UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A ATUAÇÃO DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA, APLICANDO A TEORIA
SISTÉMICA
Por: Sandra Lúcia Gonçalves dos Santos
Orientadora
Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A ATUAÇÃO DO TERAPEUTA DE FAMÍLIA, APLICANDO A TEORIA
SISTÉMICA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Terapia de família
Por: Sandra Lúcia Gonçalves dos Santos
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AGRADECIMENTOS
Minha querida mãe e avó (in memorium),
meu marido Nicolau e meus filhos Priscilla
e Thiago, aos amigos e parentes.
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RESUMO
Esta monografia foi elaborada para fins de conclusão do curso de terapia de
família, na instituição AVEZ DO MESTRE. O tema escolhido foi a atuação da trajetória da teoria sistêmica na prática
terapêutica, ou seja, um estudo dos sistemas e suas teorias,e também, como implantá-la
na prática do terapeuta.Iniciamos o trabalho com os estudos das cibernéticas de primeira
e segunda ordem, e tentamos defini-lo para fins didáticos e de fácil entendimento.
Citamos a evolução não no sentido de um ser melhor que o outro, mas no sentido de
ampliação de visão, de complemento, de soma. No segundo e terceiro capítulos,
consiste uma reflexão sobre a construção de identidade profissional de um terapeuta.
Respaldada em vários conceitos bibliográficos usados para construção desta pesquisa.
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METODOLOGIA
O processo metodológico que definiu a pesquisa foi o bibliográfico. A pesquisa
foi feita através de leituras de livros obtidos em bibliotecas, compras de livros, aulas
do curso terapia de família da AVM, apostila da AVM e site da internet.
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SUMÁRIO
Introdução 08
Capítulo I:Trajetória da teoria sistêmica na terapia de família. 11
Capítulo II: O funcionamento da teoria na prática do terapeuta. 20
Capítulo III : O terapeuta como facilitador do processo terapêutico. 39
Conclusão 47
Bibliografia consultada 52
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INTRODUÇÃO Originou-se o presente trabalho de uma curiosidade de compreender como
funcionaria a teoria sistêmica na prática do terapeuta. A família é um sistema único e
integrado,quando ocorre um fato isolado com um de seus membros,este pode acabar
comprometendo os outros integrantes, pois certos acontecimentos podem repercutir de
forma positiva ou negativa no ambiente familiar.
Segundo Von Bertallanfy:
A família pode ser considerada como um sistema aberto, devido ao
movimento de seus membros dentro e fora de uma interação uns com os outros e com sistemas extra familiar (meio-ambiente – comunidade).A família tende também a funcionar como um sistema total.As ações e comportamentos de um dos membros influenciam e simultaneamente são influenciados pelos comportamentos de todos os outros.”
BERTALLAFY, 1987.p.17)
Esta monografia busca resgatar os pressupostos da Teoria Sistêmica, nascida
de um desejo de conhecer e de me aprofundar mais. Acredito que este estudo seja
fundamental para um melhor entendimento da própria teoria como um todo. A partir do
momento que conseguimos entender de onde vêm os pressupostos da teoria, entende-se
melhor seus princípios, técnicas e recursos. Como diz Vasconcellos: “Se um clínico não
reconhece as premissas subjacentes à sua maneira de operar, essa falta de compreensão
pode tornar o trabalho menos eficaz”. (Vasconcelos, Maria José de, 1995, p.25).
Trabalhamos com vários teóricos entre eles: Maria José Vasconcellos que
permeou o trabalho esclarecendo a trajetória da teoria sistêmica e sua evolução através
das cibernéticas de primeira e segunda ordem, esclarecendo esta metáfora. O teórico
Whitaker e Bumberry, Gradesso, nos esclarece e nos fez entender como funciona a
teoria sistêmica no processo prático, levando a reflexão de pontos fundamentais para
atuação do terapeuta de família. Focando a prática da relação terapeuta e cliente no
universo cotidiano, nos trazendo conhecimentos que facilitará o desempenho do
profissional na sua atuação. E traz um esclarecimento significativo narrando que o
conhecimento teórico do profissional, tem a sua importância, porém não quer dizer que
somos os “expert” quando Gradesso faz essa afirmativa com muita propriedade:
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“Seria um contra-senso desqualificar qualquer conhecimento
profissional do terapeuta, seja ele referente à sua formação teórica, à sua experiência prática acumulada, ou mesmo a sua bagagem pessoal. (...) A diferença é que reconhecemos tal saber como um saber local, de caráter provisório que deve ser desafiado pelo saber do cliente, o único especialista na sua própria experiência.
GRANDESSO (2000, p. 280):
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CAPÍTULO I
TRAJETÓRIA DA TEORIA SISTÊMICA NA TERAPIA DE
FAMÍLIA
1.0 Conceituando sistema social
Antes de apresentar os pontos abordados na trajetória da teoria
sistêmica na terapia de família, faz-se necessário contextualizar o leitor a definição
do sistema considerado neste estudo.
Como o foco desta pesquisa é a trajetória da teoria sistêmica na terapia
de família, apenas definições relacionadas aos sistemas sociais serão aqui
consideradas.
Buscando entendimento de aspectos relacionados à dinâmica
organizacional, Ludwig Von Bertalanffy (1977) em uma definição ilustrativa da
teoria dos sistemas compara os sistemas sociais a organismo vivos, focando nas
inter-relações das partes que configuram os sistemas e as relações entre diferentes
sistemas inseridos em um ambiente. Na visão do autor, o que define um sistema são
as relações existentes entre as partes. Inclusive, em seu livro “teoria geral dos
sistemas” a crítica ao conhecimento focado em elementos separados é bastante
presente, seja no conhecimento específico de cada área de conhecimento, seja na
visão das diferentes áreas de conhecimento com relação a um conteúdo específico.
Quando o autor menciona “... Quando as coisas são organizadas dentro de um
padrão, algo emerge do padrão e do relacionamento das partes dentro dele que é
maior ou diferente”
Na década de 40 o biólogo Bertallanffy explicitou o que denominou
de “teoria geral sistemas” como abordagem interdisciplinar de fatos multivariáveis e
caracterizáveis precisamente pelo fato e pela forma de sua organização fatos,
portanto, que não são abordáveis pelo método de isolar e manipular variáveis. É
notável que na lingüística, na psicanálise, o estruturalismo tornou-se mesma época
corrente dominante a se preocupar com as inter-relações dos elementos a um
conjunto.
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A proposta de Bertalanffy é construir modelos e descobrir os
princípios gerais aplicáveis a sistemas complexos de qualquer natureza: biológica,
ecológica, psíquicas, sociais, econômicas, culturais que não sejam vagas analogias e
tampouco transposições de conceitos e modelos uma área de conhecimento para
outra. Como transcreve Bertalanffy:
“Pode-se chamar de “homeostase psicológica ”o escalar montanhas, compor sonatas ou poemas líricos-como tem sido feito, porém com o risco de que de este conceito fisiologicamente bem, definido, perca todo o seu sentido. Além do mais, se o princípio de manutenção homeostática for tomado como regra de ouro do comportamento humano, o fim último será o chamado indivíduo bem ajustado ,isto é, um robô bem lubrificado que se mantém na mais desejável homeostase do ponto de vista biológico, psicológico e social.”(Bertanffy. 1977)
1.1 Conceituando Cibernética
Como diz Maria José Esteves, durante decênio (1950 a 1980) os “sistemas”
metáfora usada para os grupos familiares foram modelo importante no campo da
terapia de família sistêmica, usando-se a analogia com a máquina cibernética. Com a
mudança paradigmática, tanto o sentido ou concepção cibernética do mundo,quando
o trabalho sistêmico com a família , são revisto em seu quadro de referência. Cria-se
então, aterminologia “cibernética de primeira ordem” e “cibernética de segunda
ordem” para diferenciar estas duas concepções. De uma forma bem suscita, um dos
aspectos mais interessante, é que, na primeira cibernética a família é concebida como
uma “caixa preta” com o terapeuta posicionando-se como observador externo, de
fora do sistema, para conhecer uma verdade objetiva, com uma posição hierárquica
superior, pois é o agente ativo e condutor do processo. Na segunda cibernética,
emerge a visão sistêmica da complexidade organizada, onde se percebe que a
determinação das condições iniciais com a previsão necessária à definição de uma
trajetória, é impossível, abalando o mito da previsibilidade ilimitada. O observador
que era visto como aquele observava o mundo e o descrevia de fora, passa a se visto
como parte do mundo que descreve: ”a realidade é uma construção do observador”.
Reconhece-se as idéias e instabilidade, desordem, imprevisibilidade, acaso, auto-
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organização, entre outras. O terapeuta não se comporta mais como o detentor do
saber e do poder, nem agente ativo e condutor do processo, mas um co-construtor no
processo terapêutico.
