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Índice
1 SUMÁRIO ............................................................................................................................... 1
2 ENQUADRAMENTO GERAL .................................................................................................... 2
3 EVENTOS EXTREMOS ............................................................................................................. 2
4 IMPACTES DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ............................................................................ 4
4.1 Impactes observados e projetados em sistemas físicos ............................................... 6
4.2 Impactes observados e projetados em sistemas biológicos ......................................... 7
4.3 Impactes observados e projetados em sistemas humanos .......................................... 8
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 12
Anexo 1 – Eventos extremos ....................................................................................................... 15
1
1 SUMÁRIO
O estudo das alterações climáticas tem reunido e analisado evidências da ocorrência
mais frequente e/ou intensa de eventos extremos. Um evento meteorológico extremo
é raro num dado local e/ou época do ano, tem grande intensidade, duração ou afeta
uma grande área. A ocorrência de um evento meteorológico extremo, ou de vários,
durante um período prolongado, por exemplo, uma estação do ano, permite classificá-
lo como um evento climático extremo. A maior frequência de extremos de temperaturas
altas e de precipitação intensa, em diversas regiões do mundo, são observações que têm
sido ligadas, com maior ou menor confiança, a alterações climáticas com causas
antropogénicas.
Considera-se impactes das alterações climáticas como sendo os efeitos nos sistemas
naturais e humanos, ou seja, no ambiente em geral, decorrentes de eventos
meteorológicos e climáticos extremos, assim como de alterações climáticas globais. A
literatura científica tem reportado a observação de diversos impactes associados às
alterações climáticas, com elevada confiança, destacando-se os seguintes:
em sistemas físicos: 1) redução das massas de gelo (mantos de gelo
continental e glaciares); 2) aquecimento e acidificação dos oceanos; 3) subida
globalizada do nível médio do mar;
em sistemas biológicos: 4) modificações profundas na distribuição e
abundância de algumas espécies, acompanhadas do aumento do risco de
extinção; 5) aumento da mortalidade de árvores com perda de habitats e
redução de reservatórios de carbono;
em sistemas humanos: 6) diminuição do rendimento das colheitas, com
consequências nos preços dos alimentos; e 7) agravamento da
vulnerabilidade e exposição das populações humanas, designadamente do
seu risco de pobreza.
Palavras-chave: evento meteorológico extremo, evento climático extremo, impactes das
alterações climáticas, sistemas afetados (físicos, biológicos e humanos)
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2 ENQUADRAMENTO GERAL
Na parte I do manual do módulo II, relativa à ciência das alterações climáticas,
analisámos conceitos fundamentais e as suas causas (ou forçamentos do clima), com
origem natural ou humana/antropogénica. Neste manual iremos abordar,
essencialmente, o aumento da probabilidade de ocorrência de impactes, quer para
sistemas humanos quer para ecossistemas, atribuídos às alterações climáticas.
À semelhança do manual anterior, continuaremos a recorrer frequentemente às
publicações do Intergovernmental Panel On Climate Change1 (IPCC), entidade que
analisa e sintetiza a literatura e evidências acumuladas pela comunidade científica em
relação às alterações climáticas.
O IPCC destaca que se tem tornado consensual a relação entre a influência
antropogénica no sistema climático terrestre e o aumento da frequência de eventos
extremos. Estes eventos não conhecem fronteiras geográficas, logo, acarretam uma
série de consequências ambientais, sociais e económicas generalizadas por todo o
mundo. Deste modo, requerem monitorização e ações de minimização através de
esforços conjuntos de carácter transnacional.
Neste contexto, as secções seguintes deste manual dedicam-se ao estudo de
eventos extremos diretamente relacionados com as alterações climáticas e os impactes
observados, bem como à descrição de projeções relativamente a cenários futuros.
3 EVENTOS EXTREMOS
As alterações climáticas, quer desencadeadas por fatores naturais quer por fatores
antropogénicos, conduzem a mudanças na frequência e/ou na intensidade da
ocorrência de eventos meteorológicos extremos. Um evento meteorológico extremo é
aquele que é raro num local em particular e/ou época do ano (Cubasch et al., 2013),
geralmente apresenta grande intensidade, duração ou afeta uma grande região. São
exemplos de eventos meteorológicos extremos os ciclones, os tornados, as inundações,
as secas, as ondas de calor, as ondas de frio e os nevoeiros intensos (Stephenson, 2008).
