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Processo de Avaliação segundo narrativas dos professores através de entrevista.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁINSTITUTO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
FACULDADE DE EDUCAÇÃODIDÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL
CARLA REGINA DA SILVA SANTOSLORENA PEREIRA DE SOUSARENATA CARDOSO COSTA
A AVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM SEGUNDO NARRATIVAS DE PROFESSORES
BELÉM 2013
Introdução
O tema avaliação de aprendizagem muito tem se falado hoje, principalmente nos
anos iniciais por conta dos novos critérios a serem utilizados, sendo a avaliação qualitativa e a
descrição do processo de desenvolvimento de cada aluno alguns desses critérios. Dado que
atualmente os testes avaliativos, as provas e as notas, deixaram o papel principal de avaliação
para se tornarem instrumentos de avaliação. Mas e aqueles que estão há algum tempo na
atividades docente, como têm visto este tema na realidade escolar?
Este é o objetivo deste trabalho: verificar, por meio das narrativas dos professores,
suas experiências com a avaliação do processo ensino aprendizagem e assim analisar como
estas vivências podem contribuir para melhorar a atuação do pedagogo no Ensino
Fundamental. Para tal, foram entrevistadas quatro professoras atuantes no Ensino
Fundamental há mais de cinco anos em escolas públicas.
Um dos paradigmas de entrevista seguido é o qualitativo com a entrevista aberta
onde “[...] o informante é convidado a falar livremente sobre um tema” (MINAYO, 2006:
p.262) dado que a entrevista uma fonte de informação que envolve opiniões e reflexões
pessoais do entrevistado. Esta é uma das vantagens da entrevista: Seu caráter interativo. Esta
característica “[...] permite tratar de temas complexos que dificilmente poderiam ser
investigados adequadamente através de questionários, explorando-os em profundidade”
(ALVES-MAZZOTI, GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 168).
A coleta de dados foi realizada através de gravação de áudio. O tema abordado foi
escolhido por tratar-se de assunto relevante para a adequada prática docente, pois
considerando o que diz Fernandes e Freitas “[...] Mesmo nos processos de avaliação mais
simples, sabemos que para tomar determinadas decisões faz-se necessário que alguns critérios
e princípios sejam considerados seriamente” (FERNANDES, FREITAS, 2007, p. 17) e para
conhecer sobre mais diretamente a avaliação no processo ensino aprendizagem, desenvolveu-
se este relatório de entrevista.
Ao refletir sobre avaliação, precisamos ter uma visão ampla de conceito, práticas, e
objetivos da avaliação. Como docentes, precisaremos desenvolver práticas que incentivem a
aprendizagem, pois “[...] o importante não é a forma, mas a prática de uma concepção de
avaliação que privilegia a aprendizagem.” (FERNANDES, FREITAS, 2007, p. 31).
1. A importância da avaliação no processo de ensino aprendizagem no ensino
fundamental
Durante as entrevistas, percebemos que alguns professores desenvolvem suas
técnicas e seus instrumentos tratando de fazer a avaliação visando a aprendizagem e valendo-
se de instrumentos diferentes como cadernos e relatórios, principalmente professores da rede
municipal de Belém, onde há exigência de que a avaliação no ensino fundamental seja feita
por pareceres e relatórios.
Primeiramente, entendemos que ainda está presente a ideia de avaliação por meio de
provas e notas. Embora haja a exigência dos relatórios, percebe-se muita resistência da
sociedade – em geral as famílias dos alunos, mas também da própria escola - em aceitar
outros instrumentos de avaliação na aprendizagem. Uma das professoras entrevistadas fala:
“Tanto os alunos como seus familiares verifica-se a influência do sistema tradicional, eu diria que eles, assim como a educação Brasileira em geral é fruto de uma sociedade bastante conservadora, tanto provam que os pais me perguntam por que seus cadernos voltam em branco para casa, é difícil desconstruir a mentalidade de que só se aprende copiando do quadro, de que existem outras formas de aprendizagem.” (informação verbal).1
Por outro lado, na narrativa de alguns professores que entrevistamos, é notória a
resistência a instrumentos avaliativos diferenciados, o que acaba comprometendo a aceitação
da família. Se os próprios professores não acreditam em outros instrumentos de avaliação,
como fazer com que a sociedade compreenda?
Avaliar, para o senso comum, aparece como sinônimo de medida, de atribuição de um valor em forma de nota ou conceito. Porém, nós, professores, temos o compromisso de ir além do senso comum e não confundir avaliar com medir. (FERNANDES, FREITAS, 2007, p. 31).
