UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
RAÚL MINAYA HUAMÁN
Avaliação do tratamento criogênico na desestabilização da austenita retida no
aço AISI D2
São Carlos
2017
RAÚL MINAYA HUAMÁN
Avaliação do tratamento criogênico na desestabilização da austenita retida no
aço AISI D2
Versão Corrigida
Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências.
Área de concentração: Desenvolvimento, Caracterização e Aplicação de Materiais.
Orientador (a): Profa. Dra. Lauralice de Campos Franceschini Canale.
São Carlos
2017
Dedicatória
À Rosamel M. Muñoz Riofano.
Às minhas filhas Kiara e Beatriz.
Aos meus pais Eusébio e Eugenia.
Agradecimentos
Agradeço a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram para
a execução deste trabalho. Em particular, agradeço:
À Professora Dra. Lauralice de Campos Franceschini Canale, minha
orientadora, pela paciente e valiosa orientação, apoio, amizade e confiança, durante
todo o mestrado.
Ao Eng. João Carmo Vendramim, Diretor Técnico da empresa Isoflama
Indústria e Comercio de Equipamentos Ltda. E todo seu equipo de trabalho, liderado
pelo Sr. Romualdo Jorge.
Ao Professor Dr. Luiz Carlos Casteletti, pela contribuição de seus
conhecimentos.
Aos professores do Departamento de Engenharia de Materiais, pela amizade
e conhecimentos transmitidos.
Á empresa Scholmz Bickenbach, pelo fornecimento do aço AISI D2.
Aos funcionários do Departamento de Engenharia de Materiais, pela amizade,
apoio e colaboração: Suzete, Ana, Mauro, Victor e Priscila.
A todos os técnicos do Departamento de Engenharia de Materiais, pela
amizade e colaboração neste trabalho: João, Pedro, Silvano, Tico, Alberto e
especialmente a Wagner Rafael Correr.
A todos os colegas do Departamento de Engenharia de Materiais, pela
amizade e companheirismo, em especial a Rafael Paiotti.
Ao professor Leonardo Bresciani Canto, responsável pelo Laboratório de
caracterização mecânica do departamento de materiais da Universidade Federal de
São Carlos pela concessão do equipamento para realização dos ensaios.
A CAPES, pela bolsa de estudos concedida.
RESUMO
MINAYA HUAMÁN, Raúl. Avaliação do tratamento criogênico na
desestabilização da austenita retida no aço AISI D2. 2017. 80p. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São
Carlos, 2017.
O processo de tratamento térmico à baixa temperatura é um dos métodos
mais promissores para melhorar o desempenho dos materiais. O tratamento
criogênico promove a transformação de austenita retida do aço em martensita, o que
é atribuída para melhorar a dureza e resistência ao desgaste. Neste trabalho foram
analisados os efeitos dos diferentes ciclos de tratamentos térmicos, comparando-se
à tempera convencional (têmpera 1050°C + revenido simples e duplo a 200/530°C)
respeito à adição do tratamento criogênico, (têmpera 1050°C + criogenia a -125°C +
revenido simples e duplo a 200/530°C) com e sem tempo de espera de 24 horas,
com a finalidade de avaliar a estabilização térmica da austenita retida no aço em
relação a quantidade presente na microestrutura e consequentemente na influencia
nas propriedades mecânicas do aço ferramenta para trabalho a frio AISI D2. As
análises foram conduzidas através de testes de dureza, impacto, microscopia óptica,
microscopia eletrônica de varredura e difração de raios-X. Os resultados
encontrados foram uma variação pouco significativa na dureza entre 57 e 58HRC.
Foi evidenciada a baixa tenacidade ao impacto do aço AISI D2, independente das
rotas dos ciclos de tratamento térmico, resultado da alta percentagem de carbonetos
dispostos na microestrutura. A resistência ao impacto no aço em estudo após o
tratamento criogênico, esses resultados foram relacionados à microestrutura do
material.
Palavras-chave: tratamento criogênico, austenita retida, AISI D2, estabilização.
ABSTRACT
MINAYA HUAMÁN, Raúl. Evaluation of the cryogenic treatment in the
destabilization of austenite retained in AISI D2 steel. 2017. 80p. Dissertation
(Master degree) - School of Engineering of São Carlos, University of São Paulo, São
Carlos, 2017.
The heat treatment process at low temperature is one of the most promising
methods to improve the performance of materials. The cryogenic treatment promotes
the transformation of retained austenite from the steel into martensite, which is
attributed to improved hardness and wear resistance. In this work the effects of the
different cycles of thermal treatments were analyzed, comparing to conventional
tempering (tempering 1050 ° C + single and double annealing at 200/530 ° C) with
respect to the addition of the cryogenic treatment (tempera 1050 ° C + cryogenics to -
125 ° C + single and double tempering at 200/530 ° C) with and without waiting time
of 24 hours, in order to evaluate the thermal stabilization of the austenite retained in
the steel in relation to the amount present in the microstructure and consequently in
the influence on the mechanical properties of cold working tool steel AISI D2. The
analyzes were conducted through tests of hardness, impact, optical microscopy,
scanning electron microscopy and X-ray diffraction. The results found were a minor
variation in hardness between 57 and 58HRC. It was evidenced the low impact
toughness of the AISI D2 steel, independent of the thermal treatment cycle routes, as
a result of the high percentage of carbides disposed in the microstructure. The
impact resistance in the steel studied after the cryogenic treatment, these results was
related to the microstructure of the material.
Keywords: cryogenic treatment, retained austenite, AISI D2, stabilization.
Lista de figuras
Figura 1 - Simulação de equilíbrio por Thermo-Calc para aço ferramenta AISI D2. .. 24
Figura 2- Seção do diagrama de fase do aço ferramenta AISI D2 com conteúdo
variável de carbono. .................................................................................................. 26
Figura 3 - O diagrama ferro-carbono. ........................................................................ 27
Figura 4 - Transformação fenomenológica da martensita ......................................... 28
Figura 5 - Diagrama CCT para aço ferramenta AISI D2, resfriado a partir de 1030ºC.
....... ........................................................................................................................... 29
Figura 6 - Austenita retida (cor clara) e martensita (cor escura). .............................. 31
Figura 7 - Efeito do teor de carbono no tipo de martensita e na quantidade de
austenita retida em ligas de Fe-C. ............................................................................. 32
Figura 8 - Variação da temperatura Ms2 em função a temperatura de tratamento
criogênico e a percentagem de austenita retida. ....................................................... 36
Figura 9 - Esquema de um crio-sistema de nebulização direta. ................................ 39
Figura 10 - Variações de temperaturas durante o tratamento criogênico. ................. 40
Figura 11 - Fração de volume de austenita retida em função da temperatura de
tratamento criogênico. ............................................................................................... 43
Figura 12 - Conteúdo de austenita retida em diferentes estados tratados
termicamente. ............................................................................................................ 44
Figura 13 - O efeito do tratamento criogênico na austenita retida em o aço AISI D2.
....... ........................................................................................................................... 45
Figura 26 - Conteúdo de austenita retida da liga depois de ser tratada
convencionalmente e tratada criogenicamente. ........................................................ 46
Figura 27 - Efeito da temperatura criogênica sobre a dureza do aço ferramenta AISI
D2 após a austenitização a várias temperaturas. As amostras tratadas
criogenicamente foram revenidas a 200°C. .............................................................. 47
Figura 14 - Orientação dos corpos-de-prova em relação ao sentido de laminação do
material...................................................................................................................... 50
Figura 15 - Ciclos de tratamentos térmicos sem tempo de espera para o aço AISI D2.
........ .......................................................................................................................... 52
Figura 16 - Ciclos de tratamentos térmicos com tempo de espera de 24 h para o aço
AISI D2. ..................................................................................................................... 52
Figura 17 - Forno utilizado para austenitização e têmpera dos corpos de prova. .... 53
Figura 18 - Corpos de prova para ensaios de impacto Charpy tipo A. ..................... 55
Figura 19 - Equipamento de impacto instrumentado marca CEAST. ....................... 56
Figura 20 - Microestrutura de barra no estado como recebido do aço AISI D2
observado em microscópio óptico Aumento 500X. ................................................... 59
Figura 21 - Microestrutura da chapa no estado como recebido do aço AISI D2
observado em microscópio óptico Aumento 500X. ................................................... 60
Figura 22 - (a) Microestrutura em estado recozido do aço AISI D2. (b) Microestrutura
com tratamento convencional a 1050ºC do aço AISI D2. ......................................... 61
Figura 23 - Austenita retida, do tratamento térmico convencional e tratamento
criogênico de 4 e 12 h.............................................................................................. 62
Figura 24 - Perfis de difração de raios-X (a) amostras com tratamento térmico
convencional, (b) tratamento criogênico de 4h após a têmpera e (c) tratamento
criogênico de 4h após de 24h de espera. ................................................................. 64
Figura 25 - Variação da fração volumétrica da austenita retida após de 24h de
espera. ...................................................................................................................... 65
Figura 28 - Efeito da dureza no aço AISI D2 em função dos ciclos de tratamento
térmico. ..................................................................................................................... 68
Figura 29 - Dureza do aço ferramenta AISI D2 com revenimento a 530ºC. ............. 69
Figura 30 - Dureza do aço ferramenta AISI D2 com revenimento a 200ºC. ............. 69
Figura 31 - Tenacidade do aço D2 submetido a diferentes temperaturas de
revenimento: a) 200°C e b) 530°C. ........................................................................... 73
Figura 32 - Variação da tenacidade em função do teor de austenita retida. ............. 74
Lista de tabelas Tabela 1 - Aço (UNS) T30402, equivalente ao AISI D2. ........................................... 23
Tabela 2 - Propriedades físicas e mecânicas do aço AISI D2. .................................. 23
Tabela 3 - Principais carbonetos formados no sistema ternário Fe-Cr-C. ................. 25
Tabela 4 - Efeito da temperatura de austenitização na austenita retida. ................... 33
Tabela 5 -: Equações empíricas para calcular a temperatura MS. ............................ 34
Tabela 6 - Ciclos de tratamento térmico aplicados aos corpos de prova do aço AISI
D2... ........................................................................................................................... 51
Tabela 7 - Condições de austenitização e têmpera do aço ferramenta AISI D2. ...... 53
Tabela 8 - Condições de revenimento do aço ferramenta AISI D2. .......................... 57
Tabela 9 - Composição química (% em massa) do aço AISI D2. .............................. 58
Tabela 10 – Dureza do aço ferramenta no estado inicial, como recebido. ................ 58
Tabela 11 - Austenita retida do aço AISI D2. ............................................................ 62
Tabela 12 – Resultados dos ensaios de dureza Rockwell C do aço AISI D2. ........... 66
Tabela 13 – Resultados dos ensaios Charpy do aço AISI D2 (ASTM E23). ............. 70
Tabela 14 - Energia de impacto de amostras tratadas com e sem tratamento
criogênico. ................................................................................................................. 71
Lista de siglas e símbolos
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.
