320
PAULO HENRIQUE ARANDA FULLER GUSTAVO OCTAVIANO DINIZ JUNQUEIRA ANGELA C. CANGIANO MACHADO PROCESSO PENAL ll.a edição revista, atualizada e ampliada fXl ELEMENTOS 8 [ l\lrDO DIREITO 8 Coordenação jqq N Marco Antonio Araujo Jr. - anos editoraRT? Darlan Barroso revista dos tribunais

08 elementos do direito processo penal - paulo henrique - 2012

Embed Size (px)

Citation preview

  • PAULO HENRIQUE ARANDA FULLERGUSTAVO OCTAVIANO DINIZ JUNQUEIRA

    ANGELA C. CANGIANO MACHADO

    PROCESSO PENALll.a edio

    revista, atualizada e ampliada

    fXl ELEMENTOS 8[ l\lrDO DIREITO 8Coordenao jqq NMarco Antonio Araujo Jr. - anos editoraRT?Darlan Barroso revista dos tribunais

  • PAULO HENRIQUE ARANDA FULLER

    Mestre em Direito Penal pela PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo -PUC-SP. Professor de Processo Penal eLegislao Penal Especial no ComplexoEducacional Damsio de Jesus. Juiz deDireito em Minas Gerais.professorphfuller.com

    GUSTAVO OCTAVIANO DINIZ JUNQUEIRADoutor e Mestre em Direito Penal pelaPontifcia Universidade Catlica de SoPaulo - PUC-SP. Especialista em DireitoPenal pela Universidade de Salamanca.Professor de Direito Penal na PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo - PUC-SP,de ps-graduao na Escola Superior doMinistrio Pblico de So Paulo, na EscolaPaulista de Direito - EPD, na Academia dePolcia Civil do Estado de So Paulo -Acadepol e no Complexo Educacional Damsiode Jesus. Coordenador do Departamento deEstudos e Processos Legislativos do InstitutoBrasileiro de Cincias Criminais - IBCCRIM.Defensor Pblico Assessor da DefensoriaPblica Geral de So Paulo.

    ANGELA C. CANGIANO MACHADOProfessora. Ex-diretora do curso Prima.Palestrante e mediadora em cursos econgressos jurdicos.

    Ri?EDITORAI \1 IREVISTA DOS TRIBUNAIS

    ATENDIMENTO AO CONSUMIDORTel.: 0800-702-2433

    www.rt.com.br

  • PAULO HENRIQUE ARANDA FULLERGUSTAVO OCTAVIANO DINIZ JUNQUEIRA

    ANGELA C. CANGIANO MACHADO

    ll. ediorevista, atualizada e ampliada

    |Xa ELEMENTOS q"|

    l\TDO DIREITO O JCoordenaoMarco Antonio Araujo Jr.Darlan Barroso

    EDITORA rcr?REVISTA DOS TRIBUNAIS

  • ELEMENTOSDO DIREITO

    PROCESSO PENAL

    Paulo Henrique Aranda FullerGustavo Octaviano Diniz Junqueira

    Angela C. Cangiano Machado

    CoordenaoMarco Antonio Araujo Jr.

    Darlan Barroso

    11 .f edio revista, atualizada e ampliada9

    .

    J edio, 1." tiragem: agosto de 2009; 2 a tiragem: janeiro de 2010;

    J.

    tiragem: fevereiro de 2010; 4 a tiragem: maro de 2010; 5a tiragem: agoslo de 2010;10.i edio, 1a tiragem: novembro de 2010; 2a tiragem: abril de 2011.

    desta edio [2012]Editora Revista dos Tribunais Ltda.

    Antonio BelineloDiretor responsvelVisite nosso sitewww.rt.com.br

    Central de Relacionamento RT(atendimento, em dias teis, das 8 s 17 horas)

    Tel. 0800-702-2433

    e-mail de atendimento ao [email protected]

    Rua do Bosque, 820 - Barra FundaTel. 11 3613-8400 - Fax 1 1 3613-8450CEP 01136-000 - So Paulo, SP - Brasil

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo total ou parcial, por qualquer meio ouprocesso, especialmente por sistemas grficos, microflmicos, fotogrficos, reprogrficos, fono-grficos, videogrficos. Vedada a memorizao e/ou a recuperao total ou parcial, bem comoa incluso de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essasproibies aplicam-se tambm s caractersticas grficas da obra e sua editorao. A violaodos direitos autorais punvel como crime (art. 184 e pargrafos, do Cdigo Penal), com penade priso e multa, conjuntamente com busca e apreenso e indenizaes diversas (arts. 101 a110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

    Impresso no Brasil [02 - 2012]Universitrio (texto)

    Fechamento da edio em [13.02.2012]

    ISBN 978-85-203-4295-4

  • minha esposa Michelle Marie, pelo

    infinito amor, dedicao e compreenso,

    sem o que nada seria possvel. Aos meuspais, pelo amor e educao. Aos mestres

    Gustavo e Fauzi, pelo apoio e pelosconhecimentos sempre generosamente

    compartilhados.

    Paulo Henrique Aranda Fuller

    Flvia, pelo amor, pacincia e compreenso.

    Gustavo Octaviano Diniz Junqueira

    minha me pelo apoio e incentivo. Aosmeus filhos Guilherme e Maria Eduarda

    pelas horas ausentes. Ao meu maridoEduardo pela compreenso e dedicao.

    Angela C. Cangiano Machado

  • Nota da Editora

    isando ampliar nosso horizonte editorial para oferecer livros ju-rdicos especficos para a rea de Concursos e Exame de Ordem,

    com a mesma excelncia das obras publicadas em outras reas, a EditoraRevista dos Tribunais apresenta a nova edio da coleo Elementosdo Direito.

    Os livros foram reformulados tanto do ponto de vista de seucontedo como na escolha e no desenvolvimento de projeto grficomais moderno que garantisse ao leitor boa visualizao do texto, dosresumos e esquemas.

    Alm do tradicional e criterioso preparo editorial oferecido pelaRT, para a coleo foram escolhidos coordenadores e autores com altocabedal de experincia docente voltados para a preparao de candidatosa cargos pblicos e bacharis que estejam buscando bons resultadosem qualquer certame jurdico de que participem.

  • Apresentao da Coleo

    om orgulho e honra apresentamos a coleo Elementos do Direito,fruto de cuidadoso trabalho, aplicao do conhecimento e didtica

    de professores experientes e especializados na preparao de candidatospara concursos pblicos e Exame de Ordem. Por essa razo, os textosrefletem uma abordagem objetiva e atualizada, importante para auxi-liar o candidato no estudo dos principais temas da cincia jurdica quesejam objeto de arguio nesses certames.

    Os livros apresentam projeto grfico moderno, o que torna a leituravisualmente muito agradvel, e, mais importante, incluem quadros,resumos e destaques especialmente preparados para facilitar a fixaoe o aprendizado dos temas recorrentes em concursos e exames.

    Com a coleo, o candidato estar respaldado para o aprendizadoe para uma reviso completa, pois ter a sua disposio material atu-alizado de acordo com as diretrizes da jurisprudncia e da doutrinadominantes sobre cada tema.

    Esperamos que a coleo Elementos do Direito continue cada vezmais a fazer parte do sucesso profissional de seus leitores.

    Marco Antonio Araujo Jr.Darlan Barroso

    Coordenadores

  • Sumrio

    NOTA DA EDITORA. 7

    APRESENTAO DA COLEO. 91

    .

    DOS PRINCPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL. 211.1 Introduo. 21

    1.

    1.1 Princpio do devido processo legal. 21

    1.

    1.2 Princpio do contraditrio. 22

    1.

    1.3 Princpio da ampla defesa. 22

    1.

    1.4 Princpio da presuno de inocncia. 24

    1.1.5 Princpio acusatrio. 241

    .2 Aplicao e interpretao da lei processual penal. 251

    .

    2.1 Aplicao da lei processual penal no tempo. 25

    1.

    2.2 Interpretao e integrao da lei processual penal. 26

    2. DO INQURITO POLICIAL. 29

    2.1 Introduo: a persecuo penal. 29

    2.2 Conceito, finalidade e destinatrios do inqurito policial. 30

    2.3 Caractersticas do inqurito policial. 31

    2.

    3.1 Inquisitividade (unilateralidade). 31

    2.

    3.

    2 Oficiosidade. 33

    2.

    3.3 Indisponibilidade. 33

    2.

    3.4 Dispensabilidade. 34

    2.

    3.

    4.1 Dispensabilidade na Lei 9.099/1995 (JECrim). 35

    2.

    3.

    5 Escrito. 35

    2.

    3.6 Sigilo. 35

    2.4 Questes pontuais. 36

    2.

    4.

    1 Curador. 36

  • 12 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    2.

    4.

    1.1 A figura do curador em face do Cdigo Civil (Lei

    10.406/2002) . 372

    .

    4.2 Inquritos extrapoliciais. 41

    2.

    4.

    2.1 Investigao criminal direta pelo Ministrio Pblico 41

    2.

    4.3 Identificao criminal. 42

    2.

    4.

    4 Incomunicabilidade do indiciado. 43

    2.

    4.5 Vcios no inqurito policial. 44

    2.5 Formas de instaurao do inqurito policial. 44

    2.

    5.1 Ao penal pblica incondicionada. 45

    2.

    5.2 Ao penal pblica condicionada. 46

    2.

    5.3 Ao penal privada. 46

    2.6 Prazos para o encerramento do inqurito policial. 46

    2.

    6.1 Prazos especiais. 47

    2.7 Encerramento do inqurito policial. 48

    2.

    7.1 Encerramento do inqurito policial em crimes de ao pe-

    nal pblica. 482

    .

    7.2 Encerramento do inqurito policial em crimes de ao pe-

    nal privada. 492

    .

    7.3 Encerramento anormal: o trancamento do inqurito poli-

    cial . 50

    3.

    DA AO PENAL. 513

    .

    1 Conceito. 51

    3.2 Condies da ao. 51

    3.

    2.1 Possibilidade jurdica do pedido (ou da acusao). 52

    3.

    2.2 Interesse processual. 55

    3.

    2.3 Legitimidade ad causam . 58

    3.3 Espcies de ao penal. 60

    3.4 Ao penal pblica. 60

    3.

    4.

    1 Titularidade. 61

    3.

    4.2 Princpios. 61

    3.

    4.

    2.1 Obrigatoriedade. 61

    3.

    4.

    2.2 Indisponibilidade. 61

    3.

    4.

    2.

    3 Oficialidade e oficiosidade. 61

    3.

    4.

    2.

    4 Intranscendncia. 62

    3.

    4.

    2.

    5 Divisibilidade. 62

    3.

    4.3 Incio da ao penal pblica. 63

  • Sumrio 13

    3.

    4.

    3.1 Prazo para o oferecimento de denncia. 63

    3.

    4.4 Espcies: a ao penal pblica incondicionada. 63

    3.

    4.5 Espcies: a ao penal pblica condicionada. 63

    3.

    4.

    5.1 Ao penal pblica condicionada representa-

    o do ofendido ou de seu representante legal .. 643

    .

    4.

    5.2 Ao penal pblica condicionada requisio

    do Ministro da Justia. 663

    .5 Ao penal privada (ou de iniciativa privada). 673

    .

    5.1 Incio da ao penal privada. 67

    3.

    5.2 Titularidade do direito de queixa. 67

    3.

    5.3 Prazo para o exerccio do direito de queixa. 68

    3.

    5.4 Princpios da ao penal privada. 68

    3.

    5.

    4.1 Oportunidade ou convenincia. 68

    3.

    5.

    4.2 Disponibilidade. 69

    3.

    5.

    4.

    3 Indivisibilidade. 693

    .

