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LIDERA_Relato de uma Experiência para o Desenvolvimento de Líderes Empresariais Sustentáveis

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Organizador

Tião GuerraInstituto Fonte para o Desenvolvimento Social

Colaboradores

Luiz Antonio ChavesAdigo Consultores

Saritta Falcão BritoSusana LealInstituto Ação Empresarial pela Cidadania

Copyright © 2007 Instituto Ação Empresarial pela Cidadania Todos os direitos reservados ao Instituto Ação Empresarial pela Cidadania Av. Cruz Cabugá, 767, Santo Amaro, Recife – PernambucoCEP: 50040-000Fone/fax: 55 (81) 3223 4354 / 3221 [email protected]

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

A reprodução dos textos é autorizada,no todo ou em parte, desde que citada a fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Lidera: relato de uma experiência para desenvolvimento de lideranças empresariais sustentáveis / Organizado [por] Tião Guerra. --- Recife: Copiadora Nacional; JBR Engenharia, 2007.

132 p. : il.; 30 cm.Inclui bibliografia1. Lideranças empresariais – Autodesenvolvimento. 2. Redes Sociais. I. Guerra, Tião (Org.)

PublicaçãoInstituto Ação Empresarial pela Cidadania

ApoioFundação KelloggSave The Children/Reino Unido

Parceiros InstitucionaisAdigo ConsultoresInstituto Fonte para o Desenvolvimento

Equipe do Programa Lidera 2005–2006

CondutoresLuiz Antonio Chaves – Adigo ConsultoresTião Guerra – Instituto Fonte para o Desenvolvimento

Coordenação-geralSusana Leal – Instituto Ação Empresarial pela Cidadania

Coordenação TécnicaSaritta Falcão Brito – Instituto Ação Empresarial pela Cidadania

AssessoriaFátima Tavares – Instituto Ação Empresarial pela Cidadania

Equipe desta publicação

OrganizaçãoTião Guerra – Instituto Fonte para o Desenvolvimento

ColaboraçãoSusana Simões Leal – Instituto Ação Empresarial pela CidadaniaSaritta Brito – Instituto Ação Empresarial pela CidadaniaLuiz Antonio Chaves – Adigo ConsultoresParticipantes da Rede Lidera Rede LideraAnchieta WanderleyCarl HauenschildDaniel QueirozFrederico Cavalcanti de Petribú Vilaça Ivan RochaJoão FreitasMiguel DuarteOscar RachePedro PereiraRanúsio CunhaRenato DutraRoberto MunizWedja Pires Projeto gráfico e diagramaçãoLucídio Leão ImpressãoCopiadora NacionalJBR EngenhariaEdição 2005–2006

Somos profundamente gratos à Fundação Kellogg por acreditar e apostar na possibilidade da existência de lí-deres empresariais sensíveis, éticos e responsáveis, com visão de longo prazo e nível de consciência para com-preender a mudança que se deve operar no modo das empresas fazerem negócios. Agradecemos também à Save The Children/Reino Unido e à Visão Mundial pelo impor-tante apoio e a toda a equipe do Instituto Ação Empre-sarial pela Cidadania, que se envolveu de corpo e alma nesse projeto.

Instituto Ação Empresarial pela Cidadania

1 PREFÁCIO 7

2 INTRODUÇÃO 8

3 O CAMINHO DESTA SISTEMATIZAÇÃO 10

4 A HISTÓRIA E AS CONDIÇÕES DE NOSSA APRENDIZAGEM 124.1 Os Encontros 124.2 Os Cuidados para Aprender 144.2.1 Os cuidados do fazer 144.2.2 Cuidados do relacionar-se 15

5 METODOLOGIA E CONTEÚDO DOS MÓDULOS 175.1 A Construção de uma Visão Geral do Caminho, do Método 175.2 Estruturação dos Módulos 195.3 Metodologia de Trabalho – um Dia Típico no Lidera 205.3.1 Módulo I – A visão integrada da evolução da consciência social 225.3.2 Módulo II – O papel do líder e a visão do indivíduo, da empresa e da sociedade 235.3.3 Módulo III – Os diferentes cenários: oportunidades e ameaças 245.3.4 Módulo IV – Estratégias de ação para promover mudanças 295.3.5 Módulo V – As qualidades das lideranças do futuro 31

6 A AVENTURA DE TREZE EMPRESÁRIOS (RUMO A SI MESMOS) 346.1 Carl von Hauenschild 346.2 Daniel Queiroz 366.3 Frederico Cavalcanti de Petribu Vilaça (Fred) 376.4 Ivan Rocha 396.5 João Freitas 406.6 José Anchieta Wanderley (Anchieta) 436.7 Miguel Duarte 436.8 Oscar Rache 446.9 Pedro Pereira 476.10 Ranúsio Santos Cunha 496.11 Renato Dutra 506.12 Roberto Lemos 516.13 Wedja de Matos Henrique Pires 53

7 ANOTAÇÕES SOBRE NOSSAS APRENDIZAGENS 557.1 Nossas Perguntas ao Final do Quinto Módulo 557.2 Os Aprendizados de Cada Parceiro 567.2.1 Aprendizados da AEC 567.2.2 Aprendizados da Adigo 567.2.3 Aprendizados do Fonte 577.2.4 Aprendizados Comuns aos Três Parceiros 57

8 O PAPEL E AS HABILIDADES DO FACILITADOR DO PROGRAMA LIDERA 598.1 O Que Significa Ser um Facilitador no Contexto do Programa Lidera? 598.2 O Que é Requerido de um Facilitador do Programa Lidera? 608.3 O Que Isso Tem a Ver com o Trabalho do Facilitador? 608.4 O Nosso Lado Sombrio 618.5 Como Tomar Conhecimento Desse Lado Sombrio? 618.6 O Amor 618.7 Ir Além do Conteúdo 628.8 Ser autêntico 62

9 POSFÁCIO 64

10 BIBLIOGRAFIA 65

SUMÁRIO

RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PARA DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS EMPRESARIAIS SUSTENTÁVEIS

Assim como não existem verdades absolutas no mundo, também não existem caminhos certos nem cer-teiros para o desenvolvimento social. As políticas e os programas de desenvolvimento públicos, privados e não-governamentais são geralmente explorações de caminhos com o grande desafio da incerteza. Pou-cos deles, porém, têm como alvo o desenvolvimento das capacidades das pessoas que estão por trás, ao lado ou na frente desses processos. Investir nas pessoas e nos coletivos dos quais são parte para atuar na área pública parece ser uma ação que não leva a resultados imediatos nem visíveis.

Outra ausência no campo do desenvolvimento social é a atuação comprometida e relevante do em-presariado. Por mais avanços que o investimento social privado e a Responsabilidade Social Empresarial tenham tido nestes últimos anos, é evidente que eles (e elas) ainda não são atores sociais de devida relevância e compromisso.

Foi a partir dessas duas premissas que o Ação Empresarial pela Cidadania de Pernambuco e a Funda-ção Kellogg se associaram para criar o Programa Lidera. O AEC aportando todo o seu conhecimento e a sua experiência de vários anos de trabalho no campo da promoção da Responsabilidade Social Empre-sarial, e a Fundação Kellogg com sua preocupação de “investir nas pessoas” para que elas invistam nas suas comunidades e sociedades.

O Lidera levou muito tempo para sua construção, na medida em que priorizou entender quais eram as necessidades dos empresários para enxergar melhor suas possibilidades e capacidades de atuar me-lhor no campo social. Não se partiu de receitas para formação nem de cursinhos pré-desenhados. Foi construído na prática, sentindo o que os protagonistas necessitavam para o desenvolvimento de suas competências sociais. Mesmo que o foco do Lidera seja no desenvolvimento pessoal e no autoconheci-mento dos participantes do programa, entendemos que esse é só um primeiro passo para uma atuação mais qualificada desses empresários na sociedade. Sim, é importante que as pessoas se incomodem e “aprendam umas com as outras”, mas é muito mais importante ainda, para o bem da sociedade, ver e ter evidência de como essas mudanças pessoais levam às mudanças sociais. Essa continua sendo uma aposta e um desafiante processo para o qual o AEC tem, além da responsabilidade, as competências e capacidades para liderar.

Este livro mostra como esse caminho já foi aberto e, ao mesmo tempo, é um convite para que outros, muitos outros, possam também trilhá-lo.

Andrés ThompsonDiretor de programas

Fundação W. K. Kellogg1 P

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Acreditamos que é a partir das pessoas, e através delas, que as mudanças acontecem. Esse foi um dos princípios que norteou o trabalho sobre o qual falaremos a seguir e a razão de iniciar essa história com um depoi-mento pessoal.

Era 1999, um tempo de mudanças se de-senhava diante mim. Havia tomado a decisão de deixar para trás 24 anos de vida profis-sional na iniciativa privada para empreender uma nova carreira que me levaria para além de mim mesma. Era como se tudo se movesse ao mesmo tempo numa espiral contínua. No meio desse processo e de uma intensa bus-ca, encontrei o projeto Ação Empresarial pela Cidadania, que desde 1998 caminhava para se iniciar no Brasil, com o apoio da Funda-ção Kellogg e do comprometimento de cinco líderes sociais que atuavam em institutos e fundações empresariais de quatro diferentes regiões do País.

Esse grupo acreditava na via da Responsa-bilidade Social Empresarial como fator-chave para a implementação de mudanças na so-ciedade brasileira. Havia um grande desafio a ser enfrentado: a desigualdade social, que, ao mesmo tempo, tornou-se causa e conse-qüência de questões que se haviam tornado paradigmáticas neste país.

Reuni-me a eles e, em Pernambuco, abraçamos

Susana LealInstituto Ação Empresarial pela Cidadania

De pequenos grãos, nascem as grandes árvores.David Bornstein

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a causa da Responsabilidade Social Empre-sarial quando esse tema ainda parecia tão distante das realidades das empresas e dos empresários locais.

Foram dois anos de movimento, e já con-távamos com o engajamento de alguns em-presários e outras pessoas comprometidas com esse tema quando instituímos o Instituto Ação Empresarial pela Cidadania – Pernam-buco. Hoje, cinco anos mais tarde, contamos com o envolvimento de todos os setores em-presariais do Estado e com mais de sessenta empresas associadas que investem no desen-volvimento social de Pernambuco.

Percorrido esse caminho de sensibilização e engajamento das empresas pernambucanas na causa da Responsabilidade Social Empre-sarial, algo novamente nos inquietava: que re-sultados efetivos tínhamos e eram sinais de que estaríamos no caminho certo da mudan-ça? Foi nessa ocasião que, em 2004 e 2005, tivemos a oportunidade de participar de dois encontros de organizações promotoras da Responsabilidade Social Empresarial da Amé-rica Latina e do Caribe parceiras da Fundação Kellogg para discutir as grandes questões que permeavam esse movimento na região. Nesses encontros surgiram fortes questionamentos:

• Para que atuamos no campo da Responsabi-lidade Social Empresarial? • Que resultados efetivos produzimos para além das empresas? • O que estamos transformando em nossa so-ciedade? • Qual a medida do comprometimento das lideranças empresariais com a transformação social que se pretende ver?

Não havia respostas simples nem concretas a essas perguntas, e isso nos incomodava. Tal-vez a grande questão de fundo fosse: em que direção deveríamos centrar foco e energias para fazer acontecer com integralidade esse movimento? Na direção das empresas como “seres” coletivos? Ou na direção de seus líde-res como indivíduos e cidadãos?

Lideranças empresariais... Lideranças... Este seria o caminho! Mas como?

É nesse contexto que surge a idéia de traba-lharmos diretamente com as lideranças em-presariais de maneira mais aprofundada, com o indivíduo; começar a mudança a partir de

cada um. Claro! Churchill já dizia que “So-mente mudando a forma de pensar é que se pode ampliar as fronteiras do possível”.

Nasceu assim a proposta do Lidera, e mais uma vez a Fundação Kellogg apostou em di-ferentes formas para se trabalhar o tema da liderança. Entretanto, não tínhamos pronto o caminho para chegarmos aonde queríamos. Nesse mesmo período, talvez por sincroni-cidade, tivemos a oportunidade de partici-par do programa Profissão: Desenvolvimento, realizado pelo Instituto Fonte entre 2004 e 2005, em São Paulo. Sua metodologia e forma de trabalhar lideranças nos revelou o caminho a seguir. Partimos dessa inspiração para desenvolver um programa que reunisse metodologias e conceitos que conectassem o indivíduo, o mundo social e o empresarial ao mesmo tempo. A idéia era promover o encontro entre esses três mundos. Para tal, a receita seria reunir organizações como o Instituto Fonte, com sua experiência em pro-cessos de desenvolvimento de entidades e li-deranças sociais, e outra organização com ex-periência reconhecida no campo empresarial que trabalhasse com esses mesmos temas no ambiente empresarial. Encontramos a Adigo Consultores, reconhecida na sua atuação com indivíduos, grupos e organizações empresa-riais. Esses dois parceiros foram chave para o sucesso desse empreendimento; outra chave, extremamente importante, foi a identificação de lideranças empresariais na Região Nor-deste que estivessem aptas para participar de um programa como o que oferecíamos e que estivessem interessadas nele. Esse foi o desafio que coube ao Ação Empresarial pela Cidadania.

Partimos assim, conscientes de que as idéias de mudanças iniciam nos indivíduos; é verdade, porém, que, sozinhos, muito pouco — ou quase nada — se pode fazer. Esse foi o tesouro dessa parceria e a essência do que quisemos transmitir no Lidera. Um pequeno grão tem grande potencial de transformação, mas, para que ele se transforme numa imen-sa e frondosa árvore com inúmeros galhos e raízes, necessitará de inúmeros outros fatores tão essenciais quanto ele. O coletivo é a seiva que dá vida a essa árvore.

Foi assim que, juntos, nos lançamos, Ação Empresarial pela Cidadania, Adigo e Institu-to Fonte, nesse desafio do Programa Lidera, e, parte dos resultados da primeira edição, vo-cês poderão ver nas próximas páginas.

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RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PARA DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS EMPRESARIAIS SUSTENTÁVEIS

Tião GuerraInstituto Fonte para o Desenvolvimento

O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário ao aluno, de uma fala para ele em uma fala com ele.Paulo Freire

Quando desenhamos o formato deste documento e tomamos decisões sobre seu conteúdo, o fizemos de-sejando que pudesse, partindo de uma escuta atenta a tudo o que foi desejado, vivido, pensado e constru-ído durante a primeira edição do Programa Lidera, ins-pirar quem se encontrasse com ele. Inspiração relacio-na-se com estimular a fantasia; aguçar o foco e clarear as premissas que nos levam a agir. Para tocar nessas “teclas” tão especiais, decidimos trazer a essência da metodologia do Programa Lidera, o seu cerne, aquilo que fez mover e mudar a vida das treze pessoas que participaram de sua primeira edição.

Transformar-se para transformar; conhecer-se in-teriormente para atuar fora; conhecer fora para atuar dentro; que a vivência do programa fosse um “ponto de mutação”. Aqui está a essência da “metodologia Li-dera”, a qual procuraremos dividir com o leitor atento.

O processo que gerou este documento foi longo e saboroso. A estrutura deste documento foi concebida ao longo de algumas reuniões no decorrer do primei-ro semestre de 2007, e tive o privilégio de provocar idéias e sentimentos na equipe que atuou na primeira edição, ao mesmo tempo que coordenava os traba-lhos de reunir os textos nascidos dessas provocações e de nossas muitas memórias e anotações.

O conceito do Ciclo Ação–Aprendizagem, con-forme apresentado pelo CDRA [www.cdra.org.za/Libra-ryandResources/Nuggets.htm], foi nossa escolha para o trabalho antes e durante os cinco módulos, conside-rando que ele corrobora a metodologia do programa 3

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em seus elementos essenciais.O conceito Ação–Aprendizagem

está baseado na idéia de que adultos aprendem a partir do mergulho em sua própria prática. Da compreensão ampliada sobre o que motivou deter-minada ação; sobre o caminho trilhado para praticá-la e sobre as conseqüên-cias dessa ação, que podem levar a um aprimoramento, a uma recriação, a uma reinvenção dessa prática e de seu sujei-to. Isso se dá de forma cíclica, gerando uma espiral de crescimento de níveis de consciência sobre a prática de cada um.

Perguntas referenciais para a condução do proces-so de aprendizagem

Ação: O que aconteceu de significante? Descreva os eventos. Quem esteve envolvido e o que fizeram? Como nós nos sentimos?

Reflexão: O que realmente mexeu conosco? Que figu-ras emergem? O que ajudou? O que dificultou? O que nós esperávamos? O que nós assumimos? Nós conhe-cemos outra experiência que pode ser útil aqui?

Aprendendo: O que teríamos feito de diferente? O que aprendemos, que nos deu insights? Que novas questões emergiram? Que outras teorias nos ajudam a aprofundar este aprendizado?

Planejando: O que isso significa para a prática? O que temos que dar continuidade, parar de fazer ou fazer menos? Qual seu próximo passo?

No propósito de colher, da nossa própria ação, as pé-rolas do nosso aprendizado e desenvolvimento, a prá-tica da avaliação contínua, ao longo da realização do Lidera, fez parte do nosso cotidiano; companheira por vezes doce, outras nem tanto, mas sempre essencial.

Cada módulo foi avaliado, diariamente, junto aos participantes, de diversas maneiras: nas plenárias, que chamávamos metaforicamente de correio noturno; ao término das diversas atividades; ao final de cada dia; e no encerramento dos módulos. A partir desse “ter-mômetro cotidiano”, as necessidades dos participan-tes eram constantemente mapeadas, e, ao longo dos próprios seminários, eram realizadas adaptações nos conteúdos, nas atividades e no ritmo dos dias de tra-balho. Ainda durante os seminários, a equipe coorde-nadora se reunia, a cada dia, para trocar impressões, compartilhar relatos dos participantes e decidir sobre mudanças ou manutenção dos rumos previstos.

Ao fim de cada seminário, era feita uma plenária retrospectiva do módulo, da qual nasciam pondera-ções, “quase objeções” e importantes indicações para próximos passos que se refletiam nas atividades inter-modulares e nos módulos seguintes. A este procedi-mento chamamos avaliação “a quente”. Uma semana depois de cada módulo, os participantes recebiam por e-mail um roteiro para avaliação do módulo, o qual provocava uma reflexão mais distanciada, o que chamamos de avaliação “a frio”.

Munidos desses preciosos materiais,“frio” e “quen-te”, a equipe coordenadora se reunia por um ou dois dias entre cada módulo, e aí, partindo dele, buscava reconstruir o sentido do programa, para os partici-pantes e para si, frente aos objetivos aos quais se havia proposto; só então, depois disso, planejava a agenda intermódulo e a agenda do próximo módulo.

Assim foi nosso cotidiano de aprendizagem duran-te esse um ano e meio de ação dentro do Lidera.

Este documento tem três grandes movimentos:

1. Uma síntese de nosso caminho metodológico e do conteúdo básico de cada módulo.

2. Os depoimentos dos treze empresários sobre o que foi participar do programa e os movimentos cau-sados por ele em sua vida.

3. Nossas reflexões, aprendizagens, sobre esta primei-ra edição do Programa Lidera e possíveis indicações para próximas edições.

Para a colheita de material para a composição deste documento, pudemos beber das preciosas, minucio-sas anotações de todas as reuniões; dos nossos “ca-dernos de cada dia” e de nossa memória pessoal. Para o Capítulo 6 — com o relato dos participantes —, valemo-nos de nossas anotações e de um seminário, em março de 2006, com alguns membros da Rede Lidera, nascida do primeiro grupo de participantes.

RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PARA DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS EMPRESARIAIS SUSTENTÁVEIS

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Caminante, no hay camino,se hace camino al andar. Todo pasa y todo queda,pero lo nuestro es pasar,pasar haciendo caminos, caminos sobre la mar.Antonio Machado

4.1 Os Encontros

Era uma vez uma organização que acreditava que empresários podem ser protagonistas de mudan-ças. Que acreditava em empresas como espaços de cidadania. Que acreditava que mudanças so-ciais interessam a todos os que se indignam com a desigualdade e a injustiça social.

E foi assim que começou a história desse programa. A crença de que o envolvimento de empresários é imprescindível à criação de novos arranjos sociais levou o AEC–PE a experiências e encontros que marcaram a singularidade dessa iniciativa. Encontros de pessoas com pessoas. No lugar certo. Na hora certa.

O primeiro deles foi o da Fundação Kellogg com o AEC. Apesar de a Fundação ter com o AEC uma relação próxima (já que foi no âmbito do Programa LIP que o projeto Ação Empresarial pela Cidadania surgiu), foi o convite da Fundação para que o AEC organizasse os Seminários Itinerantes 2003 e 2004, voltado para sensibilização de li-deranças empresariais de oito países da América Latina e do Caribe que despertou os primeiros impulsos de construir uma versão regional desse programa.

Em 2004, Susana Leal, superintendente do AEC–PE, iniciou sua participação no programa Profissão: Desenvolvimento, organizado pelo Insti-tuto Fonte. Esse fato marcou o segundo grande momento do programa. O encontro do impulso criativo com o seu princípio filosófico. Um pro-4

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grama de RSE para lideranças empresariais preci-saria estar focado no indivíduo enquanto centro de valores, relação e ação no mundo.

Nesse mesmo ano, o contato com o programa Formação de Consultores: o Líder como Facilitador, organizado pela Adigo Consultores, revelou, à equipe do AEC–PE, como os princípios filosófi-cos, vivenciados na experiência com o Instituto Fonte, poderiam ser aplicados ao perfil empre-sarial e, também, possibilitou a compreensão da linguagem e abordagem metodológica mais

apropriadas para atender às necessidades de de-senvolvimento de lideranças empresariais.

Finalmente, em 2005, Adigo e Fonte se en-contram com o AEC–PE pela primeira vez, para a construção, a seis mãos, dos primeiros passos da história desse programa. E foi assim que tudo começou.

Abaixo, na linha do tempo, destacamos ou-tros fatos que marcaram a trajetória do nome, da imagem, da forma, do local, da audiência, enfim, da memória do Lidera.

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4.2 Os Cuidados para Aprender

O caminho de aprendizagem revelado no desen-rolar da experiência do Lidera foi trilhado por pessoas, grupos e organizações interessadas em conhecer novas possibilidades de agir. De buscar outros significados para o seu fazer.

O foco de aprendizagem do Lidera esteve voltado para a observação de uma prática meto-dológica exigente e diferenciada, que colocava o indivíduo no centro da experiência e utilizava-se de diferentes linguagens para estimulá-lo a ver com os seus próprios olhos.

A relação do AEC–PE, do Instituto Fonte e da Adigo Consultores na estruturação dessa prática metodológica exigiu de cada organização uma postura complementar no sentido de experi-mentar, rever e acomodar conceitos, princípios, talentos e papéis muito próprios.

Para que pudéssemos conviver e compartilhar nossas experiências diversas e complementares, foi preciso estabelecer acordos em duas áreas. Aqui as chamaremos de Cuidados do Fazer e Cui-dados do Relacionar-se.

4.2.1 Os Cuidados do Fazer

Na seleção dos participantes:

• Identificar e acionar redes e pessoas que pos-sam apoiar na convocatória dos participantes.

Sugerir como critérios:

» Ser empresário ou empresária de qualquer por-te que atue no Nordeste.» Ter trajetória que demonstre capacidade de li-derar.» Ter interesse na questão social.» Ter compromisso em participar — responsabi-lidade de estar presente e de trabalhar.» Ter idade acima de 25 anos.

• Selecionar pessoas de perfis complementares (considerar a diversidade de gênero e gerações), porque fortalece muito o grupo e dá abertura para novas experiências e atividades diferenciadas.• Elaborar e produzir material de divulgação do projeto — hotsite, fôlder impresso e eletrônico.• Elaborar a agenda preliminar (com datas e te-máticas dos módulos) e resumos institucionais das organizações realizadoras e apoiadoras (com logos) para divulgação.• Sugerir à agência responsável pela comunica-ção que esta deve atrair o olhar e a atenção dos

empresários e despertar seu interesse através de perguntas sobre questões que pairam na mente de muitos em relação a Responsabilidade Social, desenvolvimento sustentável, etc.• Definir modelo da ficha de inscrição e outros instrumentos que irão mostrar evidências do perfil dos candidatos.• Entrevistar, através de visitas ou por telefone, os candidatos interessados, tendo em mente que esse momento marca o início do programa para os participantes.• Elaborar o mailing com a relação dos partici-pantes eleitos.• Sugerir como briefing para a campanha de co-municação “Conhecer lugares nunca antes co-nhecidos”, fazendo alusão a viagens interiores e exteriores. No planejamento dos módulos:

• Estudar as regiões do Nordeste que caracteri-zem as realidades que queremos trabalhar com o grupo.• Desenvolver conteúdos metodológicos que se-jam condizentes com essas vivências.• Cuidar minuciosamente da logística.• Visitar cada local antes de cada módulo, para alinhar e cuidar de cada detalhe. • Antes de cada módulo, informar os participan-tes sobre o lugar que será visitado, mantendo expectativas.• Valorizar o lugar que os receberá: conforto, sim-plicidade e cuidado individual. Mensagens apro-priadas a cada dia, quitutes locais, alimentação saudável e leve, docinhos e frutas em cada apo-sento, criando um clima para reflexão individual. • Preparar atividades culturais que destaquem a identidade local.• Criar momentos de integração do grupo nesses espaços.• Garantir um intervalo de tempo mínimo de oito semanas entre um módulo e outro.• Preparar a equipe para os módulos e para es-clarecer todos os pontos.• Garantir que, nos momentos de integração e de visitas, a equipe não vai se dispersar.

Com a prática metodológica:

• Definir roteiro e fio condutor da aprendizagem.• Identificar arquétipos, conceitos, textos relati-vos, métodos que serão abordados e materiais para cada módulo e definir o material de apoio apropriado.• Consensuar com a equipe sobre como lidar

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com o tempo para diminuir a angústia, sabendo que há atividades que são Chronos e outras que são Kairós. A primeira é o tempo que se marca na agenda, e a segunda, o tempo para acontecer.• Estar atento para os momentos de bloqueio do grupo.• Esclarecer, para equipe e participantes, que o papel do facilitador é ajudar o grupo a criar olhos para ver o que está ali e que as pessoas, normalmente, não conseguem ver que o consul-tor não pode ter o papel de supervisor.• Compartilhar, à noite, tudo o que foi discutido durante o dia, para que possamos ver todos os pontos.