ASTM Sociedade Americana de Testes e Materiais (American Society
for Testing and Materials
AISI Sistema Americano para a Classificação dos Aços. (American
Iron and Steel Institute).
NADCA Asociación Norteamericana de Fundición sob Pressão. (North
American Die Casting Association).
UNS Sistema Unificado de Numeração. (Unified Numbering System).
MEV Microscopia eletrônica de varredura.
MO Microscopia ótica
AR Austenita retida.
TSZ Tratamento subzero.
TC Tratamento convencional.
MS ou (Mi) Temperatura de início de transformação martensítica.
MF Temperatura final da transformação martensítica.
MS2 Temperatura de ativação térmica, para início da transformação
martensítica.
CPs Corpos de prova.
HRC Dureza Rockwell C.
ɣ Austenita.
α Ferrita.
ɳ Carboneto eta.
SUMÁRIO
1 Introdução ........................................................................................................... 21
2 Revisão da literatura ........................................................................................... 23
2.1 Aço ferramenta AISI D2 ............................................................................... 23
2.2 Transformação Martensítica ......................................................................... 26
2.3 Estabilização da austenita ............................................................................ 32
2.3.1 Estabilização térmica ............................................................................. 34
2.4 Tratamento criogênico .................................................................................. 37
2.4.1 Tipos de tratamento criogênico.............................................................. 37
2.5 Sistemas criogênicos ................................................................................... 38
2.6 Parâmetros do tratamento criogênico .......................................................... 39
2.7 Aspectos metalúrgicos do mecanismo de tratamento criogênico ................. 41
2.7.1 Transformação da austenita retida em martensita................................. 42
2.7.2 Precipitação de finos Carbonetos-eta (η) .............................................. 47
3 Materiais e métodos ........................................................................................... 50
3.1 Material ........................................................................................................ 50
3.1.1 Corpos de Prova ................................................................................... 50
3.2 Tratamentos térmicos .................................................................................. 51
3.3 Austenitização e têmpera ............................................................................ 53
3.4 Análises microestrutural .............................................................................. 54
3.5 Difração de raios X ...................................................................................... 54
3.6 Dureza Rockwell ......................................................................................... 54
3.7 Tenacidade ao impacto ............................................................................... 55
3.8 Tratamento criogênico ................................................................................. 56
3.9 Revenido ...................................................................................................... 57
4 Resultados e discussões .................................................................................... 58
4.1 Composição química do aço ferramenta AISI D2 ........................................ 58
4.2 Aço ferramenta AISI D2: estado como recebido ......................................... 58
4.3 Tratamento convencional ............................................................................. 60
4.4 Avaliação da percentagem de AR por DRX ................................................. 61
4.5 Variação da dureza (HRC) ........................................................................... 65
4.6 Tenacidade ao impacto ................................................................................ 70
5 Conclusões ........................................................................................................ 75
6 Trabalhos futuros ............................................................................................... 76
7 Referências ........................................................................................................ 77
21
1 Introdução
Os tratamentos de têmpera e revenimento produz a microestrutura de
martensita revenida, que proporciona a melhor combinação de resistência
mecânica/dureza e tenacidade. O processo de tratamento térmico de têmpera
convencional consiste em aquecer o aço à temperatura de austenitização e depois
resfriar em um meio para obter as propriedades desejadas, de maneira a produzir
predominantemente a microestrutura martensítica.
No processo de têmpera o aço sofre a transformação de austenita (ɣ) para
martensita, e a transformação começa a uma temperatura MS ou (Mi) sendo
necessário alcançar a temperatura MF, para sua finalização. A austenita que não se
transforma em martensita após têmpera é chamada de austenita retida (AR). Assim,
austenita retida acontece quando o aço não é temperado até MF, não havendo total
transformação em martensita (HERRING, 2005).
Um dos fatores responsáveis pelo aumento da quantidade de austenita retida
é o efeito de estabilização térmica, relacionada com o resfriamento lento na faixa de
temperaturas na qual a transformação martensítica ocorre, por exemplo, de MS para
a temperatura ambiente. Nesses casos MF encontra-se abaixo da temperatura
ambiente.
A finalidade do tratamento criogênico é auxiliar na transformação total da
austenita retida em martensita e precipitar carbonetos finos na matriz martensítica.
Isso é particularmente interessante em aços de altíssima liga como o AISI D2, que
podem reter até 50% de austenita em sua estrutura à temperatura ambiente. Os
resultados confirmam que, para ser eficaz, o tratamento criogênico precisa ser
realizado logo após a têmpera e antes do revenido (ZURECKI, 2005).
O aço AISI D2 é considerado um aço ferramenta para trabalho a frio,
altamente ligado, desejando-se dele, após tratamento térmico de têmpera e
revenido, que presente altos valores de resistência mecânica e dureza. Assim a
presença de austenita retida não é desejável, pois não permite a maximização
dessas propriedades. Além disso, havendo AR, ela poderá sofrer transformação em
martensita durante o uso trazendo consequências negativas ao ferramental, tais
como o fenômeno de instabilidade dimensional e fragilidade.
22
Portanto, neste trabalho, considerar-se-á o efeito da adição do tratamento
criogênico ao tratamento térmico de têmpera e revenido convencionais e das
condições de resfriamento sobre a quantidade de austenita retida e
consequentemente nas propriedades mecânicas do aço AISI D2.
23
2 Revisão da literatura
Na revisão da literatura, serão apresentadas as principais características da
transformação da austenita nos ciclos de tratamento térmicos. Também serão
expostos os aspectos metalúrgicos dos mecanismos de transformação de fases e
parâmetros do tratamento criogênico do aço ferramenta AISI D2, envolvendo a
estabilização térmica da austenita retida durante os ciclos dos tratamentos térmicos.
2.1 Aço ferramenta AISI D2
O aço tipo AISI D2 é o aço mais utilizado entre os aços do grupo D. A tabela 1
e 2 mostram a composição química e as propriedades físicas e mecânicas
respetivamente.
Tabela 1 - Aço (UNS) T30402, equivalente ao AISI D2.
Elementos % em peso
C 1,40 – 1,60
Mn 0,60
Si 0,60
Co 1,0
Cr 11,0 – 13,0
Mo 0,70 – 1,20
V 1,10
P 0,03
Ni 0,30
Cu 0,25
S 0,03
Fonte: (AZOM, 2013).
Tabela 2 - Propriedades físicas e mecânicas do aço AISI D2.
Propriedades Unidades
Densidade 7,7 g/cm3
Ponto de fusão 1421°C
Dureza 62 HRC
Modulo elástico 190-210 GPa
Fonte: (AZOM, 2013).
24
Normalmente a microestrutura de partida (isto é, a condição tal como
recebida) antes do tratamento de endurecimento é a condição recozida. Na condição
recozida, a matriz é composta de ferrita e vários tipos de carbonetos. Os maiores ou
primários como o M7C3, são formados nos limites de grãos de austenita e depois
dispersos como resultado do trabalho a quente (laminação) (BOMBAC et al., 2013).
A figura 1 ilustra uma simulação de equilíbrio do aço AISI D2. O equilíbrio de
fase foi calculado na faixa de temperatura entre 0°C e 1500°C. A austenita começa a
formar a partir do líquido de 1392°C a 1242°C, os carbonetos M7C3 formam nos
limites de grãos de austenita. Espera-se que a solidificação seja completada a
1230ºC.
Entre 815 e 794°C, ocorre uma reação eutetóide. Como resultado desta
reação, a austenita é transformada em ferrita e a quantidade de carbonetos M7C3
aumenta. Isto é seguido por precipitação de um M23C6, como resultado da
dissolução de carboneto M7C3. Abaixo de 408°C, começam a formarem-se
carbonetos MC (BOMBAC et al., 2013).
Figura 1 - Simulação de equilíbrio por Thermo-Calc para aço ferramenta AISI D2.
Fonte: (BOMBAC et al., 2013)
25
A solidificação começa com a formação de austenita seguida pela reação
eutética onde os carbonetos eutéticos M7C3 primários precipitam. Uma vez que a
estrutura fundida do aço ferramenta de trabalho a frio AISI D2 contém redes de
carboneto eutético indesejáveis, é realizada a laminação a quente ou forjamento nos
lingotes fundidos para quebrar as redes de carboneto (BOMBAC et al., 2013).
Três carbonetos ocorrem em equilíbrio com as fases metálicas. Usando o
símbolo MXCY para representar os carbonetos. Os carbonetos são M3C, M7C3 e
M23C6. M corresponde ao Cr o qualquer elemento de liga formador de carboneto
presente em menor quantidade. Na tabela 3 são mostradas as características dos
carbonetos do sistema Fe-C-Cr.
