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Plural 12
a estrutura
Mensagem de
Fernando Pessoa
Pintura de
Rinoceron
te
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Mensagem de Fernando Pessoa
Mensagem de Fernando Pessoa “Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da Humanidade.”
Fernando Pessoa, Páginas Ín-mas e de Auto-‐Interpretação
“A criação de um Portugal míAco foi um dos trabalhos da vida de Pessoa ao longo de muitos anos, e veio a configurar-‐se no único livro de poemas em português, que ele publicou: Mensagem.”
Jorge de Sena, in “Persona”
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Mensagem de Fernando Pessoa
q Escrita por Fernando Pessoa, entre 1913 e 1934, – num período de crescente crise nacional.
q Publicada no dia 1 de dezembro de 1934, no aniversário da restauração da independência.
q Única obra completa em português, publicada em vida do poeta.
Mensagem de Fernando Pessoa
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Mensagem de Fernando Pessoa
1.ª parte
Brasão 2.ª parte
Mar Português 3.ª parte
O Encoberto
Estrutura de Mensagem
Obra composta por 44 poemas, apresentados numa estrutura triparDda.
Mensagem
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Mensagem de Fernando Pessoa
Nascimento da pátria
q Fundação da nacionalidade, construção da pátria e do império. q Poemas que aludem aos fundadores
e construtores, heróis lendários ou históricos, converJdos em símbolos.
1.ª parte – “Brasão”
Significado da estrutura de Mensagem
Brasão: a matriz, o símbolo, o emblema, o selo da pátria.
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Mensagem de Fernando Pessoa
BRASÃO (6 letras) • símbolo emblemáJco, nobre, que se presta a dignificar algo; • nova epígrafe: Bellum sine Belllo (Guerra sem guerrear), a potência sem o ato;
a base, a fundação para a construção de algo; • cinco subpartes (as do Brasão), cada uma com poemas associados a um
conjunto de enJdades / símbolos representaJvos de algo dignificador de Portugal: símbolos míJcos ("Ulisses"), pré-‐históricos ("Viriato"), históricos ("Conde D. Henrique").
As partes do Brasão (cinco) • Primeira parte do BRASÃO, com dois poemas:
• “O dos Castelos”: Geografia / Portugal / Pessimismo / Visão • “O das Quinas”: relaJvização do divino
• Tal como Camões em Os Lusíadas, aqui também se começa por localizar
Portugal geograficamente; segue-‐se o traço de uma divinização limitada.
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Mensagem de Fernando Pessoa
• Segunda parte do BRASÃO – “Os Castelos”: símbolo de proteção; as conquistas dos heróis; desígnios ocultos que têm que ser desvendados. • Fundamentos da idenJdade nacional:
> míJcos > pré-‐nacionais > nacionais
• Simbologia de cada referência: • ConsJtuição de oito poemas:
> simbologia da união, do casamento, da base da raça da Ínclita Geração -‐ a Geração de Avis que sustentará o “Mar Português”. Terceira parte do BRASÃO -‐ “As Quinas”: símbolos históricos e emblemáJcos nacionais associados a um período áureo; dimensão espiritual: 5 quinas, 5 chagas de Cristo; consciência do desJno das 5 personagens e de Portugal.
• Simbologia de cada uma das referências: > I: a realeza / nobreza -‐ D. Duarte; > II: o sacrilcio, a sanJdade (caJvo de Fez) -‐ D. Fernando; > III: a cultura e o cosmopoliJsmo (sabedoria e viagem) -‐ D. Pedro; > IV: a menor notabilização (associada ao anonimato do povo português) -‐ D. João; >V: o úlJmo rei da dinasJa de Avis; o desejado que configurou a falha, a
perda, mas que se transformou em símbolo de vontade, de ideal -‐ D. SebasJão.
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Mensagem de Fernando Pessoa
• Quarta parte do BRASÃO – “A Coroa”: a realeza feita na base dos que para ela contribuem (um poema):
• Figura singular na consJtuição da dinasJa régia de Avis -‐ Nun'Álvares Pereira
• Quinta parte do BRASÃO – “O Timbre”: um grifo (abutre ou, segundo a
mitologia, misto de águia[remete para o céu, poder de ascensão] e leão[liga-‐o à terra]); sinónimo também de enigma, com a cabeça e duas asas; marca pessoal; símbolo de poder legíJmo; união de 2 naturezas: humana e divina; construção de uma obra de caráter divino realizada pelos humanos. • Cabeça do Grifo (Infante D. Henrique); • Asa do Grifo: D. João II -‐ rei que mais se notabilizou nos Descobrimentos; • Outra Asa do Grifo: D: Afonso de Albuquerque:
> maior vice-‐rei em terras da Índia > o sinal do império terrestre de que o “Mar Português” será
exemplo.