Com os momentos de avaliação:

• Definir cuidados, mecanismos e sistemática da avaliação para a equipe, tendo como pressupos-to o comportamento de cada participante.• Tratar do processo de avaliação a partir da de-finição dos módulos.• Definir o momento em que a equipe coorde-nadora estará ajustando o que bloqueou e fluiu durante o dia.

Com as atividades intermódulos:

• Fazer reunião para avaliação do módulo ante-rior e planejamento do próximo módulo.• Ter comunicação com o grupo, aguçando ex-pectativas e provocando interesse para que não esfriem.• Visitar os locais escolhidos, ter conhecimento do projeto social, elaborar o roteiro e preparar as pessoas.• As tarefas devem proporcionar a reflexão sobre os conteúdos e as ações do módulo a partir das vivências pessoais dos participantes, a prática no centro estimula as pessoas, ex.: 1) Conte um caso no qual você está envolvido na sua empre-sa, em meia folha, como evoluiu esse caso? O que você está pensando? O que está fazendo? 2) Quando você se deparou com a questão ética ou com o conflito de ter tomado uma decisão er-rada? Quando apareceu um conflito e como você se comportou? O que isso gerou? • As tarefas devem ser leves, porque essas pes-soas são muito ocupadas e devem fazer algo que seja prazeroso.

Esses foram nossos cuidados básicos com o fazer. Enquanto grupo, a dimensão da aprendizagem tomou corpo e adquiriu forma ao colocarmos em prática os pontos identificados pela equipe de

coordenação como aspectos que deveriam ser cuidados na relação entre os participantes, en-tre os participantes e a equipe de coordenação, entre a própria equipe coordenadora, entre o AEC–PE e os apoiadores dessa iniciativa.

4.2.2 Cuidados do relacionar-se

Sobre a relação entre os membros da equipe coordenadora:

• Respeito.• Transparência.• Confiança.• Colaboração.• Harmonia.• Clareza das responsabilidades (definir papéis para não sobrepor tarefas).• Nivelamento de conhecimentos.• Administração de conflitos.• Integração inicial da equipe.• Alinhamento pessoal e conceitual.

Toda a equipe se sente animadora dela mesma, já que tem um papel muito importante na animação do grupo, em dar o tom das atividades.

Sobre a relação da equipe com os participantes:

• Reconhecer-se mutuamente.• Manter encontros e diálogos fora dos momen-tos de trabalho.• Provocar respostas.• Valorizar a diversidade.• Estimular a expressão de todos.• Ter acolhimento.• Ser capaz de escutar.• Ter leveza na maneira de conduzir, inclusive as possíveis falhas e ou mudanças da programação, e ter flexibilidade.• Manter qualidade do interesse (focar o interes-se nos participantes).

Sobre a relação entre os participantes:

• Promover o diálogo e o encontro entre os mó-dulos.• Reconhecer-se mutuamente.• Descobrir e estabelecer uma identidade (cui-dar atentamente para que o grupo consiga esta-belecê-la).• Lidar com as empatias e antipatias, adminis-trando a bipolaridade, ao contrário de negá-la.• Lidar com possíveis preconceitos entre os par-ticipantes.

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• Lidar com os diferentes perfis, para que todos transitem sem suscetibilidades.

O desejo de que o processo proporcionasse aprendizagem a todos/as nos levou a ter de cui-dar atentamente desses acordos sobre o nosso fazer e o nosso relacionar. Assim, nossa relação com os diversos âmbitos do programa tendeu sempre a nos “acordar”. Cada vez que adorme-cíamos para algo que havia sido preestabelecido, algum incômodo nascia, pedindo consciência, pedindo nossa real presença. Fazer junto, apren-der a ser um, ser o Lidera simplesmente, apesar de sermos três organizações tão diferentes, com pessoas diferentes e culturas diversas, todo esse processo, em si mesmo, foi uma grande aprendi-zagem.

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Adigo Consultores,Instituto Ação Empresarial pela Cidadania,Instituto Fonte

Somos navegadores, mais que cartógrafos. Com nossas cartas e mapas, sempre precários, ousamos navegar por um caminho novo: um passo em direção à atuação social, dois passos em direção à auto-consciência.Equipe Lidera

5.1 A Construção de uma Visão Geral do Ca-minho, do Método

Vejamos este diálogo ocorrido em uma reunião de planejamento do Lidera, em 09 de junho de 2005, na sala do Instituto Ação Empresarial pela Cidadania:

Luiz Antonio (Adigo): Qual é a essência do que se pretende desse processo?

Susana (AEC): A idéia é despertar as pessoas para o desenvolvimento social. A construção de uma ação coletiva.

Luiz Antonio: O que se quer que signifique essa construção?

Susana: Que os empresários possam propor al-guma forma de agir coletiva e articuladamente em prol da Região.

Saritta (AEC): É a construção de uma rede que vai ter impacto sobre todo o Nordeste.

Luiz Antonio: E isso aí, como vai se sustentar? Porque se pretende ter dois tipos de impacto: o do indivíduo e ou-tro, o da rede, que conseqüentemente vai precisar de um processo de sustentação que extrapola esse programa. A idéia é que os empresários sustentem esse processo?

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Susana: Esse processo também pode ter susten-tação no AEC–PE, na Aene, na CDL ou na Fiepe. Não sabemos onde vai se engajar o empresário, mas há diferentes redes, e todas elas passam pelo AEC.

Luiz Antonio: Esperamos então que, depois de estabelecermos objetivos para as pessoas sem tê-las consultado, elas os assumam. É isso? Mas pode ser que essa necessidade seja nossa, e não deles. Até termos alguma coisa que seja objetivo deles, não vamos conseguir fazer ninguém par-ticipar.

Susana: A idéia seria fazê-los conhecer outras perspectivas de atuação social, estimular o de-senvolver uma nova consciência sobre desenvol-vimento social. Trabalhar no nível da consciência, ajudar que eles reflitam e compartilhem o que é que já estão realizando e, a partir daí, que eles façam seu próprio julgamento sob essa nova perspectiva. No nível da ação, que eles possam potencializar suas própias ações, formando e ar-ticulando uma rede dentro do Nordeste, fortale-cida por outras redes complementares e tendo um papel preponderante nesse contexto. A pre-tensão não é formar, mas sensibilizar e provocar.

Por esse relato, podemos perceber que, no iní-cio, vivemos uma tensão forte entre possíveis objetivos do programa. Transitamos por um tripé muito instigante: conformar, formar e provo-car possibilidades de desenvolvimento. Algum tempo e muita reflexão foram necessários para construir um ponto possível de equilíbrio entre esses focos.

Para lidar com essa tensão, o Programa Lidera trabalhou com uma abordagem de autoconhe-cimento e de autodesenvolvimento de cada um dos treze participantes. Desenvolvimento, como a própria palavra fala, é algo seu que está en-volvido e que precisamos “des-envolver”; “des-envolver” o que está no interior da própria pes-soa e que é muito valioso. Este é o momento em que chegamos à pergunta: o que é verdadeiro em mim? Dela nasce o impulso: tenho que tirar o que está abafando, envolvendo, algo que é ver-dadeiro. A tarefa do Programa Lidera foi estimular e apoiar os participantes a passarem por esse processo.

Esse trabalho foi guiado pela premissa da exis-tência de um caminho de autodesenvolvimento formado por duas direções não excludentes: a da descoberta, que compreende o aprendizado a partir da própria experiência e vivência, que

possibilita a construção do novo conceito que será levado para a prática pela vontade cons-ciente; e a da instrução, ou do incremento, que oferece novas idéias e conceitos como estímulo para a realização de novas práticas. Essas duas direções são intrinsecamente complementares, como o são os grandes movimentos polares da vida: expirar e inspirar, lembrar e esquecer, nascer e morrer.

O Programa Lidera lidou fortemente com o estímulo ao caminho da descoberta. Os partici-pantes foram incentivados ao longo dos módu-los e nas atividades intermódulos a vivenciarem e experimentarem situações em que o contexto real da temática do programa estivesse repre-sentado para que, ao enfrentar as resistências da realidade, encontrassem conscientemente, in-dividualmente e em conjunto, as respostas úteis para os desafios de seu papel no cenário social da Região Nordeste.

Adicionalmente, os participantes eram en-corajados a compartilhar suas descobertas com os colegas, checando a qualidade de-las e encontrando pontos em comum. Essas percepções ganhavam força à medida que se reafirmavam coletivamente, revelando no-vos padrões comuns e se transformando em novos conceitos que passavam a fazer parte da experiência de vida de cada um. Ao fazer todo esse percurso e ao passar pelo coração de cada participante, o produto do aprendi-zado ganhava um sentido próprio, sendo in-corporado e gerando senso de propriedade, assim como contribuindo para o despertar da vontade para a aplicação prática e para a con-tinuação do processo de aprendizagem.

O grande desafio desse caminho era con-viver com a incerteza de o grupo chegar, ou não, ao momento de extrair o conceito a par-tir de sua prática e se, depois, conseguiriam levar o conceito renovado para sua vida no dia-a-dia.

Isso, dito de forma metafórica, seria algo como... A fogueira fora, e a chama dentro — uma imagem metodológica do Lidera.

A fogueira fora – O Programa Lidera tem um fogo (entenda-se fogo como o conhecimento sobre temática, conceitos e ferramentas para a prática da RS e da cidadania) e deseja que os empresários também se aqueçam nele. O AEC descobriu algo e quer compartilhar isso com os participantes. Toda vez que o empre-sário se voltar para o fogo, terá luz, calor, e, quando se distanciar, ficará no escuro.

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A chama dentro – O Programa Lidera crê que os participantes têm o fogo e que sua tarefa é proporcionar suporte para que ele o descubra, o avive, ilumine-se e se aqueça. À medida que seu fogo vai se fortalecendo, desejará compartilhar as angústias e idéias que surgem e os frutos da sua experiência em Responsabilidade Social.

O grupo de coordenação ponderou que as duas imagens de caminho de intervenção poderiam ser veículo para um mesmo conteúdo conceitual. A primeira teria a “grande fogueira da RSE” no centro. Já na segunda imagem, o centro é o indi-víduo e sua chama; em volta, estão outros indiví-duos com suas chamas; e, na frente deles, está o vazio, o escuro, um espaço a ser preenchido com a contribuição do grupo e que poderia ultrapas-sar a expectativa inicial da proposta.

O Lidera parte do pressuposto de que as duas situações são desejáveis, ou seja, a pessoa tem o fogo em si e pode iluminar e aquecer, com maior ou menor intensidade, o ambiente onde atua e que, também, pode se agrupar em torno de uma fogueira coletiva para se aquecer, inspirar e ga-nhar fôlego para novas intervenções.

Isso demanda que as pessoas venham para o programa por seus próprios pés. Se não, não funciona. O processo de autodesenvolvimento e a assunção do papel de liderança consistem numa corajosa jornada pessoal. Uma pessoa adulta só vai embarcar nesse caminho se sua realidade de vida não lhe satisfizer mais. Podemos usar o exemplo histórico das caravelas navegando para o desco-nhecido. A tripulação tinha de ter uma motivação, algo que estivesse lhes incomodando no mundo em que estavam antes de se porem na jornada.

Porém, às vezes, as pessoas, também, deixam de embarcar porque percebem que dificilmente irão cumprir suas missões sozinhas. A consta-tação de que sozinhos somos insuficientes nos leva, inevitavelmente, à conclusão de que, para superar essa barreira, precisamos de uma rede de apoio e complementação.

Essa alternativa, no entanto, nos obriga a aprender novos conceitos no nível do pensar que não são conteúdos que já vêm prontos, mas que, em conjunto, as pessoas poderão ser estimuladas a descobrir. Para provocar essa descoberta, o pro-grama trabalha com imagens arquetípicas, ou seja, imagens baseadas em fenômenos universalmente recorrentes, em visões comuns a várias culturas e que façam sentido para a nossa época.

Outra demanda do processo de construção a que se propõe o Lidera é partir sempre de uma situação real, significativa, para, dela, extrair

aprendizado e um novo conceito. A linha biográ-fica de cada pessoa é seu maior campo de prá-tica de desenvolvimento e onde tem mais poder de mudança. Assim, as histórias de vida de cada indivíduo, em suas diversas facetas, é material constantemente requerido durante os módulos e voltamos a ele sob diversas abordagens. Rudolf Steiner sugere que, para cada passo no sentido da ação social, devemos dar dois passos na di-reção do conhecimento de nós mesmos e dos fenômenos envolvidos em nossa biografia.

Para que a interação na rede seja frutífera, será preciso desenvolver novas habilidades so-ciais relacionadas com questões da seguinte natureza: como me articulo? Como passo esse conhecimento para o âmbito da empresa?

Já no âmbito do proceder, será necessário ha-ver disposição para o exercício de novas práticas e capacidades, além de libertar-se de hábitos e rotinas que não contribuem para esse novo está-gio de consciência.

O Lidera quer propiciar um mergulho das pes-soas em si próprias, um processo de investigação interior, para que dele surja o que já estava ger-minando dentro de cada um.

5.2 Estruturação dos Módulos

Voltando para a imagem das caravelas, temos que partir para a Jornada de Descobrimento. O pri-meiro requisito é passar confiança. O que fazia as pessoas embarcarem nas viagens de descobri-mento era a confiança no bom navegador. E o segundo requisito é ter um bom mapa de nave-gação que, de alguma forma, ilustre o percurso e aonde a pessoa quer chegar.

Os módulos, portanto, foram estruturados com base em dois movimentos arquetípicos: pri-meiro, em um processo de inspiração e, depois, numa grande expiração, ou numa contração e numa expansão. Isso é válido tanto para cada mó-dulo como para o conjunto dos cinco módulos. Além disso, eles atuam nas faculdades do pensar, do sentir e do querer. E tudo isso a serviço do resultado esperado.

Trazemos uma imagem de mergulho, num gran-de “U”, onde os dois módulos iniciais têm o mote mais introspectivo. No terceiro, a vivência e o con-fronto com uma realidade social adversa, jamais vi-venciada por cada um dos participantes. O quarto módulo se propõe a criar o estímulo para a ação no mundo, e o quinto, a preparação interior para a sustentação das ações exteriores e do processo de autodesenvolvimento, tudo isso voltado para uma renovada forma de prática social.

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5.3 Metodologia de Trabalho– um Dia Típico no Lidera

O programa opta por uma metodologia que pressupõe imersão, ou seja, retirar-se do dia-a-dia, “subir a montanha, montar a barraca e preparar-se para novas visões”. A prática da imersão deseja criar um espaço na agenda, na “alma” do participante, para que, longe da rotina, dos papéis por vezes sufocantes da li-derança, ele possa estar num espaço-tempo de ser ele mesmo e de se reconhecer acom-panhado de outros líderes. Esse tempo de ser

“simplesmente” uma pessoa a caminho é fun-damental para o sucesso do programa, pois o ócio é aquela parcela essencial a processos de mudança e sem a qual tendemos a mantermo-nos num estado de ativismo que nada tem a ver com desenvolvimento.

A imagem da dinâmica de um módulo é a seguinte: trabalha-se nas três dimensões do aprendizado: a cognitiva (pensar), a emocional (sentir) e a volitiva (querer).

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Para cada um destes dois pólos, o programa ofe-rece uma série de atividades. Porém, o campo mediano do sentir é entendido como a ponte en-tre os dois outros: o pensar e o agir (querer). Daí a importância fundamental dada às atividades artísticas no programa. Eles são o meio de cam-po entre a teoria e a prática, eles são o elemen-to normalmente esquecido e cujo esquecimento traz muita limitação às leituras e aos diagnósti-cos que fazemos da realidade. Com diagnósticos limitados, o que dizer dos planos de ação que, deles, nascem?

Longe de querer formar artistas em música ou artes plásticas, o Programa Lidera deseja desper-tar artistas sociais, lideranças que trabalhem no campo social como numa obra de arte, com toda a complexidade necessária para tanto.

Citando dois exemplos de como as ativida-des artísticas compõem o tripé metodológico do Programa Lidera.

Nas oficinas de música, onde aprendemos a tocar flauta doce e a cantar em uníssono e a duas ou mais vozes, podemos relacionar cada elemento dessas duas práticas aos fenômenos da liderança. A música é composta por quatro elementos básicos: o ritmo, a melodia, a harmo-nia e o estilo. Cada uma dessas instâncias absor-ve as anteriores, ou seja, a melodia é composta das notas organizadas pelo ritmo; a harmonia é composta pela superposição de duas ou mais li-nhas melódicas e assim por diante. Cada elemen-to influencia e serve ao outro, intrinsecamente. Quem lidera quem entre os elementos da música tem muito a ver com quem influencia quem. Há sempre um fluxo de liderança na música; ora é o ritmo, ora é a melodia que se destaca.

A tensão e os acordos são grandes linhas transversais que perpassam os quatro elementos anteriormente citados. O que pode parecer, aos olhos do ouvinte, improvisação e fruição sem dis-ciplina prévia é uma grande ilusão, pois em mú-sica, para o improviso, faz-se necessária a maior dose de disciplina e de conhecimento das regras de determinada tonalidade e das variações rítmi-cas que se sucederão. Quando falamos de ten-são, estamos no terreno da afinação de cada ins-trumento e entre eles; também estamos falando de timbre, que é o “selo”, a marca da sonoridade de cada instrumento. Quem não reconhece a di-ferença entre uma flauta doce e um saxofone?

Assim, liderança em música relaciona-se com nossa maestria diante de toda essa complexida-de e que poderia ser resumida na pessoa do ma-estro, grande servo da obra a ser executada. Um maestro deve “administrar” suas preferências por

ritmos, timbres e estilos de forma a servir à obra como um todo, à causa última de uma orquestra. Cada músico, de forma idêntica, coloca seu ins-trumento, singular, único e igual, deposita toda a sua habilidade na ponta da batuta, que, fugaz e fiel, guia a todos. Autonomia e obediência, singu-laridade e equanimidade, a parte e o todo, opini-ões e consensos; todos são matéria-prima com a qual a liderança constrói e executa a obra.

Outra atividade sempre presente nos módu-los do Lidera são os exercícios de observação. Esses exercícios têm sua origem no conceito que chamamos “observação goetheanística da reali-dade”. Para Goethe, cientista e poeta alemão do século XIX, “O fenômeno contém toda a revela-ção possível, porém só perceptível ao olhar aten-to e educado”; eu completaria “ao olhar interes-sado e cultivado, desenvolvido”.

Estamos falando aqui de desenvolvimento de habilidades sensoriais. Acreditamos que nossa percepção da realidade é o primeiro passo em sua transformação. Na verdade, eu sou o pri-meiro elemento a ser transformado; minha visão faz parte, ela também, da realidade sobre a qual quero intervir.

Nesse sentido, foram feitos vários exercícios de observação de plantas, paisagens e objetos diversos. O desenho, a pintura, a escultura e o texto literário foram nosso canal de expressão dessas observações. Buscamos fortalecer nosso interesse pelo mundo e suas manifestações fe-nomenológicas. O interesse pelo fenômeno é o início de tudo. Sem verdadeiro entusiasmo dire-cionado à realidade na qual vamos intervir e sem uma ampliação de nossa capacidade perceptiva, nossa ação margeará a banalidade e cairá no fos-so da “boa vontade ingênua e da caridade va-zia”.

O programa respeita o ritmo de aprendizado de três noites. Durante o dia, quando estamos acordados, o aprendizado se dá a partir dos estí-mulos trabalhados no nível do nosso consciente. À noite, em estado inconsciente, processamos os estímulos da jornada diurna, higienizando os conceitos e paradigmas que não mais nos ser-vem, abrindo espaço para o novo e fazendo o trabalho de incorporação dos aprendizados que nos serão úteis na nossa vida consciente. No iní-cio de cada dia, tenta-se resgatar o que aconte-ceu nesse processo noturno que se revela através de insights, sonhos e novas perguntas. Esse pro-cesso, para que se torne efetivo, requer um ciclo de três noites.

Um dia típico de trabalho começa com um “acordar”, no qual se aproveita para haver uma

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vivência com o tema central do módulo, para as pessoas já extraírem um aprendizado. Serve para equilibrar e harmonizar o grupo. Essa atividade dura mais ou menos uma hora, e é preciso traba-lhar com o grupo todo junto.

Depois, dedica-se ao âmbito do “pensar”, traz-se algum conteúdo que seja provocativo para inspirar o dia de trabalho e ajudar o grupo a refletir. Então, aplica-se ao conteúdo, vivencian-do-o com grupos de trabalho, dinâmicas (perce-ber e compartilhar), estimulando o grupo a mer-gulhar no tema (esmiuçando) para, em seguida, fazer a colheita de descobertas através de seções plenárias de compartilhamento e debates.

Depois do almoço, há uma natural queda de ritmo, o que torna atividades eminentemente intelectuais totalmente improdutivas. Trabalha-mos então com o “sentir” através de atividades artísticas conectadas com os arquétipos de cada módulo. Fazemos isso para buscar outro tipo de linguagem. Quanto menos meios mecânicos são utilizados, mais valioso torna-se o exercício.

Depois, começa-se a trabalhar a incorpora-ção diurna. Vamos ver o que é que as pessoas assimilaram. O grupo é estimulado a exercitar os conceitos descobertos e as habilidades percebi-das, através de atividades práticas em pequenos grupos ou com todo o grupo. Em alguns casos, concluiremos antes do jantar, com o resgate em plenário das percepções dos integrantes sobre os exercícios realizados. Quando se aproveita a noite, podemos ter algum trabalho ainda após o jantar, com uma atividade leve para dar um “polimento” no dia. Temos que levar em conta a cultura de cada um, e o tipo de pergunta que poderia ser feita é: “O que foi que você percebeu sobre...?”. Dessa forma, se estimula a parte do querer.

O ritmo do dia tem que ser saudável, respei-tando os períodos de descanso, alimentação e lazer. O programa tem que estar coerente com os princípios que prega. Comida saudável, local limpo, simples e favorável à concentração e à in-tegração dos participantes. Dieta balanceada e saborosa, porque uma digestão pesada pode di-ficultar o aprendizado. Cuidar do ritmo significa que temos que dar um espaço para eles terem contato com as suas empresas. Fazemos interva-los de meia hora ao longo do dia e um almoço um pouco mais alongado, para que os participantes possam resolver suas coisas. À noite, eles podem também usar o tempo para resolver pendências.

Procuramos estimular a criação dos papéis dentro do grupo. O grupo deve ter um coorde-nador do dia, que ajuda nas tarefas e que é como

uma voz perante os condutores. Às vezes, con-segue-se criar um compromisso do coordenador com o grupo. Podemos deixar isso livre. Pode-se procurar criar responsabilidades nas pessoas perante o grupo, para que o processo seja cada vez mais deles e menos da equipe coordenadora. Quantos mais manifestações espontâneas sur-girem do grupo, melhor para que ele possa se integrar mais.

5.3.1 Módulo I – A visão integrada da evo-lução da consciência social (Chã Grande/PE – 07 a 10 de dezembro de 2005)

Visão Geral

No primeiro módulo, estamos na fase de igua-lar, ou tornar comum. Teremos muitos indiví-duos, bem diversos, com diferentes intenções e expectativas e que precisam se perguntar e se alinhar em relação a si mesmos como pes-soa e à Responsabilidade Social. Perguntarão: “Quem sou eu e por que estou aqui? Em que momento eu estou? Quais são as questões que eu estou trazendo?”. Também será o momento de trazer conceitos e princípios do programa. Poderíamos trazer a imagem de sociedade de-sigual, de uma perspectiva macro para uma vi-são micro, e como isso interfere na realidade local. Qual é a visão da sociedade? O porquê de essas coisas estarem acontecendo? Iremos mostrar a imagem do desenvolvimento social a partir da evolução histórica da consciência humana.

Então, temos que começar pela biografia: o que estão construindo? O que é que isso está gerando na sociedade? Tudo analisado de um ponto de vista muito objetivo, sem culpabili-dades. Eles têm de ver se isso faz sentido e se percebem isso como um arquétipo. Além disso, teremos de estimular a criação de uma identi-dade de grupo em cima de valores e propó-sitos. Somos parceiros de destino e podemos trabalhar juntos: o que podemos aprender uns com os outros? Em que nível de consciência estou?

Em relação ao conteúdo, temos de gerar estímulos para que saiam mobilizados para a ação.

Neste módulo, pedimos também aos par-ticipantes que escrevam uma carta dirigida a eles próprios, em que expressem quais são suas intenções e que ações irão realizar na busca de autodesenvolvimento: qual é o seu compromisso com ele próprio?

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Perguntas-guia deste módulo:• Como chegamos ao estágio de consciência atual?• Quais são os sintomas desse processo?• Para onde estamos indo?• Qual é minha visão de sociedade?• Que capacidades e necessidades tenho?• O que estou ajudando a construir?• Qual o meu papel neste contexto?

Como foi e o que aprendemos com o Módulo I

O primeiro módulo foi a porta pela qual os par-ticipantes começaram a entrar no processo. Foi, portanto, guiado por uma polaridade, que cha-maremos macro e microvisão, em que transitamos entre tendências mundiais do desenvolvimento humano e a maior compreensão da biografia de cada participante. Inter-relacionar esses pólos foi um movimento quase natural do grupo. Vejamos depoimentos de participantes acerca do primei-ro módulo, na abertura do segundo módulo:

Ivan – Interessante é que eu imaginei que, aqui, a gente fosse trabalhar algo mais concreto... de-senvolver uma proposta juntos, e me surpreen-di quando nós trabalhamos a nós mesmos. E foi muito bom e importante. Fiquei chocado com a metodologia, pois tudo aqui ficou muito tempo na minha cabeça: as músicas, a biografia.

João – Quando eu saí daqui, eu não percebi a mudança, mas depois fui percebendo que a todo tempo eu relacionava o que lia e via no dia-a-dia com os conceitos com os quais me relacionei aqui.

Descobri também valores que havia dentro de mim, que foram fortalecidos e reavivados. Come-cei também a ver as pessoas que não têm valores, e isso me decepcionou... Tinha muita coisa em que eu não estava prestando atenção, mas que passei a enxergar... realmente eu aprendi muito, e, se o objetivo era abrir a nossa mente e nos fazer mudar, foi atendido...

O tempo está mal distribuído. Gostaria de plenárias mais longas e de pausas mais curtas. Estou motivado a formar uma rede. Quero me or-ganizar para me dedicar mais a questões sociais.

Fred – Não consegui desconectar totalmente, pois, quando a gente internaliza alguma coisa, mesmo estando no dia-a-dia, deixa as coisas fi-carem lá no nível inconsciente.

