Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Tecnologia e Ciências
Instituto de Química
Lizia Siliprandi da Silva Ferreira
Balanço energético nutricional e vida saudável: uma proposta de
trabalho interdisciplinar para o Ensino Médio
Rio de Janeiro
2014
Lizia Siliprandi da Silva Ferreira
Balanço energético nutricional e vida saudável: uma proposta de trabalho
interdisciplinar para o Ensino Médio
Monografia submetida ao corpo docente do Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito final para obtenção do diploma de Licenciatura em Química.
Orientadora: Prof.ª Drª. Maria de Fátima Teixeira Gomes
Rio de Janeiro
2014
Lizia Siliprandi da Silva Ferreira
Balanço energético nutricional e vida saudável: uma proposta de trabalho
interdisciplinar para o Ensino Médio
Monografia submetida ao corpo docente do Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito final para obtenção do diploma de Licenciatura em Química.
Aprovada em: __________________________________________________________
Banca Examinadora:
_____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Teixeira Gomes (Orientadora) DQGI/IQ/UERJ
_____________________________________________ Prof. Dr. Fábio Merçon DTPB/IQ/UERJ
_____________________________________________ Denise Gutman Almada - C. E. Professor Ernesto Faria / SEEDUC-RJ.
Rio de Janeiro
2014
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais e irmã, que sempre estiveram comigo
me apoiando e ajudando, ao meu grande amigo e namorado e aos cães da
minha vida, que me mostraram o verdadeiro amor, puro e incondicional.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por terem lutado para me dar uma boa educação, mesmo com as
dificuldades que nos atingiram.
À minha irmã, por ter me incentivado desde o início a estudar e por acreditar na
minha capacidade.
Aos meus amigos, pelas conversas loucas e divertidas que me ajudaram a
distrair a mente para a confecção deste trabalho.
À professora Fátima Gomes por orientar este trabalho e o projeto mais
significativo da minha graduação, o projeto Pibid- UERJ
À Nossa Senhora das Graças por iluminar meus pensamentos e caminhos.
À amiga Vivian Suzano por me ajudar pronta e pacientemente com a numeração
das páginas e ao amigo Admilson que ajudou com o abstract.
RESUMO
FERREIRA, Lizia Siliprandi da Silva. Balanço energético nutricional e vida saudável:
uma proposta de trabalho interdisciplinar para o Ensino Médio. 2014. 56 f. Monografia
(Graduação em Licenciatura em Química) – Instituto de Química – Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
A educação no país vem, há alguns anos, procurando por novas pedagogias
para a renovação do processo de ensino-aprendizagem e uma das alternativas propostas é a adoção da interdisciplinaridade dentro de sala de aula e em projetos realizados nas escolas. Busca-se, desse modo, tornar a aprendizagem mais significativa através da integração das disciplinas do currículo escolar entre si e com o cotidiano vivido pelos alunos. Mesmo com dificuldades de implementação, a interdisciplinaridade vem ganhando espaço nas metodologias de ensino utilizadas por alguns professores e escolas. Nesta Monografia relatamos a aplicação e os resultados de um projeto escolar interdisciplinar, entre Química e Matemática, desenvolvido com um grupo de oito alunos de uma turma do segundo ano do Ensino Médio, de uma escola Estadual do Rio de Janeiro, parceira no Pibid-Química–UERJ. O projeto escolar teve por objetivo conscientizar os estudantes sobre a importância de uma alimentação saudável e da prática de exercícios. O trabalho foi desenvolvido em aulas de Química, mas deixou claro que nenhum conteúdo pertence a uma única disciplina, podendo ser abordado por diferentes pontos de vista. Versou sobre balanço energético nutricional e vida saudável, relacionando o poder calórico dos alimentos com os ganhos de energia quando nos alimentamos e as respectivas perdas quando praticamos exercícios. O trabalho em grupo proporcionou a participação de todos os integrantes durante a elaboração do projeto e permitiu que estes desenvolvessem opiniões e conceitos a respeito de um assunto presente em seus cotidianos. A interdisciplinaridade proporcionou, dessa forma, um aprendizado mais dinâmico e atrativo aos alunos, tornando-o mais significativo. Descrevemos também a concretização de um projeto interdisciplinar envolvendo Química e Matemática utilizando como tema norteador a obesidade, doença que atinge mais da metade da população brasileira e que, entre os jovens, é motivo de piadas e de preconceitos, de forma a conscientizá-los de que tais situações devem ser extintas e repreendidas no ambiente escolar e fora dele também.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Balanço energético nutricional; Obesidade.
ABSTRACT
In the last years, the education in Brazil has been searching for new pedagogies in order to renew the teaching/learning process and one alternative is the adoption of interdisciplinary approaches in the classes itself and in projects involving the entire school. The intent, thus, is making learning more meaningful by the integration of all school curricular subjects among themselves and with the students’ everyday lives. Even facing some implementation difficulties the interdisciplinary methodology has been progressively adopted and applied by some teachers and schools. In this study, the application and results of a school interdisciplinary project, involving Chemistry and Mathematics subjects, developed by a group of eight students from a class from the second year of a State High School from Rio de Janeiro and Pibid-Quimica-UERJ partner is presented. The purpose of the school project was making the students aware of the importance of a healthy diet and the practice of exercises. The works were developed in Chemistry classes, although, it has been made clear that any of the contents presented are not specific of a single subject, but can be related to different subjects. The classes discussed nutritional energetic balance and healthy live issues, relating the caloric power of food to energy gain, in case of ingestion, and energy loss, in case of practice of physical exercises. The group work made possible for all the students participate and develop their own opinions and concepts on issues which are common in their everyday lives. The use of an interdisciplinary methodology has resulted, therefore, in a more dynamic and attractive teaching for the students, making the learning more meaningful. It is also described the application of an interdisciplinary project involving Chemistry and Mathematics using as guiding theme the obesity, a disease that affects more than half of the Brazilian population, and which is also, among young people, a reason for prejudice and jokes, in order to make them aware that such events must not be allowed in school and other environments. Key words: interdisciplinary; Nutritional Energetic Balance; Obesity.
SUMÁRIO
1
1.1
1.2
2
2.1
2.1.1
2.1.2
3
3.1
3.2
4
4.1
4.2
5
INTRODUÇÃO ............................................................................................
INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO ESCOLAR.............................
Breve histórico da interdisciplinaridade na sociedade mundial e no
Brasil...........................................................................................................
Dificuldades de implementação da interdisciplinaridade.....................
A TEMÁTICA ALIMENTAÇÃO EM UMA ABORDAGEM
INTERDISCIPLINAR....................................................................................
Temas de debates e conteúdos de aprendizagem relacionados à
temática alimentação.................................................................................
Balanço Energético Nutricional, um tema para a sala de aula.....................
Um Projeto Interdisciplinar sobre o Tema Obesidade..................................
METODOLOGIA..........................................................................................
Balanço Energético Nutricional e Vida Saudável....................................
Dados Estatísticos Relacionados à Obesidade......................................
RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................
Balanço Energético Nutricional e Vida Saudável....................................
Dados Estatísticos Relacionados à Obesidade......................................
CONCLUSÃO..............................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................
ANEXO I.......................................................................................................
ANEXO II......................................................................................................
ANEXO III.....................................................................................................
ANEXO IV....................................................................................................
ANEXO V.....................................................................................................
ANEXO VI....................................................................................................
ANEXO VII...................................................................................................
9
14
16
19
24
27
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32
32
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35
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48
50
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53
55
58
59
9
INTRODUÇÃO
O processo de educação atual passa por mudanças, bem como a sociedade em
que vivemos e para acompanhar tais mudanças, os métodos de ensino devem
apresentar mais dinamismo e envolver os alunos de forma que estes tenham
participação direta e sejam os principais agentes de sua própria aprendizagem.
O modelo antigo de ensino, no qual a sala de aula é composta por alunos
passivos e por um professor detentor das verdades, dá lugar a uma sala de aula mais
dinâmica e com a participação de todos os personagens do processo de educação.
Alunos e professores passam a trocar saberes e vão compondo o processo de ensino-
aprendizagem.
Assim, de forma a promover uma aprendizagem mais significativa e que sirva
como base para a formação de cidadãos críticos e participativos, os conteúdos
estudados em sala de aula devem interagir diretamente com o cotidiano dos estudantes
e proporcionar a troca de saberes entre estes e com os professores. Um método muito
importante para que tal objetivo seja alcançado seria a introdução de projetos que
incluam a interdisciplinaridade como base de sua organização.
Autores como Ivani Fazenda, Ilton Japiassu e Edgar Morin vêm produzindo
trabalhos e pesquisas em torno dessa temática, pois acreditam que a
interdisciplinaridade, independente de definições, tem um papel importante para o
sucesso do processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, Morin (2005) entende que
só o pensamento complexo sobre uma realidade também complexa pode fazer avançar
a reforma do pensamento na direção da contextualização, da articulação e da
interdisciplinaridade do conhecimento produzido pela humanidade. Ou seja, para
abordar os fatos que estão presentes na realidade vivida no cotidiano dos alunos – que
se desenrolam através de relações complexas –, é preciso que haja uma proposta
educacional que seja executada a partir destas relações, e a interdisciplinaridade
mantém tal complexidade tanto quando relaciona as disciplinas do currículo escolar
entre si como quando as relaciona com a realidade vivida pelos alunos.
10
A interdisciplinaridade surge com o objetivo de reestabelecer o diálogo entre as
disciplinas que compõem o currículo escolar, diminuindo a distância existente entre elas
e mostrando que um mesmo assunto ou conteúdo não são exclusivos de uma disciplina
específica.
Entretanto, o processo de interdisciplinarização não é simples. Ele implica em
mudanças significativas nos métodos didáticos de ensino. De acordo com Ivani
Fazenda (1979), a introdução da interdisciplinaridade no cotidiano escolar implica numa
transformação profunda da Pedagogia, juntamente com uma nova formação de
professores e um novo jeito de ensinar. A relação pedagógica deixa de ser baseada na
transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que se estabelece segundo um
modelo hierárquico linear, e passa a ser uma relação pedagógica dialógica que
promove uma integração dos saberes cada vez mais profunda.
Por esse motivo, há ainda, uma grande dificuldade de implementação de
propostas pedagógicas interdisciplinares nas escolas. Problemas como a falta de
comunicação entre os professores no momento de planejamento escolar anual, a falta
de recursos e a falta de vontade em modificar o jeito de lecionar, são algumas das
dificuldades encontradas. Ainda assim, a vontade de mudar as metodologias
educacionais atuais é grande e existem diversos trabalhos e pesquisas voltadas para
esse assunto e que defendem a interdisciplinaridade como uma alternativa proveitosa.
