METODOLOGIA DO INSTITUTO BRINCANTE I -‐ INTRODUÇÃO Quem separou Arte da Educação? A razão. Uma lógica que justifica a segmentação para a excelência da especialização. “O pensamento que recorta , isola, permite que especialistas e experts tenham ótimo desempenho em seus compartimentos, e cooperem eficazmente nos setores não complexos de conhecimento, notadamente os que concernem ao funcionamento das máquinas artificiais; mas a lógica a que eles obedecem estende á sociedade e as relações humanas os constrangimentos e os mecanismos inumanos da máquina artificial e sua visão determinista, mecanicista, quantitativa, formalista; e ignora, oculta ou dilui tudo que é subjetivo, afetivo, livre, criador.” EDGAR MORIN-‐ A CABEÇA BEM –FEITA. A lógica da especialização traz com ela a fórmula quantitativa que orienta todos os segmentos da sociedade; das políticas sociais, ao pensamento corporativista. Essas fórmulas não nos permitem quantificar o sorriso, valorizar o encantamento, priorizar a delicadeza, e a arte que consumimos fica comprometida com o pensamento operante de uma época. Mas se esse pensamento foi construído, também pode ser transformado. O que urgi na nossa época é uma transformação de pensamento. Um pensamento que brote do físico e agregue conhecimento, informação e sabedoria. Uma vez eu li que Albert Einstein escreveu: A ciência sem religião é manca. Religião sem e ciência é cega. Então pensei; Educação sem arte é manca e arte que não educa é cega. Como explicar o que fazemos se o nosso maior mérito é fazer?
Quando me vi diante dessa questão decidi recorrer àqueles que melhor poderiam explicar o que fazemos: Nossos alunos. O Instituto Brincante possui três núcleos de estudos constituídos por ex alunos do curso de Formação de Jovens Brincantes: -‐ Pesquisa do movimento, coordenado por Antonio Nóbrega -‐ Núcleo musical coordenado por Luciano Fagundes. -‐ Núcleo de pesquisa, que registrou a metodologia da escola. Esse trabalho é fruto de pesquisa, observação e registro de todas as aulas dentro do Instituto Brincante. Como descrever uma metodologia que prioriza a experiência física onde o tempo e o espaço real são fundamentais? Foram nossos alunos que constataram que a metodologia da escola Brincante muda diante dos diferentes contextos, se molda às mais variadas situações e isso só é
possível por que cada professor viveu sua experiência individual de processos e valores coletivos presentes na cultura tradicional. Dessa forma, cada aula é uma construção de caminhos para que cada um tenha sua própria experiência de construção e apropriação do conhecimento. Como dar continuidade e crescimento a um trabalho que está inserido em um segmento da sociedade que tradicionalmente produz receitas, discursos, teorias...? Optamos pela paciência. É fato que a educação deixa muito a desejar, basta olharmos para as aberrações que se fazem presentes em todos os segmentos da sociedade. Corrupção, violência, falta de ética, princípios, limites... Em todas as áreas nos deparamos com profissionais cuja excelência compete com a falta de educação. Educação do olhar, educação da escuta, como diz Maria Amélia – Educação do sensível -‐ Mas é fato também que muitos buscam outros caminhos, que muitos trabalhos sérios e de valores necessários a nossa época, são endossados e valorizados dentro da sociedade. Então optamos por acreditar que o tempo é quem melhor pode decidir sobre aquilo que deve continuar e como isso pode crescer. Como conquistar um espaço de respeito e reconhecimento diante de um sistema viciado em consumir, produzir, quantificar? Criando referencias. É necessário fazer! Então cuidamos daquilo que fazemos. Cada espetáculo, cada oficina, cada atividade... Esse ano também estamos cuidando dos registros teóricos que estão sendo produzidos por ex alunos e professores do Instituto Brincante. No nosso site encontra-‐se, também o registro de duas importantes monografias de ex alunos. O que pretende esse registro da observação da metodologia Brincante? Registrar dois dos cursos mais significativos da Instituição. Para isso contamos com a inteligências daqueles que freqüentam a escola. O curso “Formação de Jovens Brincantes” foi integralmente registrados por ex alunos. O que está documentado aqui é a visão e o entendimento daqueles que primeiro fizeram e depois acompanharam e observaram o curso. “A Arte do Brincante para Educadores” também foi registrado e observado pelos alunos, mas o que segue nesta “revista” são os depoimentos de cada educador Brincante. Por se tratar de um material sobre a metodologia, cada educador procurou descrever exatamente o que faz em cada encontro. As considerações finais foram retiradas da monografia da Marina Abib a qual se encontra na íntegra no nosso site. Para finalizar, só me restou observar que a metodologia do Brincante pertence e está sendo construída, por todos aqueles que por aqui passam.
II – A VOZ DOS BRINCANTES PEDAGOGIA DO INSTITUTO BRINCANTE Por Sabryna Mato Grosso A relação com a experiência Observando as diversas aulas ministradas dentro do Instituto Brincante, vemos um ponto em comum entre todos os educadores e suas respectivas disciplinas. Vemos na pedagogia do Instituto Brincante a valorização do conhecimento através da experiência. Conhecimento que não está atrelado a apenas adquirir uma informação, e experiência que também se difere da palavra “prática”. Significamos nesse texto a experiência como aquilo que nos passa, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao passar-‐nos nos forma e nos transforma, segundo citação de Jorge Larrosa1. Os conteúdos das aulas ministradas dentro do Instituto Brincante por si só já circundam por outros meios de compreensão. São aulas em sua maioria prática, que necessita de outros sentidos da capacidade humana para que seu conteúdo seja assimilado. A relação com as artes, como a música e a dança, exigem primordialmente uma comunicação através do corpo e seus sentidos. A reflexão parte de dentro do exercício e da significação de sua vivência, individual e coletiva. Tendo como base de pesquisa e educação, as danças populares brasileiras, e sendo esse também o conteúdo principal das disciplinas dentro do Instituto, o objetivo das oficinas e cursos ministrados vai além de passos, músicas, gestuais e costumes ligados a essas danças. A relação com tais manifestações não está na forma, mas sim numa busca de contato com o brincar no seu sentido mais amplo. Novamente voltamos ao significado da experiência que vai além da prática. Ao trabalhar as danças brasileiras, os arte educadores do Instituto apontam aos alunos a possibilidade do “brincar” através da dança e das manifestações populares. Vemos como exemplo no curso A Arte do Brincante para Educadores, onde o conteúdo se torna verdadeiro quando os alunos do curso, que são profissionais da educação, se colocam no papel da criança. Quando mais do que apenas adquirir um conhecimento, vivem de fato uma experiência através do brincar.
1 Nota sobre a experiência e o saber da experiência - Jorge Larrosa Bondía é professor titular do Departamento de Teoria e História da Educação, da Faculdade de Pedagogia da Universidade de Barcelona
Partindo do pensamento antropológico que tais manifestações surgem da necessidade do homem de se encontrar com sua essência verdadeira contribuindo para o modo de vida global,2 como se diria sobre a definição da função da cultura, a relação do brincante tradicional com a manifestação que vivencia dialoga verdadeiramente com o prazer e com a brincadeira, muito mais ligados ao fato natural da experiência. E é justamente esse o ponto estimulado, buscando essa compreensão através da vivência e das relações adquiridas com o outro, com a manifestação em si e consigo mesmo. Esses elementos são inseridos dentro das aulas de duas maneiras: uma de forma prática, onde essas assimilações serão feitas através da relação com o grupo e das dinâmicas aplicadas pelo educador; a outra de forma direta, onde o educador suscitará a reflexão de como esses elementos dialogam com a realidade do aluno em sociedade. O educador, em uma aula de Dança e Percussão Brasileira, por exemplo, se utiliza da forma pratica quando usa a brincadeira para explicar a dinâmica ou trabalha o indivíduo a favor do grupo, desenvolvendo valores de escuta e olhar para com o outro e valorizando a experiência vivida. Já a forma direta é utilizada ao traçar paralelo das ações desenvolvidas artisticamente dentro da aprendizagem com o cotidiano do aluno, instruindo uma reflexão concreta de como esses valores podem dialogar com a realidade de cada individuo. Percebemos então que os dois formatos dialogam entre si, e chegam a um fim em comum, apenas seguindo meios distintos. O que também ocorre quando os mesmos educadores invertem a forma de conduzir a aula. Ao aplicar essas manifestações tradicionais nas aulas, não se pretende fazer sua reprodução, mas sim recriar o material para se chegar a outro fim, gerando a reflexão guiada por essa recriação, sendo autoral e significativa para o aluno. Esse conhecimento é construído através da relação, adquirindo ferramentas e reelaborando-‐as através disso. Embora no primeiro ano da Formação de Jovens Brincantes um dos objetivos do curso seja apresentar aos alunos o universo das manifestações brasileiras através da relação de brincadeira com as danças, não é dispensado o comprometimento com as aulas e a disciplina do estudo individual fundamental ao artista. Nas aulas de Dança e Percussão dentro desse primeiro módulo de formação para jovens, a exigência da concentração e do estudo fora do horário da aula é um fato natural, já que sem tal comportamento a relação com o grupo e a compreensão do ritmo sugerido não será realizado. “Se eu não me concentro e estou disperso, tropeço e caio na corda”, disse o aluno da aula de Humor dentro da Formação de Jovens Brincantes -‐ Ano II, onde a brincadeira de pular corda é dada como exercício de tempo e ritmo, trabalhando o prazer do jogo e a concentração simultaneamente. Nesse caso vemos que o aluno compreendeu 2 Marconi, Marina de Andrade e Presotto, Zélia Maria Neves – Antropologia, Uma Introdução. São Paulo: Atlas, 2007
naturalmente a relação da disciplina dentro do jogo. Sem a concentração o jogo simplesmente não acontece, e essa percepção foi assimilada na prática, dentro da vivência e experimentação do aluno. Nos casos citados notamos que mesmo a relação com a disciplina do estudo, não vem através do rigor e obrigação, mas sim por uma necessidade natural de relação com o grupo e com o indivíduo pelo viés da experiência. A aula de Dança do Ano III da Formação é vista mais como um núcleo de pesquisa e treinamento, justamente por ser ministrada para uma turma de alunos que já passaram por outras formações dentro do Instituto. Considerando que para esse caminho mais minucioso de pesquisa aprofundada, onde se busca um segundo momento na decupagem e reestruturação dos passos das danças brasileiras, é necessário que as etapas anteriores de disciplina e compreensão de si já tenham sido contempladas. Por uma aprendizagem formativa Na chamada escola do Instituto Brincante nos deparamos com públicos de idades, classes sociais e interesses muito distintos uns dos outros. Considerando esses dados, são pensados os cursos, que embora possuam estrutura, formato e objetivos específicos, mantêm em comum seu objetivo geral. José Sergio Fonseca de Carvalho3 buscando as diferenças entre o que aprendemos e o que nos afeta como seres humanos, sobre o conceito de formação cita que “a aprendizagem indica simplesmente que alguém veio, a saber, algo que não sabia: uma informação, um conceito, uma capacidade. Mas não implica que esse 'algo novo' que se aprendeu nos transformou em um novo 'alguém'. E essa é uma característica forte do conceito de formação: uma aprendizagem só é formativa na medida em que opera transformações na constituição daquele que aprende. É como se o conceito de formação indicasse a forma pela qual nossas aprendizagens e experiências nos constituem como um ser singular no mundo.” Rechaçando o sentido pejorativo de superioridade dentro de conceitos pedagógicos que a palavra “transformar” adquiriu, aqui utilizamos a essência do sentindo primário da palavra. Como já citado, não se busca a execução ou reprodução de um elemento artístico, mas sim sua assimilação através do encontro, da experiência e do sensível. A transformação se dá a partir da resignificação que o indivíduo transfere ao novo elemento apreendido dentro de sua experiência única. Mais do que artistas qualificados que executem suas habilidades com técnica e destreza indiscutível, se busca a formação de seres humanos que reflitam suas ações em suas relações verdadeiras com a sociedade em que vivem.
