UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDUC CAMPUS DE CAICÓ
TALITA MAYARA DA SILVA DANTAS
FILARMÔNICA ONZE DE DEZEMBRO:
O ENSINO DA MÚSICA POR MEIO DE PARTITURAS
CAICÓ/RN
2016
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TALITA MAYARA DA SILVA DANTAS
FILARMÔNICA ONZE DE DEZEMBRO:
O ENSINO DA MÚSICA POR MEIO DE PARTITURAS
Monografia apresentada ao Departamento de Educação do Centro de Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. Orientador: Prof. Dr. Helder Alexandre Medeiros de Macedo. Coorientadora: Prof.ª Me. Suenyra Nóbrega Soares.
CAICÓ - RN
2016
2
TALITA MAYARA DA SILVA DANTAS
FILARMÔNICA ONZE DE DEZEMBRO:
O ENSINO DA MÚSICA POR MEIO DE PARTITURAS
Monografia apresentada como requisito parcial à conclusão do curso de Pedagogia, para a banca de exame formada pelos seguintes professores.
___________________________________________________________________Prof. Dr. Helder Alexandre Medeiros de Macedo – Orientador
Departamento de Hístória Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_______________________________________________________________ Prof.ª Ms. Suenyra Nóbrega Soares – Coorientadora
Departamento de Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte
___________________________________________________________________
Prof.ª Esp. Monica Luiza Belotto de Oliveira Andrade – Examinadora Departamento de Educação
Secretária Estadual de Educação e Cultura
Aprovada em: 07 de Junho de 2016
Caicó-RN
2016
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4
Catalogação da Publicação na Fonte
Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de
Ensino Superior do Seridó -
Dantas, Talita Mayara da Silva. Filarmônica Onze de Dezembro: O ensino da música por meio de partituras / Talita Mayara da Silva Dantas. - CAICÓ: UFRN, 2016. 91f: il.
Orientador: Dr. Helder Alexandre Medeiros de Macedo.
Coorientador: Me. Suenyra Soares de Nóbrega.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do
Seridó - CERES. Licenciatura em Pedagogia.
1. Música - Partituras. 2. Processo de Ensino-Aprendizagem. 3. Ensino de
Música - Carnaúba dos Dantas. I. Macedo, Helder Alexandre Medeiros de. II.
Soares, Suenyra Nóbrega. III. Título.
RN/UF/BS-Caicó CDU 37:78
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Dedico este trabalho a minha família, em
especial aos meus pais que nunca
mediram esforços para me ajudar nessa
jornada e sempre me apoiaram durante
esse percurso.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus por sua bondade e fidelidade para comigo.
Ele me sustentou, fortaleceu-me e me permitiu chegar até aqui. Ébenezer! Até aqui
me ajudou o Senhor, por isso estou alegre, porque tudo foi permissão Dele.
Sou grata, especialmente aos meus pais, Antônio Paulo Dantas (in memória)
e à Maria de Fátima da Silva Dantas, bem como, ao meu filho Natanael Samuel
Dantas Felipe, ao meu esposo José Iolando Dantas, aos meus irmãos Joana Darc
da Silva Dantas, Maria das Vitórias da Silva Dantas e Tales Mazzyle da Silva Dantas
e aos demais familiares, que com amor , sempre me apoiaram, oraram, sonharam e
acreditam que eu iria conseguir.
Minha gratidão, aos meus colegas de curso que durante quatros dividiram
comigo todas as manhãs, compostas por estudos, por angústias, por trabalhos e,
evidentemente, por vitórias. Agradeço a Elita, a Dailma e a Michelle, pelo
companheirismo e amizade, pois elas foram amigas de verdade, uma vez que não
só estiveram comigo nos momentos de alegria, mas também nos de grande dor.
Obrigada aos meus professores, pela dedicação, paciência e por todo
conhecimento a nós dedicados nessa caminhada.
Ao meu orientador, Helder Macedo, minha gratidão, pela sua disponibilidade
em me ajudar e me orientar. Por todo o apoio e estímulo prestados, pela energia,
paciência, esclarecimentos e motivação transmitidos. Como também, agradeço a
minha coorientadora Suenyra Nóbrega (Susu) por todos os ensinamentos, por sua
amizade, enfim, muito obrigada por tudo.
Ao maestro e professor Márcio Dantas, obrigada por toda a ajuda e
ensinamentos, aprendi muito com o senhor, que é um exemplo de perseverança e
amor. Obrigada por abrir as portas da Filarmônica Onze de Dezembro para que eu
pudesse participar e coletar todos os dados indispensáveis à minha pesquisa. Da
mesma forma, agradeço, ao meu amigo e presidente da AMCOD, Iranildo Pereira
pela sugestão para que realizasse esta pesquisa, como também, sou grata a todos
os alunos e músicos da Banda pela receptividade e ajuda.
Enfim, agradeço a todos que fizeram parte do meu sonho e ajudaram a torná-
lo realidade.
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“A música passa uma mensagem e revela
a forma de vida mais nobre, a qual, a
humanidade almeja, ela demonstra
emoção, não ocorrendo apenas no
inconsciente, mas toma conta das
pessoas, envolvendo-as trazendo lucidez
à consciência”.
Márcia Nunes Faria
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RESUMO
O trabalho tem por finalidade destacar a importância da música no município de Carnaúba dos Dantas, que se sobressai por ser um solo bastante fértil de renomados músicos, intitulado, por volta de fins do século XIX, de “Terra da Música”. Na aprendizagem musical dessa época, os músicos compunham suas músicas enquanto trabalhavam na roça e elas traziam como características básicas a descrição do cotidiano, de costumes e da identidade de seus habitantes. Neste contexto nasceu o ensino da música partilhado entre familiares e amigos. Assim, o objetivo principal desta pesquisa é enfocar no ensino da música em sua aplicação formal, utilizando, para este, a compreensão da leitura e escrita de partituras, sua utilização e seus benefícios no desenvolvimento do indivíduo, como o social, emocional e mental. Para isso, destacamos o ensino da música por meio de partituras que é desenvolvido na Filarmônica Onze de Dezembro. A fundamentação teórica desta produção trouxe um diálogo de ideias especialmente entre as produções de Dantas et al (2005), Galvão (1998), Dantas (1987), Guanais (2001), Granja (2010), Gainza (1977) e (1988). Para concretização do mesmo, foi realizada uma ação que permitisse uma visão panorâmica sobre o estudo através das pesquisas qualitativas, quantitativas, documentais e a observação participante.
Palavras - Chave: Música. Partituras. Processo de Ensino-Aprendizagem. Ensino de Música. Carnaúba dos Dantas.
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ABSTRACT
The study aims to highlight the importance of music in Carnaúba dos Dantas city
that stands out for being a very fertile soil of renowned musicians, entitled, around
the late XIX century, "Terra da música” (“Earth Music"). In learning music this time,
the musicians composed their songs while working on the farm and they brought as
basic characteristics the description of the daily life, customs and identity of its
inhabitants. In this context it was born the teaching of music shared among family
and friends. Thus, the main objective of this research is to focus on music education
in their formal application, using, for this, reading comprehension and writing scores,
its use and its benefits in the development of the individual, such as social, emotional
and mental. We highlight the teaching of music through music that is developed in
the Philharmonic Eleven December. The theoretical basis of this production brought
a ideas dialogue especially between the productions of Dantas et al (2005), Galvão
(1998), Dantas (1987), Guanais (2001), Granja (2010), Gainza (1977) and (1988). To
achieve the same, an action that allows a panoramic view of the study through
qualitative research, quantitative, documentary and participant observation was
performed.
Keywords: Music. Scores. Teaching-Learning Process. Music Education.
Carnaúba dos Dantas.
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1 - Banda de Música regida por José Venâncio Dantas (1925- 1926).....18
Fotografia 2 - Banda de Música regida por Pedro Arboés Dantas (1928).................19
Fotografia 3 - Banda de Música regida por Francisco das Chagas Silva (1979).......21
Fotografia 4 - Tonheca Dantas (1922).......................................................................25
Fotografia 5 - Felinto Lúcio Dantas no Rio de Janeiro (1978)....................................28
Fotografia 6 - Márcio Dantas de Medeiros regendo a Filarmônica Onze de Dezembro
na cidade de Santa Cruz/RN......................................................................................31
Fotografia 7 - Sede da Filarmônica Onze de Dezembro............................................36
Fotografia 8 - Turma de iniciação musical na Filarmônica Onze de Dezembro
(2016)....................................................................................................................... ..41
Fotografia 9 - Compartilhando saberes......................................................................42
Fotografia 10 - Uma criança passando a lição na flauta doce...................................43
11
LISTA DOS GRÁFICOS
Gráfico 1 - Carnaúba dos Dantas ainda é a “Terra da Música”?................................53
Gráfico 2 - A música em Carnaúba dos Dantas vem passando por um período de
desvalorização?..........................................................................................................55
Gráfico 3 - Motivos que levam à desvalorização da música em Carnaúba dos
Dantas........................................................................................................................56
Gráfico 4 - Grau de conhecimento sobre a história da música em Carnaúba dos
Dantas? .....................................................................................................................57
Gráfico 5 - Lugares onde se afirmou que Carnaúba dos Dantas possui o título de
Terra da Música....................................................................................... ...................58
Gráfico 6 - É importante as escolas discutirem a história da música local?..............59
Gráfico 7 - É importante implementar, nas escolas, o ensino de música?.................60
Gráfico 8 - Musicistas de Carnaúba dos Dantas mais citados nas respostas do
formulário................................................................................................................... .61
Gráfico 9 - Maestros que se destacaram no processo de transmissão do
conhecimento musical na cidade de Carnaúba dos Dantas......................................62
Gráfico 10 - Sobre o trabalho desenvolvido pela AMCOD em Carnaúba dos
Dantas....................................................................................................................... .63
Gráfico 11 - Razões de desistência da Filarmônica Onze de Dezembro...................64
Gráfico 12 - Melhorias trazidas pelo Ensino de Música.............................................65
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AMCOD- Associação Musical Cultural Onze de Dezembro
PCN- Parâmetro Curricular Nacional
MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetização
TVU- TV Universitária
SESI-RN- Serviço Social da Indústria do Rio Grande do Norte
PMCD- Prefeitura Municipal de Carnaúba dos Dantas
UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 14
2 UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DA INICIAÇÃO MUSICAL EM CARNAÚBA
DOS DANTAS/RN ................................................................................................................. 17
2.1 Processo de transmissão do conhecimento musical no âmbito das bandas
de música ............................................................................................................................... 19
2.2 Iniciação Musical de três musicistas carnaubenses ........................................... 24
2.2.1 Antonio Pedro Dantas (Tonheca Dantas)............................................................ 24
2.2.2 Felinto Lúcio Dantas ................................................................................................. 27
2.2.3 Márcio Dantas de Medeiros .................................................................................... 31
3 O ENSINO DA MÚSICA POR MEIO DE PARTITURAS NA FILARMÔNICA ONZE
DE DEZEMBRO ..................................................................................................................... 35
3.1 A Filarmônica Onze de Dezembro e o ensino da música .................................. 37
3.2 O passo a passo do ensino-aprendizagem de música ....................................... 41
3.3 Ensino de música: relevância histórica, cultural e social ................................. 46
4 COMPREENDER O VALOR QUE TEM A MÚSICA NA “TERRA DA MÚSICA” .. 54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 69
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 71
APÊNDICE A - RELATO DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE .................................. 76
APÊNDICE B - RELATOS ACERCA DO QUE OS LEVOU A QUERER APRENDER
MÚSICA: ................................................................................................................................. 79
APÊNDICE C - RELATOS DE COMO SE DAVA/DÁ O ENSINO (INICIAÇÃO
MUSICAL, PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA MÚSICA): ..................................... 81
APÊNDICE D - RELATOS ACERCA DA IMPORTÂNCIA DA MÚSICA (PARA A
VIDA, PARA A APRENDIZAGEM): ................................................................................... 82
APÊNDICE E - RELATOS ACERCA DOS PONTOS POSITIVOS DE APRENDER A
LINGUAGEM MUSICAL POR MEIO DE PARTITURAS: ............................................... 84
APÊNDICE F – RELATOS ACERCA DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO,
ALUNO-ALUNO: ................................................................................................................... 85
APÊNDICE G - RELATOS ACERCA DO SIGNIFICADO DA MÚSICA: ..................... 87
APÊNDICE H - RELATOS ACERCA DO QUESTIONAMENTO SE AS PESSOAS
CONSIDERAM CARNAÚBA DOS DANTAS A “TERRA DA MÚSICA”: ................... 88
14
1 INTRODUÇÃO
A musicalidade é um elemento presente na história da humanidade. Com as
transformações ocorridas na vida dos homens, ao longo dos tempos, a música
também se transformou: surgiram novos métodos de produzir música e os
instrumentos se modernizaram. Os autores Schurmann (1989), Jeandot (1997),
Loureiro (2003) e Bréscia (2003) discorrem que a música esteve presente na vida
das pessoas desde as primeiras civilizações, a qual se destaca por ser uma
linguagem universal que varia de cultura para cultura, tendo sido praticada pelos
indivíduos em sua história para diversas finalidades. A música não se limita apenas
ao fazer musical, por ser uma linguagem que fala da alma enriquece a sensibilidade
e desenvolve a percepção.
Desde, pelo menos, a segunda metade do século XIX, a música é uma
particularidade dos moradores do vale do rio Carnaúba, localizado no Seridó , região
sertaneja do Rio Grande do Norte, hoje, correspondente ao município de Carnaúba
dos Dantas. Tal lugar foi reconhecido como “Terra da Música” por ser um celeiro de
musicistas de renome no Rio Grande do Norte e, mesmo fora dele, como Felinto
Lúcio Dantas (GUANAIS, 2001), Tonheca Dantas (GALVÃO, 1998) e Márcio Dantas
de Medeiros (MACEDO, 2005). Tão grande é a importância da música para os
carnaubenses que esta arte foi registrada como patrimônio imaterial de Carnaúba
dos Dantas (MACEDO, 2005).
Com o passar do tempo, contudo, a música parece ter perdido o seu valor na
terra onde foi consagrada. É esta a impressão que a autora desta pesquisa, natural
e moradora em Carnaúba dos Dantas, sente, ao conversar com familiares e amigos,
bem como, com músicos que residem no campo ou na cidade, sobre o tema.
Inexistem políticas públicas voltadas para o apoio à arte da música e, também não
há incentivos relativos ao seu ensino na rede escolar. Todavia, os resquícios da
tradição ligada à música estão presentes na Filarmônica Onze de Dezembro,
mantida pela Associação Musical e Cultural Onze de Dezembro, que, mesmo em
meio a duras batalhas, segue desenvolvendo um importante trabalho que tem por
finalidade transmitir o conhecimento musical. Esse organismo da sociedade civil,
criado em 2001, além de contribuir com a formação musical dos interessados em
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tornarem-se músicos, abriga o conjunto musical que abrilhanta festividades e
comemorações, tanto em Carnaúba dos Dantas, quanto em lugares fora dela.
Da realidade enunciada no parágrafo anterior – sobre falta de políticas
públicas destinadas ao incentivo aos músicos e ao ensino musical na “Terra da
Música” – é que surgiu esta intenção de pesquisa, cujo objetivo é o de investigar
como se desenvolve o ensino da música, por meio de partituras, na Filarmônica
Onze de Dezembro, bem como, refletir sobre a importância desse ensino, na
tentativa de compreender seus benefícios para o processo de formação sociocultural
dos indivíduos; ainda há uma perspectiva de historicizar o processo de transmissão
do conhecimento musical, no âmbito das bandas de música que foram formadas no
espaço do vale do rio Carnaúba, correspondente ao atual município de Carnaúba
dos Dantas e determinar que motivos levam à desvalorização da arte da música no
cenário local, atitude que contrasta com o título de “Terra da Música”, atribuído a
Carnaúba dos Dantas.
Essa pesquisa justifica-se pela necessidade de se conhecer melhor o
processo de transmissão do conhecimento musical, que data mais de cem anos no
espaço que hoje, corresponde à Carnaúba dos Dantas. Há referências esparsas a
esse processo de transmissão sobre estudos que se ocuparam da história da
música em nível local (DANTAS, 1987; MACEDO, 1985; GUANAIS, 2001; GALVÃO,
1998). Porém, inexiste, como pôde verificar, um estudo que tenha se ocupado
diretamente, sobre as questões que incidem no processo de ensino-aprendizagem
da música em Carnaúba dos Dantas. Demonstrada, assim, a relevância acadêmica
deste estudo, vale ressaltar que, sendo Carnaúba dos Dantas a “Terra da Música”, a
reflexão sobre a presença da música em seu cotidiano pode contribuir para o reforço
de aspectos da identidade cultural dos carnaubenses. A pesquisa, portanto, radica
sua relevância social na relação que existe entre os moradores de Carnaúba dos
Dantas e a arte musical.
Para concretude desta pesquisa, inicialmente foi feita uma pesquisa
bibliográfica acerca da importância do ensino da música, especialmente, leitura de
artigos e obras que discutem a história e o ensino da música em Carnaúba dos
Dantas. Feita a leitura e revisão desses escritos, partiu-se para a observação
participante (conforme apêndice A), para compreensão melhor de como se
desenvolve o ensino da música na Filarmônica Onze de Dezembro. A observação foi
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produtiva, pois possibilitou uma relação pessoal e direta com o objeto de pesquisa.
Com base nas observações, foi construído um roteiro que serviu de base para as
entrevistas, as quais foram gravadas. As entrevistas foram realizadas com os alunos
que participam e participaram da iniciação musical na filarmônica. Para finalizar, foi
feito um questionário com perguntas estruturadas. Esse questionário foi disposto na
rede social , Facebook, com a finalidade de descobrir quais os motivos que levam a
desvalorização da música, em sua própria terra. Após a realização de todos os
passos, os dados foram analisados, estabelecendo a relação com o que foi proposto
e com as respostas dadas, buscando encontrar suportes para os questionamentos.
O estudo divide-se em três capítulos. O primeiro traz uma abordagem da
iniciação musical em Carnaúba dos Dantas, propondo-se a fazer uma reconstrução
histórica, destacando o processo de transmissão musical, no âmbito das bandas de
músicas. Também discorre sobre a iniciação musical de três musicistas
carnaubenses que se destacaram depois como maestros e compositores: Felinto
Lúcio Dantas, Antônio Pedro Dantas (Tonheca Dantas) e Márcio Dantas de
Medeiros. Fundamentam esse estudo, principalmente, Dantas et al (2005), Dantas
(1987), Galvão (1998) e Guanais (2001).
No segundo capítulo, foi enfocado o ensino da música que é desenvolvido na
Filarmônica Onze de Dezembro, destacando aspectos, como estrutura física,
caracterização da turma de alunos e do professor. Posteriormente, abordou-se a
relevância histórica, cultural e social desse trabalho, a partir de depoimentos de
pessoas envolvidas em seu gerenciamento e no ensino de música ofertado.
