UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE QUÍMICA
GRADUAÇÃO EM QUÍMICA INDUSTRIAL
PEDRO HENRIQUE DE SOUZA BORGES
SÍNTESE ELETROQUÍMICA DE NANOCOMPÓSITOS DO TIPO
HEXACIANOFERRATO DE PRATA/ÓXIDO DE GRAFENO REDUZIDO VISANDO
À APLICAÇÃO EM SENSORES
UBERLÂNDIA
2017
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus que me concedeu o dom da vida e conhecimento
para percorrê-la com vigor;
Aos meus pais, Eduardo e Maria Terezinha, que me apoiaram durante
toda vida e me ensinaram os preceitos que levo e levarei adiante, até que não possa mais;
Ao meu irmão Eduardo Filho, meus avós paternos Saulo (in memoriam)
e Simone, Divino (in memoriam) e Estelita e meus sobrinhos Vito e Arthur;
À minha namorada e fiel companheira Bruna que me conforta e me guia
ao caminho do êxito;
Ao meu orientador Edson por me aceitar e orientar, além da clareza e
paciência nos momentos de ensino;
À companheira de laboratório Laiz que me ajudou em todos os
momentos, nunca negando tal pedido seja dentro, seja fora do recinto de trabalho;
Aos demais companheiros de laboratório Denise, Mônica, Juliane,
Fernanda, Bruna Gabrielle, Murillo, Diego, Samuel, Thiago e Pedro Henrique por terem me
acolhido de braços abertos e me ajudarem sempre que necessário;
À todos os meus amigos por estarem sempre presentes;
À minha equipe Uberlândia Rugby por me ensinar os valores desse
esporte fenomenal e me apoiar dentro e fora dos gramados;
À 3ª turma de Química Industrial da UFU, a melhor de todas.
“Seguir em frente é simples, difícil é o que deixamos para trás.”
Dave Mustaine
RESUMO
Neste trabalho foram sintetizados filmes finos de óxido de grafeno reduzido (OGr)
modificados com hexacianoferrato de prata (HCFAg) sobre um eletrodo de carbono vítreo
(CV) e posterior avaliação de seu desempenho frente a oxidação de paracetamol (PA). A
síntese foi realizada a partir da eletrorredução de uma dispersão aquosa de óxido de grafeno
contendo AgNO3 em Na2HPO4. Posteriormente, o eletrodo passou por ciclagem eletroquímica
em hexacianoferrato de potássio (1,0 mmol L-1) em eletrólito de suporte K2SO4 0,1 mol L-1.
Os diferentes filmes foram caracterizados através de técnicas eletroquímicas como testes de
velocidade de varredura e efeito do valor de pH. E também outras técnicas como microscopia
eletrônica de varredura, espectroscopia de energia dispersiva e espectroscopia Raman. A
aplicação frente à detecção do fármaco paracetamol foi realizada com sucesso, obtendo-se um
valor de sensibilidade de 0,0164 µA µmol L-1, limite de detecção de 2,38 µmol L-1 e limite de
quantificação de 7,16 µmol L-1.
Palavras-chave: Óxido de grafite; Eletroanálise; Nanopartículas; Acetaminofeno.
ABSTRACT
In this work, reduced graphene oxide (rGO) modified with silver hexacyanoferrate
(AgHCF) thin films were synthetized on a glassy carbon electrode (GCE) and posterior
performance evaluation compared to paracetamol (PA) evaluation. The synthesis was
executed by electroreduction of a graphene oxide aqueous dispersion containing AgNO3 in
Na2HPO4. After, the electrode was electrochemically cycled in potassium hexacyanoferrate
(1.0 mmol L-1) with K2SO4 0.1 mol L-1 as a support electrolyte. The different films were
characterized through electrochemical techniques as scanning speed and pH effect tests. And
also other techniques as scanning electron microscopy, energy dispersive spectroscopy and
Raman spectroscopy. The application in the detection of the paracetamol drug was
successfully executed, obtaining sensibility of 0.0164 µA µmol L-1, detection limit of 2.38
µmol L-1 and quantification limit of 7.16 µmol L-1.