Neste contexto, defendendo o pensamento de que o processo de ensino-
aprendizagem torna-se mais significativo para o estudante quando os conteúdos
ensinados são apresentados sob as óticas de várias disciplinas, o presente trabalho
abriga a ideia que a adoção de práticas interdisciplinares em aulas de Química é um
importante método para promover o aprendizado dessa ciência no Ensino Médio.
Dentre as metodologias de ensino que privilegiam a interdisciplinaridade,
destacamos a execução de projetos escolares. O desenvolvimento de projetos
escolares interdisciplinares possibilita a abordagem de diversos temas (científicos,
sociais, ambientais, políticos, etc.) transversalmente aos conteúdos conceituais, além
de dar aos alunos oportunidades de planejar e executar trabalhos e pesquisas. Como
estratégia de ensino favorece o aprendizado de conceitos, atitudes e procedimentos,
11
especialmente, quando as atividades são desenvolvidas em grupo, o que irá requerer a
divisão de trabalho e responsabilidades e, o compartilhamento de ideias.
Temas como alimentos e educação nutricional, amplos e interdisciplinares,
podem ser trabalhados nas escolas dentro das salas de aula ou extraclasse, através de
projetos, como as Feiras de Ciências e Feiras do Conhecimento, etc. Os projetos são
importantes para o processo de ensino-aprendizagem, pois têm a necessidade de ir
além do espaço escolar, ampliando-o e tornando o cotidiano dos alunos o seu
laboratório de pesquisas que passam a ser personalizadas. Este modelo de pedagogia
escolar, juntamente com a interdisciplinaridade, deve ser difundido no contexto
educacional atual de forma a renovar o modelo de ensino tradicional a partir do qual as
disciplinas científicas são abordadas. Projetos interdisciplinares no ensino médio
constituem metodologias que seguem as orientações das Diretrizes Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1999) que se referem à contextualização do ensino com a
realidade dos alunos.
Tendo em vista tais fatos, é realizada anualmente no Colégio Estadual Professor
Ernesto Faria, localizado do Rio de Janeiro, uma Feira do Conhecimento, a qual propõe
a elaboração de projetos escolares interdisciplinares para serem apresentados e
avaliados. Em 2013, Ano Internacional da Matemática, foi proposto que cada professor
orientasse grupos no preparo de um projeto interdisciplinar envolvendo a sua disciplina
e a Matemática.
O projeto escolar que será apresentado nesta Monografia abordou o tema
alimentação, sendo considerados como enfoques principais a Química e a Matemática,
porém, assim como todo trabalho interdisciplinar, os conteúdos abordados não se
limitam unicamente a estas disciplinas. Particularmente, neste trabalho a Biologia está
intimamente ligada aos conteúdos apresentados.
A temática alimentação é bastante utilizada em projetos interdisciplinares como
tema norteador, pois abrange uma gama de assuntos que podem ser trabalhados sob
os olhares de diversas disciplinas, visto que é uma temática que está diretamente
relacionada com a vida dos estudantes e, dessa forma, proporciona uma aprendizagem
integrada e significativa que será levada pelos alunos para além da escola.
12
A interdisciplinarização deste tema abrange disciplinas como História, Geografia
e Sociologia, que o abordarão através de suas óticas voltadas para as influências
históricas, regionais e sociais, respectivamente. Abrange também a Química, a Física, a
Matemática, a Biologia e a Educação Física, podendo ser abordados assuntos como o
poder calórico dos alimentos, o balanço energético nutricional, as estatísticas referentes
a dados relacionados às doenças causadas por uma má alimentação e a educação
alimentar e física, respectivamente.
Cabe ressaltar que a interdisciplinaridade não anula a importância das disciplinas
que constituem o currículo escolar, mas sim integraliza os conteúdos ensinados
separadamente, mostrando as interligações que existem entre estas. Ela torna-se uma
alternativa à abordagem disciplinar dos diversos objetos de estudo.
O trabalho aqui relatado foi desenvolvido por intermédio do Subprojeto Química
da UERJ, integrante do Programa de Bolsas de Iniciação a Docência da Capes (Pibid),
com um grupo de oito alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual
Professor Ernesto Faria. O projeto escolar foi denominado “Balanço Energético
Nutricional e Vida Saudável”. Teve por objetivo conscientizar os jovens, e
consequentemente as pessoas de seus ciclos familiar e social, de que uma boa
alimentação e a prática de exercícios trazem benefícios para uma vida saudável, longe
do sedentarismo e de doenças causadas por uma má alimentação.
O projeto foi desenvolvido em etapas sucessivas, com dificuldades crescentes,
de tal modo que os conteúdos aprendidos nas etapas anteriores eram complementados
nas etapas posteriores. Aos alunos foi apresentado, inicialmente, um questionário com
perguntas simples sobre alimentação, nutrição e balanço energético nutricional.
Posteriormente foram trabalhados os assuntos relacionados à alimentação e sua
manutenção para uma vida saudável, o conceito de balanço energético nutricional e os
cálculos de ganho e gastos energéticos envolvidos na alimentação e na prática de
atividades físicas.
Os integrantes do grupo foram os responsáveis por todas as pesquisas e pela
elaboração do trabalho para a apresentação na Feira do Conhecimento, sendo apenas
orientados, caso houvesse alguma dúvida ou algum conteúdo errado incluído no
trabalho. Tal ação torna os alunos construtores do próprio conhecimento e ajuda-os a
13
discernir entre as informações relevantes das que não são e as fontes seguras das
errôneas.
Além do trabalho proposto como projeto interdisciplinar entre Química e
Matemática, existem diversos que podem ser elaborados com o mesmo objetivo
utilizando a alimentação como tema norteador, como por exemplo, os dados estatísticos
envolvendo a obesidade no país e no mundo. Uma proposta deste tipo também é
apresentada e discutida nesta Monografia como uma das inúmeras alternativas
existentes para abordar ao tema alimentação na sala de aula.
OBJETIVO
O objetivo desta Monografia é destacar a importância de novas abordagens
didáticas dentro das salas de aula, em especial o trabalho com projetos escolares
interdisciplinares, que possibilitam aumentar o nível de conhecimento dos estudantes
ao integrar os conteúdos abordados pelas várias disciplinas do currículo escolar.
14
1 INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO ESCOLAR
No mundo atual, na qual a realidade torna-se cada vez mais complexa, com
relações e dinâmicas tão diferentes das tradicionais, a educação e as formas de ensinar
e de aprender não devem ser mais as mesmas. É requerido, dessa forma, um
pensamento abrangente e multidimensional, capaz de compreender tal complexidade, e
a construção de um conhecimento que leve em consideração essa mesma amplitude.
Nesse sentido, os temas abordados em sala de aula têm cada vez mais o dever de
inserir o aluno no contexto social em que vive, de modo que este apresente “a
preparação básica para o trabalho e a cidadania [...], para continuar aprendendo, de
modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores” (BRASIL, 1996, p. 24). Além disso, a educação escolar
deve proporcionar “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”
(BRASIL, 1996, p. 24).
Dessa forma, surge uma preocupação em atender a tais necessidades quando
são preparados os conteúdos que serão trabalhados nas escolas e, a exemplo dos
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, são elaboradas leis e
diretrizes para direcionar a organização do trabalho escolar que têm o objetivo de
estimular
[...] a articulação das competências gerais que se deseja promover com os conhecimentos disciplinares [e que apresentam] um conjunto de sugestões de práticas educativas e de organização dos currículos que, coerente com tal articulação, estabelece temas estruturadores do ensino disciplinar [...] (BRASIL, 2012, p. 7).
Estas ações têm por objetivo o rompimento da educação atual com os modelos
tradicionais de ensino, tornando-a mais integrada aos acontecimentos relevantes à vida
cultural, social e intelectual dos alunos. Nesse contexto, é inserida a
interdisciplinaridade. A partir dela, há a necessidade de diálogo entre as disciplinas
numa perspectiva educacional buscando inovação.
Diversos autores como Fazenda, Nogueira, Japiassu e Lück têm discutido sobre
a importância da interdisciplinaridade na produção e na socialização do conhecimento
15
no campo educativo. Porém, de um modo geral, a literatura sobre esse tema mostra
que existe pelo menos uma posição consensual quanto ao sentido e à finalidade da
interdisciplinaridade: ela busca responder à necessidade de superação da visão
fragmentada nos processos de produção e de socialização do conhecimento
(THIESEN, 2008).
Um processo educativo que é desenvolvido de forma interdisciplinar contribui
para uma formação mais crítica, criativa e responsável e coloca escola e educadores
diante de novos desafios.
São inúmeras as relações que participam do processo de construção e de
organização do conhecimento dentro da sala de aula. Por exemplo, as relações entre
professores, alunos e objetos de estudo irão sendo construídas de modo a comporem o
ambiente escolar, no qual são formados novos conceitos, posições e opiniões. Dessa
forma, o enfoque interdisciplinar aproxima o sujeito de sua realidade mais ampla, auxilia
os alunos na compreensão de situações mais complexas, possibilita maior significado e
sentido aos conteúdos da aprendizagem, permitindo uma formação mais consistente e
responsável.
Segundo Fazenda (1979), a introdução da interdisciplinaridade no contexto
escolar implica simultaneamente uma transformação profunda da pedagogia, um novo
tipo de formação de professores e um novo jeito de ensinar:
Passa-se de uma relação pedagógica baseada na transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que se estabelece segundo um modelo hierárquico linear, a uma relação pedagógica dialógica na qual a posição de um é a posição de todos. Nesses termos, o professor passa a ser o atuante, o crítico, o animador por excelência (FAZENDA, 1979, p. 48-49).
Porém, a adoção da interdisciplinaridade não tem o objetivo de criar novas
disciplinas ou saberes, mas sim “de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para
resolver um problema ou compreender um determinado fenômeno sob diferentes
pontos de vista” (BRASIL, 2000, p. 21).
Apesar de ser um termo muito empregado no meio educacional nos dias de hoje
e estando presente nos discursos de muitos educadores dos diferentes níveis de
ensino, a interdisciplinaridade muitas vezes aparece como uma adesão modista ao seu
uso, sem que os seus anunciadores a utilizem em seus trabalhos e projetos.
16
Diante de tal fato, devemos conhecer sua origem e trajetória até os dias atuais,
além da grande dificuldade de implementação nas escolas.
1.1 Breve histórico da interdisciplinaridade na sociedade mundial e no Brasil
A interdisciplinaridade vem permeando as ideias do sistema educacional desde a
época da Grécia Antiga. O programa de ensino dos mestres gregos, a Paideia¹, era
baseado na formação integral do cidadão, com vistas a uma visão global do universo.