Tabela 3 - Principais carbonetos formados no sistema ternário Fe-Cr-C.
Carboneto Composição
química Estrutura cristalina
Parâmetro do reticulado (A°)
M3C (Fe, Cr)3C Ortorrômbica a=5,060; b=6,739;
c=4,499
M23C6 (Fe, Cr)23C6 Cubica a=10,568
M7C3 (Fe, Cr)7C3 Hexagonal a=6,922, c=4,494
Fonte: Adaptado de (BENZ, ELLIOTT e CHIPMAN, 1974)
A ausência de carboneto de MC no aço de ferramenta AISI D2, tal como
recebido, pode ser explicada pelo processo de recozimento que é a 850°C e a
temperatura de dissolução do carboneto de MC é 740°C. A quantidade de carboneto
M23C6 após resfriamento até à temperatura ambiente é desprezível em comparação
com os carbonetos M7C3. Pode ver-se que os carbonetos M7C3 são compostos
principalmente de C, V e Cr (MOHAMMED et al., 2013).
A Figura 2 mostra a parte do diagrama de fase do aço ferramenta AISI D2
com conteúdo variável de carbono. A linha tracejada mostra o teor de carbono
correspondente ao aço investigado.
26
Figura 2- Seção do diagrama de fase do aço ferramenta AISI D2 com conteúdo variável de carbono.
Fonte: (MOHAMMED et al., 2013).
A principal etapa da solidificação é a reação eutética que ocorre no líquido
interdendrítico promovendo a formação do carboneto de cromo tipo Cr7C3, pela
reação L ⇒ ɣ + Cr7C3. Os carbonetos eutéticos são grosseiros em tamanho,
altamente anisotrópicos e formam uma rede interconectada após a solidificação,
com morfologia celular. Estas características morfológicas são determinantes no
posterior processamento do aço e no desempenho do ferramental, influenciando
ainda, a resposta ao tratamento térmico, principalmente com relação à distorção
(FARINA, 2011).
Na condição de recozimento a fração de volume total de carbonetos dos aços
ferramenta, está na faixa de 19-30%, e na condição de temperado no intervalo de 9-
25%, dependendo da composição química (PIRTOVšEKA et al., 2011).
2.2 Transformação Martensítica
No tratamento térmico de têmpera dos aços, quando a austenita é resfriada a
uma velocidade extremamente elevada, a estrutura resultante consiste em
martensita, uma única fase termodinamicamente metaestável. A martensita tem a
mesma composição e, portanto, o mesmo teor de carbono, que a austenita original.
A forma coordenada como os átomos se movimentam nesta transformação é
27
chamado de transformação "militar" (pelo qual os átomos movem-se de forma
cooperativa, como soldados em desfile), para converter a estrutura cristalina, sendo
o deslocamento menor do que o espaçamento interatômico. Por analogia, as
transformações com ou sem difusão são algumas vezes chamadas de
transformações "civis" (cada átomo se movimenta individualmente com o movimento
não coordenado) (CHARRE, 2004).
Está estabelecida na literatura que o campo de fase ɣ (austenita) é muito
maior em comparação com a fase α (ferrita), que reflete a solubilidade muito maior
do carbono no campo da austenita, com um valor máximo aproximado de 2,14% a
1147 °C (mostrado na figura 3). A elevada solubilidade do carbono na fase ɣ é de
extrema importância no tratamento térmico da têmpera, pois permite que se forme
uma solução sólida supersaturada de carbono no ferro que quando resfriada
rapidamente permitirá a obtenção da martensita (BHADESHIA; HONEYCOMBE,
2006).
Figura 3 - O diagrama ferro-carbono.
Fonte: (SMALLMAN e NGAN, 2014).
28
A martensita é formada durante a têmpera como uma fase metaestável,
resultante da transformação atérmica sem difusão da austenita abaixo de uma
determinada temperatura conhecida como temperatura MS (temperatura de início de
formação de martensita). Trata-se de uma transformação por cisalhamento
homogêneo paralelo ao plano de hábito, que é o plano comum a austenita e a
martensita, no qual todas as direções e ângulos não são alterados durante a
transformação.
Figura 4 - Transformação fenomenológica da martensita
Fonte: (PERELOMA, 2012).
A figura 4 mostra um bloco retangular de austenita (cubica de face centrada)
à esquerda é transformado em um bloco de martensita (tetragonal de corpo
centrado), através de uma tensão plana invariante S que consistem em um
cisalhamento da ɣ em uma direção situada ao plano do hábito (sombreado) e uma
dilatação έ que é uma expansão ou contração normal ao plano do hábito. Observe
que o componente de dilatação έ é igual à variação de volume ΔV que resulta da
transformação de austenita para martensita (PERELOMA, 2012).
Essa transformação ocorre a partir da austenita, quando a taxa de
resfriamento de um aço é suficientemente alta, de modo que as transformações de
perlita e bainita são suprimidas. Portanto, a martensita é uma solução sólida
supersaturada de carbono em ferro alfa distorcido (ferrita) com uma estrutura
tetragonal de corpo centrado.
29
Transformações que ocorrem fora do equilíbrio e são visualizadas por meio
dos diagramas CCT (Transformação de resfriamento contínuo), mostrado na figura 5
para o aço ferramenta AISI D2 (trabalho em frio) relatado em: (METALRAVNE,
2017).
Observa-se nesta figura que a temperatura de início da transformação
martensítica (MS) do aço AISI D2 é aproximadamente 220°C, mas não se observa a
temperatura MF.
Figura 5 - Diagrama CCT para aço ferramenta AISI D2, resfriado a partir de 1030ºC.
Fonte: (METALRAVNE, 2017).
A fim de que se maximize a transformação de austenita em martensita é
necessária a utilização de meios de resfriamento que possam evitar a formação de
microestruturas de difusão como ferrita / perlita / bainita. Por isso a velocidade crítica
de resfriamento é aquela que tangencia as linhas de transformação das estruturas
difusionais (ABBASCHIAN, LARA e REED-HILL, 2009).
30
Gavriljuk et al.(2013) mostraram que após a têmpera convencional, a
microestrutura do aço AISI D2 é composta de: martensita primária, uma mistura dos
carbonetos M2C e M23C6 e austenita retida. A martensita pode-se decompor em
ferrita e cementita durante o revenimento subsequente, entre 300°C e 500°C,
afetando as propriedades mecânicas da liga. A martensita recentemente formada
após da têmpera é frágil e somente a martensita revenida é aceitável.
No caso de aços altamente ligados a temperatura MF se localiza abaixo da
temperatura ambiente. Estudos dilatométricos no aço X153CrMoV12 (% em peso:
1.55C, 11.90Cr, 0.70V, 0.86Mo, 0.38Si, 0.33Mn, 0.05N, 0.02P), mostraram que as
temperaturas MS localizam-se entre 130°C e 60°C, dependendo da temperatura de
austenitizaçao, mas o MF foi achado em -100°C (GAVRILJUK et al., 2013).
Entretanto, mesma com velocidades de resfriamento adequadas, a
maximização da estrutura martensítica muitas vezes não é obtida, função dos
valores extremamente baixos de MF. Assim, no caso do aço AISI D2 a microestrutura
resultante após a têmpera será composta de martensita, austenita retida e partículas
de carboneto eutético não dissolvidas (GILL et al., 2010). Quando a austenita se
transforma em martensita, há uma mudança no volume de cerca de 4,0%. Se essa
transformação ocorrer durante a utilização da ferramenta, a distorção ou perda da
tolerância são problemas que podem acontecer associados a este fenômeno
(ABBASCHIAN; LARA; REED-HILL, 2009).
Assim, no caso de aços ferramenta a AR deve ser evitada, pois a sua
transformação isotérmica em martensita, após a têmpera, na temperatura ambiente,
pode continuar a uma taxa lenta ao longo do tempo (SINHA, 2003).
A figura 6 ilustra a presencia de AR na microestrutura. As agulhas de cor
escura são cristais temperados de martensita e as áreas de cor clara são cristais de
austenita retida.
31
Figura 6 - Austenita retida (cor clara) e martensita (cor escura).
Fonte: (HERRING, 2005)
A quantidade de austenita retida presente na microestrutura está associada a
localização da temperatura MF, sendo que a composição química tem forte influência
(HERRING, 2005).
A literatura mostra que a quantidade de austenita retida é uma função do teor
de carbono, teor de liga (especialmente o níquel e o manganês), da temperatura de
austenitização e subsequentes tratamentos térmicos e/ou mecânicos. Dependendo
da composição química do aço e tratamento térmico específico, os níveis de
austenita retida podem variar de mais de 50% na estrutura para quase zero
(HERRING, 2005).
A figura 7 mostra a forte influência do C na percentagem de AR após a
têmpera e a queda da temperatura MS em função da percentagem de C na liga.
Austenita retida
Martensita
32
Figura 7 - Efeito do teor de carbono no tipo de martensita e na quantidade de austenita retida em
ligas de Fe-C.
Fonte: (BHADESHIA; HONEYCOMBE, 2006).
Embora grandes quantidades de austenita retida (> 15%) podem ser
detectadas e estimadas por equipamentos e técnicas especializadas de microscopia
óptica, métodos de difração de raios-X, são necessárias para medir com precisão a
quantidade de austenita para valores mais baixos (HERRING, 2005).
2.3 Estabilização da austenita
Quando o resfriamento é interrompido abaixo de MS, ocorre frequentemente a
estabilização da austenita remanescente. Assim, quando o resfriamento é reiniciado,
a martensita só se forma após uma queda apreciável de temperatura. Essa
estabilização térmica tem sido atribuída a uma acumulação de átomos de carbono
sobre as discordâncias, importantes para a formação de martensita (SMALLMAN;
NGAN, 2014).