Keywords: Graphite oxide; Electroanalysis; Nanoparticles; Acetaminophen;
7
Sumário
1. Introdução ................................................................................................................... 9
1.1. Grafeno ................................................................................................................. 9
1.2. Nanopartículas metálicas ................................................................................... 11
1.3. Hexacianoferratos metálicos .............................................................................. 11
1.4. Técnicas eletroquímicas ..................................................................................... 12
1.4.1. Voltametria cíclica ...................................................................................... 13
1.4.2. Amperometria ............................................................................................. 14
1.5. Análise por Injeção em Batelada ........................................................................ 14
1.6. Paracetamol ........................................................................................................ 15
2. Objetivos ................................................................................................................... 16
2.1. Objetivos específicos ......................................................................................... 16
3. Parte experimental .................................................................................................... 17
3.1. Reagentes ........................................................................................................... 17
3.2. Instrumentação ................................................................................................... 17
3.3. Síntese dos filmes de OGr .................................................................................. 18
3.4. Síntese dos filmes nanocompósitos de OGr/Ag ................................................. 18
3.5. Síntese dos filmes nanocompósitos de OGr/HCFAg ......................................... 19
3.6. Determinação cronoamperométrica de PA nos eletrodos modificados .............. 19
4. Resultados e discussão .............................................................................................. 20
4.1. Eletrossíntese ..................................................................................................... 20
4.1.1. Filme de OGr .............................................................................................. 20
4.1.2. Filme de OGr/Ag ........................................................................................ 21
4.1.3. Filme de OGr/HCFAg ................................................................................. 22
4.2. Caracterizações .................................................................................................. 24
4.2.1. Microscopia eletrônica de varredura .......................................................... 24
4.2.2. Espectroscopia de energia dispersiva ......................................................... 26
8
4.2.3. Espectroscopia Raman ................................................................................ 27
4.3. Estudos eletroquímicos ...................................................................................... 28
4.3.1. Velocidade de varredura .............................................................................. 28
4.3.2. Efeito do valor de pH .................................................................................. 29
4.4. Aplicação dos filmes de OGr/HCFAg na detecção de paracetamol ................... 30
4.4.1. Estudo do eletrólito de suporte ................................................................... 30
4.4.2. Determinação amperométrica de paracetamol ............................................ 32
5. Conclusões ................................................................................................................ 34
6. Referências ............................................................................................................... 36
9
1. INTRODUÇÃO
Eletrodos modificados, química ou eletroquimicamente, têm sido muito estudados
visto que essa modificação pode melhorar alguns parâmetros como sensibilidade e
seletividade quando comparado com eletrodos convencionais.1
A modificação utilizando materiais carbonáceos vem sendo estudada visando a sua
utilização em sensores eletroquímicos que transformam reações em sinais úteis para melhor
resposta e menor tempo de análise.2
A toxicidade de alguns fármacos é conhecida e o paracetamol não é exceção. Este
medicamento é barato e de fácil acesso: sua ingestão acima de 4g ao dia já é prejudicial ao
fígado.3 Motivo pelo qual é necessário o desenvolvimento de métodos eficazes de detecção e
quantificação como os que são descritos na literatura.4-6 Dessa maneira, este trabalho
apresenta um método simples, rápido e ambientalmente favorável de síntese de sensores
modificados com óxido de grafeno reduzido e hexacianoferrato de prata, seguido de sua
caracterização e posteriormente, sua aplicação frente a detecção do fármaco paracetamol.
1.1. Grafeno
O grafeno é um alótropo do carbono que consiste em átomos de carbono sp2
compactados em formatos hexagonais ao longo de uma camada plana. Sua obtenção ocorreu
no ano de 2004 por Geim e Novoselov,7 onde o isolamento da folha de grafeno ocorreu por
sucessivas etapas de peeling, descascando o grafite utilizando fita adesiva. Estudos pioneiros
buscavam estudar suas propriedades eletrônicas e encontraram nesse material uma capacidade
impressionante de transportar correntes bidimensionais em distâncias micrométricas,
recorrente de sua espessura de nível atômico.7 Esta característica também interfere em suas
propriedades óticas, cuja transparência pode ser acima de 95% para filmes com 2 nanômetros
de espessura.8 É importante citar também suas propriedades mecânicas, como o módulo de
Young (grandeza proporcional à rigidez de um material submetido à uma tensão de tração ou
compressão externas), que pode atingir uma magnitudes de 1 TPa.9
Depois da primeira forma de obtenção do grafeno por esfoliação mecânica do grafite,
outros métodos foram desenvolvidos com a finalidade de sintetizar esse material em um maior
grau de pureza.
Atualmente, a síntese de grafeno se divide em dois tipos: via seca e via úmida. A via
seca utiliza de técnicas como peeling,7 deposição química por vapor,10 e crescimento
10
epitaxial.11 No peeling, o rendimento é baixo e há a dificuldade de transferência do material
obtido. A deposição química por vapor requer elevadas temperaturas, e o crescimento
epitaxial em torno de SiC requer isolamento complexo do material obtido. A via úmida
propõe métodos como a esfoliação e oxidação químicas12, 13 que envolvem o uso de reagentes
nocivos, e a redução eletroquímica do óxido de grafeno,14 método utilizado neste trabalho, e
que apresenta simples manuseio, baixa toxicidade ao ambiente e de rápido processamento.
Devido às suas excepcionais propriedades, o grafeno pode ser aplicado em diferentes
áreas, como sensores,15 capacitores,16 eletrocatalisadores17 e dispositivos eletrônicos.18
O óxido de grafeno, derivado do grafeno, constitui-se do plano basal de carbonos,
porém com grupos funcionais oxigenados na sua estrutura: carbonilas, hidroxilas, epóxis e
carboxilas. Ele é obtido pela esfoliação química do óxido de grafite. As propriedades
primitivas do grafeno podem ser alcançadas com a redução eletroquímica dos grupos
oxigenados, gerando o óxido de grafeno reduzido. O fato é que alguns grupos funcionais são
dificilmente reduzidos e remanescem na estrutura, como os epóxis e hidroxilas (redução em
valores mais negativos que -1,5 V), e os que reduzem, como as carbonilas (-1,3 V), podem
deixar defeitos no plano.19, 20
A importância de obter-se o óxido de grafeno reduzido se dá pelas interações e
transporte de elétrons, que são essenciais quando se trata de adsorção molecular. Isso ocorre
graças aos átomos que se arranjam em filmes finos de estrutura 2D na modificação de
eletrodos para detecção de espécies eletroativas, tais como o fármaco deste trabalho.21
Figura 1: Fórmula estrutural do óxido de grafeno.
Fonte: Adaptado de Lerfet al.22
11
1.2. Nanopartículas metálicas
A nanociência e o uso de nanopartículas vêm crescido rapidamente nos últimos anos
na busca de materiais que compõem características e propriedades aprimoradas quando
comparadas ao material estruturado em escala bulk. As nanopartículas metálicas se destacam
visto que suas aplicações são amplas e versatilizam as propriedades dos materiais
carbonáceos.