1 Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
3
Estes, e outros tipos de eventos extremos, são brevemente descritos no Anexo 1 deste
manual. Quando se verifica a persistência de um padrão na ocorrência de um ou de
vários eventos meteorológicos extremos durante um período de tempo, como por
exemplo, uma estação do ano, pode-se classificá-lo como evento climático extremo,
especialmente se resultar num valor médio ou total que é, por si mesmo, extremo (por
exemplo, uma seca ou chuvadas intensas ao longo de uma estação).
Naturalmente, as características de um evento meteorológico extremo variam com
o local onde acontecem. A sua ocorrência de forma isolada não pode, atualmente, ser
diretamente atribuída a uma causa antropogénica. Todavia, quando se aplicam análises
estatísticas a dados de parâmetros meteorológicos2, registados durante longos períodos
de tempo, torna-se possível estabelecer relações de causalidade entre certos eventos
extremos e as alterações climáticas globais, com graus específicos de probabilidade3. No
relatório de 2014, o IPCC refere que é provável que haja mais regiões terrestres onde o
número de eventos de precipitação intensa tenha aumentado do que aquelas em que
esse número tenha diminuído.
Outros dados a salientar provêm da World Meteorological Organization4 (WMO).
Por exemplo, a década de 2001-2010 foi a mais quente desde o início dos registos, em
1850 (WMO, 2013a), o que está relacionado com o número recorde de extremos
climáticos com elevado impacte em todo o planeta. Adicionalmente, desde que há
registo, 14 dos 15 anos mais quentes decorreram no século XXI (WMO, 2015).
Em Portugal, em particular na região continental, tem-se verificado uma tendência
para anos mais secos nas últimas décadas e para maiores diferenças na distribuição
regional da precipitação (Lima, Santo, Cunha & Silva, 2013). Ao mesmo tempo, no nosso
país têm-se registado vários novos recordes de temperaturas máximas, com impactes
significativos nas florestas (incêndios), na agricultura, na saúde, entre outros. Alguns
eventos extremos mais recentes encontram-se sintetizados na tabela 1.
2 Como, por exemplo, conjuntos de dados de temperaturas máximas de uma localidade, de volumes de precipitação (geralmente em milímetros) ou de valores de intensidade do vento (em km/h). 3 O IPCC tem usado a seguinte classificação de graus de probabilidade (likelihood): praticamente certo – 99 a 100%; extremamente provável – 95 a 100%; muito provável – 90 a 100%; provável – 66 a 100%; mais provável que improvável – >50 a 100%; tão provável quanto improvável – 33 a 66%; improvável – 0 a 33%; muito improvável – 0 a 10%; extremamente improvável – 0 a 5%; e excecionalmente improvável – 0 a 1%. Adicionalmente, estas probabilidades podem ter associadas a graus de confiança: reduzida, média, elevada ou muito elevada (Mastrandrea et al., 2010, in IPCC, 2014a, p. 37). 4 Organização Meteorológica Mundial.
4
Tabela 1 – Eventos extremos em Portugal desde 2000, com base em dados dos relatórios da WMO (2013a, 2013b, 2014, 2015).
Ano Eventos
2003 Onda de calor extrema que afetou grande parte da Europa, com temperaturas máximas a exceder os 24°C, durante 30 a 50 dias da estação quente. Em Portugal, registaram-se 47,4°C na Amareleja, sendo este, até então, o mais elevado registo de temperatura de sempre no nosso país. Registaram-se acima de 2600 fatalidades nesta estação quente. Esta onda de calor fez-se acompanhar de uma seca severa que afetou a agricultura, a produção de eletricidade e o abastecimento de água, para além de ter estado associada a incêndios florestais violentos. Este foi o ano em que se registou maior área ardida em Portugal, desde que há registos: 425839 hectares (dados do ICNF/MAM, PORDATA, atualizados em 2014-09-30).
