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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Exatas e da Terra
Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ANÁLISE DA REATIVAÇÃO DE FALHAS NORMAIS ATRAVÉS DA
MODELAGEM FÍSICA COM O USO DO PARTICLE IMAGE VELOCIMETRY.
Dissertação nº 183/PPGG
Autor:
Luís Kennedy Andrade de Sousa
Orientador:
PROF. DR. FERNANDO CÉSAR ALVES DA SILVA
Natal, RN, setembro de 2016
ii
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Exatas e da Terra
Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ANÁLISE DA REATIVAÇÃO DE FALHAS NORMAIS ATRAVÉS DA
MODELAGEM FÍSICA COM O USO DO PARTICLE IMAGE VELOCIMETRY.
Dissertação apresentada em 2 de
setembro de 2016 ao Programa de
Pós-Graduação em Geodinâmica e
Geofísica da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito
à obtenção do título de Mestre em
Geodinâmica e Geofísica na área de
concentração Geodinâmica.
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Fernando César Alves da Silva (PPGG/DG/UFRN)
Prof. Dr. Alex Francisco Antunes (DG/UFRN)
Profª. Dra. Barbara Trzaskos (DG/UFPR)
Natal, RN, setembro de 2016
iii
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial
Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET.
Sousa, Luís Kennedy Andrade de.
Análise da reativação de falhas normais através da modelagem física com o uso
do particle image velocimetry / Luís Kennedy Andrade de Sousa. - Natal, 2016.
xviii, 72f: il.
Orientador: Prof. Dr. Fernando César Alves da Silva.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e
Geofísica.
1. Modelagem física - Dissertação. 2. Falhas normais - Dissertação. 3. Inversão
positiva - Dissertação. I. Silva, Fernando César Alves da. II. Título.
RN/UF/BSE-CCET CDU: 53.072
iv
“(...) Na minha aflição, eu clamei ao
Senhor: Ele me respondeu e me livrou da
angústia.
O Senhor está comigo, e eu não tenho
medo (...).”
In: Salmo, 119, 5-6.
v
RESUMO
A modelagem analógica, desde o século XIX, vem sendo usada para simular
estruturas geológicas com o objetivo de entender os mecanismos que controlam sua
geometria e cinemática. O uso desta ferramenta na indústria do petróleo, para ajudar a
interpretações sísmicas e, principalmente, para procurar armadilhas estruturais,
contribuíram para difundir o seu uso na literatura. Estudos envolvendo a modelagem
analógica de inversão de bacias são desenvolvidos para melhorar o entendimento dos
fatores que influenciam na reativação das estruturas pré-existentes, bem como sua
geometria. Neste trabalho, procurou-se analisar a construção da arquitetura estrutural de
um modelo de sistemas de falhas que sofre inversão positiva, e analisar a relação entre a
geração de novas falhas e a reativação das falhas normais pré-existentes, durante um
evento contracional. Adicionalmente, efetuou-se a análise do comportamento e
distribuição do strain ao longo do processo deformacional a partir de imagens obtidas e
processadas pelo sistema Particle Image Velocimetry (PIV).
Foram estudados duas séries de experimentos: i) Série I: Analisou-se a geração
de falhas associadas à geração de uma falha lístrica principal e sua reativação durante a
inversão cinemática. Nesta série, dois tipos de modelos foram realizados: um com a
falha lístrica, ortogonal à direção de tração e compressão (Série IA), e no outro a falha
lístrica foi oblíqua (obliquidade = 80º) (Série IB). A configuração estrutural final da
inversão positiva mostrou a reativação da falha principal, com a reativação de algumas
falhas normais que delimitam a estrutura grabenforme. Empurrões e retroempurrões são
desenvolvidos e se enraízam a partir da porção basal da falha lístrica, ou se
desenvolveram na parte superior do pacote sedimentar, propagando-se em direção à
base da estrutura grabenforme; ii) Série II: analisou-se a geração de falhas associadas à
formação de uma falha mestra planar, ortogonal à direção de tração/compressão. Nestes
experimentos procurou-se também observar o papel da reologia na predisposição de
falhas normais serem reativadas. Para esta série, três tipos de experimentos foram
realizados com sequências pré-tectônicas constituídas por diferentes tipos de material:
apenas areia (série IIA); areia e pó de gesso (série IIB); e areia e argila (série IIC). Nos
experimentos da série II, a arquitetura estrutural final mostra que falhas normais foram
completamente ou parcialmente reativadas, além do desenvolvimento de empurrões e
retroempurrões que seccionam a porção basal da estrutura grabenforme. Os dados
obtidos com o sistema PIV mostraram que durante o início da compressão, a
vi
deformação foi absorvida primeiramente pela compactação do material granular, e que
após este processo, ocorre a reativação e criação de novas falhas, e que determinadas
falhas alternam em intervalos ativos e inativos.
