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Primeira Pauta Economia solidária Surgimento de novas alternativas prova que o desenvolvimento sustentável é possível Agricultores de Araquari e Garuva oferecem produtos livres de pestici- das e de resíduos químicos. Para ad- quiri-los é só ir até à feira de produ- tos agroecológicos, que funciona no pátio do Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/ Ielusc, às terças-feiras, das 9h às 14h. Página 5 Quarenta mãos trabalham me- lhor que uma. Com esse pensamen- to, moradores do Jardim Paraíso, em Joinville, buscam alternativas contra o desemprego. Uma delas é a construção de casas com a a téc- nica de produção de tijolos utiliza- da por muitos assentamentos de sem-terras do Brasil. Ser um novo espaço de laborató- rio para os estudantes, segundo a di- retora do Curso de Turismo com ên- fase em Meio Ambiente, Dra. Elizabete Tamanini, é um dos aspec- tos que motivou o Instituto Bom Je- sus/Ielusc a participar do projeto de economia solidária em Joinville. Página 9 Feira oferece produtos orgânicos em Joinville Uma técnica e muita força de vontade Ielusc e economia solidária são parceiros Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - 6º Semestre/2002 Edição nº 23 - 1º de Outubro de 2002 Página 6 A aproximação entre o consumidor final e o produtor é uma das propostas da economia solidária. Ao adquirir um produto solidário, o consumidor percebe que uma simples hortaliça traz um novo valor agregado: a história de vida e as esperanças da comunidade que a produziu. Fotos: Elaine Cristina Dias Montagem: Juciano Lacerda

Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

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Primeira Pauta

Economia solidáriaSurgimento de novas alternativas prova

que o desenvolvimento sustentável é possível

Agricultores de Araquari e Garuva

oferecem produtos livres de pestici-

das e de resíduos químicos. Para ad-

quiri-los é só ir até à feira de produ-

tos agroecológicos, que funciona no

pátio do Instituto Superior e Centro

Educacional Luterano Bom Jesus/

Ielusc, às terças-feiras, das 9h às 14h.

Página 5

Quarenta mãos trabalham me-

lhor que uma. Com esse pensamen-

to, moradores do Jardim Paraíso,

em Joinville, buscam alternativas

contra o desemprego. Uma delas é

a construção de casas com a a téc-

nica de produção de tijolos utiliza-

da por muitos assentamentos de

sem-terras do Brasil.

Ser um novo espaço de laborató-

rio para os estudantes, segundo a di-

retora do Curso de Turismo com ên-

fase em Meio Ambiente, Dra.

Elizabete Tamanini, é um dos aspec-

tos que motivou o Instituto Bom Je-

sus/Ielusc a participar do projeto de

economia solidária em Joinville.

Página 9

Feira oferece produtosorgânicos em Joinville

Uma técnica e muitaforça de vontade

Ielusc e economiasolidária são parceiros

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - 6º Semestre/2002 Edição nº 23 - 1º de Outubro de 2002

Página 6

A aproximação entre o consumidor final e oprodutor é uma das propostas da economiasolidária. Ao adquirir um produto solidário, oconsumidor percebe que uma simples hortaliçatraz um novo valor agregado: a história de vida eas esperanças da comunidade que a produziu.

Fotos: E

laine Cristina D

iasM

ontagem: Juciano Lacerda

Page 2: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

Primeira Pauta2

OpiniãoEXPEDIENTE

Jornal Laboratório do

Curso de Comunicação

Social – Jornalismo – do

Instituto Superior e Cen-

tro Educacional Luterano

Bom Jesus/IELUSC

www.ielusc.br

Diretor Geral:

Tito L. Lermen

Diretor do Curso:

Edelberto Behs

Professor responsável:

Juciano de S. Lacerda

DRT-PB 1.177

Editora:

Michelle de Castro

EDITORIAS

Comunidade

Editor:

Luiz F. Bertoldi

Reportagem: Adriana

Caroliny Silvy, Edelamar

Negherbon, Eunice

Ventury, Luiz Fernando

Bertoldi

Economia

Editor:

Marco Aurélio Braga

Reportagem: Cleiton

Bernardes, Juliana Batis-

ta, Karla de Assis Perei-

ra, Nicole da Rosa Gomes

Saúde

Karla de Assis Pereira

Fotografia:

Elaine Cristina Dias

Colaborador:

Kleyton Clemente

Diagramação:

Juciano de S. Lacerda

Contato com a reda-

ção: Curso de Comunica-

ção Social – Jornalismo.

Rua Alexandre Dohler,

56, Centro, 89201-260,

Joinville-SC. Tel.: (47)

433-0155.

Funcionam com base na propri-

edade social dos meios de produ-

ção vedando a apropriação indivi-

dual desses meios ou sua aliena-

ção particular.

O controle do empreendimento

e o poder de decisão pertencem à

sociedade de trabalhadores, em

regime de paridade de direitos.

Gestão de empreendimentos vin-

culada à comunidade de trabalho,

que organiza o processo produti-

vo, opera as estratégias econômi-

cas e dispõe sobre o destino do

excedente produzido. [KC]

Funciona com base na proprie-

dade única ou conjunta de um gru-

po de pessoas - proprietárias, con-

centrando nas mãos de poucos o

lucro de produção.

O controle do empreendimento,

ou empresa, pertence ao(s) pro-

prietário(s), em regime contratual

estipulado em abertura de empresa.

Gestão de empreendimentos fu-

turos vinculada e unicamente de-

limitada ao(s) proprietário(s) do

empreendimento, qual(is) tem

único poder de elaborar estratégi-

as e o fim do excedente produzido.

O termo economia solidária

abriga muitas práticas econômi-

cas e não há um consenso sobre

o seu significado. Em geral, ele

está associado à práticas de con-

sumo, comercialização, produ-

ção e serviços – entre os quais o

de financiamento, em particular

– em que se defendem, em graus

variados, a participação coletiva,

autogestão, democracia, igualita-

rismo, cooperação, auto-susten-

tação, a promoção do desenvol-

vimento humano, responsabili-

dade social e a preservação do

equilíbrio dos ecossistemas. En-

tretanto, nem todas essas carac-

terísticas estão presentes nas di-

versas práticas concretas, que são

elencadas como economia soli-

dária, em estudos e análises dis-

tintas que temos encontrado. A

afirmação é de Euclides André

Mance, que ministra a disciplina

de Filosofia na Universidade Fe-

deral do Paraná.

O modelo solidário de eco-

nomia é totalmente diferente do

sistema capitalista, que é o atual

modelo no Brasil e na maior

parte do mundo, exceto alguns

que operam com o sistema so-

cialista como Cuba. O doutor em

sociologia Luiz Inácio Gaiger,

professor do Programa de Pós-

Graduação em Ciências Sociais

Aplicadas, da Universidade do

Vale do Rio dos Sinos, diz que a

literatura atual sobre economia

solidária converge em afirmar o

caráter alternativo das novas ex-

periências populares de autoges-

tão e cooperação econômica.

