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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
oncluído em 2009, o pavilhão Vicky e Joseph
Safra, no Hospital Israelita Albert Einstein,
segue rigorosamente os padrões de construção sus-
tentável. Hoje, posiciona-se como o maior empreen-
dimento de saúde do mundo a contar com certifi ca-
ção LEED na categoria Gold. Como se não bastasse,
a instituição médica paulista foi eleita a melhor da
América Latina, segundo pesquisa realizada com cer-
ca de 180 hospitais e clínicas de dez países.
Os reconhecimentos são fruto de uma adminis-
tração que zela não só pela saúde das pessoas, mas
também pela preservação do meio ambiente. Com
aproximadamente 70 mil m2, o pavilhão Vicky e Jo-
seph Safra foi construído para abrigar mais de 200
consultórios médicos, centro de diagnósticos, centro
cirúrgico e de serviços de endoscopia e oftalmologia.
A obra começou em 2005 e, já durante o processo
de construção, passou por um rígido controle de po-
luição. Tudo foi tocado de acordo com um plano de
gerenciamento de erosão, poeira e ruídos, a fi m de
evitar problemas para os frequentadores da região.
Cerca de 75% do material foi desviado de aterro.
Hoje, o pavilhão traz alguns diferenciais que
atenuam o impacto ambiental. Entre eles está o ge-
renciamento da descarga com águas pluviais, a uti-
lização de reservatórios de retardo e os jardins pre-
sentes em toda a cobertura do edifício, que retêm até
30% da água da chuva enviada para a rede pública.
Associado à implantação de grandes espaços verdes
nas áreas externas e coberturas do edifício, esse sis-
tema ajuda a evitar enchentes na região.
A obra do Vicky e Joseph Safra contou, ainda,
com outros itens de sustentabilidade. A fachada
ventilada e os vidros de alto desempenho, por exem-
plo, permitem racionar o uso do ar-condicionado e,
consequentemente, proporcionam economia de
energia no controle da temperatura ambiente. O
empreendimento também usa madeira certifi cada,
luminárias de alto desempenho e produtos com bai-
xa concentração de COV (Composto Organico Volá-
til). O pavilhão também dispõe de postos de recolhi-
mento de lixo reciclável e de uma pequena usina de
classifi cação e compactação do material coletado.
Há racks para bicicletas e vestiários para os ciclis-
tas, além de uma pequena estação rodoviária para
ônibus fretados – tudo para incentivar os funcioná-
rios a usar menos automóveis. “Nossa preocupação
com a sociedade é colocada em prática com inicia-
tivas sustentáveis, sejam na área da saúde, da res-
ponsabilidade social ou do meio ambiente”, aponta
Claudio Luiz Lottenberg, presidente da Sociedade
Benefi cente Israelita Brasileira Albert Einstein.
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PELA SAÚDE DO PACIENTE E DA SOCIEDADE
Com práticas de construção sustentável, o pavilhão Vicky e Joseph Safra, do Hospital Albert Einstein, projeta-se como o maior edifício da área médica do mundo certifi cado com o Leed na categoria Gold
Reportagens de Leonardo Pujol
Zelo: além da saúde, Albert Einstein se preocupa com o meio ambiente
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PATROCINADORES APOIO TÉCNICO
ue a Grande Florianópolis tem praias belíssi-
mas, todo mundo sabe. Só o município de Pa-
lhoça, colado na capital catarinense, atrai milhares
de turistas todos os anos. O que nem todo mundo
sabe é que Palhoça também oferece uma atração
peculiar: a Cidade Criativa Pedra Branca, primeiro
bairro sustentável da América Latina. Originado há
nove anos de uma fazenda de 250 hectares, o em-
preendimento tem como principal objetivo resga-
tar a ideia de morar, trabalhar e se divertir em uma
mesma região – propiciando segurança, harmonia
com a natureza e melhor qualidade de vida.
Até o fechamento desta publicação, apenas
10% do projeto estava concluído – a previsão é de
que o bairro esteja 100% pronto em até 20 anos.
“Já investimos cerca de R$ 200 milhões na primeira
etapa. Acreditamos que, fazendo bem feito, pode-
mos concluir o projeto dentro desse prazo”, defende
Marcelo Gomes, diretor executivo da Cidade Criati-
va Pedra Branca. A primeira etapa se refere ao Pas-
seio Pedra Branca, um shopping a céu aberto locali-
zado em uma avenida central, com diversas lojas e
estabelecimentos comerciais.
Além do Passeio, o bairro conta com uma das
sedes da Universidade do Sul de Santa Catarina
(Unisul), que atrai cerca de 7,5 mil pessoas por dia.
Além delas, há 6 mil moradores e outros 6 mil tra-
balhadores. Mas a meta é alcançar 40 mil morado-
res, 30 mil trabalhadores e 10 mil estudantes até o
fi nal do empreendimento. Por isso, a Pedra Branca
fundou o Instituto de Apoio à Inovação e Tecnologia
de Palhoça (Inaitec). A missão é atrair empresas e
negócios para estimular a atividade do bairro. “É um
trabalho de fomento de gestão urbana. Temos de
mostrar para as pessoas como é atrativo morar na
Pedra Branca e criar um endereço para as empresas
também”, explica Gomes. Ele destaca que a proximi-
dade com o cidadão é fundamental para a sustenta-
bilidade. “Nada adianta fazer um prédio certifi cado
com gente que percorre 30 quilômetros de carro
para trabalhar, sem reduzir a emissão de gás”, expõe.
O destaque na economia de recursos naturais é
o tratamento e reúso de água, feito exclusivamente
pelo próprio bairro. O sistema reduz o desperdício de
água entre a captação e o consumo, fi cando na mé-
dia de 10% a 15%, comparável ao nível europeu – no
restante do Brasil, o índice médio de desperdício é
de 50%. “Podemos fazer mais, mas a gente não pode
fugir de uma consciência coletiva, porque a união é
fundamental”, diz Nilto Bogo, superintende da Asso-
ciação de Moradores do Bairro Pedra Branca.
