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KROTH, Léo Teobaldo. Hierarquização de critérios na adoção de práticas de conservação do solo. Florianópolis, 1997. 104f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Luiz Renato D’Agostni Defesa: 12/08/1997 HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO Autor: Léo Teobaldo Kroth Orientador: Prof. Luiz Renato D'Agostini RESUMO Uma das principais implicações da modernização da agricultura é a degradação dos recursos naturais. O modelo preconizado por essa agricultura pressupostamente baseava-se na produtividade e eficiência. Os recursos naturais, especialmente o solo, ficavam relegados a um segundo plano. Os insumos industriais poderiam suprir ou atender todas as necessidades do sistema solo-planta. Isso fez com que o homem se distanciasse da natureza e do próprio homem em seu sentido maior. Mesmo compreendendo a dinâmica do processo de degradação do meio e conhecendo alternativas para seu controle, ainda não se verifica uma suficiente adoção de práticas de conservação do solo. Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados principalmente por critérios de natureza econômica, preservacionista e operacional, objetivou-se identificar a hierarquia destes critérios em determinar a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí - SC. Do universo estudado, aproximadamente 65% dos produtores são adotantes, 30% são parcialmente adotantes e 5% não adotam práticas de conservação do solo. Para 53,6% dos produtores os fatores de ordem econômica são os que determinam a adoção; 69,7% dos produtores que não adotam práticas conservacionistas o fazem por fatores de ordem econômica. Subjetivamente, fatores relacionados com a humanização do trabalho estão fortemente presentes. A preservação do meio parece, ainda, ser mais dependente de constrangimentos frente à diferenciação de comportamentos do que pela convicção da necessidade de preservação.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS
HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO
DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO
LÉO TEOBALDO KROTH
FLORIANÓPOLIS, SC. 1997
HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE
PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO
Dissertação apresentada ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal de Santa Catarina como requisito para obtenção do Grau de
Mestre em Agroecossistemas.
LÉO TEOBALDO KROTH Engenheiro Agrônomo
Orientador PROF. DR. LUIZ RENATO D’AGOSTINI
FLORIANÓPOLIS, SC. AGOSTO DE 1997
KROTH, Léo Teobaldo. Hierarquização de critérios na
adoção de práticas de conservação do solo.
Florianópolis, 1997. 104f. Dissertação (Mestrado em
Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em
Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa
Catarina.
Orientador: Luiz Renato D’Agostni
Defesa: 12/08/1997
Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados
por [critérios de natureza econômica, preservacionista e de
humanização das atividades], objetivou-se identificar a
[hierarquia] destes [critérios] em determinar a [adoção] de
[práticas de conservação do solo].
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO (MESTRADO) EM AGROECOSSISTEMAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA FLORIANÓPOLIS (SC), BRASIL
Dissertação submetida por LÉO TEOBALDO KROTH
como um dos requisitos para obtenção do Grau de MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS,
Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e Ambientais em Microbacias Hidrográficas.
Aprovada em: 12 / 08 / 97
Prof. Luiz Renato D'Agostini (Dr.) Orientador
Prof. Paulo Emílio Lovato (Dr.) Coordenador
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Antônio Ayrton A. Uberti (M.Sc.) CCA/UFSC
Prof. Júlia Sílvia Guivant (Dra.) CFH/UFSC
Prof. Jorge L. Barcelos Oliveira (Dr.) CCA/UFSC
Voltaire Mesquita Cézar (M.Sc.) Eng.º Agrônomo – Epagri
Valdemar Hercílio de Freitas (M.Sc.) Eng.º Agrônomo - Epagri
Dedico este trabalho à
Eliana e Aline
pela compreensão, incentivo e apoio
proporcionados nesta caminhada.
AGRADECIMENTOS
À Epagri, que me oportunizou a realização deste curso e pelo apoio
institucional e financeiro;
Ao Professor Luiz Renato D'Agostini, pelos ensinamentos, orientação,
amizade e paciência com que sempre me recebeu;
Ao Professor Jonas Ternes dos Anjos, pela orientação, receptividade,
incentivo e amizade;
Ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa
Catarina, por intermédio de seu Curso de Pós-Graduação em
Agroecossistemas;
Aos professores e colegas de curso, pelo amigável convívio e
experiências acrescentadas;
Aos funcionários e pessoal de apoio do Centro de Ciências Agrárias
pela atenção e ajuda prestada;
Ao Eng. Agr. Renato César Dittrich da Epagri, pelo apoio na
sistematização dos dados;
Às bibliotecárias e funcionárias da biblioteca da Epagri, pela pronta
atenção que sempre me foi dispensada;
À meus familiares e de minha esposa, pelo incentivo e apoio;
À Tânia e José João, Lenissa e Moacir, Nelise e Rene, Mery-Ann e
Edson, Marli e José Carlos, pela convivência, apoio e companheirismo;
Aos Extensionistas e funcionários da Gerência Regional e dos
Escritórios Municipais da Epagri da região do Alto Vale do Itajaí e do Centro de
Treinamento de Agronômica, pela contribuição na pesquisa de campo;
Aos agricultores entrevistados, pelo apoio, compreensão e paciência
ao responder os questionários e;
Aos companheiros da Epagri e a todos aqueles que contribuíram direta
ou indiretamente para a realização deste trabalho.
BIOGRAFIA DO AUTOR
Léo Teobaldo Kroth, nascido a 05 de setembro de 1961 em Ijuí - RS, é
filho de Guilherme Bruno Kroth (in memorium) e Ângela Kroth.
Em 1980 concluiu o Curso de Técnico em Contabilidade no Colégio
Peperi em São Miguel D’Oeste - SC. Em 1984 ingressou no Curso de
Agronomia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa
Catarina, obtendo o título de Engenheiro Agrônomo em 17 de dezembro de
1988.
Iniciou suas atividades profissionais como Extensionista Rural da ex-
ACARESC, atual Epagri, em 13 de fevereiro de 1989, no município de
Presidente Getúlio - SC, na região do Alto Vale do Itajaí. A partir de 1991
passou a atuar como técnico específico do Projeto Microbacias, no mesmo
município, onde atuou até fevereiro de 1995.
Em março de 1995 ingressou no Curso de Pós-Graduação em
Agroecossistemas - Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e
Ambientais em Microbacias Hidrográficas do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Santa Catarina.
ÍNDICE
LISTA DE TABELAS ........................................................................................... I
LISTA DE QUADROS ......................................................................................... I
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... II
RESUMO ........................................................................................................... III
ABSTRACT ...................................................................................................... IV
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO .................................................... 10
3. O PROCESSO DECISÓRIO ....................................................................... 25
3.1. Fatores de ordem econômica ............................................................. 26 3.2. Fatores de ordem operacional ............................................................ 29 3.3. Fatores de ordem ambiental ............................................................... 31
4. ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 33
4.1. Breve Histórico da Região .................................................................. 33 4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí .................................. 35
5. PROCEDIMENTOS .................................................................................... 43
5.1. Premissas básicas ............................................................................. 43 5.2. Plano de amostragem ........................................................................ 43
5.2.1. Base de dados ....................................................................... 43 5.2.2. Âmbito e população ............................................................... 44 5.2.3. Época e período de referência .............................................. 44
5.3. Seleção da amostra ........................................................................... 44 5.4. Definição e Operacionalização das Variáveis .................................... 45
5.4.1. Caracterização das unidades de produção ........................... 45 5.4.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de
conservação do solo .............................................................. 48
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 52
6.1. Caracterização das unidades de produção ........................................ 52
6.1.1. Idade do produtor .................................................................. 52 6.1.2. Disponibilidade de mão-de-obra ............................................ 53 6.1.3. Escolaridade do produtor ....................................................... 54 6.1.4. Área da propriedade .............................................................. 55 6.1.5. Área explorada com culturas anuais ...................................... 56 6.1.6. Adoção de práticas de conservação do solo em áreas de
lavoura ................................................................................... 57 6.1.7. Nível de instrução dos produtores ......................................... 61 6.1.8. Nível de renda dos produtores............................................... 62 6.1.9. Padrão tecnológico dos produtores ....................................... 63 6.1.10. Percepção dos produtores frente a novas tecnologias .......... 64
6.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo .......................................................................... 65
6.2.1. Fatores que inspiram o produtor a implantar práticas de conservação do solo .............................................................. 66
6.2.2. Fatores que inspiram o produtor a não implantar práticas de conservação do solo ......................................................... 70
6.2.3. Argumentos de motivação para adoção ................................ 71 6.2.4. Razões para implantação de um programa de conservação
do solo ................................................................................... 72
7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................ 74
7.1. Conclusões ......................................................................................... 74 7.2. Outras questões relevantes ................................................................ 79
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 83
9. ANEXOS ..................................................................................................... 86
9.1. Questionário ....................................................................................... 86 9.2. Dados relativos a amostragem ........................................................... 92
I
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC. ........... 9
Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente Extensão Rural e Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD - 1996............. 9
Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. .... 40
Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC. ........ 40
Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985. .................................................. 41
Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC. ............ 41
Tabela 7. Principais culturas anuais exploradas na região do Alto Vale do Itajaí - SC - Safra 1994/1995. ........................................... 42
Tabela 8. Principais criações da região do Alto Vale do Itajaí - SC. .............. 42
Tabela 9. Posse da terra na região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985. .......... 42
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão ...................................... 18
II
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização da área de estudo ...................................................... 39
Figura 2. Distribuição dos produtores por faixas etárias -Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................................................... 53
Figura 3. Disponibilidade de mão-de-obra (UTH) nas propriedades rurais do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................ 54
Figura 4. Distribuição dos produtores de acordo com a escolaridade Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ....................................................... 55
Figura 5. Distribuição dos produtores de acordo com a área da propriedade (ha) - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ......................... 56
Figura 6. Distribuição percentual das propriedades de acordo com a área explorada com culturas anuais - Alto Vale do Itajaí - SC. ...... 57
Figura 7. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................................................... 58
Figura 8. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de combinações de práticas de conservação do solo Alto Vale do Itajaí - (SC) - 1996. .................................................... 59
Figura 9. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível de instrução na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ............... 62
Figura 10. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível de renda na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ............... 63
Figura 11. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu padrão tecnológico na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ............... 64
Figura 12. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a percepção que têm frente a novas tecnologias na visão dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...................................................................... 65
Figura 13. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a adotar práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................ 67
Figura 14. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a rejeitar as práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................ 70
Figura 15. Distribuição percentual dos produtores com base nos argumentos a serem utilizados como fatores de motivação para a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................................................... 72
Figura 16. Distribuição percentual dos produtores de acordo com as razões para implantação de um programa de conservação do solo ........................................................................................... 73
III
HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO
Autor: Léo Teobaldo Kroth
Orientador: Prof. Luiz Renato D'Agostini
RESUMO
Uma das principais implicações da modernização da agricultura é a degradação dos recursos naturais. O modelo preconizado por essa agricultura pressupostamente baseava-se na produtividade e eficiência. Os recursos naturais, especialmente o solo, ficavam relegados a um segundo plano. Os insumos industriais poderiam suprir ou atender todas as necessidades do sistema solo-planta. Isso fez com que o homem se distanciasse da natureza e do próprio homem em seu sentido maior.
Mesmo compreendendo a dinâmica do processo de degradação do meio e conhecendo alternativas para seu controle, ainda não se verifica uma suficiente adoção de práticas de conservação do solo.
Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados principalmente por critérios de natureza econômica, preservacionista e operacional, objetivou-se identificar a hierarquia destes critérios em determinar a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí - SC.
Do universo estudado, aproximadamente 65% dos produtores são adotantes, 30% são parcialmente adotantes e 5% não adotam práticas de conservação do solo. Para 53,6% dos produtores os fatores de ordem econômica são os que determinam a adoção; 69,7% dos produtores que não adotam práticas conservacionistas o fazem por fatores de ordem econômica. Subjetivamente, fatores relacionados com a humanização do trabalho estão fortemente presentes. A preservação do meio parece, ainda, ser mais dependente de constrangimentos frente à diferenciação de comportamentos do que pela convicção da necessidade de preservação.
IV
HIERARCHIZATION OF CRITERIA IN THE ADOPTION OF SOIL CONSERVATION PRACTICES
Author: Léo Teobaldo Kroth
Adviser: Prof. Luiz Renato D'Agostini
ABSTRACT
One of the main critical implications of modern agriculture is the degradation of natural resources. This agriculture is presumably based on a productivity/efficiency model. Natural resources, and mainly soil, was relegated to a secondary plane. Industrial inputs could provide or meet all soil-plant system needs. This forced man to draw away from nature and from himself in the broadest sense of the term.
Although understanding the dynamics of environmental degradation process and being aware of the alternatives for controlling it, adequate soil conservation practices have not been adopted yet.
Assuming that soil use and management are primarily based on criteria associated to economic, preservationist and humanization aspects, an attempt has been made to identify the hierarchy of such criteria in determining the adoption of soil conservation practices by farmers.
Aproximately 65percent of farmers are adopters, 30% are partial adopters and 5% do not adopt soil conservation practices at all. For 53,6% of farmers, economic factors are the major determiners for this adoption; 68,7% of farmers who do not adopt soil conservation practices do so because of economic restrictions. Subjectively, factors associated with labor humanization are clearly evident. Environment protection seems to be still more dependent on constraints derived from a different behavior, than on the conviction of the real need for preservation.
1
1. INTRODUÇÃO
A agricultura brasileira, e em particular a catarinense, passou, nas
últimas décadas, por profundas mudanças, tanto no campo econômico, no
social, quanto no tecnológico.
A transformação da agricultura tradicional, responsabilizada como a
precursora da situação do subdesenvolvimento brasileiro, de acordo com os
paradigmas modernizantes, somente se daria mediante a introdução e
aplicação de fatores com origem externa ao meio rural. Para tornar isso
possível, haveria uma demanda em educação, pesquisa e difusão dos fatores
de produção industrial, a cargo do poder público, considerando-se que deveria
ocorrer a substituição da agricultura tradicional pela moderna.
As modificações ocorridas no meio rural, a partir do avanço das
relações capitalistas de produção, levaram a uma inserção profunda da
agricultura na economia de mercado, agregando novos e mais complexos
conceitos, que passaram a influenciar a tomada de decisões.
Uma das principais implicações do processo modernizante implantado
na agricultura está relacionado com a preservação dos recursos naturais. O
modelo difundido tinha bases inspiradas essencialmente na produtividade e na
eficiência. Com isso, as questões dos recursos naturais, especialmente o solo,
foram relegadas ao segundo plano, com o argumento, mesmo que subjacente,
de que os insumos químicos industriais poderiam suprir ou atender todas as
necessidade das culturas. A maneira pela qual se processou a
“industrialização” da agricultura fez com que o homem se distanciasse da
natureza e, por conseguinte, do próprio homem. A natureza se tornou tão
somente supridora de matérias primas, sendo o solo considerado apenas “meio
de suporte para as plantas” e não como parte indissociável de um todo, cuja
complexidade e significação não pode ser reduzida a de um meio em que
ocorrem processos físicos, químicos e biológicos, que proporcionam condições
para o desenvolvimento das plantas.
O aumento da pressão sobre os recursos naturais, ocasionada por uma
demanda ascendente no uso dos solos para fins agrícolas, está especialmente
2
implicado na intensificação do uso de produtos químicos sintéticos
(fertilizantes, agrotóxicos, etc.) e na mecanização das operações de cultivo. A
necessidade de crescente aumento da renda das famílias rurais, como um dos
produtos da mesma modernidade, aliada ao aumento da pressão demográfica
no meio rural, resultaram numa intensificação da utilização do solo. Como
conseqüências mais evidentes desta utilização, estão a degradação estrutural
e a erosão do solo (perda da camada fértil), redução e até eliminação da
atividade biológica, aumento do número do que era como pragas, doenças e
invasoras, diminuição do estoque de água, acarretando déficit hídrico, poluição
do lençol freático e das águas superficiais, para citar apenas algumas. Tudo
isso acabou acarretando redução nos níveis de produtividade das lavouras e
até mesmo inviabilizando seu cultivo, colocando em questão a própria
promessa da “agricultura moderna”.
Em solos do Rio Grande do Sul, cultivados com sucessão trigo-soja
sob sistema convencional1, sem o uso de práticas de conservação do solo, as
perdas de solo foram, numa média de quatro safras, de 32t/ha ano, chegando a
97t/ha ano (RIO GRANDE DO SUL, 1985), o que representa quase 10kg de
solo por metro quadrado, ou ainda uma camada uniforme de um centímetro de
espessura. Considerando-se que a camada arável situa-se, para a maioria dos
solos de Santa Catarina, até 30cm de profundidade, e permitindo-nos uma
extrapolação no tempo e no espaço daqueles resultados experimentais, se
poderia concluir que em apenas algumas décadas poderemos ter esgotado a
capacidade produtiva desses solos.
Com a redução da produtividade, os agricultores sentiram-se
compelidos a aumentar suas áreas de lavoura, buscando, assim, garantir a
rentabilidade de seu processo produtivo, levando ao uso de muitas áreas fora
de suas aptidões agrícolas, de acordo com o sistema de classificação das
terras2; ao uso de áreas marginais3; à exploração de áreas de preservação
1 Sistema de manejo convencional: preparo do solo com uma aração e duas gradagens, queimando os
restos culturais do trigo e incorporando os resíduos da soja. 2 Sistema de classificação das terras: utilizado para classificar as terras de acordo com sua aptidão
agrícola, considerando as seguintes características: declividade, profundidade efetiva, pedregosidade,
drenagem, fertilidade e suscetibilidade à erosão, conforme o que é preconizado na metodologia
atualmente em uso pela Epagri.
3
determinadas pela legislação4; a demanda por novas fronteiras agrícolas, entre
outros casos. Aliado a não aplicação de práticas adequadas à preservação da
capacidade produtiva desses solos (Tabela 1), encontra-se atualmente um
quadro bastante preocupante quanto à manutenção dos níveis de
produtividade e até mesmo da continuidade da exploração de diversas áreas
agrícolas do Estado.
Procurando de alguma forma encontrar meios de equacionar essa
situação, o serviço de extensão rural do Estado, ao longo de 40 anos de
atividades, desenvolveu uma série de Programas voltados à conservação dos
solos. No entanto, estes Programas só ocasionalmente apresentaram bons
resultados, com contribuições relativamente pouco representativas na
minimização dos efeitos nocivos da erosão sobre o solo no Estado. Segundo a
percepção que inspira os Programas atuais, isso deveu-se fundamentalmente à
visão reducionista destes Programas, que consideravam apenas a área das
lavouras como unidades de planejamento e atuação, não levando em conta
que os fatores climáticos, notadamente a chuva e o escoamento a ela
associado, determinante na ocorrência da erosão dos solos, não delimitam sua
ação em linhas retas ou aos limites legalmente instituídos.
As práticas ou procedimentos tradicionais de conservação do solo
foram menos efetivas do que se esperava ou se necessitava. A visão
tradicional se concentrava basicamente no volume e na velocidade de
escoamento da água, sem ter em conta o sistema de produção como um todo.
Quase como um pressuposto de suficiência, o manejo conservacionista
reduzia-se as práticas que antecediam as atividades de um novo ciclo de
produção agrícola, descuidando do que ocorria durante e depois desse ciclo.
No entendimento de BRAGAGNOLO et al. (1995), este enfoque enfatizava as
medidas físicas de conservação do solo no trabalho das agências
3 Áreas marginais: são assim consideradas aquelas áreas que necessitam de obras de engenharia para
torná-las agricultáveis, como macrodrenagem e sistematização, ou que não apresentam condições
naturais para o uso agrícola, em função da baixa fertilidade, pedregosidade, etc. 4 Áreas de preservação permanente: de acordo com a Lei n.º 4.771 de 15.09.65, são assim consideradas as
áreas com florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de outro curso
de água, em faixa marginal com largura mínima de acordo com a largura do curso de água, que vai de
30 metros a 500m; ao redor de lagoas, lagos e reservatórios; nas nascentes num raio de 50m., no topo
dos morros, montes, montanhas e serras; nas restingas; nas bordas de tabuleiros ou chapadas; e áreas
com altitude superior a 1.800m.
