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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU - FURB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL VIEGAS FERNANDES DA COSTA TURISMO ARQUEOLÓGICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A possibilidade de aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-colonial dos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba (SC) para a promoção do desenvolvimento sustentável na região. BLUMENAU 2016

TURISMO ARQUEOLÓGICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A possibilidade de aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-colonial dos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba (SC)

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU - FURB

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA COMUNICAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

VIEGAS FERNANDES DA COSTA

TURISMO ARQUEOLÓGICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

A possibilidade de aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-colonial dos

municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba (SC) para a promoção do desenvolvimento

sustentável na região.

BLUMENAU

2016

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VIEGAS FERNANDES DA COSTA

TURISMO ARQUEOLÓGICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

A possibilidade de aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-colonial dos

municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba (SC) para a promoção do desenvolvimento

sustentável na região.

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós Graduação em Desenvolvimento

Regional – PPGDR do Centro de Ciências

Humanas e da Comunicação da

Universidade Regional de Blumenau –

FURB, como requisito parcial para a

obtenção de grau de Mestre em

Desenvolvimento Regional.

Prof. Dr. Clóvis Reis – Orientador

BLUMENAU

2016

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho é resultado de uma pesquisa de dois anos à qual se somaram

diversas pessoas, sem cujo apoio não teríamos alcançado os resultados aqui

apresentados. Cumpre-me agora agradecer a estas pessoas.

Primeiramente, reconhecer e agradecer o apoio da minha esposa Fernanda Denise

Satler, primeira e principal incentivadora desta caminhada que partilhou comigo, seja na

troca de ideias, nas sugestões, nos questionamentos ou me acompanhando em campo,

auxiliando-me nos registros fotográficos e nas observações, seja na paciência que me

concedeu quando da minha ausência nas atividades do lar.

Aos meus pais, mãe Anneli Fernandes da Costa, pai Carlos Alberto Fernandes da

Costa, que nunca mediram esforços para a educação dos seus filhos e que sempre me

incentivaram a curiosidade, a persistência e a leitura de mundo.

Ao meu orientador, Professor Doutor Clóvis Reis, pela confiança, paciência,

orientações e por me conceder a liberdade de experimentar novos caminhos sempre

quando necessários.

Aos professores e colegas alunos do Programa de Pós Graduação em

Desenvolvimento Regional de Blumenau, pelos debates, leituras, questionamentos e

apoio concedido.

Ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC),

que me proporcionou estímulo e estrutura para que esta pesquisa fosse possível e,

principalmente, por me desafiar para um novo território.

Aos meus alunos do IF-SC Campus Garopaba, primeiros interlocutores e com os

quais tive a oportunidade de compartilhar resultados preliminares e testar hipóteses.

Agradecimentos especiais também aos professores João Henrique Quoos e Juliani

Brignol Walotek (IF-SC) pela troca de informações, parceria e pelos registros

fotográficos; ao Professor Doutor Luciano Félix Florit (FURB), membro da Banca de

Qualificação e de Defesa, pela amizade, apoio, leitura crítica e sugestões; à Professora

Doutora Marilda Rosa Galvão Checcucci da Silva (FURB), membro da Banca de

Qualificação, pela leitura crítica e sugestões; e ao Professor Carlos Marcelo Ardigó

(UNIVALI), membro da Banca de Defesa, pela leitura crítica e sugestões.

À Secretária do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional,

Kathleen Simone Hüskes, sempre disponível e atenta às questões de suporte que

necessitávamos no âmbito do PPGDR.

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Registro também que diversas pessoas despenderam voluntariamente tempo e

conhecimentos para a realização desta pesquisa, fornecendo-me informações,

conduzindo-me a sítios, auxiliando-me nos registros fotográficos e me indicando

materiais. A estas pessoas reitero aqui meus agradecimentos, em especial a: Zeno

Moreira de Castilho Neto, Luiz Fernando Alves Bintencourt, Maria Aparecida Ferreira,

Paulo Sefton, Fernando Ambrósio e Agenor Garcia Felipe pelas entrevistas que me

concederam; aos grupos de condutores ambientais ACAIG, Vidamar, Taiá Terra e ao

Ismael Furtado do Garopaba Mountain Bike Tours que, por meio dos seus

representantes, prontamente responderam aos questionários enviados; Ronaldo Augusto

e Jean Pierre Vasconcellos por me apresentarem e conduzirem a diversos sítios

arqueológicos; e a todos que participaram desta pesquisa respondendo aos questionários

e partilhando das expectativas, das etapas do trabalho e das dúvidas.

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo estudar as possibilidades do turismo arqueológico

enquanto estratégia para a promoção do desenvolvimento sustentável da região

compreendida pelos municípios catarinenses de Garopaba, Imaruí e Imbituba. A partir

da constatação de que o modelo de desenvolvimento adotado por estes municípios não

promoveu o desenvolvimento sustentável, gerou concentração de renda, fomentou o

turismo de massas, promoveu a sazonalidade econômica, legou passivos ambientais e

contribuiu para destruição do patrimônio cultural, discute-se o turismo arqueológico

como alternativa complementar para o desenvolvimento sustentável e articulação da

região. A pesquisa foi desenvolvida nas seguintes etapas: discussão do conceito de

desenvolvimento sustentável a partir das suas dimensões segundo Sachs (2006) e sua

relação com o turismo e os processos de patrimonialização; caracterização do território,

apresentando seus aspectos históricos, identitários, socioeconômicos e suas diferentes

escalas de regionalização; estudo da percepção dos atores locais sobre o turismo

arqueológico através de entrevistas com lideranças locais e gestores municipais de

turismo, aplicação de questionário aos grupos de condutores ambientais com atuação na

região e aplicação de questionário a turistas que visitaram alguns dos municípios

estudados; valoração do patrimônio arqueológico da região por meio da adaptação de

metodologia de valoração aplicada por Dabezies (2011). A pesquisa mostra o estado

atual e a capacidade que os vestígios arqueológicos pré-coloniais remanescentes na

região possuem para atuar como atrativos turísticos, bem como a viabilidade do turismo

arqueológico na região.

Palavras Chave: Desenvolvimento Sustentável, Turismo Arqueológico, Garopaba,

Imaruí, Imbituba.

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ABSTRACT

This research aims to study the possibilities of the archaeological tourism as a strategy

for the promotion of sustainable development of Garopaba, Imaruí and Imbituba, cities

of the Brazilian state of Santa Catarina. Since the model of development adopted in

these cities has not promoted sustainable development, generating concentration of

income, encouraging mass tourism, promoting an economic seasonality, bequeathing

environmental liabilities and contributing to the destruction of cultural heritage, it is

discussed the archaeological tourism as a complementary alternative for sustainable

development and region articulation. The research was developed in the following steps:

discussion of the concept of sustainable development from its dimensions according to

Sachs (2006) and its relationship with the tourism and the patrimonialization processes;

territory characterization, introducing historical, identity, and socioeconomic aspects in

its different regionalization scales; study of the perception of local actors about

archaeological tourism through interviews with local leaders and tour managers, survey

with local guiding professionals and with tourists who visited some of the studied cities;

valuation of the archaeological heritage of the region through the adaptation of the

valuation methodology applied by Dabezies (2011). The research shows the current

status of the regional remaining pre-colonial archaeological vestiges and its capacity to

act as tourist attractions, as well as the archaeological tourism viability in the region.

Keywords: Sustainable Development, Archaeological Tourism, Garopaba, Imaruí,

Imbituba.

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LISTA DE SIGLAS

ACIG – Associação Comercial e Industrial de Garopaba,

AMUREL – Associação de Municípios da Região de Laguna.

AP – Antes do Presente.

APA – Área de Proteção Ambiental.

CNSA – Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos.

CONAPA – Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental.

EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo (Empresa Brasileira de Turismo – 1966

a 1991).

FURB – Fundação Universidade Regional de Blumenau.

GERCO – Gerenciamento Costeiro.

IBGE – Instituto Brasilero de Geografia e Estatística.

ICC – Indústria Carboquímica Catarinense.

ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

IF-SC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.

GRANFPOLIS – Associação de Municípios da Grande Faloruanópolis.

GRUPEP – Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Reursos Naturais Renováveis.

ICOMOS - Internacional Council on Monuments and Sites.

IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano por Município.

IG – Indicação Geográfica.

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

MAE-USP – Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

MARÉ – Movimento Açoriano de Res

gate.

MN-UFRJ – Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

NRM – Nível Relativo do Mar.

ONU – Organização das Nações Unidas.

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento.

PPGDR – Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional.

PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego.

RESEX – Reserva Extrativista.

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SANTUR – Santa Catarina Turismo.

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

SGPA – Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico.

SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.

UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina.

UTM – Sistema Universal Transversa de Mercator.

WTC - World Championship Tour

ZPE – Zona de Processamento de Exportação.

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12

1.1 Tema da Pesquisa ..................................................................................................... 12

1.2 Problematização........................................................................................................ 12

1.3 Pressupostos ............................................................................................................. 15

1.4 Questões da pesquisa ................................................................................................ 16

1.5 Objetivos ................................................................................................................... 17

1.5.1 Objetivo Geral ....................................................................................................... 17

1.5.2 Objetivos Específicos ............................................................................................ 17

1.6 Justificativa ............................................................................................................... 18

1.6.1 Relevância teórica.................................................................................................. 18

1.6.2 Relevância Prática ................................................................................................. 20

1.7 Organização do trabalho e metodologia ................................................................... 21

2 – TURISMO ARQUEOLÓGICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ...... 27

2.1 Desenvolvimento, sustentabilidade e turismo. ......................................................... 27

2.2 O patrimônio arqueológico. ...................................................................................... 34

2.3 O turismo arqueológico. ........................................................................................... 41

3 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................... 51

3.1 Aspectos históricos dos municípios. ......................................................................... 52

3.1.1 Garopaba. ............................................................................................................... 52

3.1.2 Imaruí. ................................................................................................................... 55

3.1.3 Imbituba. ................................................................................................................ 57

3.2 Aspectos identitários ................................................................................................ 60

3.3 População, renda e perspectivas de desenvolvimento .............................................. 61

3.4 A ocupação pré-colonial da região ........................................................................... 64

3.5 As regionalizações dos municípios em questão ....................................................... 76

3.6 O turismo na região .................................................................................................. 81

3.7 Sítios e vestígios arqueológicos como atrativos turísticos ....................................... 88

3.8 Uma nova escala de representação social e a abertura de uma janela ...................... 91

4 – O TURISMO ARQUEOLÓGICO NA PERCEPÇÃO DOS ATORES LOCAIS .... 96

4.1 A percepção dos representantes da comunidade ...................................................... 96

4.1.1 Entrevistado: Zeno Moreira de Castilho Neto. ...................................................... 98

4.1.2 Entrevistado: Luiz Fernando Alves Bintencourt ................................................. 101

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4.1.3 Entrevistada: Maria Aparecida Ferreira .............................................................. 104

4.1.4 Considerações gerais ........................................................................................... 108

4.2 A percepção dos grupos de Condutores Ambientais Locais .................................. 110

4.3 A perspectiva do Poder Público Municipal ............................................................ 115

4.3.1 Entrevistado: Paulo Sefton, Secretário de Turismo, Esporte e Cultura de Imbituba.

...................................................................................................................................... 115

4.3.2 Entrevistado: Fernando Ambrósio, Secretário de Turismo, Esporte e

Desenvolvimento de Garopaba. .................................................................................... 119

4.3.3 Entrevistado: Agenor Garcia Felipe, Secretário da Indústria, Comércio e Turismo

de Imaruí. ...................................................................................................................... 122

4.3.4 Considerações gerais ........................................................................................... 123

4.4 A percepção dos turistas ......................................................................................... 125

4.4.1 Discussão ............................................................................................................. 135

5 – VALORAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO ..................................... 138

5.1 Valoração do patrimônio arqueológico da região................................................... 138

5.2 Valoração Arqueológica ......................................................................................... 142

5.2.1 Quadros síntese dos sítios arqueológicos de Garopaba, Imaruí e Imbituba. ....... 144

5.2.2 Análise ................................................................................................................. 150

5.2.2.1 Aspectos gerais ................................................................................................. 150

5.2.2.2 Garopaba ........................................................................................................... 151

5.2.2.3 Imaruí ............................................................................................................... 151

5.2.2.4 Imbituba ............................................................................................................ 152

5.2.2.5 Discussão .......................................................................................................... 153

5.3 Valoração “la puesta en valor” reduzida ................................................................ 156

5.3.1 Ponta do Galeão (Garopaba) ............................................................................... 160

5.3.2 Oficina Lítica da Vigia (Garopaba) ..................................................................... 163

5.3.3 Capão de Garopaba (Garopaba) .......................................................................... 164

5.3.4 Praia do Siriú ....................................................................................................... 167

5.3.5 Rosa Sul (Imbituba) ............................................................................................. 168

5.3.6 Canto Norte da Praia da Vila (Imbituba) ............................................................. 170

5.3.7 Porto do Nato, Guaiúba (Imbituba) ..................................................................... 173

5.3.8 Barra da Lagoa de Ibiraquera .............................................................................. 175

5.4 Os resultados da valoração “la puesta en valor”: potencialidades e fragilidades dos

sítos arqueológicos valorados. ...................................................................................... 176

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6 – VERIFICANDO PRESSUPOSTOS E RESPONDENDO QUESTÕES ............... 181

7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 192

8 - REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 196

8.1 Referências gerais ................................................................................................... 196

8.2 Documentos e relatórios técnicos ........................................................................... 203

8.3 Guias e prospectos turísticos .................................................................................. 203

8.4 Entrevistas .............................................................................................................. 204

APÊNDICES ................................................................................................................ 205

APÊNDICE A: Questionário destinado aos grupos de condutores ambientais ........... 206

APÊNDICE B: Questionário virtual aplicado com turistas que já visitaram alguns dos

municípios estudados. ................................................................................................... 208

APÊNDICE C: Ficha de valoração “la puesta en valor” reduzida. .............................. 210

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1 – INTRODUÇÃO

1.1 Tema da Pesquisa

As possibilidades representadas pelo patrimônio arqueológico pré-colonial dos

municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba (SC) na promoção do turismo arqueológico

enquanto estratégia de desenvolvimento sustentável na região.

1.2 Problematização

O antropólogo Roberto Cardoso Oliveira (2000), ao discutir o fazer antropológico,

defende que o autor de uma pesquisa não deve se esconder sob o texto, dando o falso

caráter de impessoalidade. Cardoso, ao se referir à Antropologia, reconhece a polifonia

inerente ao seu campo de saber. Polifonia esta que compreendemos se estender ao

campo dos estudos do Desenvolvimento Regional.

A proposta de estudar a relação existente entre o patrimônio arqueológico, o

turismo e o desenvolvimento sustentável na região compreendida pelos municípios

catarinenses de Garopaba, Imaruí e Imbituba surgiu quando, em 2013, travei meus

primeiros contatos com estes municípios. Nascido no Vale do Itajaí, e imerso em suas

discussões, vi-me deslocado e desterritorializado trabalhando como professor de

História Local para o curso de Condutor Ambiental no Campus de Garopaba do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC). O

contato abrupto com esta nova realidade e as exigências profissionais que me foram

apresentadas, levaram-me a perceber as contradições existentes no desenvolvimento da

região e a necessidade de compreendê-la mais sistematicamente, de modo a tornar

assertiva minha prática enquanto professor e pesquisador voltado à formação

profissional e ao desenvolvimento dos arranjos produtivos locais. Daí a escolha pelo

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e pela questão do

patrimônio cultural enquanto dimensão do desenvolvimento sustentável.

Os três municípios que estudei, localizados no litoral centro sul de Santa Catarina,

a despeito das suas diferenças, possuem elementos em comum. Comecemos por aí. O

primeiro deles diz respeito aos modelos de desenvolvimento. Conforme veremos, estes

modelos implementados na região, apesar de distintos para cada município, resultaram

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em índices de desenvolvimento humano inferiores aos da média catarinense, grandes

passivos ambientais e sociais e desterritorialização identitária. Garopaba optou pelo

turismo “sol e mar”, atividade sazonal que relega a maior parte da sua população a

atividades laborais informais. Sua característica de turismo de massa promove impactos

ambientais e sociais consideráveis, bem como pressiona a ocupação do solo e a

descaracterização cultural do território. Imbituba, por sua vez, apesar de investimentos

na atividade turística, especialmente na Praia do Rosa e na Lagoa do Ibiraquera,

observou seu modelo de desenvolvimento sendo imposto exogenamente a partir de um

discurso de modernidade inserido na região nas primeiras décadas do século XX, com

os investimentos do empresário Henrique Lage. De vila de pescadores, Imbituba

transformou-se em uma cidade portuária especializada em exportar minérios extraídos

mais ao sul do Estado. A opção deixou a cidade dependente das vicissitudes do mercado

internacional de minérios, especialmente do carvão mineral. Na década de 1970 este

modelo de desenvolvimento exógeno levou para a cidade um polo carboquímico hoje

falido e que legou à população passivos ambientais, desemprego, pobreza e problemas

de saúde pública. Atualmente o município aposta na ativação da Zona de Processamento

de Exportações (ZPE), que promete alavancar o desenvolvimento da região, e na

revitalização do porto. De qualquer modo, a aposta reproduz o modelo de

desenvolvimento exógeno, que já se comprovou insustentável. Por fim, Imaruí,

município localizado às margens de uma lagoa homônima, possui seu desenvolvimento

estruturado principalmente na economia primária (pesca artesanal e atividades

agropecuárias) e, diferente dos demais municípios estudados, apresenta redução

demográfica.

Considerando que os modelos de desenvolvimento implementados não são

capazes de garantir o desenvolvimento sustentável dos municípios, estes precisam

encontrar alternativas capazes de garantir a sustentabilidade. É neste sentido que esta

pesquisa propõe se situar. Garopaba, Imaruí e Imbituba estão localizados em uma região

sensível sob o aspecto ambiental, junto à faixa litorânea e abrigando um importante

complexo lagunar. Modelos de desenvolvimento que impliquem em presença massiva

de pessoas, indústrias e atividades extrativistas, reproduzindo experiências já

implementadas e falidas, contribuirão para que o equilíbrio socioambiental fique ainda

mais comprometido, aumentando os passivos já citados e promovendo desigualdade

social e concentração de renda. Daí a necessidade destes municípios pensarem um

modelo de desenvolvimento que seja endógeno e sustentável.

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É desta percepção que pretendemos estudar as possibilidades do turismo

arqueológico enquanto estratégia para a promoção do desenvolvimento sustentável da

região compreendida pelos municípios catarinenses de Garopaba, Imaruí e Imbituba.

Este é o segundo elemento comum, e nos desafiou a pensar na possibilidade de

articulação regional a partir do aproveitamento dos vestígios arqueológicos existentes.

Entretanto, e aqui surgem os problemas que nos desafiam, desconhece-se o estado em

que se encontram estes sítios e se podem efetivamente representar atrativo turístico.

Também se torna imperativo conhecer quais são as reais possibilidades do turismo

arqueológico na promoção de um desenvolvimento sustentável, endógeno, e como os

agentes locais pensam este assunto.

Sabemos que a atividade turística, por si só, é incapaz de promover o

desenvolvimento sustentável da região. O que propomos com esta pesquisa é pensar o

turismo arqueológico enquanto complementar no planejamento de uma atividade

turística sustentável que contribua para a sustentabilidade, compreendida de forma

ampla, conforme discutiremos.

Neste contexto, a inserção do turismo arqueológico na região, considerando-o

enquanto fomentador de práticas de educação patrimonial, resultado de planos de gestão

e acompanhado, tanto em seu planejamento quanto na sua gestão e na interface com o

turista, por profissionais especializados, pode contribuir especialmente para práticas de

conhecimento dos sítios ainda existentes, para atividades de educação que permitam às

comunidades locais o empoderamento sobre estes espaços e uma relação de

reconhecimento destes vestígios enquanto constituidores da identidade local, e como

fonte alternativa e/ou complementar de trabalho e renda. Ou seja, anuncia-se aqui a

perspectiva do desenvolvimento territorial sustentável, na medida em que se abrem as

possibilidades para a investigação e construção das quatro dimensões básicas da noção

de território, desenvolvidas por Abramovay (2010), a saber: horizontes multisetoriais; a

superação da ideia de desenvolvimento como sendo estritamente crescimento

econômico; o estudo empírico dos atores e suas organizações para a compreensão das

situações apresentadas no âmbito da região; e a maneira como a sociedade utiliza seus

recursos (neste caso. o turismo no geral e o turismo arqueológico no específico).

As dimensões apresentadas por Abramovay (2010) ampliam as possibilidades de

investigação deste trabalho, que aqui se limita a identificar alguns elementos que

permitam observar Garopaba, Imaruí e Imbituba enquanto constituidores de uma região

articulada pelo seu patrimônio arqueológico e pelo horizonte do turismo arqueológico.

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Restringimo-nos a um esboço de sujeitos e escalas, que autorizam a operação de

regionalização, mas que apontam, também, para a necessidade de um estudo com base

na dimensão territorial.

1.3 Pressupostos

A seguir são enunciados/apresentados os pressupostos desta pesquisa.

P1: O turismo arqueológico contribui para a promoção do desenvolvimento

sustentável.

O pressuposto se sustenta principalmente a partir das discussões sobre o

ecodesenvolvimento de Sachs (2006a), para o qual a sustentabilidade cultural é uma das

dimensões do desenvolvimento sustentável. Segundo autores como Brenner (2005),

Bastos (2007) e Barretto (2007, 2009), o turismo cultural, quando planejado e

comprometido com o desenvolvimento endógeno, pode contribuir para o fortalecimento

das identidades locais, para a preservação e ressignificação de práticas culturais e

fomentar trabalho e renda.

O turismo arqueológico, que integra a segmentação do turismo cultural (BRASIL,

2010), possui princípios próprios do ecodesenvolvimento, tais como a geração de renda

e trabalho, o empoderamento da população local sobre seu território e a interpretação

cultural (BASTOS, 2005), dentre outros. Guimarães (2012a) vai além, afirmando que a

busca da sustentabilidade pelo turismo arqueológico ocorre de forma ampla, envolvendo

aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos. Para Veloso e Cavalcanti (2007), o

turismo arqueológico é importante veículo de desenvolvimento socioeconômico.

Nascimento (2010) mostra que em diversos lugares do mundo o turismo arqueológico é

o principal promotor de emprego e renda. O turismo arqueológico sustentável também

contribui com a preservação do patrimônio cultural e gera interesse sobre ele

(BARRETO, 2007; NÓBREGA, 2015), e em regiões como Palmares (AL), Canudos

(BA) e São Paulo, onde foi implementado, contribuiu com o empoderamento das

populações locais e com a inclusão social (FUNARI, MANZATO e ALFONSO, 2013).

P2: O patrimônio arqueológico pré-colonial existente nos municípios de

Garopaba, Imaruí e Imbituba pode servir de suporte para o desenvolvimento do

turismo arqueológico na região.

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Considerando o exposto no pressuposto anterior (P1), este segundo pressuposto se

sustenta na existência de diversos sítios arqueológicos pré-coloniais nos três municípios,

conforme demonstrado por Rohr (1984) e segundo os registros disponíveis no Cadastro

Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA/SGPA) desenvolvido pelo IPHAN. Levamos

em consideração o argumento de que o interesse pelo turismo arqueológico tem sido

incentivado no Brasil e crescido significativamente se comparado a outras segmentações

turísticas (MANZATO, 2013), bem como no estado de Santa Catarina (COMERLATO,

2005).

A relevância do turismo para a região (SPERB, SERVA e FIRMINO, 2013;

ALVIM, 2014), a destruição a que muitos sítios arqueológicos da região foram (e são)

submetidos (BASTOS, 2007) e a existência de diversos sítios remanescentes, permite-

nos supor a possibilidade do turismo arqueológico na região. Cabe citar aqui o estudo de

Guimarães (2012a) no município amazonense de Iranduba, no qual a autora mostrou

que mesmo sítios arqueológicos de baixa monumentalidade podem ter viabilidade

turística quando o turismo arqueológico acontece em complementariedade a outras

segmentações turísticas.

P3: O patrimônio arqueológico pode atuar como elemento articulador de

uma região.

Este pressuposto entende a região como resultado de uma operacionalização que

envolve diferentes atores e interesses, aproximando-a das operações de territorialização

(BRANDÃO, 2004; ABROMOVAY, 2010), e apresentando uma dimensão concreta e

outra abstrata (NÓBREGA e ARAÚJO, 2015). Enquanto dimensão concreta temos o

patrimônio arqueológico remanescente e o turismo como importante atividade

econômica e social da região; como dimensão abstrata temos o interesse pelo

desenvolvimento de segmentos turísticos que promovam a sustentabilidade.

1.4 Questões da pesquisa

A seguir são enunciados/apresentados as questões desta pesquisa.

Q1: Qual o estado do patrimônio arqueológico da região? Este apresenta

monumentalidade? Os sítios arqueológicos estão acessíveis ao público?

Q2: A comunidade local manifesta interesse e articulação em torno do patrimônio

arqueológico pré-colonial?

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Q3: Há interesse, ou algum tipo de articulação, por parte do poder público, no

aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-colonial enquanto atrativo turístico?

Q4: Os turistas que frequentam a região e os operadores locais do turismo

conhecem os vestígios arqueológicos e demonstram interesse pelo turismo

arqueológico?

Q5: É possível indicar o turismo arqueológico como estratégia para a promoção

do desenvolvimento sustentável na região compreendida pelos municípios de Garopaba,

Imaruí e Imbituba?

1.5 Objetivos

A seguir são enunciados/apresentados o objetivo geral e os objetivos específicos

desta pesquisa.

1.5.1 Objetivo Geral

Analisar as possibilidades do turismo arqueológico enquanto estratégia para a

promoção do desenvolvimento sustentável da região compreendida pelos municípios

catarinenses de Garopaba, Imaruí e Imbituba.

1.5.2 Objetivos Específicos

- Verificar as condições gerais do patrimônio arqueológico nos municípios de

Garopaba, Imaruí e Imbituba.

- Investigar a existência de manifestações da sociedade civil relacionadas ao

patrimônio arqueológico pré-colonial na região.

- Conhecer a perspectiva dos representantes do poder público a respeito do

patrimônio arqueológico pré-colonial da região e o nível de interesse para seu

aproveitamento turístico.

- Verificar o conhecimento que turistas e operadores locais do turismo possuem

sobre o patrimônio arqueológico pré-colonial da região e o interesse que manifestam

pelo turismo arqueológico.

- Refletir sobre as relações entre turismo arqueológico e desenvolvimento

sustentável.

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18

1.6 Justificativa

A seguir são apresentadas as relevâncias prática e teórica e prática desta pesquisa.

1.6.1 Relevância teórica

O turismo é atualmente uma importante fonte de renda e trabalho no Brasil. Em

2009 a produção das atividades características do turismo representou 3,9% do total de

valores brutos produzidos na economia brasileira, e os rendimentos (salários e outras

remunerações) pagos por estas atividades representaram 3,5% do total de rendimentos

pagos no país naquele mesmo ano (IBGE, 2012).

Dentre os diversos segmentos turísticos, o turismo cultural é um dos que mais

cresce. Em 2006, conforme Veloso e Cavalcanti (2007), este segmento estava em

terceiro lugar nas preferências daqueles que viajavam pelo Brasil, ficando atrás do

ecoturismo e do turismo de aventura. Para os autores, o crescimento deste segmento

turístico:

(...) está associado ao crescente fenômeno da globalização que gera,

pelo lado das culturas receptoras, a necessidade de redescobrir e

fortalecer a identidade cultural como também de resignificar seu

patrimônio e, pelo lado dos visitantes, o surgimento renovado do

interesse pela cultura. (VELOSO e CAVALCANTI, 2007, p. 156)

Neste mesmo sentido concorrem Bastos (2005), quando afirma que a globalização

promoveu o “elogio das diferenças”, e Barretto, que constata que a demanda por lugares

históricos aumentou de forma inédita a partir da última década do século XX, explicada

pelo processo de internacionalização, “que provocou uma espécie de nostalgia, uma

necessidade de sentir uma ligação emocional com os lugares, com a história dessas

localidades e com o próprio passado” (BARRETTO, 2007, p. 109).

Apesar da importância econômica, e dos impactos que promove na realidade, seu

estudo acadêmico é relativamente recente e marginalizado. Segundo Barretto, “a

academia não se interessa pelo turismo porque o considera uma atividade marginal; e a

atividade continua marginal porque não tem os subsídios acadêmicos para um

planejamento adequado” (BARRETTO, 2007, p. 14).

O turismo arqueológico como segmento do turismo cultural, desenvolveu-se

originalmente no Brasil como forma de divulgar as pesquisas desenvolvidas pela

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Arqueologia. Segundo o Ministério do Turismo, “o estudo e a prática do turismo

arqueológico podem ser consideradas atividades recentes no Brasil, bem como as

discussões sobre os conceitos básicos do segmento” (BRASIL, 2010, p. 23). Entretanto,

apesar de recente, “é expressiva a forma com que as iniciativas para a prática do

Turismo Arqueológico têm sido amplamente instigadas (..) [e que este] vem

experimentando um significativo crescimento em relação aos outros segmentos

turísticos”. (MANZATO, 2013, p. 39).

Portanto, por se tratar de atividade e campo de saber ainda recente no Brasil, e

considerando que a prática do turismo arqueológico ocorre em sítios sensíveis sob

diversos aspectos e, por isso, só podendo ser praticado mediante rigoroso planejamento,

torna-se fundamental que suas potencialidades, planejamento e experiências sejam

estudadas cientificamente, a fim de oferecer subsídios seguros para sua organização, de

modo que este tipo de turismo contribua para o desenvolvimento sustentável dos

territórios em que seja viável e para a preservação do próprio patrimônio arqueológico.

Também Guimarães (2012a) defende a necessidade de se estudar academicamente

o turismo arqueológico como maneira de problematizar visões, muitas vezes

preconceituosas, que atribuem a este tipo de turismo em específico (e ao turismo de

modo geral) um caráter exclusivamente predatório. Segundo esta autora,

Como para a arqueologia brasileira, no âmbito das discussões

acadêmicas, esse tema é relativamente novo, são frequentes as

opiniões preconceituosas em relação à atividade turística. Qualquer

discussão parece menosprezá-la, tanto enquanto atividade econômica

complexa, quanto como ciência (...). As opiniões simplistas chegam

mesmo a desprezar o potencial benéfico da atividade nos campos

social, cultural e econômico, bem como ignoram a formação

acadêmica do profissional da área. (GUIMARÃES, 2012a, p. 21-22).

Guimarães (2012a) lembra que ainda são poucos os estudos acadêmicos acerca do

turismo arqueológico no Brasil, apesar do interesse crescente sobre o tema; que o

Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), já na década de 1990,

apontava para a necessidade da gestão do patrimônio arqueológico requerer altos

padrões acadêmicos; e que sua abordagem deveria ser multidisciplinar. Para a autora, “a

gestão do patrimônio arqueológico não deve ser a expressão do desejo de um grupo

específico – arqueólogos, governantes, turismólogos – mas, sim, o resultado de um

interesse legítimo da sociedade” (GUIMARÃES, 2012a, p. 45). Esta é a mesma

perspectiva de Sampaio ao discutir o turismo de base comunitária (com o qual o turismo

arqueológico apresenta muitas convergências). Segundo ele o turismo deve ser tratado

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20

“com um enfoque transdisciplinar, diferentemente do que normalmente se verifica nos

estudos teóricos, metodológicos e empíricos inseridos às ciências sociais aplicadas”

(SAMPAIO, 2005, p. 132). Da mesma forma Santana, ao estudar os aspectos

antropológicos do turismo, afirma que a atividade turística e seus atores devem ser

compreendidos por meio de “um esforço conjunto de antropólogos, sociólogos,

geógrafos, economistas e outros cientistas sociais e naturais, carecendo, desde seu

início, das amarras impostas pelas tradicionais barreiras disciplinares” (SANTANA,

2009, p. 22).

Este trabalho, ao discutir as possibilidades do turismo arqueológico enquanto

estratégia para a promoção do desenvolvimento sustentável, contribui com o debate

teórico acerca do turismo de modo geral, e do turismo arqueológico de modo específico,

oferecendo subsídios para seu planejamento e sua reflexão acadêmica.

1.6.2 Relevância Prática

Apesar da grande quantidade de sítios e vestígios arqueológicos pré-coloniais

registrados em Garopaba, Imaruí e Imbituba, não há políticas de turismo voltadas para o

desenvolvimento do turismo arqueológico no âmbito da região turística Encantos do

Sul. Sequer estes sítios e vestígios são mencionados na publicação “Bíblia do Turismo”,

publicação voltada aos profissionais de turismo com atuação em Santa Catarina. Nesta

publicação, os atrativos turísticos da região Encantos do Sul são assim descritos:

No litoral, cidades históricas e vilas de pescadores dividem a

paisagem com belas praias, algumas com enseadas protegidas onde as

baleias-francas buscam refúgio. No interior, estâncias hidrotermais e

cidades de origens italiana e alemã são os principais atrativos.

(BÍBLIA DO TURISMO, s.d., p. 38)

Constata-se também que as informações existentes junto ao Cadastro Nacional de

Sítios Arqueológicos do IPHAN, a respeito do estado e da abrangência dos sítios

arqueológicos da região, estão incompletas e desatualizadas, e que a pressão urbana e

econômica contribui para a destruição e perda dos vestígios ainda existentes. Conhecer

o estado e condições de acessibilidade dos sítios arqueológicos é fundamental para o

planejamento de atividades de turismo sustentável e para fornecer subsídios à pesquisa

arqueológica, às atividades de educação patrimonial e à preservação do patrimônio

arqueológico enquanto bem comum da comunidade.

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Toda atividade turística sustentável exige planejamento e envolvimento da

comunidade, especialmente o turismo arqueológico, conforme defendem Manzato

(2013), Guimarães (2012), Alfonso (2009), Bastos (2005, 2007 e 2008), Veloso e

Cavalcanti (2007), Pardi (2007), Funari, Manzato e Alfonso (2013) e Bueno (2011).

Tanto o reconhecimento e envolvimento da comunidade, quanto o planejamento das

atividades turísticas, exigem conhecimento do patrimônio e sua apropriação e

interpretação por parte da comunidade.

A bibliografia que consultamos permite inferir que o desenvolvimento do turismo

arqueológico pode significar possibilidade de trabalho e renda na perspectiva de um

desenvolvimento territorial sustentável, e contribuir para a interpretação dos vestígios

arqueológicos, bem como com atividades de educação patrimonial que promovam

cidadania cultural e empoderamento da população local no território.

O debate em torno da proposição do turismo arqueológico em uma perspectiva

regional e de complementaridade de segmentos turísticos, fortalecendo agentes locais, a

partir do patrimônio arqueológico, pode ampliar as possibilidades para que Garopaba,

Imaruí e Imbituba pensem suas alternativas de desenvolvimento na perspectiva da

sustentabilidade, reduzindo a dependência da sazonalidade econômica promovida pelo

turismo “sol e mar” e subsidiando a comunidade local para que esta exercite a cidadania

cultural, combatendo atividades econômicas predatórias do patrimônio natural e cultural

e criando condições para seu empoderamento no território.

1.7 Organização do trabalho e metodologia

O presente trabalho está organizado em 5 capítulos, além desta Introdução e das

considerações finais. Nesta Introdução (1) apresentamos o tema da pesquisa, sua

problematização, seus pressupostos e questões, objetivos, a justificativa e a

metodologia.

No capítulo intitulado “Desenvolvimento Sustentável e Turismo Arqueológico”

(2) discutiremos os conceitos de desenvolvimento sustentável e suas características,

tendo como parâmetros teóricos Sachs (2006), Max-Neef (2012), Sampaio (2005),

Mielke e Gandara (2009), Brenner (2005) dentre outros, e sua relação com o turismo.

Procedemos também uma revisão bibliográfica das discussões sobre patrimônio

arqueológico e dos trabalhos que discutem o turismo arqueológico no Brasil.

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Procuramos relacionar a discussão do turismo arqueológico às discussões da

ecossocioeconomia e do turismo de base local.

O capítulo intitulado “Caracterização da Área de Estudo” (3) está dividido em 8

partes. Na primeira parte apresentamos uma breve caracterização histórica de cada um

dos municípios (Garopaba, Imaruí e Imbituba). Através de uma pesquisa bibliográfica

em livros e artigos, apresentamos o processo de colonização destes municípios e os

investimentos econômicos durante o século XX que resultaram na conjuntura atual. Na

segunda parte situaremos brevemente a questão identitária a partir dos conceitos de

identidade de Glissant (1996) e Hall (2004), considerando que o debate acerca do

patrimônio arqueológico e do fomento do turismo arqueológico é perpassado pelo

conceito de identidade na medida em que dialogam com a perspectiva de cidadania

cultural (SANTOS, 2007). A terceira parte caracteriza aspectos populacionais,

socioeconômicos e as perspectivas de desenvolvimento dos municípios estudados.

Tomando como base os conceitos de desenvolvimento sustentável, efetuou-se uma

pesquisa exploratória que reuniu dados estatísticos, relatórios e análises sobre o

desenvolvimento da região. Os dados estatísticos tiveram como fonte o IBGE e foram

considerados: população total, população ocupada, IDHM e renda per capita mensal por

domicílio. Na quarta parte realizamos uma revisão bibliográfica a respeito da ocupação

pré-colonial na região. Partimos do macro (ocupação pré-colonial no Brasil) para o

micro (ocupação pré-colonial em cada um dos municípios). Nesta revisão bibliográfica

destacam-se os autores De Blasis, Gaspar, Rohr, Giannini, Comerlato e Prous. A quinta

parte apresenta as diferentes escalas de regionalização às quais pertencem os três

municípios. Iniciamos com uma revisão bibliográfica dos conceitos de região, tendo

como partida a discussão da Geografia, e aproximamos a operação de regionalização à

de territorialização, conforme entendimento de Brandão (2004) e Abramovay (2010).

Na sequência apresentamos as diferentes escalas regionais. A discussão regional se

justifica na medida em que a organização regional influencia o território em suas

políticas de desenvolvimento e nas articulações entre seus diferentes atores. Na sexta

parte discutimos a configuração do turismo nos três municípios. Utilizamos dados dos

estudos das demandas turísticas realizados pela Santur em 2010 e procedemos uma

revisão bibliográfica sobre o assunto. Na sétima parte procuramos identificar se há sítios

e vestígios arqueológicos apresentados como atrativos turísticos nos municípios em

questão. Procedemos o levantamento e análise das principais publicações de divulgação

turística editadas nos municípios estudados, verificamos se há menção ao patrimônio

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arqueológico e de que forma este é apresentado ao público. A última parte resultou do

caráter dinâmico do território. No transcorrer da pesquisa e após a qualificação do

projeto da dissertação, o SEBRAE apresentou um projeto que propõe o fortalecimento

do ecoturismo de observação de baleias, articulando os municípios de Garopaba,

Imbituba e Laguna. Na pesquisa de campo observamos que a proposta do SEBRAE

impactou o discurso local sobre o turismo, de modo que entendemos oportuno discuti-lo

neste trabalho, compreendendo-o como uma “abertura de janela”, conforme conceito de

Kingdon descrito por Capella (2006).

Em “O turismo arqueológico na percepção dos atores locais” (4) partimos dos

questionamentos de partida para um debate que tenha como base o território

apresentados por Brandão (2004) e identificamos como atores locais: a) representantes

da comunidade; b) representantes do trade turístico (condutores ambientais); c)

representantes do poder público (Secretários Municipais de Turismo); d) turistas. Para a

categoria “a” adotamos como critérios para a seleção dos entrevistados o apego ao

território, conforme entendimento de Lee (2013), ser liderança comunitária e ter

envolvimento com o turismo e com o patrimônio arqueológico. A partir de conversas

com pessoas relacionadas a movimentos sociais, educadores e líderes comunitários,

selecionamos três entrevistados que atenderam aos critérios definidos, tratando-se,

portanto, de uma amostragem qualitativa. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas

utilizando técnicas da História Oral. As mesmas foram decupadas e os trechos de

relevância para os objetivos da pesquisa foram transliterados para o corpo do capítulo.

As entrevistas tiveram como objetivo investigar a ocorrência de manifestações da

comunidade relacionadas à defesa e/ou reconhecimento do patrimônio arqueológico

pré-colonial da região, a percepção do entrevistado a respeito do turismo na região e as

possibilidades de utilização do patrimônio arqueológico pré-colonial como atrativo

turístico. Para a categoria “b” aplicamos um questionário com questões fechadas de

múltipla escolha a respeito do patrimônio arqueológico e as possibilidades do turismo

arqueológico na região com os grupos de condutores ambientais com atuação na região.

Os condutores ambientais foram escolhidos em função das características da sua

atuação profissional e sua vinculação com o território. Na categoria “c” realizamos

entrevistas semiestruturadas com o propósito de conhecermos o contexto do turismo em

cada um dos municípios, as prioridades de investimento do poder público neste setor e

as dificuldades encontradas, se há interesse na segmentação turística e quais as

propostas para a promoção turística dos municípios na baixa temporada, bem como

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compreendermos o nível de reconhecimento e de interesse que o poder público

manifesta em relação ao patrimônio arqueológico do seu município e seu

aproveitamento na economia. Para a categoria “d” aplicamos um questionário eletrônico

com questões fechadas a partir da plataforma Google Forms. A técnica aplicada foi a do

survey (levantamento). As questões inseridas no formulário buscaram identificar o

território de origem dos turistas, seu nível de contato e interesse em relação ao turismo

arqueológico (em geral e na região) e seu nível de contato e conhecimento em relação

ao patrimônio arqueológico da região. Em todo capítulo, para cada um dos grupos,

explicamos a metodologia utilizada, apresentamos os dados e procedemos a discussão.

No capítulo intitulado “Valoração do patrimônio arqueológico” (5) apresentamos

a valoração arqueológica e a valoração “la puesta em valor” dos sítios arqueológicos

selecionados. Na valoração do patrimônio arqueológico submetemos a metodologia de

seleção de sítios arqueológicos adaptada por Dabezies (2011) ao princípio teórico da

redução sociológica de Ramos (1965), em um procedimento que chamaremos de

redução metodológica. Para a valoração arqueológica analisamos as fichas dos sítios

arqueológicos pré-coloniais dos três municípios estudados disponíveis no Cadastro

Nacional de Sítios Arqueológicos do Sistema de Gerenciamento do Patrimônio

Arqueológico (CNSA/SGPA) realizado pelo IPHAN. A análise resultou na produção de

quadros sínteses destes sítios. Para a valoração “la puesta en valor” foram selecionados

sítios arqueológicos nos municípios de Garopaba e Imbituba tendo como base os

resultados da valoração arqueológica e as entrevistas e questionários realizados com os

representantes da comunidade local e grupos de condutores ambientais. Para esta etapa

da cadeia valorativa construímos uma ficha a partir de critérios apresentados no

capítulo. O preenchimento das fichas foi realizado durante pesquisa de campo que

realizamos aos sítios arqueológicos selecionados e a partir de observação superficial

destes. No capítulo apresentamos as diferentes etapas da cadeia valorativa, os critérios

metodológicos utilizados, os dados produzidos e a discussão dos resultados.

No Quadro 1 apresentamos uma síntese relacionando as questões da pesquisa,

objetivos espécíficos e procedimentos metodológicos correspondentes.

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QUESTÕES OBJETIVOS PROCEDIMENTOS

METODOLÓGICOS

Situação do patrimônio

arqueológico da região, se

apresenta

monumentalidade e se os

sítios arqueológicos estão

acessíveis ao público

Verificar as condições

gerais do patrimônio

arqueológico nos

municípios de Garopaba,

Imaruí e Imbituba.

- Valoração arqueológica

por meio de pesquisa

bibliográfica e consulta ao

CNSA/SGPA do IPHAN,

adaptando a metodologia

de seleção de sítios

arqueológicos utilizada por

Dabezies (2011).

- Valoração “la puesta en

valor” através da

observação de superfície

dos sítios arqueológicos

selecionados na valoração

arqueológica e de

entrevistas realizadas com

representantes da

comunidade local e grupos

de condutores ambientais.

- Registro fotográfico e

fichamento dos sítios

arqueológicos submetidos

à observação de superfície.

Se a comunidade local

manifesta interesse e

articulação em torno do

patrimônio arqueológico

pré-colonial.

Investigar a existência de

manifestações da sociedade

civil relacionadas ao

patrimônio arqueológico

pré-colonial na região.

- Entrevistas

semiestruturadas com

representantes da

comunidade.

- Aplicação de questionário

aos grupos de condutores

ambientais que atuam nos

municípios.

- Pesquisa exploratória em

publicações diversas

(físicas e virtuais).

Se há interesse ou algum

tipo de articulação, por

parte do poder público, no

aproveitamento do

patrimônio arqueológico

pré-colonial enquanto

atrativo turístico.

Conhecer a perspectiva dos

representantes do poder

público a respeito do

patrimônio arqueológico

pré-colonial da região e o

nível de interesse para seu

aproveitamento turístico.

- Entrevistas

semiestruturadas com os

gestores públicos do

turismo nos municípios

estudados.

Se os turistas que

frequentam a região e os

operadores locais do

turismo conhecem os

vestígios arqueológicos e

demonstram interesse pelo

turismo arqueológico.

Analisar o conhecimento

que turistas e operadores

locais do turismo possuem

sobre o patrimônio

arqueológico pré-colonial

da região e o interesse que

manifestam pelo turismo

arqueológico.

- Aplicação de questionário

por meio de plataforma

virtual a turistas que

visitaram algum dos

municípios estudados.

- Aplicação de questionário

aos grupos de condutores

ambientais que atuam nos

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26

municípios.

- Levantamento e análise

de publicações de

divulgação turística dos

municípios.

Se é possível indicar o

turismo arqueológico como

estratégia para a promoção

do desenvolvimento

sustentável na região

compreendida pelos

municípios de Garopaba,

Imaruí e Imbituba.

Refletir sobre as relações

entre turismo arqueológico

e desenvolvimento

sustentável.

- Pesquisa bibliográfica.

- Análise de indicadores

sociais e econômicos.

Quadro 1: Quadro síntese relacionando as questões da pesquisa, objetivos

específicos e respectivos procedimentos metodológicos.

No capítulo intitulado “Verificando pressupostos e respondendo questões”

buscamos realizar a síntese das discussões realizadas no trabalho, verificando se os

pressupostos e questões de pesquisa aqui apresentados se confirmaram ou não.

Apresentamos ainda as Considerações Finais, Referências e Apêndices.

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27

2 – TURISMO ARQUEOLÓGICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.1 Desenvolvimento, sustentabilidade e turismo.

Em setembro de 2015 a Cúpula das Nações Unidas aprovou os Objetivos Globais

para o Desenvolvimento Sustentável, documento onde estão relacionados 17 objetivos e

169 metas, dentre as quais o turismo sustentável é citado três vezes como gerador de

empregos e promotor de cultura e produtos locais. O turismo sustentável integra o

objetivo 8, relacionado à promoção do crescimento econômico sustentado, inclusivo e

sustentável; o objetivo 12, que busca assegurar padrões de produção e de consumo

sustentáveis; e o objetivo 14, que pretende garantir a conservação e o uso sustentável

dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável (ONU, 2015).

Discutir a relação entre patrimônio arqueológico, turismo e desenvolvimento é

tarefa complexa, primeiramente porque não há consenso a respeito do conceito de

desenvolvimento, mesmo quando delimitado por categorias como a de “sustentável”,

por exemplo. Ortiz (2008), ao tratar do hiato existente entre os debates sobre

desenvolvimento e políticas culturais, alerta que o termo desenvolvimento pode

encobrir realidades que se excluem, e, portanto, a primeira questão a ser colocada diz

respeito a que tipo de desenvolvimento estamos nos referindo. Isto porque usualmente

compreende-se o desenvolvimento enquanto teleológico.

Esta percepção do desenvolvimento, cujo sentido comumente filia-se à noção de

progresso econômico, tecnológico e de valores políticos como o da democracia é,

segundo Ortiz, uma invenção ou conquista da modernidade (atrelada ao Ocidente), e

não se aplica às sociedades ocidentais antigas. Na antiguidade, as categorias eram

claramente definidas, como as de “civilizado” e “bárbaro”, de modo que o contato entre

elas implicava em choques, o que difere da concepção de desenvolvimento, que indica

movimento, apesar de considerar estados da sociedade como estágios. Ou seja, “o que

se encontra na etapa primeira é vista como incompleto em relação ao que se situa acima

dela” (ORTIZ, 2008, p. 125). Assim, argumenta que há múltiplas modernidades, já que

esta se configura de diferentes maneiras no espaço. A preocupação, então, passa a ser

propor uma reflexão que escape da perspectiva teleológica, que concebe a ideia de

desenvolvimento como algo que obedece a um sentido único e a modernidade como

uma categoria absoluta. Portanto, ao pensar a modernidade enquanto múltipla, Ortiz

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defende que o desenvolvimento é inerente às sociedades modernas, das quais não

podemos escapar.

A partir da década de 1960, as grandes alterações ambientais promovidas pela

ação humana e os riscos de um conflito bélico generalizado alertaram para a

necessidade de se discutir o modelo de desenvolvimento hegemônico. Neste sentido,

durante a segunda metade do século XX é possível elencar três principais marcos

internacionais para esta discussão: a Conferência das Nações Unidas em Estocolmo

(1972), o Relatório Brundtland (1987) e a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro (1992).

Nestes marcos a ideia de sustentabilidade começa a ser apresentada como alternativa de

desenvolvimento. No Relatório Brundtland, por exemplo, compreendeu-se por

desenvolvimento sustentável aquele que atende às necessidades da geração presente,

garantindo que as gerações futuras disponham dos recursos para atender as suas. Este

mesmo documento, segundo Cooper et. al. (2007), arrolou os princípios básicos da

sustentabilidade, dentre os quais está a proteção da herança cultural humana. Fazemos

este destaque por integrar o patrimônio arqueológico esta “herança cultural humana”,

na medida em que se configura como categoria do patrimônio cultural. Este mesmo

princípio já estava presente na Conferência Geral da UNESCO de 1972, na qual foi

adotada a primeira convenção referente ao patrimônio mundial, cultural e natural e se

passou a considerar os patrimônios da humanidade como bens comuns a todos os povos

do mundo (FUNARI e PELIGRINI, 2006).

Diante da possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, se mantidos os

hábitos de consumo e o crescimento demográfico, Sachs propôs discutir as

possibilidades do ecodesenvolvimento, ou desenvolvimento socioeconômico equitativo,

também chamado de desenvolvimento sustentável. Nesta perspectiva, em 1991 escreveu

um artigo (2006a) que antecipou as discussões da Rio-92, com reflexões que remontam

à reunião de Founex de 1972. Escrito sob a tese da bomba demográfica, seu principal

objetivo foi contestar um modelo de desenvolvimento ancorado exclusivamente no

crescimento econômico, principalmente aquele defendido pela economia de mercado, e

propor um modelo preocupado com o desenvolvimento social e equitativo em níveis

globais, nos quais as economias desenvolvidas deveriam arcar com parte dos custos do

desenvolvimento dos países economicamente menos favorecidos, de modo que estes

pudessem efetivamente se desenvolver. Sachs chamou também atenção para a

necessidade de mudanças nos hábitos de consumo, já que, se os países

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subdesenvolvidos adotassem o modelo consumista das nações economicamente

desenvolvidas, o resultado seria o esgotamento dos recursos naturais.

Sachs, no texto de 1991 (2006a), argumentou que os discursos ancorados no

crescimento econômico não promoveram, durante a década de 1980, equidade social,

pelo contrário, aprofundaram índices de pobreza e perpetuaram a dicotomia Norte – Sul.

Assim, insistiu na necessidade da dimensão ecológica como garantia para a

sobrevivência humana e, principalmente, que o desenvolvimento qualitativo deveria

liberar recursos dos países mais ricos para os mais pobres. Alertou para os riscos de se

superestimar o desenvolvimento tecnológico, de modo que as transição para o

ecodesenvolvimento deveria ser imediata. Sachs, apresentou também as cinco

dimensões do ecodesenvolvimento: sustentabilidade social, sustentabilidade econômica,

sustentabilidade ecológica, sustentabilidade espacial (equilíbrio rural – urbano) e

sustentabilidade cultural. (SACHS, 2006a).

Como forma de ação, Sachs defendeu que uma estratégia de desenvolvimento só

tem sucesso se contar com a participação dos grupos e comunidades locais. Sugeriu que

o conceito de economias de aglomeração fosse revisto e propôs uma alteração dos

modelos de concentração urbana através da promoção do campo. Ainda segundo o

autor, as estratégias de transição para este novo modelo de desenvolvimento devem

derivar de políticas públicas de planejamento capitaneadas pelo Estado, e que estas

transições precisam facultar mudanças nos modos de vida, nos padrões de consumo e

nas funções produtivas (SACHS, 2006a).

Em 1995, a pedido da UNESCO, Sachs escreveu o artigo (2006b) que serviu de

material preparatório para o encontro de cúpula dos Chefes de Estado, convocado pela

ONU e realizado em Copenhague naquele mesmo ano. Neste artigo, Sachs apontou

novamente para a necessidade de um desenvolvimento cujo foco principal não seja a

economia, mas o ecológico e o social, e criticou as teorias neoliberais, defendendo a

necessidade de se pactuar valores éticos universais capazes de assegurar a

sustentabilidade da vida, o uso da ciência e da tecnologia para garanti-la, e o papel do

Estado como regulador e fomentador de políticas relacionadas ao desenvolvimento.