2004 Onda de calor que afetou Portugal, bem como o sul de Espanha e a Roménia, em junho e julho.
2005 Seca severa que afetou grande parte da Europa Ocidental durante o verão, tendo sido, em Portugal, considerada uma das piores secas de sempre e tendo-se agravado a ocorrência de incêndios florestais. Também neste ano, a ocorrência de incêndios florestais foi elevada, com 339089 hectares de área ardida registados (dados do ICNF/MAM, PORDATA, atualizados em 2014-09-30).
2008 Uma das piores secas de inverno em décadas.
2012 Também uma das piores secas de inverno: um deficit de 246 mm de precipitação e uma temperatura mínima 5°C abaixo das médias registadas entre 1971–2000. Fevereiro deste ano foi o mês mais seco e, durante o mesmo, registou-se a segunda mais baixa temperatura mínima, deste 1931. Estas condições acarretaram consequências graves para as colheitas agrícolas, fluxos de correntes de água e abastecimento de água.
2013 A onda de calor em julho foi a pior, desde 1941.
2014 O mês de janeiro foi o mais quente em Portugal, desde 1931. Registou-se uma precipitação anual acima da média, tendo sido o ano mais húmido do último quarto de século, em Portugal.
Em suma, a Ciência tem acumulado evidências do aumento significativo de eventos
extremos, os quais se encontram frequentemente associados a prejuízos e perdas
avultadas. Os impactes destes eventos extremos revelam uma vulnerabilidade e uma
exposição significativa dos ecossistemas e de muitos sistemas humanos ao clima (ver a
parte I do manual do módulo V), uma relação que o IPCC (2014a) estabeleceu
estatisticamente, com confiança muito elevada. Importa, assim, analisar esses impactes
com maior detalhe.
4 IMPACTES DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Alterações aparentemente pequenas em parâmetros atmosféricos, como a
temperatura, a pressão atmosférica e a humidade, podem resultar em impactes a vários
níveis nos diversos subsistemas da Terra. Consequentemente, surgiram estudos de
5
impactes especificamente dedicados à identificação e avaliação dos efeitos das
alterações climáticas nos sistemas físicos, biológicos e humanos. O IPCC, na sua quinta
avaliação (2014b), define impactes como os efeitos nos sistemas naturais e humanos
decorrentes de eventos extremos, assim como de alterações climáticas globais (de que
é exemplo o aumento da temperatura média). Referem-se a efeitos, consequências ou
resultados de tais eventos e alterações sobre a vida humana, os seus meios de
subsistência e estados de saúde, economias, sociedades, culturas, infraestruturas e
ecossistemas, sendo que esses efeitos dependem da vulnerabilidade do sistema
exposto.
Os impactes associados às alterações climáticas são frequentemente analisados em
função dos sistemas afetados: físicos, biológicos e humanos, pese embora muitos
efeitos possam ser transversais. Alguns desses impactes estão ilustrados na figura 1.
Figura 1 – Padrões globais de impactes que, nas últimas décadas, se consideram consequência das alterações climáticas, agregados por regiões. Os símbolos indicam categorias de impactes (em sistemas físicos, biológicos ou humanos), a contribuição atribuída às alterações climáticas (elevada ou baixa) e a confiança dessa atribuição (IPCC, 2014b, p. 7).
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4.1 Impactes observados e projetados em sistemas físicos
No que concerne aos sistemas físicos, destacam-se os impactes ao nível das massas
de gelo, dos cursos de água e dos oceanos. Recentemente, o IPCC (2014b) associou, com
elevada confiança, a fusão e consequente recuo dos glaciares, um pouco por todo o
mundo, à atual mudança do clima (Cubasch et al., 2013). Também tem sido observado
o aquecimento do permafrost5 no Hemisfério Norte e a diminuição da extensão das
massas geladas do Oceano Ártico. A título de exemplo, as evidências indicam ser muito
provável que a perda média de massa de gelo da Gronelândia tenha aumentado
substancialmente de 34 gigatoneladas por ano (Gt yr–1), entre 1992 e 2001, para 215
por ano, entre 2002 e 2011 (IPCC, 2013).
Naturalmente, o recuo das massas de gelo começa a ter impactes ao nível da
hidrosfera, mais precisamente, nos oceanos e cursos de água. Em muitas regiões, estas
perdas de massa, aliadas às alterações na precipitação, afetam as características dos
recursos hídricos. O IPCC (2014b) associou, com elevada confiança, a perda das massas
de gelo e o aquecimento do oceano à subida do nível médio do mar (ver parte I do
manual do módulo II).