Instituições como o Liceu de Aristóteles, o Museu de Alexandria e a Academia de
Platão que, em suas épocas, foram centros produtores do saber, utilizavam tal ideal
como sistema educacional.
Já na época medieval o mesmo conceito continua a ser adotado. O ensino passa
a ser privilégio da Igreja Católica, sendo doutrinado nas escolas dos mosteiros. Surgem,
então, as Universidades, que permanecem com o mesmo objetivo de conhecimento
integral, porém, baseado nos valores religiosos.
Com as modificações sociais e culturais, observou-se a manifestação de uma
nova ideia que deslocou o conhecimento das verdades divinas para as verdades do
conhecimento humano. Essa mudança marcou o início da Revolução Científica a qual
se iniciou no século XV e estendeu-se até o final do século XVI, causando a decadência
do regime social medieval e, consequentemente seus ideais. O desenvolvimento do
pensamento científico cresceu de maneira significativa, porém, trouxe consigo o novo
regime de ensino disciplinar compartimentado (TRINDADE, 2003).
_______________________________________
¹ A Paideia grega tinha o objetivo central de permitir a formação e o desabrochar da personalidade integral. Este ideal procurava desenvolver o homem em todas as suas potencialidades, tornando--o assim, um melhor cidadão.
17
Como uma tentativa de reverter essa fragmentação, surge a Enciclopédia que
tinha como função reunir os saberes disseminados sob o olhar da Ciência, à procura de
uma ligação entre os diversos ramos do saber.
O desenvolvimento dessa divisão do saber só se modificou com uma
hiperespecialização disciplinar na metade do século XX, no qual ocorreu o crescimento
exponencial do volume e da complexidade dos conhecimentos, bem como a
multiplicação e sofisticação das tecnologias (SOMMERMAN, 2006).
Finalmente, na década de 1960, em resposta aos problemas que o excesso
dessa fragmentação gerou na educação e na pesquisa, no mundo Ocidental, a Europa
anuncia a interdisciplinaridade como uma forma de oposição ao saber alienado, como
consequência das manifestações de estudantes franceses e italianos que estavam
insatisfeitos com a indiferença do ensino superior em relação aos problemas sociais
desse período e reivindicavam, dessa forma, um novo estatuto de universidade e de
escola. Os manifestantes questionavam os métodos tradicionais de ensino, que
subdividiam as áreas do conhecimento, assim como as barreiras existentes entre as
disciplinas. A interdisciplinaridade seria uma resposta, pois os grandes problemas da
época não poderiam ser resolvidos por uma única área do saber (TRINDADE, 2003).
É evidenciada através de alguns professores em certas universidades que se
comprometeram e buscaram com grande dificuldade o rompimento com uma educação
fracionada e nasce como
oposição à alienação da Academia às questões da cotidianeidade, às organizações curriculares que evidenciavam a excessiva especialização e a toda e qualquer proposta de conhecimento que incitava o olhar do aluno numa única, restrita e limitada direção, a uma patologia do saber. (FAZENDA, 1999, p. 19, grifo do autor).
Chega ao Brasil apenas no final dos anos sessenta e, segundo Fazenda (1999),
com “sérias distorções” devido ao modismo “daqueles que se aventuram ao novo sem
reflexão”. Ainda assim, logo exerceu influência na elaboração da Lei de Diretrizes e
Bases N° 5.692/71 e desde então, sua presença no cenário educacional tem se
intensificado, tanto que a nova Lei de Diretrizes e Bases N° 9.394/96 e os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) se baseiam em seus fundamentos. Segundo os PCN,
[...] a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores
18
e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários (BRASIL, 2000, p. 76, grifo do autor).
Fazenda (1999), subdivide esse movimento, para fins didáticos, em três
décadas: 1970, 1980 e 1990 e define cada uma a partir de três óticas: a epistemológica,
a das influências disciplinares e a da organização teórica. Se olhado pela ótica
epistemológica, a década de 1970 seguiu “para uma construção epistemológica da
interdisciplinaridade”, a de 1980 para “a explicitação das contradições epistemológicas
decorrentes dessa construção” e a de 1990 para a construção de “uma nova
epistemologia própria da interdisciplinaridade”. Quando olhado pela ótica das
influências disciplinares, a década de 1970 seguiu para a “busca de uma explicitação
filosófica”, a de 1980 para a “busca de uma diretriz sociológica” e a de 1990 para a
“busca de um projeto antropológico”. Ao olhar pela ótica da organização teórica, a
década de 1970 seguiu para a procura de “uma definição de interdisciplinaridade”, a de
1980 para a tentativa de “explicitar um método para a interdisciplinaridade” e a década
de 1990 para “a construção de uma teoria da interdisciplinaridade”.
Embora apresentados diversos enfoques sobre os quais foram construídos os
conceitos e preceitos da interdisciplinaridade, uma preocupação antiga que se estende
até os dias de hoje seria a de definição do termo interdisciplinaridade. Além dessa
dificuldade, há a da sua implementação nas instituições de ensino, que pode ser uma
consequência da falta de distinção entre este termo e outros, como pluridisciplinaridade,
por exemplo, e de outros fatores como a falta de planejamento dos professores e falta
de recursos didáticos (SILVA E RODRIGUES, 2009).
A seguir são apresentados alguns fatores que empecilham sua efetivação na
educação e discutidas alternativas a tais dificuldades evidenciadas no ambiente
escolar.
19
1.2 Dificuldades de implementação da interdisciplinaridade
Mesmo sendo uma proposta muito presente nas leis brasileiras sobre a
educação e nos discursos pedagógicos e de professores, a interdisciplinaridade tem
enfrentado muitas barreiras para ser efetivamente adotada nos currículos das
instituições de ensino e podemos perceber claramente que ainda há um grande
caminho a ser percorrido.
Fazenda (1999) já apontava para a dificuldade de aplicação da
interdisciplinaridade para além dos currículos escolares devido ao emprego indevido do
termo por alguns que não se importam com as consequências de fazê-lo e não
implantá-la de forma efetiva e devidamente em suas aulas e projetos educacionais.
Problemas como a abordagem de temas propícios à interdisciplinaridade, a
confecção de um planejamento e tempo útil para os professores organizá-lo, além de
recursos disponíveis, são alguns exemplos da dificuldade de implementação da
interdisciplinaridade no sistema educacional. Porém, antes de apresentá-los, a
dificuldade inicial verificada é quanto à sua definição.
A necessidade de conceituar; de explicitar fazia-se presente por vários motivos: interdisciplinaridade era uma palavra difícil de ser pronunciada e, mais ainda, de ser decifrada. Certamente que antes de ser decifrada precisava ser traduzida e se não se chegava a um acordo sobre a forma correta de escrita, menor acordo havia sobre o significado e a repercussão dessa palavra que ao surgir anunciava a necessidade da construção de um novo paradigma de ciência, de conhecimento, e a elaboração de um novo projeto de educação, de escola e de vida (FAZENDA, 1999, p. 18).
Lopes (1999) argumenta que a interdisciplinaridade traduz a mera superposição
de disciplinas, correspondendo a uma perspectiva instrumental. Já Fazenda (2002)
interpreta o termo como algo que envolve uma relação de reciprocidade, de
mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema
do conhecimento. Para ela, interdisciplinaridade é a substituição de uma concepção
fragmentária por uma concepção única do conhecimento.
Talvez essa dificuldade exista porque encontrar o limite objetivo de sua
abrangência conceitual significa concebê-la numa óptica também disciplinar. Assim
como afirma Olga Pombo (2004, p. 7), “a tarefa de procurar definições finais para a
20
interdisciplinaridade não seria algo propriamente interdisciplinar, senão disciplinar”.
Independente da definição de cada autor, a interdisciplinaridade está sempre situada no
campo onde se pensa a possibilidade de superar a fragmentação das ciências e dos
conhecimentos produzidos por elas e onde simultaneamente se exprime a resistência
sobre um saber parcelado.
Outro problema recorrente é a dificuldade de distinção de outros termos que
podem gerar certa ambiguidade por expressarem ideias próximas entre si. A
interdisciplinaridade expressa uma espécie de interação entre as disciplinas ou áreas
do saber, porém, essa interação pode ocorrer em níveis de complexidade diferentes.
Japiassu (1976), um dos pioneiros da interdisciplinaridade no Brasil, classifica algumas
terminologias que explicam tais níveis de complexidade, a partir da classificação
proposta inicialmente por Eric Jantsch.
A Multidisciplinaridade seria uma ação simultânea de várias disciplinas em torno
de uma temática comum. Contudo, essa atuação ainda é muito fragmentada, já que
não se explora a relação entre os conhecimentos disciplinares e não há nenhum tipo de
cooperação entre as disciplinas e nenhum nível hierárquico entre elas. A
Pluridisciplinaridade já apresenta algum tipo de interação entre os conhecimentos
interdisciplinares, mesmo se situando num mesmo nível hierárquico, não havendo
assim, nenhum tipo de coordenação proveniente de um nível hierarquicamente
superior. A Interdisciplinaridade representa o terceiro nível de interação entre as
disciplinas e, segundo Japiassu, caracteriza-se pela presença de uma axiomática
comum a um grupo de disciplinas conexas, sendo definida no nível hierárquico
imediatamente superior, introduzindo a noção de finalidade. Na interdisciplinaridade há
cooperação e diálogo entre as disciplinas do conhecimento, mas nesse caso se trata de
uma ação coordenada. A transdisciplinaridade representa um nível de integração
disciplinar além da interdisciplinaridade. Japiassu a define como sendo uma espécie de
coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino inovado,
sobre a base de uma axiomática geral.
Tendo em vista estas terminologias, percebe-se que muitos projetos
educacionais são definidos como sendo interdisciplinares quando, na maioria das vezes
apresentam uma relação multidisciplinar ou ainda, nenhuma relação.
21
Contudo, essas são dificuldades de execução impostas pela falta de definição
correta de cada termo que diz respeito aos diferentes tipos de interação disciplinar,
porém, as maiores dificuldades de implementação destas ideias na educação são de
ordem ativa e executiva.
Frigotto (1997) argumenta que o limite mais sério para a prática pedagógica
interdisciplinar é a formação fragmentária, positivista e abstrata do professor, além das
condições de trabalho a que está submetido. A melhor capacitação dos profissionais
numa perspectiva interdisciplinar poderia facilitar ou até mesmo permitir o
desenvolvimento de atividades englobando conhecimentos de diferentes áreas no
âmbito escolar, sendo necessárias propostas tanto para a formação inicial como para a
formação continuada que visem as inter-relações e as interdependências das ciências.
