105

170452 o imensuravel amor de deus

Embed Size (px)

DESCRIPTION

É preciso nunca esquecer que EM TODOS OS SEGUNDOS BONS E RUINS O ANSEIO FURIOSO DE DEUS NOS BUSCA

Citation preview

OO IIMMEENNSSUURRÁÁVVEELL AAMMOORR DDEE DDEEUUSS

A compaixão divina em face do sofrimento humano

Floyd McClung, Jr.

Título original: The Father Heart of God 10ª Impressão

Editora Vida, 2005

Digitalizado por Alicinha Revisado por Alicinha

www.semeadoresdapalavra.net

Nossos e-books são disponibilizados gratuitamente, com a única finalidade de

oferecer leitura edificante a todos aqueles que não tem condições econômicas para comprar.

Se você é financeiramente privilegiado, então utilize nosso acervo apenas para avaliação, e, se gostar, abençoe autores, editoras e livrarias,

adquirindo os livros.

Semeadores da Palavra e-books evangélicos

Conteúdo

1 . O Coração Sofredor do Homem..............................................................7

2. Pai Perfeito .............................................................................................15

3. Quando o coração está ferido .................................................................26

4. Cura proveniente de um Pai amoroso.....................................................41

5. A Essência do Desapontamento .............................................................60

6. O Coração Partido de Deus ....................................................................72

7. O Pai que Espera ....................................................................................85

8. Pais no Senhor ........................................................................................94

Apêndice...................................................................................................105

Reconhec imento de Gra t i dão

Sou muito grato à ajuda e ao aconselhamento de muitos amigos que

me possibilitaram escrever esse livro.

Sou especialmente grato a Sally, minha esposa, pelo seu amor e estímulo, e a meus filhos Misha e Matthew, que foram pacientes comigo enquanto gastei muitas horas trabalhando em meu escritório, e a minha secretária Lura Garrido, pela datilografia e redatilografia do manuscrito.

Meus agradecimentos especiais também a Linda Patton e a Terry Tootle, que ajudaram Lura na datilografia, e a Tom Hallas, Roger Foster e Alv Magnus, pelas sugestões que nos apresentaram. Agradeço a Christine Alexander e a Ed Sherman ajuda nas pesquisas. Sou grato ao Dr. H. Wayne Light, que não somente é psicólogo de inusitada competência, mas também meu primo e amigo, pelas sugestões e ajuda no esboço das diretrizes do Apêndice.

Muitos amigos me animaram ao longo do caminho, quando eu duvidava do valor do livro ou da minha capacidade para concluí-lo. Sou especialmente grato a Henk Rothuizen, Jon Petersen, Arne Wilkening, Wilbert van Laake, John Goodfellow, Lynn Green, ao Dr. Phil Blakley e a John Kennedy, pelo precioso estímulo e aconselhamento no momento oportuno.

Também agradeço sinceramente o estímulo que recebi de Richard Herkes e o do pessoal da Kingsway, que refletiram a atitude própria do reino de Deus em todos os nossos relacionamentos.

Sou devedor também a Mike Saia e a John Dawson, e ao Ministério dos Últimos Dias por dar-me permissão para usar alguns trechos do folheto O Coração Paterno de Deus.

Acima de tudo sou agradecido ao Senhor, porque tudo o que é bom vem dele!

Um novo exame do Ca rá te r de Deus

Enquanto meus dois filhos, Misha e Matthew, e eu, estudávamos o quadro, sentíamos grande tristeza. Era uma tela grande pintada com traços rápidos, infantis. A figura alta, como que feita de paus, de cabeça quadrada, representada em cores escuras, transmitia uma sensação de frieza e severidade. O nariz em forma de bico e os longos braços salientes quase nos davam a impressão de um monstro.

O quadro era intitulado “Homem”, mas de acordo com um dos guias do Museu Stedelijk de Amsterdã, o título original da obra de Karel Appel era “Meu Pai”.

Discutimos o quadro durante longo tempo. Que tipo de relacionamento teve Karel Appel com seu pai? Mais importante ainda, de que modo esse relacionamento influenciou a imagem que ele tinha de Deus? Imaginávamos se ele acreditava em Deus, e se cresse, se ele o via como um pai amoroso.

Escrevi esse livro porque a maioria das pessoas não conhece a Deus como Pai amoroso. Não o vê como alguém a quem amar, e em quem confiar, alguém digno da sua lealdade e compromisso absolutos. Quer a pessoa seja crente, quer não, numa ou noutra época todo o mundo pensa seriamente na questão de quem é Deus e de como ele é.

Muitos anseiam conhecer a Deus pessoalmente, porém o imaginam como um Ser remoto, impessoal, que não pode ser conhecido. Outros anseiam um relacionamento com ele, mas apegam-se ao conceito errado de que ele está sentado no céu usando um terno preto, cofiando a longa barba branca, enquanto olha para baixo, procurando julgar alguém que se atreva a sorrir aos domingos.

Este livro foi escrito para prover um novo modo de examinarmos a Deus, e ajudar-nos a solucionar certas áreas da nossa vida que podem estar impedindo um relacionamento com ele como o nosso Pai. Exploraremos como as mágoas passadas podem colorir o nosso conceito de Deus, e como os nossos pais terrenos podem ter influenciado, de modo inconsciente, a nossa perspectiva do Pai celeste.

Creio que Deus nos criou para sermos parecidos com Ele, em escala menor, é claro! Ele nos criou a fim de que nos amemos uns aos outros, cuidemos da sua criação de forma responsável, e estejamos seguros e confiantes em quem somos. Mas o nosso egoísmo e as nossas mágoas emocionais nos retêm e impedem que sejamos as pessoas que nosso Pai pretendia que fôssemos.

O fato de Deus ter cuidado de nós e nos oferecer libertação do egoísmo, e cura para os males é o que motivou minha esposa e nossa família a ir morar na zona de meretrício de Amsterdã e ali compartilhar do amor de Deus. Foi essa a razão de termos morado três anos no Afeganistão. Foi lá que conhecemos a Steve, que tinha uma história singular para contar.

1 . O Coração Sofredor do Homem

Ele dizia chamar-se Steve, mas eu tinha a impressão de que esse não era o seu nome verdadeiro. Suas calças “jeans” eram desbotadas e gastas, não porque as comprara assim nalguma loja européia, no “grito da moda”, mas por causa do constante desgaste na “trilha hippie”. Tinha viajado por terra de Amsterdã, com um amigo, no “ônibus mágico”, uma linha rodoviária barata mas às vezes perigosa, e haviam chegado recentemente a Cabul, capital do Afeganistão.

Minha esposa e eu, juntamente com alguns destemidos amigos, morávamos em Cabul e dirigíamos uma clínica grátis para os desistentes da sociedade ocidental que vagueavam pelo centro da Ásia à procura de aventuras, drogas e escape dos modos de vida que vieram a abominar. Muitos haviam sido empurrados para a margem da sociedade pela rejeição e por um profundo sentimento de alienação. Nada em seu ambiente lhes provia um senso de identificação ou de participação. Steve não era exceção.

Nas semanas que se seguiram ele nos visitou ocasionalmente na clínica. Um dia ele me perguntou se eu queria ouvir algo sobre o dia mais feliz da sua vida. Era a primeira vez que ele voluntariamente se oferecia para falar acerca de si mesmo, de modo que eu estava ansioso por ouvir.

— Vou contar-lhe o dia mais feliz de minha vida — disse-me ele, com um estranho sorriso. A dor reprimida e a hostilidade entraram em erupção, numa torrente de fúria vulcânica.

— Foi o dia em que fiz 11 anos. Nesse mesmo dia meus pais morreram num acidente de carro!

A voz dele fervia de amargura.

— Eles me disseram todos os dias da minha vida que me odiavam e que não me queriam. Meu pai não me tolerava e a minha mãe me lembrava constantemente que eu tinha sido um acidente. Eles não me queriam e estou contente de estarem mortos!

Nas semanas seguintes continuei tentando ajudar a Steve, mas perdi-lo de vista logo depois. Sua dor e ódio, entretanto, permanecem gravados vividamente na minha memória.

O que Sally e eu descobrimos no Afeganistão nos princípios dos anos setentas não foram apenas alguns pobres ocidentais feridos que fugiam dos seus problemas, mas toda uma subcultura de pessoas sofredoras. Nos últimos dez anos investimos nossas vidas na ajuda a pessoas emocionalmente feridas e descobrimos que nenhum nível da sociedade é imune à dor dos relacionamentos partidos.

Certo jovem de classe social elevada que veio a nós pedindo aconselhamento, descreveu como o seu pai o obrigou a olhar enquanto batia na sua mãe e depois a apunhalava. Uma jovem mulher narrou-nos as humilhações que sofreu às mãos do pai, dos irmãos e do avô, que a violentaram. Outro jovem confidenciou-nos que seus pais o deram a seus avós simplesmente porque não o desejavam. Seus avós por sua vez, o colocaram num orfanato quando ele tinha cinco anos. Ali o diretor o espancava todos os domingos se ele se recusasse a ir à igreja. Anos mais tarde ele entregou a vida a Cristo por mediação do nosso trabalho no Afeganistão, e então voltou para casa a fim de expressar o seu amor e perdão aos pais, com um presente. Quando a mãe o viu, gritou enraivecida e não lhe permitiu entrar em casa. Um jovem e simpático marido chorava ao confidenciar-nos que não se lembrava mais de ter ouvido as palavras “Eu te amo” da parte do pai, que era advogado.

Nosso mundo está infestado por uma epidemia de dor. Com o índice de divórcio aumentado e o abuso contra as crianças berrando nas manchetes nacionais, não e de surpreender que para muitos o conceito de Deus Pai provoca reações de ira, ressentimento e rejeição. Visto não terem conhecido um pai humano bondoso e atencioso, possuem uma visão distorcida do amor do Pai celeste. Em muitos casos esses indivíduos sofredores escolheram simplesmente negar ou desprezar a existência de Deus.

John Smith, um amigo meu de Melbourne, Austrália, fala a respeito de um adolescente endurecido, criado na rua, que lhe deu uma única oportunidade de apresentar-lhe Deus.

— Está bem camarada — disse ele — como é Deus?

Recém-formado em teologia, John não titubeou:

— Ele é como um pai.

Os olhos do jovem fuzilaram de ódio.

— Se ele parece com o meu velho, fique com ele pra você!

Mais tarde, John soube através de um assistente social que o pai do menino havia violentado a própria filha várias vezes e batido na esposa com freqüência.

Feridas Emocionais

Uma experiência negativa na infância não é o único fator que nos frustra a compreensão de Deus como Pai. Muitos experimentam um bloqueio emocional ou mental quando tentam chamar Deus de “pai”, pois não o conhecem pessoalmente. Há diferença entre saber a respeito de Deus e conhecê-lo pessoalmente. Lemos em João 1:12: “Contudo aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filho de Deus”. Para que nos tornemos filhos de Deus, devemos crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus, que morreu e ressurgiu para que nossos pecados pudessem ser perdoados. Precisamos, em seguida, pedir-lhe que nos perdoe e se torne o Senhor de nossa vida. Então, como filhos, dedicar a vida ao aprendizado, à obediência a Palavra de Deus e à adoração a ele somente.

Outras pessoas têm dificuldade de relacionar-se com Deus como Pai porque durante a vida toda foram ensinadas a respeitá-lo. Para elas isso significa chamá-lo de Senhor. Usar um termo informal como “Pai”, parece-lhes falta de reverência. Entretanto, a Bíblia nos ensina a chamar Deus de “Pai” quando oramos (Mt 6.9) e nos diz que Ele deseja ter um relacionamento íntimo e pessoal conosco, seus filhos.

Algumas de nossas dificuldades mais comuns para compreender o imensurável amor de Deus são as feridas emocionais. Muitas vezes, essas feridas produzem cicatrizes que nos fazem hesitar em confiar inteiramente nele como Pai.

A Bíblia oferece muitos exemplos de ferimento emocional e refere-se a isso como “espírito oprimido”, ferido ou abatido. Diz o livro de Provérbios “A alegria do coração transparece no rosto, mas o coração angustiado oprime o espírito” (15.13); e “O espírito do homem o susterá na doença, mas o espírito deprimido, quem o levantará? (18.14)

A história de Mical, filha de Saul, demonstra claramente a dor de um espírito ferido ou abatido. Mical foi educada em um ambiente carregado de

desavença e conflito. Seu pai, homem impaciente e inseguro, com freqüência explodia em acessos de ira. Não há duvidas de que ela fora profundamente influenciada pela ira paterna.

Saul tinha ciúme do futuro rei Davi e isso o levou a planejar uma armadilha para matá-lo. Como isca, Saul lhe ofereceu uma de suas filhas como prêmio, caso ele matasse cem filisteus, inimigos de Israel. “Certamente”, pensou Saul, “Davi será morto pelos filisteus e ficarei livre dele para sempre!”

Para grande desgosto de Saul, Davi foi bem-sucedido. Na verdade, matou duzentos filisteus! Saul concedeu a mão da filha Mical como prêmio, mas Davi logo fugiu de outro dos ataques de raiva de Saul, deixando-a para trás. Anos depois ele retornou e encontrou Mical casada com outro homem. Contra a vontade dela e do novo marido, Davi exigiu sua volta. Por fim, ela foi arrancada dos braços de seu choroso marido e devolvida à força a Davi (2Sm 3.13-16).

Pelo visto, os homens da vida de Mical a moveram entre si como se ela fosse uma peça no tabuleiro de xadrez. Em razão da sua criação, é compreensível que tenha reagido a Davi com tanta amargura. O ressentimento dela explodiu no auge de uma festa de celebração de vitória.

E sucedeu que, entrando a arca do SENHOR na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi, que ia bailando e saltando diante do SENHOR, o desprezou no seu coração. E, voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, a filha de Saul, saiu ao seu encontro e lhe disse: “Como o rei de Israel se destacou hoje, tirando o manto na frente das escravas de seus servos, como um homem vulgar!” E até o dia de sua morte, Mical, filha de Saul, jamais teve filhos. (2Sm 6.16, 20, 23)

A reação de Mical resultava de uma ferida emocional que se transformara em ódio. O remédio que poderia trazer-lhe a cura era o perdão, mas ela preferiu não concedê-lo. A esterilidade espiritual e física a atormentou pelo resto da vida.

Semelhantes a Mical, nos dias de hoje há muitas jovens e mulheres que sofrem diferentes graus de dor, todavia não precisam acabar como a

filha de Saul. Por causa do seu coração paterno, Deus anseia por renovar-nos e restaurar-nos mediante o poder curador do seu amor.

O coração de Deus

Trata-se da parte mais interna ou mais essencial da pessoa: seu coração. O coração paterno de Deus descreve o elemento fundamental que caracteriza o que Ele é. Jesus descreve Deus nas Escrituras como o Pai misericordioso, perdoador, bondoso e amoroso. Jesus demonstrou mediante a sua vida a própria natureza do Pai celeste.

— Como é Deus, papai?

Lembro-me de certa noite, muitos anos atrás, em que lutei para encontrar uma resposta para a pergunta de Misha, minha filha, então com 5 anos de idade.

Enquanto considerava cuidadosamente a questão, percebi que em sua simplicidade Misha fizera uma pergunta cuja resposta muitas pessoas gostariam de obter. Talvez os adultos a formulem de maneira diferente, mas a pergunta básica permanece a mesma: "Se há um Deus, como ele é?".

A Bíblia diz que Deus não é um ser finito como nós, todavia deu-se a conhecer a nós de maneira tão clara, tão compreensível, que podemos saber como ele é. "Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido" (Jo1.18; grifo do autor).

Eu disse à minha filha como é Deus. Disse-lhe que ele se parece com Jesus. De fato, certa vez Jesus disse: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14.9). Jesus é Deus em forma humana. Na Bíblia encontramos muitos exemplos de como Jesus revelou o Pai para nós. Um desses exemplos refere-se à passagem em que algumas mães desejavam que Jesus abençoasse os filhos, mas os discípulos acharam que ele estava ocupado demais, era importante demais para ser perturbado. Jesus, porém, repreendeu os discípulos e lhes disse que trouxessem a ele as crianças. Ele tomou os pequeninos nos braços e conversou com eles. Jesus arranjou tempo para as crianças, teve tempo para ouvir as histórias e brincadeiras delas. Nem se importou de sujar-se quando as crianças, de nariz escorrendo e tudo mais, sentaram no seu colo. Quando vemos que Jesus teve tempo para as

criancinhas, aprendemos que Deus tem tempo para as pessoas. Ele se importa até com as pequenas coisas da vida. É paciente. Deus-Pai se parece com seu Filho.

Certa tarde Jesus parou para falar com uma mulher samaritana, perto de um poço. Naquela época o povo judeu odiava e desprezava os samaritanos. As mulheres eram consideradas pessoas de segunda categoria e incapazes de compreender verdades espirituais.

Jesus elevou essa mulher a uma posição de igualdade e valor pelo simples fato de ter rompido um costume social e falado com ela publicamente. Ao fazê-lo, revelou algo mais de como é Deus. Ao discutir as necessidades espirituais diretamente com a própria mulher, Jesus comprovou o seu interesse pessoal por ela e ainda demonstrou que Deus-Pai se importa com os homens e com as mulheres de forma igual.

Essa mulher não apenas era samaritana, mas também imoral. Jesus sabia disso, mas não se sentiu constrangido, tampouco envergonhado, em ser visto com ela. Na verdade, ele queria conversar com a mulher. Foi por esta razão que ele viajou através de Samaria: arranjar tempo para demonstrar amor verdadeiro a essa mulher, conhecida por seus casos amorosos. Jesus viu além da dureza exterior, das anedotas imorais, do sarcasmo a respeito da religião. Viu o coração dela. Viu que ela ansiava por algo que preenchesse o vazio interior. Sentiu a necessidade dela de ser amada, de ser protegida, de ser alguém especial.

Por sua vez, a mulher recebeu o amor de Cristo porque Ele a ajudou a “ver” a Deus de um modo como nunca vira antes. Jesus veio por isto: para revelar-nos Deus e levar-nos a Ele.

Guia de estudo

(Capítulo 1 - O Coração Sofredor do Homem)

Leia João 1 e 2

1. Escreva seu conceito pessoal da paternidade de Deus. Como ele é para você?

Seja o mais honesto e específico que puder. 2. Você tem uma relação íntima/pessoal com ele? 3. Quais são seus sentimentos para com seu pai terreno? 4. Você tem uma relação íntima/pessoal com ele? 5. Você confia em seu pai terreno? Se a resposta for negativa, pode explicar

por que e identificar as áreas de desconfiança? Liste-as.

6. Você confia em Deus Pai? Se a resposta for negativa, pode explicar por que e identificar as áreas de desconfiança? Liste-as

7. Faça uma lista de quantas referências das Escrituras puder encontrar nas

quais Jesus descreve o coração do Pai. 8. Leia João 14.8-11. O que você sente com o que o Senhor está lhe dizendo? 9. Feridas emocionais não curadas = espírito ferido/enfraquecido =

amargura/ódio. Você já se sentiu rejeitado ou marginalizado por família, amigos, colegas de trabalho ou pela igreja? Se a resposta for positiva, descreva o(s) incidente(s).

10. Você acha que está vivendo no momento um grau de sofrimento por

causa da rejeição/alienação? Se a resposta for positiva, responda como isso o afeta hoje.

11. A única cura para essa condição é .............................................. Você está

disposto a ser conduzido pelo amor do Pai no caminho do perdão e, desse modo, ser curado de suas feridas emocionais?

2. Pai Perfeito

Já me perguntei muitas vezes por que Deus determinou que entrássemos neste mundo como bebês indefesos. Ele poderia ter criado um sistema reprodutivo que produzisse pessoas fisicamente completas, como Adão e Eva. Em vez disso, optou por criar-nos como seres em formação, pessoas que cresceriam devagar, tanto física quanto emocional e mentalmente, e com o tempo se tornariam adultos.

Acredito que Deus planejou nosso início de vida como bebês totalmente dependentes e vulneráveis porque pretendia que a família fosse o ambiente em que o seu amor seria modelado, para que as crianças crescessem sentindo-se compreendidas, amadas e aceitas. Nutrida nesse ambiente de amor e segurança, a criança poderia desenvolver uma auto-estima sadia, baseada em Deus, e ver a si mesma como um ser desejado, importante, valioso e bom.

Infelizmente, muitos lares não atingem esse ideal. Inúmeras pessoas sofrem mágoas e rejeição da família e não têm uma genuína figura paterna com quem se identificar. Tais experiências as impedem de conhecer a Deus como ele realmente é, negando-lhes a alegria de desfrutar intimidade verdadeira com ele.

Relaciono, a seguir, sete diferentes áreas de conceitos errados a respeito de Deus que, com freqüência, têm origem na infância. Por estima à clareza, farei referência quase que exclusivamente às qualidades paternais divinas.

Autoridade

Quando o cachorro da família vem recebê-lo no momento em que você chega à casa de um amigo, é possível às vezes discernir o modo pelo qual o animal é tratado. O cão comum ou foge tremendo de medo ou cobre você com uma demonstração indesejável de afeição expressa com a língua, a cauda e as patas sujas! O animal amedrontado, que não pode ser persuadido a confiar em você, provavelmente tem sido maltratado. O exuberante cãozinho que o surpreende com uma lambida no rosto provavelmente veio de um lar amoroso. Com freqüência, nós nos aproximamos do nosso Deus de

maneira semelhante. As experiências passadas intensificam nossas reações, quando ele tenta chegar até nós. O que gera desconfiança na área de autoridade?