3 José Sergio Vieira de Carvalho é Doutor em Filosofia da Comunicação pela Feusp
A pedagogia do sensível O que estamos buscando são instituições e práticas que formem, além de cidadãos, indivíduos capazes de estabelecer uma conexão mais profunda do que aquela até hoje prevalecente entre a dimensão racional e a não racional, entre pensamento e sentimento... afirma Roberto Gambini4. Torna-‐se difícil falar de sentimento quando palavras simples perdem seu significado. Falar em sentir ligado à educação, mesmo essa sendo arte educação, não condiz com o pensamento formal de escola ou instituição. A pesquisa do Instituto Brincante sobre as manifestações populares brasileiras tem muito mais a ver com a observação acerca do povo do que sobre uma estética artística. O brincante tradicional se relaciona com a manifestação popular como elemento de presença significativa em sua vida. Dentro de seu cotidiano de trabalho, crenças e relações humanas, o brinquedo popular se manifesta de forma tão latente quanto os outros elementos. O fazer artístico de criação e execução musical, plástica, literária e cênica se dá de forma natural, pela necessidade da construção da “festa” através do conhecimento ancestral. Os centros urbanos exercem na sociedade que neles vivem uma outra relação de tempo, estipulando novos padrões sociais. Nesses casos é mais freqüente encontrar o contato da sociedade com o fazer artístico de forma mais conceitual do que sensorial. Quando um brincante tradicional faz sua festa, ele de fato brinca. A relação verdadeira com o brinquedo aproxima o individuo com o ambiente em que vive e todos os elementos nele inseridos, seja através do sagrado ou do profano. A apropriação desses saberes naifs possibilita uma criação artística sem resenhas, partindo do sensorial. Aproximar essa relação verdadeira que o brincante tradicional tem dentro de suas manifestações artísticas com uma reflexão transformadora do individuo, é uma possibilidade de reconhecimento da cultura em que vivemos, não com o intuito de reproduzi-‐la, mas sim a utilizando como uma ferramenta para potencializar essas qualidades do humano. A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm; requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-‐se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos,
4 Por uma educação com alma, 4. Sonhos na escola, Ed. Vozes – Roberto Gambini é analista junguiano e mestre em ciências sociais
falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-‐se tempo e espaço. Persistindo no pensamento de Jorge Larrosa sobre a experiência, definindo-‐a como aquilo que nos transforma, acreditamos sim em uma pedagogia informal, que não por isso dispensa disciplina e comprometimento. Uma pedagogia que valoriza o sensível e o intuitivo. Formas que já estão intrínsecas nas relações dentro da educação. E embora pareçam subjetivas demais numa analise mais sistematizada da formação, aqui é feita com propriedade e ciência. A apropriação desses elementos como ferramentas metodológicas, faz do Instituto Brincante um espaço aberto a uma nova educação, onde há a valorização da transformação através do encontro.
III -‐ CURSO DE FORMAÇÃO DE JOVENS BRINCANTES O curso “Formação de Jovens Brincantes” tem como objetivo principal a formação de um novo profissional no mercado; Um Brincante-‐ jovens artistas-‐educadores, que tem a cultura popular brasileira como estrutura-‐base do seu trabalho, tanto artístico, como educacional. Assim, o “jovem brincante” tem na cultura popular, uma fonte de aprendizado e um meio para apropriação de linguagens artísticas diversas como música, dança, canto, poesia, teatro, entre outros. Desta forma, após os três anos de curso, pretende-‐se que os “jovens-‐brincantes” se tornem “intérpretes” com sensibilidade cultural e artística para refletir e atuar em diferentes contextos sociais. FORMAÇÃO DE JOVENS BRINCANTES -‐ ANO I “o início da formação” O objetivo deste primeiro ano é apresentar ao aluno o universo que é estudado no Instituto Brincante, sempre se utilizando de múltiplas linguagens, brincadeiras e desafios presentes nas manifestações populares. Para conduzir o aprendizado, sete “brincadeiras” são abordadas durante o ano, sendo elas: caboclinho, maracatu nação, maracatu rural, coco, cavalo marinho, batuques e frevo. Cada uma dessas manifestações irá trabalhar uma diferente qualidade do corpo, como: a inteligência espacial no caboclinho, o tônus e a construção melódica da dança no frevo, a segmentação e percussão corporal nos cocos, as diferentes qualidades de energia no Cavalo Marinho, peso e oposição nos Batuques, e a pulsação rítmica nos Maracatus. Através desse trabalho, acredita-‐se que o corpo apreenda ferramentas distintas e complementares, de modo que este esteja preparado para o aprofundamento de qualquer “brincadeira”. Informações sobre o curso – ficha técnica O primeiro ano é aberto a todos os interessados, que passam por um processo seletivo inicialmente por uma ficha de inscrição via internet, que comprove interesse, idade, vínculos com instituições e escolas públicas. O segundo momento é a participação em uma aula “experimental” que serve para distribuir as turmas em segmentos complementares de aluno para aluno. Atividade: Dança e Percussão Carga horária: 1x por semana/3 horas semanais
Grade curricular: Estudo do universo rítmico brasileiro através dos instrumentos de percussão, do canto, e da dança. A cada mês é realizado o estudo prático e teórico dos diferentes assuntos, como: Cavalo Marinho, Maracatu, Caboclinho, Frevo, Batuques, Cocos, entre outros. Atividades Extras Curriculares Todos os alunos do Instituto são sempre convidados a participar de duas atividades não regulares: a “Sambada” e o “Rodas”. A estrutura das aulas O primeiro ano do curso de formação é realizado em três diferentes turmas, conduzidas por diferentes instrutores. Desta forma, cada instrutor conduz suas atividades de forma muito particular e condizente com sua história pessoal, mas que sempre está ligada à idéia do “brincante”, enquanto participante da construção de sua cultura e que transita entre diversas linguagens artísticas. Todas as aulas do curso de Formação -‐ ano I geralmente se utiliza de diversas linguagens para abordar o mesmo assunto, desde brincadeiras, jogos com percussão corporal, até vídeos e o ensino da dança e brincadeira em si. As aulas possuem uma estrutura mínima comum que é composta por aquecimento, desenvolvimento/apropriação e desaquecimento. No aquecimento são utilizados jogos ou brincadeiras para “acordar” o corpo e os sentidos, que trazem o participante para o local de trabalho em sala, trabalhando a concentração, a versatilidade, a consciência corporal e, como o próprio nome diz, aquecendo o corpo como um todo. Neste momento também são realizados jogos coletivos que trazem a consciência de grupo, cooperação, precisão e ritmo. Após este momento ocorre o desenvolvimento do conteúdo, onde o professor expõe e os alunos praticam o conteúdo relacionado ao ritmo do mês , seja musicalmente ( a partir da apresentação do ritmo e instrumentos) ou a partir da dança, desenvolvimento de banco de passos, dramaturgia e coreografias. Este é o momento de ampliação de repertório para o grupo, tendo como base principal as brincadeiras como elas são em sua matriz. Ao final do encontro, o instrutor/professor conduz uma seqüencia de exercícios para um “desaquecimento” que possibilitem aos alunos um cuidado com o corpo e uma consciência sobre a utilização saudável de um precioso instrumento físico.
As aulas de percussão também abordam a iniciação e a teoria musical, como parte importante do processo de aprendizado percussivo. Outra característica marcante das aulas é que outros ritmos podem também compor o aprendizado daquele ritmo específico do mês. Por exemplo, o ritmo a ser estudado é o dos “Caboclinhos”, pode-‐se utilizar um coco para o aquecimento, com rodas de versos e uma ciranda para desaquecer. Todos os recursos são utilizados com o objetivo de levar o aluno a compreender não só o ritmo, mas sim que a cultura corporal formada principalmente por essas pluralidades, a todo o tempo, nas aulas e fora dela. Durante o ano são também utilizados como material de apoio, textos e filmes em DVDs que comentam sobre cada brincadeira. Ao final do curso, o grupo deve apresentar uma peça que reflita o trabalho desenvolvido durante o ano. Este trabalho no Ano I é conduzido principalmente pelo professor, com participação dos alunos em sua concepção. O resultado do trabalho de todas as turmas gera um espetáculo de fim de ano que fica em cartaz no Instituto por um final de semana. Exemplos de atividades e exercícios 1) Aquecimento Brincadeira: Rua e Viela Alguns alunos formam colunas, que são chamadas de viela ( ficam viradas para um lado da sala, na vertical), e os outros formam as fileiras , que são chamadas de rua (essas ficam viradas para o outro lado da sala, na horizontal) Um participante tem que fugir e outro tem que pegar. A voz de comando é dada por quem está sendo perseguido. Quando o mesmo gritar: RUA, a rua vira para o lado dele protegendo-‐o do pegador, o mesmo acontece quando ele gritar VIELA. Evolução da brincadeira: O professor escolhe 2 alunos que vão dar o comando de fora, enquanto continua um pegador e um fugitivo dentro, só que agora aguardam o comando. Nesse exemplo de aquecimento, observamos que o exercício pretende trabalhar, entre outras coisas, a atenção, a interação do grupo, a prontidão, alem de acordar o corpo dos alunos e trazê-‐los para a aula.
2) Desenvolvimento (aquecimento e desenvolvimento) Jogo do bastão O professor pede para que os alunos caminhem livremente pela sala e ao toque do bastão no chão, todos saltem e congelem em uma pose. No intervalo entre as batidas, o professor lê frases de um texto a respeito do Maracatu Rural. Em seguida, após o termino da leitura, os alunos devem saltar apenas pelo estímulo de outro aluno. Assim, “quando um salta, todos saltam”. O grupo então é dividido em grupos menores. Cada grupo pega um bastão e brincam de jogar esse de diferentes maneiras um para o outro. Com o passar do tempo, o professor muda o comando para que a ação ocorra: – Jogar o bastão movimentando todo o corpo todo e recebê-‐lo também com o corpo todo; – Ao receber o bastão, dar um giro; – Ao receber o bastão, congelar em uma pose; – Movimentando-‐se, receber o bastão; ao lançar, congelar em uma pose; – Utilizar-‐se de alguma das alternativas anteriores como desejar; – Olhar para uma pessoa, porém lançar o bastão para outra. O professor pede para que os alunos caminhem pelo espaço, continuando a jogar os bastões. Aos poucos, aumentam o número de bastões na roda, enquanto pede-‐se para que as pessoas comecem a andar no pulso do maracatu rural. A cada pausa da música, todos param. Ao retornar a musica os alunos exercitam a ação de lançar o bastão ou se defender com o mesmo. Por fim, cada aluno com um bastão, aprende o banco de passos do Maracatu Rural a partir da demonstração do professor. O desenvolvimento desse exercício, deixa claro como o aquecimento pode conduzir ao aprendizado da dança; durante a atividade o professor faz observações sobre a importância de desenvolver a visão periférica, a concentração e a prontidão para a execução do Maracatu Rural. A apropriação dos passos do Maracatu Rural vem a partir de um trabalho corporal, que tem seu foco nos mesmos elementos fundamentais para tal dança.