Por fim, o terceiro capítulo analisa o porquê da desvalorização da música na
própria “Terra da Música”, ao passo que suscita questionamentos a partir das
respostas dadas por internautas, em questionário próprio disponibilizado, acerca da
temática.
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2 UMA ABORDAGEM HISTÓRICA DA INICIAÇÃO MUSICAL EM CARNAÚBA
DOS DANTAS/RN
A música é uma linguagem que nasceu com o homem e com a necessidade
de se comunicar. Inicialmente o homem não tinha o objetivo de fazer música, mas
sim de imitar a natureza. O fazer musical, no sentido de englobar todas “as
manifestações sonoras praticadas pelo homem com os mais diversos fins”
(SCHURMANN, 1989, p.16), compara-se com o próprio surgimento e evolução da
linguagem humana.
Assim, a música enquanto linguagem é a arte de combinar sons, ritmos e
silêncio. É considerada como uma prática cultural e humana, que foi utilizada para
diversos fins pela humanidade. Segundo Jeandot (1997, p.12) a música é uma
linguagem universal, com muitos dialetos, os quais variam de cultura para cultura,
envolvendo a maneira de tocar, de cantar, e organizar os sons e de definir as notas
básicas e seus intervalos. Transmite paixões, histórias, subjetividades, emoções e
“traduz sentimentos às vezes indivisíveis, indiferentes à origem, à etnia ou ao tempo”
(DANTAS et al, 2005, p. 187).
O conceito de música pode ser definido segundo Penna (2012, p. 17) como
uma forma de arte que tem como material básico o som. Dessa forma, a música se
constitui como uma forma de linguagem que utiliza diferentes instrumentos para
transmitir sons, histórias, culturas e sentimentos. Para Loureiro, (2003, p.153)
entender a música como uma linguagem é entendê-la como um discurso que fala da
alma, indo muito além do que se imagina.
A música sempre esteve presente na vida, na história e na cultura do povo
carnaubense. Corre nas veias e reflete na alma do povo de Carnaúba dos Dantas o
gosto e o prazer pela música. De acordo com Dantas (1987):
CARNAÚBA é a cidade da MÚSICA. Quase todos carnaubenses são músicos. É uma cousa congênita do povo. É a terra dos instrumentos e da alegria. Há uma harmoniosa BANDA DE MÚSICA e todas as suas peças, em sua maioria, são compostas pelo Regente da mesma.
Carnaúba dos Dantas, município localizado no sertão do Seridó, do Rio
Grande do Norte, é conhecida pelo título de “Terra da Música”. Trata-se de uma
terra de gente sofrida, de cabra da peste, de agricultor que come porque planta e
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planta pra comer, de um povo religioso e fervoroso, de gente talentosa que canta,
toca e encanta1. Essa terra apesar de seca é muito frutífera, tendo “frutificado”
grandes musicistas.
Por volta da segunda metade do século XIX, no sítio Carnaúba de Baixo,
nasceu a primeira formação musical, uma charanga, que ficou conhecida como a
“Banda da Carnaúba de Baixo”. Esta foi criada por José Venâncio Dantas, que foi o
mais antigo músico de Carnaúba dos Dantas de que se tem notícia. Galvão (1998,
p.25) relata que, segundo a tradição, José Venâncio teria recebido os seus primeiros
ensinamentos musicais de Manoel Fernandes de Araújo Nóbrega, que regia em
Caicó, a banda de música “4 de maio”. Segundo Galvão, documentos cartoriais de
1889, já o tratavam como “artista” (1998, p. 25).
José Venâncio fez história, pois além de ter sido o mais antigo musicista que
se tem notícia, foi o precursor da transmissão do conhecimento musical. Foi,
também, o primeiro maestro e professor de música no Vale do rio Carnaúba. Para
Dantas (1987) José Venâncio “andava em busca de um ideal musical no Vale
Montanhoso dos Carnaubais Risonhos, onde exercia o SACERDÓCIO DA ARTE”.
A partir de José Venâncio Dantas outros musicistas surgiram. Aflorou, no Vale
do rio Carnaúba,um conjunto de musicistas como Tonheca Dantas (Antonio Pedro
Dantas), José Alberto Dantas, Pedro Arboés Dantas e, dentre outros, Felinto Lúcio
Dantas, pois, nas palavras de Donatilla Dantas, “CARNAÚBA tem uma infinidade de
músicos. E a música é, para o carnaubense, uma arte divinizada, um ideal sublime,
uma espécie de religião à deusa Euterpe...” (DANTAS, 1987).
A música foi, com frequência, elemento indispensável às festividades
religiosas, na opinião de Márcio Dantas de Medeiros, atual maestro da Filarmônica
Onze de Dezembro:
A história da música em Carnaúba dos Dantas tem uma profunda ligação com a Igreja Católica. Desde a realização das primeiras cerimônias religiosas (ofícios, missas, novenas, procissões, etc.) onde havia acompanhamentos através de cânticos ou de
1 As imagens aqui retratadas fazem parte do imaginário local, vivenciado pela autora do projeto
desde sua infância. Elas aparecem com ênfase numa produção cinematográfica de 2005, o
documentário Pedro de Zé Maria, Um Carnaubense Cabra da Peste, roteirizado, dirigido e produzido
pelo artista Dedé Carnaúba. Sobre o documentário, conferir PEDRO de Zé Maria: um carnaubense
cabra da peste. Disponível em: <http://www.revelandoosbrasis.com.br/video/pedro-de-ze-maria-um-
carnaubense-cabra-da-peste>. Acesso em: 10 nov 2015.
19
instrumentos musicais, até a construção da primeira capela e a idealização das primeiras festas de padroeiro, que a música encontra-se associada à religião. (MEDEIROS, 2015)
Assim, a música tornou-se elemento fundamental para as festividades
religiosas, desde sua primeira formação até os dias atuais.
2.1 Processo de transmissão do conhecimento musical no âmbito das bandas
de música
O primeiro processo de transmissão do conhecimento musical teve início no
sítio Carnaúba de Baixo, na segunda metade do século XIX, por volta dos anos de
1880, liderado por José Venâncio Dantas - maestro e professor da charanga, que
ficou conhecida como “Banda da Carnaúba de Baixo”. Provavelmente, nessa época,
ainda não havia um ensino formalizado da música, mas, este acontecia partilhado
entre irmãos, parentes e vizinhos. Alguns de seus alunos influenciaram muitas
gerações, como José Alberto Dantas, Pedro Lúcio Dantas, Pedro Arboés Dantas e
Antônio Pedro Dantas (Tonheca Dantas) - este, irmão mais novo de José Venâncio.
Os instrumentos musicais eram próprios e o repertório supostamente era composto
de valsas, maxixes, polcas, dobrados e hinos religiosos. Segundo Galvão, (1999, p.
25) deve-se a José Venâncio o estímulo à música, a iniciação e o ensino da referida
arte a todos os músicos do rio Carnaúba. Essa primeira formação musical durou até
o final dos anos de 1920, com a morte de José Venâncio Dantas, em 1926. Na
imagem abaixo, tem-se um registro dessa banda de música:
20
Fotografia 1 – Banda de Música regida por José Venâncio Dantas (1925- 1926)
Fonte: Mneme (2005, p. 114). Na imagem, podemos perceber a centralidade dada ao maestro José Venâncio Dantas (1), a Pedro Arboés Dantas (2) e a José Leopoldino de Azevêdo, diretor da banda (3). Importante notar, dentre os componentes da formação, pessoas de cor, como Francisco Bento das Chagas, conhecido como Chico Tavares (4). O próprio José Venâncio Dantas, como assinala
Galvão (1998), era filho de uma ex-escrava.
Por volta do início do século XX surgiu a segunda formação musical, “a Banda
Xiquexique”, criada por um ex-aluno de José Venâncio Dantas, José Alberto Dantas.
Sua prioridade era atender os alunos daquela localidade e dos sítios mais próximos.
Ele também “era agricultor e professor particular. Tinha um papel importante na
política carnaubense, e na Historiografia (deixou trabalhos sobre a História de
Carnaúba dos Dantas)” (DANTAS et al, 2005, p.188). Segundo Medeiros (2015), a
Banda Xiquexique durou, somente até meados de 1910. José Alberto Dantas
também foi maestro de bandas de música nas cidades de Picuí, Pedra Lavrada,
Barra de Santa Rosa e Cuité, no vizinho Estado da Paraíba.
Posteriormente, Pedro Arboés Dantas que aprendeu música com seu tio-
sogro José Venâncio Dantas e foi um dos músicos integrantes da Charanga da
Carnaúba de Baixo, criou sua própria banda de música, desta vez, na então
Povoação de Carnaúba, após o ano de 1926. Ele também “brilhou na música como
compositor de vários dobrados, valsas, tangos e músicas clássicas” (DANTAS et al,
2005, p. 189). Essa formação de banda musical teve duração até os anos de 1930.
No registro abaixo, há uma imagem de um instante em que foi retratada a Banda de
Música regida por Pedro Arboés Dantas:
11 2 3 4
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Fotografia 2 – Banda de Música regida por Pedro Arboés Dantas (1928)
Fonte: Mneme (2005, p. 115) Na imagem, podemos perceber a figura de Pedro Arboés Dantas (1),
neste contexto, atuando como maestro da banda de música
Nessa banda de música foi revelado um talento que se sobressaiu por ser um
grande musicista. Há uma referência a Felinto Lúcio Dantas, agricultor que
compunha parte de suas músicas enquanto estava na lavoura. Muitas vezes,
escrevia suas composições na areia do rio, outras vezes “compunha suas músicas
na cabeça, quando chegava em casa é que colocava-as no papel” (DANTAS et al,
2005, p. 189). É considerável o número de suas composições sacras que são
executadas em muitas regiões do Brasil, tendo sido efetuadas, também, no
Vaticano. Para Dantas et al (2005 p. 190):
Felinto Lúcio afirmava que as suas composições musicais atingiram mais de cem e menos de mil, todas inspiradas nas viagens a pé ao sítio, do silêncio das madrugadas, do cantar dos pássaros, dos movimentos das folhas das carnaubeiras, da beleza dos sons indecifráveis dos animais, enfim da natureza a qual qualificava de “sua escola”.
Em 1938, a Povoação de Carnaúba passou a ser denominada de Vila
Carnaúba, vinculada administrativamente ao município de Acari. Em 11 de
dezembro de 1953, a vila foi elevada ao status de cidade, com o nome de Carnaúba
dos Dantas, sede do município de mesmo nome, desmembrando-se de Acari
11
22
(MACEDO, 2005). Houve, nesse ínterim, várias mudanças no que diz respeito à
música. Segundo Medeiros (2015):
Com a morte dos primeiros músicos e maestros de Carnaúba dos Dantas, o interesse pela música foi esfriando até quase não surgir novos músicos na Cidade (...) Tal situação só mudou em fins da década de 1970, quando o bispo Dom José Adelino Dantas veio residir na nossa cidade e lutou para a criação de uma nova banda. Dom José Adelino dizia que: “uma cidade sem banda, é uma banda de cidade”.
Dom José Adelino, nesta época, exercia o sacerdócio como padre na cidade
de Carnaúba dos Dantas, ele era também, um grande admirador e entusiasta da
música carnaubense. Preocupado com a atual situação da banda de música,
conversou como o então Prefeito Municipal de Carnaúba dos Dantas, Valdemar
Cândido de Medeiros, e o Prefeito conseguiu o contrato do maestro Francisco das
Chagas Silva, conhecido como Pinta, além de ter adquirido junto com o Governo do
Estado do Rio Grande do Norte, todos os instrumentos da nova formação musical.
Esta foi criada pela Lei Municipal nº 195/75, de 05 de março de 1979, na gestão do
referido prefeito, tendo sido denominada de Banda de Música Governador Tarcísio
Maia, em homenagem ao chefe do Executivo estadual, através do qual se fez a
aquisição dos instrumentos.
O maestro Pinta “começou a ensinar música em Carnaúba dos Dantas em
1978, tendo a estreia da Banda de Música Governador Tarcísio Maia (atual
Filarmônica 11 de Dezembro) acontecido no dia 19 de março de 1979” (MEDEIROS,
2015) .Essa mudança trouxe alguns pontos positivos, pois a banda passou a ter o
incentivo por parte da Prefeitura Municipal de Carnaúba dos Dantas e os
instrumentos, que antes eram particulares, passaram a pertencer à própria
agremiação. Francisco das Chagas Silva foi maestro em Carnaúba dos Dantas até
início de 1994, quando se aposentou. Na imagem abaixo, um registro da Banda de
Música Governador Tarcísio Maia, em seu início:
23
Fotografia 3 – Banda de Música regida por Francisco das Chagas Silva (1979)
Fonte: Mneme (2005, p. 118). A imagem retrata a primeira apresentação da banda regida pelo Maestro Pinta (1), no dia da Festa de São José, dentro da matriz de mesmo orago, em Carnaúba dos
Dantas. Aparecem na foto, também, dois dos idealizadores e fomentadores da cultura musical em Carnaúba dos Dantas: dom José Adelino Dantas (2) e Felinto Lúcio Dantas (3).
De 1994 até 1995 a Banda de Música, Governador Tarcísio Maia, foi
assumida pelo neto de Felinto Lúcio Dantas, o maestro Carlos Guedes Câmara.
Em 1996, Francisco Rafael Dantas, conhecido como França, deu continuidade ao
trabalho musical e à formação de músicos, tendo assumido também a regência da
banda até o final de 2000 (MEDEIROS, 2015).
Márcio Dantas de Medeiros, em 2001, assumiu a regência da Banda de
música, Governador Tarcísio Maia, que, depois, passou a ser chamada de
Filarmônica Onze de Dezembro, permanecendo até os dias atuais. Márcio Dantas
iniciou seus estudos musicais com o mestre Pinta e sempre teve muita paixão e
habilidade para música. Desde muito jovem, além de tocar, começou também a
compor. Além disso, atua como professor de música na Associação Musical e
Cultural Onze de Dezembro. Segundo Dantas et al (2005, p. 192), o mesmo busca
manter a cultura musical de uma cidade conhecida com “Terra da Música” e que,
infelizmente vem sendo deixada de lado. Essa situação, já apresentada nos anos
2000 e ainda presente na atual década, não o abala. Pelo contrário, Márcio Dantas
procura extrair algo positivo dessa situação negativa. É persistente e ensina
diariamente a crianças, jovens e adultos o conhecimento musical. Tudo isso,
1
2
3
24
segundo palavras do próprio, por amor, para que essa tradição musical não se perca
(MEDEIROS, 2015).
2.2 Iniciação Musical de três musicistas carnaubenses
A iniciação musical é a maneira pela qual se introduz o conhecimento musical
na vida de um indivíduo, fazendo com que este apreenda a teoria musical. O seu
objetivo principal é estudar as nomenclaturas e as simbologias musicais que são as
noções básicas e essenciais para se ler uma partitura, como ritmo, melodia, notas,
ponto, contraponto, clave, entre outros. Segundo Vasconcelos (2006, p.4):
O processo de ensino e aprendizagem da educação musical consiste na interacção de um conjunto de actividades relacionadas com a audição, interpretação e composição. Esta interacção caracteriza-se por três aspectos essenciais: O primeiro é que todas estas actividades são actividades criativas; o segundo, diz respeito ao facto de que as práticas musicais podem envolver mais do que uma actividade em simultâneo. O terceiro e último aspecto diz respeito ao facto de ouvir, interpretar e compor estar interligado com os contextos de criação e acção artística, sociais, culturais, históricos e estéticos através de abordagens sensoriais.
Não importa a época, a iniciação musical é essencial para se aprender a
linguagem musical, não diferente do que acontece em praticamente todo processo
de aprendizagem. De acordo com essa realidade, há uma abordagem sobre o
processo de três importantes músicos carnaubenses, os quais passaram pela
iniciação musical, em momentos distintos, na tentativa de perceber como tais
processos se constituíram no tempo e no espaço. As referências dizem respeito às
pessoas de Antonio Pedro Dantas (Tonheca Dantas), Felinto Lúcio Dantas e Márcio
Dantas de Medeiros.
2.2.1 Antonio Pedro Dantas (Tonheca Dantas)
Antonio Pedro Dantas, conhecido como Tonheca Dantas, filho de João José
Dantas e da ex-escrava Vicência Maria do Espírito Santo, nasceu dia 13 de junho de
1871, no sítio Carnaúba de Baixo. Viveu toda sua infância e adolescência no mesmo
25
sítio e, desde pequeno, despertou o interesse pela música ao ver seus irmãos
tocarem na Festa da padroeira da Vila de Acari. Segundo Galvão (1998, p.26):
Não foi pequeno o deslumbramento do menino ao ver e ouvir, pela primeira vez, a banda de música em frente à matriz. Maior ainda deve ter sido o seu espanto ao ver que tocavam ali os seus irmãos Pedro Carlos, Manoel Nicolau e João Pedro. E ficou mais admirado ainda de ver, à frente da banda, José Venâncio, fazendo gestos que ele nunca tinha visto alguém fazer e demonstrando ter autoridade sobre os músicos.
A visão daquela banda de música mexeu com Tonheca, que logo pediu a seu
irmão José Venâncio que o ensinasse a tocar um instrumento que lhe chamara mais
a atenção, o clarinete.
Entusiasmado e eufórico, aguardava ansiosamente o momento que iria
começar a aprender a linguagem musical. José Venâncio trouxe o seu caderno e
começou a ensiná-lo. Como a maioria das pessoas, Tonheca não compreendeu as
partituras. Ao observar o caderno percebeu que “tinha uns desenhos muito
engraçados, umas cabecinhas, ora pretas, ora vazadas e presas numa haste,
distribuídas por cima de umas linhas. O que seria aquilo? O que aquilo tinha a ver
com a música que ele ouvira e queria aprender a tocar?” (GALVÃO, 1998, p. 27). Foi
a partir desse interesse e curiosidade que José Venâncio começou a ensinar toda a
teoria musical a Tonheca, levando-o a compreender a importância de saber
primeiramente a linguagem musical para, depois, empunhar o instrumento.
José Venâncio utilizou o método tradicional para ensinar o seu irmão. Iniciou
com a teoria musical, logo após passou exercícios com solfejo, e quando ele estava
apto, o entregou o instrumento. Ele “recebeu, nervoso, o instrumento com que tanto
sonhara. José Venâncio ensinou a empunhá-lo e como abrir e fechar os furos e as
chaves de prata. Depois, como soprar na palheta, emitindo cuidadosamente o ar,
para produzir um som bonito de se ouvir.” (GALVÃO, 1998, p. 28)
Apesar de gostar de música e incentivar seus outros filhos a tocar, João José
Dantas não queria que Tonheca fosse músico, pois sonhava com um futuro menos
sofrido para o filho. Mesmo sem o apoio do pai, Tonheca perseverou em aprender a
arte. Não perdia tempo e sempre que tinha um horário livre, fora das ocupações com
o gado e a lavoura, dedicava-se a aprimorar seus conhecimentos musicais. Segundo
Galvão (1998, p.32):
26
A paixão pela música levou o menino Tonheca a experimentar diversos instrumentos, desde as flautinhas de taboca compradas na feira de Carnaúba dos Dantas e que deliciaram a infância de muita gente, até instrumentos de verdade, conseguidos por empréstimo. Assim, da escala do clarinete, passou para a família dos saxofones, começando com os instrumentos de palheta dupla. Experimentou, depois, e descobriu os segredos dos instrumentos de bocal, começando com o pistom e passando pelos trombones e bombardinos. Até mesmo a exigente flauta cedeu à sua curiosidade.
