físico do indivíduo e a consequente transposição de sua pessoa ao corpo de um avatar. No filme, a presença da pessoa do “mundo real” neste outro universo só se faz possível através desse ingresso a uma espécie de corpo-receptáculo que comporta a mente e a personalidade daquele indivíduo. Quando este retorna à realidade, toda maquinaria é desligada de seu corpo e este retorna ao seu corpo real.

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No caso do protagonista, este possui uma limitação física, só conseguindo andar na cadeira de rodas. Quando no corpo de avatar, porém, ele adquire mobilidade e, ao retornar para seu corpo real, sua condição também retorna. Se fossemos pensar este fenômeno da perspectiva da cognição situada, o corpo do avatar deveria implicar a mesma limitação do corpo físico “real”. E mesmo que fosse viável reverter essa condição quando em formato de avatar, ainda sim o protagonista teria seu senso de si e, portanto, sua identidade “re-construídos”, uma vez que a formação destes fenômenos está intrinsecamente ligada ao que se experimenta no corpo. O fato de ele poder andar, correr, saltar, assim como as sensações fisiológicas e emocionais vinculadas a esse ato seriam importantes fatores de mudança em toda a percepção que o protagonista tem de si, sendo impossível “voltar à realidade” humana, sem que se pudesse desencadear uma transformação global na sua existência.

Outro exemplo diz respeito ao romance que acontece entre os protagonistas – sendo ele, originalmente, humano e ela, imutavelmente, um avatar. A memória e os sentimentos desta paixão transitam entre ambos os mundos, sendo mostrados como partes de uma mesma pessoa. Em continuidade à existência, não há ruptura quanto a estes quesitos, mas há um curioso ponto em relação às vivências deste amor. Em nenhuma outra experiência anterior, aquele humano havia sido um avatar e, muito mesmo, se apaixonado por outro avatar. Será que a experiência de beijar ou ter relações sexuais – como sugere o filme – não faria com que inúmeros padrões cognitivos fossem modificados? É neste sentido que dizemos que o corpo é excluído da experiência, pois se aborda essa passagem de “uma realidade à outra” como se a vivência corporal pudesse ser levada de volta ao mundo real apenas como um mero registro mnêmico a ser armazenado no cérebro, mas sem qualquer poder de modificar a realidade interna e externa das coisas.

Por outro lado, se pudéssemos fazer um pequeno recorte na trama do filme veríamos que a relação que os avatares estabelecem com a natureza é o que mais se aproxima da percepção da cognição situada. Primeiro, porque eles se sentem como sistemas vivos que fazem parte do meio ambiente em que vivem. Para cumprir várias tarefas diárias contam com recursos e ferramentas da natureza e todas elas demandam alguma sintonia com o corpo. Um exemplo é o transporte, que é feito quando o avatar é escolhido pelo pássaro, num profundo exercício de conexão emocional. Feito isso, ele deve conectar uma parte de seu corpo ao corpo do pássaro e, assim, ambos seguem em coordenação mútua. Além disso, quando o protagonista retorna ao “mundo real”, vemos crescer cada vez mais seu senso de percepção do outro, uma consciência ecológica e coletiva, o que faz com que ele se distancie de seu propósito bélico inicial. Há, com essa experiência física e emocional, uma mudança notável nos seus padrões cognitivos a respeito de sua própria identidade, de seu comportamento, do mundo, dos valores e de suas ações.

A complexidade deste processo está muito mais próxima da perspectiva da cognição situada, em que todo ato cognitivo está situado em um ato experiencial. Se ficarmos com este exemplo poderoso que o filme traz, mesmo que seja de uma pequena parte, poderemos chegar mais perto desta compreensão que se pretende descrever. Podemos até mesmo utilizá-la para entender que o trânsito entre a realidade real e a virtual parece acontecer de forma bem semelhante. Não é para menos, em concordância com o boom da internet vimos uma série de estudos da neurociência a respeito do mapeamento cerebral e de como alguns mecanismos parecem funcionar de acordo com uma coordenação sistêmica e “em rede”. Não só na ciência, mas em inúmeros aspectos da existência, vemos a importação da lógica “em rede”, antes circunscrita à interconexão dos computadores – que foi a própria condição da virtualidade da internet. Ouvimos cada vez mais vezes no discurso cotidiano do senso comum crenças como a de que o grau de ligação entre duas pessoas envolve apenas 7 pessoas de distância; uma que conhece a outra e que é amiga da outra e, assim, as pessoas estão tão conectadas; que é necessário buscar apenas 7 conhecidos nas ligações “certas” para que se testemunhe a ligação entre os 2 polos iniciais. Segundo a cognição situada, estas pequenas mudanças já são tidas como frutos de sistemas acoplados, envolvendo, por exemplo, a experiência que se tem de uma tecnologia que funciona em rede e de uma percepção de si, dos outros e do mundo também funcionando “em rede”.