3) – Desaquecimento Em grupos de quatro pessoas: Todos em pé. Uma pessoa fica no centro e mantém seu corpo relaxado, joelhos semi-‐flexionados e pés paralelos, e as demais ficam em volta e se distribuem de modo que suas mãos percorram por completo o corpo do colega, cada um na parte em que se posicionou, todos ao mesmo tempo. Então, começando pela parte superior do corpo (costas, ombros, peito, braços, mãos, dedos, bacia), e descendo para parte inferior do corpo ( quadril, pernas e pés), vamos “amassando” os membros como massa de pão. E processo se repete mais 3 vezes:
- com as mãos em forma de concha, batendo com uma intensidade moderada; - fazendo pequenos movimentos circulares com as mãos abertas, esfregando
levemente; - e para finalizar todas as mãos juntas de uma vez só , percorrem o corpo do
colega da cabeça aos pés, como uma ducha dágua caindo. Então a pessoa que está ao centro vai pro redor e outra do grupo vai pro centro. Isso se repete até que todos tenham recebido a massagem. Esses movimentos das mãos pelo corpo tem a intenção de relaxar, soltar a musculatura trabalhada. Depois da massagem o grupo senta em roda e conversa sobre o desenvolvimento e as conquistas da aula. FORMAÇÃO DE JOVENS BRINCANTES – Ano II “Reelaboração e Criação” O segundo ano do curso tem como objetivo o aprofundamento dos conhecimentos apreendidos no primeiro ano, bem como o estímulo à reelaboração da atividade artística e criação de repertório próprio. Os alunos-‐brincantes passam a tecer uma relação muito mais estreita com o curso e a carga horária se intensifica, de forma a cobrar do jovem não só a participação nas aulas, como em atividades extra-‐curriculares. Palestras, oficinas e eventos que ocorrem dentro do próprio Instituto. A interdependência das diferentes frentes que o curso traz com a educação, nesse segundo momento, é evidente. O Instituto espera que, com esse grau de comprometimento, o jovem possa ser capaz de desenvolver um novo campo profissional onde a expressão dos brincantes integre a arte brasileira à educação. Sendo assim, esse “aprofundamento” faz com que o jovem brincante, uma vez imbuído das ferramentas trabalhadas ao decorrer do curso, esteja capacitado para desenvolver um produto artístico e/ou trabalhar com arte-‐educação.
Atividades Regulares Atividade: Percussão, jogos e brincadeiras rítmicas, e dança Carga horária: 1x por semana/3 horas semanais Grade curricular: Reelaboração do universo rítmico brasileiro através dos instrumentos de percussão, do canto, e da poesia popular. Atividade: Danças Brasileiras Carga horária: 1x por semana/3 horas semanais Grade curricular: Exercício de consciência corporal, assimilação de passos e desenhos coreográficos tradicionais e exercícios de criatividade a partir desses passos ou movimentos. Atividade: Teatro Carga horária: 1x por semana/3 horas semanais Grade curricular: Estudo das máscaras, vozes, músicas e qualidades de energia presentes nos diferentes folguedos populares. Atividades Extra Curriculares Atividade: Sambada Carga horária: 1x por mês/4 horas mensais Confraternização entre alunos, amigos e familiares. Na sambada, além da diversão que é proporcionada, o aluno experimenta, através de números criados por ele ou pelo professor o conteúdo aprendido em sala de aula. Atividade: Rodas Carga horária: 1x por mês/4 horas mensais Grade curricular: Encontros conduzidos por artistas, pesquisadores ou intelectuais com alunos e familiares para a reflexão sobre os mais variados assuntos principalmente relacionados à Cultura Atividade: Oficina Carga horária: 1x por mês Educadores: Especialistas de diversas áreas Grade curricular: Visando aperfeiçoar o conhecimento dos alunos em diversas áreas, as oficinas também tem como objetivo, auxiliar no processo de formação dos alunos. Atividade: Construção de Espetáculo Carga horária: indefinida Educadores: educadores das aulas regulares e não regulares, além de convidados
Grade curricular: Utilizando-‐se de conhecimentos adquiridos fora e dentro do curso, os alunos têm como tarefa, a construção de um espetáculo que deve ser apresentado no final do curso no próprio Instituto Brincante. Atividade: Construção de Oficinas Carga horária: indefinida Educadores: os próprios alunos Grade curricular: Sendo este um dos objetivos da Formação de Jovens Brincantes, os alunos se preparam para posteriores oficinas que serão ministradas por eles mesmos. Estrutura das aulas As aulas do segundo ano da Formação tem por estrutura básica a mesma das aulas do primeiro ano (aquecimento, desenvolvimento/apropriação e desaquecimento), com o acréscimo da reelaboração, que geralmente se encaixa depois da apropriação, e que permite uma nova relação do aluno para com o conhecimento que está sendo apresentado a ele. Nesse segundo ano, há somente uma turma de jovens, que participam de atividades regulares três vezes por semana. Com uma carga horária significativamente maior, a especificidade de cada linguagem artística é trabalhada de forma a permitir que o jovem se forme de maneira plural, dialogando com todas essas linguagens. O importante dessa reelaboração é justamente o processo de sedimentação do conteúdo apreendido via professor. A imitação propriamente dita dá lugar à criação. A estrutura das aulas vem a corroborar com esse objetivo. Depois de um aquecimento, há a introdução de um conteúdo novo, ou a memorização de um conteúdo já visto. O terceiro momento, portanto é o da reelaboração, no qual os professores trazem propostas diversas para que tal conteúdo seja abordado de forma distinta aos exercícios anteriores, via aluno-‐conteúdo, sem o intermédio do professor, que aqui exerce o papel de orientador e “conselheiro”. Por fim há o desaquecimento. Durante o curso são apresentados cinco temas para serem pesquisados. Temas de 2010:
O Povo Brasileiro _ Darci Ribeiro Reis de Congo-‐ Oswald Barroso Milton Santos -‐ O Filme O corpo cômico. O humor na música A turma é dividida em grupos cuja tarefa é pesquisar um desses temas e organizar uma oficina para os demais alunos.
A partir dessas oficinas um tema ou uma idéia serve como ponto de partida para que cada aluno crie uma cena, individual ou conjunta, que represente a síntese do seu aprendizado com o curso de Formação. Este trabalho e concebido completamente pelo aluno durante o processo de formação e apenas conduzido ou dirigido pelo grupo de professores/instrutores. A reunião do fruto do trabalho de todos os alunos gera um espetáculo que fica em cartaz no Instituto Brincante por um mês ao final do ano. FORMAÇÃO DE JOVENS BRINCANTES -‐ Ano III “Formação Continuada” O terceiro ano do curso é um ano opcional, onde o Instituto oferece ao aluno a possibilidade de continuar suas atividades de estudo, bem como proporciona parcerias entre o próprio Instituto e o jovem, para que este possa aplicar os conhecimentos aprendidos nos dois primeiros anos, como em oficinas ministradas pelos alunos sendo representantes do Instituto, ou apresentações. É nesse ano que o jovem pode participar dos núcleos de pesquisa: o núcleo de pesquisa do movimento, o núcleo de musica e o núcleo pedagógico. Cabe ao aluno que pretende continuar com a formação, a decisão de onde e como continuar, que atividade é de sua preferência e como sua contribuição e crescimento podem ser melhores. O Núcleo de Pesquisa do Movimento é um grupo formado por pessoas que já tenham concluído a formação no Instituto Brincante, conduzido por Antonio Nóbrega, para a pesquisa de uma nova linguagem de Dança Brasileira. Esta atividade ocorre uma vez por semana, com duração de duas horas e meia. Tem como foco de atuação, o aprofundamento da pesquisa e estudo da cultura corporal brasileira e sua sistematização para a prática, tanto artística quanto educacional. O Núcleo de Musica é o núcleo de pesquisa de ritmos brasileiros. O grupo cria repertório próprio a partir de musicas tradicionais re-‐arranjadas. Isso é divulgado em apresentações internas do Instituto, como as Sambadas; e apresentações externas. Os encontros deste grupo ocorrem uma vez por semana, com duração de quatro horas. O Núcleo Pedagógico é o núcleo formado por ex-‐alunos do Curso de Formação e tem como objetivo registrar e documentar as atividades que ocorrem no Instituto, a partir de observação de aulas, vídeos, relatórios dos alunos entre outros. Este Núcleo se reúne mensalmente para discussão sobre as atividades observadas e tem como seu primeiro produto este documento, que vocês estão lendo agora.
IV -‐ CURSO A ARTE DO BRINCANTE PARA EDUCADORES Por Michelle Rodrigues e Thalita Gava, com base em arquivos do Instituto e análises próprias O que é o curso? É um curso de formação para Educadores, com atendimento preferencial àqueles que lecionam na rede pública de ensino, que apresenta elementos da Cultura Popular Brasileira tais como a dança, a musica, a dramatização, a confecção de instrumentos, brinquedos, roupas e adereços, para com isso construir uma visão integrada das diversas manifestações, somando a esses elementos conteúdos que proporcionam a reflexão acerca da Cultura da Criança e da importância do “brincar”, formando um sujeito crítico, consciente de suas raízes, que melhor compreende e reflete sobre sua postura como ser humano, descobrindo seus potenciais criativos e a percepção de que é possível unir pedagogicamente literatura, artes plásticas, teatro, dança e música. Como acontece? São módulos formativos, cada modulo tem um mês de duração em media, com carga horária de 4 horas semanais, a exceção ao modulo de Danças Brasileiras -‐ que acontece durante todo o curso com carga de 1 hora semanal. São lecionados por arte-‐educadores especialistas em vivências que integram o fazer artístico e a reflexão sobre a função da arte na formação do ser humano. O desenvolvimento dos mesmos segue uma lógica que tem por finalidade a construção do conhecimento partindo da sensibilização e reflexão, passando para a vivencia, chegando ao fim do processo com resultados construídos a partir da elaboração pessoal. No período de início das atividades os ministrantes realizam atividades com intuito de identificar os participantes, apresentar o espaço, e diagnosticar a percepção inicial dos mesmos. Os Módulos seguem assim:
Módulo 1 – Março: “Por uma educação da sensibilidade”
Ministrante: Maria Amélia Pereira (Péo)
Aborda o processo de desenvolvimento da criança a partir de relatos e de imagens da cultura infantil. Busca a compreensão do brincar como ato de conhecimento sensível e iniciador do processo criador.