Dada a ruptura que introduzem

nas relações de produção capi-

talistas, elas representariam a

emergência de um novo modo

de organização do trabalho e das

atividades econômicas em geral.

O fenômeno da economia

solidária guarda semelhanças

com a economia camponesa.

Este modelo, em primeiro lugar,

é distinto da forma assalariada.

As práticas de autogestão e coo-

peração dão a esses empreendi-

mentos uma natureza singular,

pois modificam o princípio e a

finalidade da extração do traba-

lho excedente.

O solidarismo mostra-se ca-

paz de converter-se no elemen-

to básico de uma nova raciona-

lidade econômica, apta a susten-

tar os empreendimentos através

de resultados materiais efetivos

e de ganhos extra-econômicos.

“A economia solidária não re-

produz em seu interior as rela-

ções capitalistas, no melhor dos

casos as substitui por outras, mas

tampouco elimina ou ameaça a

reprodução da forma tipicamen-

te capitalista, ao menos no hori-

zonte por ora apreensível pelo

conhecimento”, compara Gaiger.

Alternativa ao capitalismoPor Kleiton Clemente

Não estamos no fim da

história. A expressão já gasta

para definir a política neoli-

beral vigente, felizmente, não

é uma profecia auto-realizá-

vel. Os novos caminhos tra-

çados ainda são tênues, mas

já apontam para alternativas

de desenvolvimento sustentá-

veis e, acima de tudo, huma-

nas. Com essa crença e essa

esperança, nós, do 6º perío-

do do Curso de Jornalismo,

dedicamos toda esta 23ª edi-

ção do Primeira Pauta para o

tema atual da Economia So-

lidária.

Para conhecer e entender

o desenvolvimento prático

do tema, visitamos o assenta-

mento Justino Draszevsky, em

Araquari (SC). Os assentados

falaram sobre suas formas de

produção e organização no

assentamento. Além de con-

versar com os agricultores, as-

sistimos a uma peça de teatro

produzida e encenada por

eles.

De volta à Joinville, era

hora de conferir a venda dos

produtos. Não foi preciso ir

muito longe nessa etapa de

produção. O Instituto Bom

Jesus/Ielusc, em parceria com

a Economia Solidária, abriga,

todas às terças-feiras, a Feira

de Produtos Orgânicos.

Indo a campo, descobri-

mos que além da venda, em

algumas localidades como

Garuva e Porto União, agri-

cultores sobrevivem somen-

te com a troca dos produtos.

Observamos também que no

bairro Jardim Paraíso, em

Joinville, e no assentamento

de Araquari, casas são cons-

truídas com o trabalho e tijo-

los da própria comunidade.

Isso é possível graças ao

EDITORIAL

mutirão e à técnica do tijolo

Adobe, feito com argila e cal.

Conversando com cada

participante do fórum, enten-

demos quão simples e saudá-

vel é o modo de vida que le-

vam. Quando chegamos a es-

sas constatações, entramos na

questão mais social do tema.

Ao mesmo tempo em que

nos afeiçoávamos ao modo

de pensar e viver dessa gente,

tomávamos suas dores em

perceber a dificuldade que é

manter esse modo de vida.

Os agricultores eram unâni-

mes em reclamar da falta de

apoio por parte das entida-

des governamentais. Essa

omissão do governo faz com

que Santa Catarina seja um

Estado com índices elevadís-

simos de êxodo rural. A con-

trapartida desse problema é

o Microcrédito solidário. O

microcrédito, ou credito soli-

dário como é mais conheci-

do, viabiliza a solução dos pro-

blemas financeiros dos agri-

cultores com taxas de juros

menores que as praticadas

pelos bancos convencionais.

Somente depois de co-

nhecer e analisar toda essa

conjuntura é que entendemos

como a Economia Solidária

é essencial para manter vivo

o trabalho no campo.

Foi uma verdadeira lição

de sobrevivência e cidadania.

Aprendemos que é possível

desenvolver iniciativas de ca-

ráter jornalístico e atuarmos

na comunidade para o desen-

volvimento conjunto, inde-

pendendo das estruturas con-

vencionais. Mas aprendemos,

sobretudo, que se a História é

desfavorável é preciso

reescrevê-la, pois somos nós

os protagonistas.

Reescrever a História

Capitalismo X Solidarismo

Page 3: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Primeira Pauta

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

3

EconomiaUma opção para viver com qualidadeMotivados pelo Fórum da Economia

Solidária, agricultores trazemfeira de produtos ecológicos

para o Bom Jesus/Ielusc

Juliana Batista

Fotos: Elaine Cristina Dias

João Guilherme,de Araquari: é preciso a adesão de mais agricultores à proposta da feira

Os agricultores de Araquari

e Garuva provam que é possível

viver bem na agricultura, melho-

rar de vida e, ao mesmo tempo,

oferecer produtos de alta quali-

dade, livres de pesticidas e de

resíduos químicos. Com o obje-

tivo de comercializar esses pro-

dutos na região de Joinville, eles

participaram do Fórum da Eco-

nomia Solidária, em Florianópo-

lis, e de um seminário sobre Tu-

rismo Rural promovido pelo

Curso de Turismo com ênfase

em Meio Ambiente, do Institu-

to Bom Jesus/Ielusc.

O resultado foi a criação da

feira de produtos orgânicos que

acontece todas as terças-feiras,

das 9h às 14h, na Unidade Cen-

tro do Bom Jesus/Ielusc. A fei-

ra começou no mês de junho e

se discute ainda a idéia de ela

acontecer também na Unidade

do bairro Saguaçu. Os agricul-

tores tiveram apoio de profes-

sores e alunos. Agora, os produ-

tos podem ser comercializados

com o preço menor do que o

encontrado nos supermercados.

Segundo um dos coordena-

dores do assentamento Justino

Draszevsky, de Araquari (20 Km

de Joinville), João Guilherme

Zeferino, as primeiras semanas

da feira não trouxeram bons re-

sultados. Com o passar do tem-

po, as pessoas vêm descobrindo

a comercialização, motivados pe-

los que já consomem este tipo

de produto. Existe também

perspectiva de mais agricultores

colocarem seus produtos à ven-

da na feira.

Hoje, o assentamento comer-

cializa vinte tipos de produtos

dos mais variados, como cenoura,

beterraba, aipim, batata doce,

queijo, agrião e espinafre. “Para

manter uma feira com essa quan-

tidade de produtos, todas as se-

manas, não é tão simples. Preci-

samos de mais agricultores para

dar conta dessa demanda. Há

dificuldades para produzir fru-

tas, por exemplo. Produzimos a

fruta somente na sua época. Não

é como nos supermercados, em

que você encontra manga o ano

inteiro”, diz João Guilherme.

