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ENCONTRO DE CFAE’S DA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO 20 Anos de Formação Contínua de Professores. Caminhos para o Futuro Relatório Crítico FORMADORES: Marta Alves, Vítor Costa, Joaquim Raminhos, Ana Martins, Élia Morais, Judite Frazão, Dalila Tching FORMANDA: Fernanda Maria Pires Ledesma Escola Secundária D. João II - Setúbal Abril de 2012

20 Anos de Formação Contínua de Professores

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20 Anos de Formação Contínua de Professores. Caminhos para o Futuro

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ENCONTRO DE CFAE’S DA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO

20 Anos de Formação Contínua de Professores.

Caminhos para o Futuro

Relatório Crítico

FORMADORES: Marta Alves, Vítor Costa, Joaquim Raminhos, Ana Martins, Élia Morais, Judite

Frazão, Dalila Tching

FORMANDA: Fernanda Maria Pires Ledesma

Escola Secundária D. João II - Setúbal

Abril de 2012

20 Anos de Formação Contínua de Professores. Caminhos para o Futuro

1. INTRODUÇÃO

O conceito de formação de professores enquadra-se num processo historicamente

contextualizado que visa o desenvolvimento de competências para responder a uma sociedade, a

uma comunidade e a uma escola em permanente atualização.

Na perspetiva de Pineau “formar-se, dar-se uma forma, é uma atividade mais fundamental, mais

ontológica, do que educar, ou seja, erguer-se ou alimentar-se. Formar-se, é reconhecer que não

existe à priori nenhuma forma acabada que seja dada do exterior. Essa forma, sempre inacabada,

depende de uma ação. A sua própria construção é uma atividade permanente. Não só o adulto,

não é um ser acabado, mas tem de lutar permanentemente, para integrar as diferentes

influências e para existir como unidade. Estes 'dar-se forma' permanentes abrem um horizonte

quase infinito de práticas pessoais e sociais profissionais e culturais, físicas e metafísicas. Mas ao

lado destas múltiplas formações formais emerge, cada vez mais, a importância da face escondida,

na sombra, do que os pedagogos chamam educação informal e não-formal”. De uma forma mais

profissional ou mais pessoal todas estas perspetivas foram abordadas no decorrer deste curso de

formação, quer nas sessões presenciais, quer nas participações online.

No momento de instabilidade que nos encontrámos, parece-me que é imprescindível refletir

sobre a formação contínua de professores, pois os momentos difíceis podem tornar-se boas

oportunidades para apostar na mudança. A formação tem sido uma das minhas áreas de atuação

e de investigação. No que se refere à minha área específica (informática) parar é ficar para trás. O

momento de realização ação, a meu ver, foi oportuno. A modalidade de b-learning(mista, com

sessões presenciais e a distância) não é nova no meu percurso profissional, pelo que não tive

dificuldades de adaptação.

2. REFLEXÃO COMO FORMANDO

Durante o seminário muitas foram as apresentações que me surpreenderam, me inquietaram e

me fizeram questionar, mas tendo em conta a dimensão do relatório é impossível falar um pouco

sobre todas elas. Pelo que saliento a apresentação do professor doutor João Formosinho que se

centrou na formação contínua ligada ao desenvolvimento organizacional. Uma ligação que

considero essencial, salientando a necessidade de articulação próxima entre a formação e o

contexto (escola), bem como o impacto da formação no contexto.

Ouvi com atenção a apresentação do estudo – Formação Contínua de Professores 1992-2007,

pela Drª Amélia Lopes, mas já o conhecia do congresso dos CFAE 2010 em Portimão. Embora,

tenha sido muito pertinente, já passaram 5 anos, espaço temporal no qual muitas situações

ocorreram na formação contínua de professores, tanto a nível central, como a nível de percurso

autónomo dos Centros de Formação pelo que seria importante atualizar estes dados.

Identifiquei-me com a apresentação do Prof. Dr. Luís Tinoca mais ligado às metodologias com as

tecnologias e por isso, muito próximo da minha área de intervenção e investigação.

Penso que o termo/conceito “paradigma” foi utilizado com demasiada ligeireza, por alguns dos

intervenientes. Pois, não se muda de paradigma de ontem, para hoje ou de um ano para o outro,

para que se possa afirmar/inferir que um paradigma mudou pode levar anos.