Alertou ainda para a necessidade de se construir novos paradigmas de desenvolvimento

que tenham como centro o bem estar de todos, e este novo paradigma passaria pela

superação do economicismo. As bases para este novo paradigma de desenvolvimento,

segundo Sachs, são a prudência ecológica, a solidariedade para a equidade, a eficiência

econômica e “o social no comando, o ecológico enquanto restrição assumida e o

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econômico recolocado em seu papel instrumental” (SACHS, 2006b, p. 266). Além

disso, o autor defendeu uma nova distribuição espacial que promovesse empregos no

campo, não apenas voltados para a agricultura.

As proposições de Sachs para o desenvolvimento sustentável sustentam uma série

de reflexões e propostas de desenvolvimento que têm, como fim último, o princípio da

sustentabilidade baseada no protagonismo dos sujeitos a partir de seus territórios locais.

Propostas estas que fundamentarão as perspectivas de um turismo sustentável. Dentre

estas, está a do Desenvolvimento à Escala Humana, apresentada por Max-Neef (2012).

Segundo este autor, o Desenvolvimento à Escala Humana,

(...) se concentra e sustenta na satisfação das necessidades humanas

fundamentais, na geração de níveis crescentes de autodependência e

na articulação orgânica dos seres humanos com a natureza e com a

tecnologia, na interação de processos globais com comportamentos

locais, do pessoal com o social, do planejamento com a autonomia e

da sociedade civil com o estado. (MAX-NEEF, 2012, p. 22).

Max-Neef advoga que “o desenvolvimento precisa fomentar a existência de

espaços locais, facilitar as micro-organizações e dar apoio à multiplicidade de matrizes

culturais que fazem parte da sociedade civil” (2012, p. 24). Portanto, um

Desenvolvimento à Escala Humana, que tem por objetivo satisfazer as necessidades

humanas, deve ter início com políticas que mobilizem a sociedade civil. “A questão

fundamental é fazer com que seja possível às pessoas, a partir dos seus espaços

pequenos e heterogêneos, estabelecer, sustentar e desenvolver seus próprios projetos”

(MAX-NEEF, 2012, p. 82).

A perspectiva socioeconômica, que é esta defendida por Max-Neef,

(...) pretende é transformar a sociedade civil numa terceira esfera de

poder que, conjuntamente com a primeira, o Estado, e a segunda

esfera, o mercado, possam através de novos modelos de ação humana

até mesmo repensar o círculo vicioso entre alienação e mais-valia,

desencadeando um efeito cascata de estratégias alternativas de

desenvolvimento nos níveis local, microrregional, estadual, nacional,

global. (SAMPAIO, 2005, p, 62).

A mobilização da sociedade civil a partir do seu território para pensar

possibilidades de desenvolvimento que sejam sustentáveis, é condição também para

assegurar a identidade da própria comunidade. Para Max-Neff,

(...) estamos vivendo num mundo dominado por um sistema

econômico em que comunidades, isto é, lugares onde gente nasceu,

morreu, viveu, sonhou, trabalhou, brigou, fez amor, deixa de ser

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viável, e se colapsa em prol de supostas vantagens para a economia.

(MAX-NEEF, 2005, p. 13).

Portanto, a despeito do interesse que a globalização provoca pelo exótico ou pelo

“autêntico”, o modelo de desenvolvimento capitalista baseado na competitividade, no

individualismo e na produção em massa de produtos globais, pressiona também o fim

das comunidades tradicionais de vida comunitária.

Para Mielke e Gandara (2009), no contexto de um mundo globalizado que gerou

processos de flexibilização e descentralização, é possível perceber um movimento de

endogenização das perspectivas de desenvolvimento, no qual o território começou a ser

visto como agente de desenvolvimento. Neste debate, a atividade turística passa a ser

compreendida “não somente como ator coadjuvante, mas também como ferramenta de

fomento de geração de renda e emprego para as comunidades locais. Ou seja, tem sido

visto como instrumento estratégico de desenvolvimento econômico” (MIELKE e

GANDARA, 2009, p. 86).

A relação entre turismo e desenvolvimento econômico endógeno é compartilhada

por diversos autores, dentre estes Brenner (2005), que ao discutir o turismo cultural

chama a atenção para a contribuição desta segmentação turística no desenvolvimento

endógeno de uma comunidade, não apenas porque valora economicamente o patrimônio

cultural, seja ele material ou imaterial, mas porque se apresenta como promotor da

sustentabilidade no processo de desenvolvimento. Sustentabilidade relacionada não

apenas aos aspectos materiais (estruturais e infraestruturais), mas também aos

simbólicos, dentre os quais a valorização da memória histórica como importante

elemento constituidor de identidade. Ressalta-se também que um turismo que parte do

patrimônio cultural de determinado território “representa um método de

desenvolvimento turístico sustentável porque respeita o patrimônio de uma área e

habilita seus habitantes, gerando uma base verdadeira para o desenvolvimento”

(BRENNER, 2005, p. 367).

A perspectiva do desenvolvimento endógeno, que passou a assumir maior

importância nos países em desenvolvimento a partir da década de 1980, é também

conhecida como o desenvolvimento que se dá de baixo para cima e algumas das suas

características são: “desenvolvimento baseado no sistema de pequenas unidades”,

“enfoque territorial e empresarial”, “políticas específicas para cada território”,

“crescimento qualitativo”, “gestão local” e “propostas desde os âmbitos territoriais”

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(MIELKE e GANDARA, 2009, p. 86). Estas características colocam a proposta em

diálogo com as perspectivas de desenvolvimento apresentadas por Sachs e Max-Neef.

O turismo, enquanto atividade econômica e fenômeno social, precisa ser

compreendido e planejado a partir das perspectivas de desenvolvimento. A mesma

compreensão deve ser adotada para o patrimônio cultural, dentre este, o arqueológico,

pois, segundo Bastos, constitui também recurso econômico e, assim, “as medidas que

levam a sua preservação e adequada utilização não só guardam relação com os planos

de desenvolvimento, mas fazem ou devem fazer parte deles” (BASTOS, 2007, p. 39).

É após a 2ª Guerra Mundial que se começa a atribuir ao turismo de massa a

capacidade de recuperar a economia dos países empobrecidos. Santana afirma que “pela

primeira vez na história da humanidade foram criadas as condições para que as pessoas

começassem a se deslocar massivamente, não motivadas pelas guerras, nem pelo

trabalho ou pela fé, mas por prazer” (SANTANA, 2009, p. 18). Esta grande

movimentação de pessoas para destinos não habituais aos seus, motivadas por interesses

de lazer e/ou descanso, associado à percepção de um turismo capaz de recuperar

economicamente os locais receptivos, levou a investimentos desordenados em

equipamentos turísticos e promoveu importantes impactos ambientais, sociais e

culturais, o que contribuiu para a construção de uma percepção negativa desta atividade

econômica.

Com o objetivo de discutir se o turismo estaria beneficiando as populações mais

necessitadas ou não, em 1976 o Banco Mundial e a UNESCO promoveram um

seminário em Washington sobre o tema. Segundo Barretto, foi neste seminário “que,

pela primeira vez, se discutiu que o sucesso do turismo depende de uma integração com

as políticas nacionais de desenvolvimento e distribuição das riquezas, e com a

infraestrutura existente” (BARRETO, 2007, p. 26).

Ao discutir os aspectos e possibilidades do turismo cultural, Barretto (2007) não

nega os efeitos negativos promovidos pelo turismo e cita os estudos de Mc Intosh e

Goeldner, que verificaram as seguintes consequências: introdução da prostituição,

drogas, jogo, insegurança, xenofobia, racismo, desenvolvimento de atitudes servis,

banalização do artesanato e marginalização da população nativa. Ainda assim, afirma a

autora:

Na atualidade já não parece caber a discussão – muito comum na

década de 1970 – de se o turismo é uma benção ou uma maldição. Do

ponto de vista econômico, sem dúvida foi uma benção para muitas

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pessoas que viviam de forma miserável e que, com o advento do

turismo, puderam ter alguma oportunidade de trabalho, mesmo que

mal remuneradas. Do ponto de vista da cultura e da sociedade, sem

dúvida muitos aspectos mudaram, mudanças essas que podem ser

positivas ou negativas dependendo das circunstâncias e do contexto.

(BARRETTO, 2007, p. 44).

Neste mesmo sentido argumenta Alfonso (2009) ao tratar do “Projeto Circuito

Arqueológico do Sertão Alagoano”, que formatou quatro roteiros turísticos

(arqueológico, histórico, religioso e rural) nos municípios de Piranhas, Olho D’Água do

Casado e Delmiro Gouveia (AL). Para esta autora, o turismo é uma realidade dada, que

movimenta economia e pessoas e, quando planejado adequadamente, pode proporcionar

benefícios não só socioeconômicos, mas também no sentido de preservar o próprio

patrimônio local.

Para Sampaio (2005), o turismo é discutido como atividade principalmente

econômica, e daí o termo “indústria do turismo”, quando na realidade deve ser

compreendido como uma atividade econômico-socioambiental. Em consonância com

as dimensões do ecodesenvolvimento de Sachs e com a socioeconomia de Max-Neff,

Sampaio condena as práticas de planejamento turístico que não levam em consideração

as comunidades receptoras, privilegiando os grupos que se deslocam, como é o caso do

turismo sol e praia.

(...) tomando o turismo como uma atividade empresarial

predominantemente sazonal, restringindo-se aos meses de verão,

sujeitando as comunidades a conviver nas demais estações do ano com

o subtrabalho ou com o não-trabalho ou, ainda, com a

descaracterização da pesca. Os municípios de Bombinhas, Garopaba e

Imbituba, todos localizados em Santa Catarina, estão sujeitos a

enfrentar ou viver tais dramas. (SAMPAIO, 2005, p. 22-23).

Ao propor o turismo como atividade econômico-socioambiental, Sampaio

trabalha com a perspectiva do turismo de base comunitária. Esta perspectiva interessa

especialmente à pesquisa que desenvolvemos, na medida em que as características do

turismo arqueológico sustentável convergem em muitos aspectos com as do turismo de

base comunitária, sem, entretanto, configurarem um mesmo.

O turismo de base comunitária, ou local, tem como objetivo oferecer uma

alternativa ao turismo de massa, que é aquele que privatiza lucros e socializa, no longo

prazo, prejuízos (SAMPAIO, 2005). O foco do turismo de base comunitária recai no

fortalecimento da comunidade local, sujeito político do desenvolvimento local (sem se

restringir, entretanto, ao “localismo”), e no fortalecimento das redes associativas (ou

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arranjos produtivos locais), integrando rotas e circuitos que promovam atividades

complementares, valorizem a cultura local e garantam a sobrevivência das atividades

tradicionais, considerando a sustentabilidade ambiental e a cooperação. Por ser

comunitário, rejeita a competitividade individualista e apresenta as bases de um tipo de

desenvolvimento que seja sustentável. “Ele se baseia na relação dialética entre turista e

comunidade receptora (e não na sobreposição da comunidade ao turista), ambos

considerados agentes da ação socioeconômica e ambiental” (SAMPAIO, 2005, p. 113).

Ou seja, para o autor, “a atividade turística pode ser vista além da sua dimensão

econômica (negócio do ócio), (...) podendo transformar-se em uma (...) alternativa para

um desenvolvimento mais sustentável, balizando nos princípios da socieconomia”

(SAMPAIO, 2005, p. 134).

É nesta perspectiva que se pretende pensar o turismo arqueológico. Ainda que

guardadas as diferenças para com o turismo de base comunitária, o turismo

arqueológico, como veremos, parte também da organização local, valora o patrimônio

cultural, contribui para a preservação do patrimônio e, quando pensado em

complementaridade e organizado em roteiros ou circuitos, pode participar de e

fortalecer os arranjos produtivos locais, empoderando populações e atividades

tradicionais e promovendo trabalho e renda.

2.2 O patrimônio arqueológico.

O patrimônio não é um fato dado. Seu reconhecimento social é resultado de um

processo de patrimonialização sobre o qual incidem interesses políticos, econômicos e

simbólicos que visam produzir memória e reconhecimento identitário. Em outras

palavras, o reconhecimento do patrimônio resulta das relações de poder que o

ressignificam.

Sabemos desde Halbwachs (1976) da importância da organização

social do espaço e dos lugares de memória para a construção e a

dinâmica de identidades individuais e sociais. (...) Assim estamos

lidando, ao examinarmos as políticas públicas de patrimônio, com

complexas questões que envolvem emoções, afetos, interesses os mais

variados, preferências, gostos e projetos heterogêneos e contraditórios.

(VELHO, 2006, p. 244-245).

Reconhecer, portanto, um bem cultural enquanto bem comum, ou seja, como

patrimônio cultural, é construir um lugar de memória a partir da organização social do

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espaço, considerando os conflitos e diferentes interesses em disputa. Conforme

discutido por Funari e Peligrini (2006), é a partir da construção do Estado Nacional

Moderno que entra em cena a necessidade de se reconhecer determinados bens como

representativos de uma identidade nacional. Este reconhecimento resulta de um

processo de inclusão e consecutiva exclusão de bens, estabelecendo assim uma cultura –

e, consecutivamente, uma memória social – hegemônica. Este “bem comum” a ser

legado às futuras gerações como patrimônio é primeiramente resultado de um esforço

para se construir uma identidade nacional e, mais recentemente, como dispositivo de

resistência identitária também das minorias.

Na atualidade, a área do patrimônio engloba um conjunto significativo

de questões de ordem política, de relações de poder, de campos de

força e âmbitos do social. Anteriormente alheio a essa prática, hoje o

patrimônio toma em consideração questões relativas à propriedade

intelectual, ao meio ambiente, aos direitos culturais, aos direitos

difusos, ao direito autoral, ao impacto cultural causados pelos grandes

empreendimentos, além dos temas já tradicionais, como aqueles que

envolvem questões de urbanismo e uso do solo, expansões urbanas

sobre áreas históricas decadentes, questão habitacional em áreas

históricas urbanas e, principalmente, os limites que o tombamento

impõe à propriedade privada. (CHUVA, 2012, p. 152).

Deste modo, os vestígios do passado, para serem considerados patrimônio, ficam

sujeitos a um processo de “seleção consciente do que se deseja legar ao futuro, que

mostra que algo é valioso individualmente ou socialmente” (GUIMARÃES, 2012a, p.

6). Assim, por mais que se afirme que o patrimônio arqueológico é importante, a

questão que se apresenta é: importante para quem?

Se, por um lado, o Brasil herdou a tradição latina de patrimônio, que “considera a

propriedade privada sujeita a restrições, derivadas dos direitos dos outros ou da

coletividade em geral” (FUNARI e PELEGRINI, 2006, p. 17-18), por outro, seu

reconhecimento estatal e sua proteção por meio de políticas de salvaguarda são regidas

por interesses ideológicos, econômicos e identitários. Funari e Ferreira (2015) lembram

que o termo alemão para patrimônio (denkelmalplege) remete a sentidos diferente do

inglês (heritage – aquilo que se herda) e do latim (aquilo que se herda do pai).

Denkemalplege remete àquilo que deve ser cuidado, àquilo que faz pensar. Esta

diferença não é apenas semântica. Ao assumir o significado latino, o Estado brasileiro

assume seu paternalismo patriarcal sobre aquilo que deve ser preservado, considerando

o patrimônio não como algo socialmente construído e contestado, mas como algo que

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possui um valor inerente e a-histórico. Funari e Ferreira (2015) propõem que o

patrimônio não seja visto como inspirador de admiração, mas inspirador de reflexão.

Velho (2006), ao discutir a preservação do patrimônio cultural enquanto ato

político, antes mesmo de técnico, mostra os conflitos presentes nos processos de

tombamento e preservação patrimoniais nos espaços urbanos, naquilo que chama de

negociação da realidade. No Brasil, até meados da década de 1980, a maioria dos bens

tombados como patrimônio histórico brasileiro estavam relacionados à tradição luso-

brasileira e diziam respeito a uma representação de Estado e de nação que privilegiava a

perpetuação desta tradição.

A patrimonialização como resultado das relações de poder ajuda a explicar, por

exemplo, a pequena quantidade de sítios arqueológicos efetivamente tombados no

Brasil, e o baixo investimento na pesquisa arqueológica.

Tombar um patrimônio, ou reconhecê-lo como bem comum, portanto, implica em

atuar sobre o campo simbólico e econômico. No simbólico, a construção e o

reconhecimento de identidades; no econômico, o conflito entre interesses públicos e

privados. A discussão é extensa e não é proposta deste trabalho aprofundá-la. Importa

ressaltar, entretanto, que no caso específico do patrimônio arqueológico pré-colonial

brasileiro, o problema é o mesmo.

O investimento em políticas de preservação do patrimônio cultural passou a ser

uma questão de Estado no Brasil a partir da década de 1930, com a discussão da

intelectualidade modernista pretendendo uma reformulação da cultura brasileira, a

chegada de Getúlio Vargas à presidência da República e o país se inserindo na lógica do

nacionalismo populista que caracterizou o Ocidente naquele momento. Em 1937,

através do Decreto Federal nº 25, é criado o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (SPHAN1) com o objetivo de proteger e fiscalizar os bens móveis e imóveis

considerados exemplares da história e com excepcional valor arqueológico,

etnográfico, bibliográfico e artístico. As discussões sobre o patrimônio histórico no

SPHAN passaram a ser dominadas pelos arquitetos orientados pela “tese das três raças

formadoras da sociedade brasileira”, desenvolvida a partir da noção de civilização

material apresentada por Afonso Arinos de Melo Franco, “que percebia no branco

português a maior influência, em razão da maior perenidade dos materiais utilizados nos

1 Em 1990 o SPHAN passa a se chamar Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural e, em 1996, por meio

da Medida Provisória nº 752, adota a nomenclatura Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN).

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processos construtivos, e na presença do negro africano e do índio autóctone influências

de menor envergadura” (CHUVA, 2012, p. 154).

A tradição luso-brasileira à qual se refere Velho (2006), carregando em suas bases

o catolicismo e influenciando no tipo de relação que estabelecemos com o patrimônio

arqueológico pré-colonial, e a noção de civilização material de Arinos explicam a

grande quantidade de bens imóveis representativos da colonização portuguesa tombados

como patrimônio nacional. A legislação de 1937, que definiu a proteção do patrimônio

histórico nacional, praticamente excluiu do seu escopo a contribuição das culturas pré-

coloniais na construção identitária nacional.

Na prática essa lei foi direcionada quase exclusivamente a sítios

históricos, igrejas, fortalezas e construções arquitetônicas vinculadas a

uma visão específica da história do Brasil, equiparada à História

colonial e à influência europeia na constituição da sociedade

brasileira. (BUENO, 2011, p. 58).

Funari, Manzato e Alfonso (2013) também discutem a relação entre patrimônio,

“turismo patrimonial” e a construção de uma identidade nacional monolítica,

especialmente nos períodos ditatoriais, a saber, 1937-1945 e 1964-1985. O próprio

SPHAN, surgido nos moldes do seu congênere na Itália fascista, atuou, segundo estes

autores, como um órgão centralizador do patrimônio nacional.

El patrimonio fue esencial en ambos lapsos para propagar la identidad

nacional como monolítica, con la intención de producir un pasado

homogéneo como modelo para un presente también homogéneo,

centrado en la ley y el orden, la armonía social y conformidad.

(FUNARI, MANZATO e ALFONSO, 2013, p. 40.)

O fim do Estado Novo em 1945 permitiu o surgimento de uma diversidade

ideológica que resultou em uma discussão um pouco mais ampliada a respeito do

patrimônio nacional. Neste contexto, os professores Paulo Duarte e Darcy Ribeiro

tentam incluir o patrimônio pré-colonial e as culturas indígenas no patrimônio cultural

brasileiro. Em 1961 foi publicada a Lei 3924, estabelecendo que todo monumento

arqueológico pré-histórico está submetido à guarda e proteção da União, sendo proibido

seu uso econômico, destruição ou mutilação antes de ser pesquisado. Entretanto,

segundo Bueno (2011), esta lei é criada antes da existência de um suficiente corpo

técnico-científico em condições de atendê-la, o que impulsionou o surgimento de cursos

e seminários de arqueologia, muitos deles ministrados por arqueólogos estrangeiros,

formando-se a partir daí a primeira geração de arqueólogos brasileiros, onde se incluem

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João Alfredo Rohr e Walter Piazza, ambos responsáveis pelos primeiros registros de

sítios arqueológicos no litoral sul de Santa Catarina.

O golpe de 1964 e a instalação da ditadura militar impôs novamente uma

homogeneização do patrimônio nacional, bem como fortaleceu os destinos turísticos

relacionados ao patrimônio colonial. Um exemplo foi a EMBRATUR, criada em 1966

para conferir ao turismo brasileiro “uma cara nacionalista e conservadora” (FUNARI,

MANZATO e ALFONSO, 2013, p. 42). A Ditadura Militar, com seu discurso

desenvolvimentista, também reforçou a ideia de que o país precisava superar seu atraso

atávico, rejeitando o antigo para que o novo pudesse se impor. Este ideário, próprio do

positivismo que fundou a República, ao ser reforçado pelo regime militar, reforçou o

estereótipo de que as populações nativas atrapalhavam o progresso. Assim, superar esta

herança de indolência e atraso significava também superar o patrimônio que

representava este atraso, colocando-o a serviço da civilização e do progresso.

(...) há muitos fatores que inibem o engajamento ativo da gente

comum na proteção patrimonial. Em primeiro lugar, estereótipos do

passado continuam vivos no presente. Os índios, tradicionalmente,

eram considerados ferozes inimigos (...).

(...)

A gente comum sente-se alienada tanto em relação ao patrimônio

erudito quanto aos humildes vestígios arqueológicos, já que são

ensinados a desprezar índios, negros, mestiços, pobres, em outras

palavras, a si próprios e a seus antepassados. (FUNARI e FERREIRA,

2015, p. 139 e 141).

Especificamente no caso catarinense, se por um lado os jesuítas tiveram um papel

importante no registro e nas pesquisas dos vestígios das civilizações pré-coloniais,

principalmente na atuação do padre João Alfredo Rohr, que investigou uma grande

quantidade de sítios; por outro, contribuíram para que o reconhecimento destas

civilizações ficasse limitado ao aspecto da curiosidade histórica exposta em museus, e

não como elemento significativo de composição identitária contemporânea. Para

exemplificar este paradoxo, citamos o caso do “Santinho”.

Na Praia do Santinho, em Florianópolis, até o ano de 1946 os

pescadores locais faziam oferendas e rezavam, pedindo proteção e boa

pescaria, em frente a uma arte rupestre com o formato de um pequeno

santo, que era a figura de um antropomorfo com a cabeça constituída

por um círculo concêntrico. Tal “Santinho”, que deu nome à praia, foi

arrancado do lugar pelos padres que achavam que aquilo era um

sacrilégio e nunca mais foi encontrado. É um caso raro em que um

símbolo sagrado pré-histórico continua sendo sagrado até os dias de

hoje. (LUCAS, 1996, p.16)

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Lucas relata ainda que, após a remoção do “Santinho”, que teria sido levado ao

Colégio Catarinense, ligado aos jesuítas, a comunidade local protestou, cercando a

escola e exigindo a devolução da imagem, em claro exemplo de como um vestígio

arqueológico pode ser reconhecido como patrimônio comum e elemento de identidade.

Percebe-se, assim, que o tratamento dispensado ao “Santinho” vai ao encontro do relato

de Velho sobre o terreiro Casa Branca, já que em ambos os casos encontramos a disputa

pelo simbólico mediada por uma sacralidade considerada espúria pela tradição

hegemônica. Tradição que é ideológica, e que influenciará discursos e práticas de

desvalorização do patrimônio arqueológico pré-colonial brasileiro, muitas vezes

considerado menor e sem valor, como no caso de Garopaba, onde, em 1975, a prefeitura

“mandou quebrar a marretadas os amoladores do Costão da Casqueira para aproveitar as

pedrinhas negras no calçamento da praça central” (LUCAS, 1996, p. 109).

Posturas como esta da prefeitura de Garopaba foram comuns durante toda a

ditadura militar, cujo discurso desenvolvimentista chancelou a destruição de sítios

arqueológicos, especialmente sambaquis, para a construção de estradas e obras de

engenharia diversas e outros usos. Bastos (2007) constatou que na década de 1980, dos

110 sambaquis do Sul de Santa Catarina registrados no IPHAN à época, apenas 20

estavam em bom estado, 60 parcialmente destruídos e 30 totalmente destruídos. O autor

destacou as principais causas da destruição.

1) A industrialização de conchas de sítios para a fabricação de cal,

corretivo de solo, ração para avicultura e, recentemente, a utilização

diversa na química fina; 2) Utilização dos vestígios arqueológicos

diretamente no solo para melhoramento das condições da lavoura,

jardins e praças; 3) Utilização dos vestígios arqueológicos para

aterros, misturas para argamassas e obras particulares; 4) Utilização

do material arqueológico como lastro para pavimentação de estradas,

vias, ruas, ruelas e logradouros públicos em geral; 5) Comercialização

dos sítios para as mais diversas finalidades; 6) Utilização da superfície

do sítio para moradia, processo de favelização, loteamentos

clandestinos, loteamentos legalizados sem avaliações ambientais e

arqueológicas, implantação de grandes condomínios e resorts à beira

mar; 7) Vandalismo, caçadores de tesouros, esportes radicais

(motocross e jeepcross em sítios) e intervenções de amadores; 8)

Tentativa de implantação de rodovia interpraias, não contemplando a

questão dos sítios arqueológicos nos estudos de impacto ambiental e

relatórios de impacto ambiental. (BASTOS, 2007, p. 19-20).

A abertura política da década de 1980 reposicionou o debate a respeito do

patrimônio cultural brasileiro, trazendo para a discussão novos atores e ampliando o

conceito de identidade nacional. É neste contexto que a discussão de Velho (2006),

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relatando o processo de tombamento de um terreiro de candomblé em Salvador (Bahia),

se torna possível. O elogio das diferenças promovido pela globalização dá nova

perspectiva a culturas e patrimônios antes marginalizados. Segundo Funari, Manzato e

Alfonso (2013), com a abertura política no Brasil também passou a existir uma maior

diversidade de destinos turísticos, bem como a promoção da participação das

comunidades locais nas discussões a respeito do turismo e da própria arqueologia. Esta

perspectiva mais globalizada do patrimônio cultural brasileiro permite que se olhe para

o patrimônio arqueológico como um bem que “aporta nossas ligações com o passado

mais remoto, operando simbolicamente e psiquicamente nosso sentimento de

continuidade enquanto entes vivos na natureza” (BASTOS, 2005, p. 67).

Apesar da democratização e da modernização da legislação do patrimônio cultural

brasileiro, os longos períodos de autoritarismo no Brasil e suas influências nas

discussões sobre o patrimônio e sobre a própria arqueologia ainda se refletem nas

relações que a maior parte da população estabelece com os vestígios arqueológicos.

(...) ao invés de dizermos que os brasileiros não têm memória, o que

vemos é que os brasileiros, de um modo geral, não participam da

construção dessa memória. Por mais que ela seja veiculada,

transmitida e afirmada, ela não é interiorizada, não é vivenciada, o que

se reflete diretamente na relação que este público estabelece com o

Patrimônio, a qual passa muitas vezes pelo não reconhecimento ou

pela negação e até mesmo pela destruição. (BUENO, 2011, p. 66).

Como consequência, lembra Bueno (2011), de modo geral a arqueologia continua

sendo vista pela população brasileira como uma atividade exótica e, consecutivamente,

o patrimônio arqueológico como uma curiosidade. Isto quando preservado, já que sua

destruição é o principal “sintoma de uma sociedade que não contempla como de sua

propriedade os bens arqueológicos, e não os entende como bens de alcance social”

(BASTOS, 2007, p. 20).

Segundo Galdino (2012) o atual ordenamento jurídico brasileiro do patrimônio

arqueológico prevê sua proteção e conservação integrada, por meio de políticas de

proteção associadas a políticas culturais, de planejamento urbano, de educação e

ambientais. Seu estatus jurídico é de bem comum à sociedade, de recurso finito e,

fundamentado que é a partir do direito ambiental, o Estado tem o direito de garantir ao

povo a fruição deste patrimônio, disponibilizando o acesso da sociedade a ele mas, ao

mesmo tempo, considerando a irreversibilidade dos danos que lhe pode ser causados.

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Deste modo a fruição do patrimônio arqueológico deve ter por princípio a educação

patrimonial.

(...) a proteção do patrimônio arqueológico, enquanto bem comum do

povo brasileiro, é prerrogativa do Estado (entendido como a ação

conjunta de todos os entes da federação), que deve exercer seu poder de

polícia, pertinente à fiscalização e à penalização ante ações lesivas.

Porém, o exercício exclusivo de procedimentos repreensivos, além de

diminuir a possibilidade de prevenção de impactos negativos, não

imprime terreno favorável à participação da sociedade na gestão de seu

patrimônio. Assim, apresenta-se a necessidade de fomentar, por parte

do poder público, a utilização adequada dos recursos culturais como

vetores de desenvolvimento (...). (GALDINO, 2012, p. 16).

Assim, a proteção do patrimônio arqueológico brasileiro não se limita no

conservacionismo, muito pelo contrário. Conforme aponta Galdino (2012), a legislação

impõe a proteção física e, ao mesmo tempo, o incentivo a sua fruição através da

pesquisa, da educação e da geração de renda.

2.3 O turismo arqueológico.

O turismo arqueológico ou arqueoturismo integra o segmento do turismo cultural,

conforme segmentação adotada pelo Ministério do Turismo (BRASIL, 2010)2. O

Ministério do Turismo define o turismo cultural como aquele que “compreende as

atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do

patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os

bens materiais e imateriais da cultura” (BRASIL, 2010, p. 15). A Organização Mundial

de Turismo define o turismo cultural como aquele que,

(...) inclui o conhecimento da cultura e dos ambientes culturais,

compreendendo a paisagem do lugar. Nesses atributos encaixam-se os

sítios arqueológicos, monumentos históricos e outras manifestações

artísticas do local, bem como os valores e formas de vida, o

patrimônio, as artes visuais e performáticas, as indústrias, os idiomas,

as atividades cotidianas, as tradições e as formas de recreação da

população local. (Apud. BARRETTO, 2007, p. 87).

Segundo Costa,

(...) o conceito de turismo cultural é ainda imprecisamente definido,

com o foco direcionado especialmente para o objeto de atenção da

2 Segundo a segmentação adotada pelo Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), são tipos de turismo

cultural: cívico, religioso, místico e esotérico, étnico, cinematográfico, arqueológico, gastronômico,

ecoturismo e ferroviário.

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visita, o que, embora seja uma de suas características mais

fundamentais, é somente uma parte do fenômeno. Um conceito mais

completo de turismo cultural deve ser construído considerando-se

também uma análise mais ampla das motivações de seus participantes,

das características de seu objeto e de seu público, da interatividade ou

vivência de experiências culturais e das possíveis inter-relações com a

preservação e a educação por meio do patrimônio cultural. (COSTA,

2009, p. 39).

Barretto (2007) discute o turismo cultural enquanto alternativa ao turismo de

massa, partindo da premissa de que os turistas que buscam este segmento turístico

constituem um público com características próprias.

O turismo cultural surge como uma alternativa por tratar-se de um

turismo de minorias, cujos protagonistas, que seriam turistas não

institucionalizados, experimentais, experienciais e existenciais, são

mais educados e respeitam o meio ambiente natural e cultural. O

turismo cultural, de acordo com essa premissa, teria menos efeitos

negativos nos núcleos receptores, e durante um tempo seu aumento

proporcional foi bem recebido. (BARRETTO, 2007, p. 84).

Por turismo arqueológico compreende-se o “deslocamento de pessoas a sítios

arqueológicos, escavações e cavernas com inscrições e pinturas rupestres com

acompanhamento obrigatório de guia especializado” (BENI (2008, p. 482). Para

Manzato, o turismo arqueológico consiste,

(...) no processo decorrente do deslocamento e da permanência de

visitantes a locais denominados sítios arqueológicos, onde são

encontrados os vestígios remanescentes de antigas sociedades, sejam

elas pré-históricas e/ou históricas passíveis de visitação terrestre ou

subaquática. (MANZATO, 2005, p. 35).

Em 1976 o Internacional Council on Monuments and Sites, reunido em Bruxelas,

publicou a Carta de Turismo Cultural. Neste documento o turismo cultural foi definido

como “aquela forma de turismo que tem como objetivo, entre outros fins, o

conhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos” (ICOMOS, 1976). Esta

Carta, à época, já alertava para uma influência significativa do turismo nos monumentos

e sítios histórico-artísticos. Se, por um lado, o turismo pode oferecer riscos à integridade

destes monumentos e sítios, por outro, quando acompanhado de políticas específicas,

concorre para a preservação do patrimônio cultural na medida em que signifique

benefícios sociais, culturais e econômicos à população implicada.

Ainda que a discussão aqui proposta não se pretenda do campo da Arqueologia, a

proposição de um turismo arqueológico convida a olhar para o debate travado no âmbito

do saber arqueológico, de modo a compreendermos como seus profissionais estão

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compreendendo seu papel social, e de que modo a relação turismo – arqueologia pode

ser (ou/e é) recebida por estes. Neste sentido, recorremos a Bastos (2008) que, ao

analisar as atividades desenvolvidas pelos arqueólogos na Zona da Mata Mineira, tece

interessantes observações a respeito da relação entre a arqueologia e o desenvolvimento

regional. Bastos chama a atenção para a existência de uma “nova arqueologia

brasileira”, preocupada em “modificar realidades locais através da sua práxis educativa,

participativa e inclusiva” (2008, p. 9). A gênese desta nova arqueologia estaria nos

Estudos de Impacto Ambiental, e hoje se estende amplamente, convocada que é,

inclusive, pelos interesses de um mercado globalizado e pela exigência de trabalhos de

arqueologia preventiva. Vale ressalvar, entretanto, o fato do autor alertar para que a

arqueologia não se submeta às pressões do mercado, já que este transforma tudo em

mercadoria.

Ao refletir sobre o papel a ser desempenhado pela arqueologia brasileira no

desenvolvimento regional, Bastos apresenta seu entendimento de desenvolvimento

regional, que consiste no conjunto das “ações e atividades que geram oportunidades de

engajamento sociais, econômicos e culturais realizadas no âmbito do território

envolvente e que dele tirem proveito de forma direta e/ou indireta” (BASTOS, 2008, p.

7). No referido artigo o autor fala a partir da perspectiva da arqueologia e da prática

profissional do arqueólogo, tendo como campo de observação os trabalhos

desenvolvidos na Zona da Mata Mineira. Neste contexto, constatou que a aproximação

do trabalho do arqueólogo com os municípios (o autor não especificou o nível de

aproximação) valorizou o poder local e fortaleceu ações decididas conjuntamente. Isto

porque “os atores sociais têm mecanismos muito mais eficazes de controle e pressão por

se encontrarem no município” (BASTOS, 2008, p. 9).

Os atores locais, segundo Bastos, possuem um sentimento de pertencimento, de

ser e estar em um lugar, onde estabelecem suas relações sociais. Daí a necessidade de se

desenvolver um trabalho “interpessoal, interinstitucional, interdisciplinar, interétnico e

transversal que possibilite o exercício pleno dos direitos culturais” (2008, p.10),

avançando para aquilo que Santos (2007) compreende como cidadania cultural. Este

trabalho deve ser anterior ao próprio uso turístico do patrimônio arqueológico, na

medida em que este só “será instrumento de desenvolvimento turístico após ter sido

instrumento de Educação Patrimonial e inclusão social” (BASTOS, 2005, p. 65), de

modo a garantir a dimensão da sustentabilidade. É sob a ótica da cidadania cultural que

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a relação entre o patrimônio arqueológico e o turismo arqueológico concorre para uma

perspectiva de desenvolvimento regional que ultrapassa a lógica trabalho e renda.

Neste sentido, Bastos (2008) chama a atenção para a necessidade da arqueologia

trabalhar junto às comunidades locais (contribuindo, inclusive, com a formação de

agentes locais) e, em especial, aos grupos vulneráveis (resultantes dos efeitos da

exclusão social e econômica), fazendo com que a arqueologia contribua para a inclusão

social destas comunidades e grupos. Bastos (2008) acredita, portanto, em uma

arqueologia que não seja autoritária e que ouça a comunidade, defendendo a

participação ativa desta nas diferentes etapas do trabalho arqueológico, a saber: no

diagnóstico, na prospecção, na escavação (resgate), na educação patrimonial e nas

atividades de laboratório e gabinete. Entende o patrimônio arqueológico enquanto

patrimônio cultural de uso comum e de alcance social, e acredita que as mudanças de

paradigma que este campo do saber percebeu no Brasil ajudam a explicar o interesse de

outras atividades econômicas, dentre estas, o turismo, pelo patrimônio arqueológico. É

neste sentido que afirma:

(...) com a grande visibilidade adquirida pela arqueologia no Brasil em

função das mudanças operadas nos paradigmas da difusão,

comunicação e do ensino da disciplina em outros moldes em algumas

instituições mais vanguardistas, sua demanda passou a fazer parte da

agenda de outras atividades econômicas e sociais, assim como

compareceu de maneira efetiva na atividade turística. (...) Cada vez

mais, o Turismo Pós-Moderno recorre aos objetos representativos

desses elos afetivos (...), porque os viajantes contemporâneos

demandam por relações mais próximas ao cotidiano dos locais

visitados. (BASTOS, 2008, p. 15).

Guimarães (2012a) explica que houve uma expansão da arqueologia brasileira a

partir de 2002, devido à Portaria IPHAN nº 230, que determinou a elaboração de

programas de educação patrimonial junto às comunidades de áreas afetadas por

pesquisas arqueológicas. Segundo a autora, é quando no Brasil o turismo arqueológico

começa a ser considerado como uma alternativa para a proteção dos sítios arqueológicos

e para a promoção de trabalho e renda para as populações locais. Entretanto, a falta de

monumentalidade dos sítios arqueológicos brasileiros é muitas vezes percebida como

uma dificuldade para o desenvolvimento do turismo arqueológico. Esta categoria

(monumentalidade) é importante para se pensar o planejamento do turismo

arqueológico. Identificá-la pode representar um aspecto facilitador quando se pensa a

promoção do “atrativo”. Sua ausência, entretanto, segundo Guimarães (2012a), não o

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inviabiliza, conforme procurou demonstrar em sua tese de doutorado, onde propôs o

aproveitamento do patrimônio arqueológico do município de Iranduba (AM): “mesmo

que se considere que o patrimônio arqueológico brasileiro não seja, devido à falta de

monumentalidade, atrativo aos turistas, ainda assim seria viável a sua exploração

turística, com a criação de complexos arqueoturísticos” (GUIMARÃES, 2012a, p. 35).

Isto porque a autora percebe as possibilidades do turismo arqueológico como

complementar, integrando roteiros, participando de muitos segmentos, o que torna os

destinos mais conhecidos e as possibilidades de atrativos mais diversas.

Funari, Manzato e Alfonso (2013) argumentam que o turismo contribui para

reposicionar a própria arqueologia, na medida em que propõe aos arqueólogos desafios

reais que necessitam de respostas. Dentre estes desafios propostos à arqueologia, está o

respeito às interpretações que as comunidades locais fazem do patrimônio arqueológico.

El turismo patrimonial há contribuido a reposicionar la arqueología

como disciplina, si no para todos los arqueólogos, al menos para

muchos de ellos. El surgimiento de nuevas y creativas comprensiones

de la arqueología fue impulsado por contextos e interacciones del

turismo patrimonial en los cuales los arqueólogos se vieron desafiados

por situaciones reales. (FUNARI, MANZATO e ALFONSO, 2013, p.

43-44).

Considerando os possíveis efeitos negativos do turismo na conservação dos bens

culturais, o documento do ICOMOS (1976) chama a atenção para a necessidade de um

trabalho de educação cultural com as populações envolvidas, como forma de se

assegurar a preservação do patrimônio e a formação de profissionais qualificados que

promovam o controle e a interação dos turistas com o patrimônio visitado. Guimarães

(2012a) lembra que “de todas as situações em que o patrimônio arqueológico encontra-

se em risco, as relacionadas ao turismo são as em que há maiores chances de

posicionamento da comunidade em benefício do mesmo” (GUIMARÃES, 2012a, p.

21).

Pardi (2007) alerta para os riscos da visitação informal para a conservação de

sítios arqueológicos. Depredação, coleta de materiais que servirão de souvenir ou

destinados ao comércio ilegal de artefatos arqueológicos, ocupação predatória de áreas

que abrigam vestígios de presença pré-colonial pelo mercado imobiliário ou pelo

próprio trade turístico por meio de pousadas, hotéis e pela abertura de trilhas destinadas

ao trânsito de turistas sobre locais sensíveis são os principais riscos da citada visitação

informal e/ou da negligência do poder público no sentido de reconhecer e adotar

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políticas públicas de preservação e uso sustentável destes locais. Quando planejado, o

turismo arqueológico “pode atuar como um instrumento capaz de proteger, promover e

potencializar o patrimônio arqueológico” (NÓBREGA, 2015, p. 95).

Em função da fragilidade apresentada nesses espaços, é primordial,

contudo, a realização de ações de planejamento e de infraestrutura que

possibilitem o desenvolvimento do turismo, sem que haja prejuízos ao

patrimônio arqueológico utilizado como atrativo turístico. Para tanto,

é indispensável à realização de estudos, pesquisas, trabalhos de

monitoramento, organização de roteiros de visitação, ações de

interpretação do patrimônio e envolvimento da comunidade local. O

planejamento e a estruturação de sítios arqueológicos são práticas

indispensáveis para o desenvolvimento do Turismo Arqueológico no

País, visto que, sem essas premissas, os impactos negativos do turismo

podem causar danos irreversíveis para o patrimônio arqueológico

brasileiro. (BRASIL, 2010, p. 24).

Guimarães (2012b), ao estudar o potencial do turismo arqueológico em Laguna

(SC), também ressalta a importância do planejamento deste segmento turístico e o

envolvimento da comunidade no seu desenvolvimento a fim de garantir a minimização

dos impactos negativos nos vestígios arqueológicos.

Este segmento deve envolver um planejamento minucioso para que a

integridade do patrimônio não seja ameaçada, visto tratar-se de um

bem cultural frágil. As políticas deverão ser criadas focando a

preservação, não no sentido de inviabilizar o acesso ao público, mas

utilizá-las de maneira que os impactos negativos sejam minimizados e

possibilite a sua visita. O desenvolvimento do turismo arqueológico

deve ser difundido junto a comunidade, incrementado à atividade de

educação patrimonial e programas de divulgação nos meios de

comunicação. (GUIMARÃES, 2012b, p. 135.)

O turismo arqueológico, constituindo-se enquanto atividade de público controlado

sob os aspectos quantitativos e comportamentais, não condiz com o turismo de massa,

aproximando-se assim do ecoturismo ou turismo verde. Segundo Beni, o ecoturismo.

pressupõe sempre uma utilização controlada da área com

planejamento de uso sustentável de seus recursos naturais e culturais,

por meio de estudos de impacto ambiental, estimativas da capacidade

de carga e suporte do local, monitoramento e avaliação constantes,

com plano de manejo e sistema de gestão responsável. (BENI, 2008,

p. 470).

Desta forma, o turismo arqueológico dialoga com o ecoturismo e se apresenta,

inclusive, enquanto extensão deste último, partindo-se de uma compreensão ampliada

da ecologia, na qual os vestígios arqueológicos são elementos ecológicos importantes

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porque atuam como elementos constituidores de um discurso identitário que garantirá o

reconhecimento de si das comunidades próximas aos sítios.

É nesta mesma lógica que Barretto (2009), ao discutir o planejamento do turismo

cultural/étnico, afirma que “no ato de planejar turismo étnico, devem partir do princípio

inerente aos direitos humanos, de que, em primeiro lugar, quem precisa decidir sobre

uma economia baseada no turismo ou não são os membros da comunidade.” (p. 191).

Brenner (2005) também argumenta neste sentido, afirmando que “todos os esforços para

promover o turismo cultural sustentável devem basear-se absolutamente em uma

cooperação ativa com as culturas locais” (p. 370). E Veloso e Cavalcanti (2007), ao

discutirem especificamente o turismo arqueológico, escrevem que este:

(...) apresenta-se hoje como um importante veículo de

desenvolvimento socioeconômico em diversas localidades além de ser

um potencial campo de pesquisas para o conhecimento das populações

humanas do passado. Constata-se também que esse pode ser

aproveitado como fonte de cidadania cultural. (VELOSO e

CAVALCANTI, 2007, p. 166)

Segundo Mielke e Gandara (2009), são premissas para o desenvolvimento

endógeno:

Em primeiro lugar, o envolvimento dos atores locais, que têm

importância fundamental como protagonistas dos processos. E, em

segundo lugar, e não menos importante, as questões organizativas,

sociais e políticas dos mesmos, sejam institucionais, públicas ou

privadas. (MIELKE e GANDARA, 2009, p. 91-92)

Assim, para além de representar alternativa de renda às populações locais dos

sítios arqueológicos, o envolvimento destas no turismo cultural/arqueológico deve

representar, em primeiro lugar, um processo educativo que a fará olhar para o

patrimônio arqueológico de modo a valorá-lo simbolicamente. Esta perspectiva remete

às reflexões de Sachs (2006a) Max-Neef (2012) e Sampaio (2005), que defendem como

condição para que uma estratégia de desenvolvimento sustentável possa ter sucesso, a

participação dos grupos e comunidades locais enquanto sujeitos do seu próprio

desenvolvimento. Manzato (2013) lembra que, quando explorado exclusivamente em

sua perspectiva econômica, o turismo em sítios arqueológicos acaba promovendo

desequilíbrios.

Conforme Guimarães (2012a, p. 54), “para o turismo arqueológico, a busca pela

sustentabilidade deve ser no sentido mais amplo do termo, em todos os seus eixos:

ambiental, social, econômico e cultural”.

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Bastos também elencou aqueles que seriam, na sua visão, os princípios básicos

para o desenvolvimento de turismo arqueológico sustentável, a saber:

Reinterpretação do patrimônio cultural arqueológico no cotidiano,

geração de ocupação e renda e demarcação dos espaços turísticos;

apropriação do espaço e do lugar pela população local; análise do

patrimônio arqueológico e estudo do espaço cultural: tombamento,

restauro, reconstrução, reutilização e resignificação; interpretação do

patrimônio arqueológico ambiental na sustentabilidade do diferencial

turístico. (BASTOS, 2005, p. 68).

É, portanto, a valoração simbólica dos sítios arqueológicos, somada ao trabalho de

educação patrimonial e à valoração proveniente de sua potencialidade econômica

alternativa enquanto atrativo turístico e aos produtos daí decorrentes, que potencializará

as possibilidades de preservação dos sítios como lugares de identidade e de renda.

Assim, entendemos que um projeto que proponha o investimento turístico tendo como

atrativo também os vestígios arqueológicos de Garopaba, Imaruí e Imbituba, deve

prever uma relação dialógica entre poder público (gestor local do turismo), ente federal

(IPHAN) e iniciativa privada não apenas com a população dos referidos municípios,

mas principalmente com as populações locais, garantidoras da proteção dos sítios e dos

valores simbólico/identitários a estes relacionados.

Segundo Manzato e Rejowski (2007), os primeiros registros de visitas a sítios

arqueológicos iniciaram na Grécia e no Egito e atualmente o turismo arqueológico se

desenvolve em diferentes países. “Em alguns lugares do mundo como Cuzco (Peru),

Cairo (Egito) e Roma (Itália), o turismo cultural arqueológico é uma das principais

atividades econômicas, pois possibilita a geração de emprego, renda e receitas”

(NASCIMENTO, 2010, p. 98).

No Brasil, ainda segundo Manzato e Rejowski (2007), destacam-se o Boqueirão

da Pedra Furada (PI), São Miguel das Missões (RS), Arraial de Canudos (BA) e sítios

no Estado de São Paulo. Em São Paulo as autoras identificaram 660 sítios arqueológicos

registrados pelo IPHAN, dos quais 20 recebiam turistas nos anos de 2004 e 2005.

Nascimento (2010) alerta, entretanto, que a falta de planejamento do turismo

arqueológico no Brasil está colocando em risco a integridade do patrimônio

arqueológico brasileiro. Cita exemplos no estado do Pará, onde “muitos sítios

arqueológicos recebem a visita de turistas, mesmo não havendo infraestrutura de apoio

para sua proteção, como é o caso da Serra das Andorinhas (...)” (NASCIMENTO,

2010, p. 92-93).

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Guimarães (2009a) relativiza as críticas que frequentemente relacionam a prática

do turismo arqueológico à destruição do patrimônio arqueológico. A autora alega que

estas críticas se sustentam sobre bases teóricas frágeis e que atos de vandalização são

geralmente observados onde o acesso de pessoas não é monitorado e que muitas vezes o

vandalismo é praticado por moradores locais. Sustenta ainda que as experiências de

turismo arqueológico no Brasil ainda são tão escassas e em escalas tão pequenas que

não há base para as críticas, sendo estas muitas vezes motivadas pelo preconceito da

arqueologia em relação à atividade turística.

Manzato e Rejowski (2007) sustentam que a expansão e consolidação do turismo

arqueológico está relacionado aos benefícios que pode gerar, tais como: enriquecimento

da visão de mundo, ter valor econômico, facilita a identidade das pessoas através do seu

passado e melhora a qualidade de vida.

A condição de suposta precariedade em que se encontra o patrimônio

arqueológico da região que estudamos constitui motivo para o desenvolvimento do

turismo. Segundo Barreto (2007, p. 126), “o turismo não somente vem contribuindo

para a conservação do patrimônio, mas também, em alguns casos, tem ocasionado o

interesse por ele, provocando a sua valorização e sua descoberta”. A autora vai além, e

ao citar um trabalho de Peter Odermatt3 que trata do patrimônio na Sardenha, afirma

que “foi graças ao interesse dos turistas que os trabalhos de escavação começaram,

recuperando-se as ruínas pré-históricas da civilização nuraghe” (BARRETO, 2007, p.

127).

Funari, Manzato e Alfonso (2013), ao estudarem o turismo arqueológico no

Quilombo dos Palmares (AL), em Canudos (BA) e no estado de São Paulo, constataram

que este contribuiu para o empoderamento das populações locais e que no Brasil, apesar

de todos os problemas que ainda apresenta, esta segmentação turística possui

potencialidade para a inclusão social. Cabe lembrar que em experiências como a de

Canudos, foi desenvolvido um trabalho de arqueologia pública e, nos entornos da área,

promovido o turismo comunitário, onde a comunidade foi envolvida no planejamento e

na gestão do turismo arqueológico.

O IPHAN classifica os sítios arqueológicos em três categorias: pré-coloniais, de

contato e históricos. Em Santa Catarina há 1471 sítios arqueológicos cadastrados pelo

IPHAN.

3 Trata-se do artigo “A case of neglect? The politics of (re)presentation: A sardinian case”, publicado em

1996.

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Comerlato (2005) afirma que o interesse pelo turismo arqueológico em Santa

Catarina tem crescido nos últimos anos, citando como exemplos o Morro do Avencal

em Urubici, o Morro das Aranhas no Costão do Santinho em Florianópolis e a trilha

ecológica do empreendimento da Ilha de Porto Belo. Em Jaguaruna o sambaqui da

Lagoa de Garopaba do Sul está estruturado para receber turistas e a Unisul realiza

visitas guiadas com grupos de estudantes no local (SANTA CATARINA, 2013). Em

Laguna, Guimarães (2012b) verificou a possibilidade do turismo arqueológico devido à

grande quantidade de sítios existentes no município, apresentando como necessidade

para o desenvolvimento desta segmentação turística maior envolvimento do IPHAN

(aproximando a comunidade dos sítios arqueológicos e promovendo ações práticas para

a preservação deste patrimônio) e a implementação de políticas públicas que protejam

os sítios arqueológicos e planejem a atividade turística de forma sustentável.

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3 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área do nosso estudo compreende os municípios de Garopaba, Imaruí e

Imbituba. Estes três municípios estão localizados no litoral centro-sul de Santa Catarina.

(Figura 1). Juntos, reúnem uma população de 75162 habitantes (IBGE, 2015).

Figura 1: Localização da região estudada.

Cartografia: João Henrique Quoos/IFSC

Neste capítulo realizaremos uma breve caracterização histórica de cada um dos

municípios que compõem nossa área de estudo, situando-os identitariamente a partir

dos conceitos de identidade de Glissant (1996) e Hall (2004). Também abordaremos os

aspectos populacionais, socioeconômicos e as perspectivas de desenvolvimento da

região. Apresentaremos ainda uma revisão bibliográfica da ocupação pré-colonial na

região e discutiremos as diferentes escalas de regionalização às quais pertencem os três

municípios. Por fim, estudaremos a configuração do turismo na região, incluindo o

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projeto de fortalecimento do ecoturismo de observação de baleias proposto

recentemente pelo SEBRAE.

3.1 Aspectos históricos dos municípios.

3.1.1 Garopaba.

Garopaba surge no projeto de colonização do litoral catarinense em 1793, com a

fundação de uma armação baleeira. As armações baleeiras constituíram-se como o

principal empreendimento manufatureiro do período colonial no litoral catarinense e,

segundo Elis (1969), a pesca da baleia “foi atividade que mais articulou

economicamente a faixa litorânea e agregou um grande número de escravos, que

representavam um investimento de capital para as armações” (Apud. RAIMUNDO,

2013, p. 3). As armações baleeiras, com suas estruturas complexas compostas por

trapiche, tanques, engenho de frigir, fornalhas, senzalas e casa grande (BITENCOURT,

2005; RAIMUNDO, 2013), processavam os cetáceos, de cuja gordura era extraído o

óleo utilizado na iluminação e das barbatanas confeccionavam-se espartilhos. A carne

possuía pouco valor e era vendida ou distribuída à população mais pobre. A borra

(resíduos ou mucilagem acumulada no fundo dos tanques) era utilizada como

componente de argamassa na construção civil. (BITENCOURT, 2005).