    5.

    4.

    4 Intranscendncia. 69

    3.

    5.5 Espcies de ao penal privada. 70

    3.

    5.

    5.1 Comum, propriamente dita ou exclusivamente

    privada. 703

    .

    5.

    5.

    2 Personalssima. 70

    3.

    5.

    5.3 Ao penal privada subsidiria (da pblica). 70

    3.6 Casos especficos de ao penal. 72

    3.

    6.1 Leses corporais . 72

    3.

    6.

    2 Crimes contra a honra. 733

    .

    6.

    3 Crimes contra a liberdade sexual e crimes sexuais contravulnervel. 73

    3.7 Outras classificaes da ao penal. 74

    3.

    7.1 Ao penal pblica subsidiria da pblica. 74

    3.

    7.2 Ao penal (privada) adesiva. 75

    3.

    7.3 Ao penal secundria. 75

    3.

    7.4 Ao penal extensiva. 75

    3.

    7.5 Ao penal de preveno. 76

    3.

    7.6 Ao penal ex officio. 76

    3.

    7.7 Ao penal popular. 76

    3.8 Denncia ou queixa. 76

    3.

    8.1 Requisitos comuns da denncia e da queixa (art. 41 do

    CPP). 773

    .

    8.

    1.1 Requisito especfico da queixa (art. 44 do CPP).. 79

  • 14 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    3.

    8.2 Causas de rejeio liminar da denncia ou queixa (art.

    395 do CPP). 79

    4. DA AO CIVIL EX DELICTO . 83

    4.1 Introduo. 83

    4.2 Ao civil de conhecimento (art. 64 do CPP). 83

    4.3 Ao de execuo civil (art. 63 do CPP). 84

    4.4 Repercusso civil da absolvio criminal. 86

    4.

    5 Outros casos... 88

    4.6 Legitimidade extraordinria do Ministrio Pblico. 88

    5.

    DA COMPETNCIA. 895.

    1 Conceito . 89

    5.2 Critrios de concretizao da competncia. 89

    5.

    2.1 Competncia das Justias Especiais. 89

    5.

    2.

    1.1 Justia Federal. 90

    5.

    2.2 Competncia por prerrogativa de funo. 95

    5.

    2.

    2.1 Outras imunidades do Presidente da Repblica . 97

    5.

    2.

    2.2 Conflito entre competncia por prerrogativa de

    funo e competncia em razo da matria (ra-tione materiae). 100

    5.

    2.

    2.3 Competncia por prerrogativa de funo e exer-

    ccio funcional: o cancelamento da Smula394 do STF e a alterao do art. 84 do CPP (Lei10.628, de 24.12.2002). 103

    5.

    2.3 Competncia territorial (ou de foro). 107

    5.

    2.4 Competncia de juzo. 107

    5.3 Competncia por conexo ou continncia. 108

    5.

    3.1 Competncia por conexo. 108

    5.

    3.

    1.1 Conexo intersubjetiva (art. 76, I, do CPP). 108

    5.

    3.

    1.2 Conexo objetiva, lgica ou material (art. 76, II,

    do CPP). 1105

    .

    3.

    1.3 Conexo objetiva ou material e os crimes dolo-

    sos contra a vida. 112

    5.

    3.

    1.4 Conexo probatria ou instrumental (art. 76, III,

    do CPP).

    113

    5.

    3.2 Competncia por continncia (art. 77 do CPP). 114

    5.

    3.

    2.1 Continncia por cumulao subjetiva (art. 77, I,

    do CPP). 114

  • Sumrio 15

    5.

    3.

    2.2 Continncia por cumulao objetiva (art. 77, II,

    doCPP). 1145

    .

    3.

    2.3 Distino entre as continncias por cumulao

    subjetiva e objetiva. 1155

    .4 Foro prevalente. 1156

    . DAS QUESTES E PROCESSOS INCIDENTES. 1176

    .1 Das questes prejudiciais. 1176

    .2 Das excees. 1186

    .

    2.

    1 Modal idades de defesa. 1186

    .

    2.

    2 Conceito. 1196

    .

    2.3 As "excees" (objees) processuais. 120

    6.

    2.4 As excees do Cdigo de Processo Penal (art. 95, I a V).. 120

    6.

    2.

    4.1 Suspeio (art. 95, I, do CPP). 120

    6.

    2.

    4.2 Incompetncia de juzo (art. 95, II, do CPP). 124

    6.

    2.

    4.3 Litispendncia e coisa julgada (art. 95, III e V, do

    CPP). 1276

    .

    2.

    4.4 Ilegitimidade de parte (art. 95, IV, do CPP). 127

    6.3 Das medidas assecuratrias. 128

    6.

    3.1 Do sequestro. 128

    6.

    3.2 Hipoteca legal e arresto. 129

    6.

    3.3 Arresto prvio. 130

    6.

    3.4 Observaes. 130

    6.

    4 Da insanidade mental do acusado. 1306

    .

    5 Incidente de falsidade. 1326

    .6 Sujeitos do processo. 1336

    .

    6.1 O juiz. 133

    6.

    6.

    2 Do Ministrio Pblico. 1366

    .

    6.

    3 Do acusado. 136

    6.

    6.

    4 Do defensor. 1366

    .

    6.

    5 Dos assistentes. 138

    6.

    6.6 Dos funcionrias da Justia. 139

    6.

    6.7 Dos peritos e intrpretes. 139

    7.

    DAS PROVAS. 141

    7.

    1 Conceito. 1417

    .2 Sistema de apreciao da prova (art. 155 do CPP). 1417

    .3 Fonte de prova. 142

  • 16 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    7.4 Meio de prova. 142

    7.5 nus da prova (art. 156 do CPP). 142

    7.6 Momentos da prova. 143

    7.

    6.1 Produo antecipada da prova. 143

    7.7 Provas vedadas ou proibidas. 144

    7.8 Das provas em espcie. 144

    7.

    8.1 Dos exames periciais. 144

    7.

    8.

    1.1 Do exame de corpo de delito (art. 158 do CPP). 146

    7.

    8.2 Do interrogatrio. 146

    7.

    8.

    2.

    1 Conceito. 146

    7.

    8.

    2.2 Natureza jurdica. 147

    7.

    8.

    2.3 Principais aspectos. 149

    7.

    8.

    2.4 Forma e local do interrogatrio (videoconfern-

    cia). 1517

    .

    8.

    2.5 Procedimento: as fases do interrogatrio e o di-

    reito ao silncio . 152

    7.

    8.

    2.6 Contedo do interrogatrio. 154

    7.

    8.

    2.7 Obrigatoriedade de realizao do interrogatrio 158

    7.

    8.

    2.8 Possibilidade de novo interrogatrio (reinterro-

    gatrio). 1587

    .

    8.

    3 Da confisso. 158

    7.

    8.4 Da acareao. 159

    7.

    8.5 Das declaraes do ofendido. 159

    7.

    8.

    6 Das testemunhas. 164

    7.

    8.

    6.

    1 Conceito. 164

    7.

    8.

    6.2 Distino entre testemunha e ofendido. 164

    7.

    8.

    6.3 Capacidade para ser testemunha. 165

    7.

    8.

    6.

    4 Deveres das testemunhas. 166

    7.

    8.

    6.5 Dever de comparecimento. 166

    7.

    8.

    6.6 Dever de depor. 166

    7.

    8.

    6.

    7 Dever de dizer a verdade. 170

    7.

    8.

    6.8 Procedimento do depoimento. 172

    7.

    8.7 Do reconhecimento de pessoas e coisas. 174

    7.

    8.8 Da prova documental (arts. 231 a 238 do CPP). 1 74

    7.

    8.9 Busca e apreenso. 175

    8.

    MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS. 177

  • Sumrio 17

    8.1 Noes gerais. 177

    8.2 Regras gerais para a aplicao das medidas cautelares pessoais no

    processo penal (art. 282). 1 788

    .

    2.1 A regra da proporcionalidade {caput e incisos I e II). 178

    8.

    2.

    1.1 A regra da proporcionalidade em face da sus-

    penso condicional do processo, da pena poten-cial e do menor potencial ofensivo. 180

    8.

    2.2 A estrutura da motivao dos provimentos cautelares. 181

    8.

    2.

    2.1 Condio de admissibilidade (art. 283, 1.). 182

    8.

    2.

    2.2 Requisitos cautelares: o fumus commissi delicti.. 182

    8.

    2.

    2.3 Requisitos cautelares: o periculum libertatis (art.

    282,1). 1838

    .

    2.

    2.4 Determinao da medida cautelar pessoal a ser

    aplicada (art. 282, 1. e 6.). 1848

    .

    2.

    2.5 Procedimento para aplicao das medidas cau-

    telares pessoais (art. 282, 2.). 1848

    .

    2.

    2.

    5.1 Contraditrio prvio (art. 282, 3.)... 185

    8.

    2.

    2.6 Descumprimento das medidas cautelares pes-

    soais (art. 282, 4.). 1868

    .

    2.

    2.7 A situacionalidade das medidas cautelares pes-

    soais (art. 282, 5.). 1878

    .

    2.

    2.8 A subsidiariedade e excepcionalidade da priso

    preventiva (art. 282, 60). 1888

    .3 Prises cautelares (processuais ou provisrias). 1888

    .

    3.1 Justificativa da priso processual (provisria ou cautelar).. 192

    8.

    3.2 Espcies de priso processual (provisria ou cautelar). 193

    8.

    3.

    2.1 Da priso em flagrante. 193

    8.

    3.

    2.

    1.1 Controle jurisdicional da priso em

    flagrante (art. 310 do CPP). 1978

    .

    3.

    2.

    1.2 Converso da priso em flagrante em

    preventiva e a proibio da sua decre-tao ex officio durante a investigaocriminal (arts. 310, II, e 311 do CPP).. 197

    8.3.2.2 Da priso temporria. 1988

    .

    3.

    2.3 Da priso preventiva. 200

    8.

    3.

    2.

    3.1 Priso preventiva substitutiva, em caso

    de descumprimento injustificado demedidas cautelares diversas da priso

  • 18 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. junqueira e Angela C. C. Machado

    (arts. 282, 4., e 312, pargrafo ni-co, do CPP). 204

    8.

    3.

    2.

    3.2 Procedimento para decretao da pri-

    so preventiva (art. 311 do CPP). 2068

    .

    3.

    2.

    3.3 Substituio da priso preventiva por

    priso domiciliar (arts. 317 e 318 doCPP). 206

    8.

    3.

    2.4 Priso por pronncia e por condenao recorr-

    vel. 207

    8.

    3.3 Requisitos fundamentais para qualquer espcie de priso. 207

    8.4 Medidas cautelares diversas da priso (arts. 319 e 320 do CPP). 207

    8.5 Liberdade provisria. 209

    9.

    PROCEDIMENTOS. 213

    9.1 Noes Gerais. 213

    9.

    1.1 Da suspenso condicional do processo. 213

    9.

    2 Dos Procedimentos Penais (art. 394 do CPP). 2159

    .

    2.1 Do procedimento comum ordinrio. 216

    9.

    2.

    1.1 Oferecimento da denncia ou queixa. 216

    9.

    2.

    1.2 Rejeio liminar (art. 395 do CPP) ou "recebi-

    mento" da denncia ou queixa (art. 396, caput,

    do CPP). 2179.2.1.3 Citao do acusado. 2199

    .

    2.

    1.4 Apresentao da resposta acusao (arts. 396 e

    396-A). 2259

    .

    2.

    1.5 Absolvio sumria (art. 397 do CPP). 227

    9.

    2.

    1.6 Designao da audincia de instruo e julga-

    mento (art. 399, caput). 2289

    .

    2.