Programação:
1. Singularidade e universalidade do brincar;
2. Relação do homem com a natureza e a cultura no ato do brincar;
3. O tempo cíclico e sua relação com o tempo da infância;
4. O conceito de aprendizagem compreendido como a aventura da consciência. Objetivo: Desenvolver no educador Brincante a capacidade de refletir sobre sua própria prática ampliando seu referencial cognitivo através da abordagem do universo Sensível presente ao exercício de uma educação Integrativa. A leitura simbólica do imaginário que caracteriza o repertorio dos brinquedos e brincadeiras da Cultura da Infância será abordada através de referenciais áudio-‐visuais que constituem o acervo de pesquisa do Centro de Estudos da Casa Redonda abordando os seguintes itens: -‐ A Natureza e seus elementos como agente propulsor e determinante de experiências significativas do Brincar seja pela multiplicidade dos desafios sensíveis e corporais que ela oferece, seja pelo fortalecimento do vínculo entre o ser humano e seu Habitat. -‐ O ato de Brincar como uma linguagem de conhecimento próprio da Cultura da Infância focando as noções de TEMPO e ESPAÇO pertinentes a esta etapa do desenvolvimento. -‐ O Corpo como continente da pulsão expansiva de crescimento corporificado no repertorio espontâneo dos gestos da Cultura da Infância como respostas às necessidades de desenvolvimento físico-‐ psíquico da criança. -‐ A função vinculadora e socializadora da experiência lúdica vivenciada através do repertorio da Cultura da Infância em suas diversas manifestações, presentes na memória dos participantes do módulo como força motriz do re-‐conhecimento e conhecimento da importância da experiência sensível no processo de desenvolvimento humano.
Módulo 2 – Abril: “Danças Brasileiras”
Ministrante: Rosane Almeida
Prática das formas de danças presentes nos folguedos populares brasileiros, bem como o estudo e a reflexão sobre as diferentes possibilidades de pensar e experimentar o corpo.
Programação:
1. Os brincantes e os folguedos populares;
2. A trajetória dos folguedos populares;
3. A memória e o corpo;
4. O corpo da natureza e a natureza do corpo.
Primeiro Encontro Escolhi iniciar meu módulo com a apresentação do vídeo Folia Geral. Um documentário sobre o carnaval de Recife com depoimentos de artistas populares, idealizado por Antonio Nóbrega, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, com fotografia de Walter Carvalho e um emocionante depoimento de Ariano em Suassuna sobre a riqueza da cultura popular brasileira. É um material excelente para se refletir sobre o tamanho do envolvimento de cada um dos participantes com seu trabalho, como todos os envolvidos sabem e gostam do que fazem. Acabam por se apropriarem de um saber que os torna mestres incontestáveis dentro de suas atividades. Isso cabe tanto para os artistas populares, como para um diretor de cinema, um fotógrafo, um músico ou um professor. Na parte prática da aula o aquecimento acontece com um tipo de “habilidade”, um malabares que mobiliza o pensamento, a palavra e a ação. Segundo Encontro Apresentação de um vídeo sobre o REIZADO. Reflexão sobre a idade dessas manifestações populares. A trajetória desses folguedos na história da humanidade e sua função na sociedade contemporânea. Apresentação de um número de dança que é uma recriação das danças populares para refletir sobre o feminino na nossa sociedade. Na parte prática um espaço de tempo pra que cada um se recolha para si e possa estar mais aberto para assimilar novas informações, movimentos, brincadeiras, desafios etc. Terceiro Encontro Construção dos arcos. A Dança-‐ dos Arcos, como é conhecida está presente em várias manifestações populares, remete ao arco-‐íris, a ligação entre o céu e a terra, o sagrado e o profano numa harmonia com todas as cores. Todas as reflexões giram em torno do fazer artísticos, do experimentar, do brincar com o corpo, com a proposta ou com uma idéia... Quarto Encontro
Apresentação do Vídeo INDIOS NO BRASIL. Uma reflexão sobre a relação do colonizador com a natureza e a nossa relação com a nossa natureza. Do que somos feitos? Como nos tratamos? O quanto nos conhecemos? Qual o papel das emoções na organização da nossa musculatura. Nesse quarto encontro fazemos um apanhado das três aulas anteriores, tanto a parte teórica reflexiva, como a parte prática. Os alunos fazem conexões, expõem suas vidas, criam individualmente e se organizam coletivamente para a construção de um ritual, do nosso ritual. Uma festa no silencio. Conseguimos a satisfação por nos alimentarmos das nossas histórias, do nosso potencial. Encontro dificuldade para traduzir em conceitos, situações emocionais, experiências físicas. Hora sinto as palavras pequenas, casas velhas, hora as vejo como estradas que não sei onde pode levar. Sou do fazer. Me lembro do cheiro das aulas. Ouço a pisada dos ritmos que fazem os olhos vibrarem. Canto e choro com esses companheiros nessa longa jornada para se construir o novo. Um novo mundo, um novo país, um novo Humano! Um humano com a história da terra, com a luz do sol, livre como os ventos mas com a força e a delicadeza das águas. Um humano divino. Com espírito em festa. A Festa do Divino Espírito São = Saudável = Santo.
Módulo 3 – Maio: “Contos e histórias tradicionais”
Ministrante: Cristiane Velasco
Estudo e exercício das diferentes formas de contar a tradição oral, vistas como instrumento de educação.
Programação:
1. Ouvir histórias;
2. Relatos orais e visuais sobre a experiência de contar histórias;
3. Iniciação a pratica de contar histórias.
Primeiro Encontro
Costumo iniciar este primeiro encontro pontuando os objetivos claros do módulo: 1. Compartilhar processos significativos dentro da minha formação como contadora de histórias, uma vez que não há fórmulas para se contar histórias e sim formas, sendo que a forma de cada um encontra-‐se diretamente relacionada à sua própria história de vida. 2. Fundamentar a importância das “histórias de boca” através de relatos de experiência como educadora junto às crianças na Casa Redonda. 3. Contar algumas histórias e propor exercícios de sensibilização/recriação. A partir daí faço um breve relato da minha própria história e busca pessoal. Através de uma cantiga de roda e exercício de conexão com memória dos sons da infância de cada um, proponho reflexão sobre o Tempo das histórias, relacionando Memória e Imaginação. Apresento o conto popular brasileiro “O Papagaio Real”, utilizando recursos de minha pesquisa que reúne contos, danças e cantos tradicionais. Partindo dessa escuta, o grupo compartilha sensações, lembranças, observações que brotaram da experiência de ouvir a história contada e vou alinhavando os comentários, fundamentando a importância das “histórias de boca”, as conexões entre campos neurais envolvidas nesse exercício de ver criativamente. Percorremos estrutura, climas e personagens, dentro de exercício de apropriação de uma história. Como sugestão bibliográfica mais ampla: bibliografia de livro (histórias recolhidas da tradição, histórias recriadas a partir da tradição e histórias inventadas), bibliografia “de boca” (pesquisa oral) e bibliografia de vida (utilizando como exemplo uma personagem que criei inspirada em minha avó). Proposta de dois exercícios em grupo, recontando “O Papagaio Real”. Primeiramente focando a estrutura-‐esqueleto da história, e posteriormente os personagens-‐qualidades internas. Segundo Encontro Inicio este encontro contando “O caso do Bolinho”, um conto tradicional. A partir da história proponho reflexão sobre o elemento amedrontador nos contos: o tema do herói engolido. Sigo trazendo outros exemplos da temática do Mal como aquele que foi dividido, o monstro que guarda o coração fora do corpo, o papão que se desmonta em pedaços, o gigante que leva a cabeça debaixo do sovaco, etc. Tecemos proximidades entre Cultura Infantil e Culturas Tradicionais, no que se refere à experiência do medo. As histórias dentro da Educação como Ritos de Passagem
fundamentais; a função do Mal nos contos, espaços simbólicos de enfrentamento e auto-‐regulação através do domínio psicofísico sobre o Medo. Sugiro que compartilhem histórias de medo que acompanharam suas infâncias e então ouvimos inúmeros relatos identificando muitos medos comuns, coletivos. Também procuro esclarecer dúvidas em relação à maneira do professor conduzir situações de crianças com medo. Apresento “A Véia da Gudéia”, uma história criada junto às crianças na Casa Redonda, a partir do pesadelo de um menino de cinco anos. Então compartilho o processo de criação dessa história e seus desdobramentos. Encerro com o áudio de Seu Geraldo Tartaruga, de São Luís do Paraitinga, um contador popular de histórias contando “O Bichão”.
Terceiro Encontro Caracterizo as “Histórias Brincadas”, como costumo chamar os Teatros da primeira infância. Inicialmente proponho algumas Cantigas de Roda, exemplos de histórias brincadas da Cultura Popular, como “A Linda Rosa Juvenil” e “Onde está a Margarida”; histórias que viraram Brinquedos. Depois, exploramos possibilidades de movimentação e transformação de uma grande lona circular colorida, brincando outras variantes que nasceram junto às crianças na Casa Redonda (ex: a lona virando saia da Margarida, ou saia da Mãe -‐ esconderijo dos filhos no pega-‐pega “Enquanto Seu Lobo não vem”, etc). Apresento “Maria Sabida e João do Uia”, um conto transformado em história brincada junto às crianças na Casa Redonda. Então assistimos a um DVD com quatro situações em que as crianças brincaram essa história, procurando ilustrar a necessidade espontânea de experimentar papéis, revezando com as outras, internalizando possibilidades e lidando com os limites que cada uma delas oferece. Proposta de exercício a partir do conto popular “O Espelho Mágico”. Quarto Encontro Compartilho mais relatos de experiência e algumas histórias (“A Cabrinha e a Onça: um conto cantado” e “Maria e o Peixe Encantado: uma Cinderela Baiana”). Conversamos a respeito das brincadeiras envolvendo morte/renascimento, realizadas muitas e muitas vezes pelas crianças (ex: a criança escondida brincando de nascer de dentro de um cesto, a morte da bruxa projetada na figura do educador e o nascimento da princesa, a
morte da madrasta e o nascimento da mãe, a filha desmaiada que precisa despertar, etc). A morte dentro do universo simbólico da criança como transformação. Assistimos ao DVD “Eu quero história de boca!” que traz esses conteúdos na experiência da Casa Redonda. Apresento “Avoou”, história autoral que conta a minha própria trajetória de vida. No fundo o grande objetivo do módulo é sempre esse: que cada um possa “avoar” para dentro de sua própria história... Assistimos ao DVD “Dançando Histórias”, uma edição dos meus três espetáculos como contadora de histórias: “Contos Indianos”, “Contos Flamencos” e “Avoou: Contos Brasileiros”. Finalizamos o módulo com duas Rodas de Verso, ilustrando como os versos também contam histórias com climas diversos.
Módulo 4 – Junho: “Figuras e adereços dos folguedos populares”
Ministrante: Cristina Cruz
Confecção, utilização e manipulação de figuras (míticas e típicas) presentes no teatro, na dança e nos folguedos da tradição popular brasileira.