Assim é necessário que o professor compreenda plenamente o sentido de avaliar,
para desenvolver um trabalho de avaliação em que se considere os avanços reais dos alunos
não apenas no aspecto intelectual, mas também social, afetivo e comportamental. Uma das
1 Entrevista concedida por TAL, Fulana de. Entrevista III. [dez. 2013]. Entrevistador: Lorena Pereira de Sousa. Belém 2013. 1 arquivo .mp3. A entrevista transcrita encontra-se no apêndice desse trabalho.
professoras relata: “[...] na avaliação, precisamos levar em conta diversos aspectos. A
disciplina, o comportamento, não só o avanço na aprendizagem.” (informação verbal).2
Logo, é importante que o professor trabalhe em conjunto com a comunidade escolar
(coordenação, corpo docente, discentes e famílias) no sentido de conscientizar da importância
de outros instrumentos de avaliação que também contemplem esses outros aspectos. A prova
ou a nota por si só não consegue abarcar as reais necessidades da avaliação da aprendizagem,
fato admitido por uma das professoras entrevistadas: “A prova ela é um instrumento que... É
muito cruel não é? A criança fica muito... Nós mesmos ficamos nervosos em uma prova. Nós
ficamos, imagine uma criança.” (informação verbal).3 Portanto, o resultado de uma prova
pode variar dependendo das condições em que ela é aplicada.
Por outro lado, embora haja essa resistência, também percebemos o esforço dos
professores em absorver e produzir novas técnicas avaliativas, seja para o cumprimento da
determinação estabelecida, ou mesmo na tentativa de dinamizar o trabalho de avaliação.
Assim, a prova tradicional vem sendo paulatinamente substituída como forma única de
avaliação. Nas entrevistas, as professoras relatam que as escolas procuram não excluir
totalmente a prova, mas apenas incluir outras ferramentas para também estabelecer uma
“avaliação formativa” (FERNANDES, FREITAS, 2007, p. 31).
A avaliação formativa é de suma importância para a formação de sujeitos autônomos,
visto que ela contempla o processo da aprendizagem o que permite que o professor possa
intervir imediatamente ao perceber alguma dificuldade na aprendizagem de um aluno. Além
disso, é possível perceber a construção histórica da diversidade como fator determinante na
identidade do aluno, portanto, as práticas avaliativas devem ser entendidas como instrumento
participativo, levando em consideração o aspecto de superação.
Nessa perspectiva, o professor deve promover a autonomia da criança e dar-lhe
possibilidades de aprender por si só, mas deve estar presente quando necessário e também
deve ser capaz de apoia-la quando se depara com problemas.
2 Entrevista concedida por TAL, Fulana de. Entrevista I. [dez. 2013]. Entrevistador: Carla Regina da Silva Santos. Belém 2013. 1 arquivo .mp3. A entrevista transcrita encontra-se no apêndice desse trabalho.
3 Entrevista concedida por TAL, Fulana de. Entrevista IV. [dez. 2013]. Entrevistador: Renata Cardoso Costa. Ananindeua, 2013. 1 arquivo .mp3. A entrevista transcrita encontra-se no apêndice desse trabalho.
2 – Relatório das entrevistas
Detalhes da Coleta de Dados
Discente: Carla Regina da Silva Santos
Entrevista nº 1.
Data da realização: 09/12/2013.
Hora 09h30min
Local: Escola Pública localizada na Av. Padre Eutíquio, Bairro da Cremação, Cidade de
Belém.
Sexo: Feminino. Estado Civil: Casada.
Formação: Licenciatura Plena em Pedagogia.
Instituição: Universidade Federal do Pará.
Tempo de Formação: 10 anos.
Tempo de atuação no Ensino Fundamental: 10 anos, divididos em 4 anos na Rede
Municipal e 6 anos na Rede Estadual. Leciona no 3º/9º (terceiro ano dos nove anos do ensino
fundamental). É servidora concursada.
Dificuldades para a realização:
Apesar de permitir a entrada na escola, o diretor orientou-me a voltar no dia seguinte,
pois estavam realizando uma confraternização na escola. Aceitei esperar o término, porém, ao
me dirigir à sala dos professores onde encontrei duas professoras. Ao abordá-las, apresentei-
me, expus as motivações do trabalho e pedi que conversássemos. As mesmas demonstraram
resistência, e uma delas alegou que “acadêmicos da UFPA são egoístas, pensam que todos
têm a obrigação de ajudá-los em seus trabalhos, e, no final, estão apenas preocupados em
fazer seu trabalho, pegar seu conceito e nada mudam, as coisas no ensino só pioram.” A outra
professora, concordou em colaborar, notoriamente por acanhamento do que sua colega falou.