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UM LUGAR PARA VIVER E PRESERVAR
Resgatar o ideal de uma cidade mais humana, apta ao convívio nas ruas, é um dos objetivos da Cidade Criativa Pedra Branca, no município de Palhoça
Sem carbono: mais largas, as calçadas do bairro Pedra Branca priorizam o pedestre e o ciclista
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
esde que foi inaugurado, em 2011, o edifício
Eco Berrini vem instituindo um novo mode-
lo de desenvolvimento sustentável no bairro Itaim
Bibi, um dos mais cobiçados de São Paulo. Proje-
tado pela Afl alo & Gasperini e construído pela Ho-
chtief, o prédio coorporativo conta com 35 andares,
cinco subsolos, edifício-garagem e heliponto – tudo
isso distribuído em aproximadamente 100 mil m².
O custo total foi de R$ 250 milhões – mas, no fi nal
de 2010, antes mesmo de terminada, a obra foi ad-
quirida por R$ 560 milhões pelo fundo de pensão
Previ. Hoje, o espaço está locado para a operadora
de telefonia Vivo. Seu valor de mercado está esti-
mado em R$ 750 milhões.
Durante as obras, o prédio obteve a pré-certi-
fi cação Leed na categoria Gold. Posteriormente,
com as melhorias, foi contemplado com a certifi ca-
ção Platinum, a mais alta. Gilson Corrêa, gerente da
área imobiliária da Previ, destaca que essa conquis-
ta ainda é rara no país. Dos 181 certifi cados já emi-
tidos no Brasil, apenas seis são Platinum.
O Eco Berrini está onde antigamente fi cava o
edifício-sede da Philips, implodido em 2008. Desde
então, a preocupação com a sustentabilidade tem
sido a tônica. Todo o material oriundo da implosão
foi reaproveitado – desde o aço, que foi direcionado
à Gerdau, até o concreto, reaproveitado por subpre-
feituras na construção de estradas. Na construção
do Eco Berrini, foram utilizados equipamentos eco-
nomizadores de água, além de vidros especiais que
aumentam a entrada de luz natural e proporcionam
economia de energia. Aliás, o prédio conta com gera-
dores próprios.
Os diferenciais não param aí. A água destinada
à irrigação e aos banheiros é de reúso e tratada no
próprio prédio, o que proporciona 40% de redução
no consumo da rede pública de abastecimento. Na
energia, a administração do prédio chega a economi-
zar de 30% a 38%. Os elevadores são ecoefi cientes e
funcionam sem a necessidade de casa de máquinas.
Finalmente, o Eco Berrini foi construído com baixa
emissão de CO2. Para isso, contou com fornecedo-
res localizados em um raio de até 800 km. O próximo
passo é convencer mais pessoas a terem atitudes sus-
tentáveis – dentro e fora do prédio. “Temos de partir
para a prática. O brasileiro, infelizmente, ainda não
tem a cultura de sustentabilidade”, aponta Pedro Ke-
leti, superintendente de negócios da da Construtora
Hotchtief e engenheiro responsável pelo Eco Berrini.
D
UM MARCO NA CONSTRUÇÃO VERDE
Das fundações ao telhado, da manutenção às práticas de gestão, tudo no Eco Berrini é pensado para minimizar o impacto ao meio ambiente – um esforço reconhecido com a distinção máxima do setor de construções sustentáveis
Imponência: Eco Berrini é um dos quatro prédios brasileiros com selo Leed Platinum
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PATROCINADORES APOIO TÉCNICO
om pouco mais de três anos de existência – a
inauguração ofi cial foi em 2011 –, o Colégio
Estadual Erich Walter Heine já ostenta uma con-
quista rara : é a primeira instituição pública de en-
sino da América Latina a receber a certifi cação de
Liderança em Energia e Design Ambiental (Leed, na
sigla em inglês). Como se não bastasse, o colégio, lo-
calizado na zona oeste do Rio de Janeiro, apresenta
o segundo melhor rendimento escolar do Estado.
Bons exemplos que benefi ciam não só os alunos,
mas também os moradores da região.
Ao custo de R$ 16 milhões, a escola é resulta-
do de uma parceria entre o governo fl uminense e a
ThyssenKrupp CSA, que resolveu apostar no poten-
cial do Santa Cruz, um dos bairros com pior índice
de desenvolvimento humano da cidade. Construído
em uma praça, o espaço foi aberto não só aos alu-
nos, mas também à comunidade. Para Valnei da
Fonseca, diretor da Erich W. Heine, a ideia foi criar
uma alternativa de ensino e lazer. “A comunidade já
tinha um ambiente de lazer e viemos para trazer um
outro papel. É um projeto de cunho alternativo, que
funciona inclusive nos fi nais de semana, com ofi ci-
nas”, explica.
A instituição adota mais de 50 medidas para as-
segurar o melhor aproveitamento de recursos natu-
rais e de energia elétrica. Entre elas, está a operação
de duas cisternas que, juntas, somam 30 mil litros.
Dessa forma, a escola consegue captar a água da
chuva para reúso em banheiros, hortas e jardins. Ao
mesmo tempo, economiza mais de R$ 2 mil por mês
na conta de água. Processo semelhante ocorre com a
energia elétrica. A Erich Heine utiliza LEDs no lugar
de lâmpadas tradicionais. Todos fi cam conectados a
um sistema automático que apaga a luz quando não
há presença humana. Além disso, o prédio foi cons-
truído em um formato que proporciona uma melhor
circulação de ar e, consequentemente, reduz a ne-
cessidade de uso do ar-condicionado. “O interessan-
te é ver que os nossos alunos já levam para casa essa
questão do consumo racional”, acrescenta Fonseca.
