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Florilegio de trovas n. 17 1a. quinzena de novembro

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 2

Sorria, amigo, sorria! Pois, neste tempo de tédio,

qualquer sinal de alegria é sempre um santo remédio!

A. A. de Assis Maringá/PR

Tanta falta de capricho

Outra vez está de porre? Fui ao bar matar o bicho

Mas o danado não morre!!!

Adelir Coelho Machado São Gonçalo/RJ (1928 – 2003) Niterói/RJ

Após causar desencantos e nos fazer peregrinos,

a seca faz chover prantos nos olhos dos nordestinos…

Ademar Macedo Santana do Matos/RN (1951 – 2013) Natal/RN

A chuva, caindo mansa

na terra recém-plantada, faz renascer a esperança

de uma colheita abastada.

Alberto Paco Maringá/PR

A minha casa aparenta o quartel de um batalhão:

- quanto mais a “tropa” aumenta, mais aumenta a “prontidão”.

Alfredo Alison Elian Valadares Sete Lagoas/MG

A igreja, as flores e o eleito; ela de branco e eu tristonho:

– foi o cenário perfeito para o enterro do meu sonho.

Alonso Rocha Belém/PA (1926 - 2010)

Represando a dor da mágoa que pranteia meu desgosto, dos olhos, vertentes de água deslizam pelo meu rosto…

Analice Feitoza de Lima Bom Conselho/PE, 1938 – 2012, São Paulo/SP

Ditosa trova bendita,

que faz bem ao coração, causa alívio à alma aflita,

curando a desilusão!

Angela Ramalho Maringá/PR

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Ampara o menor que implora tua ajuda e, nesse afã,

plantarás no chão do agora a semente do amanhã.

Antonio Juraci Siqueira Belém/PA

Se alguém te humilha, perdoa, e se alguém te fere, esquece.

Ódio guardado magoa, só o amor envolve e aquece.

Arlene Lima Maringá/PR

Minha infância na favela não teve um Natal, de fato:

O que botar na janela se eu não tinha nem sapato?!.

Arlindo Tadeu Hagen Juiz de Fora/MG

Eu morro por Filomena, Filomena por Joaquim,

o Joaquim por Madalena e Madalena por mim.

Belmiro Braga Distrito de Vargem Grande (hoje Município com o seu nome)/MG (1872 –

1937) Juiz de Fora/MG

Não pense que todo amigo, pode ser um confidente,

às vezes fala contigo e te entrega logo à frente.

Benedita S. Azevedo Magé/RJ

Se eu sinto fugir a calma e até viver me angustia,

eu abro as janelas da alma e deixo entrar a Poesia!

Carolina Ramos Santos/SP

Da Tribuna, manda o aviso: - Não roubo por ser ladrão, tampouco porque preciso, mas por coceira na mão!

Cláudio Derli Silveira Porto Alegre/RS

A patroa: “O que me pasma

é, no seu quarto, um gemido!” - Não se assuste, é que o fantasma

tem a voz do seu marido!

Clenir Neves Ribeiro Nova Friburgo/RJ

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Tem gente que tanto mente, conta lorota, faz fita,

que, da verdade descrente, nem em si próprio acredita.

Clevane Pessoa Belo Horizonte/MG

Ás vezes, no entardecer, prateia a lua as ramagens. Velha árvore a fenecer... Com ela, frescas aragens!

Cônego Telles Maringá/PR

Amizade que se perde por motivos tão banais,

não merece ser lembrada, pois era fraca demais.

Dagmar Aderaldo de Araújo Chaves Mombaça/CE, 1908 - 2002, Rio de Janeiro/RJ

A droga, feito um rastilho, ampliando o seu terreno,

não poupa mãe e nem filho que, ao seio, suga o veneno…

Darly O. Barros São Paulo/SP

Com pás eram carregadas, no frio de uma clareira, as palavras congeladas

pra derreter na fogueira!

Eliana Palma Maringá/PR

Agir certo não tem custo,

sendo a igualdade premissa; dar sempre ao justo o que é justo:

é assim que se faz justiça!

Eliana Ruiz Jimenez Balneário Camboriú/SC

Pensais de mim que sou cego,

e que sou doido perfeito. Mas eu também não vos nego

ter de vós igual conceito.

Emiliano Perneta Curitiba/PR, 1866 -1921

As trovas são diamantes

que certo ourives, um dia, com suas mãos operantes, cravou no anel da poesia.

Giselda Medeiros Fortaleza/CE

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Amor à primeira vista, foi isso, mar, que eu senti! Ninguém há que te resista, quando está diante de ti!

Gislaine Canales Porto Alegre/RS

A mulher que a gente ama,

para nós sempre é a mais bela, pois o coração conclama

não ver os defeitos dela!…

Harley Clóvis Stocchero Almirante Tamandaré/PR, 1926 - 2005

“Sufoco” é andar espremido e ter que aguentar, calado,

“desodorante vencido” em coletivo lotado!!!

Heloisa Zanconato Pinto Juiz de Fora/MG

Muitos conhecem seu truque

moço valente e trigueiro vive assolando batuque, batucando o dia inteiro

Hulda Ramos Maringá/PR

A brisa que suave espalha perfume de primavera,

por entre as folhas farfalha, em lindas flores se esmera.

Istela Marina Gotelipe Bandeirantes/PR

Meu destino é uma contenda,

é um eterno desafio: – vem o Sonho, faz a renda, – vem a Vida, puxa o fio…

Izo Goldman Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

O vento, que varre a mata e pelos campos caminha, traz um som de serenata

à minha vida sozinha.

Jeanette De Cnop Maringá/PR

Ah, relógio, meu amigo,

teus ponteiros, como correm! O tempo voa contigo

e com ele os sonhos morrem...

Jessé Nascimento Angra dos Reis/RJ

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Se eu ficar velho e cansado Quer saber minha esperança?

Ser gentilmente tratado Como fui quando criança.

José Bidóia Maringá/PR

Quanta prodigalidade!… Em poucos meses, querida,

gastamos felicidade que dava pra toda vida!

