UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA FCS/ESS
LICENCIATURA EM FISIOTERAPIA
PROJECTO E ESTAGIO PROFISSIONALIZANTE II
O efeito da imagética motora no tratamento da dor fantasma em amputados:
revisão bibliográfica.
Fanny Morel
Estudante de Fisioterapia
Escola Superior de Saúde – UFP
Fátima Santos
Professora auxiliar
Escola Superior de Saúde-UFP
Porto, fevereiro de 2018
Resumo
Introdução: a imagética tem sido utlizada como forma de diminuir a dor fantasma de um indivíduo
amputado de um membro superior ou inferior. Objetivo: verificar os efeitos da utilização da
imagética motora nos indivíduos amputados com dor fantasma. Metodologia: pesquisa com
palavras-chave na base de dados Pubmed, PEDro e b-on para identificar estudos publicados nos
últimos 15 anos, randomizados controlados, randomizados não controlados, estudos de casos,
publicados em inglês, que utilizassem a imagética no tratamento da dor fantasma em indivíduos
com uma amputação unilateral de um membro. Foram excluídos estudos fora do assunto escolhido,
e as revistas sistemáticas e os protocolos. Resultados: foram identificados 2 artigos randomizados
controlados e 3 estudos de caso. Conclusão: a imagética parece ser uma boa técnica para a dor
fantasma em amputados, no entanto é necessário mais estudos randomizados controlados e com
amostra maior para poder afirmar que a imagética mental tem realmente efeitos benéficos no alivío
da dor fantasma. Palavras-chave: dor fantasma, imagética motora e imagética mental.
Abstract
Introduction: The imagery has been used as a way to reduce the phantom pain of an individual
amputated from an upper or lower limb. Objective: To verify the positive effects of the use of
imagery in amputated individuals with phantom pain. Methodology: Keyword research in the
Pubmed, PEDro and b-on database to identify studies published in the last 15 years, randomized
controlled, and uncontrolled trials, case studies, published in English and which deal with the use
of imotor imagery in the treatment of phantom limb pain in individuals with unilateral limb
amputation. We excluded studies outside the chosen subject, with the systematic reviews and
protocols. Results: 2 randomized controled articles were indentified and 3 case studies.
Conclusion: imagery seems to be a good technique for phantom pain in amputees, however more
randomized controlled trials with a larger sample are needed to be able to affirm that mental
imagery actually has beneficial effects in the alleviation of phantom pain. Keywords: phantom
limb pain, motor imagery and mental imagery.
1
Introdução
Em 1552 o cirurgião Ambroise Paré (1510-1590) descreveu a "síndrome de pós-amputação" na
qual referia os três parâmetros seguintes: dor no coto, sensação fantasma e dor do membro
fantasma. Ambroise Paré apontava que o frio piorava a dor e que por sua vez a massagem aliviava.
O cirurgião apontou dois modelos para explicar a dor do membro fantasma: alterações nos nervos
(periféricos) e alterações na memória (centrais) (Grilo, 2012).
A dor fantasma é encontrada em cerca de 50 a 80 % dos indivíduos após uma amputação (Virani
et al, 2011). É uma experiência única, subjetiva e altamente individual, tendo em conta que cada
pessoa a experiencia de forma diferente (Hoydicz, 2007). Normalmente está associada a amputação
dos membros, mas pode acontecer noutra parte do corpo. Os pacientes podem queixar-se de dor e
sensação fantasma de membros removidos tais como a língua, os dentes, os órgãos genitais, a
bexiga ou seios (Grilo, 2012).
Um dos dilemas dos investigadores é o facto de não conseguiram diferenciar a dor no membro
residual da dor fantasma e das sensações fantasmas (Grilo, 2012).
