UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE –
CAMPUS NATAL - CIDADE ALTA NAS JORNADAS DE JUNHO/ 2013
HÉRVILA GABRIELA TAVARES DE MEDEIROS
NATAL/RN
2014
HÉRVILA GABRIELA TAVARES DE MEDEIROS
A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO IFRN – CAMPUS NATAL -
CIDADE ALTA NAS JORNADAS DE JUNHO/ 2013
Monografia apresentada ao curso de
Serviço Social da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte - UFRN como
requisito para a obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.
Or ientadora: Profª. Dr ª Mar ia
Regina de Ávila Moreira
NATAL/RN
2014
FICHA DE APROVAÇÃO
HÉRVILA GABRIELA TAVARES DE MEDEIROS
A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE –
CAMPUS NATAL - CIDADE ALTA NAS JORNADAS DE JUNHO/ 2013
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte para Comissão Examinadora formada
pelos pro fessores:
Aprovado em: ____/____/______.
Banca Examinadora
__________________________________________________
Profª. MARIA REGINA DE ÁVILA MOREIRA (Orientadora)
__________________________________________________
Profª. JOSIVÂNIA ESTELITA GOMES DE SOUSA (Membro)
__________________________________________________
Profª. ANA PAULA DE MOURA CORDEIRO (Membro)
Dedico esta conquista aos meus amados
pais, Maria José e Júlio Marcelino, e a
minha irmã Julianne Gabrielle, por
acreditarem em mim.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, sem Ele, eu não teria conseguido chegar até
aqui, em muitos momentos foi a minha fé que me sustentou e me fez acreditar que esse
sonho seria possível, e que eu não deveria desistir, mesmo em meio às adversidades.
Agradeço às pessoas mais importantes da minha vida: minha família. Mãe, seu
cuidado e suas doces palavras foi que me deram, еm alguns momentos, а esperança pаrа
seguir. Obrigada por me dar a vida e ser uma mãe tão dedicada, palavras não são
capazes de descrever quão grande é o meu amor por você. Agradeço por ter me guiado
pelos melhores caminhos, e não ter medido esforços para isso, trabalhou
incansavelmente para nos manter, espero ainda te dar muito orgulho. Obrigada por nos
educar pelo exemplo. Essa conquista não é sua minha, é sua também. Pai, suа presença
significou segurança е certeza dе quе não estou sozinha nessa caminhada. Obrigada pai,
por ser presente na minha vida, ajudar na minha educação, e por me amar, mesmo com
seu jeito fechado, que eu herdei, mas mesmo assim sabemos do sentimento um pelo
outro. Desejo que Deus te dê muita saúde.
Obrigada minha irmã Julianne, por me alegrar com seu jeito extrovertida de ser.
Obrigada por me proteger me fazendo sentir que nunca estou sozinha. Obrigada por
acompanhar de perto toda a minha trajetória e torcer por mim, assim como torço muito
pelo seu sucesso na vida pessoal, profissional, amorosa e tudo mais. Enfim, você é o
meu oposto, todos dizem, mas assim você me completa, te amo tanto!
Agradeço aos meus avós maternos: Minha Vó Tereza (in memoriam), que me
acompanhou desde os primeiros passos, me ensinou as primeiras letras, que cuidou de
mim como filha, e que tantas boas lembranças deixou. Sinto muitas saudades, e onde
quer que você esteja, sei que está orgulhosa de mim. Ao meu avô Manoel Tavares, pelo
grande homem que é, dedicado a família, sua maior virtude é sua eterna juventude e
alegria de viver, apesar da idade avançada, te admiro muito e peço que Deus te conserve
assim por muitos anos.
Agradeço aos meus avós paternos: Vó Marilene, obrigada pelo carinho e afeto
de sempre, és muito querida por mim. Ao meu vô Júlio (in memoriam), mesmo sendo
tão pequena quando o senhor partiu, por toda a minha vida não faltaram relatos de como
o senhor me amava.
Obrigada aos meus tios maternos: Tia Sônia, por estar sempre do nosso lado
desde a minha infância, Tia Socorro, por ser tão divertida e cuidar de mim como mãe
também, Tia Danda, por mesmo na distância se fazer presente na minha vida, Tia Nica,
pelos cuidados na infância também, a Tia Chica, Tia Luzia, Tio Neto, Tio Joca e Tio
Zeca (in memoriam). por dividir o sonho da formação junto comigo. Obrigada também
aos meus primos maternos, são tantos, mas todos são como irmãos pra mim. Agradeço a
vocês por todos os momentos em família, sempre tão alegres.
Obrigada aos meus tios paternos, principalmente a Tio Erivan, por me acolher
em sua casa no início da caminhada e até hoje se fazer presente quando eu preciso.
Obrigada Tio Ivan, Tia Branca, Tia Luzia, Tia Marileide, por torcerem por mim.
Obrigada também aos primos paternos.
Agradeço também à minha madrinha Branca, que por toda a sua vida me deu
atenção como uma verdadeira afilhada, e hoje está nos braços do Pai.
Obrigada a todos os meus amigos, aqueles que me acompanham desde a infância
e aos que chegaram a pouco tempo na minha vida, cada um sabe a importância que tem,
que possamos no futuro brindar a felicidade de todos! Paulo e Soraya, o destino nos fez
irmãos, obrigada por manter viva nossa amizade, mesmo que a vida tenha nos levado
para caminhos diferentes. Simone, obrigada por estar sempre do meu lado durante essa
trajetória, nunca me esquecerei de você.
Obrigada ao meu namorado, Herbert, por estar sempre do meu lado nos
momentos de alegrias e nas angústias também. Obrigada pelo amor e companhia!
Agradeço a todos os profissionais e colegas do Projeto Casulo e da Escola
Estadual Cel. Silvino Bezerra, que fizeram parte da minha trajetória nessas instituições
na minha querida cidade Florânia. Obrigada ao IFRN – Campus Currais Novos por ter
sido a minha base para eu chegar à graduação, lembro sempre com carinho dessa
instituição e a todos que a compõem. Estendo o agradecimento a todos que fazem o
IFRN - Campus Cidade Alta por permitir os meus primeiros passos profissionais no
meu estágio curricular.
Obrigada aos mestres, de todas as salas de aula que já passei na vida. Obrigada a
Assistente Social Ana Paula, minha supervisora de campo, por todo o compromisso e
dedicação. Obrigada professora Josivânia, pela paciência e ensinamentos durante toda a
trajetória acadêmica. Obrigada minha orientadora Regina Ávila, você é minha
referência profissional, obrigada por acompanhar minha jornada acadêmica e enriquecer
tanto a minha formação pessoal e profissional.
Enfim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que essa
conquista fosse possível, pois sozinha eu jamais teria conseguido.
LISTA DE SIGLAS
AI-5 Ato Institucional número cinco
AP Ação Popular
APES Associação Potiguar dos Estudantes Secundaristas
BPM Batalhão de Polícia Militar
CEFET-RN Centro Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte
CEP HUOL Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes
CPC’s Centros Populares de Cultura
CUT Central Única dos Trabalhadores
ENET Encontro Nacional de Escolas Técnicas
EUA Estados Unidos da América
FIFA Federação Internacional de Futebol Associado
FIMVJ-MG Frente Independente pela Memória, Verdade, e Justiça de Minas Gerais
GEDM Grêmio Estudantil Djalma Maranhão
IFRN Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte
MPL Movimento Passe Livre
MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
PCdoB Partido Comunista do Brasil
Polop Política Operária
PM Polícia Militar
PT Partido dos Trabalhadores
SUAP Sistema Único de Administração Pública
TV Televisão
UBES União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UJS União da Juventude Socialista
UMES União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas
UNE União Nacional dos Estudantes
UPP Unidade de Polícia Pacificadora
RESUMO
Este trabalho apresenta o resultado de estudo sobre as Jornadas de Junho/2013,
manifestações ocorridas no Brasil no ano de 2013, considerando a participação dos
estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte - Campus Cidade Alta – Natal/RN. Os principais objetivos da pesquisa são:
conhecer o nível de formação política dos estudantes do IFRN Campus Natal - Cidade
Alta e analisar a repercussão da participação dos estudantes nas Jornadas de Junho/13.
Para tanto, a metodologia da investigação foi qualitativa, a partir de roteiro semi-
estruturado e entrevista com cinco estudantes da Instituição. A partir da análise de
conteúdo, delimitou-se a exposição em três capítulos. Veremos inicialmente os
antecedentes históricos dos movimentos sociais no Brasil e no mundo com ênfase nas
mobilizações de junho/13. Em seguida será apresentada uma caracterização do
movimento sob a perspectiva dos jovens estudantes do IFRN entrevistados nessa
pesquisa. Por fim, será discutida a relação entre a atuação da mídia no movimento e a
veiculação das informações sobre a violência. De acordo com essa análise, pudemos
denotar a forte influência de cunho neoconservador da mídia sobre a população, de
modo a desmobilizar os manifestantes das Jornadas de Junho/13. Além disso, pudemos
perceber que essas lutas sociais denunciam problemas concretos na sociedade brasileira,
e exigem respostas concretas, apesar da falta de organização do movimento. O Serviço
Social poderá valer-se desse estudo para traçar estratégias de intervenção que venham a
melhorar o nível de participação política dos seus usuários.
Palavras-chave: Jornadas de Junho/2013. Movimentos Sociais. Mídia. Violência.
Juventude.
ABSTRACT
This paper presents the results of study on the Days of June / 2013 demonstrations
occurred in Brazil in 2013, considering the participation of students from the Federal
Institute of Education, Science and Technology of Rio Grande do Norte - City Campus
High - Christmas / RN. To this end, the research methodology was qualitative, from
semi-structured interviews with five students and the institution. From the content
analysis was delimited exposure in three chapters. Initially we will see the historical
background of social movements in Brazil and around the world with emphasis on
mobilization of June / 13. Then a characterization of the movement from the perspective
of young students IFRN respondents in this research will be presented. Finally, we
discuss the relationship between the role of the media in the movement and placement
of data on violence.
Keywords: Journeys June / 2013. Social Movements. Media. Violence. Youth.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS JORNADAS DE JUNHO/13: ANTECEDENTES
HISTÓRICOS......................................................................................................................... 15
2.1 LUTAS SOCIAIS E O CONTEXTO DO CAPITAL ................................................................... 16
2.2 PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL: AS JORNADAS DE JUNHO/13.... 21
3. A CARACTERIZAÇÃO DOS JOVENS SOBRE AS JORNADAS DE JUNHO/2013: A
PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL DO IFRN (CAMPUS NATAL – CIDADE ALTA) ............ 33
3.1 A HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL NO IFRN .................................................... 41
3.2 OS DESDOBRAMENTOS DA PARTICIPAÇÃO PARA O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO IFRN44
4. A MÍDIA E A VIOLÊNCIA NAS JORNADAS DE JUNHO/2013: UMA RELAÇÃO
IDEOLÓGICA ....................................................................................................................... 46
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 59
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DA ENTREVISTA .......................................................... 62
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..................... 63
11
1. INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho refere-se às Jornadas de Junho/13, denominação dada às
últimas grandes manifestações sociais ocorridas em todo o Brasil no ano passado. A
centralidade do estudo está na relação das Jornadas de Junho/13 com a participação
política estudantil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte (IFRN) – Campus Natal - Cidade Alta. Assim, a análise irá explicitar
de que maneira essas jornadas se expressaram na referida instituição. Para isso, será
realizado um resgate histórico das lutas sociais no contexto mundial e brasileiro, até
culminar na conjuntura atual, trazendo as principais considerações dos estudantes
pesquisados em relação ao movimento em questão.
Portanto, a investigação surgiu da perspectiva de investigar um locus que
concentra parte da juventude natalense e, a partir da inserção no estágio no Instituto
Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Campus
Natal - Cidade Alta.
O estágio proporcionou enxergar o quanto é necessária uma organização
estudantil dentro dessa instituição que concentra jovens de diversas faixas etárias, desde
o ensino médio e técnico até ao ensino superior. A partir do processo de observação e
análise percebeu-se que esses estudantes precisavam ter uma voz ativa dentro da
instituição, há a necessidade de organização política dos estudantes (Grêmio Estudantil,
Centro Acadêmico). Desse modo planejou-se a intervenção no sentido de fomentar a
participação política dos estudantes. O projeto de intervenção buscava despertar nos
jovens a vontade de se organizar politicamente e subsidiá-los nesse intento, mostrando
as possibilidades e vantagens disso. Metodologicamente, o projeto utilizou-se de
oficinas, distribuição de folders informativos, debate com os estudantes, de modo a
guia-los no processo de construção de uma entidade estudantil dentro da escola. Os
resultados desse projeto mostraram uma forte desmobilização dos estudantes,
decorrentes de diversos determinantes: as correlações de forças na escola, a condição de
estudante/trabalhador, a falta de acesso à informação. Contudo, com a chegada dos
primeiros estudantes de nível médio na escola, público-alvo das oficinas, o panorama
mudou um pouco e atualmente esses estudantes estão em processo de construção do
Grêmio Estudantil.
12
Os resultados do projeto de intervenção no estágio levaram a indagar o
protagonismo desses jovens nas jornadas de junho/13, que seria uma luta externa ao
ambiente escolar, mas não menos importante do ponto de vista político. Assim, nessa
pesquisa, faremos uma análise da participação dos jovens estudantes nesses movimentos
ocorridos no contexto local e também de abrangência nacional. A experiência de
intervenção no estágio proporcionou questionar se os estudantes da escola participaram
das lutas sociais de junho/2013, apesar de não construírem um movimento estudantil
interno. Além disso, esse trabalho visa responder de que forma aconteceu a participação
desses estudantes nas Jornadas de Junho/13 e a opinião destes sobre as manifestações.
Este trabalho tem como principal finalidade conhecer o nível de politização dos
estudantes do IFRN Campus Natal - Cidade Alta e analisar a repercussão da
participação dos estudantes nas Jornadas de Junho/13 no meio escolar e também fora
dele.
A importância deste trabalho está em compreender a importância desses
movimentos para a sociedade, se há perspectiva de continuidade, além disso, poderá se
conhecer em que patamar está a participação política dos estudantes do IFRN. Assim,
pretende-se que essa pesquisa contribua não só para o Serviço Social da instituição,
como também para tantos outros campos do fazer profissional que lidam com os
movimentos sociais e com a política de educação.
Metodologicamente, este trabalho adotou o tipo de pesquisa qualitativa, pois a
construção da realidade não pode ser apreendida apenas pela quantificação, visto a sua
profundidade, envolvendo concepções teóricas e políticas dos/as sujeitos/as
envolvidos/as. As técnicas utilizadas nessa pesquisa para coletar os dados foram a
entrevista semiestruturada com os/as estudantes e a observação participante no ambiente
escolar.
A pesquisa iniciou com a seleção dos líderes de turma1 como público-alvo das
entrevistas, considerando que estes já indicam um perfil político de disponibilidade de
participação importante na escola. Assim, consultou-se uma lista que contém os nomes
dos líderes e vice líderes de cada turma e seus respectivos contatos. Pesquisou-se o
perfil socioeconômico dos estudantes que constam nessa lista utilizando a ferramenta do
1 Cada turma da escola possui o líder e o vice-líder, escolhidos através de eleição pelos outros estudantes
para representá-los.
13
SUAP2 - Sistema Unificado de Administração Pública do IFRN. De aproximadamente
15 estudantes, foram selecionados 06, para serem entrevistados com base em critérios
de cor, sexo, renda e idade, garantindo a maior diversidade possível, onde se destaca: 3
homens e 3 mulheres, com idade de 21 a 33 anos, todos cursando o nível superior de
ensino, de etnias variadas.