O segredo da escola, que oferece ensino mé-
dio integrado ao curso técnico de Administração,
é justamente estimular a prática de conceitos sus-
tentáveis entre os alunos. “Como o curso lida com
administração, com viés empresarial, os estudantes
percebem que esses exemplos se atrelam, analisan-
do o impacto ambiental e a relação econômica que
existe entre eles”, explica Fonseca. “É uma semente
que vai germinar. Outros modelos semelhantes vão
ser criados no Estado.”
C
NOTA 10 EM PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS
Inaugurada em 2011, a escola Erich W. Heine, do Rio, destaca-se não só pelo compromisso com o meio ambiente, mas também pelos projetos sociais e pelo bom desempenho dos alunos – o segundo melhor do Estado
Exemplar: hábitos sustentáveis geram economia de 50% na água e de 80% na energia da escola
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
o fi nal das contas, o Maracanã não recebeu
nenhuma partida da Seleção Brasileira du-
rante a Copa do Mundo de 2014. Mas isso não quer
dizer que tenha deixado de brilhar. Além de sediar a
fi nal entre Argentina e Alemanha, o estádio se proje-
tou como uma referência em construção sustentável
para arenas esportivas do Brasil e do mundo.
Construído pela Odebrecht, o empreendimen-
to é administrado, atualmente, pela Concessionária
Maracanã S/A, formada pela Odebrecht Properties,
IMX e AEG. Desde o início das reformas, recebeu in-
vestimentos de mais de R$ 1 bilhão, tanto para dar
conforto aos torcedores quanto para adquirir os
dispositivos que contribuem para a economia e uso
consciente de recursos naturais.
A reforma do grande templo do futebol brasi-
leiro começou com a implantação de um sistema de
captação de água da chuva na nova cobertura, pro-
porcionando o reúso para a irrigação do gramado. A
água captada também serve aos vasos sanitários dos
banheiros, que contam com descargas ecológicas. Os
sanitários dispõem de torneiras temporizadoras, que
desligam automaticamente. Resultado: redução de
30% no consumo de água.
No campo energético, o estádio conta com a
instalação de placas fotovoltaicas na superfície que
cobre as arquibancadas, com capacidade de geração
de 528 mil kW/h por ano. O sistema é capaz de suprir
até 3,5% da eletricidade necessária para o funcio-
namento do Maracanã. Evita, assim, a emissão de 2
mil toneladas de CO2 para a atmosfera por ano. Para
completar, há o moderno sistema de iluminação com
lâmpadas de LED em 23,5 mil luminárias de longa
vida útil, além de elevadores inteligentes e equipa-
mentos econômicos de ar condicionado.
A gestão de resíduos fi ca sob responsabilidade
de 210 profi ssionais da SunPlus, empresa responsá-
vel pela limpeza do estádio que recolhe até três to-
neladas de latas, garrafas pet e copos plásticos por
jogo. Todo o material é levado ao programa Recicla
Rio e doado para cooperativas de catadores. Julia
Martins, responsável péla área de sustentabilida-
de do estádio, explica que a união gerou resultados
positivos. “Antes, o percentual de tratamento era
de 18%. Com o Recicla Rio, saltou para 33%. Nossa
meta, até o fi nal do ano, é chegar a 40%”, destaca.
A raiz dessa transformação está em uma reco-
mendação dada em agosto de 2009 pelo Comitê Or-
ganizador da Copa do Mundo. A entidade pediu às ci-
dades-sede brasileiras que adotassem, nos estádios,
a certifi cação LEED. O Maracanã conquistou o selo
em junho de 2014. Mas os benefícios do esforço para
alcançá-lo já são evidentes há muito mais tempo.
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O VERDE MUITO ALÉM DO GRAMADO
Com tecnologias que proporcionam economia de energia, água e outros recursos naturais, o novo Maracanã se projeta para o mundo não só como o palco da fi nal da Copa de 2014, mas também como um modelo de estádio sustentável
Gol de placa: sistema de reciclagem recolhe até três toneladas de lixo por jogo no Maracanã
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PATROCINADORES APOIO TÉCNICO
m empreendimento não precisa ser neces-
sariamente novo para ser reconhecido como
construção sustentável. Velhos prédios, casas e até
indústrias podem requerer esse status por meio de
um retrofi t – isto é, uma reforma estrutural e tec-
nológica (ver fundo de pensão neste guia). Nesse
processo de revitalização, um caso de destaque no
Brasil é o edifício Marques dos Reis, localizado na
Praça Pio X, no centro histórico e fi nanceiro do Rio
de Janeiro. A edifi cação de 12 andares foi constru-
ída na década de 1940 e relançada em 2011 pelo
fundo de pensão Previ, que representa os funcioná-
rios do Banco do Brasil – e também é responsável
pelo edifício Eco Berrini (leia mais na página 12).
Uma modernização que resultou na adoção de sis-
temas de economia de energia, água e de redução
de resíduos.
O retrofi t do Marques dos Reis absorveu um
investimento de cerca de R$ 33 milhões e gerou
13 mil m² de área construída. Para Marília Galhano,
gerente da administração de participações imobiliá-
rias do Previ, o objetivo foi modernizar e, ao mes-
mo tempo, preservar o valor histórico do imóvel. “O
conjunto de reformas objetivou a modernização e
a atualização tecnológica do prédio, preservando
seus materiais nobres e suas características de épo-
ca”, explica ela.
Além da implementação dos mecanismos de
uso racional de água e energia, a transformação ser-
viu para aumentar o conforto e a qualidade interna
dos ambientes. Segundo Marília, dentre os resulta-
dos alcançados estão o baixo custo operacional, a
extensão da vida útil do edifício e um incremento no
valor de mercado do empreendimento.