Dentre os métodos de síntese de nanocompósitos de óxido de grafeno reduzido e
metais podem-se citar as reduções químicas, termais e eletroquímicas. O dois primeiros
envolvem vários passos, com uso de reagentes tóxicos e altas temperaturas. Já o último
consiste em apenas um passo, é barato, simples, rápido e ambientalmente viável. A
eletrodeposição para modificação do eletrodo consiste na imersão deste em uma solução
constituinte do cátion metálico de interesse seguido da aplicação de um potencial elétrico ou
de uma corrente elétrica.23 A aplicação desses parâmetros controlam a morfologia e tamanho
das nanopartículas na síntese. O uso das nanopartículas intervém na resposta eletroquímica
visto que elas podem aumentar o transporte de massa.24
A prata tem sido utilizada cada vez mais em eletroanálise. Além de ser mais barato que
o ouro, suas condutividades (térmica e elétrica) e atividade catalítica apresentam ótimo
desempenho.
Na preparação de eletrodos modificados, a obtenção eletroquímica de nanopartículas
de prata não apresenta boa distribuição e homogeneidade na superfície se comparado à
química. Porém o método envolvendo a aplicação de potencial tem a capacidade de suportar
agentes modificadores, que mediam reações de oxirredução e pré-concentram as espécies de
interesse.25, 26
1.3. Hexacianoferratos metálicos
Os hexacianoferratos de metais (HCFM) são compostos polinucleares de valência
mista que apresentam ótimas propriedades eletroquímicas e óticas.27
Com estrutura cúbica de face centrada, o azul da Prússia (AP) é o hexacianoferrato
mais estudado, e pode ser considerado uma estrutura modelo para os outros HCFM. O AP
apresenta íons Fe3+ coordenados octaedricamente por átomos de nitrogênio e íons Fe2+ ligados
a átomos de carbono. O método eletroquímico mais utilizado para a obtenção dos HCFM
como agente modificador é o potenciodinâmico, que executa varreduras cíclicas de potencial.
12
Nos diferentes HCFM ou análogos do AP ocorre a troca do metal que se liga ao nitrogênio,
como o hexacianoferrato de prata (Fe2+-CN-Ag+), utilizado neste trabalho. A Figura 2
representa as estruturas dos HCFM citados.26
Figura 2: Estruturas do (a) azul da Prússia e (b) hexacianoferrato de prata.
Fonte: Adaptado de ChemTube e Oliveira et al.26
Geralmente os hexacianoferratos de metais são insolúveis e seus metais podem ser
usados como centros de oxirredução ativos, nos quais são capazes de sofrer oxidação ou
redução sem a dissolução do sólido. Se a solução contém íons metálicos (K+, Ag+, Cd2+, Ni2+,
entre outros), estes podem difundir através da estrutura zeolítica para manter a
eletroneutralidade do sistema.28
1.4. Técnicas eletroquímicas
Métodos analíticos associados a propriedades elétricas de um analito em contato com
uma célula eletroquímica, sendo aquele componente de uma solução, basicamente definem a
química eletroanalítica.
Suas características proporcionam relações diretas da concentração do analito com
suas propriedades elétricas como corrente, potencial, carga, resistência, etc.
Geralmente, três eletrodos compõem a célula eletroanalítica: o eletrodo de trabalho
(ET), o eletrodo de referência (ER) e o contra-eletrodo (CE) ou auxiliar. No ET ocorre a
variação do potencial, O ER mantém o potencial constante e o CE conduz eletricidade da
fonte de sinal através da solução. Esse sistema de eletrodos é imerso em uma solução
13
composta pelo analito e um eletrólito suporte não-reativo, o qual se encontra em quantidade
excessiva para manter os coeficientes de atividade praticamente constantes, aproximar de zero
o número de transporte das espécies eletroativas e também, além de outras funções, diminuir a
espessura da dupla camada elétrica. Esse processo tem como base os fenômenos ocorridos na
interface entre a solução e a superfície do eletrodo.29 O resultado eletroanalítico é observado
de diversos fatores e processos ocorridos entre o eletrodo e o eletrólito quando aplicado um
potencial, gerando uma corrente elétrica.30
1.4.1. Voltametria cíclica
A voltametria cíclica é comumente usada na determinação de potenciais redox de
espécies eletroativas e avaliações sobre efeitos do meio onde se encontra o analito. Ela
funciona aplicando-se um potencial de varredura até um valor pré-determinado e em seguida,
aplica-se o potencial no sentido inverso até o valor inicial ou outro valor pré-estabelecido.
Quando um potencial é aplicado, uma corrente elétrica é gerada, sendo registrados por
um gráfico denominado voltamograma. A magnitude da corrente pode estar relacionada com a
quantidade de analito na superfície do eletrodo. Mas para isso é necessário que o analito esteja
sujeito à reação de oxirredução na janela de potencial estudada. Deste modo, a reação
ocorrerá em uma série de etapas constituídas pela transferência de massa, transferência de
carga e reações de precedem ou sucedem a transferência eletrônica. A Figura 3 mostra uma
representação esquemática dessas diferentes etapas.
Figura 3. Conjunto de etapas que resulta em medida voltamétrica.
Fonte: Adaptado de Pacheco et al.31
Variando-se os parâmetros da medida voltamétrica, como velocidade de varredura e
janela de potencial, o perfil voltamétrico gerado pode nos mostrar informações importantes
referentes ao mecanismo de reação, reversibilidade do sistema e fatores cinéticos.30, 31
14
1.4.2. Amperometria
Essa técnica consiste na medida de corrente a partir de um potencial fixo, em um ou
mais degraus, onde a corrente decai rapidamente com o tempo quando a concentração das
espécies eletroativas na superfície é diminuída.32
Quando acoplada a métodos de alta velocidade como as análises por injeção em
batelada (BIA – do inglês Batch Injection Analysis) e por injeção em fluxo (FIA – do inglês
Flow Injection Analysis), ela se torna bem mais interessante. A corrente é medida em função
do tempo e a diferença entre os sinais do analito e eletrólito de suporte deve ser proporcional à
concentração da espécie ativa.33
1.5. Análise por Injeção em Batelada
A técnica de BIA constitui-se em injeções de pequenos volumes de analito diretamente
na superfície de um eletrodo fixado extremamente próximo à ponta de uma pipeta,
configuração conhecida como “wall-jet”. É importante salientar que a célula compõe um
volume grande do eletrólito suporte com finalidade de diluir o analito após a obtenção do
sinal. O esquema da célula pode ser observado na Figura 4:
Figura 4: Representação esquemática da célula de análise por injeção em batelada.