Nas armações baleeiras o uso do trabalho escravo de origem africana era intenso,

principalmente nas atividades em terra (RAIMUNDO, 2013). Durante o século XIX os

escravos e seus descendentes representavam parcela significativa da população da

freguesia de Garopaba, conforme dados publicados por Besen (1996). Ainda hoje a

presença de afrodescendentes é bastante significativa no município, resultando inclusive

no reconhecimento de dois quilombos (Aldeia e Morro do Fortunato).

É a partir da Armação Baleeira que se intensifica a ocupação humana de

Garopaba, especialmente pelo elemento açoriano, que se dedicará às atividades

pesqueiras e agrícolas, e pelo elemento italiano a partir do início do século XX. A

cultura de base açoriana que se estabelece na região, dedica-se à pesca e à agricultura e

constrói uma rede de atividades comunitárias que fortalecem o sentimento de identidade

local, algumas delas ainda subsistindo, como a prática da farinhada, a festa do Divino

Espírito Santo e a pesca da tainha.

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Em 1890 ocorre o desmembramento de Garopaba de São José e sua elevação a

município, perdendo esta condição em 1923, quando passa a pertencer a Imbituba,

sendo anexado em 1930 ao município de Palhoça na condição de distrito. Segundo

Valentim (2007), a anulação da emancipação de Garopaba ocorreu por decisão do

governador Hercílio Luz, que suprimiu municípios deficitários e onerosos para o

governo estadual, o mesmo ocorrendo com Imbituba em 1930. Em 1961 o distrito de

Garopaba é novamente emancipado.

Na década de 1960 o governador Ivo Silveira contratou o fotógrafo Manfredo

Hubner para fotografar a construção da sede da colônia de pescadores. Hubner era um

militar gaúcho e retornou outras vezes à cidade, trazendo consigo amigos jornalistas que

começaram a escrever reportagens sobre a cidade para jornais do Rio Grande do Sul.

Segundo Alvim (2014), Garopaba começou a ser divulgada, especialmente no Rio

Grande do Sul, como um lugar onde era possível escapar da vigilância e da repressão

comum aos anos 70. Ainda segundo ela, produtos culturais como a canção “Deu pra ti”,

gravada por Kleiton e Kledir em 1981, e o filme “Deu pra ti anos 70”, dirigido por Giba

Assis Brasil e Nelson Nadotti também em 1981, divulgavam Garopaba como um lugar

especial e místico, “um lugar de liberdade para uma geração reprimida de uma grande

cidade” (ALVIM, 2014, p. 221), neste caso, Porto Alegre. É esta imagem que começa a

atrair para a cidade uma grande quantidade de turistas jovens, adeptos da contracultura e

da prática do surfe.

Exaltava-se da cidade seu ritmo sossegado, bucólico, a natureza

exuberante, o estilo de vida antigo, a sabedoria dos homens do mar e o

equilíbrio na relação homem/natureza. (...) Garopaba aparecia com

certa frequência como sugestão de lugar de veraneio e, ao que parece,

a pouca infraestrutura da cidade no início daquela década não era vista

como um empecilho. O rústico, neste caso, é visto como positivo.

(ALVIM, 2014, p. 222-223).

No final da década de 1970 tem início a explosão demográfica de Garopaba. O

movimento migratório, provindo principalmente do Rio Grande do Sul, dobrou a

população local entre 1977 e 2014, alterando profundamente a paisagem. De pequena

cidade dedicada à pesca artesanal, à agricultura e ao extrativismo da madeira,

transformou-se em importante balneário e polo de atração populacional. Sua malha

urbana se expandiu horizontalmente, avançando sobre áreas até então ocupadas por

pastagens e florestas, e seu centro histórico, antiga armação baleeira em torno da qual se

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espraiou a antiga vila de pescadores com seu casario de arquitetura de base açoriana e

ruas estreitas, é hoje alvo do processo de gentrificação.

Para além das transformações da paisagem urbana, estão as alterações da

paisagem cultural. Saberes e fazeres tradicionais foram perdendo espaço. Práticas

comunitárias como a farinhada e a pesca artesanal da tainha, importantes elementos

identitários, tornam-se cada vez menos comuns no cotidiano garopabense. A forte

imigração alterou radicalmente a dinâmica do sistema cultural local.

Conforme apontado por Laraia (1986), a mudança cultural pode ser operada por

dinâmicas internas e externas. No caso de Garopaba, as dinâmicas externas,

representadas pela explosão demográfica resultante não de um crescimento vegetativo,

mas do movimento migratório, promoveram uma rápida e intensa reconfiguração da

paisagem cultural local a partir da década de 1980, especialmente após a pavimentação

da rodovia SC – 434, que liga a cidade à rodovia BR-101. Esta reconfiguração da

paisagem cultural resultou em uma ruptura entre o cotidiano e as referências simbólicas

dos moradores antigos para com as populações recentes, muito mais numerosas,

provocando a desterritorialização da cultura tradicional e a alteração da base econômica

do município. Fenômeno que se intensifica nas décadas seguintes.

[Garopaba] tuvo un alarmante crecimiento de su población urbana del

193% desde el año 1991 hasta el 2010, lo que indica una estrecha

relación con el fuerte movimiento inmigratorio hacia este litoral (...).

Por otro lado, investigaciones anteriores demuestran que el

crecimiento urbano también supuso un detrimiento de la actividad

rural regional, la cual cambió la dirección de sus esfuerzas hacia

actividades relacionadas con el turismo de masas. (SPERB, SERVA e

FIRMINO, 2013, p. 49).

Este “alarmante crescimento populacional” implica, portanto, em mudanças na

base econômica da cidade e na própria distribuição das propriedades, que deixam de

pertencer aos seus moradores tradicionais.

A rápida valorização imobiliária traz uma grande circulação

econômica e no curto espaço de tempo. Entre a chegada da energia

elétrica em 1966 e o asfalto em 1986, 60% de Garopaba já não

pertencia aos seus moradores. (SOLLER e

CASTROGIONANNI, 2014, p. 201).

Naquilo que tange ao patrimônio cultural de Garopaba, a intensa e recente

alteração da paisagem humana local e o processo de gentrificação podem significar a

destruição de importantes marcos paisagísticos e simbólicos, bem como a eliminação de

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saberes, fazeres e sensibilidades tradicionais. Isto ocorre não tanto pela irrupção dos

recentes elementos culturais exógenos, mas principalmente pela ausência de uma

política municipal que garanta a preservação do patrimônio cultural local, bem como a

inexistência de equipamentos públicos culturais.

3.1.2 Imaruí.

Imaruí não possui faixa litorânea e se localiza às margens da lagoa homônima, a

maior da região dos lagos. Seu povoamento iniciou no século XVIII, a partir do

deslocamento de moradores de Laguna para a região através da Lagoa de Imaruí. Em

1833 a povoação é elevada à freguesia de São João do Imaruí. Segundo Costa (2006),

em 1840 a população de Imaruí (2495 habitantes) correspondia a 18,40% da população

de Laguna. Havia também um número significativo de escravos (345). “Esse distrito

comunicava-se com o porto de Laguna através da lagoa comercializando produtos

oriundos da produção agrícola e de animais na região” (COSTA, 2006, p. 17). Sua

elevação à categoria de município ocorre em 1890.

Segundo Costa (2006), em 1839, durante a Revolução Farroupilha e com a

proclamação da República Juliana em Laguna, Imaruí passou a ser requisitada para

fornecer víveres ao Governo Farrapo. Considerando o bloqueio portuário e o

desabastecimento de Laguna, as exigências de fornecimento em relação a Imaruí eram

cada vez maiores, o que gerou a revolta da população local e o apoio destas às tropas

imperiais. Em resposta, as forças farrapas invadiram e saquearam a freguesia lideradas

por Giuseppe Garibaldi, no episódio que entrou para a historiografia como “o massacre

de Imaruí”. Em suas memórias relatadas a Alexandre Dumas, Garibaldi relata este

episódio.

Auguro a toda criatura fiel à sua condição humana, como a mim

mesmo, que ela jamais receba uma ordem de teor igual àquela que me

fora expedida: ordem que, firme e afirmativa, não me abria qualquer

caminho para contorná-la. Ainda que existam longos e prolixos relatos

sobre situações dessa mesma natureza, considero impossível que o

mais terrificante deles chegue a aproximar-se da realidade. Que Deus,

do alto de Sua compaixão, possa perdoar-me! Jamais um outro dia

desta vida gravou em minha alma uma tão amarga recordação...

Ninguém poderá imaginar o desgaste a que me submeti a fim de

impedir a violência contra as pessoas e para que a destruição – a

pilhagem estando liberada – ficasse circunscrita às coisas inanimadas.

Não obstante, creio ter superado as minhas próprias expectativas de

êxito. Relativamente aos bens, porém, foi-me impossível evitar a

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desordem. (GARIBALDI em depoimento a DUMAS, Apud. COSTA,

2006, p. 123-124).

A colonização de Imaruí é de base açoriana e ainda mantém características desta

cultura “presente nas brincadeiras da Ratoeira, Ternos de Reis, Pau de Fitas, Quadrilhas

e Boi de Mamão. No Interior, encontram-se contadores de “causos” que refletem a

religiosidade através das crenças e mitos como o do lobisomem, o da mula-sem-cabeça

e o do boitatá” (VIEIRA, 2008, p. 225). No centro histórico há diversas edificações que

exibem a arquitetura açoriana. A cidade mantém ainda a tradição da renda de bilro,

contando com um grupo de rendeiras que reúne 15 mulheres e que comercializa seu

artesanato em feiras e festas da região (EVARISTO, 2015). Sua economia está baseada

na pesca e na agricultura, influência do processo de povoamento.

No interior do município está localizada a aldeia Guarani-Mbya Tekoá Marangatu,

que possui 77 hectares. “Os membros dessa tribo são indígenas da tribo Guarani vindos

do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Argentina e Florianópolis.

Esse povo mora em Imaruí (...) desde o final de 1999” (SOUZA, 2010, p.23)

desenvolvem a agricultura e o artesanato, este último comercializado pelos próprios

indígenas na região.

Segundo Vieira (2008), as características ambientais de Imaruí, que conta com

cachoeiras, lagoa, ilhas, matas nativas e trilhas pouco exploradas, podem fomentar o

ecoturismo e o turismo de esportes aquáticos. Vieira (2008) informa ainda que o

município está procurando desenvolver o turismo rural.

Atualmente a cidade investe no turismo religioso. A festa o Senhor Bom Jesus dos

Passos, realizada anualmente, é o principal evento da cidade e reúne fiéis e peregrinos

de diversas regiões brasileiras. Segundo informações de Agenor Garcia Felipe (2016),

Secretário da Indústria, Comércio e Turismo, a última edição da festa reuniu

aproximadamente 60 mil visitantes em dois dias. Imaruí é também a terra natal de

Albertina Berkenbrock, menina assassinada em 1931 após resistir a uma tentativa de

estupro e beatificada pelo Vaticano em 2007 (EVARISTO, 2015). A beatificação de

Albertina Berkenbrock atrai ao santuário, construído em sua homenagem na localidade

de São Luiz, uma grande quantidade de romeiros. Entretanto, devido à má condição das

estradas que ligam a região central de Imaruí a São Luiz, o acesso dos visitantes

acontece preferencialmente pelo município vizinho de São Martinho, fazendo com que a

economia de Imaruí pouco se beneficie deste turismo religioso.

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3.1.3 Imbituba.

Imbituba tem origem na vila açoriana de Vila Nova de Santana, fundada em 1720,

com a chegada dos primeiros imigrantes provenientes do arquipélago dos Açores. Em

1811, Vila Nova de Santana é elevada à freguesia de Laguna e, em 1911, distrito de

Laguna. Após variar sua denominação entre Vila Nova, Imbituba e Henrique Lage, o

distrito é desmembrado de Laguna e elevado à condição de município em 1958 sob o

nome de Henrique Lage e, em 1959, passando a se chamar Imbituba.

Assim como em Garopaba, Imbituba também assume importância econômica a

partir da instalação de uma armação baleeira em 1796, a quarta mais antiga do Brasil e a

última a sair de operação4. A pluralidade étnico-cultural de Imbituba torna-se mais

complexa a partir da década de 1910, quando passa a fazer parte do império industrial

de Henrique Lage e desenvolve as atividades ferroviárias e portuárias (MARTINS, s.d.),

fato que atrai mão de obra externa.

Desde 1884, com a inauguração da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, que

passou a ligar as minas de Lauro Müller à região portuária, o porto de Imbituba serviu

como escoadouro do carvão mineral tanto para o mercado brasileiro quanto para o

exterior. Antes da concessão a Lage, o porto estava sendo administrado pelo capital

inglês, que explorava também a mineração. A baixa qualidade do carvão catarinense,

entretanto, incentivou os ingleses a abandonar a mineração no sul catarinense e,

consecutivamente, relegou o porto de Imbituba ao abandono. (GOULARTI FILHO,

2013). Esta situação de abandono perdurou até a I Guerra Mundial, momento em que o

a necessidade de recursos energéticos reativa a mineração em Santa Catarina.

Em 1919 o industrial Henrique Lage obteve a concessão para exploração do porto

de Imbituba. Além de ampliar e equipar o porto, Henrique Lage promoveu uma série de

investimentos que criaram infraestrutura para seus negócios em Imbituba e introduziu

na região um projeto de modernização urbana da região central. Como era também

proprietário de uma Companhia de Navegação Costeira, transformou Imbituba em

escala dos seus navios com destino a Porto Alegre e ao Uruguai. O desembarque de

passageiros resultou na construção do primeiro hotel, em 1920. Entre 1920 e 1941, ano

da morte de Henrique Lage, foram construídos com seu capital a indústria Cerâmica

Imbituba, a Companhia Docas de Imbituba, a Granja Henrique Lage, a usina

4 A armação baleeira encerrou suas atividades em Imbituba em 1973.

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termelétrica para fornecimento de energia elétrica ao porto e aos seus negócios e o

traçado do núcleo urbano de Imbituba, entre outras obras.

Atualmente Imbituba referencia Henrique Lage como seu fundador,

homenageando a si e aos seus colaboradores diretos com nomes de logradouros e

edifícios públicos e tornando sua memória figura constante nos meios de comunicação e

nos discursos políticos. É importante ressaltar que o projeto implementado por Lage na

cidade, tendo como centro a atividade portuária, não dialogou com a cultura de base

açoriana das primeiras vilas (Vila Nova e Vila do Mirim), tratando-se assim de uma

proposta de desenvolvimento exógena. O desenvolvimento econômico de Imbituba

passou a depender do porto que exportava o carvão que era explorado no sul do estado.

Esta dependência da cidade em relação ao porto, que por sua vez dependia do

carvão, fez com que a economia de Imbituba oscilasse de acordo as políticas de

incentivo à indústria carvoeira, como no caso da política de Getúlio Vargas, que em

1931 estabeleceu uma cota de obrigatoriedade de consumo do carvão brasileiro de 10%,

em 1937 elevada para 20% (GOULARTI FILHO, 2013). No final da década de 1980,

com a abertura da economia brasileira à concorrência internacional promovida no

governo de Fernando Collor de Mello, a exportação carvoeira declina e chega a zero em

1990.

Com o objetivo de aproveitar os rejeitos do carvão, em 1969, foi fundada em

Imbituba a Indústria Carboquímica Catarinense (ICC), uma estatal pertencente ao

Grupo Petrofértil, que produzia insumos para indústria de fertilizantes a partir do

enxofre extraído da pirita carbonosa (rejeito do carvão), derivando o ácido sulfúrico

somado ao ácido fosfórico. A construção da ICC, inaugurada em 1979, fazia parte dos

objetivos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Para descarregar a rocha

fosfática, matéria-prima para a produção do ácido fosfórico, e para escoar toda a

produção de ácido sulfúrico e fosfórico, o porto de Imbituba foi ampliado. A indústria

operou apenas entre 1979 e 1992, sendo definitivamente extinta em 1994, e não

promoveu o desenvolvimento social que prometeu para a cidade. Os postos de trabalho

que abriu para a população local eram de baixo valor agregado e seu fechamento legou

significativos passivos ambientais e sociais.

(...) logo no início de seu funcionamento, a maioria da mão de obra

utilizada na indústria vinha de cidades vizinhas, como técnicos,

engenheiros, equipe mecânica entre outros, já que a cidade local não

possuía “mão de obra qualificada”, o que gerou certa frustração entre

os moradores. Os que conseguiram se estabelecer como funcionários

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entraram através de concursos, recebendo o treinamento

teórico/prático durante os três primeiros meses de trabalho, ou em

serviços que não exigissem conhecimentos técnicos. Vale ressaltar que

não houve nenhum incentivo para que fossem capacitados

trabalhadores da cidade antes do inicio das operações da ICC. (...).

(SOUZA, 2007, p. 102).

(...) a cidade foi marcada pela “maldição da fumaça vermelha”,

denominada assim, pois logo no início de seus trabalhos não podia

contar também com a chaminé, principal responsável pela filtragem

dos gases. A cidade acordava todos os dias coberta por uma fuligem

grossa de pó vermelho, consequência da primeira etapa do

beneficiamento da pirita carbonosa, gerando como resíduo o óxido de

ferro, que principalmente em dias de vento nordeste, espalhava-se por

toda a região central. (SOUZA, 2007, p. 104).

Ainda hoje é possível ver as montanhas de óxido de ferro dispostas em área

próxima ao porto e o espólio da ICC em péssimo estado de conservação. Atualmente

indústrias estão beneficiando parte do resíduo para a produção de gesso. Importante

ressaltar, novamente, que a ICC foi imposta a partir do Estado para o município a partir

de um plano de desenvolvimento nacional, visando o aproveitamento do porto. Após o

fechamento da ICC, o governo brasileiro cria na cidade uma Zona de Processamento de

Exportação (ZPE), que até o momento não se efetivou.

A cidade de Imbituba sempre teve uma estreita relação com o porto e

apostava na expectativa de investimentos externos. Primeiro foi a

tentativa de construção da Siderúrgica Santa Catarina S.A. (Sidesc),

que se transformou em ICC. A ICC encerrou suas atividades em 1994

e deixou um grande passivo ambiental de mais de 4.300.000 t. de

gesso e 1.400.000 t. de óxido de ferro. Em seguida foi o projeto

Sidersul, que, entre 1979 e 1982, consumiu mais de US$

24.000.000,00 do governo estadual e nada foi realizado. A mais

recente espera foi a Zona de Processamento de Exportação (ZPE),

criada em 1995 com o objetivo de atrair indústrias e integrá-las ao

porto. No entanto, na reforma administrativa de 2005 do governo

estadual, a ZPE foi extinta. (GOULARTI FILHO, 2013, p. 93).

Atualmente o porto vem passando por reestruturações que diversificaram suas

operações, operando navios graneleiros e cargueiros, reativando sua importância

econômica para Imbituba.

(...) la principal actividad económica de esto municipio gira em torno

de su puerto, que actualmente es el segundo mas grande del estado y

representa una fuente importante de empleo. También depende de la

industria, del comercio y del turismo, este último en crecimiento.

(SPERB, SERVA e FIRMINO, 2013, p. 47).

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Assim como observado em Garopaba, as alterações da paisagem e o crescimento

populacional em Imbituba acarretam na atrofia das atividades econômicas tradicionais e

impactam na identidade local. Um exemplo é a pesca tradicional na Lagoa de

Ibiraquera. Segundo Sperb, Serva e Firmino (2013), em 1992, 800 famílias viviam da

pesca tradicional nesta lagoa, número que caiu para 30 em 2003.

3.2 Aspectos identitários.

Garopaba, Imaruí e Imbituba possuem, assim, identidades crioulas, conforme

definição de Glissant (1996), que compreende a “identidade como fator e como

resultado de uma crioulização, ou seja, da identidade como rizoma, da identidade não

mais como raiz única, mas como raiz indo ao encontro de outras raízes”. É do contato e

dos conflitos entre as muitas culturas pré-coloniais, destas com os elementos europeu e

africano e da consolidação destes elementos às condições locais e seus diálogos pós-

coloniais que se organiza a identidade regional contemporânea de Garopaba, Imaruí e

Imbituba. O problema apresentado por Glissant (1996) em sua concepção de identidade

é o de “como ser a si mesmo sem fechar-se ao outro, e como abrir-se ao outro sem

perder-se a si mesmo”. Hall (2004) compreenderá a identidade como o “ponto de

encontro” das práticas de construção de sujeitos sociais e dos processos de subjetivação.

Concordando com Hall, para quem toda identidade é sempre uma representação sobre si

mesmo, a posição que assumimos na sociedade e para nós mesmos a partir da relação

estabelecida com o “outro”, consideramos fundamental o reconhecimento das

identidades de base. Dentre estas, incluem-se as dos povos já extintos que legaram seus

vestígios materiais e imateriais e de suas manifestações contemporâneas e resistentes, a

fim de que a população local possa se reconhecer em suas diferenças sem, entretanto,

negar-se ao outro.

Desta forma, como estratégia de reconhecimento de si, torna-se importante o

conhecimento e a preservação dos vestígios materiais e imateriais das diferentes

culturas responsáveis pela crioulização da população de Garopaba, Imbituba e Imaruí, e

este conhecimento passa também pelos sítios arqueológicos, cuja narrativa possível a

partir dos vestígios materiais permite um conhecimento das diferentes formas de

ocupação regional e das respostas e soluções de adaptação do ser humano às condições

locais segundo suas necessidades de sobrevivência (DE BLASIS e GASPAR,

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2008/2009). Neste sentido, pensamos aqui o turismo arqueológico na região como

estratégia de renda e trabalho, mas também de preservação destes vestígios materiais.

3.3 População, renda e perspectivas de desenvolvimento.

Ao defendermos a possibilidade de pensarmos o turismo arqueológico também

enquanto estratégia de renda para os municípios de Garopaba, Imbituba e Imaruí, isto

não significa obviamente conceber esta modalidade de turismo como solução para os

problemas de trabalho e renda de uma população. Por este motivo o uso do termo

“estratégia de renda”, que nos parece mais adequando e indica uma ideia de

complementaridade.

Bastos (2005), Pardi (2007), Guimarães (2012a), entre outros, lembram que o

turismo em sítios arqueológicos não pode ser concebido apenas sob o aspecto

economicista. Entretanto, são inegáveis as potencialidades do turismo como promotor

de trabalho e renda, em complementaridade às demais atividades econômicas da região,

conforme discutidos por Alfonso (2009) e Guimarães (2012a).

Ao observarmos os dados publicados pelo Censo de 2010 do IBGE e as

estimativas para 2015 referentes aos aspectos populacionais dos três municípios aqui

discutidos, é possível perceber duas dimensões importantes: a primeira diz respeito à

dinâmica de crescimento populacional, e a segunda à quantidade de pessoas ocupadas

(Quadro 2).

Município Habitantes População Ocupada

(2015) 1991 2010 20155

Garopaba 9918 18138 21061 5682

Imaruí 15431 11672 10933 1433

Imbituba 30942 40170 43168 10172

Quadro 2: Aspectos populacionais

Fonte: IBGE, 20166.

Em termos absolutos, houve crescimento populacional em Garopaba e Imbituba

no período compreendido entre 1991 e 2010, e decréscimo populacional em Imaruí. Em

Garopaba a população praticamente dobrou no período de 19 anos, passando de 9918

5 Estimativa.

6 Fonte: <www.ibge.gov.br>. Acesso em 18/02/2016.

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habitantes para 18138 habitantes e estimando 21061 habitantes em 2015. No mesmo

período, em Imbituba, o número de habitantes cresceu praticamente 1/3. A observação

do crescimento populacional é importante na medida em que pode significar uma

pressão sobre o patrimônio arqueológico remanescente, especialmente pelo mercado

imobiliário e pelo desenvolvimento das atividades extrativistas, como no caso das

Dunas da Ribanceira, em Imbituba, exploradas por uma mineradora que atua na

extração de areia e expõe à destruição possíveis sítios arqueológicos7, conforme

denúncia da historiadora Elizabeth Kieling8.

A outra dimensão importante diz respeito à população ocupada. O número de

habitantes com ocupação formal nos três municípios é baixa, representando, no caso de

Imaruí, algo em torno de apenas 10% do total da população residente no município. A

sazonalidade do turismo de verão (Garopaba e Imbituba) e o período de defeso nas

atividades pesqueiras são algumas das características econômicas dos municípios que

podem explicar a grande quantidade de habitantes sem ocupação ou atuando na

informalidade.

Ao observarmos alguns indicadores econômicos locais (Quadro 3), como o Índice

de Desenvolvimento Humano por Município (IDHM), é possível constatar que os três

municípios apresentam IDHM abaixo da média catarinense. O mesmo ocorre quando

comparadas as medianas da renda per capita por domicílio de cada um dos municípios

com a mediana do estado de Santa Catarina.

7 O relatório de vistoria do IPHAN – Escritório Técnico de Laguna, nº 03/2014, realizado a partir de

vistoria nas Dunas da Ribanceira em 28/01/2014, inclui ventre suas considerações técnicas a seguinte

conclusão: “Trata-se de uma área de dunas móveis, sendo que a constante movimentação destes grandes

bancos de arenosos demonstram o dinamismo de tal ambiente. Fato este, juntamente com os resultados

positivos obtidos na vistoria, ressaltam as características geomorfológicas da área, sendo que artefatos

arqueológicos aparecem todos os dias e todos os dias são novamente recobertos pela areia. (...) Em razão

dos vestígios encontrados no caminhamento, pode-se afirmar que a área vistoriada possui altíssima

probabilidade de ter sido antigamente ocupada por grupos humanos. A geomorfologia do terreno – áreas

elevadas, proximidade ao mar e às lagoas (fontes de água), remete às características de ocupação de

Grupos Guarani”. Em 24/09/2015 participamos de diligência conjunta IPHAN – IF-SC nas dunas da

Ribanceira, onde encontramos vestígios de cerâmica Guarani. 8 Há um movimento no município de Imbituba que combate a destruição das Dunas da Ribanceira

chamado SOS Dunas da Ribanceira. O grupo mantém intensa atividade e está publicando uma série de

documentos a respeito do tema nas redes sociais. Dentre estes documentos encontramos no Youtube o

depoimento da historiadora Elizabeth Kieling, gravado em vídeo sob o título “SOS Dunas da Ribanceira:

Elizabeth Kieling (1ª Parte) Vestígios Arqueológicos nas Dunas da Ribanceira”, e publicado em 14 de

outubro de 2013 no canal de Eduardo Rosa. No depoimento, a historiadora apresenta uma série de

artefatos líticos e cerâmicos colhidos em superfície nas dunas da Ribanceira. A historiadora atenta para o

fato de que além do impacto ambiental e paisagístico, a remoção das dunas pela atividade da mineração

destrói possíveis sítios arqueológicos não estudados. O vídeo está disponível no endereço eletrônico

https://www.youtube.com/watch?v=gH1IrqamJKE , acessado em 08 de junho de 2014.

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Município IDHM (2010)

Renda per capita mensal por domicílio

– R$ (mediana)

Área rural Área urbana

Garopaba 0,753 510,00 610,00

Imaruí 0,667 433,33 510,00

Imbituba 0,765 - 593,33

Santa Catarina 0,774 510,00 722,23

Quadro 3: Aspectos socioeconômicos

Fonte: IBGE, 20169.

O desenvolvimento de baixo para cima (MIELKE e GANDARA, 2009) observa

as demandas locais. Se considerarmos os três municípios pesquisados neste trabalho,

cabe perguntarmos a respeito das suas demandas locais naquilo que diz respeito ao

desenvolvimento econômico e sustentável. Em Garopaba, a dependência econômica ao

turismo sol e mar em uma região subtropical, com invernos relativamente extensos e

rigorosos. Esta dependência acarreta, por exemplo, na sazonalidade laboral e em curtos

períodos daquilo que se convencionou chamar de “alta temporada” (dezembro a março),

quando a cidade experimenta um turismo de massa, com todas as implicações positivas

e negativas que este tipo de turismo representa. Há, portanto, uma demanda por

atividades que signifiquem estabilidade de renda sem, contudo, descaracterizar de modo

predatório a paisagem local.

Em Imbituba, a demanda por atividades que signifiquem crescimento econômico

não podem vir dissociadas da perspectiva do desenvolvimento sustentável. O município

é um exemplo clássico de cidade que, historicamente, buscou promover seu

desenvolvimento a partir das perspectivas externas e de um discurso de modernidade,

ou seja, naquilo que Mielke e Gandara compreendem como sendo um modelo de

desenvolvimento de cima para baixo e que tem como características: “desenvolvimento

baseado na concentração de grandes indústrias em grandes cidades”, “enfoque setorial

nacional”, “crescimento quantitativo”, “subvenções diretas ao investimento”,

“mobilidade de capital e trabalho” e “propostas desde os âmbitos estatais” (2009, p. 86).

Este modelo de desenvolvimento, ao qual se filiou Imbituba, gerou enormes passivos

sociais, ambientais e econômicos, conforme demonstraram Souza (2007), Goularti Filho

(2010 e 2013) e Mombelli (2013). Modelo este atualmente questionado por

representantes comunitários, como no caso da comunidade tradicional dos Areais da

Ribanceira, discutido por Mombelli (2013), e na proposição de alternativas de

desenvolvimento endógenas, como o turismo de esportes aquáticos na Praia do Rosa, os

9 Fonte: <www.ibge.gov.br>. Acesso em 18/02/2016.

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debates da Agenda 21 na comunidade da Lagoa da Ibiraquera e da implantação de uma

Reserva Extrativista de Pesca Artesanal na mesma lagoa, onde se discute as

possibilidades do turismo comunitário de base local a partir de uma perspectiva

socioeconômica, conforme descrito por Sampaio (2005).

No município de Imaruí, a demanda passa pela necessidade de se reverter o êxodo

populacional. Neste sentido, o município apresenta um problema oposto ao de

Garopaba. Se nesta constata-se verdadeira explosão demográfica que mais que dobrou a

população nas últimas três décadas, em Imaruí ocorre uma atrofia demográfica,

promovida principalmente pela emigração. Daí a necessidade de um debate a respeito

do patrimônio cultural da cidade, interferindo positivamente para o desenvolvimento da

cidadania cultural e o consecutivo fortalecimento da identidade local como estratégia de

fortalecimento do sujeito ao território.

Os dados aqui apresentados demonstram fragilidades sociais e econômicas na

região, principalmente relacionadas à questão do trabalho e da renda.

3.4 A ocupação pré-colonial da região.

Não há consenso entre os arqueólogos a respeito da presença humana no

continente americano e, por consequência, no Brasil. A profissionalização tardia da

Arqueologia no Brasil, a submersão e destruição de grande parte dos vestígios

arqueológicos e a primazia do discurso arqueológico produzido a partir da Europa e dos

Estados Unidos (representado especialmente pelo reconhecimento da Cultura Clóvis

como a mais antiga das Américas, interpretação que prevaleceu soberana até a década

de 1970), dificultaram a datação e a construção de teorias que atestassem a antiguidade

da ocupação humana em território brasileiro reconhecidas pela comunidade científica

internacional.

No território que nos propusemos estudar tampouco há precisão quanto à chegada

das primeiras culturas humanas. Em Garopaba é comum ouvirmos de condutores

ambientais e aficionados pelos vestígios arqueológicos de que a presença humana

remota há pelo menos 8 mil anos10

, e uma placa não oficial afixada junto ao Sambaqui

10

Luiz Fernando Alves Bintencourt, em entrevista concedida ao autor em 21/12/2015, defende a

necessidade de estudos que auxiliem na compreensão dos vestígios arqueológicos existentes em Garopaba

e Imbituba, e fala de uma ocupação humana de pelo menos 8 mil anos: “Então a existência destes povos

aqui já prova que é um lugar especial. E nós também fazemos parte desta história toda há pelo menos 8

mil anos.”

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popularmente conhecido como “Morro do Índio”11

, na Praia da Ferrugem, atribuía a este

a datação de “+ de 7000 anos”. Existe um senso comum que entende que quanto mais

antigo, maior o valor de um vestígio, e esta ideia tem impactos na construção e

divulgação dos atrativos do turismo arqueológico.

Segundo Prous (1997), o debate a respeito da ocupação humana da América é

antigo. Desde os estudos de Hrdlicka, que no início do século XX estimou em 6 mil

anos A.P. a presença humana em solo americano, e as análises radiocarbônicas das

pedras lascadas da Cultura Clóvis encontradas nos Estados Unidos na metade do século

passado, que atribuíram aos artefatos a datação de 11 mil anos, permaneceu uma espécie

de acordo, principalmente entre a arqueologia estadunidense, de que o ser humano teria

emigrado da Ásia para a América pela Beríngia e que sua presença remontaria aos

11.500 anos. Segundo Prous, “as dificuldades para se verificar uma presença humana no

Pleistoceno (...) são de ordem climática, metodológica e até psicológica” (PROUS,

1997, p. 10).

Prous (1997) não nega a probabilidade de que a presença humana em continente

americano seja mais antiga. Reconhece que 11.500 anos é a datação mínima, mas

argumenta que as movimentações do solo promovidas pela glaciação, e as intensas

chuvas que caracterizaram a transição do pleistoceno para o holoceno na região tropical,

destruíram ou submergiram os vestígios desta presença. Sob o aspecto arqueológico,

propõe que os primeiros imigrantes constituíram grupos esparsos, o que gera grandes

dificuldades para que se encontrem sítios pleistocênicos, assim como provavelmente a

matéria-prima dos utensílios fabricados e/ou utilizados por estes grupo era orgânica e

por este motivo dificilmente se preserva nas regiões quentes e em solos muito ácidos. Já

artefatos de pedra, que são os comumente encontrados em sítios pleistocênicos, podem

ser confundidos como ferramentas produzidas por e/ou de uso humano, mesmo quando

resultantes do intemperismo, de acidentes ou da intervenção de animais não humanos.

São estes os “ecofatos” (PROUS, 1997, p. 12), nos quais se incluem ainda matérias

orgânicas mineralizadas resultante de processos ambientais e muitas vezes confundidos

com fogueiras produzidas pela ação humana e a disposição de rochas organizadas

involuntariamente pelo próprio arqueólogo. Finalmente, como aspecto psicológico,

Prous afirma que a publicação de estudos afirmando a antiguidade da presença humana

11

No CNSA/IPHAN o sítio é denominado de “Capão de Garopaba”. Também segundo Bintencourt na

entrevista citada na nota anterior, foi a própria comunidade do Capão (Garopaba) que afixou a placa no

“Morro do Índio”.

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na América do Sul carentes de rigor científico, criou desconfiança em grande parte da

comunidade arqueológica estadunidense em relação às pesquisas arqueológicas sul-

americanas. Esta desconfiança não é compartilhada pela comunidade arqueológica

europeia. Entretanto, a arqueologia na Europa conta com datações muito mais antigas.

Este fato, associado ao eurocentrismo, faz com que os arqueólogos europeus participem

pouco dos debates e das pesquisas relacionados aos sítios arqueológicos da América do

Sul.

Com o objetivo de problematizar as descobertas arqueológicas brasileiras, e

apresentar uma perspectiva crítica às datações pré-Clóvis em território brasileiro, Prous

apresenta uma série de contra-argumentos aos estudos publicados até aquele momento.

O primeiro é o de M. Beltrão, que a partir de seixos de quartzo encontrados em Itaboraí

(RJ) e de fósseis descobertos em Central (BA) apresentou a hipótese de presença

humana pré-sapiens no Brasil, com datações superiores aos 100 mil anos AP. Prous

afirma que todos os vestígios encontrados por Beltrão podem ter sido produzidos por

ação não antrópica. Aborda também o sítio Boqueira da Pedra Furada, em São

Raimundo Nonato (PI), originalmente escavando por Niéde Guidon, e onde está

localizada a mais completa experiência de turismo arqueológico brasileiro. Em Pedra

Furada foram encontrados seixos e carvão datados em 50 mil anos. Segundo Prous, os

seixos de rocha local apresentam um lascamento que carece de método, podendo ter

sido produzido pelas quedas decorrentes de enxurradas ou pela manipulação de

macacos. Cita inclusive as pesquisas realizadas por Parenti, que também escavou o sítio

e concluiu que os seixos podem ter sido produzidos pela ação da natureza. Do mesmo

modo, Prous questiona as fogueiras, argumentando que não há como comprovar que

foram produzidas por ação antrópica, assim como não há consenso em relação às

datações das pinturas rupestres. Entretanto, ao abordar estudos desenvolvidos em outras

regiões brasileiras, reconhece que há datações incontestáveis de 10 mil a 11 mil anos em

Lagoa Santa (MG) e de 10.120 anos em Santa Eliana (MT).

Apenas a partir do período situado entre 11.000 e 12.000 anos atrás, a

presença do homem está bem documentada no Brasil e

particularmente em sítios de Minas Gerais (Lapa do Boquete – perto

de Januária – e do Dragão – perto de Montalvânia, escavados pelo

autor) e num abrigo do estado do Amazonas (Lapa do Sol, escavado

por A. Roosevelt). Entre 9.000 e 10.000 anos, os achados

convincentes tornam-se mais numerosos em todo o Brasil nordestino

(Piauí, Pernambuco, Bahia), central (Goiás, Minas Gerais, Mato

Grosso) e meridional (Rio Grande do Sul), o que deve traduzir uma

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densidade de população já razoavelmente grande. (PROUS, 1997, p.

17-18).

Niède Guidon (1997) contestou os argumentos apresentados por Prous (1997),

referentes aos estudos em Pedra Furada, e apresentou uma série de falhas na

metodologia de análise deste arqueólogo, dando a entender que as motivações para as

críticas contidas no artigo teriam motivação ideológica e não científica. Neste sentido

escreveu:

Tudo que vi e analisei levam-me a declarar, com segurança e

tranquilidade (com a certeza de que descobertas confirmarão nossos

resultados) que foi mesmo o homem que entre, 60.000 ou 50.000

anos, começou a frequentar a Pedra Furada, deixando ali os vestígios

de suas ferramentas. (GUIDON, 1997, p. 225).

O debate travado entre Prous e Guidon em torno do tempo da presença humana

em território brasileiro tornou-se emblemático para a arqueologia nacional,

principalmente por representar duas perspectivas completamente distintas: a de Prous,

conservadora; a de Guidon, extremamente ousada e contestada.

Na década de 1990, entretanto, Walter Neves apresentou uma nova possibilidade

de leitura da ocupação humana na América. Neves estudou o crânio de Luzia, o

esqueleto humano mais antigo encontrado em solo brasileiro, com datação de 11.000 a

11.500 anos, e defende um modelo de ocupação humana para a América que chamou de

“modelo de dois componentes biológicos principais” (NEVES e HUBBE, 2003).

Através deste modelo defende a tese de que a América teria sido colonizada a partir de

duas correntes migratórias principais, ambas passando pelo Estreito de Bering, sendo a

primeira composta por elementos de morfologia australiana e africana e a segunda por

elementos asiáticos. Considerando as datações existentes para sítios do litoral do Chile,

reconhecidas pela comunidade científica internacional, o primeiro processo migratório

teria acontecido há aproximadamente 14 mil anos e, diferentemente das teorias

tradicionais, não se deu por terra, mas pela navegação de cabotagem pela costa do

Pacífico, e a interiorização no sentido oeste – leste. (NEVES e HUBBE, 2003).

Apesar de defender a validade do seu modelo para a ocupação humana na

América, Neves não rejeita as interpretações de Guidon. Em entrevista afirmou, após

visitar a coleção de objetos líticos de Pedra Furada: “saí 99,9% convencido do fato de

que houve ali uma ocupação humana com mais de 30 mil anos. Mas tenho esse 0,1% de

dúvida, que é muito significativo” (NEVES, 2012, p. 31). Neves reconhece também a

necessidade de se rever todas as teorias existentes a respeito da presença humana no

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continente americano se confirmadas as teorias de Guidón, inclusive a sua, mas que por

prudência científica e pela falta de estudos e maiores evidências, mantém sua “dúvida”

enquanto elemento significativo.

Não foram poucas as tentativas, nas últimas quatro décadas, de tentar

assegurar que o homem já estava no Novo Mundo desde idades muito

remotas, como 35, 150 ou até mesmo 300 mil anos (Modelo pré-

Clovis). E, para o constrangimento dos cientistas sul-americanos – que

tentavam, a duras penas, demonstrar que o homem já estava ao sul do

equador pelo menos contemporaneamente à cultura Clovis –, essa

pirotecnia de datas antigas foi convenientemente explorada pela

comunidade norte-americana para desqualificar toda e qualquer

informação que pudesse questionar a primazia temporal de Clovis.

(NEVES e HUBBE, 2003, p. 25).

Noelli (1999/2000) defende a possibilidade de ocupações humanas no Sul do

Brasil anteriores aos 12 mil anos, porém considera pequena a probabilidade de se

encontrar vestígios materiais de populações ainda não conhecidas. Indica que as

tradições12

que ocuparam a região Sul foram longevas, apresentando pequena

variabilidade em suas culturas materiais. Sustenta ainda que houve três levas de

ocupações humanas na região Sul. A primeira teria iniciado entre 13 e 12 mil anos AP,

pré-ceramista e correspondendo às tradições umbu e humaitá, que se mantiveram

estáveis sob os aspectos da vida material e mantendo as características de coletores-

caçadores. Teriam perdurado até 2500 anos AP, não sendo possível definir suas origens.

Já as duas levas posteriores correspondem aos povos ceramistas, especificamente os

Grupos Jê e Guarani, introdutores da agricultura e do pastoreio. Noelli alerta que as

pesquisas arqueológicas no Sul do Brasil seguiram até a década de 1990 um padrão

esquemático e cheio de lacunas que praticamente desconsiderou as populações

indígenas e as pesquisas desenvolvidas por outras ciências.

Ao invés de verificar as evidentes relações entre os povos indígenas e

os registros arqueológicos, os pesquisadores optaram por criar um

ambiente totalmente estanque e artificial, construindo a história e a

cultura dessas populações a partir de seus próprios pressupostos,

12

A categoria “Tradição” é resultado da influência da escola arqueológica estadunidense, o mesmo

acontecendo com a categoria “Fase” . “O uso de tais categorias, ainda um tanto ambíguas quanto ao tipo

de unidades socioculturais que designam, marcou definitivamente a arqueologia brasileira. Apesar de

muitos arqueólogos questionarem o seu uso, a maior parte dos resultados de pesquisas em nível regional

foi e continua sendo organizada em ‘fases’ e ‘tradições’ arqueológicas.” (BARRETO, 1999/2000, p. 45).

Segundo o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas, por Fase compreende-se “qualquer complexo

de cerâmica, lítico, padrões de habitação, relacionado no tempo e no espaço, em um ou mais sítios”; e por

Tradição um “grupo de elementos ou técnicas que se distribuem com persistência temporal”.

(PRONAPA, 1976, Apud ARAÚJO, 2007, p. 10).

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invariavelmente ignorando fontes históricas e etnográficas. (NOELLI,

1999/2000, p. 223).

Especificamente em relação ao litoral centro-sul de Santa Catarina, o estudo

realizado por De Blasis et al. (2007), revisado por GIANNINI et al (2010), nos

sambaquis da região de Tubarão, Laguna e Jaguaruna a partir das datações de conchas,

carvão e ossos humanos, atesta a presença humana na região há pelo menos 7500 anos

AP.

Na fase 1, entre 7500 e 5500 anos AP, os sambaquis, ainda em

pequeno número, limitavam-se quase que exclusivamente às

encostas da serra, que então margeavam ampla baía semiaberta

ou em começo de fechamento pela barreira transgressiva. Esta

fase inicial de ocupação caracteriza-se pela presença de sítios de

composição conchífera. (GIANNINI, et al., 2010, p. 124).

Os sambaquis de Garopaba, Imbituba e Imaruí não foram objeto dos estudos

citados acima, entretanto, estão inseridos no contexto do complexo lagunar onde se

inserem também Laguna, Tubarão e Jaguaruna, território analisado por De Blasis et. al.

(2007) e Giannini et. al. (2010). Este território litorâneo passou por grandes alterações

climáticas e físicas, especialmente nos últimos 5 mil anos, quando houve a redução do

nível relativo do mar (NRM) e a expansão das florestas tropicais após o “optimum

climático” que, segundo De Blasis et. al. (2007), teria acontecido há 5 mil anos AP.

“Antes de 4000 anos AP o NRM esteve mais de 2 metros acima do atual e, com uma

tendência de rebaixamento gradual e paulatino, alcançou os 2 metros por volta de 3700

AP” (DE BLASIS, et. al., 2007, p. 43).

Considerada a proximidade geográfica dos sítios arqueológicos de Garopaba,

Imbituba e Imaruí com os sítios de Laguna, Tubarão e Jaguaruna, optamos por

compreendê-los a partir do contexto assinalado por De Blasis et. al. e Giannini et. al.

Ainda que não seja possível afirmar uma datação para este vestígios, é plausível

reconhecer que as populações pré-coloniais de Garopaba, Imbituba e Imaruí e seus

vestígios resultam de uma ocupação humana que remonta aos 7.500 anos AP.

A região de Garopaba, Imbituba e Imaruí é resultado de múltiplas ocupações

identitárias, desde os tempos pré-coloniais. Sociedades caçadoras-coletoras como os

diversos grupos sambaquieiros, e, mais recentemente (1500 anos A.P), povos ceramistas

Itararé e Carijó, habitaram em diferentes tempos a região, possivelmente estabelecendo

relações interculturais de intercâmbios e conflitos. Como resultado destas ocupações,

permanecem nesta região uma grande quantidade de vestígios arqueológicos, a saber:

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sambaquis, inscrições rupestres (petroglifos)13

, supostos marcos astronômicos14

, sítios

ceramistas, oficinas líticas e nominações topográficas.

Prous (1992), ao tratar dos sítios rupestres da “tradição litorânea catarinense”,

encontrados em uma área litorânea específica que envolve a Ilha de Santa Catarina e

municípios adjacentes, estendendo-se ao Sul até Garopaba, afirma que estes sítios

possuem um caráter único. Segundo o arqueólogo, “esta tradição, muito bem

circunscrita, não pode ser comparada com nenhum outro conjunto rupestre conhecido

atualmente; trata-se certamente de uma criação local” (PROUS, 1992, p. 513). A

constatação de Prous reforça a importância dos estudos destas inscrições rupestres,

cujos autores e significados permanecem ainda indeterminados15

, bem como seu

potencial de atrativo para o turismo arqueológico na região. No caso específico de

Garopaba, as inscrições são encontradas na Ilha do Coral (incluída nos limites do

município de Paulo Lopes), situada em alto mar entre a Praia da Pinheira (ao Norte) e

Garopaba (ao Sul) que possui dois sítios. Em um deles existe um painel com 183 cm de

altura e 220 cm de comprimento com 55 sinalizações. No outro, explodido antes da

década de 1960, ainda restam 26 sinalizações localizadas na face da rocha antes da área

explodida e mais 3 na face após a área explodida (Lucas, 1996). Além da Ilha do Coral

há, na área continental de Garopaba, as inscrições da Pedra do Galeão, próxima à Praia

da Silveira, cujo local é acessível exclusivamente a pé e por trilha bastante acidentada. A

Pedra do Galeão apresenta inscrições rupestres já bastante danificadas pelo

intemperismo. Entretanto, o local constitui-se enquanto um conjunto arqueológico-

paisagístico sui generis na região, com uma morfologia particular e com vista para o

Oceano Atlântico. A respeito dos sítios com inscrições rupestres existentes no litoral

catarinense, afirma Comerlato:

13

“Em relação à técnica empregada na confecção. chamam-se PETROGLIFOS, quando gravadas na

rocha e PICTOGLIFOS quando desenhadas.” (ROHR, 1984, p. 86). 14

Conforme discutiremos no capítulo seguinte, a influência de Keler Lucas em Garopaba contribuiu para

que pessoas da comunidade reconheçam na paisagem local supostos marcos astronômicos. Não é objetivo

deste trabalho discutir a autenticidade destes “marcos”. Entretanto, entendemos que o reconhecimento de

marcos astronômicos na região necessita de maiores estudos antes de servir à interpretação cultural que

subsidie o turismo arqueológico. Respaldamo-nos, neste sentido, na crítica de Comerlato (2005) a

respeito do arqueoturismo de apelo místico promovido pela Prefeitura de Florianópolis no Parque

Arqueoastronômico da Barra da Lagoa. 15

Segundo Rohr, “Na Ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes, há grande número de petroglifos de

motivos geométricos e naturalísticos, possivelmente, de origem tupi-guarani (carijó).” (ROHR, 1984, p.

86). Entretanto, não há consenso entre os arqueólogos a respeito da autoria das inscrições rupestres.

Gaspar (2000), por exemplo, aventa a possibilidade, dada a proximidade dos sítios com inscrições

rupestres aos sambaquis, de que seus autores possam ser os sambaquieiros.

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A maioria dos sítios do litoral central catarinense está em ilhas, na

costa rochosa (costões) que serve de suporte às gravuras isoladas ou

agrupadas em conjuntos gráficos, painéis e dispositivos parietais. Os

sítios estão em diques de diabásio, geralmente em falésia composta,

plataforma de abrasão, fenda ou pontal rochoso (...). A temática é a

geométrica, além de representações humanas esquemáticas. A técnica

de confecção predominante é o polimento. A importância deste

conjunto de sítios soma-se a sua excepcionalidade – são os únicos

sítios de representação rupestre até agora identificados em toda costa

brasileira. (COMERLATO, 2005, p. 150-151).

Comerlato (2005) defende a existência de um território rupestre entre Porto Belo e

Garopaba, no qual as inscrições rupestres constituiriam um “código visual de um grupo

cultural específico”. Argumenta também que as inscrições estão incorporadas à

paisagem e seus usos pelas populações pré-coloniais, de modo que esta paisagem

necessita estar protegida e preservada em conjunto com as inscrições e demais vestígios

arqueológicos.

(...) existe uma unidade geográfica gráfica e tipológica que permite

dizer que as representações rupestres estudadas fazem parte de um

mesmo sistema de representação, em que seus executores imprimiram

em cada local uma maneira particular de criar o seu espaço gráfico,

sem perder a regularidade inerente à aplicação de um código visual

comum às populações de pescadores pré-históricos que habitavam o

litoral central catarinense. (...) As gravuras rupestres estão

estreitamente relacionadas com a utilização da paisagem pelas

populações pretéritas. Além da conservação das gravuras, a

preservação dos ecossistemas que integram este patrimônio também

deve ser uma preocupação da arqueologia. (COMERLATO, 2005, p.

157 e 160).

Além destes sítios com inscrições rupestres, diversos sítios de Garopaba e

Imbituba apresentam vestígios de oficinas líticas, conhecidos pela população local como

“panelas dos índios”. As oficinas líticas constituíam um espaço de produção e polimento

de artefatos de pedra pelas populações pré-coloniais e podem ter sido utilizadas por

diferentes populações no transcorrer do tempo. Gaspar (2000) atribui as oficinas líticas

aos sambaquieiros e conjectura que, dada a grande quantidade de sambaquis e o número

reduzido de oficinas, estas possivelmente se restringiam a determinadas áreas.

Geralmente estão localizadas próximo à água já que esta, associada à areia, produzia o

atrito necessário para o polimento das peças.

As oficinas líticas de polimento são sítios localizados em afloramentos

rochosos e matacões, cujas evidências de ação humana são conjuntos

de sulcos (canaletas), depressões circulares (bacias) dentre outros

formatos, resultantes da fricção de rochas móveis durante o processo

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de confecção dos artefatos líticos polidos. (COMERLATO, 2015, p.

185).

Os brunidores rupestres (amoladores e polidores) estão expostos à intensa

presença de turistas, principalmente veranistas, e ao intemperismo. Encontram-se

totalmente desprotegidos, sem qualquer tipo de sinalização e identificação, sujeitos à

depredação, saques e, por não serem reconhecidos pelos visitantes, atualmente não

agregam valor ao turismo regional (COMERLATO, 2015). No capítulo seguinte

apresentaremos a valoração arqueológica de algum destes sítios e discutiremos esta

questão.

O tipo de sítio arqueológico mais comum na região, entretanto, é o sambaqui16

.

Apesar de ser um dos tipos de sítios arqueológicos mais estudados no Brasil, ainda são

pouco compreendidos pela comunidade científica (DE BLASIS e GASPAR,

2008/2009). Alguns dos maiores sambaquis do continente americano localizam-se no

litoral sul catarinense, boa parte deles, entretanto, destruídos ou bastante danificados

pela atividade extrativista, construção civil ou pela ocupação urbana. Conhecidos pelas

populações locais como montanhas de conchas, concheiros ou cemitério de índios, os

sambaquis foram construídos por uma cultura particular, identificada como

sambaquieira pela arqueologia. Esta cultura possuía uma organização social complexa e

sua população encontrou a extinção por volta de 1000 anos AP. Não há informações a

respeito da origem dos sambaquieiros (GASPAR, 2000; DE BLASIS e GASPAR,

2008/2009) e seu desaparecimento por volta de 1000 anos AP ainda é pouco estudado

(DE BLASIS e GASPAR, 2008/2009). Segundo De Blasis et. al. (2007), os

sambaquieiros possivelmente não foram autóctones, dada a grande organização social

que possuíam nas ocupações mais antigas. Constituíram uma sociedade de economia

predominantemente pesqueira e possivelmente chegaram a desenvolver uma proto-

agricultura (GASPAR, 2000; DE BLASIS e GASPAR, 2008/2009; DE BLASIS et. al.,

2007).