Hoje, o Marques dos Reis conta com tecnologia de
automação e supervisão predial em sistemas hidráu-
licos, elétricos, de ar condicionado, ventilação mecâ-
nica, detecção e combate de incêndio e controles de
acesso. Também traz doze pavimentos de escritórios
(dois conjuntos por andar), loja no pavimento térreo,
subsolo destinado à área técnica e administrativa e
uma cobertura com terraço e sala de múltiplo uso, com
capacidade para cerca de 80 pessoas. Curiosamente,
por ser antigo, o prédio não oferece estacionamento.
O reconhecimento a essa modernização veio em
agosto de 2012, quando o Marques dos Reis conquis-
tou a certifi cação LEED na categoria Silver. “A Previ
entende que a responsabilidade socioambiental é
abrangente. Um dos valores que devem permear a
forma de pensar e realizar da entidade”, explica Gilson
Corrêa, gerente de núcleo da área imobiliária da Previ.
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PATRIMÔNIO (E NATUREZA) PRESERVADO
Construído na década de 1940, o edifício Marques dos Reis, no Rio de Janeiro, é a prova de que mesmo as construções antigas podem se adaptar às mais novas práticas de construção sustentável
Da janela: no coração do Rio, edifício Marques dos Reis adota novas práticas sem perder a identidade
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
uem anda pelos corredores de qualquer loja
da rede Pão de Açúcar talvez não consiga
perceber. Mas o fato é que, por trás das gôndolas e
caixas, há uma série de tecnologias e processos que
buscam preservar o meio ambiente. Não por acaso,
a sustentabilidade é um dos valores presentes no
modelo estratégico do Pão de Açúcar, há mais de 15
anos, e fator determinante na gestão de seus negó-
cios. Com foco na efi ciência no uso de recursos, as
lojas do grupo contam com soluções completas para
o descarte de materiais recicláveis, diminuição do
impacto socioambiental no processo da edifi cação
e consumo racional de água, energia e insumos.
O Pão de Açúcar é assessorado pela GPA
Malls&Properties, responsável pela gestão dos
ativos imobiliários do grupo e que tem como pilar
estratégico a sustentabilidade. Alexandre Vascon-
cellos, presidente da GPA M&P, atesta a importân-
cia do investimento. Até hoje, diz ele, o Pão de Açú-
car já aplicou mais R$ 100 milhões na implantação
de lojas verdes. “As práticas de sustentabilidade são
um diferencial que traz resultados não só no rela-
cionamento com os clientes, mas também no custo
de operação dessas lojas, a partir da redução de
consumo de energia, água e outros benefícios”, diz.
O primeiro supermercado verde do grupo, inau-
gurado oito anos atrás, em Indaiatuba, no interior de
São Paulo, foi também o primeiro do tipo da América
Latina. “Comprovamos que é possível construir de
forma sustentável e, ainda, obter retorno fi nanceiro
– uma vez que a operação da loja implica a economia
de vários recursos naturais”, aponta Marcelo Bazzali,
diretor de operações do Pão de Açúcar.
Uma das unidades que se enquadram nesse con-
ceito é a do Pão de Açúcar São Camilo, inaugurada
em dezembro de 2011 com investimentos de R$ 15
milhões. Com sede em Cotia, no interior paulista,
a loja traz tecnologias que reduzem o consumo de
energia e água, além da emissão de CO2 e de resí-
duos. A iluminação é zenital, feita por meio de telhas
translúcidas que permitem a entrada de luz natural.
O sistema de aquecimento da água dos banheiros
conta com um recuperador de calor. E tanto a ma-
deira quanto as tintas e colas são reconhecidas pela
baixa emissão de Compostos Orgânicos Voláteis
(COV).
Com essas tecnologias, a unidade consegue re-
duzir à metade o consumo de água potável e em 15%
o de eletricidade. Toda a execução da obra priorizou
a utilização de materiais de fornecedores regionais.
Para os clientes, a loja oferece, ainda, bicicletário,
estação de reciclagem e outros benefícios essen-
ciais na busca do desenvolvimento sustentável.
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A DIFERENÇA ATRÁS DA GÔNDOLA
Pioneiro no conceito de supermercados verdes, o grupo Pão de Açúcar mostra que é possível apostar no desenvolvimento sustentável sem abrir mão de um serviço atraente para os clientes
Super-racional: aberto em 2011, o Pão de Açúcar São Camilo traz até bicicletário
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PATROCINADORES APOIO TÉCNICO
om 160 mil habitantes, o município de Itu, no
interior paulista, orgulha-se do título popu-
lar de “capital do exagero” – fama consagrada pelo
humorista Simplício, que costumava brincar na TV
dizendo que tudo na cidade era descomunal. Hoje,
no entanto, Itu vem conquistando uma nova fama –
esta, bem mais lisongeira: a de cidade comprometi-
da com o meio ambiente. Afi nal, trata-se da primei-
ra prefeitura cujo prédio é sustentável na América
Latina, com um centro administrativo totalmente
informatizado e climatizado – que busca economi-
zar energia e reduzir a emissão de gases causadores
do efeito estufa.
O edifício foi inaugurado em junho de 2012,
com um investimento de R$ 40 milhões. Sua cons-
trução atendeu a uma série de exigências em rela-
ção à preservação do meio ambiente e à economia
de recursos naturais. E o resultado não tardou: o
Paço Municipal de Itu alcançou a pontuação neces-
sária para obter a certifi cação Leed, confi rmando o
status de “prédio verde”.