Eu vejo essa necessidade de autoconheci-mento fundamental para que você possa estar preparado para enfrentar outras coisas. Os con-

ceitos que vi no primeiro módulo me ajudaram a compreender a mim mesmo e ao outro... Nem to-das as pessoas enxergam o que estou enxergando, e eu percebo que devo ter tolerância e procurar uma maneira de chegar até elas. Hoje, compreen-do que, apesar da diversidade, a gente pode so-mar... quando se tem boa vontade e intenção.

Anchieta – Fiquei observando as histórias dos amigos aqui e vi que o primeiro módulo atingiu seu objetivo. Vocês tiveram muito cuidado na es-colha desse grupo, pela complementaridade das pessoas. Fiquei surpreso da forma como os con-teúdos aqui tratados conseguiram abrir a nossa mente e a nossa visão... Acredito que estamos no caminho certo.

Daniel – No primeiro módulo, esteve tudo óti-mo, mas espero que daqui pra frente seja mais técnico.

(Conteúdos e outros textos-base, vide Anexo 01.)

5.3.2 Módulo II – O papel do líder e a vi-são do indivíduo, da empresa e da socie-dade (Bezerros–Serra Negra/PE – 08 a 11 de fevereiro de 2006)

Visão Geral

É o módulo da visão integrada do ser huma-no, da organização e da sociedade. Qual é o arquétipo que rege as relações entre es-sas três entidades sociais? O que significa um ser humano para mim? Que imagem eu tenho de uma organização? Como o ser hu-mano, a organização e a sociedade intera-gem e se vinculam? Temos que procurar ver o ser humano, as organizações e a sociedade da forma mais ampla possível, como instân-cias de um mesmo organismo social e que se influenciam mutuamente. Nesse contexto, procuramos entender o papel do líder e suas responsabilidades no que tange ao desen-volvimento dos indivíduos, das organizações e da sociedade. Ao compreender o papel do líder nesse cenário, podemos identificar quais são seus desafios ou o que o mundo espera dele, além de ajudá-lo a reconhecer as qualidades que precisa desenvolver para cumprir o seu papel. Esses são grandes te-mas do Módulo II.

A partir daí, pode ser que se pergunte:

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• Qual está sendo a minha contribuição? • É isso o que eu quero? • O que vou fazer para transformar a realidade que estou vivendo e da qual não gosto? (Isso é o que se chama de começar a fazer um movimen-to de “saída”). O que preciso mudar na minha atuação como líder e na minha organização para transformar a realidade em que vivemos?

Neste módulo, desenvolvemos, a partir de uma lente humana, uma imagem integrada de indiví-duo, organização e sociedade como organismos vivos que interagem em todo o tecido social. In-tegramos a esse contexto a visão do líder e sua participação social nos âmbitos interno e exter-no da empresa.

Para isso, trabalhamos com uma visão holística da entidade humana. As organizações e a socie-dade são desdobramentos da vida humana, tendo sido criadas à imagem e semelhança de seu cria-dor: o ser humano. Portanto, podemos observar nessas entidades sociais os mesmos aspectos constitutivos e as mesmas leis gerais de desenvol-vimento que regem a vida dos indivíduos.

O líder, tanto nas organizações quanto na sociedade, desempenha um papel preponderan-te na formação e na transformação dos padrões de comportamento social que denominamos cultura. Discutir o seu papel, ajudando-o a am-pliar a consciência para perceber os impactos e as conseqüências de sua atuação, assim como despertando seu interesse em enxergar as pos-sibilidades de uma contribuição significativa para um desenvolvimento social saudável, é o grande desafio deste módulo.

Como foi e o que aprendemos com o Módulo II

No segundo módulo, mergulhamos um pouco mais. Aqui, a tarefa constava de relacionar a biografia da empresa de cada participante e a sua trajetória de líder empresarial dentro e fora dela. Neste módulo, foram propostas as tarefas de revisão do perfil de cada pessoa como líder e do início do desenho de um pro-jeto de autodesenvolvimento. Para provocar essa reflexão, convidamos previamente um dos participantes para apresentar como têm se dado em sua vida a relação entre esses dois elementos, o desenvolvimento pessoal e o da empresa.

Vejamos alguns depoimentos relacionados ao relato de Pedro Pereira, feito ao grupo de participantes, sobre a sua biografia relaciona-da à de sua empresa.

Carl – No nosso grupo, ficou claro que trabalhar o ambiente social da empresa já é algo muito im-portante.

Oscar – Eu acho importante continuar sendo empresário para poder testemunhar da RSE a partir da minha empresa. Compreendo o pon-to de vista de Pedro, acho ótimo, estou falando apenas da minha perspectiva.

Pedro – Eu não vou sair integralmente da minha empresa... Vou ser conselheiro e também pesqui-sar novos negócios voltados para o desenvolvi-mento social e ambiental... Esse tipo de trabalho me energiza.

Ranúsio – A história dele sempre foi marcada pela visão e pela determinação. Desde quando ainda era criança, achou um compasso na área.

João – Chamou a atenção o quanto a organiza-ção tem as características dele. A forma como ele faz essa ponte de identificação das pessoas... A sustentabilidade do negócio relacionada com a sustentabilidade da sociedade... Ele passa crença e muita verdade nisso... É a história de um líder que toda organização gostaria de ter...

Daniel – A conclusão é que tudo parte de um sonho... Que mundo é esse que pode ser criado e que empresa é essa que pode fazer essa dife-rença?

Roberto – Foi de uma riqueza muito grande o fato de ter em nosso grupo empresários de uma empresa de 70 anos; outra de 12, em fase inicial de consolidação; outra recém-iniciada; e outra de 30 anos, mas na segunda geração.

(Conteúdos e outros textos-base, vide Anexo 02.)

5.3.3 Módulo III – Os diferentes cenários: oportunidades e ameaças (Xingó e São José da Tapera/AL e SE – 22 a 25 de mar-ço de 2006)

Visão Geral O Módulo III traz, sem sombra de dúvida, um dos grandes desafios metodológicos do programa e, conseqüentemente, uma grande oportunidade.

Saímos do mundo conceitual e chegamos à realidade. Trabalharemos no campo, que pode ser, por exemplo, o semi-árido, um acampamento

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do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, uma favela, uma comunidade bem no interior, etc. Va-mos levar o grupo até lá para ver e viver. Sempre sem intenção de culpar, vamos ver as necessida-des e o potencial existente nessas comunidades e as competências que mobilizam. Tem que ser bem “vivencial”. Tem que ser um contato verda-deiro. À volta da experiência, saberemos o que foi que eles viram e o que foi mobilizado dentro deles, assim como o impulso que isso criou e, com esse impulso, poderemos pegar o caminho da saída do “U”.

O grupo será distribuído em várias casas, para que cada um experimente uma realidade diferente, cada uma com seus problemas e suas buscas. De-pois, essa experiência será compartilhada; mesmo sendo diferente, no fundo tem a mesma origem.

Podemos levar o grupo para conhecer e viven-ciar o dia-a-dia de um Programa de Desenvolvimento de Área (PDA) da Visão Mundial. Teremos como base um hotel próximo ao local e dormiremos uma noite na própria comunidade. Tião sugere que grupo relate toda a experiência deste módulo num diário. Luiz frisa que é importante o grupo ter a oportunidade de conhecer o ser humano que vive aquela situação e vivenciá-la também.

É importante que essa vivência aconteça numa área rural, pois a pobreza no campo é, também, a causa da pobreza na cidade. A condição para uma família receber o “hóspede” pode ser, ape-nas, ter uma rede para dormir. Precisamos estar alertas para que essa experiência não caia no risco de parecer um “espetáculo”. Para isso, é preciso investir fortemente na preparação do grupo e na minimização das possibilidades de isolamento, como local separado para dormir, por exemplo. Quanto mais os participantes forem protegidos, menos real será a vivência. Entretanto, devemos cuidar minuciosamente da infra-estrutura neces-sária para não colocá-los em situação de riscos físico ou emocional. Deve ser dada liberdade para que eles levem o que julgarem necessário.

Foi colocada a questão de não se tentar “ven-der”, “impressionar” ou colocar o módulo como sendo a “experiência da vida deles”. Não criare-mos expectativas desnecessárias. O que se vai fazer é dar uma oportunidade aos que já estão predispostos a isso. Ninguém será induzido a ir se não estiver desejando fazê-lo. O final do segun-do módulo é o momento certo para prepará-los e deixá-los bastante à vontade para viverem ou não a experiência de se hospedarem com famílias por um dia. Aqueles que não se sentirem à vontade ficarão à espera do grupo no hotel. Precisaremos prever atividades e exercícios para esse tempo.

A entidade apoiadora e os próprios líderes co-munitários darão suporte às visitas; a equipe de coordenação deverá interferir o mínimo possível. Porém o grupo precisa saber da existência de uma equipe que está à disposição durante esse pro-cesso de visita e também a quem recorrer, através de um sistema de comunicação/contato preesta-belecido.

Será necessário dar muita atenção à logística deste módulo e a todos os detalhes da prepara-ção. Saritta destacou, também, a necessidade de prévia para identificação e preparação das comu-nidades como pontos-chave para o sucesso deste módulo.

Discutindo a respeito do que deveria ser reve-lado sobre o grupo à comunidade, pensamos que a postura de transparência e de confiança com os parceiros é fundamental. O fato de serem empre-sários não precisa ser enfatizado, mas não pode ser escondido.

Falou-se também sobre responsabilidades, questões de segurança e instrumentos jurídicos como um termo de responsabilidade que a Vi-são Mundial exige para permitir o contato com as crianças da comunidade. Haverá sempre uma pes-soa de apoio disponível, um carro ou uma moto. Precisamos conhecer hospitais próximos, postos de saúde, ambulâncias, polícia e a forma de acio-ná-los em caso de emergência.

Assim, o processo de preparação deste Módu-lo III foi cuidado em pelo menos três âmbitos:

Relações institucionais

O AEC travou um intenso processo de contatos, negociações e acordos com a Visão Mundial, no sentido de viabilizar essa experiência, encontrar o local devido e, na seqüência, arranjar todas as condições possíveis de segurança, tanto para visi-tados quanto para visitantes.

Preparação in loco dos coordenadores do pro-jeto e das famílias a serem visitadas

O AEC visitou o local, e foram feitos encontros das duas equipes (AEC e Cactus), no sentido de esclarecer ao máximo o propósito e os encami-nhamentos detalhados dessa vivência. Foram rea-lizadas, também, reuniões com as famílias, prepa-rando-as para a visita.

Preparação dos participantes

A tarde final deste módulo foi dedicada a uma extensa sessão de trabalhos com os participan-

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tes sobre essa visita. Todos os pontos acima citados foram trabalhados, e os participantes, ouvidos atentamente. Algumas mudanças foram feitas em decorrência dessa tarde (por exemplo: em vez de usar rádios portáteis, decidimos usar uma moto do próprio local, que ficaria circulando entre as casas mais distantes). Acordamos sobre o cuidado com levar presentes ou pagar por al-guma necessidade que fosse detectada. Porém, deixamos para cada um resolver como interviria ou não e combinamos que após a visita faríamos uma detalhada avaliação do ocorrido.

Este módulo é um divisor de águas para o programa...

Como foi e o que aprendemos com o Módulo III

O processo mergulhou mais e mais profunda-mente. Uma profundidade que contivesse um impulso capaz de levar os conteúdos amadureci-dos nos dois primeiros módulos para fora, para o mundo, para a prática social. Optamos por uma ousada metodologia: guiados pela relação entre luz e sombra, conforme apresentado por Goethe e, mais recentemente, por Allan Kaplan, constru-ímos um módulo composto de uma vivência in loco dos fenômenos ligados à pauperização, en-focando a miséria com sua conseqüente degra-dação dos níveis de sobrevivência e, ao mesmo tempo, apresentando as estratégias comunitárias de transformação dessa mesma situação.

Segundo Goethe, a cor nasce do limite entre a luz e a sombra. Ao contrário de Newton, que propunha ser a cor uma qualidade da luz decom-posta em ondas. Pois, guiados por esta premissa goetheanística, o Módulo III buscou mergulhar numa situação muito “difícil” sob diversos pon-tos de vista (seguranças alimentar, habitacional, educacional, sanitária, hídrica, entre outras...). Candunda fica em São José da Tapera, um dos municípios com menor IDH do Brasil até a inter-venção do Projeto Cactus.

Pois bem, a essa situação chamamos sombra, no sentido de que é gerada “reativamente” pelo sistema de organização socioeconômico-político vigente; como um resultado desse sistema, uma sombra deste.

Nessa situação “sombria”, surge uma ação civil organizada, articulada, complexa, o Projeto Cactus. Desse fato, aparece um contorno: a di-fícil, incompreensível e insuportável situação vi-gente (a sombra) depara-se com uma proposta de compreensão e enfrentamento dela mesma, através das ações do Cactus (a luz). No limite

sempre tenso dessas duas faces de uma mesma realidade, surgem os fenômenos da organização humana e de seus movimentos de gerar condi-ções de desenvolvimento (a cor).

Os participantes, neste Módulo III, foram de-safiados a perceber esses fenômenos da cor. Não somente a sombra, a dor e o sofrimento; não so-mente a luz, as idéias de soluções; mas o que vive entre ambas, os fenômenos do confronto: entu-siasmo e apatia; participação e omissão; nasci-mento e suicídio; bem comum e bem próprio...

Foi uma expulsão do paraíso, um constatar de que o homem é complexo, para além de ser bom ou mau, e que essa complexidade se manifesta em sua forma de organizar-se para ser feliz.

Buscando o fio de coerência metodológica do programa, desejamos, neste terceiro módulo, que os participantes também se pusessem nes-se lugar de complexidade, para além de serem culpados pela miséria do mundo ou serem seus redentores, desejamos que eles se descobrissem humanamente implicados com o que vivenciaram. Tão simples quanto isso.

Ao voltarmos de Candunda, depois de um bom banho de piscina, que propiciou o contraste ideal com o que havia sido vivido nas últimas 24 horas e uma reflexão ainda maior sobre a realida-de e existência de dois mundos, nos dedicamos a um exercício muito importante e que vai, portan-to, detalhado aqui.

Quando voltaram de Candunda, os partici-pantes, de forma geral, estavam muito mobiliza-dos, pelos mais diversos motivos: pelo que vi-ram, pelo que viveram, pelo que intervieram, pelo que não intervieram, mas se sentiam movidos a fazê-lo logo de sua volta à empresa... Enfim, um mundo de movimentos internos. Como lidar com essa delicada e perigosa riqueza gerada?

Trilhamos um caminho de três passos:

• Convidamos cada um/a a se reconectar com suas intenções prévias, ou seja, o que pretendia ao aportar àquela família/comunidade.• Depois pedimos que cada um/a fizesse o in-ventário das intervenções pessoais realizadas ao longo desses dois dias. • Na seqüência, solicitamos que cada um/a fizes-se um inventário dos encaminhamentos de in-tervenção, em curto e médio prazos à distância, com os quais se comprometeu publicamente ou consigo mesmo.

Com esses três passos, desejamos trazer um convite para que o grupo investigasse as possibi-

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lidades de intervenções mais respeitosas ao pro-cesso já instalado nesta comunidade, realizando encaminhamentos articulados e em conjunto com a Visão Mundial e o Projeto Cactus.

Esse foi um caminho delicado, que levou horas extenuantes e acaloradas, pois estávamos justa-mente no terreno do confronto entre a assistên-cia filantrópica e as ações de desenvolvimento real. Saboreemos um resumo desse momento:

Tião – A sensação que tenho é de que, o que Deus foi para o universo, o homem é para o mun-do social... Deus é a luz e, assim sendo, completa a escuridão... Isso me remeteu ao quanto a gente entende de “luz” e nada de “sombra”... e ao quan-to aquelas pessoas entendem de sombra.

Quero convidar vocês a fazerem um inventário de suas ações durante o período que estiveram naquelas famílias. Já falamos dos fatos, de sen-timentos e, agora, falaremos de ações. E vamos dividir isso em três passos:

• Intenções (que teve em relação às famílias que visitou).• Intervenções (o que já fez durante a visita).• Encaminhamentos (o que você se propôs a fa-zer ao voltar para casa).

Continua Tião – Dei-me conta de que a maioria de vocês, em Candunda, teve mais facilidade de acesso às crianças do que aos adultos. Eu mesmo tenho usado esse recurso com vocês: “acessar” a criança que existe em vocês. Para estes inventários, gostaria que deixassem fluir, como crianças, as in-tenções que vocês tiveram, sem esconder, sem se envergonhar. Eu mesmo tenho algo a revelar...

Iniciou-se uma sessão de emocionadas de-clarações de “ajudas” e intenções de “ajuda”. Reconhecemo-nos humanos, desejosos de nos solidarizar, porém muitas vezes paralisados, te-merosos, ingênuos. Num apanhado do que fize-mos, encontramos:

• Contribuir na compra de materiais para a casa de Dona Maria I, que vai cair.• Comprar telhas para o telhado da casa de Dona Maria II, que não suportará as próximas chuvas.• Financiar a contratação de máquinas para a construção de barragem na casa de Seu João I.• Comprar um aparelho de som para a família Silva.• Providenciar treinamento para os jovens já en-gajados, para que haja multiplicação de desen-volvimento.• Convencer os amigos a doarem, cada um, R$ 500,00 e mandar para o Cactus construir a casa

de Dona Maria III.• Viabilizar a compra do sítio de Seu João II.

Na seqüência, Tião pergunta: “Isso tudo está colocado nesta parede [referindo-se às listas de intervenções e intenções anotadas nos car-tazes]. Até que ponto tudo isto ajuda ou atra-palha o processo de desenvolvimento que está acontecendo naquela comunidade e que hoje é conduzido pela Visão Mundial e pelo Cactus?”. O grupo reage fortemente na busca de articular seus desejos com o ritmo e as leis já existentes naquela comunidade, enquanto projeto de de-senvolvimento local:

• Como podemos fazer para atuar em sintonia com a Visão Mundial do Brasil, pois já existe mo-bilização do PDA para atender a boa parte des-sas demandas. • Se temos uma boa conformação para uma bar-ragem, poderíamos financiar? Primeiro temos que ver com Neto [técnico do Cactus] se há via-bilidade e necessidade.• Será que existe dentro do Cactus um programa para liderança juvenil, fora os agentes comuni-tários? Esses agentes são multiplicadores junto aos demais adolescentes?• Se há necessidade, podemos oferecer uma capacitação de liderança e empreendedorismo masculino.• Também podemos contribuir com a Visão Mun-dial — consultoria para a ação do Cactus nas áreas de associativismo/cooperativismo.• Poderíamos sugerir à VM ter um fundo emergen-cial para casos especiais e com risco de perda da moradia e familiar. Também poderíamos criar juntos uma metodologia de rotatividade desse fundo.• Vamos estimular, junto a amigos, o programa de adoção de crianças, já existente. • Vamos enviar textos sobre a produção familiar agroecológica. Prestar orientação a distância.

O passo dos encaminhamentos deu-se de forma a seguir prioritariamente esta intenção de com-por com o movimento de organização já exis-tente em Candunda e também realizar algumas intervenções pontuais de assistência.

Assumimos, como tarefa intermódulo, refletir e escrever sobre as seguintes perguntas:

• O que isso tem a ver comigo? • O que isso tem a ver com o mundo? • O que repercutiu em mim? • Que aprendizagens extraí?

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Ditas de outra forma:

• O que eu percebi sobre mim e não sabia? Como quero lidar com o que eu descobri a partir dessa experiência? O que eu tenho a ver com tudo isso?• O que se revelou sobre mim e em mim? — si-tuações como estas são momentos que nos co-locam em contato com nosso eu e também com nossa sombra. • O que nós queremos é que vocês apliquem a visão sobre o que foi visto e vivido em Candunda. O que eu posso transformar, em mim, em minha empresa, para poder contribuir com aquela transformação que queremos ver em Candunda?

Ainda no final do terceiro módulo, tivemos al-guns depoimentos dos participantes:

Daniel – Eu sempre achei que conseguia viver no meio em que vivia sem ser fútil... Convivia com esse meio, mas achando que eu não era assim... Viver essa experiência me demonstrou que eu estava errado e o quanto eu era fútil diante da-quelas pessoas.

Wedja – O desprendimento de dividir o que nada tem. Fiquei preocupada com a desesperan-ça e a falta de perspectiva deles... e eu conversei muito com a dona de casa... Quando eu saí, tive uma sensação de muita responsabilidade: e ago-ra? ...Foi mágico porque deu a oportunidade de refletir sobre a vida daquelas pessoas e sobre a nossa vida... Saio fortalecida em muitas coisas e fragilizada em outras...

Ivan – O “sentir” é completamente diferente do “saber”. Mesmo que eu tivesse visto um DVD, fei-to só pra mim, de tudo aquilo que eu vivi, eu não sentiria... E isso faz toda a diferença.

Roberto – Eu já me deparei com várias situa-ções difíceis na minha vida e vi as pessoas lutan-do para sair dela, mas, nessa experiência, eu me deparei com pessoas que já tinham desistido de lutar, de viver... Isso me deu uma grande frustra-ção... Quem salvou essa situação foi uma criança [Lilica]... Nela, eu via a saída para a alta degra-dação daquela família... Ela é o fio condutor e a saída para aquela família.

João – Eu senti, no primeiro momento, que ia ser rejeitado. Ninguém estava me esperando. Componentes como chão, teto e porta não são prioridade no lugar. Muda a forma da gente ver a vida... a vivência foi fundamental... Uma coisa

é ouvir falar sobre tudo o que está ali, outra é viver... E aprender uma maneira estruturada de atuar como o Cactus.

Oscar – Tive uma sensação de desconforto, um pouco por não saber o que fazer, como me com-portar. À noite, tive medo. Eu não sei de que tive medo. Medo de não estar no comando da situ-ação. Pela manhã, pedi um pouco de água para escovar os dentes, lavar o rosto e ajeitar o cabe-lo, ela me deu um copo d’água. E aí fiz isso tudo com meio copo d’água! E eu não sabia o que fazer com o resto. Sensação de como desperdi-çamos. A gente fica botando a culpa no governo, mas a culpa também é nossa. Somos nós que não fazemos nada. Tive o sentimento da impotência.

...A gente sabe que os pobres são generosos, mas outra coisa é você vivenciar isso. A dona da casa matou uma galinha-d’angola para o almo-ço. Éramos muitas pessoas. Nessa hora, passou a família da vizinha, e ela chamou para almoçar conosco. Se não dividisse, sobraria mais, mesmo assim, a galinha foi generosamente repartida.

Fred – O sentimento é desagradável, como uma vacina, um remédio, que se tem que tomar, mas é desagradável. A miséria é desagradável. O maior presente é a presença que a gente pode dar para ele.

Renato – Me marcou a fé que encontrei lá, era uma fé “proativa”. Isso me deu paz e certeza de que eles encontrariam as saídas... Confrontou-nos com uma realidade e nos trouxe valores e exemplos muito importantes.

Pedro – Eu perguntei o que a família entendia como felicidade, e a pessoa respondeu: “É o que a gente vive!”.

Miguel – Eu pensei que entendia daquele tipo de pessoa... Percebi que não. Aprendi muito com o Projeto Cactus, pois nunca pensei que existisse algo assim no Brasil. Este módulo nos encheu de esperança sobre o trabalho que este grupo pode desenvolver. Lamento que outras pessoas não estejam tendo a oportunidade que nós estamos tendo aqui.

Na plenária inicial do quarto módulo, comen-ta-se mais sobre o terceiro módulo:

Ivan – Percebi que a bronca é maior. Tudo o que vier é reflexo de um país inteiro. De que o Brasil é um país muito desigual.

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Oscar – Tem que trabalhar no coletivo, não dá mais para viver no âmbito individual. A generosi-dade é fantástica, o calor humano é o potencial da comunidade. Viver a situação é completamen-te diferente de ver ou saber que existe.

...A experiência do terceiro módulo foi uma das mais fortes que já vivi na minha vida... O Projeto Cactus [as famílias visitadas participavam deste projeto, ligado à Visão Mundial – www.visaomundial.org.br] foi uma grande surpresa... Como, num lugar como aquele, pode-se encon-trar um nível de organização como aquela... fan-tástica!? Aprendi muito lá, porque sentir o que senti não tem nada a ver com o saber... Saí de lá absolutamente convencido de que iria construir a casa de D. Tânia, mas me segurei para não per-der a oportunidade de refletir: o que é que tenho a ver com isso? O que está por trás disso? O go-verno é o culpado? Somos nós? A maneira como eu vivo e dirijo a minha empresa? De que adianta atender apenas aquelas famílias se há milhares de famílias iguais àquela?

Fred – comentando a metodologia do tercei-ro módulo – Tenho um sentimento interno de que estou fazendo algo por mim e, conseqüen-temente, pelas pessoas... Aprender a aceitar o outro como ele é... Acho muito interessante a forma como vocês trazem as informações, não como única verdade, mas como algo a ser com-partilhado, refletido, para que cada um possa chegar às suas próprias conclusões. Ter a experi-ência de Candunda trouxe uma nova perspectiva da pobreza e miséria. A abordagem do curso, de maneira geral, nos traz uma nova forma de ver o mundo... que até me emociona... com mais amor. O mundo é um organismo equilibrado, interliga-do e, de tudo o que fazemos, tem-se um reflexo.

Ranúsio – Estou com uma expectativa de com-partilhar mais com os companheiros a experiên-cia que vivemos em Candunda, refletir mais so-bre o que vivemos. Sobre nossas posturas como doadores e também das pessoas que recebem... Como envolver mais lideranças empresariais nes-se movimento que estamos criando para que possamos promover uma transformação efetiva? Eu não consigo fazer mais nada sozinho...

Na plenária final deste terceiro módulo, pude-mos compartilhar pensamentos como este: “Nós somos o ‘deus’ que cria o social à semelhança do deus que criou a luz da escuridão. Mas esse deus, para criar luz, seguramente entendia muito de escuridão. Ouvindo os relatos de vocês, me vem a consciência de como eu entendo pouco da

escuridão, da impotência, da desesperança, da dificuldade, de meus dejetos. E a gente se acha o super-herói porque entende de potência, de esperança, de força. Isso me remete ao quanto a gente entende de “luz” e nada de “sombra”... e ao quanto aquelas pessoas entendem de sombra. Entendemos muito de força e pouco de impo-tência. Atuar a partir da impotência é um grande desafio, é gerar luz a partir das sombras. Quem é professor de quem?”.