A porta do quarto se abre com um estrondo. No meio da noite, certo garotinho é acordado aos tapas por um bêbado enraivecido. Aterrorizada, a criança grita enquanto o vulto escuro e gigantesco de um homem a quem chama de "papai" bate nela sem piedade.

Uma prostituta de 15 anos de idade fixa o olhar no vazio enquanto mecanicamente suporta mais uma noite de degradação. Pouco se importa com o que lhe acontece. Ela não se sente limpa desde a noite em que foi molestada pelo próprio pai.

Nós, a exemplo do cãozinho amedrontado, às vezes fugimos da autoridade do nosso Pai celeste porque imaginamos que será como as outras figuras de autoridade em nossa vida. Não será. Ele é perfeito amor. É ele quem ordena: "Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor" (Ef 6.4).

Confiança

Na infância pode ser que você não tivesse como saber o que é ter pai, seja por causa de morte, seja em razão de um divórcio. Talvez tenha sido relegado à "orfandade" pelas exigências das carreiras dos pais. Agora, como filho de Deus, para você é difícil não duvidar da fidelidade dele. Não consegue apagar as recordações infantis de promessas desfeitas e do abandono. Talvez você só raramente sinta a presença de Deus e fique inclinado a aproximar-se dele com cinismo e desconfiança.

Entretanto, seu Pai celeste estava presente quando você dava os primeiros passos como criança. Ele presenciou as mágoas e desapontamentos de sua adolescência e, neste instante, está presente com você. Por breve tempo você foi emprestado a pais humanos que durante alguns anos deveriam ter-lhe dado amor semelhante ao amor de Deus. A intenção divina era que o cuidado e a segurança de um bom lar o preparassem para o amor dele. Se a família falhou no desempenho dessa responsabilidade, você precisa reconhecer esse fato, perdoar-lhe e prosseguir a fim de receber o amor de Deus. Ele o aguarda agora mesmo com braços estendidos.

Deus é o único Pai que jamais falhará conosco. Como diz 2 Timóteo 2.13: "Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo".

Valores

Anos atrás um amigo meu, enquanto visitava uma aldeia de nativos do sul do Pacífico, passou algum tempo observando as crianças brincar. Mais tarde, ele me disse que essas crianças raramente ouviam palavras como: "Não toque nisso!", "Deixe isso aí!" ou "Tenha cuidado!". Os lares eram simples, consistindo em chão de terra batida, teto de colmo (uma palha comprida) e paredes de esteiras. Em comparação, nossos lares modernos estão cheios de bugigangas caras, frágeis, e de aparelhos que representam campos minados de rejeição potencial a pequenos curiosos. Quantas mães não explodiram de raiva diante de uma criança que despedaçou um vaso ou um bibelô! As crianças ouvem constantemente palavras sobre a importância e o valor das coisas. No entanto, muito poucas vezes ouvem um simples: — Eu te amo!

Uma espécie de slogan, ou bordão repetitivo e destrutivo, vai cavando seu caminho no subconsciente das crianças: "As coisas são mais importantes do que eu. As coisas são mais importantes do que eu!'. Não estou sugerindo que abandonemos nossos lares, mas que precisamos perceber a possibilidade de nossa noção da generosidade de Deus ter sido violentada por nossas experiências na infância. Podemos ser forçados a alterar radicalmente as prioridades de modo que possamos comunicar o amor de Deus aos nossos filhos.

Os valores de Deus diferem significativamente dos nossos. A criação exibe extravagância de cores e complexidade de formas que transcendem o simples valor funcional. Uma pequena flor branca, beijada pela luz do sol alpino da Itália, tem significado para Deus, ainda que jamais tenha sido vista pelo olho humano. A mesma flor pode não ter valor econômico; apesar disso, foi criada por Deus na esperança de que um dia um de seus filhos pudesse olhá-la e receber a bênção dessa beleza.

A maior demonstração de amor do coração paterno de Deus revela-se na sua atenção aos detalhes de nossa vida. Ele anseia por nos surpreender com os "extras", aqueles pequenos prazeres e tesouros que somente um pai saberia que desejamos. Deus não é avarento, possessivo,

nem materialista. Somos nós que, com freqüência, usamos as pessoas como se fossem objetos; ele usa os objetos para abençoar as pessoas. Deus manifesta a sua generosidade mediante dádivas mais importantes do que meras coisas materiais. Graciosamente, ele nos dá o que não pode ser tocado nem tem preço: o perdão, a misericórdia e o amor.

Afeição

Quando meu filhinho chega do quintal coberto de lama, eu o apanho e o lavo com a mangueira do jardim. Rejeito a lama, não rejeito o meu filho. Sim, nós pecamos. Realmente, quebramos o coração de Deus. Contudo, ainda somos o centro da atenção e do afeto divinos — a menina-dos-olhos de Deus. É ele quem nos procura para conceder-nos perdão e amor. Nós dizemos: "Encontrei o Senhor", mas na verdade foi ele que, depois de intensa busca, nos encontrou primeiro.

Muitas crianças, principalmente os meninos, recebem pouquíssimo afeto físico da parte dos pais e, quando sofrem, não lhes é demonstrada nenhuma compaixão verdadeira. Por conta do falso conceito de masculinidade em nossa sociedade, é comum os meninos ouvirem: "Não chore, filho; homem não chora". Entretanto, o amor de Deus cura os ferimentos de meninos e meninas da mesma maneira. Sendo nosso Pai, Deus sente nossa dor muito mais profundamente do que nós mesmos, pois a sensibilidade dele ao sofrimento é muito maior do que a nossa.

A maioria das pessoas tenta esquecer os momentos mais dolorosos da vida, mas Deus não. Ele se lembra de tudo, e muito bem. Deus estava lá quando você sofreu aquele vexame cruel no pátio da escola, ao ser perseguido pelos colegas, chegando mesmo a fugir para casa sozinho, evitando o olhar dos outros garotos. Deus estava lá naquela aula de matemática em que você se sentiu confuso e infeliz. Quando você se perdeu com 4 anos de idade e perambulou aterrorizado pela multidão, foi ele quem moveu o coração daquela bondosa senhora que o ajudou a encontrar sua mãe. "Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los" (Os 11.4).

Às vezes não entendemos como Deus pode ser verdadeiramente um Pai amoroso. Os pais podem exibir orgulhosos suas fotos no álbum, mas como se compara isso com a capacidade infinita de Deus de experimentar tanta

satisfação e prazer que extravasam com todos os seus sucessos? Deus o ouviu pronunciar sua primeira palavra. Ele observava você com gosto enquanto gastava horas sozinho explorando novas texturas com as mãozinhas de bebê. Deus considera um tesouro as recordações de suas risadas infantis. Nunca houve outra criança como você e jamais haverá.

Moisés certa vez invocou uma bênção sobre cada tribo de Israel. A uma delas ele disse: "Que o amado do SENHOR descanse nele em segurança, pois ele o protege o tempo inteiro, e aquele a quem o SENHOR ama descansa nos seus braços" (Dt 33.12). É aí que você habita também. Seja lá o que se tomará aos olhos dos homens — pessoa de grande autoridade, fama ou renome — , você jamais deixará de ser nada mais, nada menos do que uma criança nos braços de Deus.

Presença

Há um atributo de Deus que nem mesmo o melhor pai pode esperar imitar — a capacidade divina de estar conosco o tempo todo. Os pais humanos simplesmente não podem dar aos filhos toda a atenção 24 horas por dia. No entanto, Deus é diferente. Ele não apenas está com você o tempo todo, mas também lhe dá atenção de forma individual: "Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês" (1Pe 5.7).

Não raro seus pais se preocupavam com as próprias atividades e, com isso, não podiam interessar-se pelos acontecimentos de menor importância que diziam respeito a você. Deus, todavia, não é assim. É um Deus minucioso. A Bíblia diz que ele até enumerou os fios de cabelo de sua cabeça. Por quê? Não é porque esteja interessado em matemática abstrata; esse comentário bíblico simplesmente ilustra um quadro de como ele sabe muitíssimo bem todas as coisas, bem como quão cuidadoso é a respeito de nossa vida.

Certo garotinho passou a tarde inteira martelando pregos em alguns restos de madeira. Enfim, saiu da garagem e mostrou à mãe um navio de guerra de três andares. Não via a hora de o pai chegar a casa. Papai estava atrasado. Então, às 18h30 um homem cansado e preocupado chegou. Um jantar frio o aguardava. Havia consertos a serem feitos. O menino entusiasmado, cheio de orgulho, tentou mostrar sua obra-prima para um pai

que mal conseguia tirar os olhos da calculadora. Papai não olhou, mas Deus olhou. Deus sempre olha, sempre tem prazer no trabalho das mãos dos meninos.

Deus é, e sempre será nosso Pai verdadeiro. Procure não se ressentir das falhas dos pais terrenos, pois eles não passam de crianças que cresceram e vieram a ter crianças também. Em vez disso, deleite-se no maravilhoso amor do seu Deus e Pai.

Aceitação

Vivemos em uma sociedade voltada para o desempenho. Muitos pais passam aos filhos a mensagem do tipo: se você conseguir entrar para o time de futebol da escola, se você trouxer para casa boletins com boas notas, se você tiver boa aparência, então sim, você será aceito e "amado". Nosso Deus, porém, nos ama com amor incondicional. Nosso Pai celestial nos ama porque é amor. Embora não precisemos fazer nada para convencê-lo a nos amar, devemos receber seu amor. Isso não significa que, antes de qualquer coisa, tenhamos de nos tornar santos. O que Deus nos somente é que nos aproximemos dele com honestidade e sinceridade;i então, ele nos perdoará e nos transformará nos filhos que ele deseja.

Muitas pessoas julgam difícil aceitar o amor e a aprovação de.Deus. Um verdadeiro relacionamento de amor exige, contudo, o ato de dar e receber amor. Imagine como eu me sentiria se, em um impulso repentino, decidisse comprar flores para a minha esposa, mas quando as entregasse a ela, e lhe dissesse: "Eu te amo, Sally", ela corresse para pegar dinheiro a fim de me reembolsar pelas flores! Certamente eu ficaria magoado e desapontado. Tudo o que desejo saber é se ela sente a mesma coisa por mim.

Qual é sua resposta a Deus quando ele lhe diz que o ama, apesar de tudo? Será que você consegue receber o amor de Deus sem começar uma atividade frenética para merecer a aprovação dele?

Um dos mais lindos quadros que retratam a satisfação plena é o do bebê adormecido nos braços da mãe, depois de ter sido amamentado no seio materno. A criancinha já não chora nem reclama, apenas descansa no abraço amoroso. Um profundo sentimento de paz permeia a melodia da

canção de ninar que as mães entoam em ocasiões assim. Na Bíblia, o profeta Sofonias descreve emoção semelhante, existente no coração de Deus com relação a nós:

O SENHOR, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você; com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria (3.17).

Deus-Pai o ama exatamente como você é. Durante toda a vida você tem sido obrigado a mostrar resultados e a competir. Mesmo quando não passava de um bebê, você já era comparado com outras criancinhas. As pessoas diziam que você era "muito gordinho" ou "muito magrinho", tinha "as perninhas de fulano" ou "o narizinho de beltrano". Entretanto, Deus se deliciava com o fato de você ser a pessoa sem igual que é, e ele ainda se delicia.

Comunicação

Uma tarefa difícil é a comunicação aberta e amorosa, sobretudo para os pais. No entanto, Deus comunica o seu amor por nós de maneira claríssima. Na verdade, ele nos ama tanto que "deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterná' (Jo 3.16).

Certa jovem me disse que não conseguia falar com Deus. Parecia-lhe que as palavras batiam em muralha de pedra. Não se lembrava de uma única vez em que Deus houvesse respondido a uma oração dela. Enquanto orávamos juntos, percebeu que costumava retratar a Deus como se ele fosse seu pai terreno, um homem bom e honesto, mas quieto e tímido. Ele jamais dissera aos filhos que os amava e raramente conversava com eles. Ao admitir que o pai havia sido fraco e falhara ao educá-la, a moça foi capaz de perdoá-lo e, enfim, de aceitá-lo como ele era. Esse reconhecimento deu início a uma dimensão inteiramente nova no relacionamento dela com Deus. Ela dispunha de mais fé ao orar porque entendeu que Ele a ouvia. Logo veio a sentir a orientação divina, a presença de Deus em sua vida.

Se você acredita ter sido prejudicado em seu relacionamento com Deus por causa de uma carência, quer em uma área do amor paterno, quer materno, diga ao Senhor como você se sente e peça-lhe ajuda. Você precisa

decidir por si mesmo que vai perdoar a quem o magoou, seja lá quem for. Se não perdoar, a amargura vai consumi-lo, e você não vai encontrar paz com Deus.

Do mesmo modo, entenda que você não está sozinho. Jamais encontrei uma pessoa perfeita... nem um pai nem mãe que nunca tivessem cometido erros. Todos já sofreram um tipo ou outro de mágoa. O importante é que você comece a conhecer a Deus pelo que ele realmente é — e o conceito que temos dele com freqüência é bem diferente da realidade.

Somente Deus é o Pai perfeito. Ele sempre disciplina em amor. É fiel, generoso, bondoso e justo, e almeja passar bastante tempo com você. Seu Pai celeste quer que você receba o seu amor e saiba que você é especial e singular aos olhos dele.

Guia de estudo

(Capítulo 2 - Um Pai Perfeito)

Leia João 3 e 4

1. Descreva o ambiente familiar durante a sua infância. Havia paz, alegria,

estabilidade, segurança — ou conflito, depressão etc? 2. Você se sente amado e aceito? Querido? Valorizado? Especial? 3. Você está ciente de que Deus Pai criou as famílias a fim de que ele fosse

glorificado por meio do fruto produzido em seu ambiente de amor e segurança? Ele foi glorificado em sua família? Explique.

4. Faça uma lista das autoridades masculinas em sua vida e como você se

sentia ou se sente em relação a essas pessoas? 5. Você confiava ou confia nesses homens?

6. Você sentia ou sente que é importante para esses homens? 7. Você recebia ou recebe demonstrações de afeto por parte desses homens? 8. Faça uma lista de alguns dos momentos mais dolorosos de sua vida. Junto

a esses momentos, escreva o nome da autoridade masculina que lhe demonstrou amor e compaixão quando você se feriu.

9. Onde estava Deus durante as horas de dor em sua vida? 10. Faça uma lista das pessoas (homens ou mulheres) que o amaram

incondicionalmente. 11. Você é capaz de receber amor incondicional do criador do amor —

Deus-Pai? 12. Você sente que foi magoado em uma das sete áreas do amor paterno?

13. Se não tem certeza, pergunte a alguém próximo a você. 14. Você está disposto a perdoar quem quer que o tenha magoado? Seja

honesto.

3. Quando o coração está ferido

Tímida, ela era um pouco mais alta do que a maioria das adolescentes. Cansado, a última coisa que eu desejava era conversar com uma jovem introvertida. Tinha acabado de encerrar uma palestra para um grupo numeroso de ouvintes, na África do Sul, acerca do coração paterno de Deus, por isso precisava desesperadamente de um pouco de descanso. No entanto, senti que devia ouvir com a máxima atenção o que a mocinha estava prestes a me dizer.

A princípio as perguntas dela pareceram insignificantes, mas comecei a imaginar que a jovem desejava na verdade me contar algo mais. Esperei. Quando ela acabou, perguntei-lhe se não havia outra coisa que quisesse compartilhar. Ela pareceu aliviada. Então, sentou-se do meu lado naquele auditório pequeno e abarrotado de gente e sussurrou ao meu ouvido:

— Posso chorar um pouco no seu ombro?

Eu disse:

— Claro, mas será que você poderia me dizer por quê?

Os olhos da moça encheram-se de lágrimas à medida que a história ia-se desenrolando. O pai morrera quando ela era bem pequena. Desde então não tivera um ombro sobre o qual chorar, um pai a quem levar suas perguntas, desapontamentos, realizações e planos. Uma dor profunda lhe dilacerava o coração por sentir falta dos braços fortes e amorosos que por algum tempo a haviam amparado e confortado.

A adolescente chorou em meu ombro, sem demonstrar timidez ou vexame. Depois disso, conversamos com o Pai celeste. Juntos pedimos a ele que curasse a mágoa e preenchesse o espaço vazio da vida dela.

E Deus nos ouviu. Encontrei-me com essa jovem alguns anos depois, quando retornei à África do Sul. De início não a reconheci, mas então ela me lembrou do tempo de oração que tivemos. Isso reavivou minha memória, e os fatos esquecidos voltaram tal qual uma inundação. Ela me agradeceu os momentos em que compartilhamos, dizendo-me que fizeram toda a diferença. Naqueles breves instantes que passamos juntos, a jovem experimentou o imensurável amor de Deus.

Essa moça sofrera um ferimento emocional profundo, que a mantinha incapaz de desfrutar um relacionamento com o Pai celeste. Este mundo está repleto de pessoas que carregam dores e mágoas como essas, invisíveis, muitas das quais procedentes da infância, e outras impostas pela pressão e por problemas da vida moderna. Deus, nosso Pai, deseja curar essas feridas para assegurar uma comunhão profunda, agradável e genuína com os seus filhos.

A Bíblia nos fala de modo especial da necessidade de curarmos as emoções feridas, mostrando essa cura como parte do processo de santificação. No livro de Isaías, o profeta nos aponta a época futura em que Deus enviará um Salvador que liberte as pessoas do pecado e do egoísmo. Isaías descreve esse Salvador como "homem de dores e experimentado no sofrimento" (53.3). Esse texto do Antigo Testamento prossegue dizendo que "ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças... e pelas suas feridas fomos curados" (v. 4,5).

Esse processo de cura se aplica tanto à culpa de nosso egoísmo quanto às suas conseqüências — as cicatrizes e ferimentos que ostentamos na personalidade e nas emoções. No capítulo 61, Isaías diz que esse Salvador virá "para levar boas notícias aos pobres... para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros" (v. 1). E dar a todos que choram "o óleo da alegria' (v. 3). Em Salmos 34.18, Davi diz que "o SENHOR está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido". Em Salmos 147.3 ele diz que Deus "cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas". Isso são boas-novas para um mundo ferido.

A despeito de tudo o que o Senhor nos oferece, muitos ainda o vêem como um Deus sentado no céu, alheio à dor e à dura realidade deste mundo decaído. "Por que ele nos criou e em seguida nos abandonou?", perguntam, com amargura.

Deus, entretanto, não é a causa de nossos problemas, tampouco nos abandonou em nosso sofrimento. Ele veio morar conosco. Tornou-se homem. Suportou tudo o que sofremos, e mais ainda.

Deus criou o ser humano, mas este o rejeitou. Enviou mensageiros e profetas para lembrar aos homens que ele é o Criador, mas eles apedrejaram os profetas e mataram os mensageiros. Então, finalmente Deus enviou o seu

próprio Filho para revelar a si próprio. O Criador andou junto com a sua criação, mas as criaturas se recusaram a reconhecê-lo. Na verdade, crucificaram a Cristo. Nesse caso, o que fez o Criador? Transformou a maior crueldade da humanidade em fonte de perdão para os homens! Nós o matamos, mas Deus usou aprova de nosso maior egoísmo como fonte de nosso perdão.

Jesus Cristo é o ferido que cura nossas feridas. Ele sabe como nossas emoções podem ser magoadas. Na realidade, Jesus foi tentado de todas as maneiras pelas quais temos sido tentados.

O próprio nascimento de Jesus foi questionado, e a reputação da sua mãe, aviltada. Ele nasceu em pobreza. A linhagem dele caiu no ostracismo, e a sua cidade natal foi ridicularizada. O pai terreno faleceu provavelmente quando o menino tinha pouca idade, e nos seus últimos anos Jesus perambulou pelas ruas e cidades sem ter um lar. O seu ministério foi mal interpretado e ele, abandonado à morte. Tudo isso sofreu por mim e por você. Ele o fez a fim de identificar-se conosco em nossas fraquezas:

Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de receber misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade (Hb 4.15,16).

Deus Pai enviou Jesus Cristo ao mundo para desfazer a barreira que nos separava dele. A separação, fruto de nosso egoísmo, está no centro de muitas feridas emocionais. Se tais males não forem sanados, poderão se desenvolver até se tornar o que eu chamo de "síndrome de Saul", o que leva a alienar-se de Deus e das demais pessoas. Jesus veio para estabelecer a reconciliação no lugar da alienação, a cura no lugar da ferida, e a inteireza no lugar do quebrantamento.

A síndrome de Saul

Era um homem alto, de porte extraordinário. O cabelo castanho e a barba bem aparada adicionavam mais dignidade à estatura. Todos os olhos o seguiam quando ele passava pela multidão.

Esse homem tinha a capacidade de atrair as pessoas, reuni-las em torno de uma causa, inspirá-las para a grandeza. As pessoas não receavam confiar-lhe seus sonhos secretos, suas esperanças. Tratava-se de um líder de líderes.

