Observatriosmodosdeconhecer 1Observatorieswaysofknowing
PaulaBessaBrazObservatriodeGovernanaMunicipaldeFortaleza
Este artigo se prope a conhecer modelos e orientaes brasileiras de observatrios sociais, e surge principalmente da necessidade de compreender a atuao do Observatrio de Governana Municipal de Fortaleza em relao a essas experincias. Para tanto, fizemos um breve levantamento a fim de obter um panorama geral e, em seguida, elaboramos tipologias que sistematizam essas experincias de observatrios encontradas. Iniciamos, ento, uma discusso sobre como o Observatrio de Governana Municipal de Fortaleza pode se associar a essas tipologiasedequeformaissoseexpressanasatividadesquedesempenha.Palavraschave:Observatrios.Governana.Tipologias.This paper aims to know social observatories in Brazil, their models and guidelines. It comes from the need to understand the operations of the Observatrio de Governana Municipal de Fortaleza compared to other experiences. Thereby, a short research was made to come up with a sample of these experiences, from which we developed typologies and an overview. Then, we discuss how the Observatrio de Governana Municipal de Fortaleza relates itself and its activitiestothesetypologies.Keywords:Observatories.Governance.Typologies.Apresentao
Discutir a concepo de um Observatrio, tarefa qual este paper se prope, bastante
desafiador. O processo de elaborao conceitual que, sem dvida, no se encerra nos resultados
que obtivemos , foi orientado por alguns questionamentoschave, como: o que so, de fato,
observatrios? Em qu estes diferem de laboratrios ou grupos de pesquisa? Como se organiza
seu corpo profissional? Que observatrios podemos identificar em um contexto nacional? Quais
as temticas s quais eles se voltam e como atuam sobre elas? Como elaborar tipologias que
contemplem as experincias de observatrio que encontramos? Por fim, como podemos
compreenderoObservatriodeGovernanaMunicipaldeFortalezaapartirdessasexperincias?
1 Este trabalho um excerto do artigo Observatrios concepes e modos de conhecer produzido como atividade de estgio para a Diretoria do Observatrio, no Instituto de Planejamento de Fortaleza, finalizado em Junho de 2015. Sua elaborao s foi possvel graas superviso atenta e criteriosa de Jorge Laffitte (Diretor do Observatrio) e especial contribuio de Daniel de Castro, Ellen Garcia, Graa Lessa e Joo Miguel Lima durante todo o processo. Essetrabalho,nessesentido,detodaaequipedoObservatrio.
Com essas questes em mente, organizamos nossa pesquisa em quatro momentos:
inicialmente, buscamos na literatura cientfica algumas definies conceituais de Observatrio
aqui, ainda referentes a diversas reas do conhecimento (cincias naturais, sociais e da sade, por
exemplo). A pesquisa tambm procurou entender o contexto de surgimento desse modelo de
organizao de pesquisa, nacional e internacionalmente, para melhor situar suas caractersticas
centrais e verificar o que permanece ou no nas experincias atuais. Compreender as
circunstncias nas quais os primeiros observatrios foram sendo desenhados entender, tambm,
elementos que os distinguem dos demais instrumentos de pesquisa, como laboratrios ou grupos
depesquisa.Dequestamosfalandoquandonosreferimosaobservatrios?
Em um segundo momento, realizamos um levantamento e discutimos a possvel
construo de alguns modelos segundo a institucionalidade desses observatrios, relacionandoos
s funes por eles articuladas e s temticas s quais eles se voltam. Esses enquadramentos nos
permitem pensar a elaborao de uma definio geral, que retoma a discusso sobre Observatrio
de Governana em um terceiro momento: nesse contexto, o que seria um observatrio de
governana? Procurando responder a esse questionamento, elencamos algumas experincias cuja
abrangncia se aproxima, em parte, de uma proposta de Observatrio de Governana, e
discutimos os conceitos de governana e governabilidade. Interessanos delimitar as
especificidades do Observatrio da Governana Municipal de Fortaleza frente aos demais e, a
partirdessaconcepo,apresentarsuaspropostasdeatuao.