Fonte: Adaptado de Wang et al.34
15
A resposta das injeções apresentam picos de magnitude proporcional à concentração
de analito oxidado, com alta taxa de queda. Isso devido à dispersão da espécie injetada em
direção ao eletrodo. Dentre as características que envolvem o uso do sistema BIA estão:
simplicidade, boas sensibilidade e repetibilidade, rapidez e uso de pouca quantidade de
amostras e reagentes.34, 35
1.6. Paracetamol
O paracetamol (N-acetil-aminophenol ou acetaminofeno) é uma amida aromática
acilada que age como um fármaco analgésico e antipirético. Introduzido em 1893 por Von
Mering, tem sido utilizado para tratamentos de resfriado, gripe, dor e febre em adultos e
crianças.
Em quantidades normais o fármaco é metabolizado rápida e completamente.
Entretanto, com a livre venda, é comum encontrar casos de overdose, já que o paracetamol
apresenta toxicidade ao fígado e rins.36
Sua determinação por métodos eletroquímicos têm se destacado quanto à precisão,
sensibilidade e custo reduzido. Considerando também a rapidez da análise, essas técnicas são
altamente usadas na determinação do paracetamol em preparações farmacêuticas.36
Como várias outras substâncias, o paracetamol é oxidado em uma faixa de 0,6 a 0,8 V
em eletrodos de carbono vítreo e pasta de carbono. Este trabalho aborda a análise do fármaco
em soluções aquosas: tanto em fórmulas farmacêuticas quanto em amostras de águas, haja
visto que o mesmo pode ser descartado pelas indústrias como parte dos efluentes gerados.37 A
Figura 5 mostra a estrutura do paracetamol.
Figura 5. Estrutura molecular do paracetamol
Fonte: O autor
16
2. OBJETIVOS
Dentre os objetivos do presente trabalho estão a síntese, caracterização e aplicação de
eletrodos modificados com filmes finos a base de óxido de grafeno reduzido
eletroquimicamente e hexacianoferrato de prata através de diversas técnicas, visando sua
possível aplicação em sensores para determinação de paracetamol.
2.1. Objetivos específicos
Síntese eletroquímica de filmes nanocompósitos do tipo OGr/Ag;
Utilização dos filmes preparados na etapa anterior na preparação do hexacianoferrato
de prata;
Caracterização elementar, microscópica, espectroscópica e eletroquímica dos filmes
preparados;
Estudo da potencialidade de sua aplicação em sensores para determinação de
paracetamol.
17
3. PARTE EXPERIMENTAL
3.1. Reagentes
Todos os reagentes usados no trabalho possuem pureza analítica (PA) e as soluções
foram preparadas com água destilada de um sistema de purificação.
Ácido sulfúrico e ácido fosfórico (85% m/v) foram obtidos da Synth, assim
como o hidróxido de potássio e o analito paracetamol. Hidróxido de sódio e sulfato de sódio
foram obtidos da Quimex e Biotec, respectivamente. Hidrogenofosfato de sódio e sulfato de
potássio, da Sigma. O óxido de grafeno, nitrato de prata e ferricianeto de potássio foram
obtidos da CN Shanghai, Merck e Proquimios, respectivamente.
3.2. Instrumentação
Todas as medidas eletroquímicas foram feitas utilizando o potenciostato AutoLab
PGSTAT 302 e as informações foram obtidas no software computacional NOVA 2.0.
O eletrodo de referência de Ag/AgCl e o pseudoeletrodo de referência de Ag/AgNO3
foram produzidos em laboratório. Já o eletrodo auxiliar utilizou-se um fio de platina.
O eletrodo de trabalho utilizado foi de carbono vítreo. Sua limpeza foi realizada todas
as vezes antes de realizar as medidas. Utilizou-se alumina com 0,3 μm de granulometria para
polimento e, após vários enxágues com água destilada, foi levado ao ultrassom em uma
solução 50/50% água/etanol para eliminação de resquícios da alumina.
A célula eletroquímica de análise por injeção em batelada foi projetada com
capacidade para 200 mL de eletrólito e com cinco orifícios, sendo estes para o: eletrodo de
trabalho, eletrodo auxiliar, eletrodo referência, agitador mecânico (construído em laboratório)
e para a pipeta eletrônica (Eppendorf® Multipette Stream). A ponteira da pipeta possui
capacidade para 1,0 mL e controle de injeção de 10 a 1000 μL. A velocidade de despejamento
utilizada neste trabalho foi de 193 µL s-1.
As medidas de espectroscopia Raman foram obtidas em um espectrômetro LabRAM
HR evolution da Horiba Scientific, através do software LabSpec 6. O laser utilizado foi de
He-Ne (632,8 nm) com potência de incidência de 2,0 mW. Os espectros foram obtidos para
amostras na forma de filme depositados em placas de FTO (OGr, OGr/Ag e OGr/HCFAg). As
medidas foram realizadas no Laboratório de Novos Materiais Isolantes e Semicondutores -
18
LNMIS do Departamento de Física da Universidade Federal de Uberlândia. Foram realizadas
5 acumulações com tempo de 10 s para cada espectro na região de 200 a 3500 cm-1.