Ao mesmo tempo, existem fortes evidências de que características da superfície
oceânica, tais como a temperatura, a salinidade, os gases dissolvidos (oxigénio, O2, e
dióxido de carbono, CO2) e o pH, têm vindo a registar variações nos últimos 40 anos. Por
exemplo, desde 1765, o pH médio da superfície oceânica desceu de 8,2 para 8,1. Esta
acidificação do oceano foi atribuída, com elevada confiança, às grandes concentrações
atmosféricas de CO26 e prevê-se a intensificação deste fenómeno no futuro. Esta
acidificação acarreta fortes consequências nos ecossistemas marinhos, com especial
incidência nos localizados em zonas costeiras.
5 Permafrost, ou pergelissolo, refere-se ao “subsolo constituído por terra, gelo e rochas, que se mantém gelado ao longo de todo o ano e que se encontra sobretudo nas regiões polares” (Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico, 2003-2015). 6 Como se fez referência na parte I do manual do módulo II, a elevada concentração de CO2 na atmosfera aumenta a rapidez com que este gás se dissolve na superfície dos oceanos. Ao dissolver-se, forma-se um ácido fraco, ácido carbónico (H2CO3), conduzindo à acidificação da água dos oceanos.
7
4.2 Impactes observados e projetados em sistemas biológicos
No que diz respeito aos sistemas biológicos, têm-se registado alterações na
distribuição geográfica, na abundância, na realização de atividades sazonais, nos
padrões de migração e nas relações bióticas7 entre as espécies, em ecossistemas
terrestres, marinhos e de água doce (IPCC, 2014b). Apesar de nenhuma extinção recente
ter sido diretamente atribuída às alterações climáticas, existem indícios de que algumas
espécies de anfíbios da América Central, como o sapo dourado de Monteverde (Costa
Rica), se terem extinguido devido às alterações climáticas (Settele et al., 2014). Porém,
existem evidências de que alterações climáticas naturais passadas, que decorreram a
velocidades muito menores do que as atuais, mudaram significativamente os
ecossistemas e conduziram à perda de biodiversidade (IPCC, 2014b). Deste modo,
projeta-se que o risco de extinção de espécies aumente no futuro devido às alterações
climáticas (Field et al., 2014).
Nos ecossistemas marinhos, verificaram-se mudanças à escala global,
designadamente na distribuição de espécies (confiança muito elevada) e na composição
dos ecossistemas (confiança elevada). Muitas espécies de peixes, de invertebrados8 e
de fitoplâncton9 deslocaram-se em direção aos pólos e/ou para águas mais profundas e
frias. O aumento da temperatura média das águas oceânicas parece, também, estar na
origem do branqueamento de corais (Field et al., 2014).
Nos ecossistemas terrestres, salienta-se a perda de habitats e a redução de
sumidouros de carbono, ambos associados ao aumento da mortalidade das árvores,
observada um pouco por todo o mundo (Field et al., 2014), como evidencia a figura 2.
7 Relações que se podem estabelecer entre organismos da mesma espécie (por exemplo, a competição por alimento) ou de espécies diferentes (por exemplo, a predação). 8 Animais que não possuem esqueleto interno (por exemplo, o caranguejo e a aranha). 9 Organismos capazes de realizar fotossíntese, microscópicos e aquáticos.
8
Figura 2 – Localizações mundiais de mortalidade de árvores entre 1970 e 2011, que se atribuíram a secas e a ondas de calor (Field et al., 2014, p. 43).
Este aumento de mortalidade foi atribuído a eventos climáticos extremos, como a
maior frequência e intensidade de secas, tempestades e incêndios, e foi também
associado às alterações climáticas, com média confiança (Field et al., 2014). Entre as
perturbações identificadas encontram-se, por exemplo, a antecipação de eventos da
primavera, em particular do desenvolvimento de folhas, da migração de aves e da
postura de ovos (IPCC, 2007). Muitas espécies vegetais e animais têm revelado a
tendência para se redistribuir em direção aos polos.