Opesmetodolgicas
Encontramos na literatura cientfica algumas definies que contribuem para responder a
essa pergunta. De forma breve, Kirsch (2004) traz uma reflexo acerca do isolamento
enquanto caracterstica comum aos laboratrios, representado seja na exigncia de um ambiente
esterilizado em laboratrios mdicos, seja em um pretenso isolamento social em laboratrios
sociais. Conclui: Esses laboratrios surgiram como ambientes de concentrao de trabalho
cientfico e tcnico em contextos sociais especficos (KIRSCH, 2004), voltados
fundamentalmente para a produo de conhecimento cientfico. Em contrapartida, os
observatrios possuem referenciais de ordem prtica na produo do conhecimento tanto os
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observatrios naturais como os observatrios que aqui tratamos por sociais. Beuttenmuller
(2007) assinala, em sua dissertao de mestrado, que um aspecto em comum entre um
observatrio astronmico e um observatrio de polticas pblicas, por exemplo, o carter
prtico de suas atividades de pesquisa e observao. Ainda que o termo observatrio possa
sugerir uma atitude de distanciamento ou uma certa passividade, a orientao de seus objetivos
no sentido de uma atuao prtica desloca suas atividades para alm da observao em si. Em
concordnciacomessaperspectiva,Debordeaux(1996)constataqueosobservatriossociais[...] tm por objetivo amenizar as insuficincias do sistema de informao e coleta de dados existente, mas orientado especificamente para a produo de uma informao operacional, til ao, isto , integra uma dimenso estratgica, e no apenas a produo de conhecimento. [...] Definiremos, portanto, a observao como um tipo de informao mais prxima das preocupaes dos diretamente envolvidos e dos responsveis por polticas pblicas (DEBORDEAUX, 1996,p.15)
Embora no consideremos que a constatao de Debordeaux componha uma definio
completa de observatrios sociais, interessante contrastla ao que se definiu anteriormente
comolaboratriosegruposdepesquisa,e,assim,explorarasdiferenasentreeles.
De fato, a perspectiva de uma orientao prtica das atividades de pesquisa dos
observatrios esboada desde o seu surgimento. Desconsiderando observatrios astronmicos,
cuja origem remonta antiguidade, os observatrios contemporneos tm sua origem associada,
embora muito vagamente, s estaes de campo desenvolvidas nos Estados Unidos durante a
primeira metade do sculo XX, voltadas para a coleta de dados primrios, como traz
Beuttenmuller (2007). A coleta de dados era seguida de anlises cientficas voltadas para as reas
de cincias naturais, principalmente a biologia, identificando irregularidades e apontando
possveis solues. Limitamonos, entretanto, origem dos observatrios sociais, em funo das
especificidades que esse recorte temtico implica em relao s demais reas do conhecimento.
Nesse sentido, os primeiros estudos de campo que podem ser associados a observatrios sociais
foram as pesquisas em ambientes urbanos, iniciadas por instituies acadmicas durante a
dcada de 1970, tambm nos Estados Unidos. Essa rede de instituies se articulava em torno da
National League of Cities: Urban Observatory Program (1977), e teve como primeiro estudo a
realizao de um survey sobre as atitudes dos cidados em relao a governos locais em
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determinadas cidades. Para esses observatrios urbanos, a coleta e anlise de informaes
sociocomportamentais se sobrepunha s informaes relativas ao meio fsico ou natural, pois
interessavaos conhecer a relao das populaes urbanas com a cidade e com o governo local.
Podese ressaltar, tambm, a perspectiva de uma anlise comparativa, empreendida por sua
organizaoemrede.