Dado que em outros trabalhos de campo, tanto esta discente como alguns outros
colegas já relataram a dificuldade acima, utilizou-se a estratégia de presentear a professora
que colaborou com a entrevista com uma lembrança em forma de presente, o que a deixou
bastante satisfeita e, em seguida, à vontade.
Detalhes da Coleta de Dados
Discente: Carla Regina da Silva Santos
Entrevista II
Data da realização: 13/12/2013.
Hora: 08h20min
Local: Consultório e Laboratório Médico localizado na Avenida Augusto Montenegro, Bairro
Panorama XXI, Cidade de Belém.
Sexo: Feminino. Estado Civil: Casada.
Formação: Magistério e Licenciatura Plena em Letras.
Instituições: Instituto de Educação Estadual do Pará (IEEP) e Universidade da Amazônia,
respectivamente.
Tempo de Formação: aprox. 30 anos.
Tempo de atuação: aprox. 26 anos. Leciona no 4º e no 5º ano do Ensino Fundamental na
Rede Estadual. É servidora efetiva.
Dificuldades para a realização:
Não se reportam dificuldades. A entrevista ocorreu por acaso durante a espera de
atendimento médico. Ao escutar duas professoras conversando sobre as doenças adquiridas
em decorrência da profissão, estas foram abordadas, onde as mesmas foram bem receptivas
para colaborar, porém apenas a professora de mais idade falou.
Detalhes da Coleta de Dados
Discente: Lorena Pereira de Sousa
Entrevista III
Data da realização: 12/12/2013.
Hora: 17h
Local: Escola pública estadual localizada na Av. Mundurucus, Bairro do Guamá, Cidade de
Belém.
Sexo: Feminino. Estado Civil: Casada.
Formação: Licenciatura Plena em Pedagogia.
Instituição: Universidade Federal do Pará.
Tempo de atuação no Ensino Fundamental: 8 anos. É servidora concursada.
Dificuldades para a realização:
O encontro transcorreu de forma flexível, com perguntas feitas a partir do tema já
estabelecido: avaliação de aprendizagem. De acordo com os relatos da professora a mesma
descreve sua experiência docente em relação à avaliação do processo ensino aprendizagem a
partir do processo diário de avaliação, utilizando a interdisciplinaridade como base em seus
mecanismos avaliativos.
Detalhes da Coleta de Dados
Discente: Renata Cardoso Costa
Entrevista IV
Data da realização: 13/12/2013.
Hora 10h.
Local: Escola pública estadual localizada na Cidade Nova V, SN 18, Bairro Coqueiro, Cidade
de Ananindeua.
Sexo: Feminino. Estado Civil: Casada.
Formação: Curso Normal de nível médio e Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais.
Instituição: Instituto de Educação Estadual do Pará (IEEP) e Universidade Federal do Pará.
Tempo de Formação: 25 anos como professora leiga e 17 anos como graduada.
Tempo de atuação no Ensino Fundamental: atuou durante 20 anos nos anos iniciais do
ensino fundamental, porém há cinco anos vem atuando no apoio à educação especial por
causa de problemas de saúde. É servidora concursada.
Dificuldades para a realização:
A entrevista foi marcada previamente com data, horário e local definidos pela
entrevistada. Embora a professora tenha aceitado conceder a entrevista, no início percebi certo
acanhamento pelo pedido de que a entrevista fosse gravada. Para desfazer o embaraço,
conduzi a entrevista de forma mais informal, para deixar a entrevistada mais desinibida, o que
de fato ocorreu.
A entrevista ocorreu na sala de atendimento ao aluno especial, local de trabalho da
professora. Durante a entrevista havia uma aluna portadora da síndrome de Down realizando
uma atividade avaliativa e várias vezes lia em voz alta, sons que foram captados na gravação
da entrevista, porém nada que comprometesse.
Outra dificuldade foi que a entrevista precisou ser interrompida por três vezes, por
variados motivos descritos no apêndice do trabalho.
Conclusão
Diante do pressuposto analisado, é necessário que o sistema escolar esteja envolvido
na busca por estruturas mais igualitárias e democráticas no processo do desenvolvimento
humano, porque a democracia não é um conjunto de conhecimentos, é antes de tudo, uma
prática, vivenciada e trabalhada por todos. Nesse sentido:
O professor não deve se eximir do ato de avaliar as aprendizagens de seus alunos, é preciso fomentar nos estudantes sua capacidade de participação na vida social, e para que isso ocorra é de suma importância a avaliação significativa, contribuindo para a construção de uma espécie de discernimento social, algo que desperte no aluno, a consciência de seu papel na sociedade (FERNANDES, FREITAS, 2007, p. 19).
