UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA DA UFRN
CURSO LICENCIATURA EM MÚSICA
SIDNEY DA CRUZ BRAGA
Musicalização Infantil no ambiente militar: Um estudo das práticas de
ensino e aprendizagem no projeto de musicalizacão infantil do
16° Batalhão de Infantaria Motorizado
NATAL/RN
2014
SIDNEY DA CRUZ BRAGA
Musicalização Infantil no ambiente militar: Um estudo das práticas de
ensino e aprendizagem no projeto de musicalizacão infantil do
16° Batalhão de Infantaria Motorizado
Monografia apresentada ao curso de licenciatura
em música da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciado em Música.
Orientador: Prof. Dr. Agostinho Jorge de Lima
NATAL/RN
2014
RESUMO
Esse trabalho relata as práticas de ensino na educação infantil dentro de um
quartel do exército na cidade de Natal – RN, no ano de 2014, 16° Batalhão de Infantaria
Motorizado, onde acontece um projeto de iniciação musical para crianças, relatando as
praticas pedagógicas, aplicação dos métodos ativos da atualidade e contexto de ensino.
Trabalho este desenvolvido tendo o publico alvo filhos de militares dessa
organização como também filhos de amigos e contribuintes dessa instituição militar,
voltada às praticas de ensino da música não de caráter individual e sim coletivo com
crianças de idade até doze anos, com apresentações em datas comemorativas, na prática
da flauta doce como instrumento de inicialização musical e o canto coletivo.
Essa prática trouxe algumas reflexões a respeito de desafios encontrados ao
decorrer do projeto, e reflexões quanto a didática e necessidade a pesquisa, buscando
resultados positivos tendo a canção o ritmo e o ensino da flauta como base do projeto.
Tomamos como base para esse trabalho os conceitos e abordagens quanto aos
métodos ativos da educação musical.
Palavra chave: O ensino da música em ambiente militar; ensino e aprendizagem.
iii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente venho agradecer a Deus que me deu força e me capacitou antes e
durante toda a trajetória dessa vitória hora alcançada, sendo Ele meu maior mestre,
procurei sempre ouvi-lo e acreditar no sucesso e na vitória que hoje alcanço, que nos
anos que seguiram me deu sempre a vitória nos momentos difíceis na superação perante
as dificuldades, mesmos nos dias em que o cansaço e a fadiga eram presentes aos meus
dias, parecendo que naquele instante iria me faltar força, mas nunca me faltou. “Grandes
coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres” (SALMO 126:3).
Agradeço aos meus professores e amigos que em muito contribuíram para que eu
pudesse alcançar o conhecimento e meios para vencer os obstáculos em que me eram
impostos, me dando a direção e atenção nos momentos de duvida em que parecia que
não conseguiria prosseguir. Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Agostinho Jorge de
Lima, pelo empenho e apoio me dado para a realização desse trabalho que me aceitou
como seu aluno, mesmo estando com o numero de alunos para orientar acima do que
lhe era imposto, onde, através dos encontros semanais, me deu a direção certa para que
eu pudesse concluir este trabalho de forma simples e sincera, mas com o embasamento
necessário para cumpri-lo.
Agradeço aos meus chefes e amigos, que sempre me incentivaram e foram de fato
pessoas muito importantes para que tudo isso acontecesse, pois, entendiam e apoiavam
os meus horários em que não poderia estar em meus compromissos diários atribuídos a
minha função, mas incentivando e dando a oportunidade na concessão das saídas no
horário de expediente para a busca dessa vitória.
Por ultimo não menos importante, agradeço a minha família, que me apoiou e
incentivou nos momentos mais difíceis, me dando amor e força para que eu tivesse
estrutura física e emocional para prosseguir e nunca desistir do sonho, minha esposa
Katia, que sempre esteve ao meu lado sempre me entendendo e compreendendo os
momentos em que me ausentava de nosso lar e sempre me apoiava a cada instante desse
caminho, pois os meus passos também são os dela.
Agradeço a todos que fizeram parte direta ou indiretamente da minha formação, o
meu muito obrigado e que Deus vos abençoe.
iv
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Hora do lanche.............................................................................................22
Figura 02 – Bolo cedido pelo rancho do quartel.............................................................24
Figura 03 – Aula inaugural com participação das mães..................................................33
Figura0 4 – Participação das mães e professores............................................................33
Figura 05 – Mães participando da atividade....................................................................34
Figura0 6 – Aprendendo a canção com auxilio do cavaquinho.......................................38
Figura 07 – Aprendendo a canção Aquarela..................................................................41
Figura 08 – Hora da estória.............................................................................................42
Figura 09 – Apresentação do dia das crianças.................................................................44
Figura 10 – Apresentação do dia das crianças.................................................................44
Figura 11 – Crianças tocando introdução da música Aquarela na Flauta Doce..............45
Figura 12 – Aluna Mel fazendo Solo...............................................................................45
Figura 13 – Aula de Flauta Doce.....................................................................................46
Figura 14 – Atividade em duplas (Pulsação)...................................................................48
Figura 15 – Atividade seguindo o som............................................................................48
Figura 16 – Pulsação e canção.........................................................................................48
Figura 17 – Bandinha rítmica, Daniel segurando o Ganzá.............................................49
Figura 18 – Aula de figura e divisão rítmica...................................................................50
Figura 19 – Utilização dos painéis pra praticar divisão...................................................51
Figura 20 – Seguindo o Som...........................................................................................53
Figura 21 – Atividade em duplas, Seguindo o Som........................................................54
Figura 22 – Seguindo o Som...........................................................................................54
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................................................iii
AGRADECIMENTOS....................................................................................................IV
INTRODUÇÃO...............................................................................................................08
Capítulo1
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA EDUCAÇÃO MUSICAL................................11
1.1 – O ensino da música na Europa até o século XIX...................................................11
1.2 – Educação Musical no Período Colonial até o início do século
XX...................................................................................................................................12
1.3 – O Início do século XX, seus educadores e métodos...............................................13
1.4 – Educação Musical e os Métodos Ativos na Atualidade.........................................15
Capitulo 2
BREVE HISTORIA SOBRE A BANDA DA 7° BRIGADA DE INF MTZ E SUA
FUNÇÃO ARTÍSTICA...................................................................................................18
2.1 – A Banda de música.................................................................................................18
2.2 – Início e o desenvolvimento do projeto no quarte..................................................20
2.3 – O objetivo do projeto .............................................................................................25
2.4 – Conceitos trabalhados e propostas de atividades..................................................27
Capitulo 3
FAIXA ETÁRIA, DESAFIO E SOLUÇÕES.................................................................28
3.1 – O trabalho com faixa etária diferente e o problema da atenção individual e
coletiva.............................................................................................................................28
3.2 – Conhecimento musical dos alunos e vivências já adquiridas anteriormente..........30
3.3 – A aula Treino com os músicos da banda................................................................31
3.4 – A participação dos pais nas aulas e atividades.......................................................32
Capitulo 4
O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NO PROJETO..............................35
4.1 – Plano de atuação.....................................................................................................35
4.2 – Trabalho pedagógico..............................................................................................37
4.2.1 – A Canção................................................................................................................40
4.2.2 – Aula de Flauta Doce...............................................................................................43
4.2.3 – Aula de ritmo e pulsação........................................................................................46
4.2.4 – Jogos e Atividades..................................................................................................51
CONCLUSÃO.................................................................................................................55
REFERÊNCIAS..............................................................................................................58
9
INTRODUÇÃO
O objetivo desse trabalho é a reflexão e o relato da pratica de ensino em projeto de
musicalização infantil dentro de um quartel na cidade de Natal – RN, quartel este
pertence ao exercito brasileiro especificamente o 16° Batalhão de Infantaria Motorizada.
Através deste trabalho venho relatar algumas considerações a respeito da
educação musical e suas influencias desde os primórdios de sua aplicação,
contextualizando com o que procuramos desenvolver dentro do projeto.
Esse trabalho foi desenvolvido e construído com a vivência como docente de
aulas que acontecem dentro de um ambiente militar, onde este espaço agora de ensino
da música é regido por um regulamento e conhecido pela sociedade como formadores
de soldados e defensores da soberania e da pátria, por estar debaixo de um regulamento
com mais de um século de existência, e não como um ambiente em que crianças
poderiam ter acesso a educação com atuação direta e inserida dentro de um quartel
militar.
Com isso, quando se trata de um espaço em que crianças dotadas de toda sua
fragilidade e dependência por parte dos pais, ou mesmo influenciadas diretamente pelo
contexto que vivem, procuramos através desse projeto como não formalizado em ensino
das praticas musicais, com fins não lucrativos aplicar e proporcionar para as crianças
que mesmo na escola não tem o acesso a musica, o aprendizado e a percepção que a
musica pode oferecer e contribuir para o seu crescimento como pessoa e como
individuo formador de opinião. Nesse contexto não se trata de uma escola de música
especifica com funcionamento regular no ensino da música e sim como um espaço
diferente em características com relação a atividades com música na atuação já
profissional na função que lhe é atribuída tendo o principal produto no local onde
funciona o projeto a música, por se tratar de uma Banda de Música Militar do exército
brasileiro.
A escola sempre foi considerada como responsável pelo processo educativo, o
mercado do conhecimento, lugar para se conseguir o crescimento intelectual, ou seja, a
responsabilidade de educar durante muito tempo coube a escola em parceria com a
família, que deixavam esta responsabilidade somente para a escola.
Na área especifica da educação musical atualmente percebesse que o processo
educativo não está mais restrito somente a sala de aula, com muito poucos espaços na
musicalização infantil.
10
No capítulo inicial descrevo uma breve história da educação musical de modo
geral e seus primeiros e influentes educadores. Abordo desde os primórdios da educação
musical europeia como também a Educação Musical no Brasil, com a chegada da
família Real na época do Império.
Dando sequência discorro sobre algumas influencias e os primórdios da educação
musical, e métodos pioneiros que foram base para o pensamento quanto a educação
musical no Brasil.
No segundo capitulo venho comentar e fazer conhecer o ambiente e o trabalho da
banda de música do exército, falando sobre a formação dos seus músicos, perspectivas
da carreira e aprimoramento técnico e formação acadêmica, como também esclarecer a
função real e principal da banda de música militar em especial a banda do exército da
guarnição de Natal-RN, que é usada como relações públicas dessa instituição federal em
contato com a sociedade civil.
No mesmo capítulo venho abordar sobre a criação e funcionamento do projeto
como extensão do trabalho realizado da banda militar fora quartel, trazendo para dentro
dos muros militares o trabalho de comunicação social e espaço para inicialização e
aprendizado de música para filhos de militares e amigos não militares.
No capítulo três, venho abordar a problemática do desnivelamento da turma se
tratando da faixa etária dos alunos que nos trouxe reflexões e busca através de pesquisas
para nivelar e tentar equilibrar o ensino e ritmo de aprendizado entre alunos de mais
idade em relação a outros.
Como também a importância da participação das mães nas atividades e no
acompanhamento das aulas, contribuindo e despertando situações a serem resolvidas
por circunstancias diversas. O modo como às crianças são tratadas deriva, em grande
parte, da forma como a infância é definida, pois penso que a infância é fase onde a
criança vai definir sua real personalidade ao se tornar adulta. Uma abordagem teórica
considera a criança como um organismo que cresce quase como uma planta, com a
implicação de que contém, em si, a semente do adulto. Nesse modo a tarefa dos pais e
professores consiste apenas em fornecer o meio adequado para que essa semente possa
florescer.
É o que procuramos realizar desde o início desse projeto, buscando e ampliando
os métodos em que aplicamos nossas atividades e refletir sobre resultados de acertos e
de erros.
11
No capítulo quatro, relato o processo pedagógico, as aulas e os resultados
positivos e negativos das aulas, dividindo em tópicos, como a “canção” que foi o centro
de nosso trabalho nas aulas, e o ritmo, onde, nos proporcionou perceber o amplo
caminho à percorrer e nos ajudou no auxilio onde este se faz presente em quase tudo
que trabalhamos nas ministrações de nossas aulas.