Uma perspetiva que foi abordada e que me agrada particularmente foi o trabalho colaborativo

entre pares, da qual falarei no ponto seguinte.

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3. REFLEXÃO COMO PROFESSOR

Certamente que qualquer professor na sua prática pedagógica já experimentou o que

vulgarmente se designa por “trabalho de grupo”. Nas últimas décadas a aprendizagem e o

trabalho colaborativo tem vindo progressivamente a ganhar espaço nos discursos e práticas da

organização escolar, com o objetivo de se passar de uma prática assente exclusivamente no

trabalho individual para outra em que se potenciam as diferentes formas de interação entre

alunos e entre professores. No entanto, é importante ressalvar que, de acordo com Roldão (2007,

p. 26), mesmo o trabalho colaborativo deve assumir tempos e modos de trabalho individuais de

forma a suportar o processo de construção individual e singular que sustenta o contributo de cada

indivíduo no trabalho colaborativo.

Então, podemos considerar, que no seu trabalho individual, na perspetiva de Canário (1991) “mais

do que reprodutor de práticas, o professor é um reinventor de práticas, reconfigurando-as de

acordo com as especificidades dos contextos e dos públicos”(p.16). Neste sentido, o professor é

um ator essencial na mudança, pois tem oportunidade de dirigir as suas práticas pedagógicas. A

acão do professor exerce-se, não só ao nível do desenvolvimento do currículo, mas também a sua

construção, pois, não deve ter um papel de simples consumidor do currículo, mas pode e deve ter

o papel de configurador do currículo elaborado ou reelaborado de acordo com as realidades onde

se vai desenvolver, tendo em conta o contexto, a escola, o grupo de alunos, a idade, as suas

características pessoais, o seu ritmo, as suas vivências e saberes e atitudes que o tornam único, o

espaço, a própria organização do espaço, os recursos disponíveis e o tempo de que o professor

dispõe. É este o papel que procuro ter diariamente na minha prática letiva, pois lociono com

paixão e tento encarar os problemas como um desafio a transformar em oportunidades.

Do outro lado da balança, temos então, o trabalho colaborativo, que complementa e enriquece o

trabalho individual. Quando um grupo de professores compartilha práticas comuns, são

independentes, tomam decisões em conjunto; identificam-se com algo maior que a soma de suas

relações individuais, e fazem um compromisso de longo prazo com o bem-estar (seu próprio, um

do outro, e do grupo).

Porém, a meu ver, o trabalho colaborativo numa escola, não deve ser cingir-se, apenas, em

grupos de professores da mesma escola, embora estes momentos sejam muitos importantes, a

perspetiva externa e a partilha com outros, diminui o risco de a organização se

centrar/acomodar/fechar muito em si mesma, perdendo aos poucos a capacidade de se

reinventar e transformar. Por isso, além, do trabalho colaborativo no interior de cada escola,

também é importante estabelecer redes entre escolas, instituições, com as estruturas do

Ministério da Educação e Ciência, famílias, especialistas e o meio envolvente, pois as escolas

deveriam ser Comunidades de Aprendizagem em Rede.

Apesar de alguns estudos sobre a formação contínua revelarem a fragilidade do reflexo da

formação externa na prática docente, importa pensar que a mesma tem de ser então incluída.

Para Carlos Marcelo (2008), “o desenvolvimento profissional adequa-se melhor à conceção do

professor enquanto profissional do ensino, o que pressupõe que o professor esteja em constante

formação, seja detentor de questões e de soluções, funcione como o principal agente de

mudança”. A mudança em função de uma Escola – e comunidade – só é verdadeiramente eficaz,

quando acontece na mentalidade das pessoas. Os professores são ou deveriam ser atores

privilegiados dessa mudança. Está também implícita a vontade e recetividade, do professor a

aprender como fazer melhor ou diferente. Mas como refere Benavente (1989) “para que uma

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pessoa mude, a sua vontade profunda tem de ser mobilizada: mudar “para quê?” Mudar tem de

ser gratificante e reconhecido. Mudar é um processo cheio de “idas e voltas”, de hesitações e

dúvidas, precisa de um apoio consequente, precisa de fundamentação e de informação que vá

“alimentando” o processo”. Dito de outro modo, ninguém pode mudar outra pessoa; o processo

de mudança individual tem de ser vivido por cada pessoa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Escola de hoje reflete o mundo multifacetado e complexo em que se integra, não é fácil

encontrar o modelo certo e definitivo de gestão que assegure em simultâneo ordem e liberdade,

autoridade e cooperação, exigência e tolerância, tradição e inovação, identidade histórica e

multiculturalidade, tutela do poder central e existência de autonomia.