As competências e habilidades devem ser entendidas como frutos de processos
avaliativos contínuos, em que o educador se baseia no dia a dia da vivência de sua turma com
o conhecimento discutido e trabalhado interno e externamente, ou seja, dando espaço para a
busca do conhecimento prático, em que a teoria seja vista como auxilio para a formação de
qualidade do professor e do aluno.
As dificuldades enfrentadas pelos professores entrevistados devem servir de reflexão
para os futuro profissionais da educação não repetirem os mesmos erros e propor novas
soluções pedagógicas como forma de superar essas dificuldades.
Bibliografia
FERNANDES, Cláudia oliveira e FREITAS, Luiz Carlos. Indagações sobre o Currículo. BEAUCHAMO, Jeanete, PAGEL, Sandra Denise e NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do. Brasília, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. p. 17 – 44
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. 9. ed. São Paulo, Hucitec, 2006. p. 261 – 297.
TAL, Fulana de. Entrevista I. [dez. 2013]. Entrevistador: Carla Regina da Silva Santos. Belém, 2013. 1 arquivo .mp3. A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice deste trabalho
TAL, Fulana de. Entrevista II. [dez. 2013]. Entrevistador: Carla Regina da Silva Santos. Belém, 2013. 1 arquivo .mp3. A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice deste trabalho.
TAL, Fulana de. Entrevista III. [dez. 2013]. Entrevistador: Lorena Pereira de Sousa. Belém, 2013. 1 arquivo .mp3. A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice deste trabalho.
TAL, Fulana de. Entrevista IV. [dez. 2013]. Entrevistador: Renata Cardoso Costa. Ananindeua, 2013. 1 arquivo .mp3. A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice deste trabalho.
APÊNDICE
Entrevista I
Autora: Carla Regina da Silva Santos
P= Pergunta. R= Resposta.
P: Ser professora, o que a conduziu a optar por esta profissão?
R: Ás vezes, a gente traça uma meta na vida, mas a vida leva a gente a outros caminhos e, de
repente, eu me encontrei no curso de pedagogia e aqui estou até hoje.
P: Se sente satisfeita como professora?
R: Diríamos que determinados momento sim, determinados, não.
P: Ao longo de sua trajetória como docente, houve situações conflituosas ou pitorescas
envolvendo equipe técnica da escola, alunos e suas famílias no que diz respeito à avaliação do
processo ensino aprendizagem.
R: Marcante... Conflituosa... Não. Às vezes o aluno não se conforma com a nota, acha que
está sendo alvo de perseguição por parte da professora, mas nada tão relevante, porque na
verdade a gente se encontra muito nesse tipo de situação. Nunca estão todos satisfeitos, eles
sempre procuram um culpado pela nota baixa, mas agora até que não, porque mudou a
avaliação, agora é por relatório, feito duas vezes por ano.
P: Você tem ou teve dificuldade para fazer essa nova avaliação: da prova para o relatório?
R: No início tem-se uma dificuldade, até para escrever. Mas, temos a orientação e avaliamos
diversos pontos: fator de aprendizagem, comportamental, pedagógicos. Eu avalio em cima
dos pontos a serem avaliados. Apesar do direcionamento, o professor tem a autonomia de
acrescentar e sugerir alguns pontos. Tem orientação da Secretaria e da Coordenação. Temos
liberdade desde que não fuja da avaliação em si.
P: Há fatores que interferem para avaliar?
R: Infelizmente, na avaliação, precisamos levar em conta diversos aspectos. A disciplina, o
comportamento, não só o avanço na aprendizagem. Porém há fatores que considero que
interferem sim, até fatores higiênicos, pois atualmente até isso estão deixando a cargo do
professor, algo que deveriam trazer de casa. Mas, lógico, se for bom aluno no sentido
pedagógico, esses fatores só interferem no produto final.
P: Como você descreveria a sua experiência docente em relação à avaliação do processo
ensino aprendizagem? O que mudou?
R: Bom, antes se avaliava pela nota, hoje não, é no dia a dia, é processual, continuado. Há
acompanhamento direto no ensino aprendizagem, mas eu penso que a nota não deveria ser
descartada, pois ela também avalia os conhecimentos do aluno. É instrumento de avaliação,
agora só tem uma prova que não podemos nem dar nota, somos orientados a nem dar nota.
Fazemos conceito, escrevemos.
Entrevista II.
Autora: Carla Regina da Silva Santos
P= Pergunta. R= Resposta
P: Ao longo de sua trajetória como docente, houve situações conflituosas ou pitorescas
envolvendo equipe técnica da escola, alunos e suas famílias no que diz respeito à avaliação do
processo ensino aprendizagem.