Ainda neste capítulo venho comentar a importância da ludicidade em aprender
brincando, fazendo das aulas, um momento também de gozo e lazer através de praticas
com jogos e brincadeiras musicais que em muito tem contribuído na questão de
aproximação e confiança entre aluno e professor, tratando a criança como criança, sem
muitas exigências, mas com reforço positivo em tudo que fazemos, pois devemos
valorizar as coisas de criança e nesse momento das aulas, tentar pensar e sentir tudo
como se fosse criança. Nos relatos desse trabalho pode se identificar que a criança é
vista como uma parceira ativa de sua própria aprendizagem, e o nosso trabalho como
professor é onde devemos respeitar suas características e sua forma de pensar para
assim verdadeiramente contribuir para o seu crescimento.
Por fim faço minha conclusão comentando sobre os resultados positivos e
negativos, quanto a necessidade a pesquisa e experimentações, dando conhecimento e
meios para a realização desse trabalho que tinha como base o trabalho com crianças de
cinco a doze anos de idade.
12
Capítulo 1
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA EDUCAÇÃO MUSICAL
1.1 – O ENSINO DA MÚSICA NA EUROPA ATÉ O SÉCULO XX
A educação, de algum modo, refletia as tendências contraditórias do
romantismo, havendo espaço para ações, abordagens e posturas contrastantes. No que se
refere ao ensino musical, o século XIX assistiu ao surgimento das primeiras escolas
particulares do caráter profissionalizante. A primeira delas é o Conservatório de Paris,
criado em 1794. Na Inglaterra, em 1822, foi fundada The Royal Academy of Music, que
tem como principal característica a organização em forma de externato, afastando-se do
modelo dos conservatórios italianos dos séculos XVI a XVIII, que atendiam crianças
órfãs em regime de internato. Cinquenta anos depois foram criadas, nos mesmos
moldes, The Trinity College (1872) e The National Training Schoolof Music (1873).
Esse modelo de escola de musica rapidamente se espalhou por vários países e chegou a
Praga (1811), Viena (1817), Berlim (1850) e Genebra (1815). Atravessando o oceano,
foi aos Estados Unidos e ao Canadá na década de 1860. (FONTERRADA, 2008 p. 81)
Até o século XIX, o ensino de composição tinha um caráter prático e ocorria na
direta relação entre discípulo e mestre. O ensino sistemático teórico/prático de
composição, somente começou quando o número de não profissionais (diletante)
desejosos de aprender aumentou tanto que a instrução individual tornou-se impossível,
dando lugar ao ensino coletivo e à instrução em massa em meados do século XIX.
É nessa época que surgem obras que buscam a sistematização dos vários ramos
do saber musical – harmonia, contraponto e o estudo das formas, por meio de manuais
instrucionais de caráter universal. Entre os tratadistas desse período podem-se citar
Antonin Reicha (1770-1836), François Joseph Fétis (1784-1871), Salomon Jadassohm
(1831-1902), Ebenezer Prout (1835-1909). Em vez de promover a pratica musical, a
tendência desses tratados é “treinar” o aluno em expedientes técnicos, tendo como
resultado a proficiência em meios de construção musical e orquestração. Não se trata de
ensino artístico, portanto, mas do domínio de técnicas instrumentais, que em muito se
assemelham à formação do artesão. Essa tendência imigra para a América e até hoje
influencia o ensino acadêmico, que adota esse modelo técnico-científico.
(FONTERRADA, 2008 p. 82).
13
1.2–EDUCAÇÃO MSUCIAL NO BRASIL NO PERÍODO COLONIAL ATÉ O
INÍCIO DO SÉCULO XX
No Brasil criou-se, no Rio de Janeiro, o Conservatório Brasileiro de Música,
em 1845. São Paulo segue a esteira dessa tendência mundial e inaugurou o
Conservatório Dramático e musical em 1906. Na época do individualismo e do
virtuosismo, as escolas de música privilegiavam a formação do instrumentista virtuose e
colaborando com a tendência ao individualismo, ainda hoje presente na formação de
grande parte dos músicos.
O mais antigo documento do descobrimento do Brasil, a Carta a El Rey Dom
Manuel, faz referência à manifestação musical da população nativa quando dois
músicos proeminentes desembarcaram das caravelas de Cabral em 1500: o organista
Padre Raffeo, e o regente coral Padre Pedro Mello. Os Jesuítas chegam com o primeiro
Governador Geral, Tomé de Souza (1549), e foram os primeiros professores de música
no Brasil, onde desenvolveram uma educação musical voltada a servir os interesses da
Igreja e da Coroa de Portugal ensinando a religião através da música.
De acordo com Neves (1981) as colonizações portuguesa e espanhola, ao
oposto da americana puritana, deram ênfase ao processo de exploração das atividades
artísticas e culturais. Em 1552, o Bispo Dom Pedro Sardinha, trouxe o Mestre de Capela
Francisco Vaccas para integrar a formação da primeira escola da Companhia de Jesus,
fundada em São Paulo, em1554 pelo Padre Manoel da Nóbrega, e seguido pelo Padre
José Anchieta com seu trabalho educacional considerado uma das mais importantes
contribuições do século XVI. O auto da Pregação Universal, em 1555, é considerado a
primeira peça musical brasileira, realizado o mesmo ano em que Anchieta fundou o
primeiro teatro no Rio de Janeiro. De 1564 a 1605, 21 autos envolvendo música vocal,
instrumental e dança, foram realizados no Brasil. (Almeida 1942).
Durante o período colonial, a música e as outras artes alcançaram notável
esplendor, porém a educação musical estagnou durante o Império, usada apenas para
interesse da igreja. O processo de estagnação no desenvolvimento da educação musical
permaneceu no Brasil do Segundo Império até a República da virada do século XX. No
começo do século, a necessidade de formalizar e sistematizar o ensino e a aprendizagem
musical partiu como consequência de tendências sistemáticas em outras áreas.
Exerceram influencia: as teorias de comportamento “behaviorismo”, Gestalt e
psicanálise na área de psicologia; o existencialismo de Jean Paul Sartre e a
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fenomenologia de Edmund Husserl na área de filosofia; e a escola social de Talcott
Parsons nos EUA, Emile Durkheim na França, e Max Weber na Alemanha.
No século XX, algumas novidades contribuíram para dar novo alento à
educação musical; o professor Anísio Teixeira, que propôs ideias da escola nova no
Brasil, segundo as quais, a arte deveria ser retirara do pedestal em que se encontrava e
colocada no centro da comunidade. Na escola o ensino da música não deveria restringir-
se a formação integral do ser humano. Assim abriria mais um espaço ao professor
especialista, ainda não suficiente, no entanto, para lhe conferir estabilidade ( Barbosa,
1982).
No campo especializado no ensino da música, foi criado no Rio de Janeiro, o
Conservatório Brasileiro de Música (1845); em São Paulo, foi fundado o Conservatório
Dramático e Musical, na mesma rota dos então recentes conservatórios europeus e
americanos, e que tinha em seu corpo docente muitos professores de formação
humanística europeia perfeitamente alinhadas com o que lá se produzia e se pensava. A
esse respeito, o curso de música do Conservatório era voltado e tinha como principal
objetivo o ensino instrumental, que era algo em ascensão na época, pois o ensino da
música era ligado diretamente ao ensino do instrumento.
Já no Instituto de Educação Caetano de Campos, o ensino dá música tinha um
caráter diferente, do que ocorria nas escolas especializadas, pois não era seu objetivo,
formar instrumentistas, mas permitir o acesso da população escolar à pratica musical.
1.3 – O INÍCIO DO SÉCULO XX, SEUS EDUCADORES E MÉTODOS
Quatro métodos atingiram proeminência na educação musical nas escolas
brasileiras durante o inicio do século XX, o método Analítico de João Gomes Junior que
é um método que se baseava em movimento e improvisação muito semelhante se
associando hoje ao método de Dalcroze. Para a aplicação do método, Gomes Junior
usava um pequeno órgão portátil como instrumento de apoio e também desenvolveu um
sistema de sinais manuais chamado de “Manosolfa”, também foi um dos introdutores do
canto coral na educação brasileira.
O método Coral de Villa-Lobos também foi introduzido nas escolas brasileiras
seguindo a segunda guerra mundial, fase em que o Brasil começava o processo de
industrialização e a educação em consequência as artes tomam outros rumos devido a
desenvolvimento tecnológico. Em 1932 Anísio Teixeira que havia proposto uma
15
reforma na educação, fundou a Superintendência de Educação Musical e Artística –
(SEMA), onde Villa-Lobos (1887 – 1959) começou seu trabalho como educador e com
isso fez viagens recolhendo material folclórico e nativo. Seu olhar enquanto educador
era voltado associar a educação musical com ideias de moral e comportamento cívico
promovendo em 1931 um concerto com mais de 12 mil vozes, e no ano seguinte
passando a uma quantidade de participantes de mais de 18 mil vozes. Lançou em 1935 o
guia prático, publicação extensiva para musica coral.
Na década de 1960, o canto orfeônico foi substituído pela educação musical,
que não diferia profundamente da proposta anterior. Os professores de música, nas
escolas, eram ainda praticamente os mesmos, e não havia flagrante antagonismo entre a
nova proposta e a anterior, de Villa-Lobos. No entanto, ao lado do que ocorria na escola
pública, ampliava-se o interesse de músicos brasileiros pela educação musical, o que
contribuiu para seu desenvolvimento: Anita Guarnieri, Isolda Bacci Bruch, em São
Paulo Liddy Chiafarelli Mignone, dividindo-se entre duas cidades, Rio de Janeiro e São
Paulo, além de Sá Pereira, Gazy de Sá, Lorenzo Fernandes e o casal Ernst e Maria
Aparecida Mahle. Esses professores eram herdeiros diretos dos educadores musicais
que revolucionavam, desde o inicio do século XX, a educação musical europeia.
O método de Iniciação Musical de Antônio Leal Sá Pereira, que se baseia na
iniciação sensorial com ênfase na experiência musical extensiva antes do ensino de
conceitos teóricos. Influenciado pelos conceitos musicais de Orff, Kodály e Dalcroze, e
pelos conceitos educacionais de Piaget.
Sá Pereira propunha uma educação musical servida de atividades espontâneas,
envolvendo atividades de grupo, dança e conjunto de percussão, a fim de propiciar
amplas oportunidades para vivencia e experiência do fenômeno musical e das relações
entre sons e sonoridade, entre outras contribuições de Sá Pereira, ele preocupava-se com
a formação do professor. (Sá Pereira, 1937).
Cito também Liddy Mignone e o seu Método de Recreação Musical, que
consiste e baseia-se no conceito de educação musical percebido pela criança como
recreação e não como imposição, tornando assim o aprendizado algo prazeroso e não
tedioso, também pregava que a iniciação musical começasse cedo em criança e que o
contexto musical fosse apresentado através de estórias infantis, jogos, brincadeira e
dramatizações.
16
Para Paz (2000), o século XX foi marcante no que diz respeito ao surgimento e
evolução das doutrinas pedagógico-musicais, movimento que possui sua base ainda no
século XVI. Segundo Koellreutter (1997),
Na maior parte das escolas de música, departamentos ou
conservatórios, os estudantes ainda são “treinados” para a execução e
apreciação da sociedade do século XIX, de cultura eurocêntrica, cuja
estrutura sociocultural se torna obsoleta dentro do contexto da nossa
sociedade contemporânea, dinâmica e economicamente diversa. No
entanto, como educadores musicais, precisamos reunir materiais de
correntes diversas e analisá-los de forma crítica, possuindo
flexibilidade e critérios claros – não definitivos! – para um
planejamento musical dinâmico. (KOELLREUTER, 1997)
Quanto a Koellreutter, em 1937 trouxe ideias novas, que refletiam a nova postura
diante da arte contemporânea, e abriu um campo voltado à pesquisa e à experimentação.
“A ideia surgiu do desejo meu de servir o país que tão generosamente
me acolheu, contribuindo para o desenvolvimento da cultura musical
brasileira, trazendo um máximo de informação cultural e difundindo e
divulgando obras aqui desconhecidas ou pouco conhecidas”
(KOELLREUTTER, 1981, p.8-10).