O mesmo ganhava bastante destaque por sua facilidade em tocar vários
instrumentos e pela qualidade com que tocava. Logo Tonheca começou a tocar na
Banda de Carnaúba de Baixo, que, além das tocatas pela região, também se
apresentava nas festividades religiosas das cidades circunvizinhas.
O seu talento o levou a patamares altos. Aquele que era apenas
instrumentista passou a ser mestre de música na vizinha cidade de Acari, mas
devido a problemas pessoais e à seca que rachava o sertão, decidiu mudar para a
capital do Estado do Rio Grande do Norte em 1898.
Através de seu brilhante desempenho num concurso do Batalhão de
Segurança, em 1898, Tonheca foi contratado como maestro da Banda de Música da
Força Pública (Polícia Militar) do Rio Grande do Norte, função que exerceu por três
anos. O mesmo passou por outros lugares, como, Rio de Janeiro, Belém do Pará,
Alagoa Grande e Alagoa Nova na Paraíba, e transmitiu o seu conhecimento por
onde passou, repassando aquilo que, um dia aprendera na simplicidade do sítio
Carnaúba de Baixo, com seu irmão mais velho. Na imagem abaixo, uma fotografia
de Tonheca Dantas:
27
Fotografia 4 – Tonheca Dantas (1922)
Fonte: Galvão (1998, p. 153)
Tonheca também foi consagrado por suas composições, que fizeram e fazem
muito sucesso. Segundo Galvão (1998, p. 92):
Algumas de suas composições foram impressas na Alemanha e eram vendidas nas casas de música da cidade, como a livraria da esquina Rua Conselheiro Furtado com 14 de abril; entre elas, as valsas para piano “Louca por Amor” e “Amor Constante”, dedicadas a Ana Florentina.
Dentre suas composições as que mais se destacaram foram, entre outras, as valsas
Royal Cinema, Delírio, Melodia dos Bosques e Desfolhar Saudades. Tonheca
Dantas foi um talentoso músico, maestro e compositor. Deixou uma vasta obra e
morreu em 1940, em Natal. Por seu talento deveria ter sido notado e apreciado no
seu país.
2.2.2 Felinto Lúcio Dantas
No ano de 1898, dia 23 de março nasceu Felinto Lúcio Dantas, filho de
Manoel Lúcio de Macedo e Jesuína Emília de Jesus. Nascido e criado no sítio desde
pequeno trabalhou na lavoura e no campo e teve uma infância tranquila como a
maioria dos meninos daquela época.
28
Em 1910, aos 12 anos de idade, Felinto Lúcio decidiu que queria aprender a
ler e logo pediu a seu primo que já era alfabetizado, para ensiná-lo. Este disse que
não podia, pois não ia deixar de trabalhar para ensinar. Felinto Lúcio fez, então, uma
proposta ousada a seu primo: disse que trocava cada letra ensinada por três pás de
areia, e assim o fez. Relembrando esse pacto, Felinto Lúcio afirmou que a terra do
rio era seu quadro negro e a pá sua professora (DANTAS, 1982). Segundo Guanais
(2001, p.12) essa iniciação foi ampliada por mais dois anos de estudo regular, na
escola do professor Antônio Azevedo Filho [...] “Felinto limitou-se a aprender a ler e
escrever apenas, reservando para si a responsabilidade pelo crescimento pessoal
nas letras”.
Pouco tempo depois de aprender a ler, Felinto Lúcio iniciou sua
aprendizagem musical. Tentou por duas vezes aprender música de ouvido, mas não
conseguiu, embora seu irmão, Pedro Lúcio Dantas, sempre lhe tivesse dito que não
era possível. Um dia, ao ver seu primo Tonheca Dantas ensaiando a valsa Royal
Cinema, ficou profundamente tocado e admirado, decidindo, a partir desse momento
que iria ser músico também.
Tomada esta decisão, Felinto Lúcio destinou-se a aprender a linguagem
musical com o mestre Pedro Arbóes, na Povoação de Carnaúba, a qual foi
“custeada com o dinheiro que recebia por serviços de plantio e de ordenha.”
(GUANAIS, 2001, p.14) O seu processo de iniciação musical se deu da seguinte
forma: primeiramente, o mesmo estudou as lições preliminares com a teoria musical,
as quais tratavam da simbologia musical; depois, iniciou as lições de solfejo em que
ele lia e cantava as partituras. Sempre muito dedicado, Felinto Lúcio passava várias
lições no mesmo dia, em poucas semanas de estudo, já estava pronto para “pegar”
o instrumento. O professor lhe sugeriu que comprasse um instrumento para
aprender a tocar.
Felinto Lúcio era muito envolvido com o seu processo de ensino-
aprendizagem da música, por isso aprendeu rapidamente a tocar. Além de tocar, a
música despertou nele o desejo de compor. Para Guanais, (2001, p. 15) essa
vocação profunda não tardaria a se manifestar no desejo de compor, que Felinto
Lúcio encarava como sua válvula de escape à inspiração que lhe era abundante.
Compôs sua primeira música no ano de 1917, denominando-a de “Estréia”, que foi a
29
estreante da obra fértil desse músico. Logo após, vieram diversas, valsas, dobrados,
mazurcas e obras sacras.
Em 1920 começou a ser professor e maestro da Banda de Música de Acari,
porém sua estreia oficial só se deu sete anos mais tarde em 1927. Entre 1930 e
1931 regeu a Banda de Música de São Vicente, e posteriormente, foi professor na
Banda de Música de Jardim do Seridó. Provavelmente Felinto Lúcio ensinava da
mesma forma que aprendeu, iniciando com a teoria musical, depois com o solfejo, e
por fim, o aluno começava a aprender com o instrumento, e, posteriormente entrava
na Banda de Música.
Em uma entrevista concedida ao jornalista Carlos Lyra, da TV Universitária da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (TVU), para o programa Memória
Viva2, citada também por Guanais (2001, p. 59), Felinto Lúcio declarou que:
Eu sou... fui um músico, não sou mais. Hoje eu sou um trapo
humano, um resto humano, mas já fui músico. Mas nunca tive
incentivo de forma nenhuma, tanto que o que saiu de mim foi... É
como eu disse outro dia, vem do ar, não sei de onde vem essa coisa
não, vem de lá, não sei por onde entra. Por onde sai eu sei, que eu
pego uma tira de papel e um lápis e essa coisa...Mas de onde entra
eu não sei, por que também não sei de coisa alguma. Vai saindo na
doida, como nós sertanejos costumamos dizer (DANTAS, 1982).
Percebe-se, através da fala de Felinto uma característica própria dele, que é a
humildade, ele sempre fazia questão de afirmar que nada sabia, apesar de ser um
músico renomado, com um dom excêntrico e com inúmeras composições. Em
muitos casos suas composições eram concebidas e transcritas na areia do rio,
sendo registradas no papel quando ele chegava à cidade.
Em 1978, o Centro Cultural Mobral gravou um LP duplo, contando com
algumas de suas composições, com dobrados, valsas e obras sacras. Esse LP é
composto por dois discos, o disco 1, lado A é composto por valsas, o lado B por
dobrados. Já o disco 2, os lados A e B tinham apenas obras sacras. O objetivo da
política do Mobral, segundo Guanais (2001, p.49) naquele instante, dispunha de um
certo cuidado com a preservação cultural e o registros de fatos e obras relevantes,
2 Depoimento a Tv Universitária no programa “Memória Viva”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=F5je-v4X_ec
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dentro do cenário social nas várias cidades que atuava. A imagem abaixo mostra
Felinto Lúcio, no Rio de Janeiro, acompanhando a gravação desse LP.
Fotografia 5 – Felinto Lúcio Dantas no Rio de Janeiro (1978)
Fonte: Dantas (1978)
Em 1982, Felinto recebeu uma nova proposta para gravar um novo LP, dessa
vez a oportunidade surgiu a partir do Projeto Memória, tal projeto foi idealizado pela
UFRN com o apoio do SESI-RN, a gravação ocorreu em Natal. De acordo com
Guanais (2001, p.56) foi gravado pela banda de música do Catre, sob a regência de
Moisés da Paixão. O LP tinha em seu repertório valsas e dobrados, como: valsas
Culpa e Perdão, Lúcia Dantas, Nilda Medeiros Dantas, Ana Medeiros Dantas e
dobrados a Estréia, José Lúcio Dantas, Francisco Lúcio Dantas e Mobral.
Ele teve por volta de 185 obras completas3, entre sacras e profanas
espalhadas por todo o Brasil, e no exterior, teve composições de sua autoria tocadas
no Vaticano (GUANAIS, 2001).
Felinto Lúcio foi um homem simples, humilde, católico praticante e que
dedicou a vida à família e ao trabalho. Foi um homem excêntrico, um gênio de
acordes raros, vivia em meio à natureza e fez dela a sua inspiração, como afirmou o
seu amigo, Dom José Adelino Dantas (DANTAS, 1982). Morreu em 1986, em
Carnaúba dos Dantas.
3 Informação extraída do Livro “O plantador de sons, vida e obra de Felinto Lúcio” de Danilo Guanais.
31
2.2.3 Márcio Dantas de Medeiros4
No dia 02 de agosto de 1968 nasceu Márcio Dantas de Medeiros, filho de
Manuel Martinho de Medeiros e de Rozilda Dantas de Medeiros. Desde pequeno,
Márcio Dantas ouvia sua avó contar-lhe histórias de quando seu bisavô José Alberto
Dantas foi maestro da Banda Xiquexique, no início do século XX e de como suas
composições musicais haviam se perdido ao longo do tempo. Essas histórias
sempre despertaram a curiosidade do menino Márcio. Mas, este nasceu em uma
época em que o ensino da música em Carnaúba dos Dantas passava por um longo
período sem que fosse executado. Segundo depoimento do próprio Márcio Dantas,
entre as décadas de 1950 até a década de 1970 não houve banda de música em
Carnaúba dos Dantas, tampouco, deu-se o ensino dessa manifestação artística. Foi
uma época em que muitos talentos musicais deixaram de ser revelados
(MEDEIROS, 2015).
Em 1979 essa situação mudou e foi criada a nova banda de música na
cidade, denominada de “Governador Tarcísio Maia”, como já foi mencionada. Na
época era uma das poucas atrações que havia na cidade e, por isso, muitas
crianças iniciaram suas atividades musicais, estudando música com o maestro Pinta.
Aquilo despertou a curiosidade do menino Márcio, que, na época, contava com 11
anos.
Disposto a aprender, comprou seu caderninho e foi estudar as inscrições
musicais com o mestre Pinta, na casa de Felinto Lúcio Dantas. O processo de
ensino-aprendizagem da música se dava apenas com a teoria musical, não se
utilizava a flauta doce. Pinta escolhia lições específicas para cada aluno e passava
no caderno de lições. O mestre não tinha um método único, com isso, descobria
quem realmente tinha talento para música. As atividades musicais não eram fáceis,
mas o garoto Márcio sempre mostrou aptidão para a música. Não demorou muito
para concluir seu curso de teoria musical e receber o instrumento.
Márcio Dantas escolheu o trompete como seu instrumento e começou a
estudar e praticar diariamente. Porém, o menino que tocava surdo na Banda de 4 As informações que serviram de subsídio para a elaboração deste tópico são oriundas de entrevista
que fizemos com Márcio Dantas de Medeiros (MEDEIROS, 2015).
32
Música saiu e mestre Pinta o convidou para “bater” surdo. Ele abandonou o
trompete, porque o seu interesse, na verdade, era entrar para a Banda. E, em 1980,
o mesmo estreou como membro da Banda de Música Governador Tarcísio Maia.
Sua relação com o mestre Pinta e seus colegas da banda era bem familiar,
embora muitos não tenham perseverado no grupo musical. Márcio Dantas
permaneceu e passou a cultivar, ainda mais, uma relação de proximidade com os
integrantes da banda.
Márcio Dantas sempre encarou a música como algo disciplinador. Para ele, o
músico, quando se dedica a estudar música, se torna uma pessoa disciplinada, que
tem uma relação de organização temporal e de organização espacial das coisas.
Como também, a música o leva a uma série de conexões cerebrais que estão
incluídas no ato de tocar, como o tempo, a velocidade, a força, a agilidade. Enfim,
uma série de coisas que intuitivamente não se percebe que se está fazendo, mas,
que está desenvolvendo a mente (MEDEIROS, 2015).
Quando Márcio Dantas começou a aprender música, descobriu que tinha a
capacidade de compor. Suas composições basearam-se nas de seus conterrâneos
e antecessores, Tonheca Dantas e Felinto Lúcio. Márcio possui inúmeras
composições como dobrados, valsas, fantasias, choros, temas para teatro, maxixes,
quartetos, concertos, hinos, missas e novenas, além de arranjos dos diversos
estilos. A música tornou-se parte de sua vida, pois as atividades que o mesmo
executa, costumeiramente, estão associadas à música.
Em 2001, Márcio Dantas passou a ser maestro e professor da Filarmônica
Onze de Dezembro, onde está até os dias de hoje. Graças ao excelente trabalho
desenvolvido ao longo dos anos nesta filarmônica, abriram-se muitas portas de
trabalho em outros lugares, tendo sido maestro e professor de música em cidades
como Areia Branca (2002-2004), São Fernando (2006-2015) e Sítio Novo (do
segundo semestre de 2015 até os dias atuais).
33
Fotografia 6 – Márcio Dantas de Medeiros regendo a Filarmônica Onze de Dezembro na cidade de Santa Cruz/RN
Fonte: Santos (2014)
Ele desenvolve o seu trabalho como professor de música na Filarmônica
Onze de Dezembro diariamente, nos seus horários de folga, que ocorrem à noite.
Cotidianamente, também, Márcio Dantas exerce o ofício de professor na Escola
Estadual João Henrique Dantas, na qual ensina a disciplina de artes. Para ele, a
filarmônica representa sua segunda família. Quando passou a ser maestro e
professor de música começou a adotar os componentes do grupo como seus filhos,
preocupando-se com as questões pessoais dos alunos, aproximando-se,
conversando e emitindo conselhos.
Márcio Dantas tem o respeito e a confiança de seus alunos, pais e da
comunidade, na qual vem deixando o seu legado em transmitir o conhecimento
musical e descobrir os talentos do povo carnaubense.
* * *
Neste capítulo, historicizamos o processo de transmissão musical no âmbito
do Vale do Rio Carnaúba, destacando as formações das bandas de músicas, bem
como, os seus respectivos maestros e professores de música. Posteriormente,
discuti-se a iniciação musical de três reconhecidos musicistas carnaubenses.
34
No próximo capítulo será enfocado o processo de ensino aprendizagem da
música, por meio de partituras na Filarmônica Onze de Dezembro no Município de
Carnaúba dos Dantas/RN. Como também, pretende-se destacar a relevância desse
ensino para a comunidade local.
35
3 O ENSINO DA MÚSICA POR MEIO DE PARTITURAS NA FILARMÔNICA ONZE
DE DEZEMBRO
A educação musical é o campo de ensino-aprendizagem da música. De modo
que o “objetivo específico da educação musical consiste em colocar o homem em
contato com seu ambiente musical e sonoro, descobrir e ampliar os meios de
expressão musical, em suma, ‘musicalizá-lo’ de uma forma mais ampla”. (GAINZA,
1977) A educação musical vai muito além da apreensão do conhecimento musical e
interpretação dos símbolos: ela visa à formação humana através da música. Tem a
capacidade de enriquecer o espírito, tocar a alma, transmitir conhecimento, cultura,
trabalhar a percepção e conduzir os sujeitos a lugares mais altos.
A educação musical envolve todo ensino/aprendizagem da música, que é
bastante abrangente. Então aqui pretende-se ressaltar o ensino da música por meio
de partituras. Para Dantas et al (2005 p. 193):
A música se desenvolve a partir do momento em que as crianças e jovens sentem-se atraídos pelo vibrante som da banda que passa. Logo em seguida, os alunos ingressam na escola de música aprendendo a simbologia musical decifrando a partitura que expressa sentimentos como: paixões, saudades, tristezas, magoas e alegrias. Após um período de treinamentos e ensaios com músicos mais experientes adquire-se a habilidade necessária para a execução de peças e números musicais programados a serem apresentados ao público.
Assim, como discorre o autor, é fato, que o som entoado chama a atenção e
promove no indivíduo o desejo em participar como peça integrante da construção do
som. Essa realidade terá um grande impacto na vida das crianças, pois é uma nova
linguagem a ser aprendida a partir do uso de partituras.
Vale salientar que “a partitura é um tipo de impresso que apresenta algum
diferencial de outros impressos, possui particularidades em sua produção, circulação
e uso. Formada por signos musicais, dentro de um código específico e próprio”.
(BORGES, 2006, p. 43) Ela se constitui em uma série de signos que representam a
música, sendo “um texto que o intérprete deve ler, compreender e transformar em
um processo relacional de sons, na ordem estética dada pelo compositor no âmbito
da forma” (REIS, 2001, p. 496) Para que ocorra a interpretação da leitura musical, é
36
importante que os indivíduos desenvolvam a percepção como uma capacidade
cognitiva.
Isso é importante porque o desenvolvimento da percepção auditiva é
extremamente necessário para a construção do conhecimento musical. Assim, a
educação musical deveria ser oferecida o mais cedo possível, já que a música é
uma linguagem que está intimamente ligada à percepção. Segundo Vygotsky
(1996), o desenvolvimento da percepção e da linguagem estão estritamente
vinculados entre si nesse período do desenvolvimento. Não se trata de qualquer
percepção, “trata-se de uma percepção elaborada e complexa, envolvendo uma
enorme gama de recursos cognitivos” (GRANJA, 2010, p. 52). É por meio dela que
o educando conhece o mundo, tendo a possibilidade de desenvolver tanto a
estrutura cognitiva como a emocional, social e musical. Barbosa (2005, p. 11)
tratando da temática, discorre o seguinte:
Assim, segundo Vygotsky, a percepção se desenvolve em estreita relação com outros processos psicológicos, tais como, a memória, o pensamento e a linguagem. As propriedades diferenciadoras que surgem na percepção, no curso de seu desenvolvimento, só podem ser explicadas através do que o autor chama “sistemas psicológicos”: novas formações complexas das funções mentais.