As pesquisas no litoral sul catarinense mostram que a tradição

sambaquieira representa um padrão cultural persistente, de longa

duração, com grande estabilidade econômica e política, que conheceu

notável expansão demográfica e complexificação social a partir de

cerca de cinco mil ou seis mil anos atrás. (DE BLASIS e GASPAR,

2008/2009, p. 107).

16

Sambaqui deriva do tupi, tamba (conchas) e ki (amontoado): tambaki – sambaqui, amontoado de

conchas.

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Segundo De Blasis et. al. (2007), os sambaquis tinha um significado simbólico

para seus construtores e uma função especialmente funerária, e não necessariamente

foram utilizados como acampamentos ou espaços de atividade cotidiana, conforme

tradicionalmente defendido. Gaspar (2000, p. 10) considera o sambaqui como

“resultado de ordenado trabalho social que tinha por objetivo, entre outras coisas,

construir um imponente marco paisagístico”, perspectiva também compartilhada por De

Blasis et. al. (2007) que relaciona os sambaquis à identidade social dos seus

construtores.

(...) os sambaquis representariam verdadeiras manchas territoriais

associados a grupos específicos (...) cuja expressividade demográfica

e/ou política seria suficiente para justificar a construção de um mesmo

conjunto de sambaquis por várias gerações. Neste sentido, a ideia de

visibilidade (...) pode adquirir um sentido adicional: do alto de um

sambaqui de maiores proporções seria possível controlar praticamente

todo o território a ele afeto, dominar as áreas de pesca (ou produção)

gerenciados exclusivamente (ou principalmente) pelo grupo por ele

representado. (DE BLASIS et. al., 2007, p. 53).

É importante ressaltar que as conclusões de De Blasis et. al. (2007) referem-se aos

sítios estudados na região de Laguna, conforme dito anteriormente, de modo que o

sambaqui enquanto estrutura predominantemente funerária não é exclusivo. Gaspar

(2000) comparou os resultados de estudos em diferentes sambaquis do Rio de Janeiro e

do sul de Santa Catarina concluindo que “no Rio de Janeiro há uma associação entre o

espaço de moradia e o local de sepultamento, enquanto em Santa Catarina parece ter

havido uma especialização de alguns sítios como o locus do ritual funerário” (GASPAR,

2000, p. 65). De Blasis et. al. (2007), considerando a grande diversidade de sambaquis,

também reconhecem a possibilidade de múltiplas funcionalidades para estas estruturas.

A respeito da hipótese de que os sambaquis serviam ainda ao controle e à

observação dos cardumes, em nossa pesquisa de campo constatamos que os pescadores

tradicionais da região do Capão (Garopaba) e da Barra da Lagoa de Ibiraquera

(Imbituba) utilizam os sambaquis também como pontos privilegiados de observação,

construindo sobre eles barracos de vigia.

Ou seja, um sambaqui resulta de uma atividade construtiva consciente do ser

humano, e não apenas como um amontoado de conchas. Sua construção representa o

trabalho de sucessivas gerações que habitaram seu entorno, e seu interior abriga

sepultamentos, instrumentos líticos diversos (dentre os quais os zoolitos, artefatos

esculpidos em pedra que apresentam, na maioria dos casos, zooformas), objetos

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talhados em ossos, artesanato decorativo de uso corporal, além de vestígios diversos da

vida cotidiana de cada grupo sambaquieiro. Em muitos casos, os sambaquis apresentam,

em seus estratos superiores, vestígios da presença de culturas ceramistas mais recentes,

como a dos itararés e dos carijós (povos guaranis dizimados no contato com os

europeus). Há nos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba sítios com vestígios das

culturas Itararé e Guarani.

O primeiro registro dos sambaquis localizados em Garopaba, Imaruí e Imbituba

foi realizado por Rohr (1984), padre jesuíta que durante a segunda metade do século XX

dedicou-se a identificar e escavar uma grande quantidade de sítios arqueológicos do

litoral catarinense. Em seu estudo identificou e descreveu 13 sambaquis no município

de Imaruí, 12 sambaquis e 2 sítios ceramistas guaranis em Imbituba e 1 sambaqui e dois

sítios ceramistas guaranis em Garopaba. Vários destes sítios identificados e descritos

por Rohr (1984) estavam localizados em propriedades particulares, e hoje se encontram

cobertos e/ou destruídos pela ocupação urbana ou por atividades agropecuárias.

Entretanto, é possível inferir a existência de vestígios arqueológicos em toda região,

indicando que a relação de sítios que Rohr (1984) apresentou, representa apenas uma

parte dos sítios efetivamente existentes nos três municípios aqui discutidos. A suspeita

se justifica na grande quantidade de relatos de moradores da região que alegam

encontrar sepultamentos, pontas de flecha (lascadas e polidas), fragmentos de cerâmica

pré-colonial e artefatos líticos diversos quando revolvem a terra com fins agrícolas ou

quando realizam trabalhos de terraplanagem ou escavação do solo para a construção de

edificações. Há também relatos informais que dão conta de acervos particulares de

artefatos pré-coloniais encontrados na região em posse de particulares. Em pesquisa

realizada por Bastos (2007) junto à população de Imbituba, 10% dos entrevistados

afirmaram que possuem ou já possuíram objetos de sambaquis ou de outros sítios

arqueológicos em suas casas. Se confirmadas as informações, estes artefatos poderiam,

após campanha de conscientização da população da importância destes materiais, ser

devolvidos ao patrimônio público, constituir acervo de museus ou centros de memória

locais, servindo estes como locais de pesquisa, de educação patrimonial e visitação

turística.

Segundo Guimarães (2012b), os sambaquis da região Sul são estudados desde o

final da década de 1990 por equipes de arqueólogos oriundos do MAE/USP, MN/UFRJ,

GRUPEP-Arqueologia/UNISUL, Universidade Federal de Tocantins e Universidade do

Arizona. Ainda assim, os registros efetuados por Rohr servem de base para o Cadastro

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Nacional de Sítios Arqueológicos do Sistema de Gerenciamento do Patrimônio

Arqueológico (CNSA/SGPA) mantido pelo IPHAN. Em consulta realizada ao

CNSA/SGPA em outubro de 2015, verificou-se a existência de 07 sítios arqueológicos

registrados em Garopaba, 16 em Imaruí e 26 em Imbituba. No capítulo seguinte

apresentaremos e discutiremos os registros do CNSA/SGPA, que serviram de base à

valoração arqueológica que propomos.

Preliminarmente é possível dizer que parte dos sítios dos municípios de Garopaba,

Imbituba e Imaruí não está devidamente inventariada pelo Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional e está sob o risco de desaparecimento mediante ações do

intemperismo, da gentrificação17

, da ação antrópica e das explorações extrativistas.

Segundo Lucas (1996), em 1975 a prefeitura de Garopaba teria destruído a marretadas

os amoladores do Costão da Casqueira, para aproveitar as pedras no calçamento da

praça central. Muitos foram também os sambaquis destruídos para atender às

necessidades da construção civil, aos interesses da especulação imobiliária e à expansão

agrícola. A respeito do histórico da vandalização dos sítios arqueológicos no litoral

catarinense, especialmente dos sambaquis, escreve Bastos:

(...) utilização de parte desses sítios como corretivo de solo, na

fabricação de cal, na pavimentação de estradas, além de fatores que

contribuiriam para o desaparecimento de muitos deles como o

crescimento demográfico, a especulação imobiliária, a expansão

agrícola e ainda a ação de caçadores de tesouros e vândalos em geral

foram fatores de destruição de muitos sítios. (BASTOS, 2007, p. 17).

O discurso desenvolvimentista, conforme apontado por Funari, Manzato e

Alfonso (2013), e a relação que a população estabelece com o patrimônio, que é incapaz

de reconhecer porque não participou da construção da memória nacional (BUENO,

2011), resultou (e continua resultando) na destruição dos sítios arqueológicos.

Destruição esta muitas vezes financiada pelo próprio Estado, conforme percebido no

relato de Lucas (1996) e até mesmo utilizando o material de sambaquis na

pavimentação de rodovias em Santa Catarina (BASTOS, 2007).

17

“O conceito de gentrificação é um neologismo que provém do vocábulo inglês gentrification, que

poderia significar enobrecimento ou refinamento, dado que gentry quer dizer aristocracia, ou ‘gente fina’.

Aparece traduzido também como ‘elitização’. Também se utiliza como sinônimo de ‘qualificação’, no

sentido de dar qualidade aos espaços.” (BARRETO, 2007, p. 131)

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3.5 As regionalizações dos municípios em questão.

Garopaba, Imaruí e Imbituba integram diferentes regiões que agregam ou separam

estes três municípios segundo as necessidades para as quais a regionalização foi criada.

É sabido que a operação de regionalização é sempre atividade complexa, dadas as

dificuldades de consenso a respeito daquilo que se compreende por região e, conforme

os interesses manifestados “na prática territorial das classes dominantes” (CORRÊA,

1991, p. 47). Esta complexidade da operação de regionalização está manifestada,

inclusive, na própria falta de consenso a respeito do conceito de região na diacronia e

para os diferentes campos de saber.

Ao analisar a produção científica publicada nos Anais da Associação Nacional de

Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano (Anpur) entre 1987 e 2001, Dias e

Santos (2003) mostram a dificuldade de se estabelecer um conceito para região desde o

primeiro Congresso promovido pela entidade em 1986. Também identificam uma série

de sentidos para região, a saber: “região como referência à localização e à extensão de

um certo fenômeno”; entidades espaciais de escala média, localizadas entre o local e o

nacional; unidade administrativa na qual se exerce a hierarquia do Estado; região

enquanto resultado da divisão do espaço segundo variados critérios; e, já na década de

1990, região enquanto espaço identitário.

No âmbito da região enquanto objeto da Geografia, Gomes (1995) discute as

variações deste conceito e suas operacionalidades nos diferentes momentos da história

deste campo de saber. Aponta que as origens do termo remontam à antiga Roma,

quando designava áreas dotadas de administração local, porém subordinadas a um poder

central. Ou seja, a região enquanto espaço subordinado.

A Geografia, cuja organização como saber autônomo coincide com a constituição

dos Estados Nacionais, unidade articuladora de diferentes regiões, tem na região um dos

seus principais conceitos. Entretanto, mesmo com os rigores da ciência, a região

enquanto conceito atravessa variações e indeterminações. Primeiramente herda, na

Geografia, as influências da geologia, onde passa a estar relacionada à ideia de um

espaço natural que determina o desenvolvimento da sociedade. Na década de 1920,

Lucien Fébvre propõe a região enquanto espaço de articulação entre trabalho humano e

meio físico, dando origem à noção de região geográfica ou região paisagem. O método

que passa a ser utilizado pela Geografia para compreender uma região é o descritivo, e

começam a proliferar diversos estudos regionais. Conforme Gomes (1995), para

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Hartshorne, entretanto, a região não se constitui como uma realidade evidente, passível

de descrição a priori, mas produzida pela própria Geografia.

Toda esta discussão que coloca o conceito de região no centro das discussões

geográficas corresponde ao período clássico desta ciência. Ou seja, a região é um

produto da Geografia. A superação do período clássico da Geografia desloca a região de

produto para meio. Regionalizar passa a ser dividir o espaço segundo diferentes

critérios. Surge assim um novo conjunto de regras chamadas de análise regional e dois

tipos de regiões: as homogêneas e as funcionais ou polarizadas. A ideia de região

funcional está relacionada às “múltiplas relações que circulam e dão forma a um espaço

que é internamente diferenciado” (Gomes, 1995, p. 64). Esta percepção de região

relaciona-se a uma valorização da cidade enquanto centro que organiza uma área de

influência (polarizadora). Já a Geografia crítica, de influência marxista, defende a tese

de que o fundamental no processo de produção do espaço é a divisão sócio-espacial do

trabalho, e é a partir desta divisão que a região deve ser compreendida e analisada. Por

fim, a partir da década de 1970, passa a ganhar força a tendência do humanismo na

Geografia, na qual “a região define um código social comum que tem uma base

territorial” (GOMES, 1995, p. 67). Território que, segundo Brandão (2004), também

não é um dado ou lugar pré-fixado, mas construído socialmente, ou seja, “uma produção

coletiva, dinâmica, multidimensional, com trajetória histórica em aberto” (BRANDÃO,

2004, p. 60).

O estudo de Gomes (1995) a respeito da trajetória do conceito de região no âmbito

da Geografia dá a clara compreensão de sua complexidade e operacionalidade.

Nóbrega e Araújo (2015) entendem a região como um parâmetro que possui uma

dimensão concreta e outra dimensão com alto grau de abstração “onde diferentes atores

criam laços econômicos, culturais e políticos a partir de relações geradas por fatores

internos e externos a este espaço, e que deve ter uma abordagem multidisciplinar”

(NÓBREGA e ARAÚJO, 2015, p. 96).

Entendemos que os elementos que definem uma região estão submetidos aos

interesses dos diferentes atores que a circunscrevem, na medida em que uma região

delimita ou posiciona processos de mudança, aproximando a operação de regionalização

às de territorialização, conforme abordado por Brandão (2004) e Abramovay (2010). É

neste sentido que procuramos investigar a possibilidade dos municípios de Garopaba,

Imaruí e Imbituba organizarem-se regionalmente a partir do patrimônio arqueológico

pré-colonial remanescente com vistas à promoção do turismo arqueológico.

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Estes três municípios integram diferentes escalas de regionalização no Estado de

Santa Catarina, definidas segundo interesses diversos. No âmbito do Gerenciamento

Costeiro de Santa Catarina (GERCO), estes municípios estão incluídos no setor 4,

nominado de Litoral Centro Sul, que se estende do município de Paulo Lopes (Norte) ao

município de Jaguaruna (Sul). Este setor “apresenta uma paisagem formada por

planícies costeiras e elevações das Serras do Leste Catarinense. Neste trecho do litoral

está presente o maior complexo lagunar do Estado de Santa Catarina” (SHERER et. al.,

2006, p. 33). Ab’Sáber denominou a região de “Litoral de Laguna”, uma região de

praias, pequenas lagoas, campos de dunas subatuais de grande biodiversidade que

possui “grandes possibilidades para um ecoturismo interno, se bem gerenciado e

conduzido” (AB’SABER, 2006).

Considerando a Divisão Regional do IBGE, os três municípios pertencem à

mesorregião Sul Catarinense e à Microrregião do Vale do Tubarão.

Garopaba, Imaruí e Imbituba integram também diferentes associações municipais.

As associações de municípios são entidades de direito privado e sem fins lucrativos,

surgidas de uma iniciativa de associativismo municipal na década de 1960 estendida

para todo o território catarinense. Estas associações foram criadas para que os

municípios pudessem promover o desenvolvimento econômico por meio da construção

de uma identidade e de um arranjo supramunicipal que busca o fortalecimento político

da região, fazendo surgir uma nova escala de representação social e uma

microrregionalização polarizada (MARQUES e DIAS, 2003).

Este arranjo supramunicipal tem implicações nas relações entre os três municípios

que discutimos neste trabalho. Enquanto Garopaba está localizada no limite sul da

Grande Florianópolis (GRANFPOLIS), Imaruí e Imbituba integram a Associação de

Municípios da Região de Laguna (AMUREL). Esta organização microrregional

polarizada fortalece interlocutores e estabelece prioridades regionais que, em algumas

situações, acaba prejudicando as relações entre municípios próximos, porém

participantes de associações diferentes. É o caso de Garopaba e Imbituba. Apesar da

proximidade territorial entre as duas cidades ser tão visível ao ponto dos visitantes e até

mesmo moradores terem dúvidas quanto ao município a que pertencem algumas

localidades, como a Praia Vermelha, a Praia do Rosa e outros bairros limítrofes, são

comuns entre a população local expressões como “Garopaba e Imbituba estão de costas

uma para outra”. Este “estar de costas”, por exemplo. reflete-se nas dificuldades de

transporte público entre as duas cidades.

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Sob o aspecto do turismo, Santa Catarina está dividida em 10 regiões turísticas. A

regionalização turística de Santa Catarina é resultado do programa de regionalização do

turismo proposto pelo Governo Federal em 2004 e incorporado pela Lei Federal

11771/2008, que tem entre seus princípios a regionalização turística do Brasil.

Atualmente o território brasileiro está dividido em 276 regiões turísticas. O Plano

Nacional de Turismo 2013-2016, ao avaliar a política de regionalização, percebeu a

necessidade de se desconstruir “uma estratégia de fortalecimento e posicionamento do

turismo a partir da organização das regiões com abordagem territorial e institucional

para o desenvolvimento e a integração do turismo no Brasil.” (BRASIL, 2013, p. 56).

Com a finalidade de regionalização do turismo, a partir de 2004, o

Brasil tem direcionado suas políticas públicas de desenvolvimento

turístico, através do Programa de Regionalização do Turismo –

Roteiros do Brasil, com um planejamento sistematizado e

participativo, a fim de coordenar o processo de desenvolvimento

turístico de forma regionalizada. Atualmente, o programa foi

incorporado na versão do PNT 2007/2010, como Macro-programa de

Regionalização do Turismo, cuja proposta é balizada pela

segmentação – da oferta e da demanda – como uma estratégia de

organização do turismo para fins de planejamento e gestão, tendo em

vista a concepção de produtos, roteiros e destinos que reflitam as

características de peculiaridade e especificidade de cada região.

(DREHER e SALINI, 2008, p. 8)

Os municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba integram uma mesma região

turística, denominada Encantos do Sul, que se estende de Paulo Lopes (Norte) a

Forquilhinha (Sul), abrangendo 30 municípios (Figura 2). No sítio oficial da Santur na

internet a Encantos do Sul é apresentada como uma região que possui diversidade

étnica, atrativos naturais e estâncias termais, com um discurso especialmente

direcionado para o segmento do ecoturismo. Entretanto, ao observarmos a descrição da

região realizada pela SANTUR (2016), como uma região onde “é possível encontrar um

pouco de tudo”, percebe-se a carência de uma identidade turística, o que supõe a

fragilidade do arranjo turístico regional instituído.

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Figura 2: Região Turística Encantos do Sul

Fonte: <http://www.santacatarinaturismo.com.br/>

Na região turística catarinense conhecida como Encantos do Sul, você

vai encontrar um pouco de tudo. Quem gosta de visitar cidades

históricas vai se encantar com Laguna, a terra de Anita Garibaldi. Já

Imbituba, Garopaba e Jaguaruna são ótimos destinos para os adeptos

do ecoturismo e dos esportes de aventura, com algumas das mais belas

praias e lagoas do Sul do Brasil. Essa faixa litorânea também é o

principal berçário das baleias-francas no inverno, outra atração

ecoturística da região. No interior, os destaques vão das estâncias

termais de Tubarão e Gravatal aos municípios onde a cultura italiana e

alemã são predominantes, como é o caso de Urussanga, Nova Veneza,

Orleans, São Martinho, Santa Rosa de Lima, Forquilhinha e as duas

maiores cidades sul-catarinenses: Tubarão e Criciúma. (SANTUR,

201618

).

Como o litoral sul de Santa Catarina é berçário da baleia franca, a presença deste

mamífero justificou a criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA), que também

propõe um ordenamento regional. A APA da Baleia Franca, instituída através de

Decreto assinado pela Presidência da República em 14 de setembro de 2000, abrange

uma área de 156 mil hectares do litoral centro-sul de Santa Catarina, com uma extensão

de 130 quilômetros e envolvendo 9 municípios (do sul de Florianópolis a Balneário

Rincão), dentre os quais estão incluídos Garopaba e Imbituba (o município de Imaruí

18

Disponível no endereço <http://turismo.sc.gov.br/destinos/encantos-do-sul/>. Acesso em 31/01/2016.

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não integra a área da APA). Desta área, 80% é marinha e 20% costeira. Sua gestão está

sob responsabilidade do ICMBio, e conta com um Conselho Gestor (CONAPA) que

congrega os diferentes atores do território. O propósito principal da APA é a

preservação da Eubalaena australis, que utiliza esta faixa do litoral brasileiro para a sua

reprodução. Dentre o corpo de objetivos que buscam garantir a sustentabilidade do

território está o de ordenar o uso turístico e recreativo da região, a ser contemplado no

Plano de Manejo, cuja elaboração está na fase da caracterização e diagnóstico

(ICMBIO, 2015).

3.6 O turismo na região.

Conforme Alvim (2014), por influência dos ricos imigrantes ingleses e alemães,

desenvolveu-se no litoral brasileiro o discurso da vilegiatura marítima, relacionado ao

modo de vida urbano que passou a conferir “novos sentidos às paisagens marítimas e o

surgimento de novos comportamentos entre as elites de cidades litorâneas, na medida

em que estas se transformavam em espaços de lazer e entretenimento” (ALVIM, 2014,

p. 219). A vilegiatura marítima apresenta o litoral enquanto espaço de deleite.

Nas primeiras décadas do século XX, enquanto Garopaba subsistia como uma

pequena vila de pescadores e agricultores, Imbituba ingressava na modernidade e

começou a figurar como balneário de passagem para os passageiros da Companhia

Nacional de Navegação Costeira de Henrique Lage. Para efeito de comparação, o

primeiro hotel de Imbituba é inaugurado em 1920, enquanto Garopaba inaugura seu

primeiro hotel apenas em 1964. Imaruí, por sua vez, manteve-se interiorizado, com sua

população dedicando-se às atividades pesqueiras e agrícolas.

Em fins da década de 1960 obras estruturantes, como a construção da rodovia BR-

101 e a instalação de energia elétrica, impulsionaram a urbanização da região e

facilitaram o acesso de visitantes e turistas.

A finales de la década de los 60, comenzó un processo de

urbanización en la región impulsado por la construcción de la autovía

BR 101 y por la expansión de la distribución de electricidad. Desde

entonces, el turismo y el comercio pasaron cada vez más a ser

considerados como actividades relevantes en la dinámica

socioeconómica de la región. (SPERB, SERVA e FIRMINO, 2013,

p. 48).

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É a partir da década de 1970 que Garopaba começa a se transformar e novas

perspectivas para o turismo se desenvolvem para a região, principalmente através dos

discursos que enaltecerão as praias da região como propícias ao surfe.

Ainda na década de 1970 a família Gerdau Johannpeter compra as

terras que dão acesso à praia Vermelha, uma das nove praias do

município19

. Os irmãos Gerdau (...) figuravam como os precursores do

surfe no Rio Grande do Sul. Também é nesta década que o jovem

médico Marco Aurélio Raymundo, recém formado em Porto Alegre,

instalou-se na cidade. Pouco tempo depois iniciava a confecção de

macacões para a prática do surfe. Perpassa, sob as duas histórias, uma

nova leitura que aos poucos foi se impondo: as praias da cidade como

propícias ao surfe. (ALVIM, 2014, p. 226).

Enquanto Garopaba se tornou nacionalmente conhecida como a cidade da

Mormaii, a fábrica do médico Raymundo que se transformou numa das maiores grifes

do surfe, Imbituba começou a se notabilizar como um dos principais destinos para a

prática do surfe no Brasil, tendo a Praia da Vila já sediado diversas etapas do World

Championship Tour (WTC), campeonato que reúne os melhores surfistas em atividade.

Atualmente o turismo tanto em Garopaba quanto em Imbituba está concentrado na

temporada de verão. Observando os prospectos e guias turísticos publicados e

distribuídos nestas cidades, percebe-se o investimento no turismo sol e mar e no turismo

de esportes aquáticos. Sperb, Serva e Firmino (2013) afirmam que o desenvolvimento

do turismo na região impulsionou a economia local e fez a atividade, antes paralela e

secundária, ser desejada pela maioria dos setores sociais. Os autores demonstram,

entretanto, que apesar do crescimento da renda na região nos últimos anos, a

desigualdade social é bastante alta. Apontam ainda que parte da renda produzida pela

economia tradicional (agricultura e pesca) não estava computada nas estatísticas

oficiais. Porém estes produtos serviam ao autoconsumo e para o escambo, algo que não

ocorre na transição para uma economia urbana e baseada no turismo. Também

argumentam que o crescimento da renda per capita deve considerar o afluxo de

imigrantes na região, não significando necessariamente que a renda gerada tenha sido

distribuída entre a população tradicional.

(...) las evidencias son de que la población tradicional está vendiendo

de forma gradual, a lo largo de las últimas décadas, sus inmuebles a

agentes económicos relacionados directamente o indirectamente al

turismo. Em ese sentido, principalmente en Garopaba, ese

19

A autora se refere à Praia Vermelho como pertencente a Garopaba. Na realidade esta praia está inserida

nos limites territoriais do município de Imbituba.

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movimiento, que si por un lado trajo el crecimiento económico

municipal del turismo con el aumento de la renta, por otro parte

estaría ocurriendo en detrimento del principal patrimonio económico

de la población tradicional, de la renta no contabilizada. Esta perdida

de la renta no contabilizada estaríam ocurriendo sobre todo en función

de la pesca y la agricultura tradicionales abandonadas, sin tener en

cuenta la perdida de otros vínculos territoriales intangibles construidos

por siglos entre esa población y su medio. . (SPERB, SERVA e

FIRMINO, 2013, p. 52-53).

Em um estudo realizado por Sperb e Queiróz (2013) quanto à percepção dos

residentes em relação ao turismo em Garopaba, 50% dos residentes qualificaram como

negativos os efeitos da atividade turística na cidade. Esta percepção negativa da

atividade turística pode estar associada à falta de infraestrutura local para receber o

grande número de turistas no verão, os impactos ambientais promovidos pela atividade

e a especulação imobiliária.

Assim como na maioria dos lugares do mundo onde o turismo é uma

importante fonte de renda, esta atividade também causa problemas

ambientais em Santa Catarina. Os principais impactos sobre o meio

ambiente costeiro causados pelo turismo são resultado da especulação

imobiliária que induz construções de empreendimentos hoteleiros,

marinas, segundas residências, além da sobre-exploração de recursos

vivos marinhos nas épocas de maior fluxo de turistas, resultado do

aumento da demanda por frutos do mar nos restaurantes localizados

no litoral. (SHERER et. al., 2006, p. 44).

Os estudos da demanda turística realizados pela Santur mostram o número

significativo de turistas que visitam os municípios de Garopaba e Imbituba (não foram

encontrados estudos da demanda turística referentes ao município de Imaruí).

Utilizamos aqui os dados de 2010 (publicados em 2012), ano em que a Santur realizou

estudos da demanda turística em Garopaba e Imbituba20

, e optamos por utilizar como

mês de referência fevereiro.

No Quadro 4 é possível observar que o número de turistas nacionais é bastante

superior ao de turistas internacionais e que apenas em Garopaba o número total de

turistas ultrapassou o dobro da população total do município naquele mesmo ano

(Quadro 2). Imbituba apresenta um número de total de turistas significativamente menor

20

Há Estudo da Demanda Turística de 2014 realizado pela Santur referente ao município de Garopaba. A respeito de Imbituba há a Pesquisa Fecomércio de Turismo – Verão em Santa Catarina 2014, porém não encontramos dados deste município produzidos pela Santur referentes a 2014. Por se tratarem de duas pesquisas com metodologias diferentes, entendemos que para efeitos de comparação entre os municípios não seriam aplicáveis, de modo que optamos pelos Estudos da Demanda Turística realizados pela Santur em 2010 que contemplaram Garopaba e Imbituba. Quanto a Imaruí, não foram encontrados dados da demanda turística disponíveis.

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se comparado ao município vizinho, entretanto, os turistas que visitaram a cidade em

fevereiro de 2010 representaram um aporte de ¼ da população total do município

naquele mesmo ano. O estudo da demanda turística de 2014 (SANTUR, 2014) aponta

um total de 21.415 turistas em Garopaba em fevereiro daquele ano. Embora observada

uma redução importante, o número corresponde ao total da população residente

estimada para 2015 (Quadro 2). Não encontramos os números do total de turistas em

Imbituba para os anos subsequentes a 2010. Considerando a ausência de séries

históricas do movimento estimado de turistas nos municípios de Garopaba e Imbituba,

não é possível avaliar a dinâmica do movimento de turistas nestas cidades, embora

autores como Sperb, Serva e Firmino (2013) afirmem sua expansão.

Garopaba Imaruí Imbituba

Turistas Nacionais 44.090 Sem dados 9.842

Turistas Internacionais 5836 Sem dados 572

Total 49.926 Sem dados 10.414

Quadro 4: Movimento estimado de turistas – Fevereiro de 2010

Fonte: Santur, Estudo da demanda turística 2010.

Quanto aos principais mercados emissores de turistas, os nacionais correspondem,

na média, a pouco mais de 90% do turistas que visitam a região, e os internacionais a

menos de 10% (este número oscila entre janeiro e fevereiro, e anualmente em função

das conjunturas econômicas nacional e no país de origem). No quadro 4 observamos

que o principal mercado emissor internacional é a Argentina, fornecendo para Imbituba

em fevereiro de 2010 pouco mais de 95% dos turistas internacionais.

Dentre os mercados nacionais, a Região Sul é o principal emissor de turistas para

os municípios de Garopaba e Imbituba. No período, os gaúchos representaram 72% do

total de turistas em Garopaba e 38% em Imbituba (Quadro 5). Os municípios de Santa

Catarina têm também uma participação importante no turismo da região, representando

quase metade dos turistas nacionais em Imbituba em fevereiro de 2010.

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Garopaba Imaruí Imbituba

Nacionais

Rio Grande do Sul 72,06% Sem dados 38,64%

Santa Catarina 8,82% Sem dados 47,98%

Paraná 9,56% Sem dados 6,06%

São Paulo 6,62% Sem dados 4,04%

Rio de Janeiro - Sem dados 1,77%

Internacionais

Argentina 88,89% Sem dados 95,65%

Uruguai 11,11% Sem dados 4,35%

Quadro 5: Principais mercados emissores – Fevereiro de 2010

Fonte: Santur, Estudo da demanda turística 2010.

Quanto aos atrativos (Quadro 6), a maior parte dos turistas busca atrativos

naturais (66,50% em Garopaba e 71,69% em Imbituba). A grande prevalência da

preferência pelos atrativos naturais não surpreende, considerando a paisagem local, o

perfil dos turistas e o período em que o estudo foi realizado (alta temporada de verão). É

sabido que a maioria dos turistas buscam as praias da região, algumas delas renomadas

internacionalmente, como é o caso da Praia do Rosa, em Imbituba. Chama a atenção o

percentual significativo de turistas interessados nos atrativos históricos e culturais de

Garopaba e nas manifestações populares de ambos os municípios. Apesar destes

municípios possuírem um patrimônio cultural diversificado, conforme visto, a maior

parte deste patrimônio cultural (tanto o material quanto o imaterial) ainda não está

estruturada como atrativo turístico.

Atrativos Garopaba Imaruí Imbituba

Naturais 66,50% Sem dados 71,69%

Históricos e

culturais 19,21% Sem dados 3,26%

Manifestações

populares 12,81% Sem dados 19,14%

Tratamento de

saúde 1,48% Sem dados 4,68%

Entretenimento - Sem dados 0,81%

Compras - Sem dados 0,42%

Quadro 6: Principais atrativos turísticos segundo o interesse dos turistas –

Fevereiro de 2010

Fonte: Santur, Estudo da demanda turística 2010.

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Conforme já dito, não encontramos dados da demanda turística referentes ao

município de Imaruí. É possível afirmar, entretanto, que a estrutura turística neste

município é precária. Em 2011, por exemplo, Imaruí possui apenas 13 empresas

relacionadas ao setor “alojamento e alimentação”, das quais nenhuma correspondia

especificamente a alojamento (SEBRAE, 2013). Em observação de campo que

desenvolvemos no município em outubro de 2015, constatamos a existência de apenas

um pequeno hotel e uma pousada na região central da cidade. A pequena quantidade de

vagas de hospedagem no município demonstram a baixa capacidade de Imaruí receber

turistas e promover a permanência destes na cidade.

Para compreender a imagem que cada cidade procura vender de si e o tipo de

turista que busca atrair, consultamos os portais de turismo dos municípios (disponíveis

nos sites das prefeituras) e o Guia Turístico Encantos do Sul (SANTA CATARINA,

2013), chancelado pela SANTUR. Nestas publicações observamos o discurso de

apresentação da cidade e a relação de atrativos.

Garopaba apresenta em seu portal de turismo21

uma relação com 15 atrativos, dos

quais a maioria são naturais, especialmente praias (9). Um dos atrativos se refere ao

turismo de observação de baleias, e como atrativos culturais constam a Igreja Matriz

São Joaquim (tombada como patrimônio histórico estadual) e a Gruta de Nossa Senhora

de Lourdes. O portal inclui entre os atrativos o sambaqui do Capão, porém não

apresenta informações adicionais. No texto de apresentação do Guia Turístico Encantos

do Sul as referências principais são a colonização açoriana, a vila de pescadores, a

chegada dos hippies e surfistas, as praias e, no inverno, a pesca da tainha e a observação

de baleias. Segundo o guia, Garopaba “é um dos melhores pontos de avistagem deste

mamífero” na área da APA da Baleia Franca. Como atrativos o Guia também ressalta as

praias, mas inclui, como atrativos culturais, o Centro Histórico, a Pesca da Tainha e a

Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes. Como atividades o Guia destaca a prática

do surfe, do sandboard, a observação de baleias, voo livre, mergulho e passeios de

barco, além das compras, vida noturna e gastronomia.

Imaruí apresenta em seu portal de turismo22

uma relação com 11 atrativos

diversificados, (cachoeiras, lagoa, trilhas ecológicas, ilhas e centro histórico) com

destaque para os atrativos religiosos (Gruta de Santa Albertina, Igreja Matriz São João

21

Disponível em <http://www.garopaba.sc.gov.br/turismo/item/Atrativos/>. Acesso em 02/01/2016. 22

Disponível em <http://www.imarui.sc.gov.br/turismo/>. Acesso em 02/01/2016.

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Batista e os Monumentos a Jesus e S. J. Batista). No texto de apresentação referências à

colonização, à cultura açoriana e seu patrimônio imaterial, à história de Albertina

Berkenbrock e aos atrativos naturais e à prática de esportes ao ar livre e em contato com

a natureza. No texto de apresentação de Imaruí do Guia Turístico Encantos do Sul as

referências indicam uma paisagem rústica com ranchos e barcos de pesca, cachoeiras e

recantos inexplorados, além da religiosidade e da tradição açoriana. Como atrativos o

Guia indica a Lagoa de Imaruí (que oferece barcos para passeios às ilhas fluviais), as

cachoeiras, as festas de São João Batista e do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos e a

Gruta de Santa Albertina.

Imbituba apresenta em seu portal de turismo23

uma relação com 11 roteiros, a

maioria (9) praias, além da Lagoa da Ibiraquera e do Porto da Vila. Não há referências

aos atrativos culturais, embora a cidade possua bens tombados como patrimônio

histórico municipal e estadual, um museu da baleia entre outros atrativos. No texto de

apresentação de Imbituba do Guia Turístico Encantos do Sul, as referências principais

estão relacionadas à beleza das praias e à prática do surfe, ao fato da cidade ter abrigado

a última armação baleeira a sair de funcionamento no Brasil e à presença do porto,

descrito como um dos principais portos brasileiros. Entre os atrativos o Guia destaca as

praias (especialmente a Praia do Rosa) e a Lagoa de Ibiraquera, a prática de surfe,

windsurfe, kitesurfe, cicloturismo e observação de baleias, a gastronomia, festas como o

réveillon e a Festa Nacional do Camarão e, através de imagens, a arquitetura religiosa e

o artesanato local.

A consulta aos portais de turismo dos municípios e ao Guia Turístico Encantos do

Sul mostrou a prevalência dos atrativos naturais nos três municípios e, especificamente

em Garopaba e Imbituba, o investimento turístico nas praias, buscando atrair o

veranista, e na observação de baleias. Atrativos culturais vinculados ao turismo

religioso também são destacados, bem como os esportes aquáticos e as trilhas, comuns

aos três municípios. Embora os três municípios possuam colonização de base açoriana,

apenas Imaruí destaca seu patrimônio imaterial. Já Garopaba e Imbituba apresentam a

pesca tradicional e suas referências (vila de pescadores, embarcações e barracões de

pesca) como elementos poéticos na paisagem sem, entretanto, explorar os saberes e

fazeres tradicionais (com exceção à pesca da tainha em Garopaba).

23

Disponível em <http://www.imbituba.sc.gov.br/rotas-turisticas>. Acesso em 02/01/2016.

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3.7 Sítios e vestígios arqueológicos como atrativos turísticos

Ainda que não figurem como atrativos turísticos oficiais (exceto o Sambaqui do

Capão, que consta da lista de atrativos do portal de turismo da prefeitura de Garopaba),

investigamos se sítios e vestígios arqueológicos são indicados ou sugeridos aos turistas.

Como metodologia, consultamos os principais guias turísticos da região para verificar

se há referências ao patrimônio arqueológico e, em havendo, de que forma são

apresentados ao público. Considerando a inexistência de arquivos locais e coleções que

salvaguardem as publicações de promoção do turismo na região, selecionamos

publicações mais recentes (exceto um prospecto com data de publicação provável do

ano de 2006). Não foram localizados guias turísticos referentes ao município de Imaruí.

Assim, as publicações consultadas foram:

- 3ª edição do Guia Turístico Encantos do Sul, de 2013;

- prospecto intitulado “Garopaba: um passeio na pré-história”, de 2006 (?);

- mapa turístico da Praia do Rosa, de 2015;

- guia de Garopaba publicado pela Secretaria Municipal de Turismo e Esportes,

edições de 2015 e 2016;

- guia do Rosa e Ibiraquera, edições de 2015 e 2016.

Apesar da região turística Encantos do Sul possuir uma grande quantidade de

sítios arqueológicos cadastrados pelo IPHAN, o Guia Turístico Encantos do Sul

apresenta poucas referências a este patrimônio. Na relação dos principais atrativos da

região há um intitulado “Balneários, Sambaquis e Lagoas” (p. 13). Na descrição do

atrativo, entretanto, não encontramos qualquer referência ao sambaqui. Nas páginas

reservadas aos municípios de Garopaba (p. 32-37), Imaruí (p. 30-31) e Imbituba (p. 24-

29) não há referências ao patrimônio arqueológico pré-colonial. O guia cita coleções de

peças arqueológicas expostas em museus: “objetos e documentação do sambaqui (...)

encontram-se na seção Homem do Sambaqui” – Museu Cidade de Jaguaruna (p. 40);

“na seção de antropologia, encontram-se peças cerâmicas dos antigos povoamentos

tupis-guaranis e líticas, objetos de pedra dos primeiros ancestrais indígenas” - Museu

Universitário do Extremo Sul Catarinense (p. 44). A referência mais significativa ao

patrimônio arqueológico na região Encantos do Sul está na apresentação do município

de Jaguaruna (p. 38), onde consta a informação de que a faixa costeira daquele

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município possui 30 sambaquis e 55 sítios arqueológicos, e no destaque ao Sambaqui da

Lagoa de Garopaba do Sul, no qual encontramos a única referência explícita ao turismo

arqueológico na região.

Um dos maiores sambaquis do mundo em extensão fica junto à Lagoa

de Garopaba do Sul. Tem 10 hectares e 30 m de altura. Pelas datas da

base e do topo, estima-se que o monte de conchas apelidado de

Garopabão levou 10 séculos para ser construído por grupos indígenas.

Dos 30 sambaquis na faixa litorânea da cidade, é o melhor para se

visitar. É cercado e sinalizado desde a margem da estrada que leva ao

Balneário Camacho. A fim de manter as características desses

monumentos pré-históricos, recomenda-se aos turistas usar as trilhas

já existentes e não coletar material. É possível agendar visitas com

arqueólogos do Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e

Arqueologia [Grupep], da Universidade do Sul de Santa Catarina

[Unisul], que leva grupos de estudantes ao local. (SANTA

CATARINA, 2013, p. 39).

Em entrevistas que realizamos com lideranças locais (discutidas no Capítulo 4

deste trabalho) obtivemos a informação de que por volta do ano de 2006, em Garopaba,

um grupo de pessoas interessadas no estudo e na proteção do patrimônio arqueológico

do município exerceu influência junto à Secretaria Municipal de Turismo, no sentido de

promover algumas ações para divulgar os sítios e vestígios arqueológicos da cidade.

Uma destas ações foi a publicação de um prospecto intitulado “Garopaba: um passeio

na pré história”. Este prospecto foi amplamente distribuído ao público em geral e

sugeria a visita aos sítios desde que com o acompanhamento de guias de turismo

credenciados. Trata-se de um material visual com diversas fotos de oficinas líticas,

inscrições rupestres e formações rochosas em Garopaba e um breve texto falando da

existência de 50 sítios arqueológicos na cidade. A produção do prospecto ficou sob o

encargo de Keler Lucas e as informações não têm respaldo científico. O material não

apresenta informações de rotas, localização dos vestígios e oferta de serviços e contatos

para a contratação dos guias exigidos. Atualmente este prospecto não está mais

disponível para o público, entretanto consideramos a publicação importante porque

possivelmente se trata do primeiro material de divulgação turística do patrimônio

arqueológico de Garopaba. Cabe ressaltar também, conforme veremos no Capítulo 4,

que Keler Lucas exerce influência no discurso local que interpreta os vestígios

arqueológicos, vinculando-os a elementos arqueoastronômicos.

Uma publicação amplamente distribuída aos turistas que visitam a região é o

Mapa Turístico da Praia do Rosa, que envolve, além do Rosa, a Barra da Ibiraquera, a

Praia do Luz, a Praia do Ouvidor e a Praia Vermelha. A Praia do Rosa é um dos mais

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conhecidos destinos turísticos na região, envolvendo a estrutura turística de Imbituba e

Garopaba. Na edição consultada (2015), dois sambaquis são indicados no mapa

(Sambaqui do Canto Norte do Rosa e Sambaqui da Barra de Ibiraquera). Não há

informações adicionais, apenas a indicação “Sambaqui” associado à sigla “IPHAN” e o

símbolo “Δ” indicando a localização do sítio.

Nas edições de 2015 e 2016 do “Guia do Rosa & Ibiraquera” não há menções aos

sítios arqueológicos da região.

O “Guia de Garopaba” é a mais completa e tradicional publicação de publicidade

turística do município de Garopaba. Distribuído em diversos pontos da região, possui

periodicidade anual. Apresenta a história da cidade, seu patrimônio material e imaterial,

o artesanato, os diferentes atrativos turísticos e seções para cada uma das praias.

Consultamos as edições de 2015 e 2016, e em ambas o sambaqui do Capão (Barra –

Ferrugem) figura como o principal atrativo da Praia da Ferrugem e Barra (edição de

2015), onde é denominado de “Sambaqui do Morro do Índio”, e da Praia da Barra

(edição de 2016) onde a referência “Sambaqui” aparece no título da seção. Na

conceituação e descrição do sambaqui na edição de 2015 observamos informações

confusas e incorretas, como por exemplo a afirmação de que o mesmo teria sido

construído pelos índios carijó. Na edição de 2016 a referência ao sambaqui ocupa uma

página inteira, com foto aérea do sítio arqueológico e texto explicativo que

reproduzimos:

Vestígios indígenas: os Tupis-Guaranis são os habitantes mais antigos

da região. E Garopaba tem um capítulo especial nesta parte da

história. Relatos contam que os açorianos ao se instalarem nestas

paragens perceberam que estes indivíduos eram organizados, bons

agricultores e exímios na caça e pesca. Bons artesãos, faziam cestos,

utensílios, redes de dormir. Seus hábitos de gastronomia foram

incorporados aos paladares de todos os brasileiros e até de

estrangeiros. Mandioca, aipim, farinha de mandioca, tapioca, beiju,

peixe na brasa, banana assada no fogo, panelas de barro, enfim, são

tantas as incorporações e legados que muitas vezes até nos

esquecemos de que muito do significado de seu idioma também foi

herdado por nós: nomes próprios como Garopaba, Imbituba, Imaruí,

Biguaçu são alguns exemplos. Suas marcas mais notadas são os

vestígios encontrados nos sítios arqueológicos de Garopaba – os

chamados sambaquis. Há cemitérios indígenas, pinturas em rochas,

vestígios de armas como pontas de lanças e flechas, pedras

amoladoras para a confecção de facas e sabres para a defesa e a

utilização na caça e pesca, estão entre os registros que podem ser

visitados pelos turistas. (GUIA DE GAROPABA, 2016, p. 48).

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O texto publicado no guia, além de reproduzir equívocos da edição anterior, limita

a história pré-colonial de Garopaba aos povos guaranis, apresentando-os como os mais

antigos no território e atribuindo a estes a autoria da totalidade dos vestígios

arqueológicos encontrados no município. O texto também apresenta uma relação de

vestígios que “podem ser visitados pelos turistas”, o que não corresponde à realidade.

Objetos líticos sambaquieiros, por exemplo, não estão oficialmente expostos em

Garopaba, e encontrá-los nos sítios é ato casual. Sem um guia especializado, entretanto,

dificilmente um turista será capaz de identificar estes vestígios arqueológicos. Ressalte-

se ainda que em nenhuma das edições do guia encontramos orientações de acesso e

comportamento adequado nos sítios. Por outro lado, a edição de 2016 reconhece a

cultura guarani como constituidora da identidade local e cita alguns dos seus legados

culturais.

Reconhecemos que a amostragem de publicações de publicidade turística que

utilizamos é reduzida e limitada aos dois últimos anos, o que não nos permite

conclusões mais consistentes a respeito de como e em qual quantidade sítios e vestígios

arqueológicos pré-coloniais da região são apresentados aos turistas. Por outro lado,

considerando a circulação das publicações que consultamos junto ao seu público alvo e

o conteúdo observado, podemos afirmar preliminarmente que: a) sítios e vestígios

arqueológicos de Garopaba e Imbituba são citados esporadicamente como um atrativo

turístico secundário na região; b) em Garopaba já existe um discurso turístico que

incorpora os vestígios arqueológicos pré-coloniais como um possível atrativo; c) a

interpretação cultural dos vestígios arqueológicos incorporada pelo discurso turístico

carece de rigor científico; d) o conhecimento local a respeito do patrimônio

arqueológico pré-colonial é pequeno.

3.8 Uma nova escala de representação social e a abertura de uma janela.

Dada a dinamicidade de um território, durante a realização da nossa pesquisa uma

nova escala de representação social, conforme conceito de Marques e Dias (2003), é

proposta envolvendo os municípios de Garopaba e Imbituba. Trata-se do Projeto de

Fortalecimento do Ecoturismo de Observação de Baleias apresentado pelo SEBRAE e

para o qual foi organizado um comitê gestor que reúne diferentes atores territoriais. O

projeto propõe articular os municípios de Garopaba, Imbituba e Laguna em uma

perspectiva de planejamento regionalizado do turismo e tem como principal objetivo

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posicionar a região da APA da Baleia Franca, até o ano de 2017, como destino turístico

de excelência no segmento de ecoturismo, obtendo a primeira indicação geográfica de

turismo no Brasil24

. Entre seus princípios norteadores está o envolvimento dos atores

locais no desenvolvimento territorial, o que o coloca em diálogo com os propósitos da

APA da Baleia Franca, e com as possibilidades de uma nova perspectiva para o turismo

na região.

Interessa-nos observar o debate dos atores da região a respeito das possibilidades

de uma indicação geográfica de excelência em ecoturismo, tendo por substrato o

turismo de observação de baleias. As baleias são, na perspectiva da observação, um

patrimônio de passagem na paisagem. Por outro lado, a relação da região com os

cetáceos compõe a memória coletiva, ou seja, participa da identidade local,

primeiramente através do estabelecimento das armações baleeiras em Garopaba e

Imbituba a partir do final do século XVIII, com a caça e o beneficiamento das baleias e,

mais recentemente, com sua proteção legal e seu reconhecimento como potencial

turístico. Considerando que a identidade cultural é um dos principais ativos na

promoção de uma Indicação Geográfica que promova o desenvolvimento sustentável

(NEU e AREA, 2015, p. 75), a proposta de uma Indicação Geográfica de Ecoturismo na

região deve, portanto, não apenas perceber as baleias na paisagem a partir da sua

dimensão cultural, mas considerar esta dimensão cultural enquanto propulsora da

própria IG.

Esvaziar o turismo de observação de baleias do seu componente cultural-

identitário, é reduzi-lo àquilo que VELOSO (2006) chamou de fetiche do patrimônio,

ou seja, transformá-lo em mera commodity, desprovendo a presença das baleias do seu

conteúdo patrimonial, “coisificando” os cetáceos.

É a partir do início do século XXI que municípios como Garopaba e Imbituba

percebem no turismo de observação de baleias uma oportunidade econômica para a

região, especialmente entre os meses de julho e outubro, período no qual a Eubalaena

australis busca a região para a procriação. O desenvolvimento deste nicho econômico,

em sua relação com o patrimônio cultural, importa porque cria uma oportunidade de

trabalho e renda no período de baixa temporada e também uma nova perspectiva de

desenvolvimento para a região. Por outro lado, apesar de representar uma possibilidade

de desenvolvimento regional, somente a exploração econômica “não é garantidora de

24

Conforme apresentado pelo consultor Rafael Freytag ao Comitê Gestor do Projeto, em reunião

realizada na Secretaria de Desenvolvimento Regional de Laguna em julho de 2015.

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desenvolvimento sustentável de uma comunidade e seu patrimônio cultural. Muito pelo

contrário, ela pode trazer consequências prejudiciais naquilo que tange à preservação do

patrimônio cultural” (NEU e AREA, 2015, p. 79).

Entre 2005 e 2012, foi o turismo embarcado de observação de baleias a principal

atividade turística fomentada na região. O turismo embarcado caracteriza-se pelo uso de

embarcações navais, que transportam o turista para próximo das baleias. A aproximação

das embarcações era facilitada devido ao comportamento dócil da Eubalaena australis.

De 2005 a 2012 o número de passageiros do turismo embarcado de observação de

baleias em Santa Catarina aumentou de 695 para 5184 e o número de passeios

embarcados passou de 82 para 23525

. Em maio de 2013 o turismo embarcado de

observação de baleias foi proibido pela Justiça, após pedido de suspensão da atividade,

apresentado pela organização não governamental Sea Sherpherd Brasil, sob o

argumento de que o descumprimento da legislação ambiental por parte dos operadores

do turismo embarcado e as falhas na fiscalização estariam colocando em risco a

integridade física dos cetáceos. A proibição judicial foi confirmada pelo Tribunal

Regional Federal em julho de 2013, e continua em vigor. Sua suspensão está vinculada

à apresentação, por parte do ICMBio, de um estudo de viabilidade ambiental e

licenciamento da atividade. Não há previsão, entretanto, para a conclusão e

apresentação deste estudo.

O projeto de Fortalecimento do Ecoturismo de Observação de Baleias apresentado

pelo SEBRAE surge neste contexto de disputa entre os diferentes atores locais em

relação à proibição do turismo de observação embarcado. A proposição do projeto

colocou o ecoturismo na agenda política da região e conforme Capella (2006), em sua

análise dos modelos teóricos de compreensão da formulação de políticas públicas, “a

agenda governamental (...) é definida como o conjunto de assuntos sobre os quais o

governo e pessoas ligadas a ele concentram sua atenção num determinado momento”, e

que esta mudança resulta da convergência entre três fluxos: problemas, soluções e

política. (CAPELLA, 2006, p. 26).

Partimos então do pressuposto de que a proposta apresentada pelo SEBRAE tem

origem no problema da proibição do turismo embarcado de observação, e que a solução

25

Segundo os dados publicados na reportagem “Proibição de turismo de observação de baleias passa por

mais uma etapa”, publicada pelo Diário Catarinense, em 02 de junho de 2014. Disponível em <

http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2014/06/proibicao-de-turismo-de-observacao-de-

baleias-passa-por-mais-uma-etapa-

4516397.html?fb_action_ids=10204035574831862&fb_action_types=og.recommends> . Acesso

realizado em 01/05/2015.

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passaria na constituição de um comitê gestor que exerceria pressão sobre as Instituições

responsáveis pelos estudos e licenciamento ambiental e resultaria em políticas públicas

que organizariam e fomentariam o turismo embarcado de observação de baleias. O

pressuposto considera o momento da apresentação do projeto, a composição do Comitê

Gestor e a ausência do debate com a comunidade na construção inicial do projeto. Este

Comitê Gestor apresenta os desafios da prática da governança, discutidos por

Dallabrida, Marchesan, Rossetto e Filippim (2015), especialmente naquilo que diz

respeito ao aprofundamento democrático e à necessidade de empoderamento da

comunidade local. A grande quantidade de parceiros no Comitê Gestor, e a

subrepresentação da sociedade civil pode acarretar problemas de gestão e de controle,

conforme apontaram Kissler e Heidemann (2006) em suas análises das experiências de

governança pública desenvolvidas na Alemanha. Para os autores, nestes casos, a gestão

não é efetivamente participativa, e os representantes da sociedade ficam incapacitados

de influenciar nas decisões dos parceiros privados, bem como de acompanhar os

processos.

A despeito das fragilidades que o Comitê Gestor do Projeto de Fortalecimento do

Ecoturismo de Observação de Baleias apresenta em sua constituição para a

democratização do debate e o empoderamento da comunidade local, a proibição do

turismo embarcado de observação e apresentação do projeto formulado pelo SEBRAE

abriu aquilo que Kingdon (citado por Capella, 2006), chamou de oportunidade de

mudança, ou uma abertura de janela.

Uma característica da oportunidade de mudança – abertura das janelas

– no modelo de Kingdon é seu caráter transitório. Provocadas por

eventos programados ou não, as oportunidades de acesso de uma

questão à agenda não perduram por longos períodos de tempo. Da

mesma forma que as “janelas” se abrem, elas também se fecham.

