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Platão e o neoplatonismo Representação de Patão (Pormenor da pintura renascentista Escola de Atenas de Rafael Sanzio) Prof. Maria Luísa de Castro Soares Universidade de TrásosMontes e Alto DouroUTAD

Platão e o neoplatonismo

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Platãoe o neoplatonismo

Representação de Patão (Pormenor da pintura renascentista Escola de Atenas de Rafael Sanzio)

Prof. Maria Luísa de Castro SoaresUniversidade de Trás‐os‐Montes e Alto Douro‐ UTAD

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PlatãoPlatão constrói, na sua metafísica, uma determinada estruturado mundo que tem consequências na teoria do conhecimento.A sua doutrina fundamental é a teoria do mundo das ideias,que se traduz numa desvalorização do mundo sensível ondevivemos por considerar que ele não é o verdadeiro, o real,mas um mundo de aparências, de sombras, de reflexos daverdadeira realidade. Emprega os termos mimese ouparticipação para tentar definir a relação mundo sensível /mundo do verdadeiro real. Este não é sensível, mas inteligível,pois é o mundo das essências, dos arquétipos ideais. Há nomundo do verdadeiro real uma determinada hierarquia, nãopossuindo todas as ideias a mesma perfeição. Porém, todaselas convergem para a ideia de Bem e de Belo.

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Platão• Platão distingue sempre o Bem e o Belo, masafirma que eles são indissociáveis: o Belo nãoé mais do que uma manifestação do Bem.

• O espírito humano vive no mundo sensível,mas pela sua própria natureza espiritual temorigem no mundo inteligível, participa dele.No entanto, o espírito vive encerrado namatéria, no mundo das sombras e areminiscência é a marca que temos de terpertencido ao mundo dos arquétipos.

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Platão

Sendo o Belo a manifestação do Bem, umreflexo de algo bom, toda a sedução exercidapela beleza é um caminho que toma a direçãodo Bem. Essa aspiração da beleza é o Amor, quevai ser elevado, em Platão. Deixa de ser umsimples traço afetivo ou uma apetência sexualpara se transformar no instrumento porexcelência da elevação do homem. O Amor é umcaminho para a participação do homem nomundo dos arquétipos.

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PlatãoPara Platão, o Amor é algo que não éverdadeiramente o arquétipo, mas que não estádecaído no mundo sensível. É um estadointermédio e um meio imprescindível para ohomem iniciar o seu processo de ascensão.O Banquete é o diálogo platónico que maistestemunha a doutrina do autor sobre o amor.Mas a dicotomia mundo sensível vs. mundointeligível está presente, sobretudo, na passo daalegoria da caverna, que a seguir se transcreve:

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Alegoria da CavernaImagina homens numa morada subterrânea, em forma decaverna, tendo a toda largura uma entrada aberta à luz;esses homens estão aí desde a infância, de pernas epescoço acorrentados, de modo que não podem mexer‐senem ver senão o que está diante deles, dado que a cadeiaos impede de voltar a cabeça; a luz chega‐lhes de umafogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles;entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada alta;imagina que e ao longo dessa estrada está construído umpequeno muro, semelhante às divisórias que osapresentadores de títeres armam diante de si e por cimadas quais exibem as suas maravilhas.— Estou a ver — disse ele.— Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homensque transportam objectos de toda a espécie, quetranspõem o muro, e estatuetas de homens e animais, depedra, madeira e toda a espécie de matéria; naturalmente,entre esses transportadores, uns falam e os outros calam‐se.— Um quadro estranho e estranhos prisioneiros —comentou.— Assemelham‐se a nós — respondi. — E, para começar,achas que, numa tal situação, eles tenham alguma vezvisto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais do queas sombras projectadas pelo fogo na parede da cavernaque lhes fica defronte?— E como — observou —, se são obrigados a ficar decabeça imóvel durante toda a vida?— E com as coisas que desfilam, não se passa o mesmo?— Sem dúvida.