4
especializadas em conservação do solo e em conseguir a adesão dos
agricultores mediante a insistência.
Impõe-se reconhecer, assim, que um fator que contribuiu para uma
insuficiente efetividade das práticas de conservação do solo foi a metodologia
de trabalho utilizada pelos agentes de extensão, que raras vezes considerava o
agricultor como participante do processo e como agente executor e
beneficiário, ou seja, o mesmo era visto como objeto do processo e não como
sujeito. Mas mesmo o vendedor sabe que a insistência só é eficaz mediante
argumentos com conteúdo impregnado de significação para o comprador. Cabe
perguntar, então, se na “adesão mediante a insistência” os argumentos
apresentados aos agricultores se investem de significação à luz dos critérios
que priorizam e determinam as sua ações.
A inadequação metodológica parece decorrer do fato de os Programas
terem sido concebidos, em sua maioria, para atender políticas públicas e
programas de governo coadunados com os princípios da “revolução verde”,
que visavam atender interesses comerciais e políticos, em detrimento das reais
necessidades e demandas dos produtores.
Para BRAGAGNOLO et al. (1995), a concepção dos Programas de
“cima para baixo” limitava a credibilidade dos conservacionistas, dificultando o
intercâmbio e valorização de idéias. Os agricultores tem se preocupado com a
produção enquanto que os conservacionistas tem se preocupado em salvar o
solo e a água. Para os mesmos autores, outra carência do enfoque tradicional
é que não eram considerados os aspectos socioeconômicos e as
características dos sistemas de produção, o que se refletia numa falta de
entusiasmo dos agricultores para adotar práticas conservacionistas.
Normalmente, os agricultores não introduzem de forma automática práticas
convencionais de conservação do solo em suas operações rotineiras, mesmo
porque freqüentemente tanto as recomendações como as implicações de sua
implementação prática não são adequadas ou aplicáveis de forma imediata às
situações agroecológicas ou socioeconômicas específicas.
O produtor era defrontado com “tecnologias” e soluções não
adequadas à sua realidade e mesmo suas necessidades. Isso levava a um
descrédito com relação ao que lhe era proposto como alternativa para
5
equacionar os problemas de erosão do solo que enfrentava. Essa dicotomia
entre os “pacotes tecnológicos” oferecidos pelos agentes de extensão e o que
o agricultor realmente desejava ou o que lhe seria mais adequado e
apropriado, levou a uma baixa adoção das práticas de conservação do solo ou,
quando eram adotadas, isso ocorria por um período relativamente curto, sendo
posteriormente abandonadas.
A percepção mais atual quanto a melhor forma de se combater a
degradação dos solos diz respeito a um melhor “manejo das terras”, sendo que
as práticas convencionais de conservação do solo devem ser consideradas
como de apoio. Este enfoque traz como benefícios uma estreita integração das
práticas conservacionistas ao sistema de produção agrícola e o fortalecimento
das relações entre a população rural e suas terras.
Alinhado com esse novo enfoque, o serviço de extensão rural de Santa
Catarina iniciou em 1984 os primeiros trabalhos que tem na microbacia
hidrográfica5 a unidade de planejamento, com atuação em três microbacias nos
municípios de Agrolândia, Benedito Novo e Indaial, na Bacia Hidrográfica do
Rio Itajaí-Açu, ação que se estendeu para 17 microbacias no Estado nos anos
de 1985/86. Através do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, esse
enfoque se expandiu, passando atuar, em 1987, diretamente em 68
microbacias do Estado. A partir de 1991 passou a ser desenvolvido o Projeto
de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em
Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, de abrangência
estadual, prevendo inicialmente o atendimento de 520 microbacias num
período de 7 anos, beneficiando cerca de 81.000 produtores rurais,
representando 25% da área total do Estado. O objetivo desse Projeto é de
incrementar a produção e a renda da propriedade agrícola, promovendo a
adoção de práticas sustentáveis de manejo e conservação do solo e da água.
Com isso, segundo SANTA CATARINA (1989), deverá ocorrer uma utilização
mais adequada do solo e detenção das perdas do solo, do assoreamento do
leito dos rios e represas, das enchentes, da destruição das estradas, da
poluição dos mananciais e do esgotamento dos recursos naturais.
5 Microbacia Hidrográfica é definida como uma área fisiográfica drenada por um curso d’água ou por um
sistema de cursos d’água conectados e que convergem, direta ou indiretamente, para um leito ou para
um espelho d’água (BRASIL, 1987).
6
A principal estratégia do Projeto Microbacias/BIRD envolve o
planejamento conservacionista da propriedade agrícola, através da adequação
das áreas de cultivo de acordo com as classes de aptidão de uso6 e pela
adoção de práticas de preservação e recuperação do solo, como cobertura
vegetal7, práticas mecânicas8, práticas de preparo conservacionista9, entre
outras.
A justificativa do uso da microbacia hidrográfica como referencial de
planejamento e de trabalho baseou-se nos seguintes pressupostos:
1. permite concentrar em uma área relativamente homogênea a ação de
diversos organismos de apoio à assistência técnica (públicos ou privados),
evitando a dispersão de atividades e a atenção à produtores isolados,
passando a trabalhar em torno de planos de ação concretos e mais globais;
2. os produtores numa microbacia podem desenvolver propósitos comuns e
ajudar-se mutuamente na implementação de planos comuns;
3. possibilidade de compartilhar recursos escassos, como máquinas de alto
custo que não estejam ao alcance de todos os agricultores e;
4. racionalidade na utilização de recursos materiais e financeiros disponíveis,
de acordo com as necessidades e prioridades.
Esse Projeto contribuiu de forma significativa, notadamente em sua
área de abrangência, para a busca da reversão do quadro de degradação dos
6 Classes de aptidão de uso: de acordo com a metodologia utilizada pelos técnicos que atuam no Projeto
Microbacias/BIRD, as terras são classificadas em 5 classes:
Classe 1: aptidão boa para culturas anuais climaticamente adaptadas;
Classe 2: aptidão regular para culturas anuais climaticamente adaptadas;
Classe 3: aptidão com restrições para culturas anuais climaticamente adaptadas, aptidão regular para
fruticultura e boa aptidão para pastagens e reflorestamento;
Classe 4: aptidão com restrições para fruticultura e aptidão regular e com restrições para pastagens e
reflorestamento; e
Classe 5: preservação permanente (SANTA CATARINA, 1995). 7 Prática de cobertura vegetal do solo: utilização de plantas em rotação, sucessão ou consorciação com as
culturas, deixando-as na superfície do solo, visando-se a proteção superficial, bem como a manutenção
e melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo. 8 Práticas mecânicas de conservação do solo: consistem na locação e construção de estruturas no sentido
transversal à direção do declive do terreno, formando obstáculos físicos capazes de reduzir e disciplinar
a velocidade da água das chuvas, promovendo seu escoamento e/ou seu armazenamento, sem perigo de
erosão (RIO GRANDE DO SUL, 1985). Incluem-se neste grupo os terraços, os cordões vegetais e de
pedra. 9 Práticas de preparo conservacionista do solo: são aquelas em que se procura evitar ao máximo o
revolvimento do solo, deixando-o coberto com os resíduos das culturas ou com espécies cultivadas com
este fim específico, para que não fique exposto à ação dos fatores erosivos. Incluem-se neste grupo:
plantio direto, cultivo mínimo, preparo reduzido, escarificação, subsolagem, entre outras.
7
solos no Estado, mas ainda com abrangência limitada no contexto geral da
agricultura de Santa Catarina (Tabela 2), principalmente por ter se concentrado
em algumas poucas práticas conservacionistas e não num sistema integrado
de manejo dos solos.
Uma adequada solução dos problemas de degradação encontrados
ainda está longe de ser alcançada, principalmente pelo fato de o referido
Projeto ter se concentrado em ações individualizadas e com alternativas
exógenas e pressupostamente universais, nem sempre respeitando ou
procurando entender a lógica do comportamento do agricultor. A falta de uma
visão holística dos planejadores e extensionistas e da própria concepção do
Projeto, por desconsiderar aspectos sociológicos, antropológicos, econômicos,
culturais, entre outros, faz com que os alcances ainda sejam pouco
significativos, notadamente com respeito às relações homem-meio,
considerando-se que um efetivo controle do processo erosivo está ligado ao
manejo integral de todos os fatores envolvidos no processo e no entendimento
dos mecanismos de ação de cada um, e não apenas em ações isoladas, que
procuram atacar o efeito e não as causas.
O presente trabalho parte, desta forma, do pressuposto de que a
adoção ou não de práticas de conservação do solo pelos agricultores, no caso
os participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí -
SC, se dá pela maior ou menor sintonia entre as concepções do Projeto, dos
extensionistas e as ideologias e lógicas que os norteiam e a percepção dos
agricultores frente aos fatores que orientam sua tomada de decisões.
Objetivando permitir que se possa ter um entendimento mais claro da
proposta desta dissertação e qual foi a fundamentação que permeou sua
concepção, este trabalho está dividido em três partes:
1. a primeira é constituída de uma introdução, na qual se buscou sintetizar a
problemática que envolve a conservação dos solos e o contexto dos
programas desenvolvidos ao longo nos anos pelo serviço de extensão rural
do Estado, e de uma análise descritiva, com base na literatura disponível e
de minhas próprias experiências e observações acumuladas durante o
período em que atuei como extensionista do Projeto Microbacias, do
processo de difusão/adoção de tecnologias agropecuárias e da lógica do
8
produtor envolvida no processo decisório, notadamente quanto aos
aspectos de ordem econômica, aos relacionados com a humanização do
trabalho (operacionais) e quanto aos aspectos ambientais e de preservação
das características do meio;
2. a segunda parte é composta pela análise e discussão dos dados obtidos no
campo com relação aos fatores que influenciam o produtor na adoção ou
não de práticas de conservação do solo. Através de questões formuladas
de forma indireta, procurando imprimir uma visão de que o produtor estaria
respondendo o que seus pares pensam e como agem no uso do solo,
procurou-se, na verdade, identificar quais são as relações de prevalência
entre os critérios do agricultor em sua percepção do significado das práticas
conservacionistas. Constitui-se, essa segunda parte, também da descrição
da área de estudo e da metodologia utilizada e;
3. na terceira parte são apresentadas as conclusões, bem como são feitas
considerações sobre o processo de adoção que podem vir a se constituir
em argumentos para reflexão de planejadores e executores de Programas
de conservação do solo, bem como sobre outros aspectos a serem
considerados em novos Projetos que venham ser elaborados e
desenvolvidos no âmbito da conservação dos solos.
9
Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC1
PRÁTICA ÁREA - ha % DA ÁREA CULTIVADA2
ÁREA P/FAMÍLIA
Cobertura vegetal 338.474 17,71 1,31
Cultivo mínimo 46.816 2,45 0,18
Plantio direto 80.929 4,23 0,31
Cordão vegetal (patamar) 54.661 2,86 0,21
Terraços 151.277 7,92 0,59
Fonte: Epagri, 1996a. 1 Levantamento realizado no ano de 1993.
2 Percentual de área com práticas de cobertura vegetal do solo em relação a área total
cultivada com culturas anuais no Estado.
Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente1 Extensão Rural e Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD2 - 1996
ATIVIDADE TOTAL DO ESTADO*
META ALCANCE
%
Microbacias 1.683 520 502 96
Agricultores 252.450 80.900 69.378 86
Propriedades com Planejamento Conservacionista
- 56.630 30.801 54
Reflorestamento (ha) - 53.000 24.145 45
Área com práticas conservacionistas3 - 240.000 309.731 129
N.º de propriedades agrícolas 235.361 - - -
Área total dos estabelecimentos agrícolas de Santa Catarina - ha
7.463.677 - - -
Área das principais lavouras - ha 2.087.677 - - -
Área das principais lavouras a serem trabalhadas pelo Projeto - ha
761.505 - - -
Fonte: Epagri, 1996b e SANTA CATARINA (1989). * Dados referentes a 1987, por ocasião da elaboração do Projeto Microbacias/BIRD. 1 O Projeto Microbacias, entre outros é dividido em seis componentes: Componente
Assistência Técnica e Extensão Rural, Componente Pesquisa Agropecuária, Componente Florestal, Componente Estradas, Componente Educação Ambiental, Componente Monitoramento de Microbacias Hidrográficas.
2 Dados acumulados até dezembro/1996.
3 Dados com repetição referentes as práticas vegetativas
10
2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO
A motivação dos agricultores em adotar práticas de conservação do
solo é um processo complexo. Ele se inicia com a percepção do problema da
erosão pelo agricultor e o conhecimento sobre quais são os fatores que
influenciam a adoção. Os agricultores que acreditam não terem o problema,
não realizam ações para minimizá-lo. Suas percepções do problema dependem
de inúmeros fatores, incluindo mensagens através de programas
governamentais e características pessoais dos agricultores, como a idade,
disposição ao risco, entre outros.
Nem sempre os agricultores vêem a erosão como um problema que
está ocorrendo em suas propriedades. Relatos apresentados por CULVER &
SEECHARAN (1986), demonstram que em 112 municípios (condados) entre os
mais erodidos dos Estados Unidos da América, 92% dos agricultores
percebiam o problema da erosão em seu município, porém somente 66%
percebiam a erosão como sendo um problema em suas propriedades. Já nos
Estados de Nebrasca e Yowa, a maioria dos agricultores que crêem não ter
problemas atuais de erosão, na verdade os têm. Isto nos remete a uma
reflexão sobre o real significado do critério conservacionista.
De acordo com D’AGOSTINI (1995), “mesmo para o leigo e para o
inculto, a noção da importância da proteção do solo contra a erosão já é bem
presente, seja para a visão orientada à produtividade ou para a visão orientada
à sustentabilidade do processo produtivo. Mas a modalidade da ação do
homem em relação ao manejo do solo e de outras partes do meio, como
qualquer outra ação humana, também se dá a partir de um complexo sistema
de valores, onde o preservacionismo geralmente não é o único e, por
enquanto, nem o mais determinante critério que inspira a ação. Normalmente, o
preservacionismo só é prioridade na medida que a degradação decorrente de
ações demandadas ou orientadas por critérios prevalecentes, ou processos
delas decorrentes, implica riscos à objetivação daqueles critérios dominantes”.
Percebe-se claramente, que o critério conservacionista está permeado
de argumentos basicamente ligados a questão da erosão do solo e não das
11
implicações resultantes de sua ocorrência, ou seja, os critérios
conservacionistas consideram sobretudo os prejuízos advindos da erosão,
notadamente os de ordem econômica, associados à redução da produtividade
e ao aumento dos custos de produção. Desta forma, o real significado do
critério conservacionista parece estar diretamente associado à percepção que
os produtores tem de que a não adoção de práticas conservacionistas pode
colocar em risco os resultados da atividade agrícola.
Com o objetivo de tentar evidenciar as variáveis relacionadas com a
adoção de tecnologias agropecuárias pelos produtores rurais, um expressivo
número de trabalhos foi conduzido por pesquisadores de diversas áreas das
ciências agrárias, humanas e econômicas. BUTTEL et al. (1990) relatam que
são aceitos como os primeiros estudos com relação a difusão-adoção de
inovações agrícolas10 aqueles realizados por Hoffer em 1942 e Ryan e Gross
em 1943, nos estados americanos de Michigan e Yowa, respectivamente; a E.
A. Wilkening, da Universidade de Chicago, é creditada a criação dos primeiros
e mais influentes estudos sobre o processo de difusão-adoção, realizados nas
décadas de 40 e 50; outras contribuições foram feitas por Fliegel, Beal &
Bohlen, Lionberger, Conghenour e Rogers, especialmente entre os anos de
1950 e 1970. De acordo com ROGERS (1995), existiam 405 publicações sobre
a questão em 1962, 1.500 em 1971, 3.085 em 1981 e em 1995 mais de 4.000.
A análise de fatores envolvidos no processo decisório do agricultor,
notadamente no que diz respeito à adoção de tecnologias, foi feita, ainda em
trabalhos desenvolvidos por CÉZAR (1978), BUTTEL et al. (1990), GOODMAN
et al. (1990), entre muitos outros. Esses trabalhos, porém, em sua maioria,
procuraram analisar a questão primordialmente sob a ótica tradicional do
modelo de difusão/adoção proposto por ROGERS (1995) ou, então, numa
abordagem basicamente econômica, não se atendo a outros aspectos que
estão presentes e que contribuem com a tomada de decisões, bem como por
que entre alguns agricultores a adoção ocorre de forma mais lenta.
Para ROGERS & SHOEMAKER (1974) a decisão individual diante de
uma inovação não é um ato imediato, mas um processo que ocorre ao longo do
10 Inovação agrícola: toda idéia ou prática percebida como nova pelo indivíduo, mesmo quando ela não é
objetivamente nova, segundo o tempo decorrido desde sua descoberta ou primeiro uso (MOLINA
FILHO, 1968).
12
tempo e que envolve uma série de fatores, que vão desde o primeiro contato
com a inovação, a decisão de adotar ou rejeitar, até a confirmação da decisão
tomada.
O modelo do processo de difusão-adoção de inovações tecnológicas
na agricultura concebido por Rogers em 1963, a partir dos diversos trabalhos
realizados neste campo e denominado de Processo de Adoção de Rogers,
revisado e renomeado em 1983 para Innovation-Decision Process, contém três
componentes principais, conforme apresentado no Quadro 1 - página 18.
Os antecedentes correspondem às variáveis presentes na situação
prévia à introdução da inovação e incluem as características do receptor e do
sistema social. As primeiras restringem-se a certos aspectos referentes
diretamente ao indivíduo. Ainda no item “características sociais”, refere-se às
atitudes dos indivíduos em relação às questões sociais. As segundas, as
características do sistema social, remetem às normas, ao que é moderno ou
tradicional, por exemplo, a padrões de tolerância em relação ao desvio e à
integração da comunicação.
O processo tem seqüência através da influência das fontes e canais de
comunicação que proporcionam estímulos ao indivíduo, em primeiro lugar
oferecendo o conhecimento da inovação e, posteriormente, canais mais locais
e interpessoais persuadem o indivíduo, que forma suas percepções em relação
à inovação.
Na fase das conseqüências, a inovação pode ser adotada
permanentemente, ou a adoção ser interrompida (descontinuidade), de acordo
com a confirmação de sua efetividade, ou mesmo pode não ser adotada em
nenhum grau.
Na fase da persuasão, quando o indivíduo forma uma idéia favorável
ou desfavorável sobre a inovação, tem papel fundamental os sentimentos, e
não o conhecimento de tal inovação, que é prévio. As características que o
agricultor percebe a respeito da inovação em questão, são importantes para ele
continuar no passo seguinte, com sua adoção ou rejeição. Essas
características vão desde vantagens relativas, à complexidade, à possibilidade
de ser observada, à possibilidade de experimentação sem grandes riscos e à
compatibilidade entre o significado da inovação e valores dos produtos. Este
13
último conceito é muito importante e é introduzido por ROGERS (1995) para
explicar como as características de uma inovação devem corresponder com
certos valores socioculturais dos potenciais adotadores. Uma inovação difundir-
se-á mais rapidamente quando existir congruência ou compatibilidade entre os
valores que ela requer e os existentes na população alvo. Isto é proposto como
relevante para escolher as inovações a serem difundidas e as estratégias
correspondentes para efetivar tal difusão.
A difusão para ROGERS (1995), é definida como sendo o processo
pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais, através do
tempo, entre membros de um sistema social. Já a inovação é uma idéia, prática
ou objetivo que é percebido como novo por um indivíduo ou outras unidades de
adoção.
Para GUIVANT (1992), o modelo estabelece que os níveis de adoção
dependem da combinação de características pessoais do produtor (educação,
idade, espírito empreendedor, cosmopolitismo, etc.) e da propriedade rural
(área cultivada, localização, acesso a meios de transporte e de comunicação,
renda, etc.).