Pelo menos, era o que todos pensavam. Todavia, aqueles ombros avantajados de um líder alto e de aparência magnífica escondiam um coração repleto de ciúme e medo. Tão profundas eram as inseguranças, tão incertos os alicerces da personalidade, que ele considerava todo indício de grandeza nas pessoas ao seu redor um sinal de grave ameaça à própria posição dele no país.

A maior parte de seus seguidores se achava tão encantada com a habilidade de Saul de mobilizar e comunicar-se, que não percebia o desejo fanático do governante de exercer controle total. Alguns homens mais perspicazes, contudo, começaram a alimentar dúvidas.

A perícia de Saul na estratégia bélica e sua extraordinária habilidade na tomada de providências corretas, no momento oportuno, convenciam os seguidores mais distantes da grandeza desse líder, mas confundiam as pessoas mais próximas dele. "Ele deve ser o ungido do Senhor", elas pensavam. "Sempre parece estar certo." Não queriam admitir o óbvio: Saul violava princípios, não tinha espírito de serviço, não admitia a promoção de outras pessoas, era vítima de ira e impaciência — tudo isso reunindo fatores que aparentemente o desqualificavam para exercer a função de rei. Na verdade, tais pessoas ficavam profundamente confusas e envergonhadas diante dos secretos acessos de raiva de Saul e de seus mergulhos na melancolia e depressão.

Finalmente, surgiu alguém que já não alimentava dúvidas acerca do caráter desse rei: o profeta Samuel, que o havia ungido para o ofício real.

Em simples ato de obediência, o profeta derramara óleo sobre a cabeça do então jovem e orara por ele; agindo desse modo, Samuel dera posse ao rei para que reinasse sobre a nação. Diferentemente de muitos outros homens, o profeta não estava impressionado com o próprio "poder". Ele havia aprendido desde a infância que existe somente uma resposta aceitável à voz de Deus: a obediência pura e simples, semelhante à da criança.

Agora o coração de Samuel também fervia em seu peito, não de ódio, mas de indignação justa. Agora basta! Ele tinha esperado pacientemente, enquanto observava a destruição interna do reino devido à falta de integridade e obediência do rei. Detectou a profunda insegurança do governante, o esforço doloroso para encontrar apreço e segurança no louvor de seus companheiros. Por causa de Saul, Samuel agonizara incontáveis noites, em oração e lamentação. Havia jejuado muitos dias, pedindo a Deus que mudasse a atitude do rei e o ajudasse a encontrar segurança na aprovação do Senhor. Tudo isso, porém foi inútil.

Chegou então a Palavra de Deus para o profeta: “Arrependo-me de ter posto Saul como rei, pois ele me abandonou e não seguiu as minhas instruções” (1ºSm 15.11).

Em breves instantes de terrível confronto, o desastre aconteceu: a autoridade do rei lhe foi arrancada. Ele permaneceu no cargo, mas isso não era garantia de autoridade. O poder, algumas vezes, advém da posição, mas a autoridade advém do caráter, da obediência e da unção de Deus.

Um estudo minucioso da vida de Saul revela um padrão determinado, um ciclo terrível e inconfundível de inferioridade e emoções feridas... a “síndrome de Saul”.

Lemos em 1º Samuel 15.17 que Saul era “pequeno aos seus próprios olhos”. Não devemos confundir essa expressão com a verdadeira humildade, uma vez que, se tais palavras de Samuel tivessem esse significado, não haveria a necessidade de afastar Saul do trono. O que o profeta estava dizendo é que, embora Saul se considerasse inferior e menosprezasse a si próprio, ainda assim continuava responsável por suas más ações diante de Deus. Os sentimentos de inferioridade não são desculpa para a desobediência.

No capítulo 15 de 1º Samuel temos uma lista das características da personalidade de Saul:

● teimosia e independência: "A rebeldia é como o pecado da feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria' (v. 23). ● orgulho: "Saul foi para o Carmelo onde ergueu um monumento em sua própria honra” (v. 12). ● medo do homem: "Pequei. [...] Temi ao povo, e dei ouvidos à sua voz" (v. 24; AEC). ● desobediência: "Por que você não obedeceu ao SENHOR? [...] A obediência é melhor do que o sacrifício" (v. 19,22).

Demonstrando de forma simples, a síndrome de Saul tem a seguinte aparência:

Um problema leva a outro. Se não tratarmos nossas feridas à maneira de Deus, elas nos conduzirão à independência de Deus, o que, por sua vez, gera o orgulho. O orgulho diz respeito muito mais ao que as pessoas pensam de nós do que àquilo que Deus pensa de nós, e isso nos leva a ter medo do homem. O temor do homem inevitavelmente conduz à desobediência. Podemos ainda fazer muita coisa por Deus, mas estaremos praticando uma religião de obras mortas.

Algumas das pessoas mais feridas que conheço são igualmente mais orgulhosas e independentes. As mágoas emocionais nos tornam extremamente suscetíveis a essa síndrome viciosa, contra a qual ninguém está imune.

Para ajudar a identificar a síndrome de Saul, descrevo algumas características que, com freqüência, aparecem em nossa vida cotidiana:

1. Afastamento ou isolamento. A síndrome de Saul nos instiga a afastar-nos de vez das demais pessoas. O afastamento pode tornar-se um meio de encobrir ou justificar nossa recusa em perdoar as pessoas que nos magoaram ou em nos comprometer com aqueles de quem discordamos.

2. Possessividade. É egoísta a mentalidade do tipo "meu ministério", "meu grupo", "minha opinião", "meu emprego" ou "meu lugar na igreja", pois é derivada de uma atitude de independência. A Bíblia ensina que "a rebeldia é como o pecado da feitiçaria" (1 Sm 15.23); tem origem no inferno. Essa atitude de "primeiro eu" é pecado.

3. Mentalidade de "nós contra eles" : Quando somos pegos pela síndrome de Saul, começamos a pensar da perspectiva de "nós" contra "eles", aqueles com quem concordamos contra aqueles de quem discordamos. Esse padrão de

pensamento demonstra que não apenas estamos em desacordo com outras pessoas, mas também as estamos julgando e criando facções na igreja.

4. Manipulação. As pessoas orgulhosas e independentes tentam por vezes manipular os outros, recusando-se a cooperar, exigindo que se faça sua vontade, criticando maldosamente ou julgando sem parar o que os demais estão fazendo. Sem dúvida, espiritualizamos nossas razões, e é esse o motivo pelo qual nossa manipulação pode ser muito mais perigosa.

5. Incapacidade de aprender. A síndrome de Saul faz com que permaneçamos fechados diante de outras pessoas. Recusamo-nos a aceitar a correção e a instrução. Tornamo-nos endurecidos, indiferentes.

6. Atitude crítica e condenatória. Nós a justificamos de muitas maneiras, todavia se resume nisto: desmoralizamos e tratamos com desprezo os motivos dos outros.

7. Impaciência. Consideramos que nosso método é melhor e nos recusamos a esperar por outras pessoas que discordam de nós ou não nos entendem.

8. Desconfiança. A síndrome de Saul resulta em desconfiança. Acusamos os outros de não confiarem em nós, mas muitas vezes se trata de projeção de nossa própria desconfiança. Reflete nossa independência e se relaciona muito mais com nossas necessidades do que com as do próximo.

9. Deslealdade. Essa característica manipula as dúvidas, as feridas ou as necessidades do próximo para recrutá-lo para nosso grupo, ganhando-o para nosso próprio ponto de vista, em vez de procurar edificar a unidade, o amor, o perdão e a reconciliação.

10. Ingratidão. Focalizamos a atenção naquilo que imaginamos que deveria ser feito por nós, em lugar de enfatizar tudo o que já foi feito por nós.

11. Idealismo doentio. Idolatramos um método, um padrão ou um programa e, então, o colocamos acima das pessoas, principalmente aquelas de quem discordamos. Os ideais se tornam mais importantes do que a unidade ou as atitudes corretas.

Embora a síndrome de Saul seja, com freqüência, um sintoma de sentimentos feridos ou não resolvidos de rejeição, ainda é egoísta e errada. Assim, precisa ser extirpada impiedosamente. Não existe problema de independência e inferioridade que não possa ser resolvido mediante uma humildade maior, e maior quebrantamento de nossa vida.

A Bíblia promete que, quando nos humilharmos, Deus nos concederá graça (Tg 4.6,7). Temos medo de "humilhação", contudo não é isso o que as Escrituras querem dizer quando falam da necessidade de nos

humilharmos. A verdadeira humildade está ligada à prontidão de sermos conhecidos pelo que somos realmente e de ficarmos ao lado de Deus na luta contra nosso próprio pecado. A maioria das pessoas nos respeita mais, e não menos, quando nos humilhamos e confessamos nossos pecados e necessidades. Acredito que Deus sempre o faz.

Se você foi apanhado pela síndrome de Saul, permita-me dizer que jamais se livrará desse mal enquanto não aceitar a responsabilidade de arrepender-se das atitudes erradas. De nada adiantará lançar a culpa dos próprios problemas sobre terceiros, tampouco apresentar desculpas para seus pecados. Humilhe-se diante de Deus e dos outros. Clame ao Pai em oração fervorosa.

Muitos anos atrás percebi esse mesmo padrão em minha própria vida. As profundas inseguranças me doíam, mas eu era também muito orgulhoso e independente. Ansiava aceitação e afirmação, mas de forma alguma confessaria minha desesperada necessidade de ajuda. Estava obcecado com o que as pessoas pensavam de mim, especialmente os outros líderes. Somente me livrei da síndrome de Saul quando me humilhei diante dos outros e me arrependi diante de Deus. Fiz um voto a Deus pedindo que ele tratasse desses meus problemas em minha vida muito mais do que desejava liderança, atenção ou aceitação alheia. Eu chamo esse voto de minha "aliança de José".

Certo dia, dediquei um tempo a ficar a sós com Deus, em uma floresta da Holanda. Foi quando clamei ao Senhor. Disse ao Pai que queria, a todo o custo, que ele arrancasse a independência, o orgulho e o temor do homem da minha vida. Também lhe disse que esperaria o tempo necessário para que isso acontecesse, até mesmo doze anos, à semelhança de José do Egito; e eu não queria tomar nenhum "atalho" no processo de endireitar minha vida com ele. Foi uma oração custosa, mas nunca me arrependi de tê-la feito. Deus me ouviu naquele dia e fez algumas mudanças significativas em minha vida.

Libertação do temor das pessoas

Jamais seremos verdadeiramente livres para amar a nosso Deus-Pai se estivermos dominados pelo temor das pessoas. A Bíblia diz que o temor do homem é uma armadilha, um laço. Tornamo-nos prisioneiros do medo,

sempre preocupados com o que os outros pensam, dominados pelas ações alheias em vez de obedientes à Palavra de Deus.

É importante perguntar: você se sente como se estivesse continuamente olhando para trás, tentando descobrir por que não foi incluído, ou se preocupa, pensando no que as pessoas falam a seu respeito? Ou ainda: você está escolhendo as próprias ações com base na quantidade de aprovação que obterá de outras pessoas, em vez de agradar a Deus? Se assim for, você está atado pelo temor do homem.

O remédio contra o medo do homem é o temor de Deus! O temor de Deus não é um medo emocional, ou receio da ira divina. A Bíblia define o temor de Deus de modo bem específico.

1. O temor de Deus é o ódio ao pecado. Provérbios 8.13 diz: "Temer o SENHOR é odiar o mal".

2. A amizade e intimidade com Deus são equiparadas ao temor de Deus. Lemos em Salmos 97.10: "Odeiem o mal, vocês que amam o SENHOR"; e em Salmos 25.14: "O SENHOR confia os seus segredos aos que o temem".

3. O temor do Senhor é profundo respeito e reverência para com Deus. Em Salmos 33.8, temos: "Toda a terra tema o SENHOR; tremam diante dele todos os habitantes do mundo".

4. O temor do Senhor é o começo da sabedoria e do conhecimento. Provérbios 1.7 diz: "O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento".

O temor do Senhor não se demonstra mediante certa aparência de santidade no rosto da pessoa, nem é detectado em determinado tremor de voz quando se ora. Não é revelado no modo pelo qual a pessoa se veste nem no elevado número de regras a que obedece.

Ter o temor do Senhor significa simplesmente amar a Deus, de tal maneira que a pessoa odeie tudo o que ele odeia. Esse tipo de ódio não nasce de neurose religiosa, tampouco é reflexo da cultura. Ele vem do fato de estarmos tão perto do Senhor, tão afinados com o caráter divino, que amamos o que ele ama e detestamos o que ele detesta. O temor do Senhor não é uma cruzada de ódio, mas uma ira contra o poder destrutivo do mal. O temor do Senhor enxerga a crueldade, o engano, a opressão e a força destruidora do pecado, e o odeia pelo que ele é.

O temor do Senhor não vem à nossa vida ao acaso. Ele habita nosso íntimo porque escolhemos procurá-lo (cf. Pv 1.28,29; 2.1-5) e aceitamos fazer dele nossa prioridade máxima. Ele vem porque estamos fartos de ser manipulados e controlados pelo temor do homem, e cansados de ser dominados por nossos medos e inseguranças. Ele vem porque clamamos por ele, nós o procuramos e nos desesperamos por ele.

A síndrome de Saul pode ser quebrada. você pode libertar-se, mas há um preço a pagar. Se você deseja experimentar a cura interior e conhecer o amor do Pai, precisa escolher o temor do Senhor. Provérbios 14.26 diz: "Aquele que teme o SENHOR possui uma fortaleza segura". É a humildade e o temor do Senhor que nos levam à intimidade e à comunhão com o coração paterno de Deus, proporcionando-nos inteireza e auto-estima.

Como Deus cura os corações feridos

No capítulo seguinte, fiz uma lista dos passos que você deve tomar para curar as feridas emocionais e psicológicas. É importante ressaltar que não é intenção minha fazer com que esses passos sejam vistos como um tipo de fórmula mágica ou como um talismã para agitar na face de Deus. As verdades que cada um desses passos representa devem ser aplicadas à nossa vida, à medida que estivermos prontos para elas, com a orientação do Espírito de Deus. (Se você não sabe a maneira de ser guiado pelo Espírito de Deus, peça-lhe que o ajude. Ele prometeu ajudar a todos os que 'lhe pedirem.)

Cumpra cada passo da lista e aplique-o pessoalmente à sua situação.

Se seus problemas são complexos, você poderá precisar da ajuda de um conselheiro profissional, ou de um psicólogo. Ao final deste livro, você encontrará no Apêndice diretrizes sobre como selecionar um conselheiro profissional ou psicólogo. Você tem o direito de lhes fazer perguntas, antes de permitir que eles as façam a você. Jamais deve se submeter à ajuda ou aconselhamento de um profissional antes de ter a certeza em relação à confiabilidade, à perícia e à competência dele.

Não temos de viver em dor emocional permanente. Por causa do amor que o Pai celestial tem por nós, e porque Jesus sofreu em nosso lugar,

não temos de carregar nossas próprias feridas a vida toda. Podemos receber a cura e ser libertos para viver e desfrutar a alegria do imensurável amor paterno de Deus. No entanto, devemos estar dispostos a pagar o preço.

Guia de estudo

(Capítulo 3 - Quando o Coração está Ferido)

Leia João 5 e 6

1. Como nosso egoísmo pode nos separar de Deus-Pai? 2. Você acredita que Deus-Pai enviou Jesus Cristo ao mundo para introduzir

um ministério de reconciliação, dando um fim definitivo à separação do homem (que inclui você) de Deus-Pai? (V 2Co 5.16-21)

3. Você acredita que, por meio de Jesus Cristo, a cura pode substituir as

mágoas e que você pode andar em plenitude em vez de ter um coração ferido? Como isso acontece? Enquanto você revê as páginas que tratam da "Síndrome de Saul", reflita seriamente sobre sua própria vida, sua personalidade, seus sentimentos. Considere se há alguma correlação entre você e Saul. É sempre sábio buscar o discernimento de sua esposa ou de um amigo chegado quando fizer isso, pois eles com freqüência vêem coisas em nossa vida que não conseguimos ver (especialmente em relação às perguntas 12 e 13).

4. Faça uma lista das áreas de sua vida nas quais você se sente inseguro.

5. Você tem um coração de servo? Como isso se expressa? 6. Você está disposto a se humilhar e a tomar o caminho da simplicidade? 7. Você costuma ter acessos de ira descontrolada? Quando? 8. Você sofre de melancolia, ou depressão, ou ambos? O que desencadeia tais

processos? 9. Você se sente impressionado intimamente com sua "autoridade"? 10. Seu senso de valor e dignidade depende do elogio de outros? O que

acontece se você não recebe esse elogio? 11. Você tem mais temor (muito desejo de agradar) a Deus do que ao homem?

Em que áreas da sua vida isso é verdade?

12. Estude as características da personalidade de Saul: inferioridade,

estupidez ou independência, orgulho, temor do homem, desobediência. Você reconhece algumas delas em sua vida?

13. Descreva as características da síndrome de Saul que você vê em si mesmo.

Este é um momento excelente de perguntar a alguém próximo o que está vendo.

• afastamento ou isolamento • possessividade • mentalidade de "nós contra eles" • manipulação • incapacidade de aprender • atitude crítica e condenatória • impaciência • desconfiança • deslealdade • ingratidão • idealismo doentio

14. Qual a diferença entre "poder" e "autoridade"? 15. O que significa para você "temor do Senhor"? 16. Como a humildade é definida no texto?

17. Quais os benefícios de caminhar muito mais no temor de Deus do que no do homem?

4. Cura proveniente de um Pai amoroso

Certa vez encontrei um homem em Madras, na Índia, que me garantiu jamais ter cometido pecado! Em vista de nosso interesse mútuo em assuntos religiosos, a conversa logo se voltou para questões sérias. Quando mencionei o fato de acreditar que Deus perdoa as pessoas que reconhecem os próprios pecados, ele me assegurou que nunca havia feito alguma coisa errada.

— Você nunca mentiu? — perguntei.

— Não, nunca — veio a resposta pronta.

— Você jamais furtou alguma coisa, nunca odiou a alguém?

— Não, nem mesmo uma vez.

— Nunca cometeu adultério?

— Nunca.

— Nunca desobedeceu a seus pais?

— Jamais.

— Alguma vez "colou" nos exames na escola?

— Nunca fiz isso.

Fiquei atônito. Em seguida me veio à mente outra pergunta.

— Você sente orgulho do fato de jamais haver pecado? — perguntei, de modo travesso.

— Ah! Sim, muito orgulho, muito orgulho! — respondeu o homem.

— Aí está seu primeiro pecado — disse eu. — Você é um homem orgulhoso!

Então ele deu uma risada e me cumprimentou, porque eu o havia apanhado em seu único pecado!

Embora não sejamos tão orgulhosos como aquele homem, todos nós temos seguido as pegadas de Adão no pecado original. Adão negou a Deus o direito de controlar a vida dele, decidindo que seguiria o próprio caminho. Todos tomamos a mesma decisão. É difícil para nós admitir que também

nos rebelamos contra Deus, negando-lhe o direito de ser o Senhor de nossa vida.

Sem o reconhecimento desse problema humano, o mais básico de todos (nosso egoísmo), o tratamento de feridas e necessidades em nossa vida apenas adia o inevitável. Os analgésicos não podem manter vivo o paciente que morre de câncer. Eles aliviam a dor, o que é importante, mas por que vamos nos fixar em uma solução temporária se existe uma cura permanente para o câncer?

Sendo um Pai amoroso, Deus anseia por nos perdoar se tão-somente reconhecermos nosso orgulho e egoísmo e pedirmos a ele que nos perdoe. Deus quer que mantenhamos com ele um relacionamento íntimo, por isso deseja remover todos os empecilhos a essa comunicação.

Algumas pessoas pensam que, pelo fato de a Palavra de Deus nos chamar de pecadores, Deus está nos rejeitando. Isso não é verdade, de modo nenhum. Ele está simplesmente nos ajudando a entender nosso problema mais básico e a forma de vencê-lo.

Entretanto, não somos apenas pecadores. Há aqueles que também pecam contra nós, quer com intenção maldosa ou por egoísmo, quer sem nenhuma intenção — pois ninguém é perfeito. As pessoas fazem coisas que nos magoam profundamente e, quando se comete pecado contra nós, não somos desculpados se reagirmos negativamente. No entanto, a injustiça que nos infligem, ajuda-nos a compreender a nós mesmos e as pessoas que lutam para reagir da forma correta quando maltratadas ou feridas.

Para obter o máximo de cura e de bênção, proponho que você estude os seguintes passos em oração e gradualmente. Depois de ler cada passo, arranje um tempo para orar e aplicar essa providência em sua vida. Se o processo se tornar doloroso demais, peça a um amigo ou a um líder espiritual que o acompanhe nessas etapas. Você deve estar preparado para sentir dor, se houver feridas vivas. Para que as feridas se curem adequadamente, talvez precisem ser abertas e purificadas de qualquer "infecção" ou amargura que se tenha estabelecido. Embora esse processo seja doloroso por algum tempo, ele lhe trará grande alegria e cura a longo prazo. Ele o libertará para se aproximar ainda mais do coração paterno de Deus.