Jensen e Rasmussen citado por Grilo (2012), sugeriram as seguintes definições que agora foram
amplamente adotadas: 1) A dor do membro fantasma é qualquer sensação dolorosa que seja
imputada ao membro ausente; 2) A sensação do membro fantasma é qualquer sensação no membro
ausente, exceto a dor; 3) A dor do coto ou dor residual dos membros é a dor localizada no coto
(Grilo, 2012).
A expressão “dor fantasma” apenas surge com o médico americano Silas Weir Mitchell, que
aquando da Guerra Civil Americana se deu conta da frequência deste sintoma em muitos soldados
vítimas de amputação. A explicação dos mecanismos que originam a dor fantasma quase não
evoluiu até meados do Séc. XX, período em que os estudos da neurofisiologia da dor conduziram
ao estabelecimento de teorias ligadas a conceitos de neuroplasticidade do cérebro, que poderiam
explicar fenómenos como a migração telescópica do coto de amputação ou de remapeamento
cerebral. Isto é, alteração da topografia da sensação ou dor do membro fantasma (Virani et al,
2014).
A dor do coto, tal como o nome indica, ocorre na parte remanescente de um membro amputado e
2
geralmente resolve-se em poucas semanas, dependendo da cicatrização de feridas e infeção (Virani
et al, 2014).
A dor do membro fantasma é sentida quando o cérebro envia mensagens de dor a um membro não
existente. As dores do membro fantasma pode variar em tipo e intensidade. Uma dor benigna, por
exemplo, pode ser sentida como ardor agudo e intermitente que provoca uma resposta de
sobressalto. Uma dor mais severa pode dar a impressão à pessoa amputada que o membro perdido
é esmagado. Em vários casos a dor fantasma diminui de intensidade e frequência com o passar dos
anos. No entanto, para algumas pessoas as dores fantasmas podem tornar-se crónicas e debilitantes
por causa da sua frequência e intensidade (Virani et al, 2014).
A sensação fantasma consiste na impressão de que o membro amputado ainda está presente. Esta
sensação, que tipicamente expressa ligeira sensação de formigueiro, geralmente diminui ao longo
do tempo (Les amputés de guerre, 2015).
O tratamento da dor no coto e/ou dor fantasma após a amputação é uma tarefa difícil, pois
desconhecemos a fisiopatologia e as alterações neuroquímicas que ocorrem no sistema nervoso. A
intervenção a realizar depende do tipo de dor, o grau de severidade e o nível de incapacidade do
paciente. Geralmente o tratamento baseia-se em técnicas não invasivas já que vários estudos,
apontam as técnicas invasivas como pouco eficazes (Les amputes de guerre, 2015).
As técnicas não invasivas são, entre outras, a acupunctura, a acupressão, a massagem, a massagem
crânio-sacral, o calor húmido, a electroestimulação (TENS), a magnetoterapia, a medicação, a
psicoterapia, a realidade virtual, a utilização de um membro artificial, a quiropraxia, a terapia do
espelho, os ultrassons e a imagética motora (Les amputés de guerre, 2015).
A imaginação ou imagética motora é uma das estratégias de tratamento que tem sido utilizada nos
últimos anos (Brunelli, 2015). As imagens mentais são um método poderoso de alterar a atividade
cerebral e os resultados comportamentais, como o desempenho da cognição e as habilidades
motoras. Além disso, atenção e distração podem modular as redes neuronais relacionadas à dor e a
perceção da dor (Voltz, Suarez-Contreras, Portilla, Fregni, 2015).
3
A imagética é o processo de imaginar atividades físicas ou cognitivas específicas ou experiências
percetivas com a intenção de alterar a facilitação das redes neuronais. A imagética é uma
ferramenta poderosa para melhorar o desempenho das habilidades motoras, desempenho cognitivo
e memória e é amplamente utilizada em tratamentos psicológicos psiquiátricos para distúrbios
como esquizofrenia, fobia social e transtorno de estresse pós-traumático. (Voltz, Suarez-Contreras,
Portilla, Fregni, 2015).