(Conteúdos e outros textos-base, vide Anexo 03.)

5.3.4 Módulo IV – Estratégias de ação para promover mudanças (Bezerros – Ser-ra Negra/PE – 17 a 20 de maio de 2006)

Visão Geral

Este é o módulo da prática, das soluções e das pos-sibilidades. Poderia ser também o caso de um em-presário que se dedica à questão social de modo exemplar ou de uma liderança do setor social que traga sua experiência e vivência de articulação, as-sim provocando os participantes a refletirem sobre o que podem fazer juntos.

Daremos também um desfecho à experiência de Candunda. A forte vivência do Módulo III ainda está em processo de digestão, provocando movi-mentos na alma dos participantes. Precisamos tra-balhar esses movimentos no âmbito dos indivíduos e do grupo, de forma que a experiência sirva como base de observação e percepção, além de fonte de aprendizado a ser explorada.

É esperado que os participantes saiam deste módulo com conclusões e decisões conscientes, além de ações estruturadas que direcionem suas ações de liderança para a transformação social das realidades em que vivem, tanto em suas organiza-ções quanto no contexto social que as envolvem.

Perguntas-guia deste módulo:

• O que precisa ser feito?• O que posso trabalhar para realizar o que me proponho?• O que vou fazer?• O que posso fazer sozinho?• Quem preciso envolver para realizar o que me proponho?

Como foi e o que aprendemos com o Módulo IV

Constou, o Módulo IV, da correlação entre a ex-

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periência de Candunda e a biografia de Abdalaziz de Moura, um líder social que atua a partir de Pernambuco. Desejamos provocar um movimen-to interior nos participantes que pudesse impul-sioná-los mais conscientemente para a ação no mundo. Mundo aqui entendido num “crescendo” que vai desde si mesmo, passando pelo grupo familiar, pela empresa, pelo “território de articu-lação” abrangido por ela, pelo País, pelo mundo, para ciclicamente voltar ao si mesmo e assim re-começar...

Nesse impulso de ampliar a visão do grupo sobre as premissas e os desafios que orientam a atuação na área social, buscamos refletir sobre os sete passos para desenvolver uma iniciativa social e também os doze “dragões”, que as amea-çam ao mesmo que tempo que as potencializam, extraídos dos livros Desenvolvimento de Iniciativas Sociais: da Visão Inspiradora à Ação Transformado-ra, de Christopher Schaefer e Tyno Voors [pre-senteado pelo programa a cada um dos partici-pantes], e Doze Dragões em Luta Contra Iniciativas Sociais, de Lex Bos.

Um inventário da agenda social de cada par-ticipante também foi trabalhado para compreen-der as variações de compromissos já assumidos por eles com o mundo lá fora. Neste módulo, re-servamos um “precioso tempo ocioso” para arti-culações entre eles, acreditando que algo nasce-ria se investíssemos, se delegássemos ao grupo o precioso recurso de Cronos. Os participantes, num movimento emocionante de reavaliarem suas práticas sociais, constituíram-se “recicladores” de sua própria angústia e parteiros de seu so-nho comum primariamente consensado: criaram, em reuniões coletivas, sem nossa tutela explícita, a Rede Lidera Nordeste. Planta tenra e delicada que poderá desenvolver-se em solo nordestino... Quem sabe vai nascer uma flor no chão esturri-cado pela seca?

O que disseram os participantes a partir da experiência deste quarto módulo:

Roberto – Meus ecos desde Candunda e a expe-riência de Moura mexeram ainda mais com o meu sentimento de que eu tenho que me envolver inexoravelmente com algum tipo de ação social. Isso tem relação com a minha empresa, com o Crea, é uma grande carga que sinto sobre mim.

Oscar – Eu me lembro de uma coisa que falamos no primeiro módulo... sobre se alguém nasce lí-der... A impressão que eu tenho de Moura é de uma pessoa que se prepara muito para fazer as

coisas e caminha a passos firmes em direção ao que ele quer seguir. Eu vejo, na história dele, mui-ta inspiração e muita transpiração. Eu conversei com ele no jantar e me impressionou a sua cone-xão com o mundo e com o mercado.

Carl – A importância desse tipo de trabalho é preparar as cidades pequenas para a emigração, porque é inviável 80% da população ser urbana, e experiências como essas em cidades menores é que têm conseguido trabalhar isso...

Houve também algum estranhamento:

Ivan – ...por ele [Moura] ter uma história dife-rente. Uma vida muito especial e muito diferente da realidade que eu vivo. Como me identificar com alguém assim?

Alguns destaques sobre o processo de cons-truir uma ação coletiva:

Wedja – Tivemos o impulso de dividir a iniciativa em duas [Pernambuco e Bahia], mas rapidamente aglutinamos em uma, houve o entendimento de que o projeto deveria aglutinar os meninos da Bahia e de que as dificuldades deles seriam difi-culdades do grupo.

Roberto – Cada um colocou a idéia que tinha sobre o Programa Lidera. Girou-se em torno de três ou quatro alternativas e consolidou-se num consenso. Para isso, precisamos definir um mo-derador, que agrupou as idéias e facilitou a dis-cussão das implicações de cada possibilidade, inclusive a de se fazer um projeto-fim.

Wedja – Para definir o projeto, partimos de um brainstorm e chegamos ao consenso de criar e consolidar a Rede Lidera Nordeste e fomentar o Programa Lidera, divulgar e apoiar no que for necessário. Esta foi a visão do grupo e atendia a uma necessidade.

Fred – Há uma necessidade de conhecermos mais as nossas ações antes de fazermos algo jun-tos, para nos apoiarmos mutuamente.

Oscar – Consideramos a possibilidade dessa rede se transformar em sub-redes de temas es-pecíficos, como educação e meio ambiente; é im-portante dizer que é fundamental a participação de Carl e Ranúsio [da Bahia] e que o grupo pre-tende assumir a vinda deles. Essa é uma rede do Nordeste, e vamos trabalhar para que o próximo

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Lidera possa ter mais pessoas dos outros estados, vamos movimentar outras redes.

Para provocar consciência sobre o processo de construção de uma ação social, praticamos, a cada dia do quarto módulo, exercícios de obser-vação e desenho de plantas.

Comenta Tião – O desenho aparece pelo traba-lho das mãos, mas começa no olho. Só se assus-ta, o olhar desatento.

Continuam os participantes:

Miguel – Você não pode contribuir com aquilo que não pode enxergar... Observar a planta me ajudou a compreendê-la melhor. Da próxima vez que eu for plantar uma planta dessas, eu vou sa-ber como fazer melhor...

Wedja – Eu vejo muito isso na capacidade de liderança... Outro dia eu vi um vídeo institucio-nal de quinze anos atrás. As pessoas passavam pelo terreno vazio da fábrica, e o meu pai ia des-crevendo cada parede, cada sala, cada máquina onde deveria ser colocada... e hoje olho pra fá-brica e vejo exatamente o que ele descrevia...

Oscar – O fundamental de qualquer ação é o conhecimento sobre o que estamos querendo fazer.

Arrematamos esta plenária:

Para você construir uma iniciativa social com resultados como os que tivemos notí-cias através do relato sobre o Serta (Serviço de Tecnologia Alternativa) [projeto coorde-nado por Moura], é preciso muita coragem. Fazer uma vez e fazer de novo, lembram-se de Moura? Invistamos mais tempo olhando, interagindo com as pessoas com as quais queremos trabalhar do que agindo sobre e a partir do ‘nosso’ projeto social propria-mente dito. Uma dada realidade, por mais desestruturada que pareça, contém seu pró-prio elemento dinamizador e só o revela ao olhar atento.

Deus no Outro

Se há um povo, e há!Eu não sou sozinho.se Tu és conosco, e és! Preciso de Ti, no outro.

Faz-me ver onde estás no outro.Impulsiona o ímpeto.Tua palavra é o meu prumo.Teu amor, minha bandeira.

Texto de Ivan Rocha (participante) ao final do quarto módulo.

(Conteúdos e outros textos-base, vide Anexo 04.)

5.3.5 Módulo V – As qualidades das lide-ranças do futuro (Japaratinga/AL – 09 a 12 de agosto de 2006)

Visão Geral

Estas serão as perguntas deste módulo:

• Qual é a minha filosofia de vida, meus valores, o meu papel?• Em que vou contribuir e com quem? • Qual é o meu compromisso?• Que ações concretas posso propor?

Cada um receberá e lerá sua carta que foi es-crita no primeiro módulo.

É um módulo bastante focado no indivíduo, quando ele é convidado a olhar para frente, focar no indivíduo e digerir. É bastante biográfico, mas uma biografia recente, de um ano para cá.

Ele traz o outro campo de batalha, o interior, para que o que cada um está pensando possa, de fato, acontecer. O primeiro fato é reconhecer que metamorfose aconteceu comigo. O que mu-dou em mim? Eles já relatam essa mudança. Aí, sim, vamos trabalhar com consciência imagina-tiva, inspirativa e criativa. A partir daí, podemos estabelecer uma filosofia de vida e, dela, deixar uma pergunta, para a qual teremos respostas di-ferentes: Qual é a minha filosofia de vida (minha missão, minha visão, meus valores)? A partir dis-so, eu terei a consciência de que tenho que dar continuidade a esse processo como indivíduo: o meu caminho. Qual é meu plano pessoal? Mais do que isso, qual é o meu papel? Não vamos fo-car no externo, e sim no eu.

Com o programa, desenhamos um “U”, par-timos de um mergulho na biografia de cada um e agora vamos para o outro. Esse processo que eles atravessaram é muito revelador. O eu se tor-nou visível, mas, quando eles “voltam”, os papéis, as imagens sufocam a essência. Precisamos tra-zer um exercício em que eles se reconheçam. Que

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direcionamento quero dar à minha vida?A Rede recém-criada entra como um evento

biográfico importantíssimo na vida deles, e eles precisam valorizar essa construção e a importân-cia dela na vida deles. Isso está no campo dos valores, na nova visão de mundo ampliada que se estabeleceu dentro deles. Isso mexeu com eles, se transformou numa missão, e precisamos cla-rificar isso para eles. Se isso é deles de verdade, prioridades serão revistas, o tempo será revisto.

Duas atividades práticas costurarão todo o módulo: a feitura do pão e a montagem teatral do conto do programa.

Na primeira atividade, os participantes serão desafiados a buscar, a mobilizar os ingredientes para a feitura de pães (material, quem saiba fazê-los e onde cozê-los). Todos esses recursos es-tão disponíveis em algum lugar do hotel ou nas redondezas, porém “ninguém” sabe onde. Essa atividade, na verdade, é uma grande metáfora do programa, ou seja, os recursos para nossa ação estão disponíveis em algum lugar, é preciso saber o que queremos fazer juntos e mobilizar esses recursos. Serão feitos pães para servir de alimen-to na ceia final e para que eles levem para suas casas.

A montagem do conto do programa consta de, nas duas primeiras noites, preparar toda uma retrospectiva do programa, buscar uma imagem para o conjunto dessa vivência e, a partir dessa imagem, montar uma peça de teatro com a parti-cipação de todos. Essa peça é apresentada antes da ceia final. De certa forma, é o pão da memória do programa, que, agora, alimenta cada um.

Como foi e o que aprendemos com o Módulo V

O Módulo V segue corajosamente o “possível mapa” inicial da jornada, chegando ao máximo de “movi-mento expiratório”. Ele faz isso propondo a constru-ção confrontante de um plano individual de autode-senvolvimento frente à consciência, agora ampliada, sobre processos de desenvolvimento social. Volta-mos, de certa forma, ao início, mas ao início de uma nova oitava musical, ou a uma nova volta de uma espiral ascendente. Assim, o programa reafirma sua convicção de que toda transformação externa passa pela transformação do indivíduo, do agente. Planos para a empresa, para atuações “solo” e/ou para prá-ticas sociais a partir da Rede Lidera, recém-formada, foram confrontados com os planos individuais. Todo o programa, seus conteúdos, suas atividades e vivên-cias se oferecem, agora, como matéria-prima desse momento supremo: os participantes preparam-se para zarpar. Eles declaram:

Sobre a atividade artística com música e de re-conexão:

Carl – Ontem eu ainda não estava sintonizado no canal Lidera... mas essas músicas que canta-mos agora pela manhã abriram as portas e me fi-zeram sintonizar com tudo o que vivemos... acho que usar a música é a chave da reconexão!

Daniel – Ontem à noite, no exercício com todo o grupo, percebi o nível de integração a que este grupo chegou... muito legal isso!

Olhando retrospectivamente para todo o programa, os participantes comentam:

Pedro – O processo do nosso grupo foi sensa-cional... Recordar todos os módulos... descobriu-se talentos, houve uma sincronicidade incrível em termos das coincidências entre o que cada um estava passando. A confiança entre nós foi tão grande que fluíram coisas que não foram pre-vistas no exercício.

Carl – Foi interessante notar que todos nós não tínhamos a mínima idéia de tudo o que estava para acontecer, e cada momento surpreendia. A palavra final de todos foi aprendizado.

Oscar – O trem voou, e quase não deu de tan-tas coisas que tínhamos a dizer... Notava-se uma certa ansiedade de querer ver concretizado o que lhe vinha à mente... Todos os momentos vividos foram muito especiais... O momento de Candunda e o aprendizado com o projeto da Vi-são Mundial e o depoimento de Moura foi muito marcante...

Wedja – O meu correio noturno começou on-tem no nascer da lua. A dificuldade dela nascer e brilhar por causa da nuvem que impedia, mas ela conseguiu ultrapassar. Aquele obstáculo nova-mente aparecia, e novamente ela vencia... E, hoje pela manhã, o Sol estava lá... no seu lugar, mas ocupando um outro espaço... Assim é a vida... Foi mesmo muito rico para mim, eu tinha chegado angustiada... e foi muito bom compartilhar com pessoas diferentes; aliás, essa diversidade trouxe uma experiência muito rica, principalmente para mim, Daniel e Ivan, que somos mais jovens. Es-tamos tendo a oportunidade de aprender com vocês coisas que nós jamais teríamos chance de antecipar.

Roberto – Ontem, no nosso compartilhar, eu fi-

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RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PARA DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS EMPRESARIAIS SUSTENTÁVEIS

quei muito contente com a dádiva de ouvir. Eu tinha muita dificuldade de escutar, não tinha mui-ta paciência. Mas ontem ficou claríssimo o gran-de aprendizado e a dádiva que é ouvir o que as pessoas estão dizendo, sempre, todas as falas, trazem algo que agrega valor a você. De manei-ra geral, eu vejo que todos nós amadurecemos muito nesses últimos oito meses. Esse processo nos libertou de muitos paradigmas e provocou mudanças.

Tivemos, neste módulo, exercícios e conver-sas sobre o tema do que vem a ser sina e desti-no; sina sendo entendida como a caminhada de vida de uma pessoa que desenvolve pouca ou nenhuma consciência sobre certos aspectos de sua prática, a vida é tida com algo dado, a ser sofrido, suportado; e destino como sendo a situ-ação de tomada de consciência sobre os rumos individuais e conjunturais do desenvolvimento de uma pessoa ou comunidade, de forma complexa e inter-relacionada, como algo a ser construído, transformado, compreendido. Fizemos assim no sentido de trazer qualidade aos planos de au-todesenvolvimento e de atuação social. Eles co-mentam:

Ivan – Eu sou filho de Kilsa e Tonico... mas eu vejo aqui uma oportunidade de fazer uma esco-lha, minha própria história.

Carl – Acho que o Lidera acessou o nosso DNA que nos impulsiona para agir...

Anchieta – Tenho uma certa dificuldade de di-ferenciar, mas penso que temos o livre-arbítrio para escolher os nossos caminhos...

Fred – Embora meu avô já atuasse socialmente, era diferente... Eu já tenho uma maneira diferen-te, que eu vejo ser a mais acertada, mesmo que as pessoas não compreendam essa forma menos convencional.

(Conteúdos e outros textos-base, vide Anexo 05.)

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RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PARA DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS EMPRESARIAIS SUSTENTÁVEIS

Mas e se eu descobrir que o inimigo está dentro de mim mesmo, que eu sou o inimigo que deve ser ama-do — e aí?Carl Gustav Jung

Essa frase de Jung nos marcou muito quando a encontramos no Módulo III, às margens do Ve-lho Chico, na represa de Xingó. Ela nos deu si-nal de que Responsabilidade Social Empresarial começa, sem medo de sermos piegas, dentro de cada indivíduo que se assume internamente em luta, em busca de lidar internamente com esse “inimigo amado”. Esse inimigo relaciona-se com o nível de consciência que cada um constrói em si, acerca do seu papel no mundo e da “lógica” que engendra o mundo como ele se apresenta hoje.

Conhecer o que se passou dentro de cada participante do programa, visitar sua sagrada intimidade, é condição fundamental para enten-der o cerne do Lidera. É do intangível de cada experiência individual que nos vêm as mais im-pressionantes notícias que o programa pode dar ao mundo. Elas trazem relatos de espantos, de medos, de preconceitos sendo transformados e de uma nova postura sendo, módulo a módulo, atividade a atividade, corajosamente construída. Agradecemos a cada um dos doze “Ulisses” e de nossa “Ulisséia” por nos abrir a intimidade de sua viagem rumo à Ítaca.

6.1 Carl von Hauenschild

Empresa: Urplan (consultoria em planejamento, urbanismo e arquitetura).Cargo: Diretor.6

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Formação: Arquitetura e Urbanismo.Nacionalidade: Alemã.Idade: 55 anos, com 29 anos de Salvador/Bahia.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Tris-teza pela falta de ética. É um país de contrastes: solidariedade X egocentrismo, fé X materialismo, sensibilidade X brutalidade, frieza X... etc.

Tempo dedicado a atividades sociais: 30%.

Área social: Usa habilidades, conhecimentos, experiências e conceitos profissionais e éticos em prol dos carentes desses elementos, atuan-do na própria empresa, na Escola Antroposófica (escola privada sem lucratividade). É represen-tante do Programa de Qualidade e Planejamento do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), par-ticipa de Grupo de Trabalho (GT) de seminários sobre assuntos importantes para a cidade. Exer-ce a função de diretor de Sinaenco regional, faz parte da comissão técnica de um condomínio de condomínios, é voluntário da ONG Cria. Todas essas atividades não-empresariais não são remu-neradas.

Durante:

Módulo II – No nosso grupo, ficou claro que trabalhar o ambiente social da empresa já é algo muito importante.

Módulo III – A importância desse tipo de traba-lho é preparar as cidades pequenas para a não-emigração, porque é inviável 80% da população brasileira ser urbana; experiências como essas, em cidades menores, é que têm conseguido ame-nizar isso.

Módulo V – Ontem, eu ainda não estava sinto-nizado no canal Lidera, mas essas músicas que cantamos agora pela manhã abriram as portas e me fizeram sintonizar com tudo o que vivemos. Acho que usar a música é a chave da reconexão!

Foi interessante notar que todos nós não tínha-mos a mínima idéia de tudo o que estava para acontecer, e cada momento surpreendia. A pala-vra final de todos foi aprendizado.

Acho que o Lidera acessou o nosso DNA, que nos impulsiona para agir...

Depois:

Os modelos conceituais de processos de de-

senvolvimento do indivíduo, da organização e da ação social me deram uma nova perspectiva de enxergar e avaliar a minha atuação, como um novo aproach para enfrentar ação e reação. Exem-plo: estive, nesta semana, em Porto Seguro, onde fizemos (1995–1998) os planos de manejo e de gestão das áreas de proteção ambiental, para or-denar os grandes investimentos de desenvolvi-mento turístico geridos por um conselho gestor composto de cerca de trinta representantes de órgãos, ONGs e representantes setoriais.

Acontece que os conflitos dos anos passados entre os diferentes representantes não estavam mais permitindo que se chegasse a conclusões consensuais e, em função disso, paralisava-me os investimentos privados pretendidos.

Assim, me convocaram (como pai da criança) para ajudar a desatar o nó. Aí, nessas 11 horas de reunião, percebi o que este Lidera me deu de ferramentas de avaliação de ação e reação, como deu uma base para reanimar a sinergia perdida nos eventos biográficos do organismo.

Tendo em vista que minha ação social na vida profissional (planejar e projetar para organismos sociais) e na vida privada sempre estavam interli-gadas e se superpondo, a minha vida de ação so-cial estava muito bagunçada e atropelada pelas múltiplas ações (fruto de não saber dizer “não” às inúmeras solicitações e da incapacidade de traçar e seguir uma linha mestra).

O Lidera me deu uma sistemática de avaliação de minha vida e de minha atuação social como de priorização de certas ações. Isso me permitiu, hoje, racionalizar um pouco mais meu tempo e me concentrar melhor e em menos ações.

Acredito que estou mais consciente de mi-nhas capacidades e de qual direção estas devem ser desenvolvidas.

Outro exemplo foi a organização e coorde-nação do Fórum Salvador e suas Frentes Marítimas – Elo Perdido de Desenvolvimento, que, além de ter sido um evento de grande repercussão para a cidade, reenergizou a entidade do Instituto dos Arquitetos da Bahia, que estava bastante desgas-tado e desagregado. No fundo, esse subproduto se tornou o produto de maior relevância, porque conseguimos, apesar de um gasto de energia grande, que todo mundo recarregasse as bate-rias para muito mais, pois achamos a química do fermento dessa massa acomodada.

Percebi que quase todas as ações coletivas de que eu participei têm a ver com minha vida e minha experiência profissional, com minha inde-pendência preservada como indivíduo ou cida-dão, com minha visão mais holística dos fatos e

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com minha perseverança na ação abraçada. Acho que isso é meu capital a multiplicar, a desenvol-ver e foi isso que me capacitou e me capacitará para contribuir para mudanças sociais. O Lidera me deu a certeza de que é isso mesmo.

Refletir sobre mim, minha vida, minha em-presa, minha ação, meus papéis, minhas forças e fraquezas, meus conflitos, minhas potencialida-des, minhas capacidades e minhas dificuldades de imaginação, criatividade, interação; enxergar, ouvir e sentir harmonia, ritmo, sincronia, siner-gia; como estar antenado com a sincronicida-de, com o potencial do entre-espaço, do vazio, do silêncio, da oportunidade de experiência de todo acontecimento, com o potencial do imagi-nário, do outro ângulo de visão e levado a muito mais. Uma experiência única, um extraordinário presente, uma enorme oferta de oportunidades de aprendizagem, que ninguém sabe o quanto conseguimos aproveitar e o quanto se passou. Obrigado a todos, de todo coração.

6.2 Daniel Queiroz

Empresa: Creatto Comunicação Estratégica (agência de publicidade).Cargo: Diretor-executivo.Idade: 30 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Tris-teza e alegria. Tristeza pela constatação de tanta mentira e roubalheira e tanto desperdício, e ale-gria por acreditar que esse momento será rico no desenvolvimento de uma cultura política mais avançada em nosso povo, daqui pra frente.

Área social: Atua apoiando causas. Apoiou o Interage, a Casa de Passagem e diversas outras organizações do Terceiro Setor. Foi, também, mentor no Programa para o Futuro. Atualmente, apóia o AEC e o Ponto Cidadão e se dedica ao desenvolvimento do segmento onde atua empre-sarialmente, através do Sindicato das Agências de Propaganda (Sinapro) e da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap).

Antes:

Tinha a expectativa de desenvolver meu poten-cial de realização na área social e de aprender ferramentas para colocá-lo em prática.

Durante:

Módulo II – A conclusão é de que tudo parte

de um sonho... Que mundo é esse que pode ser criado? E que empresa é essa que pode fazer a diferença? Percebi que já fizemos muito mais, mas que, no momento, é preciso uma retomada nessa visão e no empenho social da empresa e de seus colaboradores.

Módulo III – Eu sempre achei que futilidade não fazia parte do meu dia-a-dia, mesmo con-vivendo muito próximo de ambientes altamente influenciadores nesse sentido... Passando por esta experiência, me deparei com realidades muito diferentes e, ao mesmo tempo, bastante presentes em nosso contexto de vida, portanto, o meu conceito de futilidade mudou bastante, inclusive em relação às minhas próprias atitu-des...

Sem dúvida vivenciei experiências sociais que não teria tido oportunidade de viver de outra forma, e Candunda não foi a única. Mas poder ouvir e compartilhar as necessidades, as intenções, os desejos e as realizações de cada participante me fez enxergar o quanto ainda pode ser feito.

Módulo IV – Sobre a Rede Lidera, nascida neste módulo – Através da Rede Lidera, espe-ro poder desempenhar melhor o meu papel na sociedade, articulando esforços para um melhor desenvolvimento social.

Módulo V – Através do conteúdo técnico e lógico exposto, além da riqueza dos debates e das discussões sobre os temas, o objetivo foi alcançado! Vi que, também no que diz respei-to à ação social, vários papéis são importantes, e eles vão desde o voluntário executor de uma determinada ação até a participação efetiva de uma determinada liderança — social, empresa-rial ou simplesmente articuladora.

Posso afirmar, com toda a certeza, que o misto de capacitação técnica e experiência agregada a partir das práticas expostas pelos outros participantes engrandeceu minha forma de enxergar e atuar empresarialmente.

Depois:

Enxergo cada vez mais a importância do traba-lho em grupo, compartilhando e evoluindo com experiências positivas, para um melhor desen-volvimento social macro e micro.

Posso perceber em mim a incorporação de no-vas práticas individuais e sociais e o fortaleci-

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mento de “antigas”, assim:• Autoconhecimento.• Melhoria no trato das dificuldades e com ter-ceiros: pessoal e profissionalmente.• Melhoria no processo de aprendizado de uma forma geral, a partir das referências de atitudes alheias.• Forma de enxergar as demandas e “soluções” a partir da ampliação da consciência social ad-quirida.• Mesmo com a dificuldade de tempo, tenho con-firmado minha participação e aumentado o meu compromisso com o social, através da Rede Lidera; do apoio à AEC; da retomada do E-mentoring; e do apoio aos projetos do Ponto Cidadão.

No dia 02 de março de 2007, reunimos os participantes da primeira edição com o ob-jetivo de sentir o que se passara entre agosto de 2006 e março de 2007. Nessa oportuni-dade, Daniel escreveu uma descrição sobre o Lidera.