Como Deus cura nossas feridas emocionais

Primeiro passo - Reconheça sua necessidade de cura

Para a maioria, isso não representa um problema. No entanto, se estamos feridos ou magoados e não reconhecemos nossa necessidade, há pouca oportunidade para cura ou ajuda em nossa vida. Ser capaz de admitir a necessidade é sinal de boa saúde mental e prova de honestidade pessoal.

Todos nós precisamos de cura e crescimento nas emoções e na personalidade. Não pense que você é exceção. Trata-se de atitude propícia ao aprendizado e à humildade que permitirá o início da cura. Algumas pessoas relutam, não desejando expor suas necessidades por medo de rejeição. Todavia, o oposto disso é verdadeiro: quando admitimos nossas necessidades, as pessoas nos respeitam mais por causa de nossa honestidade. Provavelmente, todos nos lembramos de uma ocasião ou outra em que nos tornamos vulneráveis e, em seguida, fomos feridos por alguém que não reagiu a nós com amor ou sabedoria. Contudo, não podemos permitir que essas experiências nos impeçam de receber a cura que Deus deseja conceder. Rejeições do passado não deveriam ter permissão para definir ações ou atitudes no futuro.

Comece assumindo uma atitude de honestidade com Deus. Ele o conhece intimamente e não vai rejeitá-lo. Na verdade, ele anseia por isso e espera que você seja honesto para que possa receber seu amor e ajuda. Conte-lhe suas feridas, temores, desapontamentos — tudo.

Em seguida, abra-se com alguém capaz de ajudá-lo a aplicar esses passos de cura. Escolha um amigo cristão de confiança, que possa orar por você e encorajá-lo.

Se maltratou algumas pessoas, você precisa ir até elas e acertar as contas. Isso significa uma parte do que é reconhecer nossas necessidades. Nós o fazemos não afim de sermos perdoados por Deus, mas porque fomos perdoados. O fruto de um relacionamento correto com Deus é o desejo de restabelecer relacionamentos quebrados com outras pessoas.

Sobre esse assunto, o famoso teólogo anglicano John Stott apresenta algumas advertências valiosas. Ele discute o círculo da confissão aberta: pecados secretos, pecados particulares e pecados públicos. Afirma que

somente devemos confessar pecados no nível em que foram cometidos. Se o pecado foi secreto — isto é, um pecado do coração ou da mente que jamais se transformou em ação, ou em palavras — , tal falta precisa ser confessada apenas a Deus. O cristão tem liberdade de partilhar tais coisas com amigos íntimos, ou com crentes piedosos, pelo desejo de ser honesto e responsável, mas não é obrigado a fazer isso. É ele quem decide se conta tal pecado a alguém ou não. Na verdade, somente deveríamos fazer confissão quando estivéssemos totalmente seguros acerca das pessoas com quem desejamos partilhar, ou quando achamos que Deus nos está levando a isso de modo específico — e jamais porque nos sentimos sob pressão. Assim mesmo, devemos ser sábios e cuidadosos sobre como compartilhar.

Confessar alguns pecados do coração a outras pessoas poderia significar uma grande bobagem. Se a pessoa contra quem você pecou na mente nada sabe a respeito de seu pecado, não a sobrecarregue com um fardo seu, a não ser que haja um motivo claro que justifique o benefício dessa decisão. Se você estiver em dúvida, não faça nada até que obtenha aconselhamento maduro.

Alguns pecados cometidos em segredo, ou no nível privado de nossa vida, são "vergonhosos" pela própria natureza deles. Acredito que precisamos vislumbrar uma restauração do sentimento de "vergonha”, sobretudo com relação aos pecados de impureza sexual. Se precisarmos p::Jir a alguém que nos perdoe o fato de termos pecado contra essa pessoa nessa questão, não necessitaremos entrar em detalhes, tampouco ser imprudentes em nossas palavras. Diga apenas o que precisa ser dito. Confesse que falhou com essa pessoa, ou pecou contra ela, e peça-lhe perdão. Isso é suficiente.

Uma excelente orientação é a seguinte: em se tratando de pecado secreto, confesse-o a Deus; caso seja pecado particular, peça perdão à pessoa contra quem pecou; se for pecado público, peça perdão ao grupo.

Em resumo, são esses os passos para a cura e inteireza espiritual, no que se refere à honestidade quanto às nossas necessidades:

1. Admita suas necessidades e pecados. A honestidade libera a graça de Deus em nossa vida.

2. Receba a graça de Deus. A graça é a dádiva de Deus de amor, aceitação e perdão para nós, que nos torna seguros nele. Essa segurança produz fé.

3 . Confie no Senhor e nas pessoas. A fé resulta em confiança e faz com que seja possível manter comunhão íntima com Deus e relacionamento com as pessoas.

4. Estabeleça relacionamentos de coração para coração com Deus e com as pessoas. Esses relacionamentos são possíveis quando nos humilhamos a nós mesmos. Assim, Deus pode canalizar amor e perdão em nós, pessoalmente, e em nossos corações para com os outros.

O oposto desse processo leva a mais dor e ferida emocional:

1. Relacionamentos quebrados. Quando os relacionamentos se rompem, achamos muito difícil confiar nas pessoas.

2. Legalismo. Quando nosso relacionamento com outras pessoas está errado, temos a tendência de nos tornar juízes e críticos. Passamos a viver segundo a "lei", e não segundo a graça de Deus. Isso nos leva a desconfiar do próximo.

3. Falta de confiança. Quando não confiamos no próximo, muitas vezes deixamos transparecer essa desconfiança e as pessoas, por sua vez, deixam de confiar em nós. Então, cria-se uma atmosfera de crescente rejeição e vão surgindo muralhas entre nós e os outros.

4. Muralhas. O que as muralhas produzem é separação, o oposto dos relacionamentos de coração para coração.

Ao considerarmos a honestidade a respeito de nossas necessidades, é importante que observemos a diferença entre pecado, ferida e escravidão. Para o pecado é necessário haver perdão, para a ferida deve haver cura, e para a escravidão espiritual, libertação. Por vezes, precisamos de ajuda nas três áreas.

Você não deve confessar uma ferida, como se ela fosse um pecado, pois ferida não é pecado. Entretanto, se por conseqüência de ter sido ferido você adquiriu uma atitude ou reação pecaminosa, mesmo que a culpa seja de outras pessoas, Deus ainda o responsabiliza pela reação negativa. Na verdade, Deus não vê a questão como se a outra pessoa fosse 80% culpada e você apenas 20%. Você e a outra pessoa têm culpa e são 100% responsáveis pelas próprias ações. Enquanto você não assumir total

responsabilidade pelas próprias atitudes e ações, a cura é impedida. Por quê? Se sua atitude for de ressentimento, amargura, ou de falta de perdão, a cura e o perdão de Deus são bloqueados.

Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas (Mt 6.14,15).

Nunca é demais ressaltar a importância de reconhecer a necessidade de cura em nossa vida. Já vi muitas pessoas ocupadas, realizando coisas para Deus, mas cuja atividade estava prejudicada porque precisavam provar algo a si mesmas, obter aceitação ou vencer alguma forma de insegurança acerca daquilo que faziam. O trabalho feito para Deus e para outras pessoas deveria fluir de nossa segurança, de nosso senso de bem-estar, e não de uma compulsão para provar algo a nós mesmos ou por causa de uma necessidade de "ser alguém'. Se perseverarmos, seremos capazes de nos aproximar mais e mais do nosso Pai amoroso e nos sentiremos bem conosco; teremos maior alegria em nosso trabalho. E nos tornaremos uma bênção maior para as outras pessoas se dedicarmos tempo a acolher a inteireza e a cura interior.

Segundo passo - Confesse as emoções negativas

Certas pessoas atravessam a vida colecionando emoções negativas. Muitas delas jamais aprenderam a identificar ou a comunicar os próprios sentimentos, de modo que acumularam raiva, desapontamentos, medo, amargura, culpa e outros sentimentos negativos desde a mais tenra infância. Suprimir emoção após emoção é como empurrar uma camada de lixo sobre outra em um saco plástico. No final, alguma coisa acaba cedendo. Esse processo de amontoar emoções não identificadas e não comunicadas produz conseqüências trágicas, que vão desde úlceras até o suicídio. Muitos de nós nunca aprendemos a lidar com nossas dificuldades. Crescemos fisicamente, porém permanecemos emocionalmente imaturos. Construímos e mantemos barreiras emocionais que impedem a ação conjunta de receber e dar em nossos relacionamentos com as pessoas e com nosso Pai.

Para resolver esse problema, o dr. Phil Blakely observa que precisamos "descompactar" os sentimentos, isto é, falar das emoções amontoadas dentro de nós. Para aplicarmos esse conceito, é importante ter alguém que possa nos ajudar a expor nossos sentimentos. Para

os cristãos, esse processo devia iniciar-se com a oração. Se Jesus não for a pessoa a quem nos dirigimos antes e acima de todas as demais, jamais seremos curados. Ele é o Criador e deseja que lhe contemos nossos sentimentos porque nos ama profundamente.

Em seguida, devemos também falar com outras pessoas. É importante desenvolver amizades com quem permita que sejamos nós mesmos, mas que nos ame suficientemente para nos desafiar quando estivermos errados.

Falar de nossas emoções em si mesmo não é uma panacéia. A comunicação dos sentimentos simplesmente esclarece os canais mentais de modo que as raízes desses problemas possam ser tratadas. O ato de partilhar emoções carregadas de culpa não significa que já tratamos das causas da culpa. É nesse ponto que a psicologia relativista se desmantela. Fazer com que as pessoas exprimam livremente sentimentos de culpa pode levá-las a se sentir melhor, contudo, se não aceitarem por fim a responsabilidade de terem violado a lei moral de Deus, os sentimentos de culpa voltarão — a não ser que, naturalmente, a pessoa neutralize a consciência e perca toda a capacidade de sentir.

Embora as emoções, por si próprias, não sejam forçosamente pecaminosas, se forem dirigidas de maneira negativa em relação a Deus, a nós mesmos e ao próximo, podem resultar em reações pecaminosas. É por isso que precisamos de padrões bíblicos, a fim de avaliar se nossas atitudes se tornaram pecaminosas. E sendo esse o caso, então, devemos tratá-las como erradas e doentias.

A intenção de Deus nunca foi que vivêssemos pelos sentimentos, ou em função deles. Alguns pautam sua vida pela máxima que diz que é bom aquilo que sentem ser bom, e é ruim o que sentem ser ruim. Trata-se de excelente existencialismo, mas não é o cristianismo bíblico. Devemos viver de acordo com a verdade revelada na Bíblia, e não conforme os palpites ditados pelos sentimentos. Deus nos concedeu a capacidade de sentir emoções, e a intenção dele era que fossem um encorajamento para a tomada de decisões corretas. Quando não vivemos de acordo com as leis divinas, adquirimos a tendência de torcer as intenções originais de Deus com relação às emoções, usando-as para reforçar um estilo de vida baseado no prazer e no egoísmo. Existem pessoas totalmente governadas pelas próprias emoções, e há outras que nem sequer percebem que guardam sentimentos mais profundos. Estas suprimiram os sentimentos a ponto de julgarem ser atitude "cristã" jamais demonstrar emoção alguma. Tal atitude não indica

maturidade nem "espiritualidade". Deus nos criou para levarmos uma vida equilibrada, na qual expressamos emoções e as desfrutamos, e somos livres para analisá-las honesta e construtivamente.

Maridos, pais de família e líderes espirituais podem ser de grande ajuda, encorajando as famílias e congregações a partilhar suas emoções livremente. Nosso desejo de levar outros a crescer espiritualmente pode ser inútil, e até danoso, caso as pessoas que lideramos não recebam esse privilégio. Ao criarmos espaço para que as pessoas ao nosso redor sejam honestas, podemos conduzi-Ias a Deus de modo que usufruam um relacionamento mais profundo com ele. Passarão a confiar mais em nós e perceberão nosso sincero comprometimento para com elas, o que, por sua vez, nos dará maior liberdade para falar de maneira franca sobre os problemas delas.

Onde não desfrutamos de confiança, não temos autoridade. Ao permitirmos às pessoas a oportunidade de serem honestas, estamos concedendo "graça". Isso faz com que elas se sintam seguras ao demonstrar honestidade não apenas quanto às suas emoções, mas também quanto às suas necessidades. Se aqueles a quem lideramos manifestam séria desconfiança de outras pessoas, especialmente aquelas ligadas à autoridade, é bem possível que jamais tenham aprendido a expressar os sentimentos com honestidade, em uma atmosfera de amor e aceitação.

Certa tarde, minha esposa Sally estava partilhando suas frustrações com relação a problemas pessoais. Logo comecei a lhe dar conselhos. Nunca vou me esquecer da resposta dela:

Eu não o procurei para ouvir um sermão. Eu sei o que devo fazer. Quando você prega para mim, sinto-me como se você não estivesse ouvindo, nem tivesse interesse por mim. Preciso de alguém que me ouça. Se não posso falar com você, com quem vou falar então?

Naquele mesmo dia decidi que queria ser o tipo de marido que dá total liberdade e segurança à esposa (e a outras pessoas também) para que partilhe as emoções comigo sem nenhum temor de julgamento, sermão ou repreensão.

Para quebrar o ciclo de repressão emocional e desconfiança, peça a Deus que lhe dê a oportunidade de falar com uma figura de autoridade, a qual o encoraje a ser honesto acerca de seus sentimentos.

Além disso, perdoe aqueles que no passado não lhe concederam a liberdade de proceder assim. A motivação para partilhar sentimentos não devia ser a de persuadir o interlocutor a aceitar seu ponto de vista, mas ser honesto. Todavia, a honestidade não é uma finalidade em si mesma. Sua honestidade deve surgir do desejo de confessar emoções negativas, para que venha a se tornar a pessoa que Deus quer que você seja.

Se já fomos magoados por figuras de autoridade, ou se discordamos delas, é nossa responsabilidade orar antes de confrontá-las. Se depois da oração ainda não compreendermos à decisão que tomaram, então deveremos pedir-lhes que a esclareça, que nos façam entender seu ponto de vista. Temos a liberdade de discordar de uma pessoa investida de liderança, mas precisamos tomar o cuidado de não permitir que esse desacordo influencie nossa atitude para com ela. Podemos discordar sem nos tornar juízes e sem quebrar a comunhão. Não é necessário que a desunião domine por causa da divergência. O desacordo construtivo é sadio, a não ser quando abre caminho para as críticas ou o julgamento, pois assim, pode ocorrer a divisão. Todos os problemas de desunião podem ser resolvidos mediante maior humildade e perdão. Deus está interessado na atitude que acolhemos no coração e também em nos ajudar a crescer, desde que estejamos abertos e honestos acerca de nossas emoções.

Terceiro passo - Perdoe aqueles que o magoaram

O perdão não é meramente esquecimento do mal que alguém praticou contra nós. Tampouco representa um tipo de sentimento espiritual místico. É simplesmente perdoar a pessoa pelo mal que cometeu. Significa dar-lhe nosso amor e aceitação, apesar de estarmos feridos. O perdão muitas vezes é um processo; raramente é um ato único. Continuamos a perdoar até que a dor desapareça. Quanto maior a ferida, maior o perdão. Assim como o médico precisa manter os ferimentos físicos livres de infecção, para que possam atingir a cura, também devemos manter as feridas emocionais limpas, isentas de amargura, para que possam ser saradas. O perdão é o anti-séptico das feridas emocionais. Tantas vezes quantas forem preciso, sempre que você pensar em determinada pessoa e sentir-se magoado, perdoe. Diga

ao Senhor que perdoa a essa pessoa e decida que vai amá-la com o amor que vem de Deus. Receba o amor divino por essa pessoa mediante a fé. Proceda assim toda vez que você pensar nela, até sentir que a perdoou verdadeiramente.

O perdão divino concedido'a nós deve igualmente servir de motivação para perdoarmos. Se você considera difícil perdoar a alguém, pense no quanto Deus lhe perdoou. Se isso não lhe parecer muito, então peça que Deus lhe revele sua vida como ele a vê. O Senhor atenderá à sua oração se clamar a ele com sinceridade.

Quarto passo - Receba perdão

Se você foi magoado por algumas pessoas e pecou ao reagir a elas, não apenas é fundamental que perdoe a quem o prejudicou, mas também que peça perdão a Deus pelas reações erradas contra tais pessoas. Ao fazer isso, você poderá descobrir a necessidade de perdoar a si mesmo. Há ocasiões em que nosso maior inimigo é o próprio senso de fracasso. Podemos ser muito mais duros conosco do que com os outros. Se você falhou, derrame seu sentimento de fracasso diante do Senhor em oração, confesse seu pecado e diga-lhe que acolherá o perdão divino e perdoará a si próprio também. Toda vez que sentir a volta desse senso de fracasso, agradeça ao Senhor o seu perdão.

Há diferença entre convicção de pecado e condenação. A condenação tem origem no sentimento de fracasso. A convicção resulta do pecado. A convicção é específica, clara, vem de Deus; a condenação é vaga, genérica, vem de nós mesmos ou de Satanás. Se você imagina que pecou, mas não tem certeza, peça a Deus convicção. Sendo o Pai amoroso, ele o disciplinará. Se a convicção não vier enquanto você espera na sua presença em oração, agradeça-lhe o seu amor e perdão e prossiga com as tarefas do dia. Permaneça aberto diante de Deus, contando a ele as atitudes erradas, mas não se deixe paralisar pela conduta introspectiva. Não chafurde no lodo da autopiedade. É destrutivo demais.

Se você alimenta atitudes erradas contra alguém que o magoou, é fundamental confessá-las a Deus. Todavia, tome cuidado, pois a autopiedade pode ser a dissimulação do verdadeiro arrependimento. Lidar com nosso papel na questão, muitas vezes, libera o Espírito de Deus para operar no coração de outras pessoas. Mesmo que isso não

aconteça, ainda é responsabilidade nossa manter a vida correta diante de Deus. Se você se tornar crítico, duro no coração, ciumento, independente, orgulhoso e amargo, então precisará enfrentar as próprias reações. À medida que se humilha diante de Deus, ele o perdoa e lhe concede a cura das feridas. Existe cura pelo perdão!

Quinto passo - Receba o amor do Pai

Há um vazio em nossa vida que só pode ser preenchido pelo próprio Deus. Quando pecamos e pedimos perdão, ou quando combatemos a insegurança ou a inferioridade, existe uma possibilidade de que esse vazio não esteja preenchido. Nessas situações, peça a Deus que o preencha com seu Espírito, até transbordar. Mantenha-se livre do egoísmo, concentrando-se em Deus. Sempre é bom enfatizar este passo no processo curativo, afinal a autopiedade e o egoísmo entristecem o Espírito Santo.

Concentre os pensamentos e as orações no caráter de Deus e nos diferentes aspectos do seu coração paterno. Adore a Deus: fale com ele, cante para ele, pense nele. Medite na fidelidade, na santidade, na pureza, na compaixão, na misericórdia e no perdão divinos.

De importância vital no recebimento do amor do Pai, o desenvolvimento de uma atitude de adoração deve ser cultivado como uma conduta acima de qualquer outra. Memorize os versículos ou hinos que você pode usar como armas no combate à solidão ou ao desânimo. A porta que conduz à presença do Pai é a adoração — ela nos leva para longe da depressão e da autopiedade. Alguns dizem que não conseguem adorar a Deus quando não sentem vontade de fazê-lo, pois consideram que esse tipo de adoração é hipocrisia. Minha resposta a isso é que não adoramos a Deus por causa de nossos sentimentos, mas em virtude de quem ele é. Com freqüência adoro a Deus a despeito de meus sentimentos. Não quero ser prisioneiro deles, por isso louvo a Deus de qualquer maneira. Se me sinto desanimado, tento honestamente exprimir esses sentimentos, mas em seguida prossigo, concentrando-me em quem é Deus, e não como me sinto.

Você quer receber o amor do Pai? Então passe algum tempo na presença dele. Recebemos um banho do seu amor cada vez que passamos algum tempo com ele, dando-lhe alguma coisa. O que é que podemos dar a Deus? Por meio de nossas palavras e pensamentos, podemos lhe oferecer honra, adoração, atenção, louvor e culto. Caso

isso seja uma dificuldade para você, leia a Bíblia e destaque as passagens que falam especificamente do caráter de Deus. Um bom lugar para começar é o livro de Salmos. Ore e cante essas passagens ao Pai nos momentos de devoção pessoal. Quando estiver praticando o louvor diariamente, você saberá que está crescendo mais e mais no amor de Deus. Sentirá a presença de Deus intimamente, em resposta às suas palavras de louvor. Não fique surpreso se durante o dia o Senhor lhe dirigir palavras de apreço, aprovação e amor. Ele tem prazer em amar a seus filhos!

Sexto passo - Pense os pensamentos de Deus

Ao reagirmos às injustiças sofridas, sobretudo quando crianças, criamos hábitos destrutivos de pensamento acerca de nós mesmos. Por exemplo, se seus pais eram exigentes e perfeccionistas, muitas vezes você talvez não tenha conseguido atingir as expectativas que eles alimentavam a seu respeito. Os adultos que tiveram esse tipo de formação, não raro, "programam-se a si mesmos" para o fracasso. Ao determinarem previamente que fracassarão, tentam se proteger do desapontamento. Infelizmente, tais profecias com freqüência cumprem-se por si mesmas. Esses padrões negativos de pensamento raramente são exatos e se baseiam na rejeição e no medo. Se pensarmos que somos feios, não apenas sentiremos nossa feiúra, mas também agirmos de acordo com ela.