1.4– A EDUCAÇÃO MUSICAL E OS MÉTODOS ATIVOS NA ATUALIDADE
Entre os educadores musicais mais estudados no século XX podemos destacar
alguns: Jaques-Dalcroze, Kodaly, Orff, Willems, Suzuki, que para minha fonte de
pesquisa na preparação e planejamento das atividades que proponho aos meus alunos
tenho bebido do conhecimento e me servido da fonte e riqueza das contribuições desses
educadores, com isso passo agora a percorrer e falar um pouco desses métodos que
tenho usado como fonte de pesquisa para minha prática pedagógica e trabalho,
especialmente os que estão sendo usados no Brasil, ressalto que quanto aos métodos
ativos usados hoje no Brasil, não é de minha intenção tratar de modo aprofundado ou
mesmo relatar pensamentos filosóficos e biográficos dos educadores aqui abordados e
citados em minha ação como professor e sim ressaltar alguns pensamentos em
determinados temas ou assuntos específicos desse relato. Sendo assim no inicio do
século XX os mais influentes educadores e métodos usados quando se trata de educação
infantil, não podemos deixar de citar alguns nomes como: Kodaly, Willems, Dalcroze,
Suzuki e Orff, educadores esses que uso como fonte de pesquisa e consultas para os
meus métodos dentro e fora de sala de aula.
De forma geral, a metodologia desses educadores; destacam a importância
entre o contato do aluno com a música, como experiência de vida. Eles enfatizam a
importância do movimento e do canto na aprendizagem musical, que mais à frente
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comentarei a escolha de trabalhar com esses elementos. Dalcroze, por exemplo, prioriza
o movimento, pois trabalha sob propostas do desenvolvimento psicomotor enquanto
Kodaly, destaca o papel do canto coral, embora uma e outra abordagem abrigue os dois
métodos de expressão. Algumas propostas tem o objetivo desenvolver habilidades
específicas: o violinista Suzuki desenvolveu um método para a aprendizagem do
instrumento através da repetição constante e da utilização de gravações.
Orff e Dalcroze dão preferencia a expressão e à criação, não se preocupando
em determinar procedimentos de leitura ou técnicas instrumentais avançadas. Willems,
trabalha na prática os aspectos físicos e mentais em torno da escuta, citando a
importância do envolvimento afetivo do aluno com o fazer musical. Dalcroze e Orff
mostram a importância da integração das diversas linguagens artísticas.
A partir da segunda metade do século XX, surgiram outros educadores que
começaram a dar importância para outros aspectos da música. Dentre esses temos:
Schafer, Paynter e Gainza. Como menciona Gainza (1988): “a arte musical (dessa
época) se empenha na exploração da matéria sonora, produzindo novos objetos artísticos e
musicais, novas técnicas e, sobretudo, novas atitudes estéticas e filosóficas do fato criativo”
(GAINZA, 1988).
Um conceito novo empregado à musica difundido por Schafer é a ênfase na
exploração dos sons ambientais e a educação sonora. Trata-se do despertar para o
universo sonoro por meio de ações muito simples, capazes de modificar
substancialmente a relação ser humano ambiente sonoro. (FONTERRADA, 1991,
p.192).
De forma concisa, tal ideia baseia-se na percepção, exploração e manipulação
dos sons que nos rodeiam. Dentro desta visão, objetos do dia a dia, sons de animais,
sons da natureza, sons dos eletrodomésticos, sons produzidos com o corpo, entre outros,
são utilizados como parte integrante do processo de mudança da consciência sonora do
individuo. Já Payten, propôs que a educação musical em escolas de formação geral ou
escolas de música, fosse um trabalho que visasse a ampliação da capacidade auditiva, a
investigação e a utilização de todo e qualquer fenômeno sonoro, a interação grupal na
prática musical, conduzindo à autodisciplina.
Em nossa prática como auxilio para nossas atividades aplicadas e pensadas
nesta proposta de ensino de musica para crianças no despertar e fazer musical,
mesclamos as atividades de todos esses educadores citados, procurando também não
ficar totalmente preso a um só método, readaptando algumas atividades propostas por
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estes educadores buscando uma aula com grande flexibilidade, pensando de acordo com
o que diz Willems que o “importante não é o método e sim ter método”. (WILLEMS,
apud ROCHA 1998, p.21).
Assim, em todas as atividades que propomos, procuramos que os alunos
passem pela vivencia corporal antes da teoria e antes da utilização dos jogos, deixando a
formalização dos símbolos e conceitos pra depois dessa vivencia.
Pegamos como base para nossas atividades as propriedades do som,
desenvolvendo o ouvir o memorizar e associação dos sons, através de escuta, de acordo
com cada ambiente, exigindo uma maior concentração dos alunos. Para Kraemer (2000, p.
51).
“A pedagogia da música ocupa-se com as relações entre a(s)
pessoa(a) e a(s) música(s) sob os aspectos de apropriação e
transmissão”. (KRAEMER, 2000, p. 51).
Para esse educador, o campo da educação musical abarca todas as práticas
músico-educacionais de ambientes formais e informais, assim como a cultura musical
em processo de formação.
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Capitulo 2
BREVE HISTÓRIA SOBRE A BANDA DA 7° BRIGADA DE INFANTARIA
MOTORIZADA E SUA FUNÇÃO
2.1 – A BANDA DE MÚSICA
A banda de música da 7° Brigada de Infantaria Motorizada adida ao 16°
Batalhão de Infantaria Motorizado com sua sede em Natal-RN, onde, tem
tradicionalmente suas raízes, foi criada pelo boletim regimental N° 001, de 01 de
Agosto de 1941. Sendo assim, está completando 73 anos de idade em 2014, e teve como
seu primeiro mestre de musica o 1° Sargento Músico Ulisses.
Por ser uma banda de música categoria “C”, “que corresponde ao numero de
integrantes e formação instrumental”, seu efetivo é de 49 músicos e seu atual Regente é
o 1° Tenente Músico Manoel Messias Marques, tendo como auxiliares o 2° Tenente
Musico Aroldo Santana de Oliveira e o 2° Tenente Musico Joáz Silva de Souza. O
nome em negrito representa a identificação do militar e como são conhecidos na
instituição, esse nome tem o adjetivo de nome de GUERRA.
Em sua missão ordinária participa de formaturas de rotina nos quarteis do
exercito da guarnição do Natal, abrilhantando ainda mais as solenidades militares e
civis, desenvolvendo um amplo trabalho de relações públicas, que tem como objetivo
contribuir para uma maior integração do exercito e a comunidade civil.
A banda do exército participa de varias atividades na sua pratica principal que
é execução dos repertórios apresentados, em retretas, concertos sinfônicos e demais
eventos culturais promovidos em Natal e cidades circunvizinhas, sempre apresentando
um repertório eclético e contribuindo assim para o conhecimento cultural e artístico da
plateia que assiste a sua apresentação. Mas uma de suas principais funções é a
participação nas formaturas diárias dos quartéis de sua cidade que fazem parte da
mesma guarnição. (mesmo comando)
Assim falou um militar que semanalmente participa das formaturas em que a
banda esta presente:
Quando ouvimos a banda de música executando um dobrado ou uma
marcha militar, sentimos o moral elevado, a coragem aumenta e o
coração bate mais forte, mostrando assim, a verdadeira sintonia e
apreço que temos por este estilo musical imortal, entendemos sempre
que esta motivação tem como farol, a nossa grande missão: manter a
paz e a soberania de nossa pátria. (Capitão de Infantaria Laércio
Ramos).
20
Nas participações nas formaturas diárias nos quarteis, através da música a
banda é responsável para elevar o moral da tropa, ou seja, o animo e a vontade, como
também exerce um trabalho social entre o exército e o público civil. Especificamente
quando se trata para o ambiente da caserna (âmbito militar), que significa o cotidiano
dos quartéis, sua presença nas formaturas auxilia no canto das canções militares e na
execução dos dobrados que é um gênero musical específico das bandas militares, usado
para as tropas marcharem em desfile.
Seu emprego se dá através das datas comemorativas e eventos sociais, desempenhando
um trabalho de relações públicas entre os quarteis militares do exército como também
de outras organizações pertencentes as forças armadas como Aeronáutica, Marinha e as
forças auxiliares.
Em relação ao público civil, a banda do exército estreita os laços entre militares
e civis, através de participação em eventos de solicitação civis, tais como, Semana
Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (SIPAT), eventos escolares, culturais e
festivos e também através das apresentações em teatros, shoppings e praças. Participa
em eventos comemorativos de aniversário de municípios através de desfiles e
apresentações públicas, ocasionando um trabalho de integração e representação da ação
do exercito para o meio civil.
Dentro da carreira musical e militar, o conhecimento dos músicos vem de
diversas fontes de conhecimento e sua formação continuada é de caráter individual,
através de cursos em Universidades, conservatórios ou mesmo de pesquisa individual
em busca do conhecimento. Em particular relatando a realidade da banda a qual eu faço
parte esclarecerei alguns pontos. Os músicos da banda de musica do exército, a maioria
não possui formação acadêmica ou mesmo de conservatórios.
Quanto ao conhecimento musical são adquiridos por diversos meios como em
escolas especializadas, como aprendizado partindo de famílias tradicionais de músicos
militares, onde o conhecimento é passado de pai para filho, ou em consequência de
aprendizado em igrejas que possuem bandas ou orquestras que por sua vez possuem
classes de flauta doce e musicalização para crianças, muitas das vezes fazendo um
serviço social e voluntario para jovens e adultos que não possuem condições ou acesso a
aulas de musica. Esses conhecimentos adquiridos por alguns dos integrantes das bandas
militares dão a eles a oportunidade de ingressar na carreira como musico e militares.
Assim que ingressam na carreira, suas habilidades vão se desenvolvendo com a prática
diária, na execução de hinos e canções como também dobrados. O estudo diário dá a
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oportunidade de o músico militar possa desenvolver sua capacidade de ter um domínio
instrumental aprimorado, mas sem o direcionamento de estudos pedagógicos ou
métodos educacionais. Mas hoje muitos músicos estão procurando as Universidades de
Música e aprimorando academicamente suas habilidades tanto para as práticas
interpretativas como para as praticas educacionais, tornando-se professores com um
conhecimento e vivência musical muito vasta, adquiridas pelos anos de serviço militar,
que contribuem em muito com o entendimento do que é proposto na academia,
chegando a um alto nível musical, como solista, arranjador, regente e como professor na
própria instituição militar, como também no engrandecimento êxito na carreira
chegando ao mais alto posto da carreira com fundamentações e conhecimento
necessário.
É exigido para as promoções dentro da carreira militar, que o músico do
exército faça provas para conseguir sua promoção. Com isso a busca pelo conhecimento
faz-se necessária, e é regimentada como aprimoramento técnico profissional para que
ele possa alcançar os objetivos de sua carreira, mas tal conhecimento parte da ação
individual e do interesse de cada um pois o exercito não possui cursos especializados na
área musical.
Hoje muito desses músicos já procuram a academia para esse aprimoramento
musical, cursando o Bacharelado em Música ou o Curso de Licenciatura em Música. O
conhecimento nos dois cursos que fazem parte do aprimoramento da formação musical,
a partir de disciplinas importantes para carreira, como por exemplo: curso de harmonia,
arranjo, regência, improvisação, e também na área de performance como também
estudos e métodos na área da Educação Musical. Com o curso de licenciatura para
carreira militar, o músico pode ser empregado e ocupar cadeira de professor ou instrutor
em instituições de ensino do exercito, por exemplo: o Colégio Militar ou Academia de
Formação de Sargentos e outros, onde possui hoje o curso de música.
2.2 – INÍCIO E DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DENTRO DO QUARTEL
Primeiramente quando soube da decisão da criação de uma classe de
musicalização Infantil na própria banda de música, não sabia que faria parte diretamente
das atividades relacionadas à mesma. Foi quando meu Regente da banda de música o 1°
Tenente Manoel Messias, me fez o convite para ser um dos professores a atuar
planejando e ministrando aulas. Não sabia muito bem qual era a proposta dessa
22
atividade, se era uma escola com característica especializada em música, tratando-se de
aulas diretamente para o aprendizado do instrumento ou se seria somente teórica minha
função nas atividades.