Palavras-chave: Modelagem física; Falhas normais; Inversão positiva.
vii
ABSTRACT
Analog modeling has been used since the XIX century to simulate geological
structures in order to understand the mechanisms that control their geometry and
kinematics. The use of this tool in the oil industry, to help seismic interpretations
(mainly searching for structural traps), helped to spread its use in the literature. Studies
involving basin inversion are developed to improve understanding factors that influence
the reactivation of pre-existing structures as well as their geometry. In this work, we
analyze the construction of the structural architecture of a fault system that underwent
positive inversion, and analyzed the relationship between the generation of new faults
and reactivation of pre-existing normal faults during a contraction event. In addition, the
behavior and distribution of strain along the deformation process were performed based
on images obtained and processed by Particle Image Velocimetry (PIV) system.
Two series of experiments were developed: i) Series I: we analyzed the
generation of fault sets associated with a main listric fault and their reactivation during
an inversion event. Two types of models were performed: one with listric fault,
orthogonal to the direction of tension and compression (series IA), while in the other the
lístrica fault was oblique (obliquity = 80) (series IB). The final structural configuration
after inversion showed major fault and some of the normal faults (delimiting the
grabenform structure) reactivated. Thrust and backthrust were developed from the basal
portion of listric fault, or in the upper part of the model, propagating towards the base of
grabenform structure; ii) Series II: we analyzed the generation of faults associated with
the formation of a planar master fault, orthogonal to the direction of both tension and
compression. In these experiments, the role of rheology during normal faults
reactivation was analyzed. Three types of experiments were done varying the materials
of the pre-tectonic sequences: sand only (series IIA); sand and gypsum ponder (series
IIB); and sand and clay (series IIC). These experiments displayed the final architecture
with normal faults completely or partially reactivated, and the developed thrusts and
backthrust sliced up the basal portion of the grabenform structure. PIV data showed that
during the first stages of compression, deformation was absorbed mainly by
rearrangement of the granular material (compactation) and only after this process fault
reactivation (or new fault) occurs. During deformation, some faults alternated intervals
of activity and inactivity.
viii
Keywords: Physical modeling; Normal fault; Positive inversion.
ix
AGRADECIMENTOS
Gostaria de externar meus sinceros agradecimentos às pessoas e instituições que
de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. De modo particular
ressalto:
Em primeiro lugar, agradecer a Deus por ter me concedido a vida e a paz de
espírito necessária para superar os obstáculos.
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao Programa de Pós-
Graduação em Geodinâmica e Geofísica pela oportunidade de ingressar no curso de
Mestrado.
De seguida, a CAPES pela bolsa de estudos.
Ao meu orientador Doutor Fernando César Alves da Silva pela oportunidade,
confiança, paciência e amizade durante o tempo de convivência. Obrigado pelos
ensinamentos, críticas e sugestões não só para o desenvolvimento deste trabalho, as
quais foram muito válidas para o meu crescimento intelectual e moral, como no meu
amadurecimento profissional
Aos Professores Doutores do Laboratório de Geologia e Geofísica de Petróleo:
Professor Dr. Emanuel Jardim de Sá, Professor Dr. Alex Antunes, Professora Dra. Valéria
Córdoba, Professora Dra. Débora Sousa e pelos conhecimentos lecionados nas disciplinas
cursadas e sugestões para o enriquecimento do trabalho. E também a todos os Professores
da Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica e do Departamento de Geologia.
Ao Laboratório de Geologia e Geofísica de Petróleo, nomeadamente ao Laboratório
de Modelagem Estrutural pela infraestrutura e todos os recursos disponibilizados para a
realização e desenvolvimento dos experimentos de modelagem física analógica. E a todos
os técnicos e funcionários do laboratório, em especial a Fernando Pontes, Amanda Costa e a
Dona Lea, que nos proporcionam um ambiente de trabalho mais agradável.
A Nilda de Araújo Lima por toda a preciosa e valiosa ajuda em todas as questões
burocráticas, de documentação e obstáculos durante todo o curso de mestrado.
