UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SULCAMPUS DE CHAPECÓCURSO DE PEDAGOGIA
JESANA NAYANNE TAVARES DOS SANTOS
ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS: A MULTIPLICAÇÃO NOS ANOS
INICIAIS
CHAPECÓ2014
JESANA NAYANNE TAVARES DOS SANTOS
ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS: A MULTIPLICAÇÃO NOS ANOS INICIAIS
Trabalho de conclusão de curso de graduaçãoapresentado como requisito para obtenção degrau de Licenciatura em Pedagogia daUniversidade Federal da Fronteira Sul.
Orientador: Prof. Dr. Pedro Augusto PereiraBorges
CHAPECÓ
2014
Análise de livros didáticos: a multiplicação nos anos iniciais1
Jesana Nayanne Tavares dos Santos2
Pedro Augusto Pereira Borges3
Resumo: Atualmente o professor dispõe de uma quantidade considerável de materiais deensino de Matemática, seja na forma de livros e (principalmente) na forma de arquivosdisponíveis na internet. Mesmo com toda essa disponibilidade o livro didático ainda é omaterial de apoio mais utilizado nas práticas pedagógicas escolares, e portanto, mereceatenção e estudos. O presente trabalho tem como objetivo analisar a apresentação conceitual edidática das atividades de ensino de multiplicação com números inteiros, presentes em umacoleção de livros didáticos. A metodologia utilizada para a coleta de dados e análise doconteúdo foi realizada com base no referencial teórico, e organizada em um quadro decategorias da multiplicação, tais como: contagem retangular, combinatória eproporcionalidade; elementos da multiplicação (multiplicando e multiplicador); propriedadesda multiplicação; algoritmos e recursos didáticos. Com base nesse quadro foram analisadastodas as possibilidades de multiplicação presentes em dois livros de uma coleção de um únicoautor relativos ao 2º e 3º ano. Foi constatado que o autor limita a apresentação a atividades naforma de problemas com figuras, cujo objetivo é o desenvolvimento de habilidadesoperatórias, apresenta poucas referências ao material didático e atividades de aplicação. Oquadro de análise, além de ser uma ferramenta de análise de livros didáticos, pode ajudar oprofessor a planejar as atividades de ensino ou buscá-las em fontes alternativas, uma vez queapresenta o cenário conteúdos-recursos didáticos-aplicações-cultura de forma objetiva e clara.Sendo assim, o uso do livro didático pode ser utilizado como um recurso na sala de aula,desde que o professor tenha um olhar crítico, não propondo como um recurso único noplanejamento da sala de aula.
Palavras-chave: matemática, livros didáticos, análise, multiplicação.
1 Esse artigo é fruto de uma exigência de Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Pedagogia daUniversidade Federal da Fronteira Sul, tendo como coordenadora a prof.ª. Dra. Solange Maria Alves.
2 Acadêmica da 9ª fase do curso de Pedagogia – Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó. E-mail: [email protected]
3 Professor orientador do Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus
Chapecó. E-mail: [email protected]
1
Introdução
É notável o grande número de publicações sobre a educação matemática e como esses
vêm trazendo contribuições para esta área. Revistas como o Bolema (Rio Claro, SP), Zetetikè
(Campinas, SP) e Alexandria (Florianópolis, SC) apresentam artigos sobre pesquisas
importantes sobre diversos temas, que de alguma forma se relacionam com a escola básica.
As revistas da SBEM (Sociedade Brasileira de Educação Matemática), nas suas versões
nacionais e regionais apresentam contribuições mais específicas sobre a prática pedagógica
das escolas. Os programas de pós-graduação em educação e educação matemática se
multiplicam pelo país e produzem grande quantidade de dissertações e teses. De modo geral,
estas publicações procuram percorrer caminhos alternativos, mostrando atividades,
concepções de matemática, de escola, de uso de materiais didáticos, que não reproduzam o
comum, privilegiando aprendizagens mais conceituais, o desenvolvimento da capacidade de
pensar e representar ideias com linguagem matemática.
Atualmente o professor dispõe de uma quantidade considerável de materiais de ensino
de Matemática, seja na forma de livros e (principalmente) na forma de arquivos disponíveis
na internet. O Projeto GESTAR é um exemplo de iniciativa governamental, com ampla
distribuição e sistema de treinamento. A revista Nova Escola, o Projeto: O Uso da Informática
no Ensino de Matemática na Educação Básica – da UNIJUI4, o Laboratório de matemática da
Faculdade de Educação pela Universidade de São Paulo5, o Programa Educar desenvolvido
pelo ICMC/USP6, o Laboratório de Matemática da Unesp7 são fontes de atividades
alternativas para o ensino.
A abundância de materiais de ensino não dispensa o professor de investir tempo e
disposição na criação de novas atividades, mesmo sabendo que tempo de planejamento e
criação são artigos escassos para o profissional da educação, dadas as condições de trabalho.