4.3 Impactes observados e projetados em sistemas humanos
Os impactes observados nos sistemas humanos têm sido sentidos na produção de
alimentos, no abastecimento de água e, ainda, em diversas atividades económicas
(construção, turismo, etc.). A ocorrência de eventos extremos afeta meios de
subsistência, reduz a produção agrícola e destrói habitações (IPCC, 2014b). Contudo,
também se registam alguns efeitos positivos, como o desenvolvimento de redes
9
sociais10 e de práticas agrícolas alternativas. De seguida, analisamos os impactes
associados às alterações climáticas, em alguns setores de atividade humana.
Agricultura: A ciência reportou mais impactes das alterações climáticas negativos do
que positivos, nas colheitas (IPCC, 2014b). Os impactes positivos reportados foram,
essencialmente, em regiões de elevada latitude, embora não seja claro o balanço de
impactes positivos e negativos nessas regiões. Destacamos que as alterações climáticas
têm vindo a afetar negativamente, por exemplo, culturas de trigo e de milho em muitas
regiões do mundo. Desde a avaliação anterior, o IPCC (2014b) detetou vários períodos
de subida do preço dos cereais, após eventos extremos nas principais regiões
produtoras do mundo.
No caso português, ao nível de impactes positivos, temos o facto de o Vinho do Porto
ser classificado como vintage, em média, uma a duas vezes por década e, na primeira
década do século XXI, já ter tido três anos com essa classificação. No outro lado da
balança, o estudo do SIAM II11 projetou uma redução da produtividade das culturas de
trigo, de milho e de arroz, apesar dos decréscimos previstos variarem com os modelos
climáticos considerados (Pinto, Braga & Brandão, 2006).
Pescas: Para além da redistribuição de espécies marinhas e dos danos causados nas
zonas costeiras, surge a reduzida ventilação e solubilidade do O2 em oceanos. As áreas
pobres em O2 dissolvido estão a multiplicar-se em número e tamanho, com
consequências na distribuição e abundância de espécies relevantes na atividade
pesqueira (Field et al., 2014).
Saúde: A associação de enfermidades humanas às alterações climáticas é, a nível
mundial, relativamente pequena, quando comparada com os efeitos de outros fatores,
e não está ainda bem quantificada. Todavia, registou-se um aumento na mortalidade
relacionada com ondas de calor e uma diminuição na mortalidade relacionada com
ondas de frio, em várias regiões do mundo. Mudanças locais na temperatura e
10 Ou seja, os desafios criados pelas alterações climáticas promoveram o desenvolvimento de redes socias de entreajuda, sendo este considerado um impacte positivo. 11 O SIAM II corresponde à segunda fase do projeto “Climate Change in Portugal. Scenarios, Impacts and Adaptation Measures", decorrida de 2002 a 2006, que visava avaliar os impactes e as medidas de adaptação às alterações climáticas em Portugal Continental, de forma integrada. Para mais informação, consultar http://siam.fc.ul.pt/.
10
precipitação alteraram a distribuição geográfica quer de algumas doenças transmissíveis
pela água quer da presença de certos vetores de doenças12.
No caso de Portugal, o estudo do SIAM II projetou a ocorrência de ondas de calor
mais intensas e mais frequentes, particularmente nos distritos de Lisboa e do Porto, as
quais podem acompanhar condições mais favoráveis para a ocorrência de doenças
infeciosas como a febre do Nilo Ocidental (Calheiros & Casimiro, 2006).
Ordenamento de território: As áreas urbanas agrupam mais de metade da
população mundial e muitos dos seus recursos e atividades económicas. Estas são
também áreas que geram uma elevada proporção das emissões de gases com efeito de
estufa (Field et al., 2014). Nestas zonas, as inundações têm vindo a ter custos
económicos muito significativos, quer em termos de consequências (por exemplo, a
destruição de capital e a perturbação de atividades produtivas e económicas), quer de
adaptação (como a construção de infraestruturas). Efetivamente, grandes cidades
expandem-se para junto de cursos de água e de zonas costeiras, sem grande
consideração pelos leitos de cheia13. Portugal não escapa a esta tendência, com um
litoral caracterizado por um terço de ocupação por edificados urbanos, industriais e
portuários e uma densidade populacional que ronda os 215 habitantes por km2 (quando
a média nacional é de 125 habitantes por km2). Neste caso, a subida do nível médio das
águas do mar terá grandes impactes sobre as populações em zonas costeiras,
particularmente as situadas no Litoral Noroeste do país, onde se espera uma subida mais
acentuada (Andrade, Pires, Silva, Taborda & Freitas, 2006).