No Brasil, as primeiras experincias de observatrios datam da dcada de 1990, como
assinala Grau (2000), relacionadas fundamentalmente ao processo de redemocratizao pelo qual
o pas passava. Seu surgimento foi paralelo ao aparecimento de instituies que se voltavam
manuteno e fortalecimento da democracia, principalmente em relao participao da
sociedade civil e ao controle social dos governos municipais. A criao de leis de acesso
informao, por exemplo, foi de grande importncia para o desenvolvimento dos observatrios
noBrasil.
H uma tradio na produo cientfica que estuda as trajetrias de observatrios
iberoamericanos de agrupar as experincias de observatrios em dois grandes conjuntos que
comportam uma grande diversidade de modelos. Como assinalam Albornoz e Herschmann
(2006), h dois enfoques primrios: um primeiro grupo, que tido como articulador de cidadania
e a partir do qual se realizam atividades de monitoramento fiscal o chamado observatrio
fiscal e um segundo grupo, que se associa colaborao para intervenes e formulaes de
polticas pblicas conhecido por observatrio think tank. Essa segunda concepo
caracteriza,segundoosautores,umtipodeobservatrioque
[...] pretende articular as suas pesquisas e intervenes com a elaborao de polticas pblicas, atravs da construo de diagnsticos, avaliando o comportamento de um ou mais setores e/ou planejamento de projetos. Para a implementao dessas atividades, os coordenadores desses organismos dispe de indicadores e ferramentas metodolgicas, de carter quantitativo e qualitativoEm geral, este tipo de observatrio est inserido na prpria estrutura do aparato estatal e, portanto, financiado com recursos pblicos. (ALBORNOZ HERSCHMANN, 2006,p.6)
Essa diviso entre observatrios fiscais e observatrio think tank tornouse bastante
clara durante o levantamento feito, embora essa delimitao por funes seja apenas uma das
formas de conhecer e acessar a atuao de observatrios. A proposta de definio de
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observatrios sociais elaborada pela National Science Foundation em 2006, que Beuttenmuller
(2007) nos apresenta, tambm traz um conceito que nos serviu de base para pensar as dimenses
analticasaseremutilizadasemnossolevantamento:
[...] um observatrio tem a pretenso de colaborar para a transformao de sua rea temtica, atuando: no desenvolvimento de novas tecnologias de monitoramento na manuteno de uma rotina de monitoramento, que facilite a identificao de processos bsicos e o desenvolvimento de novas teorias, modelagens e capacidade de realizar prognsticos, alm de subsidiar um gerenciamento que seja adaptvel de processos de tomada de deciso na criao de um centro de excelncia em monitoramento, anlise de dados e simulao, que funcione como catalisador da evoluo da pesquisa cientfica na rea emquesto(BEUTTENMULLER,2007,p.5657)
Ao determinar como finalidade do observatrio a transformao da rea temtica a que
ele se associa, so listadas as diversas atividades que seriam caractersticas da atuao dos
observatrios. Sabendo que estas so caractersticas pensadas de forma generalizante e
profundamente associadas a uma experincia especfica de observatrio (a do contexto
estadunidense), buscamos identificar como (e se) essas aes se manifestam em observatrios no
cenrio brasileiro, tendo em vista os diferentes contextos que caracterizam esses observatrios
desde o seu surgimento. Que tipos de observatrios existem no Brasil? Que temticas eles
abrangem? Que funes desempenham? Como se organizam? Como pensam suas atuaes e
como atuam? Essas, dentre outras que foram surgindo no processo, foram as questes que
nortearamonossolevantamento,quedetalhamosaseguir.
Na tentativa de construir um quadro geral de experincias de observatrio em contexto
nacional, realizamos um levantamento que, longe de alcanar a totalidade de observatrios
existentes, procurou dar conta da variedade com que se apresentam. Explorar a diversidade de
observatrios nos permite identificar caractersticas heterogneas relativas a: estratgias
epistemolgicas (como observa?), objeto de observao (o qu observa?), estrutura e
metodologia de trabalho, objetivos, funes, transferncia sociedade, institucionalidade, dentre
outras. Dessa forma, so muitas as categorias a partir das quais se pode conhecer diferentes
observatrios.