Isto mostra que existe uma produção significativa de Educação Matemática nas últimas três
décadas, que pode tornar mais prático o trabalho de preparação de aulas, comparativamente
há 40 anos. É importante ressaltar o papel de socialização desse material pela internet, que
4http://www.projetos.unijui.edu.br/matematica/principal/series_iniciais/index.html
5http://www2.fe.usp.br/~labmat/clube
6http://educar.sc.usp.br/matematica/
7http://www.ibilce.unesp.br/#!/departamentos/matematica/extensao/lab-mat/jogos-no-ensino-de-matematica/
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disponibiliza gratuitamente grande parte do acervo e principalmente pela facilidade gerada
pelos processos de busca com palavras-chave. Nos meios tecnológicos de informações se
torna mais fácil encontrar um artigo publicado no exterior do que localizar um livro na
biblioteca da escola. Assim, para preparar uma aula sobre adição com inteiros, basta ter um
computador conectado, paciência e competência para escolher dentre as opções que os
programas de busca oferecem.
Esta disponibilidade dos tempos modernos esconde problemas de qualidade desses
materiais. Nem todos os materiais disponíveis na internet passaram por análises cuidadosas
sobre o texto e qualidade das informações, sendo comum encontrar equívocos ou afirmações
duvidosas.
Mesmo assim, o acesso dos professores a essas fontes, no entanto, ainda é bastante
restrito, seja pelo desconhecimento delas ou pelas dificuldades impostas pelas condições de
trabalho. Com isso, o livro didático ainda é o material de apoio mais utilizado nas práticas
pedagógicas escolares. Porque os professores não conseguem se desvencilhar do livro
didático? A praticidade certamente é uma das respostas. No livro está tudo pronto, organizado
sequencialmente, com tarefas para o aluno, disponível e impresso em alta qualidade. Estas
facilidades são determinantes para um profissional com 40 ou 50 horas semanais de aula.
Os artigos, teses e dissertações apresentam dificuldades adicionais. Essas publicações
são geradas em ambiente acadêmico, onde a linguagem e profundidade no tratamento das
questões pedagógicas é bem característica e de difícil compreensão para o professor da escola
básica. Para que estas pesquisas sejam entendidas é necessária a dedicação de longo tempo de
leitura cuidadosa e posterior transposição das ideias para a prática escolar. Esse processo de
estudo dificilmente fará parte da rotina de professores da escola básica.
Essas constatações levam ao entendimento de que o livro didático deve merecer
alguma atenção especial, já que se constitui em uma das principais fontes de materiais de
apoio à prática pedagógica.
A escolha dos livros didáticos ocorre em práticas onde as questões técnicas são
relegadas há um segundo plano ou negligenciadas, como afirmam ZAMBON e
TERRAZZAN, após realizarem pesquisas em 15 escolas de educação básica:
Pelas análises das entrevistas realizadas, podemos afirmar que: 1) a organização doprocesso de escolha de LD nas EEB foi desencadeada muito mais por açõesdesenvolvidas pelas editoras do que propriamente por orientações do Fundo
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Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE); 2) no processo de escolha deLD, é bastante comum a realização de encontros breves durante o intervalo dasaulas, no qual os professores costumam tomar suas decisões acerca da seleção doslivros; 3) as ações desenvolvidas nas EEB mobilizam todos os professores, mediantea realização de, ao menos, uma reunião, mas essas ações restringem-se à tarefa deescolha dos LD em cada área disciplinar, não havendo discussões mais amplasacerca das finalidades próprias do ensino médio, nem acerca do papel dos LD paratanto. (ZAMBON e TERRAZZAN, 2013)
Tendo como base a importância do livro didático na prática pedagógica, o presente
trabalho pretende analisar a consistência conceitual e didática das atividades de ensino de
multiplicação com números inteiros presentes em dois livros didáticos, sendo eles de 2º e 3º
ano, evidenciando suas qualidades e limitações, no sentido de instrumentar o professor com
um referencial teórico na tomada de decisões quanto a utilização parcial ou total dos materiais
disponíveis.
Esse artigo está dividido em quatro partes como base da fundamentação teórica. Na
primeira parte discute-se sobre os conceitos de multiplicação; na segunda parte sobre a
Representação simbólica da multiplicação; na terceira parte aborda-se uma descrição sobre
recursos didáticos e multiplicação; e na quarta parte apresenta-se uma reflexão sobre
matemática, cultura, curiosidades e admiração. Em seguida será apresentado a metodologia
da pesquisa, os processos da coleta, a organização e a análise de dados, ao final será
apresentado alguns resultados obtidos através da análise dos livros.
Os conceitos de multiplicação
Como afirma GUIMARÃES e SANTOS (2009, p. 19)
“Os alunos precisam ser livres para pensar sobre qual a melhor forma de resolver osproblemas e essas formas devem ser consideradas possíveis pelos professores.Diferentes formas ou estratégias de solução podem implicar também diferentesregistros. É partindo dessas formas que podemos confrontá-las com o algoritmoconvencional, levando os alunos a sua compreensão.”