O contato com esses estudantes foi feito via e-mail e telefone, sendo que apenas
cinco deles confirmaram a participação na pesquisa. As entrevistas gravadas foram
realizadas com os cinco participantes3, e estas ocorreram nas dependências do IFRN em
dias e horários marcados com os próprios estudantes. Após a gravação das entrevistas,
as mesmas foram transcritas, para que fossem melhor analisadas. Com as transcrições
das entrevistas, os dados foram categorizados resultando nos principais eixos, que foram
nucleados em três categorias mais importantes para o debate do tema.
O primeiro eixo que se destacou foi a violência como um elemento fortemente
citado sobre as manifestações e o poder de influência da mídia. O segundo eixo foi a
forte influência das redes sociais na participação nos protestos e o anseio por mudanças
na sociedade brasileira; e por fim, o terceiro eixo que se destacou foi a descontinuidade
e o enfraquecimento do movimento, sendo considerado por alguns como “modinha”.
Esses eixos geraram os capítulos desse trabalho.
Para fins de exposição do conteúdo o trabalho está dividido em três capítulos. O
primeiro resgata os antecedentes históricos das lutas sociais em todo o mundo, traçando
a conjuntura política que desencadeia essas lutas no Brasil e no mundo, passando pela
emergência dos novos movimentos sociais até chegar ao momento atual brasileiro em
que ocorreram as Jornadas de Junho/13 e suas peculiaridades.
O segundo capítulo traz uma caracterização do movimento de acordo com a
perspectiva dos estudantes entrevistados. Este capítulo se fundamenta nas próprias falas
dos estudantes, trazendo seus posicionamentos sobre a participação, a repressão aos
movimentos, sua continuidade, a posição da mídia. E, finaliza com a repercussão das
2 O SUAP é um sistema da web cujo objetivo é automatizar e integrar processos administrativos dos
institutos federais (em especial do IFRN). O SUAP possui os seguintes módulos: Recursos Humanos,
Protocolo, Almoxarifado, Patrimônio, Planejamento, Ponto Eletrônico, Assistência Estudantil, Ensino,
Financeiro, Orçamento, Frotas, Chaves, Contratos e Convênios, Contra-cheques, Portaria, Materiais e
Progressões.
3 Um dos estudantes selecionados não confirmou a participação na pesquisa.
14
Jornadas de Junho/13 para o IFRN, resgatando seu histórico de movimento estudantil e
mostrando o quadro atual de participação política.
O terceiro e último capítulo trata da relação ideológica entre a mídia e a
violência no movimento. Este capítulo mostra o quanto a mídia tem o poder de
influenciar as opiniões da população e os rumos do movimento com a sua posição
ideológica neoconservadora.
Por fim, é importante informar que o projeto de pesquisa foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes – CEP HUOL e
aprovado sob o parecer nº 700.557.
15
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS JORNADAS DE JUNHO/13: ANTECEDENTES
HISTÓRICOS
Debater as Jornadas de Junho/13 no Brasil exige que as contextualizemos no cenário
histórico mais amplo. Até porque, uma das principais marcas desse processo, foi seu
ineditismo enquanto um determinado formato de manifestação de rua. No mundo inteiro
vive-se um tempo de regressão dos direitos sociais com o advento do neoliberalismo na
década de 1990. O capitalismo global é quem dita as regras no âmbito econômico,
político e social em muitos países. O Brasil é um desses países que é governado para
privilegiar os interesses do capital e não da classe trabalhadora. Enquanto isso os
trabalhadores atravessam uma fase turbulenta de sucateamento das políticas públicas,
desemprego, precarização das condições de trabalho. Essa estrutura expressa a
contradição fundamental entre capital e trabalho, para um desses elementos se
sobressair, o outro precisa estar enfraquecido. No cenário atual o capital está em uma
fase próspera, o resultado inevitável disso é a exploração da camada de trabalhadores.
A partir da insatisfação da população diante de tanta precarização das condições de
vida é que surgem as manifestações. Elas surgem em um momento em que a população
chegou ao seu limite, e não suporta mais assistir passivamente os seus direitos serem
negados diariamente. É a partir disso que as pessoas veem nas manifestações coletivas
uma forma de interferir nas decisões politicas e melhorar as condições de vida. Outro
fato é que os tradicionais movimentos sociais e organizações não estão dando mais
conta de conduzir a luta organizada dos trabalhadores, daí surgem as grandes
manifestações de rua que ocorreram em junho em um novo formato, sem bandeiras de
partidos, mas também, sem perspectiva de continuidade.
Este capítulo fará uma breve contextualização histórica em relação às lutas sociais
no cenário global. No primeiro tópico serão abordadas as configurações políticas e
socioeconômicas que desencadearam as manifestações populares em diversas partes do
mundo durante a história para introduzir o contexto atual de lutas sociais. Em seguida
traz o contexto da emergência dos novos movimentos sociais, que trazem pautas
complementares às luta de classes, a exemplo das lutas feministas, ambientalistas, de
negros etc.
O segundo tópico traz uma análise de como se deu historicamente a participação do
povo brasileiro na política, até chegar no momento atual, finalizando com o principal
16
tema que se pretende discutir, as chamadas Jornadas de Junho/2013, como são
denominadas por alguns autores, as últimas maiores manifestações políticas ocorridas
no Brasil.
2.1 LUTAS SOCIAIS E O CONTEXTO DO CAPITAL
Falar nas jornadas de junho/2013 leva a refletir sobre o longo caminho
percorrido pelos movimentos sociais na história. Então, faz-se necessário contextualizar
o momento que vivemos no cenário mundial, caracterizado por uma crise global que se
reflete na vida social, política, econômica. Essa crise acarreta consequências destrutivas
na vida da classe trabalhadora. Vale salientar que as crises são inerentes ao sistema
capitalista, este necessita delas para se reproduzir. O capital em seu processo de
expansão penaliza a humanidade e cresce de forma incontrolável. Ou seja, essa
expansão se dá regida pela lógica da valorização do capital, secundarizando as
necessidades humanas vitais. Nesse sentido, Antunes na introdução de Mészáros (2011,
p. 11) afirma que “a produção e o consumo supérfluos acabam gerando a corrosão do
trabalho, com a sua consequente precarização e o desemprego estrutural, além de
impulsionar uma destruição da natureza em escala global jamais vista anteriormente”.
Em relação às consequências da expansão para o trabalho, o cenário é marcado
pela sua precarização e desemprego. O processo de reestruturação produtiva que ocorre
no final da década de 1960 quando o modelo de acumulação fordista4 entra em crise,
diminuindo as taxas de lucro e afetando a organização social, inaugura o modelo de
acumulação flexível paralelamente ao processo de precarização do trabalho. O processo
de degradação do trabalho se manifesta principalmente através do desemprego,
degradação da compra e venda da força de trabalho, o preço da força de trabalho,
qualidade dos postos de trabalho.
Além disso, a autorreprodução do capital ainda acelera o processo de destruição
da natureza, utilizando os recursos naturais em uma escala que não obedece às
demandas da humanidade, mas sim as necessidades do grande capital. O impacto
produzido pela crise atinge as dimensões vitais do ser humano, e isso se torna nítido
4 O fordismo configura-se como um verdadeiro regime de acumulação e implementa um sistema de
regulação e compromisso entre proprietários do capital, trabalhadores e o Estado, conhecido como
compromisso fordista ou welfare state.(Faria e Kremer, 2004)
17
quando observamos um sistema que “no auge do seu poder produtivo, está produzindo
uma crise alimentar global” (MÉSZÁROS 2011, p. 21).
Enquanto o sistema produz uma crise alimentar global e milhões de pessoas
sofrem no mundo, para o The Economist, (semanário de distribuição em massa com
sede em Londres dominado pelos Estados Unidos) a crise que enfrentamos é para
“salvar o sistema”. Os dados abaixo mostram como tem crescido o preço dos alimentos,
estatística que atinge diretamente a vida do trabalhador:
[...] só no decorrer de 2007 “o índice de preços dos alimentos de The
Economist saltou aproximadamente 55%” e “a alta dos preços dos alimentos
no fim de 2007 e princípio de 2008 provocou tumultos em cerca de 30
países” (MÉSZÁROS 2011, p. 21).
Enquanto isso a preocupação das nossas autoridades políticas e financeiras é a
injeção de grandes quantidades de dinheiro público para resolver as grandes crises
bancárias. A crise também se estende para os setores produtivos, a indústria
automobilística está com problemas apesar de receber subsídios do Estado americano.
“A imensa expansão especulativa do aventureirismo financeiro – sobretudo nas últimas
três ou quatro décadas – é naturalmente inseparável do aprofundamento da crise dos
ramos produtivos da indústria [...]”. (MÉSZÁROS, 2011 p. 25).
Outro elemento que merece destaque aqui é a corrupção inerente ao capital.
Segundo Mészáros (2011, p.26) “Na verdade, a cada vez mais densa selva legislativa do
Estado capitalista passa a ser o legitimador “democrático” da fraudulência
institucionalizada nas nossas sociedades”. Esse fato pode explicar a rejeição das
estruturas políticas tradicionais nas manifestações que ocorreram nas ruas em diversos
países, já que as pessoas não se sentem representadas pela classe política. Em especial
no Brasil, [...] “É preciso lembrar que a taxa de apartidarismo por parte da população
sempre foi alta no Brasil, uma vez que os partidos burgueses e as instituições
representativas nunca vicejaram entre nós” (SECCO 2013, p. 74).
Não é difícil perceber que diante desse panorama de crise estrutural, que a sua
consequência é cada vez mais o aprofundamento do desemprego e da miséria humana, e
que o Estado capitalista não está preocupado em solucionar esses problemas. E para que
essa realidade mude, Mészáros (2011, p.27) coloca que não é possível a realidade mudar
18
“sem a mudança radical do nosso modo de reprodução sóciometabólica”5. Assim, seria
necessário que nossas práticas estivessem voltadas para a necessidade humana ao invés
do alienante lucro.
Vale salientar que o contexto atual não é favorável às lutas sociais, pelo
contrário, a crise provoca a desmobilização da classe trabalhadora. O sistema capitalista
com o advento do neoliberalismo fomenta o individualismo nas pessoas, além de todo o
bombardeamento de falácias através da mídia. Assim, o sistema é dotado de todo um
aparato de estratégias para desmobilizar o conjunto de trabalhadores.
Embora o contexto atual seja desfavorável às lutas sociais, as pessoas sentem na
pele as consequências destrutivas da expansão capitalista, embora não saibam que esse é
o motivo que as leva a sofrer essas consequências, muitos culpam o governo, os
funcionários públicos e outras entidades por isso. Nessa situação a contradição entre
capital e trabalho se expressa fortemente e a população chega ao limite, as insatisfações
e descontentamentos da população fazem surgir as mobilizações sociais, embora sejam
passageiras em alguns casos. No momento em que as pessoas percebem que seus
interesses estão sendo secundarizados em detrimento da expansão capitalista, ainda que
não saibam, elas começam a se unir e se fortalecer para lutar por melhores condições de
vida que atendam as suas necessidades de trabalho, saúde, educação, etc. Vale salientar
que o sistema se utiliza de diversas estratégias para desmobilização da classe
trabalhadora, como foi dito anteriormente, por isso muitas pessoas até desconhecem as
razões para estarem na situação que estão, considerando com algo natural e comum, mal
sabem o que causa a fome, desemprego miséria e também não sabem o que fazer para
mudar isso. Entretanto, existem grupos com um conhecimento a mais que lideram as
lutas populares, tentando formar frentes contra as injustiças sociais. Esses grupos, em
sua maioria, são movimentos sociais, ONG’S, partidos políticos, etc. Enfim existem
iniciativas, embora um tanto pontuais e fragmentadas, de transformar a realidade para
melhor.
É importante falar aqui da emergência dos “Novos Movimentos Sociais”6 para
relacionar com as mobilizações ocorridas no Brasil em junho de 2013. Embora a crise
5 Segundo Mészáros (2011, p. 11) o sistema sociometabólico do capital tem seu núcleo central formado
pelo tripé capital, trabalho assalariado e Estado, três dimensões fundamentais e diretamente inter-
relacionadas, o que impossibilita a superação do capital sem a eliminação do conjunto dos três elementos
que compreendem esse sistema.
19
global não favoreça a organização das camadas populares, não deixam de existir alguns
pontos de resistência, embora sejam fragmentados como veremos adiante.
Para situar o contexto em que surgem os chamados “Novos Movimentos
Sociais” Montaño e Duriguetto (2010, p. 248), afirmam que esses movimentos surgem
principalmente em meados do século XX e tem por função ser um complemento das
lutas de classes dos movimentos clássicos e outras vezes são vistos como alternativos
aos movimentos de classes tradicionais e aos partidos políticos de esquerda.
Na América Latina esses movimentos emergem em um contexto de expansão
capitalista, que se deu de forma atrasada e dependente nos países latino-americanos, e
no período que ficou conhecido como Guerra Fria (1946-1989), mecanismo norte-
americano para conter o comunismo no continente e aprofundar a sua dominação
política e econômica. Nessa conjuntura o mundo se dividiu em dois blocos: o bloco
socialista e o bloco capitalista. A partir daí surgem processos insurrecionais em diversos
países que inspiram esses movimentos. Dentre elas a Revolução Russa (1917), a
Revolução Cultural na China (1966), a Guerra na Coreia (1950) , a Guerra do Vietnã
(1959) entre outras. Quando finda a Guerra Fria7 (meados da década de 1980) com o
fim do bloco conhecido como do “socialismo real” esses processos revolucionários
abandonam os princípios socialistas, anticapitalistas e anti-imperialistas. Nesse cenário
o imperialismo norte-americano se fortalece, em especial com apoio da estratégia
neoliberal e o processo de reestruturação produtiva.
Nesse sentido, é de suma importância relatar um acontecimento decisivo para a
emergência dos Novos Movimentos Sociais. O Maio Francês de 1968, um ano
importante de lutas políticas em diversos países. Nesse ano, o movimento estudantil
protagoniza grandes mobilizações na Europa, tendo na França a juventude estudantil se
expressado com maior radicalidade. Os estudantes se aliaram aos trabalhadores e
conseguiram promover uma greve geral no país. Assim como no Maio Francês/1968,
nas Jornadas de Junho/2013 a juventude foi protagonista, entretanto não teve um
alcance tão grande como no Maio Francês que promoveu uma greve geral. Muitos dos
movimentos que estão em pauta atualmente têm no maio francês um divisor de águas:
6 O termo está sendo colocado entre aspas e com o adjetivo “novos” porque segundo Montaño e
Duriguetto (2010, p. 248) é a denominação mais utilizada para tratar os Movimentos Sociais
Contemporâneos, entretanto, é uma questão se eles são realmente novos. 7 Conflito ideológico e belicista que marca a disputa entre o bloco socialista e comunista.
20
O maio francês ajudou a abrir caminho para que surgissem movimentos que
levantaram bandeiras político-culturais progressistas como os feministas, o
dos negros – Malcolm X, os Panteras Negras e Luther King se manifestavam
pelos direitos civis dos negros norte-americanos -, os ambientalistas, os
movimentos contra a opressão homofóbica. (MONTAÑO E DURIGUETTO,
2010 p. 258-259).
O maio francês de 1968 teve diferentes interpretações. Mandel (MONTAÑO E
DURIGUETTO, 2010 p. 260) o classifica como um movimento classista e político. Já
para o historiador marxista inglês Hobsbawn (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p.