Programação:
1. As figuras do imaginário popular brasileiro;
2. Os tipos e arquétipos Adereços (natalinos, juninos e carnavalescos) Primeiro Encontro | Ciclo Junino Neste primeiro encontro, a proposta é de fazer uma roda de apresentações para conhecer o grupo e poder fazer algumas orientações pessoais ao longo deste módulo. Fazemos uma apresentação das proponentes, em relação ao histórico de cada uma, à experiência prática no trabalho da Casa Redonda Centro de Estudos e na Oca-‐Associação da Aldeia de Carapicuíba e com formação de professores Sobre este módulo, contextualizamos o Curso A Arte do Brincante para Educadores que acontece desde 1996 e como ele foi se adequando a partir das avaliações dos participantes e como este módulo de Adereços foi estruturado pensando em recursos simples como jornal e caixa de papelão, mas preocupado com uma qualidade estética, de acabamento e transformação dos materiais. Este módulo está inserido na compreensão global da Formação de um Educador Brincante, integrado aos outros módulos de Educação da Sensibilidade, de recursos para a Narração de Histórias e da incorporação e gestualidade das Danças Brasileiras dos diversos Folguedos da nossa cultura. A proposta é resgatar a compreensão sobre Cultura da Infância e da Cultura Brasileira, como sendo os pilares para a compreensão das artes através do fazer, com uma
relação de significado, de ligação entre o eu e o mundo, como forma de enraizamento e construção da nossa identidade cultural brasileira. “Fazer e em fazendo, fazer-‐se”, de Sartre “Dar forma é formar-‐se”, de Fayga Ostrower Trabalhamos com as matrizes culturais brasileiras: indígena, africana e européia e como elas estão presentes nos Ciclos de Festas, em que reconecta os homens à dimensão do Sagrado, ao tempo cíclico, à ligação com a Natureza e com o planeta, como um todo. A idéia é despertar uma reflexão, no sentido de buscar o sentido e o significado das festas, inspirada na tradição, resgatar sua memória pessoal e coletiva na participação destas festas para poder recriar, no seu tempo e espaço e no seu contexto, sem perder a essência destas vivências. Escolhemos três festas: São João, Ciclo Natalino e Carnaval para trabalharmos nestes encontros, com a proposta de construção de adereços, baseados no imaginário e no rico acervo da Cultura Brasileira. “É dentro da unidade de nossa diversidade que habita o coração do povo que somos”, de Antonio Nóbrega Temos também textos, livros, DVDs, CDs, de materiais ilustrativos e reflexivos para orientação e formação destes educadores. O tema deste 1º encontro é o Ciclo Junino e a Festa de São João, para começar e encerrar no último encontro, com a noção do tempo cíclico, de que a cada ano as festas são renovadas, com dança, música, adereços e comemoração com comidas e bebidas. Para alimentarmos a inspiração, passamos um VÍDEO de SÃO JOÃO, do acervo do Centro de Estudos Casa Redonda, mostrando possibilidades de realização, mesmo com crianças pequenas e a riqueza e beleza desta festa apenas com papel crepom e papel de seda. Os seus símbolos como fogueira, mastros, pau de fita, pau de sebo, a ressignificação da festa da colheita, suas histórias e suas diversidades de comemorações de Norte a Sul do Brasil. Depois, a proposta é construir os adereços: BOI E BURRINHA, com rolinho de jornal e caixas de papelão. São estruturas grandes que possam entrar dentro. A idéia é de trabalharem em grupos para que possam entender o processo de construção e depois transpor para outros contextos. Os trabalhos poderão ser levados para casa, ou continuados durante os próximos encontros e poderão ser finalizados até o nosso último encontro, para que possam enfeitar a Festa do Brincante.
Segundo Encontro | Ciclo Natalino Neste encontro, buscamos o significado das festas realizadas no Ciclo Natalino, como Cavalo Marinho, e Reisado. A idéia é perceber que estas festas já eram comemoradas antes mesmo do Cristianismo e que o simbolismo que está presente é o nascimento de uma criança, como de um ciclo novo. Assistimos ao vídeo FESTA DA ESTRELA, do acervo do Centro de Estudos Casa Redonda, para que as imagens possam alimentar o fazer através do despertar da sensibilidade. A proposta neste dia é para fazer um CHAPÉU DE REISADO, com caixa de papelão e brilhos para espantar mal olhado. Para o Cavalo Marinho, propomos o CHAPÉU DE MATEUS, que é um brincante e animador deste folguedo, assim como as máscaras dos demais personagens. Outra possibilidade é a ESTRELA como um símbolo de luminosidade. Esta estrela de rolinho de jornal tem uma versão mais simples, bidimensional, ou tridimensional. Terceiro Encontro | Ciclo Carnavalesco Neste dia, a reflexão é sobre o sentido das máscaras, seu caráter de transcendência, seu uso milenar em diferentes culturas, tanto no Ocidente, como no Oriente. Mostramos imagens de máscaras de lugares diferentes e também brasileiras, com influências indígenas, africanas e européias e seu uso em rituais, teatros, festas e no Carnaval. As máscaras têm um papel importante como elemento terapêutico, no sentido da consciência dos diferentes papéis, dos arquétipos que elas representam, seu uso no Teatro Contemporâneo, assim como a função educacional. Focamos no Carnaval brasileiro, e assistimos um DVD sobre Manifestações Culturais da Fundação Joaquim Nabuco de Recife, sobre o Ciclo Natalino (referente ao encontro anterior) e sobre o Carnaval, falando sobre os clubes, trocas, blocos, Maracatu, Caboclinho e Frevo. Desta forma, podemos ter uma contextualização histórica destes movimentos para inspirar o seu fazer. A proposta é o CHAPÉU DO CABLOCO DE LANÇA, do Maracatu e o COCAR DOS CABOCLINHOS, assim como as diversas MÁSCARAS, tanto do Cavalo Marinho, como outras Carnavalescas. A experimentação das máscaras traz a “in-‐corpo-‐ração”, é vivenciada no corpo e serve como recurso para o Teatro, na criação de personagens e para a narração de histórias. Quarto Encontro | Ciclo Junino | São João
Para o fechamento deste módulo, propomos retomar o ciclo Junino, com a produção de ENFEITES E CHAPÉUS para a DECORAÇÃO DA FESTA que é um momento de confraternização com outros grupos do Brincante. Temos algumas sugestões de chapéus de diferentes modelos, feitos por crianças, assim como enfeites e luminárias diversas para que possam fazer, além dos acabamentos e finalizações dos trabalhos anteriores pendentes. Existem luminárias de “Medusas”, cortadas com papel de seda sobre estrutura de rolinho de jornal, com algumas variações, com aproveitamento das sobras de papel para fazer toalhinhas de papel picado, além de flores de modelos diferentes. A proposta é fazer uma avaliação e ver o retorno, no sentido de ampliar as possibilidades, as referências, a criatividade, de quebrar barreiras quanto ao se experimentar com o fazer, com as artes, com o grupo, da capacidade de transformação, de poder colocar em prática o que aprendeu, com a produção de materiais riquíssimos, compreendidos em seu contexto e com uma relação de sentido como este fazer e resgatando a criança brincante dentro de si, que se encanta com o que faz. Mesmo com o pouco tempo, a idéia é aprender uma técnica e utilizá-‐la como ferramenta e recurso em outras ocasiões, usando a criatividade e inventividade que são infinitas. Ao final, propomos uma integração com o trabalho realizado pela Rosane Almeida com uma apresentação da coreografia ensaiada, com uma brincadeira com os bois construídos, como uma forma de encerramento deste módulo e deste semestre, com uma celebração com comidas e bebidas e muita alegria! Para finalizarmos este módulo fechamos lendo alguns versinhos, como por exemplo: “Sou corda de rabeca Sou acorde dissonante Sou coral, sou sinfonia, Na vida sou Brincante!”
Módulo 5 – Agosto: “Música das manifestações populares da cultura brasileira”
Ministrante: Eugênia Nóbrega
Iniciação ao universo dos toques, instrumentos e cantos da música brasileira.
Programação:
1. A gaita dos caboclinhos;
2. Loas, toadas e cantigas;
3. O batuque do pandeiro, o balanço do Ganzá, o toque da caixa, o baque da alfaia.
ES MENSAIS09 Primeiro Encontro Fora feito a apresentação, destacando-‐se o objetivo do módulo e as expectativas de cada participante para melhor reconhecimento do grupo. Através dessa apresentação foram expostas opções para realizarmos o módulo, assim como a escolha do gênero musical pela qual eles gostariam de aprender. Como estamos nos referindo “A Arte do brincante” brincaríamos com o samba e o coco, dois gêneros de música da nossa cultura, divididos em dois encontros a cada gênero, através dos toques do pandeiro, do surdo, do tamborim, do agogô, do ganzá e da alfaia. Começamos pelo “toque do pandeiro”, com pequenas bases teóricas como o sustentar do instrumento, a posição, o dedilhado e aprofundamos a parte prática, o tocar no instrumento. Do pandeiro partimos para o “toque do surdo” (o sustento do samba). Também simples aprendizagem teórica como posicionamento, execução da baqueta e partimos para o desenvolvimento motor, a parte prática, surgindo assim o primeiro toque do samba do pandeiro com o surdo. Fomos ao encontro do terceiro instrumento, o “toque do tamborim”, na parte teórica também trabalhando o sustento e o movimento do instrumento. Juntamos a mais um instrumento, o “Ganzá”, com os mesmos princípios de aprendizagem. (Como temos poucas horas de atividades o mais interessante e importante é executar a parte prática). Adquiridos os ritmos dos 4 instrumentos foram formados 4 grupos de cada instrumento e formamos assim uma pequena “batucada de samba”. Para finalizar esse primeiro encontro, foi preciso desenvolver o lado emocional de cada educador e para desenvolver este lado o aprendizado de um canto: ”O Trem das Onze” de Adoniran Barbosa, também com pequenas bases teóricas e mais a prática.
Este samba por ser bem conhecido não teve problema em relação à memorização da letra, pois era esse realmente o objetivo. Vale salientar que a cada prática de instrumento fora feito um trabalho para desenvolver o lado esquerdo do cérebro, todos os educadores executaram os instrumentos tanto no braço direito quanto o braço esquerdo. Segundo Encontro Deixamos o Samba e partimos para o Coco. Os Instrumentos utilizados foram o Pandeiro, o Ganzá e a Alfaia. No pandeiro e no ganzá já tinham adquiridos alguns conhecimentos teóricos, partimos de imediato para a prática do ritmo do coco. Adquirido o aprendizado iniciamos à prática do toque da alfaia pelo mesmo princípio básico, o sustentar, apoiar, segurar baquetas, etc. Após os ritmos aprendidos partimos para a formação de três grupos em semicírculo e a cada dez a quinze minutos esses grupos giravam em sentido horário para cada grupo passar por todos os instrumentos, o mesmo processo no primeiro encontro. Iniciamos o aprendizado de um novo canto, ”Moça Namoradeira, Ceguinhas da Campina Grande” e se juntando ao ritmo do Pandeiro, Ganzá e Alfaia. Para finalizar o segundo encontro fora feito um jogo de memorização rítmica, jogo para o desenvolvimento da sociabilidade. Terceiro Encontro Revisão de cada instrumento mais o acréscimo do aprendizado do agogô, com o mesmo procedimento no que se refere ao conhecimento teórico e prático. Mais um novo canto,”Embolei, Embolei, Burrinha de Valentim, Acupe, BA”, para o desenvolvimento emocional se juntando ao que se refere ao desenvolvimento intelectual, o ritmo. Novamente nos divididos em grupos e fomos alternando os instrumentos, cantando, tocando e dançando ao som do samba com improvisações rítmicas e melódicas de cada educador.