Os resultados das pesquisas sobre o processo de difusão-adoção,
indicam, de acordo com ILBERY (1985) para o seguinte:
1. os agricultores com menos idade e proprietários de grandes áreas buscam
mais informações do que aqueles mais idosos com propriedades menores;
2. os agricultores com maior nível de escolaridade buscam mais informações,
sendo, por isso, mais inovadores que os de menor escolaridade;
3. agricultores mais cosmopolitas tendem a ser mais inovadores, o que pode
ser atribuído a terem mais acesso aos canais de comunicação;
4. proprietários de grandes áreas, empreendedores e não avessos a riscos,
tendem a ser os primeiros a adotar inovações agrícolas.
Com base nestas percepções, COCHRANE (1979) estabeleceu a
Theory of the Treadmill sobre mudanças tecnológicas. De acordo com esta
teoria, “os produtores que primeiro adotam as inovações tecnológicas tem
maiores rendas por reduzirem os custos por unidade de produção. Com o uso
da tecnologia, o preço dos produtos tende a cair, em função de que os
commodities agrícolas tendem a ter uma baixa elasticidade de preços com a
14
demanda. O declínio dos preços força os não adotantes a também utilizar as
novas tecnologias. Como conseqüência, estes adotadores retardatários
ganham muito pouco com a tecnologia, sendo que eles as adotam somente
para permanecer na agricultura. Quem realmente se beneficia são os
consumidores em função dos preços pagos pelos produtos que adquirem. Por
seu lado, os que não as adotam são forçados a abandonar a agricultura por
não poderem competir ou então, forçados a adotar, mesmo sem benefícios”.
O processo de mudanças sociais, particularmente no meio rural, é
extremamente complexo, envolvendo aspectos nem sempre considerados
pelos planejadores e técnicos, mas que são primordiais por influenciarem
diretamente no comportamento do agricultor. Para MUSSOI (s.d.) o processo
social na agricultura observa os seguintes pressupostos:
os produtores de subsistência são irresolutos em “experimentar” com a
sobrevivência de suas famílias, pois se uma mudança (inovação adotada)
falhar, poderá comprometer sua segurança;
de modo geral, os pequenos produtores baseiam-se mais no quanto
poderão perder se a inovação não der resultados positivos do que
propriamente a maximização de seus lucros;
a adoção de uma inovação é influenciada, ainda, por uma série de fatores,
como: idade, grau de escolaridade, isolamento, fatalismo, liderança,
cosmopolitismo, contato com agentes de assistência técnica, normas do
sistema social, entre muitos outros.
Ainda segundo MUSSOI (s.d.), outro fator que tem forte influência na
adoção, relaciona-se com o fato de que a grande maioria dos programas que
propõem mudanças são elaborados descendentemente, ficando os
beneficiários no final da linha, responsáveis unicamente pela execução das
determinações planejadas pelos técnicos, muitas vezes dissociadas das reais
necessidades, visando atender interesses meramente políticos. Dessa forma, o
processo de mudança se torna falho, pois os beneficiários não tem poder de
decisão, nem mesmo de opinião sobre as determinações que lhes deveriam
beneficiar.
15
Por se centrar demasiadamente nas variáveis individuais11 do produtor
e da propriedade agrícola, o modelo de pesquisa sobre difusão-adoção passa
por fortes contestações a partir dos anos 70. O modelo passou a ser associado
ao processo de modernização da agricultura químico-industrial e todos os seus
efeitos, principalmente ao meio ambiente, ao êxodo rural, às desigualdades
sociais, entre outros, enquanto beneficiava o setor agroindustrial e os grandes
proprietários rurais.
Neste mesmo contexto, passam a ser criticados também os conceitos e
a metodologia do modelo de difusão-adoção, especificamente quanto às fases
do processo de adoção estabelecidos por Rogers.
Quanto à identificação das variáveis específicas ligadas à adoção de
práticas de conservação do solo, as pesquisas iniciaram nos anos 50 nos
Estados Unidos. ERVIN & ERVIN (1982), relatam trabalhos que apresentam
resultados importantes. Um deles foi conduzido por BLASE (1960), que
demonstrou serem os seguintes fatores estatisticamente significantes para
explicar a redução de perdas do solo:
rendimentos externos à propriedade: interpretado como um meio para
superar dificuldades financeiras;
percepção da erosão do solo como um problema e;
capacidade para obter financiamentos.
Os resultados obtidos por BLASE (1960), mostram que as dificuldades
econômicas tem importante papel na decisão do uso efetivo de práticas de
conservação do solo. Impõe-se reconhecer, assim, que as dificuldades
financeiras dos agricultores são concebidas como afetantes na decisão de
implementar práticas que busquem o controle da erosão nas propriedades.
Estudos recentes vem aumentando a gama de variáveis consideradas
no processo decisório de adoção de tecnologias agropecuárias, inclusive as de
conservação dos solos. Entre elas, as que se mostraram estar mais
significativamente relacionadas estão o grau de escolaridade, tamanho da
11 Variáveis individuais:
do produtor: idade, escolaridade, renda, cosmopolitismo, aversão à riscos, etc.
da propriedade: área, área com culturas anuais, rebanho, tipo de culturas, localização, etc.
16
propriedade, renda bruta, idade do produtor e percepção da erosão do solo
como um problema real.
PAMPEL & VAN ES (1977), concluíram que a maior experiência
agrícola explica melhor a adoção de práticas ambientais, enquanto variáveis
relacionadas com o tamanho da operação agrícola explica melhor a adoção de
práticas comerciais.
Mas em função de uma série de fatores, notadamente por terem os
estudos sido conduzidos numa região particular, numa determinada época e
refletindo um modelo local, e devido a variável dependente que reflete o uso ou
adoção de práticas ter sido mensurada de vários modos, os resultados obtidos
por PAMPEL & VAN ES (1977) não podem ser extrapolados para outras
situações, tendo em vista que o comportamento do agricultor e os objetivos dos
programas não são idênticos. Idealizar uma medida precisa do efeito da
conservação do solo, como é reconhecido pela maioria dos pesquisadores é
um grande desafio que não se pode pretender superá-lo com simples ou
complicadas medidas objetivas. Caso a intenção seja compreender a adoção,
que nem sempre corresponde com a efetividade ou extensividade do uso, o
número de práticas implementadas é suficiente. Contudo, se o objetivo final da
política conservacionista é reduzir a erosão, as variáveis encontradas devem
refletir o grau de controle da erosão de cada prática e a extensão em que cada
uma é implantada na propriedade.
ERVIN & ERVIN (1982), concluíram que a educação e a percepção do
grau de erosão foram os mais importantes fatores que influenciaram na adoção
de práticas de conservação do solo. Estes fatores tiveram moderada
significância com a experiência do agricultor, enquanto a aversão ao risco foi
diretamente relacionada com ambas. Isto indicaria que, em geral, agricultores
jovens ou menos experientes são mais receptivos a aceitar um maior número
de práticas conservacionistas. Em contrapartida, agricultores mais experientes
requereriam mais informações a respeito dos benefícios potenciais das
práticas, especialmente técnicas que lhes são desconhecidas.
Para NOVAK (1987) o agricultor precisa estar consciente da
necessidade das tecnologias conservacionistas, ser capaz de obter
informações agronômicas e econômicas para avaliar as conseqüências e
17
receber assistência na transferência e adaptação das tecnologias às condições
climáticas, de solo, administrativas e sociais. Muitos agricultores rejeitam tais
tecnologias por falta de informação e assistência necessária para avaliar as
dimensões econômicas e agronômicas das práticas recomendadas. Ineficiência
institucional no desenvolvimento e transmissão de informações e assistência
adequada são asseveradas como sendo as maiores razões da não adoção de
práticas de conservação do solo. Além disso, NOVAK (1987) levanta a questão
da possibilidade de o custo da maioria das práticas exceder os benefícios a
curto prazo e a possibilidade de uma base a longo prazo. O agricultor espera
alcançar, em curto prazo, os custos e, a longo prazo, as metas de
produtividade. A falta de retornos financeiros imediatos na dinâmica econômica
da propriedade resulta em que a maioria dos agricultores rejeita estas
tecnologias.
NOVAK (1987) coloca, ainda, que a difusão e a expectativa econômica
são complementares antes que competitivas, mas que ambas são importantes
para explicar a adoção de práticas conservacionistas. Isso sugere que os
fatores de difusão aumentam de importância quando a complexidade da
inovação cresce e decresce de importância quando o risco é reduzido através
de apoio institucional.
18
Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão
Adaptado de REOGERS & SHOEMAKER (1974)
19
O modelo de difusão de inovações tecnológicas proposto por ROGERS
(1995), descrito anteriormente, serviu de base conceitual e metodológica para a
extensão rural em praticamente todas as suas ações. E não o foi de outra
forma no que diz respeito aos Programas de Conservação do Solo
desenvolvidos em Santa Catarina.
A difusão de práticas de conservação do solo está ligada ao início das
atividades do serviço de extensão rural, que se dá a partir da década de 40. A
preocupação com a utilização correta do solo apresentava-se como uma
atividade complementar às técnicas produtivistas vigentes na época. Essas
atividades dependiam muito mais do interesse próprio dos extensionistas do
que propriamente do plano de ação da extensão rural, pois esses não eram
capacitados para tal fim e a conservação do solo não fazia parte das
prioridades, sendo, por isso, realizadas aleatória e esporadicamente.
Um dos primeiros programas de conservação do solo desenvolvidos
pela extensão rural foi o de Propriedades Demonstrativas (PDs), que consistia
em um planejamento com a finalidade de aperfeiçoar o lado administrativo da
propriedade agrícola, para posteriormente “irradiar” os resultados às demais
propriedades da comunidade. Seu objetivo era evidenciar, através da
demonstração de resultados a longo prazo, que uma boa administração,
combinando os fatores de produção (capital, trabalho e recursos naturais),
proporcionaria maior renda ao proprietário.
Ao longo dos anos foram implementados outros programas, como a
Campanha do Calcário - 1970, Projeto Catarinense de Conservação do Solo -
1970-1975, Acordo do Trigo Brasil/Canadá - 1976, entre alguns.
Em 1977, a ACARESC (atual Epagri), empresa vinculada à Secretaria
da Agricultura, responsável pela execução do Programa de Extensão Rural no
Estado de Santa Catarina, elaborou as “Diretrizes para o Trabalho em
Conservação do Solo”, tendo como justificativa, segundo SIMON (1993), que
os trabalhos em conservação do solo até então não passavam de atividades
secundárias que acompanhavam os trabalhos de fomento à produção.
Como estratégia de ação, o Estado apregoava a difusão de técnicas
conservacionistas a todos os agricultores atendidos pela extensão rural, com
20
uma forte ação educacional, visando enfrentar a erosão dos solos através de
uma maior conscientização das comunidades rurais para o problema.
Além disso, outros programas, dentro dessa mesma visão, foram
concebidos: Programa Estadual de Conservação do Solo e Água, Plano de
Ação para o Combate à Erosão, Programa Estadual de Melhoramento e
Conservação do Solo.
O programa mais recente é o Projeto de Recuperação, Conservação e
Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas - Projeto
Microbacias, que teve como objetivos recuperar e conservar a capacidade
produtiva dos solos e controlar a poluição, buscando alcançar o incremento
sustentável da produtividade das culturas, da produtividade do trabalho do
agricultor e, em conseqüência, da sua renda líquida.
Mesmo com todos estes programas, a efetividade no controle da
erosão ainda não foi alcançada. Alguns deles obtiveram maiores alcances que
outros, mas mesmo assim os resultados conseguidos em grande parte não
foram duradouros.
De acordo com diagnóstico realizado pela Secretaria da Agricultura de
Santa Catarina, por ocasião da elaboração do Programa de Conservação e
Manejo Integrado do Solo e da Água (PCMISA) em 1986, os principais fatores
que impediram que programas anteriores obtivessem sucesso, no âmbito da
conservação do solo, estariam associados aos seguintes aspectos: ao
entendimento de que a conservação dos recursos naturais constituía um
problema específico e não um processo que afeta todos os setores e que,
portanto, a todos caberia levá-lo em conta; à percepção de que não era
possível integrar a conservação do solo e o desenvolvimento; à adoção de
processos que enfocam interesses restritos e imediatos em lugar de outros
mais amplos e de maiores prazos; e a ausência de políticas de
desenvolvimento embasadas na preservação dos recursos naturais em áreas
onde tais ações são necessariamente importantes.
Outro aspecto levantado diz respeito à falta de instrumentos de apoio
para as ações conservacionistas devido a uma pressuposta falta de
consciência de seus benefícios e da responsabilidade difusa dos que utilizam
os recursos naturais, aí incluído o Governo.
21
Com relação a essa percepção dos responsáveis pelo diagnóstico,
percebe-se claramente a visão reducionista dos programas concebidos. Pelo
número de programas desenvolvidos até então (1986), como poderia haver
tanta falta de consciência dos benefícios que a conservação do solo
proporciona? A questão era realmente a falta de consciência?
Como não se admitir que a questão central parece estar em outros
aspectos? Entre esses, pode-se citar os ligados à forma de elaboração dos
programas, da metodologia utilizada na difusão das práticas e na abrangência
das ações preconizadas.
Quanto a elaboração, quase sempre fruto de políticas governamentais
concebidas sem uma “competente” percepção, análise e interpretação por
parte dos planejadores da complexidade do problema erosão, que era
associado basicamente a um processo físico, buscando essencialmente o
controle das conseqüências. A abordagem não envolvia uma visão sistêmica,
especialmente quanto as causas e, muito menos, do envolvimento e
reconhecimento do ser humano como parte do processo. Desta forma, os
programas eram dessincronizados das reais necessidades e aspirações dos
agricultores e, acima de tudo, da compreensão da complexidade do problema
erosão, em que o ser humano era encarado apenas como um espectador.
Segundo D’AGOSTINI (1995), não basta conhecer o objeto, mas
principalmente compreender as propriedades de suas interfaces com o meio,
do qual somos parte; o campo de interesse já não é caracterizado por
demarcações de conteúdo, mas pelas relações entre esses, as dimensões não
mais se referem à forma, mas principalmente ao processo; (...).
Com respeito à metodologia, que era utilizada para difundir as práticas
previstas, valorizava sobremaneira a concepção dos técnicos, notadamente
conservacionista, em detrimento à visão que o agricultor tem sobre as questões
relacionadas com a conservação dos solos.
Por outro lado, a abrangência das ações propostas era por demasiado
restrita, visto que se limitava às áreas de lavoura e a práticas isoladas. As
práticas concebidas para atacar o problema da erosão não compreendiam uma
visão sistêmica, desconsiderando, assim, que os fenômenos climáticos não
tem ação restrita, o que normalmente implica uma necessária integração de
22
efeitos de práticas. O que acontecia era a difusão de práticas individualizadas e
não um sistema completo de manejo dos solos, que prevê a interação de um
conjunto de práticas, adequadas para cada situação particular.
Percebe-se claramente que a baixa efetividade dos programas de
conservação do solo desenvolvidos sempre foi creditada a problemas
estruturais, de conscientização e metodológicos. A preocupação maior sempre
foi com os resultados quantitativos, em termos de área conservada.
Era proposta uma metodologia que previa obter estes indicadores, que
tinha como fundamentação a difusão pura das práticas conservacionistas.
Como os resultados eram cobrados dos executores no âmbito do município, os
extensionistas rurais, sobre os quais era exercida uma forte supervisão, de
cujos resultados era feita sua avaliação de desempenho, partiam em busca de
resultados, não se preocupando com a forma pela qual iriam obtê-los. Para
isso, os extensionistas muitas vezes se valiam de artifícios, no seu
entendimento eficazes e válidos, como os de privilegiar a assistência aos
produtores mais receptivos a inovações. Isso levava a que todos os programas
beneficiassem praticamente sempre os mesmos produtores, que se
concentravam numa faixa de público relativamente pequena. Desta forma, uma
parte expressiva dos produtores rurais não tinha acesso às inovações,
tornando-se excluídos do processo. O resultado, então, era de que a
abrangência dos programas se restringia à área daquelas propriedades que
recebiam assistência, que basicamente era a mesma de programas anteriores.
Outro fator de forte influência nos resultados era a metodologia usada.
Por se concentrar demasiadamente em práticas isoladas, tanto os
extensionistas como os produtores não tinham visão sistêmica do processo
erosivo. Com isso, os resultados não eram eficazes, resultando, muitas vezes,
no abandono das práticas.
Para a difusão das práticas era essencialmente usado o modelo
difusionista de Rogers, que consiste, conforme já descrito, em três
componentes: antecedentes, processo e conseqüências, sendo que o
processo, por sua vez, é composto de quatro estágios: conhecimento,
conscientização, decisão e confirmação.
23
A ação extensionista encontrou inúmeras dificuldades como processo,
especialmente pela falta da percepção de que os estágios nem sempre serem
distintos e discretos no processo de adoção, nem serem seguidos por todas as
pessoas em seu processo de tomada de decisão ou mesmo não serem os mais
apropriados, representando tão somente uma maneira de descrever uma
seqüência relativamente contínua de ações, acontecimentos e influências, que
intervém entre o conhecimento inicial sobre a inovação e sua real adoção.
Emergem, assim, relações que permitem se levantar a questão de que
a não adoção das práticas de conservação do solo, preconizadas pelos
técnicos, se dá porque aquelas práticas não representam, em seu conteúdo, ou
não atendem na forma como operam, as prioridades do produtor.
Pelos estágios do processo de decisão individual, no que tange a
conservação do solo, tendo em vista o grande número de programas nesta
área já executados, pode-se inferir que a maior parte dos agricultores já tem o
“conhecimento” do processo erosivo. De uma forma ou de outra, não se pode
certamente refutar que o produtor, ao menos em parte, tenha conhecimento da
ocorrência da erosão, se não em sua propriedade, ao menos nas áreas
adjacentes. Com as informações que possui, o agricultor normalmente tem
condições técnicas de tomar uma decisão sobre a implantação ou não das
práticas. Onde, então, reside a falha no processo que levou produtores a não
adotarem a conservação do solo na escala desejável? E o que motivou os que
adotaram? O que certamente carece de maior atenção é a questão referente a
“conscientização” com respeito a todas as implicações e relações envolvidas
no processo erosivo e suas conseqüências.
Segundo D’AGOSTINI (1995), para controlar certos processos em que
o homem participa de alguma forma, não basta conhecer os procedimentos
tecnicamente mais eficazes, e muito menos aqueles suficientes. O controle da
erosão não é um fim, mas um meio, quando não uma mera e eventual
conveniência, na operacionalização de outras ações de interesse. Significa
dizer, que as dificuldades em controlar a erosão vão muito além do saber fazer
com eficácia técnica.
A ação humana nunca é isenta de critérios e, assim, a real importância
de controlar a erosão resulta ajustada a uma escala de prioridades,
24
determinada por complexas relações de valores, que não necessariamente
precisam ser compreendidas para que possamos reconhecer a medida
tecnicamente mais eficaz no controle da erosão. Porém, sem compreender a
significação dessas relações, não compreenderemos porque em muitos casos
não implementamos o que já sabemos ser eficaz.
A questão, dessa forma, transcende a questões de ordem técnica,
tendo em vista que as práticas de manejo do solo objetivando o controle da
erosão e a manutenção de sua capacidade produtiva são amplamente
conhecidas e apresentam-se possíveis em uma variada forma.
A proposta do presente trabalho, tomando por base os quatro estágios
(conhecimento, conscientização, decisão e confirmação), está em verificar e
procurar entender a lógica do processo decisório do agricultor em cada um dos
estágios, com o pressuposto de que a tomada de decisões se dá a partir de
uma lógica baseada em componentes de ordem econômica, operacional e
ambiental. Cada um destes componentes será analisado individualmente mais
adiante, em capítulo específico, em que serão discutidas as implicações de
cada um no processo de tomada de decisão visando a adoção de práticas de
conservação do solo.
Assim, procuramos identificar quais destes fatores são preponderantes
quando o agricultor adota ou rejeita as práticas de conservação do solo
propostas.