Dessa maneira, a percepção não está apenas vinculada ao conhecimento
musical, mas também à elaboração do conhecimento conceitual. Elas se articulam
continuamente no processo de construção do conhecimento. Levando a criança a
ser capaz de desenvolver sua própria capacidade de aprendizagem perceptiva. Com
isso, percebe-se que “não existem compartimentos estanques na subjetividade
humana. Vemos a partir do que sabemos, percebemos a partir da linguagem,
pensamos a partir da percepção, tiramos inferências a partir de modelos construídos
a partir de casos concretos” (MARINA, 1995, p. 62) Assim, a percepção se coloca
em destaque na construção do conhecimento, embora a escola se preocupe mais
com o conhecimento conceitual, e explore menos a percepção, por desconsiderar
essa dimensão do saber que engloba o conhecimento adquirido por meio dos
sentidos.
A linguagem musical também tem um grande potencial transformador, pois é
um conhecimento que valoriza o que há de mais humano nas pessoas. A música “é
um elemento de fundamental importância, pois movimenta, mobiliza e por isso
37
contribui para a transformação e o desenvolvimento”. (GAINZA, 1988).Transmite
paixões, sonhos, tradições e histórias. Segundo Damasceno (2008, p.2):
A música não se constitui apenas do arranjo combinado e significativo dos sons e silêncios, nem se restringe a si própria, mas se instaura de forma mais ampla, dentro de universos sensíveis e referenciados no universo do humano e do experiencial. Absorve dos campos humanos sua “textura” e dentro deles re-elabora a própria experiência humana tornando-a mais bela, e, por isso mesmo, mais humana ainda. Sendo assim, a música redimensiona a própria vida se constituindo ela própria em um vasto território de subjetividade e sentidos.
E assim, faz aquele que não é alfabetizado, um ser letrado, faz as notas se
transformarem em som e faz o som entoado tocar o mais profundo da alma e do
coração. Por isso, serão discutidos, neste capítulo aspectos importantes que
permeiam o ensino da música por meio de partituras, como: a organização
(estrutura, pessoal, financeira), o processo de ensino-aprendizagem e sua
relevância histórica, social e cultural.
3.1 A Filarmônica Onze de Dezembro e o ensino da música
A Filarmônica Onze de Dezembro começou a funcionar dia 28 de julho de
2001, oferecendo desde então, o ensino de música por meio de partituras. No
entanto, essa formação data de 1979, quando foi criada a Banda de Música
Governador Tarcísio Maia. A partir de 2001, houve uma mudança devido à criação
da Associação Musical Cultural Onze de Dezembro (AMCOD), que teve como
finalidade a busca de recursos para a manutenção do conjunto, passando a antiga
banda, a se chamar Filarmônica Onze de Dezembro em homenagem, à
emancipação política da cidade de Carnaúba dos Dantas. Conforme a abordagem
no Capítulo I.
O prédio da filarmônica está localizado à Rua Paulo Honório, S/N - bairro
Centro, na cidade de Carnaúba dos Dantas – RN. A estrutura física conta com 01
salão principal com 69,08 m²; 01 sala de estudo com 20,59 m²; 01 sala de secretaria
com 13,83 m²; 01 cozinha com 3,08 m² e 02 banheiros (masculino e feminino) cada
um com 2,33 m². A estrutura física do prédio é um pouco precária e não atende às
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necessidades para os fins aos quais se destina. No entanto, há bastante terreno
para construção de uma sede ampla e adequada ao que necessitam os músicos,
com salas equalizadas, para que os musicistas que estiverem ensaiando não
atrapalhem os que estão aprendendo, entre outras possibilidades. A imagem abaixo
mostra a estrutura da sede da Filarmônica Onze de Dezembro:
Fotografia 7 – Sede da Filarmônica Onze de Dezembro
Foto: Talita Dantas (2016). Além de ser a sede da banda de música, trata-se do local onde
acontecem as aulas de músicas. Geralmente as aulas se dão em frente à Filarmônica, onde as pessoas retratadas na fotografia estão conversando.
Os instrumentos musicais do conjunto foram adquiridos em 1979, na
formação anterior a Banda Governador Tarcísio Maia, por meio do Governo do
Estado. Mas no final de 2003, de acordo com o maestro Márcio Dantas (2015):
Apesar de tantas dificuldades, a prefeitura ainda acampou uma ideia de formar uma nova banda, retirando os instrumentos musicais e desalojando-nos da nossa sede, com o escuso propósito, não de melhorar a nossa música, mas de destruir um trabalho que não estava ao seu alcance (...). Mesmo assim continuamos trabalhando e conseguimos a aprovação de três projetos (2 do Governo do Estado do RN E 1 da FUNARTE) para a aquisição de 42 instrumentos musicais, e passamos a contar com instrumentos adquiridos por alguns componentes.
Atualmente a filarmônica é composta por aproximadamente 50 musicistas,
além de 30 alunos que estão no processo de aprendizagem musical. Atende a faixa
etária de 08 a 50 anos, advindos da zona rural e zona urbana da própria cidade.
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Para atender essa demanda a referida filarmônica e escola de música conta apenas
com três voluntários atuantes, Márcio Dantas de Medeiros (professor e maestro),
Iranildo Pereira dos Santos (Presidente da Associação), José Inácio Oliveira de
Azevedo Júnior (auxiliar).
De acordo com o Presidente da Associação Musical Cultural Onze de
Dezembro (AMCOD), o Sr. Iranildo Pereira dos Santos, a filarmônica é mantida por
duas fontes: um quadro de sócios, que depositam uma quantia mensalmente, mas
sem valor específico e por um convênio com a Prefeitura Municipal de Carnaúba dos
Dantas (PMCD) que envia uma parcela mensal de R$1.500,00. É importante
ressaltar que no presente ano de 2016, a PMCD ainda não renovou o convênio com
AMCOD, portanto não houve nenhum repasse financeiro. A associação também
obtém recursos em dinheiro e materiais, por meio da realização de projetos, como
também, provenientes dos cachês das tocatas nas festas, estas, em sua maioria
religiosas, além dos patrocínios, na maior parte, oriundos de comerciantes locais.
Tais aquisições são destinadas para a manutenção do prédio, fardamentos,
instrumentos, acessórios para os instrumentos e pagamento dos Músicos. Estes
recebem o cachê baseado nas tocatas que ocorrem durante o mês, em geral nas
festas religiosas, quando a filarmônica é contratada.
A turma de iniciação musical encontra-se no processo de aprendizagem no
biênio 2015/2016, conta com 30 alunos, sendo formada por crianças, jovens e
adultos, entre 08 e 35 anos, os quais são advindos da zona urbana e zona rural.
Em relação ao processo de ensino-aprendizagem dos estudantes, pode-se
dizer que a turma demonstra bastante interesse pela aprendizagem. O professor é
bastante rígido, mas mescla a disciplina do ensino com o humor e procura sempre
comemorar cada avanço na aprendizagem dos educandos. Ao mesmo tempo em
que os alunos estudam as suas lições trocam dicas e experiências uns com os
outros.
Enquanto alguns dos alunos, sobretudo os de menor idade, aprendem a
linguagem musical, suas mães os observam e proseiam do lado de fora da sede da
filarmônica.
O afeto que os alunos têm pelo professor é notório. Eles gostam das aulas,
bem como do docente em si. Todos o rodeiam e aguardam ansiosamente sua vez
de mostrar o quanto aprenderam. Há uma relação muito forte entre as crianças e o
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maestro, João Cabral de Melo Neto em seu poema Tecendo a Manhã diz que “um
galo sozinho não tece uma manhã, ele precisará sempre de outros galos”. Da
mesma maneira um maestro sozinho não forma uma banda, ele precisará formar
musicistas. Como também, os alunos sozinhos não conseguem aprender o
conhecimento musical. Assim, o professor e o aluno dividem o mesmo anseio: o
aluno deseja entrar na banda de música e o professor cria condições para que esse
desejo se concretize.
Comentando acerca da figura do professor, Gainza coloca que uma das
condições precípuas para o dedicar-se à arte de ensinar é “(...) sentir uma
verdadeira paixão pelo objeto de ensino (...) [com um] grande desejo ou
necessidade de multiplicar e difundir esse foco de interesse.” (apud HENTSCKE,
2003, p. 23). Sente-se esse mesmo desejo no professor da filarmônica, o senhor
Márcio Dantas de Medeiros, de 47 anos de idade, casado e pai de três filhos.
Márcio, como é mais conhecido pelos alunos, iniciou os seus estudos musicais em
1979, com o Mestre Pinta. Tendo assumido a regência do grupo em 2001. Além de
maestro e professor, é compositor, como discutiu-se no capítulo precedente.
No início do seu trabalho na filarmônica, o mesmo recebia remuneração, mas
no final de 2003, o então Prefeito Municipal extinguiu o cargo de maestro da banda,
“obrigando a associação a buscar meios e formas próprias de se manter e manter a
escola de música e a filarmônica. Desde então, passei a exercer a função de
professor de música e maestro, voluntariamente” (MEDEIROS, 2015). Até os dias
atuais, desenvolve esse trabalho voluntário, o qual acontece diariamente na sede da
Filarmônica Onze de Dezembro.
Para Alves (1994, p.3), “o ato de ensinar é um exercício de imortalidade, pois
o professor viverá de alguma forma [...] naqueles cujos olhos aprenderam a ver o
mundo”. O professor é aquele que ensina essa arte por amor, aos que anseiam
aprender a linguagem musical. Pois acredita que a música proporciona vivências,
experiências e conhecimentos significativos sobre sua história e a vida cultural de
seu povo, e para que isso não se perca, permanece firme, perpetuando a tradição
cultural do povo carnaubense.
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3.2 O passo a passo do ensino-aprendizagem de música
“O ensino da música favorece o desenvolvimento do gosto estético e
da expressão artística, além de promover o gosto e o senso musical. Formando o ser humano com uma cultura musical desde criança, estaremos educando adultos capazes de usufruir a música, de analisá-la e compreendê-la.’’ (ROSA, 1990, p.21)
O ensino é algo complexo, que exige uma intencionalidade. Segundo Moran
(2007), ele pode ser definido como uma forma de instrução, transmissão ou
treinamento englobando recursos didáticos para ajudar o aluno a adquirir
conhecimento e saber usá-lo. Mas não é apenas um mero ato de instruir ou de
transmitir conhecimento. Nas palavras de Paulo Freire (1996, p.21), Ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou
a sua construção.
A música é entendida como a mistura de som e silêncio, a qual transmite
cultura, história, emoção e sentimento. Para Faria (2001, p. 4), a música passa uma
mensagem e revela a forma de vida mais nobre, a qual, a humanidade almeja. Ela
demonstra emoção, não ocorrendo apenas no inconsciente, mas toma conta das
pessoas, envolvendo-as, trazendo lucidez à consciência. Segundo o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 45):
A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc.
Assim, a aprendizagem musical contribui de forma significativa com o
desenvolvimento humano em várias áreas como, por exemplo: o cognitivo,
psicomotor, o emocional e o afetivo, ao mesmo tempo em que também favorece a
construção de valores pessoais e sociais dos indivíduos.
O ensino da música visa proporcionar o ensino-aprendizagem da teoria e da
prática musical, a partir da leitura e execução da partitura com o instrumento. Assim,
a Filarmônica Onze de Dezembro vem desenvolvendo um excelente trabalho com o
ensino da música em Carnaúba dos Dantas, como forma de conservação da cultura
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musical. Deste modo, será discutido o processo de ensino-aprendizagem oferecido
pela mesma, tomando como fonte o caderno de campo da própria autora, em
decorrência da observação participante no período de 15 de fevereiro a 04 de março
do ano de 2016.
Não há critérios para as pessoas participarem da iniciação musical. Qualquer
pessoa pode ingressar, quer seja criança, jovem, adulto, idoso, rico, pobre,
analfabeto, alfabetizado. Como também não há custo algum, o ensino da música
que é desenvolvido na filarmônica é gratuito. Para ingressar, basta apenas que as
pessoas se sintam atraídas e procurarem informações com os músicos que já tocam
no conjunto ou, diretamente, com Márcio Dantas. As aulas se dão na própria sede.
Como há pouco espaço dentro do prédio, as aulas são ministradas ao ar livre, ao
som do vento, tocando nas folhas das árvores que rodeiam o edifício.
Ao ingressar na filarmônica, inicialmente, o educando recebe uma apostila,
que contém 35 lições com toda a teoria musical que será usada durante o processo
inicial de ensino e aprendizagem da música, que é a base para que o educando
estude e venha, posteriormente pegar um instrumento”, isto é, adquirir a habilidade
de exercitar as lições com este. Tal processo acontece da seguinte forma:
primeiramente, o professor faz um breve relato do que é música, que pode
acontecer individual ou coletivamente, dependendo do número de alunos que
ingressarem no mesmo dia. Em seguida, ele explica os elementos básicos que
compõem a música, como: melodia, notas musicais, harmonia, ritmo e pausa. Na
sequência ele explica a primeira lição, que ocorre na maioria das vezes
individualmente, onde o aluno terá que compreender a duração das notas e pausas.
Passada a primeira lição, os ingressantes dedicam-se a estudar. Uns conseguem
concluir a atividade no mesmo dia, outros que encontram mais dificuldades estudam
a apostila em casa e retornam no dia seguinte para “passar a lição”. Na imagem
abaixo o professor está introduzindo o conhecimento musical aos ingressantes:
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Fotografia 8 – Turma de iniciação musical na Filarmônica Onze de Dezembro (2016)
Foto: Talita Dantas (2016). A imagem mostra o professor Márcio Dantas e introduzindo os
conhecimentos musicais coletivamente, na sede da filarmônica.
A cada tarefa, um novo desafio. Os que conseguem passar da primeira
atividade partem para a segunda. O professor explica a nova lição, na qual os
alunos terão que estudar o nome e a posição das notas na clave de sol, um desafio
maior em relação ao primeiro. Enquanto uns estudam o professor vai prosseguindo
em seus ensinamentos. Como as lições são passadas individualmente, só depende
do interesse e disposição do educando em estudar.
O professor é o mediador e facilitador do conhecimento musical. Ele tenta
envolver os alunos a todo momento, sendo rígido e interativo ao mesmo tempo, já
que o conhecimento musical necessita que o aluno seja preciso e centrado no que
faz.
Mesmo que o ensino seja passado individualmente, alguns alunos estudam
coletivamente e sempre procuram ajudar uns aos outros. Não importa a idade, todos
são capazes, pois não há uma hierarquia produzida pela faixa etária ou nível de
conhecimento. A música possibilita essa interação, onde o que sabe mais não é
aquele que tem mais idade, mas sim aquele que busca compreender a essência da
linguagem musical. A fotografia abaixo mostra o momento que a criança ensina à
senhora que lhe pediu ajuda:
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Fotografia 9 – Compartilhando saberes
Foto: Talita Dantas (2016). A imagem mostra os alunos ensaiando a lição, momento em que a aluna
mais velha pede ajuda para o aluno mais novo. Ao fundo da imagem as mães proseiam enquanto aguardam os seus filhos.
O professor inicia a terceira lição explicando que eles terão que solfejar
(cantar) as notas dispostas na clave de sol e estas são semibreves (notas com
duração de quatro tempos). Nessa tarefa o educando já tem que compreender as
notas, sua posição na clave de sol, sua duração e ainda solfejar ao mesmo tempo.
Da mesma forma é a atividade posterior, a única diferença é a duração das notas e
seu formato. A quarta lição enfoca as mínimas (que duram dois tempos). Alguns
educandos conseguem passar mais de uma lição por dia, outros passam dias
tentando passar a mesma lição, dependendo do desenvolvimento e compreensão de
cada um. Quando se ouvem palmas é sinal que o aluno conseguiu cumprir a tarefa.
O professor faz isso como forma de estímulo e reconhecimento aos alunos que
persistem em aprender mais um pouquinho.
Na quinta lição, o professor explica que o educando terá mais um desafio,
pois nesta atividade, as notas estão todas misturadas e os alunos terão que
identificá-las. Esta é a única lição que ele permite que os alunos coloquem os nomes
abaixo das notas. Após terem feito a identificação, os alunos retornam para que o
professor explique o dedilhado da flauta doce, que é usada como recurso para
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musicalização. Ele ensina a lição e os alunos vão estudar para tocar na flauta. A
imagem abaixo mostra o momento em que o aluno passa a lição na flauta doce:
Fotografia 10 – Uma criança passando a lição na flauta doce.
Foto: Talita Dantas (2016). A imagem mostra o momento em que o professor ensina individualmente
as lições a cada criança.
Nas demais atividades o ensino se dá dessa mesma forma: o professor
ensina a tarefa, os alunos estudam, treinam na flauta e posteriormente passam a
lição estudada. A progressão dos alunos só depende deles mesmos, podendo estes
passarem uma, duas ou três lições no mesmo dia, ou até mesmo nenhuma. Isso vai
depender do estudo, interesse, compromisso e facilidade que cada tem em
aprender.
Após passar pelas 35 lições o aluno já está apto para escolher qual
instrumento deseja estudar. Em posse desse órgão que pertence a AMCOD, ele
estuda diariamente na sede da banda, orientado pelo professor, mas o estudo se dá
de forma mais individualizada, com músicas com um grau de dificuldade maior.
Depois de passar por um período de estudo, o educando entra na Filarmônica Onze
de Dezembro como músico, passando a participar das tocatas.
Por fim, a prática musical é extremamente rica, pois trabalha os diversos
sentidos, a percepção, interpretação, compreensão linguística, a leitura, interação
social e a disciplina. Para Nogueira (2003, sem pág.):
A prática musical faz com que o cérebro funcione “em rede”: o indivíduo, ao ler determinado sinal na partitura, necessita passar
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essa informação (visual) ao cérebro; este, por sua vez, transmitirá à mão o movimento necessário (tato); ao final disso, o ouvido acusará se o movimento feito foi o correto (audição). Além disso, os instrumentistas apresentam muito mais coordenação na mão não dominante do que pessoas comuns. [...] o efeito do treinamento musical no cérebro é semelhante ao da prática de um esporte nos músculos. [...] Ao mesmo tempo que a música possibilita essa diversidade de estímulos, ela, por seu caráter relaxante, pode estimular a absorção de informações, isto é, a aprendizagem.
O ensino da música não contribui apenas para a formação musical de seus
educandos, mas possibilita aos mesmos uma formação integral, e principalmente
corrobora a ideia de ser uma ferramenta de transformação social, a qual proporciona
o respeito, a amizade e a cooperação.
3.3 Ensino de música: relevância histórica, cultural e social
A Filarmônica Onze de Dezembro é um espaço de preservação da cultura
musical, por possibilitar a vivência dos sujeitos com a música, ensinados e regidos
pelo professor e maestro Márcio Dantas de Medeiros. Este ensino destaca-se por
proporcionar condições de aprendizagens a adultos, jovens e crianças através da
música, que é uma ferramenta riquíssima, a qual desenvolve o fazer musical,
artístico, emocional e cognitivo, bem como favorece a relação do homem com seu
meio social. Dessa forma, dentre todos os aspectos importantes que permeiam o
ensino de música na filarmônica, os que mais se destacam são, o histórico, o
cultural e o social.
