ECONOMIA COMPORTAMENTAL
Roberta MuramatsuEmail: [email protected]
Rumos e Impasses para Arte e Ciência Econômica
Palestra UFABC– 06 de outubro de 2014
Motivação:
O termo “economia comportamental parece ser um pleonasmo ou redundância...? (Simon, Palgrave, 1997)
No cerne da economia comportamental reside a convicção de que aumentar os fundamentos psicológicos da análise econômica melhorará o campo da economia ...gerando assim melhores insights teóricos, melhores previsões e melhores políticas. (Camerer and Loewenstein, Advances, 2004)
Por que não é pleonasmo?
Definição de Robbins (1932/5) – perspectiva a priorista e separa positivo e normativo
Friedman (1953) consolida tradição positivista na economia
Allais (1953), Katona (1954), Simon (1955) divergem e buscam processos/mecanismos psicológicos subjacentes ao comportamento
Nova economia comportamental (EC) Decola na década de 1980 (Kahneman,
Tversky, Thaler, etc). Inspiração em Simon, Edwards
Fruto da revolução cognitiva e avanço experimental
Retórica reformista
Minha narrativa sobre rumos e impasses
Tradição endossa dicotomia positiva-normativa
Porém, fatos e valores não se misturam nunca?
Economia é arte (preceitos/ normas) e ciência (leis sobre fenômenos que existem)
EC perambula entre o positivo e o normativo
Rumos da EC: explicar e prever melhor
Conceito de “racionalidade limitada” inspira modelos informados pela “psi”
Racionalidade plena como otimização/consistência tida como benchmark
Continuação da economia neoclássica ou desvio?
Rumos da EC: explicar e prever melhor Foco nas falhas dos modelos de decisão
individual
Incorporar variáveis psicológicas/heurísticas que explicam vieses e anomalias da escolha racional
Perspectivas para progresso científico
Rumos: Escolha sob risco/incerteza
Kahneman e Tversky (1979) – Teoria da Perspectiva
Alternativa à Teoria de Utilidade Esperada (TUE)
Julgamento e decisão são contexto e percepção dependentes – perda e ganho relativas
Anomalia – efeito moldura (framing)Dilema da doença que pode matar até 600 pessoas
Situação 1: escolher A ou B:- A: 200 pessoas (de total de 600) serão salvas- B: 1/3 de probabilidade das 600 serem salvas e 2/3 de ninguém sobreviver
Situação 2: selecionar C ou D:- C: 400 das 600 pessoas morrerão- D: 1/3 de prob de ninguém morrer e e 2/3 de prob de todas as 600 morrerem
Anomalia: aversão à perda
Julgamentos e decisões dependem das variações da riqueza (status quo)
Utilidade/valor mais sensível a percepção de perdas do que de ganhos
Amantes do risco no domínio das perdas e avessos no dos ganhos.
Anomalia da UE: efeito dotação Kahneman et al (1990)
Alunos receberam canetas e canecas que poderiam ser trocadas.
Disposições a pagar e a aceitar viesadas pela posse dos bens
WTP para caneca $ 2.25 e a WTA foi $ 5,24
Para canetas WTP $1,25 e WTA de $2,50
Anomalia: contabilidade mental - Sit 1. Você comprou um ingresso para a
abertura da Copa do Mundo. Quando você chega, percebe que perdeu o ingresso de R$400. Você compra outro?
- Sit 2. Você chegou no estádio para comprar o bilhete percebe que perdeu R$400 no estacionamento, mas tem dinheiro no bolso. Compra?
Anomalia: contabilidade mental Thaler (1985)
- Você vai a uma loja comprar luminária de $100 e descobre promoção por $75 na mesma loja, mas que está a distância 5 quarteirões da que você foi. Você anda mais?
- E se você for comprar sala de jantar de $1175 e descobrir promoção por $1150? Sua decisão é a mesma?
Anomalia: contabilidade mental Propensão a consumir/poupar é contexto
dependente
Decisões financeiras têm diferentes contas/mapas mentais. Espaço para erros dos agentes?