Falta de genteespecializada

Futuramente os agricultores

de Araquari irão produzir várias

frutas como o maracujá, mamão,

laranja e a melancia. Até o mo-

mento o assentamento não tem

um acompanhamento técnico

para dar condições de o agricul-

tor fazer um planejamento de

produção. “Sem essa equipe téc-

nica, os produtores têm dificul-

dades na área prática. É muito

difícil encontrar, hoje, um técni-

co que tenha conhecimento e

condições de fazer esse acom-

panhamento”, conta o coorde-

nador.

A Associação Rural de Pro-

dutores de Palmital de Mina Ve-

lha, em Garuva (35 Km de

Joinville), também está comerci-

alizando seus produtos na feira.

Segundo a presidente da associ-

ação, Ângela Medeiros, a procu-

ra dos produtos orgânicos tem

aumentado muito aqui na cida-

de e estão surgindo convites para

organizar feiras em outros luga-

res. “Está havendo muita com-

preensão e incentivo da comu-

nidade”, diz. Ângela afirma ain-

da que não existe competição

entre os quatro agricultores da

associação: “Procuramos ter di-

versidade. Se de um produtor

vendemos o aipim, do outro,

vendemos, na feira, a banana”.

Os agricultores trabalham

para que se tenha mais debate nas

comunidades. Eles procuram

sensibilizar as pessoas nas reuni-

ões para que se sintam motiva-

dos a ver os resultados do con-

sumo de produtos orgânicos.

Nos supermercados, esses pro-

dutos são mais caros do que na

feira do Instituto Bom Jesus/

Ielusc. “É um trabalho de quali-

dade e não de produtividade”,

afirma Ângela Medeiros, que

acha importante esse tipo de co-

mércio para que as pessoas te-

nham mais saúde.

Especialistas em nutrição lem-

bram que para se preparar um

bom prato, simples ou sofistica-

do, a primeira regra é básica: uti-

lizar produtos de boa procedên-

cia, de primeira qualidade, culti-

vados com cuidado e sem

aditivos químicos. Nos últimos

anos, devido ao dia-a-dia cada

vez mais exigente em relação à

qualidade dos alimentos consu-

midos, os supermercados têm

aumentado o espaço de venda

para produtos sem agrotóxicos.

Aos poucos,as pessoas estãodescobrindo afeira no Pátio doBom Jesus

Page 4: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

Primeira Pauta4

EconomiaO preço da qualidade

Produtos orgânicos: mais saúde e economia para o bolso

Mesmo com o preço abaixo dos cobrados no mercado,joinvilenses ainda não despertaram para a qualidade

dos produtos orgânicos

Cleiton Bernardes

Pagar mais para ter um pro-

duto melhor é uma situação que

não faz parte do cotidiano da

grande maioria das famílias bra-

sileiras. Em Joinville, as pessoas

já despertaram para os benefíci-

os de uma alimentação saudável

que o consumo de produtos or-

gânicos pode oferecer a preços

compatíveis com os considera-

dos não-orgânicos.

A grande maioria dos pro-

dutos orgânicos pode ser vendi-

da ao consumidor com preço

abaixo dos demais. “Quando

plantamos uma safra de beter-

raba sem agrotóxicos, por exem-

plo, temos um produto em me-

nor quantidade, mas com uma

qualidade infinitamente maior”

afirma João Guilherme

Zeferino, 40 anos, que reside no

Assentamento Justino

Drazevstki, do MST (Movimen-

to dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra), em Araquari.

Ele é um dos agricultores que

comercializam os alimentos pro-

duzidos no assentamento nos

mercados da região e nas feiras,

como a que acontece todas as

terças-feiras no pátio do Insti-

tuto Superior e Centro Educa-

cional Luterano Bom Jesus/

Ielusc. O trabalho em

associativismo com outros agri-

cultores, segundo João Guilher-

me, elimina a figura do

atravessador ou intermediário.

O que diminui consideravelmen-

te o custo do produto. Assim é

possível colocar à venda os pro-

dutos orgânicos com o mesmo

preço dos não-orgânicos no

mercado. Ele explica que o tra-

balho e o cuidado com os pro-

dutos orgânicos são maiores,

uma vez que não são utilizados

agrotóxicos na plantação.

Os produtos orgânicos são

cultivados sem a utilização de

agrotóxicos e pesticidas, o que os

faz ter uma qualidade muito su-

perior aos produzidos com

pesticidas e agrotóxicos. A ven-

da de produtos orgânicos em

Joinville é realizada pelos agricul-

tores que participam do progra-

ma de associativismo rural.

ConscientizaçãoO associativismo é uma for-

ma de organização menos for-

mal que uma cooperativa, no qual

um grupo de pessoas se une por

uma finalidade específica. Usan-

do as associações, os produtores

estão se conscientizando de que

unidos poderão resolver seus pro-

blemas no meio rural, uma vez

que são semelhantes.

Segundo a agricultora Maritza

de Oliveira, 36 anos, da localida-

de de Mina Velha, em Garuva, a

comparação de preços entre pro-

dutos orgânicos e não orgânicos

é injusta, pois a facilidade para

quem planta produtos com

agrotóxicos é muito grande.

“Existe um grande número de

pesticidas e hormônios que au-

mentam o tamanho e o peso dos

produtos não orgânicos, enquan-

to nossa produção é realizada

quase artesanalmente”. Os pre-

ços dos produtos vendidos na

feira do Bom Jesus/IELUSC

foram tabelados de acordo com

uma média feita nos supermer-

cados da região de Joinville. Essa

tabela é valida para venda dos

A feira reune economia e qualidade no mesmo ambiente

Fotos: Elaine Cristina Dias

produtos até o final do ano. A

média de preços dos produtos

vendidos através do associativis-

mo é praticamente a mesma dos

produtos não-orgânicos. Quem

ganha com isso é o consumidor,

que pode adquirir produtos de

maior qualidade com preços

competitivos. Confira na tabela

os valores de produtos orgâni-

cos e não-orgânicos. O preço

dos orgânicos foi obtido na fei-

ra do Bom Jesus/IELUSC e o

dos não-orgânicos pela média de

preços nos supermercados da

região.

Compare os valores

Produto

Alface

Beterraba

Brócolis

Queijo

Repolho

Aipim c/Casca

Prod. Orgânico

R$ 0,50 Unidade

R$ 1,00 Maço

R$ 1,25 Maço

R$ 6,00 Quilo

R$ 1,00 Unidade

R$ 0,75 Quilo

Prod. Não-Orgânico*

R$ 0,75 Unidade

R$ 0,98 Maço

R$ 1,49 Maço

R$ 6,99 Quilo

R$ 0,98 Unidade

R$ 2,95 Quilo

* Dados de 01/09/2002, colaborou Paulo Roberto Meyer.

Page 5: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Primeira Pauta

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

5

Economia

A captação e a mobilização

da poupança local é o principal

fundamento para a viabilidade

econômica e social das coope-

rativas de microcrédito. É a ava-

liação do professor e pesquisa-

dor da Unisinos (RS), Luiz Inácio

Gaiger, que desenvolve projetos

na área da Economia Solidária.