Os estudos das cibernéticas se dividem em duas partes, como diz
Maruyama:
“A 1ª cibernética trataria dos processos morfostáticos, resultantes de retroação negativa ou retroação auto-reguladora. Diante do desvio, a retroalimentação negativa conduz o sistema de volta a seu estado de equilíbrio homeostático, otimizando a obtenção do objetivo. A 1ª cibernética trataria da capacidade de auto-estabilização do sistema. Por outro lado, a 2ª cibernética trataria dos processos morfogenéticos, resultantes de retroação positiva ou amplificadora do desvio, amplificação que pode – caso não produza a destruição ou ruptura do sistema – promover a sua transformação, levando-o a um novo regime de funcionamento. Poderíamos dizer que a 2ª cibernética trataria da capacidade de auto-organização – no sentido de auto-mudança – do sistema, enquanto a 1ª cibernética trataria da capacidade de reorganização – no sentido de auto-manutenção – do sistema”. (Maruyama in Mª José de Vasconcelos, 1995, p.105).
1.2 Cibernética de primeira ordem
Este estudo referente à cibernética de primeira ordem seguirá a linha de
pensamento Gradesso.
Estabilidade, pela estrutura, entendendo que os sistemas funcionam com
uma meta, um propósito que equivale a um equilíbrio. Interessam-se então pelo que
denominam mecanismo de homeostase, que são as estratégias de ação dos sistemas e
organismos para o mantenimento de sua estabilidade. Como diz Gradesso:
“Primeiro período da cibernética de primeira ordem (primeira cibernética) se ocupava dos mecanismos e processos pelos quais os sistemas, em geral, funcionavam com o intuito de manter a sua organização. O sistema, de acordo com essa concepção, operava de acordo com um propósito ou meta, cujo alcance era garantido por mecanismos de regulação e controle (...) regulação, enquanto um mecanismo, visa manter a sobrevivência do sistema à medida que controla os distúrbios que o atingem, impedindo-os de evoluírem para uma mudança, que possa quebrar a sua organização. Nesse sentido, o sistema cibernético era compreendido como equivalente a uma máquina trivial, fosse ele uma máquina, um organismo biológico, ou um sistema social, que, tendo uma organização e um propósito, operava na correção dos desvios, de modo que se mantivessem estável e sobrevivesse. “Esse processo conhecido como retroalimentação negativa, por meio do qual um sistema vivo sobrevive mantendo a sua constância apesar das mudanças do meio convencionou-se chamar de morfoestase”. (Grandesso, Marilene. 2000 p.124)
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A cibernética de Primeira ordem afirma que o sistema está em permanente
processo de auto-correção dos desvios. A meta é prosseguir em direção ao equilíbrio
do sistema.
A terapia de família influenciada pelo primeiro momento da cibernética de
primeira ordem voltou seu interesse para a manutenção da homeostase do sistema
através da correção de erro.
Por estes motivos os terapeutas da Primeira Cibernética são mais diretivos,
planejando ativamente suas estratégias e ações. Têm como objetivo definir o
problema de forma clara e aplicar técnicas para a eliminação ou redução do problema
ou sintoma apresentado pela família, pois os sintomas são considerados, nesta época
uma ameaça de desequilíbrio.
Neste sentido nasce a idéia de homeostase familiar, ao se observar que os
esforços psicoterápicos dirigidos ao membro da família, que trazia sintoma (PI)
paciente identificado, podiam ser frustrados pelo comportamento de outro membro,
ou que outros membros poderiam tornar-se perturbados na medida em que o membro
em tratamento melhorasse. Isso sugeria que a família é algo como um sistema estável
e o sintoma existem para manter o status.
A cibernética de Primeira ordem afirma que o sistema está em permanente
processo de auto-correção dos desvios. A meta é prosseguir em direção ao equilíbrio
do sistema.
A terapia de família influenciada pelo primeiro momento da cibernética de
primeira
Ordem voltou seu interesse para a manutenção da homeostase do sistema
através da correção de erro. Os terapeutas definiam o problema (sintoma)
apresentado pela família.
“Palavras “e expressões como “intervenções geradoras de crise” ou
“movimento desequilibrante” ou” atividade provocativas”. Passam a fazer parte do
universo do terapeuta sistêmico. Essas atividades tinham por objetivo levar a família
para além dos limites de sua organização atual (ampliação de desvio)
desencadeamento mudanças qualitativas. Que concluímos é que estamos falando de
um olhar linear de causa e efeito. O (PI) é a causa do transtorno. Se ele for
“consertado” o efeito “transtorno” desaparece. Mas, o que se constatava era que um
tempo depois a família voltava com outros sintomas.
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Nessa época os estudos da cibernética continuam avançando e novos
conceitos são adotados pelos terapeutas sistêmicos entre eles o da cibernética de
segunda ordem, que abordaremos no item posterior.
1.3 Cibernética de segunda ordem
Um novo olhar surgiu através da cibernética da segunda ordem onde coloca
que o sintoma não é o foco, o sintoma é apenas para identificar que algo não vai bem
à família, sendo o foco agora as relações e não o sintoma ou a pessoa que traz o
sintoma. A pessoa com o sintoma denomina-se como paciente referido (PR), que é a
pessoa que leva a família à terapia. Dentro dessa visão, não significa que o problema
é do paciente referido somente, mas sim que o problema passa por todos os
membros. Acrescenta a homeostase positiva, cujo equilíbrio leva a permanência ou
surgimento do sintoma como forma de mudança, porque se há sintoma precisa
procurar ajuda terapêutica aumentando assim a possibilidade de mudança (auto-
transcedêcia). Não temos mais como modelo um sistema resistente, “paralisado” em
seu movimento, mas sim um sistema que, inevitavelmente, muda para novas
coerências e onde o sintoma não é mais um “mecanismo homeostático” que impede a
família de mudar ou de sucumbir a uma crise, mas apresenta-se como alternativa
amplificada, solução possível naquele momento, para aquele sistema.
A cibernética de segunda ordem rejeita a distinção do observador e o
observado. Quando se entende que não existe uma verdade absoluta no tratamento
das relações familiares. E que não se pode criar um conceito teórico e aplicar
soluções para os sintomas apresentados.
Como narra (Einstein): “As observações não são absolutas, são relativas ao
ponto de vista do sujeito. Embora a realidade exista, as realidades como a
conheceram jamais será totalmente objetiva, porque nossa visão dela é filtrada por
nossa perspectiva pessoal e particular, o observador está inserido na observação que
realiza, pois aquele que descreve suas observações descreve partindo da sua história
de vida. ”Os homens não são movidos pelas coisas, mas pela visão que têm delas.”
(Epítetus)
Como descreve Gradesso:
“Nossa estrutura enquanto observadores, desde a nossa corporeidade até a
nossa linguagem e a nossa cultura, impõem restrições ao tipo de observações que
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podemos fazer. Essa nova cibernética implicou uma teoria sobre o observador, a
crença na impossibilidade de separar o observador do sistema observado e, portanto,
o questionamento da possibilidade de conhecimento objetivo, de previsão e controle.
Um discurso científico passa a ser entendido não apenas como um discurso sobre um
referente, mas também como um discurso sobre os limites da linguagem e dos
processos mentais de quem o produz (...) a incorporação dessa nova epistemologia às
práticas sistêmicas implicou mudanças fundamentais no papel do terapeuta e na
própria concepção da terapia. Antes de ser um interventor que opera sobre um
sistema (família, casal, indivíduo, por exemplo) para mudá-lo em uma dada direção,
previamente definida como ‘mais funcional’ para o sistema, o terapeuta passa a ser
visto como mais um no sistema. No lugar de intervir, o terapeuta co-participa do
sistema terapêutico, atuando para uma transformação co-evolucionária que conta
com a surpresa e o imprevisível à medida que os sistemas produzem sua própria
mudança. Da mesma forma que a cibernética de segunda ordem, enquanto uma
epistemologia se define como construtivista/construcionista social, as terapias,
segundo este modelo, também passam a ser chamadas de terapias de segunda ordem
ou de terapia sistêmica construtivista/construcionista social”. (Grandesso, Marlene.