Além disso, há a dificuldade que determinados temas apresentam para ser
trabalhados de forma contextualizada e interdisciplinar. No caso da Química, temas
como Cálculos Estequiométricos e Atomística provavelmente causam essa dificuldade
ao professor e exigem, consequentemente, um maior preparo seu. Para situações como
essas, em que os assuntos se distanciam do cotidiano do aluno e exigem um raciocínio
abstrato, Giordam (2008) propõe que uma tentativa de contextualização que facilitaria
no processo de ensino-aprendizagem seria o professor fazer, inicialmente, um
levantamento dos conhecimentos prévios dos seus alunos sobre o tema a ser
estudado; mas, é pouco provável que tal opção dê conta de todos os temas e conceitos
desenvolvidos em sala de aula.
Outro empecilho pode se dar através da falta de interação entre os professores
das diferentes áreas no momento do planejamento anual e a falta de sincronia no
desenvolvimento dos mesmos. Muitas vezes, essa ausência de comprometimento com
relação ao planejamento integrado, parte da própria equipe pedagógica das escolas.
Pode partir também da falta de comprometimento de alguns professores, da
desmotivação e do descontentamento com a atual situação profissional. Uma proposta
como essa exige a construção coletiva, na qual todos devem estar envolvidos e
desejosos por mudanças. Segundo Lenoir (2006), o planejamento é uma das etapas da
interdisciplinaridade que tem como referência a interdisciplinaridade didática “que se
caracteriza por suas dimensões conceituais e antecipativas, e trata da planificação, da
22
organização e da avaliação da intervenção educativa” (LENOIR, 2006, p. 58). De
acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio,
[...] é fundamental que as escolas, ao manterem a organização disciplinar, pensem em organizações curriculares que possibilitem o diálogo entre os professores das disciplinas da área de Ciências da Natureza e Matemática, na construção de propostas pedagógicas que busquem a contextualização interdisciplinar dos conhecimentos dessa área. O que se precisa é instituírem os necessários espaços interativos de planejamento e acompanhamento coletivo da ação pedagógica, de acordo com um ensino com característica contextual e interdisciplinar [...] (BRASIL, 2006, p. 105, grifo nosso).
Pode-se citar ainda a falta de tempo e também de recursos para a introdução
das práticas interdisciplinares, como por exemplo, inexistência de um laboratório na
maioria das escolas e reduzido espaço físico da sala de aula. Augusto e Caldeira
(2007) evidenciam os mesmos obstáculos a serem ultrapassados. Fazenda (2002)
afirma que os obstáculos materiais devem ser transpostos para efetivação da
interdisciplinaridade, mediante planejamento de espaço e tempo, assim como uma
previsão de orçamento adequada.
Ao analisar o papel do vestibular no sistema educacional, é verificada a
resistência às ideias da interdisciplinaridade. Sendo este um exame disciplinar, a maior
parte do conteúdo trabalhado nas escolas é determinada por ele, devido à forte seleção
para o ingresso nas poucas vagas oferecidas para as universidades públicas. Dessa
forma, cria-se um círculo vicioso, pois “[...] o professor do último ano do ensino médio
cobra pré-requisitos do 2º ano para poder preparar os jovens para o vestibular [...] e
assim sucessivamente, até chegarmos à educação infantil” (ARAÚJO, 2003, p. 24).
O professor, como intermediário principal entre aluno e conhecimento disciplinar,
a partir do momento que escolhe trabalhar atividades com o enfoque interdisciplinar
deve assumir uma postura também interdisciplinar, como diz Fazenda (1979), não
bastando apenas integrar conteúdos. Ele deve apresentar o compromisso profissional
de educador no envolvimento com projetos de trabalho, na busca constante de
aprofundamento teórico e, sobretudo, na ética diante das questões e dos problemas
que envolvem o conhecimento. Ainda mais, precisa tornar-se um profissional com visão
integrada da realidade, perceber que um entendimento mais profundo de sua área de
formação não é suficiente para a execução de todo o processo de ensino e apropriar-se
também das múltiplas relações conceituais que sua área de formação estabelece com
23
as outras ciências. Esse é um grande problema para aqueles professores que estão
acostumados ao tradicional, ao comodismo, visto que o enfoque interdisciplinar implica
romper hábitos e acomodações, buscar o novo, em um caminho que retira seus
seguidores de posições confortáveis. Para Ivani Fazenda (2003), os projetos
interdisciplinares devem partir de professores que já apresentam tais atitudes e, dessa
forma, acabam por incentivar os outros professores, seja em grupo ou isoladamente.
Mesmo diante de tantas dificuldades, há uma grande possibilidade de se realizar
atividades e aulas interdisciplinares. Se o professor optar por trabalhar sozinho, este
pode relacionar os conteúdos de sua disciplina com os de outras, existentes no
currículo ou não. Além disso, numa mesma área de conhecimento as chances de
abordagem interdisciplinar são ainda mais amplas, devido à proximidade entre as
disciplinas, o que permite estabelecer conexões entre os conteúdos.
Entretanto, por mais que o professor faça seu trabalho de mediador entre o aluno
e a aprendizagem, é importante ressaltar que o único responsável para o seu sucesso
educacional é o próprio aluno. Ele deverá ser capaz de elaborar os próprios conteúdos
de seu aprendizado e, orientado pelo professor, deverá se informar, pesquisar, se
aprofundar e melhorar seus conhecimentos. Tal fato foi levado em consideração na
elaboração do trabalho que originou esta Monografia. Os alunos, a partir da orientação
do professor, foram construindo os conceitos e conteúdos que julgaram interessantes e
necessários para a realização do trabalho que deveriam apresentar.
A Química é uma disciplina que apresenta inúmeros temas que podem ser
trabalhados pela ótica interdisciplinar, principalmente em conjunto com a Física, a
Matemática e a Biologia. Utilizando o assunto Alimentação como tema gerador, pôde-se
organizar o trabalho apresentado nesta Monografia, no qual foi proposta a relação
interdisciplinar entre Química e Matemática.
24
2 A TEMÁTICA ALIMENTAÇÃO EM UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
Diante da busca por uma educação mais integrada com a realidade vivida pelos
alunos, os temas abordados em sala de aula têm a função de fazer esta relação através
dos conteúdos que devem ser ensinados. Como visto anteriormente, a
interdisciplinaridade é um importante método de integração entre as disciplinas
estudadas e o cotidiano dos estudantes. Além disso, a contextualização com as
questões cotidianas influencia na formação de cidadãos mais críticos e preparados para
a vida, para o trabalho e para o lazer (CHASSOT, 1993). Porém, outro importante
método de vivência em sala de aula é a troca de saberes que pode ser proporcionada
através dos trabalhos em grupo, no qual os próprios alunos buscam os assuntos a
serem abordados dentro do tema proposto, incluindo dessa forma, suas identidades na
elaboração dos mesmos.
Dessa forma, a utilização dos temas Alimentação e Balanço Energético
Nutricional, associados com uma vida saudável foi pensada para a construção de um
projeto interdisciplinar entre as disciplinas Química e Matemática. A alimentação, ação
fundamental para os seres vivos, é um tema motivador, pois está presente na vida dos
alunos, e é rico em conteúdos. Sua abordagem pode ser tratada por diversas
disciplinas, por exemplo, pela Química, quando trabalhados os conteúdos de
termoquímica e química orgânica; pela Biologia, no aparelho digestivo e estudo celular;
pela Física, na termodinâmica; pela Matemática, com problemas envolvendo balanço
energético nutricional e conversão de medidas; pela disciplina de Português,
trabalhando interpretação de textos e intertextualidade, pela Educação Física,
mostrando a importância de uma boa alimentação para a manutenção de uma vida
saudável e praticando atividades físicas relacionadas a dietas alimentares; além de
História, Sociologia e Geografia os quais podem trabalhar, respectivamente, a
modificação dos hábitos alimentares a partir da evolução do ser humano e das
sociedades, os hábitos alimentares influenciados pelos modos de vida de cada
sociedade, as influências regionais tanto nos hábitos alimentares como na
denominação de alguns alimentos, visto que alguns mudam o nome de acordo com
25
cada região, dentre outros. Tal abordagem permite aos estudantes perceberem a
importância deste tema e quão abrangente ele é e permite mostrar que nenhum
conteúdo pertence unicamente a uma determinada disciplina.
Diversos trabalhos didáticos foram desenvolvidos utilizando os alimentos como
tema norteador, tais como Lufti (1988) que propôs um trabalho a partir da conservação
dos alimentos; Kinalski e Zanon (1997), que com o objetivo de trabalhar com
substâncias e misturas e suas transformações, utilizou o leite como tema principal;
Neves, Guimarães e Merçon (2009) que realizaram atividades envolvendo a
interpretação de rótulos de alimentos; Albuquerque, Santos, Cerqueira e Silva (2012)
que trabalharam com a proposta de diminuir a utilização de aditivos alimentares, dentre
outros.
A orientação para uma alimentação saudável e a importância de tal assunto são
evidenciadas a partir da resolução das Diretrizes Curriculares Nacionais (2012) que
apresenta como obrigatório a Educação Alimentar e Nutricional desde 2009, com
“tratamento transversal² e integradamente, permeando todo o currículo” da educação
básica (BRASIL, 2012, p. 2, grifo do autor). Esta lei permite a conscientização alimentar
e ao mesmo tempo, a integração de conteúdos de diversas disciplinas, sendo favorável
o trabalho interdisciplinar. Entretanto, mesmo o fato de sua presença ser obrigatória nos
currículos escolares, não é garantido que haja a efetiva inclusão de tal tratamento nas
disciplinas e muito menos que haja aprendizagens que sejam inter-relacionadas e
críticas. O que vemos nos colégios é a deficiência de tratamento em relação ao assunto
alimentação, ficando o mesmo apenas reservado às disciplinas de Biologia e de
Educação Física, porém deixando muito a desejar no que diz respeito à educação
alimentar integrada com os outros conteúdos e disciplinas do currículo.
__________________________________
² Segundo Vargas (1996 apud Zinalski e Zanon 1997), a educação transversal se baseia “no fato de que é possível avançar até uma concepção da prática educativa onde a educação é um processo de interação simbólica e de negociação cultural, um processo de diálogo fecundo entre saberes e de conversações sociais” (idem, p. 15).
26
Dessa forma, ao ser abordado qualquer assunto relacionado à alimentação ou a
outros temas, estes devem ser feitos através de metodologias mais dinâmicas que
possam atrair a atenção dos alunos e que aproveitem a participação destes em seu
desenvolvimento, pois assim o aprendizado torna-se mais fácil e significativo, evitando
a falta de domínio dos alunos a respeito de qualquer tema, o que pode acontecer
quando estes não se identificam com o tema abordado ou com o método de
abordagem. Tal situação é mais fácil de acontecer através dos métodos tradicionais de
ensino que utilizam atividades de memorização e tratam os alunos como simples
ouvintes das verdades proferidas pelo professor.