“Os juros do microcrédito soli-

dário são menores do que os

cobrados pelos sistemas conven-

cionais dos bancos”, justifica o

pesquisador.

O objetivo da proposta é

estabelecer um canal solidário

Microcrédito cobra jurosabaixo do mercado

Nicole da Rosa Gomes

Os interessados em aderir ao empréstimotêm que se enquadrar em algumas exigências

entre os trabalhadores de baixa

renda, mas até a solidariedade

tem limites. Luiz Inácio Gaiger,

que é pesquisador da área de

Ciências Sociais Aplicadas, apon-

ta que as cooperativas de crédi-

to solidário também estabele-

cem algumas restrições. Para as-

sociar-se ao sistema de

microcrédito, nenhum cliente

pode constar na lista do SPC

(Serviço de Proteção ao Crédi-

to), todos devem ter carteira de

identidade, CPF, salário capaz de

arcar com as dívidas do empre-

endimento e um planejamento

de seus investimentos.

A cotização dos associa-

dos através de depósitos à vista

e depósitos a prazo, dentro de

um a seis anos, são as formas de

estimular e criar condições para

que as populações mais pobres

tenham um melhor planejamen-

to financeiro. Esta mobilização

é realizada permanentemente

através da sensibilização dos só-

cios em torno dos objetivos e

princípios das cooperativas.

Quem não efetua o pagamento

das parcelas ou não cumpre os

acordos do contrato pode ter

sua propriedade retida.

ONG’s eempresas

financiavam sóas mulheres.Acreditavamque elas eram

melhorespagadoras

A transparência adminis-

trativa e o permanente controle

social são promovidos de vári-

os modos. Por meio de reuni-

ões freqüentes nas comunidades,

nos sindicatos e movimentos

sociais. Utilizam-se da divulgação

da cooperativa em meios de co-

municação e de realização de as-

sembléias participativas. Há, ain-

da, espaços como conferências

municipais e regionais de coope-

rativismo de crédito e na pró-

pria ação dos agentes comunitá-

rios de crédito. Entre os princi-

O pequeno Bangladesh,

no subcontinente indiano,

um dos países mais pobres

do globo, foi pioneiro na

implantação do microcré-

dito solidário em todo o

mundo.

Quase do tamanho do

Amapá, os pouco mais de

140 mil km2 do país acomo-

dam uma população de

aproximadamente 130 mi-

lhões de habitantes. O que

corresponde a uma densida-

de demográfica próxima de

1.000 hab/km2.

Em pequenas comunida-

des, onde as pessoas se co-

nheciam, os empréstimos

eram realizados em baixa

escala. As comunidades fo-

ram crescendo e o aumento

de unidades filiais tornou-se

uma necessidade. No entan-

to, o comprometimento de

cada associado continuou.

Pioneirismo bengaliAté o emprego do dinheiro

emprestado era constante-

mente fiscalizado para que

os investimentos fossem des-

tinados ao trabalho, e não a

bens pessoais.

No Brasil, essa alternati-

va socioeconômica surgiu há

mais de três décadas. Finan-

ciar somente as mulheres de

classe social baixa era o ob-

jetivo primordial. As Orga-

nizações Não-Governamen-

tais (ONG’s) e empresas fi-

nanciavam somente mulhe-

res, porque acreditavam que

elas eram melhores pagado-

ras. Nas décadas de 80 e 90,

surgiram as primeiras coo-

perativas de microcrédito

com entidades para a gestão

de empreendimentos. Liga-

das ou não ao Estado, as ins-

tituições financeiras são até

hoje locais, com caráter co-

letivo e solidário. [NRG]

pais mecanismos utili-

zados para a captação es-

tão a remuneração de taxas

abaixo do mercado, campa-

nhas, prêmios, reciprocidade

com as operações de crédito e

parcerias com sindicatos, associ-

ações e outras instituições locais.

Pequenasassociações de

créditopossibilitam jurosmenores e uma

maiortransparência na

gestão dosrecursos investidos.E a possibilidadedo financiamento

de projetoscoletivos.

Isolado, cadaindivíduo não

tem comoqualificar sua

produção,construir sua

casa ou montaruma

microindústria.

1

2

Page 6: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Economia

6 Primeira

Joinville/SC, 1º de

Quarenta mãos trabalham

melhor que uma. Com esse pen-

samento, moradores do bairro

Jardim Paraíso, um dos mais ca-

rentes de Joinville, buscam alter-

nativas contra o desemprego: a

construção de casas em mutirão.

A expectativa é que uma creche

comunitária seja concluída em

2003. Essa iniciativa está viran-

do realidade e grupos de 20 pes-

soas começam a formar coope-

rativas para viabilizar os projetos.

Uma pesquisa realizada por

estudantes do Programa Integrar,

curso profissionalizante que deu

origem à idéia da cooperativa,

identificou que a construção de

uma creche é a maior necessida-

de da comunidade. A intenção é

formar um grupo de trabalho

para atender as necessidades dos

moradores e gerar empregos

para esses trabalhadores.

De acordo com a coordena-

dora do Integrar em Joinville,

Viviane Schumacker, tanto a fa-

bricação do bloco de cimento,

chamado Adobe, até as instala-

ções da casa ficarão por conta

dos alunos do curso. A coope-

rativa será formada por 20 pes-

soas, ou seja, o comprometimen-

to dos moradores é fundamen-

tal. A diferença do Adobe para

os tijolos comercializados no

mercado é que eles são queima-

dos em fornos e o novo sistema

é seco ao sol.

A parceria entre a Associação

de Moradores do Jardim Paraí-

so, o Programa Integrar e o Pro-

jeto Amigos do Bairro – criado

para reintegrar pessoas desem-

pregadas à sociedade – conta

com a participação da arquiteta

Fárida Mirani de Mira, respon-

sável pela construção das casas

do assentamento Justino

Draszewsky, em Araquari. No

município, a 20 km de Joinville,

foi utilizada uma técnica seme-

lhante.

Segundo a arquiteta Fárida de

Mira, a única diferença é a com-

posição dos blocos que serão

utilizados em Joinville. “No as-

sentamento nós utilizamos uma

técnica chamada solo-cimento e,

em Joinville, utilizaremos o solo-

cal, Adobes feitos de argila e cal”,

afirma Mira. Segundo ela, no

município vizinho uma máquina

que fabricava os moldes era uti-

lizada para compor os blocos.

No bairro joinvilense a produ-

ção dos moldes será manual. “As

pirâmides do Egito foram feitas

de argila e cal”, explica a arquiteta,

referindo-se à durabilidade.

CustosO coordenador do projeto

Amigos do Bairro, Devanir de

Souza, afirma que o custo dos

blocos de Adobe são bem infe-

riores se comparados aos encon-

trados no mercado. “Com esse

trabalho, pretendemos criar a

cooperativa de trabalho para

atender às necessidades de

Joinville e gerar um pensamen-

to solidário nos moradores”,

projeta.