2000 p.131)
A cibernética de segunda ordem rejeita a distinção do observador e o
observado. Quando se entende que não existe uma verdade absoluta no tratamento
das relações familiares. E que não se pode criar um conceito teórico e aplicar
soluções para os sintomas apresentados. Como descreve Gradesso:
“Nossa estrutura enquanto observadores, desde a nossa corporeidade até a nossa linguagem e a nossa cultura, impõem restrições ao tipo de observações que podemos fazer. Essa nova cibernética implicou uma teoria sobre o observador, a crença na impossibilidade de separar o observador do sistema observado e, portanto, o questionamento da possibilidade de conhecimento objetivo, de previsão e controle. Um discurso científico passa a ser entendido não apenas como um discurso sobre um referente, mas também como um discurso sobre os limites da linguagem e dos processos mentais de quem o produz (...) a incorporação dessa nova epistemologia às práticas sistêmicas implicou mudanças fundamentais no papel do terapeuta e na própria concepção da terapia. Antes de ser um interventor que opera sobre um sistema (família, casal, indivíduo, por exemplo) para mudá-lo em uma dada direção, previamente definida como ‘mais funcional’ para o sistema, o terapeuta passa a ser visto como mais um no sistema. No lugar de intervir, o terapeuta co-participa do sistema terapêutico, atuando para uma transformação co-evolucionária que conta com a surpresa e o imprevisível à medida que os sistemas produzem sua própria mudança. Da mesma forma que a cibernética de segunda ordem, enquanto uma epistemologia se define como construtivista/construcionista social, as terapias, segundo este modelo, também passam a ser chamadas de terapias de segunda ordem ou de terapia
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sistêmica construtivista/construcionista social”. (Grandesso, Marlene. 2000 p.131)
Esta visão implica a idéia de que o sistema tem e adquire, ao longo do
tempo, seus próprios recursos para realizar mudanças, possuindo autonomia e uma
capacidade de auto-organização. A crise, ao invés de ser considerada como um
perigo, como na Primeira Cibernética, é vista agora como parte do processo de
mudança, e o sintoma como surgido no meio dela. Como diz Gradesso:
“A sobrevivência dos sistemas vivos não dependia apenas de sua capacidade de morfoestase. Além de conseguir manter SUS estabilidade, um sistema vivo necessitava, também de ser capaz de modificar sua estrutura básica, para adaptar-se às situações de mudanças do meio. Esse processo, chamado de morfogênese, não poderia ser explicado por uma retroalimentação negativa, mas, sim, por uma retroalimentação positiva, consistindo de seqüências que amplificavam o desvio de modo que o organismo, adaptando-se às condições do contexto, conseguisse sobreviver. Esses processos de amplificação do desvio, por meio da retroalimentação positiva, e os processos sistêmicos de mudança, daí decorrentes, foram descritos por Maruyama como segunda cibernética, constituindo-se assim no segundo período da cibernética primeira ordem.
Até então, os teóricos dos sistemas costumavam ver a retroalimentação positiva como indesejável, associando-a à destruição do sistema. Diferentemente da primeira cibernética que se constituía como uma visão homeostática dos processos sistêmicos, a segunda cibernética caracterizou-se por uma visão HOMEODIMÂMICA, termos cuja grafia assim cunhada por Sluzki salientam a dialética estabilidade-mudança”. (Grandesso, Marilene. 2000 p.125)
Portanto, o foco da Teoria Sistêmica está nas relações, e a proposta
terapêutica é trabalhar com todos os membros da família juntamente. Uma vez que se
entende a família como um sistema em interação, em que cada um dos seus membros
tem responsabilidades e funções a desempenhar, criando assim um jogo de
interdependência e inter-relação, seria então contraditório pensar que somente um
membro está “doente.” Como afirma Andolfi e Groisman:
“Quando consideramos a intervenção terapêutica numa perspectiva sistêmica, temos de redefinir a terapia não como uma intervenção centrada num indivíduo ‘doente’, mas como um ato de participação e crescimento num grupo com uma história”. (Andolfi. M, 1996, p.87)
“A patologia que se manifesta nele (PR) é a ponta do iceberg, que reflete e
esconde todas umas intrincadas redes de relações que existem na família (...). Na
medida em que aceitamos que o problema reside na interação afastamos uma
explicação linear dos fenômenos, de causa e efeito, e nos aproximamos da noção de
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circularidade e, assim, da responsabilidade compartilhada da patologia familiar. A
questão deixa de ser de um para ser de todos”. ( Groisman. M, 1991, p.26)
A intervenção do terapeuta em resolver o sintoma apresentado não é mais o
foco, o sintoma é a sinalização que algo não vai bem ao sistema. A mudança de
perspectiva que permita um melhor agenciamento do próprio sistema para tomada de
decisões e mobilização de seu potencial auto-organizativo. A terapia introduz
complexidade nas narrativas, sugere ações, que não têm caráter determinante, mas
que dão lugar ao surgimento de alternativas possíveis de ação. Como afirma Rapizo:
“A tarefa terapêutica é facilitar o diálogo entre diferentes vozes do sistema,
operando com a ambigüidade, fontes de mal-entendido e contradições, diferenças que
permitam gerar descrições mais abrangentes, menos antagônicas do problema
compartilhado. Neste sentido, a terapia deve promover um canal de expressão”.
(Rapizo, Rozana. 1998 p.75).
A intervenção é feita através de perguntas conversacionais, reflexivas,
circulares. Perguntas que procuram explorar a influência do problema na vida da
família e a influência da família na vida do problema. Investigam conexões, padrões,
relações. Perguntas conversacionais são aquelas que abrem espaço para novas
perguntas e criam oportunidade para que novos significados do cliente surjam e
promovam a mudança de visão e comportamento.
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CAPÍTULO 2
O FUNCIONAMENTO DA TEORIA NA PRÁTICA DO TERAPEUTA
2.1 O papel do terapeuta na comunicação
Este estudo tem como objetivo trazer alguns esclarecimentos de como
devem funcionar a teoria sistêmica na prática do terapeuta, junto ao cliente, através dos
autores Maturana (1998) e Bateson (1980) Podemos compreender, que a língua sempre
é dirigida a alguém dentro de um contexto. Por exemplo, falamos uma linguagem com
os amigos, linguagem infantil com as crianças e linguagem do amor com os amantes,
além dos contextos culturais, sociais.
Este, portanto é um fator importante a ser considerado já que a
experiência de cada um é diferente do outro assim como “a mesma pode ter diferentes
conotações” como diz: (Bateson)
Durante uma comunicação à pessoa transmite todos os seus símbolos em uma
mensagem e por este motivo, as técnicas de comunicação podem ser vistas pelo
terapeuta como indicadores do funcionamento interpessoal.
Os significados que uma pessoa utiliza para suas palavras dependem da sua
experiência.
O papel de um terapeuta diante da comunicação de cada família, por
exemplo, é identificar os padrões de comunicação que a mesma apresenta, e tentar
clarificar junto com a mesma os significados que cada indivíduo dá a uma mesma
questão trabalhada.
Depois de identificar os padrões comunicacionais, cabe a família a
decisão de resignificar ou não tais padrões a fim de tornar a comunicação como um todo
mais assertiva e funcional.
Maturana (1998) tem a visão de que os indivíduos constroem o significado de
sua experiência dialogicamente o modelo terapêutico se baseia, assim, na conversação
dialógica com co-participação o terapeuta do sistema.
A conversação dialógica se representa pela seguinte maneira: o cliente
emita uma informação ao terapeuta, este seleciona a mensagem do cliente e
desenvolvem a ele que novamente seleciona a mensagem, significados.
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Este é um processo de interação entre duas pessoas (terapeuta–cliente)
que vão trocar e selecionando os significados com o objetivo de um processo de
mudança.
O terapeuta se coloca como aquele que pode ajudar sem ser entendido
aos olhos do cliente como o detentor do poder absoluto, sabendo o que é certo e errado,
por que embora toda comunicação seja uma solicitação, há coisas que não podem ser
solicitadas, como querer que outros se sintam ou pensem como. “Tudo o que é dito é
dito por um observador” (Rapizo, 1996, p.37) e, portanto, a observação é construída
contextualmente.
Quando nos referimos à comunicação estamos sempre nos referindo ao
verbal e não verbal simultaneamente. A metacomunicação é uma mensagem sobre uma
mensagem, congruente ou não.
As metamensagens congruentes são aquelas em que duas ou mais
mensagens são emitidas ao longo de diferentes níveis, sem que, nenhuma delas
contradiga seriamente a outra. Já a metamensagem incongruente é aquela em que duas
ou mais mensagens emitidas ao longo de diferentes níveis, contradizem seriamente uma
à outra.
Entretanto sempre quando nos referimos á comunicação, o fazemos sobre
a fala expressa, dos gestos e palavras e nos esquecemos do silêncio.
Ele também fala e muitas vezes é a melhor forma para expressarmos
nossos sentimentos, pois o silêncio fala pelas palavras. O silêncio reafirma o primeiro
axioma: ninguém pode não se comunicar.
Contudo, todo ser vivo pode se comunicar e não podemos falar do
homem sem falar da linguagem. Quando falamos da linguagem estamos falando dos
significados que remetem a experiência individual de cada um, ou seja, as palavras têm
diferentes significados para diferentes pessoas em diferentes contextos. “O ser humano
tende a ser concebido como imerso em uma teia de significados que ele mesmo constrói
no intercâmbio cultural” “(Grandesso, 2000, p.145)”.