Constatamos que as dificuldades dos alunos em expressarem o raciocino matemático
na atividade da pesquisa estão relacionadas as práticas de ensino os quais vivenciaram
durante a sua escolaridade e que não os auxiliam aprender a resolver problemas, pois o que
lhes são ensinados caracterizam-se em simplesmente efetuar uma conta. Esta, por sua vez,
requer apenas saber operacionalizar um número com outro (GUIMARÃES e SANTOS,
2009).
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GÉRARD VERGNAUD apud GURGEL (2009), aponta alguns critérios onde acredita
que a criança começa a aprender a multiplicação nos primeiros anos de sua escolarização.
Esse autor divide os problemas do campo multiplicativo em três categorias: organização
retangular, proporcionalidade e combinatória. A organização retangular é uma apresentação
espacial das quantidades/elementos/unidades, na forma de colunas e linhas, sendo que a
quantidade de elementos se dará pela multiplicação do número de linhas e colunas. A
proporcionalidade, é a repetição em um número de vezes, do número de elementos de um
conjunto. Ou, usando a linguagem das proporções: se um conjunto tem X elementos, dois
conjuntos tem o dobro de X, três tem o triplo de X, e assim por diante. Nesse caso, o número
de elementos de um conjunto é obtido pela multiplicação do número de elementos do
conjunto pelo número de conjuntos. A combinatória é a contagem dos elementos de um
conjunto de possibilidades, através da combinação elemento a elemento de dois grupos de
elementos. Nesse caso, a multiplicação dos números de elementos de cada grupo, dá o
número de combinações do conjunto de possibilidades.
Representação simbólica da multiplicação
Como aponta NEHRING (1996), para a compreensão da multiplicação, é necessário
que o aluno faça representações semióticas, contemplando três aspectos básicos:
[...] sentido da operação leva em consideração as idéias básicas envolvidas naoperação, no caso da multiplicação a contagem de elementos em grupos; osignificado operatório dos algoritmos, é entendido através do sistema derepresentação dos números naturais e a aplicação da operação em situações extra-matemática, é utilização da ferramenta matemática em situações problemas (1996,p. 3).
A multiplicação implica em um salto epistemológico em relação à adição. Enquanto
que na adição se fazia uma contagem um a um, de elementos de conjuntos, na multiplicação
faz-se a contagem em grupos. O registro desta operação também tem significados diferentes
da adição. Para a adição dos elementos de dois conjuntos, ambos os números significam
elementos. Por exemplo: para saber quantos alunos tem em uma sala de aula, poderia
adicionar o número de meninas (15) com o de meninos (12). Ambos os números representam
a categoria 'alunos'. Na multiplicação o primeiro número (multiplicador) não indica
quantidade de elementos de um conjunto, mas 'quantas vezes outro conjunto deverá ser
repetido/somado'. Apenas o segundo número (multiplicando) representa elementos de um
conjunto. Essa passagem parece não ser fácil para os alunos, pois caracteriza deixar a
5
contagem dos elementos como pensamento aditivo simples, passando para a contagem em
grupos. Em todas as concepções de multiplicação (retangular, proporcional ou combinatória)
essa representação pode ser usada.
Para DUVAL apud NEHRING (1996) as representações simbólicas são essenciais
para as atividades cognitivas do pensamento, portanto para que o desenvolvimento seja
produtivo dependerá das representações semióticas, ou seja, dos significados relacionados ao
real, obtendo como ponto principal a interiorização das percepções. A aprendizagem da
matemática se dá quando o aluno passa por várias representações semióticas com registros
em níveis crescentes de abstração, desde a descrição oral dos fatos até a representação com
símbolos matemáticos.
Para alguns autores, entre eles VERGNAUD (1978), GROSSI (2008) e GURGEL
(2009), a multiplicação já poderia ser trabalhada com os alunos desde o primeiro ano,
praticando na forma de atividades a ideia de contagem em grupos, por exemplo. Esses
especialistas acreditam que quando se trabalha com os conceitos das quatro operações antes
mesmo da sistematização dos algoritmos, o aluno desenvolve a capacidade de identificar ou
reconhecer situações aditivas e multiplicativas em situações reais e nos problemas.
GUIMARÃES e SANTOS (2009, p. 3) afirmam que quando o aluno já sabe que
operação vai ser empregada na atividade, ele assume a “tarefa de executar a conta”. E tal
prática é considerada pelas autoras como equivocadas, pois isso é
[…] trabalhar matemática a partir de [...] listas de problemas a serem resolvidas apartir de um modelo recentemente ensinado. Essa prática explicita a ideia de que épreciso exercitar muito para aprender matemática. Essa forma de trabalho favoreceo uso de modelos de resolução que habilitam os alunos a resolverem problemasrestritos a situações propostas, sem levá-los a, de fato, aprender a resolverproblemas (GUIMARÃES; SANTOS, 2009, p. 3).