Com os dias se aproximando para o início das aulas, alguns questionamentos
foram abordados, como seria o funcionamento e quem faria parte da equipe de
professores? Quem seriam os alunos? Funcionaria com proposta de musicalização
infantil ou como escola direcionada ao aprendizado de instrumento? Após ser
convidado para fazer parte dessa ação educacional pensei em algumas perguntas
direcionadas ao fazer musical, com base nos livros antes lidos que orientam o professor
a sempre se perguntar o objetivo e interesses. A prática musical o livro de Murray
Schafer que conta que em uma de suas experiências como professor ele antes de iniciar
um trabalho fez alguns questionamentos para sua própria reflexão. Usei o mesmo
recurso e questionamentos, pois achei essa abordagem de muita utilidade em muitos
outros eventos que colaborei ou participei, e me fiz algumas perguntas em relação ao
projeto de musicalização infantil ou aula de música. Como por exemplo: Porque ensinar
música? O que vamos ensinar? Como ensinar? Quem vai ensinar o que?
Segundo Murray Schafer, que em um trabalho também fez os mesmos
questionamentos diz que, são inventadas muitas desculpas, sobre porque ensinar
música, a mais comum é que a música promove o bem estar social. “Cantar e tocar em
conjunto pode resultar em compreensão e amizade” (SCHAFER, 1991). O que está
sendo afirmado realmente é que fazer música é próprio de bons cidadãos. A música
pode ajudar a promover, por exemplo, a sociabilidade, a graça, o êxtase, o fervor
político ou religioso, ou ainda a sexualidade. Assim podemos demostrar que a prática
da música pode ajudar a criança na coordenação motora dos ritmos do corpo.
Partindo do comum que todo individuo já possui um conhecimento e um
repertório musical prévio, adquirido na sociedade em que vivem, como sua casa, escola
em que estuda como também outros lugares alcançados onde a música e vivida e
sentida, como por exemplo, a Igreja. Entendi que além desse repertorio já adquirido
podemos ampliar mais ainda o repertório de cada um, até chegar ao ponto em que
possamos todos criar a nossa própria música, partindo daquilo que já se conhece e o que
vamos passar a conhecer juntos. Para o autor “o professor precisa se acostumar a ser
mais um catalizador do que acontece na aula que um condutor do que deve acontecer”.
(SCHAFER, apud FONTERRADA, 1991, p. 283).
23
Outras unidades do exército existentes em Natal como também as subseções ,
dentro do mesmo quartel, onde a banda de música do exército da guarnição do Natal
está sediada, podem ver e perceber, a real missão da banda, que é a parte de socialização
e relação pública, com a sociedade, fazendo da música, uma ferramenta de
fortalecimento de amizades e bem estar comum.
Com o desejo de muitos militares de conhecer mais sobre musica e ambiente
musical, devido às formaturas realizadas dentro do quartel, muitos dos militares tinham
sonhos desde criança em aprender algum instrumento musical, mas por algum motivo
social, tempo, falta de oportunidade, não puderam ter contato mais intimamente com a
música, passando a usar a música apenas como um meio de distração ou de simples
lazer, como nas audições ou apresentações musicais de um grupo musical, ou mesmo
para alegrar um ambiente de comemoração diversa.
Pensamos então, que como o espaço e a estrutura encontrada dentro do quartel,
auxiliado aos recursos e facilidades, para o fornecimento do lanche que acontece no
intervalo das aulas e a disponibilização do acesso de civis dentro do quartel, a execução
das aulas seria facilitada.
Para a divulgação inicio do projeto, ouve um trabalho gradativo de convites a
visitas na banda através de eventos como a inauguração da nova sala de ensaio, como
também na comemoração de aniversários dos integrantes do batalhão onde a banda está
instalada.
Começamos então, a realizar um trabalho de convites a visitas dos interessados
a conhecer e ouvir música dentro do seu ambiente de trabalho, abrindo as portas da
banda de música como um local de lazer e distração através de apresentações e
homenagens.
Em cada evento que acontecia com diversos convidados de diferentes funções
dentro do quartel, divulgávamos e fazíamos o convite para os interessados com filhos
menores de doze anos a participar da escola de educação musical que iria funcionar
dentro do espaço da banda de música.
A todos que era feito o convite e o esclarecimento do funcionamento, logo
surgia o interesse em participar e matricular o filho ou a filha, pois era uma
oportunidade dos mesmos aprenderem e conhecerem a música de um modo mais
íntimo. Eles entenderam a importância que hoje essa atividade representa para o
desenvolvimento da criança como individuo e ser reflexivo e formador de opinião, com
24
um acesso rápido e perto aos olhos da família em um ambiente que é conhecido por sua
disciplina e que é visto pela sociedade como uma instituição confiável.
A ideia foi vista com muito entusiasmo por parte do comando e também por
parte dos integrantes da banda de música do exército, pois mesmo os filhos dos músicos
poderiam e estão frequentando e participando das aulas, influenciados e estimulados
pela prática profissional do pai que tem a profissão de músico militar.
A divulgação ocorreu de forma natural, mais em uma velocidade muito grande,
e em pouco tempo já tínhamos inscritos vinte e cinco crianças para a aula inaugural.
Temos o lanche que é cedido pelo rancho do quartel, mas com
responsabilidade da escolinha de música com sucos, bolos, bolachas e sanduíches,
servidos em um espaço usado como refeitório, com mesas e cadeiras destinada a esta
atividade, auxiliada por uma TV Led que no momento do lanche eles podem assistir
desenhos ou vídeos, momento este de descontração que desperta na criança uma
sensação de estar na própria casa.
Figura 1 Hora do lanche
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Figura 2 Bolo cedido pelo Rancho do Quartel
Sempre quando acontece uma visita que necessita a banda realizar uma
apresentação, os alunos são convidados para assistirem, percebendo neles grande
empolgação, a satisfação e a alegria de sentarem ao lados dos músicos da banda do
exercito, banda esta que foi apresentada a eles por meio de um concerto didático no
início das aulas. Percebemos que as crianças se sentem como integrantes desta banda,
simulando o tocar ao estarem segurando suas flautas doces com muita motivação e
alegria.
As aulas e atividades acontecem no Pavilhão da Banda, em uma sala de entrada
que dá acesso a sala do Regente da Banda de Música. Falando um pouco sobre esta sala
onde acontecem as aulas, podemos perceber que temos uma limitação quanto ao espaço,
pois em muitas das atividades propostas nas aulas é necessário nos movimentar com o
andar, o saltar e o correr, não nos proporcionando o espaço ideal para estas atividades.
Como refrigeração, possuímos um ar-condicionado que fica a sala ao lado, que por uma
porta que deixamos aberta, hora antes as aulas, conseguimos deixar um pouco mais
agradável, para as nossas atividades, mas no decorrer das aulas a temperatura aumenta
muito, variando ainda mais nos dias mais quentes, deixando as crianças um pouco mais
agitadas.
Está sala está localizada dentro do pavilhão da banda de musica, fazendo parte
do ambiente militar e musical. Não dispomos de outro espaço para as nossas atividades
de musicalização infantil. As aulas e atividades propostas continuam a acontecer nesse
espaço cedido, pois as outras salas existentes no pavilhão da banda de música são assim
distribuídas: como reserva de instrumentos, parte burocrática e administrativa da banda,
área usada como cozinha, sala de ensaio, alojamento, biblioteca e sala da chefia da
26
banda, como também uma reserva de material, sala de estudo, sala destinada a fanfarra
do batalhão, reserva de instrumentos. Dispomos por final para as nossas atividades de
ensino, uma sala agregada ao escritório da chefia da banda de música, com tamanho
aproximado de 10 m², sala esta que temos que adaptar espaço para as cadeiras tirando e
botando as mesmas de acordo com a necessidade das aulas, tornando as aulas em que
usamos o movimento, sem estrutura adequada para tal, pois é necessário que para essas
atividades se tenha um sala ampla para poder desenvolver e alcançar o objetivo nas
aulas.
Existem espaços melhores e maiores no pavilhão da banda de música, como
por exemplo: um salão que dá acesso a sala de ensaio que muitas vezes é usado para
coquetéis e recepções a autoridades militares e civis, mas o motivo de não usarmos este
salão é que no momento em que acontecem as aulas, geralmente a banda de música
realiza seus ensaios e isso causa um falta de atenção das crianças e uma vontade e
curiosidade de entrar na sala onde acontece o ensaio da banda de música.
Nesse projeto dispomos de um professor Bacharel em Música com habilitação
em saxofone e Licenciando em Música pela EMUFRN, com a função de planejamento,
aplicação e coordenação das aulas, auxiliado por três músicos integrantes da banda de
música do exército, a saber.
Um músico instrumentista com técnico em violão pela EMUFRN, que tem a
função de auxiliar nas aulas e atividades dentro da sala de aula o professor responsável,
um músico instrumentista com experiência em regência, que fica responsável pela
recepção, inscrição e organização do material usado nas aulas e atividades, sem
formação acadêmica. O terceiro auxiliar, também aluno do curso de licenciatura pela
EMUFRN, tem sua participação nas aulas e atividades muito esporadicamente, pois tem
o compromisso e a função nesse projeto de confeccionar e organizar o lanche
consumido pelos alunos e professores, nos intervalos das aulas manhã e tarde.
2.3 – O OBJETIVO DO PROJETO
O primeiro questionamento que ocorreu foi “QUEM SERÃO OS ALUNOS?”
O primeiro pensamento e de que seriam somente filhos de militares, mas em
consequência ao trabalho social e de relações pública que a banda do exército
desenvolve com a sociedade, foi aberto vagas para filhos de amigos de militares e de
contribuintes. Com isso passou a ser destinado a musicalização dos dependentes dos
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militares do 16°Batalhão de Infantaria Motorizado, e filhos de amigos do batalhão como
também alunos das escolas adjacentes. Alguns estudiosos da área sugerem que as
práticas musicais, aplicadas a crianças jovens e adultos, sejam desenvolvidas em um
ambiente escolar, podendo ainda por extensão ser levado à outros espaços formais de
ensino, enfatizando a importância da música na educação básica e a obrigatoriedade
desse ensino previsto pela lei 11.769/2008 e a LDB 1996.
A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras, capazes de expressar
e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos por meio da organização e
relacionamento entre silêncio e som. Está no cotidiano com a expressão musical desde
os primeiros anos de vida um importante fator para o processo de desenvolvimento de
coordenação psicomotora e cultural.
A proposta desse projeto é o despertar musical através da vivência e das
práticas musicais, ampliar o conhecimento musical dos alunos que já tiveram a prática
em outros ambientes musicais, bem como o desenvolvimento de habilidades musicais
através do canto coral, da fala, brincadeiras, jogos corporais, cantigas de rodas, flauta
doce, estória musical e práticas lúdicas.
E por meio dessas práticas estruir e sensibilizar, através da música, os
dependentes de militares do 16° Batalhão de Infantaria Motorizado. Através de alguns
métodos e práticas como “O CANTO”, trazer para o despertar artístico e musical, como
também atividades com movimento, criação.
A criação deste projeto proporcionou também aos integrantes da banda de
música do exército, um espaço para exercer e praticar o conhecimento na área da
docência adquirido nos cursos de licenciatura e bacharelado, para aqueles que estão
cursando ou já se formaram.
Metodologia
O desenvolvimento desse projeto se dá através de aulas expositivas e dialogadas,
com base nos métodos ativos de musicalização, trabalhos em grupos, exercícios de
discriminação auditiva, com base nos ambientes sonoros e paisagem sonora com
abordagens de educadores dessa área de conhecimento, como também leitura relativa e
absoluta, pentagrama, clave de sol, o canto atrás de memorização das letras e melodias,
práticas de instrumento de bandinha rítmica e flauta doce, jogos e atividades em grupos.
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2.4 – CONCEITOS TRABALHADOS E PROPOSTAS DE ATIVIDADES
ANUAIS
Em relação aos conceitos musicais, os alunos vivenciam elementos como:
pulsação, andamento, intensidade, alturas, som e silêncio, timbre, forma musical,
exploração de sons através da execução de instrumentos e do próprio corpo, além de
apreciação. Todos estes conceitos são trabalhados de forma intuitiva e lúdica.
Apresentações musicais em datas comemorativas, como dia do soldado,
semana da pátria, dia da criança e natal.
Avaliação
Os alunos são avaliados e conceituados diariamente conforme as atividades realizadas
nas aulas.
Quantidade de alunos.
Manha 15 alunos, onde, 13alunos são meninas e dois são meninos.
Tarde 14 alunos, onde, temos seis meninas e oito meninos.