J. G. de Araújo Jorge (José Guilherme de Araújo Jorge)

Vila de Tarauacá/AC [1914-1987] Rio de Janeiro/RJ

Mais do que fadas e mitos, num cenário encantador, tenho sonhos tão bonitos, que viram lendas de amor!

José Lucas de Barros Condado/PE, 1934 – 2015, Natal/RN

Bem sei que não é primor

da mais alta criação, mas minha trova, Senhor,

é alma do coração.

Lairton Trovão de Andrade Pinhalão/PR

O porvir com frequência nos depara dissabores,

enfrentá-lo é uma ciência que é digna dos lutadores.

Líbia Beatriz Carciofetti Argentina

Se há sombras nos teus caminhos

e é pesada a tua cruz, planta o bem, que em vez de espinhos,

colherás rosas de luz!…

Lourdes Regina Ferreira Gutebrod Rio de Janeiro/RJ

Na quietude costumeira

de muita vida vazia, solidão é companheira

dos que não têm companhia…

Luiz Otávio Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

A Lua disse pro sol:

- Vivamos com tolerância, tu brilhas como um farol... eu menos, com elegância!

Maria Verginia Gomçalves dos Santos Maringá/PR

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Ao ler: “ Fechado por Luto” O bebum se envaideceu: Eu bebi todo o produto

e o boteco é que morreu!

Neide Rocha Portugal Bandeirantes/PR

Porto meu, tu sabes quantas as mágoas que um peito vive: nas partidas que são tantas... nas chegadas... que não tive.

Nilo Entholzer Ferreira Santos/SP 1938-2004

Plantando haverá colheita, nos diz um velho ditado;

só não colhe quem rejeita, um solo bem preparado.

Odenir Follador Ponta Grossa/PR

Ao dormir de ti me esqueço

e parece singular: - No momento em que adormeço,

só contigo vou sonhar.

Olavo Dantas Itapicuru Coelho Vila Rica de Bom Jesus/BA, 1901 - 1997, Rio de Janeiro/RJ

Quando a neblina é mais densa e a luz parece tão mansa,

na estrada o que a gente pensa é que o sol ainda descansa.

Olga Agulhon Maringá/PR

Nem de nylon e nem de aço: tuas cordas, violão,

são de nada quando abraço toda a nossa solidão.

Olivaldo Junior Mogi-Guaçu/SP

Dona Saudade, velhinha, bordadeira paciente,

não tem agulha nem linha mas borda os sonhos da gente.

Onildo de Campos Cachoeira/BA, 1924 – 2002, Rio de Janeiro/RJ

A aurora, calma e silente, áurea luz no céu espraia... - Vitória do sol nascente

sobre a noite que desmaia...

P. de Petrus (Pedro Bandettini)

São Paulo/SP, 1920 - 1999, Rio de Janeiro/RJ

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O certo é haver respeito e responsabilidade,

pois este é o melhor jeito, de encontrar felicidade.

Pedro de Paulo Maringá/PR

Se me entrego ao devaneio, minha esperança se aflora e vai fincando outro esteio onde a ilusão pede escora!

Rita Mourão Ribeirão Preto/SP

Em tudo o que já vivi

nesta passagem terrena, se um pecado eu cometi, com ela, valeu a pena!…

Rodolpho Abbud Nova Friburgo/RJ, 1926 –2013

A noite se foi, e agora,

- aquarela sobre o monte - explode em cores a aurora na tela azul do horizonte!

Romeu Gonçalves da Silva Juiz de Fora/MG, 1914 - 1984, Rio de Janeiro/RJ

Num ritmo de eternidade e encanto que se renova; há comboios da saudade

nos quatro trilhos da trova.

Roza de Oliveira Curitiba/PR

Encontrei com a saudade,

solitária, mas tão bela, e sem medo, sem vaidade eu beijei as tranças dela.

Sarah Rodrigues Belém/PA

A crise nos invadiu… pindaíba nacional:

não sei se o real caiu ou se eu “caí na real”…

Selma Patti Spinelli São Paulo/SP

Nem me lembro mais do gosto

da tal noite de verão, e até hoje pago imposto

que ela chama de pensão...

Sérgio Ferraz dos Santos Nova Friburgo/RJ

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As gotas caem ao léu sem ninguém poder detê-las.

Será chuva lá do céu, ou são lágrimas de estrelas?"

Sônia Sobreira Rio de Janeiro/RJ

Achou o carro roubado e na "Loto" fez a quina! Nasceu pra lua virado...

"Vá ter sorte assim na China!”

Sylvio Ricciardi Ribeirão Preto/SP, 1920 - 2008

Ao ver assim, abraçada,

a criançada fraterna, vejo que abraço é laçada

que nos prende à Paz eterna.

Thalma Tavares São Simão/SP

Celular ao pé do ouvido,

nem ouve se alguém o chama, de tal modo distraído… vai trabalhar de pijama!

Vanda Fagundes Queiroz Curitiba/PR

As melhores gargalhadas chegam sempre de repente

em cenas abobalhadas e tomam conta da gente!!!

Vânia Ennes Curitiba/PR

Cai a mata ciliar...

A vida aos poucos se estanca. O rio vai se afogar

com o desmonte da barranca.

Wagner Marques Lopes Pedro Leopoldo/MG

Humanidade, não deixes

que entulhos causem enchente: nos rios morrem os peixes e na terra, morre gente!

Wanda de Paula Mourthé Belo Horizonte/MG

A esmo, na multidão,

tentando esconder meus ais, meu fardo de solidão

pareceu pesar bem mais.

Wandira Fagundes Queiroz Curitiba/PR

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Que o silêncio desta trova desate o grito que traz

a esperança, que renova nas mãos do universo, a paz!...

Adelir Machado Niterói/RJ

Entre aqueles que se querem,

nos momentos de emoção, o que os lábios não disserem,

por certo os olhos dirão!

Antonio de Oliveira Rio Claro/SP

O silêncio, na hora triste,

é o amigo com que moro... Só ele sabe o que existe

dentro de mim, quando choro.