Os filmes de OGr, OGr/Ag e OGr/HCFAg foram analisados em um microscópio Vega
3 TESCAN operado a 5 kV usando um detector de elétrons secundários. Este equipamento
está locado no Laboratório Multiusuário (LMIQ- UFU) do Instituto de Química da
Universidade Federal de Uberlândia.
A análise elementar dos filmes foi realizada através de um espectrômetro de energia
dispersiva modelo INCA X-ACT Oxford.
3.3. Síntese dos filmes de OGr
A formação do filme de OGr foi realizada utilizando uma dispersão de óxido de
grafeno (1,0 mg mL-1) em solução de Na2HPO4 0,05 mol L-1. A célula eletroquímica foi
constituída por um eletrodo de referência miniaturizado de Ag/AgCl (KCl 3 mol L-1)38 um fio
de platina como contra-eletrodo e diferentes eletrodos de trabalho, como eletrodo de carbono
vítreo (ECV), cd de ouro (CD-Au) e óxido de estanho dopado com flúor (FTO) dependendo
da técnica de caracterização a ser empregada. O método eletroquímico utilizado foi a
voltametria cíclica, com janela de potencial -0,5 a -1,5 V, velocidade de varredura de 10 mV s-
1 e aplicação de 10 ciclos voltamétricos. Com o intuito de maximizar o processo de
eletrodeposição, a dispersão precursora permaneceu sob agitação magnética constante durante
todo o experimento. O eletrólito também foi purgado com N2 por 15 minutos antes do início
da eletrossíntese. Terminado esse tempo, o sistema permaneceu sobre pressão positiva até o
final do experimento.
3.4. Síntese dos filmes nanocompósitos de OGr/Ag
A eletrodeposição do filme de OGre/Ag ocorreu utilizando as mesmas
condições descritas no item anterior, apenas com a adição de 5,0 mmol L-1 de AgNO3.
Também foi utilizado um pseudo eletrodo de referência composto por um fio de prata em
solução 3,0 mol L-1 de KNO3. Esse eletrodo foi calibrado contra um eletrodo de Ag/AgCl
(KCl 3,0 mol L-1) usando uma solução 1,0 mmol L-1 de K3[Fe(CN)6] em KCl 0,1 mol L-1. A
utilização do pseudo eletrodo ocorreu para evitar a precipitação dos íons prata na forma de
AgCl na solução precursora.
19
3.5. Síntese dos filmes nanocompósitos de OGr/HCFAg
Após a síntese eletroquímica do filme de OGr/Ag, o eletrodo modificado
passou por lavagem com imersão do mesmo em um béquer contendo água destilada por três
vezes, com posterior secagem por 15 minutos. Posteriormente, o eletrodo foi ciclado em uma
solução contendo 10 mmol L-1 de ferricianeto de potássio e 0,1 mol L-1 de sulfato de potássio
em janela de potencial de 0,0 a 1,0 V. A velocidade de varredura foi de 25 mV s-1 durante 6
ciclos voltamétricos.
3.6. Determinação cronoamperométrica de PA nos eletrodos modificados
A determinação cronoamperométrica de paracetamol foi realizada em tampão
fosfato pH 2 preparado com solução 0,1 mol L-1 de paracetamol com pH corrigido com ácido
fosfórico concentrado e KOH 3 mol L-1 quando necessário. As soluções padrões dos analitos
foram feitas em tampão fosfato. As detecções foram feitas acopladas a uma célula BIA. O
potencial utilizado foi 0,70 V para os filmes de OGr/HCFAg.
20
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Eletrossíntese
4.1.1. Filme de OGr
Os testes iniciaram com a síntese do filme de OGr, a partir de uma dispersão aquosa de
GO, em eletrólito de suporte (Na2HPO4), na superfície do eletrodo de carbono vítreo numa
faixa de 0,0 a -1,5 V com 10 ciclos à 10 mV s-1.
A Figura 6 apresenta o voltamograma de eletrodeposição do óxido de grafeno
reduzido, onde observa-se um aumento significativo nos valores de corrente a cada ciclo. Isso
decorre devido a deposição do material condutor (OGr) na superfície do eletrodo. Também é
possível observar a presença de picos catódicos na região de -0,9 V que caracterizam a
redução eletroquímica irreversível dos diferentes grupos funcionais presentes no OG.21
Figura 6. Voltamograma de eletrodeposição de 1,0mg mL-1 de OGr em 0,05 mmol L-1 de
Na2HPO4 na superfície de um eletrodo de carbono vítreo com a aplicação de 10 ciclos, à 10
mV s-1 numa janela de -0,5 a -1,5 V.
1o ciclo
10o ciclo
21
4.1.2. Filme de OGr/Ag
A eletrossíntese do OGr juntamente com as nanopartículas de prata foi realizada em
uma dispersão de GO com o eletrólito suporte e uma solução de AgNO3, seguindo as mesmas
condições utilizadas na síntese do filme de OGr, o processo gerou um voltamograma ilustrado
na Figura 7.
Figura 7. Voltamograma de eletrodeposição em dispersão 1,0 mg mL-1 de OGr e 0,1 mmol
mL-1 de AgNO3 contidos em 0,05 mmol L-1 de Na2HPO4 na superfície de um eletrodo de
carbono vítreo com 10 ciclos, à 10 mV s-1 numa janela de 0,0 a -1,5 V.