Se, por outro lado, os conteúdos fossem abordados de maneira diferente, mais
integrada e com a participação dos alunos, visto que o processo de ensino-
aprendizagem é dinâmico e complexo, além de incluir os aspectos socioculturais de
dentro e fora da escola, os temas estudados em sala de aula poderiam fazer mais
sentido de modo que os estudantes levariam os conhecimentos adquiridos para a vida
extraclasse.
Assim, como dito anteriormente, a temática em torno da alimentação pode
proporcionar meios mais eficientes de integração de disciplinas e do cotidiano escolar
com o cotidiano dos estudantes, além de auxiliar no entendimento de determinado
conteúdo estudado. Kinalski e Zanon (1997) afirmam que o tema alimentação pode
explorar as informações e conhecimentos específicos da Química como “formas
adequadas de pensar e de interagir com o meio, valorizando seu alcance de
intervenção na promoção de aprendizagens significativas, ao nível da qualidade de
vida” (idem, p. 15). E continuam:
Problematizados e motivados, ao explorarem e desenvolverem estudos sobre o valor nutricional dos alimentos, os alunos exercitam ideias abrangentes sobre [...] as transformações, sobre a constituição dos materiais [...], elaborando pensamentos coerentes com a forma química de perceber e de interagir com a realidade. (KINALSKI e ZANON, 1997, p. 15).
Essa interação com a realidade é promovida a partir da relação interdisciplinar
que pode ser trabalhada junto ao tema proposto. Diante disso o aluno, apresentando os
conhecimentos básicos relevantes sobre alimentos e vida saudável, terá noção sobre
quais os alimentos são bons ou maus para a saúde, quais têm vitaminas e nutrientes,
quais são os insubstituíveis e quais podem ser substituídos. Dessa forma, eles estarão
27
exportando um conhecimento adquirido em sala de aula para a sua vida fora da escola
e, compartilhará desse conhecimento com as pessoas de sua família e com amigos, por
exemplo, pois tudo o que lhe foi ensinado faz sentido, por ter sido trabalhado de forma
integrada, de modo que ele entenda sua importância e não apenas pense que é mais
uma matéria que ele deve aprender sem justificativas maiores que não a de que é uma
disciplina do currículo importante para a sua formação, porém, sem aplicação prática
em seu cotidiano.
Como dito anteriormente, existem muitos assuntos que podem ser abordados
utilizando o tema alimentação, de acordo com várias disciplinas do currículo escolar. A
seguir, serão apresentados alguns conteúdos químicos que podem conduzir uma boa
aula interdisciplinar, bem como projetos e debates.
2.1 Temas de debates e conteúdos de aprendizagem relacionados à temática
alimentação
Do ponto de vista do ensino de Química, há diversos conteúdos programáticos
que podem ser trabalhados em sala de aula integrados com outras disciplinas, são
geradores de debates e propícios ao desenvolvimento de projetos interdisciplinares.
Comentaremos a seguir, temas de debates e conteúdos de aprendizagem que se
relacionam com a temática alimentação e que podem ser trazidos para a sala de aula
numa perspectiva de integração com outras disciplinas e também com o cotidiano dos
estudantes.
Discussões em torno da utilização indiscriminada de produtos químicos sintéticos
no cultivo e no processamento dos alimentos (fertilizantes, pesticidas, conservantes,
colorizantes, aromatizantes, etc.) e a transgenia são assuntos que motivam debates de
diversos aspectos sobre a alimentação, principalmente em relação à qualidade dos
alimentos e aos seus impactos na saúde, o que mostra a grande complexidade da
temática. Segundo Morin (2001), quando diferentes elementos são inseparavelmente
constitutivos do todo, abrangendo o aspecto econômico, o político, o sociológico e o
afetivo, é expressa a complexidade.
28
Os polímeros naturais, como a sacarose, também podem ser abordados através
da problemática envolvendo doenças desenvolvidas ou agravadas em consequência de
uma má alimentação, como a diabetes e a hipoglicemia - doenças causadas pelo
excesso e pela falta de açúcar no sangue, respectivamente – ou as bucais, como as
cáries.
Da mesma forma, o amido, sendo a principal fonte de carboidratos, e as
proteínas, presentes na estrutura dos organismos, como fibras musculares, cabelo e
pele, além de atuarem como reguladores do metabolismo – os hormônios –, também
têm grande importância nos assuntos alimentares, principalmente por serem
constituintes primordiais para aqueles que desenvolvem a prática de exercícios.
Discussões em torno de uma alimentação saudável baseada em proteínas,
carboidratos, lipídeos, vitaminas, sais minerais, fibras vegetais, etc. também são
beneficiadas.
Outra discussão possível seria a utilização de anabolizantes para o crescimento
muscular de forma acelerada por algumas pessoas que procuram resultados rápidos na
musculação. Essa utilização causa sérios problemas de saúde, desde a impotência
sexual até o comprometimento de órgãos.
Também ao se ensinar as funções inorgânicas nas aulas de Química, os ácidos,
bases e sais podem ser apresentados como os responsáveis pela regulação do
aparelho digestivo, fazendo, desse modo, a integração com os conteúdos trabalhados
em Biologia.
Finalmente, ao se iniciar o estudo de termoquímica, pode-se abordar o poder
calórico dos alimentos, apresentando algumas informações sobre o valor nutricional
que certos alimentos contêm. Dentro dessa discussão, são inseridas as ideias de
balanço energético nutricional e a sua manutenção para uma vida saudável.
Esses são alguns temas, que a nosso ver, têm a possibilidade de serem mais
facilmente integrados ao cotidiano dos alunos e com outras disciplinas, tendo como
argumento a educação alimentar. Outras problemáticas, como as doenças causadas
pelos distúrbios alimentares, como obesidade, anorexia e bulimia são ricas em
discussões e pesquisas.
29
A interação com a História, Geografia e Sociologia pode ser feita através do
estudo da evolução humana, bem como da sociedade e dos fatores que influenciam
diretamente nos hábitos alimentares; além do estudo das variedades e especificidades
dos alimentos por regiões geográficas e, também, pela conscientização da existência
da fome e da desnutrição em diversos povos mundiais, principalmente os do continente
africano.
Na seção seguinte será introduzida a ideia que permeou o projeto que culminou
na produção deste trabalho: a quantidade de energia nos alimentos, o balanço
energético nutricional e a confecção de dietas alimentares para manter uma vida
saudável.
2.1.1 Balanço Energético Nutricional, um tema para a sala de aula
A termoquímica, divisão da Química que estuda os fenômenos que ocorrem
envolvendo trocas de calor, geralmente, é introduzida nas salas de aula a partir de
exemplos das quantidades de calorias que determinados alimentos apresentam. Em
seguida, são feitos cálculos que envolvem ganho e perda de energia a partir do
consumo de alimentos e da prática de atividades físicas. Baseando-se nessa introdução
da termoquímica foi elaborado o projeto escolar intitulado Balanço Energético
Nutricional e Vida Saudável.
Os alimentos são a fonte de energia necessária para manter o funcionamento do
nosso organismo (processos vitais, manutenção da temperatura do corpo, os
movimentos musculares, a produção de novas células, etc.) e a quantidade de energia
ingerida através deles deve ser igual à necessária para a manutenção do mesmo.
Quando uma quantidade de alimentos ingerida é superior à necessária, o
excesso se transforma em tecido adiposo (gorduroso), o que causa o aumento da
massa corporal. As percentagens de carboidratos, proteínas e gorduras baseiam os
valores energéticos dos alimentos. Sendo assim, uma dieta balanceada deve ser
constituída por alimentos ricos nessas substâncias, que devem ser consumidas em
30
diferentes proporções. Por exemplo, de acordo com o site Só Nutrição, as necessidades
diárias de carboidratos vão de 6 g a 7 g por quilo de peso, de proteínas de 0,8 g a 1 g,
por quilo de peso e no mínimo, 1g por quilo de peso de lipídeos.
No livro Química, de Usberco e Salvador, são apresentadas diversas tabelas
com os valores energéticos de alguns alimentos e são feitas perguntas relacionando
esses valores com os de uma caminhada de uma hora, por exemplo. Os cálculos
envolvidos nesse tipo de raciocínio resultam no balanço energético nutricional.
A dificuldade na abordagem desse assunto é que, muitos professores ao ensiná-
lo, o fazem de maneira mecânica, sem integrar conhecimentos ou até o ignoram,
simplesmente. Dessa forma, em muitos casos, o primeiro contato que os alunos têm
com a termoquímica é a partir dos conceitos de processo endotérmico e exotérmico ou
quando falado sobre o poder calórico dos alimentos, o assunto se resume a uma
introdução ou curiosidade.
A importância de se trabalhar de forma mais aprofundada esse assunto está na
conscientização dos alunos a respeito de uma alimentação correta, além da prática de
atividades físicas, que proporcionam uma vida saudável e a regulação do organismo,
ao realizar o balanço energético, eliminando as calorias em excesso, o que evita
doenças oriundas do excesso de peso e de gordura ou provenientes de uma vida
sedentária.
2.1.2 Um Projeto Interdisciplinar Sobre o Tema Obesidade
A abordagem da temática alimentação nas escolas proporciona uma
conscientização dos alunos sobre problemas de saúde causados pela má alimentação,
principalmente numa sociedade que cultua o corpo magro e definido como o belo.
Muitos jovens sentem-se pressionados com essa imposição e passam a se alimentar de
forma inadequada, fazendo dietas sem a consulta de um profissional da saúde, e se
automedicando. Doenças como bulimia e anorexia podem atingir as jovens que, no
ambiente escolar sentem-se pressionadas para se manter magras e, dessa forma, não
31
serem excluídas ou julgadas. Já os jovens, com a nova moda das academias, procuram
a musculação como forma de definirem os seus corpos. Porém, para encontrarem
resultados rápidos, alguns tomam suplementos ilícitos, que causam diversas doenças e
efeitos colaterais, desde calvície até doenças no fígado e rins. Contudo, existe uma
doença que atinge não só os jovens, mas também crianças e adultos: a obesidade.
Mesmo com toda a imposição de culto ao corpo perfeito, o índice de pessoas com mais
de 18 anos obesas no país é de 51%, segundo pesquisa divulgada na página oficial do
Governo Federal.
Dessa forma, de modo a promover a conscientização dos estudantes a respeito
desse assunto, outra proposta de projeto interdisciplinar envolvendo a Química e a
Matemática seria a elaboração de um trabalho que envolvesse as causas e
consequências da obesidade e os dados estatísticos relacionados a ela. Esta proposta
foi desenvolvida por outro grupo de oito alunos do segundo ano do Ensino Médio, do
Colégio Professor Ernesto Faria.