Aristeu Bulhões Santos/SP

Num conflito da existência,

o artista, em noite de estréia, sente as vaias da consciência

no silêncio da platéia.

Arlindo Tadeu Hagen Juiz de Fora/MG

Sempre acolho de mãos postas e humilde tento aceitar o silêncio das respostas que a vida não sabe dar.

Carolina Ramos Santos/SP

Brigamos... e mesmo tensa renovei minha proposta... Como dói, se a indiferença traz em silêncio a resposta!

Clenir Neves Ribeiro Nova Friburgo/RJ

Nossos silêncios serenos

não nos constrangem jamais: quando lábios falam menos, olhos dizem muito mais...

Élbea Priscila de S. e Silva Caçapava/SP

Orvalha, e da flor molhada brota uma lágrima, e corre. - Silêncio!, que a madrugada pranteia a noite que morre...

Elton Carvalho Rio de Janeiro/RJ

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 12

Na parede, o teu retrato quebra o silêncio da sala,

pois chego a te ouvir, de fato, quando a saudade me embala.

Giva da Rocha São Paulo/SP

A gota d'água bailando numa pétala esquecida,

lembra o silêncio, chorando, sobre a tristeza da vida!

Helvécio Barros Bauru/SP

Silêncio, estranho orador, tão insondável em tudo,

mas que, em segredos de amor, diz “sim” ou “não”... sendo mudo!

Héron Patrício São Paulo/SP

Entre lágrimas, clamando,

chamo o teu nome e meu grito sem resposta vai girando

no silêncio do infinito.

Isabel Cholby Santos Santos/SP

Pelo silêncio, envolvida, só quero agora esquecer toda a existência perdida

em que eu vivi sem viver...

Maria Nascimento Santos Rio de Janeiro/RJ

Em teu retrato hoje eu noto

que o silêncio é o meu castigo: é a voz que falta na foto

quando eu converso contigo...

Otávio Venturelli Nova Friburgo/RJ

Silêncio... medo... mistério... chão de lágrimas caídas...

Talvez fosse um cemitério... mas não é... são certas vidas...

Walter Sanches Belém/PA

Lembranças de amor desfeito...

silêncio em horas tardias, pois tua ausência, em meu leito,

dorme onde outrora dormias.

Wanda de Paula Mourthè Belo Horizonte/MG

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A abelha até que se acabe não para pra descansar!

Nem "fazer cera" ela sabe... - logo pega a trabalhar!

À deriva, no caminho, tanta saudade ajuntei,

que cismo, velho e sozinho: - saudade... jamais deixei!

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- A Madame, pelo exame,

foi mordida por "barbeiro"! - Mas, Doutor... aquele infame me disse que era banqueiro!

Após transpor as barreiras com talento e dignidade,

restaram, por companheiras... - a solidão e a saudade!

Bicho inteiro na goiaba

jamais me causa aperreio. Mas dá nojo, fico braba, se, comendo, vejo meio!

Como velho motorista

vou dar minha opinião: - pior que animal na pista

é um burro na direção!

Dar aulas e gastar sola é a vocação do Nogueira.

Corre de escola em escola... - é professor de carreira!

Dar um sorriso é tão nobre que o gesto nos engrandece, quem dá não fica mais pobre mas quem ganha se enriquece.

Diz o guarda ao namorado: – Use também a outra mão! Retruca o moço “avançado”: - quem segura a direção?

Diz ser poço de virtude o meu compadre Pacheco!

Tão magro, tão sem saúde... só se for um poço seco!

Do jeito que anda o salário, do jeito que as coisas vão,

é arroz pelo crediário e consórcio de feijão!

É cômica a minha terra e eu vivo rindo, aliás! O doutor Armando Guerra é nosso Juiz de Paz!

Ela tem sorte tamanha,

que bastou pedir divórcio e logo seu carro ganha,

sem nem entrar em consórcio.

Entre e não seja apressada... visita me dá prazer!

- Quando não for na chegada, na despedida há de ser!

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Era uma pensão pacata...

por vez, lembrava um cortiço! A comida era barata... - E bota "barata" nisso!

Grande poetisa! Porém, do verso tão orgulhosa,

que não fala com ninguém! -Dizem que detesta “prosa”!

- Meu bravo soldado, então você pôs o outro a correr? - Que corrida, Capitão... mas não me deixei prender!

Minha fonte de ventura,

onde lavo o meu desgosto, jorra em constante doçura das covinhas do teu rosto!

Minha ventura retrata

pobre brinquedo distante: - carrinho de velha lata, puxado por um barbante!

Minha vida amiga e boa deu-me a senda desejada:

– se canso de estar à toa, depois não faço mais nada!

Não canso de gargalhar das ironias da vida:

- como é fácil de se achar a mulher que está perdida!

Não cedo livro emprestado! Não o devolve, ninguém!

- Estes que eu tenho guardado, pedi emprestado também!

Não te cases com mulher entendida de finança. Não te deixará sequer

passar a mão na poupança!

Não traz perene alegria taça de cristal na mão! Esse prazer não expia as nódoas do coração!

- Na pinga que eu bebo, tento

a minha mágoa afogar! - E consegues teu intento? - Qual, ela sabe nadar!

Naquela manhã, no hospício,

houve incomum alarido. - Junto ao lixo do edifício estava um doido varrido!

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No açougue faz alvoroço

este cartaz que contém: - vendemos carne com osso... e idem, sem idem, também!

O jovem de hoje, não nego, tem muito tato e razão:

– de fato, sendo o amor cego, só namora com a mão!

Ó Pai, dai-me mais saber para entender meu patrão!

- Mais força nem vou querer, porque nele eu taco a mão!

O pileque faz das suas!

Pra mim, porre nunca mais! - Minha sogra virou duas...

castigo assim é demais!

O tempo bom já se foi! Eu mesmo, sem ser patife,

pra não brigar, dava um boi! - Hoje... brigo por um bife!

O tesouro do meu sonho, que guardo no coração, vem do sorriso que ponho na face de cada irmão.

Pequena, três não comporta

a casa da Gabriela. Marido entra pela porta, alguém sai pela janela.