    1.7 Audincia de instruo e julgamento (art. 400,

    caput). 2299

    .

    2.

    1.8 Requerimento de diligncias complementares

    (art. 402). 2309

    .

    2.

    1.9 Sentena (arts. 381 a 392 do CPP). 231

    9.

    2.2 Do procedimento comum sumrio (arts. 531 a 538 do

    CPP). 2379

    .

    2.

    2.

    1 A fase inicial dos arts. 395 a 397 do CPP (art.394, 4.). 238

    9.

    2.

    2.2 Audincia de instruo e julgamento (art. 531).. 238

    9.

    2.3 Do procedimento da Lei 9.099/95. 239

  • Sumrio 19

    9.

    2.

    3.1 Fase preliminar (arts. 69 a 76). 240

    9.

    2.

    3.

    2 Procedimento Sumarssimo. 242

    9.

    2.

    3.3 Procedimento das infraes penais de menor

    potencial ofensivo no Juzo comum (art. 538 doCPP). 244

    9.

    2.4 Do procedimento especial dos crimes contra a honra (arts.

    519 a 523 do CPP). 2449

    .

    2.

    4.

    1 Audincia de tentativa de conciliao. 2459

    .

    2.

    4.2 Exceo da verdade. 246

    9.

    2.5 Do procedimento especial dos crimes funcionais (art. 513

    do CPP).

    247

    9.

    2.

    5.

    1 Procedimento. 247

    9.

    2.6 Do procedimento especial dos crimes falimentares. 248

    9.

    2.

    6.1 Natureza jurdica da sentena que decreta a fa-

    lncia ou concede a recuperao. 2509

    .

    2.

    6.2 Prescrio nos crimes falimentares. 251

    9.

    2.7 Do procedimento dos crimes de trfico de drogas (atual

    Lei de Drogas - Lei 11.343/2006). 2519

    .

    2.

    7.

    1 Procedimento. 252

    9.

    2.8 Procedimento especial do jri. 253

    9.

    2.

    8.1 Aspectos gerais do jri. 253

    9.

    2.

    8.2 Fases do procedimento do jri. 254

    10. DAS NULIDADES. 271

    10.1 Noes Gerais. 27110.2 Nulidades absolutas e relativas. 272

    10.3 Rol de nulidades expressamente previstas no CPP. 276

    11. DOS RECURSOS. 281

    11.1 Noes gerais. 28111.1.1 Conceito . 281

    11.1.2 Princpios norteadores dos recursos. 28111.1.2.1 Princpio do duplo grau de jurisdio. 28111.1.2.2 Princpio da voluntariedade. 28111.1.2.3 Princpio de fungibilidade. 28211.1.2.4 Princpio da proibio da reformatio in pejus .... 282

    11.1.3 Pressupostos recursais. 28311.1.4 Efeitos. 284

  • 20 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    11.1.5 Juzos recursais: admissibilidade e mrito. 28511.2 Dos recursos em espcie. 285

    11.2.1 Recurso em sentido estrito (arts. 581 a 592 do CPP). 28511.2.2 Apelao (arts. 593 a 603 do CPP). 29111.2.3 Embargos infringentes e de nulidade (art. 609, pargrafo

    nico, do CPP). 29311.2.4 Embargos de declarao (arts. 619 e 620 do CPP). 29311.2.5 Carta testemunhvel (arts. 639 a 646 do CPP). 29411.2.6 Correio parcial. 29511.2.7 Recurso ordinrio constitucional. 296

    11.2.8 Recurso especial. 29611.2.9 Recurso extraordinrio. 298

    11.2.10 Agravo contra deciso de inadmissibilidade dos recursosespecial e extraordinrio. 300

    11.2.11 Agravo em execuo. 30011.2.12 Agravo regimental. 301

    12. AES IMPUGNATIVAS. 30312.1 Reviso Criminal (arts. 621 a 631 do CPP). 30312.2 Habeas Corpus (arts. 647 a 667 do CPP, e art. 5., LXVIII, da CF)... 30712.3 Mandado de Segurana. 31312.4 Reclamao Constitucional. 316

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS. 317

  • Dos Princpios do DireitoProcessual Penal

    1.1 INTRODUO

    O Processo Penal visa possibilitar a concretizao do poder estatal depunir da forma mais eficaz, ou seja, a aplicao efetiva do Direito Penal, sempredentro de limites que garantam ao indivduo a preservao de sua dignidade.As duas funes se relacionam de forma dialtica, mas em um Estado De-mocrtico de Direito as garantias do indivduo no podem ser desprezadasem prol das finalidades do Estado. Da a presena de princpios que, em suamaioria

    , dizem respeito s garantias individuais.

    Alguns princpios e regras sero examinados em momento oportuno,introduzindo os temas pertinentes. Arrolaremos, por ora, apenas os princpiosmais abstratos, para que seja possvel o desenvolvimento da matria.1.

    1.1 Princpio do devido processo legal

    A ideia do dueprocess oflaw, talvez uma das mais antigas conquistas doindivduo contra abusos do poder estatal, tem reconhecimento expresso naConstituio Federal (art. 5., LIV).

    Sempre relacionado com a ideia de que o sujeito tem direito a ser proces-sado nos ditames da lei, sem abusos ou excees. Como a lei elaborada coma atuao dos pares e representantes do indivduo (Cmara dos Deputados),os abusos estariam repelidos.

    Atualmente, classifica-se tal viso como devido processo legal formal,permitindo diferenciao com outra face do princpio, mais atual e garantista:o devido processo legal material.

    A ideia de que o processo jamais pode tangenciar a dignidade da pes-soa humana, e deve ser interpretado sempre de forma a privilegi-la. Entreduas interpretaes possveis, na analogia, na compreenso doutrinria dos

  • 22 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    institutos, sempre deve ser privilegiada a noo de preservao da dignidadeda pessoa, como consequncia inafastvel do Estado Democrtico de Direito.

    Assim, ainda que a lei seja omissa acerca de garantia essencial para a ma-nuteno da dignidade, ela dever ser obedecida, em respeito face materialdo devido processo legal.

    1.

    1.2 Princpio do contraditrio

    Cincia e participao. O indivduo tem o direito de estar ciente de todosos atos, para que possa se comportar de forma coerente e conveniente comsua pretenso. Tem fora constitucional expressa.

    Alm da cincia, preciso que tenha condies de participar do processo,

    produzindo provas, elaborando pedidos, indicando providncias.A grande inspirao do processo moderno essa

    , em que as partes estoem igualdade (no tratamento igual, mas que as deixem em p de igualdade,respeitando as desigualdades) na busca dos respectivos interesses.

    Tal princpio acaba redundando na necessidade de fundamentao dasdecises jurisdicionais com apreciao das teses das partes, pois se esvaziariao direito de participao (base do contraditrio) se a parte elaborasse granderol de argumentos que viesse a ser desprezado pelo julgador. Tem o direitoa participar do processo e ter sua participao respeitada

    , com o exame de

    suas teses, em respeito ao contraditrio. Vale lembrar que a obrigatoriedade

    de fundamentao das decises jurisdicionais expressa na ConstituioFederal (art. 93

    , IX, da CF/1988).

    1.

    1.3 Princpio da ampla defesa

    A especificao do contraditrio permite visualizar de forma mais de-talhada suas possibilidades. A Constituio Federal traz expressa a garantiade ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes.

    A ampla defesa costuma ser traduzida como a soma da autodefesa e dadefesa tcnica.

    A autodefesa garantia individual, uma vez que humana a necessidadede poder, pessoalmente,

    argumentar acerca da prpria inocncia ou justificaros prprios atos. Seria degradante impedir a pessoa de se expor perante o re-presentante do Estado de forma direta, o que, alis, torna bastante controversaa constitucionalidade de atos praticados por videoconferncia

    , em especial,o interrogatrio. Por outro lado, apenas o envolvido sabe exatamente onde

  • Cap. 1 . Dos Princpios do Direito Processual Penal 23

    estava no momento dos fatos, e tem conhecimento das circunstncias quelhe podem ser favorveis.

    A defesa tcnica a garantia de que o ensejo de liberdade do indivduoser traduzido para a linguagem jurdica da melhor forma, e que a parte tercomo aproveitar todas as faculdades permitidas pela lei na defesa de seu inte-resse. Apenas a defesa tcnica tem condio de participar do processo de formaapta a influir no resultado dentro dos limites impostos pelo mundo jurdico.

    A autodefesa sem defesa tcnica grito desarticulado, emoo sem razo.A defesa tcnica sem autodefesa forma sem contedo. Apenas o conjuntopode satisfazer a garantia constitucional, sob pena de nulidade.

    A defesa tcnica exercida por profissional legalmente habilitado (advo-gado inscrito nos quadros da OAB) e se caracteriza por sua indisponibilidadeou irrenunciabilidade. Com efeito, a defesa tcnica condio para o efetivoestabelecimento das garantias do contraditrio e da ampla defesa (art. 5., LV,da CF/1988) no processo penal, promovendo-se com isso a paridade de armas(par condido) inerente ao princpio da igualdade das partes. Por essa razo, aConstituio Federal considera o advogado "indispensvel administrao daJustia" (art. 133) e o art. 261, caput, do Cdigo de Processo Penal, asseguraque "nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, ser processado oujulgado sem defensor". Compreende-se, assim, a feio de indisponibilidadeou irrenunciabilidade da defesa tcnica, sendo irrelevante que o acusado nopossua ou no queira um advogado, devendo o Juiz nomear defensor dativo(art. 263, caput, primeira parte, do CPP).

    A autodefesa, por seu turno, no pode ser imposta ao acusado, sendo,portanto, renuncivel em face do direito ao silncio (arts. 5., LXIII, daCF/1988, e 186 do CPP) e da possibilidade de o acusado ser revel (art. 367do CPP). Sua disponibilidade pelo acusado no significa, contudo, possa ojuiz dispensar a autodefesa: deve ser garantida a oportunidade da autodefesa,ficando seu exerccio a critrio do sujeito da defesa (acusado).

    A autodefesa se manifesta sob trs aspectos: o "direito de audincia", o"direito de presena" e o "direito de postulao".

    O "direito de audincia" se revela pela possibilidade de o acusado influen-ciar direta e pessoalmente, mediante o interrogatrio, na convico do j uiz.

    O "direito de presena" consiste na possibilidade de o acusado acom-panhar todos os atos do processo, podendo, a todo momento, posicionar-seperante as alegaes e provas produzidas, como, v.g., orientar seu defensora formular perguntas para as testemunhas.

  • 24 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    O "direito de postulao" emerge da possibilidade de o acusado inter-por recurso (legitimao recursal autnoma e concorrente com o defensor-

    disjuntiva), nos termos do art. 577, caput, do CPP, ou formular pedido dereviso criminal pessoalmente (art. 623 do CPP).

    Defesa tcnica (indisponvel)

    Direito de defesaAutodefesa (disponvel)

    - direito de audincia

    -direito de presena-direito de postulao

    1.

    1.4 Princpio da presuno de inocncia

    Prevalece o que foi adotado pela Constituio Federal.Obviamente no significa, como alguns argumentam, que a inocncia

    presumida e no cabe prova em contrrio, ou seja, que a presuno absoluta.A ideia que o sujeito tem o direito de ser considerado inocente at que seprove o contrrio e a concluso da existncia de tal prova vem em sentenacondenatria com trnsito em julgado.

    Alis, a redao do art. 8.

    , item 2, da Conveno Americana sobre Direi-

    tos Humanos, ratificada pelo Brasil, traz expressa a presuno de inocncia.O princpio obriga o Estado a considerar o sujeito inocente at o trnsito

    em julgado da sentena condenatria, ou seja, o sujeito no pode ser tratadocomo culpado ou sofrer restries em direitos que pessoas inocentes nopodem sofrer. Por isso, o STJ editou a Smula 444, que enuncia:

    vedada a utilizao de inquritos policiais e aes penais em cursopara agravar a pena-base.