Na próxima seção será apresentada a metodologia empregada para desenvolver
este projeto e o anterior e, posteriormente, serão discutidos os resultados, bem como
seus benefícios e contribuições para a educação integral dos alunos envolvidos.
32
3 METODOLOGIA
3.1 Balanço Energético Nutricional e Vida Saudável
O trabalho foi realizado no Colégio Estadual Professor Ernesto Faria, situado no
bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, onde é desenvolvido o Subprojeto Pibid-
Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob a orientação da professora
Denise Gutman Almada. Neste colégio há, em todos os anos, a realização de uma Feira
do Conhecimento e em 2013, Ano Internacional da Matemática, os trabalhos propostos
deveriam privilegiar abordagens que contemplassem o uso de conceitos ou ferramentas
da Matemática. Nesse sentido, se propôs o tema “Balanço energético nutricional e vida
saudável” para um grupo de oito estudantes do segundo ano do Ensino Médio.
Sua organização se deu por meio de etapas as quais ajudariam na construção
do conhecimento de forma gradual. Isto é, a partir de um conceito apreendido em uma
etapa, agrega-se outro e assim por diante.
Sendo assim, podemos dividi-lo em cinco momentos: primeiro momento:
distribuição de um questionário; segundo momento: encontros com o grupo para corrigir
erros referentes às respostas do questionário e tirar as dúvidas a respeito deste;
terceiro momento: simulação de indivíduos que comporiam o trabalho; quarto momento:
proposição de dietas alimentares propícias a uma vida saudável e realização dos
cálculos de balanço energético nutricional; quinto momento: apresentação do trabalho
na Feira do Conhecimento do colégio.
Na primeira etapa, foi distribuído para os componentes do grupo um questionário
com perguntas simples sobre alimentos, energia nutricional e balanço energético
nutricional. O objetivo dessa etapa foi introduzir o tema e saber o nível de
compreensão que os alunos apresentavam sobre estes assuntos para que o trabalho
pudesse ser desenvolvido dentro de sua zona de conhecimento real, sendo
posteriormente transferido para sua zona de conhecimento proximal, de acordo com
as ideias de Vygotsky (1984). O questionário encontra-se no anexo I no final desse
trabalho.
33
O questionário foi dividido em três partes e continha dez perguntas. A primeira
parte continha três perguntas sobre os alimentos; a segunda, duas sobre energia
nutricional e a terceira, cinco sobre balanço energético nutricional. Foi perguntado, por
exemplo, “Como o organismo humano obtém energia a partir dos alimentos?”.
Após entregarem o questionário respondido, seguimos para a segunda etapa, na
qual foram realizados encontros com o grupo para discutir as respostas dadas pelos
estudantes, dirimir as dúvidas e elaborar textos sobre o tema. Os encontros eram
realizados dentro do colégio e o correio eletrônico também serviu como meio de
comunicação. Foram feitas correções nas respostas apresentadas pelos alunos ao
questionário e, posteriormente, no texto elaborado por eles.
A terceira etapa correspondia à aplicação do conhecimento adquirido, ou seja, os
estudantes fizeram simulações dos gastos energéticos diários de indivíduos com
diferentes hábitos alimentares, faixas etárias e atividades cotidianas, descrevendo-as
(sexo, idade, peso, altura, tipo de trabalho e/ou atividade que pratica,...).
O passo seguinte foi, baseando-se em tabelas e textos já extraídos da literatura,
simular dietas alimentares para cada indivíduo, considerando a necessidade de manter
um peso saudável e o balanço energético.
A última etapa culminou na apresentação do trabalho na Feira do Conhecimento
através de uma pequena dramatização que fazia as pessoas que a assistiam interagir
com os apresentadores, envolvendo-as no trabalho que estava sendo apresentado.
3.2 Dados Estatísticos Relacionados à Obesidade
Assim como o trabalho principal, este trabalho foi elaborado a partir de etapas. A
primeira etapa consistiu na apresentação de um questionário envolvendo oito
perguntas simples sobre obesidade e sobre gráficos. O questionário deste trabalho
encontra-se no anexo VII.
Na segunda etapa foram discutidas as respostas do questionário e elaborados
textos que deveriam orientar os integrantes na elaboração do trabalho que seria
34
apresentado. Também foi orientado aos alunos que assistissem ao documentário “Muito
além do peso” para nortear suas pesquisas e ajudar nos assuntos que comporiam o
trabalho.
A terceira etapa foi de organização do trabalho e a quarta culminou na
apresentação na Feira do Conhecimento.
Na próxima seção serão discutidos os resultados dos dois trabalhos realizados.
35
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Balanço Energético Nutricional e Vida Saudável
A interdisciplinaridade entre a Química e a Matemática foi contemplada, por
exemplo, nos cálculos que foram realizados para saber quantas calorias devem ser
ingeridas para que uma pessoa possa fazer uma caminhada de trinta minutos ou
quantos minutos uma pessoa deve andar de bicicleta para perder quatrocentos e
cinquenta calorias. Conversões de unidades de calor, de tempo e de comprimento
também foram contempladas.
As respostas sobre o questionário foram respondidas através de pesquisas feitas
na internet. A partir das respostas dadas, pode-se perceber que os alunos
apresentavam certo conhecimento sobre o assunto, porém certa dificuldade de formular
respostas. Foram trabalhados, dessa forma, com o objetivo de ampliar o conhecimento
dos alunos, conteúdos que envolviam as perguntas do questionário e foram discutidas
também formas de elaborar e expressar melhor as respostas a serem dadas. O anexo II
contém um questionário respondido por um dos integrantes do grupo.
Ao longo do andamento do trabalho, pôde-se perceber a evolução do
envolvimento dos alunos e o amadurecimento que estes apresentavam a respeito dos
assuntos abordados. Mostravam-se interessados quando lhes eram introduzidos novos
conceitos e sempre participavam dando suas opiniões e tirando dúvidas. Notou-se
também o ânimo dos alunos ao exporem suas ideias de como seria apresentado o
trabalho, o que pode ser justificado pela satisfação em participarem de forma ativa na
elaboração deste.
Os textos elaborados tinham a função de auxiliar os alunos nos discursos a
serem apresentados na exposição do trabalho na Feira de Ciências. Assim, não
precisavam ser muito extensos, o que serviu como ferramenta de ensino para
elaboração de textos objetivos, contendo apenas informações relevantes e necessárias
para o entendimento do trabalho. Novamente, foi discutido como elaborar textos de
forma clara e bem organizados. O anexo III mostra um dos textos elaborados.
36
Os resultados do trabalho foram exibidos no dia da Feira do Conhecimento na
forma de cartazes que apresentaram trechos dos textos elaborados e as tabelas com
as dietas propostas para os estudos de caso simulados, além dos bonecos que
representavam cada indivíduo estudado, com suas dietas e hábitos alimentares. Os
anexos IV e V mostram, respectivamente, os indivíduos elaborados com seus hábitos
alimentares e algumas tabelas que foram apresentadas. Os alunos prepararam uma
mesa com um prato de comida, simulando uma mesa de um restaurante. Ao se
aproximar da área reservada para a apresentação do grupo, o ouvinte era abordado
com uma simples pergunta: “Você acha que se alimenta bem?” Em seguida, eram
apresentadas mais três perguntas, expostas na própria mesa onde a pessoa estava
sentada: “O que os alimentos contêm?”, “Por que precisamos consumir alimentos?” e
“Qual a função dos alimentos?” Os alunos explicavam ao ouvinte as respostas das
questões anteriores e, posteriormente, era dado um cardápio para que a pessoa
simulasse um pedido de uma refeição, de acordo com seus costumes alimentares. Feito
isso, os alunos faziam os cálculos sobre a quantidade de calorias absorvidas, a partir
do cardápio escolhido, e propunham atividades físicas para consumi-las. Para compor o
cardápio, havia possibilidade de escolher comidas mais ou menos calóricas, com
destaque para alternativas para uma dieta mais saudável. Como exemplos de pessoas
com bons e maus hábitos alimentares, foram exibidos os bonecos, que representavam
os indivíduos simulados no estudo realizado nas terceira e quarta etapas de
desenvolvimento do projeto escolar, com suas dietas e hábitos alimentares. As fotos da
apresentação encontram-se no anexo VI.
O objetivo da formulação desse trabalho em etapas, como dito antes, era
construir o conhecimento de forma gradual, permitindo aos alunos que absorvessem e
compreendessem cada parte do trabalho e, ao final deste, apresentassem um
entendimento mais completo sobre o assunto que estudaram. O trabalho em grupo
também estimulou o contato com os colegas de sala, a cooperação e o trabalho em
equipe, além da troca de informações e de conhecimento entre os integrantes do grupo
durante sua confecção, o que auxiliou no processo de compreensão de novos conceitos
por parte de cada um.
37
No ensino formal, estruturado em disciplinas e conteúdos que, em sua maioria,
não apresentam ligação com o mundo real dos estudantes, a aprendizagem torna-se
artificial e desinteressante, diferentemente de projetos como as feiras de conhecimento
e os trabalhos em grupo. Ambos proporcionam um aprendizado eficiente e fogem à
regra da aula dentro de sala, sem dinamismo e muitas vezes monótona. Proporcionam
também o diálogo entre professor e aluno e dos alunos entre si.
O processo de ensino aprendizagem deve ser um processo comunicativo, no
qual alunos e professores participam juntamente e para que seja eficaz deve haver
diálogo e trocas de saberes. Nesse sentido, os trabalhos em grupo têm grande
influência no sucesso desse processo devido às trocas de vivências entre os alunos,
além de ser uma ferramenta que proporciona aos estudantes pesquisar os conteúdos a
serem apresentados no trabalho, o que os ajuda a discernir entre informações
verdadeiras e relevantes a serem consideradas.
Segundo Libâneo (1994), o processo de ensino se caracteriza pela combinação
de atividades do professor e dos alunos, ou seja, o professor dirige o estudo das
matérias e assim, os alunos atingem progressivamente o desenvolvimento de suas
capacidades mentais. Dessa forma, o papel do professor foi o de apenas orientar os
integrantes do grupo à medida que o projeto ia sendo desenvolvido. Nosso objetivo era
ter o aluno como agente de sua própria aprendizagem: ao buscar respostas para as
perguntas que lhe foram apresentadas ele passou a discernir quais eram as
informações necessárias para que a compreensão de determinado conteúdo estudado
fosse efetiva.