Ao meu amigo Kauê Seoane, que foi minha família durante os dois anos de
mestrado. Por todo o seu apoio e sua amizade por todos esses 8 anos de convivência.
Aos colegas do LGGP, em especial a André Blanco pela ajuda imprescindível com
o sistema PIV. Aos amigos-colegas do Mestrado: Éverton Barbosa, Magda Estrela, Thuany
x
Patrícia, Sílvia Terra, Moisés Cacama e Nadja Ferraz por todo o apoio e amizade
encontrada mesmo longe de casa.
Aos meus amigos que mesmo longe me apoiaram e me ouviram: Fabrício Medeiros,
Waleria Ainnet, Jhon Afonso, Raquel Sacramento, Bruno Portugal, Lilian, Hanna Paula,
Brenda Karoline.
E por fim, aos meus pais, Américo Silva e Nilda do Socorro e ao meu irmão Luiz
Antônio por sempre me incentivarem durante toda a minha vida. E toda a minha família
que sempre me apoio e acreditou em minha capacidade.
xi
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................. v
ABSTRACT ........................................................................................................... vii
AGRADECIMENTOS ........................................................................................... ix
SUMÁRIO ............................................................................................................... xi
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... xiii
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ............................................................................ 1
1.1. Apresentação .................................................................................................. 2
1.2. Justificativa .................................................................................................... 2
1.3. Objetivos ........................................................................................................ 2
CAPÍTULO II – ESTADO DA ARTE .................................................................. 4
2.1- Falhas ............................................................................................................. 5
2.2- Inversão Tectônica ........................................................................................ 5
2.3 - Modelagem Analógica ................................................................................. 8
2.3.a. BREVE HISTÓRICO DA MODELAGEM ....................................... 8
2.3.b. MATERIAIS ANÁLOGOS ................................................................ 9
2.3.c. MODELOS ANALÓGICOS DE INVERSÃO DE BACIAS ........... 10
2.3.d. O PAPEL DA SEDIMENTAÇÃO SINTECTÔNICA ..................... 14
CAPÍTULO III – MÉTODOS E EXPERIMENTOS ......................................... 16
3.1. Aparato e materiais utilizados ..................................................................... 17
3.2. Procedimento experimental em aparato “caixa de areia” ............................ 18
3.3. Particle Image Velocimetry (PIV) ............................................................... 19
CAPÍTULO IV – ARTIGO CIENTIFICO ......................................................... 23
xii
4.1. Introdução .................................................................................................... 25
4.2. Métodos e Experimentos Realizados ........................................................... 27
4.2.1. APARATO E MATERIAIS UTILIZADOS .................................... 27
4.2.2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ........................................... 28
4.2.3. PARTICLE IMAGE VELOCIMETRY (PIV) ................................. 29
4.3. Resultados dos Experimentos ...................................................................... 29
4.3.1. SÉRIE IA - FALHA MESTRA LÍSTRICA ORTOGONAL À
TRAÇÃO E COMPRESSÃO .......................................................................... 29
4.3.2. SÉRIE IB - FALHA MESTRA LÍSTRICA OBLÍQUA (α= 80º) À
TRAÇÃO E COMPRESSÃO .......................................................................... 32
4.3.3. SÉRIE II – FALHA MESTRA PLANAR ORTOGONAL À
TRAÇÃO E COMPRESSÃO .......................................................................... 37
4.4. Discussões e Conclusões ............................................................................. 50
4.4.1. REATIVAÇÃO DE FALHAS ......................................................... 50
4.4.2. ARQUITETURA ESTRUTURAL ................................................... 53
4.4.3. APLICABILIDADE E RESULTADOS DOS DADOS DO PIV ..... 56
Agradecimentos .................................................................................................. 57
Referências ......................................................................................................... 58
CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 61
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 65
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1. Estilos de deformação relacionada a inversão de um sistema de
falhas normais. (A) Falha normal completamente reativada. (B) Falha normal
localizando o desenvolvimento de um “thrust ramp”. (C) a (E) Empurrões seccionando
falhas normais não reativadas. (F) Falha normal que está representando uma
descontinuidade mecânica, com isso gerando uma zona de concentração de stress. (G)
Empurrões seccionam o preenchimento sedimentar sin-rifte. (H) “shortcut” no piso da
falha normal reativada. (I) “Pop-up”. (J) Leque imbricado desenvolvido sobre uma falha
normal. (K) Empurrão seccionando um conjunto de falhas normais reativadas. (Fonte:
Bonini et al. 2012). ........................................................................................................... 8
Figura 2.2. Fotografia de Sir James Hall, durante os seus experimentos,
simulando a formação das cadeias montanhas da Escócia (Koyi, 1997). ........................ 9
Figura 2.3. Exemplo da modelagem física da inversão positiva (Koopman et al.