Não há como compreender mensagens sem considerar-se o contexto e a
interação de todo o processo.
A comunicação constitui um fenômeno bilateral: os emissores são
receptores e os receptores também são emissores. A comunicação na terapia, portanto,
com sua grande importância se dá por ambas as partes com o cuidado do terapeuta na
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clarificação das mensagens, suas e do cliente, e sem pré-determinações de significados
próprios.
A presente reflexão tentou demonstrar a importância e a complexidade da
comunicação dentro do contexto terapêutico.
Traremos a visão de Vygotsky na constituição do psiquismo – logo, da
subjetividade - passa pela linguagem, portanto, não como mera locução de palavras
agregadas logicamente, mas como produção e escolha de sentidos. E o que dá sentido às
palavras?O contexto. Pois, em contextos diferentes o sentido muda, enquanto o
significado permanece estável. Os sentidos se movem, são vivos; o significativo è
cristalizado, só existe como abstração. E o que determina a escolha de certo sentida pelo
sujeito? A motivação, a afetividade, as emoções... Por isso:
“A comunicação direta entre duas mentes é impossível, não só fisicamente
como também psicologicamente. A comunicação só pode ocorre de forma indireta... A
compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem, só é possível quando
entendemos sua base afetivo-volitiva. (Vygotsky, 1987p. 129)
Assim sendo, sugere-se ao terapeuta de família que se mantenha atento a
todas as formas de comunicação apresentadas pelas famílias, a fim de fazer deste
universo mais um valioso instrumento do trabalho terapêutico.
2.2 O posicionamento do terapeuta e cliente na visão sistêmica.
O terapeuta precisa saber que a observação afeta o observador, não existe
uma descrição objetiva da realidade. Há tantos mundos quanto observadores. Como
menciona (Maturana) “O mundo em que vivemos não é um mundo de coisas externas
que se captam no ato de observar, mas sim um mundo que surge na dinâmica de nossa
experiência como seres humano em relação.”
A crise, ao invés de ser um perigo, è vista agora parte do processo de
mudança e o sintoma como surgido no meio dela. O sintoma não é mais um mecanismo
estático que impede a família de mudar, mas apresenta-se como alternativa amplificada,
e como solução possível naquele momento, para aquele sistema. O sintoma não é uma
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“aberração” na lógica familiar, mas encaixa-se com sua história e estilo interativo.
Constitui-se como “problema” na rede de significados gerada pela família.
“Para que o processo terapêutico tenha impacto, em vez de ser
meramente educacional ou social, ele deve consistir de experiências reais e não
meramente de vôos intelectuais. Embora a educação possa parecer útil, ela tipicamente
leva apenas a uma forma mais sofisticada de explicar a vida, e não de vivê-la”
(WHITAKER e BUMBERRY, 1990, p. 45). “Para que mudanças reais ocorram, a
família precisa engajar uns aos outros emocionalmente. Eles precisam de experiências
reais, não de insights intelectuais” (p. 41).
Para WHITAKER e BUMBERRY (1990, p. 41), “o objetivo da terapia é
ajudar as famílias a alcançar níveis mais adaptativos e satisfatórios da vida. A mera
remissão de sintomas não é suficiente. Eu vejo a remissão dos sintomas como um efeito
colateral de uma terapia produtiva, não como seu objetivo”. ANDERSON (apud
GRANDESSO, 2000) corrobora dizendo que a mudança favorece a compreensão da
experiência e dos eventos da vida, de modo que permita “múltiplas possibilidades no ser
e estar no mundo em um dado momento e determinada circunstância.
“Uma das razões básicas pelas quais somos contratados como terapeutas
são para sermos honestos. Ninguém realmente necessita de apoio falso. (...) Parte do
papel, então, é o de estabelecer um enquadre em que você desenvolva a liberdade de ser
direto com eles, sem se tornar judicativo” (p. 39). O maior poder ou impacto do
terapeuta provem da sua capacidade de ser real, deixando claro que permanece o centro
de sua própria vida, pois, assim, os clientes também aprenderão a serem reais com o
terapeuta e começarão a se tornar seu próprio centro, não aderindo à ilusão de que o
terapeuta é o deus que eles precisam (WHITAKER e BUMBERRY, 1990).
GRANDESSO (2000, p. 278) relata que “a relação terapeuta-cliente, antes de
qualquer coisa, trata-se de uma maneira de estar em relação de forma autêntica, natural
e espontânea, sendo, portanto, única para cada cliente e cada discurso. (...) na sala de
terapia as vidas profissional e pessoal se fundem em uma filosofia de vida de dentro da
qual o terapeuta se torna um co-autor das construções discursivas das histórias de seus
clientes”.
Segundo WHITAKER e BUMBERRY (1990, p. 121), “um dos aspectos
mais complexos de ser um terapeuta é trabalhar de um modo que promova crescimento,
em vez de ser meramente informativo, ou mesmo destrutivo”. Para isso, precisamos ser
capazes de sentir a dor dos nossos clientes e apreciar seus conflitos, pois, o que nos
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permite perceber o quão bem poderá trabalhar com uma família é o quanto conseguimos
nos ver em seus conflitos.
Já em relação ao cuidado que o terapeuta exerce para com seus clientes,
WHITAKER e BUMBERRY (1990) afirmam que para sermos capazes de cuidar,
precisamos desenvolver a capacidade de confrontar, no sentido de desafiar as pessoas a
enfrentarem os assuntos que eles preferem não reconhecer. No entanto, “o verdadeiro
cuidar requer uma mistura de sustento com confrontação” (p. 122). Ter a capacidade de
ser nutriz e incisivo é igualmente essencial, não basta ser bom em apenas um destes
aspectos. “A nutrição excessiva, tipicamente, cai na armadilha do “ajudar”, enquanto
que uma dureza exagerada é freqüentemente sádica. Ambos os componentes da
dualidade nutriz-dureza devem existir em certo equilíbrio. Na verdade, você só pode
confrontar, na medida em que puder oferecer apoio” (p. 32). É um negócio ardiloso,
porém, é dever do terapeuta pressionar, mas, não é seu direito dizer-lhes como crescer.
Não devemos tentar vender nosso modelo de vida, o que só iria solapar seus recursos e
suas capacidades. Não temos o poder de insultar o crescimento da família. Desta forma:
“Ajudar não ajuda” (WHITAKER e BUMBERRY, 1990, p. 31).
Outro componente importante do cuidado, segundo WHITAKER e
BUMBERRY (1990), é respeitar os recursos e capacidades dos clientes, estando o par
de nossas próprias limitações como terapeuta. E, finalmente, o cuidar está diretamente
ligado com o que sentimos por nossos clientes, sentimentos esses que aumentam com o
tempo e que são percebidos pelos clientes, que respondem de acordo com eles.
A terapia envolve certa quantidade de agonia e conflito, na qual a
ansiedade se faz necessária para alimentar as mudanças. Mas, para que os pacientes se
arrisquem à jornada, precisam ver a dor não como inimiga, mas companheira. E o que
tornará a dor tolerável é a minha capacidade de me importar com eles e investir neles
(WHITAKER e BUMBERRY, 1990).
Ao atendermos uma família, quaisquer idéias, pensamentos ou
associações que irrompem na nossa consciência pertencem a eles, tanto quanto a nós e,
esta consciência, está conectada ao quanto conhecemos sobre nós mesmos, e a quão
livre estamos para entrar em sintonia com nossos próprios processos interiores. “É a
noção de meta-ambiente família-terapeuta que dá origem a estas noções ou imagens.
Como tal, parece apropriado compartilhá-las com a família” (WHITAKER e
BUMBERRY, 1990, p. 36).
23
Segundo WHITAKER e BUMBERRY (1990), na relação terapeuta-
cliente, o terapeuta se oferece para envolver-se, mas retém a opção de decidir se quer
sair e, ainda, há uma troca de dinheiro, o que evita a tentação de ser colocado em um
determinado papel que não seja o de terapeuta. Se aprendermos a entrar e sair
adequadamente quando trabalhamos com a família, esta aprenderá algo sobre o processo
de individuação e do pertencimento. ANDOLFI e ANGELO (1988) corroboram
dizendo que o terapeuta entra em um processo de união e separação, aproximando-se da
família e, posteriormente, separando-se e tomando a posição de observador. E,
MINUCHIN (1982), compara o terapeuta com um antropólogo, enfatizando que “(...) o
terapeuta de família se une à cultura com a qual está lidando. No mesmo ritmo
oscilante, se engaja e se desliga. Experiência as pressões do sistema familiar. Ao mesmo
tempo, observa o sistema, faz deduções que o capacitam a transformar sua experiência
num mapa de família, do qual deriva objetivos terapêuticos” (p. 120).