25
3. O PROCESSO DECISÓRIO
Há um conflito que persiste enquanto o ser humano se defronta com
múltiplas opções para tomar uma decisão acerca de um comportamento que
deverá ter sobre determinada questão. Segundo D’AGOSTINI et al. (1994), no
complexo sistema de relações de valores que determinam a destinação de uso
e manejo do solo agrícola por parte do produtor, os critérios12 vão do
edafológico ao financeiro, passando inclusive pelo grau de comodidade
ergonométrica do esforço muscular.
A influência dos valores sociais são determinantes da atitude e uma
das mais fortes motrizes da evolução das culturas. A predisposição para agir
de acordo com certa dinâmica dos valores sociais manifesta-se de diferentes
modos, tomando como ponto de partida as atitudes mentais que refletem as
formas de pensar e de se sentir susceptível a determinada ação. Como as
atitudes mentais não se igualam em todos os grupos ou estratos de uma
sociedade diversificada, o que vem à superfície são as atitudes sociais, que
desempenham funções específicas para cada um de nós, ajudando-nos a
formar uma idéia mais estável da realidade em que vivemos.
De acordo com CEPAL (1982), os valores e conceitos sociais
preestabelecidos são frutos e condicionantes do que, em termos gerais, se
denomina cultura. Assim, estes valores podem ser expontâneos, impostos ou
induzidos à sociedade, condicionando sua conduta. Por outro lado, se o
desenvolvimento destes valores é fruto da expressão intrínseca do grupo,
determina, mais freqüentemente, a cultura que a comunidade quer
desenvolver. Numa comunidade combinam-se, em maior ou menor grau,
ambas as situações.
O homem age, normalmente, de acordo com os valores vigentes. Este
comportamento envolve componentes dos mais variados significados e
origens.
O comportamento do produtor tem por base a conjugação de uma série
de fatores, os quais deve considerar em suas decisões. Estes fatores dizem
12 Critério: o que serve de norma para julgamento ou apreciação. Modo de apreciar. Princípio que
permite distinguir o erro da verdade.
26
respeito à sua condição e aos objetivos pelos quais desenvolve suas
atividades. Assim, certamente um produtor que tem por objetivo basicamente a
subsistência de sua família, terá como base de suas decisões fatores bastante
distintos daqueles de um produtor que tem por objetivo obter altas taxas de
retorno do capital investido.
O mesmo pode ser dito a respeito dos fatores que determinam o
comportamento do produtor frente a adoção ou rejeição de práticas de
conservação do solo. Uma gama extremamente variada de fatores está
implicada neste seu comportamento, mas para o presente estudo nos ateremos
aos componentes de ordem econômica, operacional e ambiental.
3.1. Fatores de ordem econômica
Para CEPAL (1982), a incerteza a que estão sujeitos os ganhos que
podem derivar das opções de aplicação do capital são incorporadas pelo
produtor no processo de tomada de decisões como funções de probabilidade
que lhe impulsionam a buscar, pelo menos, uma certa proporcionalidade entre
o ganho e o risco. No caso do produtor de subsistência, sua vulnerabilidade
aos efeitos de um resultado adverso é tão extrema que sua conduta é guiada
por uma espécie de "algoritmo de sobrevivência", que o leva a evitar os riscos
quaisquer que sejam os ganhos potenciais que se derivariam de correr estes
riscos (CEPAL, 1982).
A forma como os riscos são internalizados e pelas incertezas, da mais
variada ordem, enfrentadas pela atividade agrícola, são alguns dos fatores de
que se pode valer para procurar explicar a relutância do produtor em não
querer modificar seus métodos de cultivo, mesmo que as alternativas possam
vir a proporcionar ganhos adicionais. Para que o produtor venha a efetuar
mudanças no sistema produtivo, principalmente pela adoção de práticas até
então rejeitadas, é necessário que as novas tecnologias representem a
possibilidade de proporcionarem uma redução nos riscos a que a agricultura
está sujeita. A proposição de novas metodologias deve estar revestida de
significados claramente identificáveis pelo produtor, no sentido de que ele
possa ter segurança de que as alterações introduzidas em seu sistema
27
produtivo, através da adoção de novas práticas, venham a lhe proporcionar
ganhos adicionais.
A maior parte das ações humanas parece ser comandada por
interesses de caráter econômico, principalmente se este manifestar evidência
real de proporcionar diminuição nos riscos a que as ações estão sujeitas e
aumento nos ganhos advindos dessas ações.
Para SCHULTZ (1965), o comportamento dos agricultores é governado
por uma racionalidade segundo a qual eles se orientam com o objetivo de
maximizar seus lucros e minimizar seus custos na exploração dos recursos
disponíveis. No caso da agricultura, e mais especificamente da pequena
propriedade, que é a base da estrutura fundiária de Santa Catarina, em que o
caráter de subsistência se manifesta mais intensivamente, o produtor procede
de forma a não colocar em risco a segurança de sua família. Com isso, pelas
particularidades próprias da agricultura, a decisão de introduzir novas
tecnologias embute conceitos nem sempre percebidos pelos técnicos, sejam
planejadores ou executores. Assim, a argumentação para motivação do
produtor para a adoção de novas tecnologias deve estar revestida de
significados que estejam em consonância com sua lógica comportamental.
No processo de tomada de decisões objetivando introduzir novas
práticas em seu sistema produtivo, o agricultor considera os seguintes
aspectos, entre outros e não obrigatoriamente nesta ordem, dentre os fatores
de caráter econômico:
aumento na renda;
aumento nos custos de produção;
diminuição nos custos de produção e;
aumento na produtividade.
Quanto ao aumento da renda, este é o fator de que os técnicos mais se
valem para procurar mostrar aos produtores os benefícios econômicos
resultantes caso venham a adotar as tecnologias que estejam propondo. Mas
ele por si só tem pouca significação, pois para que tal situação ocorra pode
haver a necessidade de aumento no aporte de recursos financeiros, implicando
que no final do processo as taxas de retorno sejam menores, ou seja, o
28
produtor necessitou investir maiores volumes de recursos para obter menores
rendimentos líquidos.
Tendo em vista a situação em que se encontra o produtor com relação
à descapitalização e à pouca disponibilidade de recursos, a possibilidade de
redução nos custos de produção, mesmo que isto venha a ocorrer no longo
prazo, é uma das questões que mais explicitamente pode provocar mudanças
no comportamento decisório, especialmente se a redução nos custos de
produção estiver aliada à possibilidade de proporcionar ganhos adicionais de
produtividade e, conseqüentemente, de renda. Isso pode ser claramente
compreensível, pois essa condição diminui as taxas de risco a que o produtor
está sujeito. O aumento da produtividade como fator motivador desperta
interesse no produtor na medida em que ele consiga vislumbrar aumentos nos
rendimentos finais, especialmente se este fator for obtido com uma diminuição
nos custos de produção.
Para SCHULTZ (1965) em sua obra Transformação da Agricultura
Tradicional, no que se refere a sua racionalidade econômica, as propriedades
familiares, e neste conceito se enquadram praticamente todas aqueles que
constituem o universo de estudo e obtenção de informações para o presente
trabalho, a exemplo da maioria das propriedades rurais de Santa Catarina,
operam em moldes tais que nada as diferenciam de uma empresa. É
perfeitamente legítimo que abstraia-se todo o conteúdo cultural e até
psicológico envolvendo a ação dos indivíduos: seu resultado traduz a conduta
maximizadora de lucros. O agricultor não só é capaz de utilizar seus insumos
de maneira a obter a maior quantidade possível de produto, mas, mais que
isso, essa operação leva em conta o nível relativo dos preços, de maneira a
minimizar os custos e ou maximizar os resultados da produção. Isso quer dizer
que o agricultor comporta-se de maneira eficiente não só do ponto de vista
técnico, mas também alocativo. Já LIPTON (1968), citado por ABRAMOVAY
(1992), vê na lógica econômica do agricultor o contrário do que é entendido por
Schultz: não há busca do lucro, mas há aversão ao risco. Neste sentido, é claro
que os agricultores não optam por maximizar seus lucros em situações em que
ganhos adicionais seriam eventualmente possíveis, se houver em torno destes
29
ganhos adicionais um risco de perdas que impliquem uma ameaça de redução
da produção aquém da subsistência.
3.2. Fatores de ordem operacional
Para CALDAS (1964), tem-se como certo que o fator humano, com sua
psicologia e natureza própria, constitui fator decisivo capaz de impedir ou de
facilitar a propagação das soluções encontradas.
De acordo com FRANKLIN (1968) apud CEPAL (1982), o objetivos do
produtor, especialmente no caso das propriedades familiares, como é o caso
da maioria da propriedades em Santa Catarina, são, em primeiro lugar, de
caráter familiar, aí incluídas as questões inerentes ao trabalho dos membros da
família, e secundariamente econômicos, visto que seu propósito é maximizar a
força de trabalho mais do que o lucro ou outro indicador de eficiência. De
acordo com SILVA (1981), existe uma estreita vinculação entre a relação de
trabalho e o nível de tecnologia utilizado nas propriedades agrícolas.
ABRAMOVAY (1992), analisando estudos desenvolvidos por
CHAYANOV (1926/1985), assinala que não é o estudo de sua inserção na
divisão social do trabalho e o papel que aí ele desempenha que explicam o
comportamento do agricultor: ao contrário, é pelo estudo de seu
comportamento que se pode compreender a maneira como ele se insere
socialmente. Em outras palavras, o mercado, a disponibilidade de terras e o
padrão tecnológico disponível são fatores dos quais ele se serve na montagem
de seu objetivo econômico fundamental, mas não explicam por si só este
objetivo e, portanto, a conduta do agricultor.
ABRAMOVAY (1992) vai além: a lei básica de existência camponesa
pode ser resumida na expressão "balanço entre trabalho e consumo", que de
acordo com CHAYANOV (1925/1986: 271-277) é definida como "o cálculo, não
necessariamente explícito ou consciente, que estabelece o equilíbrio
econômico básico entre a penosidade do trabalho e a satisfação econômica. O
objetivo econômico principal é organizar o ano de trabalho para atender a
demanda da família, até mesmo o desejo de poupar ou investir capital, se
possível". O importante é que tanto a satisfação das necessidades de
30
consumo, como o julgamento sobre a penosidade do trabalho de atingi-la são
de natureza estritamente subjetiva. O valor que a família atribui a seu esforço -
e que explica o volume da atividade econômica - depende da estimativa que é
feita do trabalho, relativamente à satisfação das necessidades de consumo. Em
outras palavras, trata-se de determinar a utilidade marginal da renda obtida,
relativamente às necessidades de consumo, pois é isso que permite
“estabelecer a natureza da motivação da atividade econômica da família
camponesa (CHAYANOV, 1925/1986 apud ABRAMOVAY)”.
Ainda de acordo com ABRAMOVAY (1992), o que determina o
comportamento do agricultor não é o interesse de cada um dos indivíduos que
compõem a família, mas sim as necessidades decorrentes da reprodução do
conjunto familiar. Para ele, a intensidade do trabalho agrícola não é
determinada por sua relação com outros setores, mas fundamentalmente pela
razão entre a penosidade dos esforços empreendidos, relativamente à
satisfação de suas necessidades. É da relação entre a penosidade do trabalho
e a satisfação das necessidades que vai depender a escolha da família com
relação a comercialização de sua produção, ao uso de financiamentos ou ao
uso de insumos de origem industrial. A aplicação de capital não depende
apenas do fato de que esse capital pode reduzir a penosidade do trabalho, mas
sobretudo dos impactos que os gastos de investimentos terão sobre o consumo
familiar e dos usos alternativos da capacidade de trabalho poupada. Se o
investimento de capital significar gasto de dinheiro visando a redução de
esforços sem que isso se traduza num aumento da renda bruta familiar, ou de
maneira a provocar uma ociosidade do trabalho, cuja utilização teria a virtude
igualmente de aumentar a renda bruta, mesmo sem provocar gastos com
compra de equipamentos, o investimento não será feito.
Na concepção de SCHULTZ (1965), segundo ABRAMOVAY (1992),
plantar mais, por exemplo, é uma decisão que leva em conta
fundamentalmente a produtividade marginal dos fatores: o investimento no
trabalho é feito com base na melhor combinação possível dos fatores, de forma
que um trabalho adicional e que represente esforço com retorno insuficiente
não será realizado; da mesma forma, é impensável que o agricultor deixe de
esforçar-se para alcançar a situação ótima que, no quadro dos recursos por ele
31
disponíveis, pode atingir. Num momento em que não eram poucas as teses
que atribuíam a pobreza à preguiça ou à ignorância, Schultz aponta para um
comportamento absolutamente racional.
A mesma linha de raciocínio pode ser utilizada com relação à adoção
de práticas de conservação do solo. Estas somente serão aceitas pelos
produtores à medida em que proporcionarem conforto em suas atividades,
redução no esforço despendido, bem como possibilitarem ganhos adicionais de
renda. Nenhuma prática, por mais eficaz que possa ser no controle do
processo erosivo, será adotada somente por essa eficácia. O agricultor deverá
perceber nelas, as práticas conservacionistas, vantagens além daquelas
ocasionadas pelo objetivo com que foram implantadas, ou seja, além de
controlarem a erosão, precisarão implicar, mesmo que subjetivamente,
vantagens econômicas, operacionais, entre outras.
3.3. Fatores de ordem ambiental
De acordo com D’AGOSTINI (1995), a preservação do meio vem
adquirindo uma importância crescente no sistema de relações que determinam
o comportamento humano. Contudo, segundo ele, o preservacionismo não é o
único e, por enquanto, nem o mais determinante critério na objetivação de
valores que inspiram e movem o homem no uso do solo agrícola.
Os fatores relacionados com a preservação das características do meio
no qual o agricultor desenvolve suas atividades tornam-se cada vez mais
relevantes no processo de tomada de decisões. Isso, para REIJNTJES et al.
(1994), se deve principalmente a uma crescente consciência do impacto das
ações que provocam danos ao meio por parte do produtores, bem como à
mudanças das preocupações e das ações dos Governos, das Organizações
não Governamentais e das pessoas, mais voltadas agora para um
desenvolvimento sustentável, com iniciativas que visam desenvolver políticas e
tecnologias que promovam a sustentabilidade agrícola.
Os problemas ambientais são devidos, na maior parte, à exploração
excessiva e inadequada do solo, à ampliação, sem os cuidados devidos, das
áreas cultivadas, ao uso excessivo e indiscriminado de insumos químico-
32
sintéticos, principalmente pesticidas e fertilizantes, para citarmos apenas
alguns. Com isso, os solos estão apresentando uma degradação em sua
fertilidade, áreas irrigadas encontram-se com sérios problemas de salinização,
áreas significativas apresentam problemas de poluição e contaminação por
resíduos dos produtos químicos utilizados, além de várias regiões
apresentarem-se com sérios problemas com relação à água, seja pela sua
escassez ou poluição, tornando-a inviável para o uso.
Em função disso, os produtores passam a considerar os fatores de
ordem ambiental como sendo cada vez mais significativos. A valorização de
aspectos mais sustentáveis de produção, que procuram respeitar os
fenômenos naturais, como a produção de matéria orgânica, a ciclagem de
nutrientes, a criação de reservatório de nutrientes no solo, a proteção natural
contra pragas e doenças e o controle da erosão (REIJNTJES et al., 1994),
estão passando a fazer parte dos sistemas de manejo das culturas, como
forma de proporcionar a continuidade e a estabilidade da produção e da própria
atividade agrícola. Com isso, as relações de produção estão se modificando,
deixando a agricultura de ser somente uma atividade exploratória e extrativista
e o solo visto como mero suporte para as plantas, para se tornar uma relação
de troca, em que o solo responde com produções mais estáveis, de melhor
qualidade e contínuas na mesma proporção que o produtor procura respeitar a
ordem natural dos processos que nele ocorrem.
Dessa forma, as características e implicações ambientais envolvidas no
processo decisório tornam-se cada vez mais valorizadas e observadas, com
sua importância devida tendo significação nas atitudes dos produtores.
33
4. ÁREA DE ESTUDO
O presente trabalho teve como base geográfica a região do Alto Vale
do Itajaí, integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açú, Estado de Santa
Catarina (Figura 1).
A seleção da região do Alto Vale do Itajaí foi feita considerando-se os
seguintes aspectos:
1. localização geográfica: relativa proximidade com Florianópolis, o que
permitiu maior agilidade na realização das entrevistas com os produtores e
a coleta dos demais dados de campo necessários;
2. desde 1984 ter participado das primeiras experiências na utilização da
microbacia hidrográfica como unidade de planejamento desenvolvidas no
Estado, ter participado do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas
(PNMH), que se iniciou em 1987 e, a partir de 1991, estar participando do
Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em
Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, o que permite supor
uma maior intensidade das ações dos técnicos com relação a difusão de
práticas de conservação do solo, em praticamente todos os municípios da
região; e
3. dados do Relatório de Atividades do Projeto Microbacias/BIRD, atestam que
são desenvolvidas e aplicadas nas microbacias da região práticas de
conservação do solo como cobertura vegetal, práticas mecânicas (terraço,
cordões de contorno) e práticas de preparo conservacionista (plantio direto,
cultivo mínimo e preparo reduzido).
4.1. Breve Histórico da Região
A colonização do território catarinense processava-se, no curso do
século XVIII, em direções paralelas, pelo Litoral e Planalto, sem ligação entre
elas. No Litoral, os estabelecimentos vicentistas e açorianos haviam distribuído
a população entre si, que se comunicava por mar ou por caminhos em que, não
34
raro, o mar completava a estrada. A Oeste, a Serra do Mar se erguia como
uma barreira.
As dificuldades de vencer a escarpa do planalto obrigava o uso da
estrada para Tubarão, no Sul do Estado, construída em 1771. Necessidades
militares de defesa do Desterro (atual Florianópolis), levaram as autoridades a
procurar uma ligação direta com Lages, vencendo a Serra do Mar e, após, a
Serra Geral, disseminando a população ao longo dessa estrada (atual BR-282).
O estabelecimento dos imigrantes alemães, que iniciaram a Colônia
Blumenau em 1850, aumentou o povoamento do Litoral ao norte da Capital da
Província. Com o desenvolvimento desta, se fez sentir a necessidade de novas
comunicações com o Planalto.
Em 1863, o engenheiro Emílio Odebrecht, da Colônia Blumenau, subiu
o Rio Itajaí Açu até a confluência dos rios Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste. Essa
primeira expedição não produziu nenhum fruto além do conhecimento do
território.
No ano seguinte, o mesmo engenheiro, tendo feito uma expedição a
Lages e Curitibanos, obteve os elementos necessários para proceder a
exploração de um “picadão” que ligasse Blumenau a Curitibanos. Somente em
1867 Emílio Odebrecht tornou a passar pelo território de Rio do Sul, deixando a
“picada” que durante muitos anos foi a única ligação de Blumenau com o
Planalto.
A história da penetração dos colonos de Blumenau confunde-se com a
das estradas de rodagem atuais. A estrada que, de Blumenau, subia o Itajaí
Açu, alcançou Lontras em 1894 (atual BR-470). As outras correntes de
povoamento surgiram em 1910, com a construção da estrada de Barracão
(atual Alfredo Wagner), pelo vale do Rio Itajaí do Sul, e em 1919 e 1921 com
as estradas de Lages e Taió.
Nessa época, ofereciam mais probabilidades de se tornarem cidades
os povoados que se formaram nas barras dos rios Lontras e Matador do que na
união dos braços dos rios Itajaí do Sul e do Oeste.
Toda a região era uma parte da vasta zona agrícola do distrito de
Indaial, não havendo qualquer traço de urbanização.
35
A partir de 1920, com a contratação de numerosas rodovias e a
concessão de terras devolutas para colonização por parte do Governo do
Estado, houve significativo aumento da população; atraídos pelo trabalho, os
colonos de origem italiana do Sul do Estado motivaram-se em se estabelecer
em núcleos.