- Posso assentar-me ao teu lado,

meu anjo doce e gracioso? - Detesto velho assanhado! - Assanhado e... mentiroso!

- Quanto custou teu carrão?

- Só um beijinho, quase nada! - Que deste no maridão?

- Não, que ele deu na empregada!

Quebra o cristal dessa taça, que a bebida é falso conto! Foge da alegre trapaça...

Por si só, quem bebe é tonto!

Quero buscar-te, Senhor, mas meu barco é fraco até!

Por vez, ouço o teu clamor... longe... à deriva, sem fé!

Que sentido pitoresco

deste termo incoerente! O pão que achamos mais fresco é justamente o mais quente!

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Que vale fazer promessa, rezando pra não chover, se quando a chuva começa queremos nos esconder?

Salve quem, entre o inimigo,

com talento e decisão, insiste em lançar o trigo

e repartir o seu pão!

Se a gente cruzar minhoca com macho de borboleta, será que dá "borbonhoca" ou dará "minhocoleta"?

Sempre foi franga avoada

e agora está mais travessa! De tanto levar bicada, só tem galo na cabeça!

Somou e multiplicou

mas a morte o subtraiu!

Depois que os pés ajuntou, a família dividiu.

Sou, por fim, aposentada!

Trabalho? Nem pensar nisso! - Prefiro subir escada a elevador de serviço!

Tu serás velho e paspalho quando a coisa se inverter: – o prazer te der trabalho e o trabalho der prazer!

Vejam que vida mesquinha! Conserto o mundo não tem! A mulher que andou na linha

um dia, matou-a o trem!

Zebra, que belo animal, de branco e preto pintado. - Quem o pintou, por sinal,

entendia do riscado!

Josué de Vargas Ferreira nasceu em Leopoldina/MG, em 9 de outubro de 1925 e faleceu em Ribeirão Preto/SP, onde se

radicou, a 3 de outubro de 2017. Era contador e aposentado do Banco do Brasil. Na literatura foi premiado em poemas e trovas em diversos concursos. Pertenceu a diretoria da UBT - União Brasileira de Trovadores e participou de diversos Jogos Florais como membro das comissões nomeadas pelo executivo local. Editou Trovas de Graça em vários formatos distribuindo de graça a populares e estudantes aproximadamente 10.000 exemplares. Tem trovas editadas em publicações da Editora Vozes. Tem trovas nos volumes II e III de "Meus Irmãos, os Trovadores" e antologias de Aparício Fernandes. Fonte da biografia: Nilton Manoel

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1º lugar

Parece fruta madura, mas guarda um certo verdor:

a saudade é uma doçura com um pingo de amargor!

Selma Patti Spinelli São Paulo/SP

2º lugar

Nos meus momentos inquietos pelos desgastes da lida,

tenho a doçura dos netos tirando o amargo da vida...

Cezar Augusto Defilippo Astolfo Dutra/MG

3º lugar

Na vida, o instante mais bruto, só quem tem calma supera,

pois a doçura do fruto é a recompensa da espera.

Arlindo Tadeu Hagen Juiz de Fora/MG

4º lugar Nenhuma ternura ostenta

maior doçura em seu brilho, do que a da mãe que amamenta

olhando os olhos do filho.

Francisco Gabriel Natal/RN

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5º lugar É na aflição de uma agrura

dos dissabores da lida que se descobre a doçura das coisas simples da vida.

Heder Rubens Silveira e Souza Chapecó/SC

6º lugar

Não devia ser salgada se na doçura se cria

cada lágrima chorada de emoção ou de alegria.

Arlindo Tadeu Hagen Juiz de Fora/MG

7º lugar

Num tempo em que as tentações tornam mais a vida impura,

benditos os corações que têm ainda doçura!

José Antônio de Freitas Pitangui/MG

8º lugar Lembrança da mocidade, na memória tão presente, põe doçura da saudade, nas amarguras da gente!

Campos Sales São Paulo/SP

9º lugar

Das doçuras que conheço, uma só me satisfaz:

o beijo que eu nem mereço, mas, que ainda assim, tu me dás.

Nélio Bessant Pindamonhangaba/SP

10º lugar

Para a tristeza, a medida que liberta o sofredor:

Contra a amargura da vida basta a doçura do amor.

Eliana Jimenez Balneário de Camboriú/SC

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1º lugar A goiabada com queijo, é sobremesa sem par,

tão gostosa como um beijo, muito agrada ao paladar.

Olinda da Silveira Atibaia/ES

2º lugar

Depois de uma feijoada servida na refeição,

o queijo com goiabada

é uma boa sugestão.

Marta Campista Codeço Campos dos Goytacazes/RJ

3º lugar

O sabor da goiabada, conhecido no Brasil,

em Campos é fabricada e todos dão nota mil!

Vitória Rangel França Campos dos Goytacazes/RJ

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1º lugar

Pelo sucesso alcançado em Campos, doce petisco,

seu nome foi exaltado: chuvisco para showisco!

Abílio Kac Rio de Janeiro/RJ

2º lugar

Seus olhos claros e ariscos ao pedir que eu faça as pazes,

lembram dois doces “Chuviscos” de Campos dos Goytacazes.

José Henrique da Costa Magé/RJ

3º lugar

Imerso em total doçura, neste vidro que me trazes,

chuvisco é a própria ternura de Campos dos Goytacazes!

Renato Alves Rio de Janeiro/RJ

4º lugar

Menina, que beijo doce! Gostoso, vadio, arisco.

Teu beijo é como se fosse saborear um chuvisco.

Maria Helena Ururahy Campos Fonseca Angra dos Reis/RJ

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5º lugar – No açúcar, ovos, ternura,

a confeiteiro me arrisco e te ofereço a doçura

do meu amor no chuvisco!

Renato Alves Rio de Janeiro/RJ

6º lugar

Nas coisas simples da vida estão as doces conquistas... Quem disso ainda duvida,

prove os chuviscos campistas!

Jota de Jesus Saquarema/RJ

7º lugar

Portugal tem como seu, “chuvisco” - doce iguaria!

Mas foi Campos que lhe deu esse toque de magia...