A estabilização da austenita é geralmente classificada em:
a) Estabilização química: é a redução da temperatura MS e MF devido a uma
alteração na composição química;
b) Estabilização mecânica: definida como a sua resistência à transformação de
33
fase sob a influência das tensões de tração (devido à deformação plástica);
c) Estabilização térmica: é uma inibição da reação na faixa de MS - MF
(NISHIYAMA, 1978).
A composição da liga é um dos principais fatores, onde um aumento de 1%
no teor de C, Mn, Cr, Mo, e W produz um aumento de 50%, 20%, 11%, 9% e 8%,
respectivamente, na austenita retida. Isso é refletido nos aços para trabalho a frio
com conteúdos altos de carbono e cromo (SINHA, 2003).
A temperatura de austenitização é outro fator, pois quanto maior a
temperatura, maior grau de solubilidade de carbono e outros elementos na austenita,
o que significa que, com mais carbono na solução, a temperatura de MS e MF
diminuem; resultando na retenção de austenita adicional no componente temperado.
A tabela 4 mostra alguns valores de austenita retida em função da
temperatura de austenitização.
Tabela 4 - Efeito da temperatura de austenitização na austenita retida.
Temperatura de austenitização (oC) Austenita retida (%)
843 6,4
927 12,4
1038 47,0
Fonte: (SINHA, 2003)
Outro fator não menos importante, é a taxa de resfriamento ou a severidade
de resfriamento. Se a velocidade de resfriamento na faixa MS - MF for retardada,
existe uma maior quantidade de austenita retida formada do que se a velocidade de
resfriamento for contínua e rápida. Isto está diretamente relacionado ao meio de
têmpera na qual é resfriado o aço no tratamento térmico de têmpera (SINHA, 2003).
Numerosas fórmulas empíricas que expressam MS em função da composição
química da liga foram desenvolvidas desde a década de 1940 até o presente. A
limitação destes métodos é que atuam em composições químicas definidas para
alguns aços com resultados pouco confiáveis. Na tabela 5 são mostradas
cronologicamente algumas fórmulas.
34
Tabela 5 -: Equações empíricas para calcular a temperatura MS.
Fonte: (LIU et al., 2001).
A diferença entre MS e MF é de ordem de 200°C. Alguns autores sugerem um
valor de 215°C. Na prática, não é possível obter uma transformação completa à
temperatura ambiente para aços que contenham mais do que de 0,7% de C
(CHARRE, 2004).
2.3.1 Estabilização térmica
A estabilização térmica da austenita foi estudada pela primeira vez em 1937,
e desde então é um problema que desperta grande interesse (BLANTER;
SEREBRENNIKOVA, 1972).
A estabilização térmica da austenita retida é uma característica comum da
transformação martensítica atérmica. Este fenómeno ocorre se a temperatura de
resfriamento é interrompida ou retardada, na faixa das temperaturas de MS - MF
durante um intervalo de tempo, e se manifesta como um retardamento da
transformação, quando o resfriamento subsequente é retomado. Um fator importante
a ressaltar é que, em todas as temperaturas subsequentes, a quantidade de
transformação é menor que a produzida pelo resfriamento direto (SINHA, 2003).
35
Mohanty (1995) inferiu na sua pesquisa que quando a austenita retida, após a
têmpera, é estabilizada e, se for armazenada à temperatura ambiente por um
determinado tempo, a formação da martensita a temperaturas abaixo de zero em
aços carbono dependerão do tempo de espera antes de serem submetidos ao
tratamento criogênico.
A formação da martensita durante o tratamento criogênico será mais eficaz se
for efetuada antes do revenido. Recentemente o potencial de crescimento da
martensita termicamente ativado foi reconhecido (VILLA;PANTLEON; SOMERS,
2014).
O mecanismo de estabilização térmica tem sido discutido por vários
pesquisadores e (NISHIYAMA, 1978), sugeriu sete causas principais. Em termos
simplificados, existem dois mecanismos principais que parecem ser responsáveis:
Existe um impedimento à nucleação da fase martensita;
Há predominantemente um impedimento ao crescimento de núcleos de
martensita através de (a) a perda de mobilidade da interface austenita-
martensita ou (b) o fortalecimento da matriz austenita residual. (MOHANTY,
1995)
Uma contribuição para a estabilização térmica, a temperaturas abaixo do
ponto MS, pode vir do relaxamento das tensões elásticas na matriz austenítica em
torno das placas de martensita. O relaxamento das tensões no processo do
resfriamento é devido à deformação microplástica com uma redistribuição de
discordâncias em configurações com menor energia e alguma redistribuição de
carbono (SCHASTLIVTSEV et al., 2014).
Villa et al. (2013) em seu estudo da formação de martensita ativada
termicamente no aço AISI 52100 (% em peso: 0.96C, 1.60Cr, 0.10Ni, 0.28Mn,
0.13Si, 0.05Mo, 0.15Cu, Fe bal.), conclui que, depois da austenitizaçao e da
têmpera convencional a austenita retida é estabilizada quando é armazenada a
temperatura ambiente. Observou também que o tratamento criogênico realizado
imediatamente após a têmpera é, mas eficaz na redução do teor de AR.
36
A figura 8 mostra o efeito da variação da temperatura de ativação térmica
(Ms2) para início da transformação martensítica, depois de vários tempos de espera
antes de serem levados ao tratamento criogênico. A taxa de resfriamento aplicada
foi de 1,5 °C/min.
Figura 8 - Variação da temperatura Ms2 em função a temperatura de tratamento criogênico e a
percentagem de austenita retida.
Fonte: (VILLA; SOMERS, 2017)
Quanto maior o tempo de espera à temperatura ambiente, menor é Ms2. Após
o reinício, a transformação progride a uma taxa que é amplamente independente do
tempo de armazenamento. Evidentemente, o armazenamento do material à
temperatura ambiente estabiliza a austenita afetando sua transformação em
martensita (VILLA; SOMERS, 2017).
Até agora, o mecanismo por trás da ativação térmica da formação da
martensita não é inteiramente revelado. Tradicionalmente, a ativação térmica é
interpretada como a nucleação da martensita ativada termicamente, presumindo
crescimento instantâneo dos núcleos em desenvolvimento até seu tamanho final
(VILLA et al., 2013).
37
É possível reduzir ou remover completamente a austenita retida em aços
temperados por meio do revenido. Entretanto, um dos principais métodos para
diminuir a quantidade de austenita retida na estrutura de aço temperado é o
tratamento criogênico. O tratamento criogênico reside na possibilidade de continuar
o processo de transformação da austenita em martensita por meio de resfriamento
mais profundo para a faixa de temperaturas negativas. Este método pode ser
considerado como uma continuação da têmpera de aços contendo austenita retida
(SCHASTLIVTSEV et al., 2014).
2.4 Tratamento criogênico
A criogenia é a ciência que aborda a produção e os efeitos de temperaturas
muito baixas. A palavra se origina das palavras gregas "kryos" que significa "geada"
e "genic" significa "produzir". Ao longo dos anos, o termo criogenia tem sido
geralmente usado para referir-se a temperaturas abaixo de aproximadamente -150
°C (RADEBAUGH, 2002).
O tratamento de aços a temperaturas na faixa de -80°C a -120°C é
geralmente suficiente para transformar completamente qualquer austenita retida na
microestrutura temperada e tem sido amplamente utilizado para este fim por muitos
anos. Exemplos incluem aços ferramentas, tais como AISI M2 e AISI D2; e
estabilização de componentes, particularmente para a indústria aeroespacial e de
produção de rolos. A estabilidade dimensional pode ser atribuída inteiramente à
remoção da austenita retida, uma vez que elimina a alteração de volume de 4%
quando as condições no ambiente operacional transformam a austenita em
martensita (STRATTON, 2007). Efeito este já mencionado anteriormente.
2.4.1 Tipos de tratamento criogênico
Embora não haja ainda uma concordância ao respeito, podem-se classificar o
tratamento criogênico em dois tipos:
a) O tratamento criogênico raso (SCT): realizado entre -50ºC e -100ºC, após
têmpera. Neste tratamento a austenita retida é reduzida e maior resistência
ao desgaste é obtida nos aços ferramenta;
b) O tratamento criogênico profundo (DCT): conduzido a temperaturas abaixo de
38
-125ºC. (AKHBARIZADEH; SHAFYEI; GOLOZA, 2009), (ÇIÇEK et al., 2015).
2.5 Sistemas criogênicos
Um sistema criogénico é um equipamento que permite controlar a
temperatura na faixa criogénica numa câmara, utilizando nitrogênio líquido ou hélio.
Até o final dos anos 60, qualquer tentativa de realização de tratamento criogênico
(CT) era feita por imersão direta em nitrogênio líquido, com o catastrófico resultado
de quebrar os componentes. O sistema de tratamento criogênico foi desenvolvido no
final da década de 1960, e posteriormente melhorado com um controle de
realimentação de temperatura na taxa de resfriamento e aquecimento
(BALDISSERA e C.DELPRETE, 2008).
Os três sistemas de resfriamento mais importantes são:
Trocador de calor: o nitrogênio líquido flui através de um trocador de calor e o
gás refrigerado de saída é difundido dentro da câmara por um ventilador. Não
há contato entre o nitrogênio e as amostras;
Nebulização direta: o nitrogênio líquido é nebulizado diretamente na câmara
ou em uma cavidade ao redor da câmara. Um ventilador permite obter uma
temperatura com distribuição homogênea; o nitrogênio líquido é disperso em
torno das amostras;
Imersão gradual: as amostras são imersas no nitrogênio líquido por um tempo
específico, então elas são extraídas e gradualmente levadas de volta à
temperatura ambiente por meio de um fluxo de ar controlado pela
temperatura.