Agravamento da pobreza, de desigualdades e de conflitos: O IPCC (2014b) destacou
a acumulação de evidências, com confiança muito elevada, de que se têm vindo a
intensificar as diferenças na vulnerabilidade e exposição das populações humanas às
alterações climáticas. As pessoas mais marginalizadas a nível social, económico, cultural,
político e institucional são especialmente vulneráveis às alterações climáticas e também
12 Vetores de doenças são, frequentemente, organismos que transportam microrganismos causadores de doenças infeciosas, sem por eles serem afetados. É o caso do mosquito que transporta o microrganismo causador da malária de hospedeiro em hospedeiro, ao picar e sugar sangue. Para mais informação, consultar: http://www.insa.pt/sites/INSA/Portugues/AreasCientificas/DoencasInfecciosas/AreasTrabalho/EstVectDoencasInfecciosas/Paginas/Revive.aspx 13 Leitos de cheia são zonas dos vales dos rios que podem ser inundados quando ocorrem cheias.
11
às consequências de algumas respostas de adaptação (ver parte I do manual do módulo
V) e de mitigação (ver parte I do manual do módulo IV) (Field et al., 2014).
No entanto, a intensificação de vulnerabilidades das populações raramente é
atribuída a uma única causa. Desigualdades no estatuto, rendimentos socioeconómicos
e exposição das populações influenciaram significativamente os resultados de crises
passadas relacionadas com eventos climáticos (Field et al., 2014; IPCC, 2014b). Deste
modo, projeta-se que continuem a ser relevantes no futuro.
Destacamos, ainda, os casos de algumas populações indígenas, como as do Ártico e
as da Amazónia, cujos meios de subsistência têm vindo a ser modificados pelas
alterações climáticas, com impactes diversos na segurança alimentar e nos seus valores
tradicionais e culturais (Field et al., 2014).
12
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Anexo 1 – Eventos extremos
Os eventos extremos podem ser classificados como tal de acordo com critérios
como, por exemplo, a sua raridade, severidade e duração (Stephenson, 2008). Seguem-
se alguns exemplos de eventos meteorológicos que têm sido considerados extremos,
cuja descrição se baseia na informação disponibilizada pelo Instituto Português do Mar
e da Atmosfera (2015) e por Stephenson (2008).
Baixa polar: Depressão pequena e pouco profunda que se forma dentro de uma
massa de ar polar ou ártico, especialmente no inverno, sobre os mares polares. Desloca-
se seguindo, aproximadamente, a direção da corrente de ar em que está inserida (ver
figura 3).
Figura 3 – Tempestade de verão no Ártico (fonte: NASA Goddard Space Flight Center14).
Chuva intensa ou chuvada: Chuva com uma taxa de acumulação que excede um
determinado valor em relação ao comum, no local onde ocorre.
Ciclone: área de baixa pressão, com a pressão mais baixa no seu centro. O mesmo
que depressão, sendo que na literatura meteorológica de língua inglesa se utiliza mais o
termo cyclone.
14 Attribution 2.0 Generic (CC BY 2.0).
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Ciclone extratropical: Ciclone que se forma em latitudes médias a altas, mas fora
dos trópicos. Constituem uma causa importante de velocidades extremas de vento e de
forte precipitação, especialmente no inverno.
Ciclone tropical: Termo genérico para designar uma depressão não frontal à escala
sinótica, originada nas águas oceânicas tropicais ou subtropicais, com organização
convectiva e circulação ciclónica de vento à superfície bem definida, isto é, com um
turbilhão de ar que se precipita em círculos espiralados para o interior, em que o ar
quente sobe e o ar frio desce (ver figura 4). Também se pode caracterizar por um sistema
de baixas pressões, que se forma na região tropical, em geral entre 10° e 30° de latitude,
e que pode estar associado a trovoadas e precipitação forte.
Figura 4 – Ciclone Tropical Bingiza (fonte: NASA Goddard Space Flight Center15).