Nos anos 30, com a implantação da Estrada de Ferro Santa Catarina,
serrarias foram estabelecidas, consolidando o ciclo madeireiro, dando origem a
um novo tipo de povoação, nascida do desenvolvimento do comércio e da
indústria. Bela Aliança, vivendo do comércio mantido pelos colonos, impôs-se
às demais localidades da região, por ser o centro de abastecimento de uma
zona mais povoada, cuja população se estabelecera às margens dos três rios
ali existentes: Trombudo, Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste.
A nova situação política, pela promoção de Bela Aliança a sede do
município, com o nome de Rio do Sul, acabou por alterar-lhe a estrutura, que
deixou de ter o mesmo quadro apresentado pelos povoados e vilas, para
tornar-se a cidade pólo da região, que hoje congrega todos os municípios da
região denominada Alto Vale do Itajaí (FECAM/AMAVI, 1992).
4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí
A região do Alto Vale do Itajaí situa-se entre os paralelos 26º34'
(latitude norte) e 27º41' (latitude sul); 49º28' (longitude leste) e 50º26' (longitude
oeste) (Figura 1). Possui uma área de 6.837 km2, compreendendo 7,17% da
área do Estado de Santa Catarina (FECAM/AMAVI, 1992), agrupados em
24.626 propriedades agrícolas. Conforme é apresentado na Tabela 3, percebe-
se a predominância de pequenas propriedades, sendo que 60,63% possuem
área inferior a 20 hectares, ocupando somente 38,02% da área agrícola total.
A população da região é de 224.361 habitantes, dos quais 112.024
(49,93%) habitam o meio urbano e 112.337 (50,07%) o meio rural (IBGE,
1991).
Segundo Köeppen, o clima da região classifica-se parte como
mesotérmico úmido, sem estação seca, com verões quentes (clima Cfa), nas
áreas de cotas altimétricas inferiores a 700 metros, e parte como Cfb
36
(mesotérmico úmido com verão ameno), nas áreas de cotas altimétricas
superiores a 700 metros, apresentando temperatura média anual de 18ºC e
taxa de precipitação anual variando de 1.600 a 1.800 mm. A Tabela 4
apresenta os dados de temperatura e precipitação referentes a Estação
Agroclimática da Epagri de Ituporanga (latitude 27º22' S; longitude 49º35' W;
altitude 475 metros) e do Posto Pluviométrico de Salto Grande, Ituporanga
(latitude 21º24'S; longitude 49º36'W; altitude de 370 metros).
O sistema de drenagem da vertente do Atlântico compreende uma área
de aproximadamente 35.298 km2, ou seja, 37% da área total do Estado, onde
se destaca a Bacia do Itajaí com aproximadamente 15.500 km2. Essa bacia
conta com três grandes tributários (Rio Itajaí do Norte ou Hercílio, Rio Itajaí do
Oeste e Rio Itajaí do Sul), e possui, ainda, um grande afluente, o Rio Itajaí
Mirim, sendo a maior bacia inteiramente catarinense. A região do Alto Vale do
Itajaí compreende em torno de 44% dessa bacia.
O relevo que constitui essa unidade geomorfológica apresenta grandes
variações altimétricas. As maiores cotas estão no sudeste da área e
correspondem aos topos da Serra da Boa Vista, que atingem 1.220 metros. A
leste dessa Serra, as cotas decaem e, assim, no limite do Planalto de Lages
tem-se cotas em torno de 700 metros. As menores altitudes estão nos vales
dos rios, como por exemplo na cidade de Rio do Sul, às margens do Rio Itajaí
do Sul, que está a 350 metros de altitude. Também é grande o desnível entre
os interflúvios (900m) e a calha do Rio Itajaí do Norte (400m).
No que diz respeito aos solos, existe uma grande diversidade na
região, sendo que os predominantes são:
a) gley: solos álicos e distróficos, relevo plano, necessitam de drenagem para
uso agrícola, pouco profundos, bom potencial para a cultura do arroz
irrigado; e
b) cambissolos: álicos e distróficos, predominam em relevo ondulado e forte
ondulado
Quanto a distribuição dos estabelecimentos agrícolas por área de
lavoura, constata-se a predominância das pequenas unidades de produção,
pois 83,08%, ou 18.621 propriedades cultivam áreas inferiores a 10 hectares,
conforme é mostrado na Tabela 5.
37
No tocante a utilização das terras agrícolas da região, as áreas com
lavouras ocupam 37,37%, as pastagens 31,51%, as matas e florestas naturais
e plantadas 25,53%, sendo que 5,59% da área não é utilizada, demonstrando
uma larga utilização dos solos para as atividades agropecuárias (Tabela 6).
A região do Alto Vale do Itajaí tem na agropecuária uma das suas
principais atividades econômicas, destacando-se as culturas do fumo, milho,
cebola, mandioca e arroz irrigado como as mais representativas, assim com a
produção de leite (Tabelas 7 e 8)
Quanto a condição de posse da terra, a região apresenta 69,99% dos
produtores como proprietários, que ocupam 84,96% da área total; 7,17% de
arrendatários, com 4,09% da área; 10,18% classificados como parceiros com
4,30% da área e 12,66% ocupantes com 6,65% da área (Tabela 9).
No que diz respeito a conservação dos solos, conforme diagnóstico
realizado pela Epagri (1996c), a região apresenta um quadro bastante
preocupante, tendo em vista caracterizar-se por apresentar uma topografia
muito acidentada. Associado a essa condição, os tipos de solos predominantes
são, na sua maioria, originários de rochas sedimentares, bastante suscetíveis a
erosão. Cultivos expressivos como os de cebola e mandioca, pelo fato de
serem culturas que proporcionam baixos índices de cobertura do solo,
potencializam os problemas de erosão e conseqüente degradação do solo.
O uso intensivo do solo, aliado ao manejo inadequado que foi e ainda
continua sendo praticado nos sistemas convencionais, tem ocasionado sérios
danos à capacidade produtiva dos solos. Em grandes áreas já se perderam,
principalmente pela erosão, mais de 15cm da camada de solo (horizonte A). O
problema da formação de camadas compactadas do solo13 é generalizado em
toda a região, tendo, com isso, alterações significativas na estrutura física dos
solos.
Além da destruição da estrutura física do solo, os níveis de matéria
orgânica tem diminuído expressivamente, chegando a índices críticos, abaixo
de 1%, o que praticamente inviabiliza o uso desses solos para a agricultura.
13 Camadas compactadas do solo: camadas internas do solo, adensadas, que se formam pela ação
compactadora de máquinas e implementos agrícolas, especialmente quando o solo é cultivado em
condições não adequadas de umidade, afetando a livre circulação de ar e água e impedindo o
desenvolvimento normal das raízes das plantas.
38
O sistema de cultivo dos solos, por tradição, implica em seu
revolvimento, preparo do leito para semeadura e manutenção das culturas
livres de qualquer concorrência de outras plantas. Esse sistema de cultivo,
denominado convencional, leva ao uso de máquinas e equipamentos pesados,
com inúmeras operações, além de ser altamente dependente de insumos
químicos industriais.
Este quadro tem se refletido na queda gradual da capacidade produtiva
dos solos da região, implicando no uso cada vez maior de fertilizantes minerais
e corretivos como forma de manter a produtividade das lavouras, porém com
elevação considerável nos custos de produção.
39
Figura 1. Localização da área de estudo
40
Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
ÁREA (ha) PROPRIEDADES % * ÁREA % *
0,0 - 9,9 8.207 33,33 33,33 56.583 9,98 9,98
9,9 - 19,9 6.724 27,30 60,63 102.441 18,06 28,04
20,0 - 49,9 7.479 30,37 91,00 209.679 36,98 65,02
50,0 - 99,9 1.138 4,62 95,62 74.890 13,21 78,23
100 - 499,9 1.014 4,12 99,74 71.648 12,63 90,86
> 500,0 64 0,26 100,00 51.840 9,14 100,00
TOTAL 24.626 100,00 - 567.081 100,00 -
Fonte: Epagri - 1996c * Acumulado
Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC
MESES TEMP. MÉDIA
(ºC)
MÉDIA TEMP. MÁXIMA (ºC)
MÉDIA TEMPERATURA
MÍNIMA (ºC)
PRECIPITAÇÃO TOTAL (mm)
PRECIPITAÇÃO MÁXIMA 24 h
(mm)
DIAS DE CHUVA
(n.º)
Jan. 22.6 29.6 18.8 151.4 104.7 12.1
Fev. 22.3 28.9 18.1 157.0 105.5 12.6
Mar. 21.8 28.9 17.4 125.3 67.1 10.9
Abr. 19.4 25.4 15.3 89.4 72.2 7.9
Maio 14.6 20.7 10.8 93.6 91.0 8.2
Jun. 12.3 18.8 8.2 96.3 84.3 8.8
Jul. 11.9 18.8 7.4 11.5.7 119.5 8.7
Ago. 14.1 20.6 9.8 128.7 102.5 9.0
Set. 15.5 21.2 11.9 148.4 72.2 11.3
Out. 18.0 24.1 13.8 135.2 95.7 10.9
Nov. 20.4 27.0 15.7 101.1 56.7 8.6
Dez. 22.1 28.9 17.5 134.7 100.2 10.0
ANO 17.9 33.5 13.7 123.0 - 9.9
TOTAL - - - 1.477 - 119.0
Fonte: Epagri - 1996c
41
Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985
ÁREA (ha) ESTABELECIMENTOS * % *
< 1,0 765 765 3,41 3,41
1,0 - 2,0 1.291 2.065 5,76 9,17
2,0 - 5,0 7.781 9.837 34,72 43,89
5,0 - 10,0 8.784 18.621 39,19 83,08
10,0 - 20,0 3.284 21.905 14,65 97,73
20,0 - 50,0 487 22.392 2,17 99,90
50,0 - 100,0 21 22.413 0,10 100,00
TOTAL 22.413 - 100,00 -
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 * Acumulado
Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC
USO NÚMERO ÁREA * % *
Permanentes 11.620 2.023 0,45
Lavouras Temporárias 22.288 138.208 31,02
Em descanso 6.819 26.293 166.524 5,90 37,37
Pastagens Naturais 16.092 95.440 21,42
Plantadas 5.296 44.973 140.413 10,09 31,51
Matas e Naturais 12.549 100.693 22,60
florestas Plantadas 2.882 13.048 113.741 2,93 25,53
Não utilizadas** - 6.090 24.921 24.921 5,59 5,59
TOTAL - - 445.599 445.599 100,00 100,00
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 * Acumulado ** terras produtivas não utilizadas
42
Tabela 7. Principais culturas anuais exploradas na região do Alto Vale do Itajaí - SC - Safra 1994/1995
CULTURA ÁREA (ha) PRODUTIVIDADE (ton./ha) TOTAL (ton.)
Arroz Irrigado 8.841 6,76 59.768
Batatinha 3.217 7,58 24.396
Cebola 15.899 9,70 154.325
Feijão Safra 8.344 1.17 9.752
Feijão Safrinha 6.892 0,86 5.906
Fumo 29.567 1,84 54.432
Mandioca 13.289 21,10 280.500
Milho 56.455 3,00 169.395
Fonte: Epagri - 1996c
Tabela 8. Principais criações da região do Alto Vale do Itajaí - SC
CRIAÇÕES CABEÇAS PRODUÇÃO
Abelhas (colméias) 15.843 -
Aves/corte 2.009.000 14.795 ton. carne/ano
Bovinos/corte 136.205 7.369,5 ton. carne/ano
Bovinos/leite 90.400 81.240.000 l. leite/ano
Peixes (ha) 1.053 864 ton. carne/ano
Suínos 188.729 13.701 ton. carne/ano
Fonte: Epagri - 1996c
Tabela 9. Posse da terra na região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985
TIPO NÚMERO % ÁREA %
Proprietários 15.926 69,99 421.815 84,96
Arrendatários 1.632 7,17 20.282 4,09
Parceiros 2.316 10,18 21.340 4,30
Ocupantes 2.881 12,66 33.022 6,65
TOTAL 22.755 100,00 496.459 100,00
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985
43
5. PROCEDIMENTOS 5.1. Premissas básicas
Para a obtenção das informações de campo, que serviram de base
para realização do trabalho, foram considerados os seguintes pressupostos:
a) no desenvolvimento do Projeto Microbacias/BIRD há uma participação, por
adesão direta, de pelo menos 70% dos produtores nela residentes; e
b) apesar da extensão geográfica da região estudada, do elevado número de
microbacias e de propriedades rurais, a amostragem dos produtores rurais
representam significativamente o universo considerado.
5.2. Plano de amostragem
A metodologia descrita a seguir envolve a explanação dos critérios,
técnicas e sistemática operacional, considerando as premissas e limitações
existentes, bem como os objetivos do presente trabalho.
5.2.1. Base de dados
Para determinação das amostras investigadas, tomou-se por base as
seguintes informações:
1. dados relativos à identificação e localização das microbacias trabalhadas,
com a especificação da data de início dos trabalhos e o número de
propriedades nelas contidas;
2. listas com a relação dos produtores que participam do Projeto, em cada
microbacia trabalhada e;
3. lista de todas as microbacias contidas na área de estudo.
44
5.2.2. Âmbito e população
O espaço geográfico de abrangência do trabalho compreendeu o
conjunto das microbacias e respectivas propriedades rurais contidas nos 12
municípios trabalhados pelo Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale
do Itajaí, com início das atividades no ano de 1991. Como universo pesquisado
foi considerado o conjunto de propriedades que tiveram os trabalhos do Projeto
Microbacias/BIRD iniciados no ano de 1991, com continuidade nos anos de
1992 e 1993.
5.2.3. Época e período de referência
As entrevistas com os produtores rurais e com os técnicos
responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em seus respectivos
municípios, foram realizadas nos meses de agosto e setembro de 1996.
As informações, em sua maioria, são referentes à safra agrícola
1995/96, tendo sido consideradas como unidades de pesquisa as microbacias
e respectivas propriedades que tiveram os trabalhos do Projeto
Microbacias/BIRD iniciados no ano de 1991, com continuidade nos anos de
1992 e 1993.
5.3. Seleção da amostra
A definição das amostras (identificação e localização das propriedades)
foi feita com base nas listas de participantes do Projeto, fornecidas pela
Secretaria Executiva do Projeto Microbacias/BIRD, elaboradas no início dos
trabalhos nas microbacias. As amostras foram determinadas por sorteio, em
procedimento de amostragem sistemática.
45
5.4. Definição e Operacionalização das Variáveis
Para se alcançar os objetivos propostos no presente trabalho foram
analisadas as seguintes variáveis:
5.4.1. Caracterização das unidades de produção
Para caracterização das propriedades agrícolas foram determinadas as
variáveis a seguir relacionadas:
a) Idade do produtor
b) Disponibilidade de mão-de-obra
foi mensurada através do somatório das Unidades de Trabalho/Homem
(UTH) da propriedade, com base na seguinte escala (SOLDATELLI &
HOLZ, 1994):
IDADE UNIDADE DE TRABALHO/HOMEM (UTH)
10 a 14 anos 0,5
15 a 60 anos 1,0
61 a 65 anos 0,7
> 65 anos 0,4
"UTH - é uma unidade padrão de mão-de-obra que serve para medir a
disponibilidade, bem como para remunerar o fator trabalho de uma
empresa agrícola. Eqüivale ao aporte de trabalho de uma pessoa adulta
em tempo integral, em uma propriedade rural, durante um ano. Uma
Unidade de Trabalho Homem corresponde a um adulto que trabalha 8
horas por dia, durante 300 dias por ano, em uma propriedade rural.
Também é chamada Equivalente Homem" (SOLDATELLI & HOLZ, 1994).
46
c) Escolaridade do produtor
refere-se a instrução formal recebida, e foi avaliada pelo número de anos
completos de escola cursados pelo produtor:
Não freqüentou a escola : 0
Primário: 1 a 4 anos : ( 1 - 2 - 3 - 4 )
Ginásio: 5 a 8 anos : ( 5 - 6 - 7 - 8 )
Segundo grau: 9 a 11 anos : ( 9 - 10 - 11 )
Terceiro grau: 12 a 16 anos : ( 12 - 13 - 14 - 15 - 16 ).
d) Área da propriedade
mensuração da área total de terras de propriedade do produtor, na área de
abrangência da microbacia.
e) Área explorada com culturas anuais
foram consideradas as áreas efetivamente exploradas com culturas anuais no
ano agrícola de 1995/96.
f) Adoção de Práticas de Conservação do Solo em áreas de lavoura
a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores foi
determinada com base no tipo de práticas implantadas, recomendadas
pelos técnicos do Projeto Microbacias/BIRD (SANTA CATARINA, 1995),
abaixo relacionadas:
A) Práticas de cobertura vegetal do solo - aveia (Avena spp), ervilhaca
(Vicia spp), aveia + ervilhaca , mucuna (Mucuna spp), capim doce
(papuã - Brachiaria plantaginea) e outras;
B) Práticas de preparo conservacionista do solo - plantio direto, cultivo
mínimo e preparo reduzido; e
C) Práticas mecânicas de controle da erosão - terraços, cordões de
contorno - pedra ou vegetais.
47
De acordo com os critérios abaixo especificados, os produtores
foram enquadrados como ADOTANTES, PARCIALMENTE ADOTANTES
ou NÃO ADOTANTES:
1. ADOTANTES:
enquadram-se neste grupo os produtores que implantam as práticas
conservacionistas consideradas nos grupos A, B e C, as práticas dos
grupos A e B ou somente as práticas do grupo B, tendo em vista que
os adotantes deste grupo também adotam, obrigatoriamente, as
práticas do grupo A.
2. PARCIALMENTE ADOTANTES:
refere-se aos produtores que implantam as práticas de conservação do
solo dos grupos A e/ou C; e
3. NÃO ADOTANTES:
refere-se aos produtores que não implantam práticas de conservação
do solo de acordo com os parâmetros estabelecidos para este trabalho.
O enquadramento dos produtores em um dos grupos anteriores
(Adotantes, Parcialmente Adotantes e Não Adotantes), tem como base
a concepção do Projeto Microbacias/BIRD, segundo a qual, para que
efetivamente se obtenha resultados positivos no controle da erosão, o
produtor deverá realizar um conjunto de práticas, principalmente as que
objetivam manter o solo coberto durante o maior intervalo de tempo
possível, que não envolvam práticas de intenso revolvimento do solo e
que não permitam o escoamento da água sobre o mesmo, tendo em
vista que os maiores danos causados ao solo decorrem da velocidade
das gotas da chuva e da água de escoamento superficial.
Assim, para ser considerado adotante o produtor necessitava
estar efetuando as práticas de cobertura vegetal do solo, práticas de
preparo que mantém a cobertura e não revolvam o solo, bem como
práticas mecânicas que limitam o escoamento da água. No caso de
efetuar cobertura, mas esta for incorporada, estará deixando o solo
descoberto por um período de tempo considerável, não atendendo os
48
requisitos estabelecidos e ainda estar praticando métodos
convencionais de preparo do solo. No caso de adotar somente práticas
mecânicas, também estará deixando o solo descoberto, igualmente
não se enquadrando como adotante.
g) Nível de instrução dos produtores segundo a percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD
refere-se ao nível de instrução dos produtores de acordo com a percepção dos
técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em
cada um dos municípios pesquisados.
h) Nível de renda dos produtores segundo a percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD
refere-se ao nível de renda dos produtores de acordo com a percepção dos
técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em
cada um dos municípios pesquisados.
i) Padrão tecnológico dos produtores segundo a percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD
refere-se ao padrão tecnológico dos produtores de acordo com a percepção
dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD em
cada um dos municípios pesquisados.
j) Percepção dos produtores frente a novas tecnologias segundo a opinião dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto Microbacias/BIRD
refere-se a opinião dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto
Microbacias/BIRD em cada um dos municípios pesquisados quanto à
percepção que os produtores demonstram frente a novas tecnologias.