Gilvan Carneiro da Silva São Gonçalo/RJ

8º lugar Há guloseima e petisco de todo tipo de mesa,

mas somente um bom “chuvisco” edulcora-me a tristeza.

Cléber Roberto de Oliveira São João de Meriti/RJ

9º lugar

Definir? Eu não me arrisco, também não ouso entender o que tem neste chuvisco que me dá tanto prazer...

Giovanelli Nova Friburgo/RJ

10º lugar

O mais gostoso petisco - igualzinho ao que tu fazes – nem se compara ao “chuvisco” de Campos dos Goytacazes!!!

Madalena Ferreira Magé/RJ

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1º lugar Ururau, que é encantado, do sino ele é guardião, no Paraíba abrigado,

virou uma assombração.

Talita Batista

2° lugar Jacaré apaixonado

afundou a grande nau e o sino ali transportado virou casa do Ururau.

Carlos Augusto Souto Alencar

3º lugar O velho Ururau da Lapa

faz parte de nossa história; é lenda de contracapa

contada com graça e glória.

Neiva Fernandes

4º lugar Muitas lendas passarão, mas o Ururau vai ficar; orgulho deste torrão

onde escolhemos morar.

Maria Luíza Peres Campos

5º lugar Ururau papo amarelo é lenda muito famosa:

folclore antigo e singelo, mas Campos fica orgulhosa!

Neiva Fernandes

6° lugar Lenda de amor impossível, transformou-se o namorado

em Ururau, ser temível, um jacaré encantado.

Danusa Almeida Delvaux

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 25

7º lugar

Pode crer que me dá asco, essa lenda do Ururau

o próprio pai foi carrasco do lindo amor do casal!

Gleyde Costa

8º lugar No rio, em frente ao convento,

nosso Ururau se encantou e só teve como alento, lenda que o eternizou.

Thelmo Albernaz

9º lugar

No silêncio e em surdina, para confinar a dor, o coronel assassina

e o Ururau morre de amor!

Jeanne Viterbo

10º lugar O Ururau virou canção, num bloco de carnaval; cantado com emoção,

vencendo qualquer rival!

Manoel Bento Neto

1º lugar Ainda está por nascer

marujo ou bruxa cigana que consiga desfazer

o nó dos gomos da cana.

Sérgio Fonseca Mesquita/RJ

2º lugar Ele mesmo é quem plantava pés de cana em seu quintal. Da cachaça se orgulhava: Sou cliente... paternal!!!

Alba Helena Corrêa Niterói/RJ

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 26

3º lugar

Diz o bebum já mamado, defronte ao canavial:

- Oh, cana, muito obrigado por teu produto final!

Nélio Bessant Pindamonhangaba/SP

4º lugar

Viu o coveiro intrigado que a morte, às vezes, se engana:

- na cova de um pé inchado, está vivo um pé de cana.

José Paulo Corrêa de Souza Juiz de Fora/MG

5º lugar “Surpreso”, o “bebum” sacana diz ao guarda e choraminga:

-“Eu bebi caldo de cana... Na barriga, virou pinga!”

Roberto Tchepelentiki São Paulo/SP

6º lugar A cana estava tão dura, coitado do companheiro,

engoliu a dentadura, só foi sentir no banheiro.

Ailson Cardoso de Oliveira Magé/RJ

7º lugar Da cana veio a cachaça, e eu gostei do paladar...

Dormi no banco da praça. Fui em cana... dei azar!

Fernanda Dornelas Gomes Ibatiba/ES

8º lugar Para viver, o golpista,

passa a mão em nossa grana; o povo – malabarista – assobia e chupa cana!

Geraldo Trombin Americana/SP

9º lugar Transa no campo é bacana,

mas quando esquenta a paquera, pra velha moita de cana, tem até fila de espera!

Campos Sales São Paulo/SP

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 27

10º lugar Zé mantém mulher tirana

que já foi um bom “pedaço”... Coitado: Chupou a cana

e não cuspiu o bagaço!

Cléber Roberto de Oliveira São João de Meriti/RJ

A Trova pode ser classificada sob três aspectos; a forma, a mensagem (ou conteúdo) e a origem. Quanto à

forma, podemos dividi-la em trova de rima simples e de

rima dupla. A de rima simples é a mais antiga e a mais

popular. Apareceu, segundo Luís da Câmara Cascudo, por volta do século XIII. É a que rima apenas o 2o. com

o 4o. verso. Eis uma trova de Adelmar Tavares, que é

um perfeito exemplo de trova de rima simples:

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 28

A inveja tem seu castigo,

Deus mesmo é quem retribui:

enquanto o invejado cresce,

o invejoso diminui...

A trova de rima dupla, como o nome está

dizendo, é a que possui os quatro versos rimados entre

si. É um tipo mais aprimorado, mais literário, mais artístico, embora, possivelmente, menos popular. A trova de rima dupla pode ter as rimas intercaladas, Isto é, rimando o 1.° com o 3° verso e o 2° com o 4°, ou internas, quando o 1.° verso rima com o 4° e o 2° com

o 3°. Eis um exemplo de trova de rima dupla com as

rimas intercaladas; é do trovador A. A. de Assis:

Desesperadora e triste

é a solidão dos ateus,

para os quais nem mesmo existe

a companhia de Deus.

Vejamos agora um exemplo de trova de

rima dupla com as rimas internas, através desta linda quadrinha do saudoso poeta Gentil Fernando de

Castro;

Que lição às nossas dores,

ó velho muro, desvendas!

— É na ferida das fendas

que mais te cobres de flores...