Depressão: Região de baixa pressão atmosférica em torno da qual o vento sopra no
sentido contrário ao dos ponteiros do relógio no hemisfério norte e sopra no sentido do
movimento dos ponteiros do relógio no hemisfério sul, porque a pressão atmosférica é
mínima no seu centro e aumenta à medida que a distância ao centro aumenta.
15 Attribution 2.0 Generic (CC BY 2.0).
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Furacão: Fase de um ciclone tropical que ocorre no Oceano Atlântico Norte, nas
Caraíbas, no Golfo do México e na parte oriental do Pacífico Norte, durante a qual a
velocidade máxima do vento é igual ou superior a 118 km/h (74 milhas por hora ou 64
nós).
Inundação: Transbordo de um rio ou subida temporária do nível do mar, ou de um
lago, que resulta na submersão de extensas áreas continentais.
Onda de calor ou período quente: Aquecimento significativo do ar ou invasão de ar
muito quente sobre uma extensa área continental. Ocorre quando, num período de pelo
menos seis dias consecutivos, a temperatura máxima do ar é superior em 5°C ao valor
médio de temperaturas máximas diárias num período de referência (geralmente, de
1961 a 1990).
Onda de frio: Arrefecimento significativo do ar ou invasão de ar muito frio sobre
uma extensa área continental. Ocorre quando, num período de pelo menos seis dias
consecutivos, a temperatura mínima do ar é inferior em 5°C ao valor médio de
temperaturas mínimas diárias no período de referência considerado (geralmente, de
1961 a 1990).
Seca: Período anormal de tempo seco, caracterizado pela ausência de precipitação,
e que causa um grave desequilíbrio hidrológico. O termo seca é relativo, pelo que
qualquer discussão sobre défice hídrico deve fazer referência à taxa de precipitação e a
uma determinada atividade. Todo o período de défice anormal de precipitação é
definido como seca meteorológica. A escassez de precipitação durante períodos de
crescimento de culturas influencia a produção alimentar e os ecossistemas em geral
(devido ao défice de humidade no solo) e é, habitualmente, referida como seca agrícola.
A diminuição apreciável no caudal dos rios e no nível dos lagos e/ou o esgotamento da
humidade do solo, provocando a descida dos níveis de águas subterrâneas abaixo de
valores normais, chama-se seca hidrológica.
Smog: Nevoeiro com uma grande proporção de poluentes (da contração das
palavras inglesas smoke, ou seja fumo, e fog, ou seja nevoeiro). Em condições de
nevoeiro, habitualmente, a visibilidade horizontal é reduzida a valores inferiores a um
quilómetro.
Tempestade: Termo utilizado para fazer referência a dois tipos de fenómenos (ver
figura 5):
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1) alteração atmosférica que compreende perturbações nos campos de pressão
e nos ventos predominantes, em escalas que vão dos tornados (1 km) aos
ciclones extratropicais (2000 km a 3000 km);
2) vento com uma velocidade compreendida entre 89 km/h e 102 km/h (48 nós
e 55 nós; escala de Beaufort). As tempestades dão origem a precipitação sob a
forma de torrentes de chuva ou gelo e, por vezes, de neve ou granizo.
Figura 5 – Tempestade violenta sobre a Europa ocidental em 2010 (fonte: NASA Goddard Space Flight
Center16).
Tornado ou tromba terrestre: Turbilhão de ventos giratórios sobre a superfície
terrestre, com pequeno diâmetro e grande poder destrutivo. É o evento meteorológico
natural mais violento e ocorre frequentemente no interior da circulação de furacões.
Embora os tornados ocorram em áreas continentais, em grande parte do mundo,
associados a condições climáticas variadas, são relativamente frequentes na periferia de
furacões.
Tromba de água ou tromba marítima: Turbilhão de ventos giratórios, muitas vezes
violento, sobre os oceanos ou águas interiores. Ocasionalmente, desloca-se para áreas
continentais causando danos severos. Porém, nas trombas de água, os ventos são
menos severos que nos tornados.
Trovoada: Descarga brusca de eletricidade atmosférica que se manifesta por uma
luz breve, o relâmpago, que resulta da incandescência do ar, e por um ruído seco ou um
estrondo surdo, o trovão, que resulta da expansão brusca do ar.
16 Attribution 2.0 Generic (CC BY 2.0).
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Referências bibliográficas
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