29
Capítulo 3
FAIXA ETÁRIA, DESAFIOS E SOLUÇÕES
3.1 – O TRABALHO COM FAIXA ETÁRIA DIFERENTE E O PROBLEMA DA
ATENÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA
Ainda encontramos muitas dificuldades a respeito de como elaborar atividades
e aulas que possam englobar as faixas etárias diversificadas do curso, tendo em vista
que temos alunos de cinco anos e alunos de dez anos de idade na mesma turma.
Portanto pesquisamos atividades que os alunos de cinco, seis e sete anos, participem
sem dificuldades, mas também, preocupados em formar uma turma coesa e nivelada,
onde, todos de maneira conjunta executem igualmente os exercícios e tenham a
compreensão de todo conteúdo e assuntos apresentados em sala.
Procuramos trazer uma aula ativa e com integração e dinâmicas em conjunto,
focando o interesse e a participação de toda a turma, sem impor limites para a criação e
espontaneidade de cada aluno, que participa igualmente de todas as propostas trazidas e
pensadas para cada aula.
Com isso estamos encontrando um equilíbrio entres as idades sem ter que
separar ou individualizar o aprendizado, evitando a exclusão que é uma das lutas da
educação brasileira e mundial.
Meu filho Daniel tem dez anos, já participou de outras aulas de musica em
outros ambientes as quais eu era o professor, dando a ele já um contato anterior com
alguns assuntos e atividades executada nesse projeto. Com isto, ele em muito tem me
ajudado nas atividades, pois algumas delas os assuntos e estratégias já são conhecidas
por ele em outros ambientes de ensino, como na igreja. Nesse contexto uma vez por
semana acontecia a aula de música, direcionada para execução e aprendizado de um
instrumento com público alvo da própria igreja entre jovens, adultos e crianças.
Em meus planejamentos o Daniel se mostra muito interessado no que vai ser
aplicado na aula de musica dentro do quartel, e quando levo atividades de duplas e em
grupos, ele ensaia comigo em casa, aprendendo a atividade com antecedência. Na aula
de música ele executa junto comigo essas atividades exemplificando tanto para os
alunos como também para os auxiliares.
Quanto ao desnivelamento, este prejudica em muito a proposta de algumas
atividades, pois fica muito complicado pensar em atividades que a criança de menos
idade, no caso das que tem cinco anos, possam acompanhar sem dificuldades, e que
30
também não provoque por meio das outras crianças a exclusão nas atividades. Como
essa é a primeira turma e não atentamos em pensar em uma melhor organização da faixa
etária das crianças, e por não possuirmos outro horário disponível, aceitamos o desafio
de procurar e adequar todas as atividades pensando sempre nos menores, o que não
traria dificuldades para as crianças executarem e participarem juntas das atividades, com
isso, seria muito mais fácil trazer para um nível em que todos executassem igualmente
as propostas em sala de aula, sem depreciar a possível dificuldade que as crianças
menores teriam de acompanhar e participar das atividades.
No caso dos maiores é claro teriam um aproveitamento um pouco mais rápido
em relação aos menores, mas, no entanto todos estariam com o mesmo conteúdo e
sincronizados, participando e caminhando lado a lado na construção desse
conhecimento no aprendizado da música, que é o objetivo desse projeto.
A partir da aplicação de alguns conceitos desenvolvidos por Birkenshaw-
Fleming, estes ajudaram-nos a ter alguns resultados positivos, como “ensinar o que não
se conhece em pequenos passos, a quando utilizar instrumentos sonoros, usar em
pequenos momentos para que as aulas não fiquem muito ruidosas ou barulhentas,
causando uma agitação entre os alunos”.
Começamos a apresentar os mesmos conceitos de diferentes formas e métodos
flexibilizando as aulas de modo que todos possam absorver o conhecimento. Por
exemplo, sempre que aprendemos uma canção, passamos a retomá-la nas aulas
posteriores, pois isso ajuda a dar um senso de segurança aos alunos, dando um
relaxamento e integração grupal nas atividades. Procuramos usar todos os instrumentos
que levamos para as aulas, evitando frustração entre os alunos e atender as perspectivas
dos mesmos, como também dar explicações simples e claras, repetindo varias vezes e de
varias formas, mesmo que possa parecer chato, pois procuramos ter a certeza que todos
compreenderam a atividade, nas atividades de imitação rítmica, todo comando é dado de
maneira cantada, pois isso causa segundo Birkenshaw, uma melhor atenção por parte
dos alunos.
O planejamento que envolve escolhas pessoais é uma ferramenta que
procuramos explorar, pois, auxilia no encorajamento e interesse para a criatividade e
participação, como bem pedir ao aluno que faça e não apenas fale, usando assim uma
abordagem manipulativa. O elogio é algo que procuramos exercer de maneira
individual, dando encorajamento ao aluno, sem alardes ou exagero, incentivando cada
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aluno a acreditar que é capaz e consegue realizar as tarefas assistidas reconhecendo o
seu esforça verdadeiro.
Com essas técnicas e norteamentos conseguimos ter resultados satisfatórios
algo que venho relatar mais a frente, é claro estamos longe de chegar ao ideal, mas é um
começo para prática docente e inicio de um projeto que ainda está em fase de formação
e adaptação, de ambiente, espaço e curriculum.
3.2 – O CONHECIMENTO MUSICAL DOS ALUNOS E VIVÊNCIAS JÁ
ADQUIRIDAS ANTERIORMENTE
Na turma há duas alunas que filhas do comandante do batalhão, uma se chama
Izabela e a outra Gabriela. No primeiro dia de aula elas chegaram com violão, violino,
flauta doce, e com muita vontade.
Perguntei a elas se elas já tocavam os instrumentos e a resposta foi afirmativa
“SIM”, portanto teci um elogio a elas valorizando assim suas vivências. Não
desgrudaram dos instrumentos, momento em que perguntei se eu poderia guardar por
um instante os instrumentos devolvendo no momento certo só por um instante, e elas
concordaram.
Elas estudam com um professor particular de violino e flauta, e contaram
algumas experiências sobre o que elas estavam aprendendo com o professor. Izabela
participou com muito interesse das atividades propostas nesse dia, mas quanto a
Gabriela, escolhia o que queria participar e o que não queria, mantendo um pouco mais
de distancia das atividades. Em uma atividade ela começou a correr sem motivo na sala,
juntamente com a aluna Piêtra, usei um recurso para fazer com que elas parassem, não
gritei, não falei diretamente com nenhuma delas, simplesmente pequei o celular, e
simulei que falava com o pai da Gabriela, sobre o seu excelente comportamento, nesse
momento consegui ter a sua atenção, pois percebendo ela que falava ao telefone e que
era com seu pai ela no mesmo instante parou e voltou à atividade.
Poucos alunos já haviam estudado musica antes, na escola regular como
também em escola especializada, tendo um primeiro contato a partir das nossas
atividades, com exceção de alguns alunos que já possuem suas práticas musicais com
profissionais, na maioria dos alunos estão tendo o primeiro contato com a música de
forma sistemática.
32
Mas não posso deixar de comentar sobre a aluna Mel, que com apenas 6 anos
de idade, já chegou nas aulas tocando algumas musicas na flauta doce, e com um
virtuosismo muito bom como também dotada de um belo timbre de som na flauta.
Menina meiga, comportada, presta muito atenção no que é explicado, e feito nas
atividades, com um conhecimento musical bem colocado para sua idade. Todo esse
conhecimento musical prévio é devido ao seu pai que é integrante da banda do exercito,
que previamente tem passado o conhecimento musical para os filhos. Esta aluna já na
escola regular participa de apresentações em eventos culturais dentro da escola,
parecendo ser muito introvertida, pois fala sempre muito baixo, mas nas atividades de
ação ela tem um alto desenvolvimento de resposta.
3.3 – A AULA TREINO
Essa atividade de ensaio da aula e treino das atividades, geralmente é feita em
um dia que antecede a aula de musicalização infantil, onde me reúno com os auxiliares
músicos e aplico tudo o que foi pensado para a aula, as atividades e metodologia de
aplicação, abrindo espaço para contribuições e observações e até correções textuais.
Essa atividade foi um pedido e uma sugestão dada pelo chefe da banda que é o
1° Tenente Messias. Ele achou muito interessante uma atividade sobre timbre que me
viu ministrar em outro projeto social com crianças carentes, e sugeriu que eu executasse
novamente esta atividade sobre os parâmetros do som como aula inicial. Devido a essa
sugestão pediu que eu explicasse pra os demais integrantes da banda como a atividade
era executada, com isso se tornou comum toda semana, ao elaborar e planejar as aulas
de música, que fosse feito uma aula treino de amostra de como a atividade seria
aplicada.
Com essa ação percebi que podíamos perceber erros e acertos quanto e através
da metodologia da aplicação de algumas atividades, dando tempo para uma nova
elaboração e correção da aplicação buscando outros métodos e meios para melhorar a
compreensão, pensando sempre na questão da diferença de idade existente na turma.
Na turma da tarde são 14 alunos, onde, temos uma aluna com cinco anos
“Ane”, um aluno com quatro anos que se chama Daniel, e doze alunos com idade acima
de dez anos.
Um fato a comentar sobre a aluna Ane, é que em uma atividade de roda em que
todos participavam com uma improvisação de batimentos, no momento em que chegou
a vez dela, ela fez um movimento em que todos riram involuntariamente, mas percebi
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que não foi risos de zombaria ou algo assim, entretanto observei que a partir daquele dia
a ANE não quis mais participar de atividades de grupo, situação que começamos a
trabalhar a cada aula na tentativa de resolver e fazer com ela volte a participar como
antes das atividades propostas, pois antes era uma aluna que apesar de ser uma das mais
novas, vinha mostrando um crescimento musical muito significativo, com um nível de
compreensão e raciocínio muito rápido e satisfatório, integrada, socializada e
participante de todas as atividades até então.
A partir daí tem sido um desafio conseguir que a Ane, volte a participar das
atividades onde é necessário que ela trabalhe em dupla ou grupo.
3.4 – A PARTICIPAÇÃO DAS MÃES NAS AULAS E ATIVIDADES
Algumas crianças pela idade de cinco a oito anos vão sempre acompanhadas pelas
mães, que em muitas aulas participam como alunas também interagindo junto com os
filhos nas atividades.
Percebemos que com essa ação, as crianças que tem a presença da mãe, ficam
mais seguras e soltas, interagindo bem com as outras crianças, mas também um pouco
mais dependente, querendo em todo momento chamar a atenção da mãe através de
atitudes mais exageradas na execução da atividade. Como por exemplo nas canções que
são feitas na sala, elas tendem a gritar em vez de cantar, bem como pular ou correr
enquanto cantam.
No entanto, essa participação das mães que levam seus filhos e ficam até o fim
das atividades ou da aula causa um entusiasmo nas crianças dando uma maior
importância e nos auxiliam também no controle da turma do que se aplica nas aulas. As
crianças entendem que a presença da mãe é uma forma de valorização para aquilo que
eles executam ou fazem, portanto eles passam a querer participar de forma mais intensa
e espontânea do que se propõe na sala de aula.
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Figura 3 Aula Inaugural com participação das mães.
Figura 4 Participação das mães e professores.
No entanto encontramos algumas dificuldades também com essa presença, as
mães em alguns casos querem e cobram uma maior atenção para os filhos por parte do
professor, percebendo na disposição de igualdade entre os alunos. Elas mencionam, por
exemplo onde o filho ou a filha estão sentados, sugerindo que eles sentassem em uma
posição mais privilegiada na posição das carteiras como também a prioridade nas
participação das atividades.
Um fato que aconteceu a respeito dessa situação foi que em uma atividade
onde os alunos teriam que em duplas praticar batimentos com as palmas das mãos nas
mãos do colega escolhido. Algumas mães questionaram a respeito de que a filha não
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teria ficado com uma colega que respondesse cognitivamente igual a sua filha e também
a respeito de parcerias com escolha de afinidade ou crianças que já se conheciam. A
partir desse questionamento percebemos que o modo a resolver parte desse problema
era o professor delegar as duplas através de métodos dentro da sala de aula, como por
exemplo: ao separa duplas usamos agora um sistema de numeração, o número 1 e o
numero 2. Aleatoriamente classificamos que fica com o um e quem fica com o dois.