A dimensão histórica enfatiza as relações de tempo decorrido, em que tem se
perpetuado o ensino da música por meio de partituras na cidade de Carnaúba dos
Dantas. A maneira como vem se desenvolvendo o ensino desta arte nessa última
formação ,desde o ano de 2001. Segundo Lima (2006, p. 65):
A história da formação do músico instrumentista do interior norte-rio-grandense está relacionada com a própria história das bandas de música. Elas têm se constituído um espaço de preservação de uma cultura de integração do homem ao seu espaço social, com base na sensibilidade potencial que se edifica a partir de uma experimentação coletiva.
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Assim sendo, esta se constitui num campo de experimentação do fazer
musical e das relações sociais, tão essenciais na vida dos sujeitos.
Para Morin (2002, p.52) o homem somente se realiza plenamente como ser
humano pela cultura e na cultura. A importância cultural envolve as diversas formas
de expressões e aptidões adquiridas pelos sujeitos históricos que
participaram/participam desse processo de ensino-aprendizagem da música. Bem
como, pelo processo de transmissão cultural do conhecimento musical, que é uma
cultura própria do povo carnaubense. Estes moradores por sua vez, quando
dominam essa arte, transmitem a cultura local em suas apresentações para a
comunidade.
A filarmônica também desenvolve um importante papel social que se
caracteriza por envolver todas as camadas da sociedade em um trabalho dedicado a
formar músicos, tal trabalho se dá de forma gratuita. Na opinião de Maheirie (2003,
p. 148), a música, em si, carrega um significado social isto porque se relaciona com
o contexto social em que está inserida, possibilitando aos sujeitos a construção de
múltiplos sentidos singulares e coletivos. Levando os educandos a compreenderem
realidades e vivências diferentes a partir da música.
Cabe ressaltar que, a escola de música da AMCOD, visa à perpetuação da
cultura musical, de forma a acrescentar uma formação artística à vida dos alunos. É
essa a razão pela qual, os responsáveis realizam esse trabalho difícil, com força,
perseverança e inteligência para continuar seguindo em frente, sem fugir dos
princípios e objetivos, que é transmitir o conhecimento musical a todos, os quais
anseiam aprender.
A importância da filarmônica enquanto patrimônio cultural do município de
Carnaúba dos Dantas. Dá-se pelo relevante trabalho desenvolvido ao longo desses
anos, dedicados a promover, principalmente, o ensino da música, levando os
educandos a compreenderem a prática de leitura de partituras e compreensão da
música.
É orgulho para a cidade de Carnaúba dos Dantas, ter uma filarmônica que
desenvolve trabalhos sociais e projetos de incentivo à cultura, a qual concentra suas
atividades privilegiando a educação e a formação cultural de seus educandos. Pois
além de levar música de qualidade aos habitantes da cidade, também assume a
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responsabilidade e o papel social de resgatar crianças que necessitam de incentivo
e apoio, dando subsídio em sua formação cidadã.
Buscando enfatizar e dar mais consistência a esta pesquisa, foram feitas onze
entrevistas com os alunos que estão no processo de aprendizagem da música, bem
como, com aqueles que já passaram por esse processo, a fim de compreender o
seu ponto de vista, sobre, entre outros aspectos, a relevância do ensino da música
oferecido pela Filarmônica Onze de Dezembro.
Os sujeitos da pesquisa (aqui designados por pessoa (P) e o número ordinal
indicativo) foram das mais variadas idades. Além de especificarem o ano em que
fizeram/fazem a iniciação musical, também relataram suas idades atuais:
Tabela 1: Idades Atuais e Anos em que os Sujeitos da Pesquisa participaram do ensino da Música:
Fonte: entrevista semiestruturada destinadas às pessoas que passaram pelo processo de ensino-
aprendizagem na Filarmônica Onze de Dezembro.
A idade dos sujeitos entrevistados é, atualmente, entre 9 e 35 anos e o
período em que participaram do processo de ensino aprendizagem da música foi de
2003 a 2015. No que concerne aos motivos que os levaram ao desejo de estudar,
os relatos são os mais diversos:
O despertar é algo essencial, pois cada pessoa apresenta em seu interesse
uma característica, às vezes particular, outras vezes parecida com o de outras
pessoas. Através dos dados oriundos da entrevista (conforme o apêndice B), é
perceptível que o que despertou o desejo dos sujeitos da pesquisa a querer
aprender a linguagem musical não se distingue muito, em sua essência: eles
sentiram-se atraídos pela sonoridade ao ver e ouvir a filarmônica passar, a vontade
Sujeitos da pesquisa idade Ano em que iniciou como aluno do ensino de música
P1 21 2007 P2 21 2014 P3 12 2014 P4 9 2015 P5 12 2015 P6 35 2013 P7 19 2003 P8 35 2016 P9 21 2011
P10 18 2012 P11 15 2011
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de se tornar parte da banda de música brotou, como descreve a P7 “foi ver a banda
passar assim na rua e sei lá, identidade com a sonoridade que a filarmônica tinha,
parece que era um negócio, sei lá, de herança”. As famílias também se mostram nas
falas dos sujeitos como grande incentivadora, como relata a P2 “eu comecei a
estudar música mais de uma forma familiar, foi um pedido de uma mãe, que Deus já
levou, assim, era um prazer dela em ver eu músico”, assim como também tiveram
um papel fundamental em perpetuar a tradição musical,as tradições familiares. A
influência de amigos foi determinante para alguns sujeitos, da mesma forma que a
beleza e o gosto em aprender a linguagem musical os atraíram. Foram o desejo e a
perseverança o que os motivaram do início ao fim do processo de aprendizagem
musical. No que se refere à maneira de como se dava/dá o processo de iniciação
musical os sujeitos da pesquisa relatam que:
O processo de ensino-aprendizagem da música de acordo com a fala dos
sujeitos (ilustrado no apêndice C) mostrou-se vinculado a uma prática tradicional de
ensino. E essa prática tradicional tem surtido efeitos positivos, segundo Pimenta
(1991, p. 90) o ensino voltado para uma prática tradicional, corresponde:
Numa aprendizagem onde o professor dá a matéria e uma lição para
o aluno fazer, na qual na próxima aula faz uma recapitulação da aula
anterior corrigindo os exercícios, se todos fizerem, passa a frente, se
ficou duvidas é preciso que se prolongue mais esta matéria, depois
de solucionar todos os problemas, aí podemos prosseguir com a
matéria.
De acordo com os relatos, na filarmônica acontece, dessa maneira conforme,
descreve o autor, o professor segue o mesmo método de ensino. Assim, o ensino
preocupa-se mais com o processo de transmissão, assimilação e reprodução das
lições estudadas. Como exemplifica Galvão (1998, p.36):
[O ensino da música começa] com o ensino da teoria musical seguida do solfejo – o exercício de cantar a música escrita. Depois, aqueles alunos que mais se destacavam e apresentavam maior tendência para a música recebiam cada um o seu instrumento, guiados pelas suas preferências e pela indicação do mestre. Nem todos chegavam ao ponto máximo, que era tocar na banda. Todos, entretanto, recebiam e fixavam em seus espíritos jovens os benefícios educativos daquela atividade, crescendo em disciplina, socialização, sensibilidade, optassem ou não por se profissionalizarem em música.
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A partir dos comentários feitos pelos entrevistados, houve apenas uma
pequena mudança em relação ao instrumento de ensino utilizado. Antes as lições
eram transcritas no quadro negro, e hoje as lições são realizadas através de uma
apostila elaborada com toda a teoria musical. Sobre a importância da música para a
vida e para a aprendizagem, eles citaram o seguinte:
A música é importante em diversos aspectos, e é notório ver isso a partir dos
relatos (conforme o apêndice D). Cada pessoa tem uma relação intrínseca, estrita e
particular com a música e ela melhorou a vida dessas pessoas significativamente.
Fica evidente através das suas falas, aspectos que determinaram a importância da
música para cada um. Segundo os relatos, a música facilitou a relação social de
alguns dos sujeitos da entrevista, fazendo-os conhecer e se relacionar com pessoas
novas, bem como, melhorou as relações no próprio seio familiar, como narra a P3
“Melhorou minha vida, agora meu padrasto me ver de outro jeito, como se eu fosse
músico também como ele, ele tá aprendendo a tocar violão e de vez em quando eu
ensino a ele as notas”, além de os ter aproximado, permitiu vivências e trocas de
experiências musicais. A aprendizagem musical também facilitou a aprendizagem
escolar, como discorre Chiarelli e Barreto (2011, p.1):
A musicalização pode contribuir com a aprendizagem, evoluindo o desenvolvimento social, afetivo, cognitivo, linguístico e psicomotor da criança. A música não só fornece uma experiência estética, mas também facilita o processo de aprendizagem, como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo, até mesmo porque a música é um bem cultural e faz com que o aluno se torne mais critico.
São diversos os fatores que corroboram para uma aprendizagem significativa
através da música. Nesse contexto, a música possibilitou a compreensão do código
linguístico, como narra a P5 “melhorei muito, eu tinha um pouquinho de dificuldade
de leitura, também melhorou muito minha leitura”, portanto, a música se mostra
nesse relato como facilitadora da aprendizagem, pois possibilitou ao sujeito a
aprendizagem da leitura. A esse respeito Katsch e Merle-Fishman apud Bréscia
(2003, p.60) afirmam que:
[...] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e
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outras habilidades linguísticas nas crianças a alegria, a se sentir e ser valorizado e respeitado, assimilação dos conhecimentos e conteúdos.
O impacto positivo da linguagem musical permite também que os sujeitos da
pesquisa sintam-se mais alegres, como descreve a P6 “[...] a música tem muito
haver com a alegria, então quando eu estou lá na banda é como se todos os
problemas que existem no mundo, na vida e no trabalho, ali se acabassem ouvindo
música.” Possibilita aos sujeitos momentos de descontração e prazer, fazendo-os
fugir muitas vezes de uma dura realidade, porque lá eles não são: trabalhadores,
pais, desempregados, doentes e entre outros. Na filarmônica, eles são apenas
músicos e tocam porque foram primeiramente tocados pela música. São valorizados
e respeitos, os relatos denotam o prazer que os entrevistados têm em ser
reconhecido enquanto músico. Para a P9 a música é muito importante, pois ele irá
“[...] mais adiante, eu vou repassando para os músicos mais novatos que vão
entrando, isso muito fundamental pra todo mundo. Serve muito ambas as partes.” O
importante para esse entrevistado é continuar perpetuando a linguagem musical, e
isso é essencial, pois posteriormente será necessário que outras pessoas se
levantem, como tantos outros professores de música se mobilizaram para continuar
ensinando o conhecimento musical.
No que se refere aos pontos positivos de aprender a linguagem musical por
meio de partituras, os sujeitos desta pesquisa relataram que: (conforme apêndice E)
consideram a música como uma linguagem universal. Segundo Bréscia (2003, p.25)
o princípio fundamental e a essência da própria música é que ela é, sobretudo, uma
linguagem universal. É universal, exatamente, porque participa efetivamente da
histórica trajetória da humanidade desde as primeiras civilizações. Ela também
possibilitou aos sujeitos a sensação de prazer, melhorou a autoestima, os fez
conquistar novos amigos, trouxe satisfação e alegria. Dessa forma, a música pode
ser vista “como elemento enriquecedor para o desenvolvimento humano, que
proporciona bem-estar e colabora para a ampliação de outras áreas necessárias
para a formação plena do indivíduo” (LOUREIRO 2003).
Ao questionamento acerca da relação professor-aluno e aluno-aluno, eles
responderam que: (como demonstra o apêndice F), a relação dos alunos com o
professor é familiar. Para Pintos (1997, p.40) família é uma estrutura de
permanência perpétua, de pertença significativa, palco natural da vida da pessoa.
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A família vem sofrendo modificação de acordo com princípios ou pela sua
própria formação familiar, pela carência de um pai ou de alguém que assuma esta
postura, alguns dos entrevistados acabaram preenchendo essa lacuna com o
professor. A P1 relata que:
“É mais ou menos assim, nós somos uma família, aí nós temos nosso maestro como nosso pai de alguma forma, sempre foi assim é, sempre amigos, sempre nos aconselhou em alguns momentos, sempre nos apoia, foi quem nos ensinou e os alunos são sempre amigos, acho que somos irmãos.”
Dessa forma, o maestro foi aquele que substituiu a presença do pai,
emprestando seu ouvido para escutá-los, advertindo-os, quando necessário,
chamando a atenção quando foi preciso, dando conselhos, bem como, vibrando com
alegria por cada conquista deles. Por isso, alguns dos entrevistados o consideram
como pai, outros, como amigo. A relação enquanto aluno-aluno, segundo os relatos,
também se dá de forma familiar e amigável. Assim, de acordo com Brito (2003, p.
28) a música, em sua diversidade e riqueza, permite-nos conhecer melhor a nós
mesmos e ao outro – próximo ou distante.
Quando questionados a respeito do significado da música para cada um dos
sujeitos da pesquisa, eles relataram que: (como ilustra o apêndice G), o significado é
abrangente, assim, pode-se compreender a relação de modo positivo. Uns
consideram a música uma arte maravilhosa, aquela capaz de tirar meninos de
lugares ociosos e das drogas, se for utilizada como meio de prevenção para que os
jovens, adultos e crianças não adentrem tal mundo . A música os faz felizes, pois
oferece um novo significado às relações familiares, possibilitando o diálogo e a troca
de experiências. Promove o respeito, reconhecimento, eleva a autoestima, além de
tornar-se um estímulo para continuar aprendendo. A P9 a considera como “[...] uma
harmonia espiritual, não só material, mas sim, harmonia espiritual, que mexe muito
com a profundidade da pessoa”. A qual tem a capacidade de tocar o mais profundo
da alma das pessoas, emocionando-as, tornando-se a metade de um coração.
Outros encontraram na música a forma para expressar o seu mundo e seus
sentimentos, como descreve a P7 “a música é uma linguagem, assim, de tentativa
de tradução do mundo [..] da forma que você sente o mundo e vê, é uma projeção
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desse sentimento.” Nela sentimentos são traduzidos através dos sons entoados que
emanam do seu interior.
* * *
Neste capítulo, foi enfocado o trabalho desenvolvido na Filarmônica Onze de
Dezembro, destacando o processo de ensino-aprendizagem da música por meio de
partituras, como também foi mencionada a relevância do trabalho desenvolvido pela
mesma, com base nas entrevistas coletadas por pessoas que passaram e estão
passando pelo ensino da música.
No próximo capítulo, pretende-se disponibilizar elementos para a
compreensão do valor que a música tem na “Terra da Música”. Para isso, foi feito um
questionário estruturado com perguntas e respostas e compartilhado na rede social
Facebook, a fim de compreender os motivos que levam à desvalorização da música
na cidade de Carnaúba dos Dantas/RN.
54
4 COMPREENDER O VALOR QUE TEM A MÚSICA NA “TERRA DA MÚSICA”
A música carnaubense tornou-se elemento de identidade para o seu povo,
ainda por volta de fins do século XIX, sendo denominada “Terra da Música”. Foi
reconhecida assim, por ser uma cidade com grande número de musicistas
talentosos que fizeram história, não apenas na localidade, mas em outras cidades e
em algumas regiões brasileiras. Para Dantas (2014, p. 6):
Várias foram às contribuições deixadas pelos artistas de Carnaúba dos Dantas ao cenário musical, eternizando assim seus autores, fazendo com que a identidade musical de um povo fosse sendo construída ao mesmo tempo em que imortalizada, pois a cada vez que uma valsa ou qualquer que seja a música for executa, mais uma vez a história será contada através das suas notas, reafirmando assim a singularidade do “povo musical”.
A música é uma paixão antiga, algo que faz parte da vida dos carnaubenses
desde tempos remotos, uma prática cultural ativa, uma característica bem particular
deste povo. Foi a forma pela qual, as pessoas descobriram e escolheram para
transmitir sons, sonhos, vida, cultura e tradições. Há uma magia na música, uma
comunhão espiritual que vai muito além do ato de tocar, é a própria essência do
fazer musical, uma sintonia espiritual que emana serenidade, paixão e amor da
própria música.
Para o povo carnaubense a música é um incremento fundamental e
indispensável à vida. Perpassou a várias gerações até chegar os dias atuais. Uma
difícil jornada mantida ainda por aqueles que realmente valorizam a história da
música e o fazer musical. No entanto, essa cultura parece perder seu valor em sua
própria terra.
Apesar de não ter se perdido a prática da música e algumas pessoas desta
localidade sentirem gosto e prazer por esta arte, a mesma vem passando por um
período de desvalorização. E esta pesquisa busca compreender que motivos
levaram a essa situação.
Neste capítulo, serão analisados os dados coletados, enquanto etapa do
processo de verificação da pesquisa científica. É relevante, pois se configura em
uma tentativa de identificar, através das respostas dos sujeitos, aspectos que
possibilitaram a obtenção das informações aos questionamentos abordados nesta
55
pesquisa, a fim de esclarecer os motivos que levam a música a ser desvalorizada na
própria “Terra da Música”.
Para tanto, foi criado um questionário com 12 perguntas estruturadas, o qual
serviu de base para respaldar o diálogo e direcionar algumas respostas. Esse
instrumento foi construído no Google Docs e compartilhado no perfil da
pesquisadora na rede social Facebook, pois este é considerado um meio de
comunicação que muitas pessoas usam, tendo sido utilizado com o objetivo de
chegar a um maior número de usuários.
Responderam ao questionário 71 pessoas, das quais não há identificação,
sendo esta uma característica do tipo de formulário que foi disponibilizado no
Facebook, garantindo, assim o anonimato dos sujeitos. O primeiro questionamento
feito indagava se as pessoas ainda consideram Carnaúba dos Dantas a “Terra da
Música” ou se esse é um título que não configura mais à comunidade local. A esse
respeito os sujeitos responderam da seguinte forma:
Gráfico 1 – Carnaúba dos Dantas ainda é a “Terra da Música”?
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
Apesar do tempo em que a cidade recebeu este título, os dados comprovam
que as pessoas ainda consideram Carnaúba dos Dantas a “Terra da Música”. A
maioria dos sujeitos da pesquisa responderam “sim”, o que é significativo, isto é,
cerca de 84%, equivalente a 60 pessoas. Enquanto apenas 15,5% responderam
“não”, que equivalem a 11 pessoas. Estas não consideram que o título de “Terra da
Música” seja, atualmente, válido.
Com o objetivo de saber os motivos que levaram os sujeitos a responderem
“sim” ou “não” no questionamento acima, pedimos para os mesmos justificarem suas
84%
16%
Sim
Não
56
respostas. Através dos relatos oriundos das respostas dos sujeitos ao questionário
(Apêndice H), avaliamos que as pessoas consideram o título de “Terra da Música”,
devido a essa denominação ter surgido em função de talentosos músicos,
compositores e maestros que afloram/afloraram nas terras carnaubenses. Foram
enaltecidos, nas respostas, os nomes de Felinto Lúcio, Tonheca Dantas e Márcio
Dantas. Segundo os sujeitos, esses musicistas surgiram. pois os habitantes dessa
terra têm um dom natural em dominar a arte musical, como uma coisa inata, que flui
do interior dessa gente. Outro aspecto importante é a questão cultural, o
entendimento da música enquanto cultura de seu povo. A P48 descreve que:
É uma terra rica em cultura. A música faz parte da cultura carnaubense e é através dela que muitos jovens se sentem motivados a transmitir essa cultura através da música. Com isso, jovens indo ao caminho da música é ir no caminho da cultura, fazendo com que os jovens deixem de trilhar o mal caminho, seja o da droga, o da maldade, etc.