Outro tipo de sistema de resfriamento é o denominado "Sistema Híbrido", que
combina nebulização direta e imersão gradual durante diferentes fases do processo
de resfriamento, de modo a reduzir o consumo de nitrogênio líquido.
A figura 9 mostra o layout de um sistema1 criogênico de nebulização direta. A
unidade de controle (CU) recebe as informações de temperatura do sensor (S)
colocado na câmara (C), o (CU) opera na eletroválvula (EV) que regula o fluxo de
1 Empresa Vari-Cold de Cryotron, Canadá
39
nitrogênio líquido através dos injetores (I). O ventilador (F), que é controlado por um
motor elétrico (E), ajuda a difundir o nitrogênio de forma homogênea (BALDISSERA;
C.DELPRETE, 2008).
Figura 9 - Esquema de um crio-sistema de nebulização direta.
Fonte: (BALDISSERA; C.DELPRETE, 2008).
2.6 Parâmetros do tratamento criogênico
O tratamento criogênico deve ser feito em observância aos parâmetros
estabelecidos previamente para que ele seja bem sucedido. O importante é
desenvolver ciclos adequados para obter os benefícios. Além da completa
transformação de austenita em martensita, obteremos melhoria nas propriedades
mecânicas, tais como dureza, tenacidade, estabilidade dimensional, resistência à
fadiga, estresse residual e propriedades tribológicas como o coeficiente de fricção e
a resistência ao desgaste (KUMAR, et al., 2017).
A figura 10 mostra um ciclo típico; o processo parece simples e tudo o que se
tem a fazer é resfriar o material até cerca de -196°C e aquecer novamente, mas
sabe-se que o tratamento térmico requer habilidade, experiência e atenção rígida
aos parâmetros do processo.
40
Figura 3 - Variações de temperaturas durante o tratamento criogênico.
Fonte: Próprio autor
Os parâmetros básicos num processo de tratamento criogênico são os
seguintes: (KUMAR, et al., 2017)
Velocidade de resfriamento
A rampa de descida até a temperatura desejada é crítica e, uma parte
importante do processo. Se a rampa de descida for demasiado rápida, é possível
induzir tensões residuais e fissuras na peça, assim os tempos típicos de descida
estão na faixa de quatro a dez horas.
Tempo de imersão
O tempo de espera no banho de imersão é quando a maior parte do processo
está acontecendo. Isto é, onde as mudanças microestruturais estão sendo feitas.
Como a temperatura é muito baixa (-196°C), pode-se supor que as mudanças estão
acontecendo muito lentamente, portanto os tempos de espera típicos estão na faixa
de 1 a 30 horas. Este parâmetro depende do volume da peça e quanto tempo
deseja-se encharcar e atingir o centro da peça na temperatura de imersão. Por esta
razão, às vezes é necessário coordenar o tempo de descida da rampa com o tempo
de espera (KUMAR et al., 2017).
41
Enquanto ocorre a transformação da estrutura do material de austenita em
martensita, o período de imersão deve ser otimizado para aumentar a eficiência da
resistência ao desgaste e reduzir o custo do tratamento criogênico.
Velocidade de aquecimento
Os tempos da temperatura de aquecimento na rampa de subida também são
importantes, pois é possível danificar o material ou peça nesta etapa. Os tempos
típicos de rampa estão entre dez a vinte horas (KUMAR et al., 2017).
Temperatura de revenimento
A temperatura da rampa do revenido depende de uma boa prática de
tratamento térmico. É necessário lembrar que se precisa revenir a peça da
martensita primária que se formou como parte do processo do tratamento térmico.
A martensita primária pode ser revenida desde 130°C até 600°C, dependendo
do resultado de dureza final que se deseja establecer ao componente de aço.
Tempo de revenido
O tempo de retenção da temperatura depende em grande parte do material.
Geralmente entre 1,5h - 2h para todas as peças, mesmo para peças de grandes
dimensões é suficiente. Geralmente o processo de revenido é feito após o
tratamento criogênico, que é realizado principalmente para remover as tensões
internas na amostra, que ocorrem devido ao excesso de resfriamento no tratamento
criogênico (KUMAR et al., 2017).
Temperatura de resfriamento no revenido
Geralmente deixa-se resfriar a temperatura ambiente, com ajuda de ar
forcado (KUMAR et al., 2017).
2.7 Aspectos metalúrgicos do mecanismo de tratamento criogênico
A maioria dos pesquisadores demostrou que o tratamento criogênico promove
a transformação completa da austenita retida em martensita em temperaturas
criogênicas, com resultados na melhora de resistência ao desgaste. Na sequência
42
uma breve descrição dos mecanismos envolvidos no tratamento criogênico será
fornecida.
2.7.1 Transformação da austenita retida em martensita
Pesquisas mostram que, durante o processamento do tratamento criogênico,
a transformação da austenita em martensita no sistema Fe-C é de natureza atérmica
(RAY; DAS, 2016).
No entanto, Gavriljuk et al. (2013) observaram transformação isotérmica de
austenita em martensita para aços de alta-liga e de alto carbono. Foi relatado que a
transformação isotérmica da austenita ocorre em temperaturas inferiores a -100ºC, e
a cinética isotérmica máxima são observadas em torno de -150ºC, mas também a
transformação continua em temperaturas superiores a -196ºC, devido à relação,
entre a energia para transformação proporcional à diminuição da temperatura, e a
ativação térmica necessária para a transformação isotérmica.
Além disso, a diminuição da tetragonalidade da martensita após a
transformação martensítica isotérmica a baixa temperatura é explicada em termos
da captura de átomos de carbono pelo escorregamento das discordâncias durante a
deformação plástica (GAVRILJUK et al., 2013).
Meng et al.(1994) demostraram os resultados de sua pesquisa na figura 11
onde a fração volumétrica de austenita retida no final do tratamento térmico
convencional em uma liga de aço de ferramenta (% em peso composição :1.44C,
0.3Si, 0.4Mn, 12.2Cr, 0.84Mo, 0.43V, 0.022P e 0.008S) é de 12%, e 6% após o
tratamento criogénico a -180ºC, mostrando assim a efetividade do banho criogênico.
43
Figura 4- Fração de volume de austenita retida em função da temperatura de tratamento criogênico.
Fonte: (MENG et al., 1994)
O efeito do tratamento criogénico em temperaturas de (-90°C, -120°C, -150°C
durante 25 minutos e -90°C, -150°C durante 24 horas) após a austenitização a
1070ºC num aço AISI D2 resultou numa transformação da austenita retida cerca de
6% a 10% maior em comparação ao tratamento térmico convencional. Todos os
ciclos de tratamento criogênico reduziram a austenita retida presente na amostra
(SURBERG; STRATTON; LINGENHÖLE, 2009).
Collins e Dormer (1997) confirmaram também no aço AISI D2, o efeito bem
conhecido de transformar a austenita retida em martensita, com o consequente
aumento da dureza, tenacidade e resistência ao desgaste, durante o tratamento
criogênico.
Kalsi2 et al. (2010 p. 1089 apud Wang et al. 2009, p. 3236–3240) compararam
o resfriamento ao ar e o resfriamento criogênico do metal após da austenitização em
diferentes temperaturas. Eles concluíram que o resfriamento criogênico é de grande
ajuda na redução da austenita retida quando submetidos ao tratamento térmico, com
efeito, mais pronunciado para temperaturas de austenitização maiores, como
mostrado na figura 12.
2 Kalsi et al. Cryogenic Treatment of Tool Materials: A Review, Materials and Manufacturing
Processes, 25: 1077–1100, 2010
44
Figura 12 - Conteúdo de austenita retida em diferentes estados tratados termicamente.
Fonte: (KALSI et al., 2010).
As temperaturas usuais de tratamento estão na faixa de -70°C para aços de
baixa liga e até -150°C para aços de alta liga. O tratamento deve ser seguido por um
ciclo de revenido, como após qualquer ciclo de tratamento criogênico, para
assegurar que não permaneça nenhuma martensita frágil e não revenida quando a
peça for colocada em serviço. (SURBERG, STRATTON e LINGENHÖLE, 2009).
Experimentos em aços ferramenta AISI D2 usando várias combinações de
tratamentos criogênicos (-90°C, -120°C, -150°C durante 25 minutos e -90°C, -150°C
durante 24 horas). O revenido a (520°C e 540°C) e austenitização (1030°C e
1070°C) foram feitas, os resultados respeito ao efeito do tratamento criogênico na
austenita retida em o aço AISI D2 são mostradas na figura 13 (SURBERG,
STRATTON e LINGENHÖLE, 2009).
45
Figura 5 - O efeito do tratamento criogênico na austenita retida em o aço AISI D2.
Fonte: (SURBERG, STRATTON e LINGENHÖLE, 2009).
O tratamento criogênico a -120 °C permite reduzir o tratamento pós-
endurecimento (múltiplos revenidos) a um tratamento criogênico curto seguido por
um único revenido, sendo este, suficiente para converter toda a austenita retida em
martensita, economizando tempo e custo. Sendo que o ciclo do tratamento
criogênico encurtada não afeta a microestrutura, a resistência à fratura ou a
distorção e pode aumentar ligeiramente a dureza final para altas temperaturas de
austenitização (SURBERG, STRATTON e LINGENHÖLE, 2009).
Quando se opta pelo tratamento térmico convencional, a transformação
completa de austenita em martensita é geralmente desejada antes do revenimento.
De um ponto de vista prático, no entanto, as condições variam amplamente, e 100%
de transformação raramente, é obtido. Em muitas situações onde é um requisito de
aplicação, austenita retida são consideradas benéficas e, neste caso, o tratamento
criogênico não deverá ser aplicado (ASM HANDBOOK, 1991).