As Sagradas Escrituras dizem que devemos amar a Deus de todo o nosso coração, alma, mente e corpo, e ao próximo como a nós mesmos (cf. Lv 19.18; Mt 19.19). Deus deseja que amemos a nós mesmos, não egoisticamente, mas com o seu amor. O Senhor deseja que pensemos os seus pensamentos — de bondade, estima, respeito e confiança — em relação a nós mesmos.

Se você tem padrões negativos de pensamento a seu respeito, sugiro que pare com isso agora mesmo e, em seguida, escreva em uma folha de papel os dois ou três modos de pensamentos negativos mais comuns para você. Feito isso, escreva os pensamentos de Deus para com você, baseados no caráter divino, que são o oposto de seus pensamentos negativos. Por exemplo, se você se imagina sendo sempre um fracasso, escreva o seguinte: "Sou bom em .................................." e preencha

o espaço em branco com a coisa que sabe fazer bem. Escreva também aquilo que a Bíblia diz a respeito dessa área de sua vida. Por exemplo: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13). Cada vez que você começar a pensar nessa coisa negativa, pare e mencione o pensamento positivo, acompanhado de uma passagem bíblica. Três semanas é o tempo exigido para quebrar um mau hábito e substituí-lo por um hábito bom. Continue a repetir para si mesmo a verdade, até que tenha rompido o padrão negativo de pensamento.

Não se renda a mentiras e pensamentos condenatórios. Persevere. Com a ajuda de Deus você pode se superar! Clame ao Senhor cada vez que falhar. Depois, recomece tudo outra vez. Você já reparou quantas vezes Deus repete uma verdade quando está tentando encorajar alguém? No primeiro capítulo de Josué, Deus disse quatro vezes a ele que não tivesse medo. Por quê? Porque Josué precisava ser lembrado a pensar os pensamentos de Deus sobre ele próprio. Josué se preparava para entrar em combate e carecia desse incentivo. Tenho certeza de que ele repetiu as palavras do Senhor, muitas e muitas vezes.

A causa mais comum da depressão é ter pensamentos depreciativos e condenatórios, ou de reprovação, com relação a nós mesmos. Para romper o ciclo de depressão, devemos seguir os passos sugeridos aqui e, em seguida, decidir que nunca mais nos entregaremos à autocensura! A fim de quebrar o costume de pensar negativamente, devemos pensar os pensamentos de Deus.

O mesmo princípio se aplica às reações que vão além de meros pensamentos e se transformam em ações. Se você detectar alguns "padrões de reação" negativos, defensivos ou egoístas na vida, escreva-os. Ao lado deles escreva como Deus deseja que você responda em situações ameaçadoras que o tornam defensivo. Ao se perceber agindo de modo negativo ou egoísta, você deve parar e orar. Depois, escolha o modo pelo qual Deus quer que você reaja.

Peça ao Senhor que o torne capaz de pôr esses pensamentos e escolhas em ação. Quando falhar, peça o seu perdão e prossiga. Se o diabo disser que você "fracassou outra vez", concorde com ele, mas diga-lhe que se recusa a lamentar! Aceite a responsabilidade do fracasso, peça o perdão ou a ajuda de Deus e prossiga! Trabalhe no problema até estabelecer novos hábitos. Lembre-se de que foram anos para desenvolver hábitos negativos, portanto não desista: isso porque em

algumas semanas ou meses você pode substituí-los pelos padrões de Deus. Comece com um ou dois hábitos de cada vez, então passe para os outros. Se fizermos o possível, Deus fará o impossível para nós.

Sétimo passo - Persevere

A conclusão é 90% do sucesso! A Bíblia diz: "Se perseveramos, com ele também reinaremos. Se o negamos, ele também nos negará" (2Tm 2.12). A perseverança apresenta dois aspectos. Se de um lado significa compromisso de nossa parte de não desistir, ou determinação em terminar a tarefa, por outro lado, diz respeito à capacidade da parte de Deus. Ele nos concede a graça de terminarmos aquilo que nos chamou a realizar. As suas ordens são também a sua promessa de vitória.

Às vezes, você pode pensar que é impossível perseverar até o fim. Pode ser que tenha razão! Contudo, chegando ao término daquilo que é possível para nós, podemos então ver Deus fazer o impossível. A fé ainda não foi exercida enquanto não cremos em Deus para o impossível. Não precisamos de fé para fazer o possível. Assim, se você estiver enfrentando situações impossíveis na vida, dê graças a Deus, pois agora pode começar a praticar a fé.

Por que a perseverança representa um passo no processo curativo de Deus em nossa vida? Porque desistir é o que nos torna vulneráveis a sentimentos de rejeição, raiva, mágoa, ressentimento, luxúria, desconfiança, ou o que for que esteja nos infectando. Por vezes queremos que Deus realize um milagre e desfaça todos os nossos problemas, agora mesmo. No entanto, nosso Pai nos está conduzindo em um processo que nos prepara para reinar com ele. Visto que deseja nos moldar e refinar, ele permite que experimentemos tentações que nos forçam a fazer escolhas.

É como diz minha amiga Joy Dawson: "O importante é como você termina!". Diz o apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios:

Vocês não sabem que de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos

para ganhar uma coroa que dura para sempre. Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado (1Co 9.24-27).

Fracassaremos ao longo do caminho; contudo, se confessarmos nossos pecados, desviando-nos deles, e mediante a fé decidirmos rejeitá-los, receberemos o perdão de Deus e um novo começo. Ele é o Deus dos novos começos. Nossa parte é nos humilhar e nos desviar do pecado e do fracasso; a parte de Deus é perdoar e conceder novo começo. Ele tem prazer em fazer isso, pois é o nosso Pai e um Deus de amor.

Ele está trabalhando em você. A luta faz parte do processo curativo vitorioso. Você aprende lições valiosíssimas: humildade, perdão, compaixão e perseverança. Prossiga. Estamos em plena guerra, mas do lado vitorioso! Jesus é o vencedor! "Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus." (Fp 1.6)

Deus está procurando pessoas que cumprirão as suas intenções originais, ou seja, o propósito para o qual ele criou a humanidade. Ele deseja ter amizade conosco. E o Senhor não quer essa amizade apenas com um pequeno grupo de indivíduos egoístas; o seu propósito é unir em uma única família todos os que o amam. Assim, sempre que as pessoas amam a Deus, ele as reúne para desfrutar a sua profunda amizade, cuidado e apoio mútuos, celebrando também o amor, o perdão e a inteireza de caráter que ele lhes concedeu. O plano divino é que essa "unidade familiar" seja a igreja.

A família do Pai

Além dos passos que podemos cumprir como indivíduos, a "família do Pai" é igualmente um canal do seu amor e cura para as pessoas feridas. À medida que amamos, aceitamos e perdoamos uns aos outros, como irmãos em Cristo, o amor de Deus flui através de nós para que nos curemos mutuamente. Por intermédio de nossos irmãos na família de Deus, ele

provê o tipo de amor e de aceitação que nos libertam dos temores, permitindo-nos experimentar maior inteireza como seres humanos.

Na família de Deus podemos mostrar interesse genuíno pelo próximo sem medo de rejeição. Podemos aceitar o próximo a despeito de suas fraquezas. Podemos ser nós mesmos sem medo de rejeição. Tudo isso é verdade em virtude da graça de Deus. É a graça de Deus, o seu amor não merecido, que faz tudo isso por nós. Não possuímos em nós mesmos a capacidade de ser assim tão amorosos, mas Deus nos capacita a amar. Não temos a habilidade de curar uns aos outros, mas por nosso intermédio Deus cura os outros. Todo cristão abriga esse ministério. Cada um de nós pode ser um “doador da graça”.

A essa altura é importante fazer uma breve advertência. Se estivermos feridos emocionalmente, devemos ter muito cuidado para não fazer das pessoas a fonte de cura para nossa vida. As pessoas não podem nos dar aquilo que apenas Deus nos pode dar. Se quiser que as pessoas o curem, você ficará facilmente desapontado. Preste o máximo de atenção ao Pai celeste; somente ele é capaz de curá-lo por completo. Deus muitas vezes fará isso por intermédio de pessoas, mas ele é a fonte, e as pessoas são os canais. A cura emocional é quase sempre um processo. Demanda tempo. Para isso, há uma razão importante: o nosso Pai celeste não deseja simplesmente libertar-nos da dor deferidas passadas, ele almeja também levar-nos à maturidade espiritual e emocional. Tal processo exige tempo e tomada de decisões acertadas. Ele nos ama a ponto de tomar os meses e os anos necessários não apenas para curar as feridas, mas também para edificar nosso caráter.

Sem o crescimento de caráter, seremos feridos de novo. Cometeremos atos imprudentes, egoístas, que nos machucarão ou provocarão outras pessoas a nos ferir. Uma vez que Deus nos ama, ele aguarda nosso desejo de buscar esse tipo de crescimento de caráter; espera que estejamos prontos para ser curados. Com freqüência, nossa reação correta diante de outras pessoas libera a força de cura em nossa própria vida.

Guia de estudo

(Capítulo 4 - Cura Proveniente de um Pai

Amoroso)

Leia João 7, 8 e 9

É importante que você encontre um lugar sossegado e um tempo adequado para essa lição.

Antes" de começar esta seção, reveja as três lições anteriores. Qualquer pergunta que não tenha respondido por completo deve ser concluída agora. À medida que as relê, é provável que o Senhor lhe dê um maior discernimento.

É importante também perguntar a si mesmo agora: "Estou pronto para assumir a responsabilidade de minhas ações na(s) área(s) que o Pai revela a mim e pedir seu perdão por meu egoísmo e rebelião contra ele"?

Isso não significa que tenha de expor a dor e a mágoa que encontrou em sua vida. Ao contrário, significa mostrar que a maneira de respondermos, muitas vezes para proteger a nós mesmos, com freqüência demonstra que tiramos Cristo do centro. Nesses casos, precisamos reconhecer nosso pecado e buscar o perdão do Pai.

É melhor ser o mais específico possível enquanto relembra esses incidentes e confessar suas respostas erradas em detalhes a seu amoroso Deus-Pai.

Orientações para a cura emocional

1. Reconheça sua necessidade de cura. Admita sua necessidade de ajuda. Seja honesto com seu Pai. Ele é capaz de orientá-lo e guiá-lo.

2. Confesse seus pecados. Eles devem ser confessados somente no nível em que foram cometidos.

Pecado secreto - Um pecado do coração ou mente que nunca foi praticado ou falado a outros. Precisa ser confessado somente ao Pai.

Pecado particular - Peça perdão à pessoa contra quem você pecou. Pecado público - Peça perdão ao grupo. 3. Confesse suas emoções negativas - sentimentos de ira, medo, amargura,

decepção, ressentimento etc. Não apresentar nenhuma emoção pode ser tão prejudicial quanto ter uma emoção negativa. Sempre converse com Jesus primeiro e, depois, se for necessário, com outros.

4. Perdoe aqueles que o magoaram. Geralmente isso é um processo, não

um ato instantâneo. 5. Receba perdão. Peça e receba o perdão do Pai por suas práticas erradas e/ou

atitudes para com os outros. 6. Receba o amor do Pai. Desfrute um tempo na presença do Pai. 7. Pense os pensamentos de Deus - não pensamentos negativos, defensivos,

egoístas. Quebre os antigos padrões de pensamento sobre si mesmo. Quando começar a pensar de forma negativa, pare e declare a verdade de Deus sobre esse pensamento e encontre um texto das Escrituras para reforçá-lo.

8. Resista. Abandone os sentimentos negativos que o tornam vulnerável.

Leia e memorize Filipenses 1.6.

Uma boa idéia é fazer uma lista das coisas específicas que você está confessando. Então você provavelmente descobrirá um padrão em sua vida que, quando reconhecido e confessado para arrependimento, pode ser alterado por Deus-Pai. Não é bom que guarde essa lista. Ela pode causar-lhe constrangimentos se for lida por mais alguém, mas pode servir-lhe de ajuda inicialmente.

Lembre-se - a cura emocional é quase sempre um processo. Leva tempo.

É de suprema importância que você não retorne às pessoas e a colocar seu foco nelas como a fonte da cura. O Pai celestial é o único capaz de curá-lo completamente. Ficamos decepcionados quando queremos que, em sua inabilidade, as pessoas façam por nós o que somente Deus pode realizar.

5. A Essência do Desapontamento

Jerusalém inteira pulsava de emoção naquele dia. Depois de muitos anos de guerra civil, a nação se unia de novo, e seus inimigos do sul foram derrotados. E o mais importante, depois de vinte anos de esterilidade espiritual, a adoração estava sendo restabelecida na nova capital do reino. O reinado de Saul terminara com sua morte no campo de batalha, e o líder agora era o jovem Davi. Tinha sido uma longa noite, e a aurora finalmente surgia.

Davi havia declarado à nação que devolveria a arca do Senhor à Jerusalém. Dezenas de milhares de pessoas se amontoavam na cidade para celebrar a vitória. Cada família e cada tribo estavam representadas, e as multidões se mostravam entusiasmadas em razão de tanta expectativa.

"Certamente Deus está satisfeito", teria pensado Davi. E ele teria refletido também: "Agora o seu povo está unido, e podemos adorar ao Senhor uma vez mais. Contudo, quão triste foi Saul não ter honrado ao Senhor trazendo de volta a arca de Deus. Mas esta não é uma ocasião de tristeza. Também me regozijarei diante do Senhor".

Davi e todos os israelitas iam cantando e dançando perante o SENHOR, ao som de todo tipo de instrumentos de pinho: harpas, liras, tamborins, chocalhos e címbalos (2Sm 6.5). De maneira inesperada, a tragédia aconteceu. Os bois tropeçaram e o jovem Uzá esticou o braço para segurar a arca. No mesmo instante caiu ao chão, morto! Davi ficou atônito, contrariado. O que significava isso? O silêncio ia caindo sobre as pessoas à medida que a notícia se espalhava pela multidão.

Ódio, vergonha e medo desceram simultaneamente sobre Davi. "Por que, Senhor?", suplicou ele. "Por que agora? Estou fazendo o que ordenaste. Por que Uzá? Ele apenas tocou a arca."

Embora Davi estivesse confuso, sabia que não poderia prosseguir com a arca enquanto não soubesse por que Deus julgara suas ações. A decepção tomou conta dele. Se pelo menos ele soubesse o porquê disso... o que teria feito para desagradar ao Senhor?

Será que você consegue imaginar a tristeza de Davi enquanto caminhava de volta para casa sozinho naquele dia? Tudo havia começado

com a impressão de que a festa seria maravilhosa. Sem dúvida, ele se debatia em sentimentos de fracasso e condenação pessoal e, ao mesmo tempo, na ira que sentia contra Deus.

Davi ficou contrariado porque o SENHOR, em sua ira, havia fulminado Uzá. Até hoje aquele lugar é chamado Perez-Uzá. Naquele dia Davi teve medo do SENHOR e se perguntou: "Como vou conseguir levar a arca do SENHOR?" (2Sm 6.8,9).

A maioria de nós consegue se identificar com os sentimentos de Davi. Nós também, em um período ou outro, já saímos pela fé e enfrentamos decepções e épocas difíceis. "Por quê?" é a pergunta que fazemos repetidamente.

O desapontamento ou decepção também pode ter origem na reação das pessoas a nós... Elas são capazes de nos abandonar nas iras em que mais precisamos delas e, muitas vezes, deixam de estar à altura de nossas expectativas.

Independentemente da causa, a decepção carrega o potencial para mágoa, desânimo, amargura, ira, incredulidade e medo. Os efeitos de decepções extremas podem permanecer conosco meses e anos a fio, impedindo o relacionamento com Deus, nosso Pai. Por isso é tão importante que aprendamos a tratar da decepção de maneira construtiva, notando os propósitos divinos ao permitir que experimentemos tal desapontamento.

Em seu livro Dont Waste Your Sorrows [Não desperdice suas lágrimas], Paul Billheimer ressalta que as decepções e desilusões podem ser fonte de grandes bênçãos, se reagirmos a elas da forma correta. Nada poderá nos magoar emocionalmente, a menos que nos faça reagir com atitude errada. As circunstâncias causadoras de decepção passarão, mas as reações da pessoa a elas determinam escolhas morais e espirituais que podem influenciar para sempre a sua vida.

Enquanto existirem pessoas, haverá também decepções. Certo dia, um amigo me disse, brincando: "Vamos ter unidade aqui, custe o que custar, ainda que eu seja o único a sobrar!". A solução dos desapontamentos impõe o aprendizado de saber lidar com as fraquezas humanas. Exige que desenvolvamos paciência e flexibilidade, além de uma compreensão mais profunda dos caminhos de Deus. Temos de aprender a reagir da forma que

Deus quer que reajamos em todas as circunstâncias. Isso não significa que nos tornaremos capachos humanos, mas sim, que reagiremos com atitude parecida com a de Cristo, pouco importando o modo pelo qual somos tratados.

Aprendendo a comer em paz

Os cristãos que aprendem a amar e aceitar uns aos outros se parecem com irmãos e irmãs que aprendem a comer juntos pacificamente. Lembro-me de como eu provocava meu irmão e minha irmã durante o jantar. Mas também me lembro de que brigas à mesa eram coisa que meu pai não suportava! Ele insistia conosco para que aprendêssemos a comer juntos em harmonia.

Algumas de nossas decepções se originam das expectativas imaginárias que temos uns dos outros. O fato de se tornar cristão não significa perfeição instantânea. Precisamos aprender a amar nossos irmãos e irmãs, da mesma forma que aprendemos a "comer em paz”.

Quando se sentir decepcionado com as ações de um irmão, não o "desligue" nem o exclua da comunhão. É bem possível que Deus o tenha trazido à sua vida para ensinar a você preciosas lições. Disse o salmista Davi: "Por tua fidelidade me castigaste" (SI 119.75).

As pessoas que consideramos de difícil relacionamento poderão constituir uma "aflição" amorosa da parte do Senhor. Se você e eu fossemos tão amorosos como muitas vezes imaginamos que somos, não teríamos problemas para reagir bem diante de pessoas "de difícil convívio". Acredito que Deus permite, e às vezes determina, experiências duras em nossa vida para expor as fraquezas de caráter, as atitudes erradas, de maneira que possa resolvê-las.

Vencendo o orgulho

Davi foi obrigado a tratar de sua decepção quando Uzá perdeu a vida, o que custou ao rei um ato grandioso de humildade. Ele poderia ter endurecido o coração no orgulho, culpando a Deus pelo acontecido. Ao contrário, buscou ao Senhor para saber o que fizera de errado e quais

lições Deus tinha para ele. Davi aprendeu a humilhar-se, a fim de descobrir os propósitos de Deus nessas circunstâncias tão trágicas.

Ser humilde não significa apenas mostrar honestidade, mas também adotar as perspectivas de Deus. Muitos são impiedosamente honestos, porém não continuam a assumir o lado de Deus contra o pecado, tampouco adotam a atitude divina para com o pecador. As duas coisas são necessárias se queremos aprender com as desilusões e decepções da vida.

Para as pessoas que aprenderam a perguntar a Deus por que ele permitiu que certa situação ocorresse, ou o que ele pretende lhes ensinar mediante tais circunstâncias, os desapontamentos produzem formidável crescimento e elevada compreensão espiritual. Todavia, o orgulho representa a maior barreira para o aprendizado por meio das dificuldades e decepções. Embora possamos pensar que nossa maior necessidade nos períodos de desapontamento seja a tolerância, acredito que nossa necessidade mais urgente é reconhecer o próprio orgulho. A vitória sobre o orgulho é a chave para a obtenção de pleno êxito e sabedoria diante das decepções. Considere os seguintes sintomas e veja como podem nos prejudicar, impedindo-nos de reagir da maneira certa:

• O orgulho vê os erros dos outros, mas jamais se identifica com as fraquezas deles.

Quando nosso próximo erra, poderíamos reagir assim: "Muito bem, eu mesmo já

cometi essa bobagem"; ou "Entendo o que aconteceu; se não fosse pela graça de

Deus eu teria feito o mesmo".

• Em geral, o orgulho não admite o erro nem a responsabilidade pessoal. Quando

admite, é para desculpar o erro ou arranjar uma explicação plausível, e não há

pesar pelo erro cometido.

• O orgulho lança a culpa nos outros, criticando e demonstrando por que estão

errados.

• O orgulho produz endurecimento, arrogância, auto-suficiência e independência

doentia.

• O orgulho está mais interessado na aceitação aos olhos das pessoas do que em estar

em perfeita harmonia com os padrões de Deus.

• O orgulho se interessa mais em vencer discussões do que em manter amigos.

• O orgulho jamais pronuncia as palavras: "Estou errado. A culpa é minha.

Você me perdoa?".

• O orgulho gera atitude de exigência. Ressalta o que não foi feito por nós, em vez

do que foi feito. Cobiça o passado, ou o futuro, e jamais se satisfaz com o presente.

• O orgulho divide. Diz: "Meu" grupo ou "minha" igreja ou denominação contém

mais verdade do que as outras.

• O orgulho leva a pessoa a julgar as situações conforme o que significam para o

homem, e não para Deus. O orgulho não vê da perspectiva divina.