R: Muitas... Desde pais que vem questionar as notas à coordenadores que quiseram
“apropriar-se” técnicas de aprendizagem que desenvolvi. Explico: em muitas ocasiões já
vieram pais questionar as notas, alegando que “estou ensinando errado” e isso é um problema
grave em educação: todos pensam que podem opinar, “dar pitaco” no serviço do educador,
coisas que não vemos com médico, juiz e outros profissionais. Outra situação foi que, eu
sempre, todas dinâmicas que eu utilizo com meus alunos, eu anoto em cadernos, eu trato de
ser criativa, pois isso atiça a criança. Então me chega uma coordenadora novata e inventa uma
tal de “visto” no caderno de atividades dos professores, no nosso plano de aula...ah, me
poupe. Mandei ela ir pensar! Se quisesse utilizar minhas técnicas e práticas que inventasse
outra desculpa. Que me pedisse, porque queria utilizá-las e eu emprestaria, sem problemas.
Devemos nos preocupar com o aprendizado das crianças, porém, as pessoas devem respeitar o
educador como um profissional de responsabilidade.
P: Como você descreveria a sua experiência docente em relação à avaliação do processo
ensino aprendizagem? O que mudou?
R: Não sou de acordo com este modelo novo de avaliação, o aluno prossegue no ciclo muitas
vezes sem ter assimilado o conhecimento e somos “obrigados” a aprová-lo. Daí, há de piorar a
crítica contras os pedagogos. Que o aluno ruim de hoje, foi instruído por um mal pedagogo
ontem...Vemos demais isso. Tudo é culpa do professor.
Entrevista III
Autora: Lorena Pereira de Sousa
Pergunta: como você descreria a sua experiência docente em relação à avaliação do processo
ensino aprendizagem. O que mudou?
Professora: Sou formada pela UFPA e trabalho há nove anos no ensino fundamental em
escola pública direciono meus alunos ao conhecimento diversificado, ou seja, quando eles
chegam aqui já trazem na bagagem culturas distintas, e visões diferenciadas da sociedade.
Dependendo da situação em que esse aluno se encontra, tento identificar através de trabalhos
em grupos ou individuais suas dificuldades e orienta-los para o desenvolvimento de suas
habilidades dentro e fora da escola. Muitos deles estão arraigados pela experiência da prova
em si, tanto que chegam a me perguntar sobre a prova muitas vezes no decorrer do semestre,
procuro dinamizar ao máximo os métodos avaliativos, não desconsidero totalmente o método
tradicional, porém, tento embasar esses processos através de atividades extras curriculares,
envolvendo oficinas de dança, música, enfim enriquecendo a teoria e prática na abordagem do
conhecimento. Nesse período dentro de sala de aula identifiquei que as turmas estão mais
exigentes, quanto ao ensino, minha turma é bastante participativa existem aqueles mais
dispersos, porém em número menor, por conta deste fator, estimulo trabalhos em equipe
procurando avaliar individualmente o desempenho de todos.
Pergunta: Já existiram situações conflituosas com a direção da escola, com os alunos ou com
os pais acerca da avaliação?
Professora: Tanto os alunos como seus familiares verifica-se a influência do sistema
tradicional, eu diria que eles, assim como a educação Brasileira em geral é fruto de uma
sociedade bastante conservadora, tanto provam que os pais me perguntam por que seus
cadernos voltam em branco para casa, é difícil desconstruir a mentalidade de que só se
aprende copiando do quadro, de que existem outras formas de aprendizagem. E quanto ao
comportamento dos alunos, são crianças normais, brincam, são eufóricos, enfim agora estão
no intervalo e você já presenciou que eles aproveitam bastante esta fase. Viu que quase
acertam a bola em você. (referindo-se ao fato da bola quase me acertar durante a entrevista).
Nessa perspectiva, é possível compreender que, é necessário elaborar projetos de intervenção
no processo de ensino e adaptar o currículo de acordo com a realidade do aluno, propiciando a
aprendizagem significativa como método de estudo.
Entrevista IV
Autora: Renata Cardoso Costa
Entrevistadora – Então professora, qual é a sua formação? A senhora é pedagoga, formou-se
pelo antigo magistério?
Professora – Eu sou professora do magistério. A minha graduação já foi já durante a minha
atuação na educação. Eu já lecionava há cerca de oito anos quando eu iniciei a minha
graduação. E eu não... Não me graduei na área do magistério. Eu somente fiz a graduação em
Ciências Sociais. Bacharelado. Aí só que depois que eu fiz as matérias pedagógicas da
disciplina, e fiz a licenciatura também.