Dessa maneira, a cultura musical passa a ser vista como meio de transformar
realidades e de dar um novo sentido à vida dos sujeitos que dela usufruem.
Contaram, ainda, os sujeitos, que só há esse reconhecimento devido à manutenção
da tradição musical, que acontece pela perpetuação do ensino dos conhecimentos
musicais, pois se não houvesse o ensino da música, provavelmente, essa cultura
musical estaria findada. A qualidade das composições e dos músicos foi diversas
vezes falada, tendo em vista que os músicos carnaubenses sempre se destacaram
na cidade, como também por onde passaram/passam, pela qualidade sonora e
desenvoltura que imprimiam/imprimem em suas tocatas. Para eles, a música
também é responsável pela evolução histórica e cultural da cidade, uma vez que
sempre foi atrativo fundamental nas festas culturais e religiosas desde tempos
remotos, como discorre a P54: “Sabe-se que desde muito tempo as melodias
permeiam a história do povo carnaubense, que mesmo na sua simplicidade tem
enveredado nesse mundo encantador que é o da música.” Para estes, a música é a
harmonia que envolve a vida e a história do povo carnaubense.
A maioria dos entrevistados que não consideram Carnaúba dos Dantas a
“Terra da Música” relataram que isso decorre devido à falta de investimentos do
Poder Público para manter essa tradição. Isso faz com que seus músicos sofram e
vivam sem reconhecimento. Outros acreditam que isso ocorre pela ausência de
57
incentivo das próprias pessoas da comunidade. Para os mesmos, só há um
resquício dessa tradição porque o professor e maestro Márcio Dantas luta para
manutenção dessa prática cultural com suas próprias forças. Sem ele os sujeitos
acreditam que a música haveria desaparecido de Carnaúba dos Dantas.
Perante as justificativas dos sujeitos da pesquisa que não consideram
Carnaúba dos Dantas a “Terra da Música”, resolveu-se questioná-los mais uma vez.
Foi perguntado se eles acham que a música nesta localidade vem passando por um
período de desvalorização. Os mesmos chegaram à conclusão, a qual encontra-se
esboçada no gráfico a seguir:
Gráfico 2 – A música em Carnaúba dos Dantas vem passando por um período de desvalorização?
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
É inegável que a linguagem musical, bem como sua história, vem enfrentando
duras batalhas para permanecer viva na memória e na vida do povo carnaubense.
No entanto isso não foi avaliado, apenas a partir dos dados coletados, foi constatada
atual realidade que a cidade vivencia. Diante do alto percentual de pessoas que
consideram que a música vem passando por um período de desvalorização, o qual
equivale a 67 pessoas que responderam “sim” e a 4 que disseram “não”. Perguntou-
se, oportunamente, quais os motivos que levam a essa situação. O resultado das
respostas foi convertido no gráfico seguinte:
94%
6%
Sim Não
58
Gráfico 3 – Motivos que levam à desvalorização da música em Carnaúba dos Dantas
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
O principal fator que faz com que a música seja desvalorizada na
comunidade, segundo um considerável número de sujeitos, totalizando 59,2%, o
equivalente a 42 pessoas, é a falta de investimento público. Esse fator é uma
questão a ser discutida e denota uma preocupação da população quanto à falta de
políticas públicas voltadas a investimentos para a música, que é um meio atraente
de tirar jovens ociosos das ruas, uma vez que, em Carnaúba dos Dantas as
crianças, jovens e adultos têm interesse e habilidade para a música.
O poder público até discute sobre essa situação, mas não faz nada para
modificá-la. Ao invés dos governantes aperfeiçoarem o trabalho que já vem sendo
desenvolvido há anos, pensam em criar novos programas. Seguido de 13%, está o
fator dos que consideram que as pessoas não têm conhecimento sobre a
importância da história do povo carnaubense, consequentemente, acabam não
valorizando a história da música, “pois não temos como valorizar aquilo que não
conhecemos”.
11% das pessoas consideram que a perda dos valores culturais influencia na
desvalorização da história da música, já que as pessoas passam a não enxergar
mais a música como uma identidade própria de seu povo. 10% relatam que as
pessoas não têm interesse de conhecer a história da música, por isso, não a
valorizam. Esses 7%, que equivalem a 5 pessoas, que responderam outros,
11%
13% 10%
59%
7%
Perca de valores culturais
Falta de conhecimento sobre a importância da música na história do povocarnaubenseFalta de interesse das pessoas em conhecer
Falta de investimento público
Outros
59
provavelmente, são as mesmas que, no questionamento acima, declararam que a
cidade não passava por um período de desvalorização.
Assim, com a finalidade de saber o quanto as pessoas sabem sobre a história
da música, foi solicitado que elas enumerassem de 0 a 5 tal conhecimento:
Gráfico 4 – Grau de conhecimento sobre a história da música em Carnaúba dos Dantas?
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
Percebe-se, através desse gráfico, que a maioria das pessoas tem um
conhecimento de regular a satisfatório acerca da história da música local. Só uma
pessoa não conhece nada da história da música, o que é contraditório, já que essa
pessoa respondeu às perguntas anteriores, as quais não seriam respondidas com
lógica se esta pessoa não tivesse nenhum conhecimento sobre o tema.
Para melhor compreensão a respeito do assunto, os sujeitos da pesquisa foram
indagados sobre em que lugar eles souberam que Carnaúba dos Dantas é a “Terra
da música” e os mesmos disseram que:
1%
16%
32% 31%
20%
Nada
Pouco
Mais ou menos
O suficiente
Tudo
60
Gráfico 5 – Lugares onde se afirmou que Carnaúba dos Dantas possui o título de Terra da Música
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
De acordo com o gráfico, infere-se que as famílias ainda primam por contar a
história local às novas gerações e isso é bastante positivo, porque percebe-se que
ainda existe a tradição de perpetuar as histórias através da oralidade, em que os
pais e familiares contam histórias de seus antepassados aos seus filhos, irmãos,
netos e familiares. Observa-se também, a partir do gráfico, que a escola tem um
papel fundamental em propagar esse conhecimento e aparece com um percentual
relevante, como também, a filarmônica, que é um espaço reservado e que objetiva
realmente isto: transmitir a história e o conhecimento musical aos seus alunos. Outro
fator importante é a participação dos amigos no processo de aprendizagem da
história local, mostrando que há um diálogo consistente e rico entre os mesmos. E
por fim, é importante frisar que todos os sujeitos da pesquisa sabiam que Carnaúba
dos Dantas é a “Terra da música”, assim, conclui-se através das respostas, que
todos conhecem pelo menos um pouco da história da música carnaubense.
Diante do relevante percentual acerca de onde as pessoas aprenderam sobre
a história da música carnaubense, interrogou-se o seguinte: se as pessoas achariam
importante as escolas discutirem a história da música local. O resultado das
respostas está inscrito no gráfico abaixo:
39%
27%
11%
23%
0%
Família
Escola
Amigos
Filarmônica Onze deDezembro
Não Sabia
61
Gráfico 6 – É importante as escolas discutirem a história da música local?
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
O “sim” foi quase unânime. Apenas uma pessoa não considera relevante
trabalhar a história da música local nas escolas do município. As demais qualificam
que é importante abordar esse assunto nas escolas. Legitimou-se essa afirmativa
através da Lei Federal nº 11.769, aprovada em 18 de agosto de 2008, que alterou a
LDB 9394/96 quanto ao ensino da arte. A lei enuncia o seguinte, tornando a música
um conteúdo obrigatório na Educação Básica:
Art. 1º O art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido do seguinte § 6º: "Art. 26...................................................................................... § 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2º deste artigo." (NR) Art. 2º (VETADO) Art. 3º Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às exigências estabelecidas nos arts. 1º e 2º desta Lei.6
Apesar da obrigatoriedade, o objetivo não é a formação musical, mas, sim,
proporcionar aos educandos uma educação integral, visando o seu pleno
desenvolvimento, trabalhando a sensibilidade, interpretação, percepção, interação,
disciplina, assim como a história cultural de seu povo.
Ainda neste mesmo artigo 26, a LDB diz no § 2o O ensino da arte,
especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular
obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos. E este vem corroborar com o desejo dos
99%
1%
Sim Não
62
sujeitos que responderam ao questionário, uma vez que esse ensino deve se dar
levando em considerações especialmente os seus aspectos regionais.
Tendo em vista o grande número de pessoas que consideram relevante
trabalhar a história da música na escola e a Lei Federal 11.769/2008, que traz a
obrigatoriedade do ensino de música na escola, perguntou-se aos sujeitos da
pesquisa se seria interessante, também implementar nas escolas o ensino da
música. Eles citaram que:
Gráfico 7 – É importante implementar, nas escolas, o ensino de música?
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
Como mostra o gráfico, 97,2%, que é equivalente a 69 pessoas, demonstram
interesse na implementação do ensino da música nas escolas de Carnaúba dos
Dantas. Essa indagação fundamenta-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais de
Educação Básica, o qual defende que a música é essencial para o desenvolvimento
pleno do indivíduo, pois visa a uma educação musical que parta do conhecimento e
das experiências que o jovem traz de seu cotidiano, de seu meio sociocultural e que
saiba contribuir para a humanização de seus alunos (1998, p.79). Assim sendo, não
resta dúvida que a música é essencial no processo de ensino-aprendizagem dos
educandos.
Carnaúba dos Dantas é um celeiro de instrumentistas primorosos. Devido a
essa fama sobre os musicistas talentosos que floresceram/florescem em terras
carnaubenses, solicitou-se dos sujeitos entrevistados que respondessem sobre
quais musicistas conheceram ou já ouviram falar e foi sugerido que estes
97%
3% Sim Não
63
destacassem três músicos. O resultado das respostas pode ser observado no
gráfico abaixo:
Gráfico 8 – Musicistas de Carnaúba dos Dantas mais citados nas respostas do formulário
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
Essa pergunta surgiu como forma de saber se as pessoas realmente
conheciam ou conhecem os musicistas carnaubenses. Não foi nenhuma surpresa
84,5%, isto é, 60 pessoas, terem destacado o nome de Felinto Lúcio Dantas, já que
este homem foi um músico reconhecido pelo mundo afora e deixou uma vasta obra
musical. Na sequência veio o nome de Márcio Dantas, com 81,7% (58 pessoas).
Esta foi uma grata surpresa, já que superou um musicista muito conhecido que foi
Tonheca Dantas. Mas, foi mais que merecido, pois o mesmo desenvolve um
primoroso trabalho como maestro, professor de música e compositor. Seguido de
Tonheca Dantas, com 73,2%, respostas que equivalem a 52 pessoas, este nome
(Tonheca) sempre se destacou por sua destreza e habilidade, tanto em tocar
diversos instrumentos, como em suas belas composições. A sequência dos nomes
aparece, como mostra o gráfico acima.
Partindo dessas informações, sugeriu-se que eles destacassem os nomes
dos maestros que tiveram um papel fundamental no processo de transmissão do
conhecimento musical na cidade de Carnaúba dos Dantas.
84,5
81,7
73,2
64,8
47,9
23,9
23,9 21,1
Felinto Lúcio Dantas
Márcio Dantas de Medeiros
Tonheca Dantas
Francisco Rafael Dantas (França)
Carlos Guedes Câmara
Pedro Aeboés Dantas
José Venâncio Dantas
José Alberto Dantas
64
Gráfico 9 - Maestros que se destacaram no processo de transmissão do conhecimento musical na cidade de Carnaúba dos Dantas
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
As respostas relatam uma realidade bem presente, já que 62%, que
equivalem a 44 pessoas, enalteceram o nome do maestro Márcio Dantas, que é o
atual regente da Filarmônica Onze de Dezembro, a qual dirige com maestria e
desenvoltura. Seguido de Felinto Lúcio Dantas, com 52,1% (37 pessoas). Felinto
Lúcio foi um grande maestro, mas, não executou tal atividade na banda de música
de Carnaúba dos Dantas. Na sequência, foi a vez de Francisco Rafael Dantas,
conhecido como mestre França, o qual dedicou seu tempo a formar músicos, dentre
os quais muitos ainda fazem parte da banda de música. Dois nomes alcançaram a
mesma porcentagem, 32,4%, que foram Tonheca Dantas e Francisco das Chagas
Silva ou Pinta como era mais conhecido. O primeiro foi um importante maestro, mas,
não nas bandas formadas em Carnaúba dos Dantas. O segundo, apesar de não ser
carnaubense, foi maestro na Terra da Música por anos, inclusive, foi quem ensinou a
arte ao maestro Márcio Dantas. Na sequência, outros dois maestros obtiveram a
mesma porcentagem: 9,9%, que equivalem a 7 pessoas. Essas pessoas que
marcaram esses dois maestros, apesar de poucas, devem conhecer a história da
música carnaubense a fundo, pois José Venâncio Dantas foi o primeiro professor e
Felinto Lúcio Dantas
52,1
Márcio Dantas de Medeiros
62
Tonheca Dantas
32,4
Francisco Rafael Dantas (
França) 36,6
Carlos Guedes Câmara
7
Pedro Aeboés Dantas 9,9
José Venâncio Dantas 9,9
José Alberto Dantas 4,2
Francisco das Chagas Silva (Pinta); 32,4
65
maestro de quem se tem notícia no Vale do rio Carnaúba, o qual ensinava aos seus
familiares, amigos e pessoas mais próximas.
Isso ocorreu por volta dos anos de 1880, conforme está inserido no Capítulo I,
deste trabalho. Pedro Arbóes Dantas, o outro nome aludido nas respostas de 9,9%
dos sujeitos da pesquisa, foi aluno de José Venâncio e maestro, tendo criado sua
própria banda. 7% das pessoas consideraram o relevante trabalho de Carlos
Guedes Câmara neto de Felinto Lúcio. Com apenas 4%, mas não menos
importante, foi apontado o nome de José Alberto Dantas. Este também foi um dos
alunos de José Venâncio Dantas que se tornou maestro, tendo regido a Banda de
Música do Xiquexique. Foi claro perceber, com esse questionamento, que as
pessoas conhecem os músicos, mas, muitos desconhecem aqueles que realmente
transmitiram o conhecimento musical na cidade de Carnaúba dos Dantas.
O ensino da música ainda não foi implementado nas escolas, mas sabe-se
que ele é oferecido aos carnaubenses por meio da Associação Musical Cultural
Onze de Dezembro. Então, indagou-se aos sujeitos da pesquisa o que eles acham
do trabalho desenvolvido pela AMCOD a resposta deles está no seguinte gráfico:
Gráfico 10 – Sobre o trabalho desenvolvido pela AMCOD em Carnaúba dos Dantas
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
Grande parte das pessoas que responderam ao questionário avalia que a
AMCOD desenvolve seu trabalho com excelência. Dessa maneira, constata-se que
não é preciso ter muitos recursos ou inúmeros profissionais para fazer o trabalho
com qualidade, pelo contrário, se tiver tudo isso e não tiver comprometimento,
1,4 4,2 4,2
15,5
74,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tabela
Péssimo Ruim Mais ou menos Bom Excelente
66
responsabilidade, força de vontade e amor, vai ser apenas mais um trabalho. A
associação desenvolve um trabalho excelente com condições mínimas em recursos,
mas não lhe falta compromisso, responsabilidade e amor. Cerca de 64 pessoas
consideram o trabalho excelente e bom, enquanto, apenas 7 pessoas disseram que
é mais ou menos, ruim e péssimo.
A partir disso, perguntou-se por que, apesar da Associação Musical Cultural
Onze de Dezembro desenvolver um trabalho com excelência, os músicos desistem
de fazer parte da filarmônica.
Gráfico 11- Razões de desistência da Filarmônica Onze de Dezembro
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
Para 61% dos sujeitos da pesquisa os músicos deixam de tocar devido à falta
de remuneração fixa. Essa é uma dura realidade que eles enfrentam. Acabam tendo
que procurar outras profissões, porque na cidade, como em tantas outras do interior,
não dá para se viver somente de música. Para 27% das pessoas isso decorre da
falta de motivação. Os motivos para isso são mais subjetivos e dependem de cada
pessoa. 6% das pessoas disseram que isso acontece devido a outros fatores, os
quais não estão dentro dessas opções demonstradas. Outros 5% acreditam que isso
acontece porque os músicos vão morar em outras cidades devido a questões de
trabalho, universidade e, sobretudo, saúde. Apenas 1,4%, que equivale a 1 pessoa,
considera que isso se dá pela perda do amor pela música. A pessoa teria perdido o
interesse e, portanto desistiu de tocar na banda de música.
Falta de motivação
27%
Perda de amor pela
música 1%
Mudança para outras
cidades 5%
Falta de remuneração
fixa 61%
Nenhuma destas opções
anteriores 6%
67
A última das questões diz respeito ao ensino de música. Indagou-se sobre
que melhorias tal ensino traz, por meio do desenvolvimento da compreensão e
habilidade musical. As respostas a essa pergunta estão consolidadas abaixo:
Gráfico 12 – Melhorias trazidas pelo Ensino de Música
Fonte: Formulário construído no Google Docs. Análise dos dados: Talita Dantas
A interação social, na opinião dos sujeitos, mostra-se o principal aspecto, com
35% a ser favorecido, a partir do momento que os alunos aprendem a linguagem
musical. Segundo Granja (2010, p. 93), a música pode favorecer o convívio social,
as trocas de experiência, o conhecimento e o reconhecimento do outro, pois estes
se tornam parte de um conjunto. Os músicos em formação compartilham saberes,
lidam com realidades diferentes e aprendem que, para chegar a uma sonoridade
perfeita, precisam ensaiar e trabalhar juntos. A disciplina e a percepção alcançaram
o mesmo percentual de 28%, que equivalem a 20 pessoas. A disciplina é algo
fundamental para os musicistas, já que o músico precisa ser regrado, centrado e
andar em compassos, sem sair do prumo. Para isso, faz-se necessário que ele seja
uma pessoa disciplinada na vida e nos seus estudos musicais. Para Granja (2010, p.
52) a percepção “refere-se à apreensão do mundo por meio dos órgãos do sentido.”
Nessa perspectiva, é imprescindível que o músico também desenvolva a percepção
auditiva, sem ela, provavelmente ele não será um bom músico. Granja considera,
ainda, que:
Na música, a percepção ocupa um lugar central, seja na perspectiva do ouvinte do ouvinte receptor, seja na do músico intérprete e/ou
35%
28%
7%
28%
2%
Interação social
Percepção
Cognição
Disciplina
Nenhuma das opçõesanteriores
68
compositor. O conhecimento musical de uma pessoa depende
fundamentalmente do grau de refinamento da percepção (2010, p. 47).