Quarto Encontro Revisão dos ritmos e toques do coco. O mesmo processo, revisando cada instrumento, os seus toques aprendidos e um novo canto, ”Mandei Cortar Capim”, Canto de Casa de Farinha, Tacaratu, CE. Improvisação rítmica e melódica a cada educador com os ritmos adquiridos tocando, cantando e dançando. Para finalizar vale salientar que no início esse universo era desconhecido para os educadores, mas com o tempo foi se tornando familiar. Isso se deu, pela força e vontade de aprender a tocar, cantar e dançar. Tiveram alegrias e contentamentos por terem alcançado os objetivos. “Nunca pensei que um dia iria tocar cantar e dançar ao mesmo tempo, agora já sei que a música faz parte de mim, ela nos faz bem, não deixarei mais de tocar pandeiro” Ana Paula Novais Martins1 1 Foi uma das selecionadas pelo Programa Desafios IMPAES 2009 e ministra aulas no CEI Jardim Panamericano – São Paulo -‐SP Módulo 6 – Setembro: “A Palavra Poética”
Ministrante: Lucilene Silva e Antonio Nobrega
Introdução à poética popular brasileira por meio da prática e estudo de suas formas e gêneros.
Programação:
1. Roda de versos;
2. A arte da cantoria;
3. Romanceiro e tradição oral;
4. Literatura de Cordel.
Esse módulo tem como objetivo proporcionar aos alunos o contato com a poesia popular brasileira, levando-‐os a compreendê-‐la nas suas várias dimensões: métricas, rimas, temas e contextos. Essa aproximação é feita ao longo de quatro encontros através de vídeos, áudios, aula espetáculo, exercícios práticos e de criação, além da prática de um repertório pesquisado em vários estados brasileiros, o que traz uma reflexão sobre diferentes características musicais e temáticas dessas diversas regiões.
São abordados vários temas do universo da Poesia Popular Brasileira e as peculiaridades estróficas de cada uma delas: 1-‐ Formas e gêneros
o Quadras o Sextilhas o Quadrões o Décimas de cinco, sete e dez sílabas o Galope a beira-‐mar
2-‐ O Romanceiro oral e o escrito
o Oral: as narrativas em versos de tradição ibérica e brasileira o Escrita: a literatura de cordel e seus inúmeros ciclos
3-‐ Poetas populares representativos
o Oliveira de Panelas o Ivanildo Vilanova o Luis Dantas Quesado
4-‐ Poetas eruditos brasileiros recriadores da poesia popular
o Cecília Meireles o João Cabral de Melo Neto o Vinícius de Morais o Chico Buarque o Bráulio Tavares
5-‐ Rodas de Verso
o Presente nas mais diversas manifestações brasileiras, entre elas os cantos de trabalho, formada pela quadrinha, verso de sete sílabas, básico da poesia popular, desde os trovadores medievais aos modernos cantadores do Nordeste brasileiro, de uso freqüente entre os cantadores rústicos do Brasil e a gente do povo em Portugal, que neste metro poético costuma improvisar e compor suas cantigas.
6-‐ A poesia popular da infância nas adivinhas, trava-‐línguas, fórmulas de escolha e parlendas.
Módulo 7 – Outubro: “Construção de brinquedos” Ministrante: Adelson Murta Adelson Murta Filho – ADELSIN Construção de brinquedos presentes na cultura tradicional infantil brasileira a partir do estudo da riqueza de suas formas e mecanismos. Programação: 1. Brinquedos com o corpo; 2. Brinquedos com a natureza; 3. Brinquedos com materiais recicláveis; 4. Brinquedos sonoros. A construção de brinquedos é uma das manifestações espontâneas do ser humano criança. A construção acontece naturalmente como a descoberta do gesto e da capacidade de combinar e transformar materiais. As crianças, que vivem a infância em liberdade e convivem com outras crianças, desenvolvem um repertório rico em movimentos e em possibilidades expressivas. Os impulsos criadores das crianças vão se somando às criações das outras crianças e formando uma cultura própria, muito rica e diversificada. Os impulsos que movem o ser humano criança são universais e atemporais, mas as formas resultantes de suas criações estão diretamente relacionadas à cultura e à natureza dos locais onde acontecem. Quando a cultura local e a natureza são vivas, a cultura das crianças floresce e a evolução segue o seu caminho. Primeiro Encontro Começamos o encontro com uma roda, símbolo universal de unidade e harmonia. Pedi aos participantes que me oferecessem um brinquedo de roda como sinal de boas vindas. Cantamos cantigas que haviam brincado com Lydia e Lucilene. Foi bom. Melhor seria, se eles tivessem me oferecido uma cantiga da infância de alguém da roda. Como sinal de gratidão, ofereci, à turma, um brinquedo cantado de minha terra no sertão de Minas Gerais! Sentados em roda, pedi a cada um que se apresentasse dizendo o nome, com que trabalhava, um brinquedo e uma fruta da infância. Os relatos foram muito interessantes e possibilitaram, a cada um, conhecer um pouquinho mais sobre os Segundo Encontro O segundo encontro com os educadores aconteceu num clima de muita alegria. Como o módulo da construção de brinquedos é o último do ano, os educadores já chegaram “lapidados” ao nosso encontro. Os educadores já ouviram de Lydia e Peo o que
há de mais especial no universo infantil. Já ouviram histórias fantásticas e construíram adereços dos ciclos encantados das festas brasileiras. Já cantaram, tocaram e dançaram. Já brincaram com o corpo todo e com a alma. Só me resta confirmar as descobertas cristalinas de cada um e apresentar mais alguns sinais da maravilhosa capacidade que as crianças têm de transformar o “nada” em objetos encantados: brinquedos! Terceiro Encontro Comecei o módulo falando um pouco da minha infância e sobre a relação que existe entre o menino que fui e o adulto que busco ser. De minha história real passei para uma história de fantasia, onde minha avó fazia crochê com um pedaço de cordão (barbante). Iniciamos assim os brinquedos com os fios e o “fazer com as mãos”. Os brinquedos com barbante são universais. Cada povo, em cada continente, encontrou sua maneira de tecer com as mãos. Desde o começo dos tempos, as gerações seguintes aprenderam com seus antepassados os segredos de movimentos que levam aos mais diferentes desenhos partindo de um fio amarrado nas pontas. Os gestos com as mãos e os movimentos cerebrais correspondentes resultam em configurações internas e externas de equilíbrio, simetria e harmonia. O tempo foi curto para cumprir o planejado. Deixamos alguns brinquedos com barbante para o encontro seguinte. Os participantes, como meninos, foram saindo brincando com seus barbantes. Quarto Encontro Demonstrei, a todos, a minha alegria em vê-‐los dançando com Rosane no ensaio para a festa de encerramento em dezembro. Falei sobre minha preocupação em saber que a maioria dos educadores do Brasil desenvolve os seus trabalhos sem vida e alegria. Eles, ali, eram justamente o contrário. Se eles conseguissem levar aquela atmosfera para o trabalho diário, causariam uma transformação positiva no movimento da escola, do projeto ou da instituição. Falei, ainda, que havia visto os materiais entregues por alguns eles ao Brincante com relatos dos trabalhos desenvolvidos em suas entidades. Disse, sinceramente, que havia identificado pontos muito importantes de percepção do universo infantil como a liberdade e o contato com a natureza. Novamente em roda, brincamos de “Melissin”, um brinquedo com as mãos e com o corpo que aprendi com as meninas da Bahia, na década de 80. A brincadeira termina com a citação de um super-‐herói dos quadrinhos. Aproveitei para demonstrar a construção de um boneco voador com jornal e papel crepom. Falei sobre a possibilidade de construir os
mais diferentes bonecos e bonecas, utilizando o mesmo princípio. A turma se entregou à construção e foram feitos heróis voadores, princesas, fadas e meninas bonecas. Módulo 8 – Novembro: “Iniciação à cultura da criança” Ministrante: Lydia Hortélio
Reflexão sobre as múltiplas dimensões da cultura infantil. Busca compreensão mais ampla e sensível do universo da criança a partir de uma experiência renovada do brincar. Programação:
1 Cultura infantil na arte dos povos; 2. Música tradicional da infância. Repertório de cantigas; 3. O objeto brinquedo; 4. Natureza: a casa da criança.
Primeiro Encontro
Nesse primeiro encontro depois de uma breve apresentação (facilitador e participantes) foi exibido imagens da Cultura Infantil através dos tempos, paralelos com o Brasil contemporâneo.
Essas imagens5 contam a história do que brincaram os meninos do mundo, desde que se tem notícia até os nossos dias. Ao longo dessa história vimos aflorar as lembranças dos Brinquedos da Infância de cada um os educadores.
Segundo Encontro
Continuando o assunto sobre Brinquedo, foi ressaltado que cada brinquedo de criança é um impulso de vida, um gesto da evolução, uma forma de realização e crescimento.
Nesse momento levantamos juntos exemplos de brinquedos, tais como, o Brinquedo de cavalinho, cujo movimento leva a criança a transportar-‐se, ser veloz, passar além, voar!... Vimos então que também ele, estará presente em muitos lugares e épocas, servindo aos cavaleiros do Sonho, os artífices do Novo, arautos do futuro. As bonecas de pano que ainda encontramos entre nós nas feiras do interior, também estão em Luxor, ao lado das pirâmides...
Alguns educadores trouxeram alguns brinquedos e relembramos juntos o “como” brincar.
5 As imagens são frutos de um trabalho de pesquisa de Lydia Hortélio, que já leva muitos anos, na busca de uma compreensão da Criança através do seu próprio movimento: o Brinquedo, o Brincar
Discutimos o Arquétipo e símbolo, realização e busca, esforço e Brinquedo, -‐ onde estaria a linha divisória ?! Certamente que não encontraríamos. E ai está, justamente, o mistério, a pista para a compreensão da Criança: sua inteireza, a obediência ao movimento interno, a espontaneidade, a busca de libertação, a Alegria!
Terceiro Encontro
Além de levantarmos o assunto Música da Cultura infantil, brincamos e cantamos juntos...
Os brinquedos com música fazem parte da vida da criança desde muito cedo. Aos acalantos e brincos da mais tenra infância, de iniciativa materna, seguem-‐se as parlendas e cantilenas, onde os primeiros gestos da melódica infantil se insinuam a par com o elemento rítmico da palavra. E, aos poucos, vão chegado os brinquedos cantados, cuja ação dinâmica, com suas variadas qualidades de movimento, talha uma música de caráter e perfil diferenciados, até alcançar, mais tarde, as rodas de verso, verdadeiros ritos de passagem, em que o conteúdo poético, a atmosfera própria e a movimentação, mesmo guardando dimensões da infância, apontam, cada vez mais, a expressividade da nova etapa a ser vivida. Discutimos sobre a alegria da música, o gosto pelo ritmo, o movimento, o caráter próprio de cada brinquedo, o tom característico de cada cantiga, tantas formas e possibilidades de expressão, de trocas afetivas e convívio inteligente precisam ser favorecidas às Crianças bem cedo, desde que chegam ao mundo. Já outros afirmaram, a elas estaremos devendo sempre o que de melhor sabemos, e de mais fundo sentimos e mais alto queremos.
Quarto Encontro
Fora debatido o quanto a Natureza é necessária à Criança para que haja afirmação de vida e crescimento. Não se pode então pensar em educação, Educação verdadeira, se a Criança está afastada de seu verdadeiro habitat. Fora dele a Criança só apresenta desconforto, desajustes intermináveis e uma cadeia de equívocos que só poderão ser sanados se reconduzirmos nossas Crianças à sua verdadeira Casa: a Natureza. Ela é o espaço primordial, portador da Vida, com suas múltiplas e infinitas dimensões e desafios. Façamos um parêntese rápido para considerar como são -‐ ou como não são -‐ planejadas nossas moradias e escolas, onde, paradoxalmente; só em raríssimos casos podemos reconhecer a possibilidade da presença alegre e espontânea das Crianças. De um modo geral são lugares sem árvores, sem beleza, sem condições de expansão para o intercurso natural.