• O orgulho faz intrigas, estraçalha índoles, arruína reputações e tem prazer em

espalhar boatos sobre fracassos e pecados.

• O orgulho põe a culpa em Deus e em outras pessoas quando as coisas vão mal.

• O orgulho arranja desculpas para a amargura e o ressentimento.

• O orgulho induz à autopiedade, exigindo cada vez mais autocomiseração.

• O orgulho afirma que qualquer pessoa pode atingir um nível tal de espiritualidade, que

por fim fica livre do próprio orgulho. Ele põe toda a sua segurança em uma forma

grotesca de retidão de si próprio, e não na cruz de Jesus Cristo.

Foi na experiência mais dolorosa e decepcionante de minha vida que aprendi algo sobre o orgulho: meu próprio orgulho e o dos outros.

Eu já ouvira falar de divisões dentro da igreja, de conflitos profundos e destrutivos entre os próprios cristãos, todavia jamais tive em mente que isso poderia acontecer comigo.

Em nosso corpo de crentes, tínhamos dirigido grande ênfase a nossos relacionamentos, nossa unidade, a ser uma "família", e eu sentia orgulho do fato de termos grande proeminência moral na igreja. Quando eu analisava os demais grupos, sentia desgosto de sua superficialidade e sua falta de calor pessoal, embora não admitisse tal coisa naquela época. Não conseguia me imaginar identificado publicamente com certos setores do corpo de Cristo por causa de sua perspectiva apática da evangelização, bem como da falta de um discipulado radical.

Eu ensinava as prioridades do corpo de Cristo, ressaltando um estilo de vida digno do Reino de Deus. Com enorme convicção, achava que a igreja era uma comunidade de crentes e, assim, dava grande importância a esse tipo de relacionamento. Continuo ensinando essas coisas, mas há dez anos eu as ensinava de modo tão extremo, que Jesus já não era o centro de minha vida — outros crentes o eram.

Éramos uma comunidade cujos membros haviam se tornado presunçosos, arrogantes consigo mesmos. Nós nos considerávamos crentes especiais, únicos, e quando isso aconteceu ficamos sujeitos a grandes problemas.

Tínhamos estabelecido padrões tão elevados para nós mesmos, que se tornou impossível aos outros crentes viver à altura deles — e tampouco nós podíamos. Finalmente, todos nos voltamos uns contra os outros. O Natal de 1975 foi o dia mais triste de minha vida. Na manhã daquele dia me vi sentado na cama, contemplando os cacos de meus sonhos. Eu sonhara com uma comunidade amorosa, constituída de pessoas que haveriam de viver o evangelho de forma tão radical, que faríamos o mundo todo estremecer. No entanto, eu me esquecera de calcular a depravação humana e de incluí-la na equação do sucesso. Nosso fracasso foi tão horroroso e fiquei tão magoado com meu pecado e o dos outros, que cheguei a desacreditar da própria vida.

Não consigo descrever essa dor. Senti-me esmagado, rejeitado, traído e, algumas vezes, enraivecido contra as pessoas a quem eu tanto amara. Aquele pequeno paraíso de amor e cura se transformara em um inferno de relacionamentos rompidos. Eu enfrentava então a brutal realidade do horror daquilo em que nos tornamos quando a graça de Deus já não estava controlando a nossa vida.

Hoje olho para trás, para aqueles dias terríveis e meses sombrios, com grande gratidão a Deus. Para mim foi o período mais doloroso — e também o melhor. Deus operou mais naqueles dias de divisão e sonhos desfeitos, a fim de mostrar minha profunda insegurança e orgulho, do que no restante de minha vida. Ao mesmo tempo, ele demonstrou naquela época mais da sua misericórdia, do seu amor e da sua fidelidade para comigo do que eu jamais poderia sonhar que fosse possível.

Graças ao sentimento doloroso naquela fase, à cura e à redenção que ocorreram quando me humilhei diante de Deus e dos outros, aprendi muitas lições. Quando a percepção finalmente chegou a mim, Deus me revelou as raízes das atitudes erradas com relação aos outros. Chorei enquanto o ouvia sussurrar em minha mente: "Eu te perdôo e restauro tudo quanto foi perdido".

Foi essa experiência que me levou a uma conscientização mais aguçada dos perigos do orgulho, além de uma ternura imensa por aqueles que sofreram injúrias e decepções em seus relacionamentos.

Coração humilde

Davi humilhava-se continuamente. A Bíblia diz que ele era um "homem segundo o coração de Deus". Foi Davi quem escreveu no salmo 51: "Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás" (v. 17).

Para Davi, contrição não significava desespero nem total ausência de esperança, tampouco estar ferido. Significava humildade, o oposto de orgulho. Em razão disso, Davi aprendia com cada decepção em sua vida.

Se quisermos aprender a confiar no Senhor e a conhecê-lo como nosso Pai, tal como Davi o fez, precisamos humilhar-nos diante dele. Quando as coisas vão mal, para nossa escolha temos duas alternativas: procuramos as razões pelas quais Deus o permitiu ou tornamo-nos endurecidos e orgulhosos. Não há meio-termo. Nenhuma mistura de humildade e orgulho poderá garantir os resultados desejados por Deus. Ainda que não tenhamos feito nada errado em alguma situação, precisamos aprender a perdoar e a abençoar os inimigos. Isso somente acontece quando temos coração humilde.

A seguir, uma relação de perguntas simples que aprendi a fazer a mim mesmo e, comprovadamente, valiosas no trato de nossas decepções:

l. Senhor, o que é que queres ensinar-me nesta situação? Que atitude devo tomar? Qual deve ser minha reação? Se for o caso, que princípios bíblicos violei nesta situação?

2. Teria havido alguma desobediência de minha parte quanto a alguma ação, horário, pessoas envolvidas ou procedimento?

3. Senhor, tenho de perdoar a alguém neste desapontamento?

4. Será que preciso procurar aconselhamento com um crente piedoso, que me ajude nesta situação? Poderias tu, Senhor, conceder a tal pessoa uma visão de minha vida, necessidades e reações, o que me ajudará a aprender o que queres ensinar-me?

5. Senhor, estou espiritualizando demais esta situação e, por isso, perdendo algumas lições práticas que preciso aprender?

6. Senhor, quais são os ajustes e mudanças que preciso introduzir em minha vida? Ajuda-me a dar os passos necessários para crescer.

7. A quem eu deveria servir agora, em vez de ficar remoendo os problemas?

Algumas vezes é muito difícil "interiorizar" as lições da vida. Se fomos criados sem o exemplo de pais piedosos, ou sem disciplina sábia e amorosa; aplicar as lições ministradas pelas dificuldades e decepções pode ser complicado e até ameaçador. Se esse for o caso, você pode estar com a tendência de se sentir rejeitado, dominado por autoridade de "mão pesada', ou muito temeroso, em uma situação criada por Deus com o propósito de ajudá-lo a crescer. Pelo visto, você precisará de ajuda para entender como crescer e aprender com os desapontamentos.

Quando Jesus se ajoelhou sozinho para falar com o Pai, naquela noite dolorosa no jardim do Getsêmani, seu coração estava pesado. Ele enfrentava a última provação — a morte. Deus-Pai lhe havia pedido algo muito difícil, mas Jesus não estava sendo obrigado a agir contra a sua vontade. Aceitou o plano do Pai porque o conhecia e nele confiava.

Disse Jesus: "Não seja como eu quero, mas sim como tu queres" (cf. Mt 26.39,42). Visto que ele conhecia o coração de Deus, obedeceu-lhe

incondicionalmente. Não se tratava de uma reação forçada a um Pai intransigente, mas de uma resposta confiante a um amor conhecido.

A maneira pela qual tratamos a decepção e reagimos àquilo que Deus deseja fazer em nossa vida revela, talvez muito mais claramente do que qualquer outra coisa, quão seguros nos sentimos com o amor de Deus e quão perto estamos do coração paterno do Senhor.

Guia de estudo

(Capítulo 5 - A Essência do Desapontamento)

Leia João 10, 11 e 12

1. Numa escala de 1 a 10, com que freqüência você experimenta

sentimentos de decepção? (1=nunca; 10=sempre) 2. Como você lida com o desapontamento? Ele o faz ficar exasperado,

constrangido, magoado, desencorajado, incrédulo etc? Faça uma lista de todos os sentimentos que experimenta quando sofre um desapontamento.

3. Desapontamentos podem resultar em um tremendo crescimento pessoal e

um profundo entendimento espiritual. Você se encontra em algum ponto onde possa perguntar ao Pai por que ele causou ou permitiu a situação de desapontamento e o que ele quer que aprenda em meio a tudo isso?

4. Você tem expectativas fantasiosas a respeito de si mesmo por causa de

outras pessoas — causando dessa forma seu próprio desapontamento? Faça uma lista das pessoas que mais o desapontam e descreva como elas o fazem.

5. À medida que aprendermos a tratar uns com os outros superaremos as

expectativas fantasiosas que causaram desapontamento no passado. 6. Que tipo de atitude devemos ter em resposta a toda e cada circunstância?

Explique por que e o que essa atitude pode causar. 7. Como Davi, precisamos aprender a nós mesmos a fim de sermos

receptivos para o cumprimento do propósito de Deus em nós em meio ao desapontamento. O que de melhor você pode fazer em relação a isso?

8. Qual a maior barreira para aprender por meio da dificuldade e do

desapontamento? Explique por quê. 9. Nas páginas 66-7 há uma lista de 15 sintomas de orgulho. Discuta

esses sintomas com o Pai e com seu cônjuge ou com um amigo próximo para ver se alguns deles estão evidentes em sua vida. Faça uma lista daqueles que são evidentes em você. Ore para ter um coração aberto durante esse tempo a fim de descobrir áreas com as quais precisa tratar.

10. Explique como colocamos nossas expectativas em outras pessoas,

levando-nos a pôr o nosso foco nelas ou em nós mesmos em vez de no Senhor, o que pode resultar em relacionamentos desfeitos.

11. Leia e releia as perguntas das páginas 70-1. Familiarize-se com elas de tal

maneira que, da próxima vez em que ficar desapontado, questione a si mesmo e seja capaz de crescer e aprender a partir do desapontamento, em vez de sofrer com a autopiedade (isto é, orgulho).

6. O Coração Partido de Deus

Depois de longa semana de conferências e aconselhamento na Noruega, eu estava cansado de tanta gente. Gosto muito do que faço, mas ao final de seis dias de dezoito horas de trabalho, eu queria apenas estar sozinho.

Saltando do táxi, na frente do Aeroporto Internacional de Oslo, orei silenciosamente ao Senhor. O pedido era bastante simples: tudo o que queria era um assento no avião que tivesse espaço extra para as pernas (para minha estrutura de mais de 1,90 metro), de modo que pudesse me esticar e descansar um pouco no vôo de volta a Amsterdã.

Caminhei pelo corredor central do avião, ligeiramente encurvado =a não bater com a cabeça no teto. Encontrei uma fileira de assentos vazios, o que significava espaço extra para as pernas e, pronto, um vôo tranqüilo. Sorri para mim mesmo enquanto me acomodava no assento do corredor, pensando em como Deus fora bondoso ao responder à minha oração, concedendo-me um pouco de descanso e paz. "Deus sabe como estou cansado", pensei enfim.

Enquanto eu colocava a pasta sob o assento à frente, um homem sorridente, um tanto desleixado, veio subindo pelo corredor e me cumprimentou ruidosamente:

— Olá! Você é americano?

— Sim... sim, sou — respondi sem vontade.

Eu havia escolhido o assento do corredor, imaginando que seria mais improvável alguém se sentar ao meu lado, pois teria dificuldade de passar por cima de minhas longas pernas! O homem sentou-se na fileira atrás, mas não lhe prestei maior atenção e comecei a ler.

Alguns minutos depois, a cabeça do homem reapareceu no cantinho:

— O que está lendo? — perguntou, espiando por cima de meu ombro.

— A Bíblia — respondi, um tanto impaciente.

Será que ele não percebia que eu queria ficar sozinho? Acomodei-me novamente no assento, mas minutos depois senti o mesmo par de olhos me espreitando por cima dos ombros.

— Que tipo de trabalho você faz? — perguntou ele.

Não desejando iniciar uma conversa que poderia se prolongar, respondi de forma breve:

— Um tipo de trabalho social.

Esperava que o homem não se interessasse mais por mim. No entanto, fiquei bastante aborrecido com minha própria declaração; não tinha sido suficientemente clara, e não me atrevia a dizer-lhe que meu trabalho era suprir ajuda a pessoas necessitadas no centro de Amsterdã. Com certeza, isso provocaria mais perguntas.

— Você se incomoda se eu me sentar ao seu lado? — perguntou o homem enquanto passava por cima de minhas pernas cruzadas. Ele parecia não perceber o esforço que eu fazia para evitá-lo. Cheirava a álcool e acuspinhava, por isso meu rosto era borrifado com saliva enquanto ele falava.

O homem era realmente perturbador. A falta de sensibilidade dele arrasara com todos os meus planos de uma manhã tranqüila. "Ó Senhor! Por favor, ajuda-me!", gemi lá no íntimo.

A conversa a princípio foi lenta. Respondi a algumas perguntas sobre meu trabalho em Amsterdã. Comecei a imaginar por que o homem queria tão desesperadamente falar comigo. À medida que a conversa se desenvolvia, percebi que a parte insensível era eu.

— Minha esposa era como você — disse o homem, depois de algum tempo. — Ela orava com nossos filhos, cantava com eles, levava-os à igreja...

Com os olhos marejados, o homem prosseguiu calmamente:

— Ela foi a única pessoa amiga que já tive.

— Já teve? Por que você se refere a ela no passado? — perguntei.

— Ela morreu.

A essa altura, as lágrimas começavam a lhe descer pelas faces.

— Ela morreu há três meses ao dar à luz nosso quinto filho. Então, suspirou ele:

— Por que... por que o seu Deus levou embora minha esposa? Ela era tão boa. Por que não levou a mim? Por que ela? E agora o governo diz que não tenho capacidade para cuidar de meus próprios filhos. Eles também se foram!

Tomei a mão dele e juntos choramos. Como eu havia sido egoísta! Estava pensando só em minha necessidade de um pouco descanso, enquanto esse pobre homem precisava desesperadamente de ajuda.

Ele prosseguiu com a história, dizendo que logo depois da morte da esposa uma assistente social nomeada pelo governo recomendou que o Estado cuidasse das crianças. O homem ficara tão transtornado pelo sentimento de tristeza, que deixou de trabalhar e acabou perdendo o emprego. Em poucas semanas, ele tinha perdido a esposa, os filhos e o emprego. Os feriados de fim de ano se aproximavam, e ele não podia suportar a idéia de ficar sozinho em casa durante o Natal. Agora estava tentando afogar, literalmente, as tristezas.

A amargura dele era quase grande demais para receber algum consolo. Esse homem fora criado por quatro padrastos e nunca conhecera o verdadeiro pai. Todos os quatro haviam sido homens ásperos. Quando mencionei Deus, ele berrou:

— Deus? Acho que se Deus existe ele é um monstro cruel. Como é que um Deus amoroso poderia fazer uma coisa dessas comigo?

Continuando a conversar com esse homem ferido, sofredor, lembrei novamente que muitos neste mundo não têm uma compreensão de Deus como Pai amoroso. Falar de um Deus-Pai amoroso apenas evoca dor e fúria nessas pessoas. Falar-lhes do coração paterno de Deus, sem demonstrar compaixão pela dor que sentem, beira a crueldade.

A única maneira pela qual eu poderia ser amigo daquele homem, durante a viagem de Oslo a Amsterdã, era ser o amor de Deus para ele. Não procurei lhe dar respostas prontas. Simplesmente deixei que ele manifestasse sua raiva e, em seguida, lhe ofereci compaixão para as feridas. Ele queria crer em Deus, mas bem no íntimo o senso de justiça dele havia sido violentado. Esse homem precisava de alguém para lhe dizer que a raiva dele era justificada, que Deus também se irava

com a injustiça. Depois de ouvir o homem, cuidar dele e chorarmos juntos, chegara o momento em que ele estava pronto para ouvir que Deus estava mais ferido do que ele mesmo, por causa do que acontecera com sua esposa e família.

Ninguém lhe havia falado, jamais, que Deus também conhecia e partilhava a dor de um coração partido.

Ele ouviu em silêncio enquanto lhe expliquei que a criação de Deus, degenerada pelo pecado e pelo egoísmo, tornou-se completamente diferente de quando foi criada, no princípio. Em seguida, ele fez a pergunta feita por todos nós: "Por quê?". Por que Deus criou algo que poderia se tornar decaído, degenerado? Se é um Pai amoroso, por que permite todo esse sofrimento?

Partilhei com esse homem algumas respostas que me têm ajudado.

O sofrimento e nossa reação a ele

Muitos não conseguem compreender que um Deus bom pode permitir o sofrimento. Todavia, se não existisse um Deus pessoal e infinito, o sofrimento perderia todo seu sentido. Se Deus não existe, o homem não passa de um produto complexo do tempo e do acaso — o resultado do processo evolucionário. Se isso for verdade, então o sofrimento não passará de um problema físico-químico. Se Deus não existe, não há absolutos morais e, portanto, não existe base para determinar se alguma forma de sofrimento é moralmente errada. Ao negarem a existência de Deus, homens e mulheres negam o significado último da própria vida, contestando também assim a base para afirmar que o sofrimento é errado. Sem Deus, nem mesmo poderiam perguntar: "Por que os inocentes sofrem?", já que não existiria a inocência. A própria inocência implica a existência de culpa, e a culpa implica a questão de que algumas coisas são moral e absolutamente erradas.

Acredito que o sofrimento é um erro, e o fato de Deus existir permite-me afirmar isso enfaticamente. Essa afirmação, porém, leva a outra importante consideração — como é que Deus se sente a respeito do

sofrimento e do mal na sua criação? A Bíblia diz que o sofrimento e o mal trazem grande pesar ao coração divino.

O SENHOR viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. Então o SENHOR arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra, e isso cortou-lhe o coração (Gn 6.5,6).

É fácil fazer perguntas acerca da justiça de Deus, contudo, se queremos viver como seus filhos e conhecer o seu coração paterno, precisamos examinar nossa reação diante do mal e do sofrimento. Será que reagimos tão profundamente quanto Deus ao mal no mundo, ao mal em nossas próprias vidas? Partilhamos a tristeza divina quanto ao pecado e à destruição que o acompanha por onde passa?

Creio que jamais experimentaremos cura completa para nossas feridas emocionais, nem receberemos por inteiro o amor do Pai, a não ser que compartilhemos a sua tristeza com relação ao pecado e ao egoísmo. A Bíblia ensina a existência de diferença entre a tristeza piedosa e a tristeza mundana, no tocante ao pecado. Paulo escreve aos coríntios:

Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte (2Co 7.9,10).

O arrependimento não é apenas sentir-se pesaroso, triste, mas suficientemente pesaroso para desistir. A tristeza piedosa (segundo Deus) exige mais do que simples confissão de pecados. Se confessamos nossos pecados, mas continuarmos a praticá-los, não experimentaremos verdadeiramente a tristeza segundo Deus. Tampouco o arrependimento significa apenas sentir-se mal a respeito de algo que fizemos. Por vezes nos sentimos mal ao ser apanhados, ou nos sentimos mal porque fomos obrigados a parar de pecar, todavia a tristeza segundo Deus não depende dos sentimentos pessoais nem dos motivos egoístas. A tristeza segundo Deus se baseia em como o pecado fere a Deus e aos outros. A tristeza

segundo Deus produz mudança de atitude diante do pecado. Começamos a odiar o pecado e passamos a amar a bondade.

A tristeza segundo Deus gera também novo respeito para com o Senhor e para com as suas leis. As leis divinas são racionais quando bem analisadas — não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não tomarás a esposa ou o marido do teu próximo e assim por diante. Obedecer a essas leis significa, simplesmente, viver da maneira como fomos criados para viver. Os carros foram “criados” para rodar em estradas, e não em canais, campos pedregosos ou encostas de montanhas. Foram feitos para funcionar à base de gasolina, e não de água ou Coca-Cola.

Assim acontece conosco. Deus nos criou para que nos amemos uns aos outros, para sermos bondosos, generosos, perdoadores, honestos, leais ao cônjuge, e para reconhecermos a Deus e vivermos em comunhão com Ele. O verdadeiro sentido de nossa vida reside em amar a Deus e obedecer a Ele. Quando amamos a Deus, vem naturalmente o desejo de cumprir as suas leis. Não devíamos nos esforçar para o respeitar as leis de Deus apenas com o objetivo de seguir para o céu, escapar do inferno, ser respeitados ou ganhar alguma coisa do Pai. Devíamos obedecer às leis de Deus porque Ele nos ama e porque desejamos responder ao seu amor sendo-lhe agradáveis com palavras e ações. A obediência deve ser uma reação amorosa à ação de Deus.

Em Amsterdã, há leis que proíbem o marido de bater na mulher. Eu não agrido minha esposa, tampouco é preciso que um policial me siga por toda a parte com um revólver na minha nuca, dizendo: “Estou bem atrás de você, então é melhor você não espancar sua esposa!” Por que não bato em minha mulher? Seria o medo da lei que me influencia? Não! É o amor.