1987). (A) Um bloco central move-se para cima e para baixo, a partir da compressão de
blocos laterais, durante os eventos distensional e contracional. (B) Um bloco central
sofre rotação, durante o processo de inversão positiva. (C) a (F) diferentes estágios
deformacionais do modelo.............................................................................................. 11
Figura 2.4. Modelagem física de uma inversão positiva com o uso de blocos
rígidos (geometria planar e lístrica) (Buchanan e McClay, 1991). (A) e (C) Estágio final
da inversão de falha planar e (B) e (D) de falha lístrica. (E) e (F) Seções sísmicas de
inversão positiva mostrando a similaridade com o modelo analógico. (Fonte: Buchanan
e McClay, 1991). ............................................................................................................ 12
Figura 2.5. Modelagem analógica testando a influência da geometria do
backstop sobre a arquitetura estrutura de uma inversão de bacia (Gomes et al., 2010).
(A) Backstop côncavo (B) Backstop convexo. Setas indicam a direção da deformação
durante três estágios (D1, D2 e D3). (1) embasamento. (2) Sequência sin-rifte. (3)
Sequência pós-rifte. (4) backstop convexo. (5) backstop côncavo. ................................ 13
Figura 2.6. Modelagem física de inversão positiva. Sequência de imagens
obtidas com a tomografia computadorizado de raios-X: (A) Final do evento
distensional. (B) a (E) Diferentes estágios do evento contracional (q, quartzo; coríndon;
m, microesfera de vidro). Fonte: Panien et al (2005). .................................................... 14
xiv
Figura 3.1. Esquema mostrando a caixa utilizada nos experimentos, antes da
colocação da areia. Papel vegetal recobre a base e blocos de madeira, representando
uma descontinuidade e juntos induzem a formação das falhas lístrica ortogonal e
obliqua (Série I) e planar (Série II). A coluna de material pré-tectônico também é
mostrada. ........................................................................................................................ 18
Figura 3.2. (A) Monitoramento dos vetores de deslocamento incremental. (B)
Deslocamento horizontal. (C) Distorção incremental visualizada através do vetor da
malha de deformação. (D) Strain cisalhante. (Reproduzido de: Adam et al., 2005) ...... 20
Figura 3.3. Esquema representativo da montagem do sistema PIV utilizado nos
experimentos realizados. (Reproduzido de Oliveira, 2015). .......................................... 20
Figura 3.4. Apresentação dos vários tipos de dados obtidos através do
processamento realizado com o sistema PIV, para os experimentos realizados neste
trabalho. (A) Vetores de velocidade. (B) Zonas de concentração de strain (Faixas
Azuis). (C) campo de deslocamento do material granular. ............................................ 22
Figura 4.1. Esquema mostrando a caixa antes da colocação da areia. Papel
vegetal recobre a base e blocos de madeira, representando um bloco rígido e induzem a
formação da falha lístrica ortogonal e oblíqua (Série I) e da falha planar (Série II). A
estratigrafia da sequência pré-tectônica também é mostrada. ........................................ 28
Figura 4.3. Ilustração de alguns estágios da deformação D2. (A) Início da
inversão positiva da falha lístrica, com desenvolvimento de estrutura tipo “arpão”. (B)
Desenvolvimento das primeiras falhas reversas com vergências opostas. (C) e (D)
Falhas reversas seccionam as normais pré-existentes. Notar a ampliação da estrutura
“arpão”. (E) Estágio final do evento D2, com falhas normais rotacionadas e
seccionadas por pelas falhas reversas, aumentando a complexidade estrutural. ............ 31
Figura 4.4. Dois estágios deformacionais do evento D1. (A) Formação da falha
lístrica e o desenvolvimento de falhas normais sintéticas à falha lístrica, principalmente
na base da sequência pré-tectônica. (B) No estágio final da distensão a falha F6 se
propagou para a base da sequência e seccionou as falhas sintéticas à falha lístrica....... 33
Figura 4.5. Ilustração de alguns estágios da deformação D2. (A) Reativação,
com inversão cinemática, das falhas F5 e F7 logo nos primeiros incrementos
deformacionais. (B) Reativação das falhas antitéticas (F1 e F6), concomitante a
reativação da falha lístrica. (C) Desenvolvimento de falhas com geometria tipo splay
xv
(F9 e F11) além de retroempurrões (F10 e F13). (D) A propagação do retroempurrão
F13, para a base da sequência, seccionou o empurrão F9. (E) Segmentos de falhas
normais não reativadas entre as falhas F1 e F6, mostram inversão do mergulho devido
ao processo de rotação. ................................................................................................... 34
Figura 4.6. Ilustrações dos dois tipos de dados obtido com PIV: vetores de
velocidade (A a C) e zonas de concentração de strain (D a F). (A) e (B) Mostram a
progressão da deformação em direção à falha lístrica. (C) Marca a chegada da
deformação na falha lístrica, reativando-a com cinemática inversa. (D) A concentração
da deformação (faixas azuis) mostra as falhas ativas (F9, F10 e F11) neste estágio
deformacional. (E) Nucleação do retroempurrão F13 e pequena reativação da falha F3.