(CAPELLA, 2006, p. 30).

Embora não previamente discutida com a comunidade local, os trabalhos visando

a criação de uma IG relacionada à prestação de serviços em ecoturismo, tendo como

produto principal a presença da Eubalaena australis na região, abre uma oportunidade

de mudança para: 1) discutir as perspectivas de desenvolvimento territorial sustentável;

2) incorporar o turismo de observação terrestre de baleias; 3) empoderar a população

local; 4) desenvolver outros segmentos turísticos que dialogam com o ecoturismo e a

observação de cetáceos, dentre estes, o turismo arqueológico.

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Considerando os debates travados no contexto da APA da Baleia Franca,

principalmente naquilo que diz respeito ao planejamento de um turismo sustentável,

tendo a observação de cetáceos como seu principal atrativo, torna-se oportuno discutir o

potencial do patrimônio arqueológico existente para a promoção do turismo na região,

mesmo porque os vestígios arqueológicos resgatados pelas prospecções arqueológicas

na região indicam uma relação constante destes povos pré-coloniais com o mar e as

baleias, que desde tempos remotos frequentam o litoral sul catarinense. Nos sambaquis

foram encontrados diversos objetos de uso cotidiano e simbólico, construídos a partir de

ossos de baleias, bem como zoolitos com a forma de cetáceo. Assim, o ecoturismo de

observação de baleias, incorporando o turismo arqueológico, pode agregar este

elemento cultural, constituidor da identidade local, em seus roteiros terrestres.

A proibição do turismo embarcado de observação de baleias reforça também as

possibilidade de desenvolvimento do turismo de observação terrestre por meio de trilhas

e condução especializada de condutores ambientais. Nos próximos cspítulos

discutiremos a existência de vestígios e sítios arqueológicos nas trilhas utilizadas pelos

condutores ambientais e a influência do projeto proposto pelo SEBRAE no

planejamento turístico da região.

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4 – O TURISMO ARQUEOLÓGICO NA PERCEPÇÃO DOS ATORES LOCAIS

4.1 A percepção dos representantes da comunidade

Sampaio (2005) alerta para as práticas de planejamento do turismo que não

consideram as comunidades, privilegiando os grupos que se deslocam. Segundo o autor,

um turismo que se pretenda sustentável necessita “resgatar a percepção (visão de

mundo) das comunidades domésticas, do que elas podem promover com seus próprios

recursos e potencialidades (endogeneidade)” (SAMPAIO, 2005, p. 26).

Ao estudar o turismo de base local em uma comunidade do interior de Taiwan,

Lee (2013) verificou que é condição para o desenvolvimento do turismo sustentável, a

participação dos moradores locais, e este apoio só é verificado quando o turismo

sustentável atende aos interesses da comunidade. Ou seja, a aceitação ou rejeição dos

moradores de uma comunidade para o desenvolvimento do turismo baseia-se na relação

custo – benefício (se a percepção dos custos for maior do que a percepção dos

benefícios, a comunidade será contra o desenvolvimento do turismo; se a percepção dos

benefícios for maior do que a percepção dos custos, a comunidade tenderá a ser

favorável ao desenvolvimento do turismo) e que o apego é importante para o

desenvolvimento do turismo de base comunitária. Por apego o autor compreende “a

participação do indivíduo e sua integração à vida comunitária, refletindo um vínculo

afetivo ou uma ligação emocional entre o indivíduo e uma comunidade específica”

(LEE, 2013, p. 3).

Bastos (2007) ao estudar a representação social dos sítios arqueológicos no litoral

sul catarinense (Laguna, Jaguaruna, Imbituba e Tubarão) defende que nos projetos de

levantamento arqueológico as ações devem envolver a comunidade local em todas as

suas etapas. Entendemos que o mesmo se aplica aos projetos que envolvem o turismo de

modo geral e o turismo arqueológico de modo específico. É nesta perspectiva que

ouvimos representantes da comunidade a respeito do reconhecimento e da representação

social dos sítios arqueológicos e das possibilidades do turismo arqueológico na região.

Estabelecer critérios de busca e seleção de representantes da comunidade local

para a realização das entrevistas significou um problema a ser superado na pesquisa. A

principal questão deste problema é o desconhecimento das questões do patrimônio

arqueológico apontado no trabalho de Bastos.

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Pesquisas citadas pelo autor mostram que não existe uma

compreensão muito clara dos fatos arqueológicos por parte dos não

arqueólogos (MCMANNAMON, 2000, p. 12). Nesta perspectiva

encontra-se nossa pesquisa sobre as representações sociais, realizada

no litoral sul de Santa Catarina, que apontam para um

desconhecimento quase total das questões que envolvam o patrimônio

arqueológico (BASTOS, 2007, p. 113).

Partimos assim da premissa de que, de modo geral, a população desconhece o

patrimônio arqueológico local e suas possibilidades para o desenvolvimento na região.

Ainda que o trabalho de Bastos tenha alcançado apenas o município de Imbituba, dentre

aqueles que estudamos aqui, podemos trabalhar com o pressuposto de que esta realidade

se estende a Garopaba e Imaruí. Em pesquisa que realizamos junto aos professores da

rede pública de Garopaba, por exemplo, 41% dos professores afirmaram desconhecer os

vestígios arqueológicos pré-coloniais do município (COSTA, 2014). O percentual é

bastante significativo, principalmente se considerarmos tratarem-se de formadores de

opinião, multiplicadores de conhecimento que têm entre suas responsabilidades,

apresentar e problematizar o território em suas atividades docentes.

Considerando o exposto, adotamos como critérios para a seleção dos entrevistados

o apego ao território conforme entendido por Lee (2013), ser liderança comunitária

(representar a opinião de uma parcela da sociedade) e estar envolvido com o turismo e

com o patrimônio arqueológico da região. A partir de conversas com pessoas

relacionadas em movimentos sociais, educadores e líderes comunitários, selecionamos

três entrevistados que atendem aos critérios definidos, tratando-se, portanto, de uma

amostragem qualitativa. Certamente há outras lideranças locais, como pescadores

tradicionais, por exemplo, que podem ser ouvidos. Entretanto, limitamo-nos ao universo

especificado pela metodologia adotada.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas utilizando técnicas da História Oral.

As mesmas foram decupadas e os trechos de relevância para os objetivos da pesquisa

foram transliterados. As entrevistas pretenderam investigar a ocorrência de

manifestações da comunidade relacionadas à defesa e/ou reconhecimento do patrimônio

arqueológico pré-colonial da região, a percepção do entrevistado a respeito do turismo

na região e as possibilidades de utilização do patrimônio arqueológico pré-colonial

como atrativo turístico.

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4.1.1 Entrevistado: Zeno Moreira de Castilho Neto.26

Zeno Moreira de Castilho Neto é natural do Rio de Janeiro (RJ), mas fixou

residência no município de Garopaba em 1998 e atualmente mora na Praia do Rosa,

bairro limítrofe entre Imbituba e Garopaba. Frequenta a região desde 1976, quando seu

avô construiu em Garopaba residência de verão. Estudou História na UNISUL de

Tubarão. Na mesma instituição de ensino se formou como condutor ambiental e desde

2001 guia passeios turísticos em trilhas da região, atendendo turistas e estudantes. Em

2006 colaborou com a Secretaria Municipal de Turismo de Garopaba, auxiliando em

projetos culturais e discutindo o patrimônio arqueológico da cidade. Foi coordenador

local da Pesquisa Mercadológica Estudo da Demanda Turística de Garopaba

desenvolvida pela SANTUR em 2006. Estuda o patrimônio arqueológico do município,

visitando sítios arqueológicos e intercambiando informações com pessoas interessadas

no assunto, dentre estas o pesquisador Keler Lucas, com o qual desenvolveu parcerias

de trabalho. Participa de diversas associações locais e atua como liderança no

Movimento Rosamor, que tem por objetivo organizar a sociedade civil para a

preservação da Praia do Rosa.

Baseado em sua experiência, afirma que há diferenças entre os turistas que

frequentam a região na alta e na baixa temporada, sendo que no verão “o público é mais

festa, mais praia, mais jovem”. Quando questionado a respeito da percepção da

população a respeito da atividade turística, se positiva ou negativa, responde:

Tem gente que percebe como positivo. O turismo é muito capilar na

sociedade. Agora, existem sim pessoas mais antigas que viram seus

filhos se perder em drogas ou em festas, que têm certa resistência ao

turismo, mais por experiências pessoais não agradáveis. (CASTILHO

NETO, depoimento ao autor, 2015).

O entrevistado também teceu considerações sobre a dificuldade de se explorar o

turismo arqueológico no município de Garopaba, e atribui à falta de conhecimento dos

gestores públicos e dos empresários do trade turístico sobre as potencialidades locais a

principal razão desta dificuldade.

A maior dificuldade que eu vejo é o não conhecimento. Os gestores

públicos não fazem ideia de que lugar é este. Os donos de pousada

também não. Os empresários locais também não. Quando falava de

26

A entrevista foi realizada em 21 de julho de 2015 na sua residência, localizada no bairro Praia do Rosa,

em Imbituba.

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cabeças de pedra com nove metros de altura apontadas para o leste e

com uma pedra em cima apontando para onde o Sol nasce, ou de

observatório astronômico de pedra, por muitos anos passei por

mentiroso. Quando eu falava das inscrições, e elas têm esta

característica da luminobilidade, que ela aparece e desaparece

conforme a posição do Sol, as pessoas diziam que eu estava tomando

chá de cogumelo. Há meio que um complexo de vira-lata, quando a

gente tem um patrimônio arqueológico absurdo! Então acho que o

maior problema é este, o desconhecimento do local onde se está.

Segundo, de saber como trabalhar isso, como promover um

desenvolvimento sustentável sem virar desordenado? (CASTILHO

NETO, depoimento ao autor, 2015).

Segundo o entrevistado, os sítios arqueológicos no município de Garopaba estão

aflorados e sem nenhuma proteção. Seu interesse por eles ocorre desde a sua chegada ao

município como morador, tendo procedido a um levantamento bibliográfico sobre o

assunto, principalmente nos registros de Alfredo Rohr, que realizou diversas

prospecções e registros arqueológicos na região nas décadas de 1960 a 1980. Após o

levantamento bibliográfico, o entrevistado percorreu o município que, segundo ele,

possui 54 sítios arqueológicos, entre sambaquis, oficinas líticas, sítios com inscrições

rupestres, abrigos sob pedra e megalitos27

. Desta busca por sítios arqueológicos decorre

seu contato com o pesquisador Keler Lucas, que possui um trabalho de registro de sítios

arqueológicos em Santa Catarina e uma perspectiva arqueoastronômica e mística28

.

Keler Lucas foi contratado pela Associação Comercial e Industrial de Garopaba (ACIG)

em 2006 para fazer um levantamento dos sítios arqueológicos no município. Suas

teorias a respeito das inscrições rupestres e das formações rochosas locais,

relacionando-as a marcos astronômicos, têm aceitação por um grupo de cidadãos da

cidade organizados em um grupo amador de arqueologia, dos quais participa o

entrevistado. É de Keler Lucas também o projeto de um museu ao ar livre entre a Praia

da Vigia e a Ponta do Galeão29

.

27

O IPHAN registra apenas sete sítios arqueológicos no CNSA/SGPA, conforme consulta realizada no

site www.iphan.gov.br em 06/10/2015. 28

A interpretação mística dos vestígios arqueológicos pré-coloniais em território catarinense recebe

críticas da comunidade científica. Segundo Comerlato, “nesta corrente mística, encontramos as

publicações de Keler Lucas, que alia informações arqueológicas regionais com interpretações esotéricas,

bem como associa o contexto local com outras culturas (megalitismo europeu, hindus, maias etc.). Este

tipo de interpretação desvaloriza as gravuras rupestres como produto de uma cultura pré-histórica local e

contribui para reforçar uma visão preconceituosa de que as populações autóctones não seriam capazes da

realização de artefatos que exigissem habilidade técnica aprimorada” (2005, p. 162). 29

Segundo publicou Keler Lucas no seu site em 2011, “o projeto da Trilha e Museu ao Ar Livre da Pedra

do Galeão está pronto e aprovado pelo Prefeito Luís Nestor, que prometeu realizá-lo durante a sua gestão.

E recebeu o apoio institucional da APA da Baleia Franca que se referiu ao projeto nesses termos:

‘Entendemos que o Museu representará passo importante no processo de ordenamento do acesso e uso

dos bens culturais presentes no território da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, cumprindo,

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Em 2006, em função da quebra financeira da Secretaria de Turismo,

ninguém queria pegar a secretaria. Aí a gente pegou. É quando

aparece o Keler de novo. Tínhamos começado a desenhar um projeto

que se chamava ‘Trilhando Garopaba’, que começava lá na Ponta do

Faísca e se juntava com a trilha da Vermelha. Então você passaria sete

dias em Garopaba, fazendo todas as trilhas. Todas elas aparelhadas,

com acessos. Mas a gente estava bem no começo da história, bem

crus. Aparece o Keler e propõe o que ele chama de ‘Museu da Pedra

do Galeão’. Respondemos que tudo bem, mas que não tínhamos

dinheiro. (...) A área começava nas oficinas líticas da Vigia e

terminava na Praia do Silveira. São 3108 metros de trilha, todas com

segurança, tudo isto está no pré-projeto do Keler. Tinha deques para

observação de baleias e para observar a paisagem, lugares ‘de se

estar’. Tinha cinco pesqueiros aparelhados para você pegar e fazer seu

peixe ali. Mas o grande atrativo do museu são 20 painéis, alguns com

luminobilidade, e a cabeça de pedra, que tem toda essa discussão se é

natural ou não. (CASTILHO NETO, depoimento ao autor, 2015).

Segundo o entrevistado, nesta sua estada em Garopaba, Lucas identificou diversos

marcos astronômicos no município. Ciente da falta de legitimidade científica e da

incredulidade das pessoas a respeito destas questões, o grupo do qual o entrevistado

fazia parte convidou o físico e astrônomo Germano Bruno Afonso, que trabalha com

etnoastronomia, para conhecer os vestígios encontrados por Keler Lucas. Segundo o

entrevistado, Afonso teria visto “em um dia em Garopaba cinco marcos astronômicos e

um observatório completo” (CASTILHO NETO, depoimento ao autor, 2015). Afonso

chegou a desenvolver trabalhos de Educação Patrimonial com os Guaranis em Garopaba

com foco na astronomia guarani após esta visita30

.

Ao ser questionado sobre o potencial representado pelo vestígios arqueológicos

enquanto atrativos para o turismo no município, o entrevistado afirma que a maioria dos

turistas que visitam a região não os conhecem, mas que existe este potencial, desde que

houvesse um planejamento e a resolução dos problemas de acessibilidade nos sítios.

Cita também a necessidade de se pensar numa forma de atrair os turistas que já buscam

atrativos arqueológicos na América do Sul, procurando estabelecer relações entre a

cultura pré-colonial do litoral centro-sul catarinense com culturas pré-colombianas da

Cordilheira dos Andes.

assim, papel destacado na promoção da cultura do povo brasileiro e daqueles que nos visitam,

obedecendo, ao mesmo tempo, princípios da sustentabilidade condizentes com sua inserção em um

espaço territorial especialmente protegido." (Publicado em

<http://kelerlucas.com.br/boletim_informativo.html> . Acessado em 29/01/2016). 30

O trabalho de Educação Patrimonial com os índios Guarani desenvolvido por Germano Bruno Afonso

em Garopaba está documentado no filme “Cuaracy Ra’Angaba – O Céu Tupi-Guarani” (2013), dirigido

por Lara de Campos Velho.

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Não se pode datar quando as inscrições foram feitas, o que você pode

fazer é datar o resto orgânico que caiu nelas e dizer que são mais

antigas do que estes. Elas têm o quê? Quatro mil anos? Acho que se

isso fosse bem trabalhado, qualquer pessoa iria querer conhecer.

Ainda tem a paisagem, a cabeça de pedra, os marcos astronômicos. E

olha o nível de abstração que tinha que ter aquele povo para

desenvolver esses símbolos! São losangos, triângulos que se

encaixam. Não é só o antropomorfo infantil. É extremamente

elaborado e não entendo como os maiores especialistas não estão aqui

estudando isso. E mais, nós estamos na ponta de um caminho

chamado Peabiru. Na outra ponta está Machu Pichu, o maior destino

turístico da América do Sul. Vamos fazer uma campanha com as

inscrições, com a cabeça de pedra. Vamos investir só em uma cidade,

Machu Pichu! Se tiver 1% de retorno, a gente tem 100 mil pessoas,

que é o número do verão. Só que você não tem elas todas juntas,

deteriorando o lugar. (CASTILHO NETO, depoimento ao autor,

2015).

4.1.2 Entrevistado: Luiz Fernando Alves Bintencourt31

Luiz Fernando Alves Bintencourt é natural de Porto Alegre (RS), mas fixou

residência no município de Garopaba em 1992. Frequenta a cidade há 40 anos, que era

seu destino de férias. Trabalha como gráfico e editor local, tendo publicado livros de

autores da cidade. Tem forte atuação comunitária, principalmente nas questões

referentes à identidade cultural, às atividades tradicionais e ao turismo. Participa de

grupos que discutem a revitalização do Centro Histórico de Garopaba e a defesa da

história local, sendo um dos fundadores do Movimento Açoriano de Resgate (MARÉ) e

do Grupo Amador de Estudos da Arqueologia. Produziu a sinalização de interpretação

cultural existente no Centro Histórico de Garopaba. É autor dos livros “De Ygara-

Mpaba a Garopaba” (2003) e “Armações Baleeiras: da Costa Basca a Garopaba”

(2005). Escreve para diversos periódicos locais e publicou boletins abordando o

cotidiano da cidade.

O primeiro contato do entrevistado com os vestígios arqueológicos foi quando

começou a veranear em Garopaba e conheceu o filho de um pescador, que o apresentou

às oficinas líticas da Praia da Vigia.

Como turista achei aquilo legal, uma coisa que mostrava que já havia

vida bem antes do turismo. Porque para a grande maioria de nós, que

chegamos aqui para veranear e curtir Garopaba, parece que é como

qualquer outra cidade do litoral que está surgindo por causa do

31

A entrevista foi realizada em 21 de dezembro de 2015 nas dependências do Instituto Federal de Santa

Catarina, Campus Garopaba, localizado no Bairro Campo D’uma, em Garopaba.

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turismo. E ali ficou uma marca de que já existiam pessoas aqui há

muitos anos. E aquilo me chamou muito a atenção. (BINTENCOURT,

depoimento ao autor, 2015).

Ao falar da relação entre os vestígios arqueológicos pré-coloniais existentes na

região e o turismo, defende a ideia de que primeiro há a necessidade de se conhecer

melhor estes vestígios, saber o que significam, o que expressam.

Eu gostaria de fazer uma colocação a respeito da importância do

registro que ficou nas artes rupestres nos costões da nossa região e em

alguns outros lugares também, principalmente no interior, que é sobre

o aspecto que fixou esses povos aqui. Entendo que esses povos tinham

uma relação muito forte com a natureza. Então a existência deles aqui

já prova que este é um lugar especial. E nós também fazemos parte

dessa história toda há pelo menos oito mil anos. A existência desses

registros, das oficinas líticas, de todo esse patrimônio, está muito

superficial em termos de entendimento do quanto significam, não

apenas como mero marco histórico desta presença. Mas, o porquê

dessas marcas? O que levou a todo esse processo? O que esses

registros querem nos dizer? Quais informações podemos tirar desse

material? Então penso que, dentro do contexto de usar como um

atrativo turístico, ele até pode agregar valor no contexto das belezas

naturais de toda região, mas eu penso no aspecto da pesquisa mesmo.

De ele ser motivador para um aprofundamento nos estudos para se

entender o significado disso. Porque podem estar aí algumas

informações bastante relevantes em relação a toda essa convivência.

Porque todos que vêm para cá, seja turistas ou moradores, a primeira

coisa que dizem é ‘morar na natureza’, ‘curtir a natureza’. Mas existe

algo que fez todos esses povos se fixar aqui. Eles andaram por muito

tempo até chegar aqui e se fixar. Por quê? E o que eles deixaram aí

registrado? O que significa tudo isso? Vejo que pesquisas sobre isto

poderiam ser uma grande oportunidade de trabalho, de

desenvolvimento do lugar, de usar ele realmente como um produto e

não só levar lá um grupo de turistas e ter lá uma plaquinha que diz

‘aqui jaz e blá, blá, blá’. E ‘deu, vamos para a próxima, aqui, uma

canoa...’ É só mais um, entendeu? Entendo da gente usar realmente

essa questão da pesquisa como um atrativo e fazer com que o pessoal

nos traga mais informações. Acho que a maioria das pessoas que

conhece, que convive com essas marcas, não sabe nada sobre isso.

(BINTENCOURT, depoimento ao autor, 2015).

Em sua fala o entrevistado manifesta aquilo que Barretto (2007) entende como o

processo de qualificação a partir dos atores locais, e expressa a preocupação com a

transformação do patrimônio arqueológico em um bem exclusivamente de consumo

turístico, esvaziado dos seus significados históricos e identitários.

Os processos de qualificação são lentos e seu sucesso está relacionado

com a participação de vários segmentos da sociedade civil que estão,

de alguma forma, envolvidos voluntária ou involuntariamente.

Quando isso não acontece, o deslocamento da população local traz

uma mudança no sentido dos lugares, que acabam reduzidos a

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fachadas, despojados do seu significado. Mas a qualificação dos

espaços, se bem realizada, apoia-se na e ao mesmo tempo estimula a

memória coletiva, motor fundamental para desencadear um processo

de identificação dos cidadãos com sua história e sua crítica.

(BARRETTO, 2007, p. 134).

Ainda que no trecho acima Barretto se refira diretamente aos processos de

gentrificação, a reflexão do entrevistado remete à necessidade de que o patrimônio

arqueológico seja amplamente estudado como elemento de interpretação do território,

capaz de fornecer respostas para questões contemporâneas e ser parte constituinte da

identidade local. Não deve se tratar, portanto, de simples atrativo a ser fotografado e

descartado, mas que esteja dotado de significados e sentidos por meio da sua

incorporação à memória coletiva da comunidade em que se insere e ajuda a definir.

Como afirma Bastos, “falar em patrimônio cultural arqueológico como vetor de

desenvolvimento turístico nos remete a questões ligadas essencialmente à publicização,

socialização e inclusão destes bens na construção da cidadania” (BASTOS, 2005, p.

65). É o que propõe o entrevistado enquanto condição primeira para a transformação

dos vestígios arqueológicos da região em atrativo turístico.

Quanto à viabilidade de um turismo arqueológico, o entrevistado fala em nome do

Grupo Amador de Estudos da Arqueologia, do qual faz parte e ajudou a criar com o

objetivo de estudar e preservar os vestígios pré-coloniais da região.

No grupo a gente já percebeu que não é um atrativo que chama a

atenção de um grande público, mas de pessoas que realmente querem

algo diferente e não apenas ficar tomando caipirinha na beira da praia.

Ao se criar a relação entre a Academia e estes atrativos, por si só já

vai se criar um fluxo de alunos, pesquisadores e imprensa. O Grupo

entende que esta realmente é uma valorização de qualidade e não

tornar o patrimônio um fast-food, mas tornar ele um patrimônio

importante, de qualidade, para que tu tenhas um fluxo de turistas

focado nisto. De turistas que estão vindo aqui para isto. Estão viajando

para conhecer estes lugares. Criar situações de vivência nestes lugares,

e não simplesmente fotografar e ir embora, fazendo com que este

turismo agregue valor e não que seja apenas mais um produto turístico

onde daqui a pouco os turistas já estão pisando por cima porque já

querem ver outra coisa. (BINTENCOURT, depoimento ao autor,

2015).

Considerando que dentre os objetivos das entrevistas está o de investigar a

ocorrência de manifestações da comunidade relacionadas à defesa e/ou reconhecimento

do patrimônio arqueológico pré-colonial da região, questionamos o entrevistado a

respeito das diferentes interpretações que a comunidade local dá aos sítios

arqueológicos.

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Conversando com os pescadores fiquei conhecendo as lendas, os

contos dos antigos, de que quando as primeiras famílias chegaram

aqui encontravam algumas sepulturas, alguns lugares sagrados que já

tinham algum tipo de decoração e o pessoal destruía tudo porque

tinham medo. O pessoal antigo, quando encontrava esses vestígios,

jogava no mar, destruíam o que eles podiam porque diziam que aquilo

ia atrair espíritos. Eles tinham medo de assombração, essas coisas.

Então procuraram apagar. Mas o que está registrado nas pedras,

gravado lá há milhares de anos, isso aí não foi destruído. (...) O

Morrinho do Índio e a Ilha de Santana de Fora são pontos sagrados.

Estes pontos sagrados têm sepulturas. Na década de 1970 houve um

saque na Santana de Fora. A turma ia lá para cavar e encontrar objetos

para vender. Isto não presenciei, mas ouvi falar. O turismo estava

começando na região e surgiu esta situação da ilha como um lugar

sagrado e muitos iam lá cavar porque sempre teve essa paranoia de

que vão achar ouro. A população via esses lugares como lugares de

índios. Até mantinham um respeito pelo medo, porque viam luzes,

vultos. Isso na Ferrugem e na Ilha de Santana de Fora. Mas depois os

moleques já não tinham mais essa preocupação. Queriam saber o que

era exatamente aquilo lá, e começaram a ir lá futricar e estragar. Isso

aconteceu muito na região, os saques, e agora nós temos a

preocupação de guardar o que temos e o que possivelmente ainda

venha a aparecer, porque creio que ainda tem muita coisa.

(BINTENCOURT, depoimento ao autor, 2015).

A destruição do patrimônio arqueológico pré-colonial por parte dos pescadores

tradicionais, motivado pelo medo, segundo relatado pelo entrevistado, explica-se na

tradição luso-brasileira fundada no cristianismo católico e discutida por Velho (2006) e

Funari e Ferreira (2015). Importante ressaltar o fenômeno dos saques particulares

ligados à lenda de um tesouro escondido, que nos foi relatada por muitos moradores da

região em conversas informais, e o fato da destruição perpassar gerações, os mais

antigos movidos pelo medo ou pela superstição, os mais jovens justamente pela

ausência deste medo e pela curiosidade.

4.1.3 Entrevistada: Maria Aparecida Ferreira32

Maria Aparecida Ferreira é natural de Imbituba e sempre residiu às margens da

Lagoa de Ibiraquera. É condutora ambiental formada pelo Instituto Federal de Santa

Catarina e guia turistas por trilhas da região. Tem importante envolvimento com os

movimentos comunitários. Foi conselheira da Área de Proteção (APA) da Baleia

Franca, participou ativamente do Fórum da Agenda 21 da Lagoa de Ibiraquera e do

32

A entrevista foi realizada em 13 de janeiro de 2016 na residência da filha da entrevistada, localizada no

Bairro Ibiraquera, em Imbituba.

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grupo de trabalho que discute a instalação de um Reserva Extrativista (RESEX) de

Pesca Artesanal de Ibiraquera. Desde a infância mantém forte apego com a região, que

no seu caso inclui a Lagoa de Ibiraquera, a Praia do Rosa (ambas em Imbituba) e a Praia

da Ferrugem (Garopaba). Seu conhecimento formal a respeito dos vestígios

arqueológicos e sua discussão sobre os efeitos do turismo na região aprofundaram-se a

partir do seu envolvimento com a APA e com o Fórum da Agenda 21, instituídos em

2000. Relata que, quando criança, o mar era visto por ela e pelos demais moradores da

região como local de sobrevivência onde se pescava o alimento, e que na sua juventude,

com a chegada dos turistas à região, passou a servir também para o lazer, “foi aí que a

gente começou a usar a praia para tomar banho, para se bronzear, para passear, para

namorar” (FERREIRA, depoimento ao autor, 2016).

O primeiro contato da entrevistada com as oficinas líticas da Praia do Rosa ocorre

ainda na infância, quando frequentava as pedras para recolher mariscos. Em seu

depoimento, relata esta experiência, explica como ela e seus conhecidos interpretavam

as marcas nas pedras e sua preocupação com a perda da identidade cultural local.

Sobre as oficinas líticas, antes de nos envolvermos com a APA,

sabíamos pouco. Sabíamos da nossa forma, que aquelas eram marcas

dos nossos antepassados, dos índios. Mas não tinha este nome

reconhecido, oficina lítica. A gente não tinha relação com o IPHAN,

não tínhamos discutido em comunidade sobre a situação. Eram lugares

que a gente via como lendas, como sagrados, com certo respeito

porque ali havia tido vidas antepassadas às nossas e que ali deixaram

seus vestígios. Era nessas pedras que a gente ia tirar marisco, e víamos

que aquelas marcas não eram feitas pela natureza, mas sim por

pessoas. Eu era muito curiosa e perguntava para a minha mãe, para o

meu pai, e eles diziam: ‘isso era dos índios, era onde eles moravam,

eles afiavam suas facas aí’. (FERREIRA, depoimento ao autor, 2016).

O depoimento da entrevistada revela também de que modo a comunidade valorou

simbolicamente a oficina lítica existente na Praia do Rosa, transformando-a em uma

referência para a Reserva Extrativista cuja criação estava sendo discutida, e a

importância que estes vestígios passam a ter nas disputas territoriais, ao ponto de serem

vandalizadas porque passaram a representar um marco identitário.

Seu Anastácio já chamava a atenção para a perda cultural, para a perda

das espécies. Seu Anastácio é o patriarca, o mestre de pesca mais

antigo do Rosa Sul. Ele falava dos nossos sambaquianos. E com o

Fórum da Agenda 21 ficando forte, a APA veio junto com uma nova

gestão, que fazia com que a comunidade se envolvesse na gestão. Foi

um chão aberto para que a gente aprendesse várias coisas. Dentro do

Conselho da APA conhecemos o IPHAN. Vendo o pessoal do Farol

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de Santa Marta lutar por uma RESEX de Pesca Artesanal, pensamos

em propor estudos para ver se a gente merecia outra unidade de

conservação além da APA para proteger a pesca artesanal e suas

culturas. E os estudos comprovaram que sim. Começamos a demarcar

a área que a gente queria para a RESEX, e depois de muito

estudarmos, concluímos que só queríamos a área marinha. A lâmina

de água pegava todos os corredores de costões, pegava toda a área de

Marinha e pegava aquelas oficinas líticas do Rosa. A luta da RESEX

foi muito forte no Rosa, principalmente no Rancho do Seu Anastácio,

onde aconteceu a primeira reunião sobre as RESEX, e o Seu

Anastácio começou a mostrar as oficinas líticas para todo mundo e a

dizer que ali era o marco. O GPS bateu exatamente na ‘Pedra da

Dedada’, como a gente chama uma pedra que tem as marcas de

afiadores bem fortes, e ela faz a imagem de uma mão. Seu Anastácio

dizia que era a mão de Deus que tinha passado por ali. Ele tem

também uma história romântica que conta que ali era a pedra onde ele

encontrava com as namoradas. Então ela era forte para a luta da

RESEX, e o GPS bateu que o limite da RESEX era ali. E teve

enfrentamento contra a nossa proposta. Especuladores imobiliários

ficaram sabendo que a RESEX iria dar uma autonomia de gestão para

nós. Uma gestão local. E virou uma briga ferrenha contra nós que

estávamos propondo a ideia. Começaram várias perseguições.

Começaram a dizer que era uma forma de tirar a terra das pessoas. E

as pessoas começaram a ter um enfrentamento muito grande contra a

gente. E tudo o que se referia à RESEX virou alvo de bandidagem, e

infelizmente a oficina lítica foi uma delas. Um dia a gente saiu de uma

reunião bem forte no Salão Paroquial de Ibiraquera. No outro dia pela

manhã fomos até a Pedra da Dedada e eles tinham cimentado toda a

marca da oficina lítica. Ela é uma das mais fortes aqui da região. Tem

muitas, mas aquela é muito forte e tem todo um significado. A gente

bateu foto e disse, ‘vamos denunciar em todos os órgãos’. E a gente

fez a denúncia no Ministério Público, IPHAN, Colônia de Pescadores,

APA, IBAMA, prefeituras. O IPHAN veio e verificou que o tempo

iria se encarregar de salvar a Pedra da Dedada. O Seu Anastácio já

dizia, ‘o tempo vai tirar, aquilo é um corpo estranho na pedra e ela vai

expulsar’. Isso deve ter sido em 2007 ou 2008. Em poucos meses saiu

tudo. Parece uma coisa milagrosa. Também foram colocadas placas,

que depois de um tempo foram arrancadas. Elas eram de metal. Teve

gente que disse que elas foram tiradas porque davam reflexo no mar e

prejudicavam a pesca. Mentira. A gente vê que foi uma afronta ao

grupo da RESEX, que se concentrava mais ali, no Rancho do Seu

Anastácio, porque eles sabiam o quanto a gente valorizava as oficinas

líticas. (...) Às vezes tenho medo, se sinalizar vai cuidar ou vai

deteriorar? Sabe? Tenho medo! Às vezes as coisas são mapeadas para

uma boa intenção e viram uma afronta para as pessoas que são contra

as nossas lutas. Talvez se a Pedra da Dedada nunca fosse valorizada

por nós, talvez não tivesse sofrido o que sofreu. (FERREIRA,

depoimento ao autor, 2016).

O ato de vandalismo da ‘“Pedra da Dedada” narrado pela entrevistada mostra

como um vestígio arqueológico pode ser significado por uma comunidade local e

integrar sua identidade enquanto marco simbólico e, ao mesmo tempo, relacionar-se às

disputas territoriais. Cobrir a oficina lítica com cimento, neste caso, significou atacar

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um patrimônio reconhecido por um grupo e por ele valorado simbolicamente para

atingir as pessoas e uma causa política, justamente porque este sítio possui aquilo que

Dabezies (2011) entende como reconhecimento social. A disputa em torno da ‘Pedra da

Dedada’ mostra também a disputa inerente ao processo de patrimonialização, que

encara os vestígios arqueológicos “como socialmente construídos e contestados, em

termos culturais, antes que como portadores de significados inerentes e a-históricos,

inspiradores, pois, de reflexões, mais do que de admiração” (FUNARI e FERREIRA,

2015, p. 136).

A entrevistada também narra outros atos de vandalismo à oficina lítica do Rosa

Sul, como a remoção de pedras para compor um futuro museu na região.

É um lugar sagrado, natural, feito ali. Sou contra esses museus que

ficam pegando essas coisas e deixam lá, exposto para as pessoas olhar.

Se o lugar vai ser deteriorado, tudo bem, salva-se e se faz um lugar

para guardá-las. Mas se o lugar está lá, vivo, por que tirar as coisas de

lá para colocar dentro de um galpão? Eu não vejo muito sentido! A

gente começa a perder este patrimônio, porque vai sendo mexido, vai

sendo tirado do lugar. (FERREIRA, depoimento ao autor, 2016).

Bastos defende que o patrimônio arqueológico “deve ser sempre um bem de

alcance social, e sua apropriação e seu sentimento de ‘pertença’, todavia deverá ser

sempre o elemento mais importante no processo de preservação” (BASTOS, 2008, p.

11). O que a entrevistada critica nesta sua fala diz respeito a uma tradição autoritária da

arqueologia brasileira que vem se modificando desde a democratização política do país

(BUENO, 2011; FUNARI, MANZATO e ALFONSO, 2013) e que tinha por prática

retirar das comunidades os vestígios arqueológicos considerados significativos para

transferi-los a laboratórios e museus nos quais a própria comunidade se via

representada.

O reconhecimento por parte de uma parcela da comunidade local de que a oficina

lítica da Praia do Rosa representava um patrimônio comum a ser preservado e as

disputas em torno deste patrimônio, inscrevendo-o no contexto da constituição do

território da Reserva Extrativista, agregou aos vestígios arqueológicos ainda maior valor

simbólico, inclusive na atividade turística de base local desenvolvida pela entrevistada,

principalmente em sua atuação como condutora ambiental.

Como teve todo esse histórico de vandalismo, isso valorizou muito

aquele lugar. Então, nas minhas conduções, sempre passo lá, conto

toda a história. O Seu Anastácio contou a história dele do namoro

naquela pedra. As pessoas se emocionaram, as pessoas choraram, as

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pessoas queriam ir lá alisar a pedra, ver de perto, tirar foto. Eu vejo o

quanto as pessoas ficam maravilhadas com aquilo. E muitos passam

por ali e não sabem de nada. Nem sabem que tem condutores

ambientais que conhecem aquela história. Na maioria das vezes as

pessoas vêm e vão deste lugar sem conhecer nada sobre ele. Então as

oficinas líticas agregam valor nas conduções, agregam valor ao nosso

turismo, o de Base Comunitária, o turismo sério, o turismo que não é

só mar, surf, sol e balada. Vai agregar outro tipo de turismo. Tem

vários lugares assim, além deste. O poço das mulheres que fica do

ladinho da Pedra da Dedada, uma piscina natural no meio do costão

onde o mar entra e represa a água. É chamado de poço das mulheres

porque ali elas tiravam marisco e tomavam banho. É lindo contar essa

história para as pessoas! Quando o SEBRAE esteve aqui e fizemos os

roteiros, eu conduzi pousadeiros que estão aqui há 21, 25 anos, e eles

não sabiam esta história, nem conheciam os sambaquis, as oficinas

líticas. Ficaram bobos quando contei! A ignorância é muito grande!

No Rosa, no Ouvidor, na Ferrugem, em todos os nossos costões tem

oficinas líticas. Falta mapear. Agora, no plano de manejo da APA está

se pensando em fazer isso. Inclusive, tem poucos estudos!

(FERREIRA, depoimento ao autor, 2016).

O depoimento da entrevistada remete a questões ouvidas nas entrevistas

anteriores, tais como a falta de estudos que possam promover a interpretação cultural

dos vestígios, o desconhecimentos dos moradores da região (inclusive dos próprios

operadores do trade turístico, como é o caso dos pousadeiros citados) e a vandalização

dos sítios arqueológicos. A partir da sua experiência pessoal como condutora ambiental,

a entrevistada compreende que o patrimônio agrega valor ao turismo de base local

quando inserido como atrativo nas trilhas e interpretado culturalmente para os turistas.

4.1.4 Considerações gerais

Os três entrevistados concordam que os vestígios arqueológicos existentes na

região podem servir como atrativos para um turismo mais qualificado na região, bem

como comungam da preocupação de que estes vestígios sejam respeitados e que sua

transformação em atrativos não esvazie o significado que possuem para o território.

Entretanto, os entrevistados divergem quanto à forma como estes atrativos devem ser

explorados e ao público a que poderiam ser apresentados. Bintencourt defende a

perspectiva de um turismo pedagógico, onde o público alvo seriam pesquisadores e

estudantes interessados em compreender a ocupação pré-colonial da região. Já Castilho

Neto defende um turismo arqueológico que incorpore Garopaba em roteiros que

envolvam os principais locais onde se desenvolve o arqueoturismo na América, como

Machu Pichu por exemplo. Sua defesa parte da tese de que os povos que produziram os

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vestígios arqueológicos de Garopaba mantinham relações com antigas civilizações

americanas, como os Incas. Cabe ressaltar que esta tese, embora defendida por muitos

interessados em arqueologia, não é objeto das pesquisas acadêmicas que investigam a

ocupação pretérita do litoral centro-sul de Santa Catarina que consultamos. Bintencourt

também levanta esta tese em seu depoimento, porém na condição de possibilidade que

necessita ser melhor investigada. Por fim, Ferreira entende que os vestígios

arqueológicos são importantes atrativos para turistas que buscam conhecer melhor o

território, especialmente turistas interessados no turismo de base local, no ecoturismo e

no turismo cultural.

Há consenso entre os entrevistados a respeito do desconhecimento dos vestígios

arqueológicos por parcela importante da população local. Os entrevistados também

relatam casos de destruição de sítios arqueológicos, seja por razões de fé e de comércio

de artefatos arqueológicos, conforme apontado por Bintencourt, seja por razões

econômicas e ideológicas, conforme apontado por Ferreira. Do depoimento de Ferreira

é possível depreender que a Oficina Lítica da Praia do Rosa é apropriada como

elemento constituidor de identidade para um grupo de moradores da Praia do Rosa e da

Lagoa de Ibiraquera que defendem a instalação de uma reserva extrativista na região.

Esta apropriação enquanto elemento constituidor de identidade tornou a oficina lítica

alvo de vandalismo cujo objetivo era atingir as lideranças do movimento que propunha

a criação da reserva extrativista.

Os entrevistados manifestam dúvidas sobre a efetividade da sinalização dos sítios

arqueológicos para sua preservação. Temem que a sinalização dos sítios possa despertar

o interesse de pessoas que não compreendem sua importância história e cultural para o

território, contribuindo para sua vandalização. Informam situações nas quais esta

sinalização existia e as placas foram destruídas, em alguns casos por moradores locais,

conforme relato de Ferreira.

Cabe ressaltar que a existência de um movimento de arqueólogos amadores,

citado por Castilho Neto e Bintencourt, e as ações em torno da proteção e recuperação

da oficina lítica do Canto Sul da Praia da Rosa, são indicativos de que, ainda que pouco

conhecidos e reconhecidos pela população local, os vestígios arqueológicos pré-

coloniais de Garopaba e da Praia do Rosa vêm sendo reivindicados por grupos locais

como importantes marcos culturais do território, a respeito dos quais são necessários

maiores estudos e cuidados protetivos. Para Castilho Neto e Ferreira, inclusive, estes

vestígios podem servir como atrativos a um turismo qualificado na região.

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4.2 A percepção dos grupos de Condutores Ambientais Locais

A profissão de Condutor Ambiental Local foi regulamentada em 2008, e o

registro dos profissionais ocorre em nível de município ou unidade de conservação

mediante formação específica. Sua função é conduzir visitantes em sítios naturais,

promovendo sua interpretação ambiental e cultural. Diferentemente de outros

profissionais do trade turístico, o condutor ambiental local geralmente possui forte

ligação com o território em que exerce sua atividade profissional.

O condutor é preferencialmente um integrante do entorno ou da

localidade onde atua, um “nativo”, apresentando conhecimentos

vivenciais do meio biológico e cultural do que interpreta, o que o

difere dos demais sujeitos do “mercado” turístico. Muitos condutores

ambientais são “mateiros”, extrativistas, pescadores ou ex-caçadores.

Ao ser um membro da comunidade e um retrato da cultura local, o

condutor em si também pode ser visto como um atrativo turístico,

promotor de um intercâmbio cultural. Programas de turismo de base

comunitária podem vislumbrar nos condutores locais perspectivas de

sua concretização – atualmente muito idealizada, mas ainda pouco

concebida. (RIBAS e HICKENBICK, 2012, p. 147).

Em Garopaba e Imbituba há condutores ambientais registrados e organizados em

coletivos e exercendo a profissão, a maior parte deles formados pelo Instituto Federal de

Santa Catarina (IF-SC). Dadas as características da sua atuação profissional e sua

vinculação com o território, aplicamos com os grupos identificados um questionário

com questões fechadas de múltipla escolha a respeito do patrimônio arqueológico e as

possibilidades do turismo arqueológico na região. Os questionários foram entregues a

um representante de cada grupo de condutores no transcorrer do segundo semestre de

2015.

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Questões

Empresa / Grupo / Coletivo

ACAIG Vidamar Taiá Terra

Garopaba

Mountain

Bike Tours

Quantidade de profissionais

envolvidos 4 3 a 6 16 1

Municípios de atuação Garopaba e

Imbituba Garopaba

Garopaba e

Imbituba

Garopaba,

Imbituba e

Imaruí

Segmento turístico em que

atua

Atrativos

naturais e

culturais

Ecoturismo,

Turismo

Pedagógico

Turismo de

Base

Comunitária,

Ecoturismo

Cicloturismo

Ano de criação/fundação 2013 2003 2012 2014

Quadro 7: Identificação das empresas/grupos/coletivos de condutores

O primeiro conjunto de questões (Quadro 7) busca traçar um perfil dos grupos de

condutores. Foram identificados quatro grupos atuando profissionalmente na região:

ACAIG, Vidamar, Taiá Terra e Garopaba Moutain Bike Tours33

. Sua organização é

recente (exceto Vidamar) e juntos empregam entre 24 e 30 pessoas. Na segmentação

turística, identificam sua atuação no ecoturismo, turismo de base comunitária, turismo

pedagógico e cicloturismo. Caracterizam-se, portanto, como grupos que buscam atuar

na perspectiva do turismo comunitário.

(...) o turismo comunitário é pensado como projeto de

desenvolvimento territorial sistêmico (sustentável), a partir da própria

comunidade (...). Esse projeto promove, entre outras coisas (...) a

convivencialidade entre população originária, visitante e residentes

(...), incrustada em um arranjo socioprodutivo de base comunitária,

fomentando a relação social entre modos de vida distintos, na qual

congregam os conhecimentos formal e tradicional e que, na sua

essência, supera a mera relação de negócio (baseada na maximização

do ganho individual), resgatando e reconstruindo o interesse pelo

outro, pelo diferente, pela alteridade, pelo autêntico, enfim, pela

interconectividade entre os sistemas sociais e ecológicos (...).

(SAMPAIO, 2010, p. 72).

33

Garopaba Mountain Bike Tours é um Microempreendedor Individual (MEI) e não possui registro de

condutor ambiental. Entretanto, a empresa foi considerada nesta pesquisa no contexto dos grupos de

condução ambiental por se tratar de morador local que conduz visitantes por trilhas localizadas em sítios

naturais, aliando turismo de aventura com interpretação ambiental e cultural e atuando na perspectiva do

turismo de base local.

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Questões

Empresa / Grupo / Coletivo

ACAIG Vidamar Taiá

Terra

Garopaba

Mountain

Bike Tours

Há sítios/vestígios pré-

coloniais nas trilhas utilizadas Sim Sim Sim Sim

Tipo de sítio/vestígio

identificado

Sambaqui,

oficina lítica,

cerâmica,

inscrições

rupestres

Vestígio de

aldeamento

indígena

Sambaqui,

oficina

lítica,

cerâmica,

inscrições

rupestres

Sambaqui,

oficina lítica,

inscrições

rupestres

Condições de acessibilidade Razoável Razoável Razoável Razoável

Quadro 8: Reconhecimento de sítios e vestígios arqueológicos pelas

empresas/grupos/coletivos de condutores

O segundo conjunto de questões (Quadro 8) diz respeito à identificação de sítios

e/ou vestígios arqueológicos pré-coloniais nas trilhas exploradas turisticamente pelos

grupos de condutores ambientais. Todos os grupos identificaram sítios/vestígios

arqueológicos nas trilhas utilizadas em condições razoáveis de acessibilidade.

Predominam os sítios/vestígios tipificados como sambaqui, oficina lítica, inscrição

rupestre e cerâmicos. O grupo Vidamar acusou a existência de vestígio de aldeamento

indígena no município de Garopaba. No Quadro 10 estão relacionados os sítios que

cada grupo indicou com maior potencial para o turismo arqueológico. Alguns dos sítios

arqueológicos indicados estão registrados no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos

(CNSA/SGPA), ainda que com nomes diferentes, outros não. A indicação dos grupos de

condutores será considerada na valoração do patrimônio arqueológico desenvolvida

neste trabalho.34

34

As oficinas líticas da Praia Vermelha e da Praia do Ouvidor, indicadas pelos grupos de condutores, não

apresentaram condições de acessibilidade ao pesquisador e por isso não foi possível analisá-las na

valoração do patrimônio arqueológico.

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Questões

Empresa / Grupo / Coletivo

ACAIG Vidamar Taiá

Terra

Garopaba

Mountain

Bike Tours

Há potencial turístico nos

sítios/vestígios pré-coloniais

existentes

Sim Sim Sim Sim

O turismo arqueológico é

potencialmente interessante

para o perfil do público com

que trabalha

Não Sim Sim Sim

O turismo arqueológico é

potencialmente viável na

região

Sim Não Sim Sim

Quadro 9: Potencial do turismo arqueológico na região de atuação.

O terceiro conjunto de questões (Quadro 9) diz respeito ao potencial dos sítios

e/ou vestígios para o turismo arqueológico na percepção dos grupos de condutores

ambientais ouvidos. Todos os grupos reconhecem que há potencial turístico nos

sítios/vestígios arqueológicos pré-coloniais existentes. Vidamar, Taiá Terra e Garopaba

Mountain Bike entendem também que o turismo arqueológico é potencialmente

interessante para o perfil de público com que trabalham. ACAIG avalia que o turismo

arqueológico não é potencialmente interessante para seu público. Ainda assim, ACAIG

compartilha com Taiá Terra e Garopaba Mountain Bike da avaliação de que o turismo

arqueológico é potencialmente viável na região, diferentemente de Vidamar, que

justificou sua resposta na falta de interesse dos moradores locais em preservar e

reconhecer a importância dos vestígios arqueológicos para a economia.

Como principais dificuldades para o desenvolvimento do turismo arqueológico

nos municípios de atuação os grupos apontaram (Quadro 10) a dificuldade de acesso, o

estado de conservação das trilhas e dos vestígios e sua vandalização, a especulação

imobiliária, o descaso e a falta de planejamento público, ausência de divulgação e falta

de compreensão da comunidade em relação ao potencial do ecoturismo e do turismo

pedagógico.

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Empresa/ Grupo/

Coletivo

Sítios que considera possuir

maior potencial turístico

Dificuldades para o

desenvolvimento do turismo

arqueológico no território

de atuação

ACAIG

- Ponta do Galeão

- Oficina lítica da Ferrugem

- Praia da Vigia

- Casqueiro do Costão de

Garopaba

- Acesso

- Conservação dos sítios

- Vandalismo

- Falta de planejamento

público

Vidamar - Trilha no Ambrósio

- Especulação imobiliária

- Falta de compreensão da

comunidade a respeito da

viabilidade do turismo

ecológico e pedagógico

Taiá Terra

- Sambaqui da Praia do Luz

- Oficina lítica na Praia do

Rosa

- Oficina lítica Praia

Vermelha

- Oficina lítica Praia do

Ouvidor

- Oficina lítica do Morro do

Índio (Ferrugem)

- Oficina lítica da Praia da

Vigia

- Inscrições rupestres na trilha

da Vigia ao Silveira

- Vestígios de Cerâmica nas

Dunas da Ribanceira

- Vestígios de Cerâmica nas

Dunas de Itapirubá

- Acesso

- Manutenção das trilhas

- Descaso do poder público

com os sítios

Garopaba Mountain

Bike Tours

- Oficina lítica da Ponta do

Ouvidor

- Oficina lítica do Morro da

Barra (Ferrugem)

- Oficina lítica da Praia da

Vigia

- Inscrições rupestres e

esfinge na Ponta do Galeão

- Divulgação e Marketing

Quadro 10: Sítios arqueológicos com potencial para o turismo arqueológico e

dificuldades atuais para sua aplicação

De modo geral, os grupos de condutores ambientais locais ouvidos nesta pesquisa

têm a percepção de que a região possui potencial para o turismo arqueológico,

considerando os sítios e vestígios arqueológicos existentes, seu estado de conservação e

acesso e o perfil dos visitantes atendidos. Por outro lado, apontam problemas na

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conservação do patrimônio arqueológico, responsabilizam o poder público e denunciam

a vandalização deste patrimônio.

4.3 A perspectiva do Poder Público Municipal

Partindo da premissa de que a configuração de uma região tem base territorial

(GOMES, 1995) e que o território é resultado de uma construção social dinâmica,

coletiva, conflituosa, multidimensional e multiescalar (BRANDÃO, 2004), nesta

pesquisa entrevistamos, na condição de atores locais, representantes do poder público

dos três municípios pesquisados.

Optamos por entrevistar os secretários municipais de turismo, cientes de que a

discussão do turismo arqueológico envolve diferentes escalas, especialmente as três

esferas do Estado, dado o fato dos sítios arqueológicos constituírem patrimônio da

União.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com o propósito de conhecermos o

contexto do turismo em cada um dos municípios, as prioridades de investimento do

poder público neste setor e as dificuldades encontradas, se há interesse na segmentação

turística e quais as propostas para a promoção turística dos municípios na baixa

temporada, bem como compreendermos o nível de reconhecimento e de interesse que o

poder público manifesta em relação ao patrimônio arqueológico do seu município e seu

aproveitamento na economia.

4.3.1 Entrevistado: Paulo Sefton, Secretário de Turismo, Esporte e Cultura de

Imbituba.35

O município de Imbituba não possui uma secretaria específica para o turismo. A

pasta é compartilhada com as de esporte e de cultura. Seu Secretário é Paulo Sefton, que

ocupa o cargo desde fevereiro de 2015, após um período de dois meses em que a pasta

ficou sem titular. Sefton já ocupara o cargo de Secretário de Turismo em 1997,

momento em que foi criada a Semana Nacional da Baleia Franca, um evento que,

segundo o entrevistado, teve inspiração na Oktoberfest de Blumenau (SC) no sentido de

servir como um evento âncora para o turismo municipal.

35

A entrevista foi realizada em 09 de julho de 2015 no gabinete da Secretaria Municipal de Turismo,

Esporte e Cultura de Imbituba.

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Ao ser questionado a respeito da representatividade do turismo na economia do

município, o entrevistado reconhece tratar-se de uma atividade importante mas que o

poder público não dispõe de números do setor para quantificar sua representatividade na

economia. A falta de dados ocorre, segundo Sefton, pela grande informalidade dos

estabelecimentos relacionados ao turismo em Imbituba, principalmente nos bairros da

Ibiraquera e Praia do Rosa.