Entrevistadora – Em Ciências Sociais...
Professora – Em Ciências Sociais. Mas eu sempre vim atuando só na educação fundamental,
nos anos iniciais.
Entrevistadora – Quantos anos a senhora tem de experiência nos anos iniciais do ensino
fundamental?
Professora – Tenho vinte e cinco anos.
Entrevistadora – Vinte e cinco anos? Nossa é bastante tempo... Bom, mas assim, sobre
avaliação especificamente: quando a senhora começou a atuar pra hoje, tem alguma diferença
dos processos de avaliação dos alunos?
Professora – Mudou um pouco. Principalmente na teoria. Na prática... Acho que há uma
mesclagem, pelo menos na minha atuação algumas coisas são como quando eu iniciei. Acho
que na prática as coisas deveriam ter mudado... Ter mudado mais, mas existe uma mesclagem.
Neste momento a entrevista foi interrompida por um professor que procurava por outra
professora na sala em que estávamos. Depois de a professora atender a solicitação,
continuamos:
Entrevistador – Bom, outra pergunta: Já houve algum problema da senhora sugerir um
método de avaliação diferenciada do que a escola estava acostumada e a escola não aceitar ou
aceitar?
Professora – Já. Acontece isso, não só com a administração da escola, mas com as famílias
também. Elas resistem muito às mudanças de avaliação. Elas querem que seja prova, querem
que os alunos levem uma prova pra casa, uma prova onde ele responda aquelas questões tipo
objetivas ou subjetivas, questionários. Então as famílias resistem muito. Quando a gente fala
que a avaliação está sendo feita em processo na...
Outra vez a entrevista foi interrompida por duas alunas com cerca de 9 anos que entraram na
sala para falar com a professora. Ao serem indagadas sobre o que queriam elas responderam
que queriam apenas dar um abraço na professora. Quando as alunas foram embora a
professora continuou:
Professora – Então as famílias sempre perguntam: Que nota ele vai tirar? Que nota ele tirou?
Como eu vou saber que ele aprendeu? Se ele não aprendeu? Se ele não leva nada numa prova
lá com algumas questões em que o professor atribui uma nota. Então eles ainda questionam
muito essa questão da avaliação, que hoje exigem através de parecer, de conceitos, de
relatórios, mas aí é que eu quero chegar aonde falei: hoje mesclam aqui na escola... Só quero
abrir um parêntese: Já faz cinco anos que eu estou fora da sala de aula por conta de um
problema na voz e estou trabalhando com educação especial, mas eu sei por que a gente
trabalha diretamente com os professores ainda, então há uma mesclagem aí, elas fazem as
provas, os professores aplicam a prova ainda naquele sistema antigo, mas também faz o
parecer, durante o processo ele faz as anotações no final ele faz o parecer, apresenta pra
família tanto o parecer, quanto a prova, o resultado é através de nota e também o parecer.
Entrevistador – Aqui na escola eles adotam o sistema seriado ou por ciclos?
Professora - Seriado. Ainda é seriado.
Entrevistador – Mas então existe essa mesclagem de avaliação...
Professora: tem sim. Aplica as duas avaliações.
Entrevistador – Além da resistência da família, já existiu alguma resistência da escola? Da
coordenação, de outras escolas em que a senhora já atuou?
Professora – Não, a resistência não. Mas a preocupação de não mudar assim radicalmente.
De excluir totalmente a prova. Nas discussões que a gente tem – geralmente no início do ano,
durante as semanas pedagógicas – há sempre a discussão de como é que vamos proceder
durante o ano, sempre tem essa preocupação: não vamos eliminar totalmente a prova, tentar
fazer as duas coisas, por que... Até porque na nossa formação, quem já fez há muito tempo
como eu, que já estou quase me aposentando, na nossa formação o que a gente aprendeu foi
que agente tem aplicar prova mesmo, a gente aprendia a elaborar prova, como elaborar uma
prova subjetiva, objetiva, essas coisas. Então, infelizmente o Estado não fornece uma
formação continuada pra que a gente tenha acesso a uma formação que venha trazer essa
novidade. Até existem, mas geralmente são em um período muito curto, é assim muito
“relâmpago” mesmo, tipo: colocar as propostas e vir lá de cima cobrar, então você tem que se
adaptar. E se o professor tem interesse em buscar um aperfeiçoamento, uma formação tem
que ser por conta própria, por que esperar do Estado, é uma contribuição muito pequena. A
resistência, pelo menos nas escolas em que eu já trabalhei, pelo menos foi nesse sentido: não
pode mudar radicalmente, tentar mesclar as duas coisas ao mesmo tempo, experimentando pra
não se perder também, por que a gente não tem nem experiência de como... Muitos
professores colegas meus... Eu também senti dificuldades, mas tem colegas meus que
sentiram muitas dificuldades e resistência, queriam até abandonar, por que não queriam essa
história de fazer relatório, pareceres, por que não sabia. Então, a gente tentar conversar,
treinar, conversando com o outro, chegando em um acordo, mas na verdade houve esse
problema. O sistema exige, não é? Que até o quinto ano a exigência do parecer como
avaliação.