Assim sendo, compreende-se que é por meio da percepção que os músicos
conseguem distinguir os sons, ritmos, melodias e compassos. Contudo, isso não é
tudo que um bom músico precisa. São diversos os aspectos necessários para
desenvolver a habilidade musical, porém, esses são dois elementos (a percepção e
a disciplina) essenciais para qualquer músico. Na sequência, aparece a cognição,
com 7%. Para as pessoas que responderam dessa maneira, a música melhora o
desenvolvimento cognitivo de seus alunos, já que faz com que o cérebro funcione
em rede para atender os comandos oriundos do ato de tocar e isso acaba
melhorando o desenvolvimento cognitivo. Apenas uma pessoa considera que a
música não melhora nenhuma dessas opções anteriores.
* * *
Este capítulo foi destinado à análise dos dados coletados por meio de um
questionário. Para isso, foram feitos diversos questionamentos com a finalidade de
compreender os motivos da desvalorização da música em sua própria terra.
Portanto, apesar de as pessoas considerarem a música desvalorizada, a
maioria delas ainda consideram Carnaúba como “Terra da música”. Assim, tentou-se
suscitar as causas dessa desvalorização. Para os sujeitos da pesquisa, o principal
motivo da desvalorização da música é a falta de investimento do poder público, uma
vez que sem investimento, os músicos acabam sofrendo, pois não têm uma renda
fixa e uma estrutura apropriada. Também relataram que as pessoas não têm
conhecimento sobre a história da música e isso acaba incidindo na perda dos
valores culturais. Eles acreditam que para mudar essa realidade, era preciso que o
poder público desenvolvesse políticas públicas para melhoria do trabalho que já vem
sendo desenvolvido na AMCOD. Ainda apontaram que as escolas da cidade têm um
papel fundamental na disseminação da história da música carnaubense, pois assim,
estarão formando cidadãos conhecedores de sua própria história.
69
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa propôs-se a analisar como se desenvolve o ensino da música,
por meio de partituras, o qual ocorre na Filarmônica Onze Dezembro, conjunto
musical mantido pela Associação Musical e Cultural Onze de Dezembro, em
Carnaúba dos Dantas, município da região do Seridó potiguar. Para enfatizar a
realidade atual do ensino de música, optou-se pelo relato do percurso histórico do
processo de transmissão musical, bem como, foi enfatizada a iniciação musical de
três musicistas carnaubenses, conhecidos dentro e fora da realidade regional:
Felinto Lúcio Dantas, Tonheca Dantas e Márcio Dantas de Medeiros – este último, o
único vivo, igualmente, colaborador e informante em desta pesquisa.
Posteriormente, investigou-se o porquê da desvalorização da música na “Terra da
música”.
O ensino da música começou a ser transmitido quando, o que hoje é
entendido, como o município de Carnaúba dos Dantas era apenas um sítio,
chamado de Carnaúba de Baixo. Este trabalho buscou, dessa forma, contribuir para
a difusão da história da música, já que, além dos estudos já mencionados (DANTAS,
1987; MACEDO, 2005; GUANAIS, 2001; GALVÃO, 1998) não há iniciativas que
tenham se dedicado, exclusivamente, a esta temática. Relatou-se o processo
histórico de transmissão do conhecimento musical, assim como, os agentes desse
ensino. A ênfase recaiu sobre a pessoa de José Venâncio Dantas, que, até onde se
consegue reconstruir, foi o primeiro maestro do vale do rio Carnaúba, tendo
ensinado música a seus irmãos e familiares, bem como, composto a primeira banda
de música na localidade, uma “charanga”. Posteriormente, além de serem
mencionadas outras formações musicais que existiram no vale do rio Carnaúba,
abordou-se sobre a iniciação musical de três maestros em diferentes épocas:
Tonheca Dantas (século XIX), Felinto Lúcio Dantas (primeira metade do século XX)
e Márcio Dantas (segunda metade do século XX).
No decorrer do trabalho, foi discutido sobre como ocorre o ensino da música
na Filarmônica Onze de Dezembro, destacando sua relevância histórica, social e
cultural. Para isso, desenvolveu-se uma entrevista com os sujeitos que
participaram/participam da iniciação musical ligada à filarmônica. Perante os
resultados obtidos, pôde-se constatar que o trabalho desenvolvido pela mesma tem
70
dado bons frutos, pois melhora as relações sociais e familiares, trabalha a
percepção, possibilita a interpretação de signos, traz alegria, aumenta a autoestima,
facilita a aprendizagem, além de possibilitar a apreensão do conhecimento musical.
Embora a música tenha relevância histórica e cultural para o povo
carnaubense, a mesma vem passando por um período de desvalorização. E essa
questão motivou a indagação acerca de quais os motivos que levam a tal situação.
Diante desses questionamentos, sugeriu-se às pessoas de Carnaúba dos Dantas,
que respondessem, por meio de um questionário, sobre o porquê da desvalorização
da música em sua própria terra. Para aqueles que responderam ao questionário, há
o entendimento de que a responsabilidade da desvalorização da música, em sua
maioria, está nas mãos do Poder Público. Este tem responsabilidade sim, mas, esta
culpabilidade não deve ser entendida de forma unilateral. O Poder Público pode
ajudar com recursos e divulgação, mas, a música só será plenamente valorizada se
a grande massa perceber a sua importância na história, na cultura e nas relações
sociais. Essa é uma realidade um pouco distante, já que muitos carnaubenses
desconhecem a história da música, e esse é um fator preocupante, pois não se tem
como valorizar aquilo que não se conhece.
Apesar dessa realidade, a Filarmônica Onze de Dezembro vem
desenvolvendo um trabalho muito importante para que essa tradição se mantenha
viva. Percebeu-se o impacto desse trabalho na satisfação dos educandos que
participam do processo de ensino-aprendizagem, conforme os depoimentos que
foram dados e durante o período de observação da autora desta pesquisa nas
atividades desenvolvidas na sede da Associação Musical e Cultural Onze de
Dezembro. O ensino de música mostrou-se presente no cenário local, em diversas
épocas. Apesar das dificuldades, este permanece forte e presente na vida dos
carnaubenses.
71
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76
APÊNDICE A - RELATO DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE5
Para concretização desse trabalho, cujo objetivo foi o de investigar como
ocorre o processo de ensino-aprendizagem da música, constatei a necessidade de
uma aproximação maior com o objeto de pesquisa. Para isso, escolhi vivenciar a
observação participante, pois ela possibilita uma relação pessoal e direta do
pesquisador com o objeto de pesquisa. Segundo Lüdke (2013, p.30), a experiência
direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de determinado
fenômeno. “Ver para crer”, diz o ditado popular. Essa experiência “Consiste na
participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao
grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está
estudando e participa das atividades normais deste” (MARCONI, LAKATOS, 2003,
p.194). A observação permite assim, que o observador tenha um contato mais
próximo com os sujeitos e suas aspirações acerca deste objeto de pesquisa.
A observação participante me permitiu vivenciar de forma mais intensa a
pesquisa, uma vez que me possibilitou o contato direto com o ambiente de ensino,
com também com os sujeitos que dele participam. Podendo, assim, compreender de
fato os sentimentos e os anseios dessas pessoas. A observação foi feita na sede da
Associação Musical e Cultural Onze de Dezembro (AMCOD), localizada na rua
Paulo Honório, S/N - bairro centro, na cidade de Carnaúba dos Dantas – RN, no
período de 15 de fevereiro a 04 de março do presente ano.
Assim, na primeira semana, procurei apenas observar como se desenvolvia o
ensino da música, em aspectos como a postura do professor, a metodologia de
ensino, a aprendizagem dos alunos, a relação aluno-aluno e professor-aluno.
Consistiu basicamente na observação desses aspectos. Percebi, nesses dias, que
alguns alunos ficavam um pouco angustiados por não conseguirem passar as lições,
mesmo tendo estudado bastante em casa. Então, decidi passar pelo processo de
ensino-aprendizagem da música como aluna, para tentar compreender o que
dificultava essa aprendizagem.
Na semana subsequente iniciei as aulas como aluna, sob a tutela do maestro
Márcio Dantas de Medeiros. Isso me permitiu uma maior aproximação com os
alunos e o professor. As primeiras lições são teóricas. Nelas eu não tive muita 5 Pelo fato de tratar-se de um relato pessoal, a narrativa foi construída usando-se a primeira pessoa
do singular.
77
dificuldade, já que havia visto os alunos passarem por essas lições na semana
anterior e acabei aprendendo. Percebi que os que tinham maiores dificuldades
nesses ensinos introdutórios eram as crianças mais novas, principalmente aquelas
que ainda não dominavam bem a leitura, uma vez que as primeiras atividades
tratavam de aprender os nomes e as posições nas notas na clave de sol. Mas essas
dificuldades logo eram superadas pela determinação dos alunos.
Notei que a presença do professor muitas vezes fazia os alunos errarem as
atividades. Embora ele tentasse nos acalmar, acredito que isso acontecia devido ao
próprio medo de errar e ao nervosismo, porque eu sentia isso quando ia passar a
lição: meu coração acelerava e eu me tremia muito. Às vezes eu ensaiava bastante
em casa, mas quando chegava na hora de passar a lição, soprava na flauta e não
saía o som. Errava o tempo e esquecia o nome da nota. E isso acontecia
constantemente com os outros alunos também. Acabei chegando à conclusão que
os aspectos psicológicos e emocionais influenciam muito no processo de ensino-
aprendizagem.
Percebi que o aplauso como forma de incentivo por parte do professor é muito
positivo, pois eleva a autoestima e faz o aluno sentir uma sensação de mérito por ter
persistido mais um pouco. Isso motiva o aluno a querer aprender mais. Pelo menos,
era o que eu sentia.
A música também tem uma capacidade surpreendente de envolver as
pessoas que participam desse ensino. Nos dias que eu estava participando das
aulas eu não fazia outra coisa, senão pensar em música, em me superar e aprender
mais um pouquinho.
Ela permite também o compartilhamento de saberes. No dia que tive minha
primeira lição na flauta, algumas crianças me perguntaram se podiam me ensinar o
dedilhado na flauta. Elas me emprestaram a flauta doce e me ensinavam as notas,
porque realmente eu não sabia de nada. Em seguida, me mostraram como ler a
partitura e solfejar na flauta. Fiquei encantada com toda a cooperação das crianças.
Elas sempre nos surpreendem com todo carinho e pureza. Pude perceber que a
música, além de oferecer o conhecimento musical, permite a interação social,
trabalha a interpretação, cognição, percepção e, dentre outros aspectos, disciplina.
Não dei continuidade à aprendizagem musical, pois é necessário muita
dedicação, disciplina e habilidade para a música. Posso dizer enganchei na lição de
78
meio tempo. Não consegui passar por ela e essa é uma realidade muito comum no
ensino da música. Muitos desistem porque não persistem, como eu fiz em minha
observação participante. Não aprendi a linguagem musical e o que aprendi talvez eu
até esqueça com o tempo. Mas, as experiências que vivenciei, vou guardá-las num
lugar bem especial.
Enfim, a observação participante me possibilitou enxergar que, para se
aprender a linguagem musical, é necessário determinação e persistência, pois é
uma linguagem complexa, a qual exige muito do aluno. A habilidade é importante,
mas não é fundamental, já que com perseverança e determinação se pode adquirir
essa habilidade. O que é imprescindível é haver, por parte do aluno, o desejo de
aprender, já que o mesmo é o construtor do seu próprio conhecimento, no qual o
professor atua com facilitador da aprendizagem.
79
APÊNDICE B - RELATOS ACERCA DO QUE OS LEVOU A QUERER APRENDER
MÚSICA:
SUJEITOS
DA
PESQUISA
RELATOS
P1 Acho que eu sempre tive o interesse relacionado à música, quando eu
morava no sítio um grupo que batia nas latas, aí, eu me senti atraído por
aquilo, aí, quando eu vim morar aqui a primeira vez eu tive aula com o
mestre Gonga no PETI de percussão, aí fui embora de novo e quando
voltei uns amigos começaram a me chamar, aí eu vim, aí, tô aqui até hoje,
vai fazer 8 anos.
P2 Ixe! Assim, eu comecei a estudar música mais de uma forma familiar, foi
um pedido de uma mãe que Deus já levou. Assim, era um prazer dela em
ver eu músico, só que eu vinha pra aula fazia as teorias e não conseguia e
saia, entrava e saía aquele sistema, né! Que a dificuldade não deixa né!
Desisti só que eu persisti, assim, eu quero e eu consigo e eu já passei na
teoria, hoje eu tô aí na percussão, mas eu, Ave Maria agradeço demais.
P3 Primeiro, eu quis aprender música que é uma coisa muito bonita de se
fazer, eu gosto muito de tocar meu saxofone.
P4 Meu irmão, mas eu tinha vontade de vir porque eu gosto.
P5 Porque eu gosto de música, quando meu irmão começou eu fiquei
perguntando pra ele o que é música? Me ensine? Aí, ele disse por que
você não vai pra sede, aí, eu vim pra sede e gostei.
P6 Quando eu era criança, eu via a banda de Acari passar e assim como toda
criança gosta de zuada, eu gostava de ouvir aquele barulho de forma
sintonizada e orquestrada [...] pensei um dia eu podia fazer parte da banda,
mas como eu era muito envergonhado [..] não tive coragem de entrar na
banda [..]. Passado trinta anos, um dia numa conversa com o filho de Pinta,
Netinho, eu falei desse trauma que eu tinha de criança, Netinho disse,
venha pra banda em Acari que você vai aprender e aí foi onde começou
minha história na banda, eu entrei fui, num aprendi não, mas pelo menos
participo da banda como arquivista e ajudo a banda.
P7 Acho que foi ver a banda passar assim na rua e, sei lá, identidade com a
sonoridade que a filarmônica tinha, parece que era um negócio, sei lá, de
herança, assim.
P8 Porque sempre achei bonito e teve a oportunidade e eu quis aproveitar
essa oportunidade.
P9 É a questão de estudar, é, estudar música e ficar mais por dentro da área.
P10 Grande parte da minha família são músicos, mas eu tive sempre, meu tio
também era músico, eu sempre gostava, então, vim a querer ser músico
também.
P11 Bom, assim são muitos fatores, principalmente, assim, porque meu pai é o
maestro da filarmônica e eu sempre senti o desejo de tocar, sendo que
80
sempre era aquela coisa, eu tinha muita preguiça, aí, um tempo minha
amiga Rayla me incentivou muito, pegou muito no meu pé e no final de
2011 eu concluí o curso de teoria de musical e peguei o instrumento.
Fonte: entrevista semiestruturada destinadas às pessoas que passaram pelo processo de ensino-aprendizagem na Filarmônica Onze de Dezembro.
81
APÊNDICE C - RELATOS DE COMO SE DAVA/DÁ O ENSINO (INICIAÇÃO
MUSICAL, PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA MÚSICA):
SUJEITOS
DA
PESQUISA
RELATOS
P1 Márcio dava as lições, mas era ele passava na hora, a gente trazia o
caderno e ele dava na hora as lições, aí, todo dia a gente vinha e passava
novamente, eu sentia um pouco de dificuldade, aí pedia bastante ajuda.
P2 A teoria é a mesma que você está vendo hoje, assim, sempre dessa
mesma forma.
P3 Era na flauta e tinha umas musiquinhas que a pessoa tocava, é diferente de
hoje, as músicas hoje são bem maiores.
P4 Bom, da mesma forma que tá.
P5 Era bom, ele passava as lições, aí, à pessoa tinha que aprender e até hoje
estou aqui.
P6 O professor, maestro e desenrolado Márcio Dantas, ele passava a teoria
musical falando a importância da música, a importância dos personagens
da música, aí, com uma apostila de teoria ele vai ensinando o nome das
notas, o valor que as notas têm e assim aprendi com ele, sobre o básico em
relação à música.
P7 Era como a atual, era uma mistura de leitura de partituras, no caso, né! Da
teoria, aí, com ditado melódico e a execução melódica na flauta doce.
P8 Primeiro a pessoa passa toda a teoria, quando passar todas as lições é que vai pegar o instrumento.
P9 Era bem complexo, né! Tinha aqueles estudos, né! Primeiro antes de pegar o instrumento tinha que passar pelo curso que Márcio faz todo santo dia com o pessoal aí, né! Mas só que era mais dificultoso, por causa da dificuldade das lições.
P10 Eu particularmente, eu entrei com a percussão, eu tocava, eu era percussionista e em 2013 foi que eu peguei o curso teórico mais rápido. Digamos assim, não rápido, um curso teórico mais que direto, aí eu passei e nesse curso eu peguei o instrumento de sopro, no tempo eu peguei um trombone, então não me adequei ao trombone, então eu peguei e passei para um trompete, aí, foi que fui levando e hoje em dia eu comprei o meu instrumento próprio e estou no trompete até hoje.
P11 Bom, assim, é, a gente quando pegava o instrumento, aí, ia estudar nota longa, enfim. Eu tive muito apoio de um clarinetista que era daqui, que tocava, sendo que ele saiu, sendo que com um tempo foram vindo outras pessoas: Charles, Leonardo veio passando umas músicas com a gente, e aí a gente foi se desenvolvendo até chegar o que é agora.
Fonte: entrevista semiestruturada destinadas às pessoas que passaram pelo processo de ensino-aprendizagem na Filarmônica Onze de Dezembro.
82
APÊNDICE D - RELATOS ACERCA DA IMPORTÂNCIA DA MÚSICA (PARA A
VIDA, PARA A APRENDIZAGEM):
SUJEITOS
DA
PESQUISA
RELATOS
P1 Eu acho que eu desenvolvi mais depois que entrei pra banda, comecei a
estudar música, conheci muitas pessoas, muitos lugares aqui no Rio
Grande do Norte e Paraíba, tive muitas oportunidades e ainda tenho, ganho
dinheiro com isso também, me ajudou bastante.
P2 Ixe! A importância da música pra mim, acho que quem aprende essa teoria
tem facilidade de aprender qualquer coisa, sabe! Porque, música quem vê
música, aí, eu num sei nem o que é isso, é garrancho, é alguma coisa, mas
não, mais ali quem entende música parece até um cientista, porque é difícil,
mas quando você consegue, aí se torna fácil.
P3 Melhorou minha vida, agora meu padrasto me ver de outro jeito, como se
eu fosse músico também como ele, ele tá aprendendo a tocar violão e de
vez em quando eu ensino a ele as notas.
P4 Muito bom! Aprendi novas coisas, estou melhorando na escola.
P5 Melhorei muito, eu tinha um pouquinho de dificuldade de leitura, também
melhorou muito minha leitura.
P6 A importância ela é percebida ao longe, isso pela alegria que tem, a música
tem muito haver com a alegria, então, quando eu estou lá na banda é como
se todos os problemas que existem no mundo, na vida e no trabalho, ali se
acaba ouvindo música, conversando com pessoas, na verdade é um
grande lugar de encontro e socialização e de amizades.