Na figura 14, se observa as curvas com percentagens de austenita retida para
a liga tratada convencionalmente e tratada criogenicamente. Os resultados mostram
que, o tratamento criogênico, promove a transformação da austenita retida em
martensita (YANG et al., 2006).
46
Figura 6 - Conteúdo de austenita retida da liga depois de ser tratada convencionalmente e tratada
criogenicamente.
Fonte: (YANG et al., 2006).
Todos os tratamentos criogênicos reduziram a austenita retida presente na
microestrutura. A uma temperatura de austenitização mais elevada (1070°C) esta
vantagem pode ser retida por um único revenimento, de modo que após qualquer
tratamento criogênico seguido de uma única revenido, as amostras apresentam
menos de 1% de austenita. Revenido triplo não produziu qualquer melhoria adicional
na austenita retida. (SURBERG, STRATTON e LINGENHÖLE, 2009).
Assim o efeito da temperatura de austenitização na dureza submetido ao
tratamento criogênico é ilustrado na figura 15 conforme esperado ao aumentar a
temperatura de austenitização, há um aumento na dureza. Após o tratamento
criogênico, o pico de dureza é maior e ocorre a uma temperatura de austenitização
mais elevada. Todas as amostras foram revenidas na temperatura de 200°C.
47
Figura 7 - Efeito da temperatura criogênica sobre a dureza do aço ferramenta AISI D2 após a
austenitização a várias temperaturas.
Fonte: (D.N. COLLINS, 1997).
Das et al (2007) em sua pesquisa observou, um aumento de 5% na dureza do
aço D2 que pode ser atribuído à transformação completa da austenita em
martensita. Outro parâmetro estudado foi o tempo de retenção à temperatura
criogênica, que neste trabalho foi de 36 a 84 horas. Os resultados mostraram que
não houve alterações significativas nos valores de dureza. Possivelmente, acima de
36 horas a taxa de aumento na densidade de carbonetos mais finos é muito baixa.
2.7.2 Precipitação de finos Carbonetos-eta (η)
Muitos pesquisadores afirmam que o tratamento criogênico facilita a formação
de carbonetos-eta (carbonetos-η) na martensita, melhorando assim a resistência ao
desgaste, durante o tratamento criogênico, sendo que este mecanismo de
precipitação tem sido explicado por várias teorias (PAULIN, 1992), (MENG, et al.,
1994), (COLLINS, 1996), (YUN, XIAOPING e HONGSHEN, 1998).
Um dos trabalhos, mais citados neste assunto é de Meng et al. (1994) que
propuseram que o mecanismo dominante para aumentar o desgaste em aços
48
ferramenta é a formação de carbonetos-η (eta). Suas conclusões foram que o
mecanismo de formação de carbonetos-η é o seguinte: os átomos de ferro ou os
substitucionais se expandem e contraem, e os átomos de carbono mudam
ligeiramente devido à deformação da rede como resultado do tratamento criogênico.
Esse mecanismo pelo qual o tratamento criogênico contribui para a resistência ao
desgaste é por meio da precipitação de carbonetos-η finos, o que melhora a
resistência e a dureza da matriz martensítica, e não pela remoção da austenita
retida.
Segundo Collins (1996) é possível que durante o resfriamento contínuo haja
um aumento da energia de deformação do material, devido à contração da rede
cristalina desestabilizando a martensita e afetando as discordâncias inerentes desta
fase. De acordo com esta teoria, os átomos de carbono existente na martensita
migram para estas discordâncias e após o aquecimento subsequente até ou acima
da temperatura ambiente, estes locais atuam como núcleos para a formação das
partículas finas de carboneto observadas em aços tratados criogenicamente.
Mas esta teoria foi refutada por Tyshchenko et al. (2010) que demonstraram a
impossibilidade de que, em temperaturas criogênicas (abaixo de -50°C) houvesse a
difusão do carbono dissolvido na martensita e portanto, eles não poderiam migrar
para as discordâncias para a formação de segregações de carbono que serviriam de
núcleos para a subsequente precipitação de carbonetos-η durante o processo.
De acordo com esta pesquisa, a concentração de átomos de carbono durante
o tratamento criogênico se deve à austenita que não se transformou durante a
têmpera até à temperatura ambiente e que gerou martensita, e que durante as fases
iniciais do tratamento criogênico produz um nível de distorção ou deformação que
gera o movimento das discordâncias. Essas discordâncias, durante o seu
movimento, iriam capturar os estáticos átomos de carbono intersticiais da martensita.
Posteriormente, durante o envelhecimento, estes núcleos de carbono iriam propagar
para o crescimento de nano-carbonetos. Estes carbonetos finos seriam a causa do
aumento a resistência ao desgaste e fadiga do material (TYSHCHENKO et al.,
2010).
Várias investigações posteriores não foram capazes de detectar a presença
de carbonetos-η em aços ferramenta, submetidos ao tratamento criogênico. Isto é
49
esperado porque o carboneto-η é um carboneto de transição e, portanto, dissolve-se
ou é convertido em carboneto estável θ (Fe3C) ou carbonetos de liga.
Entretanto, está estabelecido que o ciclo do tratamento criogênico diminuísse
a tetragonalidade da martensita e, por sua vez, eleva a tenacidade da matriz de
martensita revenida e também não altera a natureza dos carbonetos para um
determinado material. Várias investigações sistemáticas nos últimos anos ajudaram
a concluir que o aumento das propriedades dos aços ferramenta por tratamento
criogênico se deve a uma modificação das características dos carbonetos
secundários, além da completa transformação da austenita em martensita (RAY;
DAS, 2016).
50
3 Materiais e métodos
3.1 Material
O aço AISI D23 (Cryodur 2379) foi fornecido no estado recozido na forma de
barras cilíndricas com 13 mm de diâmetro, e dois chapas de 140 x 140 x 12 mm.
3.1.1 Corpos de Prova
Os corpos de prova tipo Charpy do aço AISI D2 foram retirados das chapas
na direção longitudinal ao sentido de laminação do material, como ilustra a figura 16.
Cabe comentar que a posição de retirada e o posicionamento do entalhe impactam
nos resultados obtidos.
Figura 16 - Orientação dos corpos-de-prova em relação ao sentido de laminação do material.
Fonte: (MAGNABOSCO: ROSSETO, 1999).
O principal fator contribuinte para a anisotropia das propriedades mecânicas
do aço é a presença de inclusões não metálicas que atuam como iniciadoras de
fratura. Daí a importância da retirada dos corpos de prova do material (BAPTISTA e
BRITO, 2002).
As propriedades de ductilidade, tenacidade e limite de fadiga são menores na
direção transversal que na direção longitudinal, o mesmo não ocorrendo com os
limites de escoamento e de resistência, que apresentam valores praticamente iguais.
3 Fornecido pela empresa SCHMOLZ+BICKENBACH, que é especificado como Cryodur 2379.
51
Isto se deve ao alinhamento de inclusões, na direção longitudinal de impurezas
segregadas e de outros microconstituintes. O grau de deformação a quente e a
estrutura bruta de solidificação do material também contribuem. (BAPTISTA; BRITO,
2002).
3.2 Tratamentos térmicos
Para a realização do trabalho foram especificadas dezessete condições de
tratamento térmico nas quais as amostras de aço para trabalho a frio AISI D2 foram
submetidas, associando diferentes tipos de ciclos de tratamento criogênico a partir
da temperatura de austenitização de 1050°C, estabelecido pela Empresa
ISOFLAMA, com a finalidade de obter melhores resultados sob o ponto de vista de
propriedades mecânicas, nessa temperatura maior à usada geralmente pela
empresa sendo este 1030°C. A tabela 6 ilustra os diferentes ciclos de tratamento
impostos aos corpos de provas.
Tabela 6 - Ciclos de tratamento térmico aplicados aos corpos de prova do aço AISI D2.
CPs Têmpera
em forno a vácuo
Tratamento criogênico Revenido
Corpos de prova
T°
Tempo de
imersão (h)
Tempo de espera
(h) Quantidade T°
A 1050 °C Tratamento convencional 2 530 °C
B 1050 °C −125°C 4 0,0 1 530 °C
C 1050 °C −125°C 4 0,0 2 530 °C
D 1050 °C −125°C 4 24,0 1 530 °C
E 1050 °C −125°C 4 24,0 2 530 °C
F 1050 °C −125°C 12 0,0 1 530 °C
G 1050 °C −125°C 12 0,0 2 530 °C
H 1050 °C −125°C 12 24,0 1 530 °C
I 1050 °C −125°C 12 24,0 2 530 °C
J 1050 °C −125°C 4 0,0 1 200 °C
K 1050 °C −125°C 4 0,0 2 200 °C
L 1050 °C −125°C 4 24,0 1 200 °C
M 1050 °C −125°C 4 24,0 2 200 °C
N 1050 °C −125°C 12 0,0 1 200 °C
O 1050 °C −125°C 12 0,0 2 200 °C
P 1050 °C −125°C 12 24,0 1 200 °C
Q 1050 °C −125°C 12 24,0 2 200 °C
52
A figura 17 mostra o tratamento criogênico foi feito com tempo de imersão
ou encharque de 4 e 12 horas sem tempo de espera. A figura 18 detalha de
forma esquemática os ciclos de tratamentos térmicos empregados com um tempo
de espera de 24 horas (entre o final da têmpera e início do revenido). Além do
tratamento convencional com preaquecimento nas temperaturas de 650°C e 850°C.
Figura 17 - Ciclos de tratamentos térmicos sem tempo de espera para o aço AISI D2.
Fonte: Próprio autor.