Disposição a consumir com cartão de crédito é diferente? Lições para finanças pessoais e inclusão
Modelo comportamental:Teoria da Perspectiva:
- EU (xi) = ∑ pi u(xi) – Hipótese tradicional
- EV(xi-r) = ∑ П.pi v(xi-r) – versão comportamental
- v(x-r) é convexa para perdas e côncava para ganhos
ganhosperdas
v(x)
Teoria da Perspectiva é aplicável? Benartzi e Thaler (1997) – Enigma do Equity Premium
Retornos das ações maiores que títulos (difere mais de 4% na média entre 1871-1993)
Por que prêmio pelo risco é tão alto?
Aversão à perda e efeito dotação explicam comportamento dos investidores – sensíveis a contextos das variações das ações
Teoria da perspectiva aplicável? Efeito disposição
Investidores e administradores de carteiras vendem ações vencedoras e retêm perdedoras?
Taxação sobre ganho de K exige liquidar perdas? Por que não ocorre?
Formato S da curva de valor (aversão a perda, efeito dotação)
Teoria da perspectiva aplicável?Julgamento probabilístico viesado
Por que mesmas pessoas jogam e fazem seguros?
Homo sapiens “viesa para cima” probabilidade de eventos raros (mas emocionalmente salientes)
Superestima ataque terrorista e subestima seguro obrigatório de trânsito
Teoria da Perspectiva é aplicável?
Enigmas do comportamento do investidor
Limites para eliminação dos preços distorcidos dos ativos (viés de confirmação, representatividade, disponibilidade)
Agentes diversificam menos do que poderiam (conversadorismo até regional?)
Ações de empresas com IPO de sucesso tiveram desempenho ruim depois. Twitter, p. ex.
Teoria da perspectiva e crise de 2008
Psicologia para compreender elementos da bolha?
Preços dos imóveis explosivos devido a fatores institucionais e comportamentais
Consumidores, investidores e agências de risco revelam heurísticas/ vieses de representatividade e excesso de confiança/ viés para presente
Efeito dinheiro do cassino: tomar risco/ dívida
Rumos: escolha intertemporal
Modelo tradicional (utilidade descontada) não contempla conflito de preferências temporais
Pressupõe racionalidade plena e capacidade de prever utilidades futuras
Planejamos poupar mais, estudar mais, comer melhor, de deixar crianças na escola. Cumprimos?
Rumos: modelo com desconto quase-hiperbólico para conflito temporal U0 (u0, u1,... ut) = u0 + ∑T
t=1 b dtut
0 < β < 1 – parâmeto para problema de auto controle
β<1 desconto entre presente e futuro maior que entre quaisquer períodos futuros (impaciência cai!)
0≤δ ≤ 1 representa valor do futuro vis-à-vis presente
Rumos: compreender escolha no tempo Desconto hiperbólico explica dificuldades de
planejar poupança/consumo alimentos/energia
Problema do auto controle, impulsividade, previsão de utilidades futuras. Procrastinação recorrente!
Somos descontadores ingênuos e/ou sofisticados – demanda por compromisso crível?
Rumos: guinada normativa no sec XXI
Experimentos de campo tornam-se populares
Gross e Souleles (2001):
Americanos alocam $3000 (mediana) am ativos ilíquidos (retorno inferior a 5% a.a)
Porém, possuem $5000 de dívidas em cartão de crédito (juros de mais de 18% a.a).
Rumo normativo: Madrian; Shea (2001) Baixa poupança para aposentadoria como
fruto da procrastinação e efeito do status quo
Regra básica (default rule) é não participar de 401(k)
Poupar percebido como corte de renda (aversão à perda)
Solução: contribuição automática.
Rumo normativo: Programa SMART
Thaler e Benartzi (2004)
• Por que pessoas não aderem ao 401(k)?
• Benefícios futuros altos do plano aposentadoria.
• Hipótese: problema de autocontrole, tendência à procrastinação com manutenção do status quo, desconto hiperbólico e aversão à perda explicam baixa contribuição
Rumo normativa: Programa SMARTExperimento na Phillips Electronics
315 trabalhadores
286 conversaram com um consultor financeiro. Porém, não seguiram plano de aumento da poupança
Pessoas hesitam em poupar hoje, apenas amanhã!