    Significa que no possvel priso sem sentena condenatria transitadaem julgado? No, pois possvel a priso cautelar, mas significa que a prisoantes da certeza da culpa no pode ter sentido de pena, nem finalidade depena. A priso cautelar possvel exatamente porque tem finalidade instru-mental, visando assegurar o bom andamento da ao principal (art. 312 doCPP), no tendo escopo punitivo.1.

    1.5 Princpio acusatrio

    Em um Estado Democrtico de Direito que garante a ampla defesa e ocontraditrio, est delineado o alicerce de um sistema acusatrio

    , que, para

  • Cap. 1 . Dos Princpios do Direito Processual Penal 25

    maioria da doutrina (Choukr, Prado), foi adotado pelo sistema constitucionalbrasileiro para o processo penal. No sistema acusatrio, h um processo departes com os papis de defesa e acusao bem contornados, bem como umjuiz imparcial que no tem interesse outro que no a soluo - conforme oordenamento - do conflito estabelecido pelas partes. O Juiz no tem interes-se na procedncia ou improcedncia da ao, mas sim no fim do conflito deacordo com os princpios constitucionais e leis processuais. Tal equidistnciadas partes acaba culminando em um juiz inerte, que tambm caracteriza osistema acusatrio.

    O anverso do sistema acusatrio o sistema inquisitivo em que um srgo acumula as funes de acusador e julgador, buscando provas de ofcioe em todos os sentidos, at que se sinta satisfeito e preparado para julgar.

    Ainda que o sistema processual penal brasileiro tenha suas linhas prin-cipais estabelecidas pelo princpio acusatrio, h forte inspirao inquisitiva,como no controle da acusao determinado pelo art. 28 do CPP e nas vriasmedidas de ofcio que o juiz pode determinar (colheita de provas, prisoprocessual) antes ou durante a instruo processual, alm do inqurito po-licial

    , presidido, em regra, pela autoridade policial, e dotado, como veremosa seguir, da caracterstica da inquisitoriedade.

    1.2 APLICAO E INTERPRETAO DA LEI PROCESSUAL PENAL

    1.

    2.1 Aplicao da lei processual penal no tempo

    O art. 2. do CPP determina a aplicao imediata da lei processual penalaos processos em curso, preservada a validade dos atos anteriormente pra-jicados_(a lei nova no retroage), porquanto realizados de acordo com a lei(anterior) ento vigente. Trata-se da adoo do princpio tempus regit actum,segundo o qual o ato se rege pela lei vigente ao tempo da sua realizao.

    Discute-se sobre a possibilidade de incidncia da regra da aplicao ime-diata (art. 2. do CPP) em caso de norma processual com carter, contedoou reflexo penal (mistas, hbridas ou normas processuais materiais), assimconsideradas aquelas que afetam a liberdade de locomoo ou o direito depunir do Estado (alguns incluem aquelas que se relacionam diretamente comos direitos e garantias do acusado).

    Entende-se que deve ento prevalecer o aspecto penal da norma pro-cessual, aplicando-se a regra da retroatividade da lei posterior benfica (e a

  • 26 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    consequente irretroatividade da lei posterior gravosa), nos termos do art.5

    .

    , XL, da CF/1988.

    Em suma: a regra da aplicao imediata da lei processual penal (art. 2.do CPP) alcanaria apenas as normas genuinamente processuais.

    Assim, em face dos desdobramentos penais da modificao operada naao penal do crime de estupro, Aury Lopes Jr. entende que, para as condu-tas praticadas antes de 7 de agosto de 2009 (vigncia da Lei 12.015/2009),continua sendo aplicado o regime legal anterior (Direitoprocessual penal e suaconformidade constitucional, I, p. 390), em que a ao penal seria de iniciativaprivada, em geral, com a consequente possibilidade de renncia e decadnciado direito de queixa, bem como de perdo do ofendido e perempo duranteo curso da ao penal.

    1.

    2.2 Interpretao e integrao da lei processual penal

    A lei processual penal admite interpretao extensiva e aplicao analgi-ca, bem como o suplemento dos princpios gerais de direito (art. 3. do CPP).

    A interpretao extensiva pressupe a existncia de uma norma (no setrata de lacuna)

    , cujo alcance pode ser estendido ou ampliado para alcanaruma situao no contemplada expressamente ("a lei disse menos do quequeria").

    Assim, a previso legal do cabimento de recurso em sentido estritocontra a deciso de rejeio liminar da denncia ou queixa (art. 581,1

    , do

    CPP) obviamente pode ser estendida para a impugnao da deciso de rejeiodo aditamento da denncia ou queixa (art. 384

    , 5., do CPP). Do mesmo

    modo, a possibilidade de o curador especial exercer o direito de queixa (art.33 do CPP) pode ser estendida ao direito de representao, afinal, quem podepropor a ao penal privada pode, a Jortiori (com maior razo), autorizar oMinistrio Pblico a propor a ao penal pblica condicionada.

    Diversamente, a aplicao analgica ou analogia no constitui forma de

    interpretao, mas sim de integrao do ordenamento jurdico (pressupeuma lacuna, ou seja, a ausncia de norma disciplinando o assunto). Emoutras palavras: a aplicao analgica ou analogia tem por efeito a criaode norma jurdica e no apenas a sua extenso. Assim, a ausncia de normaprocessual penal a respeito do efeito da oposio dos embargos de declarao(arts. 382 e 619 a 620) possibilita a aplicao analgica (por analogia) da regraestabelecida no art. 538 do CPC: interrupo do prazo para a interposiode outros recursos, por qualquer das partes (onde esteja presente a mesmarazo

    , aplica-se o mesmo direito).

  • Cap. 1 . Dos Princpios do Direito Processual Penal 27

    A aplicao analgica ou analogia (art. 3. do CPP), contudo, no seconfunde com a "interpretao analgica", em que a norma (existente, nose cogitando de lacuna) apresenta uma enumerao casustica, seguida deuma clusula genrica de encerramento, a qual permite uma abertura paraalcanar outras situaes similares. Tal ocorre no art. 28, II, do CP, que cuidada embriaguez "pelo lcool ou substncia de efeitos anlogos", ou mesmo comalgumasqualificadoras do homicdio doloso (art. 121, 2., I, III e IV, do CP).

    Inexistindo norma processual penal que possa ser interpretada e qualqueroutra que possa ser aplicada analogicamente (analogia), deve o juiz buscar aintegrao do ordenamento jurdico com o suplemento dos princpios geraisde direito. Assim ocorre, por exemplo, com a admissibilidade excepcional dasprovas ilcitas pro reo (proporcionalidade) e com o direito de o indiciado ouacusado recusar a participao em reproduo simulada do fato (art. 7. doCPP) ou o fornecimento de padres de escrita para comparao grfica (art.174, IV, do CPP), em face da garantia contra a autoincriminao ou (nemotenetur se detegere).

    Em igual sentido:"O suposto autor do ilcito penal no pode ser compelido, sob pena

    de caracterizao de injusto constrangimento, a participar da reproduosimulada do fato delituoso. O magistrio doutrinrio, atento ao princpioque concede a qualquer indiciado ou ru o privilgio contra a autoin-criminao, ressalta a circunstncia de que essencialmente voluntriaa participao do imputado no ato - provido de indiscutvel eficciaprobatria - concretizador da reproduo simulada do fato delituoso.(...

    )" (STF, HC69.026/DF, 1.fT.,j. 10.12.1991, rei. Min. Celso de Mello,

    D/04.09.1992).

    A respeito do fornecimento de padres de escrita:"Diante do princpio nemo tenetur se detegere, que informa o nosso

    direito de punir, fora de dvida que o dispositivo do inciso IV do art. 174do CPP h de ser interpretado no sentido de no poder ser o indiciadocompel ido a fornecer padres grficos do prprio punho, para os examespericiais, cabendo apenas ser intimado para faz-lo a seu alvedrio. quea comparao grfica configura ato de carter essencialmente probatrio,no se podendo, em face do privilgio de que desfruta o indiciado contraa autoincriminao, obrigar o suposto autor do delito a fornecer provacapaz de levar caracterizao de sua culpa. Assim, pode a autoridadeno s fazer requisio a arquivos ou estabelecimentos pblicos, onde seencontrem documentos da pessoa a qual atribuda a letra, ou procedera exame no prprio lugar onde se encontrar o documento em questo,

  • Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    ou ainda, certo, proceder colheita de material, para o que intimar apessoa, a quem se atribui ou pode ser atribu ido o escrito, a escrever o quelhe for ditado, no lhe cabendo, entretanto

    , ordenar que o faa, sob penade desobedincia, como deixa transparecer, a um apressado exame, oCdigo de Processo Penal, no inciso IV do art. 1 74. Habeas corpus con-cedido"

    (STF, HC 77.135/SP, 1 .aT j. 08.09.1998, rei. Min. limar Galvo,D) 06.11.1998).

  • Do Inqurito Policial

    2.1 INTRODUO: A PERSECUO PENAL

    Praticada a infrao penal, nasce para o Estado a pretenso punitiva,consistente no direito-dever de aplicar a sano penal ao autor da condutaproibida pela norma penal ou, mais tecnicamente, na exigncia de subordi-nao do direito de liberdade ao direito de punir.

    O ordenamento jurdico, no entanto, por fora da indisponibilidade dodireito de liberdade, veda a imediata imposio da sano penal ao agente,submetendo a satisfao da pretenso punitiva a um controle jurisdicionalantecedente.

    Assim, embora o Estado detenha o monoplio do jus puniendi, no se lhe

    permite atuar diretamente a sano penal, seno jurisdicionalmente, por meiode um processo (o jus puniendi no autoexecutvel, mas de coao indireta).

    Da a regra nulla poena sine judicio, segundo a qual "no h pena semprocesso

    "

    .

    A propsito, prescreve o art. 5., LIV, da CF/1988, que "ningum serprivado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal", vale dizer,a aplicao da sano penal pressupe a tramitao de um processo, desen-volvido segundo a forma estabelecida em lei.

    O processo assume a feio de verdadeira garantia aos acusados, pois,para assegurar a defesa e tutelar o direito de liberdade, o Estado tornou obri-gatria a aplicao do Direito Penal pela via jurisdicional, interpondo, assim,o processo entre o cometimento da infrao penal e a efetiva aplicao dasano penal.

    Com efeito, o Estado autolimitou o exerccio do jus puniendi, condicio-nando a imposio da sano penal a uma precedente apreciao jurisdicio-

  • 30 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    nal acerca da procedncia da pretenso punitiva estatal e sua consequenteprevalncia sobre o jus libertatis do agente.

    O fato de a sano penal somente poder ser aplicada processualmenteimpe ao Estado a consecuo de atividades destinadas a obter a aplicaoda pena: a persecutio criminis, consubstanciada por duas fases: a investigaocriminal e a ao penal.

    A investigao criminal constitui atividade preparatria da ao penal,de carter preliminar e informativo

    , cujo escopo fornecer ao rgo da acu-sao substrato para a propositura da ao penal; esta, uma vez instaurada,enseja o desenvolvimento do "devido processo", reclamado pela Constitui-o Federal (art. 5.

    , L1V) para a efetivao da pretenso punitiva estatal e ainflio da sano penal.

    A ao penal, por implicar um natural constrangimento ao status liber-tatis do indivduo

    , requer, para sua propositura e instaurao, a existnciade justa causa (art. 395, III, do CPP), sob pena de a coao ser consideradailegal, o que ensejaria a impetrao de habeas corpus para o trancamento daao penal (art. 648,1, do CPP).