O sinal em torno de -0,4 V pode ser definido como o pico catódico que representa a
redução de íons Ag+ para formar Ag metálico na superfície do eletrodo.39
Como no eletrodo modificado com OGr, esse apresenta também um ganho
significativo na corrente pelo mesmo motivo anteriormente citado. Porém pode-se afirmar que
a condutividade do filme de OGr/Ag é maior justamente pela presença das nanopartículas
metálicas, o que pode ser comprovado pela corrente final do processo superior neste caso.
1o ciclo
10o ciclo
22
4.1.3. Filme de OGr/HCFAg
O filme precursor de OGr/Ag foi modificado com hexacianoferrato através da imersão
desse eletrodo em solução de 1,0 mmol L-1 de ferricianeto de potássio em K2SO4 0,1 mol L-1,
aplicando-se uma varredura de potencial de 0,0 a 1,0 V por 10 ciclos, à 25 mV s-1. O
voltamograma obtido pode ser visualizado na Figura 8.
Figura 8. Voltamograma de eletrodeposição do HCFAg em solução 1,0 mmol L-1 de
K3[Fe(CN)6] com 0,1 mol L-1 de eletrólito de suporte K2SO4 sobre o precursor de OGr/Ag
previamente sintetizado na superfície de um eletrodo de carbono vítreo. Parâmetros: 6 ciclos,
v = 25 mV s-1, janela de potencial: 0,0 a 1,0 V.
Um par redox é claramente visto entre 0,60 e 0,80 V. Os picos referem-se ao processo
redox do hexacianoferrato de prata, com a incorporação/saída de íons K+ na rede cristalina do
nanocompósito, com simultânea oxidação/redução dos sítios de ferro, como mostram as
equações 1 e 2:
KAg3[FeII(CN)6] ⇄ Ag3[FeIII(CN)6] + K+ + e- Equação 1
KAg3[FeII(CN)6] ⇄ KAg3[FeIII(CN)6] + e- Equação 2
A boa definição dos picos confere a formação e deposição homogênea do HCFAg na
superfície do eletrodo.28, 40
23
Em torno de 0,2 V aparecem outros dois picos, estes estão relacionados com a
oxidação e redução do par ferri/ferro, vide equação 3:
[Fe(CN)6]3- + e-⇄ [Fe(CN)6]
4- Equação 3
Também é observado, durante o primeiro ciclo, um pico em 0,17 V, que pode ser
atribuído à oxidação das nanopartículas de prata presentes no filme de OGr/Ag.
O número de ciclos necessários para a deposição de hexacianoferrato de prata também
foi estudado, como mostrado na Figura 9. Pode-se observar que os valores de corrente sofrem
uma diminuição considerável ao longo dos ciclos voltamétricos: as nanopartículas saem com
facilidade das folhas de grafeno, indicando que o processo possui rapidez já que devem ser
realizados 2 ciclos para a manutenção das nanopartículas.
Figura 9. Estudo dos valores de corrente em relação ao número de ciclos.
Também foi registrado um voltamograma cíclico do eletrodo modificado com
OGr/HCFAg frente a 0,1 mol L-1 de K2SO4. A Figura 10 mostra com clareza o par de picos
referentes ao processo redox representado nas equações 1 e 2 supracitadas.40
24
Figura 10. Voltamograma cíclico referente ao segundo ciclo do eletrodo modificado de
OGr/HCFAg em 0,1 mol L-1 de K2SO4 à 25 mV s-1, em janela de 0,0 a 1,0 V e 2 ciclos.
4.2. Caracterizações
4.2.1. Microscopia eletrônica de varredura
Foi realizada a análise de microscopia eletrônica de varredura (MEV) para obter
imagens dos filmes finos sintetizados. Os mesmos foram depositados em CD de ouro. As
imagens obtidas para os diferentes filmes estão mostradas na Figura 11.
As Figuras 11-a e 11-b, referentes ao filme de OGr, mostram a presença de folhas de
óxido de grafeno reduzido ao longo do eletrodo. A superfície rugosa altamente pode ser
característica do aumento da área superfícial do eletrodo pelo material carbonáceo condutor
depositado.
As imagens do filme OGr/Ag (Figuras 11-c e 11-d) revelam a presença de
nanopartículas de prata decorando a superfície das folhas de óxido de grafeno reduzido. A
presença das espécies metálicas é claramente confirmada através da MEV, visto que as
mesmas se destacam pelo contraste com as camadas de OGr.21
Após a aplicação dos ciclos voltamétricos em ferricianeto de potássio no eletrodo
mostrado anteriormente, as imagens de MEV revelam uma grande quantidade de
nanopartículas de hexacianoferrato de prata decorando as folhas de OGr (Figura 11-e e 11-f).
As imagens em menor e maior magnificação para o filme OGr/HCFAg mostram que as
25
nanopartículas se distribuem de forma homogênea ao longo das folhas de OGr, com diâmetro
médio de 200 nm.
Figura 11. Imagens de MEV das superfícies dos eletrodos; (a) e (b) OGr; (c) e (d) OGr/Ag, e
(d) e (f) OGr/HCFAg.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
26
4.2.2. Espectroscopia de energia dispersiva
Para analisar a composição química do filme de OGr/HCFAg foi executada a análise
de espectroscopia de energia dispersiva. A técnica envolve o bombardeamento de um feixe de
elétrons de alta energia na superfície da amostra, o que gera a ejeção de elétrons dos átomos
bombardeados. As vacâncias deixadas pela ausência dos elétrons são ocupadas por elétrons de
energia maior e então o equilíbrio é feito pela emissão de raios X. A energia liberada é
característica de cada elemento.
A Figura 12 representa o espectro do filme OGr/HCFAg, onde pode-se observar os
elementos constituintes do mesmo.26
Figura 12: Espectro de energia dispersiva referente à composição química do filme de
OGr/HCFAg.