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Mensagem de Fernando Pessoa
Estrutura de Mensagem
“Brasão” Poemas Os Campos O dos Castelos
O das Quinas
Os Castelos Ulisses Viriato O Conde D. Henrique D. Tareja D. Afonso Henriques D. Dinis D. João I D. Filipa de Lencastre
As Quinas D. Duarte, Rei de Portugal D. Fernando, Infante de Portugal D. Pedro, Regente de Portugal D. João, Infante de Portugal D. SebasAão, Rei de Portugal
A Coroa Nun’Álvares Pereira
O Timbre A cabeça do Grifo: O Infante D. Henrique Uma asa do Grifo: D. João, O Segundo A outra asa do Grifo: Afonso de Albuquerque
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Mensagem de Fernando Pessoa
Versos exemplares de poemas da 1.ª parte -‐ uma visão míDca da construção da pátria, do sonho e ânsia do império.
§ “O mito é o nada que é tudo” (“Ulisses”) § “Assim se Portugal formou” (“O Conde D. Henrique”) § “A voz da terra ansiando pelo mar” (“D. Dinis”) § “Humano ventre do Império” (“D. Filipa de Lencastre”) § “Sem a loucura que é o homem?” (“D. SebasJão, Rei de Portugal”) § “É excalibur, a ungida / Que o Rei Artur te deu” (“Nun’ Álvares Pereira”) § “Tem aos pés o mar novo” (“O Infante D. Henrique”) § “Braços cruzados, fita além do mar” (“D. João, O Segundo”)
1.ª parte – “Brasão”
Significado da estrutura de Mensagem
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Realização da pátria
q Apogeu da ação portuguesa dos Descobrimentos.
q Poemas inspirados na ânsia do Desconhecido e no heroísmo da luta com o mar e seu desvendamento.
2.ª parte – “Mar Português”
Significado da estrutura de Mensagem
Mar Português: sonhado e desvendado pelos heróis e nautas; português por direito.
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Mensagem de Fernando Pessoa 2 ª parte – “Mar Português”:
• Registo dos pontos fulcrais da expansão, dos descobrimentos, de um império material,
terrestre que se desfez.
• Maturidade, vida centrada no mar.
• Nova epígrafe: Possessio Maris (Posse dos Mares), a ação conseguida, o exemplo a
considerar para o futuro.
• O domínio do mar permiJu estabelecer ligações entre os povos.
• Símbolo de vida e da morte: refúgio; reflexo do céu.
• 12 poemas simbólicos representaJvos da ação (desde “O Infante” a “Prece”, numa simetria
que convoca o iniciador de algo que falhou e conclui com o pedido, o convite, o desejo do
retorno).
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Mensagem de Fernando Pessoa 2ª parte – “Mar Português”:
• Posse dos mares
> “O Infante” (o início, o propulsor de um império que se desfaz) em
simetria com “Prece” (o desejo do retorno).
> “Horizonte” em simetria com “A ÚlJma Nau”.
> “Padrão” em simetria com “Mar Português”.
> “O Mostrengo” (dificuldade e superação) em simetria com “Ascensão
de Vasco da Gama”(heroicização, divinização do herói).
> “Epitáfio de Bartolomeu Dias” em simetria com “Fernão de Magalhães”) –
exemplo dos que encabeçam expansão, na descoberta inicial do caminho maríJmo para a
Índia / na ligação do AtlânJco com o Pacífico.
> “Os Colombos” (a descoberta sem magia) e a expansão para o
Ocidente.
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Estrutura de Mensagem
Poemas O Infante Horizonte Padrão O Mostrengo Epitáfio de Bartolomeu Dias Os Colombos Ocidente Fernão de Magalhães Ascensão de Vasco da Gama Mar Português A ÚlAma Nau Prece
“Mar Português” não apresenta divisões temáJcas. Integra 12 poemas cujos ztulos são clarificadores.
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Mensagem de Fernando Pessoa
Versos exemplares de poemas da 2.ª parte -‐ a realização transcendente da concreDzação do impossível e da passagem dos limites do Horizonte que fez português o mar.
§ “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” (“O Infante”) § “Cumpriu-‐se o Mar (...) / Falta cumprir-‐se Portugal” (“O Infante”) § “O sonho é ver as formas invisíveis / Da distância imprecisa” (“Horizonte”) § “O mar sem fim é português” (“Padrão”) § “Aqui ao leme sou mais do que eu: / Sou um Povo que quer o mar que é
teu” (“O Mostrengo”) § “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena.” (“Mar Português”) § “E outra vez conquistemos a Distância / Do mar ou outra” (“Prece”)
2.ª parte – “Mar Português”
Significado da estrutura de Mensagem
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Morte da pátria
q Morte das energias de Portugal. q Poemas de afirmação do
sebasJanismo. q Apelo ao sonho e ânsia messiânica da
construção do Quinto Império.
3.ª parte – “O Encoberto”
Significado da estrutura de Mensagem
Renascimento
O sonho encoberto, apagado no nevoeiro; a chama que é preciso reacender.