MUNIZ (2009) denomina essa prática de “reducionismo conceitual das operações
aritméticas”. Para o autor, quando a escola trabalha somente um conceito para cada operação,
acaba produzindo a referida prática e que conforme suas pesquisas, caracteriza uma das
causas da falta de habilidade de nossos alunos para resolverem problemas.
Essas observações reforçam a necessidade do ensino e prática do conceito das
operações, que é diferente do ensino do algoritmo. Na resolução de problemas, o
conhecimento do conceito da operação é necessário para definir o que fazer com os dados
(adicionar, subtrair, multiplicar, ...) enquanto que o algoritmo das operações é necessário para
6
fazer o cálculo escolhido. O conceito faz parte de um processo de relacionamento entre
significados reais e estrutura matemática, enquanto que o algoritmo é um processo
operatório. De modo prático, as dificuldades em reconhecer os conceitos das operações em
problemas aparece quando os alunos perguntam: “… professora, é de mais ou de vezes?” Ou
“… o que eu tenho que fazer?”.
Essas perguntas vindas dos alunos nos faz pensar no papel do professor quando está
ensinando determinado conteúdo. O professor, com seu conhecimento, deve fundamentar os
conteúdos de tal modo que o aluno não se perca no meio do caminho. Neste caso, quando o
professor apresenta os conceitos, como mencionado anteriormente, e apresenta as atividades
em forma de resolução de problemas se tornará mais fácil para o aluno aprender e apreender o
conteúdo ensinado.
Recursos didáticos e multiplicação
A aprendizagem do conceito pode se dar diretamente a partir da leitura, comunicação
textual, oral ou a partir de uma situação didática que leve os alunos a fazer relações, analisar,
sintetizar conclusões, construindo o conceito, mesmo que mediado pelo professor. Os
materiais didáticos, protocolos de atividades ou perguntas bem colocadas são recursos
eficientes para a construção dos conceitos. No entanto, apenas os conceitos não resolvem
problemas. A implementação da solução depende das operações numéricas, que quando
organizadas em sequência de passos, são chamadas de algoritmos. Operar com rapidez e
precisão é uma habilidade fundamental para a produção de resultados em problemas e como
tal (habilidade) precisa ser ensinada. Os exercícios numéricos têm a sua importância na
aprendizagem da matemática como maneira de fixar e desenvolver a habilidade de operar.
Isso não significa que os algoritmos devam ser ensinados somente a partir de treinamentos
repetitivos. Os algoritmos podem ser construídos como processos indutivos, ou seja, como
proposições obtidas a partir das observações de regularidades em fatos isolados (executadas
com números ou material didático, por exemplo), testadas para alguns casos e generalizadas.
Dessa forma exercitam um método de produzir ciência: a observação de fatos, a análise de
regularidades, a testagem e a generalização.
A resolução de problemas é o ponto de chegada do ensino de matemática, porque faz
parte da última etapa do processo de aprendizagem: conceito + propriedades + habilidades
operatórias + aplicações. A resolução de problemas faz com que o aluno busque por soluções
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utilizando tudo o que já aprendeu. Regras prontas muitas vezes não resolvem problemas, mas
a interpretação, o reconhecimento dos conceitos e a implementação dos cálculos pode levar a
soluções corretas. LIMA (2012, p. 6) afirma que “... as produções das crianças revelam
diversidade de variáveis de solução que permite fazermos inferência do que elas sabem,
matemática, acerca do conteúdo de divisão”. O mesmo pode-se observar com relação à
multiplicação, pois ambas estão envolvidas no conceito do campo multiplicativo. Segundo
LIMA, 2012; EBERHARDT & COUTINHO, 2011; ZATTI, AGRANIONIH & ENRICONE,
2010 a resolução de problemas tem sido o foco principal das dificuldades dos alunos.
Outro recurso com os quais os professores estão utilizando atualmente são os jogos
como recurso didático. No entanto devemos ter um esclarecimento de que o jogo não deve ser
apenas um passatempo em sala de aula, mas buscar o ensino-aprendizagem a partir daquilo
que está jogando. TONON (2004) nos explica muito bem esta questão
O uso de jogos como recurso pedagógico do ensino da matemática alcançaresultados promissores. Os jovens familiarizam-se rapidamente com aquilo que osatrai tornando-se, assim, uma aula prazerosa, recheada de estímulos para a busca deexplicações e formação do conhecimento matemático. Os jogos são ricos, quandobem escolhidos e explorados pelo professor. É muito importante não apenas utilizaros jogos pela recreação pura e simples, sem a devida análise e interpretaçãomatemática, mas que venham a somar esforços e conhecimentos ao aluno. Muitosprofessores de matemática utilizam jogos em suas aulas, mas apenas o jogo pelojogo, sem nenhuma preocupação em sistematizar e explorar as estruturasmatemáticas existentes que estão implícitas no ato de jogar. (TONON, 2004, p. 51)
Sendo assim, para que seja possível trabalhar com materiais didáticos é necessário ter
claro o objetivo com o qual se deseja trabalhar. LEFFA (2008) nos aponta alguns critérios,
destacando entre eles: análise, desenvolvimento, implementação e avaliação. O professor
obterá um resultado satisfatório se elaborar um planejamento detalhado. A “falta de
planejamento (...) pode resultar em perda de tempo, dinheiro e esforço” (FARDOULY apud
LEFFA, 2008, p. 16). A análise partirá do nível de aprendizado e desenvolvimento do aluno.