O atual prefeito de Itu, Antonio Tuíze, era o
secretário municipal de Administração da cidade
quando o Leed foi conquistado. Ele foi o responsá-
vel por idealizar o projeto e acompanhar todas as
etapas de construção e de certifi cação. Para ele, a
nova prefeitura se tornou um modelo para edifí-
cios públicos no campo da sustentabilidade. Agora,
para que esse exemplo se replique em outras admi-
nistrações públicas, é necessário observar alguns
pontos. “É preciso realizar um diagnóstico avalian-
do os seguintes eixos: se é economicamente viável,
se é socialmente desejável e se é ecologicamente
sustentável”, explica. Com essa fi losofi a, o Paço de
Itu consegue reduzir à metade o consumo de água
e em 30% o uso de energia. Também reduz 35% da
emissão de gases poluentes e até 60% da geração de
resíduos sólidos.
Para a utilização efi ciente de água, por exem-
plo, o prédio capta as chuvas por meio de lajes im-
permeabilizadas – que são armazenadas em cister-
nas e depois utilizadas nos vasos sanitários. Também
possui torneiras temporizadas, paisagismo efi ciente
(com menor consumo de irrigação) e drenagem su-
perfi cial. A pavimentanção dos estacionamentos e
posseios conta com pisos intertravados e concre-
grama, que contribuem para infi ltração da água da
chuva no solo reduzindo o impacto para enchentes.
“Tudo para uma melhora signifi cativa da produtivi-
dade e saúde dos nossos servidores e de um melhor
atendimento à população”, explica o prefeito.
C
EXEMPLO QUE INSPIRA (SEM EXAGEROS)
Itu é dona do primeiro Paço Municipal com certifi cação Leed na América Latina. Uma conquista que vai além da missão de economizar energia e diminuir a emissão de poluentes – e que busca inspirar a mudança em outras prefeituras
Verde no detalhe: as divisórias e portas da prefeitura são feitas de madeira certifi cada
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
serra gaúcha já se consolidou como um dos
grandes destinos turísticos do país. O fl u-
xo de visitantes a cada ano é tão grande que atrai
cada vez mais empreendimentos – e nem todos dão
retorno imediato. O San Pelegrino Shopping, cons-
truído em Caxias do Sul, por exemplo, levou quase
duas décadas até se fi rmar como um negócio viável.
E essa conquista só ocorreu quando o empreendi-
mento optou por um posicionamento sustentável.
O San Pelegrino foi construído em um terreno
que, até os anos 1960, abrigava uma das mais tradi-
cionais vinícolas da serra gaúcha. O edifício do sho-
pping começou a ser construído há duas décadas.
Era para ser o primeiro grande centro comercial da
cidade, propjetado na época como “Italian Shopping”.
Mas a ideia não vingou. Depois de pronta, a estrutura
fi cou parada por mais de dez anos. Até que, no fi nal
de 2007, o grupo israelense Gazit Globe – por meio
da subsidiária Gazit Brasil Ltda. – assumiu a adminis-
tração do prédio pelo valor de R$ 35 milhões. Era o
início de uma transformação radical.
Após a aquisição, o projeto do shopping foi re-
modelado visando ao padrão de sustentabilidade
de outros empreendimentos do grupo Gazit. Prova
disso é que, na modernização, cerca de 70% da obra
anterior foi reaproveitada. O San Pelegrino Shop-
ping Mall foi inaugurado em 2010. Três anos depois,
recebeu a certifi cação Leed, tornando-se pioneiro
no setor na América Latina. Para Carla Tomaz, su-
perintendente do shopping, o certifi cado represen-
ta muito para a administração. “Para nós, sermos o
primeiro shopping sul-americano a conseguir o selo
é muito gratifi cante”, aponta.
Com as chuvas, o sistema de reutilização con-
segue economizar até 30% de água. Outro critério
de destaque são os vidros especiais, que reduzem o
calor, controlando a temperatura interna sem que
os condicionadores de ar tenham de funcionar a
pleno. O próprio sistema de ar condicionado utiliza
gás de baixo impacto ao meio ambiente. O shopping
também conta com uma analista ambiental focada
na gestão e destinação de resíduos. “Ela fi ca diaria-
mente em cima disso, em turno integral, coordenan-
do treinamentos e projetos envolvendo lojistas nas
melhores práticas de sustentabilidade”, diz Carla.
Para compartilhar a fi losofi a sustentável, desde
o ano passado o shopping realiza o Projeto Reciclar,
que envolve os lojistas em várias ações focadas na
redução, destinação e segregação de lixo, logística
reversa e acondicionamento. “As diferentes iniciati-
vas envolvem um custo inicial grande. Mas o empre-
sário tem de analisá-lo a longo prazo – aí, os ganhos
se tornam mais evidentes”, garante Carla.
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O SHOPPING QUE VENCEU O TEMPO
Depois de quase duas décadas parado, o prédio que abriga o shopping San Pelegrino, em Caxias do Sul, passou por uma verdadeira transformação sustentável – com resultados animadores
Luz gratuita: vidros especiais ajudam o shopping San Pelegrino a economizar energia
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PATROCINADORES APOIO TÉCNICO
sustentabilidade faz parte de nós”, anteci-
pa Fabiano Hennemann, executivo de fa-
cilities da SAP Labs Latin America. Especialista em
sistemas empresariais, a multinacional alemã esco-
lheu o Parque Tecnológico da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, como
sede de um de seus mais importantes centros de
desenvolvimento de softwares no mundo. E apro-
veitou para fazer do empreendimento um exemplo
de sustentabilidade. Dividida em duas fases, a obra
custou cerca de R$ 100 milhões. Mas os resultados
fi zeram valer cada centavo.
Destaque no ramo de escritórios corporativos,
o primeiro prédio, com 7,2 mil m², foi inaugurado em
2009, com um investimento de R$ 41 milhões. O se-
gundo, construído devido à necessidade de expandir
o centro de pesquisa, tem 9,9 mil m² e funciona desde
dezembro de 2013. Custou mais de R$ 60 milhões.