Guinada normativa: Smart e o nudge Save more Tomorrow: proposta de aumento da poupança em 3pp nos próximos aumentos de salário.
Contribuições debitadas automaticamente do informe de rendimento. Cláusula de saída
Taxas de poupança triplicadas em 28 meses (3,5 para 12%).
Experimento inspirou lei de 2004
Guinada normativa: micropoupança
Ashraf et al (2006) – Green Back of Caraga
– Poupança de compromisso SEED ( save earn enjoy deposit)
- Produto sem liquidez: meta de retirada ou tempo de saque
- Poupança dos clientes antigos sobe 82% (12meses)
- Poupança de clientes novos subiu 318%
Guinada normativa: calibrar políticaBertrand et al (2008)
Experimento para calibrar bolsa escola na Colômbia
Transferências bimensais dificultavam manutenção das crianças na escola
Mudança na regra de pagamento: transferência maior no período da matrícula na Colômbia
Sucesso
Guinada normativa: política pública Usar insights da economia comportamental
para proteger consumidores
Alto endividamento inspira regulação e pressão para educação financeira
Atenção aos juros de cartão e pagamento mínimo
Regular mercado de financiamento de casas
Rumo normativo: nudge é necessário? Ineficiência alocativa, pobreza, problemas de
agência individual e coletiva não são exceções!
EC identifica maneiras para ajudar as pessoas com expansão das suas capacitações
Experimentos de campo detectam barreiras internas e externas aos indivíduos
Rumo normativo: desafio à dicotomia“A economia (positiva/ científica) é em princípio independente de quaisquer… julgamentos normativos.(…) A economia é… uma ciência objetiva, precisamente no mesmo sentido das ciências físicas” (Friedman 1953, p. 4)
“ (…) Trabalhar em países em desenvolvimento com experimentos nos faz perceber quanta lacunas existem no mundo, e como intervenções pequenas podem fazer muita diferença. O economista vai extrapola o papel positivo e não se envergonha ao assumir uma posição normativa.” (Duflo 2006, p. 27)
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Rumo normativo: Economista-terapeuta?
Os economistas... deveriam se envolver na discussão de critérios sobre “o que deveria ser/acontecer” e desenvolver instituições que maximizassem a probabilidade de aproximar aquilo que de fato ocorre com aquilo que deveria acontecer. Se isso nos dá a chance de nos transformarmos em economistas terapeutas, nós aceitamos o rótulo com orgulho. (LOEWENSTEIN; HAISLEY 2008, p. 238)
Alguns impasses para Arte
Intervenções leves no contexto decisório para neutralizar efeito dos viéses cognitivos/afetivos
Nudge para as pessoas se comportarem de modo plenamente racional? Possível?
Desafios para liberdade/ autonomia de escolha?
Impasses para a Arte
Podem policy makers identificar as fontes de desvios de racionalidade dos indivíduos e grupos?
Quais são as preferências reais dos agentes? (Des)alinhadas com as dos policy makers?
Intervenções paternalistas são desinteressadas?
Alguns impasses parada Arte
Decisões dos experts podem ser mais frias e calculadas.
Suficientes para maximizaren preferências reais dos agentes?
Implicações éticas do nudge? Falhas governo?
Impasses para Arte
Economia comportamental como “expediente político”
Trilha escorregadia - conhecimento fragmentado
Impasses para ciência econômica
EC envolve ajustes sutis dos modelos tradicionais
Desconto hiperbólico e curva de valor em S como descrições psicologicamente acuradas?
Tratabilidade formal e parcimônica falam mais alto
Integrar com estudo do ambiente é incipiente
Comentário final: um aviso
Se os economistas tornarem-se “normativos”, eles precisam avaliar criticamente suas proposições, uma vez que, como tudo mundo ao redor de um interruptor de luz, eles podem cometer muitos erros. Isso torna a abordagem experimental indispensável, tanto quanto prática como uma ferramenta teórica.
(DUFLO, 2006, p. 27)
Muito obrigada!
Dica de site no Brasil:
www.economiacomportamental.org
Espero que gostem!