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4. Considerações finais

A Teoria da Cognição Situada, ou da mente encarnada não está isenta de críticas e controvérsias. Adams e Aizawa (2008, 2009), por exemplo, reclamam que é preciso colocar a mente de volta na cabeça (3). Estes dois autores participam do debate contemporâneo, no qual a teoria da cognição situada se propõe a encerrar duas questões importantes sobre a mente: (a) onde estaria, afinal, localizada a cognição humana? (b) E seria o funcionamento cognitivo humano, pelo menos parcialmente, constituído por partes do ambiente, e que, portanto, não são neurais?

Sobre o primeiro destes dois aspectos, a concepção da mente encarnada, ou cognição situada defende que é pouco provável que os processos cognitivos sejam comandados por um único “departamento” – o cérebro – “local” reservado, onde eles se formariam e depois seriam distribuídos para o corpo. Ao contrário disso, este paradigma situa a formação dos processos cognitivos dentro de uma rede complexa de sistemas acoplados, na qual há ferramentas que este mesmo organismo humano utiliza na sua interação com o mundo.

Essas ferramentas de interação nos situam no segundo aspecto, pois falam sobre partes do ambiente que se constituem como funções cognitivas. O exemplo mais clássico é o do lápis e papel para fazer um cálculo matemático. Nesse caso, o organismo interage com os recursos externos disponíveis, a fim de executar funções que poderiam ser internas (Clark & Chalmers, 1998). Funcionaria da seguinte maneira: em vez de ativar recursos internos para que os números possam ser visualizados e, a partir daí, a conta ser equacionada, opta-se por utilizar as ferramentas – lápis e papel – para cumprir esta tarefa. Neste sentido, o lápis e o papel funcionariam como componentes fundamentais no processo cognitivo, acabando por ter o mesmo estatuto que os recursos neuronais que estão relacionados àquilo que se define, costumeiramente, como sendo Pensamento – a este fenômeno Clark e Chalmers dão o nome de externalismo ativo.

A título de exemplificar o debate sobre a localização da cognição – se estaria no cérebro apenas, ou se a cognição se estenderia para o corpo e o ambiente, falamos anteriormente sobre o filme Avatar. Outro filme recente apresenta a mesma questão, diferindo apenas no enredo: em Contra o tempo (2011), o protagonista “entra” no corpo de uma das vítimas de um atentado – o “cérebro no balde” – e repete inúmeras vezes o acidente no qual teria sido gravemente ferido, para tentar descobrir o terrorista que teria causado o desastre de trem. Novamente, a ideia de que a tecnologia conseguiria substituir o ancoramento do cérebro no corpo.

Neurocientistas (Edelman, 2006; Damásio, 1996; 1999) tem repetidas vezes afirmado a inviabilidade de um cérebro existir sem o corpo: o “cérebro no balde” é impossível... Alinhando recentes pesquisas neurocientíficas sobre o cérebro e seu funcionamento – a partir do estudo de pacientes com lesões cerebrais temos o exemplo mais radical da relação mente-corpo-ambiente: a síndrome do encarceramento, ou locked-in, objeto de um belo e pungente livro autobiográfico O escafandro e a borboleta (Bauby, 1997), e que tem uma versão em filme (2009). Neurologicamente falando, a síndrome do encarceramento costuma ser consequência de um acidente vascular encefálico em que as ligações com a parte anterior do tronco cerebral são cortadas. O sujeito perde a capacidade de se mover voluntariamente, mas a consciência e a atividade mental não são comprometidas. Só lhe resta o piscar de um olho para se comunicar com os outros. Sobre esta síndrome, Damásio (1999) faz um interessante comentário:

[...] a deficiência profunda de controle motor reduz sua (do paciente) reatividade emocional e parece produzir nele uma bem-vinda calma interior. (p. 310) (...) eles não vivenciam a angústia e a comoção que os observadores esperariam dessa situação pavorosa. (...) podem até mesmo experimentar uma estranha tranquilidade (Damásio, 1999, p. 370).

Sua hipótese é a de que, como todos os movimentos voluntários e involuntários do corpo estão impossibilitados de serem feitos, “o cérebro vê-se privado do corpo como teatro para a realização emocional” (Damásio, 1999, p.371). Os sinais do corpo exercem um papel crucial na emoção, e

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estão rompidos nesta síndrome. Sem eles, fica impossível existir o acionamento de certas emoções e sentimentos.