(F) Neste estágio, ocorreu a reativação da falha lístrica e nucleação da falha F14, que é
vista apenas nos dados do PIV. (A mancha que aparece no centro da figura A e nas
demais, trata-se de um reflexo da câmera). .................................................................... 35
Figura 4.7. Ilustração dos estágios inicial e final do evento D1. (A)
Desenvolvimento da falha lístrica e uma falha sintética (F1). A falha lístrica não seguiu
a orientação do molde de madeira. (B) Estágio final do experimento. A falha antitética
F3 seccionou as falhas sintéticas da porção norte do modelo. ....................................... 36
Figura 4.8. Ilustrações de estruturas geradas durante o evento contracional. (A)
Reativação das falhas F1 e F2 no início da deformação. (B) Início da inversão positiva
da falha lístrica, com o desenvolvimento de estrutura tipo “arpão”. Estrutura de arrasto
relacionada ao evento distensional ainda pode ser observada. (C) Retroempurrões (F6 e
F7) seccionaram falhas pré-existentes. O empurrão F5, enraizado no decóllement,
propagou-se em direção à falha lístrica. (D) Reativação das falhas normais F3 e F4, após
o desenvolvimento das falhas reservas F8, F9 e F10. .................................................... 37
Figura 4.9. Zonas de concentração de strain (faixas azuis) em diferentes estágios
da compressão obtidas através do sistema PIV. (A) Durante o início do encurtamento, a
deformação concentrou-se na reativação das falhas normais F1 e F2. (B) Início da
reativação, como falha reversa, da falha lístrica. (C) A falha lístrica esteve ativa, até os
estágios finais do evento D2, concentrando a maior parte da deformação. A zona azul,
sub-horizontal no topo do modelo (A e B) não representa deformação no perfil, trata-se
de uma pequena porção da superfície do modelo imageado pela câmera do PIV. ......... 38
xvi
Figura 4.10. Ilustração de dois estágios da deformação D1. (A) Falhas planares,
definindo uma estrutura grabenforme nos estágios iniciais da deformação. (B) Estágio
final do evento D1, mostrando “cavalos” tectônicos na porção mais a sul da estrutura
grabenforme. ................................................................................................................... 38
Figura 4.11. (A) Deformação D2 foi inicialmente representado pela reativação
das falhas F3, F4, F8 e F10. (B) Desenvolvimento de falhas reversas (empurrões F11 e
F13 e retroempurrão 12). (C) Desenvolvimento de retroempurrões, no compartimento
basal do modelo, acima do empurrão F11. D) Estágio final da deformação, mostrando
que grande parte das falhas normais não sofreram modificação em sua geometria
durante o evento D2. ....................................................................................................... 39
Figura 4.12. Imagens dos dois tipos de dados obtido com PIV para a Série IIA
durante o evento D2. (A) e (B) mostram os vetores de velocidade em dois estágios
deformacionais. Durante o início do encurtamento, parte da deformação foi absorvida
pela compactação do material seguindo-se a reativação das falhas primeiramente as
mais a norte e depois as mais a sul do modelo. (C) a (F) mostram as zonas de
concentração da deformação (zonas azuis). (C) Concentração da deformação delineando
os empurrões F11 e F13 e do retroempurrão F12. (D) O empurrão F11 ficou inativo
durante o desenvolvimento do retroempurrão F14. (E) O empurrão F11 voltou a ficar
ativo enquanto a movimentação ao longo de F14 diminuiu. (F) Desenvolvimento do
retroempurrão F15 enquanto F12 e F14 tornaram-se praticamente inativos. ................. 41
Figura 4.14. Quatro estágios da deformação D2. (A) A deformação inicial foi
acomodada pelo descolamento basal, desenvolvimento de falhas reversas F14 e F15 e
reativação dos segmentos superiores das falhas F5 e F9. (B) Desenvolvimento de novas
falhas reversas com vergência para sul, representadas pelos empurrões F16 e F17. C)