A temática do projeto escolar desenvolvido envolveu questões cotidianas e
sociais da vida dos estudantes, o que contribuiu para que eles dessem maior
significado aos conceitos abordados. No ensino contextualizado o professor procura
fazer com que o aluno perceba o significado dos conceitos que estão sendo
desenvolvidos, a partir da compreensão de problemas de sua realidade social e
cultural. Dessa forma, o aluno deixa de ser um agente passivo no processo de ensino
aprendizagem e começa a perceber as relações existentes entre a teoria estudada e as
situações de seu cotidiano. Segundo Santos e Schnetzler (1997), um ensino de química
relacionado com as questões sociais desempenha um papel importante na formação de
38
um cidadão crítico. Sendo assim, os conteúdos apresentados na escola têm que lhes
permitir uma participação ativa na sociedade.
Por último, gostaríamos de destacar, a importância de se abordar nas escolas
seja na educação de jovens ou de adultos, temas relacionados à alimentação. Falar
sobre esta temática fornece uma série de benefícios, tais como a conscientização sobre
uma alimentação saudável, as consequências de se alimentar de forma inadequada e
debates sobre doenças como a anorexia, a bulimia e a obesidade. É importante
também que os alunos conheçam a qualidade nutricional dos alimentos básicos e que
reconheçam cada um como necessário, substituível ou indesejável para a obtenção de
uma dieta equilibrada e saudável. Por exemplo, uma pessoa que se alimenta todo dia
sem se preocupar sobre os valores nutricionais das dietas e sem usar as ideias como a
composição química dos alimentos e a existência de diversos nutrientes, não terá
saberes relevantes, do ponto de vista do valor nutricional e da qualidade da
alimentação. Trabalhos e aulas voltadas para esses assuntos têm a função de
conscientização sobre esses fatos.
Dessa forma, ao final do trabalho realizado, além de novos conhecimentos
apreendidos, esperava-se também promover modificações nos regimes alimentares dos
integrantes do grupo e a conscientização de que uma má alimentação e a falta de
práticas de exercícios são empecilhos para se manter uma vida saudável.
4.2 Dados Estatísticos Relacionados à Obesidade
O trabalho foi apresentado com auxílio do Power Point e de cartazes. Dividido
em quatro partes, foram abordados, inicialmente a definição de obesidade, as causas e
fatores que influenciam a sua ocorrência, as consequências sofridas pelos obesos –
desencadeamento de problemas de saúde e preconceito, por exemplo.
Num segundo momento, foram abordadas as principais doenças decorrentes da
obesidade, tais como diabetes, hipertensão, câncer, problemas respiratórios,
infertilidade, colesterol alto, apneia, alterações posturais e depressão.
39
Na terceira parte do trabalho foram apresentados gráficos mostrando dados
estatísticos a respeito da obesidade no Brasil. Foram mostrados gráficos, por exemplo,
sobre os estados com maior número de obesos, a colocação do Brasil no ranking dos
países com maior índice de obesidade, a faixa etária que apresenta a maior quantidade
de obesos, dentre outros. Nessa etapa também foi explicitada a importância dos
gráficos como um recurso matemático usado para facilitar a visualização de dados
estatísticos a serem destacados na apresentação de uma pesquisa ou reportagem, por
exemplo.
Finalmente, na quarta etapa foram propostas prevenções contra a obesidade,
como mudanças de hábitos alimentares e realização de atividades físicas para
combatê-la. Foram discutidos também os casos em que a realização de cirurgia
bariátrica é recomendada.
A preocupação em abordar o tema obesidade se justifica plenamente, pois os
jovens poderão evitar que maus hábitos alimentares possam torná-los obesos, bem
como poderão alertar as pessoas de seus círculos sociais sobre esse fato.
Outro fato importante é o preconceito que pessoas obesas sofrem por causa de
seu sobrepeso, principalmente jovens que estão nas escolas. Vítimas de piadas e de
brincadeiras de mau gosto recorrentes, os jovens obesos sofrem com o grande
preconceito que recai sobre eles.
Uma proposta de trabalho interdisciplinar que aborde esse tema se faz
necessária para conscientizar os jovens sobre bullying e sobre os benefícios de uma
alimentação saudável, com o objetivo de promover uma boa qualidade de vida para
todos.
Dessa forma, não apenas a abordagem que foi feita para a apresentação desse
trabalho é importante. Abordagens de ensino de Química que incluam aspectos sociais,
culturais e biológicos, dentre outros, serão de grande valia para compor um currículo
em atitudes e valores que contribuirá para o amadurecimento intelectual dos estudantes
e para formação de jovens críticos, participativos e avessos a preconceitos.
40
5 CONCLUSÃO
Os projetos escolares desenvolvidos provaram ser um importante método de
integração de conhecimentos abordados pela Matemática e pela Química. A escolha da
temática alimentação como tema norteador de um projeto interdisciplinar mostrou-se
adequada e de fácil utilização, visto que é um assunto ligado à realidade dos alunos.
Estes se mostraram participativos e interessados em trabalhar com um tema presente
em seus cotidianos - como a alimentação e a prática de atividades físicas - o que
reforça a importância da utilização de temas que façam parte de suas vidas no contexto
extraescolar, como forma de incentivar as suas participações nos projetos escolares.
Mesmo com dificuldades de conceituação, pois não existe um consenso a
respeito de sua definição, a interdisciplinaridade é um caminho para uma educação não
compartimentada, que tem como base a formação do cidadão com visão crítica e
integrada com a sociedade em que vive. Em geral, cada profissional utiliza a
interdisciplinaridade da forma como a entende ou que julga ser a mais adequada. Não
existe qualquer consenso. Ninguém sabe de fato o que é a interdisciplinaridade, o que
identifica as práticas ditas interdisciplinares, qual a fronteira exata a partir da qual uma
determinada experiência de ensino pode ser dita interdisciplinar, e não multidisciplinar,
pluridisciplinar ou transdisciplinar (POMBO, 2003). Porém, mais importante que defini-la
de forma exata, é a sua devida implantação em sala de aula e nos projetos escolares.
Para propor uma prática pedagógica interdisciplinar é necessário ter não apenas
uma única visão, mas sim uma visão multifacetada, visto que tal prática aborda um
assunto ou vários pela visão de diferentes áreas do saber. Além disso, a aplicação de
uma prática de ensino interdisciplinar e contextualizada contribui para o
desenvolvimento do aluno em todos os componentes curriculares, tornando-o uma
pessoa mais crítica e participativa. Como práxis, requer que os professores fiquem
atentos a todas as mudanças no campo da educação e façam uma avaliação
continuada da sua prática pedagógica (MALDANER, 1999).
A integração dos conhecimentos e a aprendizagem que inclui a participação dos
estudantes durante o seu processo, causa o interesse destes pelo novo e, dessa forma,
os próprios alunos vão construindo os seus conteúdos e conceitos, diferentemente do
41
estilo tradicional que é mecânico e não tem a participação dos alunos e,
consequentemente não os motiva a estudar. Porém, para que esse processo seja
efetivo, o papel do professor também é importante no sentido de orientar os
pensamentos do aluno durante o processo de aprendizagem.
Dessa forma, o trabalho em conjunto de professores e alunos é um dos
elementos que pode auxiliar na superação de barreiras disciplinares e das dicotomias
existentes na relação professor-aluno, além de renovar o processo de ensino-
aprendizagem. A interdisciplinaridade, portanto, contribui para que ocorra uma prática
baseada no diálogo, não só entre disciplinas, mas também entre as pessoas
(FAZENDA, 2002).
Vale destacar que a prática interdisciplinar implica romper hábitos e
acomodações, buscar o desconhecido, em um desafio que acaba com posições
confortáveis. Diante desse fato, muitos professores não se motivam a participar desse
trabalho, mostrando falta de interesse de renovar seus métodos de ensino, ou por
problemas relacionados ao cotidiano escolar como falta de interação entre professores
e falta de tempo e de recursos, ou simplesmente por não gostarem do método. Apesar
disso, há um movimento crescente de professores que se preocupam em
interdisciplinarizar seus conteúdos, tanto com assuntos do cotidiano como com outras
disciplinas.
Portanto, cabem às instituições de ensino a adoção de projetos e de atividades
interdisciplinares e o apoio aos professores que o fazem, bem como o incentivo de
mudança e de renovação pedagógica para aqueles que se opõem em fazê-lo, pois a
escola deve conter, em si, a expressão da convivialidade³ humana, considerando toda
sua complexidade. A escola deve ser, por sua natureza e função, uma instituição
interdisciplinar (THIESEN, 2008).
_____________________________________________
³ Convivialidade: capacidade de uma sociedade em favorecer a tolerância e as trocas recíprocas das pessoas e dos grupos que a compõem.
42
Ao participarem de um projeto como os apresentados nesta Monografia, os
alunos vivenciaram uma realidade educacional diferente, dinâmica, na qual se pode
aproximar o cotidiano vivido por eles e a escola. Houve uma mudança no processo
tradicional de transmissão de conhecimentos, tornando a educação de fato significativa.
Cada estudante pode buscar referenciais teóricos que pudessem complementar a
pesquisa para compor o trabalho e contribuíram com seus conhecimentos, transmitindo-
os aos colegas do grupo de forma recíproca. Este tipo de aprendizagem através da
vivência com um tema presente no cotidiano dos alunos, juntamente com a troca de
saberes e de conhecimentos prévios, permitiu o desenvolvimento de competências e
habilidades necessárias para a formação de cidadãos críticos e bem informados.
É importante destacar que reconhecer a necessidade de integração entre os
diferentes saberes não significa abandonar as disciplinas tradicionais, da mesma forma
que a interligação entre disciplinas não significa almejar um conhecimento completo e
totalizante. Ou seja, a interdisciplinaridade não anula a importância das disciplinas. De
acordo com Araújo (2003), é importante reconhecer o progresso científico que foi
possível graças à especialização disciplinar. Ao mesmo tempo, é fundamental
reconhecer alguns problemas gerados pela superespecialização do conhecimento, que
desconsidera as interações que os elementos e fenômenos da natureza estabelecem
entre si e, por esse motivo, a interdisciplinaridade seria uma alternativa para tentar
minimizar tais problemas.
Outra consideração necessária é de que mesmo sabendo da importância da
interdisciplinaridade para uma abordagem de ensino mais significativa, é necessário
reconhecer que a ideia de interdisciplinaridade possui limites, como qualquer
perspectiva teórica. Assim, ela não deve ser considerada como única e sim, como uma
perspectiva possível. O principal objetivo é renovar o processo de ensino-
aprendizagem, de modo a atrair os alunos para os estudos e atividades escolares e,
assim, contribuir para que se tornem cidadãos críticos e com participação ativa na
sociedade onde vivem.
Só há interdisciplinaridade se formos capazes de partilhar o nosso domínio do
saber, se tivermos a coragem necessária para abandonar o conforto da nossa
43
linguagem técnica e para nos aventurarmos num domínio que é de todos e de que
ninguém é proprietário exclusivo. Contudo, a contribuição da interdisciplinaridade vai
além da reinvenção das lógicas de organização do currículo e das práticas de ensino,
atingindo a própria ressignificação da experiência escolar e, portanto, é de suma
importância que tal projeto seja almejado não só por alguns professores, mas por todos
que participam da organização pedagógica das escolas.