— Portanto, se pudessem comunicar uns com os outros,não achas que tomariam por objectos reais as sombrasque veriam?— É possível.— E, se a parede do fundo da prisão provocasse eco,sempre que um dos transportadores falasse, julgariamouvir outra coisa que não fosse a sombra que passassediante deles?— Não, por Zeus! — exclamou.— Forçosamente — prossegui — tais homens nãoatribuirão realidade senão às sombras dos objectosfabricados.— Agora, meu caro Gláucon — prossegui —, é precisoaplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemosatrás, comparar o mundo que nos descobre a vista com avida da prisão e a luz do fogo que a ilumina com a forçado Sol. Quanto à subida à região superior e àcontemplação dos seus objectos, se a considerares comoa ascensão da alma para a mansão inteligível, não teenganarás quanto à minha ideia, visto que também tudesejas conhecê‐la. Só Deus sabe se ela é verdadeira.Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundointeligível, a ideia do bem é a última a ser apreendida, ecom dificuldade, mas não se pode apreendê‐la semconcluir que é a causa de tudo o que de recto e beloexiste em todas as coisas; no mundo visível, elaengendrou a luz e o soberano da luz; no mundointeligível é ela que é soberana e dispensa a verdade e ainteligência; e é preciso vê‐la para se comportar comsabedoria na vida privada e na vida pública.

(Platão 1975: 229‐232)

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Platão e o neoplatonismoNa alegoria da caverna platónica, as almas viviam primeiro naesfera inteligível, na contemplação das realidades perfeitas, dasrealidades ideais. Por qualquer queda/pecado, caíram na esferasensível e ficaram submetidas ao corpo, apreendendo apenas assombras projetadas na caverna onde estão encerradas, ou seja,apreendendo apenas as realidades que os sentidos captam.Porém, as almas não perderam por completo a memória do seuprimeiro estado de clara visão racional. Assim, pelo esforço dareminiscência e pelo caminho dialético, podem chegar a captarpara além das sombras sensíveis as realidades inteligíveis quenelas se projetam. Na verdade, as almas podem efetuar aascensão da esfera sensível para a esfera inteligível, da sombrapara o real, da particular projeção da ideia de beleza sobre oobjeto amado para a sua cada vez mais geral projeção sobretodos os corpos belos.

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Platão e o neoplatonismoAs marcas do pensamento de Platão na filosofia neoplatónica no Renascimentomanifestam‐se:

• Na veia literária, pela difusão das doutrinas do amor divulgadas por Marsilio Ficinoe que encontramos, por exemplo, em Camões lírico (e.g.: “Transforma‐se oamador na cousa amada”‐ Camões 1973: 126).

• Por intermédio da corrente cristã (neoplatonismo cristão), na linha de SantoAgostinho. Este assimila os princípios de Platão que adapta às doutrinas doCristianismo, ideário que vem a repercutir‐se também em Camões (“Sôbolos rios”‐Idem, 105‐114) e nos escritores espirituais como Frei Heitor Pinto.

Para Platão e, na sua peugada, para neoplatónicos renascentistas, o Amor é erotismo,iluminação cognitiva e sublimação moral; prazer sensual e processo iniciáticoascensional do Homem.

O processo ascensional do homem pode ser graficamente expresso em trêsmomentos:

feritas humanistas  divinitas

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Humanistas Italianos do RenascimentoMarsílo Ficino:

Difusor e principal representante do neoplatonismo italiano

Pico Della Mirandola: Autor do manifesto do Humanismo ‐ Oratio de Hominis

Dignitate (Acerca da Dignidade do Homem)

Marsílio Ficino, filósofo italiano, é o maior representante do Humanismo florentino.Traduziu obras de Platão e difundiu as suas ideias. As obras de Ficino e de Giovanni Picodella Mirandola estão na origem dos grandes sistemas de pensamento renascentistas.

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Referências Bibliográficas• CAMÕES, Luís de (1973): Rimas. (Texto estabelecido eprefaciado por Álvaro Júlio da Costa Pimpão). Coimbra:Atlântida (Reeditado em 1994, com nota de apresentaçãode Aníbal Pinto de Castro).• PLATÃO(1975): República. Lisboa: Livros de Bolso Europa‐América.• SOARES, Maria Luísa de Castro (2007): Do Renascimentoà sua questionação. Sá de Miranda, Vol. I, Nº 71. Vila Real:UTAD,maxime pp. 51‐56.• SOARES, Maria Luísa de Castro (2013): Do Renascimentoà sua questionação. Camões lírico e Frei Agostinho da Cruz,Vol. II, Nº 93. Vila Real: UTAD.