Matemática, cultura, curiosidades e admiração
A natureza formal da matemática (abstração, representação simbólica, demonstrações,
o rigor lógico) e a concentração necessária para estudá-la podem dar a esse ramo do
conhecimento uma aparência dura, fria, séria ou até o falso entendimento de que apenas
poucos iluminados podem aprendê-la. No entanto, a matemática é um conhecimento humano
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como qualquer outro, portanto tem uma história, uma evolução conceitual, com erros, acertos
e curiosidades. O aproveitamento de aspectos culturais e curiosos no ambiente escolar é uma
forma de minimizar o mito de que a matemática é um conhecimento frio e desprovido de
beleza. A história da matemática guarda informações que nos fazem entender melhor as
dificuldades dos alunos e as transformações dos conteúdos ao longo do tempo. A evolução
dos números mostra que poucas culturas construíram representações eficientes para efetuar
cálculos; a superação do uso de ábacos pelos algoritmos de base 10 foi um capítulo da disputa
entre técnicas de cálculo, hoje reeditada com as facilidades das atuais calculadoras e dos
ábacos chineses ou japoneses (suanpan e soroban, respectivamente). Do ponto de vista
recreativo, os jogos em geral e tabuadas de dedos, constituem recursos didáticos importantes
para desenvolver habilidades operatórias enquanto os alunos se divertem e constroem a sua
cultura matemática.
Quando o aluno depara com diferentes materiais de ensino, não ficando apenas na
resolução de problemas, ele terá um repertório maior de atividades na qual poderá relacionar
com a realidade. Aqui se pode citar o prazer de conhecer a cultura de nosso país, a literatura
infantil, entre outros fatores, na qual o aluno não só lê uma história condizente ao conteúdo
como ele pode criar possibilidades de autonomia do pensamento, obter informações, elaborar
conteúdos e podendo chegar a inúmeros fatores do processo cognitivo, favorecendo ao seu
desenvolvimento e aprendizado.
Metodologia da pesquisa
O presente trabalho foi realizado a partir de uma busca bibliográfica relacionada ao
uso do livro didático e a multiplicação, neste sentido o contexto apresentado anteriormente
serviu como base teórica para refletirmos sobre o que os livros didáticos trazem. Este trabalho
é uma análise sobre a apresentação conceitual e didática propostas em dois livros didáticos,
acentuando para o aprendizado da operação de multiplicação nos quatro primeiros anos do
ensino fundamental.
O livro didático foi escolhido considerando o uso efetivo, com base na observação de
um dos autores nas escolas de Chapecó:
Coleção Aprendendo Sempre
DANTE, Luiz Roberto. Aprendendo Sempre: Alfabetização Matemática, 2º ano. -São Paulo:
Ática, 2008.
9
DANTE, Luiz Roberto. Aprendendo Sempre: Matemática, 3º ano. -São Paulo: Ática, 2008.
Ambos os livros apresentam capítulos com conteúdos de matemática como adição,
multiplicação e medidas, na forma de exercícios, atividades e problemas. Neste trabalho foi
analisado apenas o material escrito sobre multiplicação. A análise dos livros foi realizada com
base no referencial teórico descrito acima, sistematizado nas seguintes categorias:
1. Conteúdos:
1. Contagem retangular;
2. Combinatória
3. Proporcionalidade
4. Elementos da multiplicação: multiplicando e multiplicador
5. Propriedades da multiplicação
6. Algoritmo
2. Recursos didáticos
Exercícios numéricos: exercícios apenas com números para exercitar operações.
Problemas: textos com instruções objetivas com ou sem figuras e preenchimento de lacunas.
Exemplos ilustrativos: são exemplos que visam detalhar conceitos, propriedades ou algoritmos.
Material concreto: são materiais como o ábaco, multibase, dourado, ...
Questões sobre os significados: são questões que chamam a atenção do alunopara o significado de algum conteúdo. Por exemplo: A multiplicação é umasoma? Se invertermos a ordem do multiplicando e multiplicador o produto éo mesmo?
Atividades: são propostas de ações de pesquisa que levam os alunos a inferir proposições, reconhecer conceitos, aplicar propriedades, exercitar algoritmos,significar conteúdos da matemática, etc.