    A justa causa para a ao penal repousa na exigncia de elementos deconvico que proporcionem suporte ftico e demonstrem a viabilidade daacusao (indcios de autoria e prova da existncia da infrao penal), nobastando, para sustentar o constrangimento da ao penal, a singela descri-o (imputao), na denncia ou queixa, de um fato revestido de tipicidade,despido de um "comeo de prova".

    Eis a relevncia do inqurito policial, enquanto instrumento precpuode investigao: propiciar a existncia de justa causa para a propositura e ainstaurao da ao penal, atendendo assim, ao imperativo da segurana naao da justia e salvaguardando os indivduos contra acusaes levianas,temerrias ou desprovidas de qualquer lastro.

    2.2 CONCEITO, FINALIDADE E DESTINATRIOS DO INQURITO

    POLICIAL

    O inqurito policial pode ser conceituado como um procedimento ad-ministrativo

    , de carter inquisitivo e de cunho investigatrio, realizado pelaPolciajudiciria com a finalidade de apurar as infraes penais e sua respectivaautoria (art. 4.

    , caput, do CPP), subsidiando assim, a propositura de eventualao penal. A funo de Polciajudiciria incumbe, no mbito estadual, s

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 31

    Polcias Civis (art. 144, 4., da CF/1988), e, na esfera federal, exercida,com exclusividade, pela Polcia Federal (art. 144, 1., IV, da CF/1988).

    Constitui o inqurito policial o principal (embora no nico) instrumen-to por meio do qual se concretiza a investigao, fase primeira da persecuopenal.

    Trata-se de procedimento administrativo, instaurado e presidido pelaautoridade policial, com o fito de coligir elementos de informao que servirode base ao ajuizamento da ao penal por seu titular.

    Destina-se, portanto, de maneira imediata, ao titular da ao penal: oMinistrio Pblico, nos casos de ao penal pblica, ou o titular do direito dequeixa (ofendido, representante legal, curador especial, cnjuge, ascendente,descendente, irmo), nos casos de ao penal privada.

    De maneira mediata, destina-se ao Juiz de Direito, que apreciar o con-tedo do inqurito policial para decidir sobre o recebimento ou a rejeio dadenncia ou queixa, bem como sobre a decretao de medidas cautelares, taiscomo a priso temporria, a priso preventiva, a interceptao telefnica, abusca e apreenso, o sequestro de bens etc.

    2.3 CARACTERSTICAS DO INQURITO POLICIAL

    2.

    3.

    / Inquisitividade (unilateralidade)Ser inquisitivo significa no ser regido pelos princpios do contraditrio

    e da ampla defesa.A natureza inquisitiva do inqurito policial confere a esse procedimento

    administrativo dinmica absolutamente diversa da presente na ao penal,informada pelas garantias do contraditrio e da ampla defesa, ex vi do art.5

    .

    , LV, da CF/1988.

    Deveras, na ao penal cumpre seja observada a bilateralidade imanen-te ao contraditrio, assegurando-se s partes igualdade de condies e deoportunidades para participao (paridade de armas), podendo cada qualproduzir provas, tecer alegaes e se manifestar sobre todo e qualquer atoou fato do processo.

    No inqurito policial, ao contrrio, as investigaes so conduzidasunilateralmente pela autoridade policial (sem necessidade de interveno doindiciado), realizando-se, com discricionariedade, as diligncias tendentesao esclarecimento da infrao penal e de sua autoria.

  • 32 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    Destarte, por se tratar de procedimento administrativo inquisitivo, des-cabe exigir, no curso do inqurito policial, a observncia dos princpios docontraditrio e da ampla defesa.

    Denota o carter inquisitivo (no contraditrio) do inqurito policialo art. 14 do CPP, que defere autoridade policial discricionariedade pararealizar ou no as diligncias requeridas pelo ofendido (ou representantelegal) e pelo indiciado. Outrossim

    , o art. 107 do CPP impede que as partesoponham suspeio s autoridades policiais nos atos do inqurito, devendoelas se declararem suspeitas, quando ocorrer motivo legal.

    Cabe salientar que o inqurito policial no se insere no mbito de inci-dncia do art. 5.

    , LV, da CF/1988, segundo o qual:"Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados

    em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios erecursos a ela inerentes"

    (grifo nosso).Ao apontar o conceito de inqurito policial, tivemos oportunidade de

    consignar ser ele um procedimento administrativo, e no um "processo"administrativo, tal qual constante da norma constitucional em comento.

    Em verdade, no exibe o inqurito policial caractersticas que o permitam

    qualificar como "processo" administrativo: nele no se vislumbram partes,nem litgio a ser solucionado, e nenhuma sano ou punio pode dele de-correr

    , ao menos diretamente.

    Essa a razo de alguns autores aludirem ao inqurito policial como"

    mero"

    procedimento administrativo, no por menoscabo, mas para ressaltarsua natureza de procedimento, apartando-o da figura do "processo" admi-nistrativo e, por conseguinte, da exigncia constitucional do contraditrioe da ampla defesa.

    Ademais, no se vislumbra no inqurito policial acusao formal, donde

    se infere no haver acusado nesta fase pr-processual da persecuo penal, masto somente "suspeito" ou "indiciado", se assim declarado pela autoridadepolicial no curso das investigaes. Consiste o indiciamento na declaraoda autoria provvel, a ser realizada pela autoridade policial quando indciosapontarem a algum a autoria da infrao penal; a oficializao ou a forma-lizao da suspeita, fazendo com que as investigaes se concentrem sobreo indiciado.

    A acusao formal surge com o oferecimento da denncia ou com oajuizamento da queixa, ocasio em que o rgo da acusao oficializa e fixa

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 33

    os limites da imputao a ser sustentada no curso da ao penal (ou do pro-cesso propriamente dito).2

    .

    3.

    2 Oficiosidade

    O art. 5., I, do CPP, ao enunciar que o inqurito policial ser iniciado deofcio (oficiosidade), estabelece para a autoridade policial a obrigatoriedadeda instaurao de inqurito policial, independentemente de provocao,sempre que se tratar de crime de ao penal pblica incondicionada.

    Ao tomar conhecimento da ocorrncia de um crime de ao penal pblicaincondicionada, surge para a autoridade policial, portanto, o dever legal deinstaurar inqurito policial, devendo faz-lo ex ojficio (art. 5., I, do CPP),por meio de Portaria, no caso de cognio espontnea (imediata ou direta)da infrao penal.

    O art. 5., caput, do CPP, embora mencione genericamente "crimes deao pblica", refere-se apenas aos crimes de ao penal pblica incondicio-nada (espcie do gnero "ao penal pblica"), pois, aos demais casos (aopenal pblica condicionada), o legislador deferiu disciplina legal apartada,insculpida no 4. do mesmo artigo.

    A regra da oficiosidade alcana apenas os casos de ao penal pblicaincondicionada. Em crimes de ao penal pblica condicionada e de aopenal privada, a instaurao do inqurito policial depende de provocao doofendido, consistente em representao ou requerimento, respectivamente(art. 5., 4. e 50, do CPP).

    2.

    3.3 IndisponibilidadeInstaurado o inqurito policial, no pode a autoridade policial dele dis-

    por promovendo o seu arquivamento.O art. 17 do CPP estabelece a proibio de a autoridade policial deter-

    minar o arquivamento de quaisquer autos de inqu

    r

    ito policial.No sistema processual penal brasileiro, o arquivamento de um inqurito

    policial somente pode ser ordenado por Juiz de Direito, a requerimento doMinistrio Pblico (arts. 18 e 28 do CPP).

    Desse modo, ainda que a autoridade policial constate, no curso das

    investigaes, a supervenincia de causa de extino da punibilidade ou seconvena da atipicidade do fato apurado no inqurito policial (ou da ocorrn-cia de causa excludente de ilicitude ou de causa dirimente da culpabilidade),

  • 34 Processo Penal - Pulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    no poder proceder ao arquivamento do inqurito policial, em razo da in-disponibilidade que o cerca (art. 17 do CPP), devendo o Delegado de Polciarelatar o inqurito policial e em seguida remeter os autos ao juzo competente(art. 10, 1., do CPP), onde sua sorte ser decidida.

    Com efeito, o arquivamento de um inqurito policial depende de decisojudicial, a ser proferida em face de provocao do Ministrio Pblico, medianterequerimento fundamentado, tendo em vista o princpio da obrigatoriedadeda ao penal pblica (art. 28 do CPP).

    Na condio de titular exclusivo da ao penal pblica (art. 129,1, daCF/l 988) e, portanto, de destinatrio imediato do inqurito policial, incumbeao Ministrio Pblico a avaliao acerca da inviabilidade do prosseguimentodas investigaes, no podendo o juiz proceder ao arquivamento de inquritopolicial sem prvia manifestao do Ministrio Pblico nesse sentido.

    Se o juiz arquivar exofficio autos de inqurito policial que versem sobrecrime de ao penal pblica, sem requerimento do Ministrio Pblico, cabera interposio de correio parcial contra essa deciso (trata-se de error inprocedendo que gera inverso tumulturia), com supedneo nos arts. 93 a 96do Cdigojudicirio do Estado de So Paulo (Dec.-lei Complementar 3/1969)ou, na esfera dajustia Comum Federal, no art. 6.

    , I, da Lei 5.010/1966.

    2.

    3.4 Dispensabilidade

    O inqurito policial, a despeito de ser o principal instrumento de investi-gao criminal, pode ser dispensado pelo titular da ao penal, desde que estedisponha de elementos de convico suficientes para evidenciar a viabilidadeda acusao (indcios de autoria e prova da existncia da infrao penal),podendo ento a ao penal ser proposta diretamente, independentementeda existncia de inqurito policial.

    Compreende-se a dispensabilidade do inqurito policial, nesse caso, emvirtude de a sua funo precpua (apurar infraes penais e sua respectivaautoria) ter sido alcanada por outro meio de investigao. Cumprida sua

    finalidade, torna-se dispensvel o inqurito policial para a propositura daao penal.

    O exerccio da ao penal impe a existncia de justa causa (art. 395,III, do CPP), ou seja, de um "comeo de prova" acerca do fato constitutivoda acusao, no importando sua origem, se proveniente de um inquritopolicial ou de fonte diversa.

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 35

    A prescindibilidade do inqurito policial decorre da constatao daexistncia de outros procedimentos ou documentaes igualmente capazesde haurir os elementos de convico exigidos para propositura da ao penal(justa causa), em substituio ao inqurito policial.

    O art. 4., pargrafo nico, do CPP, ao esclarecer que a atribuio dasautoridades policiais no exclui a de autoridades administrativas a quem alei cometa a mesma funo, abre a possibilidade de a apurao de infraespenais ser realizada por meio de procedimentos administrativos diversos doinqurito policial, v.g., inquritos parlamentares, elaborados pelas ComissesParlamentares de Inqurito (CPI), dotadas de "poderes de investigao prpriosdas autoridades judiciais" (art. 58, 3., da CF/1988), processos administra-tivos fiscais, cujas informaes podero alicerar a propositura de ao penalpor crime contra a ordem tributria (Lei 8.137/1990, arts. 1. a 3.) e outros.

    O art. 12 do CPP corrobora a dispensabilidade do inqurito policial aoempregar a locuo "sempre que", entrevendo a possibilidade de a dennciaou queixa vir embasada em algo diverso de um inqurito policial.

    Outrossim, proclama a dispensabilidade do inqurito policial o art. 27 doCPP, que defere a qualquer pessoa a possibilidade de fornecer ao MinistrioPblico peas de informao, diante das quais pode o Parquet, desde logo,oferecer denncia, dispensando o inqurito policial para a promoo da aopenal pblica (art. 46, 1 , do CPP).