O Lidera é mais do que se imagina, é mais do que se vê e muito mais do que se diz. Quem não o conhece não vai entendê-lo, quem o vivencia não consegue enxergar seus limites, e, na hora de falar dele, é impossível transmitir exatamente o que ele é, afinal de contas, o Lidera é muito para todos e ao mesmo tempo na medida certa para cada um. Pode parecer estranho não conseguir dar a dimensão exata do antes, do durante ou do depois, mas é exatamente essa a experiência que o Lidera passa do começo ao fim. Fim? Será mesmo que podemos falar em fim do processo? Acho que não. O Lidera só tem começo, e o seu “fim” pode ser considerado apenas como con-tinuidade para cada um de seus integrantes nas atitudes para um conjunto.

6.3 Frederico Cavalcanti de Petribú Vilaça (Fred)

Empresa: Usina São José (agroindústria sucro-alcooleira).Cargo: Diretor.Formação: Advocacia (Universidade Católica), pós-graduação em Direito Empresarial (Univer-sidade Federal de Pernambuco) e pós-graduação em Gestão de Empresas (Fundação Getulio Var-gas).Nacionalidades: Brasileira e portuguesa.Idade: 35 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Um belo país que busca o caminho para o desenvol-

vimento sustentável.

Tempo dedicado a atividades sociais: 10%.

Área social: Mantém uma escola gratuita para 420 crianças e jovens — do Jardim ao Ensino Médio —, com fornecimento total de material, fardamento, alimentação e transporte, oferecen-do, além das aulas regulares, aulas de informática, música, práticas agrícolas e educação ambiental. Desenvolve o Programa de Inclusão Social pelo Es-porte, através do Medalha de Ouro (desenvolvido na comunidade de Cueiras, com quarenta crian-ças); o programa Usina de Talentos (comunidade da Usina São José); e o programa Atletas de Elite (apóia o atletismo, patrocinando o atleta Ubira-tan dos Santos, ex-catador de marisco, que está participando do Pan-americano 2007). Tem par-ceria com entidades que trabalham na área so-cial e, também, realiza outros programas sociais, tais como habitação e agricultura familiar. Atua em diversos programas de conservação do meio ambiente, dentre eles um convênio com univer-sidades nacional e internacional. Destina 1% do seu tempo para o Comdica, em alfabetização de adultos.

Antes:

Inicialmente, pensei muito a respeito, até porque não estava posto, de forma clara, o formato do curso, o conteúdo, como este seria. A dedicação do tempo e os locais também me afastavam um pouco da decisão de participar. Resolvi partici-par acreditando que seria uma boa experiência e poderia agregar conhecimento, sendo o AEC uma entidade, para mim, de referência no assun-to. Aceitei em razão de ter sido escolhido, bem como pelos participantes que já haviam confir-mado.

Minhas expectativas inicialmente eram de ser um curso mais técnico, com ênfase em aspectos de como aplicar a RS na empresa, como conduzir os processos para tornar a empresa uma empre-sa moderna e adequada à prática da RS de forma profissional.

Quando do primeiro módulo, verifiquei que o rumo do curso era um pouco diferente, até por-que o foco dos primeiros módulos foi a pessoa, o que vejo como imprescindível (“Seja a mudança que você quer ver no mundo”).

Acredito que eu, pessoalmente, conviva com dois mundos: um primeiro, com cabeça de em-presário, pragmático e objetivo; e outro mais filosófico. Em tudo que ligo à atividade empresa-

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rial, em princípio, busco mais objetividade, logo tenho que buscar paciência para me acalmar e pensar, porém, antes de empresários, somos se-res humanos, e há questões básicas que o siste-ma nos leva a desprezar e que não são toleráveis dentro da perspectiva de uma estada responsável neste mundo. Nossa vida necessita de uma cons-ciência plena para que não vivamos na alienação, buscando um resultado equivocado ou vazio.

Durante:

Módulo I – Não consegui desconectar total-mente, pois, quando a gente internaliza alguma coisa, mesmo estando no dia-a-dia, deixa essa coisa ficar lá no nível inconsciente.

Eu vejo essa necessidade de autoconhecimento fundamental para que você possa estar preparado para enfrentar outras coisas. Os conceitos que vi no primeiro módulo me ajudaram a compreender a mim mesmo e ao outro... Nem todas as pessoas enxergam o que estou enxergando, e eu percebo que devo ter tolerância e procurar uma maneira de chegar até elas. Hoje, compreendo que, apesar da diversidade, a gente pode somar... quando se tem boa vontade e intenção.

Módulo III – O sentimento é desagradável, como uma vacina, um remédio, que se tem que tomar, mas é desagradável. A miséria é desagra-dável. Quando cheguei onde ia ficar hospedado, o Senhor Manoel, dono da casa, disse: “Mulhé, u homi vem de longe e vem surrindo... é como se conhecesse a gente há muito tempo”. O maior presente é a presença que a gente pode dar para eles.

Comentando a metodologia do terceiro mó-dulo – Tenho um sentimento interno de que es-tou fazendo algo por mim e, conseqüentemente, pelas pessoas... Aprender a aceitar o outro como ele é... Acho muito interessante a forma como vocês trazem as informações, não como única verdade, mas como algo a ser compartilhado, re-fletido para que cada um possa chegar às suas próprias conclusões. Ter a experiência de Can-dunda trouxe uma nova perspectiva da pobreza e miséria. A abordagem do curso, de maneira geral, nos traz uma nova forma de ver o mundo... Que até me emociona... Com mais amor. O mundo é um organismo equilibrado, interligado, e, de tudo o que fazemos, tem-se um reflexo.

Módulo IV – Há uma necessidade de conhecer-mos mais as nossas ações antes de fazermos algo

juntos e para nos apoiarmos mutuamente.

Módulo V – Comentando a palestra Sina e Destino – Embora meu avô já atuasse social-mente, era diferente... Eu já tenho uma maneira diferente e que eu vejo ser a mais acertada, mes-mo que as pessoas não compreendam essa for-ma menos convencional.

Depois:

Após o curso, passei a ser mais reflexivo sobre meus atos e suas conseqüências e fiquei mais an-tenado com as questões sociais, suas causas e conseqüências. Vi-me com mais responsabilida-de e entendo que quase toda atitude cotidiana deságua em um determinado ponto.

Com o Lidera, melhorei minha prática. Fortaleci minha postura de reflexão constante do meu pa-pel no mundo e do rumo que estou adotando.

O futuro da sociedade, do mundo como um todo, meu país e minha região. Tenho pensado como caminhamos, qual é o meu papel e para onde seguimos. Com que tendências nas quais acredito posso colaborar?

Em geral, acredito em alguns princípios e não tenho tolerância para o desvio destes, porém, em alguns casos de desvio, busco analisar se ele re-almente fere um princípio verdadeiro e que eu tenha como essencial; caso contrário, busco agir com mais tolerância.

Aprendi a ser um melhor ouvinte. Vejo como é importantíssimo e acredito ter melhorado; en-tendendo que fazer silêncio não é ser um bom ouvinte. Ouvir não é apenas esperar a hora de falar.

Aprendi que a realidade de cada um se deve ao contexto em que o indivíduo se desenvolveu, mas que, apesar das diferenças de percepção, quando agimos com o coração para a construção de um mundo melhor, podemos achar caminhos a serem trilhados juntos.

Refleti que as práticas da minha empresa são boas e que estou no caminho certo. Algumas ferra-mentas me ajudaram a aperfeiçoar minha prática.

Sim, vivi uma experiência interessante que mo-dificou coisas dentro de mim. Certamente penso diferente de antes e entendo melhor a realidade. Aprendi, também, com o exemplo das pessoas.

No dia 02 de março de 2007, reunimos os participantes da primeira edição com o ob-jetivo de sentir o que se passara entre agosto de 2006 e março de 2007. Nessa oportunida-de, Fred escreveu uma descrição do Lidera.

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Formato dos módulos – O Lidera tem um for-mato adequado dos módulos. Porém recomendo para ele o seguinte: • Início – quarta, às 18 horas. Fim – sábado, às 12 horas. • Seria bom fazer referência ao respeito aos ho-rários. • Não seria adequada a modificação do calendá-rio após o início do programa. • Delimitação de horários.

Local • Penso que os locais de realização dos módulos foram adequados. Para imersão, é interessante um bom lugar.

Conteúdo • Conteúdo adequado e bem ministrado.• Vejo a aplicação da música como elemento de união, formação de grupo, elemento desinibidor e estimulante.• As artes plásticas permitem aprofundamento interno e reflexão.• O conteúdo teórico/acadêmico de Luiz propi-cia uma seqüência sistematizada de reflexão, de-senvolvendo um formato.• A vivência de Candunda proporciona uma ex-periência verdadeira e sensibilizadora.• Deveria haver um conteúdo direcionado à famí-lia dos participantes. Penso que um módulo ou talvez um dia com a família.

Linguagem• Adequada. O Lidera deve se lembrar de sempre que seu público-alvo é composto de empresá-rios, e, assim sendo, a linguagem deve ser com-patível com estes. Vejo como de suma importân-cia a participação de dois facilitadores.

Participantes• O Lidera deve manter a diversidade: sexo, ida-de, credo e demais aspectos pessoais, assim como dimensão e área de atuação das empre-sas.• Talvez ele devesse verificar a participação de pessoas da Paraíba, por ser um estado tão pró-ximo e que tem muita ligação conosco, e ainda do interior do nosso estado.

Literatura • Estimular uma leitura prévia de livros.

Filmes • Estimular os participantes a assistirem filmes no contexto antes dos encontros e durante eles.

6.4 Ivan Rocha

Empresa: ADC Advogados e Consultores (escri-tório de advocacia).Cargo: Sócio Advogado.Formação: Advocacia e Administração de Em-presas, com pós-graduação em Direito Civil.Naturalidade: PernambucanoIdade: 28 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Muito orgulho e amor.

Tempo dedicado a atividades sociais: 25%.

Área social: É advogado militante, vice-presi-dente da Comissão de Direito do Terceiro Setor da Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Per-nambuco (OAB/PE), Diretor Jurídico do Clube Náutico Capibaribe e Diretor da Visão Mundial.

Durante:

O Programa Lidera me despertou para um proces-so de autodesenvolvimento para o qual eu estava adormecido. Além disso, me mostrou que o con-ceito de desenvolvimento que eu conhecia e pra-ticava socialmente não estava adequado. Através do programa, fizemos várias reflexões pessoais que têm repercussões muito relevantes na nossa atuação empresarial. Vi que algumas coisas que me pareciam obscuras eram exatamente o “ouro” para o meu desenvolvimento.

Uma vez conhecedor de mim mesmo, após as profundas reflexões pessoais, pude reavaliar mi-nha atuação social. A exposição a que fui subme-tido, o método do programa e outras experiên-cias vividas com os demais integrantes do grupo fizeram com que eu reavaliasse a minha atuação social, especialmente no que tange ao meu papel dentre as lideranças empresariais que pretendem influenciar o contexto sociopolítico da nossa re-gião. Hoje, acredito que tenho uma atuação so-cial mais focalizada, com propósito, organizada.

Fui criado com um sentimento muito grande de que deveria atender às expectativas sociais em meu redor — que eram muitas —, de forma que, muito cedo, eu tinha uma agenda social de muito peso, seja no aspecto da responsabilidade, seja no que se refere à carga de tempo propria-mente dita. Com algumas reflexões que fizemos no programa, eu fiz um replanejamento completo da minha agenda social, definindo parâmetros, abrindo mão de iniciativas, iniciando outras e re-dimensionando muitas delas. Dessa forma, pude

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observar, com clareza e multidão de conselhos, o que é de fato relevante, importante e nodal para mim e para a sociedade, nessa ordem.

Todas as plenárias, as reflexões, as trocas, a experiência de Candunda e os relacionamentos construídos não existiriam de nenhuma maneira fora do Programa Lidera. Todas essas coisas aci-ma descritas tiveram uma carga de importância muito grande naquilo que eu estou chamando de “minha mudança de vida” ou “o início do meu processo contínuo de autodesenvolvimento”.

Módulo I – Interessante é que eu imaginei que, aqui, a gente ia trabalhar algo mais concreto... Desenvolver uma proposta juntos, e me surpre-endi quando nós trabalhamos a nós mesmos. E foi muito bom e importante. Fiquei chocado com a metodologia, pois tudo aqui ficou muito tempo na minha cabeça: as músicas, a biografia.

Módulo III – Comentando a vivência de Can-dunda – O “sentir” é completamente diferente do “saber”. Mesmo que eu tivesse visto um DVD feito só pra mim de tudo aquilo que eu vivi, eu não sentiria... E isso faz toda a diferença. Percebi que a bronca é maior. Tudo o que vi é reflexo de um país inteiro. O Brasil é um país muito desigual.

Módulo V – Na plenária da palestra Sina e Destino – Eu sou filho de Kilsa e Tonico... mas eu vejo aqui uma oportunidade de fazer uma es-colha, minha própria história.

Depois:

Vejo de forma diferente a minha atuação social; é preciso voltar a dar valor, acreditar e focalizar em pessoas; entender o meu papel na qualidade de liderança empresarial aqui no Nordeste; refletir nas minhas habilidades e nas oportunidades que tenho de usá-las com propósitos.

No dia 02 de março de 2007, reunimos os participantes da primeira edição com o ob-jetivo de sentir o que se passara entre agosto de 2006 e março de 2007. Nessa oportuni-dade, Ivan escreveu uma auto-apresentação do Lidera.

Eu, Lidera

Eu sou fruto do sonho de Deus. Meus pais terrenos são orgulhosos de mim. Eu sei que dou trabalho, mas também faço muito bem a eles. Proponho-me a congregar empresários com um propósito.

Eu não sabia o que eu era realmente, até que fui efetivamente acontecendo.

Hoje, eu sei um pouco mais quem sou, mas ainda não estou fechado e definido em todos os aspectos. Preciso me conhecer um pouco mais.

Uma das coisas que aprendi de mim mesmo — e que não sabia — era que a minha existên-cia causaria um impacto tremendo na vida desses empresários, dos meus pais e de outras pessoas.

Eu tenho certos posicionamentos e questio-namentos que as pessoas precisam ver e fazer, mas raramente vêem e fazem.

Eu preciso de irmãos ou, talvez, filhos. Não quero ficar sozinho.

Relendo essas frases que escrevi de mim mes-mo, soou meio arrogante. Portanto, tenho que dizer que não sou só virtudes e poderes... Tenho fraquezas e defeitos também... mas afinal, quem não os tem? Não são essas fraquezas que são nosso “ouro” de desenvolvimento?

Agora, eu só sei que preciso crescer, me desen-volver e garantir que amanhã eu possa continuar existindo, colhendo os frutos e, se possível, vendo outros como eu passarem a existir também.

Falando em garantir o meu futuro, acho que preciso de uma previdência privada. Não posso viver de mesadas. Tenho que trabalhar.

Não posso deixar de falar nas pessoas que me ajudam. Deus sabia o que estava fazendo quando as trouxe para perto. Tudo se encaixa de forma perfeita. Serei grato para sempre.

Assinado: Lidera

6.5 João Freitas

Empresa: Vishay Phoenix do Brasil (indústria de componentes eletrônicos).Cargo: Country Manager e Gerente de RH/TI.Formação: Engenharia Elétrica, MBA em Gestão de Serviços e especialização em RH.Naturalidade: São Paulo.Idade: 46 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Um país com potencial imenso, mas que corre um grande risco de desindustrialização, como a que ocorreu na Argentina. O desenvolvimento social, através de medidas assistenciais, como vem sen-do priorizado pelo governo, não é sustentável. Por outro lado, sobra demagogia e faltam resul-tados nas ações de desenvolvimento econômico. Os empresários, por outro lado, precisam assu-mir um papel mais ativo na parceria com o Tercei-ro Setor, em especial nas ações de transformação

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social sustentáveis e na influência sobre as polí-ticas públicas.

Tempo dedicado a atividades sociais: 8%.

Área social: Tem quatro frentes em Respon-sabilidade Social: vice-presidente (voluntário) da Associação das Indústrias do Curado (As-sinc), que apóia projetos sociais de segurança e iluminação; conselheiro do AEC–PE; vice-presidente do Clube da Philips e membro da comissão de negociação do Sindicato de In-dústria Metalúrgica.

Na empresa, trabalha nas áreas de Recursos Humanos e Tecnologia da Informação, respon-dendo também pelas questões administrativas da região. Implanta políticas de pessoal legais e de benefícios, coordena o Comitê de Respon-sabilidade Social em que implantou o programa Times de Ação Social, que estimula o voluntariado com recursos e apoio da empresa.

De seu tempo, 90% é dedicado à empresa e 10% a outras atividades, entre elas, a de professor universitário das cadeiras de RH e Qualidade.

Antes:

Me propus a desenvolver habilidades de lideran-ça na área social e a formar um grupo forte para lutar pelo desenvolvimento da nossa região.

Durante:

Módulo I – Quando eu saí daqui, eu não per-cebi a mudança, mas depois eu fui percebendo que todo o tempo eu relacionava o que lia e via no dia-a-dia com os conceitos com os quais me relacionei aqui...

Descobri também valores que havia dentro de mim, que foram fortalecidos e reavivados. Come-cei também a ver as pessoas que não têm valores, e isso me decepcionou. Tinha muita coisa a que não estava prestando atenção, mas que passei a enxergar. Realmente, eu aprendi muito e, se o ob-jetivo era abrir a nossa mente e nos fazer mudar, foi atendido.

Módulo II – Chamou a atenção o quanto a or-ganização [JBR] tem as características dele [Pe-dro Pereira]. A forma como ele faz essa ponte de identificação das pessoas... A sustentabilidade do negócio relacionado com a sustentabilidade da sociedade... Ele passa crença e muita verdade nisso... é a história de um líder que toda organi-zação gostaria de ter.

Módulo III – Comentando sua vivência na fa-mília que o recebeu, em Candunda – Eu sen-ti, no primeiro momento, que ia ser rejeitado. Ninguém estava me esperando. Componentes como chão, teto e porta não são prioridade no lugar. Muda a forma da gente ver a vida... a vivência foi fundamental... Uma coisa é ouvir falar sobre tudo o que está ali, outra é viver... E aprender uma maneira estruturada de atuar como o Projeto Cactus.

As reflexões sobre o desenvolvimento das nossas organizações e da trajetória de cada um, associadas ao grande aprendizado que foi a visita ao projeto da Visão Mundial em Alago-as e à apresentação de Moura sobre o Serta, me abriram novas perspectivas sobre a realida-de e o potencial das iniciativas do desenvolvi-mento sustentável.

Percebo principalmente que o volume de ati-vidades com as quais tenho me comprometido me impelem a uma atuação que acaba não sendo adequada. Percebi também a importância da arti-culação e que uma idéia de projeto social requer compartilhamento e comprometimento de uma equipe, e esse é o maior desafio para atuar.

Hoje debato o assunto com mais confiança e tenho buscado orientar melhor as pessoas que estão à minha volta, não só no contexto profis-sional, como pessoal, compartilhando as expe-riências e os aprendizados do programa. Estou aplicando esse conhecimento na reformulação do programa de Responsabilidade Social da mi-nha empresa. Como presidente da Associação das Indústrias do Curado, estou buscando mos-trar ao grupo a importância da associação ter um papel social efetivo.

Depois:

Os sete meses que se sucederam ao último mó-dulo do Lidera coincidiram com a conclusão do processo de venda da nossa empresa, que trouxe mudanças profundas nos campos profissional e pessoal. Passei de sócio a empregado, assumindo mais responsabilidades, mas menos autoridade e ainda recursos reduzidos. A fase de negociação e, depois, a de incorporação deslocaram a aten-ção da empresa dos projetos sociais, trazendo ainda um ambiente menos favorável pela falta de autonomia de decisão e por muita pressão por resultados financeiros.

Entramos em 2007 com o propósito de reto-mar esse tema, mas a lacuna de um ano sem atu-ar e a nova realidade tornaram inviável prosseguir pelo mesmo modelo, é preciso reconstruir. Por

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outro lado, esse reinício tem sido uma grande oportunidade de aplicar o que tenho aprendido no Lidera, agora com mais confiança de que é possível realizar um projeto mais sólido, que pro-mova o desenvolvimento e que não seja somente assistencial. Uma coisa que compreendi é que esse não deve ser mais um dos “meus projetos”, e sim algo desenvolvido realmente por uma equipe comprometida com o tema, e o primeiro passo é trabalhar esse comprometimento. A idéia é se-guir o caminho passo a passo, sem se esquecer de cuidar de cada um dos dragões.

Hoje consigo debater com mais facilidade o tema da Responsabilidade Social e entender melhor a lin-guagem de ONGs com que tenho contato. É uma lógica um tanto diferente daquela com que eu estava habituado a conviver, mas o aprendizado tem facili-tado muito o relacionamento no dia-a-dia.

Como outro efeito do Lidera, comecei uma re-visão na minha agenda social, até mesmo porque estava, naquela época, em um ritmo de trabalho que parecia não parar de crescer, com pouca dis-ponibilidade e, muitas vezes, sem sobrar espaço sequer para o convívio familiar.

Nessa revisão, uma das decisões foi a de deixar a presidência da Assinc em janeiro deste ano, permanecendo como vice-presidente com a idéia de enfocar melhor o tema Responsabili-dade Social naquela entidade. Outra medida foi a de reduzir a carga de trabalho como professor, recusando propostas de absorver mais aulas e assumindo a meta de ter todas elas planejadas e impressas antes do início do semestre. Assim, essa dedicação ficou resumida praticamente a duas noites por semana, com poucas exceções. Com isso, tem sido possível participar das reu-niões da Rede Lidera e cumprir a agenda de conselheiro do AEC, mas o que é mais impor-tante é que melhorou muito minha disponibili-dade para a família.

Sinto falta, no entanto, do envolvimento de minha esposa e meus filhos nessas atividades so-ciais. Não acredito que seja por falta de interesse ou vocação, e sim por carência de oportunidades até este momento. Trabalhamos por muitos anos juntos em atividades na igreja, fazendo palestras, organizando cursos de noivos, encontros de ca-sais e de jovens e alguns projetos beneficentes. Sinto muita falta desse tipo de atividade, que fortaleceu muito a união na nossa família. Estou convencido de que essa seja uma barreira não tão difícil de superar, desde que essa questão seja validada e percebida pelo grupo, o que tra-ria um pouco mais de complexidade no processo, mas também uma continuidade mais saudável.

No dia 02 de março de 2007, reunimos os participantes da primeira edição, com o obje-tivo de sentir o que se passara entre agosto de 2006 e março de 2007. Nessa oportunidade, João escreveu uma autodeclaração do Lidera.

Meu nome é Lidera

Nasci motivado pelo sentimento coletivo da ne-cessidade de transformação de uma realidade cruel e pela certeza de que a primeira mudança a se promover estava nas pessoas que lideram, pois elas seriam os grandes pilotos nessa história. Confesso que fiquei um pouco assustado quando percebi que essas pessoas traziam expectativas tão grandes quanto ao que eu deveria realizar, mas logo senti que essas expectativas não eram sobre mim, mas na verdade sobre elas mesmas. Um dos meus desafios já ficou claro: era o de fazer com que essas pessoas refletissem sobre o caminho que haviam trilhado e também sobre os papéis que representavam para suas organiza-ções e para a sociedade naquele momento, e daí então pensar no futuro.

Esse seria não um ponto de partida, mas um pit stop, um momento para parar, recarregar as baterias, rever e consolidar valores e, finalmente, ganhar mais confiança para traçar seu trajeto com mais estabilidade nas curvas, mais controle para mudar o traçado de sua pista para chegar aos novos horizontes que foram abertos. Foi também um aprendizado de como construir pontes nas lacunas que iriam surgir. Nesse pit stop, só não foi necessário adicionar mais combustível, por-que esse combustível é o próprio sentimento da necessidade de transformar. Daí vem o potencial de auto-sustentação de todo esse processo, pois esse combustível não se desgasta. Ao contrário, se renova e vai aumentando a energia à medida que a viagem avança.

Nesse momento, porém, surgiu uma nova questão: os horizontes ampliados estavam re-querendo de mim não só mais autonomia de rodagem, mas um comboio bem articulado para garantir todo o suprimento necessário. Foi então que eu me transformei em uma rede. Uma rede que articula as pessoas que buscam um horizonte em comum, trazendo mais e mais parceiros para fortalecer ainda mais o alcance desse comboio.

Hoje estou convencido de que essa transfor-mação tem começo, mas não termina nunca. As pessoas a quem eu transformei estão hoje ope-rando transformações em mim, e isso vai virar um ciclo vicioso. Esse ciclo só teria fim se um dia o desejo de uma transformação dessas pessoas, e

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das pessoas que virão e das que a essas sucede-rem, fosse enfim totalmente saciado, o que acre-dito ser uma utopia.

Pode até ser que essa minha odisséia tam-bém me transforme muito, que eu ganhe novos nomes, me divida em vários roteiros com tro-pas e bandeiras diferentes, mas sei que sempre estarão na mesma direção. Pode até ser que eu sofra com ameaças de piratas e tempesta-des pelo caminho, que encontre barreiras que atrasem muito a viagem, mas tenho certeza de que eu estou em um roteiro do qual ninguém irá querer retornar e trarei muito crescimento para quem mais vier comigo e para aqueles que realmente precisam.

Assinado: Lidera

6.6 José Anchieta Wanderley (Anchieta)

Empresa: Colégio Ello (centro educacional).Cargo: Diretor Pedagógico.Formação: Engenharia e Pedagogia.Idade: 54 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Vai devagar, mas chega lá.

Área social: Atua contribuindo para a inclusão educacional, é fundador do Projeto Salto Quân-tico em parceria com a Federação das Escolas Alternativas (Fepeal) e também atua nos cami-nhos para encontrar a paz, como membro da ONG ProPaz.

Antes:

Minha expectativa tem por base o AEC. O que o Ação tem me oferecido em termos de cursos, tudo está nos meus sonhos. Acho que esta troca será muito rica. Troca, aprendizagem e rede.

Durante:

Módulo I – Fiquei observando as histórias dos amigos aqui e vi que o primeiro módulo atingiu seu objetivo. Vocês tiveram muito cuidado na es-colha deste grupo, pela complementaridade das pessoas. Fiquei surpreso da forma como os con-teúdos aqui tratados conseguiram abrir a nossa mente e a nossa visão. Acredito que estamos no caminho certo.

Sobre uma atividade de desenho – O meu de-senho tem um pouco de cada elemento que vo-

cês trouxeram e representa uma caminhada que é regida por diversas leis. Entre elas, a lei de causa e efeito se desenvolvendo na fé. Todos esses ele-mentos nos levam ao destino final.

Módulo II – Quero encontrar um melhor sentido para direcionar minha energia.