3. Representação simbólica
Registro em português (palavras completas)
Registro com códigos de português (letras ou palavras abreviadas)
Registro com símbolos matemáticos (números, sinal da operação, posicionamento de números)
4. Cultura Matemática
Elementos de história da Matemática
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Resultados interessantes
Brincadeiras e curiosidades
Cada um dos seis conteúdos (ver item 1 das categorias acima) foi examinado
individualmente com relação a sua presença no livro, assim como em relação aos itens 2,3 e
4. Foram elaboradas fichas de anotações para cada conteúdo, registrados os modos como o
conteúdo aparecia no texto e a frequência (número de exercícios sobre o conteúdo).
Análise dos livros
Na tabela abaixo podemos observar o número de vezes que cada conteúdo da
multiplicação aparece na coleção analisada. Em seguida, são apresentadas as observações
sobre a tabela e a análise qualitativa de cada categoria.
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Tabela 1 – Quantidade de conteúdos da multiplicação na coleção do livro didático
analisado
Conteúdo
Ano
Recursos didáticos RS CM
E P EI MC QSS A
Contagem retangular 2º - 9 1 - 1 - 1 -
3º - 14 4 2 4 - 1 1
Combinatória 2º - 5 1 - - - 1 -
3º - 13 - - - 1 1 1
Proporcionalidade 2º - - - - - - - -
3º - 3 - - - - 1 -
Elementos da multiplicação
(multiplicando e multiplicador)
2º 7 15 8 1 3 1 1 3
3º 25 39 15 1 7 - 3 5
Propriedades da multiplicação 2º - 4 2 - - - 1 -
3º 2 5 2 - - - 1 -
Algoritmos 2º - - - - - - - -
3º 5 10 3 1 - - 3 -
Legenda:
E: Exercícios
P: Problemas
EI: Exemplos ilustrativos
MC: Material Concreto
QSS: Questões sobre os significados
A: Atividades
RS: Representação Simbólica
CM: Cultura Matemática
Contagem retangular
2º ano:
A concepção de contagem retangular é apresentada predominantemente (9 problemas)
na forma de problemas com figuras, perguntas sobre filas e colunas e lacunas para o aluno
preencher. Analisando a Tabela 1 é possível observar que o livro didático não apresenta
exercícios numéricos, um dos motivos seriam o fato de não ter necessidade nessa fase do
ensino e pelo conteúdo trabalhar mais precisamente com o uso de imagens para representar
algo retangular, exemplo: uma sala de aula e as carteiras dispostas em filas.
12
Também constatamos que não apresenta o uso de material concreto. Neste capítulo há
a inserção de uma questão envolvendo uma das propriedades da matemática
(comutatividade), porém sem generalização da ideia da propriedade. Todas as atividades são
apresentadas o sinal da multiplicação e a representação de um número vezes o outro, no
entanto sem a identificação de multiplicador e multiplicando, constando a apresentação dos
conceitos como fatores e produto.
3º ano:
O livro não apresenta exercícios numéricos para contagem retangular, mas oferece
uma vasta quantidade de problemas (14 problemas), seja através de figuras ou com o uso do
papel quadriculado. O autor utiliza exemplos ilustrativos (4 exemplos) para que o aluno possa
compreender e representar a contagem retangular, sendo que um dos exemplos desenvolve a
capacidade de reconhecer o conceito na situação apresentada.
O autor utiliza a propriedade comutativa em alguns dos problemas, porém sem citar o
nome da propriedade. Não é possível observar atividades que relacionem com a realidade do
aluno. No entanto o livro traz uma curiosidade sobre equipe de paraquedistas formando uma
contagem retangular e propõe ao aluno fazer a resolução do problema. Em todos os exercícios
e problemas é utilizado o sinal x como representação simbólica da multiplicação.
Contagem combinatória
2º ano
Pode-se notar, através da Tabela 1, que não há exercícios numéricos na contagem
combinatória, o que necessariamente não teria como propor exercícios contendo apenas
números para resolução desta categoria. Em todas os problemas(5 problemas) há a presença
de imagens representando algum objetos condizente aos da realidade, em outro problema é
possível observar o uso de letras e números para a combinação em suas diferentes ordens.
Consta com a presença de um exemplo sob a forma de conceito, no entanto não mostra ao
aluno como resolver, mas propõe ao aluno como chegar ao resultado. Podemos observar que
na representação simbólica é usado o sinal x para o uso da multiplicação, sendo assim, em
alguns momentos aparecem registros escritos como a palavra “vezes” e “igual” sendo
elementos fundamentais da multiplicação e que inicia nesta fase do ensino.
13
3º ano
Neste livro o autor apresenta o conceito com um pequeno texto, em um segundo
capítulo, explicando o que é o raciocínio combinatório, na forma de possibilidades. Podemos
observar que entre os dois capítulos, apresenta praticamente toda a concepção de
combinatória na forma de problemas (5 problemas), sendo eles registrados através de figuras,
letras e números. Neste conteúdo não há exercícios numéricos (não há possibilidades na
contagem combinatória), exemplos ilustrativos, uso de material concreto, questões sobre os
significados e atividades que possam contribuir para o aprendizado do aluno.