A trova de rima dupla interna é relativamente rara. Podemos considerá-la mais sofisticada, mais erudita e bem menos popular do que as suas irmãs, A tendência dos trovadores atuais é francamente pela composição da trova de rima dupla intercalada; num ensaio que se publicou, propôs-se

que doravante só seja reconhecida como trova a

quadra de rima dupla; ao que parece, Colbert Rangel Coelho e alguns outros trovadores são da mesma opinião. O certo é que, pelo menos nos inúmeros Jogos Florais e demais Concursos de Trovas que

frequentemente são realizados em nosso país, já não se aceita as trovas de rima simples, que são

automaticamente desclassificadas. Não acreditamos, porém, que a trova de rima simples venha a desaparecer, pois: a) é muito mais antiga que a trova de rima dupla;

b) está consagrada pelo povo, sendo de feição nitidamente popular; c) várias trovas antológicas, que o povo sabe de cor, são de rima simples;

d) é o caminho de acesso natural à trova de rima dupla, encontrando ainda muitos compositores,

principalmente entre os trovadores iniciantes. Guimarães Barreto, poeta e escritor paraibano residente na Guanabara, em seu livro "Excursão peto Reino das Trovas" (Irmãos Pongetti, 1962, Rio) diz o seguinte:

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 29

"As trovas, provenham de letrados ou iletrados,

caracterizam-se pelos motivos que as criam e que, como as composições musicais, lhe servem de elemento essencial, O tema, ou assunto que as motiva, é quase tudo". Concordamos, em parte, com a opinião acima, porquanto, embora as duas coisas se

completem, damos mais valor ao conteúdo poético de

uma trova do que propriamente ao artifício de sua forma. Por isso, somos tolerantes. Embora nossa preferência recaia na trova de rima dupla, não vamos negar a existência de trovas de rima simples belíssimas, que de modo algum podem ser relegadas ao

ostracismo. Nossa concordância com o Guimarães Barreto termina quando ele escreve o seguinte:

"Há casos em que a própria rima se dispensa e basta a homofonia nas últimas sílabas tônicas dos segundo e quarto versos (rimas toantes), multo de agrado dos trovadores portugueses. Essa ausência de rimas não

perturba a boa qualidade das trovas, mas, pelo contrário, lhe dá um sabor de originalidade, um novo motivo de encantamento:

Quem me vê eu 'star sorrindo

não pense que estou alegre,

meu coração ‘stá tão preto

como a tinta que se escreve."

Em nossa opinião, uma quadra só será trova se tiver as rimas conforme o figurino legal. As rimas toantes podem ser interessantes para poemas

livres ou para sonetos inovadores. Na trova não,

mesmo porque não se enquadram na definição de trova que é hoje aceita sem contestação, pelo menos no que se refere às rimas. Na quadra mencionada por Guimarães Barreto notamos ainda a utilização do apóstrofo no 1.° e no 3° verso. Somos contrário não só aos apóstrofos,

como às licenças poéticas e a todo e qualquer recurso

apelativo na composição de uma trova. Quem é bom trovador, dispensa essas muletas: utiliza-se do vernáculo corretamente e nem por isso suas trovas deixam de ter a naturalidade musical de uma fonte cristalina.

Somos contrário até mesmo à utilização do termo pra em lugar de para, só o admitindo em casos

especialíssimos. Uma trova com um pra dificilmente será uma trova de elevada categoria (a contração “pra”

pelas novas normas da UBT, é aceita tanto em trovas

humorísticas como em líricas/filosóficas). Quanto ao pro (para o), então, nem se fala... Para terminar, vamos citar uma trova de Adelmar Tavares, de rima dupla intercalada, onde o poeta usa a mesma palavra para rimar o 1.° com o 3o

verso:

Para matar as saudades,

fui ver-te em ânsias, correndo...

— E eu, que fui matar saudades,

vim de saudades morrendo...

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 30

E ainda uma outra, de Lia Pederneiras de

Faria, que apresenta a curiosa particularidade de ter a rima "inha" nos quatro versos:

"Não há mãe melhor que a minha!"

— diz a filha à mamãezinha.

E a mãe sorrindo: – Filhinha,

melhor que a tua, era a minha!…

Vamos agora analisar a classificação da Trova no

tocante à sua mensagem, ou conteúdo. A grande

maioria das trovas, numa percentagem de 90 a 95%, podem ser incluídas em três grandes categorias: líricas (também chamadas românticas ou sentimentais), humorísticas e filosóficas. As restantes, que fogem a estas características, são as

trovas que poderíamos denominar de sociais, religiosas, descritivas, políticas, regionais, pictóricas, patrióticas, condoreiras, etc. Ainda assim, com um

pouco de boa vontade, muitas dessas trovas poderiam ser englobadas em uma das três grandes categorias principais. Independente de pertencerem a uma das

categorias acima citadas, as trovas podem ainda ser afirmativas ou interrogativas, otimistas ou pessimistas, conselheirais, conceituosas, acusativas, didáticas, pacifistas, épicas, místicas, queixosas, de revolta, etc.

Em se tratando das trovas humorísticas,

principalmente, as subdivisões são mais importantes e mais acentuadas, de vez que o humorismo apresenta nuances que podem ser delineadas mais nitidamente. Assim, uma trova humorística pode ser simplesmente engraçada, ou ainda brejeira, maliciosa, irônica, sarcástica, epigramática, satírica, anedota!, etc.

Julgamos desnecessárias maiores explicações sobre o

que seja uma trova lírica, humorística ou filosófica, de vez que estas próprias designações são bastante claras e expressivas. Contudo, a título de ilustração, apresentamos a seguir três trovas: a primeira, lírica; a segunda, humorística; e a terceira, filosófica. Os

autores são, respectivamente, Maria Thereza Cavalheiro, Antônio Tortato e Luiz Otávio;

Naquele dia, tristonho,

pousaste os olhos nos meus:

— vivi na tarde do sonho,

morri na noite do adeus.

O inquérito começou

e o inspetor é interrogado:

— O cadáver, como o achou?

— Morto! senhor delegado...

Duas vidas todos temos,

muitas vezes sem saber:

– a vida que nós vivemos

e a que sonhamos viver.

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 31

Para concluir o nosso estudo da classificação de

trovas quanto à mensagem, vamos apresentar exemplos de trova social, religiosa, descritiva, política, regional, ferina, pictórica, patriótica e condoreira. Ei-los:

Trova social, de Luiz Antônio Pimentel:

Olhando, alheio á folia,

no carnaval me comovo,

ao ver tamanha alegria

sob a miséria do povo.