260) essas manifestações tiveram um caráter individualista e hedonista, que ele
classificou como uma Revolução Cultural. É importante destacar que o maio de 1968 se
situa no contexto da crise global da década de 1970, da crise dos projetos societários
social-democrata na Europa Ocidental e da crise do “socialismo real”. Esse contexto
representou um distanciamento da esquerda das novas reivindicações da década de
1960. Com o regime keynesiano8 os trabalhadores tiveram ganhos no sentido de
aumento salarial, ganhos de produtividade, o que fez com que houvesse uma pacificação
do conflito de classes dirigido pelos partidos comunistas, de esquerda e sindicatos, e é
nesse momento que irrompe o levante estudantil (LEFEBVRE, 1968 apud MONTAÑO
E DURIGUETTO, 2010 p. 262). Essas manifestações também desenvolveram uma
crítica ao socialismo real devido a centralização política do aparato estatal e a crítica ao
stalinismo, o que gerou uma crise global do “bloco socialista”.
Os acontecimentos históricos anteriormente destacados – a desestalinização reivindicada pelo campo socialista; a dominação do movimento da classe
trabalhadora ocidental por organizações e ideologias ligadas à social-
democracia e a eclosão dos movimentos de Maio de 1968 – inauguram uma
nova fase no interior do movimento revolucionário mundial e nos debates da
esquerda (Ver Hobsbawn, 1983; Callinicos, 1995). Essa nova fase é marcada
pelo desenvolvimento das ações e do debate dos chamados Novos
Movimentos Sociais (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p. 263).
Os “Novos Movimentos Sociais” surgem no marco dos “movimentos
autônomos”, que se constituíram na busca de alternativas às lutas sindicais por
trabalhadores que organizaram ações que iam além das demandas por melhorias
salariais. Porém, essas lutas operárias não conseguiram se converter em um projeto
societário dos trabalhadores contrário ao do capital. Além disso, as lutas operárias não
conseguiram se articular aos novos movimentos sociais que surgiam, sobretudo porque
elas não saíram do âmbito de dentro da empresa. Os novos movimentos sociais
8 O keynesianismo foi uma saída para a crise que atingiu seu ápice entre os anos de 1929 a 1932 proposta
por John Maynard Keynes (1883-1946), em que ele defendeu uma maior intervenção do Estado na
economia. Com o sistema keynesiano o Estado tornou-se produtor e regulador. (Behring e Boschetti,
2010 p. 83-84)
21
contribuem positivamente para as lutas por trazerem à tona questões de gênero, de raça,
etnia, religião, sexualidade, ecologia, e a reivindicação de acesso a bens de consumo
coletivo: saúde, educação, transporte, moradia, a exemplo das próprias jornadas de
junho/2013 em que os manifestantes traziam principalmente reivindicações por bens de
consumo coletivo. Por outro lado, esses movimentos tangenciam as relações sociais
capitalistas, por não se aliarem a luta do proletariado, o que acaba limitando seu alcance
político. Isso acontece porque a sociedade capitalista destrói o
sentimento de pertencimento à uma classe, e mesmo lutando por bens de consumo
coletivo, o individualismo predomina.
Após essas reflexões, faz-se necessário conhecer como se dá a participação
política no Brasil, um país marcado pelas heranças deixadas desde a sua colonização,
com relações baseadas no clientelismo, é sobre isso que trata o próximo ponto.
2.2 PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL: AS JORNADAS
DE JUNHO/13
O nosso país historicamente excluiu as camadas populares dos espaços de poder
e participação. Sua estrutura econômica e social é marcada pela concentração da
propriedade e da renda e de uma enorme desigualdade social. O modelo econômico do
país após o golpe de 1964 é marcado pela subordinação ao grande capital monopolista
internacional, como sempre o desenvolvimento se deu de forma atrasada e dependente.
Nos anos em que ocorreu o “milagre econômico” (1968-1973), período de
expansão do capitalismo brasileiro, o Brasil adota uma estratégia de crescimento
baseada no endividamento externo, o que significou para a classe trabalhadora o
aprofundamento do arrocho salarial, desemprego, piores condições de vida e trabalho.
Segundo Behring e Boschetti (2010, p. 134) “Enquanto no plano internacional
desencadeava-se a reação burguesa, o Brasil, no contexto da ditadura militar pós-1964,
vivia a expansão do “fordismo à brasileira” (SABÓIA, 1988 e 1990), por meio do
chamado Milagre Brasileiro”. No contexto do golpe de 64, Mendonça e Fontes (1996, p.
21) afirmam: “Dentro desse quadro, o favorecimento da grande empresa era o seu
objetivo. O arrocho salarial, sua estratégia. O combate à inflação, sua justificativa
legitimadora. O “milagre” econômico veio a ser seu resultado”.
Como sempre o Brasil apresenta uma falta de sincronia com o tempo histórico
dos processos internacionais. Esse fato, combinado a insatisfação do sistema ditatorial
22
instaurado no país é o que faz reemergir no cenário político o proletariado urbano e os
movimentos populares, que vão gerar uma crise da autocracia burguesa. Utilizando a
estratégia do arrocho salarial para com a classe trabalhadora sob a justificativa de
combater a inflação, o país assistiu a uma recessão na economia. De acordo com
Mendonça e Fontes (1996, p. 22) “Deu-se o chamado “milagre”, o qual nada mais
significou senão a garantia de lucros mirabolantes às empresas oligopolistas, nacionais e
estrangeiras”.
A modernização capitalista no período ditatorial leva a uma alteração da
configuração do país que passa a ser urbano-industrial, o que altera a configuração da
classe trabalhadora, levando-a a se concentrar predominantemente nos centros
industriais reforçando o assalariamento econômico.
Entre 1970 e 1980, o proletariado brasileiro duplicou de aproximadamente
7,7 milhões para 14,3 milhões. Em 1950 era da ordem de 2,8 milhões e quase
70% dos operários estavam concentrados nos grandes centros industriais da
região sudeste – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. (MONTAÑO E
DURIGUETTO, 2010 p.269)
Nesse processo, ocorre uma aceleração da migração para os grandes centros
industriais devido à criação das agroindústrias. A urbanização no país foi marcada por
esse fenômeno da migração em virtude da alteração na estrutura produtiva rural. Foi na
década de 1970 que o Brasil se tornou efetivamente urbano: “a população urbana
brasileira, como percentagem da população global, passou de 31,2% em 1940, a 67,6%,
em 1980” (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p. 269 apud SANTOS, 1985 p. 237).
Nesse sentido, também se desencadeia o processo de “favelamento”, um aumento de
moradias irregulares nas zonas periféricas das grandes cidades devido aos baixos
salários decorridos do arrocho salarial e do descaso do governo em relação aos bens e
serviços coletivos. Daí surge inúmeros problemas relativos ao transporte coletivo, ao
sistema público de saúde, escolas, saneamento, iluminação etc. “É nesse contexto que
emerge no Brasil um novo sindicalismo, uma diversidade de movimentos sociais
urbanos e os movimentos do campo”. (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p. 270)
Nos anos de 1961 e 1964 as classes subalternas se expressam fortemente no
cenário das lutas no Brasil, quando se expressa uma intensa mobilização social através
do movimento sindical, movimentos do campo e movimento estudantil. Tais
movimentos se reúnem em prol das “reformas de base” (reforma agrária, tributária,
bancária, urbana, política e universitária, de cunho democrático e nacionalista). Estes
23
realizaram centenas de greves tanto pelo movimento sindical urbano quanto pelos do
campo. Nesse período, foram realizadas inúmeras atividades na área da educação e
cultura na luta por um projeto de desenvolvimento social autônomo. Sob essa direção
foram acionadas diversas organizações para atuar nessa luta, a União Nacional dos
Estudantes (UNE) criou os Centros Populares de Cultura (CPCs), os movimentos
católicos estudantis vinculados a esquerda também se destacaram, e no campo partidário
temos a criação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Política Operária (Polop) e
a Ação Popular (AP). As classes subalternas colocam em pauta uma questão central da
nossa formação social que revelam uma das razões de uma certa tendência à “apatia”
dos cidadãos brasileiros em relação as questões políticas: “o capitalismo sem reformas e
a exclusão das massas dos níveis de decisão” (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p.
270).
Apesar dos esforços empenhados nas lutas pelas “reformas de base”, em 1964
ocorre o golpe militar no qual a “autocracia burguesa” se instala e imprime um
direcionamento contrário ao desenvolvimento econômico-social e político do país,
revertendo o processo democrático em curso. Nesse período são criados diversos
mecanismos políticos de repressão a qualquer forma de organização, momento
conhecido como “anos de chumbo” (a partir de 1968) em que é decretado o AI-5. Ao
mesmo tempo as condições favoráveis são direcionadas ao capital internacional e
nacional.
Na segunda metade do século XX e início do século XXI emergem uma gama de
movimentos sociais na América Latina e particularmente no Brasil, dos quais merecem
destaque os movimentos de resistência a ditadura e redemocratização do país, que
tiveram como marco momentos como a Passeata dos Cem Mil em 26 de junho de 1968,
depois desse período o Brasil passou por mais de 20 anos de Ditadura Militar, mortes e
perseguição política. Em 1979 o país teve o grande marco da greve dos metalúrgicos do
“ABC” paulista, o movimento “Diretas já” em 4 de abril de 1984 inaugurou o início de
uma nova fase da tentativa de redemocratizar o país. Foi uma longa jornada de lutas
empenhadas em derrotar o regime ditatorial no Brasil e conquistar as liberdades
democráticas.
Têm-se como tendência nas primeiras décadas do século XX, os Movimentos
por bens de consumo coletivo que surgem devido à precariedade das condições de
24
habitação, transportes, saúde, protagonizado pelos bairros da periferia com o apoio de
militantes católicos. Outro movimento de grande relevância nesse cenário é o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que luta pela reforma agrária e
tem bastante expressão na realidade brasileira e latino-americana. Esse movimento age
principalmente através da ocupação de grandes latifúndios improdutivos. Além desses,
existem os movimentos étnicos e raciais, a exemplo dos movimentos indígenas e
camponeses e do Movimento Negro. Dentro dessa diversidade de movimentos ainda
existem o movimento feminista, estudantil e por liberdade de orientação sexual.
A participação política hoje, se apresenta através da sua manifestação mais
recente, as Jornadas de Junho/2013. No atual contexto em que o Estado intervém
minimamente no campo social assiste-se a uma regressão dos direitos sociais
conquistados historicamente através das lutas dos trabalhadores. É no cenário brasileiro
de exclusão das massas e de inúmeras peculiaridades já citadas que eclodem as lutas em
junho de 2013 no Brasil. Essas lutas surgem em um momento de descontentamento
geral, inclusive em vários países ocorreram lutas semelhantes. As lutas no panorama
mundial têm algumas características em comum com as que aconteciam no Brasil.
Segundo Žižek (2013, p.102) é interessante que esses protestos não tenham acontecido
somente nos países mais fracos do sistema, mas também nos países considerados de
economia próspera, ou que pelo menos passam por um período de rápido
desenvolvimento, por exemplo, a Turquia, a Suécia e o Brasil. O mesmo autor ainda
acrescenta que em 2011 quando explodia uma onda de manifestações pela Europa e
Oriente Médio muitos comentaristas diziam que essas lutas não tinham relação umas
com as outras, cada uma reagia a uma situação específica, o que é interessante para os
defensores da ordem mundial, afirmar que não há nenhuma ameaça ao sistema, porém
estas podem ser sinais de uma crise global. O que fica claro é que os manifestantes não
perseguem um único objetivo, mas compartilham o sentimento de insatisfação que os
identifica. Dentro dos próprios protestos há uma interrogação sobre o que eles
representam. Segundo Slajov Žižek (2013, p.103):
Devemos evitar o essencialismo aqui: não existe um único objetivo real
perseguido pelos manifestantes, algo capaz de, uma vez concretizado, reduzir
a sensação geral de mal-estar. O que a maioria dos manifestantes compartilha
é um sentimento fluido de desconforto e descontentamento que sustenta e une
demandas particulares.
25
É interessante para os defensores da ordem mundial dizer que os protestos pelo
mundo são desconexos, sendo que ambos têm a ver com o capitalismo global. Segundo
Žižek (2013 p.104), “[...] e o que unifica tantos protestos em sua multiplicidade é que
são todos reações contra as múltiplas facetas da globalização capitalista”. Para Slavoj
Žižek esses protestos lidam com uma combinação de questões de cunho econômico e
político-ideológico. É o caso do Occupy Wall Street, que sugere ideias de
descontentamento do capitalismo como sistema e a consciência de que a democracia
multipartidária representativa não é suficiente para combater os excessos capitalistas.
Por toda a Europa e Oriente Médio explodiu uma onda de manifestações em 2011. De
forma geral, essas manifestações criticam a forma de democracia que é insuficiente para
os excessos capitalistas, ou exigem a própria democracia a depender da evolução
política dos países. Assim como na Primavera Árabe e na Revolução Verde no Irã, cujas
mobilizações dirigiram-se contra o autoritarismo dos regimes. Mas, é importante
perceber que todos esses movimentos são contra o sistema capitalista nos seus países, o
que os diferencia são algumas particularidades do estágio em que se encontra o
capitalismo. Por exemplo, no Egito os manifestantes lutavam pelo que o Occupy já tinha
(a liberdade e a democracia).
No ano de 2011 houve uma grande eclosão de protestos pelo mundo, e é muita
hipocrisia dizer que são acontecimentos isolados em cada país, parece que muitos povos
se indignaram em um mesmo momento, cada um com reivindicações específicas da sua
região, porém com características muito semelhantes. Para Carneiro (2011, p. 9) “Em
todos os países houve uma mesma forma de ação: ocupações de praças, uso de redes de
comunicação alternativas e articulações políticas que recusavam o espaço institucional
tradicional”. Não há como dissociar essas ocupações, se todas partilham do mesmo
pano de fundo, o panorama mundial é de crise geral do capitalismo. E os motivos que
levam o povo a rebelar-se são questões que atingem frontalmente a classe trabalhadora
como bem coloca Carneiro (2012, p.9):
O pano de fundo objetivo é uma crise social, econômica e financeira que se
arrasta desde 2008 e tem como consequências a carestia dos gêneros
alimentares e o aumento do desemprego, mas o grande impasse que está
presente é a ausência de alternativas políticas organizadas.
A partir dessas ideias é possível analisar a repercussão desses movimentos na
realidade do IFRN – Campus Natal Cidade Alta a partir de relatos dos próprios
estudantes.
26
No Brasil as lutas no formato das Jornadas de Junho/13 se iniciaram devido ao
aumento da tarifa do transporte coletivo, mas isso foi só o começo, as massas foram às
ruas exigir melhores condições de vida. A partir daí o movimento só cresceu e se
espalhou por todo o Brasil, cada vez mais manifestantes aderiram, vieram as conquistas
e mesmo quando baixou o preço da tarifa o movimento continuou, mostrando que o
problema não era só esse, era de ordem estrutural. Segundo a entrevistada 3 da pesquisa
“nós não tivemos uma resposta efetiva”. A opinião da jovem mostra que os protestos
não eram apenas pelo não aumento da passagem, mas sim por um transporte de
qualidade, com preços mais acessíveis. Ela ainda acrescenta que os protestos atingiram
outras áreas como a educação, saúde, segurança e consequentemente demandava
respostas mais efetivas em todas essas áreas.