Todos nós sabemos do poder propulsor, quase misterioso que a Natureza exerce sobre nós: a gente pisa diferente e se sente outra se tem a relva fresca sob os pés, se caminha na areia e sente a brisa do mar, se escuta o barulho da chuva e sente cheiro de terra molhada, ou o gosto do mel no aroma da flor de candeia, se ouve o silêncio da noite sob as estrelas do céu infinito... Quem estará tendo estas e tantas outras sensações?! Mas a Natureza nos faz rever nossas necessidades, apontando, de maneira irreversível, a urgência que se evidencia, cada vez mais, de voltarmos ao Jardim do Paraíso, buscando defender para nossas Crianças e para o Futuro do Mundo a experiência da Vida em união com o Todo. Que maravilha se pudéssemos conhecer, um por um, os gestos do Brincar de todos os tempos. Talvez assim tivéssemos o retrato mais verdadeiro do ser Humano – um retrato de corpo inteiro. Mas nem chegaríamos lá, e não importa, pois sempre haverá meninos no mundo, felizmente, e o milagre da plenitude e liberdade sempre de novo emergirá, indicando o caminho e a meta.
“O Homem só é inteiro quando brinca;
E é somente quando brinca que ele existe
Na completa acepção da palavra: Homem.”
Friedrich Schiller
Se olharmos as crianças e tivermos a sorte de vê-‐las em verdade, o que quer dizer, brincando, vamos concordar perfeitamente com o poeta alemão e com tantos outros mestres que vêm fazendo a apologia do Brinquedo através da História.
Quem não se lembra da maravilha dos cozinhados debaixo de uma mangueira ou de uma goiabeira, das rodas e brinquedos cantados em noite de lua, do silêncio e carreiras no esconde-‐esconde sol a pino, para chegar à picula sob o fresquinho da sombra de uma árvore amiga?
Meios de avaliação O processo de avaliação do curso acontece constantemente, seja durante a aula num momento de criação e improvisação dos participantes, ou respondendo questionários formais de Avaliação no inicio e final de curso, exposição de trabalhos realizados, construção novas propostas que abarcam questões como aproveitamento dos módulos, reelaboração do conteúdo assimilado, reflexão sobre o material. E é nesse momento que aparecem os pontos em comum a que chegam, como por exemplo o despertar para sensações corporais e para questões reflexivas a respeito de seu papel como Educador, a surpresa ao conhecer o universo da Cultura Popular e as possibilidades que ela pode gerar, mas principalmente a mudança no modo de ser e ver o humano.c
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS – Um começo
Texto de Marina Abib Candusso -‐ Com quantas interrogações se faz um Brincante. Monografia se encontra na integra no site www.institutobincante.org.br Na tentativa de compreender o trabalho feito dentro do Brincante, esbarrei em questões extremamente importantes para o entendimento do desenvolvimento político e cultural da sociedade contemporânea. Os descompassos entre discursos políticos e realidades sociais, a marginalização do que aqui chamamos de cultura popular em paralelo com a patrimonialização de suas manifestações quando interessantes para a construção de uma ideologia política, a chamada cultura de massa que hoje toma o lugar do "popular" e que com ele se confunde, dentre outras que não tiveram espaço para serem adequadamente abordadas. De qualquer forma todas essas sugestões me atentaram para um discurso carregado de vícios e preconceitos que perdura até hoje. Nesse contexto o Brincante se coloca como uma possível alternativa para se pensar o ser humano e o mundo contemporâneo através do olhar que é possível de se desenvolver, via as manifestações da cultura popular brasileira. Nesse sentido não importa discursar sobre uma suposta identidade nacional, porque ela seria mais uma forma na qual se congelaria um ser brasileiro, ela reduziria as inúmeras possibilidades do ser humano em uma homogeneidade nacional. Quando o objetivo passa a ser a transformação social por meio da construção do indivíduo, mais uma vez a forma é transcendida em prol de uma vivência coletiva da cultura. No Brincante, a confusão que comumente é trazida pelo conceito de cultura popular atrelado a idéia do nacional, parece estar bem resolvida. Aquilo que Renato Ortiz fez questão de separar em "memória nacional" e "memória coletiva" aparece na construção de uma aprendizagem "brincante". Nela a "memória coletiva", que opera na ordem da vivência, na concretude do cotidiano, traduz para as atividades ali existentes uma maneira de tornar o indivíduo parte integrante do todo que chamamos de cultura. Trazendo para perto conceitos que a priori nos parecem tão distantes. De uma certa maneira essa pesquisa buscou responder a um questionamento sobre a relevância do trabalho com manifestações da cultura popular, inserido em uma sociedade repleta de possibilidades. Qual a transformação que esse trabalho poderia gerar? Qual o sentido dele? De certo que a visão abordada aqui possui limitações. A busca por enfatizar o trabalho com o sensível, em oposição à racionalidade predominante na nossa sociedade, cria uma vivência que tende ao desenvolvimento de uma parte do ser humano que pouco tem espaço para se desenvolver cotidianamente. Isso faz do Brincante um lugar no qual se desenvolvem atividades que suprem uma lacuna dos dias atuais. A experiência da conjugação desses dois pólos fica
a cargo de cada indivíduo dentro das relações que este consiga desenvolver no seu dia a dia. Sendo que, se dentro das atividades do Brincante fosse possível desenvolver as inúmeras vantagens que a racionalidade possibilitou ao ser humano, sempre conjugadas àquilo que já está bem consolidado na metodologia Brincante, a potencialidade daquilo que já ocorre poderia tomar maiores proporções. O foco no desenvolvimento sensível do ser humano não escapa do engano de transformar as experiências ali vividas, em discursos pouco fundamentados. Em discursos que apenas reproduzem como informação aquilo que foi apreendido. A validade que acredito existir na construção dessa totalidade está, tanto no equilíbrio que Nóbrega cita na conversa como também na construção individual de uma aprendizagem, de um desenvolvimento, e de uma conclusão racional dos temas vivenciados sensivelmente, para que se saia do Brincante com bases não apenas intuitivas, mas também teóricas para a discussão e a argumentação sobre o que ali é feito. De alguma forma isso já começa ser feito nos cursos de formação quando se propõe reflexões sobre as vivências. Penso que importante seria também criar bases teóricas para ampliar o potencial dessas reflexões. Aprofundar conhecimentos que estão à disposição da humanidade, para além da experiência individual.
* * * A metodologia do Brincante se apresenta ainda em fase de desenvolvimento. O cerne de sua construção já se mostra consolidado, mas a maneira como isso se dá ainda parece nebulosa. Durante os dezoito anos de existência foi apenas nesse último ano que o Brincante buscou entender qual a metodologia que ali se consolida. Como toda a intuição e os saberes que fizeram daquele espaço e da carreira individual de seus fundadores, fortes referências dessa maneira de se trabalhar com as manifestações populares, se transformam em atividades dentro de um espaço chamado teatro escola. A meu ver só o tempo possibilitará esse entendimento. Dentre algumas visões sobre a cultura popular, a vertente abordada pelo Brincante pode ser o início para um entendimento mais profundo dessas manifestações. Se elas não trouxerem um sentido para quem as vivencia, não existe conceito que as faça sobreviver em sua totalidade transformadora, não existe ideologia que as torne representantes de uma "identidade" nacional. O objetivo educacional do Brincante se torna, em última instância, político. Reconhece, a partir de cada indivíduo, as buscas e as dificuldades que o coletivo enfrenta vivendo em um tempo como os dias de hoje e em um espaço como o centro urbano. A importância do olhar para a cultura popular desenvolvida dentro do teatro escola está exatamente no seu caráter mobilizador. Ou seja, o Brincante funciona como uma experiência de ser, ele próprio, um elemento dinamizador da compreensão, do
desenvolvimento e da apropriação do sentido maior de desenvolvimento humano existente nas manifestações da cultura popular. Seja por meio da festa, do rito ou da reflexão. No Brincante os frequentadores parecem ter a possibilidade de vivenciar, à sua maneira, uma aproximação daquilo que costuma estar extremamente distante da construção de sua realidade ou do entendimento conceitual sobre o tema. Esse viés de entendimento sobre a cultura popular esforça-‐se por desmistificar a construção política de uma definição que pouco trabalha com a vivacidade dessa cultura. Busca livrar esse conceito de vícios e preconceitos ainda hoje bastante evidentes. Este trabalho buscou fazer o árduo caminho da concretização teórica de uma vivência pessoal e de um convívio particular. Da transformação de saberes, a princípio subjetivos, em um texto concreto que não pendessem à um discurso ideológico. A concretude da vivência sempre parece menor quando exigimos dela palavras em um papel.
"Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circuspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é o homem humano. Travessia." (ROSA, 2001. pp.624)
A Arte do Brincante para Intérpretes e Educadores – Relatório das atividades desenvolvidas pelo projeto cultural do Instituto Brincante. 2008. ROSANE ALMEIDA Natural de Curitiba saiu de seu estado aos 16 anos e foi para Recife. Lá conheceu Antonio Nóbrega, com quem se casou e começou trabalhar. Entre os anos de 1983 e 1993 estudou arte circense na Escola de Circo Picadeiro em São Paulo, na Escola Superior das Artes do Circo em Chalons-‐sur-‐Mane (França) e na Scuola de Teatro Dimitri em Versio (Suíça). À sua formação circense somou estudos e atuações em dança, teatro e música numa constante investigação das manifestações populares brasileiras. Juntos, Rosane Almeida e Antonio Nóbrega fundaram, em 1992, o Teatro Brincante, um centro de estudo com o objetivo de ser um local de valorização, prática e difusão da cultura brasileira partindo dos resultados alcançados em suas pesquisas sobre a música, as danças e a maneira de representar e de cantar dos brincantes brasileiros. Em 1995, o teatro tornou-‐se escola e sob a coordenação de Rosane passou a oferecer anualmente atividades como cursos e oficinas abordando percussão e danças brasileiras, variadas manifestações populares, poesia popular, contos tradicionais e confecção de máscaras, figuras e adereços, canto e teatro. Em 2000, o Teatro Escola Brincante tornou-‐se Instituto Brincante, consolidando suas múltiplas vocações, com um estatuto que permite a ampliação das suas ações. Além de, durante todos esses anos, coordenar as atividades do Instituto, Rosane participou da concepção e como atriz-‐dançarina dos espetáculos de Antonio Nóbrega: • “Brincante” (1992); • “Segundas Histórias” (1994); • “Na Pancada do Ganzá” (1995); • “Madeira que Cupim não Rói” (1997); • “Pernambuco Falando Para o Mundo” (1998), participando, além de espetáculos pelo Brasil, no festival internacional de Avignon na França; • “Marco do Meio Dia” (2000), se apresentando por vários estados brasileiros e em Portugal, França e Alemanha; • “Nove de Frevereiro” I e II (2006, 2007 e 2008). No ano de 2004 criou seu espetáculo solo “A Mais Bela História de Adeodata” o qual lhe rendeu a publicação de livro homônimo pela editora Salamandra no ano de 2006. Entre os anos de 2005 e 2007 realizou a série documental Danças Brasileiras, exibida pelo canal Futura. Em 2008 estreou o espetáculo de dança “Passo”, resultado de um aprofundamento na busca por uma linguagem brasileira de dança. Atualmente coordena todas as atividades dentro do Instituto Brincante e as demais que são oferecidas para empresas, escolas e outras instituições.