Odiar o que Deus odeia

O ato de compartilhar do coração partido de Deus também nos liberta para podermos odiar o que Deus odeia, sem achar que perdemos nossa integridade. Muitos odeiam a Deus por causa da religião. Eles associam o Senhor a todo o lixo e hipocrisia que vêem nas igrejas e, por isso, rejeitam a Ele também.

Acredita-se que 90% dos agnósticos desistiram de Deus por causa da falsa imagem de Deus, ou de Cristo, que receberam em encontros desastrosos com a igreja, ou em outras experiências pessoais. Creio que os australianos são um bom exemplo disso. Algumas pessoas, dentre as quais os próprios australianos, poderiam dizer que a maior parte deste povo pouco está ligando para Deus. Todavia, não acredito nisso. Os australianos não rejeitaram a Deus, eles rejeitaram as falsas imagens de Deus. O deus que eles rejeitam eu também rejeito.

Em uma universidade, meu amigo John Smith, australiano, disse durante uma conferência evangelística que existem três imagens falsas de Deus rejeitadas pelos australianos, pensando repudiar o Deus apresentado na Bíblia: ● O Deus da indiferença ● O Deus dos privilégios e prosperidade ● O Deus do julgamento arbitrário

Os primeiros peregrinos vieram para a América em virtude de suas convicções religiosas, ao passo que os australianos foram mandados da Inglaterra para a Austrália por causa de suas condenações, alguns por terem furtado um simples pedaço de pão. A Austrália era vista como uma gigantesca colônia penal, e muitos dos guardas de prisão eram padres e ministros. Imagine como deveria se sentir a maioria daqueles homens no tocante a Deus, uma vez exilados injustamente em um presídio australiano, tendo a sentença de condenação reforçada e endossada por padres e pastores. É como diz John Smith: “A história da Austrália faz com que muitos deixem de crer em Deus quando, na verdade, não deveriam crer é no ser humano!”.

Se você se sentiu injuriado pela hipocrisia da igreja, ou se rejeitou um Deus arbitrário que impõe aos homens leis e depois envia-os ao inferno por não obedecerem a elas, ou se você está indignado com a injustiça e a pobreza e foi apresentado a um Deus que não se interessa por ninguém, pode começar tudo de novo sem perder a integridade. Você não rejeitou o Deus da Bíblia. Você não rejeitou a Jesus Cristo!

O Deus que se revelou em Jesus Cristo odeia a hipocrisia e a injustiça. A diferença entre Deus e nós não está na ira contra a injustiça, mas no fato de Ele ser absolutamente justo, e nós não.

As pessoas, semelhantemente ao homem que encontrei no avião, ficam enfurecidas com Deus porque estão feridas, talvez em razão de decepções pessoais, talvez por causa da reação à injustiça que vêem no mundo ao redor. No entanto, uma pessoa honesta e humilde não pode permanecer constantemente irada contra Deus, pois precisa reconhecer no final das contas o próprio pecado.

Todos cometemos, até certo grua, os pecados dos maiores criminosos da história. Não gostamos de nos ver por esse prisma, mas em palavras ou em pensamentos (às vezes, em ação) manifestamos as mesmas reações que condenamos no próximo.

Condenamos Adolf Hitler sem piedade, mas será que somos igualmente impiedosos ao condenar o ódio em nosso próprio coração? “Eu não odeio os judeus”, cada um de nós pode dizer. Contudo, será que desprezamos alguém — vizinho, colega ou parente? Se já odiamos alguém, assumimos a mesma atitude que motivou Hitler e sua doutrina nazista.

O orgulhoso continua a acusar Deus porque se recusa a admitir a própria culpa. Se queremos tratar do problema do mal no mundo, precisamos começar por nós mesmos. Se não aceitarmos a própria responsabilidade, no fim rejeitaremos as explicações de Deus para a existência do bem e do mal e ainda incitaremos uma filosofia que nos desculpa por não reconhecermos o direito de Deus de governar nossa vida. Se cremos em Deus, mas ainda o acusamos de ser injusto, jamais percebemos como nosso egoísmo entristece o seu coração.

Nosso pecado partiu o coração de Deus. Entretanto, Deus não se limitou a sentir tristeza pelo nosso pecado; Ele fez algo para saná-lo. Deu-nos seu próprio Filho como sacrifício, a fim de expiar os pecados do mundo. Merecíamos punição pela quebra das leis de Deus, porém Ele enviou Jesus Cristo para tomar sobre si a punição da humanidade.

Até certo ponto, a maior parte das pessoas sofre por causa de uma imagem pobre de si mesma, ou em decorrência de feridas emocionais, o que implica grande tentação de se tornarem egoístas. É fácil gastar muito tempo sentindo piedade de nós mesmos, ou remoendo as próprias necessidades. Por isso, é importante que enfrentemos com honestidade os perigos desse tipo de egocentrismo e, em seguida, decidamos pôr Deus bem no centro de nossa vida. Temos que tomar a decisão de estar mais interessados na dor que Deus sente no coração, por causa do egoísmo humano, do que nas

mágoas que sentimos. Ao decidirmos pôr Deus em primeiro lugar em nossa vida, romperemos os padrões da manipulação, autopiedade ou medo que nos atormentam. O Deus-Pai anseia por amar-nos como seus filhos e curar-nos as feridas, mas nada disso pode ocorrer sem que lhe entreguemos o controle absoluto de nossa vida.

Arrepender-se para receber

Se meus filhos desejam experimentar o meu amor, depois de terem feito algo errado, não podem fazê-lo ignorando as próprias ações erradas ou imaginando que meu perdão é garantido. Visto que os amo, quero ter certeza de que são sinceros ao dizer: "Sinto muito". Desejo muito abraçá-los forte, mas eu os amo tanto, que quero levá-los ao verdadeiro arrependimento. Se foram desobedientes ou egoístas, arranjo tempo até me certificar de que compreenderam o que fizeram e por que aquilo é errado para, em seguida, ajudá-los a reagir adequadamente. Quando reconhecem os delitos e expressam um pesar genuíno, então podem receber o meu amor. Eu lhes dou o amor sem levar em conta o erro deles, mas aprendi que, quando se sentem culpados por terem feito algo que sabem ser errado, não estão livres para receber e desfrutar meu amor e aceitação.

Muitas vezes pecamos porque estamos feridos, porém o sofrimento não nos desculpa. Analisar nossas reações dentro de uma estrutura psicológica de racionalização não produzirá crescimento espiritual. Ainda que outras pessoas nos tenham causado injustiça, precisamos cuidar de nossas próprias atitudes e ações. Para podermos receber o amor do Pai, devemos aceitar a responsabilidade por aquilo que fizemos, dissemos ou pensamos, pedindo a Deus que nos perdoe. Quando sabemos que estamos errados, temos de permitir que Deus faça a sua obra em nosso coração. Não podemos passar um verniz no pecado, não importa quão pequeno possamos achar que ele é.

Se cumprirmos nossa parte, dessa maneira, poderemos receber o amor do Pai na medida integral. Não podemos curar a nós mesmos, mas podemos reconhecer o próprio erro em determinada situação, de modo que nosso foco de atenção se altere, deixando de culpar o próximo, de justificar-nos ou

de sentir autopiedade. Quando agimos assim, nossa atenção se concentra naturalmente em Deus. Então, tudo pode se endireitar.

Certo garotinho rasgou uma página de uma revista cristã em que havia a foto do mundo, picou-a em pedaços e depois tentou juntar essas partes. Por fim, foi até o pai, em lágrimas, porque não conseguia ajuntar o mundo. O pai observara o filho, com muito amor, sabendo que do outro lado da página havia uma representação de Jesus. Então, ele ajudou o filho a desvirar cada pedaço, colocando-os na mesma posição e explicando ao menino perplexo que, quando Jesus está no lugar certo, podemos "reunir o mundo outra vez".

Guia de estudo

(Capítulo 6 - O Coração Partido de Deus)

Leia João 13, 14 e 15

1. Explique como Deus pretendia que o homem vivesse com ele eternamente

desde o começo da criação. 2. Você percebe como o pecado e o egoísmo fazem o homem de hoje tão

completamente diferente daquilo que Deus planejou que ele fosse? Explique.

3. Referindo-se à pergunta 2, quem é o mais prejudicado com o que

aconteceu, o homem ou Deus? Explique. 4. Em que se baseia a tristeza segundo Deus e o que ela produz? 5. No que implica o arrependimento?

6. Os sentimentos e os motivos egoístas nos levam à tristeza segundo Deus?

Sim ou não e por quê? 7. Deus nos criou para termos comunhão com ele, e por meio desse

relacionamento de amor e obediência o resultado seria natural.Portanto, nossa obediência a Deus-Pai deveria vir como uma ................................ .

8. Se os não-crentes em sua família ou entre seus amigos tivessem um

conceito verdadeiro de Deus, você acha que eles se tornariam crentes? 9. Você entende como os conceitos errados a respeito de Deus têm

feito com que muitos rejeitem a ele e a seu amor? Explique. 10. O que você pode fazer para revelar a verdade aos não-crentes na sua

família e entre seus amigos? 11. Faça uma lista das hipocrisias e injustiças que você vê na igreja hoje.

12. Você pode ver hipocrisia na sua vida? Pergunte a seu cônjuge ou a alguém que lhe seja próximo o que eles "vêem". Está disposto a tratar a hipocrisia na igreja começando primeiro a tratá-la na sua vida? Do que você precisa para lidar com isso?

13. Ainda que os atos de outras pessoas contra você possam ter sido errados e lhe causado dor e mágoa, você está disposto a ser responsável por suas próprias atitudes e reações pecaminosas, lidando com elas? Diga o quanto essa abordagem poderia mudar a sua vida.

7. O Pai que Espera

Depois Sawat havia lançado a desgraça sobre sua família e desonrado o bom nome do pai. Chegara a Bangcoc, na Tailândia, com o objetivo de escapar da monotonia da vida da aldeia. Havia finalmente encontrado agitação. Enquanto prosperava em seu sórdido estilo de vida, ganhava também popularidade.

Logo ao chegar, visitara um hotel diferente de todos os que já havia visto. Cada quarto tinha uma janela voltada para o corredor e em cada janela, uma jovem. As mais velhas riam ou sorriam. As demais, com apenas 12 ou 13 anos de idade, e algumas ainda mais novas, pareciam nervosas e até mesmo amedrontadas.

Essa visita iniciou Sawat no mundo da prostituição de Bangcoc. Tudo começou de modo inocente, mas logo o jovem foi apanhado, à semelhança de um pedaço de pau flutuando na correnteza destruidora. O rio era caudaloso e rápido e a correnteza, forte demais.

Logo ele estava vendendo ópio e servindo de intermediário para turistas nos hotéis. Desceu tão baixo a ponto de ajudar a comprar e vender meninas, algumas das quais com apenas 9 ou 10 anos de idade. Era um negócio repugnante, vergonhoso, e Sawat se destacava como um dos mais importantes "negociantes" do ramo.

Foi então que lhe puxaram o tapete, e ele caiu. Teve início um período de má sorte. Foi roubado e, enquanto tentava recuperar a posição e o prestígio perdidos, as autoridades o prenderam. Correu o boato no submundo do crime que Sawat seria espião da polícia. Ele acabou indo morar em um barraco ao lado do depósito de lixo da cidade.

Sentado no minúsculo barraco, o jovem começou a pensar na família, sobretudo no pai, cristão simples de uma cidadezinha perto da fronteira malásia. Sawat lembrou-se das últimas palavras do pai, ao se despedir: "Estarei esperando você". O rapaz tentava imaginar se o pai ainda o estaria esperando depois de tudo o que tinha feito para desonrar o bom nome da família. Será que ele seria bem recebido de volta em casa? Havia muito tempo os boatos sobre a vida dele na cidade tinham chegado à aldeia. Por fim, Sawat traçou um plano. Ele escreveu:

Querido pai, gostaria tanto de voltar para casa, mas não sei se o senhor me receberá depois de tudo o que fiz. Meu pecado é grande demais, pai. Por favor, perdoe-me. Sábado à noite estarei no trem que passa pela nossa aldeia. Se o senhor ainda estiver à minha espera, por favor, amarre um pedaço de pano na paineira da frente de nossa casa. (Assinado) Sawat.

Nessa viagem de trem, ele refletiu na vida que levara nos últimos meses e reconheceu que o pai tinha todo o direito de renegá-lo. À medida que o trem se aproximava da aldeia, mais o rapaz fervia de ansiedade. O que faria se não houvesse pano na paineira?

No banco ao lado viajava um bondoso estranho que notara o crescente nervosismo e ansiedade do jovem. Finalmente, Sawat não conseguiu agüentar a tremenda pressão e foi logo derramando sua história no trem diante do estranho. Quando entravam na aldeia, Sawat pediu:

— Meu senhor, não agüento olhar pela janela. Será que poderia olhar por mim? E se meu pai não me receber de volta?

Sawat enterrou o rosto nos joelhos.

— O senhor consegue ver a árvore? É a única casa com uma paineira.

O estranho respondeu:

— Jovem, seu pai não pendurou apenas um pedaço de pano. Veja! Ele cobriu a árvore toda!

Sawat não podia crer no que os olhos viam. Os galhos estavam todos cobertos de retalhos brancos. Na frente da casa, o velho pai pulava de alegria, agitando uma fita branca. Depois, com passos trêmulos, correu ao lado do trem. Quando o trem parou na pequena estação, o pai foi abraçar o filho, chorando de alegria.

— Eu estava esperando você — exclamou o velho.

A história de Sawat é um impressionante paralelo com a parábola de Jesus acerca do filho pródigo, narrada em Lucas 15.11-24. Cristo fala de um filho perdido, que jogou fora sua vida e bens em um turbilhão de decisões erradas para mais adiante voltar para casa, temeroso, mas com a esperança de

que o pai o recebesse de volta. Esse filho também foi recebido de braços abertos, amado e aceito incondicionalmente. Dessas duas histórias emergem três aspectos do coração paterno de Deus.

Liberdade de escolha

O pai amava o filho o bastante para permitir-lhe que saísse de casa. Ambos os pais criaram a possibilidade de um relacionamento profundo com os respectivos filhos, concedendo-lhes liberdade de ação. Embora os pais sofressem no íntimo, não forçaram o relacionamento amoroso. Simplesmente se puseram à disposição para servir, como sempre o fizeram. Essa liberdade não foi concedida porque os filhos concordavam com os pais, mas por causa do amor. Os pais foram bastante sábios para esperar que os jovens desejassem um relacionamento amoroso com eles. Ambos os pais haviam levado anos ensinando os filhos no caminho que deviam trilhar, mas deixaram a escolha final aos próprios filhos.

A reação desses homens diante dos filhos rebeldes explica o coração de Deus. Creio que Deus soberanamente decidiu conceder ao homem o livre arbítrio, assumindo o risco de ser rejeitado. Deus não procurou estabelecer obediência impessoal e involuntária a um jogo de regras. Pelo contrário, desejava um relacionamento de coração para coração com os seres que ele criara. Sempre há um risco ao permitir o livre arbítrio às pessoas, contudo sem esse risco não pode haver amor genuíno.

Esse tipo de liberdade poderá ser violado, se não dermos aos outros a mesma liberdade que Deus nos dá. Se tentarmos forçar a conformidade, a crença e a obediência por meio de pressão, ameaças ou leis, destruiremos a própria essência do cristianismo. Quando nos afastamos da liberdade, penetramos no legalismo religioso, negando a graça de Deus.

Esperando com paciência

O pai amava o filho tão profundamente, que esperava todos os dias que ele voltasse para casa. Certo homem ia todas as noites a um grande salão para ouvir um famoso evangelista. Ele comparecia toda noite, mas

irredutível na firme convicção de que não havia razão nenhuma para fazer demonstração pública de aceitação de Jesus Cristo. "Posso orar aqui mesmo onde estou sentado", pensava. Entretanto, lá estava todas as noites para ouvir mais, sentando-se sempre no mesmo lugar.

Noite após noite, um jovem introdutor, muito educado, se aproximava do visitante com aparência de rico e perguntava se ele não desejava ir à frente para assumir um compromisso público de seguir a Jesus Cristo. O homem respondia invariavelmente: — Posso orar aqui mesmo onde estou. Não preciso ir à frente para orar ou me tornar um cristão.

Ao que o jovem introdutor sempre respondia, gentilmente, com as mesmas palavras:— Sinto muito, meu senhor, mas está errado. O senhor não pode orar aqui. O senhor precisa ir à frente se quiser assumir o compromisso de receber a Jesus Cristo como Salvador e Senhor.

Esse diálogo se repetia quase palavra por palavra, toda noite. No entanto, o homem de negócios estava decidido a não reagir com espetáculo de "emoção pública", como definia o ato de entrega ao Senhor.

Por fim, chegou a última noite de conferências. O cidadão de aspecto tão elegante assumiu o mesmo lugar onde se sentara nas noites anteriores. O evangelista pregou pela última vez, convidando as pessoas no auditório a atender ao seu apelo para irem à frente, indicando assim o desejo de dedicar a vida a Jesus Cristo. Mais uma vez o introdutor convidou o homem para ir à frente.

— Se o senhor quiser ir à frente para dedicar sua vida a Cristo, posso acompanhá-lo — ofereceu-se ele. Desta vez, o homem ergueu os olhos cheios de lágrimas. Havia sido profundamente tocado pela pregação. Respondeu:

— Ah! Então você vai comigo? Por favor, preciso dar minha vida a Cristo. Estou pronto para ir à frente e orar.

Então, o jovem introdutor lhe respondeu:

— O senhor não precisa ir à frente para aceitar a Cristo. Pode orar aqui mesmo onde está sentado!

Quando o homem distinto estava pronto para humilhar-se, o Senhor pôde alcançá-lo exatamente onde ele estava. Os filhos perdidos nas duas histórias chegaram, enfim, ao mesmo ponto. Quando reconheceram a própria culpa, a mudança ocorreu. O maior anseio dos pais era que os filhos

atingissem essa atitude de pesar por seus pecados, mas sabiam que a decisão cabia aos jovens. Todos os dias esperavam o regresso, ansiosos. Que tremenda paciência e compaixão!

Os filhos não podiam culpar os pais pelos seus problemas. Acabaram em extrema pobreza por causa da própria loucura. Ao perceberem o erro, arrependeram-se e decidiram voltar para casa. Nas duas histórias, a graça e o arrependimento se abraçaram. Já que os filhos conheciam o amor dos pais, decidiram admitir que estavam errados e, portanto, voltar para casa. A certeza desse amor finalmente os levou ao arrependimento.

O nosso Pai celeste anseia por ter-nos de volta ao lar, sejam quais forem nossos problemas ou necessidades. Isaías 30.18 nos diz: "O SENHOR espera o momento de ser bondoso com vocês". E Romanos 2.4 pergunta: "Você despreza as riquezas da sua bondade, [...] não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?".

Ele é o Pai que espera.

Aceitação incondicional

O pai amava tanto o filho que, quando este regressou ao lar, ele não o condenou pelos seus erros, mas lhe perdoou e celebrou a volta com um grande banquete.

Na parábola do filho pródigo, o pai fez mais do que simplesmente esperar. Ele correu! Ao avistar o filho sujo e cansado vindo pela estrada, o pai correu para abraçá-lo. Não havia reservas em seu coração contra aquele que havia pecado. A alegria do pai era prova do perdão e da aceitação totais.

Deus não apóia nossa rebelião nem nosso egoísmo. Ele se entristece profundamente quando nos vê ferindo a nós mesmos ou ao próximo. No entanto, ele espera pacientemente até que reajamos ao seu amor e recebamos o seu perdão. Ao fazermos isso, ele nos dará as boas-vindas, livre e completamente.

Conhecendo o coração de Deus

Quando pensamos em Deus como o Pai que espera, devemos ter cuidado em não pensar que a sua atitude amorosa e perdoadora o torna fraco. Ele é acima de tudo poderoso, fortíssimo. Há grande força no seu amor. O seu ódio irrestrito ao mal não tolera a ambigüidade, mas a sua compaixão é infinita para com aqueles que percebem que precisam dele. Ele vê nosso coração e conhece nossos pensamentos mais íntimos e profundos. Oferece a segurança maior a todos quantos sinceramente desejam pertencer à sua família.

A Bíblia descreve o caráter do nosso Pai, que espera por nós, de muitas maneiras. Considere algumas das qualidades que as Sagradas Escrituras afirmam a respeito de Deus.

1. Criador. Aquele que nos cria à sua imagem, com liberdade de escolher, a fim de responder livremente ao amor. "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos [...] também somos descendência dele" (At 17.28). "Contudo, Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro; tu és o oleiro. Todos nós somos obra das tuas mãos" (Is 64.8).

2. Provedor. Aquele que tem prazer em suprir nossas necessidades físicas, emocionais, mentais e espirituais. "Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!" (Mt 7.11).

3. Amigo e Conselheiro. Aquele que anseia por manter um relacionamento íntimo conosco, dando-nos aconselhamento sábio e instrução. "Meu pai, amigo da minha juventude" (Jr 3.4). "Ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz" (Is 9.6). "Tu me diriges com o teu conselho, e depois me receberás com honras" (SI 73.24).

4. Disciplinador. Aquele que amorosamente corrige e disciplina. "Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho. [...] Se vocês não são disciplinados, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados" (Hb 12.5,6,8,11).