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Para fazer, portanto, um melhor estudo da amostra que obtivemos, elaboramos tipologias
analticas que nos permitem construir modelos de observatrios segundo critrios especficos. A
elaborao desses tipos ideais um recurso metodolgico que facilita a compreenso de um
fenmeno a partir da generalizao ou exacerbao de aspectos encontrados na realidade. Isto ,
construmos modelos que nos auxiliam na compreenso das diferentes experincias de
observatrios no Brasil sem que tenham equivalentes estritamente idnticos na realidade. Os
modelos construdos, que apresentamos logo em seguida, foram organizados em funo da
institucionalidade dos observatrios por uma opo metodolgica. Mas, a partir deles, discutimos
as demais categorias a que se associam, como funes, temticas e at mesmo estruturao do
corpo profissional. Na tabela 1, esquematizamos os modelos de compreenso e as caractersticas
relativassuaestruturao.
Tabela1:Modelosdecompreenso
Na coluna de orientao, listamos o sentido da atuao do observatrio, independentemente da
sua temtica. Em equipe, pensamos na estrutura de um corpo profissional que varia entre mais
profissionais especializados e menos profissionais especializados, dedicados rea temtica em
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que o observatrio atua. No eixo da sociedade civil, ponderase em que medida a sociedade
civil faz parte ou atua nas aes do observatrio. A coluna de agenda indica, segundo a
institucionalidade, as pautas e aes a que se voltam os observatrios. No eixo de
sustentabilidade, pensamos nas condies de manuteno do observatrio e, por fim, no item de
interveno, indicamos em que medida o observatrio pensa sua atuao frente temtica
observada. A partir dessas categorias, compreendemos que um observatrio melhor definido
como: uma entidade de corpo tcnico mais ou menos especializado que se dedica a uma temtica
de atuao e realiza acompanhamento de fenmenos do tempo presente para produo de
informao/conhecimento, com diferentes nveis de abertura para a sociedade civil, a fim de
influenciar aes e decises e/ou para antecipao de cenrios, produzindo algum tipo de
interveno.
Resultadosediscusso
Em nossa pesquisa preliminar, foram 147 observatrios levantados, com concentrao na
regio Sudeste. Na tabela abaixo organizamos a nossa amostra segundo as temticas a que se
associam os observatrios encontrados. Chamamos de Temticas GuardaChuva aquelas que
podem abrigar uma ou mais temticas especficas em seus eixos de atuao e pesquisa, mas que,
entretanto,possuemumdirecionamentoquenoserestringeaessecontedo.
Tabela2:Temticasdosobservatrios
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A temtica especfica Controle Social e finanas pblicas, ressaltada pelo asterisco,
merece uma rpida considerao. O nmero expressivo de observatrios voltados para esse tema
pode, a princpio, nos indicar uma variedade de experincias de observatrios de iniciativa local
(veremos adiante). Entretanto, o predomnio dessa temtica especfica em relao s demais se
d em funo da distribuio em rede de um mesmo observatrio: O Observatrio Social do
Brasil, que conta com 95 unidades articuladas nacionalmente. Portanto, no constituem
experincias diferentes de um mesmo modelo ou de uma mesma temtica, mas a mesma
experinciadeobservatriolocalizadaemdiversosestados.
Organizando nosso levantamento com base nos modelos de compreenso que
construmos, temos 24 observatrios que se associam ao modelo universitrioacadmico, 15 que
se associam ao modelo pblicoinstitucional, 107 ao modelo de iniciativa local (se
considerarmos toda a rede do Observatrio Social do Brasil), e 1 ao modelo de rede global. No
grfico1podemosvisualizaressadistribuio.