Na entrevista assume protagonismo a presença do SEBRAE através do Projeto de

Fortalecimento do Turismo de Observação de Baleias. O projeto envolve os municípios

de Garopaba, Imbituba e Laguna e é gerido por um Comitê Gestor que busca construir

um modelo de governança envolvendo diferentes atores do território, dentre eles os

poderes públicos municipais. Ao ser questionado sobre a existência de roteiros que

atendam diferentes segmentos turísticos no município, Sefton remete-se ao trabalho que

está sendo desenvolvido pelo Comitê Gestor no projeto proposto pelo SEBRAE.

Nós temos um projeto do SEBRAE, de fortalecimento do turismo de

observação de baleias, com uma verba e estamos pensando em criar

estes roteiros. Mas sempre trabalhando a região, ou seja, no mínimo

envolver Garopaba, Imbituba e Laguna. Traçar um roteiro e trabalhar

outras alternativas além da observação de baleias é de suma

importância. E um ponto a ser tratado por nós aqui é a questão do

turismo embarcado, que está embargado. Então existe o anseio de

parte da sociedade de liberar, mas é um processo pesado porque foi

feita uma denúncia muito bem estruturada pela ONG Sea Sheperd.

Tenho a expectativa de que logo a gente consiga ordenar esse turismo

embargado. Independente disso, tem todo o aspecto do turismo de

observação terrestre, que é importante, porque tu não ficas só em um

turismo que é elitizado. O turismo de observação embarcado é caro e é

para turista europeu, americano, canadense, que é o perfil que a gente

viu ao longo dos anos em que este turismo aconteceu. Tem uma

proposta do pessoal do Rosa de fazer um turismo de observação com

bicicletas. Então tem que definir os roteiros. Com certeza, além do

turismo de observação de baleias, tem várias outras opções turísticas

em Imbituba, como a pesca da tainha, a cultura açoriana, o esporte.

Acho que esse turismo esportivo na baixa temporada pode alavancar

uma melhora do turismo na baixa temporada. (SEFTON, depoimento

ao autor, 2015).

O embargo ao turismo embarcado de observação de baleias mencionado por

Sefton foi o principal fator de mobilização do projeto apresentado pelo SEBRAE. Em

paralelo ao turismo embarcado, apresenta-se o turismo de observação terrestre citado

pelo entrevistado, que acontece em trilhas e possui uma proposta de base local. O

turismo de observação é apontado por ele como a principal alternativa turística para a

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baixa temporada na região, juntamente com os eventos esportivos, especialmente

aqueles ligados às modalidades aquáticas (surf, kitesurfe, stand up paddle e windsurfe).

O projeto de fortalecimento do turismo de observação de baleias propôs também

uma nova escala na divisão regional – uma nova escala de representação social,

considerando o conceito de Marques e Dias (2003) – envolvendo Garopaba e Laguna

além de Imbituba, que passa a tratar estes municípios como preferenciais em seu

planejamento turístico a partir de uma perspectiva de desenvolvimento turístico

integrado.

Laguna é considerado um polo indutor. Acho que este turismo

integrado faz parte. Se a gente conseguisse manter um bom apelo para

que o turista ficasse dois ou três dias em Laguna, visitando o Farol de

Santa Marta, o Museu de Anita, os prédios históricos e vendo os

botos, que é o que mais chama a atenção! O boto e a baleia franca têm

a mesma importância. O convívio do boto com o pescador é de suma

importância para desenvolver esse turismo integrado. Em Imbituba a

gente tem a Praia do Rosa e da Praia da Vila com o cenário do surf e

da baleia. Garopaba tem toda outra característica, que é a vila dos

pescadores, aquela história romântica que ela tem, a igreja do Centro,

que precisa ser recuperada. Então acho que se o turista vem do sul,

chega por Laguna, fica dois ou três dias por lá e tiver um roteiro bem

estruturado por nós, aonde ele venha passar mais dois ou três dias em

Imbituba e daqui vá para Garopaba, onde passa mais dois ou três dias,

a gente consegue manter este turista por um tempo muito maior com

inúmeras opções, inclusive na baixa temporada. (SEFTON,

depoimento ao autor, 2015).

Depreende-se da fala de Sefton que a Prefeitura de Imbituba busca alternativas

que possam motivar o turismo na cidade durante a baixa temporada, sendo que estas

alternativas devem ser encontradas no âmbito da região que o projeto do SEBRAE

propõe. Quanto aos atrativos, o foco está nos recursos naturais e, especialmente, na

facilidade de avistamento de baleias em Imbituba.

Além dos atrativos já mencionados, desde 2014 há a publicização pela imprensa

do projeto de construção de um santuário e uma estátua de Madre Paulina com 46,5

metros de altura no alto do Morro do Mirim, em Imbituba. A construção do santuário e

da estátua apresentam para a cidade a perspectiva do turismo religioso. Apesar do

projeto contar com o apoio do poder público municipal, a fala do entrevistado mostra

não se tratar de uma prioridade no planejamento turístico da cidade e compreende que o

turismo religioso possui baixa capacidade de fixar o turista na cidade por um período

superior a um dia.

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A gente sabe que o turismo religioso difere um pouco do turismo que,

por exemplo, está proposto pela Praia do Rosa ou por Garopaba ou

por Laguna. E o turista do turismo religioso é um turista rápido,

geralmente romeiros. Então eles passam pelo município. Mas não quer

dizer que não seja um segmento que precisa ser construído e

desenvolvido. Porém a gente já tem recursos naturais que podem ser

bem explorados, bem protegidos e bem estruturados suficientes para

desenvolver um turismo de qualidade. Então acho que a prioridade é

dar infraestrutura nas praias e nos pontos turísticos naturais.

(SEFTON, depoimento ao autor, 2015).

Durante a entrevista não houve menção espontânea do entrevistado à existência de

sítios ou vestígios arqueológicos que se enquadrassem como atrativos turísticos. No

âmbito do patrimônio cultural, as principais menções citavam o Museu da Baleia, recém

inaugurado, e o projeto de restauro do prédio da antiga usina termelétrica. Ao

questionarmos a respeito dos vestígios arqueológicos existentes no município, Sefton

demonstra conhecimento da existência dos sítios e informa sobre um projeto para o

ordenamento de uso do Sambaqui da Barra da Lagoa da Ibiraquera. Entretanto, não há

na fala do entrevistado indicativos do poder público municipal para um turismo

arqueológico na cidade.

Há muito tempo atrás encontrávamos placas do IPHAN espalhadas

por todo o município. Na frente da Ilha do Batuta, na Barra, tem um

sambaqui que está todo detonado. Tem um projeto bacana de

revitalização Barra – Luz feito por um arquiteto argentino que estou

submetendo à APA, para ver se conseguimos implementar. Lá sempre

teve uma placa do IPHAN, de madeira, e ficou lá uns quinze anos.

Depois nunca mais teve placa do IPHAN. É um sambaqui importante

e está sendo pisoteado. Não é crítica, mas na época da tainha os

pescadores constroem dois barracos para observação e eles ficam

rodeados de lixo, os caminhos estão fundos. No projeto há uma

escadaria e uma passarela com madeira tratada que passaria por um

único trecho e impediria buggys e motos de subirem o sambaqui.

Haveria uma área definida para estacionamento e banheiros químicos

durante a temporada, o disciplinamento de veículos e o cercamento

das dunas. A preocupação é preservar o sambaqui e tirar os carros da

praia. (SEFTON, depoimento ao autor, 2015).

Ainda que demonstre preocupação com a preservação do patrimônio arqueológico

existente na Barra da Lagoa da Ibiraquera, o relato do entrevistado mostra que o projeto

busca o ordenamento do uso da praia e percebe o sambaqui como um mirante. Não se

trata, assim, de uma proposta que valoriza e interpreta o patrimônio arqueológico

existente, embora possa contribuir para mitigar a destruição do sambaqui.

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119

4.3.2 Entrevistado: Fernando Ambrósio, Secretário de Turismo, Esporte e

Desenvolvimento de Garopaba.36

O município de Garopaba não possui uma secretaria específica para o turismo. A

pasta é compartilhada com as de esporte e de desenvolvimento. Seu Secretário é

Fernando Ambrósio, que ocupa o cargo desde 2013.

Ambrósio percebe que o número de turistas em Garopaba vem aumentando a cada

ano e que boa parte deles é proveniente da região Sul do Brasil, principalmente do Rio

Grande do Sul. Acredita que esta tendência de crescimento se manterá em função das

facilidades que o brasileiro dispõe para viajar e da conclusão da ponte em Laguna

(Ponte Anita Garibaldi), que facilitou o acesso a Garopaba pela rodovia BR 101 – Sul.

Por outro lado o entrevistado avalia que a qualidade do turista que busca a cidade foi se

modificando, sem entretanto definir o que seria um bom turista e um mau turista.

Segundo ele, o turismo atualmente é a principal atividade econômica do município.

Acredito que hoje a economia da cidade é voltada totalmente para o

turismo, direta e indiretamente. O que falta em Garopaba é algumas

pessoas entenderem essa situação, que a economia é turismo, que a

gente tem que respirar e falar de turismo em Garopaba. Nas décadas

de 70, 80, Garopaba recebia os melhores turistas do Brasil, e ao longo

dos anos isso veio se perdendo. E a gente se pergunta por que isso foi

se perdendo. Surgiram outros destinos melhores que Garopaba? Que

série de coisas aconteceu para termos este norte? De que forma isso

aconteceu? Então estas questões têm que ser analisadas. O turismo é o

foco. (AMBRÓSIO, depoimento ao autor, 2015).

O entrevistado reconhece o problema da disparidade existente entre a alta

temporada e a baixa temporada, principalmente na sazonalidade da oferta de empregos.

Sugere que a prefeitura deveria destinar uma verba que pudesse ser dividida entre as

semanas da baixa temporada para ser aplicada na promoção de eventos com o objetivo

de atrair visitantes para a cidade durante todo o ano, e aposta no projeto do SEBRAE de

fortalecimento do turismo de observação de baleias para modificar esta realidade.

Acredita que a conjuntura atual do turismo em Garopaba é resultado da falta de

planejamento e argumenta que o atual Executivo municipal está procurando estabelecer

parcerias e projetos que modifiquem esta realidade, buscando promover um turismo de

base territorial a partir do fortalecimento dos aspectos culturais e ambientais e

formatando roteiros turísticos que possam ser disponibilizados no mercado. Identifica

36

A entrevista foi realizada em 23 de julho de 2015 no gabinete da Secretaria Municipal de Turismo,

Esporte e Desenvolvimento.

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também a grande informalidade dos negócios relacionados ao turismo e dos roteiros

como um problema para consolidar os atrativos turísticos e divulgá-los nas agências.

No projeto do SEBRAE a gente vêm analisando várias formas de

mudar essa realidade. Este projeto do SEBRAE é focado no

ecoturismo, que é pouco explorado aqui na região, e temos um

potencial enorme. Não sei se o pessoal brincou de fazer turismo em

Garopaba. Tinha uma demanda, trabalhava-se em cima dela, abria-se

qualquer coisa. As pessoas abriram restaurantes, pousadas... viam um

negócio. Enxergando isso, a gente vêm fazendo um trabalho de base

com entidades que envolvem o turismo. Exemplos como o DTS,

desenvolvimento territorial sustentável, ao qual estamos ligados,

resgatando nossa cultura, dando a oportunidade das pessoas virem

para Garopaba e fazerem um turismo de experiência. Os roteiros já

estão formatados, falta embalar para colocar no mercado. Temos que

fazer estudos, como os de capacidade de carga. Os engenhos de

farinha que estamos tentando resgatar. Sabemos que não é só abrir as

portas e colocar o pessoal lá para dentro. Temos a APA, que vejo que

vem para somar, para contribuir. Estamos também com uma parceria

com o IF-SC para o inventário turístico. Nunca foi feito um inventário

turístico da cidade. São ações que estamos trabalhando nos últimos

três anos e vemos que está saindo do papel. Não é só divulgar a

cidade, a base tem que estar bem montada. (...) Na região existem

produtos atrativos e roteiros, mas é tudo muito informal. Não temos

um roteiro formatado que está no mercado para ser vendido. Essa

informalidade é a dificuldade que hoje a gente tem para colocar uma

agência especializada em trazer turistas para cá. (AMBRÓSIO,

depoimento ao autor, 2015).

Assim como no depoimento de Paulo Sefton, Secretário de Turismo, Esporte e

Cultura de Imbituba, também Fernando Ambrósio deposita muitas expectativas no

projeto de fortalecimento do turismo de observação de baleias, proposto pelo SEBRAE.

Para Ambrósio o projeto pode ativar o ecoturismo na região e promover um turismo que

integre a região, que em sua fala congrega os três municípios integrantes do Comitê

Gestor (Garopaba, Imbituba e Laguna).

A gente sabe que “baleia” é um produto com um nome muito forte.

Em nível de Brasil é algo que se enxerga com outros olhares e tem um

poder grande para a captação de recursos. O SEBRAE pensou no

projeto por ter uma visão de negócio e de potencial turístico muito

forte. Existe também a contrapartida dos municípios e do estado. O

projeto tem como ícone a baleia, mas a gente sabe que para o ícone ter

sucesso, depende de toda a base montada. E a gente está focando

realmente em ecoturismo. Porque uma trilha, um passeio de bike, os

esportes que envolvem a natureza, os botos e a pesca da tainha em

Laguna, sua questão cultural com as construções com óleo de baleia,

tudo isso vai nos impulsionar para chegar no ícone baleia. E para

acontecer a Indicação Geográfica, tu tens todo um contexto de

serviços que tem que estar bem focado e baseado na sustentabilidade.

O turismo embarcado é um braço do projeto, mas tem também o

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turismo de observação por terra. (AMBRÓSIO, depoimento ao autor,

2015).

Ambrósio manifesta interesse no aproveitamento turístico dos vestígios

arqueológicos existentes no município, especialmente no trajeto de costa entre a Praia

da Vigia e a Praia do Silveira, para o qual possui o projeto do museu ao ar livre

proposto por Keler Lucas. Entretanto, alega que apesar de anualmente submeter o

projeto ao Governo Federal, este não contempla o projeto com recursos. Reconhece que

desconhece os caminhos junto ao IPHAN e demais órgãos da União para promover o

patrimônio arqueológico enquanto atrativo turístico, e que a falta de recursos é o

principal entrave para que o município consiga proteger e explorar turisticamente estes

vestígios.

Se fores olhar no Governo Federal, todos os anos cadastro projetos

voltados para o patrimônio arqueológico. A gente tem um potencial

gigante da Praia da Vigia à Praia do Silveira. Então temos o projeto de

um museu ao ar livre ali. Uma ideia que não é minha, é do Keler

Lucas. É um projeto caro. A ideia é fazer passarela com deque, com

locais para a observação da parte da arqueologia. Nós temos o projeto

para a captação dos recursos, com acessibilidade e tudo mais. A gente

vem pensando bastante nisso, mas sabemos da dificuldade de captação

dos recursos. É um projeto de aproximadamente 1,5 milhão. Acredito

que talvez o Governo Federal não enxergue isso da forma como

deveria para poder aplicar os recursos. O governo do estado também.

Já apresentei isso inúmeras vezes para ser algo que resgate toda uma

história, podendo se tornar um atrativo turístico, e o pessoal dá

preferência a outros produtos e esquece este. Não se dá a atenção

necessária para um produto tão valioso que a gente tem. A gente tem

um projeto de sinalização turística para Garopaba e estamos tomando

o cuidado de não colocar a sinalização direta para os sítios

arqueológicos, para o pessoal não ir lá e estragar. Porque a gente pode

estar sinalizando e o pessoal ir e destruir. Até chegar no ponto de

conseguirmos preservar realmente. Tenho dificuldade de encontrar a

porta. Talvez sejam entidades que estejam um pouco afastadas da

gente, e não conseguimos chegar nelas. (AMBRÓSIO, depoimento ao

autor, 2015).

A reclamação do entrevistado a respeito do tratamento dispensado pelo Governo

Federal e pelo Governo Estadual em relação ao projeto do museu ao ar livre, que propõe

explorar os vestígios arqueológicos da Praia da Vigia à do Silveira como atrativos

turísticos, expõe a as fragilidades de um processo de patrimonialização autoritário e

verticalizado que concentra os sítios arqueológicos na esfera federal. Para além da falta

de recursos, a falta de orientações de como o município pode lidar com o patrimônio

arqueológico existente em seu território se reflete, inclusive, no momento em que se

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discute uma sinalização turística onde se evita sinalizar o sítio arqueológico mas, ao

mesmo tempo, indica sua existência.

4.3.3 Entrevistado: Agenor Garcia Felipe, Secretário da Indústria, Comércio e

Turismo de Imaruí.37

O município de Imaruí não possui uma secretaria específica para o turismo. A

pasta é compartilhada com as de indústria e de comércio. Seu secretário é Agenor

Garcia Felipe, que ocupa o cargo desde janeiro de 2015.

Felipe reconhece que apesar do potencial que possui, o turismo em Imaruí tem

pequena participação na economia do município e ainda há muito a se fazer para que a

atividade possa se consolidar. Segundo ele, a principal atividade econômica da cidade é

a pesqueira. Destaca também o cultivo do eucalipto, que direta e indiretamente ocupa

aproximadamente duas mil pessoas no plantio, na poda, nas serrarias e nas madeireiras.

Imaruí busca incentivar o turismo religioso a partir do Santuário da Beata

Albertina Berkenbrok e o turismo rural. Entretanto, segundo Felipe, o estado precário

das estradas, a possibilidade do município receber um presídio e a falta de infraestrutura

turística são os principais fatores que dificultam o crescimento desta atividade

econômica.

Nós achamos que a remoção do presídio de Florianópolis para Imaruí

não é viável para o turismo rural e religioso. Então fomos totalmente

contra. Por conta disso, temos a contrariedade do Governo do Estado,

sendo que os 50 quilômetros das rodovias estaduais que ligam Imaruí

a São Martinho e a Pescaria Brava são de estrada de chão e estão

precárias. Por conta de sermos contrários ao presídio, o Governo do

Estado negou todo o apoio para melhorar a estrada. Sem estrada fica

difícil de evoluir o turismo rural e o turismo religioso. (FELIPE,

depoimento ao autor, 2016).

O entrevistado avalia que Imaruí possui atrativos de qualidade para o turismo e

que a prefeitura municipal vem desenvolvendo um trabalho de divulgação da cidade e

capacitando a população para atuar no trade turístico, mas que necessita que a iniciativa

privada também perceba o potencial turístico local.

O turismo está caindo de maduro, mas o setor privado ainda não

descobriu o seu potencial. Nós estamos ajudando na questão de cursos

e divulgação. Se você for daqui até a terra do santuário, é um lugar

37

A entrevista foi realizada no dia 11 de janeiro de 2016 na sala de imprensa da Prefeitura Municipal de

Imaruí.

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belíssimo, só falta investimento do setor privado e o apoio que

estamos lutando com o poder público. O primeiro acesso, de São

Martinho ao santuário de Albertina está asfaltado. Então quem vem de

Florianópolis não entra aqui. Este é um dos problemas que existe. Mas

aqui é uma região muito bonita. Se tivesse uma estrada adequada,

certamente melhoraria muito. Em Vargem do Cedro já descobriram o

turismo, e ele está indo muito bem. Aos pés da serra, por exemplo,

tem um restaurante que vende uma média de 300 almoços todos os

finais de semana. Aos poucos o turismo vai desenvolvendo, querendo

ou não querendo, vai crescer. E nós estamos dando o suporte de

acordo com nossas condições. Oferecemos cursos profissionalizantes

pelo PRONATEC, desde atendente, garçom, cozinheiro até artesanato.

Ajudamos com divulgação. Participamos de várias feiras, aonde

levamos os artesãos. Na festa de Passos a gente coloca tendas para

divulgar o que Imaruí faz, a farinha, a cachaça, o açúcar mascavo, a

renda de bilro e tantas outras coisas. Nós temos hoje como acolher

200 pessoas em pousadas. Temos cinco cachoeiras, quiosques.

Estamos nos preparando, mas ainda estamos engatinhando. Temos a

festa dos Passos, que reuniu 60 mil pessoas em dois dias de festa.

Acho que a única empresa de açúcar mascavo orgânico em toda

AMUREL é daqui. Pedro Raimundo38

é de Imaruí! (FELIPE,

depoimento ao autor, 2016).

O relato do entrevistado mostra que a atual infraestrutura turística de Imaruí é

escassa e que a discussão do turismo no âmbito do planejamento municipal ainda é

incipiente, sendo que atualmente, em função do acesso, os visitantes que buscam o

santuário da Beata Albertina Berkenbrok utilizam as vias do município vizinho de São

Martinho. O entrevistado ressaltou a grande quantidade de atrativos culturais e naturais

da cidade, destacando os alambiques, as cachoeiras e os produtos artesanais,

especialmente a renda de bilro.

A respeito dos sítios arqueológicos, Felipe conhece a existência de dois ou três,

cujo acesso também é precário e sobre os quais possui informações vagas. Informa que

há alguns anos o IPHAN visitou estes sítios e destes recolheu materiais.

4.3.4 Considerações gerais

O primeiro aspecto que chama a atenção nos depoimentos dos secretários

municipais é a falta de dados confiáveis a respeito do turismo em seus municípios,

38

Pedro Raimundo nasceu em Imaruí em 1906 e faleceu no Rio de Janeiro em 1973. Foi um compositor,

cantor, sanfoneiro e apresentador de programas de rádio. Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música

Popular Brasileira, foi o primeiro artista do sul do Brasil a obter sucesso nacionalmente e foi um dos

maiores criadores de xote e músicas gaúchas alegres. Sempre se apresentava vestido com os trajes

tradicionais gauchescos, o que acabou influenciando Luiz Gonzaga a também adotar trajes tradicionais da

sua cultura nas apresentações musicais. (Fonte: Verbete Pedro Raimundo, Dicionário Cravo Albin da

Música Brasileira. Disponível em: <http://www.dicionariompb.com.br/pedro-raimundo> Acesso em

20/01/2016.).

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condição fundamental para o planejamento da atividade turística, principalmente

quando esta se pretende sustentável. Também é possível observar que os projetos e

intenções para a promoção do turismo local dependem principalmente de ações

individuais, seja de empreendedores locais ou dos próprios secretários, do que de

políticas públicas.

Com exceção de Garopaba, que possui um projeto para o aproveitamento turístico

dos vestígios arqueológicos, Imbituba e Imaruí não consideram o turismo arqueológico

como possibilidade para o desenvolvimento do turismo sustentável na região. Cabe

ressaltar que no caso do município de Imaruí, o depoimento do secretário indica que,

apesar do reconhecimento da existência de atrativos naturais e religiosos, não há

significativos investimentos no planejamento turístico local por parte do poder público,

tampouco da iniciativa privada. Já Garopaba e Imbituba concentram suas expectativas

no projeto de desenvolvimento do ecoturismo de observação de baleias proposto pelo

SEBRAE, articulado estes municípios e Laguna, excluindo neste contexto a

possibilidade de Imaruí se articular com Garopaba e Imbituba em um projeto de

desenvolvimento turístico regional.

Nas falas dos secretários de Garopaba e Imbituba ganham destaque a necessidade

de se promover o turismo, principalmente na baixa temporada, e o interesse em investir

no desenvolvimento do ecoturismo, articulado com o turismo de esportes aquáticos, o

turismo cultural e o turismo de base local. Ambos os secretários declaram também o

interesse no desenvolvimento e implementação de roteiros turísticos, especialmente

aqueles que possibilitem a observação não embarcada de baleias. Entretanto, as falas

não indicaram a existência de um efetivo planejamento público que possa estimular o

ecoturismo e outras modalidades de turismo sustentável, destinando ao Comitê Gestor

do projeto do SEBRAE a responsabilidade por apresentar propostas para o

desenvolvimento de um turismo sustentável para a região. Nas falas também é possível

perceber que, apesar de embargado, existe a expectativa da liberação judicial do turismo

embarcado de observação de baleias, cujo público possui maior poder aquisitivo. Existe,

portanto, o risco de que, em liberado o turismo embarcado, o investimento no

desenvolvimento de roteiros terrestres, com maior capacidade de promoção do turismo

de base local, deixe de ser uma prioridade.

Por fim, as entrevistas mostram a dificuldade de diálogo entre o poder público

municipal e o IPHAN, e a incapacidade dos gestores municipais dos municípios

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estudados em promover ações que garantam a proteção do patrimônio arqueológico

local.

4.4 A percepção dos turistas

Considerando que são pressupostos para a existência do turismo os produtos

turísticos, a infraestrutura turística e os próprios turistas (BARRETTO, 2009), a

proposição de um turismo arqueológico sustentável precisa verificar a percepção dos

turistas a respeito deste. Ao considerarmos que os elementos locais que definem uma

região estão relacionados aos interesses dos diferentes atores que a circunscrevem, na

medida em que uma região delimita ou posiciona processos de mudança, aproximando a

operação de regionalização às de territorialização (BRANDÃO, 2004; ABRAMOVAY,

2010), o turista exerce também uma função de ator local no sentido em que atua sobre o

território, pressionando políticas públicas, investimentos e estruturas. Neste sentido,

conhecer a percepção dos turistas a respeito do turismo arqueológico e seu nível de

interesse e de conhecimento sobre o patrimônio arqueológico remanescente na região

aqui pesquisada é importante para que possamos avaliar sua viabilidade para a

promoção do desenvolvimento sustentável.

Guimarães (2012a) realizou uma pesquisa com turistas por meio de questionários

eletrônicos onde constatou: a) que as respostas apresentaram noções vagas sobre

arqueologia; b) que as respostas daqueles que visitaram algum patrimônio arqueológico

no Brasil foram vagas e sem muitos detalhes, em oposição ao conteúdo das respostas

daqueles que visitaram patrimônio arqueológico no exterior; c) mostraram a necessidade

das pessoas de acessar informações sobre este tipo de patrimônio; d) que há interesse do

público em contribuir com a conservação do patrimônio; e) que há interesse nas viagens

que possuam elementos da arqueologia em seus roteiros, principalmente de forma

complementar. Em resumo, a conclusão da autora foi de que,

(...) o índice de aceitação dos respondentes tanto à visitação de ruínas

antigas interpretadas quanto à visitação de sítios arqueológicos

musealizados, demonstra que esses atrativos ajudariam a incrementar

os produtos turísticos de diversas regiões brasileiras (...).

(GUIMARÃES, 2012a, p. 94).

A pesquisa de Guimarães (2012a) ouviu um público que experimentou o turismo

arqueológico em diferentes escalas. Considerando que dentre os objetivos específicos

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que apresentamos neste trabalho está o de verificar o conhecimento que turistas

possuem sobre o patrimônio arqueológico pré-colonial da região e o interesse que

manifestam pelo turismo arqueológico, entendemos apropriado aplicar um questionário

aos turistas que em algum momento escolheram Garopaba, Imaruí ou Imbituba como

destino turístico.

As questões inseridas no formulário buscam identificar o território de origem dos

turistas, seu nível de contato e interesse em relação ao turismo arqueológico (em geral e

na região) e seu nível de contato e conhecimento em relação ao patrimônio arqueológico

da região.

O principal problema identificado na aplicação dos questionários está no perfil

dos turistas que visitam a região. Desde a década de 1970 os estudos do turismo tratam

o turista com interesses específicos (não genéricos), o que significa dizer que para cada

segmentação turística há também um perfil de turistas. Barretto explicita a questão ao

discutir o perfil dos turistas que buscam o turismo cultural, tratando-se este “de um

turismo de minorias, cujos protagonistas, que seriam turistas não institucionalizados,

experimentais, experienciais e existenciais, são mais educados e respeitam o meio

ambiente natural e cultural” (BARRETTO, 2007, p. 84).

Garopaba e Imbituba concentram sua atividade turística na temporada de verão,

no período compreendido entre o Natal e o Carnaval, havendo também investimento

recente no turismo de observação de baleias39

. O turismo de massa é o perfil

predominante nestes municípios. Em Imaruí o turismo ainda não se apresenta como uma

atividade representativa na economia do município40

, havendo algum investimento

público no turismo religioso. O principal evento do calendário turístico da cidade é a

Festa do Senhor Bom Jesus dos Passos, realizada anualmente no mês de março e que

em 2015 tinha a estimativa de um público de 50 mil visitantes41

.

Constatado o perfil predominante do turismo na região (turismo de sol e mar em

Garopaba e Imbituba e turismo religioso em Imaruí) e aceitando que diferentes

39

Em 2015 o SEBRAE apresentou o Projeto de Fortalecimento do Turismo de Observação de Baleias

apresentado, no qual busca envolver o poder público dos municípios de Garopaba, Imbituba e Laguna e

outros atores do território. O projeto tem como objetivo consolidar parte da Área de Proteçãoo Ambiental

da Baleia Franca como destino turestilo de excelência no segmento de ecoturismo por meio da obtenção

de uma Indicaçãoo Geográfica. A temporada de observação de baleias no litoral centro-sul de Santa

Catarina concentra-se de julho a outubro. 40

Conforme o Agenor Garcia Felipe, Secretário de Indústria, Comércio e Turismo da Prefeitura

Municipal de Imaruí, em entrevista conferida ao autor em 11/01/2016. 41

Segundo notícia publicada no endereço eletrônico http:<//www.engeplus.com.br/noticia/agenda-e-

eventos/2015/1030101-festa-do-senhor-bom-jesus-dos-passos-2015/ >. Acesso em 23/12/2015.

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segmentações turísticas atraem diferentes públicos, evitou-se aplicar o questionário

durante a alta temporada porque esta possui grande probabilidade de atrair um público

predominante com interesses diferentes daquele que busca segmentações turísticas

relacionadas ao turismo arqueológico (turismo ecológico, turismo de experiência,

turismo rural, turismo cultural entre outras).

Em um primeiro momento, optamos por distribuir o questionário em pousadas e

hotéis da região que atendem durante a baixa temporada. Os gerentes dos

estabelecimentos foram informados dos objetivos da pesquisa e solicitados a

disponibilizar os questionários aos hóspedes. A opção mostrou-se inadequada. Dos 300

questionários distribuídos em 10 estabelecimentos dos municípios pesquisados,

obtivemos o retorno de apenas 5 questionários respondidos (quantidade insuficiente

para servir como amostragem). Em um hotel de Imbituba fomos informados pela

gerência que o proprietário ordenou a eliminação dos questionários sob o argumento de

que estes poderiam importunar os hóspedes. Os demais estabelecimentos retornaram os

questionários intactos, em outros a gerência alegou que, depois de disponibilizados nos

quartos, foram danificados pelos hóspedes.

Diante da dificuldade de adesão ao questionário disponibilizado nos meios de

hospedagem, a estratégia adotada foi a aplicação de um questionário eletrônico a partir

da plataforma virtual do Google Forms, divulgado através das redes sociais e

direcionado às pessoas que já visitaram na condição de turistas os municípios de

Garopaba, Imaruí ou Imbituba. A vantagem desta estratégia está na possibilidade de se

alcançar um público amplo, entretanto devemos considerar que a adesão deste público

pode sofrer influência da forma de divulgação, que utilizou redes sociais vinculadas ao

perfil do autor desta pesquisa. Também não foi adotado o uso de “login” de acesso para

o preenchimento das respostas. O uso de “login” impediria que uma mesma pessoa

respondesse o questionário mais de uma vez, fraudando o resultado, porém restringiria a

participação às pessoas com conta no Google. Optou-se por permitir a participação mais

ampla possível. Considerando o padrão de respostas, não foi identificada tentativa de

fraude.

O questionário permaneceu disponível de 05 de setembro de 2015 a 11 de

novembro de 2015, obtendo 234 respostas. Dos respondentes, 88% residem na Região

Sul, 11% nas demais regiões brasileiras e 1% em outro país da América Latina (Figura

3).

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Figura 3: Região de residência dos respondentes

A título de comparação, o número de respondentes da região Sul aproxima-se das

estatísticas referentes aos principais mercados emissores de turistas nacionais para

Garopaba42

referentes aos meses de fevereiro e março de 2014, onde a Região Sul

respondeu por 84% e 87% respectivamente (SANTA CATARINA, 2014, p. 10).

Figura 4: Já assistiu alguma reportagem sobre turismo arqueológico?

42

Não foram encontrados dados referentes aos municípios de Imaruí e Imbituba.

88%

4% 3%

2% 2% 1%

Sul

Sudeste

Norte

Nordeste

Centro Oeste

América Latina

56%

44%

Sim

Não

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As Figuras 4 e 5 indicam o percentual de respondentes que estabeleceram algum

tipo de contato com o turismo arqueológico. Ao serem questionados se já assistiram a

alguma reportagem sobre turismo arqueológico, 56% afirmaram já ter assistido e 44%

afirmaram não ter assistido (Figura 4). Curiosamente este é o mesmo percentual de

pessoas que já visitaram na condição de turista algum sítio arqueológico (56%) e de

pessoas que na condição de turistas nunca visitaram um sítio arqueológico (44%)

(Figura 5).

Figura 5: Já visitou sítios arqueológicos?

A coincidência dos percentuais nas respostas às duas perguntas pode indicar que a

primeira pergunta (assistiu a alguma reportagem?) pode ter sugestionado as respostas da

segunda pergunta (já visitou algum sítio arqueológico?). Importante destacar, entretanto,

o percentual significativo de respondentes que afirmam nunca ter assistido a reportagens

sobre turismo arqueológico (44%).

44% 56%

Sim

Não

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Figura 6: Já ouviu falar de vestígios arqueológicos em Garopaba, Imaruí ou

Imbituba

O questionário procurou identificar também se os respondentes possuem alguma

informação a respeito da existência de vestígios arqueológicos em Garopaba, Imaruí ou

Imbituba, e se já visitaram sítios e/ou vestígios em algum destes três municípios. O

percentual daqueles que afirmaram já ter ouvido falar de vestígios arqueológicos em

algum dos municípios é bastante significativo (59%) em relação ao percentual daqueles

que não ouviram falar a respeito da existência destes vestígios (42%) (Figura 6).

Entretanto, apenas 25% dos respondentes afirmam ter visitado algum sítio ou vestígio

arqueológico na região, enquanto que 75% afirmaram que não visitaram estes vestígios

(Figura 7).

59% 42%

Sim

Não

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Figura 7: Já visitou algum sítio ou vestígio arqueológico em Garopaba, Imaruí ou

Imbituba

Dentre os 25% de respondentes que afirmaram ter visitado algum sítio ou vestígio

arqueológico na região, 69% o fizeram em Garopaba, 30% em Imbituba e apenas 1%

em Imaruí (Figura 8).

Figura 8: Município no qual se situa o sítio ou vestígio arqueológico visitado

Questionou-se também como o respondente avalia seu conhecimento pessoal a

respeito dos vestígios arqueológicos ou povos antigos em algum dos três municípios

25%

75%

Sim

Não

69%

30%

1%

Garopaba

Imbituba

Imaruí

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pesquisados. Foi utilizada a Escala de Likert com itens de 1 a 5, sendo que o item “1”

corresponde à resposta “nenhum conhecimento” e o item “5” à resposta “conhecendo

profundamente”. 48% avaliaram em “1” seu conhecimento a respeito do conteúdo da

pergunta, e 2% avaliaram em “5” este conhecimento (Figura 9).

Figura 9: Avaliação do conhecimento pessoal a respeito dos vestígios arqueológicos

ou povos antigos referentes à Garopaba, Imaruí ou Imbituba

As Figuras 10, 11 e 12 indicam o nível de interesse dos respondentes pela

arqueologia brasileira e por participar de roteiros turísticos com sítios ou vestígios

arqueológicos entre seus atrativos. Em todas as perguntas correspondentes a este nível

de interesse foi utilizada uma Escala de Likert para as respostas com itens de 1 a 5, onde

“1” corresponde à resposta “nenhum interesse” e “5” à resposta “totalmente

interessado”.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

1 2 3 4 5

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133

Figura 10: Nível de interesse por Arqueologia Brasileira

A Figura 10 expressa o nível de interesse dos respondentes por arqueologia

brasileira. Nos extremos “1” e “5”, 1,3% responderam não possuir nenhum interesse e

29% responderam estar totalmente interessados. O item Likert que obteve o maior

número de respostas foi o “3”, com 33,3%.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

1 2 3 4 5

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Figura 11: Nível de interesse em participar de roteiros turísticos que tenham sítios

ou vestígios arqueológicos entre seus atrativos

As Figuras 11 e 12 indicam o nível de interesse dos respondentes de participar de

roteiros turísticos que tenham vestígios arqueológicos entre seus atrativos, tanto em uma

escala geral quanto na escala regional. Em ambos os casos, o número de respondentes

que se manifestou como totalmente interessado é majoritário, porém ligeiramente menor

na escala regional. Enquanto que 40,7% dos respondentes indicaram estar totalmente

interessados em participar de roteiros turísticos que tenham sítios ou vestígios

arqueológicos entre seus vestígios (Figura 11), 36,4% manifestaram estar totalmente

interessados quando a pergunta se refere aos municípios de Garopaba, Imaruí ou

Imbituba (Figura 12). Em ambos os casos, os respondentes que indicaram “1” (nenhum

interesse) é baixo, 2,6% e 3,1% respectivamente.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

1 2 3 4 5

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Figura 12: Nível de interesse em participar de roteiros turísticos nos municípios de

Garopaba, Imaruí ou Imbituba que tenham sítios ou vestígios arqueológicos entre

seus atrativos

4.4.1 Discussão

Ainda que o universo de respondentes possa ter sido limitado pela metodologia de

divulgação do questionário (publicação na rede social do autor, compartilhamentos

diretos a partir do perfil do autor, publicação em perfis sociais de grupos que discutem

turismo e promovem o turismo em Santa Catarina), o percentual de respondentes

residentes na região Sul (Figura 3) está próximo do percentual de turistas dos principais

mercados emissores de turistas nacionais para Garopaba em fevereiro e março de 2014,

utilizando como parâmetro o Estudo de Demanda Turística daquele ano (SANTA

CATARINA, 2014). Assim, é possível inferir que a pesquisa fornece indícios da

percepção de um conjunto de turistas residentes na região Sul, que já visitaram

Garopaba, Imaruí ou Imbituba, a respeito do turismo arqueológico, do conhecimento

dos vestígios pré-coloniais remanescentes nestes municípios por parte deste público e

do seu nível de interesse. O questionário não apurou o segmento turístico preferencial

do turista.

Observa-se que o interesse por Arqueologia Brasileira (Figura 10) apresenta uma

média de 3,675 em uma escala que varia de 1 (nenhum interesse) a 5 (totalmente

interessado). O interesse se apresenta, portanto, acima da média, de modo que é possível

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

1 2 3 4 5

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concluir que há interesse dos respondentes pela Arqueologia Brasileira. A pesquisa

mostra, porém, que o percentual de respondentes que não assistiram reportagens sobre

turismo arqueológico (Figura 4) é significativo (44%), embora a maioria (56%) já tenha

assistido a alguma reportagem sobre o segmento. A falta de informações a respeito do

turismo arqueológico é uma variável que pode influenciar no interesse pelo turismo

arqueológico e na própria sustentabilidade do segmento.

Ainda que pouco conhecido e explorado no Brasil, o percentual de respondentes

que na condição de turista visitou algum sítio ou vestígio arqueológico (44%) (Figura 5)

é significativo, mas se reduz a 25% para os sítios e vestígios arqueológicos localizados

em Garopaba, Imaruí ou Imbituba (Figura7), ainda que 59% dos respondentes afirmem

já ter ouvido falar da existência destes vestígios na região (Figura 6). Os dados sugerem

que apesar de haver um interesse significativo pelo turismo arqueológico, este não se

efetiva no reconhecimento do patrimônio arqueológico dos municípios em questão

pelos respondentes43

. Os resultados ainda indicam que dentre os três municípios

pesquisados, Garopaba é o que recebeu o maior número de respondentes em seus sítios

e vestígios arqueológicos (69%), enquanto que em Imbituba o percentual é de 30% e em

Imaruí de apenas 1% (Figura 8). Estes percentuais podem estar relacionados à demanda

turística de cada um dos municípios, considerando que Garopaba é o que possui melhor

infrestrutura turística dentre os três. Os resultados da valoração arqueológica

(apresentados no capítulo seguinte) podem ajudar a interpretar estes dados, na medida

em que Garopaba concentra o maior número de sítios arqueológicos que apresentam

monumentalidade e acessibilidade. Outros fatores com potencial de interferência nas

respostas são a representação social dos sítios, sua interpretação, o perfil dos turistas em

cada município e o planejamento e estrutura turística em cada um dos municípios.

Importante ressaltar, neste sentido, que a pesquisa apontou um percentual importante

(48%) de respondentes que afirmam não possuir nenhum conhecimento a respeito dos

sítios e vestígios arqueológicos nos municípios pesquisados (Figura 9), sendo que a

média das respostas a respeito de como os respondentes avaliavam seu nível de

conhecimento pessoal sobre os sítios e vestígios arqueológicos de Garopaba, Imaruí e

43

Os dados remetem à pesquisa que desenvolvemos junto aos professores da rede pública municipal de

ensino de Garopaba (COSTA, 2014). Quando questionado se conhece os vestígios arqueológicos/pré-

históricos existentes em Garopaba 59% dos professores responderam sim. Ainda que o índice indique a

maioria dos professores, é alto o número que desconhece estes vestígios arqueológicos (41%),

principalmente se consideramos o fato de que alguns destes sítios estão localizados em áreas de fácil

acesso e em locais de grande circulação de pessoas e até junto a algumas praias.

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Imbituba foi baixo, correspondendo a 1,763 em uma escala de 1 (nenhum

conhecimento) a 5 (conhecendo profundamente).

Considerando os resultados da pesquisa de Guimarães (2012a), que indicou o

conhecimento vago das pessoas a respeito do patrimônio arqueológico, e a experiência

da construção de roteiros turísticos envolvendo o patrimônio arqueológico no sertão

alagoano relatada por Alfonso (2009), o questionário buscou quantificar o interesse dos

turistas de participar de roteiros turísticos que possuam entre seus atrativos sítios e/ou

vestígios arqueológicos. Assim, o turismo arqueológico é apresentado pelo questionário

aos respondentes de modo complementar e inserido em roteiros com outros tipos de

atrativos.

Para a pergunta "como você avalia seu interesse em participar de roteiros

turísticos que tenham sítios ou vestígios arqueológicos entre seus atrativos?” (Figura 11)

a média das respostas foi de 3,987 em uma escala de 1 (nenhum interesse) a 5

(totalmente interessado), o que indica interesse significativamente acima da média. Para

a pergunta “como você avalia seu interesse em participar de roteiros turísticos nos

municípios de Garopaba, Imaruí ou Imbituba que tenham sítios ou vestígios

arqueológicos entre seus atrativos?” (Figura 12), a média das respostas foi de 3,929 em

uma escala de 1 (nenhum interesse) a 5 (totalmente interessado), o que indica interesse

significativamente acima da média. O fato das respostas indicarem interesse médio em

participar de roteiros que tenham sítios ou vestígios arqueológicos entre seus atrativos

nos municípios de Garopaba, Imaruí ou Imbituba um pouco abaixo da média de

interesse apresentado quando a pergunta não restringe a região, pode estar condicionado

ao interesse do respondente de retornar à região, considerando que o questionário foi

direcionado a pessoas que já visitaram algum destes municípios.

Em síntese, as respostas indicam um interesse médio alto por parte dos

respondentes de participar de roteiros turísticos que tenham entre seus atrativos sítios ou

vestígios arqueológicos, tanto na região específica quanto no âmbito geral, o que

permite supor a existência de um público interessado em participar de roteiros turísticos

que envolvam o turismo arqueológico nos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba.

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5 – VALORAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

5.1 Valoração do patrimônio arqueológico da região

A relação entre patrimônio cultural e turismo é complexa. A partir da questão

“qual o patrimônio cultural que o turismo valora?”, Bertoncello (2010) discute esta

relação, problematizando os processos de patrimonialização a partir dos interesses

turísticos. Para este autor, a valoração turística do patrimônio pode se dar a partir das

condições intrínsecas deste patrimônio, como sua excepcionalidade ou características

estéticas, por exemplo, e/ou por condições extrínsecas, como sua valoração simbólica

(que confere àqueles patrimônios chancelados como nacionais ou de interesse da

humanidade maior interesse turístico), a expectativa dos turistas (moldada por

campanhas de marketing que orientam uma “ativação” ou “legitimação patrimonial”,

fazendo com que patrimônios socialmente importantes para um território sejam

desconsiderados pelo turismo) e os interesses econômicos dos agentes responsáveis pela

valoração do patrimônio, que o transforma em uma mercadoria. Assim, o turismo leva

ao questionamento do próprio caráter de “bem comum” que é atribuído ao patrimônio,

ou seja, “a valoração turística do patrimônio pode conduzir a processos diferenciados de

apropriação e à privatização do patrimônio, o que claramente contradiz seu caráter de

bem comum a toda sociedade” (BERTONCELLO, 2010, p. 40).

O problema fundamental é “pensar a valorização turística do patrimônio versus a

patrimonialização derivada do interesse turístico, ou da sociedade local como

beneficiária ou como objeto do turismo, com suas consequências na relação entre

exclusão e inclusão social” (BERTONCELLO, 2010, p. 47). Se a premissa é o

reconhecimento das possibilidades de um turismo arqueológico que contribua com a

promoção do desenvolvimento sustentável na região, o que se busca aqui é uma

metodologia de valoração dos sítios arqueológicos que parta da valorização turística do

patrimônio e não de uma patrimonialização derivada do interesse turístico.

Em outros termos, reconhecendo a complexidade do problema, a definição ou

escolha dos sítios a serem considerados como potenciais para aproveitamento turístico

implica em uma definição metodológica que considere as qualidades do sítio

arqueológico (características intrínsecas) e suas qualidades enquanto atrativo turístico

(características relacionais) sem inverter a lógica do processo de patrimonialização, o

que significa dizer que é a partir do patrimônio arqueológico reconhecido pelo órgão

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científico competente (IPHAN) ou pela comunidade (reconhecimento social) que partirá

a valoração aqui proposta.

Neste sentido, aproximamo-nos da metodologia de seleção de sítios arqueológicos

aplicada por Dabezies (2011) no Departamento de Rocha, Uruguai, cujo trabalho teve

como objetivo elaborar produtos turísticos integrando a universidade e a cadeia

produtiva. Entretanto, para esta aproximação com a “cadeia valorativa” adaptada por

Dabezies, valemo-nos aqui dos princípios da “redução sociológica” desenvolvidos por

Ramos (1965), para aplicarmos aquilo que chamaremos de “redução metodológica”.

Para Ramos, a redução sociológica consiste em um método de análise dos fatos

sociais no qual se pratica a “transposição do conhecimento e de experiências de uma

perspectiva para outra” (1965, p. 54), onde “redução” consiste em uma espécie de

depuração, ou seja, de eliminação de tudo aquilo que possa ser desnecessário, ou não

aplicável, quando a realidade analisada difere daquela para a qual determinada teoria foi

criada. Ou seja, trata-se de uma atitude metódica que obedece a regras e depura objetos,

partindo do pressuposto de que a realidade social é dotada de sentido, e postulando uma

noção de mundo onde consciência e objetos estão relacionados. É, portanto,

perspectivista, na medida em que entende que o sentido dado a um objeto só é possível

dentro do seu contexto.

A metodologia adaptada por Dabezies (2011) teve por objetivo assessorar uma

empresa privada a desenvolver três roteiros, considerando os sítios arqueológicos que

melhor poderiam ser incorporados como produtos turísticos em uma região específica

de terras baixas e do litoral do Uruguai, na qual se distribui uma grande quantidade de

“cerritos indígenas” (túmulos pré-coloniais construídos com terra e de tamanhos

variados). Sua proposta metodológica baseia-se na “cadeia valorativa”, que considera as

seguintes etapas: valoração arqueológica, valoração patrimonial e a valoração “para la

puesta em valor”44

(DABEZIES, 2011, p. 308). Para cada etapa de valoração da cadeia

produtiva, o autor utilizou parâmetros de avaliação valorados numericamente. Em nossa

pesquisa, entretanto, não adotaremos a valoração numérica. Considerando que a

44

O conceito de “puesta en valor” é de difícil tradução. Segundo Guglielmino (2007), trata-se de um

galicismo que, no espanhol, estaria entre valorar, valorizar e reconhecer. No caso específico do

patrimônio arqueológico, significa sua interpretação e apresentação. Para este autor, “La puesta en

valor está vinculada con un proyecto, es decir, es una operación espacial para establecer un orden de ese

espacio y jerarquizar sus funciones en un “proyecto total” que constituya su adecuación y puesta al día. El

proyecto es, sin duda, un instrumento y una metodología de intervención del que se pueden desagregar

dos componentes esenciales: el cultural y su formalización.” (GUGLIELMINO, 2007, p. 3).

Considerando a dificuldade de encontrar uma expressão equivalente em português, optamos por manter

aqui a expressão utilizada por Dabezies.

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“redução” implica na depuração quando da transposição de um princípio de análise de

uma realidade para outra e que nosso objeto e nossos objetivos inserem-se em contexto

diferente daquele abordado por Dabezies, torna-se necessária aqui uma redução

metodológica da metodologia adaptada pelo autor para o estudo que desenvolveu junto

aos cerritos indígenas no Uruguai. Na realidade que propomos estudar, os sítios estão

concentrados em uma área geográfica restrita, se comparada à área estudada por

Dabezis. Outra diferença significativa está no fato de não se pretender aqui apresentar

um produto final, com viabilidade turística e econômica segundo os interesses de uma

empresa, mas de indicar sítios arqueológicos com potencial turístico para o território

especificado. Daí a opção por não utilizarmos a valoração numérica (embora não

descartemos sua importância para a avaliação de um produto final, ainda que pesem os

questionamentos a respeito da confiabilidade científica desta valoração, discutidos pelo

próprio autor), bem como de relativizarmos e até mesmo abdicarmos de alguns

parâmetros de avaliação, conforme especificaremos na sequência.

A valoração arqueológica é realizada pelos arqueólogos, e consiste em tentar

compreender os objetos arqueológicos. Nos parâmetros de avaliação desta etapa estão a

documentação e a representatividade. Considerando esta etapa da cadeia valorativa,

optamos por utilizar o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Sistema de

Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico (CNSA/SGPA), Ainda que pesem a

antiguidade da maior parte dos registros disponíveis no CNSA e o risco de estarem

desatualizados, bem como os relatos comuns na região que dão conta da existência de

vestígios arqueológicos em áreas não registradas pelo IPHAN, cabe-nos partir da

valoração arqueológica disponível.

A valoração patrimonial avalia a importância do objeto arqueológico sob o

aspecto patrimonial, considerando sua valoração arqueológica e incluindo novos atores,

como a administração pública, por exemplo. No caso brasileiro, desde a Lei 3924 de

1961, o patrimônio arqueológico passou a ser protegido juridicamente a partir do

momento da sua descoberta, princípio corroborado pela Constituição Federal de 1988,

que “cita o patrimônio arqueológico em três artigos: o define como bem da união (...);

componente do Patrimônio Cultural Brasileiro (...) e sob tutela comum de todos os entes

da federação” (GALDINO, 2012, p. 12). Portanto, a valoração patrimonial ocorre no

ato do reconhecimento do vestígio e/ou sítio arqueológico através de profissional

creditado e autorizado pelo IPHAN, integrado ao patrimônio nacional. Isto não

significa, entretanto, seu reconhecimento enquanto componente da identidade de um

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território, correspondendo muito mais a um ato jurídico-formal (burocrático), do que

sua incorporação efetiva enquanto bem simbólico reivindicado socialmente.

Na metodologia adaptada por Dabezies são parâmetros de avaliação da etapa de

valoração patrimonial: fragilidade, estado de conservação, vulnerabilidade,

complementaridade paisagística, excepcionalidade, proteção por outras figuras. Assim,

considerando os registros do CNSA (valoração arqueológica) e os parâmetros de

avaliação da valoração patrimonial, torna-se possível uma seleção prévia dos sítios

arqueológicos a partir das fichas disponíveis para cada sítio no CNSA, observando o

estado de conservação, a tipificação e seu caráter de excepcionalidade (relevância).

A valoração “para la puesta en valor” seleciona os elementos mais eficientes para

tornar o patrimônio acessível a um público mais amplo. São parâmetros de avaliação

desta etapa: capacidade explicativa, perceptibilidade, capacidade de carga, conservação

do entorno, atrativo da zona, acessibilidade (neste parâmetro, Dabezies refere-se aos

caminhos e à dificuldade de acesso físico ao lugar), necessidades mínimas, serviços,

disponibilidade do uso do solo. Esta etapa fundamenta a construção de uma ficha para

os sítios selecionados na etapa anterior, a ser preenchida após observação de campo.

Dentre os parâmetros, não se aplica nesta pesquisa a capacidade de carga. Já a

perceptibilidade será aqui substituída por monumentalidade. O termo foi utilizado por

Guimarães (2012) e se refere ao atrativo turístico arqueológico em seu sentido

específico, ou ainda, àquilo que é possível de se ver/observar/usufruir e que remete ao

passado pré-colonial. Apesar de Guimarães entender que a ausência de

monumentalidade não seria um impeditivo para a transformação de um sítio em atrativo

turístico, consideramos que esta é um parâmetro importante da valoração para “la puesta

en valor” e para a constituição de um produto turístico. Neste sentido, valemo-nos dos

cinco componentes básicos para o desenvolvimento de um produto turístico, a saber:

“1º) atrativo; 2º) facilidades, instalações e serviços; 3º) acessos; 4º) imagens que os

turistas detêm do local a ser visitado; 5º) preço.” (NÓBREGA e ARAÚJO, 2015, p.