A imagética modula a dor e certas síndromes de dor crónica são alteradas significativamente por
imagens mentais, tal como a dor do membro fantasma (Voltz, Suarez-Contreras, Portilla, Fregni,
2015).
Dentro do campo da imagética, a imagética motora define-se como uma técnica que envolve um
complexo processo cognitivo, sensorial e percetual, que produz uma representação mental do
movimento sem qualquer movimento físico do corpo e tem sido utilizado na reabilitação de vários
pacientes com défices de movimento (Colmenero et al, 2017).
Esta revisão tem como objetivo verificar os efeitos da imagética motora na dor fantasma em
amputados.
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa na B-on, base de dados Pubmed e base de dados PEDro com objetivo
de selecionar estudos que utilizassem a imagética motora com objetivo de diminuir a dor fantasma
em participantes amputados unilaterais de um membro. Para tal utilizaram-se as palavras-chave:
«Phantom limb pain» and «motor imagery»; «Phantom limb pain» and «motor imagery» e
«Phantom limb movement therapy» and «imagery». Foram selecionados os artigos de acordo com
os seguintes critérios de inclusão: estudos publicados nos últimos 15 anos, estudos que avaliassem
a dor fantasma com a intervenção da imagética, programas que incluíssem a imagética como
estratégia de tratamento, estudos randomizados controlados, estudos randomizados não
controlados, estudos de caso, e publicados em Inglês. Excluíram-se só os estudos com participantes
menor do que 18 anos e com uma amputação bilateral.
4
Resultados
A pesquisa foi efetuada durante o mês de Janeiro de 2018 na Pubmed, PEDro e b-on com as
palavras chave “Phantom limb pain” e “Motor imagery” e “Phantom limb pain” e “Mental imagery
e obtivemos 19 resultados. Após os filtros e a seleção através dos critérios de inclusão e exclusão,
ficamos com 3 e 2 artigos. O procedimento de seleção dos artigos está explícito no fluxograma de
prisma (anexos 1 e 2). com as mesmas palavras-chave a pesquisa no Google schoolar foi e
obtivemos os mesmos estudos, sem encontrar outros estudos complementares.
No motor de pesquisa b-on com as mesmas palavras chave obtivemos 709 resultados e após os
filtros e a seleção através dos critérios de inclusão e exclusão escolhemos os mesmos artigos do
que nos outros bases de dados.
5
Quadro 1: resultados dos artigos analisados.
Autor /ano
Tipo de
estudo
Amostra Objetivo do
estudo
Programas de intervenção e momentos
de avaliação
Instrumentos/
Parâmetros
Principais resultados e
conclusão
Moseley
(2006)
Artigo
randomizado
controlado
n = 51
32F e 19M
Ge(n=25)
Gc(n=26)
3 grupos de estudo:
-37CRPS
-5BPAI
-9 amputados.
Final:
Gc(n=25): M retirada
do estudo.
investigar se a
imagética
motora reduz a
dor e a
incapacidade
numa
população
CRPS e
pessoas com
dor fantasma.
Ge e Gc: 6 sem
Frequência semanal e por sessão não
especificada:
-As duas primeiras semanas: fase de
reconhecimento da lateralidade do
membro (análise de fotografias de um
membro).
-Da 2° sem a 4° sem: fase de movimentos
imaginados (2 repetições)
-Da 4° a 6° semana: fase de movimentos à
frente do espelho (2 repetições)
Gc: 6 sem de terapia standard1x/sem
+programa doméstico (diário de treino).
Mesma intensidade de treino do que o
grupo experimental.
Avaliação: Todas as avaliações foram
realizadas na pré-randomização; na 6° sem
(conclusão do período de tratamento).
NRS e EVA também avaliadas a 6 meses
de follow up.
-Dados recolhidos ao longo de 32 meses.
-Escala de
classificação
numérica NRS:
relacionada à tarefa
específica do paciente.