Podemos notar a presença de um desafio que possibilita o raciocínio do aluno,
propondo aperto de mãos com determinada quantidade de pessoas. É uma atividade
desafiante a ser resolvida sem o uso de algoritmos ou de uma operação pré-determinada.
Proporcionalidade
2º ano
Em nenhum momento é trabalhado com a proporcionalidade neste material didático.
3º ano
Podemos observar que 3 problemas poderia ser trabalhado com a proporcionalidade,
no entanto o autor não trata especificamente deste conteúdo nessa fase do ensino.
Elementos da multiplicação
2º ano
Podemos constatar a presença de 7 exercícios numéricos que retratam elementos da
multiplicação, sendo eles exercícios que possibilitem seguir modelos com os quais o aluno já
tenha aprendido e apreendido. Há 15 problemas que trabalham com os termos multiplicando e
multiplicador, mas neste caso, denominado de fatores nos livro didático, e com a
denominação de produto para o resultado da multiplicação.
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Neste capítulo do livro podemos observar o conceito de produto, dobro e triplo de
forma sintetizada, exemplificando através de imagens. Podemos constatar também 8
exemplos ilustrativos de forma clara e sintetizada, propondo ao aluno seguir modelos para a
resolução dos demais problemas a partir dos já propostos. Há também a construção de um
jogo com possibilidade de trabalhar o conteúdo, sendo um exercício como fechamento do
conteúdo da multiplicação.
É possível observar que 3 questões chamam atenção quanto a efetuar contas de
multiplicação, demonstrando os sinais (x e =) e o conceito de produto. Dentre esses
problemas e exercícios podemos perceber a presença de uma atividade que propõe ao aluno
fazer perguntas ao colega, dando possibilidades deles criarem um enunciado e chegarem ao
resultado, no entanto vai depender de como o aluno conseguiu compreender a multiplicação
para direcioná-la a realidade.
O livro não trata apenas de exercícios, problemas e atividades, entre as outras
categorias observadas, como também podemos notar a presença de alguns desafios propostos
aos alunos quanto ao uso da multiplicação, dicas de literatura infantil e algumas parlendas
que contribuem para a fixação do conteúdo.
3º ano
O livro não trata dos elementos como multiplicando e multiplicador, mas denomina-os
como fatores. Podemos observar neste conteúdo do 3º ano uma maior quantidade de
exercícios numéricos(25), problemas(39) e exemplos ilustrativos(15), dando ao aluno a
possibilidade de testar seu conhecimento na execução das atividades propostas. Destas
atividades, 7 questões estão direcionados aos significados do uso da propriedade comutativa,
no entanto sem sua definição. Não é possível observar atividades que possam propor a
realidade do aluno. O autor utiliza representações simbólicas com o uso do sinal x para
multiplicar e registro em códigos, como exemplo D para dezena e U para unidade.
É possível observar neste capítulo o uso de alguns desafios (3) propondo o raciocínio
lógico sobre o uso da multiplicação e duas leituras adicionais da literatura infantil que
contribui para o conhecimento abrindo leques a outros olhares, como da língua portuguesa, e
ampliando a cultura matemática.
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Propriedades da multiplicação
2º ano
Nas propriedades de multiplicação é possível observar 4 problemas da propriedade
comutativa, entre esses, dois são propostos como exemplos ilustrativos. No entanto, o livro
não trabalha com as demais propriedades (elemento nulo, elemento neutro, associativa e
distributiva).
Observando a Tabela 1 nota-se a ausência de outros recursos didáticos, como
exercícios numéricos, material concreto, questões sobre os significados e atividades. Na
representação simbólica podemos notar o uso do sinal “x” para representar a multiplicação.
Não consta no livro nenhum recurso da cultura matemática que possa ser trabalhado as
propriedades da multiplicação.
3º ano
Neste capítulo podemos notar a presença de duas propriedades, sendo elas elemento
nulo e comutativa, no entanto os livros não as trata especificamente, o que por ventura
poderia já ser iniciado nessa fase de desenvolvimento do aluno.
É possível observar um número, embora pouco, de exercícios numéricos(2), sendo um
de cada propriedade; 5 problemas da propriedade comutativa, entre eles podemos observar 2
exemplos ilustrativos. O autor faz o uso do sinal x para representação simbólica da
multiplicação.
Algoritmos
2º ano
O livro do 2º ano não traz atividades que relacionam a construção do algoritmo.
3º ano
É possível observar no livro do 3º ano o uso dos algoritmos, embora sendo poucas
concepções, possibilitam que o aluno consiga compreender este conteúdo. Sendo assim, o
autor utiliza 3 exemplos ilustrativos para a representação dos algoritmos, 5 exercícios
numéricos e 10 problemas que dão possibilidades ao aluno para resolver partindo do que já
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conhece. Nesse conteúdo podemos observar também o uso do papel quadriculado, para
compreensão do aluno na multiplicação com algoritmos. Na representação simbólica
podemos observar o uso do sinal x para a multiplicação e os registros com códigos, D para
dezena e U para unidade.