Entrevistador – É bem trabalhoso, ou não?
Professor – Dá trabalho. É aluno por aluno não é só você ter que aplicar a prova, corrigir e dá
a nota. Você tem que observar o aluno, sempre perguntar, sempre fazer as anotações sobre
como o aluno está se apresentando, e isso dá trabalho. E tem escolas que a própria SEDUC
tem um número mínimo de alunos na sala de aula, então as turmas são em geral lotadas, essa
escola que eu trabalho aqui até que não, as turmas são menores aqui nessa escola. Mas na
outra escola, tinha de trinta e cinco pra cima, tinha sala de aula que eram 45 alunos. Então
fazer parecer pra tudo mundo... Dá muito trabalho.
Entrevistador – Mas quando a senhora exerceu em sala de aula, aconteceu algum fato de
algum aluno não aceitou o tipo de avaliação que a senhora aplicou ou que a família veio
cobrar alguma coisa?
Professora – Questionamentos existem. Geralmente não a forma de avaliação, mas à nota
mesmo. À prova. A prova ela é um instrumento que... É muito cruel não é? A criança fica
muito... Nós mesmos ficamos nervosos em uma prova. Nós ficamos, imagine uma criança. E
ela é pressionada pela família também a apresentar um bom resultado na prova. E quando ela
não apresenta a família vem questionar: “Ah meu filho sabia tudo, eu estudei com ele, ele
sabia tudo professora! Como é que ele tirou essa nota?” E se esquecem de que a própria
pressão que a família exerce sobre a criança, exigindo que ela tenha um bom resultado, o
próprio momento que é sozinho, pois normalmente as avaliações são individuais, cada um faz
a sua, e ele tem que estar lá sozinho, construir sua resposta, dar sua resposta, ou decorar a sua
resposta, dependendo de como o professor trabalhou, se foi questionário. Então ele está ali
sozinho e está morrendo de medo de tirar uma nota baixa, de tirar uma nota vermelha, “o que
meu pai vai fazer comigo se eu não tirar uma nota boa?”. Então, tem tudo isso. E muitas
vezes a prova não apresenta o que realmente o aluno aprendeu. Às vezes o aluno aprendeu
sim, ele avançou, ele teve um bom rendimento, mas que a prova não mostra. Por que aquele
momento em que ele ficou sozinho, nervoso, de repente “dá um branco” e ele não consegue
responder. Por isso que a mãe chega e diz “Ah, professora, ele sabia tudinho, não sei o que
aconteceu com ele.”. Mas assim enquanto o sistema de avaliação em si... Eu já vi muita mãe
revoltada, e a família chegar assim em reuniões e dizer: “Professora, eu quero que volte a
prova. Eu não concordo com essa história de parecer. Não concordo com essa história de
relatório no final do ano, quero prova, porque eu não acredito que isso avalie o meu filho.
Como é que eu vou saber que ele aprendeu?” Então isso... Essa experiência eu já vivi. Lá na
outra escola, como eu já te falei a administração resolveu não mudar totalmente, mas começar
a mesclar, ou então a gente começou a fazer da seguinte forma: antes era adotada a nota de
zero a dez, a prova valia dez. Aí então “vamos começar a fazer uma avaliação dividida: cinco
pontos, a prova vai valer cinco, no final do bimestre, tem a prova, então ela vai valer cinco.
Os outros cinco pontos, a gente vai atribuir na observação: como o aluno está se saindo na
sala de aula, qual a participação dele na aula, a interação dele com a turma, com o professor,
se ele está fazendo realmente os trabalhos, se ele está participando... Então esse é um sistema
de avaliação contínua, mas as mães não queriam. Mesmo assim elas questionavam, eu digo
mães porque na maioria das reuniões só aparecem as mães. São poucos pais que aparecem.
Então esse questionamento essa experiência eu já vivi muito. “Ah professora essa avaliação
contínua tá valendo muito ponto. Não dá pra diminuir pra só dois? Por que cinco? A prova
tem que valer mais”. Essa resistência a gente ainda encontra muito.