Módulo III – Fiz o exercício de retrospectiva algumas vezes e notei que sempre dormia no meio dele. Percebo que este exercício é para trazer o que está na cabeça para o coração.

Módulo IV – Tenho um colégio com oitocen-tos alunos. Trabalho com minha esposa e filha numa atividade de parceria com a Fepeal cha-mada Salto Quântico — salto para o mercado de trabalho, para a universidade, para a inclu-são social. Faz sentido que eu continue na área de educação porque eu acredito que a educa-ção é a melhor via para a transformação. Estou implantando/redirecionando uma cultura con-teudista existente para uma que tenha os valo-res morais como foco principal, embora tenha dificuldade de encontrar material didático no mercado. Para realizar isto, devemos escapar de algumas armadilhas, e uma das maiores é a administração do tempo, e isso foi consenso entre nós.

Avaliando do Módulo IV, digo que levanta-mos a poeira, e agora é abaixar e construir.

6.7 Miguel Duarte

Empresa: Cafrio (comércio de equipamentos re-frigerados).Cargo: Sócio Proprietário.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Tenho procurado fazer de tudo, inclusive incentivando os amigos, para manter a esperança de um país mais justo, fraterno e igualitário.

Área social: Atua na sua empresa orientando os funcionários para a vida. É presidente voluntário da Fundação da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL/Recife). Participa, também, do Lions, da Associação Comercial e Industrial de Caruaru (ACIC), do Sindiloja (Sindicato de Lojis-tas) e do Conselho do AEC-PE.

Antes:

Procurar desenvolver minhas capacidades de li-derança para melhor servir.

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Durante:

Módulo I – O que fez a gente vir para cá? Meu quadro é uma abelha que sai por aí levando uma mensagem positiva diante de si e da sociedade. A abelha sai de flor em flor polinizando... produ-zindo coisas boas por onde passa. Ela retira um pouco de cada flor, mas também deixa, em cada flor, um pouco de si.

Que perguntas eu quero dar durante este programa? [Antes consulta o que Oscar comen-tou...] “Como aprender mais a desenvolver?”. Eu tenho conseguido um pouco disso através da fé nas igrejas. Eu creio que, se eu conseguir me de-senvolver mais, posso contribuir para a igualda-de.

Módulo II – Cheguei no primeiro módulo dis-posto a colaborar com o grupo e me deparei logo com a música... Gelei. Mas, depois, eu fui compreendendo as razões de tudo o que foi co-locado. Depois que saí, fiquei pensando muito sobre minha vida, sobre tudo o que ouvi dos meus companheiros, o que passava em suas vi-das. Acredito que todos aqui estão no mesmo caminho, e eu tenho certeza de que este grupo vai dar significado à vida de cada um aqui... Es-tava muito ansioso para voltar, por isso fui o pri-meiro a chegar.

Sobre a biografia das empresas – Me chama a atenção a diversidade de setores nas empresas. Destaco que a liderança precisa ser diferente em cada caso, dependendo do perfil da empresa.

Módulo III – Sobre a vivência em Candunda – Eu pensei que entendia daquele tipo de pessoa... Percebi que não. Aprendi muito com o Projeto Cactus, nunca pensei que existisse algo assim no Brasil. Este módulo nos encheu de esperança so-bre o trabalho que este grupo pode desenvolver. Lamento que muitas pessoas não estão tendo a mesma oportunidade que nós estamos tendo aqui.

Ao final do Módulo III – Também me chamou a atenção, muita atenção, o tipo de organização que encontrei lá [em Candunda]. Aprendi mui-to com o Cactus e tenho aplicado muito daquilo que aprendi na CDL de Caruaru. O sentimento de impotência foi muito forte em Candunda e foi superado ao sentir como toda adversidade era superada naquela comunidade. Foi fantástico ex-perimentar o companheirismo do nosso grupo vivenciado naquela comunidade. Foi um módulo

de aprendizado como forma de conhecimento. Eu vejo que está sendo construída entre nós uma nova forma de ajudar, valorizando as pessoas e o que já existe no local.

Módulo IV – Faz sentido eu poder contribuir para melhorar o mundo. Paz, igualdade, fraterni-dade. O que não faz sentido: o poder. Eu já faço muitas coisas e tenho pouco tempo para admi-nistrar esse tempo. Eu acho que poderia fazer muito mais, mas não neste momento.

Módulo V – Sina tem a ver, no popular, com um destino penoso.

Sobre as cartas – Minha carta está muito limi-tada ao pensamento daquela época e provavel-mente teria sido muito diferente se tivesse sido escrita hoje, teria uma abrangência menor, seria mais focada.

6.8 Oscar Rache

Empresa: Tecelagem São José (indústria têxtil).Cargo: Diretor-presidente. Formação: Engenharia Têxtil.Naturalidade: Minas Gerais, estando há 30 anos se pernambucanizando.Idade: 65 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Uma pena. Poderíamos ser um dos melhores países do mundo e temos sido um dos piores. Infelizmente ainda não acordamos e, por isso, não começa-mos a caminhada.

Tempo dedicado a atividades sociais: Cerca de 20% a 30% do seu tempo é dedicado a ativi-dades não empresariais voluntárias, em que per-mite-se participar de coisas “como posso ser eu mesmo”.

Área social: Atua primeiro e sobretudo na sua empresa, com seus funcionários.

Na empresa, atua no âmbito estratégico e na Diretoria e opera na compra de matéria-prima.

É presidente do AEC–PE, presidente do Sin-dicato dos Trabalhadores da Indústria Têxtil (Sinditêxtil) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe). Coordenador do Prêmio de Qualidade ISO 9000 – Propeq. Faz parte do Conselho de Cidadania da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), do Conselho de Cidadania da Fiepe e do Con-selho de Responsabilidade Social do Centro de

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Tecnologia do Rio de Janeiro. Completa essas atividades, todas voluntárias, como diretor-finan-ceiro de uma escola privada em Tamandaré, em Pernambuco.

Antes:

Aos 60 anos, decidi me reciclar... me reciclar para aprender mais essa coisa de liderança social. Eu acredito na vida associativa e em grupos. Apren-dizagem é minha busca.

Vim para este programa pois, nele, estamos tratando do social e porque vivemos um quadro social grave neste país, e alguém precisa fazer algo.

Durante:

Módulo I – Eu acho importante continuar sendo empresário para poder testemunhar a RSE a partir da minha empresa. Compreendo o ponto de vista de Pedro, acho ótimo, estou falando apenas da minha perspectiva.

Sobre a história da evolução da consci-ência humana, percebo que essa coisa de in-dividualismo não é igual em todas as classes sociais. Quanto mais rico, mais individualista, e, quanto mais pobre, mais solidário.

A coisa mais importante em mim tem a ver com minha fé. Eu creio que Jesus é filho de Deus e, portanto, todos nós somos irmãos. Na verdade, eu nem sei porque isso é tão relevante na minha vida. Gosto de cavalos e adoro minha casa de praia. Mas o que eu faço mesmo é trabalhar. Estas pessoas escalando [referindo-se ao desenho que fez] tem a ver com minha empresa. Um dos amigos me trou-xe a imagem de um grupo que está escalando o Pão de Açúcar, e eu estou no meio deles, ora puxo, ora empurro. Acho que estou no meio da escalada.

Eu sou empresário, sempre fui e não te-nho a menor pretensão de deixar de ser. Acho também que é nesse campo que eu devo de-senvolver a minha liderança social. Eu vejo que meu campo de atuação é com empresá-rios, mas como fazer para me engajar?

No exercício que acabamos de fazer, chega-mos a uma lista enorme de necessidades e che-gamos à conclusão de que a única coisa que conseguimos fazer sozinhos é “respirar”. Quan-do falamos de acordos, ficamos muito armados em pagamentos de salários... mas depois nos damos conta de que os impostos que pagamos também são baseados em acordos.

Módulo II – Logo que saí daqui, depois do mó-dulo I, me desconectei completamente. Mas, em três oportunidades em que encontrei Roberto e Fred e tentei falar com Renato para tratar da questão de uma escola pública, a coisa que mais me marcou foi o sentimento de que eles faziam parte do meu time... da minha turma. Estou len-do o livro Sincronicidade, do Jaworsky, e aquilo é uma coisa extraordinária. Acontece mesmo.

Módulo III – Há muitos anos que eu tinha von-tade de viver uma experiência assim... mas nunca me movi para fazê-la acontecer e, por isso, acolhi o Lidera de imediato. Depois eu fiquei muito an-sioso, mas quando me vi diante dessa situação, me apareceram muitos sentimentos conflitantes: desconforto, medo, satisfação, muita gratidão a Deus por estar ali... Medo de não estar no comando da situação... Rezei muito e me senti muito bem ao ver o dia amanhecer e poder ir trabalhar na construção da casa de Telma [uma vizinha]. Uma situação interessante pela manhã: eu pedi um pouco de água para fazer a higiene, e me deram um copo de água! Aí fiz tudo com meio copo. Sobrou metade, e eu não sabia o que fazer com o resto. Senti a sensação de como desperdi-çamos. A gente fica botando a culpa no Governo, mas a culpa também é nossa. Somos nós que não fazemos nada. Tive o sentimento da impotência.

A gente sabe que os pobres são generosos, mas outra coisa é você vivenciar isso. A dona da casa matou uma galinha-d’angola para o almo-ço. Éramos muitas pessoas. Nessa hora, passou a família da vizinha, e ela chamou para almoçar conosco. Se não dividisse, sobraria mais, mesmo assim, a galinha foi generosamente repartida.

Tem que trabalhar no coletivo, não dá mais para viver no âmbito individual. A generosidade é fantástica, o calor humano é o potencial da comunidade. Viver a situação é completamente diferente de ver ou saber que existe.

A experiência do terceiro módulo foi uma das mais fortes que já vivi na minha vida... O Projeto Cactus [as famílias visitadas participavam desse projeto, ligado à Visão Mundial – www.visao-mundial.org.br] foi uma grande surpresa... Como, num lugar como aquele, pode-se encontrar um nível de organização como aquela... fantástica!? Aprendi muito lá, porque sentir o que senti não tem nada a ver com o saber... Saí de lá absolu-tamente convencido de que iria construir a casa de D. Tânia, mas me segurei para não perder a oportunidade de refletir: O que é que tenho a ver com isso? O que está por trás disso? O Go-verno é o culpado? Somos nós? A maneira como

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eu vivo e dirijo a minha empresa? De que adianta atender apenas aquelas famílias se há milhares de famílias iguais àquela? A minha expectativa sobre isso que vivi é poder refletir, discutir e aprender. A casa de D. Tânia pode vir depois, sem nenhum prejuízo.

Módulo IV – Eu me lembro de uma coisa que falamos no primeiro módulo... sobre se alguém nasce líder... A impressão que eu tenho de Moura [um dos fundadores do Serta] é de uma pessoa que se prepara muito para fazer as coisas e cami-nha a passos firmes em direção ao que ele quer seguir. Eu vejo, na história dele, muita inspiração e muita transpiração. Eu conversei com ele no jantar, e me impressionou a sua conexão com o mundo e com o mercado.

Comentando a vivência de Candunda – A gen-te sabe o que é ser pobre, mas nunca sentiu. É esse sentir que vai nos levar a agir. Se você não vive uma situação, você não sabe. Tem muito tempo que imagino e desejo essa oportunida-de... Outro sentimento que tive cedo, vendo o jornal, foi uma revolta com o governo...

Sobre a criação da Rede Lidera – Considera-mos a possibilidade de essa rede se transformar em sub-redes de temas específicos, como edu-cação, meio ambiente. É importante dizer que é fundamental a participação de Carl e Ranúsio [da Bahia] e que o grupo pretende assumir a vin-da deles. Essa é uma rede do Nordeste, e vamos trabalhar para que o próximo Lidera possa ter mais pessoas dos outros estados, vamos conhe-cer e movimentar outras redes. O fundamental de qualquer ação é o conhecimento sobre o que estamos querendo fazer. É o profundo convenci-mento do que estamos querendo fazer.

Sobre o inventário de práticas sociais dentro e fora da empresa – Atuo na empresa na qual sou diretor-presidente com uma função muito mais estratégica que operacional.

Outras atividades – Sou presidente do AEC, participo apoiando a gestão; sou presidente do Sinditêxtil; vice-presidente da Fiepe; coordeno o Propeq; sou responsável pelo sistema de ges-tão da Fiepe; membro do Conselho de Cidada-nia e Ser da CNI; sou conselheiro do Centro de Tecnologia da Indústria Têxtil. Participo e apóio muito a iniciativa de minha esposa, uma escola filantrópica que atende crianças mais pobres em Tamandaré, há 23 anos. Participo do Conselho

Estadual pela Paz, do Governo do Estado. Dispo-nho de 30% do tempo para ações que vão além da empresa.

Das oito iniciativas que mencionei, vejo que todas elas têm sentido. Sou presidente da minha empresa há 24 anos, há 18 anos no Sindicado, mas eu acredito em renovação. A minha partici-pação na Fiepe ainda é muito necessária, e acho também que posso contribuir com o AEC e com o Conselho de Cidadania. Tem muito sentido a escola de Tamandaré, mas vejo que há muita transformação a ser feita pensando no futuro e na sustentabilidade. Estou pensando em trans-formar a minha empresa, a Fiepe e a escola. Um projeto mais transformador...

Este módulo foi extraordinário porque, a ex-periência de Candunda tendo sido tão forte, eu pensei que o resto ia ficar secundário, e, no entanto, a concretude dessa rede foi algo ainda melhor.

Módulo V – Como dizemos em Minas Gerais: “O trem voou”, e quase não deu de tantas coisas que tínhamos a dizer... Notava-se uma certa an-siedade de querer ver concretizado o que vinha à mente... Todos os momentos vividos foram muito especiais... O momento de Candunda, o aprendi-zado com o projeto da Visão Mundial e o depoi-mento de Moura: foi tudo muito marcante...

Sobre o programa – Achei muito interessante porque eu já havia trabalhado, por diversas ve-zes, missão e valores para empresa nos planeja-mentos estratégicos, mas jamais havia feito isso na dimensão pessoal.

O ideal é quando você chega a um nível em que se pratica alguma coisa com extrema habili-dade e de forma tão internalizada que nem tem consciência. Ex.: Michael Jordan fazendo uma cesta.

Uma outra expectativa que está diante de mim é abrir um novo ciclo de autodesenvolvi-mento e prático. A forma como foi pedida a ava-liação, com perguntas muito abertas, complica, leva muito tempo e terminamos sem fazer. As perguntas precisam ser mais objetivas.

Respondendo à pergunta O que o mundo me pede e qual é o meu papel no mundo? – Meu papel depende de minha bagagem e de meus va-lores, do suporte que tenho para ir adiante. Há um fenômeno novo hoje, é o das pessoas que vivem mais. Até 80 anos, eu acho importante, nessa fase, a pessoa começar uma nova carrei-ra. É necessário que você produza nessa fase. Eu

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não posso tirar de mim minhas convicções, meus valores, minhas crenças, senão fica um buraco, um vazio. O superior, o espiritual, é a essência de mim.

Achei fantástico aprender a fazer pão. Passei anos da minha vida comendo pão sem nunca sa-ber como se faz. Achei muito interessante termi-nar em um pão só.

Ontem fiquei muito emocionado porque Wedja me deu a vela dizendo que eu represen-tava a sabedoria. Tudo bem, já tínhamos dito que eu tinha experiência, mas jamais sabedo-ria. E eu não me acho sábio, conheço minhas limitações.

A minha carta, eu escreveria novamente. Foi muito frustrante porque a maioria das coisas que eu queria que tivesse acontecido não aconteceu, mas ela ainda está em pauta.

6.9 Pedro Pereira

Empresa: JBR Engenharia (projetos de engenha-ria e gerenciamento de obras).Cargo: Diretor-presidente.Formação: Engenharia Civil.Naturalidade: Campina Grande/PB.Idade: 58 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Per-plexidade com os escândalos que surgem a cada dia. Mas a crença no Brasil continua.

Tempo dedicado a atividades sociais: 30%.

Área social: Sua atuação começa na empre-sa, onde desenvolve uma ação de coaching in-terno. É fundador e presidente voluntário do Instituto Maria Madalena Oliveira Cavalcante (Immoc), braço social da JBR, onde desenvol-ve ações voltadas à educação para adolescen-tes de comunidades do entorno da empresa. É Conselheiro do Sindicato Nacional das Em-presas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco/PE) e representante do Sindicato no Programa de Qualidade em Obras Públicas de Pernambuco (Properq).

Atua na empresa em atividade operacional e em níveis estratégicos.

Antes:

Desejava desenvolver meu potencial de reali-zação na área social. Trazia comigo a pergunta: Que competências devo desenvolver para ser fa-cilitador da transformação social?

Durante:

Módulo I – Neste módulo melhorei a minha ca-pacidade de reflexão e atenção no EU, tendo, conseqüentemente, maior sensibilidade para compreender o outro.

Módulo II – Eu cheguei aqui aberto, adoro filo-sofia, refletir, trocar... e aqui encontrei tudo isso. Após o curso, aconteceram coisas impressionan-tes... compreender essa questão da sincronicida-de, do correio noturno... e os fatos que começa-ram a ocorrer me mostraram muitas coisas. Me peguei conversando com as pessoas na empresa, com a minha mulher sobre a minha intenção de continuar a minha história agora ligada ao Ins-tituto. Eu vou para essa história, tenho convic-ção de que nós, este grupo que está aqui, vamos transformar muito do que está aí fora. Estou ab-solutamente aberto para o novo e para tocar o caminho. Não vou sair integralmente da minha empresa, vou ser conselheiro e também pesqui-sar novos negócios e desenvolver ações voltadas para os desenvolvimentos social e ambiental. Esse tipo de trabalho me energiza.

Módulo III – Neste módulo quero tomar contato com a realidade e as dificuldades do outro, numa perspectiva de aprender com a realidade.

Módulo IV – No primeiro módulo, fiz um repasse da minha vida, minha biografia... a questão da en-tropia social... a co-responsabilidade que temos pelo mundo... Estamos aproveitando a experiên-cia do segundo módulo para escrever a biografia de nossa empresa. O terceiro módulo me marcou muito... O conceito que aquela família, com a qual convivi em Candunda, tem de felicidade, ja-mais vou esquecer... Fiquei muito contente de ter ficado na casa que fiquei e de ter podido fazer o que achava que era importante para aquela famí-lia. Estamos em contato constante na condução das obras que estamos fazendo na casa.

Tenho feito movimentos na empresa para mi-nha dedicação maior a essa questão social; já contratei uma empresa de consultoria e elegi um vice-presidente. A minha expectativa é a seguin-te: Que projeto sairá do Lidera?

Ao ouvir o relato de Moura [Serta], percebi que não era uma questão só de saber, mas de fazer acontecer. Corrigir os erros, reavaliar e re-fazer o caminho a cada insucesso. Buscar a raiz daquele problema e reconsiderar o processo.

Até dezembro de 2007, atuarei fortemente na JBR para implementar o que iniciei de transição.

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O instituto faz sentido e muito sentido para mim, essa conversa com Moura foi muito importante. Já entabulei com ele uma conversa, uma parceria. O Lidera tem sido fundamental. Estou disposto a abrir um espaço de tempo e preservá-lo para o Programa Lidera que sairia deste grupo.

Foi muito bom criar a Rede Lidera, mas con-tinuo sentindo falta do aprofundamento sobre as causas que criaram uma situação como a de Candunda, pois é sobre essas causas que deve-mos atuar.

Módulo V – A minha expectativa, ao final de tudo, é que tenhamos nossa rede caminhando. Também reflito: O que o mundo me pede e qual é o meu papel no mundo?

O processo do nosso grupo foi sensacional... Recordar todos os módulos. Descobriram-se talentos, houve uma sincronicidade incrível em termos das coincidências entre o que cada um estava passando. A confiança entre nós foi tão grande que fluíram assuntos que não foram pre-vistos no exercício.

A carta que escrevi para mim mesmo no início do programa é bem verdade, escrevi um telegra-ma. Não lembrava do que havia escrito. Tomei um susto com a atualidade, e ficou a sensação de que fui muito além do que me propus.

Depois:

Já durante a minha participação no Programa Li-dera, dediquei-me ao aprofundamento do apren-dizado que “iniciei” no programa, em alinhamen-to com a minha expectativa. Foram eles:

• Seminário de Pedagogia Social – Desenvolven-do o ser social; a relação consigo mesmo e com o outro; a pedagogia da pergunta, dando-me consciência do que faço, porque faço e para quem faço.• Programa Profissão Desenvolvimento (Profides) – A arte e o ofício de cuidar de quem cuida do outro.

Outras iniciativas que tomei:

• Abertura de espaço em minha agenda empre-sarial para ter uma atuação maior na área social. Me dispus pro mundo, e o mundo disse: “Quero, venha, preciso de você”.• Participação em reuniões/palestras sobre Res-ponsabilidade Social.•Participação em planejamento de ações sociais, junto ao Immoc e aos parceiros territoriais e te-

máticos, para atuação conjunta e de complemen-taridade.• Aumento da disponibilidade de tempo para atuação na área social, inclusive com convite para assumir papéis que me ajudam a atender à minha expectativa.• Criação da Rede Lidera com os membros do Programa Lidera I.• Saída da busca do resultado para a busca da pergunta.• Participação no Comitê de Desenvolvimento do AEC, em seu processo de Desenvolvimento Organizacional.• Busca da facilitação da “conversa” entre os se-tores, principalmente o Segundo e o Terceiro, a fim de quebrar resistências e preconceitos.• Participação como membro do Comitê Gestor do Projeto Rejunte (Diaconia, Immoc, Crescendo no Morro, Peixe Arte, Conexões Saberes).• Participação de debate na Fiepe, patrocinado pela Globo/Sesi, facilitado por jornalista da Glo-bo, sobre o tema Ação Global, projeto promovi-do pela Globo/Sesi.

No dia 02 de março de 2007, reunimos os participantes da primeira edição, com o ob-jetivo de sentir o que se passara entre agosto de 2006 e março de 2007. Nessa oportunida-de, Pedro escreveu uma carta ao Lidera.

Lidera,Você, Lidera, é um excelente veículo de transfor-mação social. O mundo precisa de você.

Desenvolve lideranças empresarias para que compreendam a sua Responsabilidade Social com o que ocorre no mundo, oferece luz que possibilita uma nova visão do “fazer acontecer a ação”.

O desenvolvimento que você provocou no eu oferece uma conscientização de que a ação, os negócios e o olhar para o mundo tenham um significado maior que englobe o cuidado não só com os meus, com a minha organização, mas com tudo e com todos, hoje e no futuro.

Você é fonte de inspiração, para o setor em-presarial, que representa um grande poder, não só de recursos econômicos, mas também de articulação de recursos financeiros e humanos. Você é inspiração para que o setor empresarial possa co-participar mais intensamente para que se opere num ritmo maior a transformação social que o mundo pede.

O despertar que você possibilita leva a que a construção do diálogo entre todos os setores ocorra num nível de entendimento que inclua e

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respeite a importância do ser por mais diverso que seja.

Você, Lidera, não tem dono, você é do mun-do. A sua missão é possibilitar transformações sociais.

Um forte abraço,Pedro Pereira

6.10 Ranúsio Santos Cunha

Empresa: Sicoob-Coopere (cooperativa de crédito).Cargo: Diretor-presidente.Formação: Técnicas Agropecuárias e Administra-ção de Empresas. Naturalidade: Valente/BA.Idade: 39 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Um país que se desenvolve, que começa a perce-ber que é forte o suficiente para gerar riquezas para os brasileiros e que pode contribuir para um mundo melhor para todos os povos, apesar de ter no Congresso a maior parte de represen-tantes das velhas oligarquias que não querem as verdadeiras mudanças.

Área social: Desde jovem, começou a se envolver com trabalhos na igreja, levado por sua mãe, mas sua origem de camponês estimulava-o a trabalhar com pequenos agricultores, permanecendo, des-sa forma, em sua cidade natal, trabalhando como voluntário na Associação de Pequenos Agriculto-res. O desenvolvimento de vários projetos permi-tiu que, aos poucos, ele fosse remunerado. Esse aprendizado permitiu a constituição da Coopere, instituição que presta serviços financeiros, hoje, a, aproximadamente, 9,5 mil pessoas do Nordes-te do Brasil. Fundador da rádio comunitária, As-sociação das Cooperativas de Apoio à Economia Familiar (Ascoob).

Antes:

Pretendo aprender, enxergar... Eu tenho tão pouco contato com empresários. Mas é muito importante participar de redes, porque eu não faço mais nada sozinho. Conhecer pessoas, fazer novos amigos e aprender mais.

Durante:

Módulo I – Sinto que estou permanentemente em movimento e que há uma luz que me ilumina. Busco as verdades dinâmicas. Como posso ser

melhor em todos os campos: família, trabalho e sociedade?

Nos colocamos como sujeitos da sociedade, porém não conseguimos enxergar quem está co-locando alimento em nossa mesa. A maioria das pessoas pensa que, se tem grana no bolso, estão resolvidos todos os problemas... O resultado é uma cultura consumista em todos os sentidos, e não fazemos essa reflexão.

Acordei e fiquei esperando que vocês cantas-sem na minha janela. Nunca ninguém fez isso pra mim.

Sobre o exercício dos acontecimentos impor-tantes na vida de cada um e suas trajetórias sociais – Na hora em que eu deitei, a minha his-tória voltou novamente... a organização a que eu pertenço está passando por uma crise, e ouvir o Oscar no grupo, contanto a história dele refor-çou aquele caminho que eu havia escolhido e me deu certeza e alegria. Importante saber o que o outro passou e se identificar com ele.

Saio do Módulo I com uma sensação muito gostosa. Já participei de vários grupos, mas nun-ca igual a este. Aqui me deu a luz e oportunidade de ver tudo o que já havia visto a partir de mim mesmo.

Módulo II – Fazendo esta viagem de volta ao primeiro módulo, lembro que, embora eu tenha lido o conteúdo programático, me surpreendi totalmente com o que vi aqui. Conversei com amigos, compartilhei o que vivi, mas nunca ninguém havia visto algo parecido com o que vocês trouxeram. O conteúdo dos setênios foi um exercício muito rico. E saí daqui com uma sensação de muito movimento, apesar da tur-bulência que estou vivendo nas organizações de que participo. Li o livro Mosaico Partido, pois já conhecia o Ladislau. Reli todo o material do Módulo I e aproveitei muita coisa para o plane-jamento das organizações a que pertenço.