    2.

    3.

    4.1 Dispensabilidade na Lei 9.099/1995 (JECrim)

    Por derradeiro, saliente-se que a Lei 9.099/1995, instituidora dosjuiza-

    dos Especiais Criminais, em seu art. 77, 1., dispensou o inqurito policialpara a apurao das infraes penais de menor potencial ofensivo, prevendo,em ateno aos critrios da celeridade (art. 62) e da simplicidade (art. 2.),a lavratura de termo circunstanciado (art. 69, caput) como substitutivo ousucedneo do inqurito policial.

    2.

    3.

    5 Escrito

    Os atos realizados no bojo do inqurito policial devem ser reduzidos aescrito e reunidos nos autos do procedimento (art. 9. do CPP).2

    .

    3.6 SigiloA fim de assegurar o sucesso da investigao e de resguardar a imagem e

    a honra dos sujeitos envolvidos na persecuo penal (art. 5., X, da CF/1988),

  • 36 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    estabelece a legislao processual penal a possibilidade de a autoridade policialimprimir sigilo ao inqurito policial, sob o fundamento de sua necessidadepara a elucidao do fato ou para o atendimento do interesse da sociedade(art. 20, caput, do CPP).

    Saliente-se que a decretao do sigilo do inqurito policial se revestede absoluta constitucionalidade. O art. 5., LX, da CF, ao circunscrever agarantia da publicidade aos atos processuais, afasta da incidncia da normaos atos praticados em sede de inqurito policial (procedimento). Ademais,a aludida norma constitucional permite restringir a publicidade em virtudede disposio legal, a qual, no caso do inqurito policial, corresponde ao art.20

    , caput, do CPP.O sigilo dos autos de inqurito policial, contudo, no pode ser oposto

    ao Ministrio Pblico (destinatrio imediato das investigaes), ao Juiz deDireito (destinatrio mediato das investigaes) e o dvogaclo.

    Em relao ao advogado, o Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) pres-creve, em seu art. 7.

    , XIV, ser direito do advogado "examinar, em qualquerrepartio policial, mesmo sem procurao, autos de flagrante e de inqurito,findos ou em andamento, ainda que conclusos autoridade, podendo copiarpeas e tomar apontamentos".

    O Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito de acesso aos autos deinqurito policial por meio da Smula vinculante 14, que enuncia:

    " direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amploaos elementos de prova que, j documentados em procedimento investi-gatrio realizado porrgocom competncia de Polcia Judiciria, digamrespeito ao exerccio do direito de defesa".

    O ato administrativo ou deciso judicial que contrariar enunciado desmula vinculante pode ser impugnado por meio de reclamao constitu-cional ao Supremo Tribunal Federal (art. 103-A, 3., da CF/1988), semprejuzo dos recursos ou outros meios de impugnao (art. 7., caput, da Lei11.417/2006), tais como habeas corpus ou mandado de segurana.

    2.4 QUESTES PONTUAIS

    2.

    4.

    1 Curador

    Ao indiciado menor, assim considerado aquele que ostenta 18 anoscompletos (imputvel) mas ainda no alcanou 21 anos de idade, ser nome-

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 37

    ado curador, que deve estar presente a todos os atos aos quais deva o menorcomparecer (arts. 15 e 262 do CPP).

    A falta de nomeao de curador no inqurito policial constitui mera ir-regularidade. Contudo, a ausncia de curador na lavratura do auto de prisoem flagrante, no caso de indiciado menor, gera ilegalidade (inobservnciade formalidade legal - art. 15 do CPP) que enseja o relaxamento da prisoem flagrante.

    A inobservncia de formalidades legais na lavratura do auto de prisoem flagrante no acarreta sua nulidade, por ser estranho ao inqurito poli-cial - pea meramente informativa - o fenmeno processual da "nulidade".

    Eventual ilegalidade no auto de priso em flagrante, em verdade, noenseja nulidade, mas retira sua fora coercitiva (aptido de manter algumpreso em razo desse ato).

    O auto de priso em flagrante pea de instaurao de inqurito policialdotada de especial aptido: a fora coercitiva, consistente na capacidade deautorizar a privao da liberdade do indiciado encontrado em situao deflagrncia (art. 302,1 a IV, do CPP).

    Portanto, a ilegalidade que porventura macule o auto de priso em fla-grante tem o condo de relaxar sua "fora" coercitiva, desnaturando sua feiode "pea coercitiva", mas no o torna absolutamente imprestvel, porquantoconservada sua valia como pea de instaurao do inqurito policial.

    O curador deve ser necessariamente pessoa maior de 21 anos, no seexigindo seja ele advogado.

    2.

    4.

    1.1 A figura do curador em face do Cdigo Civil (Lei

    10.406/2002)O Cdigo Civil, ao atribuir plena capacidade civil aos 18 anos de idade

    (art. 5., caput, do CC/2002),suscitou celeuma acerca da subsistncia (ouno) da exigncia da nomeao de curador ao indiciado menor (art. 15 doCPP). Duas posies podem ser sustentadas a respeito:

    Supresso do curador (predominante): o debate sobre os reflexos do CdigoCivil deflagrou o surgimento de entendimento no sentido da supresso dafigura do curador no processo penal, em face da coincidncia dos critriosetrios adotados para a aquisio da maioridade civil e da imputabilidadepenal (art. 27 do CP). Segundo essa orientao, o art. 5., caput, do CC/2002,operou a revogao tcita do art. 15 do CPP (Cf. Damsio Evangelista de

  • 38 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    Jesus. Mesa de Cincias Criminais - A nova maioridade civil: reflexos penais eprocessuais penais).

    Subsistncia do curador, apenas na fase de inqurito policial: discordamos

    da pretendida repercusso da capacidade civil (de fato ou de exerccio) sobre aseara processual penal. Consideramos subsistente a necessidade de nomeaode curador para o indiciado menor durante o inqurito policial e enunciamosquatro argumentos que sustentam esse posicionamento:

    a) O art. 15 do CPP exige a nomeao de curador ao indiciado menor, e

    no ao indiciado "incapaz". Como se percebe, a legislao vincula agarantia do curador idade do agente, independentemente da capaci-dade civil por ele ostentada. A propsito, Edgard Magalhes Noronhaobserva:

    "A circunstncia de que a lei fala em menor e no em incapaz; conse-quentemente, ainda que emancipado - pelo casamento, colao de grausuperior etc. - deve ser-lhe nomeado curador

    , embora, atendendo-se

    sua capacidade, no se lhe possa negar a palavra para se manifestar sobrequalquer ato processual, sem prejuzo de se ouvir tambm o curador"(Edgard Magalhes Noronha. Curso de Direito Processual Penal, 28. ed.,So Paulo: Saraiva, 2002, p. 185.).

    Fernando Capez, ao cuidar do curador, esclarece igualmente que:A capacidade do menor, tratada pelo Cdigo de Processo Penal, no se

    confunde com a civil, motivo pelo qual a emancipao em nada altera a situ-

    ao (Fernando Capez. Curso de Processo Penal, 9. ed., So Paulo: Saraiva,

    2003, p. 168.).b) A capacidade civil nunca exerceu influncia no processo penal. O ca-

    samento de pessoa menor de 18 anos de idade, embora constitua causa

    de emancipao legal na esfera civil, no acarreta a sua imputabilidadepenal (art. 27 do CP). Do mesmo modo, o legislador processual penalreconheceu a titularidade do direito de queixa ao ofendido com 18anos completos (art. 34 do CPP), que sempre pde ajuizar a ao penalprivada sem necessidade de assistncia, embora no apresentasse plenacapacidade civil durante a vigncia do Cdigo Civil de 1916.

    c) O art. 2.043 do novo Cdigo Civil imuniza outros diplomas legais dosconceitos por ele adotados: "At que por outra forma se disciplinem,continuam em vigor as disposies de natureza processual, adminis-trativa ou penal, constantes de leis cujos preceitos de natureza civilhajam sido incorporados a este Cdigo".

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 39

    d) A Lei 10.792/2003, ao conferir nova disciplina ao interrogatrio doacusado, revogou apenas o art. 194 do CPP, que previa a nomeao decurador na fase judicial, mas no revogou o art. 15 do mesmo diplomalegal. Assim procedendo, o legislador reafirmou a vigncia dos arts. 15e 262 do CPP e, por conseguinte, a subsistncia do curador durantea fase do inqurito policial. Compreende-se a revogao do art. 194em face da redao dada pela Lei 10.792/2003 ao art. 185, caput, doCPP, que exige a presena de advogado no interrogatrio judicial,tornando-se despicienda a nomeao de curador ao acusado menor,posto que a defesa tcnica um plus em relao ao curador (minus).Esse j era o entendimento externado pelo STF no enunciado de suaSmula 352:

    "No nulo o processo por falta de nomeao de curador ao ru menorque teve a assistncia de defensor dativo".

    De outra parte, nos atos do inqurito policial, em que a presena de ad-vogado no obrigatria, dada sua natureza inquisitiva, o indiciado menorpode se encontrar em situao de fragilidade, demandando, assim, a nome-ao de curador.

    Sob uma perspectiva garantista, impe-se a exigncia da nomeao decurador ao indiciado menor.

    Com efeito, no se pode cotejar a aptido para o exerccio dos atos davida civil com a posio da pessoa que se encontra na condio de sujeito-alvode uma persecuo penal, cujo deslinde pode culminar na imposio de umasano penal, qui de natureza privativa de liberdade.

    Por esses motivos, sustentvamos, em edies anteriores, a subsistn-cia da figura do curador no processo penal, atualmente restrita ao InquritoPolicial, por fora da manuteno da vigncia do art. 15 do CPP.

    Alberto Silva Franco, no que tange ao curador, esclarece que:"No se cuida, exclusivamente, de suprir, com essa nomeao, a in-

    capacidade relativa do menor, como, de regra, se afirma. Cuida-se, sim,de estender-lhe uma garantia vinculada ao direito, constitucionalmentetutelado, da ampla defesa e que se traduz no reconhecimento de que,ao menor de vinte e um anos de idade, o Estado-Juiz e o prprio Estado--Administrao tm a obrigao, por antecipao, de dar uma proteoadicional, em considerao sua personalidade. Ao indiciadoeao ru queno adquiriram ainda suficiente experincia de vida devero ser assegura-das, coma nomeao do curador, a inteira liberdadeeespontaneidade de

  • 40 Processo Penal - Pulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    expresso, a excluso de qualquer tipo de constrangimento e a possibili-dade de utilizao de vias de defesa antes mesmo da prpria instauraoda ao penal" (Alberto Silva Franco et. al., Cdigo de Processo Penal esua Interpretao Jurisprudencial, Parte Constitucional

    , p. 439, vol. 1).E o autor remata que:

    "Aatividadefiscalizatriadocurador(...)nosofreu nenhuma limitaocom o novo Cdigo Civil e sua funo protetora do menor de dezoito avinte e um anos de idade permanece de p" (op. cit., p. 441).