Grfico1:Distribuiodosmodelosdeobservatrionolevantamento
Dentre as atividades listadas por esses observatrios, traamos algumas funes mais
comuns para chegarmos, portanto, a uma definio operacional. As funes variam desde
atividades de produo e coleta de dados, at atividades de formao, assessoria e produo de
diagnsticos ou prognsticos. Entretanto, as que se mostram mais frequentes so as atividades de
divulgao e difuso, pesquisa e monitoramento da sua respectiva rea temtica. So, portanto,
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funesquepodemserconsideradastransversaisatodososmodelos,emumavisomaisampla.
Como, a partir da discusso dessas categorias, poderamos ento situar um observatrio
de governana? Suas funes, seus objetivos e sua estrutura so coincidentes a essas
apresentadas anteriormente?, e, nesse contexto, como compreender o Observatrio da
Governana Municipal de Fortaleza? Em qu este difere das demais experincias, e porque?
Essesquestionamentosdoincioaoterceiromomentodenossoartigo.
Para indicarmos, inicialmente, uma definio operacional de um observatrio de
governana, buscamos em nossa amostra alguns exemplos de observatrios que poderiam se
aproximar de possveis temas que um observatrio de governana pautaria. Porm, falar de um
observatrio de governana sem problematizar o que se entende por Governana nos afasta de
umacompreensooperacionaldoque,defato,esseobservatrio.ComotrazZapata(2009),
importante, no entanto, no confundir o conceito de governana com o de governo. O conceito de governana antecipa e ultrapassa o de governo. Governana contempla a capacidade institucional na gesto pblica, com a participao de diferentes atores, ou seja, governo, agentes do mercado e sociedade civil. Estamos falando de um conceito que contempla a articulao de interesses de atores pblicos e privados, com a perspectiva do interesse coletivo, visando ao longo prazo. (ZAPATA,2009,p.2)
Governana associase competncia de um governo em tomar decises e realizlas
com efetividade, articulando distintos setores da sociedade no processo. Nesse mesmo raciocnio,
Amadeu Sol (2001) caracteriza a governana pela manuteno de mecanismos que garantam a
prestao de contas (accountability) pela capacidade de elaborar e executar polticas adequadas
e por garantir uma boa administrao dos recursos pblicos por parte do Estado e das instituies
que regem as relaes econmicas e sociais. Essas caractersticas compem a noo de boa
governana.
Sol problematiza, tambm, em seu artigo, a distino entre governana e
governabilidade. Para ns, essa distino importante para sabermos o que um observatrio de
governana no . Governabilidade aqui entendida por um conjunto de condies favorveis ao
exerccio do poder por um governo. Esse conceito se associa relao entre os poderes e ao
prprio sistema partidrio, na garantia da manuteno de uma estrutura de sustentao para o
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exercciodopoder.
O enfoque temtico que realizamos, ilustrado na tabela abaixo, procurou identificar
dentre os observatrios levantados algumas temticas que seriam comuns a um observatrio de
governana. So trs temticas: Planejamento e governo, Questes urbanas e movimentos sociais
e,porfim,Anlisedepolticae/oupolticaspblicas,listadasnaTabela3.
Tabela3:Enfoquetemtico
Nas tabelas, indicamos tambm os modelos aos quais esses observatrios se associam.
interessante notar a distribuio desses modelos em relao s temticas, compondo um quadro
decompreensoemquesesituamosobservatrios.
Os observatrios voltados para Planejamento e Governo se adequam ao modelo
pblicoinstitucional aproximandose das caractersticas de monitoramento de aes pblicas e
foco na tomada de decises. J os de anlise de poltica/polticas pblicas tm o modelo
universitrioacadmico como mais expressivo, enquanto os voltados para as questes urbanas
dividemseentremodelosdeiniciativalocaleuniversitrioacadmico.
No estariam todas essas temticas associadas a um conceito de governana? Ento
porque um observatrio de governana no se resume somente a essas estratgias de pesquisa e
monitoramentojrealizadasporessesobservatriosemnossoenfoquetemtico?