Eu tenho uma questão parecida com a de Oscar: Em que medida a influência externa so-bre a empresa provoca impacto sobre o líder?

Depois de conhecer um pouco da traje-tória empresarial de cada um de nós, o que mais me chamou a atenção nos processos foi a determinação do líder. Foi muito forte no nosso grupo a preocupação com a RSE. To-dos tínhamos atividades nessa direção. Ficou clara a preocupação de todos em identificar o estágio em que se encontra sua empresa e a intenção de caminhar em direção ao estágio da consciência expandida.

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Módulo III – Li o livro Sincronicidade e gostei muito. Reli também o texto sobre Ajuda (Dicio-nário do Desenvolvimento) e já o compartilhei com outros. O exercício de retrospectiva, tentei fazer algumas vezes e consegui, mas não sem-pre, acho importante tentar outras. Sobre este módulo, tenho interesse de conhecer este ser-tão de meu Deus...

Depois da vivência em Candunda – Me marcou a hospitalidade daquelas pessoas... o aconchego e a alegria que me contaminou. Todos nós apren-demos muito e vamos continuar aprendendo. O intercâmbio foi uma coisa muito preciosa. O Cac-tus foi extraordinário.

Módulo IV – Do Módulo I ao IV tem sido para mim uma experiência maravilhosa. Conteúdo, me-todologia, etc. Eu tenho aprendido muito, mas ainda acho muito importante que a gente possa conviver um pouco mais. Participar do Lidera tem reafirmado a necessidade da gente pensar mais, refletir mais. O Lidera tem me dado uma oportu-nidade muito boa de aprender e lidar com situa-ções de crise em nossa empresa e no mundo, po-rém estou com expectativa de compartilhar mais com os companheiros experiências que vivemos em Candunda. Refletir mais sobre o que vivemos, sobre as pessoas, sobre nossas posturas de doa-dores e também sobre as pessoas que recebem. Como envolver mais lideranças empresariais nes-te momento que estamos criando, para que pos-samos promover uma transformação efetiva? Eu não consigo fazer mais nada sozinho, por mais brilhante que seja.

Sobre seu inventário de práticas sociais – Es-tou envolvido em sete atividades. Sou presidente de uma cooperativa de crédito, a maior das re-giões Norte e Nordeste do Brasil. Sou dirigente do sistema de cooperativas da Bahia e fundador e conselheiro de duas ONGs. Integro uma co-missão local de comunidades onde existem umas fazendas para conquistar melhor infra-estrutura. Dedico 25% do tempo para atividades extra-empresariais. Estas ações fazem muito sentido: a cooperativa, a minha participação no sindica-to e minha luta por uma transformação, a minha contribuição na fundação da Associação dos Camponeses, a minha participação na criação da associação da comunidade de minha fazenda. Além disso, vou reservar um tempo e espaço para o Lidera, que vai se transformando numa rede, e outras ações que pretendo fazer na Bahia a partir deste grupo.

Módulo V – O meu sentimento é de que, quan-do eu saio daqui, fico ainda mais ou menos oito dias muito conectado, mas depois essa conexão se perde, e eu preciso estar me reconectar.

Uma grande preocupação que eu tenho é de ser injusto... Isso me trava de responder.

6.11 Renato Dutra

Empresa: Lapon Química (indústria farmacêutica).Cargo: Diretor.Naturalidade: Limoeiro/PE.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Um país desorganizado, mas que procura soluções, e com um grande potencial.

Área social: Participa de ações da pastoral, li-gado à igreja, a exemplo do Natal sem Fome. É voluntário na organização de um fórum que vem discutir o Terceiro Setor de Limoeiro.

Antes:

Buscava me reciclar para aprender mais sobre li-deranças. Queria aprender ferramentas e desen-volver habilidades.

Durante:

Módulo I – Eu não consigo desassociar a RS de modelos de gestão. Existe um modelo há 2.000 anos que poderia ser mais valorizado (o Cristo).

O líder, às vezes, tem que “bater”; e se ele é bom líder, essa decisão é acatada com o acordo de to-dos. Se não houver o de acordo, há algo errado.

Revendo os marcos de minha vida, a sensação que tive é de que preciso mudar, sem oba-oba, com disciplina e técnica, com mudança de atitude.

Módulo II – Eu também fiquei impressionado com a metodologia, pois, durante muito tempo, as coisas e os momentos voltavam em minha ca-beça. Tudo o que eu vi aqui me ajudou muito a levar adiante o projeto de revitalização da minha cidade — Limoeiro —, e a metodologia e os processos que vocês empregaram me trouxeram muita luz.

Quero descobrir a vocação de minha empresa e direcioná-la para o contexto social.

Módulo III – Me marcou a fé que encontrei lá, era uma fé “proativa”. Isso me deu paz e a certeza de que eles encontrariam as saídas. Essa vivência

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nos confrontou com uma realidade e nos trouxe valores e exemplos muito importantes. O Módulo III nos tirou do foco exclusivo da empresa e abriu a nossa visão para enxergar mais adiante.

Módulo IV – Há um certo tempo, coloquei na minha cabeça de fazer um grande movimento na cidade de Limoeiro para promoção de mudan-ça efetiva... por isso eu me associei ao Ação e por isso estou aqui no Lidera... ir prá Xingó foi fundamental para esse meu projeto. Penso que devemos considerar em nossos projetos ações mais estruturadoras. Fazer algo em parceria com as ONGs e com o Governo é muito importante. Realizar uma ação mais sustentável.

Sobre o exercício do inventário de práticas sociais – Começo pela empresa que fundei há 15 anos: sempre participei de ações pastorais em minha cidade, Limoeiro, junto à Igreja Católica. Sempre me considerei um voluntário amador e agora estou buscando ser mais profissional. Atu-almente, estou muito envolvido na construção de um fórum para debater o papel do Terceiro Setor na cidade junto com a Amupe. Será um fórum de voluntariado. Hoje, a empresa faz uma série de atividades pontuais, sempre no sentido de melhorar as condições de vida dos moradores da cidade. Limoeiro precisa acordar. Mudar seus paradigmas — “O político é quem pode resol-ver” ou “Se viesse uma grande empresa pra cá... a situação de emprego melhora”. Esse será um movimento sem nenhuma conotação política.

O que mais mexe comigo é esse projeto da cidade de Limoeiro. Posicionar um movimento através de um fórum, fortalecer a cidadania e o Terceiro Setor. O que precisa da minha partici-pação é a coordenação do movimento que pre-tendo criar.

Avaliando nossa intervenção em Candunda – Acho que foi muito bom não termos caído nas armadilhas que estavam previstas no texto Ajuda [do livro Dicionário do Desenvolvimento]... Não caímos na armadilha de construir casas atraves-sando o caminho do Projeto Cactus.

Módulo V – Sobre a palestra Destino e Sina – Destino você escolhe, sina é predestinação.

No dia 02 de março de 2007, reunimos os par-ticipantes da primeira edição, com o objetivo de sentir o que se passara entre agosto de 2006 e março de 2007. Nessa oportunidade, Renato escreveu a seguinte descrição sobre o Lidera:

O Lidera, aquele programa que deu origem à Rede, vem procurando se consolidar cada vez mais para, enfim, iniciar um processo transforma-dor na Região Nordeste, cenário adequado para que venha ocorrer o “novo” modelo de ação, a nova maneira de pensar e agir dos empresários: crescer com sustentabilidade.

A Rede, formada por empresários com visão em causas sociais, pode fazer realmente algo di-ferente do que a sociedade vem assistindo até en-tão. Não se trata de um modelo pronto, programa de governo ou ação beneficente de Igreja, ONGs, etc. A partir do engajamento de empresários e das próprias experiências das empresas na área social, de experiências de lideranças comunitárias e vo-luntárias das mais diversas ONGs e até mesmo de profissionais liberais sensíveis à realidade da re-gião, um novo desenho dessa realidade poderá ser feito, e novas soluções poderão ser apontadas com a finalidade de ser construída uma sociedade mais justa. Esse substrato (situação precária para tantos) pode ser uma excelente oportunidade para que o Lidera se desenvolva e envolva cada vez mais atores no processo de melhoria.

A Rede Lidera, formada por pessoas sensí-veis ao urgente processo de transformação que deve se passar na região, tem, assim, um papel de grande importância, pois é onde tudo come-ça, acontece e termina — sabendo-se que nada tem um fim, e sim um novo começo. As trocas de experiências e o engajamento de “atores” têm, na Rede, o “lugar”, o “cérebro pensante” para que haja viabilidade dos projetos. Enfim, a energia para fazer acontecer.

6.12 Roberto Lemos

Empresa: Geosistemas Engenharia e Planeja-mento Ltda. (projetos de engenharia).Cargo: Presidente.Formação: Engenharia Civil.Naturalidade: Limoeiro/PE.Idade: 49 anos.

Sentimento/pensamento sobre o Brasil: Sin-to muito orgulho de ser brasileiro e muita espe-rança de que ainda conseguiremos transformar este país numa das potências mundiais, além de reduzir esta grande desigualdade social. Por ou-tro lado, sinto muita tristeza com tudo isto que estamos vivenciando na política e com o tempo que estamos perdendo. Luto muito pelo que acredito.

Tempo dedicado a atividades sociais: 50%.

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Atuação Profissional: Na empresa, com 250 funcionários e R$ 9 milhões de faturamento/ano, coordena os processos de transformação: planejamento estratégico, correção de rumo, orientação de clientes para reestruturação, vi-sando promover a agilidade e a consolidação da imagem da organização.

Área social: Atua fora da empresa em três frentes: na Presidência do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Pernambuco (Crea–PE); no Sindicato das Em-presas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), Regional Pernambuco; e no Sina-enco Nacional.

Antes:

Minha expectativa inicial era ganhar conhecimen-to para desenvolver mais minhas atividades.

Durante:

Em cada módulo do Lidera, pude desenvolver ha-bilidades específicas: no Módulo I, pude trabalhar com o conhecimento e o desenvolvimento do eu; no Módulo II, dediquei-me à minha organização e ao meu papel nela; no Módulo III, em Candun-da, pude conviver com a realidade social do Bra-sil e compartilhá-la; no Módulo IV, lidei com a formatação do meu projeto social; e, no Módulo V, pude consolidar o meu projeto social.

Módulo II – Foi de uma riqueza muito grande o fato de ter em nosso grupo empresários de uma empresa de 70 anos; outra de 12, em fase inicial de consolidação; outra recém-iniciada; e outra de 30 anos, mas na segunda geração.

Módulo III – Eu já me deparei com várias situa-ções difíceis na minha vida e vi as pessoas lutan-do para sair delas, mas, nessa experiência, eu me deparei com pessoas que já tinham desistido de lutar, de viver... Isso me deu uma grande frustra-ção... Quem salvou essa situação foi uma criança [Lilica]... Nela, eu via a saída para a alta degra-dação daquela família... Ela é o fio condutor e a saída para aquela família.

Módulo IV – Meus ecos desde Candunda e a experiência de Moura mexeram ainda mais com o meu sentimento de que eu tenho que me envolver inexoravelmente com algum tipo de ação social. Isso tem relação com a minha empresa, com o Crea, é uma grande carga que

sinto sobre mim.

Sobre a criação da Rede Lidera – Cada um colocou a idéia que tinha sobre o Programa Li-dera. Girou-se em três ou quatro alternativas e consolidou-se num consenso. Para isso, preci-samos definir um moderador, que agrupou as idéias e facilitou a discussão das implicações de cada possibilidade, inclusive a de se fazer um projeto-fim.

Módulo V – Ontem, no nosso compartilhar, eu fiquei muito contente com a dádiva de ouvir. Eu tinha muita dificuldade de escutar, não tinha muita paciência. Mas ontem ficou claríssimo o grande aprendizado e a dádiva que é ouvir o que as pessoas estão dizendo; sempre, todas as falas trazem algo que agrega valor a você. De maneira geral, eu vejo que todos nós amadu-recemos muito nesses últimos oito meses. Esse processo nos libertou de muitos paradigmas e provocou mudanças.

Depois:

Estes são alguns dos acontecimentos em minha vida, depois que participei do Lidera:

• Vivo uma grande vontade e determinação de ser.• Busco o exercício da humildade e do meu forta-lecimento interno.• Busco a clareza das coisas na vida, na relação com as pessoas e com os processos; a objetivida-de com ternura.• Valorizo ainda mais a espiritualidade, os senti-dos e a intuição.• Entendo mais claramente que também preciso satisfazer meus desejos e sonhos individuais - fa-zer o que realmente me dá prazer!• Valorizo ainda mais o ser humano, as pessoas - cultivar e ampliar as amizades.• Sou mais capaz de mostrar as coisas às pessoas.• Estou preparado para novos e grandes desafios.• Estou me aplicando ainda mais no processo de transformação da sociedade - um mundo melhor.• As pessoas estão acreditando ainda mais em mim.

Reconheço repercussões na minha vida pessoal e nas minhas ações empresarial, institucional e social: na Geosistemas; nos Sinaencos Pernam-buco e Nacional; no Crea-PE e no Confea.

O momento para mim é de grande reflexão. O meu caminho de luta pela transformação so-cial é pela Rede Lidera e através das organiza-ções nas quais milito e pelas quais vivo.

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No dia 02 de março de 2007, reunimos os participantes da primeira edição, com o ob-jetivo de sentir o que se passara entre agosto de 2006 e março de 2007. Nessa oportunida-de, Roberto escreveu uma carta ao Lidera.

Tenho prestado muita atenção em você, pois você passou a fazer parte de mim, da minha vida. O seu início, o Lidera I, foi para mim muito im-portante no meu processo de transformação/amadurecimento de liderança social. Agradeço-lhe por isso e por tudo o que você me permitiu nestes dezoito meses.

Agora, quero retribuir e me sinto fortalecido para isso. Quero ajudá-lo no seu processo de de-senvolvimento.

Quero fazer isso, principalmente, dizendo o que acho de você. O Lidera I, seu nascimento, foi concebido e realizado de uma forma muito carinhosa e cercado de muitos cuidados, todos necessários. Muitas e fortes pessoas e institui-ções contribuíram para que você nascesse da maneira adequada e sem traumas, e tudo saiu como planejado. O resultado é que você nasceu forte e logo se fortaleceu mais ainda, com a con-tribuição dos participantes, que entenderam seu processo e sua proposta e se comprometeram com eles.

Agora, no Lidera II, você entra numa nova fase de vida, quando já se faz necessário caminhar com as próprias pernas. Algumas daquelas pes-soas e instituições que tanto contribuíram para o seu nascimento já passam a considerá-lo como um caso resolvido, em função das inúmeras ou-tras prioridades a que estão submetidas.

Chegou a hora de você mostrar a que veio. Mas não fique intranqüilo, pois você é forte e não está só. Já tem seu próprio grupo de parcei-ros; dentre eles, eu.

Agora você vai precisar se preocupar mais com a viabilidade econômica, receita/despesas, e, principalmente, com a imagem no mercado e na sociedade, além de ações de marketing/cap-tação de clientes. Isso é novo para você, mas é assim que as coisas acontecem. Você precisa focar nessas coisas também, mas sem perder o grande foco: o conteúdo, a metodologia.

Acho que viabilizar o Lidera II não será fácil, mas teremos sucesso nessa empreitada. Ao final dele, e com a consolidação da primeira etapa da Rede Lidera, daqui a um ano, você estará (esta-remos) bem mais forte e já estará adulto (preco-cemente).

E qual é o seu (nosso) futuro? Não consigo ainda enxergar claramente, mas o percebo/vejo

como o principal ator/veículo de transformação social em Pernambuco e no Nordeste, através da formação/qualificação dos agentes e da cons-trução da rede de transformação.

Boa-noite, e conte comigo!

Do amigo que lhe deve tanto,Roberto Muniz

6.13 Wedja de Matos Henrique Pires

Empresa: Hebron e Quesalon (indústria farma-cêutica).Cargo: Diretora de Marketing.Área social: É voluntária no conselho da Junior Achivement. É co-fundadora de uma ONG que trabalha com ressocialização de mulheres oriun-das da Colônia Penal Bom Pastor, a Dignidart.

Coordena o trabalho de Marketing do Grupo, sendo responsável pelas áreas de Comunicação, Comércio Exterior, Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e Responsabilidade Social, apoiando projetos e sensibilizando funcionários, médicos e clientes quanto ao voluntariado e à solidariedade. Atua em projetos de capacitação de lideranças e dá aulas em escolas públicas.

Antes:

A minha expectativa inicial era desenvolver quali-dades de liderança e saber formas de ajudar mais a sociedade.

Durante:

Módulo II – Como participante da segunda geração de uma empresa familiar, com primeira geração atuante, e na alta direção, sempre tive dificuldades em me posicionar e aceitar meu pa-pel de liderança. No trajeto do Lidera, constatei que essa liderança pode e deve ser desenvolvida. Ciente da minha história, das minhas qualidades e dos meus pontos fracos, estou me tornando mais segura e aguerrida. Estou exercitando o “ouvir atento” e tentando aumentar a sinergia entre meus colaboradores. Meu “coração mole” (antigo ponto fraco) pode ser bastante trabalha-do e, conservando sua essência, ser motivo de conquistar aliados e de motivar as pessoas a tra-balharem com paixão e dedicação.

Módulo III – Ainda estamos em processo de reflexão. Hoje ainda vivemos uma fase bastante assistencialista. Podemos exercer um papel muito

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mais amplo de conscientização das empresas do setor e ação efetiva na região.

A experiência vivida em Candunda foi única. O fato dela ter ocorrido após os dois primeiros módulos, que trouxeram profundos conhecimen-tos sobre mim e sobre a empresa, também foi singular. O contexto todo do programa e a forma como ele foi realizado me levaram a experiências sociais que dificilmente eu teria oportunidade de viver.

Módulo V – Creio que, por conta de meu envol-vimento com a igreja da qual faço parte (presbi-teriana), sempre estive de alguma forma engajada com trabalhos sociais. Dentro do Lidera, percebi que esse meu envolvimento poderia se dar de forma mais incisiva. Já no início do programa, me senti impulsionada a iniciar um trabalho com de-tentas, cuja falta de opção de ressocialização já me incomodava há bastante tempo. Além disso, senti o desejo de apoiar as ações do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas e de Cosméticos local. Pelo fato de estar mais sensibilizada aos problemas sociais, estou tentando me controlar para não me envolver em outras ações. Para isso, estou revendo constantemente minha agenda social trabalhada no quinto módulo.

Depois:

Passar para o papel tudo o que o Lidera me trou-xe de bagagem profissional e pessoal é um desa-fio tremendo. Ter participado dessa experiência tem me levado a profundas reflexões sobre os di-versos papéis que exerço na sociedade. Entender minha história, reafirmar meus valores e projetar minha visão de futuro me fez confrontar o que já fiz, o que estou fazendo e aonde iria chegar se não corrigisse diversas rotas. Ao tomar consci-ência de quem sou e do quanto posso interferir no meu meio, pude me posicionar melhor. Hoje, minha atuação na empresa é mais firme. O co-nhecimento que adquiri na empresa me ajudará a inseri-la melhor no contexto social, abrangendo sua esfera de ação. O processo de crescimento continua, a reflexão é constante.

Tinha essas expectativas, pois, no início, tinha a sensação de que eu não era a pessoa mais indi-cada para participar do Lidera. Como membro de empresa familiar, tinha dúvidas de minha própria capacidade de liderança. O papel de “liderança empresarial pelo desenvolvimento do Nordeste” não parecia ter sido escrito para mim.

Passei por um longo período de transformação durante o Lidera. Foram mudanças tão profundas

que dificilmente conseguiria descrevê-las. O curso me permitiu conhecer minhas fraque-

zas e forças. Não foi um processo fácil, a sen-sação que tive me pareceu com o que ocorre com as águias. Sabemos que as águias, em de-terminado período de sua vida, sobem ao topo de uma montanha para iniciar um processo de transformação. Elas não têm muita opção, pois, se não passarem por isso, enfraquecem e mor-rem. Focadas na missão que têm pela frente, co-meçam esfregando o bico nas pedras com força, até que ele caia. Cansadas e sofridas, esperam até que um novo bico nasça. Quando isso ocor-re, o sofrimento continua, o bico novo ajudará a arrancar todas as suas penas. Um novo tempo de espera começa. A ansiedade de poder voar com as novas penas precisa ser contida, pois esse vôo só pode ocorrer quando todas as penas tiverem crescido. Renovados: corpo e alma.

Hoje, sete meses após o fim do curso, vejo que “startei” o processo de desenvolvimento da liderança. O Lidera me permitiu antecipar uma transformação que possivelmente seria mais tar-dia. Como a águia, não tinha outra opção. Subi ao topo da montanha e comecei a metamorfose.

Na verdade, creio que permiti que o potencial que estava latente pudesse aflorar.

O fato de expandir meus limites e conhecer mais profundamente a empresa, e a mim mesma, me deu mais segurança de atuação.

Minha atuação profissional mudou. Ajo com mais segurança e consolido, aos poucos, minha liderança. Esse foi um período profissional con-turbado. Tomei atitudes que antes não teria co-ragem de tomar.

Tenho procurado ampliar a visão social dos colaboradores da empresa. Além disso, dentro das possibilidades, procuro, hoje, maximizar seu investimento social. Tomei para mim a responsa-bilidade de organizar as ações e torná-las mais eficazes.

Minha atuação social externa também foi es-tendida. Durante o Lidera, e logo após seu fim, ampliei em muito minha agenda social. Depois passei a focar. A Dignidart, idéia surgida e imple-mentada durante o Lidera, está se solidificando, e minha atuação se faz mais necessária. Esse pro-jeto me realiza.

Trabalho, também, com satisfação, na Junior Achievement. O contato com jovens alunos da rede pública me permite enxergar esperança e possibilidade de mudança.

(Outros conteúdos sobre a Rede Lidera, vide anexos 06 e 07.)

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RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PARA DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS EMPRESARIAIS SUSTENTÁVEIS

Grupo de Coordenação do Programa Lidera

Serras que vão se destapando para destapar outras serras. Têm todas as coisas. Vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.João Guimarães Rosa

7.1 Nossas Perguntas ao Final do Quinto Módulo

Ao final do Módulo V, na reunião de avaliação, sentimos que viviam preciosas perguntas entre nós. Relacionavam-se com a identidade, as par-cerias necessárias para a realização e as futuras edições do Programa Lidera.

Sobre sua identidade:

• Qual é a real identidade do programa? • Que necessidades orientam o Lidera? • Alcançaremos os resultados que o programa gerou sem a metodologia e o conteúdo que fo-ram utilizados?

Sobre a composição das parcerias para sua realização e chancela:

• O Lidera é um programa só do AEC? É tam-bém da Adigo e do Instituto Fonte? Do grupo de empresários que participaram dele? Dos finan-ciadores? É de todos? Que acordos precisamos firmar?• Há o interesse do AEC em assumir o Lidera, mas queremos saber em que medida o Fonte e a Adigo têm interesse em continuar no Programa Lidera. Em que medida o Fonte e a Adigo comun-gam desse propósito? Em que medida o Fonte e 7

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a Adigo têm interesse em “assumir esse filho”? Sobre sua reedição:• Que ajustes e alinhamentos se fazem necessá-rios para uma segunda edição?• O que significa replicar esses ensinamentos do programa para outras entidades? É possível re-plicar sem o envolvimento dos mesmos atores?• No caso de uma reedição, como poderemos integrar o primeiro grupo de empresários com o segundo, a fim de ampliar o movimento?• O quanto a sistematização bem cuidada da pri-meira edição poderá ser criadora de condições para a próxima edição?

Sobre as conseqüências:

• Qual é a responsabilidade do AEC–PE em re-lação ao desenvolvimento da Rede Lidera Nor-deste ou de outros desdobramentos gerados pelo programa? Qual o papel do AEC–PE na Rede Lidera, de forma a respeitar a autonomia desta e não tutelar a sua atuação?• Como o programa pode estimular a cone-xão desse grupo com outras redes e projetos sociais interessados em se articular com em-presários com uma visão mais ampliada sobre desenvolvimento?

Movidos por essas perguntas, nos pusemos a caminho de assumir alguns aprendizados e de enxergar as novas necessidades de desenvolvi-mento; primeiro, individualmente, em nossas ins-tituições, para em seguida fazermos juntos.

7.2 Os Aprendizados de Cada Parceiro

7.2.1 Aprendizados da AEC

Fazer acontecer o Lidera foi algo sem preceden-tes. Já havíamos vivido experiências de empreen-der diversos projetos antes, mas nada tão ousado quanto este. Aí tivemos a primeira lição apreen-dida, muito bem posta nas palavras de Goethe, quando afirma que “Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhe fazer, comece. A ousadia possui gênio, poder e magia em seu interior”.

A descoberta seguinte foi a de que não é necessário se conhecer profundamente sobre determinado tema, suas teorias, seus conceitos, sua tecnologia ou suas metodologias para fazer acontecer algo em cuja possibilidade você acre-dita e com que se compromete profundamente. Porque é aí que o sonho e o destino se misturam. Ter uma visão, se deixar guiar por ela, estar aler-ta a todas as possibilidades, estar consciente, de

forma que, quando a oportunidade se apresenta, você é capaz de reconhecê-la e de aproveitá-la. Isso é o que determina o que está para acontecer.

Foi exatamente assim com o Lidera. Tínhamos a visão e a disposição, porém não tínhamos a menor idéia sobre como proceder, além de co-nhecermos pouco — ou quase nada — dos pro-cessos de desenvolvimento de lideranças. Porém, a busca possibilitou o encontro, e peças soltas começaram a se encaixar; pessoas a nos ajudar; incidentes, imprevistos, coincidências significa-tivas, começaram a acontecer. Parecia que algo mais do que a simples probabilidade do acaso estava envolvido. E assim aconteceu o Lidera, e só depois descobrimos que havia um nome para tudo isso, e era sincronicidade. Aprendemos que existe um fluxo comum, uma aspiração comum que faz todas as coisas acontecerem em harmo-nia, há uma unicidade na diversidade e diferentes manifestações sob diferentes condições do mes-mo princípio universal. A mim (Susana), particu-larmente, tudo isso lembrava um versículo bíbli-co que sempre esteve presente em minha mente nos momentos marcantes de minha vida: “...Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus segundo seu propósito...”.