A grande mídia começou satanizando a imagem dos movimentos sociais,
só mostrando o vandalismo, a violência. A repressão policial foi muito grande nas
primeiras manifestações. Mas, em um segundo momento as mobilizações evoluíram e a
mídia recuou. Mais à frente veremos o papel decisivo que a mídia teve nesse
movimento como formadora de opinião para as pessoas que não participaram dos
protestos, sobretudo acerca do fenômeno da violência.
Além disso, as lutas foram marcadas pelo caráter jovem, criativo, irreverente,
sendo as redes sociais o principal aliado para marcar as manifestações. O problema é
que esses movimentos não conseguem se aliar as lutas dos trabalhadores contra o
capitalismo, na verdade não é de conhecimento da maioria das pessoas que as questões
que afligem no cotidiano têm sua raiz no sistema capitalista.
A partir da pesquisa realizada foi possível observar que essas manifestações
significaram uma ruptura com o longo período de inércia que pairava sobre a população
brasileira em termos de movimentos sociais. As manifestações populares, denominadas
pelos teóricos de “Jornadas de Junho/2013”, se espalharam por todo o país. Sem sombra
de dúvidas esses movimentos foram um avanço para a consolidação do direito da
população à cidadania e a democracia no Brasil. Sobre esses valores, importa destacar
que eles são inerentes à sociedade capitalista, e não dão conta de superá-la, apenas de
garantir direitos aos cidadãos dentro do Estado. A cidadania e a democracia fazem parte
de uma sociedade emancipada politicamente, contudo, a emancipação política não
garante que o homem seja livre e alcance a emancipação humana. Alguns autores
27
abordam essa questão, um deles é Marx (2005, p. 23), em sua obra “A Questão Judaica”
afirma:
Não há dúvida que a emancipação política representa um grande progresso.
Embora não seja a última etapa da emancipação humana em geral, ela se
caracteriza como a derradeira etapa da emancipação humana dentro do
contexto do mundo atual. É óbvio que nos referimos à emancipação real, à
emancipação prática.
Sendo assim, os homens podem desfrutar de direitos de cidadania na sociedade
atual sem que haja a emancipação humana, pois os direitos humanos ultrapassam o
conceito de cidadania. Ainda segundo Marx (2007, p. 30-31)
Os direitos humanos não são, por conseguinte, uma dádiva da natureza, um
presente da história, mas fruto da luta contra o acaso do nascimento, contra
os privilégios que a história, até então, vinha transmitindo hereditariamente
de geração em geração. São o resultado da cultura [...]
Já Coutinho (1987, p. 108) tem um pensamento diferenciado em relação a
questão da democracia, o qual considera que a democracia é um momento ineliminável
de superação da ordem capitalista e a consequente transição para o socialismo. Ele
utiliza os conceitos inspirados em Gramsci de “democracia progressiva”, de Palmiro
Togliatti, e “democracia de massas”, elaborado por Pietro Ingrao. O primeiro concretiza
a teoria gramsciana da guerra de posições, um regime democrático que orienta-se no
sentido de hegemonia das classes trabalhadoras e superação da ordem capitalista. O
segundo conceito parte da ideia de que com a socialização da política cria-se um novo
terreno para a luta pelo socialismo. Ou seja, para ele, a democracia é um requisito
essencial para a superação do sistema capitalista, enquanto Marx acredita que a
democracia não possibilita essa superação, mas sim, faz parte desse sistema.
O estopim das lutas foi o aumento de tarifa do transporte coletivo, que atingiu
diretamente a população de trabalhadores e estudantes que necessitam desse tipo de
transporte diariamente. Assim, os protestos se iniciaram nas grandes cidades do Brasil e
surgiu uma pauta extensa de reivindicações por melhores condições de vida, direitos
que historicamente foram e ainda são negados aos cidadãos, sendo as principais
reivindicações a garantia da saúde e educação.
Alguns autores afirmam que essas lutas estão relacionadas à questão urbana, e a
pauta de reivindicações está ligada ao direito à cidade. Segundo Harvey apud Lefebvre
(2013 p.28) sobre o direito à cidade, ele “pode apenas ser formulado como um renovado
e transformado direito à vida urbana”. Ou seja, não é apenas ter acesso ao que já existe,
28
mas sim poder refazer e mudar a cidade em que se vive de acordo com as necessidades
coletivas. Por conhecer a realidade das cidades brasileiras e suas más condições de vida,
Maricato (2013 p.19-20) afirma:
As cidades são o principal local onde se dá a reprodução da força de trabalho. Nem toda melhoria das condições de vida é acessível com melhores salários
ou com melhor distribuição de renda. Boas condições de vida dependem,
frequentemente, de políticas públicas urbanas – transporte, moradia,
saneamento, educação, saúde, lazer, iluminação pública, coleta de lixo,
segurança.
Nesse sentido, as pessoas passaram a perceber que a vida na cidade estava
desconfortável, faltava e ainda faltam boas condições de vida, que como a própria
autora coloca não é possível somente com melhores salários. Desse modo, a população,
na tentativa de mudar essas condições, resolve atuar através da luta social e política. As
demandas requeridas pelos manifestantes constituem um conjunto de políticas públicas
urbanas que proporcionem melhores condições de vida na cidade. Os fatores
condicionantes das lutas são agravados pela forte desigualdade social existente no país
enfatizada pela globalização e pela guinada em direção ao neoliberalismo. Para Harvey
(2013 p.29):
As chamadas cidades “globais” do capitalismo avançado são divididas
socialmente entre as elites financeiras e as grandes porções de trabalhadores
de baixa renda, que por sua vez se fundem aos marginalizados e
desempregados.
Ou seja, há uma segregação nítida entre as classes sociais nas cidades “globais”,
o que levou a camada de trabalhadores a indignar-se contra os mandos e desmandos do
sistema capitalista.
A juventude foi protagonista nas lutas sociais no Brasil no ano de 2013, esse fato
merece atenção, implica em dizer que esses jovens se indignaram com a realidade
perversa que está posta no cenário atual e não estão dispostos a aceitar essa realidade
sem se indignar e tentar fazer algo para revertê-la. De acordo com Secco (2013 p. 71)
“Alguns números revelam o óbvio: desde 1992 não havia protestos amplos e
generalizados no país, logo só poderia ser a primeira vez dos jovens manifestantes”. A
indignação desses jovens os levou às ruas para reivindicar melhores condições de vida
para a população. Esse movimento irrompeu no país quando há mais de vinte anos não
29
se via algo parecido, mobilizações que tomaram todo o país na busca por
transformações na sociedade brasileira. De acordo com a entrevistada 19:
“[...] as pessoas estão se interessando, as pessoas querem participar, as pessoas estão
querendo construir digamos que uma sociedade melhor, uma coisa correndo atrás dos
seus direitos, de igualdade, cidadania, tudo isso é sim muito positivo, até porque a
gente via isso há décadas atrás no nosso país e a muito tempo a gente não via [...]”
Nessa fala depreende-se que a jovem reconhece como positiva a questão de
buscar melhorias para a sociedade através das lutas. Nisso a juventude atual e a da
década de 1980 se assemelham, embora na década de 1980 as manifestações tivessem
um propósito muito mais definido. O movimento “Diretas Já” lutava pelo direito ao
voto nas eleições e pela democratização da sociedade brasileira. Retomando a fala de
um dos jovens entrevistados ao afirmar que participou das manifestações disse:
“[...] participei, por achar um momento importante na transformação
brasileira, uma vez que nós tivemos esse movimento há muito tempo atrás né, na época
das ‘Diretas Já’ [...]”.
Assim percebe-se que a juventude reconhece a semelhança entre os dois
movimentos e a importância deles. Já as manifestações de junho de 2013 foram
heterogêneas, com uma pauta de lutas bem diversificada, e negando a existência de
lideranças. Ainda há muito para se pensar e analisar sobre as Jornadas de Junho/2013,
visto a atualidade do movimento. Conforme Souza (2013, p 66-67):
Desde 2012 havia um aumento considerável do número de greves, que
envolviam lutas de setores importantes do funcionalismo público
contra governos municipais, estaduais e federal. Contudo, o ascenso
do movimento de massas de junho de 2013, teve a juventude no
protagonismo. Esse setor atuou em grande escala e como expressava
uma insatisfação do conjunto da população, ganhou o apoio das
massas, mesmo com a ofensiva midiática, que se postulava contra os
movimentos e reproduzia a campanha (junto com governos) contra o
vandalismo.
Um elemento presente nas mobilizações foi o anti-partidarismo, podemos
associar isso à mudança de direção assumida pelos partidos e sindicatos após o advento
9 As falas dos entrevistados com mais de três linhas virão destacadas e centralizadas para diferenciar de
citações bibliográficas.
30
do neoliberalismo, a exemplo do PT e da CUT que aderem ao sindicalismo de
negociação e passam a ser coniventes com a manutenção do projeto neoliberal.
A ofensiva das massas incluía um choque com as instituições do regime
democrático burguês. A reivindicação do horizontalismo (espécie de
princípio para os novos organismos) é uma das expressões da rejeição aos
partidos e sindicatos. Uma consequência do leste europeu e, no caso
brasileiro, do PT e da CUT (SOUZA, 2013 p. 69).
A rejeição aos partidos políticos foi uma característica peculiar ao movimento,
os jovens, a maioria de classe média, inicialmente convocados pelas redes sociais, agia
com agressão a manifestantes que estivessem levantando bandeiras de partidos mesmo
não sabendo bem os motivos para fazer isso. Isso resulta, de certo modo, pela imagem
negativa como a classe política é avaliada no Brasil, fazendo com que os jovens não se
sintam parte desse processo. As estatísticas abaixo confirmam essas informações:
Segundo a Folha de S.Paulo, 84% dos manifestantes paulistas no dia 17 de
junho não tinham preferência partidária, 71% participavam pela primeira vez de um protesto e 53% tinha menos de 25 anos. Pessoas com ensino superior
eram 77% (SECCO, 2013 p.71).
Essa rejeição aos partidos apareceu na fala de uma das entrevistadas da pesquisa.
A entrevistada 3 participou das manifestações e afirma “Eu sou apartidária, eu não
compactuo com nenhum partido político aqui em Natal”.
Apesar do avanço na participação política no Brasil, há muitas críticas a se fazer
sobre o movimento. É notório que o movimento não tinha uma pauta de lutas definida,
cada pessoa ou grupo levava sua reivindicação às ruas sem haver uma organização
anterior, se tornando uma pauta bastante heterogênea. Isso se dá também por não haver
pessoas a frente do movimento que liderassem a luta como os movimentos tradicionais.
Segundo Secco (2013 p.72) “Também ela é uma forma nova. Não tem carros de
som nem palanques com oradores. Mas aqui reside a apropriação farsante da atuação do
autêntico Movimento Passe Livre (MPL) [...]”. Não se sabia ao certo o porquê se estava
lutando, era uma série de demandas diferentes sendo reivindicadas pela população, as
pessoas simplesmente iam às ruas e davam o seu grito por mais saúde, educação,
transporte, enfim, direitos no geral. Sobre isso Secco (2013 p.72) afirma que “A
totalização de suas demandas teria de ser mais do que a simples soma das partes que se
despem de modo fragmentado nas ruas”.
31
Outra crítica diz respeito a descontinuidade do movimento, foi algo que explodiu
no país todo e depois tudo se acalmou, o movimento enfraqueceu no formato de grandes
manifestações coletivas e, hoje está mais pontual. Ao falar sobre o movimento a nível
nacional uma jovem estudante entrevistada na pesquisa afirma que “[...] Natal foi uma
faísca pra o que aconteceu, foi a faísca pra o Brasil acordar e voltar a dormir depois
[...]”. Outro jovem ao falar sobre o assunto refere que
“[...] na verdade a gente sabe que, o movimento chegou um momento que enfraqueceu,
o movimento ele perdeu força, inclusive com todas essas revoltas e confusões e brigas e
quebra-quebra, o movimento foi perdendo legitimidade”.
Nessas falas de jovens participantes do movimento é possível notar também a
participação desqualificada no movimento, de pessoas que não procuravam a Plenária10
e iam sem saber muito o que estavam fazendo. Além disso, fica clara a questão do
enfraquecimento do movimento, ele atingiu o seu ápice e logo depois se acabaram as
grandes manifestações coletivas, transformando o movimento em iniciativas pontuais.
Foi uma peculiaridade do movimento, a influência das redes sociais na
participação dos manifestantes. Na pesquisa ficou claro que as redes sociais foram
fundamentais para a organização do movimento, contudo não foi suficiente para que o
movimento tivesse continuidade. A entrevistada 3 afirma “Eu comecei a ver as
movimentações através da internet e via que a mídia era ao contrário.” Em outras falas
também é notório que as redes sociais influenciaram fortemente na participação dos
jovens. Até mesmo os estudantes entrevistados que não participaram das Jornadas de
Junho dizem que a principal forma de acompanhar o movimento era através da internet:
“Principalmente internet e redes sociais era a minha forma de acompanhar, não
tinha muito tempo pra assistir TV, ler jornal eu não leio, então o que saia muito na
internet era o que eu sabia” (Entrevistada 5).
Diante do exposto, fica claro que o contexto que vivemos é de crise do
capitalismo. Assim, em diversas partes do mundo a população se indigna com a
ausência de direitos sociais efetivos em suas vidas, em cada país os manifestantes
encontram uma forma diferente de protestar. O Brasil tem sua história marcada pela
10 A Plenária era um tipo de reunião que os participantes do movimento faziam para decidir o que seria
feito na manifestação seguinte. Nela os jovens discutiam as questões necessárias à organização do
movimento e tomavam as decisões inerentes à elas.
32
característica de exclusão das massas dos espaços de poder e decisão, desse modo a
própria população tem dificuldade hoje de se achar no direito e na obrigação de
defender seus interesses, a maioria prefere deixar que os outros tomem decisões
inerentes às suas vidas.
As Jornadas de Junho/2013 significaram um momento de quebra com a
estagnação do povo brasileiro diante dos acontecimentos no país, entretanto ainda não
foi suficiente para se criar uma perspectiva de continuidade e enraizamento do hábito de
se organizar e protestar coletivamente de forma contínua e que abranja grande parte da
população. A partir da pesquisa feita, percebeu-se que ainda há jovens e estudantes que
não se sentem à vontade para participar de protestos de rua, e que estes mesmos julgam
o movimento como um lugar de participação desqualificada, talvez a falta de
qualificação tenha levado o movimento a se diluir.
No próximo capítulo será feito um aprofundamento da caracterização dos jovens
entrevistados na pesquisa sobre o movimento ocorrido no Brasil em Junho/2013.
33
3. A CARACTERIZAÇÃO DOS JOVENS SOBRE AS JORNADAS DE
JUNHO/2013: A PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL DO IFRN (CAMPUS NATAL
– CIDADE ALTA)
Esse capítulo trata de uma caracterização do movimento denominado “Jornadas
de Junho/2013”. A abordagem tem como base as reflexões dos estudantes do IFRN -
Campus Cidade Alta, líderes de turma, que foram entrevistados nesta pesquisa. Essa
caracterização traz os elementos relevantes que os jovens colocam em relação ao
movimento trabalhando questões referentes à participação dos jovens no movimento, a
avaliação deles sobre sua participação, os motivos que os levaram ou não a integrar a
massa de manifestantes em junho/2013, o conhecimento deles sobre o movimento a
nível nacional e internacional, entre outras questões.