5.4.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo
O pressuposto é de que, explícita ou implicitamente, cada uma das
respostas dos agricultores entrevistados apontaria alternativamente para:
que as práticas de conservação do solo somente são reconhecidas quando
há ameaça à viabilidade econômica da atividade agrícola a curto ou médio
49
prazos, ou que, alternativamente, poderiam significar um menor
desembolso de recursos financeiros ou mesmo uma possibilidade de
proporcionarem retornos adicionais aos obtidos com as práticas
convencionais de cultivo do solo;
que as práticas de conservação do solo somente são reconhecidas quando
sua adoção não implicar excessivo desconforto ou trabalho pesado ou não
implicar trabalho adicional ao que o produtor normalmente executa; e
que as práticas de conservação do solo, como alternativa à preservação
das características do meio, só não são adotadas quando não são do
conhecimento e domínio do produtor ou por este não estar plenamente
ciente dos benefícios que as práticas conservacionistas possam
proporcionar.
Sublinhe-se que as alternativas remetem a uma manifestação de
hierarquização de critérios do produtor na tomada de decisão.
Respectivamente, as alternativas se refeririam aos critérios aqui tratados como
"critério econômico", "critério operacionalidade ou de humanização do trabalho"
e "critério conservacionista".
Assim, objetivando detectar junto aos entrevistados quais os fatores
que levam os produtores a adotar ou rejeitar práticas de conservação do solo,
os questionamentos foram efetuados de acordo com a seguinte sistemática:
1. as perguntas foram formuladas de forma que o entrevistado tivesse a
percepção de que o que estava sendo perguntado não caracterizasse uma
visão de sua propriedade ou do seu comportamento, mas direcionada no
sentido de que se tratava de fatos relacionados com agricultores de outras
microbacias. Isso se justifica pelo fato de que o entrevistado tende a
responder de acordo com o que julga ser o correto, com o que pode ter
aprendido, ouvido ou lido e para não ser identificado como desconhecedor
do assunto em questão, podendo gerar respostas nem sempre condizentes
com a percepção que permeia a população da qual é parte.
2. para cada questão colocada, os entrevistados deram respostas livres, sem
terem conhecimento das alternativas em relação às quais suas respostas
estivessem relacionadas;
50
3. para cada pergunta, as respostas foram enquadradas em três alternativas
que reconhecidamente direcionam a um dos itens relacionados
anteriormente, ou seja, de ordem econômica, de humanização do trabalho
ou ambiental;
4. de acordo com cada manifestação do entrevistado, foi anotada a alternativa
que mais estava com ela relacionada; e
5. para cada uma das questões houve um ordenamento de priorização das
alternativas identificadas a partir das respostas que, por hipótese,
permitiriam identificar uma escala ou ordem hierárquica de critérios
relevantes na adoção de práticas de conservação do solo.
Junto aos técnicos responsáveis pela condução dos trabalhos nas
microbacias foram obtidas as seguintes informações referentes aos produtores
entrevistados:
nível cultural;
nível de renda;
padrão tecnológico e;
percepção do produtor frente a novas tecnologias.
Objetivando identificar e analisar os fatores implicados com a adoção
ou rejeição de práticas de conservação do solo, sempre de acordo com a
percepção do produtor entrevistado com relação as alternativas que lhe eram
possibilitadas escolher e com os parâmetros e procedimentos estabelecidos na
metodologia anteriormente descrita, foram efetuados os questionamentos a
seguir relacionados.
Os fatores foram avaliados com base em três pressupostos, detalhados
anteriormente, a saber:
fatores de ordem econômica;
fatores relacionados com a humanização do trabalho (operacionalidade das
práticas); e
fatores ambientais e de preservação das características do meio.
51
a) Fatores que inspiram a adoção
foram avaliados os fatores que inspiram o produtor a adotar práticas de
conservação do solo nas áreas de lavoura.
b) Fatores de rejeição
foram avaliados os fatores que levam o produtor a não adotar práticas de
conservação do solo nas áreas de lavoura.
c) Argumentos de motivação para adoção
foram avaliados quais os argumentos que o agricultor utilizaria para motivar
produtores a adotar práticas de conservação do solo na hipótese de o
mesmo ser o técnico responsável pela execução de um projeto de
conservação do solo.
d) Razões para implantar um programa de conservação do solo
foi incentivada a manifestação de quais seriam as razões que levariam o
produtor a implantar um programa de conservação do solo, supondo que o
mesmo viesse a ocupar cargo com poder de decisão (era lembrado o cargo
de Secretário da Agricultura do Estado).
52
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados são apresentados e discutidos na seguinte ordem:
1. caracterização das unidades de produção, e
2. adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo.
6.1. Caracterização das unidades de produção
Neste tópico são apresentadas as variáveis trabalhadas em campo e
que permitem visualizar e identificar as características pessoais dos produtores
e das propriedades rurais, a adoção e rejeição das práticas de conservação do
solo preconizadas e a percepção que os técnicos executores do Projeto
Microbacias/BIRD têm dos produtores.
6.1.1. Idade do produtor
De acordo com os dados apresentados na Figura 2, observa-se uma
concentração de agricultores na faixa etária de 41 a 50 anos, com 31,2% do
total, vindo a seguir a faixa de 51 a 60 anos, com 27,3%. Estas duas faixas de
idade perfazem, assim, um total de 58,5% dos agricultores. Verifica-se,
também, que 79,8% dos agricultores incluem-se na faixa de idade acima de 40
anos, o que permitir inferir que existe uma tendência de que grande parte das
propriedades rurais é explorada por pessoas com idade avançada, que
normalmente são mais conservadoras e pouco propensas a mudanças e a
baixa propensão ao risco, como já apontava CÉZAR (1978).
53
Figura 2. Distribuição dos produtores por faixas etárias - Alto Vale do Itajaí
- SC - 1996
6.1.2. Disponibilidade de mão-de-obra
Na Figura 3 pode-se verificar que a maioria das propriedades (51,5%)
dispõem de 2,10 a 4,00 Unidades de Trabalho Homem - UTH, vindo a seguir,
com 30,3%, as propriedades que tem entre 0,10 e 2,00 UTH. A partir destes
dados e se aliarmos a isto as atividades exploradas, que em grande parte das
propriedades referem-se as culturas do fumo e da cebola e a bovinocultura de
leite, grandes demandadoras de mão-de-obra, por suas especificidades, e
também a idade avançada dos produtores, conforme demonstrado no item
anterior, pode-se supor que existe baixa disponibilidade de mão-de-obra nas
propriedades.
0%
10%
20%
30%
40%
Até 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 61 - 70 > 70
1,0%
19,2%
31,2%
27,3%
17,2%
4,1%
Anos
54
Figura 3. Disponibilidade de mão-de-obra (UTH) nas propriedades rurais
do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.1.3. Escolaridade do produtor
O nível de escolaridade dos produtores rurais da região em estudo
(Figura 4), vai desde aqueles que nunca freqüentaram a escola (1,0%) até os
que concluíram o II Grau (2,0%). A maior concentração ocorre, porém, na 4ª
série do I Grau, equivalente ao antigo curso primário. Isto pode ser explicado
pela falta de escolas que ofereciam séries acima desta e, ainda, pela
necessidade que os filhos dos agricultores tinham de auxiliarem a família nas
atividades das propriedades. Com relação ao elevado percentual de produtores
enquadrados no nível da 3ª série do I Grau, refere-se aqueles com idade mais
avançada, em cuja idade escolar o último ano de escola oferecido era este e
que era equivalente ao curso primário. Esta distorção somente foi percebida no
andamento das entrevistas, não sendo mais possível sua correção, porém não
comprometendo ou destituindo de significação os dados obtidos.
0%
15%
30%
45%
60%
0,10 - 2,00 2,10 - 4,00 4,10 - 6,00 > 6,00
30,30%
51,50%
16,20%
2,00%
UTH/Propriedade
55
Não
freqüentou
1ª série I
grau
2ª série I
grau
3ª série I
grau
4ª série I
grau
8ª série I
grau
3ªsérie II
grau
1,00% 1,00%
5,10%
26,20%
58,60%
6,10%
2,00%
0%
11%
22%
33%
44%
55%
66%
Não
freqüentou
1ª série I
grau
2ª série I
grau
3ª série I
grau
4ª série I
grau
8ª série I
grau
3ªsérie II
grau
Série escolar freqüentada pelo produtor
Figura 4. Distribuição dos produtores de acordo com a escolaridade - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.1.4. Área da propriedade
A distribuição da freqüência desta variável mostra uma elevada
concentração dos produtores na categoria dos que possuem áreas inferiores a
30 hectares, com predomínio de 35,4% na faixa dos 10,1 a 20,0 hectares
(Figura 5).
Comparando-se estes dados com os apresentados na Tabela 3,
referente a estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC, percebe-se
que refletem o mesmo comportamento, visto que nos dois casos a maioria das
propriedades apresentam área inferior a 50 hectares - 92,9% e 90,97%
respectivamente.
56
0 0,1-
10,0
10,1-
20,0
20,1-
30,0
30,1-
40,0
40,1-
50,0
>
50,0
1,0%
10,1%
35,4%
26,2%
11,1%9,1%
7,1%
0%
10%
20%
30%
40%
0 0,1-
10,0
10,1-
20,0
20,1-
30,0
30,1-
40,0
40,1-
50,0
>
50,0
Faixas de área
Figura 5. Distribuição dos produtores de acordo com a área da propriedade (ha) - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.1.5. Área explorada com culturas anuais
Esta variável foi dimensionada pelo somatório das áreas exploradas
pelo produtor com culturas anuais, seja para fins comerciais ou de
subsistência.
Na área em estudo, as principais culturas exploradas são o milho,
fumo, cebola, feijão e mandioca. Estas culturas são manejadas nos mais
diversos sistemas, seja do ponto de visto do uso das tecnologias, da
conservação do solo ou do fim a que se destinam.
Na região predominam as pequenas explorações agrícolas, pois 76,8%
dos produtores cultivam áreas inferiores a 10 hectares de terra, com maior
concentração na faixa de 5 a 10 hectares, na qual se enquadram 51,5% dos
produtores, de acordo com o que pode ser observado na Figura 6. A situação
da pequena área explorada com culturas anuais pode ser explicada pela
reduzida área da propriedade rural, conforme visto no item anterior, bem como
também pelos tipos de culturas exploradas, principalmente a cebola, o fumo e a
mandioca, que são grandes demandadoras de mão-de-obra. A disponibilidade
57
de mão-de-obra, de acordo com o item 6.1.2, também se revela um fator
limitante na maioria das propriedades em que as plantas cultivadas ainda não
permitem a mecanização das práticas culturais, especialmente a colheita.
Outros fatores que podem ser creditados a esta situação dizem
respeito a legislação ambiental vigente e ao revelo da região. É proibida a
derrubada de matas na área de influência da Mata Atlântica, na qual a região
do Alto Vale do Itajaí de insere, com isso impedindo a expansão das áreas de
lavoura. A condição topográfica da região, que apresenta grande parte de sua
área em situação de elevada declividade, acaba por inviabilizar sua exploração
com os sistemas de manejo convencionais, ainda predominantes na maioria
das propriedades.
0 - 5,0 5,1 - 10,0 10,1 - 15,0 > 15,0
25,30%
51,50%
9,10%
14,10%
0%
15%
30%
45%
60%
0 - 5,0 5,1 - 10,0 10,1 - 15,0 > 15,0
Faixas de área cultivada - ha
Figura 6. Distribuição percentual das propriedades de acordo com a área explorada com culturas anuais - Alto Vale do Itajaí - SC
6.1.6. Adoção de práticas de conservação do solo em áreas de lavoura
58
A adoção de práticas de conservação do solo foi avaliada através dos
parâmetros descritos no item f, no capítulo referente à metodologia (pág. 46).
Segundo o que se estabeleceu como sendo condição que caracteriza a
adoção de práticas de conservação do solo, obteve-se os seguintes resultados
(Figura 7):
64,60% dos produtores são adotantes de práticas de conservação do solo;
30,30% dos produtores adotam parcialmente práticas de conservação do
solo em suas propriedades; e
5,10% dos produtores não adotam nenhuma prática conservacionista.
64,60%
30,30%
5,10%
Adotantes Parcialmente adotantes Não adotantes
Figura 7. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
Uma análise mais detalhada dos dados permite, também, se identificar
a seguinte situação (Figura 8):
1. do universo dos produtores enquadrados como adotantes, 33,3% adotam
em suas propriedades, simultaneamente, práticas de cobertura vegetal do
solo, práticas de preparo conservacionista e práticas mecânicas; 31,2%
adotam práticas de cobertura vegetal e práticas de preparo
conservacionista conjugadas.
59
2. do universo dos produtores classificados como adotantes parciais, 16,2%
adotam práticas de cobertura vegetal do solo conjugadas com práticas
mecânicas; 8,1% adotam somente práticas de cobertura do solo e 6,1%
adotam isoladamente práticas mecânicas.
CV+PP+PM CV+PP CV+PM CV PM NA
33,30%
31,20%
16,20%
8,10%6,10%
5,10%
0%
10%
20%
30%
40%
CV+PP+PM CV+PP CV+PM CV PM NA
Combinações de práticas de conservação do solo
CS: Práticas de cobertura vegetal do solo PP: Práticas de preparo conservacionista PM: Práticas mecânicas NA: Não adota nenhuma prática de conservação do solo
Figura 8. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de combinações de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - (SC) - 1996
Estes resultados apontam para um alto índice de adoção de práticas de
conservação do solo pelos produtores da região, especialmente os
participantes do Projeto Microbacias/BIRD. Com base nisso, pode-se afirmar
que, de uma certa forma, está havendo uma conjugação dos interesses dos
produtores e dos técnicos, tendo em vista que a mensagem transmitida pelos
últimos está sendo aceita e entendida por um bom número de produtores, que
passam a adotar as práticas difundidas.
Por outro lado, esses dados não informam, pelo menos como informam
da ocorrência da adoção, a extensão da área na qual são executadas práticas
60
conservacionistas, visto que este parâmetro não foi processado, uma vez que o
interesse maior estava direcionado para se saber se o produtor implantava as
práticas em sua propriedade.
Outros fatores que merecem ser destacados se referem aos tipos de
práticas adotadas. Nota-se que 88,8% dos produtores implantam práticas de
cobertura vegetal do solo, o que pode ser considerado extremamente notável,
pois como já descrito anteriormente, esta práticas é uma das mais importantes
no controle do processo erosivo.
Pode-se considerar como positivo, também, o percentual de adotantes
de práticas de preparo conservacionista (64,5%), que para o presente caso
refere-se ao plantio direto e cultivo mínimo. Por tratarem-se de práticas
relativamente novas e estarem mais especificamente relacionadas com as
culturas de milho, trigo e soja e a grandes propriedades rurais, principalmente
em função da topografia, da disponibilidade de máquinas e equipamentos
adequadas e dos modelos de pesquisa agropecuária, que de certa forma
privilegiaram estas condições, houve na região um grande esforço, tanto dos
produtores como dos técnicos, no sentido de adaptar as práticas às condições
e culturais locais. Assim, surgiu uma série de variantes nas práticas e nas
máquinas e equipamentos utilizados para a implantação de sistemas de cultivo
reduzido, permitindo sua adoção por um número cada vez mais crescente de
produtores, sob as mais diversas condições topográficas, de solo, tipos de
cultura e, até mesmo, sem o atendimento de pressupostos pré-requisitos
estabelecidos e considerados como essenciais para a implantação destas
práticas.
A menor adoção de práticas mecânicas em relação a adoção das
demais práticas, está relacionada principalmente a questões de ordem
operacional, tendo em vista que sua presença nas áreas de lavoura,
notadamente os terraços, de acordo com a opinião dos produtores, dificulta os
tratos culturais, seja com tração mecânica ou animal, demanda expressiva
mão-de-obra na sua construção e manutenção e, principalmente, não serem
mais consideradas como necessárias, tendo em vista a adoção de práticas de
cobertura do solo e de preparo conservacionista. Estas técnicas, para a maioria
61
dos técnicos e produtores são adequadas e suficientes para o controle do
processo erosivo.
O percentual de produtores que não adotam nenhuma das práticas de
conservação do solo preconizadas pelos técnicos reflete uma eficácia apenas
relativa da metodologia utilizada pelo Projeto Microbacias, especialmente em
função do ainda curto tempo de implementação do Projeto. Isto aponta para a
importância da continuidade dos Programas no processo de adoção e,
principalmente, na mudança de hierarquização de critérios por parte do
produtor, que está passando a valorizar cada vez mais os aspectos
relacionados com o meio ambiente. Notadamente preocupado com o solo, o
agricultor deixa de ser meramente extrativista, seja por mudança de
mentalidade, por argumentação da sociedade da qual cada vez mais se
reconhece como parte, passando a ter grande influência sobre sua ação o fator
constrangimento, seja por vislumbrar possibilidades de ganhos adicionais com
as mudanças que efetuar em seu sistema produtivo, privilegiando aspectos
conservacionistas.
Cabe relembrar que os produtores entrevistados são envolvidos com o
Projeto Microbacias, participando de suas ações desde a implantação na
microbacia na qual residem, o que permite supor estarem recebendo um maior
volume de assistência do que os produtores que não se enquadram nesta
situação.
6.1.7. Nível de instrução dos produtores
Este dado refere-se ao nível de instrução dos produtores segundo a
percepção dos técnicos responsáveis pela execução do Projeto
Microbacias/BIRD, na área de abrangência das microbacias nas quais os
produtores realizam suas atividades.
Conforme os dados apresentados na Figura 9, percebe-se que 76,8%
dos produtores foram classificados pelos técnicos como tendo nível de
instrução de regular a baixo e somente 23,2% como tendo nível cultural
considerado bom.
62
Figura 9. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível
de instrução na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.1.8. Nível de renda dos produtores
Esta classificação foi feita com base nas informações do técnico que
atua na microbacia e que possui razoáveis informações a respeito do produtor,
por manter contato regular e ter elaborado o planejamento da propriedade de
acordo com a metodologia proposta pelo Projeto Microbacias.
Com base nas informações obtidas dos técnicos, os produtores foram
assim classificados (Figura 10):
34,3% - nível de renda bom,
28,3% - nível de renda regular e
37,4% - nível de renda baixo.
Esse quadro, conforme os técnicos e depoimentos dos próprios
produtores, reflete a situação atual vivida pelo setor rural, principalmente em
função do modelo econômico e político vigente. Esse modelo tem levado a um
processo de transformações profundas, implicando, quase que por imposição,
a inserção do produtor no contexto de globalização da economia. A formação
de blocos econômicos e a "derrubada" das barreiras alfandegárias leva o
produtor a competir com produtores de outros países que recebem subsídios
23,20%
39,40%
37,40%
Bom Regular Baixo
63
para suas atividades, bem como dispõem de outros mecanismos que lhes
garantem uma rentabilidade superior a conseguida pelos produtores da região.
Com isso, está ocorrendo uma baixa remuneração pela produção, gerando a
descapitalização do produtor, que não pode reinvestir na propriedade e na
produção, ocasionando baixos índices de produtividade, além de elevar os
custos de produção.
28,30%
34,30%37,40%
Bom Regular Baixo
Figura 10. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível
de renda na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.1.9. Padrão tecnológico dos produtores
Neste item procurou-se detectar qual a percepção que os técnicos do
Projeto Microbacias têm quanto ao padrão tecnológico dos produtores. Este
padrão diz respeito a aceitação e uso pelo produtor das tecnologias
preconizadas pelos técnicos, seja no que se refere a conservação dos solos ou
quanto ao sistema de manejo das lavouras e criações as quais ele se dedica
em sua propriedade.
64
Pelo que pode ser observado na Figura 11, na opinião dos técnicos
36,4% dos produtores tem um padrão tecnológico bom, enquanto 63,6% se
enquadram como tendo um padrão regular ou baixo.