Ambos os prédios seguem as mesmas premis-
sas de sustentabilidade, com uma estrutura basea-
da em três materiais básicos – concreto aparente,
vidro e madeira. De acordo com Hennemann, a sus-
tentabilidade é um valor da SAP. “A empresa segue
nesse caminho. Nós temos produtos para que os
clientes se tornem mais sustentáveis e, ao mesmo
tempo, temos nossos próprios objetivos estratégi-
cos nessa área”, aponta.
Desde que começou a operar em São Leopoldo, o
SAP Labs vem apresentando bom desempenho am-
biental. A redução no consumo médio de água, por
exemplo, tem fi cado em 35,7% – acima da meta esti-
pulada originalmente, de 30%. Já o índice de econo-
mia de energia tem se mantido no dobro do estipula-
do como padrão na certifi cação Leed – já conquistada
–, que é de 14%. “Nós dobramos um indicador que já
é considerado audacioso”, elogia Henneman. Conse-
quentemente, o SAP Labs também exibe um bom de-
sempenho no controle de emissões de carbono. Re-
centemente, fi cou em segundo lugar no ranking dos
57 prédios menos poluentes da SAP nas Américas.
Agora, a companhia trabalha para incentivar ou-
tras empresas a seguir o caminho verde. “Em 2009,
se eu falasse da certifi cação Leed, nenhum fornece-
dor saberia o que era. Hoje, o certifi cado está muito
mais difundido”, garante Henneman. O importante,
diz ele, é ter boas pessoas na estrutura engajadas no
projeto de sustentabilidade – além de profi ssionais
que conheçam a certifi cação, é claro. “Se não levar
isso em consideração, você pode ter grandes pro-
blemas de qualidade e de prazo”, alerta.
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SOFTWARES DE BAIXO CARBONO
Em São Leopoldo, a SAP Labs vem batendo as próprias metas de redução no consumo de energia, água e gestão de resíduos. Hoje, o prédio de São Leopoldo é o vice-líder no ranking dos prédios da SAP que menos emitem carbono nas Américas
Acima da média: unidade de São Leopoldo bate as metas de economia de água e energia da SAP
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
as mais de 300 unidades que o Serviço Social
do Comércio (Sesc) mantém no país, 20 estão
localizadas na região metropolitana de São Paulo. E
quase todas elas adotam soluções e sistemas sus-
tentáveis. Mas é em Sorocaba que está uma das ex-
periências mais bem-sucedidas. Inaugurado em se-
tembro de 2012, o prédio da unidade é reconhecido
com a certifi cação Leed na categoria Gold, e refl ete
um dos muitos valores da entidade: a sustentabili-
dade ambiental, econômica e social.
O diferencial aparece já na escolha dos ma-
teriais utilizados pela organização – que devem
seguir certos parâmetros de responsabilidade so-
cioambiental. “Contamos com um documento de-
nominado ‘Normas Técnicas’, que vem sendo cons-
truído desde o fi nal dos anos 1980 para que erros
não sejam repetidos. Com o passar do tempo, foi se
transformando em uma orientação de boas práticas
e, hoje, conta com aproximadamente mil itens”, ex-
plica Luciano Ranieri, assessor técnico e de planeja-
mento do Sesc/SP.
A unidade de Sorocaba tem cerca de 30 mil m²
e abriga consultórios odontológicos, academia, bi-
blioteca, teatro e outros serviços aos comerciários
e cidadãos da cidade. Por trás dessa estrutura está
um amplo aparato de desenvolvimento sustentá-
vel. O sistema de tratamento de águas pluviais, por
exemplo, utiliza tanques com plantas aquáticas e
peixes no processo de fi ltração. A água resultante
é reusada nas descargas dos sanitários, limpeza de
pisos e irrigação.
A estrutura do edifício também foi pensada
para maximizar o rendimento da iluminação natu-
ral. Para Ranieri, isso é muito mais do que um siste-
ma verde. “Não é uma questão de implantar um sis-
tema verde. É uma questão do uso ético e racional
de recursos escassos”, explica ele.
Novas tecnologias, principalmente relacionadas
à diminuição do consumo de energia elétrica, estão
constantemente sendo pesquisadas e testadas pela
equipe de engenharia do Sesc. A meta para os pró-
ximos anos é a implantação de usinas de geração de
energia fotovoltaicas para suprir o consumo diurno
do Sesc Bertioga, um centro de férias inaugurado
em 1948 e que está passando por um processo de
modernização – a ideia é concluir as obras em 2018.
Ranieri avisa: outras ações podem ser adotadas à
medida que sejam demandadas reformas ou substi-
tuídos os equipamentos.
D
SUSTENTÁVEL NOS MÍNIMOS DETALHES
A escolha consciente de materiais de construção é um dos mandamentos do Sesc Sorocaba para se projetar como uma referência na gestão de recursos – e um modelo de construção verde
Pelo futuro: em Sorocaba, até os materiais seguem padrões mínimos de sustentabilidade
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
m 2011, a Starbucks Coffee Company tomou
uma decisão arrojada: todas as suas lojas pró-
prias deveriam ser certifi cadas no Leed pelo US Green
Building Council (USGBC), atendendo a vários crité-
rios de racionalização de água, efi ciência energética
e qualidade ambiental interna. Parecia um exagero
– afi nal, muitas empresas demoram anos até conse-
guir o selo. Como evitar que esse mandamento em-
perrasse o crescimento da rede de cafeterias?
O primeiro passo foi ajustar as lojas já existen-
tes ou em construção. Para isso, a Starbucks adotou
lâmpadas efi cientes e torneiras inteligentes, que
reduzem o consumo de água, em todas as suas uni-
dades. “É vantajoso para todos, pois reduz o impac-
to ambiental e faz sentido nos negócios”, justifi ca
Renata Rouchou, diretora de desenvolvimento da
Starbucks Brasil. Segundo ela, a companhia preten-
de diminuir o consumo de alguns itens até 2015.