Iniciando a caracterização, é interessante expor um dado que foi uníssono nas
entrevistas. Diz respeito ao desconhecimento dos jovens acerca dos movimentos sociais
a nível internacional. A grande maioria dos jovens afirma que nem mesmo
acompanharam pelos meios de comunicação de massa as lutas internacionais que
estavam ocorrendo. Os movimentos sociais em outros países parecem ser uma realidade
bem distante dos jovens envolvidos nessa pesquisa. Porém, vale ressaltar que a cultura
de participação política no Brasil nunca foi algo estimulado, falta envolvimento das
pessoas até mesmo em decisões políticas no próprio país. Ainda há a prerrogativa de
que a mídia não dá enfoque às manifestações internacionais, noticiando-as apenas de
forma superficial. Sobre o assunto, uma jovem afirmou:
“Pra falar a verdade os internacionais eu dava “menas” bola. Acho que assim, meio
que no nosso país a gente já tinha tanto problema que quando vinha uma notícia ou
outra internacional (risos) a gente acaba dizendo assim “não, não aqui no Brasil a
gente já tem tanta coisa eu não vou nem dar bola pra isso”. Mas via, via, acompanhava
uma coisa ou outra, porque nem sempre os horários de jornal eu tava acompanhando,
tava assistindo, mas vi pouco”. (Entrevistada 1)
Na fala da jovem acima, ela alega que não se interessa pelas notícias de
manifestações internacionais, visto que no próprio país já tem muitas questões para se
preocupar. Mas a questão é que os países não são independentes, há algumas decisões
que interferem em âmbito mundial. Tem-se o exemplo recente da guerra entre Israel e a
Palestina, na qual representantes do mundo inteiro se posicionam politicamente, e há
34
pessoas que nem se solidarizam com a situação de milhares de pessoas inocentes
morrendo. Enquanto isso se percebe que as pessoas estão alheias a esses
acontecimentos, quando poderiam se inspirar nos propósitos dessas lutas. Muitas vezes
as pessoas nem tomam conhecimento de acontecimentos dentro do próprio país. Outra
jovem afirma sobre seu desconhecimento a respeito dos movimentos internacionais:
“Acompanhei assim, tipo de relance só, tipo eu ia passando na sala e via. Eu
não, de verdade eu não sei, não sei nem o que tava acontecendo”. (Entrevistada 4).
A partir desses depoimentos compreende-se que os movimentos internacionais
ainda são uma realidade distante para os jovens entrevistados. Tendo em vista que a
mídia, apresentando um importante papel na formação de opinião em massa, não
veicula com ênfase as lutas internacionais, e consequentemente a articulação às
nacionais não consegue ser feita por esses jovens, dando a falsa ideia, por vezes, que as
nacionais são lutas isoladas, a -históricas. A fala da jovem evidencia a imparcialidade da
mídia em relação a essa questão: “A mídia foi mais neutra”. (Entrevistada 3)
Sabe-se que a mídia não noticia nada com neutralidade, e que nela predomina a
ideologia dominante, porém o que pode ter acontecido foi a pouca divulgação dos
movimentos sociais internacionais, devido ao não interesse.
Sobre a influência política das lutas no Brasil em junho/2013 para os jovens, a
maioria dos estudantes acredita que poucos jovens ou nenhum tenham sido
influenciados politicamente. Os mesmos alegam que não sentiram um aumento da
participação política da juventude na sua realidade, nem mesmo na sua escola. Eles
afirmaram que a juventude participou do movimento de forma desqualificada, de modo
descontínuo. De maneira que não fez com que estes jovens se engajassem as entidades
estudantis de suas escolas ou a partidos políticos de uma forma efetiva. O entrevistado 5
afirma:
“[...] E que não era uma causa de partido nem de movimento, era uma causa de
pessoas, era uma causa social. E também não vejo que isso tenha influenciado
politicamente nenhum jovem”.
Já a entrevistada 3 acredita que as jornadas tiveram alguma influência na vida
dos jovens, mesmo que de forma temporária. Ela ainda afirma que teve uma parcela de
jovens que foi influenciada politicamente de forma mais profunda.
35
“[...] Então, eu acho que influenciou sim, teve aquela influência temporária,
então, mas também teve algumas pessoas que atingiu um pouco mais profundo e a
galera foi realmente pesquisar, ir mais atrás”. (entrevistada 3)
Outra vertente que se destacou na pesquisa foi a recorrência na fala dos jovens
em afirmar que o movimento foi apenas “temporário”, e em determinado momento ele
enfraqueceu. Alguns denominaram o movimento como uma “modinha”, se referindo a
algo que é passageiro. Na visão dos jovens o caráter passageiro das manifestações foi
um ponto negativo. Observe-se a fala abaixo:
“Eu acredito que não, de verdade não, eu acho que foi, como é notório, e também,
muitos já perceberam foi uma coisa de momento. Foi uma modinha na verdade. Muitas
pessoas se revoltaram, protestaram e queriam mudar o Brasil mas isso durou quinze
minutos”. (Entrevistada 4)
A grande maioria dos entrevistados afirmou que não houve uma forte influência
dos movimentos na participação dos jovens em outros espaços políticos. O entrevistado
5 que foi participante das Jornadas de Junho/2013 coloca sua frustração devido à
descontinuidade do movimento.
“Eu acho que de negativo fica a descontinuidade, porque se nós tivéssemos um
movimento social organizado que não fosse apenas momentâneo, que não fosse apenas
modinha, nós conseguiríamos muita coisa”. (Entrevistado 5)
O enfraquecimento do movimento é um fato visto como um ponto negativo para
os jovens. A questão de ser encarado como modinha tem fundamento no caráter
temporário das manifestações, revelando o perfil do movimento, sem lideranças,
organização, continuidade, o novo modelo que aconteceu em junho.
Na fala anterior percebe-se a necessidade de que houvesse uma maior
organização, uma continuidade para que a população obtivesse mais conquistas com as
mobilizações. E desse modo, que os jovens se mobilizassem não apenas de forma
momentânea como nas Jornadas de Junho/2013. A entrevistada 3 refere que “[...] natal
foi uma faísca né, pra o que aconteceu, foi a faísca pra o Brasil entre aspas acordar e
voltar a dormir depois”.
36
Mais uma vez há a menção ao enfraquecimento do movimento na configuração
de grandes manifestações em massa. Um dos jovens afirma que o movimento continua
de forma pontual, nos espaços privados:
“Assim, o movimento, as pessoas continuam reivindicando nos seus lugares,
dentro das suas casas, no seu facebook, as coisas voltam como antes e o sistema
continua como sempre foi”. (Entrevistado 5)
A partir dessas falas percebe-se a frustração dos manifestantes ao perceber que o
movimento, ora tão grandioso, enfraquece e reduz-se a iniciativas pontuais e
fragmentadas.
Embora nem todos os entrevistados tenham participado das Jornadas de Junho,
vale salientar que nas falas de todos os jovens há menção à importância do movimento
em questão para o Brasil. Todos acreditam que as jornadas de junho/2013 foram um
momento importante para a sociedade brasileira na busca por melhorias e mudanças no
campo dos direitos sociais. Veja a fala desse jovem que não participou do movimento,
ele concorda com a proposta do movimento:
“Só queria falar que eu sou a favor, que assim, é um direito da população né. Muitas
vezes antes, a pessoa, a população ficava com medo de rever seus direitos e agora eles
tão saindo nas ruas pra protestar pelos seus direitos. E eu acho, eu sou totalmente a
favor disso”. (Entrevistado 2)
Os jovens que não participaram das mobilizações justificam-se por questões que
envolvem: medo da violência, vandalismo, depredação, falta de tempo, desinteresse e
até mesmo por discordar da configuração que tomou o movimento. Nesse sentido,
percebe-se a influência da ideologia neoconservadora, pensamento dominante na
sociedade capitalista. Essa ideologia tem forte expressão na formação de opinião desses
jovens, pois propaga uma visão distorcida dos movimentos sociais.
Para entender a ideologia dominante, é interessante observar a definição de
ideologia: “Gramsci dá o conceito de ideologia como “o significado mais alto de uma
concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade
econômica, em todas as suas manifestações da vida individuais e coletivas”
(VOLANÍN, s/d, p.4 apud GRAMSCI, 1986). Ou seja, a ideologia é compreendida
37
como algo que se sobrepõe a consciência individual e atinge várias esferas da vida
social.
A criminalização dos movimentos sociais é uma característica marcante da
sociabilidade contemporânea. Para entender essa questão, cabe aqui explicar as
determinações do ethos dominante dessa sociabilidade. A ofensiva do capital na década
de 1970 agrava a desigualdade estrutural e a degradação da vida humana, assim, o
capitalismo mundial caracteriza-se por uma apreensão fragmentada de todas as esferas
da vida social e por uma desregulamentação das relações de trabalho. As relações
sociais são caracterizadas como efêmeras e instáveis.
A realidade do capitalismo contemporâneo descrita acima tem um pensamento
dominante – “a ideologia neoliberal e seu subproduto, a ideologia pós-moderna”
(Barroco, 2011, p. 206). Essa ideologia dominante tem a função de naturalizar essas
transformações na vida social para justificar a dinâmica capitalista. Assim, a
fragmentação, instabilidade são características que tendem a ser naturalizadas na
sociabilidade atual.
O cenário de implantação das políticas neoliberais e de mundialização do capital
contribuiu para o empobrecimento e desmobilização dos trabalhadores. Segundo
BARROCO (2011, p. 209) “O neoconservadorismo busca legitimação pela repressão
dos trabalhadores ou pela criminalização dos movimentos sociais, da pobreza e da
militarização da vida cotidiana.” É nesse sentido que está querendo se afirmar que a
repressão aos trabalhadores pelo pensamento dominante afeta as decisões dos jovens
por não participar dos movimentos, quando são levados a enxergar com naturalidade
que protestar é crime.
Há muito tempo no Brasil os movimentos sociais são tratados como criminosos,
a questão social é tratada como questão de polícia. Sobre isso Sanson (2008, p. 198)
afirma que
A direita brasileira demoniza os movimentos sociais. Acusa-o de violento, de
baderneiro, de fora da lei. Pretende com isso assustar a sociedade,
principalmente os setores da classe média, e ganhar o seu apoio. A direita
assusta-se quando o povo sai às ruas e utilizando os meios de comunicação
procura criminalizar os movimentos sociais e jogá-los contra a sociedade.
Notícias recentes mostram a resposta do Estado diante dos movimentos sociais,
uma delas é o saldo das Jornadas de Junho/2013 e da Copa/FIFA, foram centenas de
38
manifestantes indiciados por protestar e cerca de vinte pessoas mortas pela repressão. O
direito à liberdade de expressão e manifestação está sendo censurado.
No Rio de Janeiro, foram expedidos mandados de prisão preventiva contra a
ativista Elisa Quadros, a Sininho, e mais 22 manifestantes, acusados de associação
criminosa armada (O TEMPO, 2014). Sininho era uma das líderes dos manifestantes
contra a Copa, ela estava sendo monitorada pela Polícia Federal desde o ano passado.
Têm-se ainda outros casos de prisões arbitrárias como é o caso de Rafael Vieira, 25
anos, negro, morador de rua, foi condenado e cumpre 5 anos de prisão no Rio de Janeiro
por portar produtos de limpeza, e mais recentemente de Fábio Hideki em São Paulo,
preso sob acusação de “associação criminosa”.
O direito à manifestação é garantido constitucionalmente e conquistado com
muita luta pelos trabalhadores desse país está sendo violado, assim como ocorria no
período da Ditadura Militar no Brasil. Essas prisões se intensificaram no período da
Copa do Mundo, numa tentativa do governo de evitar a qualquer custo as manifestações
populares para preservar a imagem do país perante o exterior. Para isso o governo
investiu bilhões no esquema de segurança para a Copa.
A página da internet “Portal Popular da Copa e das Olimpíadas” em 13 de julho
de 2014, um dia após a grande final da Copa do Mundo, postou uma nota de repúdio as
prisões de militantes e ativistas populares. Em nota eles mencionaram o valor gasto com
o forte esquema de segurança para a Copa de 2014:
Neste domingo o mundo assentirá ao maior esquema de segurança que essa
cidade ou mesmo o país já viu, segundo palavras do próprio secretario de
segurança do Rio de Janeiro, José Maria Beltrame. Cerca de R$ 2 bilhões
foram gastos em armas e segurança para a Copa de 2014. Dos drones de
Israel (que hoje bombardeiam a Faixa de Gaza) à treinamento com a
Blackwater (empresa de mercenários dos EUA que atuou nas Guerras do
Iraque e Afeganistão) é indignante o legado da Copa de repressão e
intimidação contra a própria população brasileira. (Portal Popular da Copa e
das Olimpíadas, 2014)
O Estado têm se utilizado de diversas estratégias para a opressão e
criminalização dos movimentos sociais. A Frente Independente pela Memória, Verdade
e Justiça/FIMVJ-MG (2014) mostra a forma truculenta como os policiais reprimiram os
manifestantes na Copa:
A cidade foi transformada, mais uma vez, em praça de guerra e em território
de exceção – propriedade da FIFA e do capital. Repressão selvagem, revistas
truculentas indiscriminadas, espancamentos, balas de borracha a queima
roupa, gás de pimenta nos olhos de pessoas já contidas foram práticas
sistemáticas. Grande parte dos policiais, além de fortemente armados, portava
39
câmeras em seus capacetes – muitos deles não portavam identificação.
Vários jovens – pelo simples fato de serem jovens – foram revistados até
cinco vezes no mesmo dia e tiveram seus documentos fotografados pela
polícia. Em São Paulo, no dia 23/06/2014, a polícia deu início à verdadeira
caçada de manifestantes do Movimento Passe Livre, acirrando o processo de
criminalização do movimento (FIMVJ/MG, 2014).
Outro exemplo recente de repressão aos movimentos de jovens foi ao chamado
“rolêzinho”, uma reunião de jovens e adolescentes em shoppings que nasceu na
periferia de São Paulo, e se espalhou em todo o país. O objetivo dos jovens parece ser
somente diversão, eles querem se sentir incluídos e poder consumir, um valor que essa
sociedade tanto prega: o consumismo. A Justiça respondeu que os “rolêzinhos” não
poderiam mais acontecer nesses espaços de consumo. Ficando claro que o shopping é
público, mas é consenso que é reservado para jovens de alto poder aquisitivo, não para
os da periferia urbana. Beguoci (2014) explica a reação aos “rolêzinhos”:
Quando algo parece sair do escopo, a primeira reação das pessoas é apelar
para a força. No caso dos shoppings, para a Justiça e para a polícia. Sem
mediação, sem diálogo, sem acordo, sem entender minimamente o que ou
quem está acontecendo. Na dúvida, é suspeito. Os conflitos, as diferenças,
são resolvidos com base nas reações exageradas.
Foi isso que aconteceu com os “rolêzinhos”, os shoppings temendo arrastões,
furtos, entraram com um pedido na Justiça para proibir essas reuniões de jovens. Mas
entram alguns questionamentos: proibir que pessoas pobres entrem no shopping? Até
quantas pessoas podem entrar? Que aparência devem ter as pessoas que frequentam o
shopping? Houve decisões de juízes que foram favoráveis aos shoppings e também
aqueles que foram contrários, demonstrando que não havia critérios justificáveis para
proibir os “rolêzinhos”.
Vivemos um Estado democrático que reproduz os métodos da ditadura militar.