-O Questionário de
Dor de McGill
(MPQ): dor atual.
-EVA: dor
VAS
Ge >Gc
A redução média na dor no
Ge (imagética) foi de 23,4
mm e no Gc foi de 10,5mm
(95% de confiança).
6
MacIver et
al (2008)
Estudo de
caso.
n = 19
Ge(n=13):
11M; 2F
Gc(n=6)
Ge (amputados de
um MS)
avaliar a
relação entre
reorganização
cortical, as
diferentes
formas de dor
em pacientes
com dor
fantasma e o
efeito
analgésico da
imagética
motora.
Ge:6 sem com 1 sessão de 6,5 minutos
com 30sec de movimentos dos lábios e
30sec de repouso (dentro do IRM) +6
sessões de terapia individual de 1h;
1x/sem. ou 1x/cada 15 dias com 40 min de
terapia e 20 minutes de debriefing.
(relaxamento e imagética)
+ terapia em casa (fornecido CD de
motivação.
Gc (saudáveis) 1 sessão de
numerização(IRMf) de 6,5 minutos com
30sec de movimentos e 30sec de repouso
para ver a cartografia normal.
Avaliação:
-Antes e depois da análise fMRI,
(entrevista detalhada utilizando diferentes
medidas clínicas).
-Visitas semanais do terapeuta.
-6° sem de follow up
-Dados
demográficos:
estratégias de
copping, padrões de
sono, duração da dor e
uso de medicação.
-Questionário de dor
do membro
fantasma.
-Beck Depression
and
Anxiety: ansiedade
grave ou depressão.
-Vividness of
Imagery Scale:
capacidade de mexer
o membro fantasma
com vivacidade.
-Escala de
classificação
numérica (NRS):
intensidade da dor.
-A estimativa de dor
durante a sessão de
fMRI(medida
realizada
imediatamente após a
conclusão da sessão
de fMRI).
-EVA: dor
-IRMf
No final do treino
terapêutico, 9 dos 13
participantes ganharam
mais de 50% de alívio da
dor.
7
Meyer,
Matthes,
Kusche e
Maurer
(2011)
Estudo de
caso
n = 2
dois casos com
amputação de MI e
dor fantasma crónica.
Caso 1: 69 anos,
amputado ao nível do
meio da coxa com
PLP desde 15 anos
(pós acidente).
Caso 2:84,4 anos
amputado dos dedos
do seu pé direito com
PLP (pós gangrena).
Mostrar que a
imaginative
resonance
training (IRT)
pode ajudar a
eliminação da
dor fantasma
dos amputados
com PLP
cronica e
intratável.
Casos 1 e 2:
-Sessões de IRT (frequência de treino não
descrita).
-Sessões de IRMf com a terapeuta:
1. Movimentos da mão/dedos: o paciente
teve que fechar e abrir repetidamente o seu
punho (ritmo autoestimulado 1/s)
2. Movimento da parte superior da coxa: o
paciente teve que pressionar repetidamente
uma almofada que foi colocada entre as
suas coxas e depois relaxar (frequência
1s).
3. Movimentos do pé não amputado
(flexão plantar e dorsiflexão repetida do pé
ao nível do tornozelo; frequência: 1/s).
4. Movimento imaginário do pé amputado
(os mesmos movimentos que no pé não
amputado).
Avaliação:
Os valores de VAS foram avaliados antes
e após o procedimento de treino três vezes
(uma vez em 3 dias consecutivos) e o valor
médio foi usado para fins comparativos.
-VAS: dor
-IRMf
. EVA (intensidade da dor)
Caso1:
70 pontos antes do IRT e 0
pontos depois do IRT
mesmo apos 3,5 anos.
Caso2:
80 pontos antes do IRT e 0
pontos depois do IRT até a
morte (89 anos).