Quando é atividade em dois grupos grandes quem ficou com o 1 faz parte de um grupo
e quem ficou com o numero 2 se integra ao outro grupo, isso faz com que não haja
escolhas ou preferencias pelos alunos de quem fica com quem.
Figura 5 Mães participando da atividade
Isso faz com que até os alunos mais tímidos não tenham dificuldades em de
imediato fazer parte de um grupo sem ter que esperar sua escolha por não ter outro pra
escolher. Isso causa um desconforto, pois a atividade é para todos igualmente e dentro
da necessidade a atenção isolada é executada. Optamos então, em orientar as mães que
em algumas atividades deixassem os filhos executarem somente com os outros alunos.
Em algumas atividades as mães se sentem a vontade para participar, como uma
atividade de interação, onde todos cantavam a canção e no final o nome de cada
integrante da sala era falado ao final da canção, um por vez, e as mães participaram
também dessa atividade.
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Ao final todos lembravam de grande parte dos nomes e assim começar um
novo ciclo de amizade e interação, pois chamar alguém pelo nome é algo que podemos
e devemos valorizar.
Capítulo 4
O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DO PROJETO
4.1 – PLANO DE ATUAÇÃO DO PROJETO
Propriedades do som.
Timbre através da escuta com uso de instrumentos e recursos sonoros.
Altura com exercícios de escalas ascendentes e descendentes.
Duração e silencio com o uso de gráficos e uso de dinâmicas em sala.
Intensidade com auxilio de mp3 e instrumentos musicais.
Canção
Criação de repertorio para uma apresentação no encerramento das aulas.
Figuras musicais.
Semínima, colcheia e semicolcheia.
Mínima.
Conceito de musica, ritmo e harmonia através de vivências em sala de aula e praticas
com auxilio de instrumento harmônico, violão, cavaquinho e teclado.
Notas musicais
Sistematização de notas
Ascendente e descendente
Pulsação em quatro e três tempos.
Com exercícios ativos de palmas e canções usando também batimentos em
duplas.
Canções ternárias e quaternárias.
Percepção rítmica com painéis com figuras
Ditado rítmico.
Divisão rítmica.
37
Leitura.
Reprodução rítmica.
Pauta musical ou pentagrama.
Leitura relativa das notas na pauta sem a presença de claves.
Direção e movimento das notas na pauta.
Clave de sol.
Entoação da escala de dó maior.
Flauta doce
Implantação das notas: Sol, lá , si, dó e ré.
Introdução da flauta doce dentro do repertório.
Historia musical.
Com canções que reproduzem sons de animais.
Historias que cada personagem tenha sua canção característica.
Ritmo:
Atividades com copos e bolas com a execução dentro de um ritmo de uma
canção ou com acompanhamento de um instrumento de percussão ou
harmônico.
Gráficos de duração com figuras musicais (semínima, colcheia e semicolcheia).
Percepção rítmica com painéis com figuras.
Ditado rítmico.
Divisão rítmica.
Leitura.
Reprodução rítmica.
Atividades locomotivas.
Andar dentro de um ritmo constante, percebendo a variação entre rápido e
devagar.
Reprodução de movimentos através de imitação, criação.
38
4.2 – O TRABALHO PEDAGOGICO
Procuramos aplicar as aulas e as atividades no projeto usando os métodos
ativos de educadores do nosso tempo, levando em consideração que alguns deles foram
concebidos em outras situações e contextos sociais de acordo com sua época,
especificamente métodos de educadores desde o inicio do século como por exemplo:
Williams, Murray Schafer e Dalcroze. Não seguindo um só método e sim usando vários.
Como afirma Violeta Gainza:
Esta não é uma época de escolhas absolutas, excludentes ou
definitivas em matéria de método. Todo aquele que responde com
profundidade às necessidades das crianças (...) deve ser utilizado e
sabiamente combinado e harmonizado (GAINZA, 1977, p. 75)
Tomando o cuidado também para não seguir vários métodos
desordenadamente, ou simultaneamente, não esquecendo que quando foram concebidos
foram de acordo com sua época e cultura diferente, onde muitos conceitos eram
dirigidos de acordo com a situação da atualidade em que viviam.
Por isso, tentamos dar um direcionamento nos métodos de acordo com o que
vivemos agora dentro de nossa época e situação social ou nossa realidade. Com isso
Maura Penna afirma.
Não podemos esquecer que estes métodos carregam uma concepção
de música e de mundo. Podemos nos apropriar de exercícios de vários
métodos, na condição de, compreendendo os princípios que os
embasam, redirecioná-los para as metas que almejamos (PENNA,
1990, p. 66).
Em nossas aulas de ambiente sonoro e paisagem sonora, tudo que é relacionado
ao som, concordo no que diz Schafer, “(...) devemos aprender a ouvir tudo que está ao
nosso redor, explorando o ouvir e o pensar” (SCHAFER,1991)
Schafer, em seu trabalho sobre educação musical, ele concentra seu olhar em
três campos:
1. Descobrir o potencial criativo dos alunos, para que eles façam a
sua própria musica. Ele faz de sua aula um momento de
enriquecimento, pois todos tem uma solução diferente para os
problemas levantados. 2. Fazer com que os alunos conheçam a
paisagem sonora do mundo e considerem-na uma composição
musical, assumindo uma posição critica para tentar melhora-la. 3.
Encontrar um ponto de união entre as artes, onde as mesmas
possam desenvolver-se e harmonizar-se. (SCHAFER, 1991, p.
284).
39
Edgar Willems, por sua vez defende a canção como uma forma eficaz de
desenvolver a musicalidade da criança e a audição interior, pois age diretamente na sua
sensibilidade afetiva e musical e, ao mesmo tempo, sintetiza os elementos musicais
rítmico, melódico e harmônico se a poesia do texto. Willems aponta a audição como
indispensável ao aperfeiçoamento musical do aluno. Assim, aconselha que o professor
possua um vasto material sonoro para que os alunos realizem atividades de escutar,
reconhecer, reproduzir, comparar, ordenar, emparelhar e improvisar com eles. Esse
educador elaborou um método ativo de educação musical comumente chamado de
Método Willems.
Figura 6 Aprendendo a Canção
Quanto ao Ritmo “Dalcroze” aponta que ao estudar musica o aluno ao final
poderão dizer, não somente “eu sei”, também “eu sinto” que é exatamente o que queria
Jaques-Dalcroze.
Na pratica da rítmica, recorremos aos conceitos desse professor, o qual as
formula em três fases:
Desenvolver e aperfeiçoar o sistema nervoso e o aparelho muscular de
tal maneira que se possa criar uma “mentalidade rítmica”, graças a
colaboração intima do corpo e do espirito, sob a influencia constante
da música. Estabelecer relações harmoniosas entre os movimentos
corporais, dinamicamente graduados, e as proporções e
decomposições diversas do “tempo”, isto é, criar o sentido rítmico
musical. Por em ralação os dinamismos corporais matizados no tempo
40
comas dimensões e as resistências da “demora”, para criar o sentido
do ritmo músico – plástico. (DALCROZE, 1921)
Partindo do pressuposto de que o conhecimento é o resultado de um processo
de construção, modificação e reorganização utilizado pelos alunos para assimilar e
interpretar os conteúdos musicais, meu pensamento e de acordo com o da autora desse
texto que fala sobre a ação pedagógica aplicada nas atividades, procurando um
ajustamento do que os alunos conseguem realizar em cada momento de sua
aprendizagem, para se constituir em verdadeira ação educativa. (SILVA, 2009 p. 101).
Quanto ao aluno, Silva ainda diz que é comum o fato dele levar para a sala de
aula uma serie de problemas de ordem pessoal. Fato que pude perceber nas atividades
realizadas e na reação dos alunos em algumas situações de não querer participar ou
mesmo no momento da atividade realizar ações que não tem nada haver com o que
estamos propondo, como por exemplo: ficar escrevendo ou pegar um instrumento que
não está fazendo parte da aula proposta. Muitas dessas atitudes entendemos que é por
situação familiar ou social que muitas vezes são expressos através desse
comportamento, o qual pode caminhar para dois extremos: ou para exagerada
introspecção, não querendo participar das atividades, ou para uma tendência a tornar-se
superativo.
O que ocorre muito frequentemente é uma inibição na hora dos exercícios
criativos. Isso se manifesta principalmente nas crianças mais espontâneas, elas não
conseguem camuflar os seus sentimentos. (SILVA, 2009, p. 102 e 103).
Por isso acredito que a ação educativa deve se incorporar com exercícios e
praticas que propiciem o entrosamento do grupo a todo estante, criando um clima
afetivo, de confiança mutua e de respeito à individualidade de cada um.
O interesse da aula de musica não fica vinculado apenas nas atividades
padronizadas, mas, sim, nas experiências musicais que os alunos realizam diariamente
em outros ambientes. Segundo Gainza:
A musicalização é um processo bidirecional e integrado entre o
homem e a musica. O homem recebe a musica, se alimenta, e a
absorve. Interioriza-a, e a musica absorvida se torna diferenciada, é
conscientizada e compreendida. O interiorizado se projeta, consciente
e inconscientemente, ao imitar e criar (GAINZA, 1977, p.16).
A seguir venho relatar em partes cada atividade e as propostas pensadas para as
aulas, onde tenho como base o uso da canção como forma geral de integração e
musicalização, através de estórias musicais, como também o trabalho com o ritmo como
41
forma de preparação e vivência. O uso da flauta doce na proposta de introduzir um
instrumento as aulas e para pratica de simples melodias, a leitura relativa e absoluta para
aplicação na flauta e nos ritmos trabalhados e no auxilio das criações musicais feitas
pelos próprios alunos, através de atividades lúdicas e dinâmicas.
4.2.1 – A CANÇÃO
Assim como Willems usamos a canção como centro do nosso trabalho, pois
concordo com ele quando diz que a canção é o elemento mais eficaz para despertar a
vida afetiva, como também trabalha o ritmo, a melodia e de maneira oculta a harmonia.
Por se tratar de canção, entendemos que as crianças já chegariam com um repertório
próprio desenvolvidos em casa ou na escola, procuramos aproveitar e ampliar essa
questão, sabendo que com isso ajudaríamos na integração e globalização do repertório,
procurando através das canções, meios de despertar a sensibilidade afetiva das crianças.
Para Kodály é importante desenvolver o habito de entoação desde muito cedo,
e entendi que a escolha das canções é algo sempre a se pensar, escolhendo melodias
simples e claras. O ensino de música do método Kodály baseia-se no canto em grupo e
no solfejo e é dessa forma que procuramos fazer. Kodály em seu método de
musicalização diz que é um excelente meio à pratica musical coletiva, até mesmo
economicamente, pois cada criança traz em si seu próprio instrumento – a voz
(FONTERRADA, 2008 p. 200).
Usei uma canção para ajudar na sistematização das notas musicais, pois é um
processo que dependendo de como se ensine corre o risco de ficar repetitivo demais,
causando o desinteresse das crianças em ficar repetindo a sequencia das notas sem um
estimulo para que isso aconteça. Entendi que a sistematização de maneira lúdica e
também com a canção, nos ajudaria a ter uma resposta muito rápida e tranquila daquilo
que estávamos esperando.
Então pesquisei uma canção que tivesse uma melodia alegre e interessante para
que as crianças participassem e de maneira simples e despercebidas aprendessem a
sequencia das notas musicais naturalmente e com prazer, trabalhando ao mesmo tempo,
o ritmo a melodia e harmonia, com auxilio de acompanhamento harmônico, tenho usado
nas aulas o cavaquinho, que tem sido de grande importância no acompanhamento das
canções executadas nas aulas.
Essa canção despertou um interesse muito claro, pois se tratava de uma música em
que eu escolhia uma palavra que a primeira sílaba era nome das notas musicais, e obtive
42
uma resposta muito rápida nessa questão, pois eles em conjunto respondiam, a cada nota
duas vezes, por exemplo, um pequeno trecho da canção: “doido de Dó Dó? Do Dó”,
“remédio de RE RÉ? RE RÉ”. A cada pergunta que eu fazia a ultima silaba da pergunta
era justamente a nota que eles iriam responder, e as crianças ficavam a vontade para
responder, podendo ate gritar na resposta, de uma maneira que elas expressassem o
sentimento e a vontade em participar da atividade de canção. Muito satisfatório foi o
uso desta canção que por escolha das crianças esta canção fez parte na apresentação
feita no dia das crianças, onde, as crianças cantaram e tocaram instrumentos.