Esse Estado tem em sua essência a repressão, criminalização da juventude, dos pobres,
dos movimentos sociais. O fragmento abaixo mostra casos recentes de mortes pela
repressão:
A polícia que reprime manifestantes mata pobre todo dia. Aí estão três casos
recentes, que tiveram maior visibilidade: a auxiliar de limpeza Cláudia Silva Ferreira, 38 anos, morta por policiais do 9º BPM e arrastada por sua viatura
em Madureira-Rio de Janeiro, em 16/04/2014; o dançarino Douglas Rafael da
Silva Pereira (DG) e o menino Mateus, assassinados pela UPP do Morro
Pavão – Pavãozinho, Rio de Janeiro, em 22/04/2014 (FIMVJ/MG, 2014)
40
Alguns dos jovens entrevistados demonstram através de suas respostas um perfil
condizente com a ideologia neoconservadora, predominando valores como o
individualismo exacerbado, ao pensar que cada pessoa deve fazer sua parte sozinha em
qualquer situação. Essa postura é resultado de um país que criminaliza as manifestações
de opinião das pessoas. Por exemplo, um deles afirmou:
“Eu sabia por questão de mídia mesmo, assim, eu não, não, como eu falei
anteriormente eu não tinha muito interesse. Eu acho que minha parte eu posso fazer
começando por mim. Eu sei, eu tenho a consciência limpa do que eu faço entendeu?”
(Entrevistada 5)
Em outra fala transparece a falta de envolvimento do jovem com um
acontecimento tão importante e significativo na história do país. É evidente que o
processo de participação política no país nunca foi algo incitado na população, sendo
muito comum esse tipo de análise. Observe abaixo:
“Porque assim, eu não tava... tava muito por dentro de... dessas... eu vim ficar sabendo
depois que tinha acontecido aí por isso” (Entrevistado 2)
Nas falas acima transparece o não reconhecimento da coletividade como uma
alternativa de trazer melhorias para a população do país, a jovem acredita que pode
fazer sua parte isoladamente e contribuir para melhorar o país. Entretanto, é sabido que
as conquistas sociais só são alcançadas mediante as lutas coletivas. Essa visão é
totalmente influenciada pela ideologia dominante que procura evitar que a massa se una
e se organize para lutar contra o sistema. Sobre isso BARROCO (2011, p. 207) afirma:
O estímulo à vivência fragmentada centrada no presente (resumida ao aqui e ao agora, sem passado e sem futuro), ao individualismo exacerbado, num
contexto penetrado pela violência, dá origem a novas formas de
comportamento, que, segundo Chaui (2006, p. 324), buscam “algum controle
imaginário sobre o fluxo temporal”.
Uma das jovens que participou das jornadas de junho/2013 teve uma opinião
diferenciada em relação ao movimento. Ela afirmou que
“Então, por um bom tempo, ainda vai se dividir opiniões, que o que aconteceu,
das revoltas, dos protestos, teve o lado positivo e teve o lado negativo, mas pode ser
que muita gente ainda só analise o lado negativo, justamente por essa parte
ruim.”(Entrevistada 3).
41
A estudante coloca a violência como a “parte ruim” do movimento e justifica
que isso vai dividir opiniões, contudo não parece que ela enxerga o movimento de
forma negativa por isso. A reprodução do medo social é outra expressão da ideologia
dominante. “Quando o objeto do medo é tratado moralmente, torna-se sinônimo do
“mal”” (BARROCO, 2011, p. 211). Então aquilo que é reforçado pela moral dominante
prevalece como verdade, levando as pessoas acreditar que os manifestantes são
vândalos, criminosos e outros adjetivos pejorativos. A sociedade, desse modo, deixa de
apoiar as manifestações e passa a sentir medo delas.
Após observar a caracterização do movimento pelos jovens do IFRN – Campus
Cidade Alta, será feita uma discussão dos desdobramentos desse movimento para a
organização estudantil da referida instituição.
3.1 A HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL NO IFRN
Ao resgatar a história do movimento estudantil no IFRN, observa-se que ele tem
uma trajetória importante no movimento estudantil no Estado do Rio Grande do Norte.
A começar pelo nome dado à sua entidade maior, os estudantes do IFRN- Campus Natal
Central homenagearam Luiz Maranhão Filho colocando o seu nome no Diretório
Central dos Estudantes. Luiz Maranhão foi um deputado estadual, líder comunista,
sequestrado e assassinado pela Ditadura Militar em 1974. Já o Grêmio Estudantil do
IFRN – Campus Natal Central reverencia outro líder, Djalma Maranhão, irmão de Luiz
Maranhão, O primeiro presidente do Grêmio foi o estudante Walter Júnior (Blog Luta e
Resistência, 2013).
Fundado em Assembléia Geral um dia após a promulgação da Lei do Grêmio
Livre, em 1985, o Grêmio Estudantil Djalma Maranhão é uma homenagem
ao ex-prefeito de Natal que por sua administração em benefício da maioria
dos natalenses foi caçado e precisou refugiar-se no Uruguai, onde faleceu em
1971 (UJS Potiguar, 2010).
Nos dias 26 e 27 de novembro do ano de 1988, a APES - a Associação Potiguar
dos Estudantes Secundaristas (APES), fundada no ano de 1928 quando ocorreu a
primeira tentativa de organização dos estudantes no Rio Grande do Norte no Colégio
Atheneu, foi reorganizada na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (atual
IFRN). O slogan do Congresso era “Nossa força está na organização”.
Nesse sentido, o IFRN vem traçando sua história no movimento estudantil há
décadas, marcado por importantes conquistas. Em 2005 o Grêmio Estudantil Djalma
42
Maranhão alcança uma importante conquista para os estudantes de escolas públicas.
Através de sua reivindicação o Grêmio tornou o CEFET-RN (IFRN) uma das primeiras
instituições federais de ensino superior a adotar o sistema de reserva de vagas defendido
pelas entidades estudantis. Nessa instituição, 50% das vagas, por curso e por turno, são
destinadas aos egressos de escolas públicas. Estudantes do IFRN têm ocupado posições
importantes nas entidades estudantis:
Em agosto de 2011, em seu 15º Congresso, foi conduzido o estudante Whanderley Costa à presidência da UMES|Natal e, no mês de
novembro, o estudante Pedro Sérgio foi eleito presidente da
APES/RN. Ambos são estudantes do nível técnico do Instituto Federal
de Educação Tecnológica do RN. (Blog Luta e Resistência, 2013)
Ao pesquisar a realidade atual do movimento estudantil no IFRN, nota-se que
ele está passando por um momento de letargia, assim como o movimento estudantil de
forma geral. O movimento não conta mais com a força e o envolvimento dos estudantes,
isso resulta, em partes, das estratégias de desmobilização dos trabalhadores
protagonizada pelas estratégias neoliberais. E não é só o movimento estudantil que vive
esse momento, os movimentos sociais no contexto geral também sofrem dificuldades
para se fortalecer atualmente.
Com tudo isso, notou-se que ainda há ações que tentam reconstruir esse
movimento tão importante para os estudantes. Ao pesquisar notícias de alguns campi
específicos, foram encontradas algumas iniciativas de reconstrução desse movimento.
Por exemplo, no Vale do Assú aconteceu o I Seminário do Movimento Estudantil do
IFRN – Ipanguaçu no dia 20 de fevereiro de 2013. O evento contou com a participação
de Thiago Cavalcante, Vice-Presidente da UJS Potiguar (União da Juventude
Socialista).
Segundo Thiago Cavalcante, a avaliação do evento foi positiva, "vivemos em todo o estado um momento de renascimento do movimento estudantil, é de
forma lenta, como se acordasse de um sono profundo, mas está acontecendo.
Em breve esse movimento ganhará o vale inteiro", afirmou o líder socialista.
O evento é o primeiro de uma série de outras iniciativas a serem realizadas
para a "reconstrução e fortalecimento do movimento estudantil no instituto",
como garante o Professor Josó Roberto, um dos incentivadores dos
estudantes. (Cavalcante de Carnaubais, 2013)
O Grêmio Estudantil Djalma Maranhão está com 29 anos de história, mas,
segundo a UJS Potiguar (2010) com pouco a comemorar. A organização é lembrada por
diversas gerações por importantes ações, dentre elas, pela Revolta da Goroba, pela
resistência à invasão da PM na década de 90, pelos protestos contra o reajuste das tarifas
43
de transporte, dentre outros. Porém, hoje a UJS Potiguar afirma que a entidade vive do
mito criado em si, mas incapaz de envolver os estudantes e estimular a participação e o
protagonismo.
Leon Karlos presidiu o grêmio de 2004 a 2005 e confirma. Segundo ele “a cultura de participação histórica no IFRN perdeu força e as últimas gerações
não conhecem o potencial que possui o GEDM”. Ele acredita que existe uma
grande oportunidade para que o movimento estudantil se renove,
principalmente depois da realização do Encontro Nacional de Escolas
Técnicas da UBES (ENET). (UJS Potiguar, 2010)
O campus em que foi realizada esta pesquisa é caracterizado pela ausência de
organização estudantil, como já foi mencionado anteriormente. O campus Natal -
Cidade Alta foi inaugurado no ano de 2007 motivado pela iminência do centenário do
então CEFET-RN e pelo estado de abandono em que se encontrava o prédio, que data
do inicio do século XX.
O prédio em que funciona hoje o Campus Natal – Cidade Alta abrigou a Escola
de Aprendizes e Artífices, o Liceu Industrial e a Escola Industrial de Natal, que foram
os primórdios do que hoje é o IFRN. A direção geral do Centro Federal de Educação
Profissional e Tecnológica, com o apoio da sua comunidade acadêmica e de ex-alunos
da antiga Escola Industrial, reivindicou a reintegração de posse do edifício, que estava
nas mãos da UFRN. O Conselho Superior da UFRN aprovou a reintegração de posse do
prédio em novembro de 2007. (IFRN, 2014)
O campus oferece 05 cursos, sendo dois de nível superior: Tecnologia em
Gestão Desportiva e de Lazer e Tecnologia em Produção Cultural; e três cursos de nível
técnico: o Técnico Subsequente em Eventos, Técnico Subsequente em Guia de Turismo
e o Técnico de Nível Médio Integrado em Multimídia. Nenhum desses cursos conta
com entidade representativa estudantil dentro da instituição, mesmo os cursos ativos
desde a inauguração do campus. Os estudantes alegam que poucos têm interesse de se
reunir e se organizar em torno do movimento estudantil. Um dos jovens coloca a sua
frustração por ver que o seu curso ainda não conta com nenhuma organização estudantil,
e que as Jornadas de Junho/2013 não podem ser consideradas como uma forma de
incentivo à participação política dos jovens de uma maneira mais efetiva.
“Falando daqui do IF, muitos jovens aqui foram e a gente tem situações de cursos aqui,
como o meu curso, Gestão Desportiva e de Lazer, que já tentei por diversas vezes
mobilizar o grêmio, conversar com as pessoas, mas poucas pessoas tem interesse de
44
sentar, de conversar sobre política, de reivindicar realmente os seus direitos, então eu
não vejo isso como uma forma de, como eu poderia dizer... de politização pra
juventude, eu não vejo.” (Entrevistado 4)
3.2 OS DESDOBRAMENTOS DA PARTICIPAÇÃO PARA O MOVIMENTO
ESTUDANTIL NO IFRN
O campus do IFRN no qual foi realizada essa pesquisa é marcado pela ausência
de movimento estudantil, destacando que a inauguração do campus é recente, data do
ano de 2007. Desse modo, procurou-se investigar se a participação dos jovens nas
Jornadas de Junho/2013 teria trazido algum desdobramento para a participação no
movimento estudantil na referida escola.
Contudo, observou-se que a participação dos jovens no movimento não foi
expressiva, e que pouco contribuiu para a organização estudantil interna. Nesse sentido,
percebe-se que as Jornadas de Junho/2013 foram um movimento sem perspectiva de
continuidade e de organização, ao menos para repercussão interna no IFRN. Ele teve
grandes manifestações que depois se transformaram em iniciativas pontuais e
fragmentadas. No IFRN- Cidade Alta não houve reflexos desse movimento capazes de
dar continuidade a organização política estudantil na escola.
Nas entrevistas com os jovens, alguns afirmaram que o movimento teve pouca
ou nenhuma influência na participação política dos jovens. É tanto que até hoje ainda
não há nenhuma entidade representativa dos estudantes na escola. Outros jovens
acreditam que teve alguma influência sim, no sentido de, os jovens terem mais voz
dentro da instituição:
“Hoje você tem mais liberdade de dizer não eu concordo com isso, isso e isso. Antes
você não tinha. Antes você tinha que aceitar e pronto”. (Entrevistado 2)
Já outra estudante afirma que alguns jovens procuraram se aprofundar um pouco
mais sobre o movimento social, contudo, ela alega sobre a falta de conhecimento das
pessoas que estavam participando do movimento.
“[...]alguns se incentivaram e começaram a procurar, a entender um pouco, tinha
gente que nem sabia qual era a diferença entre um partido e outro, o que que eles se
45
embasavam, quais eram as intenções dos partidos. Então, eu acho que influenciou sim,
teve aquela influência temporária, então, mas também teve algumas pessoas que
atingiu um pouco mais profundo e a galera foi realmente pesquisar, ir mais atrás”.
(Entrevistado 3)
As opiniões foram bem diversificadas nesse ponto. Alguns dos jovens acreditam
que realmente não houve nenhuma influência do movimento para a participação política
dos jovens. Inclusive, foi recorrente nas falas de alguns deles se referir ao movimento
como “modinha”, algo temporário, passageiro.
“Tipo quem já é engajado há muito tempo você já percebe, cê sabe, agora eu acho que
influenciar de verdade não influenciou. Eu considero como uma modinha, poucas
pessoas levaram isso pra frente.”(Entrevistada 5)
Observando que a mídia tem forte influência na criminalização dos movimentos
sociais, o próximo e último capítulo trará uma análise mais apurada acerca do papel da
mídia na veiculação das Jornadas de Junho/2013. Neste capítulo será discutida a relação
entre a mídia e a violência fortemente citada pelos jovens entrevistados nessa pesquisa.
46
4. A MÍDIA E A VIOLÊNCIA NAS JORNADAS DE JUNHO/2013: UMA
RELAÇÃO IDEOLÓGICA
Este capítulo trará uma análise acerca do papel da mídia na transmissão das
informações sobre as Jornadas de Junho/2013 e a influência que ela exerce sobre a
sociedade através de sua posição ideológica. Além disso, o capítulo abordará a fala dos
estudantes sobre a violência, um elemento fortemente citado pelos entrevistados.
A mídia aqui é entendida como o conjunto dos meios de comunicação de massa
que estão concentrados sob o poder da classe dominante. Antes de qualquer coisa, é
preciso contextualizar a posição que a grande mídia brasileira ocupa na transmissão dos
movimentos sociais. O objetivo da mídia é criminalizar os movimentos sociais perante a
sociedade para que esta veja a ação dos movimentos sociais com a percepção da
ideologia oculta na transmissão das informações. Segundo Volanín (s/d, p.1):
Os meios de comunicação de massa, sob o domínio das classes dominantes,
transmitem com sua força de opressão ideológica à sociedade, que as
organizações sociais são movimentos que desagregam o sistema social,
político e econômico do país.
Desse modo, a sociedade passa a enxergar os movimentos sociais de forma
negativa, como algo que perturba a ordem social. Os manifestantes são taxados de
vândalos, desordeiros, vagabundos, quando na verdade apenas buscam mais justiça
social em diversas questões. O que acontece é que os meios de comunicação de massa
pertencem àqueles que concentram o poder político e econômico em suas mãos, sendo
assim, os interesses dos movimentos sociais não são contemplados pelos interesses dos
que detêm o poder, pois os movimentos surgem das reivindicações dos segmentos da
sociedade que de alguma forma se sentem injustiçados. Diante de interesses opostos, a
tendência é que a classe dominante busque estratégias para manter sua hegemonia.
