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Autobiografia de um bichorro

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Page 1: Autobiografia de um bichorro

Autobiografia de um bichorro

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Olá, meu nome é Hermes. Tenho quase quatro anos. Nasci num beco entre latas de lixo e panos sujos, um lugar frio e escuro. Eu era peludo e negro. Diferente dos meus irmãos. Sempre comia bastante, mas era o mais magro da família.

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Um dia chovia muito e nós estávamos numa garagem. Mamãe tinha ido procurar comida. Apareceu uma moça com jeito de bondosa e olhou para nós. Meus irmãos saíram correndo, menos eu. Então, ela me pegou no colo, viu como era magro e me levou embora.

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A moça me levou para sua casa. Deu-me leite, cuidou dos meus pelos pretos e longos e me pôs para dormir numa almofada vermelha. Dormi muito, não sei quanto tempo. Estava escuro quando uma menina rosada, de cabelos escuros, me acordou. Era minha dona, muito carinhosa.

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Às vezes sentia saudade das ruas, das travessuras, da minha família. Sei que fui adotado e se isso significava almofada vermelha, água limpinha, comida, amor e carinho, então eu adorava ser adotivo. Já quebrei umas coisinhas da minha dona, mas sem importância. Eu era muito agitado, depois fui castrado e fiquei mais calmo.

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Ocorreram muitas coisas, a mais importante foi a descoberta de outra raça: os cães. Todos avisaram que gatos e cães eram inimigos mortais. Sempre fugi deles. Mas na minha casa nova tinha um cão, o Platão. Por ser muito distraído nem notou que eu era um gato. Nós nunca brigávamos, ao contrário, éramos amigos e ele me ensinou muitas coisas.

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Uma vez a empregada esqueceu-me do lado de fora do apartamento. Esperei que abrisse a porta, mas ela nem notou. Quando perceberam eu já estava longe. Passei a pior noite da minha vida, com fome, frio e quebrado depois de dormir em cima de uma árvore. Andei, andei e não reconheci o lugar onde estava. Fiquei diferente, sujo, machucado, magro, com olheiras e com meu pelo sem brilho.

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Até que um dia, por milagre, ouvi a voz da minha dona. O detalhe que me salvou foi a ponta do meu rabo que era quebrada. Que bom voltar para o meu lar! Quem mais ficou feliz com a minha volta foi meu amigo Platão. Eu tinha virado um gato doméstico, cada vez mais preguiçoso, gordo e dengoso. Gostava cada vez mais da companhia de Platão, entendia seus latidos e gestos.

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Meu amigão estava ficando velho tinha 14 anos de idade. Aos poucos foi ficando surdo, eu falava e ele não me ouvia. Começou a tropeçar nos móveis, estava ficando cego. Um dia sem eu esperar ele foi levado para o sítio. Disseram que lá ele estaria melhor. Mas e eu, ficaria sozinho? A solidão foi grande. Os dias eram compridos e chatos. Que falta meu amigo fazia!

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Passei a ter comportamentos esquisitos. Em vez de me lamber, passei a me coçar. Ao ouvir a campainha tocar, saia correndo e esperava que abrissem a porta. Percebi que andava com costumes de cachorro!

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Num belo dia, ocorreu um fato estranho. Vi a família correndo de um lado ao outro, estavam nervosos. Ouvi um choro. O que era aquilo? Não acreditei quando vi. Parecia um filhotinho de cachorro. Só entendi quando minha mãe adotiva falou: _ A mãe desta cachorrinha foi atropelada. Vamos cuidar e rezar para que ela sobreviva. Seu nome será Laila. Então, ganhei uma irmã.

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Minha irmãzinha sobreviveu e está muito bagunceira. Morde os pés dos móveis, puxa toalhas e faz xixi fora do jornal. Nós dormimos na almofada vermelha e cuido bem dela. Laila me ensinou a rolar. Cada dia que passa eu amo mais minha vida. Já até olho para minha família com olhar quase canino. Bom, estou cada vez mais bichorro, meio bichano, meio cachorro.