Figura 18 - Ciclos de tratamentos térmicos com tempo de espera de 24 h para o aço AISI D2.
Fonte: Próprio autor.
53
3.3 Austenitização e têmpera
Os tratamentos foram realizados em forno a vácuo da SECOWARWICK a
pressão de 5 bar a temperatura de austenitizaçao de 1050 °C, conforme a tabela 7.
Tabela 7 - Condições de austenitização e têmpera do aço ferramenta AISI D2.
Material Temperatura e tempo Taxa de
aquecimento Meio de resfriamento
Aço AISI D2 1050 °C, 45 min 27 °C/min Gás nitrogênio
Fonte: Próprio autor.
No total, foram austenitizadas e temperadas 85 amostras. Após a têmpera foi
retirada uma amostra na condição somente temperada. Também foram retiradas
amostras depois de serem submetidas ao tratamento criogênico após 4 e 12 horas
de encharque sem serem levados a etapa de revenimento e as demais foram
divididas para as dezessete condições mostradas na tabela 7.
A figura 19 ilustra a forno a vácuo usado.
Figura 19 - Forno utilizado para austenitização e têmpera dos corpos de prova.
Fonte: ISOFLAMA.
54
3.4 Análises microestrutural
Para a análise microestrutural do aço ferramenta AISI D2, as amostras
embutidas foram lixadas e polidas usando as técnicas convencionais de preparação
metalográfica, e o ataque químico foi feito com reagente Villela 2%. (Composição:
0,5 ml ácido pícrico, 2,5 ml HCl, 50 ml.).
Os ensaios metalográficos foram realizados inicialmente por microscopia
óptica convencional, visando obter uma visão geral do tratamento térmico realizado.
Posteriormente, as amostras foram analisadas em microscópio eletrônico de
varredura (MEV) visando análises complementares.
3.5 Difração de raios X
As analises por difratometría de raios X foram feitas no equipamento RIGAKU
ROTAFLEX modelo Ru200B, que é pertencente à Instituto de Física de São
Carlos da Universidade de São Paulo (USP), operando com anodo de cobre e
monocromador de grafite para filtrar ruídos provenientes de outros comprimentos de
onda.
Foi utilizado uma voltagem de 40 Kv e corrente de 60 mA. A superfície
metálica das amostras foi polida até lixa de grão 1000 e acomodado em porta amostra
para medida de amostra solida. (λ= 1.54 A° comprimento de onda do Cu).
Para a obtenção dos diagramas de difração utilizou-se como parâmetros
de operação um intervalo angular de 10° ≤ 2Ɵ ≤ 120° e velocidade de varredura
angular de 2°/minuto. As ordenadas dos espectros referem-se a contagem por
segundo (CPS) e representam uma intensidade relativa. Esta intensidade tem
pequenas variações de uma amostra para outra, dependendo da posição
(inclinação) em que o raio incide na superfície do corpo-de-prova.
O processamento dos dados de difração de raios X foi feito utilizando o
software MAUD (Material Analysis Using Diffraction). Para o refinamento usou-se o
método de Rietveld que usa a aproximação dos mínimos quadrados.
3.6 Dureza Rockwell
A caracterização do aço ferramenta para trabalho a frio em termos de
55
propriedades mecânicas foi realizada por meio de ensaios de dureza Rockwell,
usando-se durômetro universal marca LECO. As amostras do aço AISI D2 tratadas
nas dezessete condições descritas anteriormente, foram submetidas ao ensaio de
dureza Rockwell C após o polimento da superfície das mesmas. A carga utilizada
para o ensaio foi 150 kg, com uma pré-carrega de 10 Kg e penetrador cônico de
diamante (penetrador de Brale).
Foram feitas cinco medições nos corpos de provas, usando a norma
brasileira ABNT NBR NM ISO 6508-1: 2008.
3.7 Tenacidade ao impacto
Os corpos de prova foram preparados mediante usinagem de acordo com a
norma ASTM E23 - Figura 20 (Métodos de teste padrão para ensaios de impacto em
barras entalhadas de materiais metálicos); e foram levadas ao processo de
tratamento térmico convencional e criogênico sem entalhe com a finalidade de evitar
empenamento ou fissurações em os corpos de prova. Depois de realizados os
tratamentos térmicos de têmpera e criogenia foram feitos os entalhes por eletro
erosão.
Por terem valores de resistência ao impacto muito baixo os corpos de prova
tipo Charpy com entalhe tipo V, foram feitos num equipamento instrumentado
utilizado para ensaios de impacto de materiais poliméricos, para o qual foram
adaptadas as garras de fixação dos corpos de prova do equipamento.
Este teste pode ser também realizado em corpos de prova sem entalhe, com
dimensões 7 x 10 x 55 mm segundo NADCA (North American Die Casting
Association). Esta opção é usada devido à baixa tenacidade do material.
Figura 20 - Corpos de prova para ensaios de impacto Charpy tipo A.
Fonte: (ASTM INTERNATIONAL, 2012).
56
Os ensaios foram realizados seguindo a norma ASTM E23, no laboratório de
ensaios mecânicos da Universidade Federal de São Carlos, com equipamento
instrumentado marca CEAST, modelo RESIL 25R, com martelo de 6J e atrito de
0,024J mostrado na figura 21.
Figura 21 - Equipamento de impacto instrumentado marca CEAST.
Fonte: Laboratórios da UFSCAR - Departamento DEMA.
Os corpos de prova foram alfabeticamente identificados na superfície da face,
todos os testes de impacto foram realizados à temperatura de 22 ± 1°C.
3.8 Tratamento criogênico
O tratamento criogênico foi realizado numa empresa4 especializada em
tratamentos térmicos, utilizando vapor de nitrogênio líquido como meio de
resfriamento. Todo o processo, ou seja, a taxa de resfriamento, manutenção na
temperatura de tratamento criogênico e aquecimento até a temperatura ambiente é
controlado por software e hardware específico desenvolvido pela empresa.
O nitrogênio líquido é armazenado em tanques de armazenamento e com
ajuda de linhas de transferência, é direcionado para um cilindro. O suprimento de
nitrogênio líquido é operado com a ajuda de válvulas solenóide. Dentro da câmara o
resfriamento foi gradual a uma taxa de 2ºC/min, iniciando-se de a temperatura
ambiente até atingir a temperatura criogênica de -125ºC onde os corpos de prova
permaneceram imersos por 4 e 12 horas, nessa temperatura.
4 Empresa ISOFLAMA INDÚSTRIA E COMERCIO DE EQUIPAMENTOS LTDA.
57
A taxa de aquecimento também foi gradualmente a uma taxa de 2ºC/min, até
alcançar a temperatura ambiente, para logo serem submetidas a etapa de revenido.
3.9 Revenido
A tabela 8 indica os ciclos térmicos usados no revenimento das amostras do
aço ferramenta AISI D2.
Tabela 8 - Condições de revenimento do aço ferramenta AISI D2.
Material Temperatura Resfriamento Tempo/duplo revenido
Aço AISI D2 200ºC Ar 2 h
Aço AISI D2 530ºC Ar 2 h
Fonte: Próprio autor.
As temperaturas de revenimento indicadas na tabela 9 foram usadas por
recomendações, da Empresa ISOFLAMA assim como a temperatura de
austenitizaçao. Nessas condições estima-se que a dureza final fique entre 58 e
60 HRC, segundo os fabricantes (SCHOLMZBICKENBACH, 2011).
As temperaturas de revenimento devem ser escolhidas, conforme a dureza
desejada. Para peças maiores que 70 mm, deve-se calcular o tempo em função de
sua dimensão. Considerar 1 hora para cada polegada de espessura (KALSI, et al.,
2010).
58
4 Resultados e discussões
4.1 Composição química do aço ferramenta AISI D2
A análise química do material foi realizada por espectrometria de emissão
óptica, pela empresa MIB (Instituto de Materiais do Brasil) com resultados reportados
em percentagem em peso resultando nos valores apresentados na tabela 9. Os
resultados foram comparados com os valores nominais segundo a norma brasileira
ABNT NBR NM 122-1, indicando que o aço em questão pode ser classificado como
AISI D2.
Tabela 9 - Composição química (% em massa) do aço AISI D2.
Aço AISI D2 C P S Cr Si Mn Mo V Fe
Nominal 1,40-1,60
0,03 Max.
0,03 Max.
11,0-13,0
0,10-0,60
0,20-0,60
0,70-1,20
0.5-1,10
Bal.
Cryodur 2379 1,37 0,02 0.01 13,86 0,29 0,31 1,15 0,69 Bal
Fonte: Próprio autor.
4.2 Aço ferramenta AISI D2: estado como recebido
Na tabela 10 é apresentado o resultado médio dos ensaios de dureza do aço
AISI D2. A medição foi feita na escala Brinell, mostrando que o material no estado
como recebido não apresenta endurecimento por tratamento térmico.
Tabela 10 – Dureza do aço ferramenta no estado inicial, como recebido.
Dureza Brinell (HB) Dureza Rockwell C
200,1 1,5 15,0
Fonte: Próprio autor.
Na figura 22 é apresentada a imagem obtida por meio de microscopia ótica
(MO) da amostra no estado como recebido. A princípio, essa imagem está de acordo
com o resultado de dureza apresentado, típico do material sem a presença de
estrutura martensítica. Verifica-se a ocorrência de uma microestrutura com
morfologia globular que é composta de carbonetos pequenos e grandes possuindo
diferentes formatos e tamanhos todos distribuídos na matriz ferrítica.
59
Na imagem, correspondente à amostra de uma barra, pôde-se observar que
todos os carbonetos encontram-se distribuídos de forma dispersa. Neste caso
deve-se esperar que o aço AISI D2 terá as mesmas propriedades mecânicas em
todas as direções.