5. Redentor. Aquele que perdoa as faltas de seus filhos e faz com que essas falhas e fraquezas produzam o bem. Aquele que salva. "O SENHOR é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor [...] e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas

transgressões. Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o SENHOR tem compaixão dos que o temem" (SI 103.8,12,13).

6. Consolador. Aquele que cuida de nós e nos consola em tempos de necessidade. "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações" (2Co 1.3,4).

7. Defensor e Libertador. Aquele que tem prazer em proteger, defender e libertar seus filhos. "Aquele que habita no abrigo do Altíssimo e descansa à sombra do Todo-poderoso pode dizer ao SENHOR: `Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio'. Ele o livrará do laço do caçador e do veneno mortal" (SI 91.1-3).

8 . Pai. Aquele que deseja livrar-nos de todos os deuses falsos, a fim de tornar-se nosso Pai. "`E lhes serei Pai, e vocês serão meus filhos e minhas filhas', diz o Senhor todo-poderoso" (2Co 6.18).

9. Pai dos órfãos. Aquele que cuida dos órfãos e das viúvas. "Pai para os órfãos e defensor das viúvas é Deus em sua santa habitação. Deus dá um lar aos solitários" (SI 68.5,6).

10. Pai de amor. Aquele que se revela a nós e nos reconcilia consigo por intermédio de Jesus Cristo. "Pois o próprio Pai os ama, porquanto vocês me amaram e creram que eu vim de Deus" (Jo 16.27).

A despeito de tudo o que a Bíblia ensina a respeito de Deus como amoroso e justo, houve um período em minha vida no qual o respeitava, mas não o amava. Até temia ao Senhor, por causa do seu terrível poder, mas não o amava pela sua bondade.

Apenas quando olhei além de minhas idéias acerca de Deus, além de meu desejo de discutir e argumentar, e pedi ao Senhor que me revelasse como ele via meu egoísmo, somente então comecei a experimentar um relacionamento mais profundo com Deus.

Deus é um Pai amoroso que espera, e muito mais! À medida que passarmos tempo com ele, descobriremos novas visões do seu caráter e novas profundidades em nosso relacionamento com Deus.

Guia de estudo

(Capítulo 7 - O Pai que Espera)

Leia João 16, 17 e 18

1. Leia Lucas 15.11-24. Coloque seu nome nessa história sobre o

filhe pródigo. Você pode se identificar com alguma das personagens nesta parábola? Com qual delas?

2. Explique com suas próprias palavras como não pode existir amor

sincero e honesto sem a liberdade de escolha. 3. “A bondade de Deus o leva ao arrependimento" (Rm 2.4). Sem o

conhecimento dessa verdade, você pode perceber como seria difícil reconhecer sua culpa e se humilhar numa atitude de arrependimento? Explique como essa verdade é comprovada em sua vida.

4. Explique a importância de permitir às pessoas próximas, mesmo aquelas

que você ama profundamente, terem a liberdade de seguir seu próprio caminho para que possam chegar ao reconhecimento de sua necessidade.

5. Você está disposto a esperar, com uma atitude de amor no coração, por

aqueles que o magoaram e o desapontaram — e então recebê-los em casa? Peça a Deus para lhe dar o nome de cada uma dessas pessoas para que você comece a orar por elas.

6. Das 10 características de Deus descritas nas páginas 91-3, faça uma lista

daquelas que você sabe serem verdadeiras e uma outra para aquelas que você ainda não tem certeza se são. Então peça para o Pai fazer com que essas incertezas se tornem verdades para você.

8. Pais no Senhor

O mundo está repleto de órfãos emocionais e espirituais.

Ali Agca nasceu no distante vilarejo montanhoso de Yesiltepe, na Turquia. Tinha apenas 10 anos de idade quando o pai morreu. O garoto sorriu durante todo o funeral. Ali Agca odiava terrivelmente o próprio pai. As violentas cenas da brutalidade do pai ficaram gravadas permanentemente em sua memória.

Logo depois do falecimento do pai, o menino fez uma "lista de ódio" com nomes de pessoas e coisas que se haviam tornado foco de hostilidade. Apenas por respeito à mãe, Ali não inscreveu na lista o nome do pai.

Enquanto crescia, Ali Agca experimentava acessos de depressão acompanhados de longos períodos de silêncio, total afastamento das pessoas e sintomas de anorexia nervosa. Sofria de sentimentos de culpa, por causa da hostilidade contra o pai, e acabou acreditando que o ódio seria o único canal pelo qual poderia purgar-se de sentimentos tão maus. Ele era um órfão que nunca conheceu o amor.

Na adolescência seguiu um caminho trágico e criminoso, incluindo o tráfico de drogas e a violência. Esteve em uma escola para terroristas no Líbano, onde os criminosos aprendiam as últimas "técnicas de libertação". A trilha de terror de Mehmet Ali Agca terminou abruptamente em 13 de maio de 1981, porém não antes de jornalistas e locutores de todas as partes do mundo tropeçarem na pronúncia desse nome turco, totalmente desconhecido. Ele fora identificado como o homem que, horas antes, havia atirado no papa João Paulo II.

Passados dois anos e meio, Ali Agca se vê recolhido em uma cela nua, de paredes brancas, na prisão romana de Rebibbia. Foi até esse cárcere que João Paulo II fez uma peregrinação dramática de perdão, em dezembro de 1983. Embora, por um lado, se tratasse de uma conciliação intensamente íntima entre dois seres humanos, por outro lado era também um exemplo dramático de caridade cristã. Durante 21 minutos, João Paulo II sentou e segurou a mão que havia empunhado a arma. Quer a pessoa seja católica, quer seja protestante, é impossível negar o significado das ações do papa. O que ele fez foi profundamente cristão. Procurou o inimigo e perdoou-lhe.

Ao fazer isso, o religioso deu a Ali Agca nova compreensão de Deus e lhe ofereceu um caminho para fora da escuridão e da amargura da alma do terrorista. Naqueles breves 21 minutos, João Paulo II, que dissera ter falado com Ali "como irmão", mostrou-lhe o caminho ao Pai.

A necessidade de pais e mães no Senhor

Muitas pessoas se encontram órfãs não apenas dos pais biológicos, mas de todo tipo de herança espiritual ou emocional sadia. No início deste livro descrevi as necessidades que muitos sentem de cura. Empurrados para a margem da sociedade, pelas feridas e pela rejeição, sentem-se solitários no mundo.

A igreja também está repleta de órfãos. Eles aceitaram Jesus Cristo, mas não receberam alimento para sua fé. Seja por causa da falha deles mesmos, seja pela falha de outros, ainda não se tornaram membros da família espiritual. Precisam que a igreja seja como lar, um lugar a que pertençam. Essas pessoas necessitam desesperadamente de cuidado pastoral. Precisam do ensino da Palavra de Deus. Precisam de aconselhamento baseado em princípios bíblicos sólidos. Precisam da exortação e do estímulo de uma pessoa madura na fé. Precisam de uma figura espiritual paterna, que as ajude a crescer no Senhor. Outros clamam por um "novo pai", isto é, que se dê a eles o tipo de exemplo que somente um pai sábio e estável pode prover. Se a pessoa não recebeu cuidado paterno, físico, espiritual, ou de ambos os tipos, durante os anos de sua formação, ela vai precisar de alguém que lhe sirva de exemplo, agora. Esse relacionamento não deveria girar em tomo de recriminações, mas oferecer um modelo que incentive o crescimento.

Exemplos bíblicos

Pedro exortou os presbíteros: "Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados" (1 Pe 5.2). O apóstolo Paulo disse aos crentes de Corinto:

Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais. [...] Por essa razão estou lhes enviando Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor, o qual lhes trará à lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus, de acordo com o que eu ensino por toda parte, em todas as igrejas (1Co 4.15,17).

E Paulo ainda lembrou aos tessalonicenses que:

... fomos bondosos quando estávamos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos. Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus (1Ts 2.7,11,12; grifo do autor).

Ser um pai ou uma mãe no Senhor não se limita àqueles que exercem o pastorado, ou aos líderes espirituais. Há também a necessidade crucial de outras pessoas espiritualmente maduras, interessadas no próximo e capazes de agir como "pais" e "mães" de outros crentes, igualmente carentes. João fala das pessoas que são pais no Senhor porque conhecem "aquele que é desde o princípio" (1Jo 2.14).

Os jovens gostam de combater a Satanás, mas os pais conhecem o Pai. Mediante sua simples presença, conseguem ministrar às pessoas ao seu redor por causa da maturidade e da profundidade de seu conhecimento de Deus. Precisamos espalhar pela igreja inteira esses "pais", para serem o que são. Sempre estando à disposição, tendo tempo suficiente para as pessoas e com um lar aberto, a vida deles pode constituir instrumento valioso de cura e amor.

A necessidade de equilíbrio

Como ocorre em todas as áreas, a ênfase na "paternidade espiritual" pode ser levada ao extremo. A última coisa de que as pessoas necessitam hoje é de abuso de autoridade. A Bíblia fala de igualdade, autoridade e ministério, no entanto é importante que se faça distinção entre esses três conceitos. Muita confusão tem sobrevindo ao corpo de Cristo por falta de uma distinção adequada.

Os pais piedosos desejam servir aos outros e tratar a todos como seus iguais. As ações deles procedem de uma atitude de igualdade, e não de autoridade, pois estão muito mais interessados em servir do que em governar. Quando a pessoa parte de uma atitude de autoridade, é inevitável que o resultado seja uma atitude de superioridade, ou um tipo de paternalismo que pode degenerar-se em domínio sufocante.

O quadro a seguir ajuda a distinguir os dois métodos:

A autoridade bíblica jamais é tomada; ela é oferecida. Não reside em alguma posição ou algum direito. É fruto do que somos, e não de um cargo que ocupamos ou de um título pendurado à porta. Vem da unção do Espírito de Deus, significando a soma total do caráter da pessoa, sua sabedoria, seus dons espirituais, sua atitude de servo.

Pais dominadores Pais no Senhor

Agem como se eles fossem a fonte de orientação para a vida das pessoas.

Crêem que Deus é a fonte de orientação e desejam ajudar outros crentes a aprender a ouvir a voz do Pai.

Enfatizam os direitos dos líderes. Enfatizam as responsabilidades dos líderes.

Separam os líderes e lhes dão privilégios especiais.

Enfatizam o serviço no corpo de Cristo, tendo o Senhor como foco central

Procuram controlar as ações das pessoas. Encorajam as pessoas a depender de Deus.

Enfatizam a importância de os líderes ministrar a outros.

Enfatizam a importância de equipar os santos para a obra ministerial.

Utilizam regras e leis para controlar as pessoas, forçando-as a se conformar com o molde.

Proporcionam um clima de confiança e graça, a fim de estimular o crescimento espiritual.

Tratam do pecado no nível das ações externas e da conformidade grupal.

Tratam do pecado no nível da atitude do coração e do quebrantamento diante de Deus.

Enfatizam a singularidade do "nosso" grupo, ressaltando constantemente revelação especial que Deus concedeu ao grupo, negando-a a outros.

Enfatizam a importância da unidade de todo o corpo de Cristo, bem como a importância da atitude humilde diante dos outros.

Julgam as reações das pessoas a Deus quanto ao grau de obediência do ponto de vista do líder. Desencorajam a diversidade de pensamento e de ação.

Percebem a importância da atitude do coração da pessoa diante de Deus, e não apenas a importância da conformação doutrinária como base da unidade.

Os pais no Senhor entendem esses princípios acerca da autoridade. Conhecem o caráter do Pai e, por isso, estão tranqüilos em seu ministério entre os irmãos. Isso não quer dizer que sejam desprovidos de capacidade de decisão e incapazes para confrontar as pessoas quando necessário. Pelo contrário, aprenderam a agir conforme a orientação de Deus, e não apenas porque são "líderes".

Recebendo dos pais no Senhor

É preciso humildade para receber auxílio de alguém. Quando Deus traz uma pessoa à nossa vida para nos ensinar algo, precisamos assumir a atitude correta, de tal maneira que possamos nos beneficiar de tudo o que Deus quer real' em nós por intermédio dessa pessoa.

Deus anseia por confortar-nos e encorajar-nos com o auxílio de outras pessoas, contudo o seu amor ficará bloqueado, se não demonstrarmos uma atitude própria de quem deseja aprender e um coração aberto para aceitar o que ele deseja dar-nos. Imaginar que não precisamos receber alguma coisa de outra pessoa, seja o que for, não é prova de humildade nem de maturidade — isso revela orgulho. Todavia, é nossa a responsabilidade final diante de Deus para discernir se o que nos dizem está certo. Não podemos concordar com as pessoas se não temos a convicção de que estejam certas. A Bíblia será nosso padrão à medida que avaliarmos o aconselhamento alheio.

Há diferença entre espírito submisso e obediência absoluta. A obediência absoluta só é devida a Deus, enquanto a submissão se concede ao homem. A submissão requer atitude de abertura a fim de receber algo de alguém. Somente Deus é digno de nossa fidelidade total.

Quando vários soldados dentre os mais corajosos de Davi ouviram vagamente seu líder dizer que suspirava por um gole de água dos poços de Belém, decidiram obtê-la. Entretanto, os poços estavam sob o domínio dos filisteus, inimigos de Davi. Então, esses homens invadiram o território inimigo, em uma investida audaciosa, arriscando a vida para arranjar um pouco da água preciosa para Davi.

Imaginem o brilho no rosto desses soldados quando marcharam de volta ao acampamento, feridos e sangrando, mas transbordando de orgulho pela

tremenda façanha. No entanto, para espanto deles, Davi se recusou a beber a água que lhe era oferecida e derramou-a no chão como oferta a Deus! "Devoção como está', declarou, "pertence apenas ao SENHOR".

Davi reconheceu o potencial de seus soldados para lhe oferecer uma devoção devida somente a Deus e, sabiamente, reorientou-os na direção da lealdade. Feridos como deviam estar, anos mais tarde esses mesmos soldados valentes e valorosos contaram a outros a lição que Davi lhes ensinara acerca de pôr a Deus em primeiro lugar na vida. No final, Davi ganhou o respeito desses homens.

Para nos tornar um "pai" ou uma "mãe" no Senhor não significa que devemos iniciar um relacionamento formal e bem definido com um cristão maduro na fé. Às vezes, significa tão-somente observar a vida desse crente fiel. Em outros casos, significa fazer-lhe perguntas ou buscar aconselhamento.

Jesus assumiu a"paternidade" dos discípulos em quatro estágios:

1. Ele trabalhava e eles observavam.

2. Ele trabalhava e eles ajudavam.

3. Eles trabalhavam e ele ajudava.

4. Eles trabalhavam e ele partiu!

Como tornar-se "pai" espiritual

Ser bom pai, quer na igreja, quer no lar, diz respeito muito mais ao ambiente que criamos do que às palavras que pronunciamos. As pessoas se lembrarão de nossas atitudes e ações, a maneira pela qual dizemos as coisas, mais do que de nossas palavras. Essas atitudes e nossas filosofias de base, nossa vida e ministério formam um ambiente que nos acompanha aonde quer que vamos. Levamos tudo conosco. Por exemplo, algumas pessoas expressam livremente amor e interesse por nós. Comunicam isso de muitas pequenas maneiras, mas óbvias, e não demorará muito para que nos abramos e falemos honestamente a tais pessoas. Entretanto, com outras, ainda que nos assegurassem discrição e toda confiança, nós não lhes diríamos algo privativo ou confidencial.

É claro que deveremos ser mais específicos do que dizer apenas que precisamos criar um clima bom. De outra forma, tudo o que teríamos de fazer seria diminuir a luz, acender algumas velas, executar música adequada e pronto: criou-se a “atmosfera” espiritual. A atmosfera espiritual tem relação com os princípios vitais que demonstramos em palavras e ações. Isso não se cria ao acaso — é conseqüência da integralidade de nossa vida.

Alguns inimigos de Charles Finney, grande evangelista do século 19, tentaram complicá-lo certa ocasião, pedindo-lhe que pregasse em um grande concílio de pastores, mas sem avisá-lo com a devida antecedência. Finney aceitou graciosamente o convite de última hora e pregou poderosamente durante uma hora e meia! Depois, um jovem estudante perguntou-lhe quanto tempo ele levara na preparação do sermão. O evangelista respondeu: "Meu caro jovem, venho preparando esse sermão nos últimos vinte anos!".

A seguir, assinalamos alguns ingredientes que contribuem para um clima de amor e confiança.

• Criamos um clima de crescimento espiritual mediante o amor e a confiança que

partilhamos com as pessoas.

• Criamos um clima ao qual as pessoas sentem que pertencem, quando as incluímos

nas tomadas de decisões importantes.

• Criamos um clima de responsabilidade, quando confiamos nos outros.

• Criamos um clima de compaixão mediante cortesia e bondade.

• Criamos um clima de piedade e realidade espiritual ao meditarmos regularmente

na Palavra de Deus e ao adorarmos pessoalmente a Deus.

• Criamos um clima de fé e visão quando enxergamos as necessidades alheias e

discernimos a reação de Deus a essas necessidades.

• Criamos um clima de generosidade quando damos ou nos dedicamos a outras

pessoas.

• Criamos um clima de retidão quando reconhecemos o poder de Deus em cada

situação.

• Criamos um clima propício ao desenvolvimento do valor e dignidade, ao

reservarmos tempo para ouvir as pessoas.

• Criamos um clima de auto-estima ao afirmarmos o valor das pessoas e encorajá-

las. Criamos um clima de consolação ao demonstrarmos interesse no sofrimento

das pessoas.

• Criamos um clima propício à unidade do grupo ao desejarmos sinceramente

envolver outros no ministério, orando e pedindo que o trabalho das outras

pessoas seja maior do que o nosso.

• Criamos um clima de alegria e paz ao expressarmos nossa gratidão e apreciação

a Deus, em cada situação.

• Criamos um clima de segurança ao reconhecermos o bem e o potencial

existentes nos outros.

• Criamos um clima de obediência a Deus ao valorizarmos os padrões divinos

mais do que os dos homens.

• Criamos um clima de lealdade quando jamais criticamos os outros.

• Criamos um clima de fé quando falamos da grandeza de Deus.

• Criamos um clima de honestidade ao admitirmos nossa fraqueza e pedirmos

perdão por nossos pecados.

Se nós, como pais ou líderes espirituais, temos magoado nossos filhos ou as pessoas a quem lideramos, devemos orar com máxima seriedade pela oportunidade de restauração, de reparar nossa falha. Essas pessoas precisam ouvir-nos dizer que sentimos muito pelo que fizemos, que estamos arrependidos. Ao mesmo tempo, nós precisamos ouvi-las dizer que estamos perdoados. Não basta deixar que "o passado fique no

passado". Quando nos humilhamos dessa maneira, muitas vezes abre-se a porta para a cura e a reconciliação, e somos conduzidos a um relacionamento e compreensão muito mais profundos.

Que herança maior do que essa podemos oferecer às pessoas? À medida que concedemos os dons da compaixão e da humildade, nossa vida se torna demonstração da verdade da Palavra de Deus. Criamos um clima de graça e construímos uma estrada de amor, que une nosso coração ao coração do próximo. Nossa prontidão para sermos usados como vasos de Deus pode transformar o brando coração paterno de Deus em gloriosa realidade neste nosso mundo ferido.

Guia de estudo

(Capítulo 8 - Pais no Senhor)

Leia João 19, 20 e 21

1. Descreva a diferença entre pais dominantes e"pais no Senhor". 2. Pais piedosos deveriam sempre estar mais preocupados com do que com

.......................... do que com ............................................. . 3. Você está disposto a ser um pai no Senhor para qualquer pessoa que Deus

lhe enviar? 4. Deus Pai co-loca e continuará colocando pessoas em nossa vida para serem

nossos pais. Está disposto a receber o que ele quer lhe dar por meio de um pai no Senhor?

5. Explique a importância de total lealdade a Deus e não ao homem.

6 . A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . deve ser sempre o padrão usado para

avaliar o conselho de outros. 7. O que é atmosfera espiritual, e o que isso implica?

Apêndice

Como escolher um bom

conselheiro

Infelizmente, pessoas com pequena bagagem profissional muitas vezes vitimam crentes sinceros, chamando a si mesmos de conselheiros. Um conselheiro ou psicólogo pode ser extremamente útil, mas é importante que esse profissional seja bem qualificado e dê apoio à fé cristã. Apresento a seguir três diretrizes básicas a serem adotadas no processo de seleção do conselheiro ou psicólogo.

1. A melhor maneira de selecionar um conselheiro ou psicólogo passa pela recomendação de um líder da igreja respeitado, do médico da família ou de um amigo que já teve contato prévio com esse profissional, conhecendo-o pessoalmente.

2. Os profissionais competentes não se sentem ameaçados quando um provável cliente telefona e, com toda cautela e sensibilidade, faz perguntas sobre as qualificações, a orientação teórica, a experiência em relação ao problema específico que se apresenta, bem como o tipo de credencial que eles detêm.

3. Os honorários devem ser discutidos e combinados previamente, mesmo antes de qualquer compromisso para com o tratamento.

Não devemos esperar que o conselheiro ou o psicólogo seja capaz de desempenhar a função do líder espiritual. No entanto, no próprio ramo de especialização desses profissionais, eles podem representar instrumentos eficazes no processo de cura.

FIM