108). A valoração “para la puesta em valor” reduzida executada nesta pesquisa

considerou estes componentes, exceto o componente preço.

Ao “reduzirmos” a metodologia proposta por Dabezies, descartamos nesta

pesquisa a valoração numérica e, em depuração, a ficha correspondente ao sítio

arqueológico selecionado apresentará se determinado parâmetro é verificável ou não no

sítio, e quando verificável, constará uma breve descrição do parâmetro observado.

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5.2 Valoração Arqueológica

O primeiro instrumento da cadeia valorativa apresentada por Dabezies (2011) é a

valoração arqueológica, delegada aos arqueólogos. É a valoração arqueológica o

instrumento que nos permitirá um reconhecimento prévio dos sítios arqueológicos

registrados nos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba, bem como suas condições

gerais e disponibilidade.

Neste estudo valemo-nos do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do

Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico (CNSA/SGPA), disponível no

sítio eletrônico do IPHAN45

. Cabe ao IPHAN registrar os sítios arqueológicos existentes

e incorporá-los ao patrimônio arqueológico nacional, bem como tutelá-los. As

informações disponíveis no CNSA são alimentadas por arqueólogos ligados ou não ao

IPHAN, e em muitos casos estão bastante desatualizadas e incompletas, o que dificulta

o reconhecimento, localização e conhecimento das condições atuais dos sítios

registrados. Dificuldades que encontramos também neste trabalho.

A consulta ao CNSA/SGPA se dá pelo nome do Município e correspondente

Unidade da Federação e os sítios estão divididos em três categorias: Histórico, Pré-

colonial e De Contato. Nossa pesquisa investigou exclusivamente os sítios pré-

coloniais, obtendo os seguintes resultados: Garopaba, 07 sítios (acesso realizado em

06/10/2015); Imaruí, 16 sítios (acesso realizado em 12/10/2015); Imbituba, 26 sítios

(acesso realizado em 05/10/2015). Os três municípios totalizam assim 49 sítios

cadastrados no CNSA/SGPA. O cadastro, entretanto, pode não corresponder à realidade

atual. Sítios arqueológicos citados no questionário que aplicamos aos Condutores

Ambientais e pelos atores locais que entrevistamos não constam do cadastro, assim

como muitos registros, conforme veremos, são bastante antigos e não sofreram

atualizações, o que pode significar que o sítio em questão já tenha sido destruído ou

ocupado. Entretanto, considerando a valoração arqueológica, o CNSA/SGPA é o

principal instrumento para que possamos ter uma visão geral dos sítios arqueológicos da

região quanto a sua situação, distribuição e tipificação, permitindo assim uma seleção

dos mesmos com vistas a um possível aproveitamento turístico.

Para cada sítio arqueológico cadastrado no CNSA/SGPA há uma ficha preenchida

pelo arqueólogo responsável pelo primeiro contato e atualizada em contatos

45

O endereço do sítio é http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/236/

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subsequentes. Dentre os vários itens disponíveis nas fichas, selecionamos para análise

os seguintes:

a) nome do sítio: indica o nome do sítio junto ao IPHAN, o que não significa que

seja nominado da mesma forma pela comunidade local.

b) tipologia: indica o tipo de sítio, se sambaqui, oficina lítica, sítio ceramista,

aldeia, de habitação ou de arte rupestre. A tipologia indica previamente o tipo de

monumentalidade disponível no sítio.

c) relevância: no CNSA/SGPA os sítios estão cadastrados segundo três níveis de

relevância: baixa, média e alta. Ainda que a relevância, neste caso, refira-se ao interesse

científico e de salvaguarda do patrimônio arqueológico, serve também como balizador

na cadeia valorativa porque permite selecionar previamente aqueles que podem

representar algum interesse para o turismo arqueológico na região. Um sítio de baixa

relevância para o IPHAN, por exemplo, provavelmente não reunirá as condições

mínimas que permitirão seu reconhecimento turístico, seja porque está muito

descaracterizado, seja porque não dispõe de elementos que permitam seu

reconhecimento enquanto sítio arqueológico pelo turista.

d) propriedade: indica o regime de propriedade, se pública ou privada.

Propriedades privadas representam maior dificuldade de acesso do público ao sítio.

e) exposição: indica se o sítio está exposto a céu aberto, ou se subterrâneo ou

subaquático. A maior parte dos 49 sítios cadastrados no CNSA/SGPA aqui analisados

constam como “céu aberto”, o que pode representar maior risco a sua preservação haja

vista a exposição ao intemperismo.

f) estrutura: complementa a informação da tipologia. Indica se a estrutura

principal do sítio é uma oficina lítica, ou se funerária entre outras. A informação

importa à cadeia valorativa porque contribui para o reconhecimento da existência ou

não de monumentalidade e, quando existente, de que tipo.

g) vestígios: informa se foi identificado ou recolhido algum tipo de vestígio

arqueológico no sítio (lítico, cerâmico, entre outros). A existência de vestígios contribui

para a interpretação cultural do sítio.

h) uso atual da área: indica qual o uso atual da área em que o sítio está localizado.

Informa se a área está coberta por vegetação ou pastagens, por exemplo.

i) fatores antrópicos: indica se o sítio sofreu intervenção humana posterior a sua

ocupação original, de que tipo e qual o impacto desta intervenção. A informação

importa à cadeia valorativa porque permite excluir previamente aqueles sítios

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arqueológicos já bastante impactados pela ação humana recente, ou até mesmo

completamente destruídos ou ocupados.

j) ano do registro: indica o ano em que o sítio foi registrado no CNSA/SGPA e os

anos dos registros subsequentes. Optamos por considerar neste trabalho o ano do

primeiro registro e o ano do registro mais recente (quando existente) já que é este último

que efetivamente importa à cadeia valorativa no sentido em que informa se as

informações estão atualizadas ou não.

As informações referentes aos itens acima relacionados foram compiladas a partir

das fichas correspondentes a cada sítio arqueológico e sintetizadas por município em

“Quadros síntese dos sítios arqueológicos”, que apresentaremos na sequência.

Considerando que optamos por não valorar numericamente cada item, conforme

já justificado, a análise dos resultados aconteceu a partir de uma avaliação qualitativa de

cada item em relação aos demais. Ou seja, a seleção dos sítios para a valoração “la

puesta em valor” reduzida aconteceu a partir do “cenário” apresentado pelo conjunto de

itens para cada sítio arqueológico cadastrado.

De modo geral, a pesquisa identificou três problemas principais que dificultam o

processo de reconhecimento e seleção dos sítios arqueológicos: antiguidade dos

registros, ausência de informações e ausência da indicação das coordenadas geográficas.

Verificou-se a existência de registros que remontam às décadas de 1970 e 1980 ou ainda

mais antigos, alguns deles produzidos por João Alfredo Rohr e não mais atualizados.

Também se constatou a existência de fichas praticamente desprovidas de informações e

sem qualquer conteúdo interpretativo. Por fim, a ausência de coordenadas geográficas

dificulta o acesso aos sítios arqueológicos, já que alguns deles receberam do IPHAN

uma denominação diferente daquela pela qual a população os nomina (isto quando ainda

reconhecidos pela população local).

5.2.1 Quadros síntese dos sítios arqueológicos de Garopaba, Imaruí e Imbituba.

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145

SÍTIO Tipologia Relevância Propriedade Exposição Estrutura Vestígios Uso atual da área

Fatores Antrópicos Ano do registro

Capão de Garopaba

Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Vandalismo/ escavação manual ou mecânica

1971

Praia da Gamboa I

Sítio cerâmico Alta Privada Céu aberto

Nada consta

Cerâmicos Plantio Nada consta 1965

Gamboa Sítio cerâmico Nada consta

Privada Céu aberto

Nada consta

Cerâmicos Plantio Nada consta 1965

Morro do Vigia Oficina Lítica Alta Pública Céu aberto

Nada consta

Nada consta Nada consta Nada consta 1997

Ponta do Galeão

Sítio de arte rupestre

Alta Pública Céu aberto

Nada consta

Gravuras Área de pesca Vandalismo/ Grafitti 2002

Oficina lítica da Vigia I

Oficina lítica Alta Pública Céu aberto

Oficina lítica

Bacias de polimento e afiadores em dique de diabásio

Praia de acesso público

Nada consta 2014

Oficina lítica da Vigia II

Oficina lítica Nada consta

Pública Céu aberto

Oficina lítica

Bacias de polimento Nada consta Nada consta 2014

Quadro 11: Síntese dos sítios arqueológicos registrados em Garopaba Fonte dos dados: CNSA/SGPA (Garopaba). Disponível no endereço eletrônico do IPHAN. Compilação dos dados realizada pelo autor em 06/10/2015.

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146

SÍTIO Tipologia Relevância Propriedade Exposição Estrutura Vestígios Uso atual da área

Fatores Antrópicos Ano do registro

Samambaia I Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Indústria clandestina de cal/ Compactação de estradas

1962

Siqueiro Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Vandalismo/ Caieira/ Construção de estradas

1962/98

Samambaia II Sambaqui Nada consta

Nada consta

Céu aberto

Nada consta

Nada consta Pastagem/ Estrada

Pasto/ Estrada 1962

Figueira Grande Sambaqui Nada consta

Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Nada consta 1962/98

Passeio Jerônimo Coelho

Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta

Lítico polido Plantio Caieira 1961/98

Forquilha do Rio D’Una

Sambaqui Nada consta

Pública Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Nada consta Nada consta

Ribeirão do Cangueri I

Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Caieira/ Aproveitamento econômico

1972

Ribeirão do Cangueri II

Sambaqui Alta Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Estrada 1972

Balsinha III Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Parcialmente alagado por barragem

1982

Balsinha IV Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Alagado por barragem 1982

Balsinha V Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta

Lítico lascado/ Cerâmico

Plantio Alagado por barragem 1982

Balsinha VI Sambaqui de ocupação Tupiguarani.

Baixa Privada Céu aberto

Nada consta

Cerâmico Plantio Alagado por barragem 1982

Balsinha VII Sambaqui de ocupação Tupiguarani

Baixa Privada Céu aberto

Nada consta

Lítico polido/ Cerâmico

Plantio/ Pastagem

Parcialmente alagado por barragem

1982

Itaguaçú Sambaqui Baixa Privada Céu Nada Nada consta Plantio Parcialmente alagado por 1972

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147

aberto consta barragem

Tamborete I Sambaqui Alta Privada Céu aberto

Nada consta

Nada consta Plantio Nada consta 1972

Tamborete II Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta

Lítico polido Plantio Nada consta 1961

Quadro 12: Síntese dos sítios arqueológicos registrados em Imaruí

Fonte dos dados: CNSA/SGPA (Imaruí). Disponível no endereço eletrônico do IPHAN. Compilação dos dados realizada pelo autor em

12/10/2015.

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SÍTIO Tipologia Relevância Propriedade Exposição Estrutura Vestígios Uso atual da área

Fatores Antrópicos Ano do registro

Ponta Rasa Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta Sobre concha Plantio Vandalização/ Aproveitamento econômico

1962/98

Laudelino Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Nada consta 1972/97

Campo da Vila

Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Cortado por rodovia 1962/98

Campo de aviação

Sambaqui Média Privada Céu aberto

Funerária Cerâmicos Plantio Abertura de fossa 1997

Porto da Vila Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Abertura de fossa 1981/98

Porto do Ouriques

Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Alagamento 1982

Passagem do Rio D’Una I

Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Compactação de estradas 1962

Passagem do Rio D’Una II

Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio / Atividade Urbana

Compactação de estradas 1982

Balsinha I Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Compactação de estradas 1972

Balsinha II Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Compactação de estradas 1982

Araçatuba Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Compactação de estradas 1979

Mirim I Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Caieira/ Compactação de estradas

1962

Mirim II Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Agricultura 1962

Itapirubá I Sítio em Dunas / Sambaqui

Alta Nada consta

Céu aberto

Nada consta Cerâmicos Plantio Loteamento 1962

Itapirubá II Sítio em Dunas / Alta Nada Céu Nada consta Nada consta Plantio Loteamento 1962

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149

Sambaqui consta aberto

Roça Grande I

Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Rodovia BR 101 1972

Roça Grande II

Sambaqui Baixa Privada

Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio/ Atividade urbana

Residências/ Caieira/ Pavimentação de estradas

1972

Barra da Lagoa de Ibiraquera

Sambaqui Média Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Vandalismo 1981

Guaiúba Sambaqui Baixa Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Agricultura/ Residências 1972

Imbituba VII Sambaqui Baixa Nada consta

Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Pavimentação de ruas em Laguna

1972

Roça Grande III

Sambaqui Média Privada Nada consta

Nada consta Nada consta Plantio Construção de estádio de futebol

1990

Passagem do Rio da D’Una III

Sambaqui Alta Privada Céu aberto

Nada consta Nada consta Plantio Nada consta 1990

Aldeia da ZPE

Aldeia Tupi-Guarani

Alta Nada consta

Céu aberto

Funerário/ Manchas pretas

Lítico lascado/ lítico polido/ cerâmico/ sobre concha/ lítico bruto

Nada consta

Implantação da ZPE/ Distúrbios de superfície/ Escavações manuais e mecânicas

1998

Sambaqui de Araçatuba

Sambaqui Média Privada Céu aberto

Área de refugo/ De combustão

Lítico lascado/Lítico polido

Pasto Duplicação rodovia BR 101

Nada consta

SC NB 06 Habitação Tupi-Guarani

Média Privada Céu aberto

Concentração cerâmica

Cerâmico Pasto Agricultura 2012

SC IMB 01 Acampamento Tupi-Guarani

Média Privada Submerso Nada consta

Cerâmico Área devoluta

Agricultura 2014

Quadro 13: Síntese dos sítios arqueológicos registrados em Imbituba

Fonte dos dados: CNSA/SGPA (Imbituba). Disponível no endereço eletrônico do IPHAN. Compilação dos dados realizada pelo autor em

05/10/2015.

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150

5.2.2 Análise

Dividiremos a análise dos quadros síntese dos sítios arqueológicos em duas partes.

Na primeira, a análise considerará os aspectos gerais referentes ao conjunto dos três

municípios; na segunda, as características específicas de cada município. Por fim,

discutiremos os resultados.

5.2.2.1 Aspectos gerais

Dos 49 sítios arqueológicos registrados, 40 estão tipificados como sambaquis.

Outras tipificações encontradas são: oficinas líticas, sítios cerâmicos,

acampamento/habitação tupi guarani e sítio de arte rupestre. A maior parte dos sítios

estão relacionados, portanto, à ocupação dos povos caçadores-coletores

(sambaquieiros), com uma participação de sítios relacionados à ocupação tupi-guarani.

Cabe lembrar, entretanto, que muitos sambaquis foram ocupados por volta dos 1500

anos A.P. pelas populações itararé (Jê) e tupi-guarani.

Quanto à relevância, 10 sítios constam como de alta relevância, 15 de média

relevância, 19 de baixa relevância e 05 sem avaliação de relevância (nada consta). O

regime de propriedade preponderante é a privada (39 sítios). Apenas 05 sítios estão

localizados em áreas públicas e outros 05 sítios não possuem informações quanto ao

regime de propriedade (nada consta). Quanto à exposição, 47 sítios são de céu aberto,

01 submerso e 01 sem informação (nada consta).

Nos itens estrutura e vestígios constata-se a maior incidência de “nada consta”,

indicando a carência de pesquisas e a fragilidade dos próprios registros. Cabe lembrar

que o turismo arqueológico só se torna sustentável quando praticado em sítios

devidamente registrados e interpretados, conforme os princípios básicos do turismo

arqueológico sustentável apresentados por Bastos (2005).

De modo geral, verificou-se que o uso atual do solo da maioria dos sítios é de

plantio (aqui incluída a cobertura vegetal sem uso econômico) e de pastagens. Também

é possível verificar ainda que a maioria dos sítios está bastante impactada pelos fatores

antrópicos, quando não totalmente destruídos. Vandalização, uso dos materiais de sítios

arqueológicos para compactação e construção de estradas e alagamento por barragens

são os fatores antrópicos que mais incidem sobre os sítios registrados.

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Por fim, a análise do item “ano de registro” permite afirmar que a maior parte dos

registros estão desatualizados. Dos 49 sítios, apenas 05 possuem registros realizados no

século XXI (registros motivados por trabalhos de arqueologia preventiva em função das

obras de saneamento em Garopaba, por exemplo). Constata-se ainda que os registros de

21 sítios arqueológicos (o que corresponde à quase metade do total) remontam às

décadas de 1960 e 1970.

5.2.2.2 Garopaba

Dentre os três municípios analisados, Garopaba apresenta a maior variedade de

sítios quanto à tipificação (apesar de possuir o menor número de sítios registrados), cuja

distribuição está entre oficinas líticas, sítios cerâmicos, sambaqui e sítio com arte

rupestre, bem como de sítios localizados em áreas públicas. É também o município que,

proporcionalmente, possui o maior número de sítios avaliados como de alta relevância.

Quanto ao aspecto de uma possível monumentalidade, os vestígios registrados

apontam a existência de bacias de polimento, afiadores, gravuras rupestres e vestígios

de cerâmica. Nos registros não constam informações significativas a respeito do estado

atual dos sítios, havendo, entretanto, referência a ações de vandalismo em dois deles

(Capão de Garopaba e Ponta do Galeão).

Dos 7 sítios, três foram registrados no século XXI (Ponta do Galeão, 2002;

Oficina Lítica da Vigia I, 2014; Oficina Lítica da Vigia II, 2014). Entretanto, os

registros dos dois sítios cerâmicos localizados na Praia da Gamboa remontam ao ano de

1965 e não foram atualizados.

5.2.2.3 Imaruí

Imaruí possui 16 sítios arqueológicos, cuja totalidade é tipificada como sambaqui.

A maior parte deles está situada em áreas privadas (apenas o sítio Forquilha do Rio

D’Una consta como situado em área pública).

A quantidade de sítios avaliados como de baixa relevância é bastante significativa

(7 sítios). Há, entretanto, 4 sítios considerados de média relevância e 2 de alta

relevância, porém com registros muitos antigos (ambos de 1972). Não há informações

disponíveis para o item estrutura. Quanto aos vestígios, estes se resumem a objetos

líticos polidos e cerâmicos.

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152

Observa-se ainda que os sítios em Imaruí se encontram bastante alterados ou até

mesmo destruídos quando registrados, e a probabilidade é a de agravamento deste

estado em decorrência das atividades agrícolas, de mineração e do próprio processo de

urbanização. De modo geral, os registros no município são bastante antigos, a maior

parte deles concentrando-se nas décadas de 1970 e 1980. A atualização mais recente

data de 1998 (Siqueiro, Figueira Grande e Passeio Jerônimo Coelho) e o registro mais

antigo sem atualização remonta ao ano de 1961 (Tamborete II). Conforme as

informações referentes ao item ação antrópica, 6 sítios estão parcial ou totalmente

alagados por barragens e 4 sofreram a ação de caieiras e indústrias de mineração.

O cenário apresentado no Quadro Síntese dos Sítios Arqueológicos de Imaruí

indica que, considerando os sítios registrados e o estado dos mesmos, é improvável a

possibilidade destes constituírem atrativo para o turismo arqueológico no município.

5.2.2.4 Imbituba

Imbituba concentra o maior parte dos sítios arqueológicos registrados, totalizando

26, todos eles situados em propriedades privadas, exceto 4 sítios sobre os quais nada

consta. A maior parte (23) está tipificada como sambaquis, e 3 estão relacionados à

cultura tupi-guarani, estes localizados em áreas de implantação de uma Zona de

Processamento de Exportação (ZPE). Quanto à relevância, 12 sítios foram avaliados

como de baixa relevância, 10 como de média relevância e 4 de alta relevância, dos quais

dois situados em área de dunas (Itapirubá I e Itapirubá II), um em área de ZPE (Aldeia

ZPE) e outro em área privada e coberta por vegetação (Passagem do Rio D’Una III). A

localização do sítio em área de dunas pode representar uma dificuldade para a

constituição do atrativo do turismo arqueológico, haja vista a mobilidade das mesmas.

Constatamos esta dificuldade em diligência que realizamos juntamente com o IPHAN

às Dunas da Ribanceira (Imbituba) com o objetivo de localizar vestígios arqueológicos

pré-coloniais e delimitar o polígono de novos sítios a serem registrados46

. A extensão da

área e a mobilidade das dunas torna imprevisível o encontro de vestígios arqueológicos,

46

A diligência aconteceu em 23 de setembro de 2015. Foi coordenada pelo IPHAN e contou com o apoio

do IF-SC Campus Garopaba e da Secretaria de Cultura (SECULT) do município de Imbituba. O autor

participou na condição de professor de História do IF-SC. O objetivo era identificar a existência de sítios

arqueológicos na área de dunas e, em caso positivo, delimitar o polígono dos mesmos. Na ocasião, foram

identificados e delimitados os polígonos de três possíveis sítios arqueológicos pré-coloniais e encontrados

dois fragmentos cerâmicos da cultura tupi-guarani.

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hora expostos, hora cobertos pela areia. Cabe lembrar ainda a fragilidade do ecossistema

e dos próprios vestígios arqueológicos.

Quanto aos itens estrutura e vestígios, poucos sítios possuem o registro destes

itens. Há duas menções de estruturas funerárias e o registro de vestígios líticos polidos e

cerâmicos. A ausência de maiores informações dificulta o processo de seleção dos sítios

registrados em Imbituba para a valoração “la puesta en valor”.

Observa-se que os sítios arqueológicos registrados em Imbituba estão bastante

impactados pela ação antrópica. Uso para compactação de estradas, caieiras,

alagamento, construção de loteamentos e até o uso do material na construção de estádio

de futebol são algumas das ações antrópicas que incidem sobre estes sítios. A situação

pode estar agravada, dada a antiguidade dos registros. Apenas dois sítios possuem

registro recente (SC NB 06, 2012; SC IMB 01, 2014). Os demais possuem registros do

ano de 1962 (5 sítios) ao ano de 1998 (4 sítios).

5.2.2.5 Discussão

Considerando a metodologia adotada nesta pesquisa, a valoração arqueológica

deve permitir um reconhecimento prévio dos sítios arqueológicos registrados nos

municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba, bem como suas condições gerais e

disponibilidade. Para esta valoração, optou-se pela consulta e análise das informações

disponíveis no CNSA/SGPA publicado pelo IPHAN, conforme já justificado, porque

representa a valoração arqueológica oficial e mais acessível.

Ainda que pese a antiguidade e não atualização de muitos registros, a ausência de

informações e a existência de fichas incompletas, esta pesquisa comprova que o

CNSA/SGPA é um importante instrumento para a valoração arqueológica na seleção de

sítios com potencialidade turística a serem avaliados. Daí a necessidade de uma

atualização urgente deste cadastro, não apenas para o planejamento de um turismo

arqueológico, mas também para um melhor conhecimento do patrimônio arqueológico

existente e para subsidiar políticas de salvaguarda e de educação patrimonial referentes

a este patrimônio.

A compilação dos dados do CNSA/SGPA segundo os critérios já expostos e a

organização destes em quadros síntese permitiu a análise das informações com vistas à

construção de um cenário geral do estado dos sítios arqueológicos nos três municípios

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154

em questão, bem como delimitar os sítios a serem considerados para uma valoração “la

puesta en valor” reduzida.

O cenário geral indica precariedade dos sítios arqueológicos registrados nos três

municípios naquilo que diz respeito ao estado de conservação (considerando-se

principalmente a ação antrópica e o uso atual da área). A ausência de informações

importantes e a antiguidade dos registros indica a fragilidade do trabalho interpretativo.

Se “o patrimônio cultural é um bem de uso comum do povo brasileiro, e deve ser

sempre um bem de alcance social” (BASTOS, 2008, p. 11), as informações a respeito

deste bem devem estar disponíveis a todos de forma segura e plena. No caso dos

municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba, a análise constatou a carência destas

informações e a fragilidade das interpretações existentes, o que representa uma

dificuldade para o desenvolvimento de um turismo arqueológico para a região que

apresente sustentabilidade.

A análise das informações permite considerar que os sítios registrados em

Garopaba são os que apresentam maior interesse para a valoração “la puesta en valor”

reduzida porque localizados em áreas públicas, possuírem registros mais recentes e

maiores indícios de monumentalidade. Os municípios de Imaruí e Imbituba, conforme

observado na análise, apresentam sítios fortemente impactados pela ação antrópica e

tipificados como sambaquis. No caso de Imbituba, alguns destes sítios estão situados

em dunas. Tanto Imaruí, quanto Imbituba possuem a maior parte dos seus sítios

localizados em áreas privadas. Estas características dificultam o aproveitamento destes

espaços para o desenvolvimento do turismo arqueológico.

Dadas as características dos sítios de Imaruí registrados no CNSA/SGPA,

considerando as informações disponíveis, estes serão desconsiderados para a valoração

“la puesta en valor” reduzida aqui adotada porque apresentam pouco ou nenhum indício

de monumentalidade, estarem fortemente impactados ou destruídos pela ação antrópica

e se situarem em áreas privadas. Considera-se ainda o fato de uma parcela significativa

destes sítios estarem avaliados como de baixa relevância. Pelas mesmas razões, dentre

os sítios de Imbituba cadastrados no CNSA/SGPA, esta pesquisa submeterá à valoração

“la puesta en valor” reduzida o sítio arqueológico da Barra da Lagoa de Ibiraquera,

tipificado como Sambaqui e considerado de média relevância. O sítio é citado também

como relevante por condutores ambientais, conforme já apresentado, está localizado

entre a praia da Barra da Lagoa e a praia do Luz e próximo à trilha de acesso à Praia do

Rosa, na qual se situa oficina lítica citada pela comunidade e por grupos de condutores

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locais a esta pesquisa. Além do sítio da Barra da Lagoa da Ibiraquera, outros sítios

arqueológicos de Imbituba serão visitados e avaliados. Apesar de não constarem do

cadastro do CNSA/SGPA, os sítios selecionados para valoração em Imbituba possuem

aquilo que Dabezies (2011) denomina de reconhecimento social, ou seja, é conhecido e

reconhecido pelos moradores locais ou por um público geral.

Conforme exposto, sítios arqueológicos do município de Garopaba registrados no

CNSA/SGPA apresentam características que os habilitam para a valoração “la puesta en

valor” reduzida. O fato de se situarem em áreas públicas, possuírem alta relevância,

ainda não estarem fortemente impactados pela ação antrópica e apresentarem indícios

de monumentalidade constituem estas características habilitadoras. Acrescente-se a isto

a tipificação de três deles enquanto oficinas líticas e um deles enquanto sítio com arte

rupestre. A respeito do potencial de monumentalidade das oficinas líticas, afirma

Comerlato:

a disposição das depressões, o aproveitamento da rocha suporte, o

brilho do polimento, a simetria das formas, sua relação com a

paisagem são características que conferem aos sítios de oficinas líticas

um ponto de atração ao nosso olhar, sobretudo pela sua qualidade

estética. (COMERLATO, 2015, p. 188).

Quanto às gravuras rupestres, afirma a mesma autora:

As gravuras rupestres também podem ser vistas como um atrativo

turístico, movimentando um mercado ainda pequeno – o do turismo

cultural, mais precisamente arqueológico. O interesse turístico tem

crescido nos últimos anos tanto no litoral como na serra catarinense,

existindo iniciativas de prefeituras e de particulares. (COMERLATO,

2005, p. 161).

Algumas experiências de turismo arqueológico que exploram oficinas líticas e

inscrições rupestres enquanto atrativo já vêm sendo desenvolvidas no estado de Santa

Catarina, como é o caso do Morro do Avencal (Urubici) e o Museu Arqueológico Ar-

Livre Costão do Santinho (Florianópolis)47

.

Assim, para a valoração “la puesta en valor” reduzida, os sítios que apresentam

tipificação, estrutura e/ou vestígios que remetem à existência de oficinas líticas e

gravuras rupestres serão considerados. É o caso do sítios localizados na praia da Vigia e

na Ponta do Galeão. Também será selecionado o sítio Capão de Garopaba, tipificado

47

Segundo as informações disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Florianópolis, o Museu

Arqueológico Ar-livre do Costão do Santinho recebe em média 70 mil visitantes por ano. Fonte:

http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/turismo/?cms=museu+arqueologico+ar+livre+costao+do+santinho

(Acesso realizado em 07/01/2016).

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com sambaqui, mas que segundo relatos colhidos pelo autor junto à comunidade local,

apresenta oficina lítica associada (o que de fato se verificou). Por último, dada a

relevância apontada pelo CNSA/SGPA e a ocorrência de vestígios, seleciona-se também

o sítio Praia da Gamboa I.

Embora constituam marcos paisagísticos importantes da ocupação pré-colonial, os

sambaquis da região não serão considerados para a valoração “la puesta en valor”

reduzida aqui aplicada sob o princípio da redução metodológica adotada, exceto quando

associados à oficina lítica, inscrição rupestre ou estarem situados próximo a outro sítio

arqueológico, conforme já discutido. Os critérios para a exclusão são: alto impacto da

ação antrópica, estarem localizados em áreas privadas, apresentarem pequeno ou

nenhum indício de monumentalidade e/ou estarem avaliados como de baixa relevância.

Exclui-se, segundo estes critérios, a totalidade dos sítios registrados nos municípios de

Imbituba.

Os critérios de inclusão e de exclusão não serão avaliados isoladamente, mas em

contexto. Assim, a seleção ou não de um sítio para a valoração “la puesta en valor”

reduzida observará o conjunto dos critérios que indicam inclusão e exclusão.

5.3 Valoração “la puesta en valor” reduzida

Para esta etapa da cadeia valorativa foram selecionados sítios arqueológicos nos

municípios de Garopaba e Imbituba. A exclusão dos sítios arqueológicos cadastrados no

município de Imaruí pelos critérios metodológicos adotados neste trabalho não significa

que este não possua sítios ou vestígios potencialmente significativos para o

desenvolvimento do turismo arqueológico. Entretanto, a análise do CNSA/SGPA não

identificou sítios com este potencial cadastrados no município. Tampouco a pesquisa

identificou sítios arqueológicos que apresentem reconhecimento social em Imaruí que

justificaria uma valoração “la puesta en valor” reduzida.

No município de Garopaba foram selecionados os sítios Ponta do Galeão, Oficina

Lítica da Vigia I, Capão de Garopaba, Praia da Gamboa I e Praia do Siriú. Os sítios

Oficina Lítica da Vigia II e Morro da Vigia, embora preencham os critérios de inclusão,

foram visitados porém não valorados por pertencerem ao contexto e apresentarem

monumentalidade equivalente ao da Oficina Lítica I e se situarem entre esta e a Ponta

do Galeão. Já o sítio Praia do Siriú não consta do CNSA/SGPA, porém foi reconhecido

socialmente por condutor ambiental local. Por possuir vestígios de oficina lítica e não

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estar cadastrado, optou-se por incluí-lo nesta etapa da cadeia valorativa. O sítio Praia da

Gamboa I foi incluído porque foi classificado como de alta relevância, apresentar

vestígios no momento do seu registro e se situar no limite norte do município de

Garopaba. A busca deste sítio foi realizada na data de 12 de dezembro de 2015 com

guiamento de condutor ambiental local, porém não foi localizado. Moradores da

Gamboa disponíveis no momento da busca em campo foram consultados a respeito da

existência de sítio ou vestígios na localidade. Estes, porém, desconheciam qualquer

referência neste sentido. Por este motivo, e também porque o cadastro disponível no

CNSA/SGPA não informa as coordenadas geográficas ou pontos de referência física do

sítio, não foi possível realizar esta etapa da cadeia valorativa neste sítio arqueológico

Praia da Gamboa I.

No município de Imbituba, conforme discutido na seção anterior, foi selecionado

para esta etapa da cadeia valorativa o sítio arqueológico Barra da Lagoa de Ibiraquera,

que consta do CNSA/SGPA. Além deste, e adotando o critério do reconhecimento

social, foram selecionados também os seguintes sítios: Rosa Sul, Canto Norte da Praia

da Vila e Porto do Nato. Nenhum destes sítios está cadastrado no CNSA/SGPA, porém

todos foram sugeridos por pessoas da comunidade e identificados por possuírem

vestígios de Oficinas Líticas. Rosa Sul foi citado por representantes da comunidade

local e pelos grupos de condutores ambientais locais ouvidos nesta pesquisa. No Canto

Norte da Praia da Vila e no Porto do Nato fomos conduzidos pelo cidadão Ronaldo

Augusto, acadêmico de História, residente do Bairro Vila Nova e descendente de uma

família radicada em Imbituba há várias gerações.

A inclusão de sítios de Garopaba e Imbituba não cadastrados no CNSA/SGPA

para esta etapa da cadeia valorativa com base no critério do reconhecimento social,

fundamenta-se na compreensão de Funari e Alfonso (2013) a respeito do

reposicionamento da própria arqueologia no contexto de uma sociedade democrática, na

qual este campo de saber se vê impulsionado e desafiado por novas interações (dentre

estas, a do turismo) e situações.

No es inusual que una comunidad local, indígena o cimarrona, perciba

un sitio arqueológico de su territorio de manera diferente a como lo

hacen los arqueólogos y turistas, distantes de los costumbres locales.

(...) Es así como los arqueólogos deben superar sus proprios prejuícios

y la tentación de ridicularizar tanto las interpretaciones indígenas

como las de los turistas. (FUNARI e ALFONSO, 2013, p. 44).

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Para a valoração “la puesta en valor” foi construída uma ficha com os itens a

serem avaliados em cada sítio arqueológico selecionado na etapa anterior da cadeia

valorativa. Os critérios desta ficha têm como referência Dabezies (2011) e foram

definidos a partir do princípio da redução metodológica. O preenchimento das fichas foi

realizado durante a visita que realizamos aos sítios arqueológicos selecionados e a partir

de observação superficial destes. “Observação superficial” significa dizer que não foi

realizado qualquer tipo de intervenção que pudesse agredir ou mutilar o sítio visitado,

tampouco recolhidos materiais de qualquer espécie. As datas das visitas e o autor dos

registros constam das fichas. Também foram produzidas fotografias de cada sítio no

momento da visita, com o objetivo de documentar e contribuir com a análise dos

resultados. Estas fotografias constam das fichas. Para o registro fotográfico, contamos

com a colaboração de voluntários que nos acompanharam nas visitas. Também constam

nas fichas os municípios em que os sítios estão localizados, seus nomes conforme

registrado no CNSA/SGPA (quando não cadastrado, optamos por utilizar o nome como

é conhecido pela população local) e as coordenadas geográficas. A ausência de

coordenadas geográficas ou pontos de orientação nas fichas do CNSA/SGPA

representaram uma dificuldade nesta pesquisa porque em alguns casos impossibilitou a

localização do sítio arqueológico. Neste trabalho utilizamos as coordenadas do Sistema

Universal Transversa de Mercator (UTM), definidas por meio de GPS portátil “Garmin

- eTrex 20” junto a um dos vestígios do sítio visitado. Trata-se portanto de uma

referência, sendo que o polígono do sítio arqueológico visitado não foi definido.

Para a valoração “la puesta en valor” reduzida foram avaliados os seguintes

critérios:

a) capacidade explicativa: indica se o sítio é superficial, se apresenta algum tipo

de vestígios e/ou atrativos, a atratividade da paisagem em que está inserido e se possui

algum tipo de estrutura interpretativa.

b) monumentalidade: indica o tipo de monumentalidade apresentada pelo sítio e

se esta é ou não significativa.

c) conservação do entorno: descreve o entorno e indica o estado de conservação

do sítio e se a paisagem remete à ocupação pretérita.

d) acessibilidade: indica as condições gerais de acesso ao sítio, se por trilha, praia

ou estrada e as dificuldades e facilidades deste.

e) atrativo da zona: indica se o sítio está integrado a outros atrativos.

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f) necessidades mínimas: indica se o sítio possui condições mínimas enquanto

atrativo turístico e informa quais as necessidades estruturais mais urgentes para a sua

conservação e interpretação.

g) serviços: indica os serviços próximos ao sítio disponíveis para os turistas.

h) disponibilidades do uso do solo: indica se o sítio está situado em área pública

ou privada e se há restrições de acesso.

Figura 13: Localização dos sítios arqueológicos selecionados para a valoração “la

puesta en valor” reduzida. (Produzido no Google Maps).

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5.3.1 Ponta do Galeão (Garopaba)

Município:

Garopaba Sítio (conforme CNSA)

Ponta do Galeão Coordenadas:

S 28° 1' 49,43’’

W 048° 35' 54’’

Capacidade explicativa: Sítio perceptível, a céu aberto, com inscrições rupestres, sem

informações de apoio (sinalização, placas explicativas etc). Inserido em uma paisagem atrativa.

Monumentalidade: Inscrições rupestres, formações rochosas peculiares (uma delas

identificada popularmente como “esfinge”). Apresenta monumentalidade significativa.

Conservação do entorno: Incrustado em um costão junto ao mar. A paisagem remete ao

tempo pretérito. Intervenção humana pouco perceptível, porém apresenta alguma vandalização

nas inscrições. Ação do intemperismo sobre os vestígios.

Acessibilidade: Acesso por trilha pública com alto grau de dificuldade. Há também acesso por

estrada privada e pastagem (necessita de autorização dos proprietários).

Atrativo da zona: O local está situado em um costão junto ao Oceano Atlântico. Formação

rochosa com fissuras e uma paisagem bastante particular. Altamente atrativa para adeptos do

“trekking”.

Necessidades mínimas: Necessita de infraestrutura para visitação segura e proteção dos

vestígios e entorno, além de estrutura interpretativa.

Serviços: Não há oferta de serviços ou infraestrutura turística no local.

Disponibilidades do uso do solo: Área pública, com dificuldades de acesso em função das

características do terreno.

Foto ou observações complementares:

Figura 14: Costão da Ponta do Galeão com aspecto de Esfinge (vista lateral). Foto:

Rossano Lopes Bastos.

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Figura 15: Vista do entorno e trilha que margeia a orla, ligando este sítio às oficinas

líticas da Praia da Vigia. Foto: Rossano Lopes Bastos.

Figura 16: Inscrições rupestres. Foto: Rossano Lopes Bastos.

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Figura 17: Costão. Foto: Rossano Lopes Bastos.

Figura18: Inscrição rupestre. Foto: Rossano Lopes Bastos.

Data da visita e registro: 05/09/2015.

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5.3.2 Oficina Lítica da Vigia (Garopaba)

Município:

Garopaba Sítio (conforme CNSA)

Oficina Lítica da Vigia I (a Oficina

Lítica da Vigia II está inserida no

mesmo contexto).

Coordenadas:

S 28º 01’ 10’’

W 048º 36’ 37,5’’

Capacidade explicativa: Sítio perceptível, a céu aberto, com vestígios de oficina lítica, sem

informações de apoio (sinalização, placas explicativas etc). Inserido em uma paisagem atrativa

junto à praia.

Monumentalidade: Vestígios de oficina lítica (bacias e afiadores longitudinais). Apresenta

monumentalidade.

Conservação do entorno: Praia e costões. Entorno bastante alterado pela ação antrópica.

Presença intensa de veranistas na temporada de verão.

Acessibilidade: O sítio está situado junto à praia. O acesso se dá por uma pequena trilha com

degraus. Há estacionamento para automóveis próximo ao sítio (situado a menos de 100

metros). Há estrada pavimentada até a praia.

Atrativo da zona: O local está situado junto à Praia da Vigia, próximo ao Centro Histórico de

Garopaba. No caminho até a praia se situa a Igreja Católica de São Joaquim (construída no

século XIX), o casarão da administração da antiga armação baleeira (construído no século

XVIII e que atualmente abriga uma loja de artesanato local) e uma gruta católica. A distância

destes atrativos e o sítio pode ser coberta em uma caminhada inferior a 30 minutos, com vista

para a Praia de Garopaba, Vila de Pescadores, Centro Histórico e Dunas do Macacu. O Sítio

Oficina Lítica da Vigia 1 é o ponto inicial de uma trilha que inclui o Sítio Oficina Lítica da

Vigia 2, o Morro da Vigia e se conclui no Sítio Ponta do Galeão.

Necessidades mínimas: Sim. Necessita de estrutura interpretativa, passarelas e estrutura para

proteção dos vestígios arqueológicos.

Serviços: O sítio está localizado próximo ao Centro Histórico de Garopaba, com ampla

estrutura de serviços (restaurantes, bancos, correio, lojas de souvenires, hotéis e centro de

informação turística).

Disponibilidades do uso do solo: Área pública, sem restrições de acesso.

Foto ou observações complementares:

Figura 19: Disposição das rochas pelo entorno. Foto: Fernanda Denise Satler.

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Figura 20: Bacias de polimento. Foto: Fernanda Denise Satler.

Data da visita e registro: 12/12/2015.

5.3.3 Capão de Garopaba (Garopaba)

Município:

Garopaba Sítio (conforme CNSA)

Capão de Garopaba Coordenadas:

S 28º 04’ 56,3’’

W 048º 37’ 41,4’’

Capacidade explicativa: Sítio perceptível, a céu aberto, com vestígios de oficina lítica e

sambaqui, sem informações de apoio (sinalização, placas explicativas etc). Inserido em uma

paisagem atrativa sobre uma ilha junto à praia e na foz da Lagoa de Garopaba (Encantada).

Monumentalidade: Oficina lítica com bacias e afiadores longitudinais (concentrados e

espalhados) e vestígios de sambaqui. Apresenta monumentalidade significativa.

Conservação do entorno: O sambaqui está bastante destruído. Há pedaços de rocha diabásio

com bacias líticas espalhados no entorno. Há um complexo razoável de brunidores rupestre na

frente leste do sambaqui, no costão junto ao mar, em estado de preservação razoável. A ilha (o

local é assim classificado nas cartas náuticas, embora na prática lembre um istmo) apresenta

formações rochosas peculiares, que alguns moradores da região identificam como figuras

esculpidas. Existência de “caminhos” não planejados abertos pela passagem de pedestres,

aumentando a erosão do sambaqui. Remete ao tempo pretérito.

Acessibilidade: O sítio está situado junto à praia. Há acesso de automóvel até a uma distância

de 100 metros. A oficina lítica é acessada por trilha.

Atrativo da zona: Localizado entre as praias da Barra e da Ferrugem, na foz da Lagoa de

Garopaba, também conhecida por Encantada. O sítio está integrado à comunidade de

pescadores tradicionais do Capão e sobre ele está edificado um barracão de pescadores. Na

temporada da Tainha, é utilizado como posto de vigia e no seu entorno é possível acompanhar

os cercos de tainha.

Necessidades mínimas: Sim. Necessita de estrutura interpretativa, passarelas e estrutura para

proteção dos vestígios arqueológicos.

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Serviços: Há uma grande diversidade de bares, restaurantes e pousadas nas proximidades. O

local é atendido por linha de ônibus.

Disponibilidades do uso do solo: Definido no CNSA/SGPA como área privada. Entretanto,

em conversas com moradores locais, a área é compreendida de uso público pela comunidade.

Sem restrições de acesso.

Foto ou observações complementares:

Figura 21: Superfície do Sambaqui com trecho de trilha. Foto: Anneli Fernandes da

Costa.

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Figura 22: Oficina Lítica (afiadores longitudinais). Foto: Anneli Fernandes da Costa.

Figura 231: Turista observando a oficina lítica.Foto: Anneli Fernandes da Costa.

Data da visita e registro: 23/10/2015.

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5.3.4 Praia do Siriú

Município:

Imbituba

Sítio (conforme CNSA) Não está

cadastrado.

Praia do Siriú

Coordenadas:

S 27º 58’ 27,2’’

W 048º 37’ 40,7’’

Capacidade explicativa: O sítio não está cadastrado no CNSA/SGPA e foi indicado por

condutores ambienta. Junto ao costão, no granito, há uma única bacia que pode ser parte de

uma oficina lítica, mas necessita de estudo arqueológico.

Monumentalidade: Uma bacia lítica sobre granito (necessita de estudo arqueológico). Baixa

monumentalidade.

Conservação do entorno: Entorno bastante transformado pela ação antrópica, com a presença

de residências, estrada e veranistas durante a temporada de verão.

Acessibilidade: O vestígio está localizado no início de um costa de granito junto à praia do

Siriú. Há uma estrada pavimentada que dá acesso ao local, com estacionamento.

Atrativo da zona: Paisagem (praia, mar e costão).

Necessidades mínimas: O autor não possui autoridade técnica para confirmar se o vestígio foi

produzido por culturas pré-coloniais, ou se deriva do intemperismo. Necessita de avaliação por

arqueólogo.

Serviços: Próximo ao sítio há restaurante e pousadas. O local é atendido por transporte público

urbano.

Disponibilidades do uso do solo: Área pública, sem restrições de acesso.

Foto ou observações complementares:

Figura 24: Vista do entorno. Foto: Fernanda Denise Satler.

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Figura 25: Suposta bacia lítica. O contraste é resultado da água. Foto: Fernanda Denise

Satler.

Data da visita e registro: 12/12/2015.

5.3.5 Rosa Sul (Imbituba)

Município:

Imbituba

Sítio (conforme CNSA) Não

está cadastrado.

Rosa Sul

Coordenadas:

S 28º 08’ 21,5’’

W 048º 38’ 21,1’’

Capacidade explicativa: Sítio perceptível, a céu aberto, com vestígios de oficina lítica, sem

informações de apoio (sinalização, placas explicativas etc). Inserido em uma paisagem atrativa

com barracões de pesca tradicional e costão.

Monumentalidade: Vestígio de oficinas líticas (afiadores longitudinais), alguns em pequenas

rochas espalhadas pela área. Apresenta monumentalidade.

Conservação do entorno: Localizado ao sul de uma das principais praias do litoral catarinense

(Praia do Rosa), com costões e morros recobertos de vegetação. O sítio sofreu modificações,

como remoção de rochas com vestígios e vandalização.

Acessibilidade: Acesso por praia e trilha pouco acidentada. Área pública. Há uma estrada de

terra transitável por veículos de passeio que permite a aproximação ao sítio (o ponto final da

estrada dista aproximadamente 50 metros dos vestígios.

Atrativo da zona: O sítio está localizado na extremidade sul de uma das mais conhecidas e

referenciadas praias do litoral catarinense. É margeado por uma trilha que dá acesso à Praia do

Luz (Imbituba) com atrativos paisagísticos e de flora, utilizada por turistas adeptos do trekking.

A presença de barracões de pesca tradicional pode servir como atrativo cultural.

Necessidades mínimas: Sim. Necessita de material interpretativo, passarelas e equipamentos

de segurança na trilha.

Serviços: Próximo ao sítio à oferta de restaurantes, pousadas e a venda de serviços de

condução ambiental.

Disponibilidades do uso do solo: Área pública, sem restrições de acesso.

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Foto ou observações complementares:

Figura 26: Rochas espalhadas pelo entorno. Diversas apresentam vestígios de oficina

lítica (afiadores longitudinais). Foto: Fernanda Denise Satler.

Figura 27 Vista do entorno, com barracões de pescadores e montanha. Foto: Fernanda

Denise Satler.

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Figura 28: Rochas com vestígios de oficina lítica (destaque para a rocha central, com

vestígios vandalizados. Foto: Fernanda Denise Satler.

Figura 29: Afiadores longitudinais. Foto: Fernanda Denise Satler.

Data da visita e registro: 02/11/2015.

5.3.6 Canto Norte da Praia da Vila (Imbituba)

Município:

Imbituba

Sítio (conforme CNSA) Não está

cadastrado.

Canto Norte da Praia da Vila

Coordenadas:

S 28º 14’ 23,3’’

W 048º 39’ 10,3’’

Capacidade explicativa: O sítio não está cadastrado no CNSA/SGPA e foi indicado por

moradores locais. Sítio perceptível, a céu aberto, com poucos vestígios, sem informações de

apoio (sinalização, placas explicativas etc). Inserido em uma paisagem atrativa.

Monumentalidade: Vestígios (poucos e esparsos) de oficinas líticas (longitudinais). Baixa

monumentalidade.

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Conservação do entorno: Costões, mar e praia, com vista para ilha próxima. Entorno

relativamente preservado, que permite uma ideia da paisagem pretérita. Presença humana

intensa e alta vulnerabilidade.

Acessibilidade: Acesso por praia e trilhas com aclives e declives. Acessível por pedestres que

não possuem dificuldades motoras.

Atrativo da zona: Paisagem (costões, mar, ilha próxima, praia). Incidência de esportes

aquáticos.

Necessidades mínimas: Necessita de infraestrutura para visitação segura e proteção dos

vestígios e entorno, além de estrutura interpretativa.

Serviços: Oferta de serviços gastronômicos e de hospedagem. Próximo à região central.

Estacionamento para ônibus e veículos de passeio.

Disponibilidades do uso do solo: Área pública, sem restrições de acesso.

Foto ou observações complementares:

Figura 30: Vista do entorno. Foto: Ronaldo Augusto.

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Figura 31: Afiadores longitudinais. Foto: Ronaldo Augusto.

Figura 32: Vestígios de oficina lítica. Foto: Ronaldo Augusto.

Data da visita e registro: 05/12/2015.

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5.3.7 Porto do Nato, Guaiúba (Imbituba)

Município:

Imbituba

Sítio (conforme CNSA) Não está

cadastrado.

“Porto do Nato” (denominação popular),

Guaiúba.

Coordenadas:

S 28º 17’ 23,1’’

W 048º 43’ 16,5’’

Capacidade explicativa: O sítio não está cadastrado no CNSA/SGPA e foi indicado por

moradores locais. Sítio perceptível, a céu aberto, com vestígios de oficina lítica, sem

informações de apoio (sinalização, placas explicativas etc). Inserido em uma paisagem

atrativa.

Monumentalidade: Vestígio de oficinas líticas (bacias). Apresenta monumentalidade.

Conservação do entorno: Localizado em uma pequena enseada de pedras, possivelmente

removidas, à beira da Lagoa de Imaruí. O sítio sofreu modificações e alguns vestígios estão

parcialmente submersos, outros danificados.

Acessibilidade: Acesso por praia e trilhas pouco acidentadas, através de propriedade privada.

Atrativo da zona: O local está situado à margem da Lagoa de Imaruí, e possui uma pequena

praia.

Necessidades mínimas: Necessita de infraestrutura para visitação segura e proteção dos

vestígios e entorno, além de estrutura interpretativa.

Serviços: Não há oferta de serviços ou infraestrutura turística. Transporte urbano precário e

estradas de acesso e mau estado de conservação.

Disponibilidades do uso do solo: Área privada, com restrições de acesso.

Foto ou observações complementares:

Figura2: Vista da Lagoa do Imaruí a partir do sítio. Foto: Ronaldo Augusto.

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Figura 34: Bacias de polimento. Foto: Ronaldo Augusto.

Figura 35: Vestígios de oficina lítica sobre rochas quebradas e removidas. Foto: Ronaldo

Augusto.

Data da visita e registro: 05/12/2015.

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5.3.8 Barra da Lagoa de Ibiraquera

Município:

Imbituba Sítio (conforme CNSA)

Barra da Lagoa de Ibiraquera Coordenadas:

S 28º 08’ 59,6’’

W 048º 38’ 50,2’’

Capacidade explicativa: Sítio perceptível, a céu aberto sem informações de apoio

(sinalização, placas explicativas etc). Inserido em uma paisagem atrativa junto à praia.

Monumentalidade: Um sambaqui parcialmente coberto por vegetação e que se eleva a uma

altitude aproximada de 15 metros em seu cume. Apresenta monumentalidade.

Conservação do entorno: Praia, dunas, foz de lagoa e mata. Entorno razoavelmente

preservado e que remete ao tempo pretérito. Sobre o sambaqui pescadores tradicionais

construíram um barraco de vigia. Há trilhas não planejadas cortando o sambaqui.

Acessibilidade: O sítio está situado junto à praia. O acesso se dá pela praia. As estradas que

chegam ao local são de terra. No sambaqui há trilhas íngremes cobertas de areia.

Atrativo da zona: O local está situado próximo à foz da Lagoa da Ibiraquera, entre as praias

da Barra da Ibiraquera e do Luz e em frente à Ilha do Batuta. Região de prática de esportes

aquáticos e já sediou campeonatos nacionais e internacionais destes esportes. No canto norte da

Praia do Luz há uma trilha que dá acesso ao canto sul da Praia do Rosa, onde há oficina lítica.

Do alto sambaqui tem-se vista da região, incluindo o Oceano Atlântico, ilha, praias, lagoa e

Dunas da Ribanceira.

Necessidades mínimas: Sim. Necessita de estrutura interpretativa, passarelas e estrutura para

proteção do sambaqui.

Serviços: O sítio está localizado na margem norte da Barra da Lagoa de Ibiraquera. Há

pousadas próximas e, na margem sul da Barra (acessível quando a barra está fechada), há

restaurantes e lojas de souvenires.

Disponibilidades do uso do solo: Embora registrada como privada no CNSA/SGPA, a área é

pública e sem restrições de acesso.

Foto ou observações complementares:

Figura 36: Vista do Sambaqui a partir da praia da Barra, no sentido Norte. Observe-se a

trilha cortando o sambaqui. Foto: Fernanda Denise Satler.

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Figura 37: Superfície do Sambaqui. Foto: Fernanda Denise Satler.

Figura 38: Vista da paisagem a partir do topo do Sambaqui. Foto: Fernanda Denise

Satler.

Data da visita e registro: 04/01/2016.

5.4 Os resultados da valoração “la puesta en valor”: potencialidades e fragilidades

dos sítos arqueológicos valorados.