A partir disso, pode-se deduzir que as tecnologias que são difundidas
pelos técnicos, como um todo, têm uma boa aceitação por parte dos
produtores, mas não necessariamente reflete sua real adoção e aplicação nas
propriedades. A simples adoção de tecnologias não significa que estas estejam
condizentes com as necessidades dos produtores ou mesmo que consigam
equacionar/amenizar as dificuldades enfrentadas pelos produtores. Impõe-se
reconhecer , portanto, que as tecnologias, mesmo quando adotadas podem
não estar atendendo os objetivos de obter o máximo retorno possível, seja
econômico, produtivo ou na preservação das características do meio,
permitindo a continuidade das explorações de maneira sustentável e que
estejam em sintonia com as aspirações dos produtores.
Figura 11. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu
padrão tecnológico na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.1.10. Percepção dos produtores frente a novas tecnologias
36,40% 37,40%
26,20%
Bom Regular Baixo
65
Com esta variável objetivou-se analisar qual a percepção que os
produtores tem quando às novas tecnologias com as quais mantém contato e
que são difundidas pelas mais variadas formas, de acordo com a visão e
opinião dos técnicos executores do Projeto Microbacias.
Segundo os técnicos, 45,5% dos produtores tem uma percepção
favorável às novas tecnologias (Figura 12), ou seja, consideram que as
tecnologias são plausíveis de adoção e que possam vir a auxiliar no
desenvolvimento de suas atividades na propriedade. Por outro lado, 54,5% dos
produtores tem percepção que revela um interesse de regular a baixo, o que
eqüivale a que estes não conseguem vislumbrar nas tecnologias oferecidas
soluções para suas necessidades ou encontram dificuldades para sua
aplicação.
Figura 12. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a
percepção que têm frente a novas tecnologias na visão dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo
45,50%
28,30% 26,20%
Bom Regular Baixo
66
No presente capítulo são apresentados os dados referente aos fatores
implicados no processo de tomada de decisão do produtor no que tange a
adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo, no seu conjunto ou
individualmente, bem como os argumentos de motivação para adoção e razões
para implantação de um programa de conservação do solo.
Com base na descrição feita no capítulo referente à metodologia, os
fatores em análise são os seguintes:
de ordem econômica
relacionados com a humanização do trabalho ou operacionais
relacionados com a preservação das características do meio ou ambientais
6.2.1. Fatores que inspiram o produtor a implantar práticas de conservação do solo
A análise dos dados da Figura 13 permite identificar que o fator que se
apresenta com maior relevância na tomada de decisão para a implantação de
práticas de conservação do solo está ligado a questões de ordem econômica,
tendo sido apontado por 53,6% dos produtores. A seguir, apresenta-se o fator
relacionado com a preservação das características do meio ou de ordem
ambiental, para 42,4% dos produtores.
67
Figura 13. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores
que os inspiram a adotar práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
Estes dados confirmam o pressuposto anteriormente descrito,
demonstrando que a adoção de práticas conservacionistas tem embutido um
forte componente econômico, como também o tem a maioria das atividades
humanas. Isso se deve ao fato de o produtor ser pouco propenso a correr
riscos, ou seja, não estar disposto a sentir ameaçada a viabilidade econômica
de sua atividade. Esta constatação foi bastante evidente durante a pesquisa de
campo quando da realização das entrevistas, pois os produtores deixavam
muito claro que os fatores de ordem econômica são primordiais na tomada de
decisão para implantação de práticas conservacionistas, tanto no sentido de
viabilizarem a atividade agrícola, de significarem menor desembolso de
recursos financeiros ou de possibilitarem retornos adicionais aos obtidos com
as práticas convencionais ou sem o uso de práticas conservacionistas.
Os fatores relacionados com a preservação das características do meio
também foram relatados como importantes, principalmente no sentido de
proporcionarem a continuidade da atividade agrícola. Essa continuidade se
daria via manutenção da camada arável e da fertilidade do solo, com a
possibilidade de que a terra possa vir a ser explorada pelas gerações futuras,
bem como pela preocupação que os produtores tem quanto a não poluição
e/ou contaminação das águas, atualmente um dos mais graves problemas
0%
15%
30%
45%
60%
Econômicos Operacionais Ambientais
53,60%
4,00%
42,40%
Fatores
68
enfrentados no meio rural e fundamental no desenvolvimento da atividade
agrícola. Esta preocupação é evidentemente muito pertinente, visto que a água
de escoamento carreia para os cursos d'água, juntamente com partículas de
solo, quando ocorre a erosão, uma grande quantidade de produtos químicos e
orgânicos utilizados no processo produtivo, principalmente fertilizantes,
agrotóxicos, calcário e adubos orgânicos.
O que despertou uma certa interrogação nos resultados obtidos é o
baixo índice de respostas ligadas ao fator operacional; somente 4%. O que se
pode presumir é que o componente operacional, relacionado com a
humanização do trabalho, ficou mascarado pela forte influência dos fatores
econômicos e ambientais, não sendo assim manifestados, visto que o homem,
por sua índole, busca executar as atividades que lhe exijam menor esforço ou
que lhe proporcionem maior conforto. Acontece, porém, que os componentes
econômicos e ambientais, nos dias atuais, se inserem de forma bastante
incisiva na própria operacionalização da atividade humana. Essa inserção se
dá, por um lado, pela conjugação de uma série de variáveis que impelem o
homem na busca e obtenção de rendimentos monetários cada vez maiores,
visando satisfazer ou atender as necessidades de consumo. Necessidades
essas, na maioria das vezes, impostas pelo sistema econômico vigente. Por
outro lado, pela importância que a sociedade vem imputando ao componente
ambiental, o produtor que não se dispõe ao trabalho de proteção ambiental
tende a sentir-se numa situação de constrangimento frente aos padrões de
valores que atualmente passam a vigorar e dele se espera que passe a
atender.
Não significa, no entanto, nem explícita nem implicitamente, que
aqueles produtores que estão adotando as práticas de conservação do solo
estejam tendo melhores resultados econômicos do que aqueles que não estão
adotando aquelas mesmas práticas, ao menos no curto prazo. Isto se deve a
uma série de questões de ordem agronômica, notadamente aqueles ligados ao
solo, que pelo estado de degradação em que se encontram na maioria dos
casos, não conseguirão de imediato, pela simples mudança do sistema de
manejo, proporcionarem produtividades elevadas, com retornos econômicos
razoáveis. Necessitarão, antes, de tempo para que consigam se recompor e
69
voltar a apresentar as condições adequadas para que manifestem seu
potencial de produção.
Os argumentos utilizados pelos produtores para justificar sua opção
pelos fatores de ordem econômica como determinantes na adoção de práticas
de conservação, dizem respeito principalmente a:
o uso de práticas, em especial as de preparo conservacionista,
proporcionam uma redução significativa no número de operações com
máquinas agrícolas, ou seja, eliminam a aração, as gradagens e as
capinas, resultando numa economia de recursos financeiros e de mão-de-
obra, fator escasso na maioria das propriedades. Isso pode ser
demonstrado pelo fato de que se analisando o adoção isolada da prática de
preparo conservacionista, 36,4% e 24,2% o fazem, respectivamente, por
fatores de ordem econômica e operacionais;
proporcionarem, a médio prazo, redução na necessidade de uso de
insumos, assinaladamente fertilizantes, pela sua reciclagem e menores
perdas que ocorrem em áreas apropriadamente manejadas;
vislumbrarem aumento na produtividade das culturas, o que representa
retornos financeiros adicionais aos obtidos com os sistemas convencionais;
e
menor requerimento de mão-de-obra nas fases de maior demanda durante
o ciclo produtivo, principalmente por ser este um fator limitante em grande
parte das propriedades, conforme já demonstrado anteriormente,
possibilitando, assim, aumento na área cultivada, plantio nos períodos mais
apropriados, entre outros fatores.
70
6.2.2. Fatores que inspiram o produtor a não implantar práticas de conservação do solo
Mesmo com o percentual de produtores que não adotam práticas de
conservação do solo sendo reduzido, somente 5,1%, se procurou identificar
quais os fatores que determinam este comportamento.
Predominantemente, como pode ser visto na Figura 14, o fator
determinante para a não adoção de práticas conservacionistas está
relacionado a aspectos de ordem econômica, em relação aos quais se
enquadram 69,7% dos produtores.
Econômicos Operacionais Ambientais
69,70%
14,10% 16,20%
0%
15%
30%
45%
60%
75%
Econômicos Operacionais Ambientais
Fatores
Figura 14. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a rejeitar as práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
Com base nas informações obtidas, o que leva a esta situação estaria
ligado basicamente a:
indisponibilidade de recursos financeiros para a aquisição dos insumos
necessários para a execução das práticas, principalmente as sementes das
plantas de cobertura. O estabelecimento da cobertura vegetal do solo é tido
como essencial, visto que sem esta prática não é possível a implantação
das práticas de preparo conservacionista como o plantio direto e o cultivo
mínimo. Para 69,7% dos produtores os fatores de ordem econômica foram
71
apontados como determinantes para a não implantação de práticas de
cobertura, quando esta foi analisada isoladamente;
não disponibilidade de máquinas e equipamentos adequados para a
implantação das práticas conservacionistas, bem como de recursos
necessários para sua aquisição. Estes equipamentos são fundamentais
principalmente para a implantação das práticas de preparo
conservacionistas, práticas essas que 77,8% dos produtores que não as
implantam o fazem por fatores econômicos; vale lembrar que 90,0% dos
produtores que não possuem as máquinas adequadas à humanização do
manejo conservacionista assim se encontram por fatores de ordem
econômica;
desconhecimento dos benefícios que podem advir com a implantação das
práticas, notadamente aquelas ligadas às melhorias proporcionadas ao
solo, seja em aspectos físicos, químicos e biológicos, que resultarão em
aumento da produtividade e diminuição nos custos de produção, além dos
benefícios de ordem ambiental, com conseqüente aumento da
rentabilidade;
capacitação inadequada para a execução das práticas;
desconhecimento ou ignorância quanto aos fatores que ocasionam a
erosão; razão pela qual não sentem a necessidade de implantar práticas
conservacionistas; e
não percepção de que a erosão é um problema em sua propriedade ou de
que a mesma esteja ocorrendo.
6.2.3. Argumentos de motivação para adoção
Este tópico diz respeito aos argumentos que o produtor utilizaria para
motivar outros produtores a adotarem práticas de conservação do solo, na
hipótese de o mesmo ser o técnico responsável pela execução de um
programa de conservação do solo em uma determinada região.
72
De acordo com os dados apresentados na Figura 15, tem-se que
55,5% dos produtores utilizariam argumentos de ordem econômica,
especialmente quanto à possibilidade de diminuição dos custos de produção
das lavouras e aumento da produtividade, e 38,4% se valeriam de argumentos
ambientais para motivar os produtores a adotar as práticas de conservação do
solo recomendadas.
Figura 15. Distribuição percentual dos produtores com base nos
argumentos a serem utilizados como fatores de motivação para a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
6.2.4. Razões para implantação de um programa de conservação do solo
Neste item, procurou-se verificar quais as razões que levariam o
produtor a implantar um programa de conservação do solo supondo-se que o
mesmo exercesse o cargo de Secretário da Agricultura do Estado.
Da mesma forma que no item anterior, a maior parte dos produtores
(56,6%) seria movida por razões de ordem econômica para a implantação de
um programa de cunho conservacionista, e que 40,4% se valeria de
argumentos ligados a preservação das características do meio, ou seja, de
ordem ambiental (Figura 16).
0%
15%
30%
45%
60%
Econômicos Operacionais Ambientais
55,50%
6,10%
38,40%
Argumentos para motivação dos agricultores
73
Figura 16. Distribuição percentual dos produtores de acordo com as razões
para implantação de um programa de conservação do solo
Os resultados dos itens 6.2.3 e 6.2.4 não apresentam diferenças
significativas em relação aos obtidos no item 6.2.1, demonstrando existir
coerência nas respostas dos produtores, principalmente se considerarmos que
as perguntas foram formuladas procurando dar a conotação de que a resposta
não tinha vinculação implícita com a visão do produtor argüido, mas sim sobre
o comportamento dos demais produtores com relação ao entendimento e visão
que os mesmos têm quanto aos aspectos conservacionistas.
Desta forma, a similaridade das respostas evidencia que refletem o
modo real de como o produtor pensa e age com relação a questão da
conservação do solo.
Os dados obtidos demonstram claramente serem os fatores de ordem
econômica e os ligados a preservação das características do meio os que mais
fortemente inspiram os produtores a adotarem práticas de conservação do solo
e que os fatores de ordem econômica, da mesma forma, são os que levam os
produtores a rejeitar as práticas.
0%
15%
30%
45%
60%
Econômicas Operacionais Ambientais
56,60%
3,00%
40,40%
Razões para implantação
74
7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Neste capítulo serão apresentadas as conclusões mais significativas ou
evidentes e relevantes, que se pôde chegar a partir das informações obtidas e
interpretadas na forma proposta, bem como algumas sugestões que podem se
revelar com significação à missão institucional do serviço de extensão rural
oficial, no desenvolvimento de seus programas junto aos produtores rurais,
especialmente na conservação dos solos.
7.1. Conclusões
Em razão das características da área de estudo, pois cada uma das
microbacias nas quais foram realizadas as entrevistas apresentam
especificidades próprias, principalmente quanto a etnia, tipos de culturas
exploradas, condições socioeconômicas, para nos limitarmos apenas em
algumas, fica de todo afastada qualquer pretensão de se generalizar o
significado das conclusões para o universo do produtor rural de nosso Estado.
O contexto social e econômico sabidamente se reflete sobremaneira na visão
que os produtores tem quanto a conservação dos solos e na efetividade da
ação dos técnicos que atuam nas microbacias objeto da pesquisa. Os técnicos
logram ter diferentes níveis de empatia ou ascendência sobre os produtores.
Assim, um técnico motivado e interessado no desenvolvimento de um bom
trabalho, certamente terá respostas diferentes por parte dos produtores,
daquele desmotivado ou que simplesmente realiza seu trabalho para se
desincumbir da tarefa ou para atender meramente as normas do Programa.
Além disso, uma série de outros fatores tem influência, mas que por
não terem sido objeto do presente estudo não serão aqui analisados, servindo,
no entanto, de questões a serem trabalhadas, como é o caso da influência que
a concessão de incentivos financeiros tem no comportamento do produtor, os
tipos de práticas difundidas pelos técnicos, a relação entre as práticas
adotadas, o tempo de adoção e a área com práticas implantadas, entre outros.
75
Assim, restringindo-se aos objetivos traçados, apresenta-se algumas
conclusões que se julga importantes e que merecem ser destacadas:
I. Os fatores de ordem econômica seriam, no argumento explicitamente
manifestado, os que mais determinam o comportamento do produtor na
tomada de decisão objetivando a adoção de práticas de conservação do
solo. Isso de dá fundamentalmente por vislumbrarem possibilidades de
auferirem ganhos adicionais em sua atividade, pelos incrementos na
produtividade que podem advir com sua implantação, bem como pela
redução nos custos, resultantes do menor dispêndio com as operações de
cultivo e uso de insumos, creditado à melhoria nas condições químicas,
físicas e biológicas do solo.
II. Mesmo sendo a adoção de práticas conservacionistas motivada mais
determinantemente por fatores declarados como sendo de ordem
econômica e de ordem ambiental, subjetivamente os fatores relacionados
com a humanização do trabalho estão fortemente presentes. Isto pode ser
deduzido a partir do percentual de adotantes das práticas de preparo
conservacionista, que na sua maioria são feitas de forma mecanizada,
reduzindo expressivamente o esforço físico e a necessidade de mão-de-
obra. Por serem as questões relacionadas aos fatores operacionais
bastante subjetivas, como aqueles que poderiam ser interpretados como
"indisposição" para o trabalho, as mesmas não são manifestamente
expressas, ficando, por isso, encobertas pelos outros fatores, que de
certa forma embutem valores mais significativos para os paradigmas
vigentes, que privilegiam sobremaneira os valores de ordem econômica.
III. A valorização de fatores e aspectos ligados à preservação das
características do meio manifestam-se muito mais por questões de
constrangimento do que propriamente de uma objetiva convicção quanto
a necessidade de preservação do meio. A manifestação de
constrangimento está vinculada com a mútua avaliação comportamental
entre produtores nas comunidades em que vivem; aqueles produtores que
não adotam as tecnologias que fazem parte do programa que está em
andamento são considerados, pelos demais produtores, como atrasados,
76
retrógrados, teimosos, "relaxados", desconectados dos valores que
permeiam sua realidade. Assim, para não serem enquadrados ou taxados
de forma pejorativa, adotam o que os demais produtores estão
executando, principalmente aqueles considerados "líderes" na
comunidade, mesmo não estando plenamente cientes de sua
necessidade e dos benefícios que poderão advir de sua execução.
IV. Grande parte das propriedades tem baixa disponibilidade de mão de obra,
indicando que as práticas de conservação do solo que venham a ser
difundidas deverão ser possíveis de serem implantadas com o uso de
máquinas e equipamentos, especialmente aquelas adaptadas para as
especificidades de cada propriedade e cultura explorada. Vale lembrar
que a maioria da população rural abrangida no estudo tem idade superior
a 40 anos, impondo-se a necessidade de humanização das atividades em
nível compatível com a tendência de envelhecimento do trabalhador.
V. Um percentual significativo dos produtores possui nível de escolaridade
baixo. Com isso, a metodologia a ser utilizada pelos técnicos deve ser
apropriada e adaptada a tal condição, no sentido de que as mensagens
transmitidas consigam ser entendidas e absorvidas pelos produtores.
Caberá aos técnicos o discernimento de detectarem as especificidades de
cada grupo de produtores ou mesmo individualmente, de maneira que
não universalizem as mensagens, mas que as transmitem de acordo com
as peculiaridades necessárias ao contexto, objetivando uma maior
recepção por parte dos produtores.
VI. A maioria dos produtores implanta uma combinação das práticas de
conservação do solo preconizadas pelo Projeto Microbacias/BIRD,
principalmente com o intuito de manter o solo coberto o maior período de
tempo possível, significando, teoricamente, terem um bom controle do
processo erosivo em suas propriedades.
VII. Atualmente, as práticas adotadas individualmente em menor escala são
as práticas mecânicas, principalmente em função de fatores de ordem
operacional. Cabe ressaltar que por muitos anos as práticas mecânicas,
especialmente o terraço, monopolizaram as ações dos técnicos na área
77
da conservação dos solos, sendo preconizadas como as que eliminariam
os danos provocados pela erosão.
VIII. Existe um percentual significativo de produtores que ainda efetuam a
incorporação das plantas de cobertura, significando que deixam o solo
descoberto por um período considerável, fazendo com que o solo fique
exposto a ação dos fatores erosivos.
IX. A prática do plantio direto é um dos procedimentos que teve melhor
receptividade por parte dos agricultores, pelo conjunto de benefícios que
proporciona. Apontando para a importância do critério de
operacionalidade ou humanização das atividades, quase nunca
explicitamente manifestado pelos produtores entrevistados, um fator
determinante à adoção do plantio direto foi a construção e adaptação de
máquinas e equipamentos às condições topográficas, das culturas
exploradas e de pequenas propriedades predominantes na região. A
objetivação da humanização da atividade, agora então associada à
superação das dificuldades econômicas, revela-se também pela
importância que assumiu a possibilidade da aquisição de equipamentos
por grupos de produtores, para uso comum, notadamente devido à
concessão de incentivos financeiros pelo Projeto Microbacias/BIRD e, em
alguns casos, pela aquisição de máquinas pelas Prefeituras Municipais e
colocadas à disposição dos produtores para procederem as operações de
cultivo.
X. O alto índice de adoção da prática de cobertura vegetal do solo, que
individualmente é a prática conservacionista mais adotada pelos
produtores, está associado, de certa forma, a exploração da atividade de
produção leiteira pela grande maioria das propriedades da região. Com
isso, há uma conjugação de interesses, sendo que a prática passa a ter
dupla finalidade:
proporcionar a cobertura do solo e;
fornecedor alimentação para os bovinos.