“Nossa meta é reduzir o consumo de água e energia
em 25% e cobrir 100% do nosso consumo de eletri-
cidade com energia renovável”, expressa.
Essa intenção faz parte do projeto Starbucks
Shared Planet, que procura atenuar signifi cativa-
mente o impacto ambiental da rede até 2015. O
projeto ajuda a difundir mensagens de educação sus-
tentável, incentiva a reciclagem e prevê a elaboração
de inventários anuais para acompanhar a emissão
de gases causadores do efeito estufa – não só nas
lojas, mas também nos escritórios e fábricas de tor-
refação. Outro ponto importante é a orientação aos
empreiteiros para que usem materiais menos tóxicos
e métodos para melhorar a qualidade do ar interior
das lojas. Os elementos de design verde utilizados
contribuem para o objetivo, gerando um ambiente
saudável para os funcionários e clientes. As lojas pró-
prias, por exemplo, são necessariamente construídas
com tijolo cru – para evitar o consumo de tintas.
Todas as unidades inauguradas pela rede são
abertas com a solicitação do selo Leed. Antes mes-
mo de as obras começarem, tanto as construtoras
quanto a equipe de design da companhia passam
por treinamento constante para cumprir os crité-
rios exigidos na certifi cação.
Renata acredita que as empresas são respon-
sáveis por encontrar um equilíbrio entre a rentabi-
lidade e a consciência social. No caso da Starbucks,
isso começa pelo fornecedor de café e abrange até
a comunidade em que as lojas são instaladas. “A
Starbucks procura olhar para todos os aspectos,
integrando novas soluções para criar uma mudança
signifi cativa e minimizar o impacto ambiental”, diz.
E
A VEZ DO CAFEZINHO SUSTENTÁVEL
Com 76 cafeterias no Brasil, a rede Starbucks se impõe metas arrojadas de uso racional de água e energia. Todas as unidades precisam ser certifi cadas no Leed – até agora, seis conquistaram o selo
Cafés verdes: meta da Starbucks é usar somente energias renováveis até o fi nal de 2015
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
m 2010, a General Motors (GM) deu a largada
na construção de uma fábrica em Joinville, o
mais importante polo industrial de Santa Catarina.
A unidade, que custou R$ 350 milhões e se destina à
produção de motores e cabeçotes para os modelos
Onix e Prisma, entrou em operação em fevereiro de
2013. E trouxe consigo novos parâmetros de cons-
trução sustentável no setor de grandes indústrias.
Para começar, foi a primeira fábrica do setor
automotivo a receber, na América do Sul, a certifi -
cação Leed na categoria Gold. A conquista se deve
a inúmeras medidas pensadas para reduzir ao máxi-
mo o impacto ambiental das operações produtivas e
outras rotinas. Um dos destaques é o uso de células
fotovoltaicas no telhado do pavilhão. Sua função é
captar energia solar e transformá-la em eletricida-
de – o sufi ciente para iluminar tanto o setor de pro-
dução quanto os escritórios. Ao todo, o sistema de
energia solar evita emissões de 10,5 toneladas de
CO2 por ano. E ainda ajuda a aquecer 15 mil litros de
água por dia, reduzindo os custos com gás natural
e evitando que mais outras 17,6 toneladas de CO2
sejam jogadas na atmosfera a cada ano.
Para o uso consciente de água, foram adotadas
torneiras e descargas de baixo fl uxo, munidas de
sensor ou temporizador. O esgoto gerado é tratado
com um sistema de osmose reversa (a mesma tec-
nologia utilizada pela Nasa em missões espaciais),
que serve para fi ltragem e reciclagem, permitindo
sua reutilização, seja nos vasos sanitários ou em
processos industriais. De acordo com a empresa, o
sistema produz uma água de alta qualidade, muitas
vezes “superior à de origem”. O mecanismo permite
o reúso de até 22,9 mil m3 de água por ano – o equi-
valente ao consumo de 70 casas populares.
A efi ciência energética também está presente
no sistema de ar condicionado, que é do tipo VRV
(sigla de Volume de Refrigerante Variável). Essa tec-
nologia proporciona uma redução substancial no
consumo de energia por meio do monitoramento in-
terno dos níveis de CO2. Outro item é o tratamento
de esgotos por meio de jardins fi ltrantes, que usam
plantas nativas no lugar de processos mecânicos.
De acordo com Nelson Branco, gerente de ser-
viços ambientais da GM, a fábrica de Joinville foi
desenhada para ser efi ciente e facilitar a relação
entre os usuários. “Todos os nossos procedimentos
de operação foram adaptados para manter as con-
dições estruturais de projeto da fábrica em termos
de iluminação, hidráulica e civil”, destaca. As inova-
ções viabilizam o programa Zero Aterro, criado para
reciclar 100% dos resíduos industriais. Mais de 100
unidades da GM no mundo seguem a iniciativa.
E
O NOVO MOTOR DA SUSTENTABILIDADE
Com sistemas próprios de tratamento de água e geração de energias limpas, a fábrica de Joinville se consolida como um modelo para a GM no mundo
GM iluminada: com painéis fotovoltaicos e tecnologias que aproveitam a luz natural, a fábrica de Joinville foi projetada para ser um marco de efi ciência energética
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PATROCINADORES APOIO TÉCNICO
abricante de acessórios automotivos, a Keko
está de casa nova. Depois de 25 anos operando
em Caxias do Sul, a companhia se transferiu para o
distrito industrial de Flores da Cunha, na serra gaú-
cha. E aproveitou a mudança para adotar um novo
posicionamento: o de indústria alinhada às mais
avançadas práticas de gestão ambiental – uma exi-
gência cada vez mais rigorosa entre os clientes do
mercado automotivo.