É confirmada a presença de todos os elementos esperados haja visto na figura acima.
O método é incapaz de quantificar, porém vê-se que o carbono se encontra mais abundante
pela predominância do mesmo nas folhas de óxido de grafeno reduzido. Alguns grupos
oxigenados ainda são remanescentes, dado a presença do oxigênio na análise.
A prata é claramente visível e os elementos constituintes do hexacianoferrato também:
o carbono citado anteriormente, o nitrogênio e o ferro. Potássio também é encontrado, pois o
mesmo pode estar incorporado à rede cristalina do nanocompósito.40
27
4.2.3. Espectroscopia Raman
A técnica na qual envolve o espalhamento de luz de um material a partir de uma fonte
monocromática é conhecida como espectroscopia Raman. A luz espalhada pode ser de mesma
(elástica) ou diferente (inelástica) energia. Este último fenômeno está relacionado com a
geração do sinal: a diferença entre a energia incidente e a espalhada inelasticamente
corresponde à energia dos átomos presentes que vibram na superfície estudada.26
Os espectros Raman para os filmes de OG, OGr, OGr/Ag e OGr/HCFAg estão
apresentados na Figura 13.
Figura 13. Espectro Raman para os filmes de OG, OGr, OGr/Ag e OGr/HCFAg.
No filme preparado apenas com óxido de grafeno reduzido observam-se duas bandas
predominantes: a banda D, em torno de 1380 cm-1 e a banda G, em aproximadamente 1578
cm-1. A banda 2D também é encontrada em torno de 2910 cm-1. A primeira banda está
relacionada com os defeitos ao longo da folha de OGr, inclusive pela retirada dos grupos
funcionais e incapacidade de recuperar as ligações entre os carbonos. A segunda consiste na
vibração dos carbonos sp2 no decorrer na estrutura. A banda 2D constitui a ressonância de
segunda ordem da banda D e depende da energia de excitação. Esta está sempre presente em
materiais carbonáceos.28
28
O aumento da banda D em relação à banda G pode ser percebido nos filmes que
sofreram redução na síntese. Esse fenômeno confirma a redução dos grupos funcionais
oxigenados.39
A modificação produziu uma nova banda no espectro em torno de 2210 cm-1. Ela é
característica do hexacianoferrato e envolve a vibração dos grupos C≡N coordenados na
estrutura cristalina. Sua presença confirma a existência do modificador no filme produzido.26
4.3. Estudos eletroquímicos
4.3.1. Velocidade de varredura
O teste relativo à velocidade de varredura foi realizado de 10 a 100 mV s-1 para
analisar o processo de transferência de elétrons no eletrodo modificado com OGr/HCFAg,
como pode ser verificado na Figura 15.
Nas Figuras 16 (a) e (b) observa-se a variação da intensidade de corrente para os picos
anódicos e catódicos de acordo com a raiz quadrada da velocidade de varredura. O gráfico
mostrado na Figura 16 mostra uma relação linear para ambos os picos anódicos e catódicos,
com coeficientes de correlação linear de 0,995 e 0,998, respectivamente. Esse resultado indica
que o processo redox envolvendo o HCFAg é controlado por difusão do K+ dentro e fora da
estrutura.41
Figura 15. Teste de velocidade de varredura em K2SO4 0,1 mol L-1 de 10 a 100 mV s-1.
29
Figura 16. Relação das correntes com as velocidades de varredura dos picos catódico (a) e
anódico (b).
4.3.2. Efeito do valor de pH
Testes relacionados à estabilidade do eletrodo modificado frente a diferentes valores
de pH foram exercidos. Os valores escolhidos foram 2, 4, 7 e 9, e seus voltamogramas à 25
mV s-1 durante a aplicação de 50 ciclos voltamétricos em numa janela de 0,0 a 1,0 V podem
ser observados na Figura 17.
Figura 17. Voltamogramas obtidos para o eletrodo modificado com OGr/HCFAg nos valores
de pH 2 (a), 4 (b), 7 (c) e 9 (d).
30
Em todos os voltamogramas há diminuição dos valores de corrente ao longo dos
ciclos, porém o de valor de pH = 2 apresentou maior corrente de pico. Para que essa variação
seja mais bem analisada foi plotado um gráfico dos distintos valores de pH e correspondente
variação da intensidade de corrente anódica no decorrer dos ciclos. O mesmo é mostrado na
Figura 18.
Figura 18. Gráfico de porcentagem de corrente vs número de ciclos para cada pH estudado.
Os filmes apresentaram boa estabilidade frente aos diferentes valores de pH visto que
após 50 ciclos a intensidade de corrente relativa diminuiu em torno de 40 %, com melhor
desempenho frente ao pH = 2.
4.4. Aplicação dos filmes de OGr/HCFAg na detecção de paracetamol
4.4.1. Estudo do eletrólito de suporte
Para avaliação do comportamento do eletrodo nanocompósito em diferentes valores de
pH, foram obtidos voltamogramas com adições sucessivas de 50 µmol L-1 de paracetamol até
uma concentração final de 500 µmol L-1. A Figura 19 representa essas medidas em variações
de valores de pH 2 (a), 4 (b), 7 (c) e 9 (d).
31
Figura 19. Voltamogramas obtidos para adições sucessivas de 50 µmol L-1 de paracetamol,
em eletrodo de CV modificado com OGr/HCFAg nos seguintes valores de pH: 2 (a), 4 (b), 7
(c) e 9 (d).