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A partir da metodologia da valoração “la puesta en valor” reduzida realizada nos

sítios arqueológicos selecionados para esta etapa da cadeia valorativa, identificou-se

que, de modo geral, os sítios apresentam monumentalidade, estão situados em áreas

com atrativos paisagísticos importantes e, em alguns casos, bastante próximos a

equipamentos turísticos estruturados. Por outro lado, nenhum dos sítios avaliados possui

material interpretativo disponível no local e estruturas que garantam sua proteção e

orientem e facilitem o acesso dos visitantes, tais como passarelas, deques, cercas de

proteção, placas informativas entre outros.

Os sítios arqueológicos estão situados próximo a locais de intenso fluxo turístico,

especialmente na temporada de verão (exceto Ponta do Galeão e Porto do Nato). Os

sítios Oficina Lítica da Vigia I, Praia do Siriú, Capão de Garopaba, Rosa Sul, Barra da

Lagoa de Ibiraquera e Canto Norte da Praia da Vila estão situados junto à praia e são

ocupados por turistas durante o verão, que caminham e estendem toalhas de banho e

demais pertences sobre os vestígios arqueológicos. A proximidade com áreas urbanas, a

prática da vilegiatura a partir da década de 1970 (ALVIM, 2014) e o tratamento

autoritário dispensado pelo Estado Brasileiro ao patrimônio arqueológico pré-colonial

(BUENO, 2011; FUNARI e ALFONSO, 2013) impactaram os sítios arqueológicos

avaliados, que apresentam sinais de vandalização, mutilação ou ocupação do espaço por

estruturas físicas estranhas a eles.

Quanto à acessibilidade, Oficina Lítica da Vigia I, Praia do Siriú e Rosa Sul são

alcançados pela faixa de areia de suas respectivas praias. Os demais são acessados por

trilhas com diferentes níveis de dificuldade. O sítio arqueológico da Ponta do Galeão

apresenta o maior nível de dificuldade no acesso, já que este se dá por trilha íngreme,

estreita e acidentada junto a um costão. Nenhum dos sítios possui trilhas planejadas e

sinalizadas.

O sítio da Praia do Siriú apresenta baixa monumentalidade, resumida a uma bacia

lítica incrustada no granito. Não foi possível confirmar se o vestígio foi produzido por

ação antrópica ou intemperismo. Considerando sua baixa monumentalidade, localização

e carência de capacidade explicativa, conforme a valoração “la puesta en valor”

reduzida realizada no local, o sítio não apresenta potencial para o turismo arqueológico.

Oficina lítica da Vigia I e Ponta do Galeão integram um mesmo conjunto

paisagístico, ligado por trilha que se inicia na praia da Vigia e inclui outros sítios

cadastrados no CNSA/SGPA não avaliados neste trabalho (Oficina Lítica da Vigia II e

Morro da Vigia). O conjunto apresenta alta monumentalidade (oficinas líticas com

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bacias e afiadores, inscrições rupestres e composições rochosas com possível uso

simbólico), capacidade explicativa e necessidades mínimas e está inserido em uma

paisagem atrativa e servido por serviços turísticos na sua base (Oficina Lítica da Vigia

I). Estes elementos permitem considerar o conjunto ligado por estes dois sítios com

potencial para o turismo arqueológico. Entretanto, são elementos que dificultam seu

aproveitamento turístico sustentável a fragilidade das inscrições rupestres (sua

exposição ao intemperismo e grafitismo contemporâneo), as dificuldades de acesso na

trilha para a Ponta do Galeão e os riscos à integridade física dos turistas, a presença

massiva de turistas sobre as oficinas líticas, a ausência de equipamentos de interpretação

e de proteção dos vestígios.

O sítio arqueológico Capão de Garopaba (conhecido pela comunidade local como

Morro do Índio) embora esteja tipificado exclusivamente como sambaqui no

CNSA/SGPA, apresenta oficina lítica associada com bacias de polimento e afiadores

incrustados na rocha diabásio. Os vestígios da oficina lítica podem ser observados

concentrados sobre uma plataforma rochosa que adentra ao mar (quando a maré está

alta podem ser parcialmente cobertos pela água) e espalhados em fragmentos no entorno

do sambaqui, parcialmente encobertos pela areia. Trata-se de uma oficina lítica que

ocupa área razoável e apresenta diversidade de estruturas líticas. O sambaqui, ainda que

perceptível, está bastante danificado e mutilado. Possuir monumentalidade, capacidade

explicativa, situar-se em paisagem atrativa e com disponibilidade de serviços e ser de

fácil acesso são elementos que o habilitam enquanto potencial para o turismo

arqueológico. Entretanto, a vulnerabilidade dos seus vestígios (intemperismo e ação

antrópica), a ausência de equipamentos de interpretação e de proteção dos vestígios e a

existência de trilhas não planejadas e orientadas representam complicadores para seu

aproveitamento turístico sustentável.

A Praia do Rosa é um dos balneários da região com maior reconhecimento

turístico. Em seu canto Sul, junto ao costão denominado pela população local de

“Portinho” e ocupado por antigos barracões de pesca tradicional, situa-se uma série de

vestígios de oficina lítica (principalmente afiadores) incrustados sobre rochas de

pequeno porte espalhadas junto ao mar e sobre um bloco de diabásio denominado pelos

moradores da região como “Pedra da Dedada”48

. Paralelamente aos vestígios segue uma

trilha que dá acesso à Praia do Luz, em cujo extremo sul situa-se um sambaqui com

48

Conforme depoimento de Maria Aparecida Ferreira ao autor em 13/01/2016.

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altura aproximada de 15 metros. Por apresentar monumentalidade, capacidade

explicativa, situar-se em paisagem atrativa e com disponibilidade de serviços, gozar de

reconhecimento social e ser de fácil acesso, o sítio arqueológico localizado no canto Sul

da Praia do Rosa possui potencial para o turismo arqueológico. Entretanto, seus

vestígios estão vulneráveis e possuem histórico de vandalização e furto. O sítio, assim

como os demais, também não possui estrutura interpretativa e que oriente o acesso dos

visitantes com segurança. Estes elementos apresentam-se como complicadores para seu

aproveitamento turístico sustentável.

O sítio arqueológico da Barra da Lagoa de Ibiraquera está tipificado como

sambaqui e, segundo dados de satélite coletados no local por meio de GPS portátil

“Garmin - eTrex 20”, possui 15 metros de altura. Embora o critério adotado nesta

pesquisa tenha excluído a valoração dos sítios tipificados exclusivamente como

sambaqui, a inclusão deste, conforme justificado anteriormente, aconteceu porque

possui reconhecimento social (Quadro 10) e pode ser considerado, enquanto atrativo,

como uma extensão do sítio localizado no canto Sul da Praia do Rosa, ao qual se liga

por meio de trilha e extensão de praia. O sítio possui ainda características intrínsecas,

dada a monumentalidade do sambaqui que se destaca na paisagem e separa a Praia do

Luz da Praia da Barra de Ibiraquera. Por apresentar monumentalidade, capacidade

explicativa, situar-se em paisagem atrativa e com disponibilidade de serviços, gozar de

reconhecimento social e ser de fácil acesso, o sambaqui da Barra da Lagoa de Ibiraquera

possui potencial para o turismo arqueológico. Como elementos complicadores deste

aproveitamento estão a ausência de estrutura interpretativa, passarelas e estrutura para

proteção do sambaqui, atualmente cortado por caminhos produzidos pelos visitantes sem

qualquer tipo de planejamento.

Os sítios do Canto Norte da Praia da Vila e do Porto do Nato foram identificados

a partir de conversas com moradores de Imbituba e incluídos nesta etapa da cadeia

valorativa porque possuem vestígios de oficina lítica. No Canto Norte da Praia da Vila

há monumentalidade, porém pequena. Há poucos vestígios (na observação de campo foi

encontrado um pequeno conjunto de afiadores) e estes estão esparsos. A área não está

protegida, fica próximo à faixa de areia e é acessado por trilha. Durante a temporada de

verão, visitantes caminham e estendem toalhas de banho, cadeiras de praia e outros

materiais sobre os vestígios. Em favor do seu potencial enquanto atrativo turístico pesa

a existência dos vestígios e sua localização junto a uma praia central e com ampla

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estrutura turística. Porém, a pequena extensão dos vestígios dificilmente justificará a

construção de estrutura interpretativa e protetiva.

O sítio localizado no Porto do Nato (denominação dada ao local pelos moradores

locais, que chamam os vestígios de “pratos dos índios”) é o único incluído nesta etapa

da cadeia valorativa que não se encontra junto à orla marítima, situado que está no

Bairro Guaiúba, às margens da Lagoa de Imaruí. Pode ser tipificado como oficina lítica,

apresenta monumentalidade significativa (um conjunto de bacias líticas incrustadas em

diabásio, com apelo estético), possui capacidade explicativa e está integrado a uma

paisagem atrativa. Entretanto, seu potencial enquanto atrativo para o turismo

arqueológico tem como complicadores o fato de estar situado em área privada com

acesso restrito em local afastado de atrativos turísticos que possa complementar. Assim,

apesar de possuir características intrínsecas que o habilitam enquanto possível atrativo

para o turismo arqueológico, suas características relacionais atuais o desabilitam.

Com base na discussão da análise dos resultados da metodologia de valoração dos

sítios arqueológicos aplicada nesta pesquisa, cuja premissa é a valoração turística do

patrimônio, pode-se concluir que os sítios Oficina Lítica da Vigia I, Ponta do Galeão,

Capão de Garopaba, Praia do Rosa e Barra da Lagoa de Ibiraquera apresentam

potencialidade para o turismo arqueológico, excluindo-se os sítios Praia do Siriú, Canto

Norte da Praia da Vila e Porto do Nato.

A análise dos resultados da valoração “la puesta en valor” reduzida demonstra

ainda que os sítios avaliados como potenciais para o turismo arqueológico necessitam

de estrutura interpretativa e protetiva imediata, haja vista sua exposição à ação antrópica

(intensificada com a prática da vilegiatura) e ao intemperismo.

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6 – VERIFICANDO PRESSUPOSTOS E RESPONDENDO QUESTÕES

A sustentabilidade, antes de mais nada, também envolve um processo

de reconhecimento e responsabilidade: reconhecimento que os

recursos utilizados para elaborar os produtos turísticos são caros e

vulneráveis; já a responsabilidade no uso inteligente desses recursos

recai sobre todos os interessados, desde os governos e planejadores, ao

setor que presta os serviços, até os turistas e moradores locais, os

quais coexistem temporariamente dentro do destino. Uma estratégia

sustentável deve engajar todos os interessados no planejamento do

turismo. (COOPER et. al., 2007, p. 290).

Quando desenvolvemos o projeto que resultou neste trabalho, já observávamos

que Garopaba e Imbituba investiam expectativas no turismo de massa sazonal,

concentrado na temporada de verão. Este investimento é mais intenso em Garopaba,

como constatamos a partir das leituras de Alvim (2014), Sherer et. al. (2006) e Sperb,

Serva e Firmino (2013), sendo hoje acompanhado por Imbituba, conforme apontado por

Sperb, Serva e Firmino (2013) e nas entrevistas que realizamos com os gestores

públicos municipais de turismo. Entretanto, apesar do discurso comum que reconhece o

turismo como importante alternativa de desenvolvimento econômico, estes dois

municípios priorizaram-no de diferentes formas. Imbituba, ainda que pese sua origem

como vila com gênese na imigração açoriana, resulta atualmente de um projeto de

modernidade implementado especialmente a partir da década de 1920, tendo o porto

marítimo como principal motor de desenvolvimento (GOULARTI FILHO, 2010 e

2013). O modelo de desenvolvimento exógeno (MIELKE e GANDARA, 2009)

implementado em Imbituba tornou a cidade dependente de investimentos externos nem

sempre contínuos e de decisões federais que a impactaram positiva e negativamente,

como no caso da Indústria Carboquímica Catarinense com sua herança de passivos

ambientais, sociais e econômicos (SOUZA, 2007). Em ambos os municípios, porém, os

modelos de desenvolvimento adotados não promoveram um desenvolvimento

sustentável, na medida em que seus resultados não apresentam as dimensões do

ecodesenvolvimento (SACHS, 2006a) e não atenderam ao pressuposto do ecológico

enquanto restrição e do econômico como dimensão instrumental (SACHS, 2006b). Os

dados do IBGE aqui discutidos demonstram que os índices de desenvolvimento

humano e a renda média da população nos municípios estão abaixo das médias

estaduais, e que o turismo de vilegiatura em Garopaba resultou em um processo de

desterritorialização identitária da população, que se define como nativa, e de

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destruição do patrimônio do cultural. A sustentabilidade cultural, cabe realçar,

constitui uma das dimensões do ecodesenvolvimento de Sachs, tendo na valorização da

memória histórica um importante mecanismo de fortalecimento identitário (BRENNER,

2005).

Já Imaruí era uma incógnita para nós. A pouca literatura encontrada apresentava o

município como detentor de grande potencial para o turismo rural e ecológico (VIEIRA,

2008). Porém, diferentemente do constatado em Garopaba e Imbituba, Imaruí manteve

sua base econômica nas atividades primárias, e a entrevista que realizamos com o gestor

público municipal de indústria, comércio e turismo confirmou a dependência do

município em relação à pesca e à agricultura e o baixo desenvolvimento do turismo no

município. O que nos levou, entretanto, a incluí-lo em nossa pesquisa foram os relatos

que ouvíamos sobre a existência de uma quantidade considerável de sítios

arqueológicos em seu território. Relatos que conduziram a uma consulta prévia ao

CNSA/SGPA do IPHAN, onde confirmamos a existência de sítios arqueológicos

registrados. Desta percepção entendemos que seria oportuno considerar o patrimônio

arqueológico como um elemento de diálogo com Garopaba e Imbituba, municípios

vizinhos que também compartilham desta característica, e as possibilidades que este

patrimônio poderia representar para o desenvolvimento do turismo na região.

Para além do conceito de Beni (2008), focado no atrativo, diversos autores

(MANZATO, 2005; MANZATO, REJOWSKI, 2007; PARDI, 2007; VELOSO,

CAVALCANTI, 2007; BASTOS, 2005, 2007 2008; ALFONSO, 2009; GUIMARÃES,

2012; FUNARI, MANZATO, ALFONSO, 2013; NÓBREGA, 2015) compreendem o

turismo arqueológico a partir de uma complexidade que envolve não apenas o atrativo

(sítios, escavações e paisagens com vestígios arqueológicos), mas principalmente um

trabalho prévio de interpretação cultural, educação patrimonial e planejamento turístico

envolvendo a comunidade local, o poder público e outros atores do território,

contribuindo assim para a ressignificação dos vestígios arqueológicos por meio de sua

incorporação à memória histórica, para o fortalecimento da identidade local, para a

geração de trabalho e renda e para a proteção dos próprios vestígios. Estes autores

sustentam que só é possível falar em turismo arqueológico quando estes diferentes

aspectos estão associados. Na medida em que o turismo arqueológico é compreendido

como um segmento do turismo cultural sustentável (BRENNER, 2005; BARRETO,

2007 e COSTA, 2009), passa a possuir potencialidade para empoderar a população local

por meio do protagonismo social e contribuir para a promoção do desenvolvimento

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endógeno (MIELKE e GANDARA, 2009), conforme os princípios da

ecossocioeconomia (SAMPAIO, 2005 e 2010; SACHS, 2006; MAX-NEEF, 2012).

Considerando esta leitura, provocou-nos a possibilidade da inserção da discussão

do turismo arqueológico na região, considerando-o enquanto fomentador de práticas de

educação patrimonial, resultado de planos de gestão e acompanhado, tanto em seu

planejamento quanto na sua gestão e na interface com o turista, por profissionais

especializados, podendo contribuir especialmente para práticas de conhecimento dos

sítios ainda existentes, para atividades de educação que permitam às comunidades locais

o empoderamento sobre estes espaços e uma relação de reconhecimento destes vestígios

enquanto constituidores da identidade local e como fonte alternativa e/ou complementar

de trabalho e renda.

O tema, portanto que nos moveu desde o princípio, foi a possibilidade de

considerarmos o turismo arqueológico como estratégico para a promoção do

desenvolvimento sustentável da região compreendida pelos municípios de

Garopaba, Imaruí e Imbituba. Para tanto deveríamos identificar o estado em que se

encontram os sítios arqueológicos existentes na região e quais as necessidades destes

sítios em si para sua transformação em atrativo turístico, considerando os componentes

básicos para o desenvolvimento de um produto turístico (NÓBREGA e ARAÚJO,

2015).

Como partimos do entendimento de que o turismo arqueológico necessita do

envolvimento dos diferentes atores do território (considerando que a operação de

regionalização está próxima a de territorialização, conforme defendido por Brandão,

2004, e Abramovay, 2010) e que estes devem participar como sujeitos de todo processo

de patrimonialização de bens culturais (BUENO, 2011 e FUNARI, MANZATO e

ALFONSO, 2013) e de discussão do turismo enquanto alternativa econômica, coube-

nos investigar a existência de manifestações da sociedade civil em relação ao

patrimônio pré-colonial nos três municípios, saber o que pensam os representantes do

poder público a respeito do turismo e de como planejam seu desenvolvimento

(incluindo verificar se reconhecem a existência de vestígios arqueológicos na região),

conhecer e analisar o nível de interesse dos turistas que já visitaram a região no turismo

arqueológico e se já travaram contato com os vestígios pré-coloniais e identificar se

operadores locais de turismo (neste caso, os profissionais de turismo que atuam como

condutores ambientais) conhecem, exploram em sua atividade profissional e indicam

sítios arqueológicos na região. É o conjunto destes dados quantitativos e qualitativos

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que nos leva a valoração “la puesta en valor” apresentada, à verificação dos nossos

pressupostos e à resposta das questões que nortearam nossa investigação.

A primeira questão (Q1) que nos propusemos dizia respeito ao estado do

patrimônio arqueológico da região, se apresenta monumentalidade e se está acessível

ao público. A análise do CNSA/SGPA realizado pelo IPHAN mostrou que os sítios

registrados na região, de modo geral, estão em precário estado de conservação,

muitos deles já encobertos e/ou destruídos. Este processo de destruição está associado

ao processo civilizatório europeu, conforme demonstrado por Velho (2006), Chuva

(2012), Bueno (2011) e Funari, Manzato e Alfonso (2013), e pelo discurso autoritário-

desenvolvimentista (BUENO, 2011; FUNARI, MANZATO e ALFONSO, 2013) que

exerceu pressão também sobre o patrimônio arqueológico da região, especialmente no

caso dos sambaquis, conforme mostrou Bastos (2007) em relação a Imbituba.

Depoimentos registrados nas entrevistas com representantes da comunidade e do poder

público indicam que a atuação do IPHAN na região é frágil e que a população local

atualmente conhece pouco ou desconhece os vestígios arqueológicos remanescentes na

região. A localização da maioria dos sítios, situados junto às praias, torna-os acessíveis

ao público. Também não encontramos estruturas de proteção e interpretação dos sítios

arqueológicos e a observação in loco dos sítios selecionados para estudo permitiu que

constatássemos o impacto da ação antrópica sobre os mesmos. Cabe ressaltar que a

análise que desenvolvemos nas publicações de divulgação turística dos municípios de

Garopaba e Imbituba mostra que já há uma divulgação, ainda que tímida, de alguns

sítios como atrativos turísticos. Transformar sítios arqueológicos em atrativos

turísticos sem planejamento prévio concorre para a destruição deste patrimônio,

conforme demonstrado por Nascimento (2010).

As entrevistas com os representantes da comunidade local e os questionários

aplicados aos grupos de condutores ambientais indicam a existência de um número de

sítios arqueológicos significativamente superior àquele registrado no CNSA/SGPA

na região. Se confirmadas as informações, o potencial para o turismo arqueológico se

amplia. Entretanto, necessita-se aqui de uma articulação dos atores locais com as

instituições acadêmicas e o Governo Federal (IPHAN, ICMBio entre outros) para que

estas informações sejam verificadas e os possíveis vestígios estudados.

Considerando a metodologia de valoração patrimonial que adotamos, não foi

possível identificar sítios arqueológicos pré-coloniais com potencial de atrativo

turístico no município de Imaruí. A tipologia e o estado dos sítios arqueológicos de

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Imbituba reduz o potencial dos mesmos enquanto atrativo turístico, salvo os sítios

identificados na região que se estende da Praia da Barra de Ibiraquera à Praia do Rosa,

que apresentam monumentalidade). Já Garopaba reúne uma diversidade de sítios

arqueológicos que apresentam monumentalidade e estão situados em paisagens que

remetem a tempos pretéritos. Dentre os três municípios estudados, Garopaba

apresenta o conjunto de sítios arqueológicos com maiores condições para servirem

de atrativo turístico (considerando sua monumentalidade, acessibilidade e

infraestrutura turística disponível), enquanto que Imbituba, conforme dito, apresenta

sítios com condições de servirem como atrativo turístico na Praia do Rosa e na

Barra da Lagoa de Ibiraquera.

A segunda questão (Q2) está relacionada às manifestações de interesse e

articulação em torno do patrimônio arqueológico pré-colonial. Lee (2013) verificou

que o “apego” é importante para o desenvolvimento do turismo de base comunitária.

Por apego o autor compreende “a participação do indivíduo e sua integração à vida

comunitária, refletindo um vínculo afetivo ou uma ligação emocional entre o indivíduo

e uma comunidade específica” (LEE, 2013, p. 8). A segunda questão da nossa pesquisa

se impôs a partir desta constatação de Lee e da relação de proximidade que

estabelecemos entre o turismo arqueológico e o turismo de base local (turismo de base

local conforme entendido por Sampaio, 2005 e 2010). A resposta à segunda questão se

fundamenta, portanto, nas entrevistas que realizamos com lideranças comunitárias que

possuem envolvimento com o turismo e o patrimônio arqueológico, totalizando três

entrevistados residentes em Imbituba (2) e Garopaba (1). No processo da pesquisa, não

encontramos depoentes com estas características residentes em Imaruí.

De modo geral os entrevistados indicaram: a) desconhecimento da maior

parte da população local quanto ao significado e à história dos vestígios

arqueológicos; b) processos de vandalização dos sítios arqueológicos; c)

reconhecimento pessoal da importância dos vestígios arqueológicos para o

fortalecimento da identidade local e como possível atrativo turístico; d)

preocupação quanto à exploração turística dos vestígios em relação a sua

preservação.

Os entrevistados Castilho Neto e Bintencourt informaram da existência no

município de Garopaba de um pequeno grupo de pessoas interessadas em estudar e

proteger os vestígios arqueológicos remanescentes. Relataram também que há uma

década, aproximadamente, houve uma tentativa de divulgar e explorar turisticamente

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estes atrativos no município. Já a entrevistada Ferreira revelou o forte apego identitário

de uma parte da comunidade residente na localidade de Ibiraquera e na Praia do Rosa

(Imbituba) em relação à oficina lítica do Canto Norte da Praia do Rosa. Este apego se

revelou ainda mais forte quando houve a discussão da criação de uma Reserva

Extrativista na região, momento em que pessoas contrárias ao projeto vandalizaram os

vestígios líticos que representavam a causa da reserva. O depoimento de Ferreira nos

permite afirmar que a oficina lítica do Canto Norte da Praia do Rosa representa um

marco identitário para parte da população tradicional da região, disputado política e

simbolicamente pelos atores locais.

A pesquisa exploratória que realizamos identificou uma segunda disputa política e

simbólica pelo patrimônio arqueológico, desta vez na localidade das Dunas da

Ribanceira (Imbituba), agora enquanto vestígio justificador da preservação do

ecossistema de dunas, ameaçado por atividades de mineração.

Ainda que pesem os exemplos da Resex e das Dunas da Ribanceira em Imbituba,

e do grupo de pessoas dispostas a estudar e proteger os sítios arqueológicos em

Garopaba, de modo geral as entrevistas e a pesquisa identificaram baixo apego da

população local em relação aos sítios arqueológicos pré-coloniais, o que indica a

necessidade de um trabalho prévio e amplo de educação patrimonial antes que os

vestígios e sítios sejam explorados como atrativos para o turismo. Reforçamos ainda

que um morador que tem maior apego comunitário, está mais propenso a apoiar no

desenvolvimento do turismo sustentável (LEE, 2013).

A terceira questão (Q3) diz respeito à manifestação de interesse ou articulação

do poder público em relação ao aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-

colonial. Para respondê-la entrevistamos os gestores municipais de turismo. Quando

questionados diretamente sobre o interesse no turismo arqueológico, todos se

manifestaram positivamente, porém o conjunto das entrevistas demonstrou que nos

municípios estudados não se discute e tampouco se contempla o turismo arqueológico

no planejamento da atividade. O gestor do turismo de Garopaba manifestou interesse

em incorporar os vestígios arqueológicos da Ponta do Galeão no rol de atrativos

turísticos da cidade e manifesta preocupação na preservação dos mesmos. Entretanto,

acusa dificuldades de diálogo com o IPHAN e demais órgãos da União para efetivar um

projeto neste sentido. Ressaltamos que o projeto que Garopaba pretende implantar na

Ponta do Galeão, segundo é possível depreender do depoimento, não possui respaldo

técnico-científico. Infelizmente não obtivemos acesso ao mesmo. Já em Imbituba o

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projeto de aproveitamento do sambaqui da Barra da Lagoa de Ibiraquera não pode ser

considerado do âmbito do turismo arqueológico. O mesmo não prevê estrutura de

interpretação cultural, tampouco visitação monitorada. Em Imaruí a própria atividade

turística é bastante incipiente, e não há qualquer debate ou até mesmo reconhecimento

do turismo arqueológico.

As entrevistas com os gestores municipais de turismo indicaram uma

preocupação com a sazonalidade promovida pelo turismo de verão na região e uma

preocupação em se investir no ecoturismo e em outras modalidades turísticas

consideradas mais sustentáveis. Cumpre lembrar que os vestígios arqueológicos

integram a paisagem, esta atrativo do ecoturismo. A inserção de uma nova escala de

representação social (MARQUES e DIAS, 2003), representada pelo projeto de

fortalecimento do ecoturismo de observação de baleias apresentado pelo SEBRAE,

referenciado pelos gestores de Garopaba e Imbituba como estratégico e prioritário,

colocou o ecoturismo na agenda política da região e pode promover uma “abertura de

janela” (CAPELLA, 2006) para o turismo arqueológico em Garopaba e Imbituba

(Imaruí está excluído desta da escala de representação social proposta no projeto).

A quarta questão (Q4) está relacionada à percepção dos turistas a respeito do

turismo arqueológico e o nível de conhecimento destes atores sobre o patrimônio

arqueológico nos três municípios. Conforme lembra Cooper et. al. (2007), os turistas

são atores que coexistem temporariamente com os moradores locais dentro de um

destino. A pesquisa mostrou que os turistas que visitaram alguma das três cidades

estudadas manifestaram: a) interesse por arqueologia brasileira; b) baixo conhecimento

sobre arqueologia brasileira; c) um percentual significativo (45%) já visitou algum sítio

arqueológico; d) que um percentual reduzido (25%) visitou especificamente sítios em

algum dos três municípios, embora a maioria tenha conhecimento da existência deles; e)

alto interesse em roteiros que possuam sítios e vestígios arqueológicos entre seus

atrativos, tanto em nível geral, quando no âmbito dos municípios estudados.

O levantamento aplicado com os turistas indicia que há um público

fortemente interessado no turismo arqueológico e disposto a participar de roteiros

turísticos que contemplem vestígios e/ou sítios arqueológicos entre seus atrativos.

A questão cinco (Q5) indaga se é possível indicar o turismo arqueológico como

estratégia para a promoção do desenvolvimento sustentável na região

compreendida pelos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba. Considerando os

aspectos teóricos que definem o turismo arqueológico, a inclusão do ecoturismo na

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agenda política da região e a existência de sítios e vestígios arqueológicos com

monumentalidade em Garopaba e Imbituba, a resposta é sim para estes dois municípios.

Imaruí, conforme já discutido, não apresenta potencial para o turismo arqueológico

considerando a metodologia de valoração do patrimônio arqueológica que adotamos.

No Quadro 14 apresentamos os elementos que favorecem e os que dificultam o

desenvolvimento do turismo arqueológico nos municípios de Garopaba e Imbituba. O

quadro apresenta a síntese dos dados qualitativos e quantitativos pesquisados neste

trabalho.

Facilitadores do turismo arqueológico Dificultores do turismo arqueológico

Existência de sítios arqueológicos com

monumentalidade e acessibilidade.

Estado de conservação dos sítios

arqueológicos e atos de vandalismo.

Inclusão do ecoturismo na agenda

política da região. Prioridade ao turismo de massa.

Indícios de interesse dos turistas pelo

turismo arqueológico.

Baixo conhecimento dos turistas a

respeito dos vestígios arqueológicos da

região.

Existência de infraestrutura turística

geral.

Ausência de infraestrutura turística, de

interpretação e de proteção nos sítios

arqueológicos.

Existência de profissionais em condução

ambiental habilitados para a

interpretação cultural dos vestígios

arqueológicos.

Baixo apego da população local aos sítios

arqueológicos.

Possibilidade de integrar os sítios e

vestígios arqueológicos a roteiros com

diversificação de atrativos culturais e

ambientais.

Falta de planejamento turístico e de

roteirização que contemple atrativos

culturais, étnicos e de ecoturismo.

Necessidade de ativar o turismo na baixa

temporada.

Dificuldades de diálogo entre o poder

público municipal e o poder público

federal.

A capacidade do turismo arqueológico

atuar na promoção do desenvolvimento

sustentável.

Estudos e registros da maior parte dos

sítios arqueológicos da região estão

desatualizados.

Modelos de desenvolvimento não

sustentáveis na região.

Baixo reconhecimento por parte da

população da história e da paisagem pré-

colonial.

Quadro 14: Facilitadores e dificultores do desenvolvimento do turismo

arqueológico nos municípios de Garopaba e Imbituba

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A resposta às questões da pesquisa permite que verifiquemos também nossos

pressupostos.

O primeiro pressuposto (P1) afirma que o turismo arqueológico contribui para

a promoção do desenvolvimento sustentável. Considerando o constructo teórico

apresentado neste trabalho, é possível afirmar que o turismo arqueológico,

segmentação do turismo cultural e em diálogo com outras segmentações turísticas,

como o ecoturismo e o turismo de base local, possui potencial para contribuir com

o desenvolvimento sustentável de uma região na medida em que valora patrimônio

cultural, promove educação patrimonial, contribui para a cidadania cultural, empodera a

comunidade local, fortalece vínculos identitários e colabora para a promoção de

trabalho e renda.

Conforme apontamos, atualmente há nos municípios de Garopaba e Imbituba um

turismo de massa sazonal, concentrado na temporada de verão. Dada a proximidade de

alguns sítios arqueológicos das praias, estes turistas acabam interagindo com os sítios,

muitas vezes sem conhecer ou reconhecer os vestígios e, ainda, causando danos aos

mesmos. Neste contexto, a inserção do turismo arqueológico, considerando-o

enquanto fomentador de práticas de educação patrimonial, resultado de planos de

gestão e acompanhado, tanto em seu planejamento quanto na sua gestão e na

interface com o turista, por profissionais especializados, pode contribuir

especialmente para práticas de conhecimento dos sítios ainda existentes, para

atividades de educação que permitam às comunidades locais o empoderamento

sobre estes espaços e uma relação de reconhecimento destes vestígios enquanto

constituidores da identidade local, e como fonte alternativa e/ou complementar de

trabalho e renda. Ou seja, anuncia-se aqui a perspectiva do desenvolvimento

sustentável (SACHS, 2006b).

O segundo pressuposto (P2) afirma que o patrimônio pré-colonial existente nos

municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba pode servir de suporte para o

desenvolvimento do turismo arqueológico na região. Considerando a valoração do

patrimônio arqueológico que desenvolvemos, o pressuposto se verifica parcialmente.

Conforme discutimos, os vestígios arqueológicos pré-coloniais em Imaruí não

apresentam as características que os tornariam possíveis de servir como suporte

para o desenvolvimento do turismo arqueológico na região. No município de

Imbituba os vestígios que podem servir de suporte ao desenvolvimento desta

segmentação são poucos e estão localizados principalmente nas localidades da

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Praia do Rosa e Barra da Lagoa da Ibiraquera. Em Garopaba há sítios e vestígios

que se articulam a outros atrativos turísticos já constituídos, cujas características

permitem afirmar que estes podem servir como suporte para o desenvolvimento do

turismo arqueológico na região.

O último pressuposto (P3) afirma que o patrimônio arqueológico pode atuar

como elemento articulador de uma região. Este pressuposto não se confirmou para a

região. O patrimônio arqueológico nos três municípios, ainda que amplo e variado,

não é capaz de articular a região. Cumpre lembrar o conceito de Nóbrega e Araújo

(2015), que considera a existência da dimensão concreta e da dimensão abstrata na

construção da região. Na dimensão concreta o patrimônio arqueológico dos municípios

é frágil enquanto atrativo turístico, especialmente em Imaruí. Na dimensão abstrata, não

há laços que liguem os diferentes atores locais em torno do patrimônio arqueológico e

seu aproveitamento turístico, tampouco existe uma articulação que envolva os três

municípios em torno do turismo. Embora pertençam a região turística Encantos do Sul,

a formação histórica de cada um dos municípios, as prioridades econômicas que

estabeleceram, as diversas escalas regionais e a dinâmica territorial fizeram com que

estes municípios desenvolvessem caminhos próprios. Apenas recentemente Garopaba e

Imbituba se articularam juntamente com Laguna em um comitê gestor para planejar o

desenvolvimento articulado do ecoturismo de observação de baleias, criando uma nova

escala de representação social que exclui Imaruí. Deste modo, cabe considerar a

possibilidade de articulação de Garopaba e Imbituba através de roteiros turísticos

que possuam dentre seus atrativos sítios e vestígios arqueológicos.

Como síntese final, é possível afirmar que nossa pesquisa comprova a existência

de um vasto e variado patrimônio arqueológico pré-colonial em Garopaba e Imbituba, e

que em alguns casos este patrimônio possui potencial enquanto atrativo turístico,

especialmente se articulado a outros atrativos com características culturais e ecológicas.

Portanto, o desenvolvimento do turismo arqueológico nestes municípios é possível,

desde que articulado a roteiros que envolvam atrativos de outras segmentações,

principalmente do ecoturismo (já fomentado na região) e do turismo cultural e

obedecendo aos princípios da ecossocioeconomia.

Se pelo aspecto do atrativo, o turismo arqueológico apresenta possibilidades de

efetivação em Garopaba e Imbituba, sob o aspecto da sustentabilidade a imediata

transformação dos vestígios arqueológicos em atrativos turísticos (conforme já vem

acontecendo em alguns casos) não é indicada. Constatamos que há baixo apego da

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população local aos vestígios arqueológicos existentes e que os mesmos carecem de

estrutura protetiva e interpretativa, de modo que sua transformação em atrativos

turísticos precisa ser antecedida (e depois acompanhada) por um amplo trabalho de

educação patrimonial que permita à população local reconhecer estes vestígios enquanto

constituidores de identidade e estabelecer com estes relações de apego.

Por fim, considerando a proximidade dos vestígios arqueológicos com praias e

trilhas densamente ocupadas por turistas e moradores locais, a já existente exploração

de alguns destes vestígios pelo trade turístico local e a necessidade de fortalecer e

qualificar a economia do turismo na região, a articulação dos diferentes atores no

território em torno de uma política que organize e fomente o turismo arqueológico

sustentável em conjunto com o ecoturismo, o turismo cultural e o turismo de base local

contribuirá para a preservação do patrimônio arqueológico existente, bem como para o

desenvolvimento endógeno destes municípios.

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7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando cheguei em Garopaba para desenvolver a atuação profissional como

docente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-

SC), no ano de 2013, logo comecei a tomar conhecimento de informações que

reportavam à existência de vestígios arqueológicos espalhados pela região. “Qualquer

um que abre uma roça, acha as flechas dos índios. Até esqueleto encontra!” – afirmou-

me um cidadão durante uma reunião onde discutíamos o patrimônio cultural da cidade.

A dificuldade de discernir o exagero do real, despertou-me a curiosidade para estudar

este patrimônio arqueológico.

Por outro lado, a necessidade de compreender a organização econômica da região,

especialmente naquilo que diz respeito ao turismo, devido às disciplinas que leciono, e a

extensão da área atendida pelo câmpus do IF-SC em Garopaba, foram a gênese da

proposta que resultou nesta pesquisa. Seria possível pensar os municípios de Garopaba,

Imaruí e Imbituba articulados enquanto região a partir do seu patrimônio arqueológico e

com vistas ao desenvolvimento do turismo arqueológico? A novidade do território, para

mim, e uma consulta ao Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos registrados pelo

IPHAN, pareciam dizer que sim. A pesquisa mostrou que não.

Assim, esta pesquisa reflete uma práxis, nascida de um olhar ainda imaturo sobre

um território que precisava ser apreendido e construída no processo de diálogo com

meus alunos, colegas de trabalho, com a comunidade local e resultando em novos

olhares, novas práticas pedagógicas e do cidadão e novas apreensões conceituais do

território.

A extensão deste trabalho reflete de certo modo as dificuldades que fui

encontrando pelo percurso. Primeiramente, a ainda pequena bibliografia que discute o

turismo arqueológico no Brasil. Afinal, apenas muito recentemente os brasileiros

começamos a olhar para a cultura pré-colonial como parte, também, da nossa identidade

nacional. Na sequência, a dificuldade de encontrar uma metodologia que me permitisse

discutir o turismo arqueológico em uma região em que esta discussão ainda não está

dada. A maior parte dos trabalhos que discutem o arqueoturismo no Brasil analisam

atrativos já incorporados no trade turístico. Não foi o caso desta pesquisa, de modo que

recorri à metodologia utilizada por Dabezies em seus trabalhos nos cerritos do Uruguai

e apliquei sobre ela os princípios da redução sociológica de Guerreiro Ramos, através de

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193

uma espécie de redução da redução. Penso que esta seja uma das principais

contribuições teóricas deste trabalho, aplicar uma metodologia para identificar o

potencial de sítios arqueológicos enquanto atrativos para o turismo. Tenho consciência

das lacunas que a metodologia aplicada deixou, entretanto, tratou-se de um exercício

que obteve resultados disponíveis para discussão e análises diversas, não apenas no

sentido de verificar a possibilidade do turismo arqueológico na região estudada, mas no

próprio aspecto metodológico, seja para contestá-lo ou aprimorá-lo.

Na valoração do patrimônio arqueológico pude visitar diversos sítios

arqueológicos da região, alguns dos quais sequer registrados pelo IPHAN. Ainda que o

número de sítios visitados seja bastante inferior ao número de sítios referenciados pela

população local e por algumas das pessoas que entrevistei para esta pesquisa, o registro

do estado atual em que se encontram bem como o registro da sua localização geográfica

representa uma importante contribuição desta pesquisa para um melhor conhecimento

do patrimônio arqueológico pré-colonial na região e seu mapeamento, e embasa

discussões que pretendam avançar na proposição de novas segmentações turísticas para

a região, especialmente a do turismo arqueológico. Um mapeamento mais completo dos

sítios arqueológicos, entretanto, faz-se urgente, bem como o desenvolvimento de

pesquisas arqueológicas que compreendam melhor a ocupação pré-colonial

especificamente na região estudada, permitindo uma melhor interpretação cultural dos

vestígios arqueológicos remanescentes e sua vinculação com a história do território em

que se inserem.

As particularidades de um território que eu tateava também representaram uma

dificuldade adicional para o desenvolvimento deste trabalho. O tempo particular da

comunidade, que resultou em diversos adiamentos das entrevistas. A inexistência de

arquivos públicos e coleções que me permitissem acessar publicações de divulgação

turística da região, a falta de periodicidade dos estudos da demanda turística e a

consecutiva ausência de séries históricas, a desatualização e ausência de informações

disponibilizadas pelo IPHAN acerca dos sítios arqueológicos da região, a destruição e a

falta de acolhimento dos questionários distribuídos nos meios de hospedagem e o parco

material que discute a história e a conjuntura de Imaruí levaram à necessidade de

constantemente repensarmos nossos procedimentos metodológicos.

Na pesquisa pude perceber a fragilidade da organização do trade turístico nos

municípios estudados, bem como sua falta de planejamento e profissionalização. Tal

realidade impacta diretamente na sustentabilidade do território e na percepção da

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população residente a respeito dos benefícios que o turismo pode representar. Percebi

que ao invés de políticas públicas que organizem o turismo e fomentem a distribuição

de renda de forma horizontal, o desenvolvimento do turismo na região depende

fortemente de ações individuais capitaneadas pela iniciativa privada. Esta percepção se

fortaleceu quando entrevistei os gestores públicos municipais do turismo, onde projetos

eram defendidos a partir da vontade pessoal destes, e não porque resultavam de um

projeto político discutido no âmbito do governo e com vistas a planejar a atividade de

forma sistêmica e no longo prazo.

Durante a pesquisa procurei ouvir os diferentes atores do território, ainda que

alguns destes de forma bastante limitada, como no caso dos turistas. Hoje percebo que a

extensão veio em detrimento da verticalidade. Alguns atores importantes não foram

contemplados, como os pescadores profissionais e os gestores federais com inclusão no

território, por exemplo. Entendo que um trabalho que proponha ouvir os pescadores

tradicionais e um maior número de lideranças comunitárias a respeito do que pensam

sobre o turismo e como veem o desenvolvimento da atividade em seu território, dará

contribuições importantes para o planejamento sustentável desta atividade na região e

para um maior entendimento do significado do patrimônio arqueológico para os

moradores locais. Neste sentido, a referência à reserva extrativista na Lagoa de

Ibiraquera e no canto norte da Praia do Rosa, feita nas entrevistas com as lideranças

locais, é indiciária de uma reflexão que necessita ser aprofundada porque permitirá uma

compreensão dos mecanismos pelos quais o patrimônio arqueológico pré-colonial é

disputado simbolicamente no contexto de um território.

As dificuldades que encontrei no desenvolvimento desta pesquisa, conforme

registrei, foram muitas. Em diversos momentos tive que abdicar das novas

possibilidades de pesquisa e análise que os resultados iam me apresentando, a fim de

respeitar o recorte metodológico que me propus. A pressão cronológica e a dinâmica do

território em diversos momentos obrigaram-me a escolhas que, se por um lado

permitiram a formulação de conclusões, por outro desdobravam novas perguntas e

hipóteses que não pude perseguir. Ainda assim, entendo que os objetivos propostos

neste trabalho foram alcançados.

Cumpre considerar que esta pesquisa abre as possibilidades para seus

desdobramentos e permite aos municípios implicados discutir a importância do seu

patrimônio arqueológico e as possibilidades representadas pelo turismo arqueológico,

justamente no momento em que se debate o plano de manejo para a área de proteção

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ambiental da baleia franca e em que se propõe um projeto de fortalecimento do

ecoturismo para a região.

Se, por um lado, não é possível afirmar que Garopaba, Imaruí e Imbituba podem

se articular enquanto região a partir do seu patrimônio arqueológico pré-colonial

(embora assim se articulassem no tempo desta ocupação) com vistas ao

desenvolvimento do turismo arqueológico; por outro, a pesquisa comprovou a

existência de variados sítios arqueológicos que podem ser incorporados enquanto

atrativos em propostas de turismo sustentável para a região, principalmente nos

municípios de Garopaba e Imbituba.

Por fim, cabe destacar algumas contribuições que esta pesquisa deu para o

desenvolvimento de ações no âmbito da educação patrimonial.

Conforme afirmei no início destas considerações, esta pesquisa reflete uma práxis.

Ao me apropriar teoricamente das discussões acerca do desenvolvimento sustentável e

do turismo, e me apropriar empiricamente dos vestígios arqueológicos existentes na

região e dos discursos que o representam, fui desenvolvendo projetos de educação

patrimonial, escrevendo reflexões e me envolvendo em atividades cujo objeto é o

patrimônio arqueológico e o objetivo principal o fomento da cidadania cultural.

Palestras, textos, aulas, cursos e diligências de reconhecimento e registro de novos sítios

arqueológicos se configuram como desdobramentos desta pesquisa, em que pude

envolver o IF-SC e outros atores locais. Parece-me, inclusive, ser este o principal papel

das instituições de ensino e pesquisa com atuação no território junto à promoção do

turismo arqueológico. Não há turismo arqueológico sustentável sem um trabalho prévio

de educação patrimonial com as comunidades locais e sem um trabalho de interpretação

cultural dos vestígios antes destes servirem enquanto atrativos turísticos. Cabe, portanto,

às instituições de ensino e pesquisa fomentar estes trabalhos, contribuindo para o

fomento da cidadania cultural e subsidiando os atores do território na organização de

um turismo sustentável que contemple a existência do patrimônio arqueológico.

Assim, este trabalho, ao ser apresentado, não se restringe ao corpo compreendido

entre suas capas, mas se amplia nas ações já desenvolvidas e em seus desdobramentos,

tanto no âmbito pedagógico, quanto no âmbito das discussões a respeito do território e

do turismo sustentável como seu animador.

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através do desenvolvimento da pesca e do turismo: um estudo antropológico. Tese

de Doutorado em Antropologia Iberoamericana. Salamanca (Espanha): Universidade

de Salamanca, 2008.

8.2 Documentos e relatórios técnicos

- ICOMOS. Carta de Turismo Cultural. Bruxelas, Bélgica: Internacional Council on

Monuments and Sites, 1976. Disponível em

<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=248>. Acesso em

07/06/2014.

- IPHAN. Escritório Técnico de Laguna. Relatório de vistoria técnica, nº 03/2014,

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- ONU. Objetivos globais para o desenvolvimento sustentável. Nova York (EUA), 25

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<http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/conheca-os-novos-objetivos-de-

desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em 28/09/2015.

- SANTA CATARINA, Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte. Estudo de

Demanda Turística: Garopaba, sinopse 2010. Florianópolis: SANTUR, 2012.

- SANTA CATARINA, Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte. Estudo de

Demanda Turística: Garopaba, sinopse 2014. Florianópolis: SANTUR, 2014.

- SANTA CATARINA, Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte. Estudo de

Demanda Turística: Imbituba, sinopse 2010. Florianópolis: SANTUR, 2012.

- SEBRAE. Santa Catarina em números: Imaruí. Florianópolis: SEBRAE/SC, 2013.

8.3 Guias e prospectos turísticos

- GAROPABA: um passeio na pré-história. Garopaba: [2006?].

- GUIA DE GAROPABA. Garopaba: Secretaria Municipal de Turismo e Esportes,

2015.

- GUIA DE GAROPABA. Garopaba: Secretaria Municipal de Turismo e Esportes, 2016

- GUIA DO ROSA & IBIRAQUERA. Imbituba: Guia do Rei, 2015.

- GUIA DO ROSA & IBIRAQUERA. Imbituba: Guia do Rei, 2016.

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204

- PRAIA DO ROSA: Mapa Turístico. Imbituba: Guia da Praia do Rosa, 2015.

- SANTA CATARINA. Guia turístico Encantos do Sul. 3ª ed. Florianópolis: Letras

Brasileiras, 2013.

8.4 Entrevistas

- AMBRÓSIO, Fernando. Entrevista concedida a Viegas Fernandes da Costa.

Garopaba, 23 de julho de 2015.

- BINTENCOURT, Luiz Fernando Alves. Entrevista concedida a Viegas Fernandes

da Costa. Garopaba, 21 de dezembro de 2015.

- CASTILHO NETO, Zeno Moreira. Entrevista concedida a Viegas Fernandes da

Costa. Imbituba, 21 de julho de 2015.

- FELIPE, Agenor Garcia. Entrevista concedida a Viegas Fernandes da Costa.

Imaruí, 11 de janeiro de 2016.

- FERREIRA, Maria Aparecida. Entrevista concedida a Viegas Fernandes da Costa.

Imbituba, 13 de janeiro de 2016.

- SEFTON, Paulo. Entrevista concedida a Viegas Fernandes da Costa. Imbituba, 09

de julho de 2015.

Page 205: TURISMO ARQUEOLÓGICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A possibilidade de aproveitamento do patrimônio arqueológico pré-colonial dos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba (SC)

205

APÊNDICES

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APÊNDICE A: Questionário destinado aos grupos de condutores ambientais

O presente questionário integra uma pesquisa que tem por objetivo fornecer subsídios

para o planejamento do turismo na região dos municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba.

Pedimos que responda às questões abaixo em nome da sua empresa/coletivo/grupo.

Sua participação é muito importante para que possamos ouvir os diferentes atores do

território a respeito das questões que envolvem turismo, desenvolvimento e patrimônio nos

municípios acima citados.

Agradecemos sua colaboração.

1. Nome da empresa/grupo/coletivo:

2. Quantidade de profissionais que atuam diretamente na empresa/grupo/coletivo (não

considerar profissionais indiretos):

3. Município(s) de atuação:

4. Segmento turístico de atuação:

5. Ano de criação/fundação da empresa/grupo/coletivo:

6. A empresa/grupo/coletivo conduz turistas por trilhas?

( ) SIM ( ) NÃO

7. (Em caso de resposta afirmativa à questão seis). Há sítios/vestígios arqueológicos pré-

coloniais nas trilhas utilizadas?

( ) SIM ( ) NÃO

8. Em caso de resposta afirmativa à questão sete). De que tipo são estes sítios/vestígios?

( ) SAMBAQUI

( ) OFICINA LÍTICA

( ) VESTÍGIOS DE CERÂMICA

( ) INSCRIÇÕES RUPESTRES

( ) OUTRO:

9. Em caso de resposta afirmativa à questão sete) De modo geral, quais as condições de

acesso dos turistas aos sítios/vestígios arqueológicos pré-coloniais encontrados nas trilhas?[

( ) Bastante acessíveis.

( ) Razoavelmente acessíveis.

( ) Pouco acessíveis.

( ) Inacessíveis.

Caso considere necessário, escreva uma observação à resposta, apontando as principais

dificuldades de acessibilidade:

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10. Na perspectiva da sua empresa/grupo/coletivo, há potencial turístico nos sítios/vestígios

arqueológicos pré-coloniais existentes no(s) município(s) de atuação?

( ) SIM ( ) NÃO

11. (Em caso de resposta afirmativa à questão dez). Cite os sítios/vestígios que considera

possuir maior potencial turístico (se possível, indique a localidade e trilha em que se

encontra):

12. Considerando a experiência da sua empresa/grupo/coletivo na condução de turistas, é

possível afirmar que o turismo arqueológico é potencialmente interessante para o perfil do

público com que trabalha?

( ) SIM ( ) NÃO

13. Considerando o conhecimento da sua empresa/grupo/coletivo sobre o território em que

atua, é possível afirmar que o turismo arqueológico é potencialmente viável na região?

( ) SIM ( ) NÃO

14. Aponte as principais dificuldades para o desenvolvimento do turismo arqueológico no

território de atuação da sua empresa/grupo/coletivo:

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APÊNDICE B: Questionário virtual aplicado com turistas que já visitaram alguns

dos municípios estudados.

TURISMO EM GAROPABA, IMARUÍ E IMBITUBA

Olá, gostaríamos de convidá-lo(a) para participar de uma pesquisa que tem por objetivo

fornecer subsídios para o planejamento do turismo na região dos municípios de

Garopaba, Imaruí e Imbituba.

Pedimos que responda às questões abaixo. Sua participação é muito importante.

Salientamos que seu anonimato será preservado.

Desde já, agradecemos sua colaboração.

Já leu ou assistiu a alguma reportagem sobre turismo arqueológico?

( ) Sim

( ) Não

Na condição de turista, já visitou sítios arqueológicos?

( ) Sim

( ) Não

Em uma escala de 1 (um) a 5 (cinco), como você avalia seu interesse por arqueologia

brasileira? Considere 1 (um) como nenhum interesse, e 5 (cinco) como totalmente

interessado.

( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5

Em uma escala de 1 (um) a 5 (cinco), como você avalia seu interesse em participar de

roteiros turísticos que tenham sítios ou vestígios arqueológicos entre seus atrativos?

Considere 1 (um) como nenhum interesse, e 5 (cinco) como totalmente interessado.

( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5

Já ouviu falar de vestígios arqueológicos em algum destes municípios: Garopaba,

Imbituba ou Imaruí?

( ) Sim

( ) Não

Já visitou algum vestígio ou sítio arqueológico em algum destes municípios: Garopaba,

Imbituba ou Imaruí?

( ) Sim

( ) Não

Caso tenha respondido sim à questão anterior, em qual cidade você visitou estes

vestígios?

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( ) Garopaba

( ) Imbituba

( ) Imaruí

Em uma escala de 1 (um) a 5 (cinco), como você avalia seu conhecimento sobre

vestígios arqueológicos e povos antigos em alguns destes municípios: Garopaba, Imaruí

ou Imbituba? Considere 1 (um) como nenhum conhecimento, e 5 (cinco) como

conhecendo profundamente.

( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5

Em uma escala de 1 (um) a 5 (cinco), como você avalia seu interesse em participar de

roteiros turísticos nos municípios de Garopaba, Imaruí ou Imbituba que tenham sítios ou

vestígios arqueológicos entre seus atrativos? Considere 1 (um) como nenhum interesse,

e 5 (cinco) como totalmente interessado.

( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5

Qual a região em que você reside?

( ) Sul

( ) Sudeste

( ) Centro-Oeste

( ) Nordeste

( ) Norte

( ) América Latina (se estrangeiro)

( ) Outro continente (se estrangeiro)

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APÊNDICE C: Ficha de valoração “la puesta en valor” reduzida.

VALORAÇÃO LA PUESTA EN VALOR REDUZIDA DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

Município: Sítio (conforme CNSA) Coordenadas:

Capacidade explicativa:

Monumentalidade:

Conservação do entorno:

Acessibilidade:

Atrativo da zona:

Necessidades mínimas:

Serviços:

Disponibilidades do uso do solo:

Foto ou observações complementares:

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