XI. O índice de adoção das práticas mecânicas está essencialmente ligado a
fatores operacionais, pois, de acordo com os próprios produtores, sua
implantação envolve a execução de atividades que podem ser
78
consideradas extenuantes, bem como pelo fato de que a presença de
terraços em áreas de lavoura dificulta a execução das práticas culturais,
principalmente as mecanizadas, como é o caso do controle da "vegetação
expontânea". Outro fator que está ligado ao abandono de execução
destas práticas mecânicas diz respeito a própria atuação dos técnicos,
que a consideram dispensável nas áreas em que esteja sendo implantado
o plantio direto ou o cultivo mínimo.
XII. Um dos fatores apontados pelos produtores como entrave para a maior
difusão das práticas conservacionistas seria uma insuficiência de
assistência técnica disponível. Os produtores se declaram com
insuficiente treinamento e acompanhamento na implantação das práticas
preconizadas, especialmente aquelas de maior complexidade e que
exigem maior embasamento técnico, normalmente por envolverem um
número expressivo de variáveis, para que possam apresentar um
desempenho compatível com os resultados esperados. Com uma
inadequada assistência, podem surgir problemas que fogem ao domínio
do produtor. Não compreendendo as relações que podem levar uma
prática mal conduzida a falhar, o agricultor acaba por atribuir uma falta de
eficiência à prática, deixando, por isso, de adotá-la.
XIII. Um fator apontado como importante pelos produtores para a não adoção
de práticas de preparo conservacionista está ligado a sua vinculação com
o uso de herbicidas, que de certa forma parece estar associado ao êxito
da prática. Como alguns produtores não querem se valer deste
instrumento para efetuar o dessecamento das plantas de cobertura, seja
por questões de ordem econômica, operacional ou de saúde, preferindo a
incorporação ao solo da massa vegetal presente, deixam de implantar a
prática. Isto aponta para a necessidade de que se busque encontrar
alternativas, como é o caso de plantas de cobertura com ciclos mais
precoces, que permitam o plantio das culturas ao final do ciclo vegetativo
das plantas de cobertura, e que se procure difundir e fundamentar formas
de manejo alternativo comprovadamente eficientes, como o uso do rolo-
79
faca ou rolo-disco14, para o acamamento das plantas de cobertura,
evitando-se, assim, o uso de herbicidas.
XIV. O fator apontado como sendo o mais determinante na rejeição das
práticas de cobertura do solo é de ordem econômica, especialmente pelo
custo das sementes necessárias para sua implantação, que, não sendo
produzidas pelos produtores, torna-se necessário adquiri-las a cada nova
safra. Cabe, assim, empenho técnico na organização dos produtores na
obtenção de sementes de plantas de cobertura; principalmente no que diz
respeito à redução de preço, o que poderia, a princípio, ser feito através
da compra cooperada.
XV. Com relação a não adoção das práticas de preparo conservacionista,
igualmente os fatores de ordem econômica determinam tal
comportamento. A isso estão ligados os seguintes fatores:
não disponibilidade de máquinas e equipamentos adequados,
considerados muito caros por um número expressivo de produtores, e
indisponibilidade de recursos financeiros para contratação dos
serviços de terceiros para a implantação das práticas de preparo
conservacionista, especialmente o plantio direto.
7.2. Outras questões relevantes
Com base nas informações obtidas junto aos produtores, percebe-se
claramente a necessidade de que os programas que objetivam a difusão de
práticas conservacionistas, como é o caso do Projeto Microbacias/BIRD, não
sofram interrupções e tenham uma duração ao menos de médio prazo, visto
que, em muitos casos, resultados efetivos demandam um certo tempo para se
manifestar. Como o produtor inicialmente procura realizar suas
"experimentações", como forma de comprovar a efetividade das práticas,
14 Rolo-faca e rolo-disco: equipamentos desenvolvidos e adaptados pelos próprios produtores e que
servem para acamar sobre o solo as plantas de cobertura, objetivando distribuí-las uniformemente
sobre o solo, permitindo uma proteção contra dos efeitos dos agentes erosivos e facilitando as
operações de plantio das culturas.
80
necessitará de um assessoramento por um período de tempo razoável, até que
passe a adotar as práticas definitivamente.
A metodologia proposta pelos programas e utilizada pelos técnicos
para difundir as práticas, visando sua adoção pelos produtores, deve estar em
sintonia com os fatores que motivam os produtores a adotá-las, o que nem
sempre acontece, tendo em vista a dicotomia existente entre os interesses dos
técnicos e dos produtores. Assim, em cada microbacia a ser trabalhada,
primeiramente o técnico deverá detectar junto aos produtores os fatores que os
inspiram para adotar as práticas e, a partir disso, elaborar a estratégia
adequada para cada situação particular. Deverá, também, o técnico conseguir
discernir as diferenças existentes entre os produtores que residem na
microbacia, que podem manifestar, interesses, lógicas e comportamentos
bastante diversos e, até mesmo, antagônicos, com base nos propósitos que
orientam suas decisões.
Ao se iniciar trabalhos em novas microbacias, faz-se necessário
elaborar diagnósticos claros e objetivos, que deverão envolver, além dos
aspectos técnicos e econômicos, como tem ocorrido na maioria dos casos,
fatores de ordem social, comportamental e antropológica. Somente mediante
um apurado diagnóstico se conseguirá captar de forma um pouco mais realista
o que determina o comportamento do agricultor, que nem sempre se manifesta
com base em fatores mensuráveis, mas sim, em muitos casos, de forma muito
subjetiva. É esta subjetividade que normalmente não é considerada, o que leva
ao baixo êxito de algumas ações em determinadas regiões.
A metodologia para difusão não poderá ser a mesma em todas as
microbacias, pelo simples fato de existirem diferenças significativas entre elas.
Essas diferenças podem levar ou quase sempre levam o produtor a distintos
comportamentos e distintas valorações de alternativas técnicas na objetivação
dos seus interesses.
As práticas de conservação do solo preconizadas não poderão ser
universalizadas. Impõem-se a necessidade de um discernimento suficiente
para que os técnicos consigam visualizar as particularidades de cada situação,
o que permitirá adequar as práticas à situação existente e às necessidades
reais à luz dos critérios que movem o comportamento do produtor.
81
Os técnicos necessitarão dispor de tecnologias alternativas para
oferecer aos produtores ainda não adotantes de práticas conservacionistas,
principalmente por fatores de ordem econômica ou operacional. Caso contrário,
este grupo não terá condições ou disposição de adotar as práticas atualmente
difundidas e que, de acordo com o entendimento nem sempre explicitado pelo
produtor, são inadequadas à realidade em que são propostas.
Os técnicos necessitarão dispor de instrumental adequado para
conseguir motivar os produtores a adotar as práticas preconizadas. Apenas
como um referencial, os técnicos poderiam se valer de métodos normalmente
utilizados pelos representantes das empresas de insumos e máquinas,
notadamente na área de marketing e processos de motivação.
Aos produtores deverão ser transmitidas noções claras de
gerenciamento e administração de sua propriedade como um todo, no sentido
de que as práticas de conservação do solo não sejam vistas como um fim em si
só, mas como componentes necessários à operação de um complexo sistema.
Enfim, a adoção de práticas conservacionistas implica em possibilidades às
necessidades de concretamente objetivar os resultados que todos
pretendemos alcançar. Técnicas atualmente utilizadas por empresas dos
setores secundário e terciário deverão ser adequadamente traduzidas aos
produtores rurais, como é o caso do significado de "qualidade total", para que
estejam melhor preparados para enfrentar as condições impostas pelo
mercado, conseguindo permanecer na atividade, competindo igualitariamente
com produtores de outras regiões e frente a diferentes situações.
Os técnicos deverão envidar esforços para promover a organização
dos produtores, objetivando especialmente a facilitação na aquisição de
máquinas e equipamentos apropriados para a implantação das práticas de
preparo conservacionista. Organizados em grupos, os produtores teriam seus
custos divididos entre os participantes do grupo, possibilitando que mais
produtores possam ter acesso a tais máquinas, mesmo porque individualmente
nem sempre justifica-se a aquisição dos referidos equipamentos, tendo em
vista a reduzida área a ser implantada por propriedade.
As Prefeituras Municipais em cujos municípios estejam sendo
desenvolvidos programas de conservação do solo, como é o caso dos
82
municípios contemplados com o Projeto Microbacias/BIRD, deveriam
disponibilizar, igualmente, máquinas e equipamentos apropriados para
implantação das práticas de preparo conservacionista, especialmente "rolos-
faca" e semeadoras para plantio direto, objetivando prestar serviços aos
produtores que não as possuem, como forma de disseminar a adoção de tal
tecnologia e torná-la acessível para a maioria dos produtores.
Uma adequada metodologia proposta pelos programas deveria
proporcionar condições para que os técnicos disponham de uma maior parte do
tempo de trabalho com atividades voltadas para a prestação de
assessoramento aos produtores. Esse assessoramento, por sua vez, seria
especialmente no sentido de proporcionar a assistência necessária para a
implantação correta das práticas preconizadas. Vale lembrar que, conforme já
relatado anteriormente, a questão da falta de capacitação dos produtores é um
dos pontos que leva os mesmos a não implantar as práticas ou então
abandoná-las posteriormente, tendo em vista que comumente surgem
problemas de ordem técnica na sua execução.
Ainda, a concepção dos programas de conservação do solo deverão
estar em consonância com os interesses dos produtores e de acordo com as
particularidades de cada região. As propostas dos planos não poderão ser
pretendidas como adequadas para o universo de agricultores do Estado, mas
sim, no máximo ao nível de bacias hidrográficas, tendo em vista as
particularidades de cada uma, em aspectos concernentes ao solo, topografia,
culturas e criações exploradas, valores culturais dos agricultores, entre outros.
E para finalizar, entende-se como de relevante importância a
necessidade de que em futuros programas, principalmente aqueles que
objetivem a preservação das características do meio, contemplem o
monitoramento da qualidade das relações homem-meio, com o objetivo de se
verificar de forma evolutiva o comportamento do homem frente ao restante do
meio e a efetividade de suas ações. Enfatiza-se, no entanto, que esse
monitoramento deverá ser, acima de tudo, voltado à qualidade, muito mais que
à quantidade.
83
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86
9. ANEXOS
9.1. Questionário
HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE
CONSERVAÇÃO DO SOLO
Autor: Léo Teobaldo Kroth
Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e Ambientais em Microbacias Hidrográficas
Nº do formulário:
Data e hora :
Entrevistador :
Florianópolis, 1996
87
CÓDIGO DA PROPRIEDADE : NOME DO(A) PROPRIETÁRIO(A) : MICROBACIA : MUNICÍPIO :
01. Composição familiar e da mão-de-obra
NOME IDADE
(anos)
SEXO RESIDÊNCIA TRABALHA NA PROPRIEDADE
M F PROP. FORA S N HORAS DIAS
OBSERVAÇÕES:
02. Até que ano o(a) Senhor(a) freqüentou a escola? Quantos anos de escola o(a)
senhor(a) freqüentou?
Número de anos : Não freqüentou : 0 Primário : 01 a 05 anos ( 1 2 3 4 5 ) Ginásio : 06 a 09 anos ( 1 2 3 4 ) Segundo Grau : 10 a 12 anos ( 5 6 7 ) Terceiro Grau : 13 a 17 anos ( 8 9 10 11 12 )
03. Qual o tamanho da propriedade (Caso tenha mais de uma propriedade somar as áreas)?
1. hectares próprios 2. hectares arrendados de terceiros 3. hectares arrendados para terceiros
04. Qual o regime de posse da terra na qual o(a) senhor(a) realiza a maior parte de suas atividades?
1. ( ) Proprietário(a) 2. ( ) Arrendatário(a) 3. ( ) Meeiro(a) 4. ( ) Posseiro(a) (ocupante) 5. ( ) Outro
05. Qual a área plantada com culturas anuais e de pastagens (área própria + arrendada)?
Culturas anuais: 1. própria: ha 2. arrendada: ha Pastagens: 3. própria: ha 4. arrendada: ha 5. Em descanso: ha
06. Quais as práticas o(a) senhor(a) executa em sua propriedade?
1. ( ) Práticas de cobertura vegetal do solo (aveia, ervilhaca, aveia + ervilhaca, mucuna, capim doce, outras) - 2. Área ha
3. ( ) Práticas de preparo conservacionista do solo (plantio direto, cultivo mínimo, preparo reduzido) - 4. Área: ha
5. ( ) Práticas mecânicas de controle da erosão (terraços, cordões de contorno - de pedra ou vegetais) - 6. Área: ha
7. ( ) Nenhuma
88
07. Qual a disponibilidade de máquinas e equipamentos adequados, individuais ou coletivos, para a implantação das práticas de conservação do solo?
1. ( ) Suficiente 2. ( ) Insuficiente 3. ( ) Inexistente
08. No caso de serem suficientes (questão 07), quais foram os motivos que levaram a adquiri-los?
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
09. No caso de não existirem (questão 07), quais os motivos que conduzem a essa situação?
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
10. O(A) senhor(a) acha que o agricultor que não adota determinadas práticas de conservação do solo, comprovadamente eficazes no controle da erosão, não o faz somente por não querer adotar ou ser contra?
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3. ( ) Não sabe
11. Muitos(a) agricultores(as) afirmam que "é melhor fazer as coisas sempre da mesma forma, porque as mudanças trazem complicações". Qual a sua opinião a respeito?
1. ( ) Concordo plenamente 2. ( ) Concordo em parte 3. ( ) Indiferente 4. ( ) Discordo em parte 5. ( ) Discordo totalmente
12. Caso os(as) agricultores(as) percebessem na conservação do solo somente benefícios de ordem ambiental e de preservação das características do meio, o(a) senhor(a) acha que eles implantariam práticas conservacionistas?
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3. ( ) Não sabe
13. A implantação do trabalho em microbacias hidrográficas em praticamente todos os municípios do Estado está levando a uma nova percepção quanto às questões relacionados com a conservação do solo. Tomando como exemplo a microbacia do Ribeirão das Pedras no município de Agrolândia, houve uma clara e notável modificação nos métodos de exploração dos solos, pelo uso de práticas mais apropriadas com relação ao estancamento do processo erosivo e na preservação e recuperação da capacidade produtiva dos solos. Na sua opinião, quais foram os motivos que levaram o(a)s produtores(as) da referida microbacia a adotar práticas conservacionistas em suas propriedades?
1. ( ) fatores de ordem econômica
2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho
3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
14. Sabe-se, também, que uma parcela significativa de agricultores ainda reluta em adotar práticas de conservação do solo, tanto na microbacia do Ribeirão das Pedras quanto nas demais. Na sua opinião, quais os critérios mais relevantes que levam esses(as) produtores(as) a não executarem práticas de conservação do solo em suas propriedades?
1. ( ) fatores de ordem econômica
2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho
3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
89
15. O(A) senhor(a) certamente tem conhecimento das práticas de conservação do solo que os técnicos recomendam aos agricultores e mesmo já deve ter implantado algumas delas em sua propriedade. Com relação às práticas abaixo, o que o(a) senhor(a) acha que motiva os(as) agricultores(as) a adotarem cada grupo delas?
15.1. Práticas de cobertura do solo
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
15.2. Práticas de preparo conservacionista
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
15.3. Práticas mecânicas
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
16. Do mesmo modo, quais os motivos que inspiram os(as) agricultores(as) a não as adotar?
16.1. Práticas de cobertura do solo
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
16.2. Práticas de preparo conservacionista
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
16.3. Práticas mecânicas
1. ( ) fatores de ordem econômica 2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho 3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
17. Com relação à execução das práticas de conservação do solo recomendadas pelos técnicos, como o(a) senhor(a) percebe que os(as) produtores(as) que as executam as avaliam?
17.1. Práticas de cobertura do solo
1. ( ) fáceis 2. ( ) medianamente 3. ( ) difíceis
17.2. Práticas de preparo conservacionista
1. ( ) fáceis 2. ( ) medianamente 3. ( ) difíceis
17.3. Práticas mecânicas
1. ( ) fáceis 2. ( ) medianamente 3. ( ) difíceis
90
18. Com relação ao atingimento dos objetivos pelos quais as práticas de conservação do solo foram implantadas, qual sua opinião sobre o que percebem os produtores que as implantam?
18.1. Objetivos de ordem econômica
1. ( ) muito eficientes 2. ( ) medianamente 3. ( ) ineficientes
18.2. Objetivos relacionados com a humanização do trabalho
1. ( ) muito eficientes 2. ( ) medianamente 3. ( ) ineficientes
18.3. Objetivos ambientais e de preservação das características do meio
1. ( ) muito eficientes 2. ( ) medianamente 3. ( ) ineficientes
19. Qual a contribuição das práticas de conservação do solo recomendadas na melhoria das características físicas e químicas do solo e na produtividade das lavouras que os(as) produtores(as) que as executam percebem?
19.1. Práticas de cobertura do solo
1. ( ) contribuem 2. ( ) medianamente
3. ( ) não contribuem 4. ( )não sabe
19.2. Práticas de preparo conservacionista
1. ( ) contribuem 2. ( ) medianamente
3. ( ) não contribuem 4. ( )não sabe
19.3. Práticas mecânicas
1. ( ) contribuem 2. ( ) medianamente
3. ( ) não contribuem 4. ( )não sabe
20. Suponhamos que o(a) senhor(a) fosse o(a) técnico(a) responsável pela execução do Projeto Microbacias. Quais seriam seus principais argumentos para motivar os(as) produtores(as) a adotarem práticas de conservação do solo?
1. ( ) fatores de ordem econômica
2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho
3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
21. Caso o(a) senhor(a) fosse Secretário(a) da Agricultura do Estado, quais seriam as razões que o(a) inspirariam a implantar um programa de conservação do solo?
1. ( ) fatores de ordem econômica
2. ( ) fatores relacionados com a humanização do trabalho
3. ( ) fatores ambientais e de preservação das características do meio
22. Como o(a) senhor(a) avalia a situação econômica da sua propriedade em comparação com a anterior ao início do Projeto Microbacias?
1. ( ) Melhorou 2. ( ) Igual
3. ( ) Piorou 4. ( ) Não sabe
23. Caso não tivesse sido executado o Projeto Microbacias, como o(a) senhor(a) acha que estaria a situação atual?
1. ( ) Melhor 2. ( ) Igual
3. ( ) Pior 4. ( ) Não sabe
91
QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELO TÉCNICO RESPONSÁVEL PELA EXECUÇÃO DO PROJETO MICROBACIAS NA QUAL O(A) PRODUTOR(A) RESIDE.
24. Qual o nível de instrução do(a) produtor(a)?
1. ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo
25. Qual o nível de renda do(a) produtor(a)?
1. ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo
26. Qual o padrão tecnológico do(a) produtor(a)?
1. ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo
27. Qual o nível de percepção do(a) produtor(a) frente a novas tecnologias?
1 ( ) bom 2. ( ) regular 3. ( ) baixo
92
9.2. Dados relativos à amostragem
N.º MUNICÍPIO MICROBACIA FAMÍLIAS1
ENTREVISTAS2
01 Agrolândia Ribeirão das Pedras
103 26
02 Agronômica Mosquito Grande 112 -
03 Aurora Nova Itália 97 -
04 Ibirama São Rafael 145 20
05 Ituporanga Rio Batalha 46 08
06 Lontras Dona Paula 122 -
07 Presidente Getúlio
São José/Serra dos Índios
127 -
08 Rio do Oeste Sumidor 88 15
09 Rio do Sul Ribeirão do Tigre/Albertina
130 12
10 Salete São Luiz 110 -
11 Taió Ribeirão da Erva 127 -
12 Trombudo Central
Vila Teodoro 111 18
T O T A L 1.318 99
Fonte: Secretaria Executiva do Projeto Microbacias/BIRD 1. Refere-se ao número de famílias de produtores que participaram do Projeto
Microbacias/BIRD, com base nas listas de adesão ao Projeto fornecidas pela Secretaria Executiva.
2 Número de agricultores entrevistados em cada uma das microbacias sorteadas. Nas microbacias assinaladas com (-) não foram realizadas entrevistas.