Uma das estratégias que a classe dominante dispõe para impor sua ideologia é o
que Gramsci denominou de consenso, o qual tem o poder de convencer a sociedade
sobre determinada ideia. Nesse caso, através da mídia, a criminalização dos movimentos
sociais é incorporada pela sociedade.
Ou seja, o convencimento da ideologia, aqui através da mídia, levando-a a ser
incorporada pela própria sociedade, em que tanto as ações da criminalização
têm impacto no cotidiano do movimento e nas pessoas dele pertencentes.
(VOLANÍN, s/d, p.4)
47
A partir desses conceitos é possível compreender como se deu a relação da mídia
com as Jornadas de Junho/2013, que inicialmente foi de forte repressão ao movimento.
Inicialmente é importante ressaltar a relevância das redes sociais como ferramenta de
mobilização nas manifestações, sendo um veículo midiático mais democratizado, em
que todos têm liberdade para propagar suas ideias. As redes sociais foram a ferramenta
destacada na pesquisa como a que mais influenciou a participação dos jovens, embora a
formação política deles tenha sido um elemento fundamental. Elas foram utilizadas
como forma de mobilização das manifestações. Um dos entrevistados ao responder
sobre qual o meio que mais o influenciou a participar do movimento, afirmou: “na
verdade minha formação política” (Entrevistado 5)
Mas, apesar disso ele acrescentou que também teve a influência das redes
sociais, assim como outros jovens também as citaram como fator que estimulou a
participação ou como meio de acompanhar as manifestações.
“Eu não digo que não tenha me deixado influenciar pelo que aconteceu na rede, nas
redes sociais, primeiramente.” (Entrevistado 5)
Do mesmo modo que as redes sociais influenciaram fortemente a participação
dos jovens nos protestos, elas também foram um dos principais meios de acompanhar o
movimento. Outros tipos de mídia também foram citados como forma de acompanhar o
movimento, sobretudo a televisiva. O acompanhamento através de mídia impressa foi
citado em menor proporção. Sobre isso retomando a fala da entrevistada 4,
“O que passava principalmente internet e redes sociais, era a minha forma de
acompanhar, eu não tinha muito tempo pra assistir TV, tipo ler jornal não leio, então o
que saia muito na internet era o que eu sabia”.
Outro fato que se destacou foi a divergência entre as informações da mídia
tradicional e das redes sociais. Enquanto a mídia tradicional veiculava o vandalismo, a
violência, as redes sociais serviam para mobilizar os manifestantes e receber o apoio da
sociedade. Umas das entrevistadas mencionou essa diferença:
“[...] comecei a ver as movimentações através da internet e via que a mídia era ao
contrário. E como também eu faço jornalismo, eu não estava concordando com aquilo
que estava sendo repassado, divulgado, e foi a minha maneira realmente de participar
do processo, usando mais a internet.” (Entrevistada 3)
48
Os jovens que participaram das Jornadas de Junho/2013 demonstram ter
acompanhado o movimento a nível nacional de uma forma mais direta,
consequentemente têm uma opinião mais crítica e apurada sobre o assunto. Já os não
participantes mencionaram, em sua maioria, que acompanharam o movimento através
do que era veiculado pela mídia. Vejam a seguir a opinião do entrevistado 5 sobre sua
forma de acompanhar o movimento:
“[...] sim, acompanhei, é a mesma avaliação que eu faço né, daqui, de Brasília, de
Recife, de João Pessoa. Não é, você vê que em todos esses territórios houve uma
grande manifestação, mas hoje, assim, as pessoas pararam com esse movimento e
reiterando, dizer que mantém a manifestação, mas dentro de um ambiente fechado, né,
a grande maioria”. (Entrevistado 5)
O que transparece na fala desse jovem é que ele realmente tem conhecimento
sobre a forma como o movimento aconteceu nas outras cidades, inclusive, ele cita o
nome de algumas capitais. É nítido também, que nesse ponto ele já trata do
enfraquecimento do movimento, no momento em que cessam as grandes manifestações
em massa, e as pessoas voltam aos seus lugares para protestar isoladamente. Retomando
a fala do entrevistado 5, a nova forma das pessoas protestarem passa a ser pelo
facebook:
“Assim, o movimento, as pessoas continuam reivindicando nos seus lugares, dentro das
suas casas, no seu facebook, as coisas voltam como antes e o sistema continua como
sempre foi”.
A mídia foi o principal meio responsável por veicular uma imagem negativa dos
movimentos em junho/2013. Eles levavam as pessoas a acreditarem que os
manifestantes eram vândalos e estavam ali somente para destruir o patrimônio. É de
total interesse dos proprietários dos meios de comunicação esconder o real intuito dos
protestos, assim a sociedade voltaria a funcionar em sua normalidade sem maiores
questionamentos sobre a ordem estabelecida.
Sendo a grande mídia uma das principais ferramentas da classe dominante para
disseminar suas ideias, para Sales e Ruiz (2011, p.270 apud RONDELLI 2000, p. 154)
“A mídia, na sua condição de macrotestemunha privilegiada, passa a ser ator social
importante dos fatos, no ato de expô-los para além dos estreitos limites onde
49
efetivamente aconteceram [...]”. Essa afirmação leva a entender que a mídia passa a
informação da maneira que mais lhe convém, de acordo com os interesses de quem quer
manipular a massa e não como acontece na realidade. No caso das Jornadas de
Junho/2013, foi mais conveniente reduzir os protestos ocorridos a vandalismo e
violência que perturbavam a ordem da sociedade, numa tentativa de deturpar a imagem
do movimento e fazê-lo cessar. Para Sales e Ruiz (2011, p. 55)
[...] a verdade transparente que habitaria, de acordo com o ideal liberal
clássico, o coração das notícias não existe, porque a prática jornalística, ao
narrar acontecimentos, realiza sempre uma seleção e associação de dados e
imagens, além de propor modelos de comportamento e de entendimento da
realidade.
Na verdade o movimento era muito mais que meramente vandalismo, ele
significava o grito de um povo que já está cansado de ver cada vez mais a regressão e a
negação dos seus direitos. Desse modo, é assim que a massa passa a enxergar o
movimento, a partir do que é veiculado pela mídia, e ela não noticia os acontecimentos
de forma imparcial. Observe a fala dessa estudante:
“Sim, acompanhei por televisão, no jornal, jornal impresso, revista, saiu em todo canto
né, então a gente fica sempre curioso querendo acompanhar e até mesmo pra entender
né, o quê que tá acontecendo, porque em cada, cada tumulto acontecia, que na maioria
das vezes eram tumultos né. Aconteceram problemas (pausa) bem complicados, e aí a
gente tá sempre por dentro, atualizado (risos)”. (Entrevistada 1)
Ao falar sobre o que acompanhou na mídia a jovem se refere ao movimento
como “tumultos” e “problemas bem complicados”, levando a entender que o que ela
acompanhou sobre o movimento o reduziu a “tumultos”, esvaziando o conteúdo
político do movimento e o seu real intuito, que era de reduzir o preço das passagens e
conquistar melhores condições de vida no campo da educação e saúde por exemplo.
O que muitas vezes não percebemos é que existe uma seleção prévia dos
aspectos da realidade e que são apresentados a partir de um ponto de vista
que serve a determinados interesses. (VOLANÍN, s/d, p. 8)
A influência da mídia agiu fortemente na massificação da ideologia dominante
que disseminava que os protestos eram apenas vandalismo. Dessa forma, a maioria das
pessoas passou a acreditar que protestar é algo errado e quem o faz são baderneiros,
como infelizmente são vistos os movimentos sociais na sociedade. Assim, o que se
propaga é que cada indivíduo deve fazer sua parte sozinho, votando, por exemplo, e
50
assim a sociedade funcionará melhor. É isso que a classe dominante almeja, pessoas
conformadas que não reclamam e nem exigem seus direitos, um povo que seja massa de
manobra e não se organize coletivamente. Sales e Ruiz (2011, p. 266) referem:
Entretanto, os canais midiáticos não podem e nem devem ser considerados como imparciais e isentos de valores, posto que, ao mesmo tempo que
influenciam na consolidação de valores e padrões de comportamento,
também são influenciados pelos mesmos em suas estruturas e produções. No
Brasil, assim como em grande parte do mundo, os canais que veiculam a
comunicação e a informação encontram-se concentrados, em sua maioria, nas
mãos de uma pequena parcela da população, aqueles que compõem a classe
mais abastada da sociedade, ou seja, os detentores da maior parte da renda
produzida, de acordo com a lógica capitalista.
Assim, é importante considerar a mídia como um espaço de correlação de forças
entre as classes. A comunicação está concentrada nas mãos da classe dominante, eles a
utilizam para disseminar a ideologia dominante e consolidar os valores inerentes à
sociedade capitalista. Esse espaço de disputa tende a ser cooptado pela classe
dominante, assim:
Chauí coloca a ideologia como um meio de dar aos membros de uma
sociedade dividida em classes numa explicação racional para as diferenças
sociais, econômicas, políticas, culturais e outras, sem jamais atribuir tais
diferenças à divisão da sociedade em classes. (VOLANÍN, s/d, p. 6)
Dessa forma, as diferenças sociais passam a ser naturalizadas pelas pessoas, de
modo que ninguém questiona a ordem pré-estabelecida.
A questão da violência ficou marcada como o foco principal dessas
manifestações em junho/2013. Os estudantes entrevistados que não participaram
colocam com muita veemência os motivos pelos quais não participaram do movimento,
justificando a violência como motivo principal. O discurso da entrevistada 1 mostra
isso:
“Outra coisa, tiveram, sempre tem um motivo ou outro que faz você, né, desistir de uma
viagem, mas o principal era essa questão da violência.”
Outra justificativa pela não participação no movimento que chama bastante
atenção é a da entrevistada 4, ela afirmou
“[...] a gente aqui morador de Natal viu mesmo, que como eu disse tava fugindo do
ideal, ‘tava’ tendo vandalismo, ‘tavam’ saqueando. Então, tipo assim, eu acho que não
é certo você protestar contra algo acabando com patrimônios públicos ou privados né.
51
Então eu não, por não concordar com a maioria dos acontecimentos dos protestos eu
não, acabei não participando de nenhum.”
Na resposta dessa jovem ao ser questionada sobre sua participação no
movimento, está presente uma ideologia extremamente conservadora, ela não somente
não participou, ela explicitamente não concorda com os protestos. Isso mostra o quanto
a mídia influencia as pessoas quando mostra somente aquilo que é conveniente para a
classe dominante: a violência. Ela ainda acrescenta
Eu acho que, tipo, o maior protesto que a gente pode fazer é na hora de votar
entendeu? E outra coisa que eu não concordo é que se você fosse pegar o perfil das
pessoas que frequentavam esses manifestos, a maioria não condizia entendeu, ia
protestar mas na prática era totalmente diferente, ia protestar mas sonega imposto, ia
protestar mas rouba, ia protestar mas já matou [...] (Entrevistada 4)
Percebe-se nesse discurso uma forte influência dos valores que predominam na
sociedade capitalista atual, em que cada vez mais o individualismo faz as pessoas
pensarem que cada um pode fazer a sua parte de forma isolada, ceifando as
possibilidades de organização coletiva. Além disso, essa ideologia culpabiliza os
sujeitos como únicos responsáveis pela sua situação de vida, como se o Estado não
precisasse intervir nas questões sociais e o sucesso ou fracasso de um indivíduo só
dependesse de si mesmo. Bazzanella (2014, s/p) afirma que
Os protestos de rua, analisados sob esta perspectiva, apresentam-se como
movimentos de massas de indivíduos, e/ou de uma população que, em sua
difusa pauta de reivindicação, expressava como fio condutor de fundo a
ansiedade, o desejo de mais Estado em suas vidas.
Ou seja, a população anseia que o Estado intervenha nos problemas sociais e
melhore a vida da população. Tonet (2009, p.16) afirma que a predominância dos
valores individualistas acontece devido à crise do capital, citada no primeiro capítulo
deste trabalho. Sobre isso ele refere que
O que aguça, então, a luta de todos contra todos, o individualismo levado às
últimas consequências, é a crise do capital e a consequente guerra de todos
contra todos na disputa pela riqueza. O fracasso das tentativas de mudar o
mundo através de esforços coletivos, centrado nas revoluções que se
pretendiam socialistas, agravou enormemente essa convicção individualista.
Como já não se visualizam soluções coletivas, é levada ao paroxismo a ideia
de que a solução dos problemas é individual, de que o sucesso ou fracasso na
vida dependem dos próprios indivíduos, considerados isoladamente.
52
Já os participantes do movimento colocam a violência como um elemento
secundário à discussão do movimento, dando mais importância ao conteúdo político das
manifestações. O entrevistado 5 ao falar sobre sua participação nos protestos afirmou
“[...] participei, por achar um momento importante na transformação brasileira, uma
vez que nós tivemos esse movimento há muito tempo atrás né, na época das diretas já e
a gente viu o avanço significativo”.
Nessa fala percebe-se que o jovem destaca como principal a importância do
movimento para a sociedade brasileira, e não a discussão sobre a violência ocorrida nos
protestos. Adiante se verá que a violência foi um elemento fortemente presente no
discurso dos estudantes entrevistados.
Os estudantes entrevistados que participaram das Jornadas de Junho/2013
avaliam de forma positiva o ato de terem protestado, pois acreditam que reivindicar seus
direitos, exercer a democracia e cidadania, questionar a ordem vigente é uma atitude
correta e justa. É evidente nas falas dos jovens a crítica às pessoas apáticas ou que
participaram do movimento sem ter propósito, estavam lá apenas fazendo baderna. A
fala dessa jovem sobre sua avaliação da participação no movimento exemplifica o que
está querendo se explicar
“[...] eu acho que eu fui ativa, tem algumas pessoas que diante do que tava
acontecendo, das diferenças, do descaso do governo, ficavam a par. E quando iam
participar, participavam daquela maneira: achava que era festa, achava que era só pra
badernar, aí eu não, eu procurei a fundo, eu procurei a plenária”. (Entrevistada 3)
Em sua fala a entrevistada critica as pessoas que ficaram apáticas ao movimento
e também àquelas que participavam de forma desqualificada. O entrevistado 5 afirma
“Mas, era perceptivo também nas caminhadas, nas jornadas, muitas das pessoas que lá
estavam, de ir apenas, e não sabiam nem porque que estavam lá[...]”
Foi frequente nas falas dos jovens participantes do movimento apontar a
participação de pessoas de forma desqualificada e esvaziada politicamente. Quando os
participantes se referem ao movimento demonstram orgulho de ter participado do
movimento em que o Brasil saiu do estado de completa apatia às injustiças sociais que
vinha predominando há décadas.
53
A ideologia dominante exerce uma função ativa no enfrentamento das tensões
sociais, para manter a ordem social em momentos de explicitação das
contradições sociais e das lutas de classe. Numa sociedade de raízes culturais
conservadoras e autoritárias como a brasileira (Chaui, 2000), a violência é
naturalizada; tende a ser despolitizada, individualizada, tratada em função de
suas consequências e abstraída de suas determinações sociais. A ideologia neo-
liberal — veiculada pela mídia, em certos meios de comunicação como o rádio,
a TV, a internet e revistas de grande circulação — falseia a história, naturaliza a desigualdade, moraliza a “questão social”, incita o apoio da população a
práticas fascistas: o uso da força, a pena de morte, o armamento, os
linchamentos, a xenofobia. (BARROCO, 2011, p. 208)
A violência se sobressai como o principal fator citado para que os jovens não
tenham participado do movimento. E em todas as entrevistas ela aparece como um
ponto negativo.