Para isso, a empresa aposta em sistemas inova-
dores que aliem a sustentabilidade a uma operação
competitiva. Inaugurado em outubro de 2011, o
novo parque fabril recebeu investimentos de R$ 45
milhões. Entre os sistemas adotados estão soluções
construtivas que otimizam ao máximo o aproveita-
mento da luz e ventilação naturais, resultando em
uma economia de aproximadamente 30% de ener-
gia elétrica. O destaque são as placas prismáticas
(chamadas assim porque não sofrem ataque de raios
ultravioleta provenientes do sol), que maximizam a
iluminação natural durante o dia. Além disso, a fábri-
ca conta com um sistema automatizado para ligar e
desligar as máquinas de acordo com a necessidade.
A preocupação com o meio ambiente também
se refl ete na reutilização diária de 50 mil litros de
água, graças a duas Estações de Tratamento de
Esgoto (ETEs) próprias. Cerca de 35% dessa água
serve aos sanitários, lavadores de gases, cabines
de pintura e irrigação de jardins. Além disso, a Keko
conta com um reservatório que armazena até 10
mil litros de água de chuva. No futuro, a intenção é
construir um reservatório para 1 milhão de litros.
A série de preocupações rendeu à Keko a cer-
tifi cação na Norma ISO 14001/2004 em agosto de
2013. Um reconhecimento que faz da empresa um
modelo de indústria sustentável. “A empresa vem
disseminando essa cultura tanto internamente
quanto externamente – para a comunidade, forne-
cedores, clientes e parceiros”, salienta Juliano Man-
tovani, diretor de mercado e inovação da Keko.
Mantovani lembra que a fábrica foi planejada
para crescer sem impacto ambiental – principal-
mente na questão logística. “Antigamente, tínha-
mos seis unidades em Caxias do Sul, o que gerava
um gasto logístico terrível.” Uma única peça, por
exemplo, tinha de percorrer 81 quilômetros de uma
planta para outra até fi car pronta. Além de poupar
dinheiro com transporte, a fábrica reduziu o volu-
me de CO2 emitido com a queima de combustíveis.
“Hoje, estamos trabalhando na implementação dos
3 Rs: reduzir, reutilizar e reciclar”, avisa Mantovani.
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O IDEAL DO CRESCIMENTO SEM IMPACTO AMBIENTAL
Inaugurada em 2011, a fábrica da Keko vem impondo um novo patamar de gestão ambiental entre as indústrias do sul do país
Verde e lucrativa: 100% dos efl uentes da Keko são tratados na própria fábrica – com economia em diversos processos
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CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL
em todas as iniciativas de desenvolvimen-
to sustentável dependem da boa vontade de
grandes empresas. Com mudanças de atitudes, as
pessoas também podem promover transformações
importantes e inspirar mudanças que façam a dife-
rença. Foi o que fez o biólogo Yuri Sanada ao plane-
jar e construir a chamada “Casa Orgânica” – uma re-
sidência inteiramente feita de materiais reciclados.
Localizada no município de Joanópolis, distante 100
quilômetros de São Paulo, o projeto é uma referên-
cia de pequena construção sustentável no Brasil – e
pode estimular mudanças tanto em casas populares
quanto em empreendimentos mais complexos.
O primeiro diferencial da Casa Orgânica é o
fato de que não tem tijolos. Toda a estrutura é fei-
ta de pneus inutilizados, além de latas e garrafas
pet usadas. O preenchimento foi feito não com ci-
mento, mas com terra compactada – uma mistura
de barro e palha semelhante à usada nas casas de
pau a pique. O concreto só foi utilizado, mesmo, no
acabamento. Aliás, o sistema com pneus e garrafas
ganhou um nome específi co: “pet a pique”.
Com esses materiais, as paredes se tornam mais
espessas que as convencionais, o que traz algumas
vantagens – como o isolamento acústico e térmico.
“Pode bater sol o dia inteiro ou nevar que a tempera-
tura interna não muda”, afi rma Yuri, que mora na re-
sidência com sua esposa desde novembro de 2013.
O telhado é verde. Isto é, traz uma cobertura externa
de vegetação que colabora para manter a tempera-
tura agradável. Já a iluminação é feita com o uso de
garrafas pet dependuradas no teto, abaixo de peque-
nas aberturas para a luz natural. O mecanismo é efi -
ciente: desde que se mudou para a nova casa, Yuri viu
o valor da conta de luz baixar mais de 70%.
A água da Casa Orgânica é reciclada. Depois de
passar por pias e chuveiros, é direcionada para um
tanque central que faz a fi ltragem e armazenagem
– Yuri costuma aplicá-la na irrigação de plantas, des-
cargas de vasos sanitários e em torneiras externas.
Com o sistema, é possível reutilizar a água até quatro
vezes, reduzindo em mais da metade o consumo de
uma residência comum. Até o esgoto é tratado – e se
transforma em biogás ou adubo.
São muitos os detalhes que fazem da Casa Or-
gânica um exemplo de sustentabilidade. Uma re-
sidência construída nesses moldes chega a custar
até 30% menos que uma casa tradicional. Para Yuri
e sua mulher – a produtora cultural Vera Sanada –,
a maior contribuição da casa é comprovar a viabili-
dade da transformação verde. Não por acaso, eles
pretendem lançar um livro e um DVD com os deta-
lhes do projeto completo. Um verdadeiro manual de
como economizar água, energia e até alimentos.
N
UMA CASA DE “PET A PIQUE”
Criada por um biólogo, a Casa Orgânica mostra que as pessoas – e não só as empresas – também podem tomar iniciativas que façam a diferença na busca da construção sustentável
Fundações sustentáveis: as paredes são de pneus e pet; a água é reciclada até quatro vezes
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