Essa postura, segundo ANDERSON (apud GRANDESSO, 2000) é de:
“multiparcialidade. Ao atendermos um cliente individual não podemos deixar de levar em consideração que mesmo quando o sistema é constituído por um indivíduo, trata-se sempre de um indivíduo em relacionamento, já que é ele quem coordena suas ações e seus pensamentos na linguagem, estando sempre em relação. Da mesma forma, quando atendemos uma família ou um casal, além da organização sistêmica, se trata de pessoas com suas individualidades próprias “(GRANDESSO, 2000)
O livro “Dançando com a família” de (Whitaker e Bumberry), descreve
de maneira didática, no capítulo nove, como precisa ser o olhar do terapeuta junto à
família. No trabalho com famílias, é difícil determinar o que é saudável e o que não é,
assim como, diferenciar uma família que funciona "normal" e outra imersa na
"patologia”. Mesmo o terapeuta tendo suporte de sua história e treinamento profissional,
o referencial aplicado no processo terapêutico reflete suas perspectivas pessoais,
preconceitos e distorções, vendo o cliente somente através de sua própria experiência. A
vida familiar - Uma família saudável é dinâmica e não estática, está evoluindo e
mudando, num processo sempre em movimento. Numa família existem regras, políticas
e padrões. As regras são encobertas, desarticuladas, não conscientes, mas são potentes.
Em famílias sadias, as regras são guias a serviço do crescimento. Em famílias
patológicas, as regras são usadas para inibir a mudança e manter o status quo. Na
24
estrutura de famílias em bom funcionamento são claras as separações de gerações, e a
liberdade para reconhecer e incorporar a unidade familiar trigeracional ou tetra
geracional. A família saudável pode viver numa estrutura "como se", e seus membros
são livres para trocar de papéis e funções com segurança. Também pode viver com
triângulos cambiantes e coalizões flutuantes, sem sentirem insegurança e ciúme. O
agrupamento é volitivo e escolhido. E escolhem-se bodes expiatórios rotativos. A
família saudável, também tem a capacidade de usar as crises para provocar crescimento
e considerar o conflito como fertilizador da vida, além do espaço para o sentimento de
amor e para o transtorno do ódio. É um organismo aberto e não fechado.
Casamento - Um casamento saudável é a mistura de duas culturas
estrangeiras. Um casal novo precisa diferenciar-se de suas famílias de origem,
preservando somente os aspectos de cada uma que lhes sejam interessantes.
Nos casamentos saudáveis são experienciados vários divórcios emocionais durante o
tempo de convivência. A qualidade de um casamento está na questão de saber lidar com
as diferenças, principalmente quando são vistas como oportunidades para crescer.
Paternidade - A qualidade da relação marido-mulher é crucial na mudança para se
tornar pai e mãe. O laço afetivo dos pais é de primordial importância para a criança. Por
exemplo, o sentimento de segurança ou de pânico da criança é reflexo da ligação
emocional entre os pais e da relação dessa criança com o relacionamento dos pais. “A
incapacidade do casal em estabelecer um relacionamento antes de tornarem-se pais,
propicia a infidelidade emocional e triangulações transgeracionais.”
Como menciona Maturana em seus estudos de reflexão nos ensina a conduta do
terapeuta junto o cliente: explicitam o sinônimo entre conhecer e viver. A noção de
viver-conhecer está diretamente vinculada com o modo de relacionar-se e de organizar-
se nessa relação. Não se trata de adaptação ao meio. O viver-conhecer na relação
significa, ao mesmo tempo, a criação/recriação desse espaço relacional, e de outros, e a
criação/recriação do sistema em relação. Pode incluir, em algum momento, a adaptação,
mas vai além dela.
Nessa relação criativa, meio-sistema, é que emerge o social. E o social é
entendido como domínio de condutas relacionais fundadas na emoção originária da
vida: o amor. Para Maturana: “A emoção fundamental que torna possível a história da
humanização é o amor” (Maturana, 1999, p. 23). Ao falar de emoção o autor não se
25
refere ao que convencionalmente tratamos como sentimento. Emoção, neste caso, “são
disposições corporais dinâmicas que definem os diferentes domínios de ação em que
nos movemos” (Maturana, 1999, p. 15). Assim entendida, a emoção fundante do social -
o amor - é elemento estrutural da fisiologia humana. Maturana afirma que o amor é a
emoção fundante do social por que:
“O amor é a emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a operacionalidade da aceitação do outro como legítimo outro na convivência, e é esse modo de convivência que conotamos quando falamos do social” (Maturana, 1998b, p. 23).
Pensada por esta via, a convivência, que é este espaço/tempo das relações dos
sistemas, é “lugar” de perene criação/recriação da vida, na medida em que se constitui
como social na perspectiva acima mencionada. O viver-conhecer, nesta convivência, é
constante atualização do sistema. Decorre daí a possibilidade de pensar o processo
educativo do sujeito como construção de uma autonomia relacionada. No sentido de que
cada qual é tido como um legítimo outro no conviver. Por isso, podemos confirmar que:
“toda história individual humana é a transformação de uma estrutura inicial hominídea
fundadora, de maneira contingente com uma história particular de interações que se dá
constitutivamente no espaço humano” (Maturana, 1998b, p. 28). É nessa consideração
do humano como autônomo nas relações que Maturana encaminha uma noção de
educação como vivência das relações mesmas dos indivíduos, nos presentes históricos
de cada qual, capaz de recriar sistema (vivo - humano-meio).
Os espaços educativos constituem-se em fenômenos sociais que manifestam,
com fundamento nas emoções, os pensamentos, os conceitos e os objetivos dos grupos
sociais, num processo histórico e relacional, criando realidades que, nesta interação
constante, recria os sujeitos dela participantes. Para Humberto Maturana, este agir
humano nas relações é cooperativo.
O ato de educar está-nos mais simples parecer, nesta expectativa é que o
terapeuta precisa estar consciente da sua função mediante o seu cliente como diz
Maturana: faz-se necessário aqui lembrar a concepção de linguagem não mais como
sistema cerebral. Considero aqui linguagem como espaços construídos por ações que se
tornam comuns. Repito, em outras palavras, que esta comunicação não se trata da
aceitação de mesmos conceitos. Trata-se de estabelecer o espaço de ações que, por
lidarem com elementos comuns da linguagem, são consensuais. A noção corrente de
26
linguagem lida com os pressupostos da racionalidade e da estrutura cerebral lingüística
como lugar de leitura e interpretação dos signos. Para Maturana não é mais a razão que
fundamenta e embasa as ações e a comunicação, mas sim a emoção, que não pode ser
abarcada pela linguagem enquanto construção racional, mas pela linguagem construída
nas coordenações de ações consensuais.
Vygotky, com a sua teoria da zona de desenvolvimento proximal, que amanhã
será nível de desenvolvimento real. Mostra-nos que no universo humano os problemas
que se resolvem em parceria, podem amanhã serem resolvidos por ele, sozinhos... Ou
como ele diz: “o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um
processo através do qual (...) penetram na vida intelectual dos que as cercam.”(
Vygotsky,1984,p.99)
“Eles precisam dirigir seu próprio navio” (p. 134), no entanto, a decisão pela
partida precisa provir deles, pois a vida é deles. “Se as coisas foram bem, eles partem
com mais amor e mais liberdade para serem pessoas de verdade” (p. 55). Mas, com a
certeza de que podem retornar se sentirem necessidade, daí a importância do terapeuta
se deixar disponível para um possível retorno (WHITAKER e BUMBERRY, 1990).
O tempo de duração de uma terapia se deve a sua capacidade de serem geradoras
de novos significados, relevantes para ampliar as possibilidades existenciais dos
clientes. O término da mesma não se caracteriza nem como alta e nem como fim, já que
a conversação continua, mesmo que virtualmente. “Como um acordo compartilhado
entre terapeuta e clientes, se não com um até breve, ou até um dia talvez quem sabe,
sem dúvida, a terapia bem-sucedida termina com um até sempre na história”
(GRANDESSO, 2000, p. 296). Como disse WITTGENSTEIN (apud GRANDESSO,
2000, p. 296), a terapia acaba quando o cliente afirma que “agora, eu posso seguir
caminhando sozinho”.
Segundo GRANDESSO (2000), uma pessoa está bem quando se encontra em
harmonia consigo mesma e com seu entorno. Assim, são os clientes quem sabem
quando podem e querem caminhar sozinhos, sem a presença concreta e constante do
terapeuta, pois, mesmo sem contato pessoal:
“(...) tão intensa e tão íntima é a relação terapêutica, que passamos a fazer parte, como testemunhas vivas, presentes nas suas memórias e nas
27
suas histórias. Somos testemunhas de seus desnudamentos e de suas entregas às emoções presentes nos relatos de seus dilemas, bem como das novas histórias sobre suas mudanças” (p. 296).