Figura 7 Aprendendo a Canção Aquarela
Percebi que a partir daí poderíamos aplicar e ensinar canções de varias maneiras e
com vários objetivos, como por exemplo, ensinamos uma canção de apresentação, onde,
todos ao final da canção teriam que falar o seu nome, e na repetição do refrão da canção
todos os alunos repetiam o nome que era falado. Essa melodia na primeira aula nos
ajudou a memorizar os nomes das crianças, como também as crianças a memorizarem o
nome dos professores e dos colegas. Essa melodia fala de uma saudação a alguém “bom
dia coleguinha”, e também o desejo de conhecer o outro e iniciar uma amizade,
chamava o coleguinha para brincar e no final perguntava o seu nome, onde a criança da
vez falava o nome, já trabalhando nesse momento a descontração para aquelas crianças
mais introvertidas e tímidas que teriam que abrir a boca para falar o nome. Foi muito
interessante, pois não tive que perder muito tempo para ensinar a letra, conforme íamos
43
cantando todos memorizavam rapidamente e o canto foi ficando cada vez mais forte,
seguro e confiante.
No final ficou muito divertida e prazerosa essa canção, com a participação das
mães, professores e crianças se conhecendo a todos ao mesmo tempo, iniciando nesse
momento uma nova amizade.
A canção também foi ferramenta nas estórias musicais, onde nas estórias
contadas, os personagens tinham uma música especifica, como quando contamos a
estória do “ELEFANTE PUNCA LA PUNCA”, e do ratinho “RATONILDO” que
tinham músicas que são cantadas toda vez que ele aparecem na historia. A música desse
elefante pede que olhe para a tromba dele, pois ele sente muito orgulho dela. O outro
personagem da historia o ratinho que também tem sua música, mostrava a simplicidade
dele em dizer que era apenas um rato. Na atividade com essas duas musiquinhas, que
aparecem no desenrolar dessa estória, percebi que na terceira vez que o personagem
apareceu, as crianças já cantaram juntas reforçando a presença do personagem, ficou
muito interessante. Observei que consegui trabalhar a afetividade das crianças que se
identificaram com cada personagem contado.
Figura 8 Hora da estória
Ainda com a canção pensamos em unir o canto com o instrumento e assim
criamos uma introdução para a música “AQUARELA” do compositor Toquinho, com
quatro notas, que as crianças aprenderam muito rapidamente na flauta doce. Assim após
esta introdução cantávamos a música, pois apesar de ser uma música com dois partes
bem grandes, é uma canção que já era conhecida por muitas crianças, e valorizamos
44
muito a mensagem de futuro que ela traz. Essa prática todas as vezes que íamos ensaiar
essa música, percebíamos uma empolgação e uma expectativa muito grande por parte
das crianças para pegar a flauta e tocar e depois cantar para tocar novamente.
4.2.2 – AULA DE FLAUTA DOCE
O uso da flauta doce em nossas aulas não foi por acaso, pois se trata de um
instrumento verdadeiro e não um brinquedo como muitos pensam. Acredito que essa
pratica propõe ao aluno uma ferramenta que os permitem criar, sentir e viver a musica
de maneira mais intensa, como também no auxilio das praticas de leitura de melodias, e
o despertar o ouvir e reproduzir o que ouviu. Como por exemplo, através do contato
com a flauta, o aluno passa a querer tocar melodias, e musicas que eles já conhecem,
pois a flauta vai auxilia-lo na compreensão e organização dos sons e melodias vão
passar a ser descobertas até mesmo acidentalmente.
E foi o que percebemos que aconteceu: os alunos começaram em nossos
encontros antes do inicio da aula a tocar as musicas para os colegas. Musicas que eles
conseguiram descobrir com a flauta em suas experiências em casa, pois o repertorio que
eles antes conheciam e cantavam, agora eles acharam um meio de reproduzi-los com o
instrumento, neste caso, a flauta doce.
Percebemos que o interesse das crianças em tocar um instrumento é muito
grande, muitas delas, chegaram com violão, violino, mas como não tínhamos como
separar a turma e fazer aulas direcionadas para vários instrumentos com professores
específicos, decidimos trabalhar de modo coletivo a flauta doce. Isso tem trazido um
resultado muito interessante, pois com apenas três meses de aula e nem toda semana
tínhamos aula de flauta, os alunos passaram em casa a sozinhos aprenderem músicas, e
quando chegavam na aula de musicalização queriam tocar o que haviam descoberto na
semana em casa.
Entendi então que não poderia ter dias sem a aula de flauta, pois em nosso
único encontro semanal tinha que dividir o tempo em atividades lúdicas, o conteúdo e a
prática do instrumento.
Na apresentação que tivemos em comemoração ao dia das crianças, cinco
alunos apresentaram canções tocando solos, que causaram grande espanto e alegria para
os que estavam assistindo. A sensação foi de objetivo alcançado, pois muitas das
canções não foram ensinadas nas aulas, mas canções que eles sozinhos em casa
estudaram e descobriram. Na parte técnica que foi o que trabalhamos como som,
45
articulação e postura, os alunos executaram todas as músicas lindamente, com afinação
perfeita, posicionamento e ritmo seguro e principalmente sentindo prazer e alegria na
execução das canções, tornando real o objetivo de nossa atividade que é o despertar para
a música.
Figura 9 Apresentação dia das crianças
Com o uso da flauta doce podemos trabalhar e fortalecer o trabalho de ensino
coletivo do instrumento, por isso procuramos criar músicas com três ou quatro notas
para que todos toquem juntos e coletivamente, trabalhando a pratica de conjunto.
Figura 10 Apresentação do dia das crianças
46
Figura 11 Crianças tocando Introdução da Música Aquarela na Flauta
Figura 12Aluna Mel fazendo solo
47
Figura 13 Aula de Flauta Doce
4.2.3 – AULA DE RÍTMO E PULSAÇÃO
Quanto ao ritmo que é a parte da música que também trabalhamos em nossas
atividades em sala, concordo com Dalcroze quando ele observa que:
“A Rítmica é antes de tudo um método de educação geral, uma
espécie de solfejo corporal musical, que permite observar as
manifestações físicas e psíquicas dos alunos dando a possibilidade de
analisar seus defeitos e de buscar o meio de corrigi-los”.
(DALCROZE, 1926).
Trabalhamos esta questão sempre ao inicio de nossas aulas, pois praticamos nas
aulas a atividade de batimentos rítmicos, e repetição dentro de uma mesma pulsação.
Entendi que essas atividades servem tanto para internalizar sequencias rítmicas,
voltadas às formas de compassos e interiorizar o tempo de respostas de maneira
automatizada.
Nossas praticas se baseiam em marchar em bater palmas ditando um tempo forte
das palmas no pé direito, que no quartel é onde o bumbo da banda de música da o tempo
fraco para o soldado marchar e corrigir o passo quando está trocado.
Outro exercício rítmico que trabalhamos em nossas atividades é o uso das palmas
que usamos para ensinar e sentir os compassos: quaternário, ternário e binário.
Trabalhando assim a consciência e diferença entre eles enfatizando o tempo forte.
O adjetivo “forte” vem da ideia de apoio, peso, descida, relaxamento, que se
efetiva por “acentuação” sobre algumas “batidas” do pulso. Por convenção, o tempo
acentuado é considerado o primeiro tempo do padrão, seu “tempo forte”. Assim,
48
podemos identificar os compassos, mesmo quando variados. É claro que este conceito
não é explicado para os alunos isso é algo que nos professores temos que ter
conhecimento e eles irão perceber isso de maneira oculta através da vivencia das
atividades rítmicas. O ritmo é elemento essencial na vida humana e é encontrado em
todos os fenômenos naturais como, por exemplo, nas marés, no movimento das folhas,
na respiração, no andar, no falar, e também nos produtos e atividades culturais, como
nas artes, na tecnologia, no artesanato. Concordo com Silva (2009) que observando
crianças diz que o ritmo está presente em todos os momentos: cantando, correndo,
andando, jogando, dançando.
Entendi que em nossas aulas e atividades não poderíamos deixar de usar essa
poderosa ferramenta da musica, pois ele nos acompanha desde que nascemos, quando
descobrimos os sons a nossa volta e interagimos com eles através de expressões
corporais.
Tenho trabalhado em nossas aulas trabalhar o ritmo também usando copos de
atividades, onde, criamos células rítmicas simples e exatas para que os alunos em
conjunto e coletivamente as executem. No momento em que conseguimos que todos
façam o ritmo proposto dentro de uma pulsação, introduzimos sempre uma canção que
eles já conheçam ou que faça parte do repertório individual de cada aluno.
Essas atividades tem tido um resultado muito satisfatório, pois, geralmente são
muito interessantes e lúdicas, as crianças mostram um grande interesse nos copos e se
socializam com as outras, principalmente porque em algumas dessas atividades elas tem
que passar o copo para o colega ao lado, socializando e interagindo entre elas.
Procuramos não fazer uma aula parada por isso exploramos muito o trabalho com
o ritmo, pois ritmo é movimento e pensando em movimento direcionamos o aluno a
descoberta do próprio corpo como instrumento lhes dando infinitas possibilidades
expressivas. Como na atividade de improvisação rítmica, que todos os alunos deveriam
dar ritmos criados por eles e os outros alunos teriam que reproduzir, trabalhado aí dois
pontos muito importantes que é a criatividade e o pulso, levando em consideração que
cada aluno tem um ritmo diferente para reproduzir e criar.
49
Figura 14 Atividade em duplas (Pulsação)
Figura 15 atividade em duplas (Pulsação)
Figura 16 Pulsação e canção
50
Nosso objetivo tem sido alcançado na prática do ritmo e despertado nessa
prática e a necessidade da pesquisa para uma melhor compreensão dos assuntos e
métodos de trabalhar ritmo, movimento, criação, nos dando muitas possibilidades de
trabalho em grupo e fortalecendo a confiança das crianças em si próprias.
Em auxílio com o ritmo realizamos uma atividade usando instrumentos de
bandinha rítmica, onde percebemos que despertou um interesse mutuo entre as crianças,
que conheceram e tiveram um contato mais íntimo com instrumentos desse seguimento.
Realizamos uma atividade de percepção, onde após apresentarmos alguns instrumentos
de bandinha, esses instrumentos circulavam e passavam pela mão de cada criança que
poderia tocar e descobrir sons. Não nos preocupamos em ensinar como o instrumento
era tocado, pois não era o objetivo dessa atividade, e sim que elas se familiarizassem
com o som e a textura de cada instrumento.
Figura 17 Bandinha Rítmica, Daniel segurando o Ganzá.
Voltando a atividade de bandinha rítmica, apresentamos alguns instrumentos,
como por exemplo: caxixi, prato, côco, ganzá, triangulo, clave ou pauzinho, ovinho,
bloco sonoro, guizo, pandeiro e campanéla. Logo após realizamos uma atividade em
duplas, onde, montamos duas linhas de instrumentos iguais, um instrumento de cada
para cada fileira de instrumentos, colocando uma criança a frente de cada linha, com a
mesma sequencia de instrumentos. Antes de realizar esta atividade apresentamos o som
e o nome de cada instrumento da atividade. Colocando uma criança de costas uma para
outra, cada criança dentro de uma ordem tocaria a sequencia de três instrumentos
expostos a sua frente, com isso a criança que ficou apenas escutando teria que tocar os
mesmos instrumentos e na mesma ordem, após os acertos ou erros era invertida a
51
atividade, ou seja, a criança que tocou agora escutaria a outra criança que tocaria
também uma sequência de livre escolha de três instrumentos e teria que reproduzir os
mesmos. Foi uma atividade muito rica e tivemos um resultado muito satisfatório pois,
percebemos que era total o interesse dos alunos a participarem da atividade. Com isso
elas tiveram uma pratica de percepção e memorização assim como também a prática de
concentração e atenção.
Procuramos dentro da atividade usar todos os instrumentos apresentados nessa
aula, pois não queríamos causar nenhuma frustração para os alunos de verem um
instrumento e não terem a oportunidade de tocar, ouvir seu som e saber o seu nome.