44
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45
FAZENDA, I. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1979. ______. Interdisciplinaridade: História, teoria e pesquisa. 4. ed. Campinas: Papirus, 1999. ______. Interdisciplinaridade: Um projeto em parceria. 5 ed. São Paulo: Loyola, 2002. FELÍCIO, C. M. et. al. Estudo Interdisciplinar de Química dos Alimentos: Aliando o Lúdico e a Informática. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ). FORTES, C. C. Interdisciplinaridade: Origem, Conceito e Valor. UFSM, Santa Maria. GIORDAN, M. Contexto e Continuidade. Disponível em: <http://www.lapeq.fe.usp.br/textos/meq/pdf/contexto-continuidade.pdf>. Acesso em: 04 de maio de 2014. JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 220 p. KINALSKI, A.C.; ZANON, L.D. O leite como tema organizador de aprendizagem de química no ensino fundamental. Química Nova na Escola, n. 6, p. 15-19, 1997. LENOIR, Y. Didática e Interdisciplinaridade: uma complementaridade necessária e incontornável. In: FAZENDA, I. Didática e Interdisciplinaridade. 11ed. Campinas: Papirus, 2006. LIBÂNEO, J. C. Didática. 13 ed. São Paulo: Cortez, 1994. LOPES, A. R. C. Conhecimento escolar: ciência e cotidiano. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999. LUTFI, M. Cotidiano e educação em química. Ijuí: Unijuí, 1988. MALDANER, O, A. A pesquisa como perspectiva de formação continuada do professor de química. Química Nova, v.22, n.2, 1999. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Unesco, 2001. NEVES, P. T.; GUIMARÃES, P.I.C.; MERÇON, F. Interpretação de rótulos de alimentos no ensino de química. Química Nova na escola, n. 1, p. 34-39, 2009. NOGUEIRA, N. R. Interdisciplinaridade aplicada. São Paulo: Ética, 2003.
46
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47
<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/vygotsky-a-formac3a7c3a3o-social-da-mente.pdf>. Acesso em: 25 de junho de 2014.
48
ANEXO I
QUESTIONÁRIO APRESENTADO NA PRIMEIRA ETAPA DO TRABALHO
QUESTIONÁRIO PARA A FEIRA DE CIÊNCIAS TEMA: “Balanço energético nutricional e vida saudável”
Turma: 2001
PARTE I: APRENDENDO SOBRE OS ALIMENTOS
1) Por que precisamos consumir alimentos?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2) Qual a função dos alimentos?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3) O que os alimentos contêm?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
PARTE II: APRENDENDO SOBRE ENERGIA NUTRICIONAL
4) Como o organismo humano obtém energia a partir dos alimentos?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5) Como o organismo humano gasta a energia acumulada?
49
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
PARTE III: APRENDENDO SOBRE BALANÇO ENERGÉTICO NUTRICIONAL
6) Como saber a quantidade e a qualidade de alimentos de que uma pessoa necessita?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
7) Qual a relação entre a ingestão de alimentos e o balanço energético?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
8) Que relação existe entre peso saudável e balanço energético?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
9) Que relação existe entre balanço energético e atividade física?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
10) Que profissionais são especialistas nestes temas?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
50
ANEXO II
QUESTIONÁRIO PARA A FEIRA DE CIÊNCIAS
TEMA: “Balanço energético nutricional e vida saudável”
Turma: 2001
PARTE I: Aprendendo sobre os alimentos
1) Por que precisamos consumir alimentos?
Nós precisamos consumir alimentos, pois o corpo precisa de energia, para que
possamos fazer nossas atividades.
2) Qual a função dos alimentos?
A função dos alimentos é dar ao nosso corpo os nutrientes necessários para o
desenvolvimento e crescimento do corpo e é necessário para que ele possa gerar
energia.
3) O que os alimentos contêm?
Os alimentos contém vitaminas e minerais, fibras, proteínas, carboidratos,... essenciais
para que possamos viver com saúde.
PARTE II: aprendendo sobre energia nutricional
4) Como o organismo humano obtém energia a partir dos alimentos?
A energia é obtida dos nutrientes dos alimentos, como a glicose, as proteínas e os
carboidratos.
5) Como o organismo humano gasta a energia acumulada?
O organismo vai gastar a "energia" acumulada se você fizer alguma atividade física.
PARTE III: Aprendendo sobre balanço energético nutricional
6) Como saber a quantidade e a qualidade de alimentos de que uma pessoa
necessita?
51
Consulta a um nutricionista, para ele fazer o teste baseado em, estatura, peso, e
quantidade de atividades que a pessoa faz por dia e ai sim a pessoa saberá a
quantidade certa de alimentos que ela precisa consumir.
7) Qual a relação entre a ingestão de alimentos e o balanço energético?
Balanço energético é o equilíbrio entre o que se consome e o que se gasta de energia.
Então dependendo da sua ingestão de alimentos o balanço energético pode estar
equilibrado ou não. Se você consumir mais e gastar menos, engorda e se você
consumir menos e gastar mais emagrece. Logo, a ingestão de alimentos deve ser
equilibrada para manutenção das funções e metabolismo de energia.
8) Que relação existe entre peso saudável e balanço energético?
Com um peso saudável o balanço energético vai está em equilíbrio.
9) Que relação existe entre balanço energético e atividade física?
A atividade física está relacionada ao balanço enérgico porque quando você pratica
uma atividade física, você está gastando calorias, e dependendo do tempo de atividade
por dia, saberá quantas calorias estará perdendo durante a atividade. E com um
balanço energético, você saberá quantas calorias diárias deverá consumir para poder
repor oque estará perdendo durante as atividades.
10) Que profissionais são especialistas nestes temas?
Nutricionistas e endocrinologistas.
52
ANEXO III
TEXTO ELABORADO PELOS ALUNOS
Para obter uma vida saudável devemos consumir alimentos para que o nosso
corpo receba nutrientes importantes para seu desenvolvimento e crescimento, além de
ser necessário para gerar energia. Para que não ocorra o acúmulo de massa, é preciso
que os indivíduos realizem exercícios físicos.
As atividades físicas estão relacionadas ao "balanço energético". O balanço energético
é o equilíbrio entre o que se consome e o que se gasta de energia adquirida. Então,
dependendo da sua ingestão de alimentos, o balanço energético pode estar equilibrado
ou não. Se você consumir mais e gastar menos, você engorda, e se você consumir
menos e gastar mais você emagrece. Logo, a ingestão de alimentos deve ser
equilibrada para a manutenção das funções e metabolismo de energia. O balanço
energético deve se manter de forma ideal, ou seja, que a quantidade de alimentos
ingeridos seja o suficiente para se adquirir determinada quantidade de energia que se
deseja obter ou que a quantidade de calorias perdidas seja suficiente para manter-se
com saúde.
Algumas fontes de energia são a glicose, as proteínas e os carboidratos.
53
ANEXO IV
INDIVÍDUOS SIMULADOS
1) Nome: Stephany Idade: 17 anos
Profissão: Estudante
Altura: 1,60
Peso: 50 kg
Hobby: jogar Vôlei
Hábito Alimentar:
Café: pão de queijo e suco de laranja = 500 cal
Lanche: 1 banana maça = 72 cal
Almoço: arroz com feijão, filé de frango e refrigerante = 291 cal
Lanche da tarde: 1 pão francês com queijo minas e suco de laranja = 293 cal
Janta: sopa de galinha = 69 cal
Tcalorias = 1225 cal IMC = normal
2) Nome: Pedro Idade: 31 anos
Profissão: Professor
Altura: 1,70
Peso: 70 hg
Hobby: Jogar bola e fazer exercícios físicos
Hábito Alimentar:
Café: iogurte integral, pão integral com requeijão light = 183 cal
Lanche: 1 banana prata e 1 fatia de mamão = 91 cal
Almoço: arroz com feijão, 1 posta de dourado, alface e tomate , e refrigerante = 170 cal
Lanche da tarde: 1 fatia de pizza catupiry com tomate = 439 cal
Janta: salada de couve com berinjela e filé de frango e suco de laranja = 360 cal
T calorias = 1203 cal IMC = normal
54
3) Nome: Alfredo Idade: 28 anos
Profissão: Telemarketing
Altura: 1,62
Peso: 94 kg
Hobby: Jogar baralho na praça (Ele é sedentário)
Hábito Alimentar:
Café: ovos fritos, pão francês e vitamina de frutas ao leite = 521 cal
Lanche: 2 bananas maçã = 144 cal
Almoço: arroz com feijão, batata frita e bife = 780 cal
Lanche da tarde: hambúrguer = 800 cal
Janta: macarronada = 286 cal
T calorias = 2534 cal IMC = Obeso
55
ANEXO V
TABELAS PESQUISADAS PELOS ESTUDANTES
TABELA 1: Cálculo nutricional para prato feito. Disponível em:
http://alimentesecomsabedoria.blogspot.com.br/2013_07_01_archive.html
56
TABELA 2: Tempo de consumo de calorias de acordo com algumas atividades físicas.
TABELA 3: Gastos energéticos a partir de exercícios físicos. Disponível em: <http://www.guiasaude.org/>
57
TABELA 4: Pirâmide alimentar. Disponível em:
< http://anaterranutri.blogspot.com.br/2012/08/conhecendo-nova-piramide-alimentar.html>
58
ANEXO VI
FOTOS DO EVENTO COM OS PARTICIPANTES DO GRUPO
Figura 1. Mesa contendo perguntas e um prato de comida, simulando um restaurante.
Figura 2. Cartaz contendo informações de valores energéticos dos alimentos e a pirâmide alimentar.
Figuras 3a e 3b. Indivíduos com seus respectivos hábitos alimentares e prática de atividades físicas diárias.
Figura 3b.
Figura 4a: Integrantes do grupo
Figura 4b: Integrantes do grupo e a bolsista
59
ANEXO VII
QUESTIONÁRIO DO TRABALHO SOBRE OBESIDADE
1. O que é obesidade?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. Como pode ser detectada a obesidade em uma pessoa?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3. Quais são os profissionais que atuam nessa área da saúde?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Quais os problemas causados pela obesidade?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
5. Existem classificações sobre obesidade. De quais tipos ela pode ser?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
6. Uma pessoa ingere 100 cal vindo de frutas e 100 cal vindo de bebidas
açucaradas. Os dois tipos de alimento engordam? Por quê?
60
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
7. O que os gráficos representam?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
8. Qual o objetivo de se utilizar gráficos?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________