Figura 22 - Microestrutura de barra no estado como recebido do aço AISI D2 observado em
microscópio óptico Aumento 500X.
Fonte: Próprio autor.
Na figura 23, a amostra correspondente às chapas, observa-se que os
carbonetos encontram-se alinhados em forma de bandas em direção da
conformação, onde os carbonetos secundários e os carbonetos eutéticos tipo M7C3
estão na forma de partículas isoladas anisotropicamente.
60
Figura 23- Microestrutura da chapa no estado como recebido do aço AISI D2 observado em
microscópio óptico Aumento 500X.
Fonte: Próprio autor.
É importante salientar que, na conformação por laminação a quente do aço, a
estrutura de carbonetos eutéticos é quebrada, sendo a intensidade desta quebra
proporcional ao grau de deformação. Isso quer dizer que, quanto maior o grau de
deformação, maior será a intensidade de quebra da rede e, portanto, menor será o
tamanho final dos carbonetos e melhor sua distribuição. Esta redistribuição de
carbonetos é responsável pela forte anisotropia de propriedades entre as direções
longitudinal e transversal do aço (FARINA, 2011)
4.3 Tratamento convencional
O endurecimento do aço leva a uma alteração na sua estrutura. Quando o
aço é aquecido à temperatura austenítica e repentinamente temperada, a estrutura
martensítica é formada, que é muito forte e frágil. Há uma grande preocupação com
a estabilidade dimensional e descarbonetação do material, estas são as razões pela
qual os corpos de prova de aço ferramenta AISI D2 foram temperadas em fornos a
61
vácuo, com resfriamento de gás nitrogênio a 5 bar de pressão, conforme aos ciclos
de tratamento térmico estabelecidos.
A figura 24 compara a microestrutura dos corpos de prova do aço AISI D2,
observada no MEV. A figura 22 (a) mostra a microestrutura no estado como
recebido, onde os carbonetos são de grandes dimensões numa matriz ferrítica. A
figura 22 (b) mostra uma microestrutura temperada desde uma temperatura de
austenitização de 1050ºC e duplo revenido a 530ºC, onde o material é composto por
carbonetos de diferentes tamanhos, porém mais homogêneos distribuídos numa
matriz martensítica junto à austenita retida. Observa-se que o tamanho dos
carbonetos em ambos os casos são muito diferentes, indicando que os carbonetos
são parcialmente dissolvidos por ocasião da austenitização. As análises de difração
indicam que esses carbonetos são do tipo M7C3.
Figura 24 - (a) Microestrutura em estado recozido do aço AISI D2. (b) Microestrutura com tratamento
convencional a 1050ºC do aço AISI D2.
Fonte: Próprio autor.
4.4 Avaliação da percentagem de AR por DRX
A tabela 11 compara os valores dos resultados de fração volumétrica de
austenita retida do tratamento térmico convencional com temperatura de
austenitizaçao de 1050ºC, revenimento duplo a 530ºC e tratamento criogênico de 4 e
12 h, anterior ao revenido.
(a) (b)
62
Nesta medição buscam-se analisar a influência do tempo de imersão em
temperaturas criogênicas na percentagem de AR transformada.
Tabela 11 - Austenita retida do aço AISI D2.
Código dos Corpos de prova
Ciclos de tratamentos térmicos Austenita retida
(% Vol.)
A Tratamento térmico convencional 2,2 ± 0,2
C Tratamento criogênico 4h. 1,03 ± 0,3
G Tratamento criogênico 12h. 0,51 ± 0,01
Fonte: Próprio autor.
A figura 25 ilustra a variação do conteúdo de AR nos corpos de prova
submetidos ao tratamento convencional e o tratamento criogênico com tempos de
imersão de 4 e 12 horas.
Figura 25 - Austenita retida, do tratamento térmico convencional e tratamento criogênico de 4 e 12 h.
Fonte: Próprio autor.
Embora os valores de AR sejam baixos, foi possível quantificar uma redução
gradual de AR quando a criogenia foi introduzida e o tempo de imersão aumentado.
Os valores de AR foram calculados mediante o software MAUD pelo refinamento dos
dados mediante o método Rietveld, os dados usados foram da difração de raios X
dos corpos de prova do aço AISI D2.
63
Observa-se claramente a influencia do parâmetro do tempo de imersão, no
ciclo do tratamento criogênico, respeito a diminuição da quantidade de AR a maior
tempo de imersão nos corpos de prova do aço AISI D2.
A figura 26 mostra os perfis de difração de raios X das amostras com
tratamento térmico convencional (picos cor preta), tratamento criogênico de 4h após
a têmpera (picos de cor vermelho) e tratamento criogênico de 4h após de 24h de
espera (picos de cor azul). Nelas mostram-se as diferentes fases presentes e tipos
de carbonetos, assim como, picos de austenita e martensita em diferentes planos de
difração (hkl), bem como, os picos dos carbonetos M7C3, M23C6.
As análises de difração de raios-X revelam que o conteúdo de austenita retida
em amostras tratadas termicamente convencionais é 2,2 ± 0,2 %vol. contra 0,51 ±
0,01 % vol. em amostras tratadas criogenicamente, sendo que a mesma está no
limite de detecção da austenita. Estas observações ajudam a inferir que a
incorporação de tratamento criogênico imediatamente após a têmpera convencional
conduz a quase total redução ou remoção da austenita retida. A quantidade da
austenita retida removida depende do maior tempo de imersão das amostras
submetidas ao tratamento criogênico (A. KOKOSZA, 2005).
64
Figura 26 - Perfis de difração de raios-X (a) amostras com tratamento térmico convencional, (b)
tratamento criogênico de 4h após a têmpera e (c) tratamento criogênico de 4h após de 24h de
espera.
Fonte: Próprio autor.
A quantidade de austenita estabilizada durante o ciclo térmico de
austenitização é o fator determinante para obtenção de baixos valores de dureza e
tenacidade. Dessa forma, verificou-se o efeito dos parâmetros como: a temperatura
de austenitização e tempo de imersão do ciclo térmico na percentagem de austenita
retida.
Todos os tratamentos criogênicos reduziram a austenita retida presente na
amostra, na têmpera com temperatura de austenitização de 1050 °C. Esta discussão
trata de explicar as práticas utilizadas no tratamento criogênico do aço e apresenta
alguns dos resultados para melhorar as propriedades do aço.
65
Observa-se na figura 27 o efeito da estabilização térmica da austenita retida
no processo do tratamento térmico do aço ferramenta AISI D2, obtendo-se
percentagens maiores de austenita retida na microestrutura dos corpos de prova,
naqueles que foram submetidos ao tratamento térmico após de um tempo de espera
de 24 horas. Comparando-se o volume de austenita retida, as amostras com
tratamento criogênico de 4h com e sem tempo de espera apresentam valores de 1,5
e 1,0% respetivamente. Observa-se também similarmente que as amostras com
tratamento criogênico de 12h, sem tempo de espera, apresentaram menor volume
de austenita retida, com um valor de 0,5%, comparado ao 1% com a amostra tratada
após um tempo de espera de 24 h.
Figura 27 - Variação da fração volumétrica da austenita retida após de 24h de espera.
Fonte: Próprio autor.
Portanto, a quantidade de austenita retida é menor se o tratamento criogênico
for realizado após a têmpera, e é proporcional ao tempo de encharque, sendo que a
maior tempo de imersão menor será o percentagem de volume de AR nas amostras
do aço AISI D2.
4.5 Variação da dureza (HRC)
Os valores de HRC de todas as amostras examinadas foram obtidos após o
processo de tratamento térmico convencional e tratamento criogênico. Os resultados
A C E G I
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
Cri
og
en
ia 1
2h
,
Esp
era
24
h
Crio
geni
a 12
h,
Esp
era
0h
Crio
geni
a 4h
,
Esp
era
24h
Crio
geni
a 4h
,
Esp
era
0h
Tra
tam
en
to C
on
ven
cio
nal
% V
ol. A
uste
nit
a R
eti
da
Ciclos de Tratamento Térmico
66
são mostrados na tabela 12 o que revelam em escala macro como o processo de
endurecimento, afeta a propriedade mecânica da dureza do material.
Tabela 12 – Resultados dos ensaios de dureza Rockwell C do aço AISI D2.
Ciclos de Trat.
térmicos Media (HRC) Desvio Padrão
Convencional A 57,84 0,296
Reven
imen
to s
imp
les e
du
plo
a
530°C
B 58,72 0,443
C 57,76 0,461
D 59,02 0,192
E 56,66 0,151
F 57,72 0,164
G 56,64 0,194
H 59,02 0,370
I 55,62 0,109
Reven
imen
to s
imp
les e
du
plo
a
200°C
J 63,80 0,234
K 63,06 0,219
L 64,14 0,270
M 63,26 0,151
N 59,06 0,194
O 63,22 0,238
P 63,86 0,296
Q 63,30 0,282
Fonte: Próprio autor.
De acordo com os resultados, é claro que o aço ferramenta AISI D2 tratado
convencionalmente tem dureza similar em comparação com amostras tratadas
criogenicamente em temperaturas de revenimento de 530°C. As amostras tratadas
com temperatura de revenimento a 200°C apresentaram a maior dureza devido à
que não se produz um reajustamento interno no alivio de tensões. No entanto, a
amostra tratada criogenicamente com período de 12h de imersão mostra apenas um
aumento de dureza comparado à amostra de 4h de imersão.
67
A tabela 12 mostra os valores dos resultados das medições de dureza (HRC)
para o aço ferramenta AISI D2, temperado por resfriamento com gás nitrogênio a
uma pressão de 5 bar e revenido duplo a 530°C. As amostras com tratamento
criogênico de 4h e 12h não mostram uma variação significativa na dureza final do
aço em relação à amostra trat