Com painéis de figuras musicais, elaboramos uma forma de praticar a leitura das
figuras, onde damos nomes a cada figura para auxiliar na pulsação. Por exemplo: para
semínima usamos a palavra SOL com uma figura, para colcheias usamos a palavra
CHUVA com duas colcheias, para a semicolcheia usamos a palavra PASSARINHO
com quatro figuras.
Figura 18 Aula de figuras e divisão rítmica
52
Figura 19 Usando painéis pra praticar a divisão
Foi uma forma que nos possibilitou infinitas maneiras de uso e na prática de
exercícios de leitura e ditados rítmicos.
4.2.4 – JOGOS E ATIVIDADES
O trabalho com jogos e brincadeiras musicais tem sido um caminho de construção
do conhecimento das crianças em nosso projeto, pois através deles podemos de maneira
lúdica e prazerosa vivenciar e ensinar elementos da música, como por exemplo, os sons
de ambientes e sons do nosso corpo, desenvolvendo a memória e a percepção auditiva.
Os jogos dão um caráter recreativo e por isso conseguimos através deles ter uma
participação total das crianças que se interessam muito em participar.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a educação infantil (Brasil
1998), as atividades de caráter lúdico, ao permitem certa mobilidade à criança, podem
ser eficazes também do ponto de vista da ordem, sem, contudo, limitarem as
possibilidades de expressão da criança ou colherem suas iniciativas próprias.
(...) um grupo disciplinado não é aquele em que todos se mantem
quietos e calados, mas sim um grupo em que os vários elementos se
encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os
deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse
envolvimento não podem ser entendidos como dispersão ou desordem,
mas sim como uma manifestação natural da criança. (CÓRIA-
SABINI; LUCENA, 2014, p.10).
53
O jogo em si possui componentes do cotidiano e o envolvimento desperta o
interesse nas crianças que se tornam sujeito ativo do processo de aprendizagem, ficando
muito mais fácil aprender por meio dos jogos, que é valido para todas as idades. Com
isso percebemos que as atividades com jogos e brincadeira são de suma importância
para a aprendizagem musical principalmente pra a musicalização.
Concordo com Chateau, que valoriza o jogo por seu potencial para o aprendizado
moral, integração no grupo social e como meio para a aquisição de regras. Assim sendo,
Kishimoto (2003) completa dizendo que o jogo tem dois sentidos:
Sentido amplo: como material ou situação que permite a livre
exploração em recintos organizados pelo professor, visando ao
desenvolvimento geral da pessoa; sentido restrito: como material ou
situação que exige ações orientadas com vistas à aquisição ou treino
de conteúdos específicos ou de habilidades intelectuais, também
recebendo o nome de jogo didático (LOURO, 2006 )
A relevância do jogo vem de longa data. Filósofos como Platão, Aristóteles e,
posteriormente, Quintiliano, Montaigne, Rousseau, destacaram o papel do jogo na
educação. Entretanto, foi com Froebel, o criador do jardim-de-infância, que o jogo
passou a fazer parte do centro do currículo da educação infantil, e em nosso projeto tem
sido uma ferramenta poderosa no que diz respeito às praticas lúdicas e educativas, que
conforme LOURO (2006) apud Campagne (1989), o jogo educativo se relaciona a duas
questões: a primeira é a Função lúdica que quando escolhido voluntariamente, o jogo
propicia a diversão, o prazer e até o desprazer e entendemos que temos que saber lidar
com essas duas sensações, procurando sempre um resultado positivo. A outra função é
a educativa onde o jogo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber,
seus conhecimentos e sua apreensão do mundo, menciona ainda Campagne, que o
equilíbrio entre essas duas funções é o objetivo do jogo educativo.
Procuramos dentro do pensamento de Campagne participar de todos os jogos e
brincadeira como iguais, demostrando assim não só o prazer de fazê-lo, mas
estimulando os alunos para tais ações.
Para uma pessoa de outras áreas que não seja a música, tais atividades podem
parecer muito infantis ou sem sentido, pensam que tais atividades são somente
brincadeiras, principalmente aquelas pessoas que não tem prática pedagógica. E com
isso percebemos e entendemos que através delas são construídas as bases para
compreensão futura dos conceitos musicais mais elaborados. Para interpretar uma
música por exemplo, é importante e necessário que a criança tenha o conhecimento das
notas na pauta, altura, saiba ler os ritmos no que diz respeito a duração, consiga manter
54
um pulso constante, consiga reconhecer o andamento e a hora de tocar ou cantar,
reforçando mais ainda no pensamento que esses elementos vividos através dos jogos e
brincadeiras não tenham somente haver com o aprendizado musical em si, mas também
com uma boa estimulação psicomotora.
Em uma atividade que realizamos em nossas aulas, procuramos trabalhar a
confiança que a criança tinha que depositar na outra, pois, nessa atividade o objetivo
também era de desenvolver a percepção auditiva e motora. Um aluno teria que escolher
um instrumento de sua escolha e para isso disponibilizamos alguns instrumentos
percussivos como pandeiro, ganzá, clave, caxixi. A atividade era feita em duplas, onde
um aluno ficaria vendado, esse aluno seria o conduzido, e um aluno ficaria com o
instrumento, sendo esse aluno.
O aluno com instrumento apresentaria o som do mesmo para quem ele iria
conduzir, este por sinal teria que memorizar o som que teria que seguir. Fizemos três
duplas, para causar certa dificuldade para que o aluno que estaria vendado e que tem
que seguir o seu som, precisaria de uma maior concentração pra fazê-lo. O nome dessa
atividade era “seguindo o som”, a atividade se tornou muito dinâmica e prazerosa pois
todas as crianças ficavam ansiosas esperando a hora de sua participação. O revezamento
era feito entre as duplas, o aluno que antes conduzia tocando o instrumento agora
passaria a ser o conduzido, usando a venda nos olhos e ficando totalmente dependente
do seu coleguinha que agora conduzia e tocava o instrumento.
Figura 20 Seguindo o Som
55
Figura 21 jogos e duplas de seguir o som
Percebemos que todos de modo geral conseguiam seguir o som, é claro que cada
um com seu ritmo próprio e movimentação cautelosa por parte de alguns, pois não
estavam acostumados a andar de olhos vendados ou fechados, tendo neste momento que
confiar no colega que estava conduzindo o som.
Figura 22 Seguindo o Som
Muito interessante ficou esse jogo, pois a hora se passou em ao final da aula todos
queriam continuar com o jogo que se tornou uma forma de aprender brincando. Com
certeza conseguimos deixar na memória das crianças os sons dos instrumentos usados
ali naquela aula, sabendo com a certeza de que em qualquer momento conseguiriam
identificar os sons dos instrumentos utilizados nesta atividade e também que eles
poderiam naquele momento confiar uns nos outros.
56
CONCLUSÃO
O objetivo da educação musical é musicalizar, ou seja, tornar um indivíduo
sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas
de índole musical.
A música pode, ao penetrar no homem, romper barreiras de todo tipo, abrir canais
de expressão e comunicação, e induzir a modificações significativas na mente e corpo.
Paulo Freire (1996), certa vez, disse: “ai de nos educadores de deixarmos de sonhar
sonhos possíveis”. Sim esse sonho se tornou possível, pois conseguimos através dá
musica quebrar uma visão marginalizada que o musico militar, exala ao longo de muito
tempo, de beberrões e de mal formados culturalmente, pois, sim hoje através da busca
do conhecimento podemos estar contribuindo com o crescimento do individuo como ser
pensante e reflexivo, através de um ambiente rico e farto de musica e de saberes, pois
com o inicio desse projeto, enxergamos o universo de coisas que nesse ambiente
podemos proporcionar para aqueles que assim desejarem e buscarem. Atualmente nas
bandas militares encontramos músicos e profissionais na área de educação do mais alto
nível acadêmico, dotados de boa vontade e conhecimento.
Podemos então concluir que esse trabalho nos proporcionou um meio de
contribuir com a aplicação do conhecimento que estamos indo buscar dentro das
universidades, não buscando o conhecimento apenas para si mesmo, mas para aplicar e
transmitir nesse espaço tudo aquilo que temos para ajudar na formação e no crescimento
de nossas crianças.
É um trabalho que está apenas no começo, ainda se tem muito a crescer, pois
precisamos nos organizar quanto ao nivelamento das idades dos alunos, quanto ao nosso
espaço que utilizamos para as nossas atividades, como também a necessidades de
pesquisar muito mais sobre métodos e sua aplicação pois o importante não é o método
mas ter método através das reflexões e pesquisas.
A música é importante para formação de todos, realmente a música pode ser um
instrumento importante para se aprimorar a comunicação, com muita frequência assume
aspectos de recreação. O aluno através da musicalização tem a possibilidade entrar em
contato consigo mesmo, no momento em que se depara com os obstáculos e conquistas
do fazer musical. Dessa maneira, encontra-se diante da possibilidade de trabalhar de
forma objetiva suas dificuldades e limitações; de descobrir nesse processo suas
capacidades e talvez perceber que o limite pode ser a mola propulsora para sua
57
realização pessoal, seja ela musical ou de outra natureza, fazendo disso a verdadeira
contribuição da educação musical no processo do desenvolvimento humano.
Conclui que esse trabalho foi fonte de crescimento profissional e pessoal, e como
professor atuante desse projeto de musicalização infantil, busquei conhecimento através
de pesquisas em livros, internet, debates e práticas, me dando possibilidade de muitas
experimentações e vivencias, onde, pude enxergar de maneira ativa o que funcionou e o
que não deu certo, isso levando em consideração que as aulas que achei que não
funcionaram muito bem naquele momento, tentar reescreve-las e aplica-las novamente
já com a reflexão daquilo que percebi que não funcionou.
Entendi que os alunos vão adquirindo a confiança aos poucos e essa questão da
confiança é algo que devemos valorizar muito, pois através dessa confiança podemos e
conseguimos ter uma resposta e uma aproximação com mais reciprocidade dos alunos,
que nos olham durante algum tempo como um estranho, nos fazendo a partir daí do
ganho da confiança, como “igual”, mas com caráter de líder, não por imposição e sim
pela conquista.
Argumento que a educação de crianças pequenas inclui todas as atividades ligadas
à proteção e ao apoio necessário ao cotidiano de qualquer criança, como também a
aquisição de diversos tipos de habilidades, entre as quais estão aquelas necessárias ao
desenvolvimento cognitivo, afetivo e social.
Entendi que as praticas são diárias, pois os alunos que estão nesse projeto a cada
semana me proporcionam um novo desafio, na busca de elementos que eles entendam e
utilizem para toda a vida que tiverem. Ministrando aulas, não apenas por simples ato de
obrigação ou de imposição, pois se trata de uma atividade atribuída a minha função
enquanto musico militar, mas sim pelo fato de poder através da música elevar e
enriquecer o conhecimento musical e cultural desses alunos que a toda semana sem
obrigação e sim por satisfação e vontade voltam as aulas semanalmente, crescendo a
cada semana através da arte e da musica, adquirindo conhecimento e vivencias que os
pais de muitos deles não tiveram a oportunidade de usufruir.
Muito se tem a fazer para que chegue o ideal do funcionamento desse projeto,
sabemos que é um processo de construção e sempre pensando na melhor maneira de
fazê-lo, mas também satisfeitos pelos resultados e pelo crescimento do projeto está se
dando junto com o crescimento dos alunos, que são o principal motivo e objeto direto
de nosso trabalho e confiantes na luta dos resultados positivos na espera que ele
acontecesse.
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Por fim venho concluir que todas as experiências vividas nessas aulas de
musicalização infantil em ambiente militar, sem caráter rígido de um quartel, onde
sabemos que devido a base que norteia esse sistema é a disciplina e a hierarquia, usamos
esses dois pilares de maneira sutil e sem imposição. Todos os resultados e propostas no
primeiro pensamento do início desse projeto e atividade foram muito além das
expectativas por parte dos mentores e criadores desse projeto, que era aproximar e
contribuir e expandir a função da banda de música do exército, em especial a banda do
exercito de Natal, que é ser a relações públicas do exército em relação a sociedade,
trazendo e levando cultura e arte a população e as nossas crianças, que serão os futuros
cidadãos brasileiros, formadores de opinião e dirigentes do nosso país.
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