A Figura 19-a mostra os dados obtidos em pH = 2, onde observa-se um pico na região
anódica em 0,70 V, que é atribuído à oxidação do paracetamol, e pode ser representado pela
equação 4:
Equação 4
Fonte: Gowda, et al.42
32
A Figura 19-b apresenta os resultados obtidos para pH = 4. O pico referente ao
paracetamol está centrado em 0,61 V e o pico na região catódica do voltamograma, referente
ao sinal do HCF sofre dimuição gradativa com as adições. O mesmo ocorre no caso das
Figuras 19-c e 19-d referentes aos pH 7 e 9, respectivamente. Também é possível observar
através dos voltamogramas que o valor de Eanódico desloca-se para valores mais negativos a
medida que o valor de pH aumenta. Esse comportamento está de acordo com o mecanismo de
oxidação do paracetamol apresentado na Equação 4, o qual envolve a tranferência de dois
prótons e dois elétrons.
4.4.2. Determinação amperométrica de paracetamol
Por meio da técnica de amperometria foi obtida a curva de calibração para a detecção
do paracetamol pelo eletrodo modificado. Foram injetadas em triplicata concentrações
crescentes (2,5; 5,0; 7,5; 10; 25; 50; 75; 100; 250; 500 e 750 µmol L-1) em uma solução sobre
agitação em tampão fosfato pH 2. O potencial aplicado foi de 0,70 V, que foi o valor obtido
através do voltamograma cíclico do eletrodo OGr/HCFAg presente na Figura 19. As Figuras
20 e 21 apresentam o amperograma das injeções e a curva analítica, respectivamente. Esta foi
construída com valores iniciais que constituíam três vezes o valor do branco, no caso, a
concentração de 25 µmol L-1.
Figura 20. Amperograma referente às injeções sucessivas de PA (2,5; 5,0; 7,5; 10; 25; 50; 75;
100; 250; 500 e 750 µmol L-1) em eletrodo modificado com OGr/HCFAg em tampão fosfato
pH 2 como eletrólito suporte e aplicação de 0,70 V.
33
Figura 21. Curva analítica obtida para as concentrações crescentes de PA (a partir de 25 µmol
L-1).
A curva apresentou boa linearidade (R = 0,996) garantindo um bom desempenho do
eletrodo frente ao fármaco. O coeficiente angular da curva representa a sensibilidade do
material. Esta consiste na variação do sinal de resposta pela variação unitária dos valores de
concentração. A partir do gráfico originado, pôde-se encontrar o valor de tal parâmetro:
0,0164 µA µmol L-1.
Outros parâmetros analíticos também foram estudados, como os limites de detecção e
quantificação. O primeiro consiste no menor valor de concentração em que a espécie analítica
pode ser detectada por tal método. O mesmo pôde ser encontrado pela seguinte equação:
�� = 3,3×�� Equação 5
As variáveis contidas são a inclinação da curva, representado por “�” e o desvio
padrão do branco (� ), o qual foi obtido pela medida de 10 pontos referentes à linha base.
Na posse dos valores, o limite de detecção foi calculado: 2,38 µmol L-1.
O segundo parâmetro, limite de quantificação, é conceituado como a menor
concentração da espécie analítica determinada com aceitáveis níveis de exatidão e precisão.
Esta pode ser calculada a partir do limite de detecção:
�� = ×�� Equação 6
34
A partir da equação acima se pôde inferir o limite de quantificação: 7,16 µmol L-1.30, 43
Para efeitos de comparação, foi montada uma tabela de diferentes eletrodos
modificados para detecção eletroquímica de paracetamol. Seus parâmetros podem ser
visualizados na Tabela 1.
Tabela 1. Comparação de sensores eletroquímicos e seus desempenhos frente ao paracetamol.
Eletrodo Faixa linear (µmol L-1) Limite de detecção (µmol L-1) Referência
OGr/HCFAg/ECV 2,5 – 750,0 2,38 -
HCFCu/EPC 284,0 – 2590,0 63,9 44
Nafion/TiO2-grafeno/ECV 1,0 – 100,0 0,21 45
C60/ECV 50,0 – 1500,0 50,0 46
5. CONCLUSÕES
A modificação do eletrodo de carbono vítreo com óxido de grafeno reduzido e
hexacianoferrato de prata apresentaram bons resultados quanto à sua síntese via voltametria
cíclica. Além dos voltamogramas que comprovam a eletrodeposição dos componentes, pôde-
se analisar com convicção a estrutura formada através das técnicas de caracterização
executadas.
Com o sucesso da modificação, foram feitos testes para comprovar a
estabilidade do eletrodo. O controle do sistema foi comprovado pelo teste de velocidade de
varredura, concluindo-o como um processo de difusão dos íons K+. Verificou-se também que
o pH 2 foi o de melhor performance do eletrodo modificado.
A técnica de amperometria acoplada ao sistema de análise por injeção em
batelada se mostrou viável para a detecção e quantificação do fármaco paracetamol. Os
resultados apresentaram uma faixa linear de 25 a 750 µmol L-1 em tampão fosfato pH = 2.
Através da construção da curva analítica, alguns parâmetros analíticos foram definidos:
Sensibilidade: 0,0164 µA µmol L-1;
Limite de detecção: 2,38 µmol L-1;
Limite de quantificação: 7,16 µmol L-1.
Portanto, conclui-se que a metodologia proposta possui simplicidade tanto na
modificação do eletrodo quanto na sua aplicação eletroquímica, visto que a eletrodeposição
35
do material condutor no eletrodo e seus diagnósticos foram de fácil execução. A rapidez da
análise também foi um ponto chave deste trabalho sendo que, além do número de ciclos da
deposição poder ser controlado, a inserção do agente modificador é ligeira. Ainda pode-se
exaltar a viabilidade ambiental do método proposto tendo em vista a utilização de pequenas
quantidades de reagentes nocivos, isto quando utilizado.
36
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