Trova religiosa, de João Martins de Almeida:

Aliviai as penas duras,

meu Jesus, de todos nós.

Lembrai-vos das criaturas

que se esqueceram de Vós!

Trova descritiva, de Eliézer Benevides:

Pelas planuras desertas,

nas frondes verdes, as comas

mostram corolas abertas,

num desperdício de aromas.

Trova política, de M. Augusto Costa:

Todo mundo é "boa praça"

quando é chegada a eleição.

Mas, depois que o pleito passa,

o povo fica na mão!

Trova regional, de Clodoaldo de Alencar:

Se a região do Nordeste

quiser ter um pavilhão,

ei-lo aqui: — um cardo agreste

em forma de coração!

Trova pictórica, de Félix Aires;

A flor do sol, no horizonte,

fecha as pétalas vermelhas...

Pelo pescoço do monte

se deita um colar de ovelhas!

Trova patriótica, de Leonardo Henke:

Deus, num símbolo que encerra

promessas de redenção,

deu ao Brasil — minha terra —

a forma de um coração.

Trova condoreira, de Lilinha Fernandes;

Amanhece... Vibra a terra!

O sol, que em ouro reluz,

sai da garganta da serra

como uma trova de luz!

Este último tipo de trova, isto é, a condoreira, é também apelidada pelos trovadores de foguete de lágrimas, pelas suas imagens inusitadas, rutilantes e — muitas vezes — exageradas,

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 32

Trovadores brasileiros reunidos na praça XV de Novembro, em Ribeirão Preto/SP, emplacando trovas: Miguel Cione, Nilton Manoel, Nilton da Costa Teixeira, Morgade de Miranda, Milton Nunes Loureiro, Manita, Silvio Ricciardi, Agnelo Campos, Mário Moreira Chaves, etc.

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 34

33

Costuma se fazer bons negócios nesta feira.

O verbo concorda com o seu sujeito, na voz passiva. Observe que temos dois verbos, um auxiliar e outro, principal.

Veja outros exemplos de uso da voz passiva em

situações semelhantes: Não se podem prever essas situações. (Não

podem ser previstas essas situações.) Devem-se devolver os crachás ao final do evento.

(Devem ser devolvidos os crachás ao final do

evento.)

A frase inicial estaria corretamente escrita da seguinte maneira:

Costumam se fazer bons negócios nesta feira.

34

Não exceda da dosagem alcoólica permitida.

O verbo exceder não admite preposição. Outros exemplos: O motorista foi multado porque excedeu os

limites de peso de carga de seu caminhão. (Errado: O motorista foi multado porque excedeu dos limites de peso de carga de seu caminhão.) Lotação: 42 passageiros. Não exceda este limite.

(Errado: Lotação: 42 passageiros. Não exceda deste

limite.) O certo seria escrever a frase original do seguinte modo:

Não exceda a dosagem alcoólica permitida.

35

Não estacione! Sujeito a guincho.

Nada pode estar sujeito a um objeto que, neste

caso, é o guincho, mas sim a uma ação, que seria a de guinchamento. Em outras hipóteses, os que transgridem a lei penal estão sujeitos a prisão, mas

não a preso; se a transgressão for grave, podem até estar sujeitos a banimento, mas não a banido; como também, uma latinha de cerveja, no freezer, está

sujeita a congelamento, mas não a gelo. A frase inicial, corretamente grafada, ficaria assim:

Não estacione! Sujeito a guinchamento.

36

Não fiz o dever de matemática.

Para muitas pessoas, há uma confusão muito grande, envolvendo os significados das palavras dever e deveres. Inicialmente, determinemos suas

semânticas, conforme os bons dicionários:

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 35

dever: obrigação; deveres: tarefas (sempre no plural).

O exemplo seguinte economiza muita explicação

e esclarece a questão:

O dever de cada estudante é fazer seus deveres

escolares.

Talvez, esta regrinha ajude a estabelecer com mais clareza a distinção: deveres (tarefas) se fazem; dever (obrigação) se cumpre.

Outros exemplos:

Ele cumpriu o dever de pai.

O dever de todo militar é servir o seu país. Deixei de fazer os deveres de geografia. Ela não dá conta de realizar os deveres

domésticos. Precisa de uma empregada.

A frase original, corrigida, fica assim:

Não fiz os deveres de matemática.

37

Pare de atazanar os outros!

Eis uma pérola da linguagem popular. Se formos a um dicionário e chegarmos à excrescência atazanar, teremos como significado a remissão ao vocábulo

atenazar, que significa torturar, aborrecer, irritar,

apertar com tenaz. Atazanar é uma palavra sem origem, é uma anomalia resultante da pronúncia atrapalhada de atenazar. Fica-se, portanto, com esta grafia, que é a correta. A frase original deve ser reescrita, assim:

Pare de atenazar os outros.

38

O comandante nos disse que ficássemos alertas.

Aqui está uma dica de português para vestibular

e concurso, a qual tem gerado muita controvérsia. A palavra alerta pertence à classe dos advérbios e, como tais, é invariável. Não se flexiona para indicar gênero (Ele está alerta.), como também para indicar número

(Permaneço alerta. Permanecemos alerta. Eles permanecem alerta.). Só se admite variação, quando substantivada, isto é, quando a palavra estiver acompanhada de artigo (Esqueci os alertas do

comandante.).

Então, depois da correção da frase inicial, fica assim: O comandante nos disse que ficássemos alerta.

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 36

39

Confesso que me simpatizei com ela.

O verbo simpatizar, como também seu antônimo antipatizar não são empregados com pronomes.

Abaixo, seguem outros exemplos de frases

corretamente escritas: Você simpatizou com a moça, mas ela

antipatizou com você. Antipatizo com políticos em geral. Simpatizamos com a nova professora.

Eles antipatizam conosco.

Portanto, escreve-se correto, grafando-se assim: Confesso que simpatizei com ela.

40

Ela quer se aparecer.