    Por derradeiro, cumpre mencionar aresto do extinto Tribunal de Alada

    Criminal do Estado de So Paulo, que reconheceu a manuteno da necessi-dade de curador no processo penal:

    "(...) Oportuno salientar que, ao contrrio do que se tem sustentado,

    o art. 5., do novo Cdigo Civil (Lei Federal 10.406, de 10 de janeiro de2002), no ab-rogou ou derrogou essa garantia e exigncia da lei adje-tiva penal, que visa a proteger o jovem acusado com menos de 21 anos,porquanto esta de natureza pblica e concerne atuao e realizaoda Justia Criminal, ao passo que aquele, de natureza privada, se prestaa reger os atos da vida civil. De igual sorte, o permissivo constitucionalpara o exerccio de direito de voto pelo menor a partir dos 16 anos emnada se refere Justia e ao Direito Penal, mormente quanto imputabi-Iidade. Nem sequer, pelo advento do vigente Cdigo Civil, pois, se podeentrev-lo como lei geral, em face da especial lei penal, uma vez que eleo no em confronto com o Cdigo Penal ou seu Cdigo de Processo. Aocontrrio, estes ltimos, naquilo que no regularem diretamente, devemsocorrer-se dos institutos da lei civil, respeitado o devido processo legal,em perfeita harmonia desses ramos do Direito. No fosse assim

    , tambm

    estariam revogados os institutos penais cogentes relativos atenuanteobrigatria e reduo de prazo prescricional garantidos ao menorde 21 anos, no se mostrando vlido o argumento histrico, susten-tado por alguns intrpretes, de que o Cdigo Criminal do Imprio, de1830, j previa, muito antes do revogado Cdigo Civil de 1916, aquelacircunstncia legal redutora de pena, assim como de nenhuma lgica,permissa vnia, o raciocnio de que infensa a deduo de metade doaludido lapso temporal extintivo porquanto foi instituda pelo legisla-dor por igualmente destinar-se proteo do jovem de personalidadeincompletamente formada, pois, de toda sorte, a nova lei civil consi-dera pessoa plenamente capaz, para todos os atos que regula, a partirdos 18 anos. Ou ab-roga a lei penal por inteiro, no que dispe sobreru menor de 21 anos ou em nada a altera, como de fato no poderiaalterar, dada a natureza pblica, diretamente regulada e calcada naprpria Constituio da Repblica, que tem os Cdigos Penal e de

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 41

    Processo Penal. (...)" (TACrimSP, Ap. 1.440.223/3, 16.aCm. Crim., j.07.10.2004, v.u., rei. Juiz Fernando Miranda, apud Boletim IBCCrim, n.148, p. 880, mar. 2005).

    2.

    4.2 Inquritos extrapoliciais

    O inqurito policial presidido pelo Delegado de Polcia (art. 144, 4.,da CF/1988). H, porm, inquritos extrapoliciais, que no so presididospela autoridade policial, tais como o inqurito instaurado para apurar crimecometido por magistrado (art. 33, pargrafo nico, da LC 35/1979) e pormembro do Ministrio Pblico (art. 41, pargrafo nico, da Lei 8.625/1993,e art. 18, pargrafo nico, da LC 75/1993).

    2.

    4.

    2.1 Investigao criminal direta pelo Ministrio Pblico

    Em face da ausncia de permisso expressa, alguns sustentam a impos-sibilidade de investigao criminal direta pelo Ministrio Pblico, pois aConstituio Federal apenas lhe conferiu os poderes de promover o inquritocivil (e no criminal - art. 129, III), de exercer o controle externo da atividadepolicial (e no a substituir - art. 129, VII) e de requisitar a instaurao deinqurito policial (e no presidir pessoalmente uma investigao criminaldireta-art. 129, VIII).

    De outra parte, a corrente que defende tal possibilidade argumenta coma "teoria dos poderes implcitos": se o Ministrio Pblico tem o poder depromover a ao penal pblica (art. 129,1, da CF/1988), tem igualmente opoder de coligir os elementos de informao que subsidiam a sua propositura.Em outras palavras: quem pode os fins (propor a ao penal), pode os meios(investigao criminal direta). Outro fundamento de reforo seria a possibili-dade de o Ministrio Pblico exercer outras funes que lhe forem conferidas,desde que compatveis com sua finalidade (art. 129, IX, da CF/1988), e ainvestigao criminal direta seria compatvel com a finalidade de promover aao penal pblica. O CNMP inclusive editou a Resoluo 13, disciplinando odenominado "procedimento investigatrio criminal", instaurado e presididopelo membro do Ministrio Pblico com atribuio criminal.

    O STF possui decises no sentido da possibilidade de investigao cri-minal direta pelo Ministrio Pblico:

    perfeitamente possvel que o rgo do Ministrio Pblico promovaa colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existn-cia da autoria e da materialidade de determinado delito, ainda que a ttulo

  • 42 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    excepcional, como a hiptese do caso em tela. Tal concluso no significaretirar da Polcia Judiciria as atribuies previstas constitucionalmente, masapenas harmonizar as normas constitucionais (arts. 129 e 144) de modo acompatibiliz-las para permitir no apenas a correta e regular apurao dosfatos supostamente delituosos, mas tambm a formao da opinio delicti. Oart. 129, inc. I, da Constituio Federal, atribui ao parquet a privatividade napromoo da ao penal pblica. Do seu turno, o Cdigo de Processo Penalestabelece que o inqurito policial dispensvel, j que o Ministrio Pblicopode embasar seu pedido em peas de informao que concretizem justa causapara a denncia H princpio basilar da hermenutica constitucional, a saber,o dos 'poderes implcitos,, segundo o qual, quando a Constituio Federalconcede os fins, d os meios. Se a atividade fim - promoo da ao penalpblica - foi outorgada ao parquet em foro de privatividade, no se concebecomo no lhe oportunizar a colheita de prova para tanto, j que o Cdigo deProcesso Penal autoriza que 1peas de informao, embasem a denncia. (...)(STF, RE 468.523/SC, 2.f T., j. 01.12.2009, rei. Min. Eilen Gracie, DJe-03019.02.2010).

    A Smula 234 do STJ ainda enuncia:

    "A participao de membro do Ministrio Pblico na fase investigatria

    criminal no acarreta o seu impedimento ou suspeio para o ofereci-mento da denncia"

    .

    2.

    4.3 Identificao criminal

    O civilmente identificado no ser submetido identificao criminal(art. 5., LVIII, da CF/1988), salvo nas hipteses previstas em lei.

    Trata-se de norma constitucional de aplicabilidade imediata e eficciacontida (ou restringvel), assim designada aquela de aplicabilidade imediata,mas cuja eficcia pode ser contida ou restringida pela atividade legislativaulterior.

    Os casos legais que acabam por restringir a eficcia da sobredita nor-ma constitucional so o envolvimento em ao praticada por organizaocriminosa (art. 5.

    da Lei 9.034/1995, que alguns consideram revogadotacitamente) e os casos previstos na Lei 12.037/2009, a denominada Lei daIdentificao Criminal.

    A identificao criminal abrange o processo datiloscpico e o fotogrfico(art. 5. da Lei 12.037/2009).

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 43

    Embora apresentado documento de identificao, pode ocorrer identi-ficao criminal quando: a) o documento apresentar rasura ou tiver indciode falsificao; b) o documento apresentado for insuficiente para identificarcabalmente o indiciado; c) o indiciado portar documentos de identidadedistintos, com informaes conflitantes entre si; d) a identificao criminalfor essencial s investigaes policiais, segundo despacho da autoridadejudiciria competente, que decidir de ofcio ou mediante representao daautoridade policial, do Ministrio Pblico ou da defesa; e) constar de regis-tros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificaes; f) o estadode conservao ou a distncia temporal ou da localidade da expedio dodocumento apresentado impossibilite a completa identificao dos caracteresessenciais (art. 3.

    da Lei 12.037/2009).Em caso de no oferecimento da denncia

    , ou sua rejeio, ou absol-vio

    , faculta-se ao indiciado ou ao ru, aps o arquivamento definitivo doinqurito, ou trnsito em julgado da sentena, requerer a retirada da identi-ficao fotogrfica do inqurito ou processo, desde que apresente provas desua identificao civil (art. 7. da Lei 12.037/2009).

    2.

    4.

    4 Incomunicabilidade do indiciado

    O art. 21, caput, do CPP, permite a decretao da incomunicabilidade doindiciado, quando o interesse da sociedade ou a convenincia da investigaoo exigir.

    Evidentemente, incomunicabilidade pressupe priso, pois no se con-

    cebe possa ser colocado nesse regime o indiciado solto.Consoante o regime jurdico traado pelo art. 21, pargrafo nico, do

    CPP, a incomunicabilidade depende de deciso judicial fundamentada, noexofficio, mas a ser proferida mediante representao da autoridade policialou a requerimento do rgo do Ministrio Pblico, no podendo exceder 3dias, respeitados os direitos do advogado (art. 7., III, da Lei 8.906/1994 -Estatuto da Advocacia).

    Saliente-se, pois, que a incomunicabilidade, tal qual o sigilo dos autosde inqurito policial, no absoluta, porquanto no se estende ao MinistrioPblico (destinatrio imediato das investigaes), aojuiz de Direito (desti-natrio mediato das investigaes) e ao advogado.

    Em relao ao advogado, o Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994)prescreve, em seu art. 7., III, ser direito do advogado "comunicar-se com

  • 44 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procurao, quandoestes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis oumilitares, ainda que considerados incomunicveis".

    A doutrina predominante entende que o art. 21 do CPP no foi recep-cionado pela ordem constitucional vigente, tendo em vista a vedao da in-comunicabilidade do preso durante o Estado de Defesa (art. 136, 3., IV, daCF/1988). Fernando da Costa Tourinho Filho (Processo Penal, p. 206) eJulioFabbrini Mirabete (Cdigo de Processo Penal Interpretado, p. 61) se posicionamno sentido da supresso do instituto da incomunicabilidade do indiciado eargumentam: se durante a vigncia do estado de defesa no se pode decretar aincomunicabilidade do preso (art. 136, 3., IV, da CF/1988), afortiori (commuito maior razo), no se pode cogitar da incomunicabilidade do indiciadoem estado de absoluta normalidade.

    De outra parte, Damsio Evangelista de Jesus (Cdigo de Processo PenalAnotado, p. 24) e Vicente Greco Filho (Manual de Processo Penal, p. 96) sus-tentam subsistir a possibilidade de decretao da incomunicabilidade doindiciado, admitindo haver sido recepcionado pela Constituio Federal o art.21 do CPP. Para os aludidos autores, a Constituio Federal veda a incomu-nicabilidade do preso durante o estado de defesa justamente porque durantea vigncia desse perodo de exceo alguns direitos e garantias individuaispodem ser suspensos (art. 136, 1., I, da CF/1988) e a priso por "crimecontra o Estado"

    pode ser decretada sem ordem judicial (art. 136, 3., I, daCF/1988), colocando, assim, o preso em posio de fragilidade perante osrgos da persecuo penal. Ao contrrio, durante a normalidade, vigendotodos os direitos e garantias individuais, no haveria razo para a proibioda incomunicabilidade do indiciado, desde que observadas as formalidadeslegais insculpidas no art. 21 do CPP.

    2.

    4.5 Vcios no inqurito policialDescabe falar em "nulidades" no inqurito policial, pois nele no se

    vislumbra um "processo"

    , mas um procedimento administrativo de carterpreliminar e informativo, cujos vcios so considerados meras irregularidades,que nada afetam a ulterior ao penal que nele se basear.

    2.5 FORMAS DE INSTAURAO DO INQURITO POLICIAL

    A instaurao do inqurito pode ocorrer de maneiras diversas, de acordocom a espcie de ao penal. Desse modo, teremos:

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 45

    2.

    5.1 Ao penal pblica incondicionada

    a) Ex officio, por Portaria do Delegado de Polcia (art. 5., I, do CPP): aautoridade policial, ao tomar conhecimento da ocorrncia de umainfrao penal de ao penal pblica incondicionada, tem a obrigaode instaurar o inqurito policial (art. 5., I, do CPP). Nesse caso, a ins-taurao feita por portaria, com a referncia de todas as informaesconhecidas, tais como hora, data, local, vtima, autor, testemunhas etc.,indicando, por fim, a tipificao legal (provisria) da infrao penal.

    b) Por requisio do Ministrio Pblico ou da autoridade judicial (art. 5.,II, primeira parte, do CPP): ao tornar conhecimento da ocorrncia decrime de ao penal pblica, o rgo do Ministrio Pblico, no dis-pondo de base para oferecer denncia (indcios de autoria e prova daexistncia da infrao penal), pode requisitar a instaurao de inquritopolicial (art. 129, VIII, da CF/1988). Trata-se de uma exigncia legalque a autoridade policial, em princpio, no pode recusar.