Parafraseando WHITAKER e BUMBERRY (1990, p. 54),
“Apesar do meu sentimento de perda iminente, é meu trabalho despedí-los com minha benção. Semelhante ao que um pai sente quando os filhos saem de casa, eu experiencio um sentimento de perda. Mas eu os abençôo e eles estão livres para retornar em qualquer momento que escolham. Porém, não saem de mãos vazias. O impacto da experiência terapêutica compartilhada está entretecido na trama de suas vidas”.
Contudo, GRANDESSO (2000, p. 296) relata que
“A última sessão de um processo de terapia costuma ser um momento especial. Celebrada geralmente com emoção, caracteriza-se, a meu ver, como um rito de passagem necessário para a vivência de autoria da própria existência. Quando o cliente parte, leva consigo um interlocutor internalizado – seu terapeuta. Com ele pode praticar suas conversações internas, dialogando a partir da perspectiva que o terapeuta deixou como sua marca pessoal e, nesse sentido, é como se o diálogo continuasse...”.
28
CAPÍTULO III
O TERAPEUTA COMO FACILITADOR DO PROCESSO
TERAPÊUTICO.
3.1 Terapeutas como facilitador
Apesar do estudo em pauta tratar-se da área psicológica, permito em fazer um
link com educador Paulo Freire onde a sua contribuição para educação foi significativa,
destruindo a idéia de que o professor é o detentor do saber e o educando ser um mero
receptor, mas que na unidade dos “saberes” é o que proporciona uma sociedade
consciente dos seus deveres e direitos Quando diz:
“Somente no compromisso autêntico e a compreensão crítica de sua condição de opressor é que temos as forças para construir uma outra pedagogia, uma outra sociedade. É nesta perspectiva de emancipação do sujeito, que a educação deve ser usada como prática de liberdade, afinal, ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão.”(FREIRE, 1991).
Como terapeutas precisamos entender que não somos os detentores do saber e
que aplicando as nossas técnicas, daremos a solução aos sintomas apresentado pelo
(PR), precisamos entender que a união do terapeuta e cliente num trabalho de
construção, nos levará a ter novos olhares para aquele sintoma, e juntos
proporcionaremos o crescimento necessário para família assistida. Como menciona
(Whitaker e Bumberry):
“(...) as famílias não crescem devido a algo que o terapeuta tenha feito com eles. O verdadeiro crescimento é algo que o terapeuta e a família fazem um com o outro. Não é a família ou o terapeuta; é a família e o terapeuta que compõem o veículo do crescimento” (WHITAKER e BUMBERRY, 1990, p. 32).
Quando o terapeuta deixa de ser o “expert do problema do outro”. O mesmo está agindo como um facilitador do processo e o seu entendimento passam ser, como menciona: (WHITAKER e BUMBERRY):
“Uma das razões básicas pelas quais somos contratados como terapeutas são para sermos honestos. Ninguém realmente necessita de apoio falso. (...) Parte do papel, então, é o de estabelecer um enquadre em que você
29
desenvolva a liberdade de ser direto com eles, sem se tornar judicativo” (p. 39). (WHITAKER e BUMBERRY, 1990).
O maior poder ou impacto do terapeuta provem da sua capacidade de ser real,
deixando claro que permanece o centro de sua própria vida, pois, assim, os clientes
também aprenderão a serem reais com o terapeuta e começarão a se tornar seu próprio
centro, não aderindo à ilusão de que o terapeuta é o deus que eles precisam.
GRANDESSO (2000, p. 278) relata que “a relação terapeuta-cliente, antes de
qualquer coisa, trata-se de uma maneira de estar em relação de forma autêntica, natural
e espontânea, sendo, portanto, única para cada cliente e cada discurso. (...) na sala de
terapia as vidas profissional e pessoal se fundem em uma filosofia de vida de dentro da
qual o terapeuta se torna um co-autor das construções discursivas das histórias de seus
clientes”.
Segundo WHITAKER e BUMBERRY (1990, p. 121), “um dos aspectos
mais complexos de ser um terapeuta é trabalhar de um modo que promova crescimento,
em vez de ser meramente informativo, ou mesmo destrutivo”. Para isso, precisamos ser
capazes de sentir a dor dos nossos clientes e apreciar seus conflitos, pois, o que nos
permite perceber o quão bem poderá trabalhar com uma família é o quanto conseguimos
nos ver em seus conflitos.
3.2 Como se inicia a terapia
A partir do primeiro contato telefônico inicia um processo que WHITAKER e
BUMBERRY (1990) denominaram Batalha pela Estrutura. Trata-se do estabelecimento
de condições mínimas necessárias, apresentadas pelo terapeuta, antes de iniciar um
processo de psicoterapia. “O ponto-chave aqui é o terapeuta encarar a necessidade de
agir com integridade pessoa e profissional. Você deve agir segundo o que você acredita”
(p. 43).
“Os momentos de abertura da sessão inicial são com freqüência decisivos. O nível de ansiedade excede em muito o mero desconforto social. Um processo intenso, encoberto e bilateral de expectativa instintivamente se inicia. Embora nós seguidamente mascaremos as tensões subjacentes, elas existem” (WHITAKER e BUMBERRY, 1990, p. 12).
30
Segundo WHITAKER e BUMBERRY (1990), este é o momento ideal
para estabelecer alguma conexão pessoal, como passar algumas informações de como o
terapeuta age e o que espera do cliente, para não permanecer “profissional” e distante.
É, também, necessário estabelecer os parâmetros do envolvimento terapeuta-cliente e
clarear as condições para o relacionamento. Desta forma, um processo interativo é
desencadeado. As ações do terapeuta originam as reações do cliente. Quando o cliente
reage, o terapeuta responde, e um jogo interativo se inicia. O esforço inicial é de
estabelecer uma metaposição com relação ao cliente, fazendo com que ele entenda o que
pode esperar do terapeuta e o que o terapeuta pode esperar dele.
Com relação às dores emocionais do paciente, WHITAKER e
BUMBERRY (1990) dizem que “(...) sua disposição para expor sua dor é essencial ao
crescimento em terapia. Além disso, ele precisa aceitar o fato de que permanecem
responsáveis pelas suas próprias vidas” (p. 12). Em outras palavras, o autor chamou esta
fase de Batalha pela Iniciativa, onde se leva o cliente a assumir a responsabilidade pelo
que acontece na terapia.
Embora a situação de cada cliente possa merecer uma avaliação individual do
que são as suas “condições mínimas” antes de iniciar o processo terapêutico, deve-se ser
prudente em aceitar muito pouco. “É melhor falhar em iniciar do que iniciar e falhar”
(p. 37). O terapeuta precisa se esforçar para conseguir que eles levem a sério a sua
própria vida emocional. Mas é imperativo que o terapeuta não os tome mais seriamente
do que eles mesmos estão dispostos a levar-se (WHITAKER e BUMBERRY, 1990).
No trabalho clínico o terapeuta sistêmico não precisa entender "o porquê" das
questões e sim ajudar o cliente a entender "o pra que" e o "como", tendo como
preocupação "a forma" como estas questões se apresentam na vida do cliente, isto
mantendo o foco sempre na mudança. As intervenções são realizadas considerando e
rearranjando as relações entre os indivíduos e do indivíduo consigo mesmo, sendo a
própria relação com o Terapeuta um modelo de mudança. Isto é realizado através dos
diversos níveis de comunicação verbal, não verbal, para verbal, das situações
terapêuticas na própria rede, no grupo, nas tarefas e na relação terapêutica.
A partir do primeiro contato telefônico inicia um processo que WHITAKER e
BUMBERRY (1990) denominaram Batalha pela Estrutura. Trata-se do estabelecimento
de condições mínimas necessárias, apresentadas pelo terapeuta, antes de iniciar um
processo de psicoterapia. “O ponto-chave aqui é o terapeuta encarar a necessidade de
31
agir com integridade pessoa e profissional. Você deve agir segundo o que você acredita”
(p. 43).
“Os momentos de abertura da sessão inicial são com freqüência decisiva. O nível de ansiedade excede em muito o mero desconforto social. Um processo intenso encoberta e bilateral de expectativa instintivamente se inicia. Embora nós seguidamente mascaremos as tensões subjacentes, elas existem” (WHITAKER e BUMBERRY, 1990, p. 12).
Segundo WHITAKER e BUMBERRY (1990), este é o momento ideal
para estabelecer alguma conexão pessoal, como passar algumas informações de como o
terapeuta age e o que espera do cliente, para não permanecer “profissional” e distante.