Embora essas atividades principalmente as voltadas para polticas pblicas,
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planejamento e questes urbanas estejam associadas noo de boa governana, um
Observatrio de Governana possui um direcionamento bem mais especfico. Consiste em um
dispositivo que gera conhecimento, monitora as aes dos servios (no caso, municipais) e
responsabilizase tambm por comunicar seus resultados ou efeitos. A partir do monitoramento
dos servios prestados sociedade, analisa a efetividade dessas aes e desenvolve diagnsticos
e/ou prognsticos. A produo do conhecimento voltada, fundamentalmente, para a ao e
inovao em polticas pblicas. Alm disso, deve dispor tambm de ferramentas e produtos que
deem melhores condies gesto para a tomada de decises. Nesse sentido, a antecipao de
cenrios associase a uma indicao de situaes de alerta e formas de evitlas um
gerenciamento de crises , mas no s tambm pode ser associada a uma atuao propositiva,
identificandocenriosdesejveisetraandoformasdealcanlos.
Consideraesfinais
Tendo em vista as particularidades apresentadas, um Observatrio de Governana
integraria em suas pesquisas tanto mtodos quantitativos quanto qualitativos estes de maior
relevncia na pesquisa aplicada , fazendo uso de diferentes estratgias de anlise e cruzamento
de dados e buscando elaborar cenrios antecipativos. Uma caracterstica que tambm o distingue
a perspectiva de continuidade e de interao contnua com aqueles que esto diretamente
envolvidos. A composio da equipe pensada de forma operacional, sendo constantemente
trabalhada a partir de seminrios, formaes e workshops temticos. A dimenso da difuso
tambm se mostra importante na estruturao do observatrio, que deve gerar canais de dilogo e
associarse em rede com demais entidades de pesquisa avaliao, tanto para a contribuio de
pesquisas como para o compartilhamento de dados. A circulao de dados e pesquisas, bem
como dos resultados das aes e decises tomadas essencial para que o observatrio crie um
fluxo de troca de conhecimento e experincias, avalie o seu prprio contexto de atuao e possa
tornlomaiseficiente.
O Observatrio da Governana Municipal de Fortaleza pensado a partir desses
caminhos de atuao, que se estruturam em quatro eixos: os dois eixos centrais so os Estudos e
Pesquisas Aplicadas e a Sala Situacional (cuja atuao abordaremos melhor em breve). A esses
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dois eixos se associam o eixo das formaes e o da Tomada de decises, como esquematizamos
abaixo:
O Observatrio da Governana Municipal de Fortaleza pretende atuar com
monitoramento, mas de forma qualitativa. Por isso as pesquisas aplicadas, associadas ao aparato
tecnolgico da Sala Situacional, so to centrais na estrutura do observatrio, pois compem
instrumentosparaarealizaodeummonitoramentoqualitativo.
O fluxograma ilustra o processo de atuao do observatrio com finalidade no auxlio
tomada de decises. As setas em vermelho, entretanto, indicam que no s os dados fornecem
condies para a boa tomada de decises, mas que esta tambm cria suas prprias demandas de
dados e pesquisas, para atuao em situaes especficas. O Observatrio da Governana
Municipal de Fortaleza procura, portanto, apoiar a gesto na tomada de decises a partir de:
produo, anlise e difuso de informaes sobre as necessidades, demandas e tendncias dos
setores sociais emergentes na Regio Metropolitana de Fortaleza deteco de fenmenos ou
aspectos emergentes relativos aos servios municipais realizao de estudos e pesquisas
prospectivos desses fenmenos ou aspectos emergentes anlise da efetividade das polticas do
Municpio para com os usurios difuso de boas prticas e iniciativas na anlise da boa
governana municipal em relao satisfao do cliente com os servios municipais elaborao
de quadros comparativos das polticas de servios pblicos municipais e, por fim, contribuir para
o conhecimento e intercmbio de informao com demais observatrios nacionais e
internacionais. A respeito desse ltimo item, importante pensar a articulao em rede. A
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dimenso de intercmbio entre observatrios imperativa para a sua sustentabilidade e
atualidade.