Em outra situação neurológica, os resultados são outros. Nas lesões medulares que não afetam a face e o crânio, os estímulos corporais e externos chegam ao cérebro no nível do tronco cerebral, num nível mais alto do que o da lesão espinhal. Sendo assim, pessoas que tiveram uma transecção completa da medula espinhal não deixam de ter a experiência da emoção e do sentimento, na medida em que ainda se mantêm os sinais de mão dupla entre o cérebro (tronco cerebral) e os sinais do corpo. Damásio (1999) refere-se ao exemplo do ator Christopher Reeve, que ficou tetraplégico depois de um acidente, a quem não se poderia atribuir ausência de expressão das emoções (Damásio, 1999, p. 368 ).

A diferença entre os casos clínicos não se dá ao acaso e aponta para uma “relação obrigatória dos sentimentos com o corpo” (Damásio, 1999, p. 363). Além dos seis casos inicialmente propostos por Darwin, Damásio apresenta outro tipo de sentimento: os sentimentos de fundo, que ele aproxima dos “afetos de vitalidade” propostos por Daniel N. Stern (1992), igualmente ancorados no corpo, visíveis na postura corporal, no tom de voz, no sentimento de bem-estar ou de mal-estar, de estabilidade, desinteresse ou interesse, independentes do conteúdo cognitivo do pensamento. Mais do que aprofundá-las neste momento, ficamos satisfeitos com a dimensão mais complexa que Damásio nos apresenta em relação à noção de emoções e sentimentos e da íntima relação que esses mantêm com a esfera do pensamento, da motivação, da tomada de decisões – já apresentadas em seu primeiro livro, O erro de Descartes (1996). Esta novidade introduz um extenso campo de novas possibilidades, visões, paradigmas e pesquisas. Por outro lado, os teóricos – tanto da visão Externalista quanto da Internalista – precisam adequar suas propostas e seu entendimento do que é a cognição, adequando-as aos conhecimentos psicológicos e neurocientíficos que têm se desenvolvido de maneira importante na atualidade. Acreditamos que alguns impasses relacionados ao estudo e consequente definição das capacidades cognitivas humanas poderão ser dissolvidos através de esclarecimentos provenientes dessas áreas de conhecimento.

O tema da realidade virtual, portanto, torna-se bem mais complexo quando partimos da afirmação de que a cognição está ancorada em processos corporais e perceptuais, não residindo somente nas representações que estão registradas em nossas mentes. Há uma presença real do corpo que não precisa da materialidade física no ambiente da interação, uma vez que as sensações despertadas no próprio ato de interação com esta realidade compõem a presença e o efeito real deste acoplamento sobre o indivíduo.

Por outro lado, certamente é necessário repensar os limites da cognição, como propõem os Internalistas. Desse ponto de vista, tanto discussões de cunho psicológico e filosófico – o lugar do Self, da subjetividade e da autonomia do sujeito – quanto às descobertas de cunho neurológico, que mostram como determinadas lesões cerebrais inviabilizam certas capacidades cognitivas, podem nos fornecer um interessante mapa para esse novo território de pesquisa. Citando Ian Hacking, quanto aos novos tipos de coisas sobre as quais raciocinamos:

[...] cada estilo de pensamento científico introduz uma nova classe de objetos que estavam ausentes de nossa reflexão até o momento em que o estilo começou a se desenvolver. Um estilo introduz novos tipos de objetos (Hacking, 2006).

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6. Notas

(1) Vale enfatizar que o experimento de pensamento do “cérebro no balde” propõe-se a discutir alguns importantes conceitos filosóficos tais como os de conhecimento, verdade, mente, experiência, realidade e significado, numa versão contemporânea do argumento da alegoria da caverna, de Platão, ou do demônio de Descartes. Hilary Putnam é o filósofo que argumenta mais detalhadamente contra essa ideia (Putnam, 1982).

(2) Na tradução portuguesa, A inscrição corporal do espírito, o que remete à nossa menção anterior ao tema “dificuldades de tradução”.

(3) Os autores citados no presente artigo, tanto os favoráveis quanto os opositores da proposta da cognição situada, referem-se ao cérebro, e não à mente quando discutem o tema da cognição. A aparente simplicidade da substituição de um termo pelo outro oculta uma grande discussão filosófica e epistemológica quanto à atual preferência pelo conceito de “cérebro” ao invés de “mente”, que não está no escopo do presente artigo.

(4) A chamada visão intracraniana contingente, em oposição ao que denominam de visão transcraniana.