    Discute-se sobre a possibilidade de a autoridade judicial requisitar ainstaurao de inqurito policial (iniciativa da investigao criminal), emface do princpio acusatrio. O magistrado pode ainda determinar a remessaao Ministrio Pblico dos documentos que noticiam a ocorrncia de crimede ao penal pblica (art. 40 do CPP).

    c) Por requerimento do ofendido ou de seu representante legal (art. 5.,II, segunda parte, do CPP): situao em que o ofendido noticia a ocor-rncia do crime e provoca formalmente a instaurao de inquritopolicial.

    O requerimento deve conter, sempre que possvel, a narrao do fato, comtodas as circunstncias, a individualizao do indiciado ou seus sinais caracte-rsticos e as razes de convico ou de presuno de ser ele o autor da infrao,ou os motivos de impossibilidade de o fazer, bem como a nomeao das teste-munhas, com indicao de sua profisso e residncia (art. 5., 1., do CPP).

    A deciso que indefere o requerimento de instaurao de inqurito po-licial admite recurso administrativo para o Chefe de Polcia (art. 5., 2.,do CPP).

    d) Por auto de priso em flagrante: com a apresentao do preso, a auto-ridade policial toma conhecimento da prtica de uma infrao penal,devendo ento instaurar o inqurito policial mediante o auto de prisoem flagrante lavrado (art. 304 do CPP).

  • 46 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. Junqueira e Angela C. C. Machado

    2.

    5.2 Ao penal pblica condicionada

    Em crimes de ao penal pblica condicionada, a instaurao do inqu-rito policial depende de representao do ofendido (art. 5., 4., do CPP) oude requisio do Ministro dajustia, no se aplicando a regra da oficiosidade:a atuao da autoridade policial se subordina a uma manifestao de vontadealheia, sem a qual no pode ser iniciado o inqurito policial.

    Admite-se a requisio para instaurao de inqurito policial, oriundado Ministrio Pblico ou da autoridade judicial (art. 5., II, primeira parte,do CPP)

    , desde que esteja acompanhada da representao do ofendido ou darequisio do Ministro dajustia (art. 5., 4., do CPP), conforme o caso.

    Do mesmo modo, em caso de priso em flagrante, a sua formalizao

    (lavratura do auto de priso em flagrante) fica subordinada ao oferecimentode representao pelo ofendido (art. 5., 4., do CPP) ou de requisio peloMinistro dajustia.

    2.

    5.3 Ao penal privada

    Tratando-se de crime de ao penal privada, a instaurao do inquritopolicial depende de requerimento do ofendido (art. 5., 5., do CPP), no seaplicando igualmente a regra da oficiosidade: a atuao da autoridade policialse subordina a uma manifestao de vontade alheia, sem a qual no pode seriniciado o inqurito policial.

    Do mesmo modo, em caso de priso em flagrante, a sua formalizao

    (lavratura do auto de priso em flagrante) fica subordinada ao oferecimentode requerimento pelo ofendido (art. 5., 5., do CPP).

    O Ministrio Pblico e a autoridade judicial no podem requisitar ainstaurao de inqurito policial em crime de ao penal privada.

    Cabe salientar que a apresentao de requerimento para a instauraode inqurito policial, em crime de ao penal privada, em nada afeta (nointerrompe, no suspende nem impede) o prazo decadencial para o exercciodo direito de queixa (propositura da ao penal).2

    .6 PRAZOS PARA O ENCERRAMENTO DO INQURITO POLICIALA regra geral, com relao ao prazo para o encerramento do inqurito

    policial, encontra-se inscrita no art. 10, caput, do CPP, e depende do statuslibertatis do indiciado:

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 47

    a) se preso: 10 dias, contados do dia da priso em flagrante ou da execuoda ordem de priso preventiva. Esse prazo improrrogvel e, se forexcedido, torna a priso ilegal, ensejando o seu relaxamento (art. 5.,LXV, da CF/1988);

    b)se solto: 30 dias, contados do dia em que foi instaurado o inquritopolicial. Esse prazo pode ser prorrogado pelo juiz, a pedido funda-mentado da autoridade policial (art. 10, 3., do CPP).

    2.

    6.

    / Prazos especiais

    Na Lei de Drogas, o art. 51, caput, da Lei 11.343/2006, estabelece o prazode 30 dias para encerramento do inqurito policial, estando preso o indiciado,e de 90 dias, quando solto. Tais prazos podem ser duplicados pelo Juiz, depoisde ouvido o Ministrio Pblico, mediante pedido justificado da autoridadepolicial (art. 51, pargrafo nico, da Lei 11.343/2006).

    Nos crimes de competncia da Justia Comum Federal, em que os inqu-ritos so realizados pela Polcia Federal, estando o indiciado preso, o prazo de 15 dias (art. 66, caput, da Lei 5.010/1966), prorrogvel por mais 15 dias,se a Polcia Federal apresentar ao juiz o indiciado preso (art. 66, pargrafonico, da Lei 5.010/1966).

    Em crimes contra a economia popular, o inqurito policial deve terminarno prazo de 10 dias, estando preso ou solto o indiciado (art. 10, 1., da Lei1.

    521/1951).Tratando-se de flagrante em presena ou contra a autoridade, o auto de

    priso em flagrante deve ser remetido imediatamente ao juiz competente(art. 307 do CPP), de sorte que no existe prazo para o encerramento doinqurito policial.

    O inqurito policial militar deve terminar em 20 dias, se o indiciadoestiver preso, ou no prazo de 40 dias, quando o indiciado estiver solto (art.20, caput, do CPPM), podendo este ltimo prazo ser prorrogado por mais20 dias ( 1.).

    O excesso de prazo para o encerramento do inqurito policial, em casode indiciado preso, pode ser alegado em simples petio ou por habeas corpus(art. 648, II, do CPP), ambos com o pedido de relaxamento da priso (art.5

    .

    , LXV, da CF/1988) e endereados ao juiz competente.

  • 48 Processo Penal - Paulo H.

    A. Fuller, Gustavo O. D. junqueira e Angela C. C. Machado

    2.7 ENCERRAMENTO DO INQURITO POLICIAL

    O inqurito policial se encerra com um minucioso relatrio das investi-gaes, elaborado pela autoridade policial, que ento remete os autos ao juizcompetente (art. 10, 1. e 2., do CPP).

    2.

    7.

    / Encerramento do inqurito policial em crimes de ao penalpblica

    Tratando-se de crime de ao penal pblica, o juiz encaminha os autosao Ministrio Pblico

    , que pode assumir os seguintes comportamentos:

    a) oferecer denncia: a denncia constitui a petio inicial da ao penalpblica, devendo conter os requisitos do art. 41 do CPP e estar acom-panhada do inqurito policial, quando este lhe servir de base (art.12 do CPP). Em seguida, o juiz realiza um juzo de admissibilidadeda acusao

    , decidindo pelo recebimento ou pela rejeio liminar dadenncia (art. 395 do CPP);

    b) requerer novas diligncias: o Ministrio Pblico, no dispondo de base

    suficiente para a propositura da ao penal (indcios de autoria e provada existncia da infrao penal)

    , pode requerer ao juiz a devoluodos autos de inqurito autoridade policial

    , para a realizao denovas diligncias que entender imprescindveis ao oferecimento dadenncia (art. 16 do CPP);

    c) requerer o arquivamento dos autos de inqurito policial (art. 28 doCPP): convencendo-se da falta de base para a denncia

    , e estando

    esgotadas as possibilidades de investigao, o Ministrio Pblico pode

    requerer ao juiz o arquivamento do inqurito policial, apresentandoas razes pertinentes.

    Se concordar com o requerimento do Ministrio Pblico, o juiz deter-

    mina o arquivamento do inqurito policial. Discordando do requerimento de

    arquivamento, o juiz aplica o art. 28 do CPP e remete os autos de inquritopolicial ao Procurador-Geral de Justia (ou Cmaras de Coordenao e Re-viso do MPU

    , em caso de competncia federal: art. 62, IV, da LC 75/1993),que pode adotar as seguintes posturas: a) oferecer denncia, b) designaroutro rgo do Ministrio Pblico para tanto (diverso daquele que requereuo arquivamento, por fora da independncia funcional: art. 127, 1., daCF/1988) ou c) insistir no requerimento de arquivamento

    , caso em que o

    juiz fica obrigado a proceder ao arquivamento dos autos de inqurito policial,

  • Cap. 2 . Do Inqurito Policial 49

    afinal, a titularidade da ao penal pblica pertence ao Ministrio Pblico(art. 129,1, da CF/1988).

    Em geral, a deciso judicial de arquivamento dos autos de inqurito

    policial irrecorrvel. Tratando-se de crime contra a economia popular, adeciso de arquivamento se sujeita a recurso ex officio ou reexame necessrio(art. 7. da Lei 1.521/1951). Em caso de contravenes penais de "jogo dobicho", de apostas sobre corridas de cavalos fora dos hipdromos e sobreoutras competies esportivas, o arquivamento das peas de informaopode ser impugnado mediante recurso em sentido estrito, a ser interpostopor qualquer do povo (art. 6., pargrafo nico, da Lei 1.508/1951).

    O arquivamento dos autos de inqurito policial no permite o ajuiza-mento de queixa subsidiria, pois no houve inrcia do Ministrio Pblico(requereu o arquivamento).

    Arquivados os autos de inqurito policial, por deciso judicial e a reque-rimento do Ministrio Pblico, a autoridade policial pode proceder a novaspesquisas, se de outras provas tiver notcia (art. 18 do CPP). A propositura daao penal, contudo, depende do surgimento de novas provas (substancial-mente novas

    , que forneam o que faltava para o oferecimento da denncia) ede no estar extinta a punibilidade (Smula 524 do STF). Como se percebe,a deciso judicial de arquivamento dos autos de inqurito policial faz apenascoisa julgada formal, pois pode ser modificada por prova nova.

    O STF entende que a deciso judicial de arquivamento dosautos de inqurito policial, quando fundada em atipicidade ouextino da punibilidade, excepcional mente forma coisa julga-da material, impedindo a propositura de eventual ao penal.

    2.

    7.2 Encerramento do inqurito policial em crimes de ao penal

    privadaTratando-se de crime de ao penal privada, a autoridade policial reme-

    te os autos de inqurito policial ao juzo competente, onde permaneceroaguardando a iniciativa dos legitimados para o ajuizamento da queixa, dentrodo prazo decadencial de 6 meses, contados do conhecimento da autoria (art.103 do CP e art. 38 do CPP). Os autos de inqurito policial podem ainda serentregues ao titular do direito de queixa, mediante traslado, se o requerer(art. 19 do CPP).

    import##1

  • 50 Processo Penal - Paulo H. A. Fuller, Gustavo O. D. junqueira e Angela C. C. Machado

    2.

    7.3 Encerramento anormal: o trancamento do inqurito policial

    Trata-se o "trancamento" do inqurito policial cie uma construo pre-toriana (jurisprudencial) calcada na previso genrica contida no art. 648

    ,

    I, do CPP, na qual o legislador considera ilegal a coao "quando no houver

    justa causa".Entende-se que a existncia de um inqurito policial, de per si, implica

    um constrangimento ao investigado ou ao indiciado, de mold