A sala situacional constitui uma ferramenta tecnolgica que, como indicamos no
fluxograma acima, tanto um mtodo quanto um produto do observatrio, estruturada tanto em
um ambiente fsico como em ambiente virtual. Seu ambiente virtual um dispositivo que
permite o agrupamento de dados quantitativos e a anlise de fenmenos a partir do trabalho
sobre eles, visualizado em ambiente fsico a Sala Situacional propriamente dita, em que esses
dados possam ser acessados e cruzados para debate e tomada de deciso. A articulao de Salas
de Situao Setoriais promove uma integrao dos dados produzidos em demais setores,
secretarias e/ou rgos interessados em organizar seus dados em um software eficiente. Esse
software permite a criao de formulrios, moldados conforme se queira preenchlos, e a
posterior organizao desses dados em grficos e planilhas que permitam uma melhor
visualizao de seus produtos. A Sala Situacional o ponto em que as demais salas de situao
setoriais convergem para a produo de dados precisos e prontos para serem analisados,
trabalhadoseverificados,naproduoeavaliaodeindicadores.
S podemos, entretanto, compreender a atuao do Observatrio frente a seus objetivos
se conhecermos os instrumentos de que ele se vale para exercer suas funes. Na tentativa de
pensar o como? das suas atividades, retornamos, ento, ao tema central da questo
metodolgica: como as estratgias de pesquisa colaboram para estabelecer uma relao de maior
qualidadeetransparnciaentreogovernoeossetoressociaisenvolvidos?
Antes de mais nada, preciso determinar: que setores so esses? Em um contexto social
complexo, existem demandas explcitas e necessidades fragmentadas. Priorizar determinados
segmentos imperativo para compreender as distintas formas com que os servios municipais
so utilizados, avaliados e at mesmo oferecidos. O que justifica a priorizao de alguns setores
sociais, e como isso dialoga com as questes que envolvem uma boa governana? Como
podemos, tendo em vista essas premissas, situar as atividades do Observatrio de Governana
Municipal de Fortaleza? Associado responsabilidade de auxiliar a gesto municipal na tomada
de decises est o desafio de identificar os usos e os alcances dos servios municipais e
projetlos de forma que melhor atendam populao visada, fornecendo solues
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fundamentadas em pesquisas e dados coletados, antecipando cenrios e prevendo situaes a
partir dessa troca. Para tanto, preciso antes que o Observatrio conhea os rgos da prefeitura,
os indicadores que produzem e os objetivos que buscam alcanar em suas aes, tendo em vista
o planejamento estratgico municipal. Adentramos, aqui, em uma questo mais especfica do
trabalho do Observatrio de Governana Municipal: de que forma feito o trabalho com os
dadosecomogarantirasuaconsistncia?
Primeiramente, preciso garantir um modelo de armazenamento e uma poltica de
segurana para os dados, alimentando as Salas de Situao Setoriais (como demonstramos no
tpico 3). Essa normatizao, que garante a confiabilidade das informaes, chamada de
sanitizao dos dados. A partir disso, possvel avaliar qualitativamente as informaes
fornecidas, analisando a consistncia dos dados e de determinados indicadores frente aos
objetivos estratgicos, verificando se so indicadores adequados. Em seguida, possvel cruzar
dados de diferentes rgos e secretarias, produzindo um novo olhar sobre questes estratgicas.
Por fim, a formatao final dos dados em uma apresentao visual analtica organiza essas
anlises e cruzamentos e, assim, d suporte tomada de deciso. Esse processo descrito um
trabalho de governana de dados. A integrao de dados de rgos e secretarias e o trabalho
com os indicadores atravs do acesso base de dados expressam a importncia das salas de
situao setoriais nesse processo, e so atividades centrais para o monitoramento do plano
estratgicomunicipal.
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