É, também, necessário estabelecer os parâmetros do envolvimento terapeuta-cliente e
clarear as condições para o relacionamento. Desta forma, um processo interativo é
desencadeado. As ações do terapeuta originam as reações do cliente. Quando o cliente
reage, o terapeuta responde, e um jogo interativo se inicia. O esforço inicial é de
estabelecer uma metaposição com relação ao cliente, fazendo com que ele entenda o que
pode esperar do terapeuta e o que o terapeuta pode esperar dele.
Com relação às dores emocionais do paciente, WHITAKER e
BUMBERRY (1990) dizem que “(...) sua disposição para expor sua dor é essencial ao
crescimento em terapia. Além disso, ele precisa aceitar o fato de que permanecem
responsáveis pelas suas próprias vidas” (p. 12). Em outras palavras, o autor chamou esta
fase de Batalha pela Iniciativa, onde se leva o cliente a assumir a responsabilidade pelo
que acontece na terapia.
Embora a situação de cada cliente possa merecer uma avaliação individual do
que são as suas “condições mínimas” antes de iniciar o processo terapêutico, deve-se ser
prudente em aceitar muito pouco. “É melhor falhar em iniciar do que iniciar e falhar”
(p. 37). O terapeuta precisa se esforçar para conseguir que eles levem a sério a sua
própria vida emocional. Mas é imperativo que o terapeuta não os tome mais seriamente
do que eles mesmos estão dispostos.
3.3 O terapeuta agindo na visão sistêmica. Segundo Rosset (2002), “na visão relacional sistêmica, quando alguém na
família apresenta algum sintoma, acredita-se que é porque a família está precisando,
naquele momento aprender algum novo comportamento, fazer alguma remodelação no
seu funcionamento, ou mudar comportamentos que mesmo que tenham sido úteis em
32
outra etapa, agora são disfuncionais”. Sendo assim, o trabalho é realizado com foco na
mudança e na aprendizagem de novos padrões de relação, sem priorizar o sintoma.
Com isso não se isola o sintoma ou área sintomática do contexto mais amplo de
relações.
No trabalho clínico o terapeuta sistêmico não precisa entender "o porque" das
questões e sim ajudar o cliente a entender "o pra que" e o "como", tendo como
preocupação "a forma" como estas questões se apresentam na vida do cliente, isto
mantendo o foco sempre na mudança. As intervenções são realizadas considerando e
rearranjando as relações entre os indivíduos e do indivíduo consigo mesmo, sendo
apropria relação com o Terapeuta um modelo de mudança. Isto é realizado através dos
diversos níveis de comunicação verbal, não verbal, para verbal, das situações
terapêuticas na própria rede, no grupo, nas tarefas e na relação terapêutica.
No livro família em trama de Groisman (1991) O livro apresenta uma
linguagem clara, de fácil entendimento e que nos leva à reflexão da atuação do
terapeuta. Trata do cuidado em não alimentar na família a expectativa de que o
terapeuta é milagreiro. Deve-se valorizar o potencial da família para que, com a ajuda,
encontre a melhor solução para suas dificuldades.
Ressalta novamente a importância da hierarquia e estabelecimento definido dos papéis.
Pode-se muitas vezes fazer a inversão destes papéis ou até é esperada certa
permeabilidade entre os membros, mas o que não pode acontecer é a confusão,
indiferenciação ou a cristalização ou rigidez dos papéis, impedido o relacionamento e a
troca, comprometendo o crescimento da família. No que se refere à crise familiar
decorrente da adolescência, aponta o aspecto do casal colocar-se novamente como um
casal, retornando ao par original e revendo seus projetos de vida. Este defrontar-se
novamente com o par original muitas vezes surpreende e faz pensar em como e a que
ponto os papéis são aprendidos pois não é o fato do filho nascer que nos transformamos
subitamente em pais e mães. Este passe de mágica ocorre apenas no papel social, mas
nos demais é a relação constante com este bebê que nos torna pai e mãe. Uma disfunção
possível neste intercâmbio é o pai ficar "escondido" atrás da mãe e ela "consentir". O
filho não vê o pai, só vendo a mãe, comprometendo assim sua função de mulher e
esposa Muitas vezes no decorrer do processo terapêutico surge à existência de segredos
e mitos. Os mitos podem atravessar gerações e cabe ao terapeuta desvendar os mitos
para que um membro da família não seja sacrificado em nome deste mito.
Coloca novamente a questão do membro "doente" da família demonstra-se fragilizado,
33
mas por outro lado é bastante forte e domina a família fazendo com que fiquem unidos
em torno dele. Na estrutura familiar, o pai não deve ser só um modelo a ser copiado,
mas sim, um importante participante ativo nas relações familiares.
Moisés ressalta a importância de estar inserido no processo terapêutico a avaliação,
planejamento, redefinição, definição de objetivos. E apresenta a atitude paradoxal da
família quanto ao esquema protetor. Admitir que um dos seus membros "adoeceu"
significa admitir que falhe na sua função de proteger. Diante disso, muitas vezes não ver
um problema ou dificuldade é mais suportável do que identificá-lo
Paralelamente a isto, algumas pessoas com dificuldade de desligar-se de sua família de
origem, acreditam que ao se afastarem da família conquistarão independência e
liberdade. O afastamento físico não é garantia de conquista destas coisas, pois
sentimentos, mitos, valores e segredos nos acompanham para onde formos. Uma
independência na sua totalidade é quando nos relacionamos com nossa família sem se
confundir com ela, tendo nossa própria vida pessoal, familiar e econômica. A fuga,
nestas situações, dificulta a resolução destas relações, pois não podemos fugir de nossas
origens. Conseguimos apagar muitas coisas na vida, mas nunca os laços sangüíneos.
Segundo Moisés a terapia acaba quando as aprendizagens propostas foram conseguidas.
O processo terapêutico continua durante toda a vida O esquema de referência do
terapeuta familiar é o conjunto de teoria e técnicas que abordam o indivíduo em seu
contexto social. A terapia busca a mudança da organização familiar.
No livro família em funcionamento de Minuchim (1990) retrata um estilo claro
e didático de apresentar seu pensamento.
Mesmo no atendimento individual, trabalhando norteados por esta teoria,
promoveremos mudanças individuais que repercutirão na estrutura familiar,
modificando-a.Quando tratamos de crianças ou adolescentes identificados como
sintomáticos, é comum a interrupção do atendimento no momento em que as mudanças
iniciam e exigem uma reestruturação familiar. A terapia familiar é norteada por três
axiomas: indivíduo influencia seu contexto e vice-versa;
- mudanças numa estrutura familiar contribuem para mudanças no comportamento e
nos processos psíquicos internos deste sistema;
- quando trabalhamos com um cliente ou sua família nos associamos para formar um
sistema terapêutica. A terapia familiar tem como instrumento modificar o presente, não
explorar e interpretar o passado. O objeto de intervenção no presente é o sistema
familiar. As funções da família atendem a dois objetivos: um interno - a proteção
34
psicossocial de seus membros - e o outro, externo - a acomodação a uma cultura e a
transmissão da mesma.
Minuchin descreve e exemplifica através de um caso as diversas fases ou
momentos da formação de uma família.
Um casal enfrenta uma série de pequenas tarefas para acomodar-se a esta
nova organização. Uma das primeiras tarefas, e talvez a mais difícil, é a de separação da
família de origem e o estabelecimento de uma nova forma de relacionar-se. Da mesma
forma se dá aos grupos de amigos; cada um pode ganhar novos amigos e perder antigos.
O nascimento de uma criança promove uma mudança radical na
organização familiar. Soma-se ao papel de marido e mulher os papéis de mãe e pai.
As crianças crescem, tornam-se adolescentes e então adultos. Novos irmãos
juntam-se à família ou os pais tornam-se avós. Deste modo, novo ciclo se inicia, novos
sistemas se formam e reestruturam-se para se adaptar.
Minuchin apresenta um caso onde aparecem questões relativas à necessidade de
reestruturação das relações.
A experiência humana de identidade é paradoxal, pois busca um sentido de
pertencimento e um sentido de ser separado.
Apesar de a família ser a matriz do desenvolvimento psicossocial de seus membros,
também deve se acomodar a uma sociedade e assegurar alguma continuidade para sua
cultura.
As mudanças sempre se deslocam da sociedade para a família; nunca da
unidade menor para a maior.
O terapeuta não deve avaliar uma família como normal ou anormal baseado
na presença ou não de problemas. Deve fazer sua avaliação baseado num esquema
conceitual do funcionamento familiar.
Se compreender a família como um sistema, temos que levar em conta três
componentes:
-1- a estrutura da família é a de um sistema sócio-cultural aberto e em
transformação;
- 2 - a família passa por um desenvolvimento, atravessa várias fases que
35
requerem reestruturação;
- 3 - a família se adapta a circunstâncias modificadas, de maneira a manter a
continuidade e a intensificar o crescimento psicossocial de cada membro.