Considerações Finais
O autor trabalha prioritariamente as concepções de combinatória e contagem
retangular, negligenciando a proporcionalidade. Mesmo entendendo que as primeiras são
mais concretas e por isso devem ser trabalhadas anteriormente, a pouca atenção à
proporcionalidade é lamentável, pois essa é a concepção mais utilizada nos problemas
cotidianos, de cálculo de preços, quantidade de materiais, etc.
Pela análise das categorias e conforme a fundamentação teórica sobre os conceitos da
multiplicação, pode-se observar que a coleção não os apresenta associados à identificação nos
problemas ou situações quaisquer. Há sim uma identificação em exercícios isolados e
repetitivos, mas não em problemas mais gerais ou atividades reais. Como enfatiza
FERREIRA (2003),
só existe conhecimento e aprendizagem quando a pessoa é capaz de interpretar umasituação nova partir das suas organizações internas anteriores, permitindo-lhe estaação interpretativa ampliar os conhecimentos existentes e com eles construir novasorganizações internas mais complexas, pelo enriquecimento das estruturas e dosesquemas. (2003, p. 10)
O que não ocorre de forma sistemática na obra analisada, que prioriza a apresentação
das situações de aprendizagem na forma de pequenos problemas com imagens e figuras
representando objetos, propondo que o aluno complete com os números nos espaços
apropriados. Pressupõe-se que ao realizar esses exercícios os alunos entendam as três
concepções de multiplicação e exercitem as habilidades de contar em grupos.
O autor utiliza bastante o recurso do exemplo ilustrativo, que desenvolve a leitura e a
capacidade de interpretação, principalmente no 3º ano, talvez porque nesse ano a leitura seja
mais fluente.
A baixa incidência de questões sobre os significados é verificada e reforça a
dificuldade de discutir os conceitos e suas propriedades. Esses tipos de questões requer
observações de fatos matemáticos, induções e generalizações.
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Em todos as concepções da multiplicação, o autor apresentou a representação
simbólica matemática, inclusive com registros em português para o sinal 'x' para vezes e '='
para igual. Da mesma forma para a representação de D para dezena e U para unidade. Mesmo
assim, observou-se poucas sugestões de exploração do material concreto, como forma de
representação da multiplicação.
A coleção não apresenta atividades sobre situações reais, por exemplo a contagem de
azulejos, ladrilhos, lajotas da sala de aula ou outro ambiente de seu convívio. Neste caso,
nenhuma das atividades propõe ao aluno sair do papel e enfrentar um problema real,
interpretar dados e informações, decidir a operação matemática a ser usada e implementar um
algoritmo aplicado ao problema.
Tanto os livros do 2º ano quanto do 3º ano, trazem ideias de referências da literatura
infantil para complementar o conteúdo estudado, isso dá a possibilidade do professor poder
escolher essa outra opção para fomentar o assunto ensinado.
O referencial teórico associado às categorias de análise viabilizaram inicialmente a
compreensão do campo multiplicativo como conhecimento e como saber escolar. Em um
segundo momento, permitiram a tipificação dos focos de análise e a sua implementação na
localização e identificação durante o exame da obra em análise. Assim, com o quadro de
análise estabelecido e compreendido, ficou relativamente fácil (mesmo que laborioso)
identificar as categorias e discutir suas características. A quantificação dos recursos didáticos
evidenciou a preferência do autor por problemas – exercícios com figuras e mostrou as
deficiências com relação ao ensino da concepção de proporcionalidade.
O quadro de análise, além de ser uma ferramenta de análise de livros didáticos, pode
ajudar o professor a planejar as atividades de ensino, uma vez que apresenta o cenário
conteúdos–recursos didáticos–aplicações–cultura de forma objetiva e clara.
Conhecendo as limitações dos livros didáticos, mas reconhecendo que eles trazem
atividades que podem ser utilizadas, além de serem práticos como materiais disponíveis, qual
o seu papel para o ensino da matemática? O livro é um dos materiais didáticos e não o único.
Ao identificar as limitações o professor não deve ficar baseado apenas nas atividades que o
livro propõe, mas propor outras atividades que garantam o desenvolvimento do aluno e a
aprendizagem. Livros não didáticos, mas relacionados ao ensino contem várias sugestões de
problemas e atividades. Particularmente, para a multiplicação são boas indicações a utilização
das obras de ROSA NETO (1992) e DANTE (2008). Além disso, a proposição de atividades
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práticas de leitura do cotidiano é uma alternativa de aplicação da matemática e extrapolação
das limitações do ensino livresco.
Devido a importância de discutir a qualidade dos materiais de ensino, entendemos este
trabalho como uma primeira iniciativa, a ser complementada através da análise de outros
livros didáticos e de apoio ao ensino, para se ter uma compreensão melhor das alternativas
disponibilizadas pelas editoras. Essa tarefa poderá ser realizada em trabalhos futuros.
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