Entrevistador - E aqui na educação especial professora, em termos de avaliação, os
professores costumas aplicar uma avaliação diferenciada, ou depende muito do caso?
Professora – Depende muito de professor, depende muito do caso. E muitas vezes eles fazem
a mesma prova que os outros, mas aí, como eu falei depende do caso. Tem muitos alunos que
precisam apenas de um tempo maior pra resolver, dependendo a dificuldade dele, ele
consegue acompanhar a turma. Então muitas vezes ele precisa apenas de alguém que copie.
Então o professor de educação especial vai ficar como um copista, uma pessoa que transcreve
pra ela, então é dado apenas um tempo maior, para responder as questões, ele vem pra cá pra
sala conosco onde é mais tranquilo, mas tem casos que a avaliação tem que ser diferenciada
mesmo. Que o assunto seja o mesmo, mas o tipo de avaliação de aplicação das provas, que é
prova ainda. Aí como eu te falei aqui não se adota dez na prova, mas é mesclado. Tem os
trabalhos, participação e tem a prova. Então essa prova é elaborada, nesses casos de uma
forma diferenciada. Por que tem muita criança que não consegue realmente acompanhar o
programa com o nível da turma em que ele está.
Entrevistador – Entendi...
Professora – Agora os professores reclamam muito. Os professores de sala de aula,
principalmente com os alunos que tem deficiência intelectual. Que a dificuldade deles é muito
maior. E quem apenas tem uma deficiência física é diferente de quem tem uma dificuldade na
aprendizagem. A deficiência física geralmente não interfere na aprendizagem, mas o
deficiente intelectual tem muita dificuldade de aprender. Então é muito difícil acompanhar a
série em que ele está. Então os professores reclamam muito. Primeiro eles reclamam que não
aprenderam a lidar, depois eles reclamam; “Como é que eu vou dar contar de dar atenção uma
atenção diferenciada quando tem uma turma todinha que também precisa de acompanhamento
ao meu redor?” Isso quando eles são pequenos. Quando eles são maiores, até que não, mas
mesmo assim ainda tem alguns que precisam também de atenção sempre. Então como dar
uma atenção diferenciada quando se tem toda uma turma que o professor tem que dar conta.
Tem que apresentar o conteúdo, tem que dar a aula... Então eles reclamam bastante.
Neste momento, a entrevista foi interrompida outra vez, pois a presença da professora foi
solicitada na coordenação pedagógica. Aguardei no local da entrevista enquanto uma aluna
portadora da Síndrome de Down realizava uma atividade. Cerca de cinco minutos depois a
professora voltou.
Professora – Aonde nós paramos?
Entrevistador – Sobre a avaliação na educação especial...
Professora – Pois sim... Então eles reclamam muito em relação a isso. Até porque na
formação eles não tiveram essa preparação. Depois... É pela realidade mesmo... Quando está
na teoria é muito bacana da gente ver, mas quando chega na prática, a questão da
flexibilização do currículo, da prática o dia-a-dia do professor é bem complicado. Além disso,
na universidade se tem uma carga horária muito pequena. Nós vamos aprendendo mesmo a
lidar na prática, quando a gente chega aqui é claro que vamos ter que retomar a teoria para
poder fazer sempre esse exercício de conciliar teoria e prática, pra poder trabalhar de uma
forma minimamente adequada, mas na verdade a prática ela é bem diferente.
Entrevistador – Nas avaliações, os alunos costumam se comportar bem? Costuma recorrer a
meios ilícitos, como cola ou outros artifícios?
Professora – Já aconteceu sim, já peguei muitos alunos colando. Agora eu nunca tive o
posicionamento de tomar a prova e deixar o aluno com zero. Eu dava advertência, por que é
um recurso que eles utilizam (risos). Ele está ali, pressionado, não estudou, ou então “deu um
branco”, e ele vai recorrer à cola. Mas só com o susto que eles recebem com a advertência
eles acabam deixando a cola de lado. Mas eu nunca tive muitos problemas com isso não.
Nunca fui assim muito rígida com a questão da cola, mesmo porque se a gente trabalhar com
a turma com a questão da cola em sala de aula eles acabam não recorrendo muito a isso.
Agora se você ficar prometendo na sala de aula “Ah, se eu pegar um aluno colando, eu vou
tomar a prova, eu vou dar zero” ou “Aluno comigo não cola” tipo desafiando o aluno, ele vai
querer aceitar o desafio e ele vai procurar uma estratégia de colar.
Entrevistador – Então acho que podemos encerrar...
Professora – Você é quem sabe...
Entrevistador – Contemplou bastante o meu trabalho, me ajudou bastante. Eu agradeço ajuda
no meu trabalho em nome da equipe.