O autor define estrutura familiar como um conjunto invisível de exigências
funcionais que organiza a maneira pela qual os membros da família interagem,
formando o que chamamos de padrão transacional.
O sistema mantém a si mesmo; oferece resistência à mudança e mantém os
padrões preferidos, mas a estrutura familiar deve ser capaz de se adaptar quando as
circunstâncias mudam.
O sistema familiar diferencia e leva a cabo suas funções através de
subsistemas. Os indivíduos são subsistemas dentro de uma família. Os subsistemas
podem ser formados por geração, sexo, interesse ou por função.
Minuchin nos apresenta o conceito de fronteiras como sendo as regras que
definem quem participa e como participa de um subsistema. Elas podem ser nítida,
difusa, rígida, coalisão, associação, superenvolvimento, conflito e desvio.
A função das fronteiras é de proteger a diferenciação do sistema, e a sua
nitidez dentro de uma família é um instrumento útil para avaliar o funcionamento do
sistema.
Os extremos, como em outras situações geralmente acarretam problemas.
No caso das fronteiras, estes extremos são o emaranhamento e o desligamento.
O nosso papel, em alguns casos, é o de criador de fronteiras, assim como
podemos torná-las nítidas ou abrir as inadequadamente rígidas.
Os subsistemas deveriam funcionar com suas fronteiras definidas
nitidamente.
Nesta questão aparece à dificuldade no processo de educar, visto que é conflituoso, pois
de um lado está inerente a função de proteger e gerir sem deixar de controlar e reprimir;
por outro lado os filhos não podem crescer e se tornarem individualizados sem rejeitar e
atacar.
O processo parental difere conforme a idade dos filhos. Quando pequenos
necessitam de nutrição, mais tarde controlamos e orientamos e na adolescência
aparecem os conflitos, pois as exigências dos pais vão colidir com a necessidade de
autonomia dos filhos apropriada à idade.
36
A família sofre constantes pressões externas e internas e isto requer
constante transformação nas relações e posições de seus membros dentro do sistema,
para que este mantenha continuidade. Estas pressões são de todo tipo, variando desde
doenças familiares, morte, nascimento, casamentos, mudança, etc...
Se a família responde com rigidez a todos esses stresses, ocorrem padrões
disfuncionais.
O autor apresenta histórias sobre a formação de uma família e compara a
diferentes culturas, percebendo que independente do contexto sócio-cultural, este
processo e muitos outros ocorrem de uma forma similar, passando pelas mesmas
dificuldades, nós, entraves e fases.
Quando uma família busca terapia, o terapeuta tem o desafio de reconhecer
o padrão de funcionamento e a estrutura deste sistema.
Usa uma série de recursos para tal descoberta, e fica perguntando-se quem é
o porta-voz da família, o que os outros fazem enquanto um fala, parecem apoiar ou
contestar os conteúdos?
O mapa familiar orienta o terapeuta na formulação de hipóteses e na
conseqüente redefinição dos objetivos; esta coleta de informações vai sendo obtida
através de experiências, geralmente utilizando tarefas e outras técnicas.
O que geralmente leva uma família para a terapia são os sintomas de um de
seus membros É ele quem tem o "problema" ou é o "problema". Estes sintomas servem
de alguma forma para a manutenção do sistema.
Na terapia de família o alvo da intervenção é a família; isto não quer dizer
que o indivíduo com sintoma será ignorado, porém o foco do terapeuta está na
intensificação da operação do sistema familiar. A família será a matriz de cura e
crescimento de seus membros.
A responsabilidade para que isto aconteça pertence ao terapeuta.
Com o objetivo de transformar o sistema familiar, o terapeuta tem que
intervir de maneira a desequilibrar o sistema, sempre tendo cuidado para não ameaçar os
membros da família com deslocamentos muito importantes. É vital que o terapeuta
forneça sistemas de apoio dentro da família para que os movimentos realizados não
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desestruturem o sistema. Em muitas situações o terapeuta conta com alguns membros da
família neste processo de mudança, que passam a serem seus co-terapeutas.
Os métodos do terapeuta de criação de um sistema terapêutico e de se
posicionar como líderes são conhecidos como operadores de união e estes são
fundamentais para que ocorra a reestruturação necessária e que os objetivos terapêuticos
tenham êxito.
As principais intervenções terapêuticas têm como destino mover o sistema
terapêutico na direção dos objetivos terapêuticos.
As operações reestruturadoras são as intervenções terapêuticas que desafiam
uma família na tentativa de forçar uma mudança terapêutica.
Existem várias categorias de operação de reestruturação, entre elas:
- efetivação de padrões transacionais da família - o terapeuta deve estar atento ao
funcionamento da família e não se prender no conteúdo;
- delimitação de fronteiras: o ideal é a interdependência de todos os sistemas;
- escalonamento de stress - consiste na "produção" de stress em diferentes partes do
sistema familiar, possibilitando que os próprios membros sugiram alternativas para se
reestruturar;
- distribuição de tarefas;
- utilização de sintomas;
- exageração de sintomas - aumentar sua intensidade como manobra reestruturadora;
- manipulação do humor;
- apoio, educação e orientação.
A primeira preocupação do terapeuta é a de desenvolver a unidade terapêutica.
Mas ele deve começar a mapear a estrutura familiar, ampliar o foco e estabelecer um
contrato terapêutico.
Falamos em ampliar o foco quando a família traz um membro da família
como portador do sintoma e, conseqüentemente do problema. Como o pedido é
paradoxal, os objetivos do terapeuta e da família não serão os mesmos.
Podemos dividir a entrevista inicial em três etapas:
- terapeuta como anfitrião;
- estabelecimento de contatos terapêuticos;
- exploração da estrutura familiar para posterior mapeamento de seu funcionamento
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A postura do terapeuta precisa estar inserida num posicionamento de facilitador
e nunca na idéia de ser o detentor do saber. E (GRANDESSO, 2000, p. 280) corrobora
dizendo que: “o terapeuta não tem qualquer acesso privilegiado às pretensas verdades
das vidas das pessoas e seus dilemas, necessitando ser informado por elas, o que leva a
pensar que o terapeuta não sabe nada, e que está aquém do conhecimento absoluto.”
Segundo GRANDESSO (2000, p. 280): “Seria um contra-senso desqualificar qualquer conhecimento
profissional do terapeuta, seja ele referente à sua formação teórica, à sua experiência prática acumulada, ou mesmo a sua bagagem pessoal. (...) A diferença é que reconhecemos tal saber como um saber local, de caráter provisório que deve ser desafiado pelo saber do cliente, o único especialista na sua própria experiência.
Assim, não há como um terapeuta colocar-se como um expert em como os
clientes devem viver suas vidas, ou saber de antemão qual a pergunta correta a fazer,
qual a melhor narrativa a ser desenvolvida ou os conteúdos específicos a serem
abordados. Dessa forma, a racional que orienta o terapeuta que não sabe é o desejo de
aprender com o cliente como ele próprio atribui significado à sua experiência e como
mesmo as coisas aparentemente sem sentido para o terapeuta fazem intenso sentido para
ele.
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CONCLUSÃO
Estamos no séc. XXI, e observamos que as compreensões, os entendimentos e
os conflitos sociais sempre existiram através dos séculos. Como o processo de
transformação ocorre de “tempos em tempos”, o comportamento social precisa ser
revisto mediante o contexto histórico que a sociedade está inserida, e o aprofundamento
nestes conhecimentos faz-se necessário para que novos olhares surjam para solução do
problema iminente, na sociedade vigente.
A proposta sistêmica tem feito um apelo: diz que todos os seres humanos
influenciam e são influenciados reciprocamente. Logo, o pensamento sistêmico, com a
visão do todo, propõe uma nova forma científica de ver e pensar os acontecimentos no
mundo que acreditamos ter conseqüências fundamentais para nossa prática científica,
para prática do dia-dia, para nossos relacionamentos, a fim de conseguir os melhores
resultados a cerca dos conflitos sociais.
O terapeuta de família atua na célula mátria. A funcionalidade deste
profissional torna- se de grande relevância, na visão sistêmica, pois a abordagem
sistêmica tem como objetivo fazer com que este profissional analise com descrição o
contexto histórico e espacial que reflete as intricadas relações e dinâmicas econômicas,
sócias e culturais.
Os profissionais, que agem na visão da teoria sistêmica, consistem a sua prática
em: ética, solidariedade, comprometimento, respeito e amando o que faz. Sendo o que
esperamos daquele que se propõe a realizar benefícios para a sociedade que está
inserida, através da sua escolha profissional. Como escreve Maturana:
O amor é a emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a operacionalidade da aceitação do outro como legítimo outro na convivência, e é esse modo de convivência que conotamos quando falamos do social (Maturana, 1998b, p. 23).
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