8
Mcavinue e
Robertson
(2011)
Estudo de
caso
n = 4 3M;1F
Com PLP depois da
amputação unilateral
MI.
Casos: A, B, C
(3M): amputados
unilateral do MI
pôs acidente.
Caso D(1F):
amputada
unilateral do MI
pós queimadura.
O objetivo
deste estudo
foi investigar
se a imagética
podia ser
usada para
tratar as PLP e
diminuir a dor.
Duração: 6 sem em ambos os grupos
Sessões de treino semanal
individual:1x/sem com 3 componentes:
1)Relaxamento/consciência cinestésica
2)Aumentar a consciência do MF: criar ou
aumentar a consciência do MF
3) Exercícios de movimento reais e
imaginários com o membro intacto e o MF
aumentando em intensidade durante as
sem (10x com membro intacto e 10x com
MF).
+10 min de prática individual todos os dias
entre as sessões: tinha que executar,
imaginar e realizar o movimento 10 vezes
com o membro intacto e, executar o
movimento 10 vezes com o MF.
Avaliação:
os participantes foram entrevistados no
início e no final do estudo usando uma
série de perguntas abertas e a Phenom e
Stump Phenomena Interview.
-Intensidade da
sensação do membro
fantasma.
-Diário pessoal do
tipo e intensidade da
dor: a preencher
3x/dia. (Escala de 0 a
10)
-MIQ-R:Medidas de
imagen de
movimento:
facilidade de
movimento do
paciente
-Cronometria
mental: Medida de
imagens de
movimento de
perspetiva interna.
-GripAcc: Tarefa de
seleção do aperto (a
correspondência entre
ações e julgamentos
de ação prospectiva,).
-HandAcc, HandRT
Tarefa de
lateralização da mão
(medida de decisões
perceptivas).
Caso A: diminuição
significativa da PLP na
segunda metade do
tratamento com p=0,05.
Caso B: não teve efeito
significativo nas
pontuações de intensidade
PLP só alivío ocasional.
Caso C: não teve efeito
significativo nas
pontuações de intensidade
PLP
Só teve o efeito do que o
membro fantasma estava
“mais vivo”.
Caso D: não teve efeito
significativo nas
pontuações de intensidade
PLP e o participante teve de
parar o tratamento por
causa duma nova dor.
9
Brunelli et
al (2015).
Artigo
randomizado
controlado.
n = 51mulheres e
homens.
Ao inicio do estudo.
Ge (n=27)
Gc (n=24)
Follow up
A T1 (fim do
tratamento):
Ge(n=20)
Gc(n=20)
A T2 (1 mês a
seguir o
tratamento):
Ge(n=20)
Gc(n=20)
Ge et Gc: amputado
MS unilateral com
ou sem prótese.
Avaliar a
redução da
PLP e PLS
com o treino
combinado de
relaxamento
muscular
progressivo,
imagética
motora e
exercícios com
o MF.
(protocolo
SAIPAN)
Ge e Gc :1 mês 2x/sem;50 min. (comum a
ambos grupos)
Ge: protocolo SAIPAN (treino combinado
de relaxamento muscular progressivo,
imagética e exercícios com MF)
+programa de terapia física standard
(terapia ocupacional; formação pré
protética e protética) 4 sem; 2x/dia.
Gc: programa de exercícios gerais
(Exercícios de fortalecimento, de
alongamentos de exercícios, dinâmicos e
isométricos para o membro residual com
um fisioterapeuta
+ programa de terapia física standard: 4
sem 2x/dia.
Avaliações:
-Antes do tratamento: t0
-Ao fim do tratamento T1 um mês a partir
de t0
-Depois de 1 mês de seguimento T2(por
telemóvel)
Questionário de
Avaliação de Prótese
(PEQ)
Inventário de Dor
Bruta (BPI): avaliar
dor fantasma e
sensação fantasma.