P7 Assim, acho que a música facilita qualquer aprendizagem, assim, em termo
de assimilação de outros conteúdos e de outros conhecimentos,
matemática, enfim.
P8 Sim, é, pra mim é um sonho desde criança, eu não tive oportunidade de criança, mas, é muito importante pros meus filhos, a minha filha que já faz parte, agora eu entrei e creio que meu filho pequeno vai vir também. Pra mim é estimulante, é estimulação que a pessoa tem, a pessoa ver a música com uma coisa diferente, uma coisa nova e eu quero aprender até pegar meu instrumento.
P9 É muito importante, porque eu vou mais adiante, eu vou repassando para os músicos mais novatos que vão entrando, isso muito fundamental pra todo mundo. Serve muito ambas as partes, né!
P10 É, com certeza é muito bom, porque a gente aprende a ser mais, a ser valorizado, digamos que a gente é mais respeitado, num é? Digamos assim, olhe aquele cara é músico, é bem, eu acho bem legal.
P11 Assim, essa pergunta assim, ela eu não tenho quase nem resposta, a música ela é uma linguagem universal, né! E assim, você ter o entendimento da música é uma coisa muito fantástica na sua vida, porque você em qualquer canto do mundo vai tocar uma partitura, assim, diferente
83
mais que é a mesma linguagem que você aprendeu, então é muito importante, assim, para todos nós e pra mim eu considero muito importante a música na minha vida.
Fonte: entrevista semiestruturada destinadas às pessoas que passaram pelo processo de ensino-aprendizagem na Filarmônica Onze de Dezembro.
84
APÊNDICE E - RELATOS ACERCA DOS PONTOS POSITIVOS DE APRENDER A
LINGUAGEM MUSICAL POR MEIO DE PARTITURAS:
SUJEITOS
DA
PESQUISA
RELATOS
P1 A música é uma linguagem universal, é, se você aprender aqui vai ser a
mesma coisa em outros países, eu acho que é uma segurança.
P2 Ponto positivo, assim, porque traz muita alegria pra gente, né! A gente tá
tocando e tem aquela alegria, tem o público que tá prestigiando a gente e
sempre levando o melhor pra eles.
P3 Primeiro, é, o legal de você aprender a tocar o instrumento, segundo é você
conseguir entrar numa Banda assim de fora, com a música você vai longe.
P4 Melhorou tudo na minha vida.
P5 Eu gosto muito de música, é, os pontos positivos que eu acho é porque eu
me sinto muito bem aqui na filarmônica, venho todo dia menos sábado e
domingo.
P6 Seja aqui em Carnaúba, ou seja, na China, o músico ele vai conseguir ter
contato com qualquer outro tipo de pessoa e ser humano através da
música, pois ela é uma linguagem Universal.
P7 Porque eu acho que a execução é uma arte diferente da escrita e a escrita
é um registro que atravessa tempos, foi uma forma de eternizar a música,
assim.
P8 Pra mim, só é coisa boa, eu acho que é muito importante você aprender, assim, já depois de velha aprender a tocar um instrumento, pra mim a autoestima eleva só para coisas boas, pra mim, é meu ponto de vista que eu penso.
P9 Os pontos positivos é entender a própria linguagem musical, né! E também o interesse no estudo, né!
P10 Os pontos positivos, eu acho que pra mim é tipo, a gente entender mais profundamente, por exemplo: quando uma banda de forró tá tocando a gente entende, o quê que por trás ali tem, então, a gente sabe mais toda a estrutura que tem ali por trás.
P11 Bom, os pontos positivos é justamente isso, a linguagem universal da música, né! Sem contar que quando a gente entra numa filarmônica, por exemplo, conquistar novos amigos, novas amizades, se socializa, vão conhecer outras cidades como eu conheci, metade das cidades que a gente foi para encontro de bandas fora, eu não conhecia, então são coisas muito importantes, assim, pontos muito positivos em você aderir à música.
Fonte: entrevista semiestruturada destinadas às pessoas que passaram pelo processo de ensino-aprendizagem na Filarmônica Onze de Dezembro.
85
APÊNDICE F – RELATOS ACERCA DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO,
ALUNO-ALUNO:
SUJEITOS
DA
PESQUISA
RELATOS
P1 É mais ou menos assim, nós somos uma família, aí, nos temos nosso
maestro como nosso pai de alguma forma, sempre foi assim, é, sempre
amigos, sempre nos aconselhou em alguns momentos, sempre nos apoia,
foi quem nos ensinou e os alunos são sempre amigos, acho que somos
irmãos.
P2 Ixe! Ah! Márcio pra mim é um pai, eu como também não tenho pai, pra mim
Márcio é um pai. Se dou muito bem com ele, com os alunos, eu faço de
tudo para ajudar, não ajudo a todos porque não encaixa, é instrumento por
instrumento, mas estou sempre a ajudar.
P3 A relação é pouca, porque eu tenho meu irmão que de tarde eu não posso
vir aqui, porque eu tenho que cuidar dele, mas quando ele tiver maior, que
ele puder ficar sozinho eu vou poder vir aqui de tarde.
P4 Bom, somo muito amigo.
P5 Amigo.
P6 Minha relação com Márcio é uma coisa de pai pra filho, ele pai e eu filho,
apesar dele falar que não está tão velho assim. Mas Márcio é aquele cara
que gosta da coisa muita certa, muito direita e ele prima muito pela
excelência, pela perfeição. E já com os alunos quando eu estava tomando
aula com o Maestro, eu ficava envergonhado porque eram crianças e eu o
único marmanjão, adulto, já quase pai de muito deles, mas estava ali. E eu
talvez fosse mais incentivo para as crianças que estavam iniciando, do que
as crianças incentivo pra mim, porque eles percebiam que eu tinha uma
dificuldade maior, então eles queriam passar por mim nas lições e eles
acabavam fazendo lições mais rápido do que eu, porque eu tinha uma
dificuldade, além de ter uma dificuldade por não ser de Carnaúba, e aí
como aqui tem um dom, parece que corre nas veias, que há uma facilidade
de se aprender, eu ainda tinha muitas coisas pra fazer na vida, aí tinha que
me dedicar, porque música também é dedicação, se não se dedicar não
aprende, mas também depois que pega gosto, é uma belezura.
P7 Eu acho que era a relação que tinha que ser, assim, uma relação por parte
do professor de cobrança de resultados, porque todo mundo espera que
você aprenda a tocar logo e saia marchando, tocando um dobrado, enfim,
pegando um instrumento depois da fase da parte teórica.
P8 É, apesar de eu ser a mais velha da turma, pra mim são, é ótimo, o professor é nota dez, pra mim tudo é nota dez aqui.
P9 Aí, Márcio sempre é, foi fundamental, desde quando entrei ele vem incentivando a eu entrar na banda, né! Pegar o instrumento, né! Vê como hoje eu faço mais de cinco anos, né! E tem esse costume de desenrolar as
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partituras, né! E também como eu agora já faço parte do coral de Acari e de outras bandas, né! Como a banda de Acari que vou começar parte agora nesse ano. Tem uma relação boa como professor e como amizade mesmo.
P10 É muito boa, a gente aqui tanto aprende como se diverte, a gente gosta de tocar além das músicas, todas as músicas, a gente aprende a tocar aqui e vai.
P11 Com meu pai, assim, ele sempre me ajuda, né! Foi ele que iniciou o curso de teoria pra mim, é o maestro aqui da banda e tal e com meus outros colegas eu tenho uma relação muito boa que eu conquistei através da música.
Fonte: entrevista semiestruturada destinadas às pessoas que passaram pelo processo de ensino-aprendizagem na Filarmônica Onze de Dezembro.
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APÊNDICE G - RELATOS ACERCA DO SIGNIFICADO DA MÚSICA:
SUJEITOS
DA
PESQUISA
RELATOS
P1 Ah! A música é uma arte maravilhosa, eu não me arrependo do tempo que
eu tô aqui, não me arrependo do que faço gosto muito, é isso.
P2 Significado da música pra mim é, um negócio que eu acho que tira formas
de tirar meninos da rua que pode vir se localizar num lugar desses, que
pode tirar também do mundo das drogas, né!?.
P3 Ela tem um significado muito bom pra mim, ela me levou a tudo e é ela que
levou meu padrasto tocar violão.
P4 A música me fez muito feliz.
P5 É uma forma deu me expressar, é um jeito que eu achei pra me expressar
na música.
P6 É importante, eu já rodei nesse mundo alguns lugares e quando chego as
pessoas não me reconhecem por ser Policial Militar, por ser Policial do
PROERD, por dá aula em escola, mas quando eu falo que sou da
Filarmônica Onze de Dezembro, aí sim, aí se fala em música, aí o sorriso
bate e aí nós vamos degustar daquilo que já se ouviram falar e
principalmente em Carnaúba que é a Terra da Música. Então, eu gosto de
ouvir, o coração dispara, fico emocionado.
P7 Pra mim, a música é uma linguagem, assim, de tentativa de tradução do
mundo, assim, da forma que você sente o mundo e vê, é uma projeção
desse sentimento.
P8 É, pra mim a música representa, é eu não tenho nem palavras para dizer, é estimulação que a pessoa tem, o prazer de vir pra cá para a pessoa aprender, é, levanta a autoestima, a pessoa ver a música com outro olhar, a pessoa conhece os instrumentos, a pessoa tem o gosto de aprender, pra mim é isso o que eu acho.
P9 Pra mim, a música é como se fosse uma harmonia espiritual, não só harmonia material, mas sim, harmonia espiritual. Que mexe muito com a profundidade da pessoa.
P10 O significado da música pra mim é respeito, é algo que pra gente, pra mim que é músico é muito, é a metade de um coração, é a metade do que falta pra pessoa.
P11 Pra mim, eu acho que a música representa mais uma partezinha, né! Na minha vida é uma parte muito boa que eu aprendi muitas coisas, eu conquistei novas amizades, que eu gostei mesmo da música, levo ela pra toda minha vida, às vezes quando eu escuto uma música me toca muito, até mesmo na minha alma, é emocionante.
Fonte: entrevista semiestruturada destinadas às pessoas que passaram pelo processo de ensino-aprendizagem na Filarmônica Onze de Dezembro.
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APÊNDICE H - RELATOS ACERCA DO QUESTIONAMENTO SE AS PESSOAS
CONSIDERAM CARNAÚBA DOS DANTAS A “TERRA DA MÚSICA”:
SUJEITOS
DA
PESQUISA
RELATOS
P1 Terra onde nasceu tonheca dantas, Felinto Lúcio e que deu centenas de músicos só pode ter esse titulo.
P2 Grandes músicos e compositores renomados surgiram desta cidade
P3 A Música é plural demais pra pensarem num tipo de produção só e assim a chamarem de música. Temos zero programas de incentivo a cultura, e isso é triste. Não dá pra chamar de Terra da Música um lugar que tanto maltrata o músico.
P4 Devido a grande quantidade de pessoas que estudam música na cidade
P5 Porque a tradição da banda de música e cada dia cresce mais, praticamente todos os dias crianças procura Márcio Dantas o maestro da banda 11 de Dezembro para fazer parte da mesma.
P6 Em questão da sua riquisima historia sobre tonheca filinto lucio e tantos outros compositores
P7 Uma das principias referências de nossa cidade é a música. Desde a mudança de vila para município ela já existia. Sem contar dos vários maestros de nome nacional e internacional, dentre eles cito: Felinto Lúcio e Tonheca Dantas.
P8 Não existe investimento para manter a tradição, já foi, não é mais.
P9 Não existe investimento para manter a tradição, já foi, não é mais.
P10 Não existe investimento para manter a tradição, já foi, não é mais.
P11 Por ter uma tradição forte e ser local de grandes compositores e músicos
P12 Por que na nossa cidade foi e é rica de grandes músicos, maestros e compositores!
P13 Nossa terra foi marcada por músicos que mesmo em meio a dificuldades conseguiram deixar um legado, nossa terra foi e ainda é repleta de talentos.
P14 Falta de reconhecimento, investimento.
P15 Porque Carnaúba dos Dantas foi é continua sendo berço de grandes músicos.
P16 Sem sombra de dúvidas, pelos nossos conterrâneos que fizeram história no início de Carnaúba dos Dantas. A cidade, desde os primórdios respira música. Nas partituras ou escrita nas areias do Rio Carnauba pelo nosso saudoso Felinto Lucio Dantas.
P17 Por sua riqueza de músicos.
P18 Porque é uma terra de grandes musicistas, berço fértil para a Música.
P19 Porque nem as pessoas, nem o Poder Público se importam mais com a manutenção dessa tradição Musical, salve um ou outro como Márcio Dantas que perpetua essa tradição por amor.
P20 Pelos grandes compositores que fizeram história no nosso no Brasil e no mundo e pela influência que estes deixaram como herança para as novas gerações.
P21 Pelo histórico de pessoas envolvidas com a música, além da qualidade de
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coisas produzidas na cidade.
P22 Devido aos muitos talentos nascidos e revelados em nossa cidade.
P23 Berço de grandes músicos, como Felinto Lucio Dantas.
P24 Pelo relevante percentual de crianças, adolescentes, Jovens e adultos que assimilam os conteúdos musicais, ressignificam essas informações e se tornam grandes músicos.
P25 Por toda a sua história e dos seus filhos com relação à música, e por todas as conquistas relacionadas a tal.
P26 Quantidade e importância dos compositores que lá teve representação
P27 Foram muitos os maestros que se destacaram aqui em Carnauba, inclusive a famosa valsa "Royal Cinema", do saudoso maestro Tônica Dantes, que foi tocada até no Vaticano.
P28 Os talentos aqui afloram com grande facilidade e as pessoas sentem-se fascinadas pelo som da banda quando passa tocando, e isso desperta a curiosidade e o desejo de estar naquele meio.
P29 Porque lá nasceram e viveram grandes compositores, como Felinto Lúcio Dantas e Tonheca Dantas.
P30 A música está e sempre esteve presente na nossa cidade e na cultura do nosso povo.
P31 Por sua obra do passado, do presente e toda a herança genética musical que ainda existe no nosso povo.
P32 Terra de Grandes músicos que trabalha com musica e vive da música. ..
P33 Terra de Grandes músicos
P34 A música está intrinsicamente relacionada à evolução histórica e cultural da nossa cidade. Não menos importante é sua forte presença no âmbito religioso (leia-se principalmente católico ao falar-se de música clássica desenvolvida por artistas da terra) que apesar de estar perdendo representatividade em comunidades em geral, ainda faz-se um elemento de influência nas interações sociais de nossa cidade.
P35 Pelo o incentivo musical que durante anos desenvolvem-se no município, pelos os títulos que a filarmônica ganhou nos concursos e pelos os grandes compositores e maestros que levam e levaram o nome do nosso município para o nosso Brasil.
P36 Devido à quantidade de bons músicos que a cidade revela/revelou.
P37 Não, Por que os músicos e entusiastas contemporâneos não fazem juz ao passado de tantos astistas, ou seja , nâo se tem um memorial , nem a associação não conseguem elaborara um bom projeto que seja aprovado em algum edital.
P38 Os maiores talentos são de carnaúba dos dantas.
P39 Pela história de grandes músicos carnaubenses, os quais sempre exaltaram seu amor pela origem sertaneja, imprimindo -o em suas composições.
P40 Pelos valores musicais que se destacaram no passado e se destacam até hoje, e pelo dom natural que aflora nas pessoas que se dedicam a essa arte.
P41 Porque foi berço de grandes músicas e talentos, e até hoje ainda faz grandes músicos.
P42 Pela sua historia e pelos Grandes Músicos aqui formados como Tonheca, Felinto Lúcio.
P43 A musicalidade esteve presente desde de sua fundação.
P44 Além do potencial musical de Felinto Lucio e também pela disseminação que está sempre em evidencia e revela a safra de excelentes novos músicos a
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cada a no nosso município.
P45 Cidade de músicos que vive da música.
P46 Devido o grande número de artistas que temos na área da música
P47 Porque é algo cultural, e que se deve a determinado acontecimento/motivo, e nesse caso por ser a terra de Tonheca Dantas, Felinto Lúcio, passando por tantos músicos até os atuais.
P48 É uma terra rica em cultura. A música faz parte da cultura carnaubense e é através dela que muitos jovens se sentem motivados a transmitir essa cultura através da música. Com isso, jovens indo ao caminho da música é ir no caminho da cultura, fazendo com que os jovens deixem de trilhar o mal caminho, seja o da droga, o da maldade, etc.
P49 O número de músicos, tendenciosos a músicos e apreciadores de arte é bem elevado.
P50 Cidade de compositores e grandes músicos instrumentistas que vive da música. .
P51 Porque é uma terra de grandes musicistas.
P52 Nela existem/existiram grandes artistas, que fazem e fizeram história tanto a nível nacional, quanto internacional.
P53 As pessoas já nascem com o dom musical.
P54 Sabe-se que desde muito tempo as melodias permeiam a história do povo carnaubense, que mesmo na sua simplicidade tem enveredado nesse mundo encantador que é o da música...
P55 Por as musicais instrumentais mais conhecidas principalmente no nosso serido foram brotada neste, como por exemplo: a valsa roial cinema e o dobrado onze de dezembro, entre outras, por o maestro tonheca dantas e Felinto lucio e na atualidade não deixando morrer temos o maestro Marcio que além de matem esta tradiçao ainda eleva o nome deste para outros municípios e estado não deixando a cultura morrer.
P56 Pelos diversos compositores da nossa cidade.
P57 Porque, além da tradição e cultura existente na cidade, na prática não é diferente, Carnaúba possui uma população repleta de músicos, ou melhor, de excelentes músicos!
P58 Na década de 20, havia duas bandas em nossa cidade. Desde então, ter um músico na família tornou-se quase que uma regra. Na minha opinião, Tonheca Dantas e Felinto levaram ao mundo essa alegria do carnaubense pela música.
P59 Existem muitos talentos, porém não é valorizado como deveria.
P60 PORQUE É UMA TERRA DE GRANDES MUSICISTAS QUE FIZERAM E FAZEM HISTÓRIA POR ONDE PASSAM.
P61 Porque há uma tradição musical que passa de geração para geração.
P62 Já foi, hoje não é mais, porque não há incentivo a músico, se não fosse Márcio o ensino da música te desaparecido.
P63 Não é mais, porque nem o poder público valoriza, nem as pessoas.
P64 Porque é uma terra frutífera em talentos para música.
P65 Devido a vasta obra que os musicistas carnaubenses deixaram.
P66 Porque as pessoas de Carnaúba dos Dantas não são comuns, elas tem um dom maravilhoso.
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P67 Lá é a terra de inúmeros músicos talentos.
P68 Não porque o investimento na música é praticamente zero, o que é uma vergonha, diante da história da música que carnaúba tem.
P69 É a Terra de Felinto Lúcio e de Tonheca Dantas, grandes musicistas.
P70 A música é a arte maravilhosa de nosso povo.
P71 Porque a música é uma coisa congênita do povo carnaubense.
Fonte: própria pesquisadora