Em Indaial, a 120 km

Joinville, essa proposta já foi

posta em prática e tem gerado

muitos frutos. O diretor de in-

dústria e comércio da cidade,

Adilson Boel, destaca a associa-

ção de agricultores que já

comercializa seus produtos or-

Técnica para superar o desempregoCooperativa de trabalho é a tentativa de fomentar a economia de um dos bairros mais

carentes de Joinville

Karla de Assis PereiraFotos: Elaine Cristina Dias

As casas serão construídas no Jardim Paraíso com apoio do Programa Integrar e o Projeto Amigos do Bairro

gânicos nas feiras. Agora a luta é

pelo selo de qualidade. Na cons-

trução civil, uma casa popular

modelo, de 70 m2, já foi

construída e mais oito estão sen-

do discutidas, mas precisam pas-

sar pelo processo licitatório.

Um convênio ainda não assi-

nado com a Caixa Econômica

Federal deve possibilitar a cons-

trução de mais 80 casas. Associ-

ação dos coletores de papel

reciclável, organização de even-

tos e um grupo de panificação

também já foram formados na

cidade. A coordenadora do In-

tegrar de Indaial, Aurora Coe-

lho, reconhece que consciência e

organização são essenciais no

processo de formação dos gru-

pos. Essa é uma característica

presente nesses trabalhos.

O tijolo será feito de argila e cal e não precisará de calor

Em Indaial, esseprojeto já foi

posto em práticae tem geradomuitos frutos

Page 7: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Comunidade

Diante das incertezas que hoje

rondam o padrão monetário vi-

gente, há o surgimento e a ex-

pansão de formas alternativas de

organização financeira em Santa

Catarina. Essas experiências alter-

nativas estão sendo criadas ou

renovadas com o objetivo de

combater o processo de concen-

tração econômica e ampliar a

força dos excluídos do circuito

financeiro tradicional. Em Porto

União, a 295 km de Joinville, vive

Emilio Kutchma, 63 anos, um

agricultor que participa do siste-

ma de troca de alimentos, prati-

cado na Colônia da Serra desde

os primeiros colonizadores.

Emilio planta feijão, arroz

verduras e algumas frutas em sua

propriedade e não utiliza

agrotóxicos no plantio, assim

como a maioria dos moradores

da Serra. A qualquer dia e hora

um vizinho pode chegar na casa

do agricultor e trocar o feijão que

é produzido lá por outro pro-

duto agrícola ou serviço, como

ajudar na lavoura. “Construímos

uma relação de confiança e soli-

dariedade”, diz o agricultor.

Caso um morador necessite

de arroz, por exemplo, e não

puder “pagar” imediatamente,

essa pessoa deixa para dar sua

parte quando estiver em melhor

situação. “Até hoje ninguém traiu

minha confiança. Estou muito

satisfeito com o nosso modo de

vida”, afirma Emilio.

Fotos: Elaine Cristina Dias

Alimento produzido na propriedade de Emilio Kutchma é trocado na comunidade

Os moradores da Serra vi-

vem de forma simples: 90% das

casas são de madeira, algumas

não possuem fogão a gás, so-

mente à lenha. As famílias mais

humildes da comunidade não

possuem geladeira, televisão, nem

mesmo cama. Palhas de milho

são improvisadas e utilizadas

como colchão.

Aproximadamente 70 famí-

lias vivem na Serra, com suas

casas separadas por quilômetros

de distância. A casa de Emilio,

por exemplo, está a 2 km do vi-

zinho mais próximo. “Em nos-

sa comunidade não se obtém

ganhos através de juros e as tro-

cas são acordadas diretamente

entre as duas partes”, comenta o

agricultor.

Verônica Kutchma, esposa de

Emilio, cuida dos afazeres do-

mésticos e faz doces de frutas

orgânicas, que são comercializa-

dos por vendedores ambulantes,

em Curitiba, e também trocados

Troca solidária de alimentos é meio de sobrevivência em Porto União

Produtores do Norte do Estadoproporcionam segurança aos

moradores com troca de alimentosEdelamar Negherbon

No campo: retorno à prática da troca reforça laços sociais

na própria colônia. O sistema de

troca não supre todas as necessi-

dades da comunidade. Duas ve-

zes por mês, Verônica vai à ci-

dade comprar algumas merca-

dorias. “Não estamos comple-

tamente desligados do comércio.

Shampoo, sabão em pó,

amaciante de roupas, entre ou-

tros produtos, somos obrigados

a buscar no mercado”, ressalta a

agricultora.

Reestabelecera confiança

A agrônoma Rosenilda

Romanski avalia positivamente o

processo de trocas. “As trocas de

bens e serviços procuram criar

um ambiente de solidariedade e

conhecimento recíproco entre os

moradores. E acrescenta: “Des-

sa forma é possível suprir as ne-

cessidades fundamentais da po-

pulação e restabelecer a confian-

ça como valor essencial. Assim

todas as pessoas têm a possibili-

dade de trocar produtos, inde-

pendente de seu status social”.

O sistema de troca utilizado

na colônia, segundo Rosenilda,

garante um pouco mais de se-

gurança e dignidade para essas

famílias. “O dinheiro é o grande

carrasco da atualidade. Ele fan-

tasia condições e necessidades

que, em alguns casos, são ilusó-

rias”, afirma.

A agrônoma frisa ainda

que os agricultores estão perden-

do seu próprio espaço e cultura.

“Se voltarmos na história dos

primeiros colonizadores do lo-

cal, o dinheiro era desnecessário,

pois num sistema de troca de

produtos, eles sobreviviam com

tranqüilidade”, diz. Atualmente,

o dinheiro faz parte da econo-

mia dessa comunidade, mas o

uso de instrumentos monetá-

rios distintos do oficial é um

fenômeno cada dia mais fre-

qüente, tanto no âmbito rural,

como no urbano.

7eira Pauta

e Outubro de 2002

Page 8: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

Primeira Pauta8

ComunidadeAraquari investe na produção orgânica

Assentados utilizam técnicas quepreservam o solo e geram harmonia

com o meio ambienteAdriana Caroliny Silvy

Fotos: Elaine Cristina Dias

No cultivo orgânico de João Guilherme há uma aliada pouco comum: a erva daninha

Qualidade de vida aumenta e comunidadelastima não acolher mais famílias no projeto

A pequena cidade de

Araquari, a 20 km de Joinville,

está investindo na produção sem

agrotóxicos. Os agricultores do

assentamento Justino

Draszevsky, que vieram de

Chapecó, foram assentados há

oito anos nas terras doadas para

a Reforma Agrária. Os morado-

res sobrevivem do plantio de

produtos orgânicos e da criação

de animais.