Isso é o fim da estrada da ignorância. Certos verbos são essencialmente pronominais

como suicidar-se, por exemplo. Outros, porém, jamais podem ser usados com pronomes, como os verbos da dica anterior, simpatizar ou antipatizar. Trazemos um

desses verbos que jamais são usados com pronome,

que é o verbo aparecer. Esse é um típico verbo intransitivo. Não admite voz reflexiva, objetos de espécie alguma. Não se pode aparecer ninguém e, também, aparecer a si mesmo. Escreve-se corretamente, assim:

Ela quer aparecer.

41

Começou nevar hoje cedo em Urubici.

Certas notícias são dadas de modo negligente,

sem nenhuma preocupação com as regras do idioma. O verbo começar forma locução com outro verbo, no infinitivo, por intermédio da preposição a.

Exemplos: Nice começou a chorar. Naquela hora, Eliane começou a rir. Começou a chover.

Eis a frase do topo corretamente escrita:

Começou a nevar hoje cedo em Urubici.

Fonte: 126 Pegadinhas em Língua Portuguesa. http://www.softwareebookecia.com.

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 38

Prazo (sistema de envelopes ou e-mail): 31 de janeiro de 2018

Realização UBT- Seção de Maringá-PR 1. Tema: ACHADO (L-F), devendo a palavra-tema constar do corpo da trova. 2. Poderão participar exclusivamente trovadores filiados a seções e/ou delegacias da UBT, exceto os da Seção de Maringá. 3. Enviar apenas uma trova, com indicação da delegacia ou seção a que pertence o concorrente. 4. Na remessa pelo Correio (sistema de envelopes), usar Luiz Otávio como remetente, e o mesmo endereço do destinatário. 5. Na remessa via internet, escrever a trova e o nome e endereço completo do concorrente no corpo do e-mail. 6. Prazo: até 31/01/2018.

7. – Endereços para remessa: Pelo Correio: Nilsa Alves de Mello Rua Santos Dumont, 2544 – Ap. 1401 CEP. 87013-050 – MARINGÁ-PR __________________________ – Por e-mail: José Feldman (fiel depositário) [email protected] 8.– Serão premiadas 04 (QUATRO) trovas, sendo 01 (UMA) VENCEDORA e 3 (TRÊS) MENÇÕES HONROSAS. Troféu ou medalha para a Vencedora e diplomas para as demais. 9. – A Seção ou Delegacia a que pertencer o vencedor deverá promover o concurso subsequente. 10. – Caberá à Comissão Organizadora resolver os casos

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 39

omissos e suas decisões serão definitivas e irrecorríveis. 11. – A remessa das trovas significa total conhecimento e completa aceitação deste Regulamento.

ALBERTO PACO – Presidente da UBT – Seção Maringá A.A. DE ASSIS – Coordenador Obs.: Outras informações poderão ser solicitadas pelo e-mail: [email protected]

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Florilégio de Trovas – n.17 – 1ª. quinzena de novembro de 2017 40

José Feldman nasceu em São Paulo/SP, em 1954. Radicou-se em Maringá/PR, em 2011. Iniciou-se nas trovas com o Magnífico Trovador Izo Goldman, na cidade paulistana. Estudou romance com Mário Amato e Ficção Científica na literatura e no cinema com o escritor de renome internacional, falecido em Curitiba, André Carneiro, tornando-se amigos. Neste tempo fez amizade com o escritor Artur da Távola, que lhe deu orientações para o desenvolvimento de seu trabalho no mundo da literatura, época em que era Diretor, Árbitro e Organizador de Torneios de Xadrez em diversos clubes da capital paulistana e Diretor Musical.

Em 1995 casou-se com a escritora e tradutora, professora de literatura inglesa Alba Krishna Topan e mudou-se para o Paraná, onde foi, pela União Brasileira dos Trovadores, Delegado de Ubiratã, membro da UBT Maringá e depois auxiliar de delegado em Arapongas/PR. Divorciou-se em 2017.

Premiado em alguns concursos de trovas, como Ribeirão Preto, Nova Friburgo, Curitiba, Santos, etc. Escritor, poeta, trovador, gestor cultural, orientador, criou o blog http://singrandohorizontes.blogspot.com.br em 2007, Idealizador e editor dos ebooks Chuva de Versos com mais de 400 números, O Encanto das trovas, Florilégio de Trovas e O Voo da Gralha Azul.. Pertence a diversas academias de letras, foi vice-presidente da Associação de Literatos de Ubiratã e presidente estadual do Paraná da Academia de Letras do Brasil, tendo por patrono Paulo Leminski, medalha de mérito cultural Euclides da Cunha da Academia de Letras em Berna/Suiça e membro desta Academia, tendo por patrono Mário Quintana, Conselheiro Internacional do Movimento União Cultural, acadêmico correspondente de Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, da Academia Formiguense de Letras/MG e Academia Rotary de Letras, Artes e Ciências de Taubaté/SP, membro da Sociedade Mundial de Poetas, Unión Hispanomundial de Escritores, Casa do Poeta Lampião de Gaz, Medalha de Mérito Cultural da Academia Pan Americana de Letras e Artes, Mérito Cultural da Academia Brasileira de Trovas e Medalha Heitor Stockler de França, da UBT Paraná, Prêmio “Mahatma Ghandi” de Liderança pela Paz.

Livro publicado na Coleção Terra e Céu, em 2016 com trovas de sua autoria e de seu mestre Izo Goldman. Poesia na Edição comemorativa de 35 anos do Movimento Poético em São Paulo e Café com Letras, da Academia de Letras de Teófilo Ottoni. Crônica em coletânea organizada por Isabel Furini, de Curitiba. Prefácio em livros de Isabel Furini e Átila José Borges. Trovas em livros de Vânia Ennes, de Curitiba e da UBT Nacional. Referência no livro A Trova, de Carolina Ramos, e em

boletins nacionais. Seu nome foi citado nos Anais da Academia de Letras Maçonicas.

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Nota sobre a Revista

O download (gratuito) dos números anteriores, em formato e-book, pode ser obtido em

http://independent.academia.edu/JoseFeldman

As trovas foram obtidas na internet, em jornais, revistas e livros, ou mesmo colaboração

do trovador.

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