Em meio a tudo isso, para nós, do Ação Em-presarial, iniciar a construção desse grande que-bra-cabeça que foi o Lidera não era só um de-safio, mas o início de um grande aprendizado. Como mencionei, não tínhamos conhecimento algum acerca do tema liderança nem dos proces-sos que envolvem o desenvolvimento humano. Encontrar o Instituto Fonte e a Adigo Consulto-res, reunir-se a eles, foi como descobrir a porta de entrada para o conhecimento e para muitas possibilidades, tudo o mais foi puro aprendiza-do. Com eles, tivemos a chance de criar o futuro no qual estamos hoje, um lugar onde o aprender é contínuo, onde cada participante do Programa Lidera nos ensinará com sua experiência de vida. É com essas pessoas que seremos capazes de criar e participar das múltiplas possibilidades e dos desdobramentos que este programa vislum-bra. Com elas, seguiremos aprendendo a cons-truir o caminho enquanto o percorremos.

7.2.2 Aprendizados da Adigo

A experiência de conceber, estruturar e conduzir a primeira versão do Programa Lidera foi desafian-te, inovadora e plena de grandes momentos de aprendizado. Só a intenção e a ambição do pro-grama em si já se constituíram em um grande de-safio e uma enorme oportunidade de aprendiza-

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do. Contudo, o fato de realizarmos essa viagem de descoberta com uma tripulação que nunca havia navegado junto antes foi o fator principal e, sem dúvida, o que mais contribuiu para o meu desenvolvimento ao longo desse ciclo.

Esse aprendizado vem sendo transferido, gra-dualmente, para a Adigo, através do compartilha-mento das crises e dos avanços gerados no pro-grama, pois nem tudo foi explorado em relação a essa experiência.

No que diz respeito aos conceitos, o principal aprendizado foi a derrubada do mito em relação à disponibilidade e à disposição dos empresários para dedicar tempo para processos de autode-senvolvimento. Percebi que, quando estamos atentos às suas verdadeiras necessidades e te-mos sensibilidade para entender suas limitações e despertar sua vontade de aprender, existe uma enorme receptividade.

Houve, também, um grande impulso de de-senvolvimento no que tange às faculdades de imaginar, intuir e se inspirar a partir das vivências junto aos participantes e à equipe do Lidera.

E, por fim, os desafios e as crises geradas por essa rica interação proporcionaram um forte aprimoramento nas habilidades e capacidades de traduzir essas vivências em construção, estrutu-ração e condução dos conteúdos, das dinâmicas e das atividades do Programa Lidera.

7.2.3 Aprendizados do Fonte

As aprendizagens advindas de minha participa-ção no Programa Lidera foram inúmeras e em vários âmbitos. As pessoas com as quais convivi foram o grande nascedouro dos desafios e das oportunidades de aprendizado. Na seqüência, as tarefas que assumi em relação ao programa e às condições de aprendizagem do grupo como um todo cumpriram seu papel no “fornecimento” dos desafios e das oportunidades que me faltavam.

Compartilhar esse caminho com meus com-panheiros e companheiras do Instituto Fonte tem sido grande motivo de satisfação e crescimento para todos.

Como frutos desta lida, faço os seguintes destaques:

• Aprendi que há que se preparar para uma ta-refa, porém somente na hora, no local e com as pessoas que ali estiverem é que se confirmará a necessidade dela.• Aprendi que método e conteúdo são uma só substância e que sempre são fiéis um ao outro.• Aprendi que fazer uma retrospectva, paciente-

mente, de uma atividade é meio caminho andado para ser e fazer melhor a próxima.• Aprendi que há três olhares fundamentais para o sucesso de programas como este: um para o método/conteúdo; um para dentro de mim mes-mo; e um na direção do outro. Se faltar um dos três, os sinais logo vêm.• Aprendi que por detrás de institutos e empre-sas há pessoas que desejam entrar em contato profundo com seus semelhantes e que cargos, papéis e crenças são importantes só até certo ponto.• Aprendi os maravilhosos e complexos cami-nhos da aprendizagem de adultos; que, com eles, quanto mais próximo, mais compassivo e devoto devo ser; que sua ação no mundo e que a ação do mundo neles é a grande matéria-prima de aprendizagem.

Só me resta dizer: agradecido, profundamente agradecido à vida pela oportunidade.

7.2.4 Aprendizados Comuns aos Três Parceiros

• O investimento de conteúdo e metodologia do Lidera no autodesenvolvimento e no fortale-cimento de habilidades sociais no indivíduo, na pessoa do empresário, foi acertado.• A maior evidência de que o programa despertou o interesse dos empresários foi a quantidade e a qualidade da presença em todos os cinco módu-los, pois houve 100% de participação. Inclusi-ve, dois participantes compartilharam, durante o programa, a extrema dificuldade que foi deixar as atividades da empresa para estar ali, em função de uma delas estar sendo vendida e a outra estar passando por um processo de cisão.• O programa provocou mudanças que ocorreram e estão ocorrendo nos âmbitos interno e externo da vida de cada um dos participantes. As mu-danças apontadas por eles nos relatos, nos de-poimentos e nas entrevistas, que fazem alusão à sua individualidade, estão relacionadas a valores, paradigmas e crenças a respeito do seu papel e da sua atuação empresarial e social. Entre as mu-danças relacionadas à atuação social, são citadas o início de ações ou ajustes em suas práticas, à luz de uma nova visão de desenvolvimento.• A criação da Rede Lidera sinaliza que os parti-cipantes assimilaram a perspectiva do programa de que esse grupo de empresários possa vir a se articular numa ação coletiva ampla, para além dos limites da empresa, da região geográfica ou do indivíduo. No entanto, a confirmação de que eles estejam, ou não, atuando efetivamente em

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suas comunidades ou em outras redes sociais está para além do âmbito do programa. O desen-volvimento da Rede Lidera poderá, “à luz do dia”, responder essa questão.• A formação da equipe de facilitadores é o ponto mais forte e o mais frágil do programa, uma vez que demanda profissionais maduros e com for-mação bastante ampla. Portanto, investir na repli-cabilidade dessa iniciativa é promover a reflexão sobre o método, é investir nas condições neces-sárias à transferência ou ao ajuste das tecnologias que foram capazes de acomodar esse aspecto.

E, assim, ao buscar reconstruir o caminho vivido pela Fundação Kellogg, Save the Children, AEC–PE, Instituto Fonte, Adigo Consultores e os treze participantes do Lidera, nos deparamos com a trajetória dos grandes aventureiros que se lan-çam rumo ao desconhecido, movidos mais pela crença de que podem chegar a um lugar nunca antes descoberto do que pela certeza de que esse lugar realmente existe.

A ousadia foi, de longe, a companheira de todas as horas, sempre bem acompanhada pela firmeza e pela liberdade de poder criar. Tê-las por perto nos possibilitou viver o medo e supe-rar os obstáculos numa perspectiva de constante aprendizado e receptividade, genuínos da ati-tude de estar ali, atentos e alertas ao caminho. À medida que o desvendávamos, também nos tornávamos mais conscientes e responsáveis por essa escolha.

(Outros textos sobre aprendizagem do pro-grama, vide anexos 08, 09, 10 e 11.)

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Assim como as flores que pendem e murcham com a noite para voltar com o sol nascente e abrir suas pétalas sob seu novo calor e luz.

Assim também meu espírito murcho levantou-se ou-tra vez, e uma quentura de vigor surgiu em minhas veias como seu eu nascesse de novo...

Meu guia! Meu senhor! Meu mestre! Conduza ago-ra, então: uma só vontade servirá a nós dois nesse desafio.Dante Alighieri, A Divina Comédia, II, 4–35.

8.1 O Que Significa Ser um Facilitador no Contexto do Programa Lidera?

O Programa Lidera se propõe a sensibilizar, cons-cientizar e mobilizar líderes empresariais para que, através da reflexão sobre seu papel e o de sua empresa, possam se transformar e, a partir de então, conscientemente, atuar individualmen-te e em conjunto para a transformação de reali-dades sociais. O programa assume, por princí-pio, que somente é possível fazer fora aquilo que conseguimos fazer dentro de nós próprios. Caso contrário, não conseguimos sustentar o que nos propomos a fazer no mundo.

O principal desafio para o facilitador, na con-dução das atividades do Programa Lidera, é criar condições para que o aprendizado possa acon-tecer, contribuindo para o desenvolvimento dos indivíduos e do grupo e, conseqüentemente, para a transformação pessoal e das realidades em que se inserem.

Diante desse cenário, torna-se relevante di-ferenciar o que denominamos facilitador do que é conhecido como instrutor. O que os diferencia é, principalmente, a abordagem de aprendizagem adotada, sendo que o instrutor atua a partir do que se denomina Caminho da Instrução, ou peda-gógico, em que o processo de aprendizagem se inicia com a introdução de um conceito pronto que posteriormente é digerido, assimilado e co-8

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locado em prática, quando o instruído se sente mobilizado para tal.

Já o facilitador atua, principalmente, a partir do chamado Caminho da Descoberta, ou andra-gógico, ou seja, mais apropriado à aprendiza-gem do adulto. Nesse caminho, parte-se de uma situação, de um evento ou de uma experiência que podem ser reais, ou estimulados, sobre o quais a pessoa reflete, se percebe e percebe os demais envolvidos, para em seguida compar-tilhar suas percepções e concluir, consciente-mente, sobre o que faz sentido manter e o que precisa ser modificado em sua forma de atuar no mundo, extraindo da vivência os conceitos que serão exercitados e praticados em sua vida, a partir desse momento.

O facilitador integra esses dois caminhos, quando necessário, porém consideramos que o Programa Lidera requer a utilização da aborda-gem andragógica, através do Caminho da Desco-berta, como abordagem de aprendizagem mais apropriada para as necessidades de seus parti-cipantes.

8.2 O Que é Requerido de um Facilitador do Programa Lidera?

É importante que o facilitador tenha segurança e consistência nos conteúdos que servirão de base para o processo de aprendizagem. Porém, é fundamental que ele seja dotado de habilidades para a construção de um relacionamento de con-fiança e a condução de processos que estimulem as pessoas ao aprendizado e as ajude a — indi-vidualmente e em grupo — extraírem seus pró-prios conceitos e encontrarem os caminhos para colocá-los em prática.

Podemos dizer que facilitar processos de de-senvolvimento é um trabalho que envolve, primor-dialmente, a criação de um ambiente de confiança mútua, que permite, tanto ao participante quanto ao facilitador, lidar com a realidade, expandindo os níveis de consciência em ambos (principalmen-te no facilitador), atuando nos processos inte-riores e exteriores, com a verdadeira e recíproca intenção de aprender e melhorar.

Assim, para os que estão nesse caminho, é es-pecialmente importante entender quem são e o que podem dar aos outros. Os outros, no caso, são as pessoas a quem nos dedicamos. Para tan-to, o primeiro passo é conhecermos nossas qua-lidades intrínsecas e extrínsecas.

As qualidades intrínsecas são aquelas ligadas diretamente ao nosso eu, tais como:

• Valores pessoais.• Missão de vida.• Caráter.• Experiências vividas.

Essas qualidades se expressam no mundo através de:

• Habilidades conceituais que nos permitem, a partir de uma situação caótica, abstrair modelos e princípios genéricos.• Habilidades sociais que estão relacionadas com: saber ouvir, saber falar, saber estimular, perceber a si próprio e ao outro, saber lidar com situações delicadas.• Habilidades técnicas para lidar com a vonta-de, os impulsos, os hábitos e as rotinas, tanto as próprias quanto as daqueles que estão por ele sendo ajudados.

Já as qualidades extrínsecas do facilitador são expressas no seu dia-a-dia e são percebidas ao vê-lo atuando, como, por exemplo, sua habili-dade em organizar e conduzir a interação com o grupo, seu estilo de preparar e realizar uma palestra e sua habilidade para fazer sínteses de situações complexas.

A consciência das nossas virtudes é que deve nos sustentar ao longo dos tempos difíceis, as-sim como a percepção realista de nossos pontos fracos nos coloca em nível de igualdade e nos permite, também, aprender com aqueles que nos propomos a ajudar. Por isso, é muito importan-te saber “quem eu sou, de fato, no meu íntimo”, pois é a consciência desses aspectos que deve funcionar tal qual uma rocha que resiste às inves-tidas constantes de um mar conturbado e bra-vio. A consciência de nossas virtudes e defeitos constitui um dos fatores principais para sermos bem-sucedidos no papel de facilitador.

A consciência desses aspectos ajuda a desen-volver as competências necessárias ao pleno de-sempenho de nosso papel, praticando um antigo preceito moral que diz: “Ninguém dá o que não tem”, isto é, eu só posso dar dinheiro para alguém se eu tiver dinheiro, só posso dar amor se eu tiver amor, só posso dar sabedoria se eu tiver sabedo-ria e assim por diante. Pergunto-me se é dar ou se é criar condições para que o outro se manifeste e se desenvolva. Ao final, pode dar no mesmo, po-demos estar falando da mesma coisa...

8.3 O Que Isso Tem a Ver com o Trabalho do Facilitador?

No Lidera, o facilitador é chamado para criar

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condições para o desenvolvimento de algo que alguém ainda não tem, e esse algo não é um pro-duto específico, e sim um serviço. Ao prestar um serviço de facilitação, o facilitador deve saber que a qualidade do seu serviço é de natureza intrínseca, isto é, diferente da qualidade de um produto em que a qualidade é percebida exter-namente. Essas qualidades intrínsecas do ser-viço, que o participante sente, é que faz de nós mesmos, como indivíduos, a principal ferramenta de trabalho do facilitador!

Assim como a consciência dos nossos pon-tos fortes deve ser a nossa âncora para enfren-tarmos os desafios, também a consciência dos nossos pontos fracos deve servir de motivo para nos impulsionar na direção de um profundo pro-cesso de autodesenvolvimento, visando buscar incorporar em nossa personalidade aquilo que não temos, se quisermos dar, tanto em nossa vida pessoal quanto em nossa vida profissional, algo para alguém.

Para melhorar essa “ferramenta viva de tra-balho”, isto é, nós mesmos, precisamos saber trabalhar com o nosso lado sombrio ou com as nossas não-virtudes.

8.4 O Nosso Lado Sombrio

A consciência das nossas não-virtudes exige de nós a coragem para trabalhar com o nos-so lado sombrio. Isso é importante, pois, se soubermos trabalhar e aceitar o nosso lado mais obscuro, com certeza saberemos aceitá-lo também em relação aos processos em que atuamos.

Essa crença evita uma visão ingênua que nos leva a acreditar que os processos são bem-su-cedidos por causa apenas da boa vontade e de boas intenções. A consciência de nossos defei-tos não nos faz nem pessimistas nem otimistas. Ela é, no fundo, realista e começa a surgir inter-namente a partir do entendimento e da aceita-ção do nosso lado obscuro.

8.5 Como Tomar Conhecimento Desse Lado Sombrio?

• Enfrentando seu desconforto. Pesquisan-do dentro de você a parte que o faz sentir-se desconfortável em sua vida e em seu trabalho. Procurando entender mais dos aspectos que o incomodam. Esse é um trabalho individual e in-delegável. Somente o próprio pode fazê-lo de forma consciente.• Ouvindo os parceiros. Procurando trabalhar

com uma equipe com abertura suficiente para uma “troca de feedback” madura à medida que as atividades do processo avançam.• Ouvindo aqueles para quem estamos traba-lhando, ou seja, nossos “clientes”. Aprendendo a “ouvir” os clientes e desenvolvendo com eles relações maduras que permitam checar cons-tantemente o seu lado obscuro.

Precisamos estar conscientes também de que essa postura de buscar a consciência dos nos-sos pontos fracos e fortes é uma atitude de de-senvolvimento e de crescimento pessoal. Tudo o que nos faça crescer como facilitador e como pessoa deve ser feito, porque a nossa missão, ao colocar o nosso ser diante de pessoas que esperam de nós um determinado trabalho, tam-bém é a de servirmos de modelo ou espelho, mexendo, com isso, no destino das pessoas.

8.6 O Amor

A melhor postura para se trabalhar com o nos-so lado sombrio e para corresponder ou fazer jus à vocação de facilitador é ter amor. Não o amor romântico, mas o amor como o sentimen-to maior por tudo aquilo que tem algum signifi-cado existencial para você, isto é:

• Amor por si mesmo. Esse amor se consubs-tancia na vontade de avançar em direção ao seu autoconhecimento, aceitando-se, entendendo, sendo entendido, aceitando e melhorando o que pode ser melhorado. Quando isso se incor-pora ao seu “jeito de ser”, você pode dizer que ama a si mesmo.• Amor pelo seu trabalho. Se você não ama o seu trabalho e não descobre elementos do mes-mo para serem amados ao longo do tempo, en-tão deixe-o.• Amor pelas outras pessoas. Na atividade de facilitar, investimos muito tempo em outras pes-soas, e a nossa maneira pessoal de atuar afeta o destino das pessoas com as quais atuamos. Se amarmos a nós mesmos e ao nosso trabalho, em decorrência amaremos também as pessoas com as quais trabalhamos. O bom facilitador sabe que a melhor e a maior energia para se trabalhar em qualquer processo surge quando estamos envolvidos com aspectos que afetam a vida das pessoas. Esses aspectos podem ter como objetivo:» Criar uma nova realidade.» Mudar uma cultura. » Desenvolver novas habilidades nas pessoas.

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Quem não vê amor nessas esferas não tem voca-ção para trabalhar como facilitador. Até pode ser competente, mas com certeza não estará fazen-do o que gosta ou, então, não estará indo além do conteúdo intelectual das situações que se lhe apresentam.

8.7 Ir Além do Conteúdo

Esse amor nos dá força para poder ir além do conteúdo no relacionamento “facilitador–clien-te”. Ele nos permite desenvolver a sensibilidade para perceber os sentimentos que fluem ao re-dor de um processo de mudança, por exemplo. Quase todos nós temos uma grande experiência em trabalhar com aspectos cognitivos ou com o conteúdo de uma discussão. Em geral, quando vamos para uma reunião ou um workshop, vamos “na ponta dos cascos”, para falar sobre os conte-údos que achamos que dominamos. Deve haver uma atenção igual aos sentimentos quando in-teragimos com as pessoas que nos dispomos a ajudar. Quem aprende a valorizar o lado do “sen-tir” como uma área importante do trabalho do facilitador pode se considerar como identificado com o papel que escolheu.

8.8 Ser autêntico

Ser autêntico como facilitador é saber colocar em palavras sinceras, adequadas, tudo aquilo que você está vivenciando com o cliente enquan-to trabalha. Esse é o ponto mais eficaz para que você tenha credibilidade e influência.

No papel de Virgílio, o modelo arquetípico do facilitador:

Virgílio — ao conduzir Dante através do Infer-no, do Purgatório e em direção ao Monte da Alegria, n’A Divina Comédia —, no decorrer da sua intervenção, a pedido de Beatriz, age como um líder andragógico, como um terapeuta ou como um verdadeiro facilitador, se quisermos usar essa palavra.

Ao longo dessa jornada fantástica, Virgílio sempre caminhou ao lado de Dante, para que, no final, ele pudesse “colher os frutos da li-berdade”, após passar por tentações, malícias, violências, orgulhos, repressões, deturpações, fingimentos e outros perigos. Durante a jornada, a atitude de Virgílio impressionava Dante, que o descreve sempre como alguém de “sorriso gen-til e encorajador”.

Numa abordagem mais pragmática desse ar-

quétipo, que é o objetivo deste texto, podemos dizer que, assim como Virgílio era para o indiví-duo Dante Alighieri, o facilitador deve ser para o indivíduo e para o grupo: alguém com habilida-des, atitudes e comportamentos que criem condi-ções, encorajem e inspirem as pessoas para que, individualmente e em grupo, possam atingir seus objetivos, de forma compartilhada e criativa.

Para tanto, esse profissional deve ser sensí-vel às necessidades das pessoas e capacitado a ajudá-las a se envolverem em processos grupais para resolverem questões e problemas concretos. Deve também ter habilidade para ler situações psicossociais, sintetizar esses fenômenos e de-linear caminhos e soluções para apoiar o grupo na direção dos desafios, pois, para chegar ao Pa-raíso e ao Monte da Alegria, é necessário passar antes pelo Inferno e pelo Purgatório, tomando cuidado para não ficar no Limbo.

O facilitador preparado está consciente dos complexos processos sociais envolvidos na intera-ção grupal e no processo de aprendizagem. Com-preende-o primeiro em si mesmo, para depois capacitar-se a ajudar outras pessoas a se percebe-rem e a se fortalecerem no trabalho em grupo.

Em síntese, diríamos que a natureza da atua-ção do facilitador é, antes de tudo, a de alguém que conduz pessoas e grupos pelo caminho da descoberta, ou caminho andragógico.

Apresentamos, a seguir, algumas dicas e conse-lhos para que esse papel possa ser melhor exer-cido. O facilitador deve:

• Estar consciente de que a sua missão é levar o indivíduo e o grupo a lerem suas realidades e a identificarem os conceitos e caminhos para transformá-las.• Trabalhar com perguntas.• Lembrar-se de que não pode tirar mais do que alguém pode dar.• Considerar que os conceitos são extraídos no momento da intervenção.• Crer nas pessoas como seres criativos.• Estar sempre aberto a idéias e pontos de vista diferentes.• Ter uma postura “socrática”, adiando o julga-mento das situações que se apresentam até que tenha coletado uma quantidade suficiente de da-dos, informações e insights.• Não responder a perguntas que ainda não fo-ram feitas.• Ter entusiasmo pelo que faz, mas, ao mesmo tempo, ter uma humildade autêntica, evidente para com as pessoas com as quais trabalha.

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• Rir de si mesmo; ter senso de humor.• Ser receptivo aos diversos tipos de pessoas.• Desenvolver raciocínio rápido para montar os cenários das possíveis situações que se configu-ram num processo grupal; isto é, no decorrer da intervenção ele deverá visualizar conceitos que podem ajudar o grupo no próximo passo.• Preparar perguntas e sínteses que inspiram o grupo a descobrir suas soluções e caminhos.• Sentir-se confortável em situações ambíguas e conflituosas.• Sentir-se bem para trabalhar em situações de-sestruturadas, sem perder o foco.• Saber identificar aspectos positivos nas contribui-ções dos participantes, tais como: Habilidade para juntar aspectos antagônicos de uma mesma situa-ção. umildade para manter-se em segundo plano.• Ser amável, interessado e otimista.• Ser automotivado pelo seu trabalho.• Estar alerta para pistas ou sensações não-verbais.• Saber onde buscar apoio e ajuda quando ne-cessário.• Praticar aquilo que prega.• Saber ouvir.• Dar às pessoas tempo para pensar e responder.• Dominar a metodologia e os conceitos de trabalho em grupo e se preocupar em aperfeiçoá-los.

Para praticar essas recomendações, ao interagir com entidades complexas, que são os indivíduos e os grupos, o facilitador deve entender que as técnicas que aprendeu durante a sua formação acadêmica não bastam e que é preciso um algo mais que, necessariamente, não está nos livros.

Esse algo advém da sua própria intuição, que se desenvolve a partir da sua capacidade de ob-servação, de estudo e de um processo de auto-desenvolvimento consciente, que o habilita a ir além do conteúdo das situações óbvias para ver o invisível e ouvir o inaudível.

A Divina Comédia, como tantas obras literárias clássicas, fornece insights para muitas situações vivenciadas por um facilitador. A jornada angus-tiante e exemplar de Dante permanece como um dos maiores estudos de caso que essa profissão possui e é uma representação brilhante de um arquétipo do papel da facilitadoria moderna.

Buscamos, em Virgílio, o modelo arquetípico do facilitador. Podemos ver em Virgílio, também, a “razão humana”. Isso é esclarecido diversas ve-zes por Dante ao longo da jornada, mas a “razão” em Dante não significa de maneira alguma o nos-so intelectualismo contemporâneo ou o raciocí-nio técnico ou o racionalismo. Significa o raio de ação da vida e das situações sobre as quais uma

pessoa reflete ou pára para questionar.Segundo o psicólogo norte-americano Rollo

May, em nosso tempo a razão é tomada como lógica, pois ela é canalizada, principalmente, do hemisfério esquerdo do cérebro. Virgílio não descreve isso, ele é um grande poeta imaginati-vo, não um lógico. A razão pode, se a tomarmos no sentido amplo de Dante, nos guiar em nossos infernos particulares.

Dante, em sua jornada, com o apoio de Vir-gílio, tem necessidade de outros guias além da razão, e ele identifica a “revelação” e, especi-ficamente, a “intuição” como forma suprema de orientação.

Acreditamos que nós, como Virgílio, preci-samos ter o genuíno interesse em ajudar outras pessoas até o ponto em que elas possam “co-lher os frutos da liberdade”, não sem lapsos compreensíveis da necessidade da presença do facilitador, para que elas se movam a um lugar no tempo onde “a vontade seja livre, autêntica e inteira”.

(Para outros conteúdos sobre este capítulo, vide anexos 12 e 13.)

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Ao final deste livro, documento vivo de uma caminhada, temos confirmada a crença de que o investimento no desenvolvimento do indiví-duo — despertando nele profundo interesse por si e pelo outro — é primordial para as mu-danças sociais.

Seguiremos nesta pesquisa e na construção programática, confirmando e aprimorando o ca-minho metodológico do Lidera. O que muito nos anima são os frutos que já podem ser colhidos: o interesse de outros núcleos e, agora mais que nunca, o estímulo da companhia da Rede Lidera.

Sigamos em frente, ampliando nossa consci-ência acerca dos sérios desafios sociais a serem confrontados; renovando nosso entusiasmo e comprometendo nossa ação com a construção de um mundo equânime e sustentável.

Aos membros da Rede Lidera, nossa homena-gem através deste poema de Pedro Pereira*.

Gente do Lidera

Gente amiga que acredita no Divino.Gente amiga cujos laços de amizades se fun-

dem como os metais pelo calor votivo dos sen-timentos.

Gente amiga que “redobra as alegrias e repar-te as penas em duas metades”.

Gente amiga que compreende ser o perdão o incenso que alimenta e não deixa apagar a chama do amor e da amizade.

Gente amiga de valor inestimável, sedimenta-dora de laços que não se rompem com as distân-cias nem se afrouxam com o passar do tempo.

Gente amiga que “anda a procura de espaço para o desenho da vida”.

Gente amiga que desenha a vida com as cores da liberdade, da união, da harmonia, da cultura da paz, do amor, da amizade, do perdão, do ser-vir ao outro.

Gente amiga que, apesar das pedras que se encontram no caminho, vai à procura do cálice sagrado para a celebração da vitória do outro.

Gente amiga que o Lidera capacitou visando o desenvolvimento sustentável do Nordeste.

*Pedro Pereira – Diretor-presidente do AEC9 P

OSF

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