Os produtos cultivados em

Araquari são totalmente orgâni-

cos, ou seja, não possuem

agrotóxicos. A plantação é trata-

da somente com produtos na-

turais. O líder dos assentados,

João Guilherme Zeferino, diz

que o cuidado com a terra e com

a semente é essencial. Os agricul-

tores do assentamento plantam

os legumes com o cuidado de

preservar a erva daninha. “A erva

daninha é uma boa aliada”,

acrescenta ele, falando sobre o

cultivo do brócolis. João explica

que ao invés dos bichos come-

rem a plantação, devoram o

mato. Se não houvesse a erva, os

bichos comeriam os produtos.

Os agricultores deixam a ter-

ra descansando por um ano. Em

seguida, semeiam a terra descan-

sada e fica de repouso a terra

onde foi feita a colheita anterior

. A irrigação é feita por um

córrego que rodeia a plantação.

Os agricultores cultivam no

meio da plantação uma flor cha-

mada ‘cravo de defunto’, que

serve para espantar os insetos. A

flor exala um cheiro forte que

afasta os bichos.

A alimentação é totalmente

saudável, produzida pelos pró-

prios agricultores. “Produzimos

apenas para nos manter”, conta

João Guilherme. Mas o exce-

dente pode ser vendido para a

população local e para os visi-

tantes, como também na feira

que acontece todas as terças-fei-

ras no Instituto Superior e Cen-

tro de Educação Luterano Bom

Jesus/Ielusc, em Joinville, e abas-

tece alguns supermercados da

região

Sete famílias vivem no assen-

tamento, um total de trinta e três

pessoas. O local é silencioso e o

vento refresca os dias quentes de

inverno. A comunidade lastima

não acolher mais agricultores.

“Nosso projeto era para dez fa-

mílias”, recorda João Guilherme.

A economia solidária se con-

cretiza no trabalho comunitário.

“Nosso objetivo é assegurar a

pequena propriedade e manter

os moradores unidos”, diz o lí-

der comunitário, ressaltando que

os agricultores pensam sempre

na comunidade. A solidariedade

existente entre os assentados já

os motiva a pensar em abando-

nar a moeda corrente. “Temos

planos de viver só na base da tro-

ca”, relata João. Trocar roupas

por verduras, carnes por sapa-

tos, ovos por medicamentos.

Cada morador do assenta-

mento tem seu próprio serviço.

Dividem as atividades: uns tra-Os agricultores planejam construir um centro comunitário

tam dos animais; outros cuidam

das plantações; e as mulheres, das

casas. Todas as crianças estão

matriculadas na escola. Estudam

num colégio próximo ao assen-

tamento, na Barra do Itapocú.

Na área de 51 hectares, os

moradores plantam frutas, ver-

duras, legumes e ervas e têm cri-

ação de animais. Plantam beter-

raba, cenoura, vagem, berinjela,

couve-flor, rabanete, abóbora,

batata-doce, feijão, mandioca,

cará, pimentão, salsa, alface,

agrião, brócolis, repolho, mara-

cujá, banana, abacaxi, alfavaca,

erva cidreira e alfazema. Além de

produzirem seus próprios pães,

leite, queijo, mel, geléias e con-

servas em geral. Os pães e do-

ces são feitos em forno à lenha.

Das ervas são extraídos os re-

médios para tratar os enfermos

da comunidade. Criam patos,

marrecos, gansos, galinhas, por-

cos e abelhas. Os porcos são cri-

ados soltos e alimentam-se de

produtos naturais.

As residências foram erguidas

em uma área de setenta metros

quadrados e possuem três quar-

tos, cozinha, sala, banheiro e la-

vanderia. As casas são todas

iguais. Os próprios moradores

fabricam os tijolos utilizados na

construção e constróem suas ca-

sas. O material utilizado na fa-

bricação dos tijolos é o barro e

a cal. O barro isola o barulho e

conserva a temperatura ambien-

te. A água consumida pelos mo-

radores vem de poço e é distri-

buída para as casas através das

caixas d’água. Os agricultores

têm planos para formar um cen-

tro comunitário.

O nome do assentamento

tem origem no fundador do

movimento sem-terra em Santa

Catarina, Justino Draszevsky, que

idealizou a proposta do traba-

lho cooperado. [ACS]

Todas as crianças estãomatriculadas na escola

e estudam num colégio próximoao assentamento

Page 9: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Primeira Pauta

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

9

ComunidadeIelusc firma parceria com Fórum

da Economia Solidária

Socióloga e coordenadora do

Fórum da Economia Solidária, em

Joinville, Valdete Daufemback

Niehues, comemora o desenvol-

vimento do projeto de economiasolidária no Bom Jesus/Ielusc.

Com reuniões iniciadas em abril,

o grupo já conseguiu organizar

uma feira semanal. “Para realizar

as feiras em local público, tería-

mos que pagar uma taxa ao mu-nicípio. E para os agricultores era

ruim, pois o lucro é pequeno. En-

tão, houve uma disponibilidade do

Ielusc em ceder este espaço”, con-

ta Niehues. Em Bento Gonçalves

(RS) o governo não cobra taxa

alguma dos produtores. A soció-

loga chama isso de “incentivo” do

município aos agricultores.O próximo passo será vender

produtos orgânicos para as meren-

das das escolas estaduais. Houve

uma reunião, no final de agosto,

com a Secretaria de Estado de

Educação e o Fórum para orga-nizar e consolidar o processo. As

merendeiras das escolas recebe-

ram capacitação. Falta resolver a

parte burocrática das próprias es-

colas, responsáveis pelo pedido da

verba à Secretaria de Educação

Estadual, que deve ser repassada

diretamente aos produtores rurais.

Os assentamentos de Garuvae Araquari, juntamente com a

Agreco de Santa Rosa de Lima

(SC) irão disponibilizar os alimen-

tos para as escolas. Em seguida, o

Fórum procurará mais agriculto-

res interessados em produzir ali-mentos sem agrotóxicos e, aos

poucos, fazer com que Joinville

produza para atender à demanda

local das escolas estaduais. [EV] Do campo para a mesa do consumidor, sem atravessadores

Município precisa incentivar mais projetos

Instituição incentiva o consumo de alimentos sem agrotóxicos em Joinville

“Um laboratório para os es-

tudantes.” Assim, a diretora do

Curso de Turismo com ênfase

em Meio Ambiente do Instituto

Bom Jesus/Ielusc, Dra. Elizabete

Tamanini, definiu a participação

da instituição na economia soli-

dária. Desde o ano passado, o

curso incorporou o projeto

como atividade curricular. Ago-

ra, os alunos discutem a qualida-

de da vida urbana em Joinville e

incentivam o consumo de ali-

mentos sem agrotóxicos.