“[...] o que ficou de ruim, a única coisa que ficou de ruim pra mim era o fato, foi o fato
da violência, essa questão da violência foi muito ruim, marcou bastante, com certeza
afastou um bocado de gente e eu fui uma delas, mas eu acho que teve mais coisas
positivas do que negativas”. (Entrevistada 1)
Entretanto é preciso fazer uma ponderação no que diz respeito à violência no
movimento. Eram bombardeadas diversas notícias diariamente pela mídia para tentar
omitir o seu real caráter, o que era mostrado era apenas que ali estavam milhares de
vândalos destruindo o patrimônio público e privado. A resposta do Estado foi a forte
repressão policial contra os manifestantes. Desse modo, as pessoas que viam o
movimento de fora não estavam recebendo informações imparciais, a mídia seleciona as
imagens, vídeos de modo a favorecer o seu posicionamento, que era contra as
manifestações populares.
Não se pode falar em violência nas Jornadas de Junho sem citar os black blocs,
um grupo de pessoas vestidas de preto e encapuzadas que iam aos protestos para
realmente depredar os patrimônios públicos e privados. Eles realmente protagonizaram
as cenas de violência nos protestos, para eles isso tem um significado político.
Os black blocs são um dos elementos mais polarizadores da série de protestos
que desde meados do ano acontecem no Brasil. Têm como ideologia
questionar a ordem vigente – opõem-se ao capitalismo e a globalização. Sua principal arma é promover o dano material, e seus alvos costumam ser
bancos, empresas, e sedes de instituições públicas. (CAULYT, 2013, s/p)
54
Um dos estudantes parece conhecer a ideologia dos black blocks quando fala
sobre as diferentes formas de protestar das pessoas, ele afirma que há pessoas que
quebram os patrimônios como forma de questionar a ordem vigente.
“Já outros vêem nesse momento, um momento de rebeldia, de transgressão da ordem,
de quebrar com os conceitos de quebrar com o que há em sua frente também, como
quem diz ‘se eu quebrar o patrimônio público, eu to quebrando também o que eu tenho
contra o sistema, contra o governo que tá me saqueando’”. (Entrevistado 4)
Na fala anterior o jovem reconhece que os black blocs tem essa postura violenta
como convicção. Abaixo segue uma definição melhor do que é esse grupo:
Os black blocs não agridem pessoas, mas símbolos do poder. Eles não se
consideram violentos porque entendem que um objeto não é vítima de
violência. Para eles, violenta é a polícia, que agride os manifestantes e, ao
mesmo tempo, protege o patrimônio dos bancos, afirma o cientista político
Pedro Fassoni Arruda, especialista em movimentos sociais da PUC-SP.
(CAULYT, 2013, s/p)
Os black blocs foram os principais responsáveis para que o movimento como um
todo fosse visto como baderna, o que também acarretou a rejeição de muitos segmentos
da sociedade.
Observo uma reação contra os black blocs. Isso cria uma reação muito
negativa por parte da população civil. Em vez de estimular mudanças sociais,
os black blocs podem estar estimulando o ódio e a contrariedade por parte de
alguns”, afirma o cientista político David Fleischer, da Universidade de
Brasília (UnB). “Eles estão perdendo a legitimidade e a simpatia junto à
população. (CAULYT, 2013, s/p)
Tudo isso leva a refletir sobre o quanto a sociedade é bombardeada diariamente
pela mídia, que através de suas estratégias, consegue convencer as pessoas das suas
ideias de acordo com os interesses da classe dominante. É preciso uma reflexão ao ver
essas informações, todas elas têm uma ideologia oculta. Além disso, vale refletir sobre
quem está sendo violento, se são os manifestantes ou a polícia que age com truculência
contra a população que participa dos protestos.
55
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em vista dos argumentos apresentados, puderam-se pontuar algumas conclusões
importantes, ainda que provisórias do ponto de vista do aprofundamento. Primeiro, que
as manifestações de junho/13 têm uma mensagem a deixar, elas não aconteceram de
forma aleatória. Essas mobilizações denunciam problemas concretos que a sociedade
brasileira vivencia no seu cotidiano, que envolve desde o direito a ter um transporte
coletivo de qualidade e com preço justo, que foi o “pontapé” para iniciar o movimento,
até ter o direito à saúde, educação, segurança e cultura garantidos. Foram muitas as
reivindicações apresentadas no movimento, e apesar do seu ineditismo, por não
apresentar uma pauta definida de lutas e ter um novo formato, esse movimento exige
respostas concretas para problemas concretos e históricos.
Outro aspecto que merece destaque é a questão das organizações políticas atuais:
os partidos, sindicatos, movimentos tradicionais e suas estratégias não estão dando mais
conta de responder as demandas da população, e, além disso, suas formas de
organização não atraem e nem estão sendo capazes de reunir todos os setores da
sociedade, e protagonizar ações como as mobilizações de junho/13 fizeram e mesmo
que venham a ter consequências políticas organizativas de base desde então. Talvez seja
o momento dessas entidades repensarem suas estratégias de organização para torna-las
mais efetivas.
O primeiro capítulo deste trabalho nos faz refletir sobre o que desencadeia as
mobilizações sociais por todo o mundo, a conjuntura de crise do capitalismo, que gera
consequências na vida das pessoas, ainda que as pessoas não saibam que a raiz desses
problemas se encontra no sistema capitalista. Essas consequências abrangem a
precarização do trabalho, desemprego, miséria, carestia, que atingem diretamente os
trabalhadores. A partir da insatisfação diante das condições de vida é que surgem os
movimentos populares. No entanto, o capitalismo dispõe de um aparato de estratégias
para desmobilizar a classe trabalhadora. As estratégias vão desde o enraizamento de
valores como o individualismo na sociedade, até a própria repressão aos movimentos
sociais. No Brasil, a participação política das massas sempre foi prejudicada,
principalmente durante a ditadura militar, contudo, irromperam os movimentos urbanos,
sindicais, rurais, todos na tentativa de redemocratizar o país e melhorar as condições de
vida da coletividade que eram precárias. Há também o surgimento dos novos
56
movimentos sociais que reivindicam pautas complementares às lutas de classes, por
questões de gênero, raça, sexualidade, etc. Porém, estes não conseguem se articular a
luta contra o capitalismo. As entidades tradicionais, no momento atual, não tem mais
força política de articular um movimento geral no país.
Eis que surgem as novas formas de organização, a exemplo das Jornadas de
Junho/2013 e, no mundo todo irrompem movimentos com novas características, que
rejeitam as estruturas políticas tradicionais, são protagonizados por jovens, negam a
existência de lideranças, utilizam redes sociais como ferramenta de mobilização. Essas e
outras características configuram o novo modelo de organização encontrado pelos
jovens para expor as suas demandas. Embora haja interrogações a respeito do objetivo
desses movimentos, há a certeza de que o que os une é o sentimento geral de
descontentamento com o sistema vigente, e não há apenas um único objetivo o qual
perseguem.
Já o segundo capítulo nos traz dados que apontam uma tendência à passividade
dos estudantes entrevistados do IFRN - Campus Natal- Cidade Alta em relação às
Jornadas de Junho/13, a participação destes foi pouco expressiva no movimento. Mas,
há que se considerar que a própria sociedade atual não está configurada de modo a
incentivar o protagonismo das pessoas na política, e sim o contrário, está para
desmobilizá-las através do culto ao individualismo da ideologia neoconservadora. Os
jovens apontaram que as jornadas tiveram pouca ou nenhuma influência na
continuidade da participação dos jovens em entidades políticas. Por outro lado, em sua
maioria, reconhecem a importância do movimento no sentido de trazer melhorias para o
país, porém, justificam a não participação pela violência existente no movimento. Isso
mostra o quanto a ideologia neoconservadora criminaliza os movimentos, os reduzindo
a atos de violência, quando na verdade estes apresentam reivindicações para atenção à
necessidades concretas. A forte criminalização se fez presente nos movimentos
subsequentes: contra a copa, “rolêzinho”, “black blocs”. Inclusive, muitos manifestantes
foram presos políticos.
Os jovens colocaram a descontinuidade e a participação desqualificada como
pontos negativos nas mobilizações. Apesar de o IFRN ter um histórico ativo no
movimento estudantil do Estado, os dados mostram que atualmente a instituição vive
57
um momento de pouca expressão nas lutas estudantis, com a ressalva de que o campus
pesquisado é relativamente novo e contribui para esse quadro.
A principal aprendizagem do terceiro e último capítulo refere-se a o quanto a
ideologia conservadora se manifesta através da mídia, na transmissão das informações
sobre os movimentos sociais. As informações são carregadas de um cunho
neoconservador e criminalizador. E isso tem total responsabilidade na formação da
opinião de jovens que afirmam não participar do movimento devido à violência, como
se esse fosse o principal foco das manifestações.
Esse movimento foi importante também para profissão de Serviço Social. A
categoria defende e luta cotidianamente pela emancipação da classe trabalhadora. A
própria Lei nº 8662/93, que regulamenta a profissão, coloca no Art. 4º que é
competência do Assistente Social “IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos
sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos
civis, políticos e sociais da coletividade;”. E o Código de Ética do Serviço Social,
importante pilar do Projeto Ético-Político, afirma no Art. 13 que é dever do Assistente
Social “c- respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das
classes trabalhadoras.” Os princípios fundamentais do referido Código defendem a
liberdade, democracia, cidadania, equidade, justiça social, valores que se concretizam
ao ver a classe trabalhadora reivindicando seus direitos.
Diante disso, as Jornadas de Junho representaram para o Serviço Social, a
materialização de uma tomada de consciência da classe trabalhadora de que é necessário
se mobilizar para obter conquistas no campo social, político, econômico. Essas lutas
foram muito importantes para o avanço das políticas sociais, campo de intervenção
profissional do Assistente Social no trato com as expressões da questão social nos
diversos espaços sócio ocupacionais em que este está inserido.
Desse modo, o projeto ético-político do Serviço Social se fortalece e avança
junto às massas. Entretanto, a questão de descontinuidade do movimento é um elemento
importante nessa análise, pois, realizar uma mobilização social sem que esta tenha um
mínimo de organização para garantir uma perspectiva de continuidade não viabiliza um
avanço mais concreto nas conquistas sociais. A mídia não democratizada é outro
elemento importante a se considerar, visto que manipula as informações e contribui para
a criminalização dos movimentos.
58
Portanto, pudemos compreender a importância desses movimentos para a
sociedade sob a perspectiva de parte dos estudantes inseridos no IFRN- Campus Natal –
Cidade Alta, assim como, conhecer em que patamar está a participação política destes.
Assim, essa pesquisa contribuiu não só para o Serviço Social da instituição, como
também para tantos outros campos do fazer profissional que lidam com os movimentos
sociais e com a política de educação. Foi uma forma de se aprofundar da direção
política dos seus usuários, podendo-se a partir disso elaborar intervenções que venham a
fomentar a participação política nos espaços de tomada de decisão de forma a tornar os
sujeitos agentes de sua própria transformação social no caminho da emancipação
humana.
59
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2013.
62
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DA ENTREVISTA
1. Você participou das manifestações ocorridas no Brasil no ano de 2013,
denominadas “Jornadas de Junho”?
( ) Sim ( ) Não. Justifique
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2. Como você avalia essa participação?
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3. Qual foi o meio que mais te influenciou a participar? Justifique.
( )Internet ( )Bairro ( )Escola ( ) Grande mídia ( )Outro
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4. Você acompanhou o movimento que ocorria a nível nacional?
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5. Você acompanhou as lutas que ocorriam a nível internacional?
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6. Você acha que essas jornadas influenciaram ou mudaram a participação dos
jovens nas escolas/grêmios ou mesmo em partidos políticos?
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7. O que ficou de positivo e/ou de negativo dessa experiência para você e também para
o Brasil?
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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Esclarecimentos
Este é um convite para você participar da pesquisa “A Participação Dos Estudantes
Do Ifrn – Campus Natal -Cidade Alta Nas Jornadas De Junho/ 2013” que é
coordenada por Hérvila Gabriela Tavares de Medeiros.
Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer
momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou
penalidade.
Essa pesquisa procura conhecer o nível de politização dos estudantes do IFRN Campus
Natal - Cidade Alta e analisar a repercussão da participação dos estudantes nas jornadas
de junho na vida deles e no meio escolar. Portanto, a investigação que se pretende
concretizar surgiu a partir da minha inserção no estágio no Instituto Federal de
Educação, Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Campus Natal -
Cidade Alta. A partir do processo de observação e análise percebi a necessidade de
organização política dos estudantes por eles não terem nenhuma entidade interna
(Grêmio Estudantil, Centro Acadêmico). Desse modo planejei minha intervenção no
sentido de fomentar a participação política dos estudantes. Nessa pesquisa, faremos uma
análise da participação dos jovens estudantes nesses movimentos ocorridos no contexto
local e também de abrangência nacional. Caso decida aceitar o convite, você será
submetido(a) ao(s) seguinte(s) procedimentos: entrevistas semiestruturadas gravadas e
que serão transcritas. Não havendo essa possibilidade poderão ser feitas entrevistas sem
gravações ou aplicação de questionários.
Os riscos envolvidos com sua participação são: Não há riscos físicos relacionados à
participação neste estudo, uma vez que não haverá nenhuma intervenção que possa
trazer danos à saúde, nem utilização de nenhuma substância físico-química nos
participantes do mesmo.
64
Os únicos riscos que poderiam porventura acontecer se restringem a constrangimento
em relação a alguma pergunta efetuada. Nesse caso, o entrevistado deve exercer o pleno
direito de não respondê-la.
Ainda assim, se no período de ocorrência desta pesquisa, algum indivíduo pesquisado
apresentar algum transtorno de ordem psicológica, o(a) pesquisador(a) assume o
compromisso de encaminhá-lo para atendimento na Clínica de Psicologia da UFRN.
Você terá os seguintes benefícios ao participar da pesquisa: Contribuir para o Serviço
Social da instituição e de outros campos de trabalho do Assistente Social a se
aprofundar na participação política dos seus usuários em movimentos sociais, podendo
assim posteriormente receber um atendimento de profissionais mais qualificados em
relação ao tema e que possam contribuir para a organização política da população.
Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em
nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos
resultados será feita de forma a não identificar os voluntários.
Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será
ressarcido, caso solicite.
Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta
pesquisa, você terá direito a indenização.
Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta
pesquisa, poderá perguntar diretamente para Hérvila Gabriela Tavares de Medeiros,
no endereço Rua Alagoas, Neópolis, 127. Natal-RN ou pelo telefone (84) 9604-1718.
Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética
em Pesquisa da UFRN, CEP HUOL no endereço Hospital Universitário Onofre Lopes,
Av. Nilo Peçanha, 620, Petrópolis - Natal/RN CEP 59.012-300 Fone: (84) 3342-5003
Consentimento Livre e Esclarecido
Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e
benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa A
Participação Dos Estudantes Do Ifrn – Campus Natal -Cidade Alta Nas Jornadas
De Junho/ 2013. ”
Participante da pesquisa:
_____________________________________________________
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Pesquisador responsável:
_____________________________________________________
Hérvila Gabriela Tavares de Medeiros
Endereço Profissional: Caixa Postal 1524 - Campus Universitário Lagoa Nova, CEP
59078-970 Natal/RN Brasil
Fone: +55 84 3215.3883
Comitê de ética e Pesquisa Hospital Universitário Onofre Lopes, CEP HUOL
Av. Nilo Peçanha, 620, Petrópolis - Natal/RN CEP 59.012-300 Fone: (84) 3342-5003