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Mensagem de Fernando Pessoa
• O ENCOBERTO -‐ ztulo enigmáJco -‐ designação para um mito: não a figura histórica, mas o que ela representa; -‐ consJtuição de três subpartes (nova totalidade, nova ação, novo ato); -‐ nova epígrafe: Paz in Excelsis (Paz nas alturas) > domínio espiritual; -‐ fecho com a expressão “Valete, Fratres” (Felicidade, irmãos) > cf. Sinal da irmandade; -‐ morte como ressurreição/renascimento através do regresso de D. SebasJão e a concreJzação do V Império. • ArJculação desta terceira parte com o final da segunda: “A ÚlJma Nau” (a que levou D. SebasJão para uma ilha indescoberta > metáfora para o mito, a lenda), “Prece” (desejo do retorno > tempo e o império perdidos que se querem ver reedificados). • A parte da construção do mito, feito de símbolos, de avisos, de tempos (leitura sebasJanista da obra, da recuperação do mito messiânico). • Aceitação da morte , da queda do passado como força regeneradora, como mito fecundador de um futuro.
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• “Os Símbolos”: “D. SebasJão”: não como rei, mas como mito fecundador “Quinto Império”:
• referência aos quatro anteriores: • babilónico • grego • romano • cristandade
• Traço disJnJvo deste novo império: exclusivamente espiritual, cultural.
“O Desejado”: instauração do mito recuperado. “As Ilhas Afortunadas”: relação com as ilhas “indescobertas” de “A
ÚlJma Nau”. “O Encoberto”: transformação do “Desejado” numa enJdade
herméJca.
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• “Os Avisos”: • “Bandarra”: profeta messiânico (séc. XVI), que lançou as bases do mito
sebasJanista. • “António Vieira”:
• associa o sebasJanismo à legiJmação do rei D. João IV (Restaurador) da Independência;
• A História do Futuro, do Padre António Vieira ,foi uma obra desJnada a explanar como Portugal estaria predesJnado a ser a cabeça do Quinto Império – Espiritual (tendo o rei português como chefe e o Papa como líder espiritual.
• “(Screvo meu livro à beira – mágoa)”: • marca do “eu” sujeito-‐poéJco, seguindo a lógica dos poemas
anteriores poder-‐se-‐ia inJtular “Pessoa “.
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• “Os Tempos”: “Noite”: sugestão da escuridão, do negaJvismo, do tenebroso; “Tormenta”: alusão à inquietação, à ansiedade, à agitação própria da época; “Calma”: “Depois da tempestade vem a bonança”; “Antemanhã”: algo, indefinido, prestes a chegar, a mudar o rumo; “Nevoeiro”:
• impede vislumbrar o rumo ansiado; • mostra a incerteza que o país atravessa; • aguarda pela “Hora” de sol.
• Fecho da parte: despedida em laJm (Valete, Fratres), desejando Felicidade a uma irmandade – a dos eleitos para a mensagem a transmiJr.
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Estrutura de Mensagem
“O Encoberto” Poemas Os Símbolos D. SebasAão
O Quinto Império O Desejado As Ilhas Afortunadas O Encoberto
Os Avisos O Bandarra António Vieira Screvo meu livro à beira-‐mágoa
Os Tempos Noite Tormenta Calma Antemanhã Nevoeiro
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Versos exemplares de poemas da 3.ª parte -‐ só o sonho, a loucura, a “febre de Além” farão Portugal ressurgir do nevoeiro e procurar a
utopia do impossível, do Longe, da Distância, do Absoluto.
§ “Ser descontente é ser homem” (“O Quinto Império”) § “Quem vem viver a verdade / Que morreu D. SebasAão?” (“O Quinto Império”) § “Que voz vem no som das ondas / Que não é a voz do mar? (“As Ilhas Afortunadas”) § “Quando virás ó Encoberto, / Sonho das eras português?” (“Screvo meu livro...”) § “É a busca de quem somos, na distância / De nós” (“Noite”) § “Que jaz no abismo sob o mar que se ergue? /Nós, Portugal” (“Tormenta”) § “Chamar Aquele que está dormindo / E foi outrora Senhor do
Mar.” (“Antemanhã”)
§ “Ó Portugal, hoje és nevoeiro...” (“Nevoeiro”) § “É a Hora!” (“Nevoeiro”)
3.ª parte – “O Encoberto”
Significado da estrutura de Mensagem
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Em síntese § A estrutura da Mensagem representa um ciclo de nascimento, vida e morte da pátria. § Mas esta morte não é definiJva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império,
futuro e espiritual – o Quinto Império. § Esse ciclo é visível na estrutura triparJda da obra – Brasão, Mar Português, O Encoberto.
Significado da estrutura de Mensagem
1. Brasão Nascimento
Os fundadores e construtores do império
2. Mar Português Vida
Realização do império territorial sonhado
Renascimento do império espiritual:
Quinto Império
3. O Encoberto Morte
Fim das energias do império
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§ “E a nossa grande Raça parArá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas «daquilo que os sonhos são feitos». E o seu verdadeiro e supremo desAno, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal anterremedo, real izar-‐se-‐á divinamente”.
Fernando Pessoa, in “A Águia”
Recurso do Manual Plural 12: Raiz Editora -‐ adaptado