O envolvimento iniciou com

a linha de trabalho, do curso,

voltada para o turismo rural e o

desenvolvimento local. No ano

passado, a Instituição realizou um

encontro sobre ecoturismo tra-

tando, dentre os temas, da eco-

nomia solidária. A partir daque-

le momento, acadêmicos e pro-

fessores começaram a adquirir

experiências em outras comuni-

dades, e, neste ano, deram início

ao Fórum em Joinville. “Este é

um movimento que discute soli-

dariedade, qualidade de vida e

agricultura orgânica. E tudo isso

nós propomos aos nossos alu-

nos”, finaliza Elizabete.

Membro da comunidade

Luterana de Joinville, Pastor

Remy começou a participar das

reuniões por curiosidade. Aos

poucos, uma nova proposta de

vida passou a torná-lo integran-

te do Fórum. Quando houve a

necessidade do grupo conseguir

Eunice Venturi

Pastor Reny: mediador entre o Fórum e a comunidade luterana para o espaço da feira

um local para realizar as reuni-

ões e a feira, Remy foi o media-

dor entre o grupo e a instituição.

“A economia solidária quer fa-

zer com que todos os pequenos

agricultores, empobrecidos pelo

capitalismo, continuem perma-

necendo na lavoura e vendam

seus produtos ecológicos para a

cidade”, ratifica.

Priorizando o desenvolvi-

mento local, a faculdade de Tu-

rismo propõe mudança de vida

e de valores, fazendo um inter-

câmbio entre a zona rural e os

grandes centros urbanos. “Então,

se existe esta rede, este intercâm-

bio, não só para ter um produto

melhor, mas proporcionar uma

vida melhor. E essa é a proposta

da economia solidária”, conclui

Remy.

Em outros países, princi-

palmente na Europa, esta inicia-

tiva é muito positiva. Como

exemplo no Brasil, Remy cita o

Rio Grande do Sul onde a Igre-

ja Luterana desenvolve o proje-

to Centro de Aconselhamento

ao Pequeno Produtor. Ele tem

o mesmo objetivo da economia

solidária: incentivar agricultores a

produzir produtos sem

agrotóxicos. “Estamos voltando

ao natural. As pessoas estão ven-

do que produzir sem agrotóxico

é natural e não agride o meio

ambiente”, enfatiza o pastor.

Fotos: E

laine Cristina D

ias

A economiasolidária quer

fazer com que ospequenos

agricultorescontinuem na

lavoura

Page 10: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

Primeira Pauta10

ComunidadeFalta de apoio prejudica produtoresorgânicos da área rural de JoinvilleAgricultores de Joinville estãoencontrando dificuldades emproduzir para suprir demanda

Luiz Fernando Bertoldi

“O pequeno produtor não

tem condições de se manter sem

o apoio de entidades criadas para

auxiliar o trabalho do agricultor,

pois a ajuda que ainda existe é

precária e deficiente”, afirma o

agricultor e funcionário público

aposentado Orlando Larsen. Há

três anos o produtor cultiva em

sua propriedade agrícola, no bair-

ro do Quiriri, o produto orgâ-

nico, seguindo o padrão de ins-

peção e normas da Fundagro

(Fundação de apoio ao desen-

volvimento rural e sustentável de

Santa Catarina). Orlando acredi-

ta que muitos agricultores te-

nham dificuldades em cultivar o

produto, pois os órgãos compe-

tentes como a Fundação 25 de

Julho, possuem pouca atuação

junto ao agricultor.

Os custos para fazer uma

transição da agricultura conven-

cional para a orgânica são altos.

Os insumos naturais triplicam o

valor da mão de obra. O que era

feito de uma única vez utilizan-

do o agrotóxico, com os

insumos, é necessário um ciclo

para o plantio do produto. De-

vido a estas barreiras de se culti-

var um produto de maior quali-

dade é que em Joinville há so-

mente três agricultores com sua

propriedade toda orgânica.

Existe um projeto na área da

bacia hidrográfica do Cubatão,

que abastece Joinville, que proi-

birá o produtor rural de utilizar

agrotóxicos na agricultura. Seu

Orlando disse que este é um pro-

jeto futuro, mas que precisa ser

revisto, pois uma parte dos agri-

cultores daquela região, não pos-

sui condições de fazer a transi-

ção do produto com o uso do

agrotóxico para o produto or-

gânico. “Eu tenho e tive condi-

ções de fazer esta transição por

que sou funcionário público apo-

sentado, tenho uma renda todo

mês, mas quem depende da agri-

cultura, não possui condições de

fazer esta transição de imediato,

precisa do incentivo e apoio de

órgãos competentes, como a

Fundação 25 de Julho”, diz.

A Fundação 25 de Julho é um

órgão da Prefeitura responsável

pela coordenação das atividades

educacionais, de produção e de

abastecimento agro-silvo-pastoril

de Joinville. O Engenheiro Agrô-

nomo Diter Klostermann disse

que a fundação apóia o peque-

no produtor rural através de as-

sistência técnica e treinamentos

visando a prestação de serviço,

dentro de uma visão integrada,

buscando o desenvolvimento

rural sustentável e um melhor

padrão de vida.

Projeto CubatãoSegundo o agrônomo, a fun-

dação tem total consciência do

que acontece com o produtor

rural. “A bacia do Cubatão é um

projeto desejável, pois investir no

produto orgânico é um bem

para quem produz e para que

consome. Os produtores às

margens do rio Cubatão conta-

rão com o apoio da entidade,

pois é de conhecimento de to-

dos aqui, na fundação, que essa

transição tem um custo alto para

o produtor, no início, começan-

do pelo reequilíbrio do solo, que

varia de 1 a 5 anos”, afirma o

engenheiro. Diter Klostermann

ainda diz que este tempo é ne-

cessário para o reequilíbrio do

solo e para que todo o veneno

aplicado a terra seja completa-

mente eliminado com os anos.

“Mas acima de tudo, o principal

objetivo da fundação é reeducar

o produtor, além de auxiliá-lo

com os recursos necessários”,

conclui.

Para comercializar o orgâni-

co é preciso que cada produto

contenha um selo de certificação

orgânica fornecendo ao consu-

midor a certeza de estar levando

para a casa um produto isento

de contaminação química. Se-

gundo Orlando Larsen, obter o

selo de certificação do produto

orgânico é difícil, devido as cons-

tantes inspeções e normas a se-

rem cumpridas pelo produtor,

mas o resultado é satisfatório

para quem planta e para quem

consome. “Esse produto é o re-

sultado de uma agricultura capaz

de assegurar qualidade do am-

biente natural, qualidade

nutricional e biológica de alimen-

tos e qualidade de vida para quem

vive no campo e nas cidades. O

selo de orgânico é o símbolo de

um processo mais ecológico de

se plantar, cultivar e colher ali-

mentos”, afirma o produtor.

Orlando reivindica que as

entidades competentes auxiliem

o pequeno produtor, para que

este tenha condições de subsistir

e cultivar um produto de quali-

dade e saudável. “A Fundação 25

de Julho não está omissa, mas

precisa ser mais atuante,

disponibilizando um corpo téc-

nico para trabalhar em contato

com o agricultor, além de traba-

lhar com órgãos financeiros para

a viabilização do custeio da plan-

tação” finalizou Larsen.