O Instituto Brincante atendeu diretamente: 2.560 jovens / 2.702 educadores / 7.160 alunos em oficinas e palestras. Realizou 13 espetáculos de alunos com uma média de público de 30.000 pessoas. Realizou eventos, festivais e temporadas teatrais com a participação de grupos como Parlapatões, Lá Minima, Barbatuques, Banda Jogando no quintal entre outros. Foram palestrantes Milton Santos, Ariano Suassuna, Cristovão Buarque, Roberto, Marcos e Guto Pompeia, Walter Carvalho entre outros. Contou com apoio dos seguintes parceiros – Philips do Brasil/ Fundação Vitae / Itaú Cultural / Ministério da cultura / Instituto Votorantim / Impaes . O Instituto C&A além de ser o parceiro mais antigo, responsável pelo curso de formação de jovens Brincantes foi também o realizador do Centro de Documentação do Instituto Brincante com uma biblioteca e uma videoteca aberta ao publico. Instituto Alana em 2010 contribuiu para o fortalecimento institucional possibilitando a criação do Núcleo pedagógico, núcleos musicais e o Centro de estudos do movimento. SABRYNA MATO GROSSO Minha trajetória na arte se deu muito cedo, quando eu, ainda menina brincava de inventar e ilustrar histórias, criar caixinhas de música com papelão e borboletas com algodão colorido. Crescendo e trazendo comigo as referencias do irmão, vi no teatro a junção de todas as artes e decidi: quero ser atriz! A faculdade de artes cênicas veio para concretizar o desejo, e logo em seguida já havia transformado meu sonho em oficio. Dentro da Cia Baitaclã, grupo teatral que integro há sete anos, e dentro de outros grupos e projetos, fui vivenciando o que a academia havia me apontado. Vi que precisava de mais. Fui aprender música, dança, palhaço... As bagagens iam se somando e as portas se abrindo. Um convite para dar aula vindo do parceiro de trabalho e de vida, e surge outra paixão: a educação. Comecei a dar aulas em diversas casas de cultura e instituições para jovens que tinham o mesmo desejo que eu. As aulas me aqueciam para o palco, e o palco me fortalecia para as aulas. Não podia mais separá-‐los. Como educadora na formação de palhaços para jovens e pesquisadora na formação de formadores, ambos dos Doutores da Alegria, aprofundei ainda mais o trabalho e ampliei o pensamento numa metodologia para a arte educação. Ingressar na Formação do Instituto Brincante e posteriormente em seu Núcleo Pedagógico, começou como a inclusão de mais uma bagagem ao repertório, e foi além disso. Aprofundar o estudo acerca da cultura popular iniciada à tempos atrás me permitiu falar de mim, da menina que brincava com borboletas de algodão e da que compartilhava sonhos nos palcos e nas salas. Atriz, educadora, palhaça, dançarina? Percebi ali que sou nada disso e tudo isso. Sou uma brincante. Uma artista, que não importa onde ou como, está para fazer brincar e deixar-‐se brincar. Na difícil e utópica, porém não menos prazerosa tarefa de fazer do próprio homem um mundo melhor para se viver.
PRISCILLA ROCHA Eu cheguei no Brincante em 2007, porque já procurava ha um tempo um lugar que falasse sobre a cultura brasileira; também sentia que esse encontro não seria apenas com um universo ate então desconhecido, mas também com outras formas de me relacionar com o mundo, com a arte e com a cultura. Dentro do Instituto, fiz o curso de Formação nos anos de 2008 e 2009 e aqui aprendi muito, não apenas sobre as brincadeiras, mas sobre o Brasil e também sobre os outros e sobre mim. Os desafios postos em cada exercício, o estimulo a criatividade e o terreno fértil para o encontro, fazem do Brincante um lugar especial. Hoje, dou oficinas pelo Instituto, especialmente atividades ligadas a contação de historias. Quando a Formação terminou, veio o convite da Rosane para esta nova “empreitada”: o Núcleo Pedagógico, a necessidade de registrar os cursos do Brincante e a possibilidade de isso ser feito com a visão de quem já tinha participado do curso. Pensei que era um bom momento para contribuir e dar um retorno ao lugar que abriu meus sentidos para a arte e foi uma agradável experiência desenvolver este trabalho. Desde a observação das aulas e o relacionamento com os alunos, as nossas reflexões em reunião, passando pelo desafio de entender do que somos capazes de fazer, para responder a esta “missão” de forma sensível, sincera e real. E bom chegar perto com começo do trabalho... sim, porque acabamos de começar! Muito caminho ha pela frente... Vida longa ao Brincante, a cultura brasileira, a arte, ao espaço para o sonho e aos encontros, que tornam a vida mais leve e colorida! THIEGO CASTRO Minha relação com o Brincante começou há mais ou menos uns dez anos. Assistindo aos espetáculos do Nóbrega, conheci e fiquei amigo da Maria Eugênia, a Tita, filha dele e da Rosane (ambas também participavam dos espetáculos), por amigos em comum. Logo em seguida eu e Tita fomos estudar no mesmo colégio e nossa amizade se intensificou muito. Sempre que podia acompanhava os projetos dela, que por vezes tiveram relação com o teatro, como o Zabumbau e os espetáculos do Nóbrega. Foi nessa época que comecei a fazer aulas no Instituto. Aqui fiz diversos cursos e participei de um grupo de estudos de dança, nos anos de 2004 e 2005. Nesse Período Rosane apresentava seu espetáculo solo, Adeodata, todos os finais de semana (Tita fazia a luz), e de fato perdi a conta de quantas vezes eu vi a peça, mexeu muito comigo na época. Por alguns anos me afastei do Instituto em si, só acompanhando por notícias corriqueiras que ouvia por aqui ou acolá. Fui estudar cinema. Esse ano voltei pro Brincante para trabalhar com a documentação, em vídeo, dos cursos ministrados aqui, e desenvolver um material audiovisual a partir disso. A entrada para o Núcleo Pedagógico se deu na medida em que passei a acompanhar muitas aulas e fez-‐se pertinente colaborar para a concepção de uma metodologia que abarcasse a experiência pedagógica desenvolvida no Instituto.
Enfim, pessoais ou profissionais, minhas diversas relações com o Brincante sempre me enriqueceram muito. O que tento é retribuir à Ele como posso. Sei que é bom tudo isso. TALITA GAVA Desde pequena sempre fui envolvida com a pratica da Dança e da Musica, através das aulas que fazia na escola e no conservatório, e sempre fui apaixonada especialmente pela Dança. Deixei esse caminho quando entrei na faculdade e comecei a trabalhar em outra área, fiquei um certo tempo afastada, porém a inquietação e a busca por esse mundo sempre permaneceram em paralelo. E nesse processo, com 19 anos conheci a Cultura Popular Brasileira e me descobri nesse universo, em especial nas Danças. Foi como se tivesse encontrado o Norte de um caminho a seguir. Então, em 2007 entrei nos Cursos Livres do Instituto Brincante de Dança e Percussão, nos anos que se seguiram continuei no curso de Formação para Jovens Brincantes, e dessa forma encontrei o impulso e o conhecimento que precisava para definir um objeto de trabalho, o que possibilitou a criação de um numero de Dança que considero o ponto de partida do meu fazer artístico. Em 2010, tive uma experiência muito rica participando do Núcleo Pedagógico do Instituto, realizando um trabalho de acompanhamento e registro escrito das aulas de Dança ministradas por Rosane Almeida em todos os cursos, e isso proporcionou, entre outras coisas, o entendimento do processo de ensino-‐aprendizagem pelo qual passei. O material gerado nesse processo foi fundamental, pois tivemos a oportunidade de uma vivencia no Instituto que nos possibilitou o aprofundamento da nossa visão enquanto artistas, arte-‐educadores, e principalmente como ser humano. Ao mesmo tempo esse ano foi muito importante artisticamente, pois participando do Núcleo de Pesquisa do Movimento pude aprofundar o conhecimento e a pratica na técnica de Dança que acredito e que tenho por base de minha pesquisa, e pude colocá-‐la em prática nos trabalhos que realizei.
Considero que o que vivemos foi um ciclo de formação, pois passamos gradativamente pelos processos de descoberta, encantamento, aprendizagem, busca, transformação, experimentação, criação, até chegar a esse momento de análise, reflexão e síntese. E agradeço ao Instituto pela oportunidade. BEATRIZ MIGUEZ A participação no Núcleo Pedagógico me possibilitou enxergar a metodologia do brincante através de uma lupa, bem como o caminho que venho construindo enquanto artista. Passar pelo brincante foi fundamental para que eu montasse um quebra-‐cabeça de mim mesma, o que antes pareciam peças soltas foram, aos poucos, se encaixando.
O que me seduzia no teatro que eu fazia na escola aos 13 anos era a possibilidade de dar continuidade à brincadeira que por convenção social estava por ser abortada. O teatro era uma poesia brincada. Por gostar tanto dessa brincadeira, escolhi o teatro como meio de vida, quando entrei na faculdade de artes cênicas. Na faculdade de artes cênicas... o teatro, pra mim, neste momento, não passava de uma atividade adolescente, em faze de transição, meio criança meio adulto, desengonçado, sem conexão entre mim, o conteúdo apreendido e o mundo ao meu redor. Durante quatro anos fui colecionando teorias, conceitos e princípios que constituíam aquela arte tão complexa. Eu não dava conta de tanta informação, a técnica não dialogava com o meu corpo, e eu era um ponto de interrogação. O brincante... Sem que eu percebesse, lá estava eu brincando, numa roda, cantando, girando e fazendo movimentos nunca antes visitados pelo meu corpo... me deixei envolver por aquele universo sedutor, uma ciranda de cores que compunham o riquíssimo universo da cultura popular. E eu me perguntava: Por que não conheci isso antes? Aos poucos, as danças, as brincadeiras, as músicas, os ritmos, as figuras e a poesia, começaram a dialogar com os meus anseios como artista. Eu encontrava nesses elementos respostas para as dúvidas que trazia no bolso, e as fichas foram caindo. O recheio das aulas do brincante possibilitavam um encaixe perfeito entre as peças do meu quebra-‐cabeça. Lancei mão desse repertório e dessas ferramentas que se tornaram aliadas à minha busca como atriz e arte-‐educadora. Ainda faltava uma terceira peça deste quebra cabeça que era a peça da criação de um discurso próprio, a capacidade de enxergar o teatro e a vida por um outro olhar. A capacidade de fazer “poesia” através do caminho traçado com a formação do brincante. Enfim, chegamos aos núcleos de formação continuada, entre os quais se enquadra o núcleo pedagógico. Registrar, refletir, re-‐criar, re-‐elaborar fazem parte deste novo contexto que estamos vivendo. A terceira peça é: como o encaixe das duas primeiras peças podem re-‐significar o meu fazer artístico seja ele como atriz, dançarina ou artista orientadora? Finalizo meu depoimento concluindo que outras peças ainda podem surgir nesse quebra-‐cabeça, basta estar aberto para o mundo.
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