BPI:
Ge >Gc (p<0,03)
Legenda: GE: Grupo experimental; GC: Grupo de controlo; F: Sexo feminino; M: sexo masculino; FI: Fim da Intervenção; MS: Membro superior;
MI: membro Inferior; FT: fisioterapia; PLP: Phantom limb pain; MF: membro fantasma; PLS: phantom limb sensation. CRPS: complexe regional
pain syndrome. BPAI: brachial avulsion pain injury.
10
Discussão
A presente revisão teve como intuito determinar a efetividade da imagética no tratamento da dor
fantasma em casos de amputação unilateral de um membro (inferior ou superior).
No estudo de Moseley (2006), randomizado controlado, que teve como objetivo investigar se a
imagética motora reduziria a dor e a incapacidade para uma população mais geral de CRPS e para
pessoas com dor fantasma, o número de participantes amputados foi de 51, com idades não
especificados e com amputação, principalmente de origem vascular. Já no estudo de Brunelli et al.
(2015), também randomizado controlado, o objetivo foi de avaliar a redução da dor fantasma e
sensação fantasma com o treino combinado de relaxamento muscular progressivo, imagética
motora e exercícios com o membro fantasma (protocolo SAIPAN) em 51 amputados de membro
superior. A escala EVA foi usada para avaliar a dor fantasma dos amputados no estudo de Moseley
(2006). No entanto Brunelli et al. (2015) utilizou o Brief inventory pain (BPI) para avaliar a dor
dos pacientes. No estudo de Moseley (2006), o protocolo de imagética motora durou 6 semanas
não tendo sido especificada a frequência nem duração das sessões, enquanto no estudo de Brunelli
et al. (2015), o programa teve uma duração de 4 semanas, 2 vezes por semana e com uma duração
de 50 minutos por sessão. Em ambos os estudos o perfil psicológico dos pacientes foi tido em conta
e demonstraram benefícios na dor fantasma dos amputados. O estudo de Brunelli et al. (2015), teve
em consideração os diferentes estudos anteriores e tentou compreender a variação dos resultados
obtidos. Os autores estimam que os resultados obtidos nos outros estudos (Mcavinue e Robertson,
2011, Meyer, matthes, Kusche e Maurer, 2011) não são fiáveis, visto que se baseiam numa
amostragem heterogénea na qual não foi considerada com fator de estudo o perfil psicológico de
cada indivíduo.
No estudo de caso de Mcavinue e Robertson (2011), que teve como objetivo investigar se a
imagética motora podia ser usada para tratar a dor fantasma e diminuir a dor, o número de
participantes amputados de membro inferior foi de 4 participantes com idade média de 44 anos,
com amputação traumática. Já no estudo de caso de Meyer, Matthes, Kusche e Maurer (2011), o
objetivo foi de mostrar que a imaginative resonance training (IRT) pode ajudar na eliminação da
dor fantasma em amputados com dor fantasma crónica e intratável e foi também realizado em
amputados de membro inferior (média das idades dos participantes foi de 76 anos). No estudo de
McIver et al. (2008), que teve como objetivo avaliar a relação entre reorganização cortical, as
11
diferentes formas de dor em pacientes com dor fantasma e o efeito analgésico da imagética motora,
foram incluídos 13 amputados do membro superior, com uma idade média de 53 anos.
Os 3 estudos utilizaram a escala EVA para avaliar a dor fantasma dos amputados, contudo no
estudo de Mcavinue e Robertson (2011), o protocolo de imagética motora durou 6 semanas, 1 vez
por semana, com duração por sessão não determinada. Também no estudo de McIver et al. (2008),
o programa teve uma duração de 6 semanas 1 vez por semana (ou 1 vez cada 15 dias) de 1h com
40 min de terapia e 20 minutos de debriefing. No estudo de Meyer, Matthes, Kusche e Maurer
(2011) não foi especificada a duração do programa e a frequência e duração por sessões. No estudo
de Mcavinue e Robertson (2011), e Meyer, Matthes, Kusche e Maurer (2011), o perfil psicológico
dos pacientes não foi tido em conta enquanto o estudo de McIver et al. (2008) excluiu todos os
pacientes com distúrbios psicológicos. Em ambos os estudos de McIver et al. (2008) e Meyer,
Matthes, Kusche e Maurer (2011), a imagética demonstrou benefícios na dor fantasma dos
amputados que participaram nos estudos, contudo no estudo de Mcavinue e Robertson (2011)
efetuado em 4 pacientes, só 1 paciente teve beneficio ao nível da dor fantasma.