O modelo de desenvolvimento profissional mais aceitável, porque não existe um ideal, será o que

coloca o que é geral e validado externamente em contacto com que é específico e contextual ou

seja o equilíbrio entre a formação mais geral e a formação contextualizada. O propósito

fundamental do desenvolvimento profissional deve ser a melhoria das escolas e dos sistemas

escolares, e não apenas a melhoria dos indivíduos que nela trabalham. Do mesmo modo, a

melhoria das escolas e os sistemas escolares tem que envolver o apoio ativo e colaboração dos

líderes e esse apoio deve ser manifestado nas decisões sobre o uso do tempo e do financiamento.

Terá de haver, naturalmente, um conjunto de leis definidas pelo Ministério da Educação e da

Ciência, que regulam o sistema e asseguram também apoio técnico, financiamento e avaliação.

Mas a reflexão e a experiência tornaram evidente que em muitos aspetos só os intervenientes

diretamente ligados a cada escola têm uma noção clara dos seus problemas, potencialidades e

recursos. Podem, portanto, se souberem, puderem e quiserem, como diria o professor Matias

Alves, melhor do que ninguém encontrar as soluções adequadas e desenvolver os projetos mais

promissores. Parece-nos, que o equilíbrio entre a regulação superior do Ministério da Educação e

a autonomia das escolas seria a situação ideal.

Para concluir, quero apenas fazer uma breve referência à metodologia blended-learning como

mais uma alternativa na formação contínua de professores e que foi utilizada nesta formação.

Para que se tire partido das vantagens inerentes a esta metodologia de formação e para

minimizar os constrangimentos que lhe são próprios é necessário proceder a uma planificação

cuidada, tendo em conta as teorias de aprendizagem que lhe são subjacentes. Assim, não

perdermos de vista o fio condutor do mesmo, embora possa ser necessário (no desenrolar da

ação) fazer alguns ajustes e adaptações. Este processo reúne pessoas, recursos, conhecimento e

tecnologias, para se construir um ambiente de formação, com um propósito definido. A

capacidade de colaborar com os outros, entre pares, com o mesmo fim em vista, é hoje um

requisito muito importante, para convivência em sociedade. O valor acrescentado por cada um

está na dimensão humana e intelectual dos desafios que o professor é chamado a fazer, para

envolver estas pequenas comunidades de aprendizagem num projeto colaborativo.

A metodologia b-learning deverá ser aplicada com ponderação, tendo em conta que não substitui,

nem dispensa, o diálogo e a proximidade entre formador e formando ou entre formandos, que

continuam a ser essenciais, no entanto, esta metodologia pode ser um reforço que promove a

automotivação e contribui para o sucesso da formação, permitindo desenvolver as atividades ao

seu próprio ritmo e gerindo o seu tempo. Não deverá ser vista como uma solução pobre, mas sim

desenvolvida com qualidade.

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Como é do conhecimento da maioria dos intervenientes neste processo, ao longo dos anos foram

acionadas várias soluções políticas para a formação adequada dos professores, mas as queixas

sobre a falta de competências dos professores em determinadas áreas e de confiança na

formação manteve-se e, portanto, a procura de soluções adequadas contínua.

Por fim, resta-me pedir desculpas pelo atraso e por não conseguir cumprir as duas páginas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alves, J. M. - Blogue http://terrear.blogspot.com/

Benavente, A. (1989). Mudança e Estratégias de Mudança. Notas sobre a Instituição Escolar. In:

Inovação.

Canário, R. (1991). A escola o lugar onde os professores aprendem. In atas do Congresso

Supervisão na Formação — contributos inovadores, pp 11-20.

Marcelo, C. (2009), Desenvolvimento Profissional Docente: passado e futuro, In: Revista de

Ciências da Educação, nº8,Jan/abril, em http://eahr.tamu.edu/articles/speakers,

consultado em Abril de 2012.

Roldão, M. (2007). Colaborar é preciso. Questão de qualidade e eficácia no trabalho dos

professores. Noesis, n. 71, Out./Dez. 2007, 24-29.