A transição para a cultura orgânica requer tempo para reequilíbrio do solo cultivável

Foto: Elaine Cristina Dias

Um projeto para a áreada bacia hidrográfica

do rio Cubatão,que abastece Joinville,

prevê a proibição do produtorrural de utilizar agrotóxicos

na agricultura

Page 11: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

Primeira Pauta

Joinville/SC, 1º de Outubro de 2002

11

SaúdeLei não é suficiente para garantir

reeducação alimentarA principal resistência a uma alimentação balanceada ainda é dos próprios alunos

A obesidade é, para alguns,

sinônimo de problemas físicos,

para outros, de rejeição. O que

tem preocupado é a presença

desses quilinhos a mais em cri-

anças. Os índices de obesidade

infantil aumentaram muito nos

últimos dez anos e, com eles, os

problemas de colesterol alto,

subnutrição e outros. Em 1989,

o Brasil já possuía 1,5 milhão de

crianças obesas. Em 2000, o cur-

so de Nutrição da Universidade

Federal de Santa Catarina con-

cluiu, por meio de pesquisa em

escola de Florianópolis, que cer-

ca de 8,5% dos alunos entre seis

e oito anos tinham excesso de

peso. Cerca de 18% dos estudan-

tes com mais de nove anos de

idade corriam o risco de ficar

acima do peso.

Esses são alguns dos dados

que levaram à criação da Lei

12.061, de dezembro de 2001.

Cantinas e lanchonetes do ensi-

no básico catarinense tiveram

180 dias para se adaptar à lei.

Após esse prazo, apenas alimen-

tos aprovados por nutricionista

poderiam ser vendidos, ou seja,

nada de frituras, refrigerantes ou

balas. Bebidas com qualquer teor

alcoólico, pirulitos, gomas de

mascar, refrigerantes, sucos arti-

ficiais ou salgadinhos e pipocas

industrializados têm sua venda

proibida nesses estabelecimentos.

Desde setembro passado, os

produtores orgânicos de Joinville

e região deveriam fornecer ali-

mentos sem agrotóxicos para a

merenda de escolas da cidade.

Essa iniciativa do Fórum de Eco-

nomia Solidária, aliada à lei que

obriga as cantinas escolares a ofe-

recerem uma alimentação mais

saudável aos estudantes, pode tra-

zer muitos benefícios a esses jo-

Karla de Assis Pereira

vens, mas faltam alguns acertos.

Para a nutricionista responsá-

vel pela merenda escolar na Se-

cretaria da Educação, Lucimar

Pereira, a lei é um começo. Mas

confessa que ainda falta

conscientização nas escolas e fis-

calização suficiente.

O impasse maior é nas esco-

las de ensino básico e fundamen-

tal. Como a lei é restrita ao pri-

meiro grau, muitos colégios ain-

da não definiram se o cardápio

será o mesmo para todas as fa-

ses ou não. O coordenador da

Vigilância Sanitária de Joinville,

Paulo Rogério Silva, confessa que

ainda não há fiscalização.

CardápioAlém disso, dois tipos de fru-

tas sazonais devem compor os

cardápios. Os professores

se sentem beneficiados

com a lei. Confessam que

é difícil tentar ensinar aos

alunos como uma alimen-

tação saudável deve ser, uma vez

que há poucos metros da sala de

aula eles só encontram alimen-

tos altamente calóricos e pouco

nutritivos.

A professora Salete Castilho,

do Colégio Rui Barbosa, no

Bucarein, em Joinville, ainda sente

falta de orientação dos pais a res-

peito de uma alimentação mais

saudável. Para ela, a lei ajuda nas

instruções sobre o assunto em

sala de aula. Nas reuniões de pais

e nas visitas às salas de aula, os

alunos são alertados sobre a im-

portância de uma alimentação

mais saudável. Segundo a dire-

tora Valdira Barni Pereira, a

ação ainda não foi suficiente

para impedi-los de com-

prar as guloseimas antes

de entrar na escola.

As primeiras dificuldades de

adaptação de algumas escolas à

Lei 12.061, em Florianópolis, já

foram superadas e os resultados

positivos começam a aparecer.

Segundo a coordenadora do

Fórum de Economia Solidária

de Joinville e região, Valdete

Daufemback Niehues, a parce-

ria entre a Secretaria Estadual da

Educação e a Agreco (Associa-

ção dos Agricultores Ecológicos

das Encostas da Serra Geral)

acrescenta qualidade aos alimen-

tos da merenda e proporciona a

alunos e professores a possibili-

dade de conhecer como funcio-

na a cultura de alimentos sem

Produtos agroecológicos são alternativapara conscientizar estudantes e familiares

adição de agrotóxicos ou pro-

dutos que possam danificar o

meio ambiente e a saúde do con-

sumidor. “Até a evasão escolar

diminuiu devido à qualidade da

merenda, principalmente depois

que a lei passou a ser aplicada”,

afirma Niehues.

Essa parceria traria benefíci-

os tanto aos produtores orgâni-

cos quanto às escolas. “Como

esses agricultores não produzem

uma quantidade suficiente para

abastecer todas as escolas esta-

duais da cidade, a Agreco supri-

rá essa demanda”, afirma, oti-

mista, a coordenadora

do fórum.

A resistência principal a essa

alimentação balanceada ainda é

dos alunos. A diretora adjunta da

Escola Ada Santana da Silveira,

Carmen Baptista, no Paranagua-

mirim, Joinville, acredita que os

alunos precisam ser conscientiza-

dos também em casa. Muitos tra-

zem o lanche de casa ou com-

pram fora da escola. “As frutas

da época eram expostas, no iní-

cio, mas acabavam apodrecen-

do, então paramos de oferecê-

las aos alunos”, confessa. As ven-

das na cantina diminuíram mui-

to. Sanduíche natural, misto-

quente e suco. Para os acostuma-

dos a pastéis e refrigerantes, não

soa como um banquete, mas dá

água na boca de quem sabe o

mal causado pelo hábito da má

alimentação.

FiscalizarApesar de muitas es-

colas ainda não terem se

adaptado à lei, cabe à

Vigilância Sanitária, fis-

calizar e multar os infra-

tores. O desperdício das

frutas dispostas nas cantinas

revela que o cumprimento rigo-

roso da lei não é suficiente para

promover hábitos alimentares

saudáveis nesses jovens. Uma co-

munidade que promove esses

valores é o Assentamento Justino

Draszewsky, em Araquari, que

apresenta um teatro aos visitan-

tes sobre a importância de fru-

tas e verduras, especialmente os

orgânicos. É necessária uma ali-

mentação a base desses produ-

tos para o controle do peso e

isso implica em ensinar novos

hábitos alimentares à “geração

Coca-cola”. [KAP]

Juciano Lacerda

Page 12: Edição nº 23_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville

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