Somente o estudo efetuado por McIver et al. (2008) se baseia exclusivamente em movimentos
imaginados, sem a realização de movimentos reais do movimento residual.
Os restantes 4 estudos utilizaram um misto de técnicas, tais como o relaxamento, movimento com
o membro fantasma e exercícios fantasmas em frente ao espelho.
O estudo de caso de Mcavinue e Robertson (2011) seguiu um protocolo semelhante ao protocolo
SAIPAN, no entanto eles não tiveram em conta o perfil psicológico dos participantes que de acordo
com o Brunelli e al. (2015), poderia ser a causa de diferentes resultados.
No estudo de Brunelli et al. (2015), realizou-se o protocolo SAIPAN (relaxamento muscular,
imagética motora e exercícios com o membro fantasma), e obteve-se bons resultados na redução
da dor, contudo os autores sugerem a realização de um estudo semelhante com uma amostra maior,
com amputações pós-traumática ou vascular ou trans-femoral e trans-tibial para conhecer assuntos
mais sensíveis ao protocolo.
Os autores não resolveram o número de sessões do protocolo SAIPAN e a frequência das sessões
a realizar para obter os melhores resultados.
12
Conclusão
Nos 5 estudos só 4 mostraram que a imagética tem um efeito positivo no alivío da dor fantasma de
amputados unilateral de um membro superior ou inferior.
Existem poucos estudos sobre o tema, daí haver a necessidade de realizar mais estudos
randomizados controlados que possuam uma amostra maior de forma a se poder afirmar que a
imagética motora possui realmente efeitos benéficos no alivío da dor fantasma.
13
Bibliografia
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pain perception and cortical excitability. BMC neuroscience 16:15.
Anexos
Anexos 1.
Fluxograma de prisma na pubmed.
Estudos identificados através de
pesquisa na base de dados pubmed
(pesquisa realizada até o 31/12/2017)
(n=17)
Registos selecionados
(n=3)
Registos Excluídos :
(n=4) revista sistemática
(n=1) terapia do espelho
(n=2) realidade virtual
(n =7) fora do assunto
Graded motor imagery
for pathologic pain
(Moseley, 2006).
Individual differences in
reponse to phantom limb
movement
therapy(Mcavinue e
Robertson, 2011).
IRT achieves elimination
of PLP …(Meyer,
Matthes, Kusche e
Maurer, 2012).
Na pubmed com a pesquisa utilizando somente as palavras chaves « Phantom limb pain » e « Motor
imagery », obtivemos 17 resultados e com a data de 2005 a 2018 e os critérios de exclusão ficamos com 3
artigos
Anexos 2.
Estudos identificados através
de pesquisa na base de dados
pubmed (pesquisa realizada
até o 31/12/2017)(n=2)
Registos selecionados(n=2)
Nenhuma exclusão
Efficacity of progressive
muscle relaxation, mental
imagery and phantom exercice
training on phantom limb (
Brunelli et al, 2015).
Phantom limb pain, cortical
reorganization and the
therapeutic effect of mental
imagery(McIver et al, 2008).
Na pubmed com a pesquisa utilizando somente as palavras chaves « Phantom limb pain » and « Mental imagery »
obtivemos só dois resultados com os bons parâmetros de inclusão então ficamos com os dois artigos.