Reativação da falha F11, e desenvolvimento das falhas reversas F18 a F23. D) Estágio
final do experimento. As falhas reversas seccionaram as falhas normais e se enraizaram
no descolamento basal. ................................................................................................... 43
Figura 4.15. Alguns estágios deformacionais que ilustram o retrabalhamento de
dobras D1 (próximo às falhas F2 e F12) durante o evento contracional D2. A dobra
evoluiu de aberta a isoclinal e seu plano axial passou de vertical a inclinado. A
geometria final reflete a complexidade estrutural local, dada a superposição D2 a D1. 44
xvii
Figura 4.16. Algumas imagens dos dois tipos de dados obtidos com PIV de
alguns incrementos deformacionais do evento D2: zonas de concentração de strain
(faixas azuis, figuras A, C, E, G e I) e deslocamento das partículas granulares (figuras
B, D, F, H e J). (A) Ausência de faixas de concentração de strain. (B) O deslocamento
das partículas ocorreu principalmente junto ao backstop, causando compactação do
material, durante os primeiros incrementos deformacionais. (C) Desenvolvimento de
uma zona deformacional, representando os primeiros empurrões. (D) Os blocos do Teto
e do Piso, a partir deste estágio, são individualizados e separados por uma zona de
deslocamento intermediário (ZI). (E) Neste estágio, a deformação se concentrou em
duas zonas deformacionais, que representaram dois segmentos de falhas reversas. (F)
Neste estágio há ausência de deslocamento na camada de gesso entre dois segmentos da
falha reversa. (G) Junção das duas zonas deformacionais, desenvolvida nos estágios
anteriores, formando uma única faixa de concentração de strain. (H) Os dados de
deslocamento confirmam que os segmentos de falha coalesceram. (I) Geração de novas
falhas reversas, representadas por uma nova zona de concentração de strain. (J) Os
blocos do Teto com maior movimentação e do Piso com menor, são bem
individualizados e separados pela zona ZI, onde a movimentação foi mais discreta. .... 46
Figura 4.17. (A) Estágio deformacional mostrando as primeiras falhas normais,
com sentido de mergulho opostos, geradas em D1. (B) Configuração final do evento
D1, revelando um conjunto de falhas normais com geometria planar ou curva, que se
interceptam, evidenciando um arranjo mais complexo na porção sul do modelo. ......... 47
Figura 4.18. Imagens de alguns estágios deformacionais do evento D2. (A)
Reativação de segmentos de falhas normais, como falhas reversas em Ɛ = 7,8%. (B)
Desenvolvimento do primeiro grande empurrão (F17) em Ɛ = 9,36%, seccionando as
falhas normais pré-existentes. (C) Novos empurrões são desenvolvidos, que se
enraizaram no deslocamento basal em Ɛ = 23,4%. (D) Arquitetura final do modelo (Ɛ =
34,32%) mostrando estrutura tipo “cavalo” tectônico delineados por empurrões que
seccionam as falhas normais........................................................................................... 48
Figura 4.19. Imagens dos dados de zonas de concentração de strain (faixas
azuis) obtidos a partir do sistema PIV, durante o evento contracional (D2). (A)
Surgimento da primeira zona deformacional (nucleação da falha reversa F17). (B)
Zonas deformacionais representando o ápice de movimentação do empurrão F17 e a
inversão cinemática da falha normal F2. (C) Desenvolvimento de nova faixa de
xviii
concentração de deformação, representando o empurrão F21. Notar que, neste estágio a
falha F17 apresenta geometria mais planar.. O traço pontilhado representa o contorno da
camada de argila. ............................................................................................................ 49
Figura 4.20. Comportamento (rejeito vs strain) da falha lístrica das Séries IA e
IB. Gráficos (A) e (C) durante a distensão (D1) enquanto (B) e (D) durante a contração
(D2). (A) e (B) mostram que o rejeito aumenta gradativamente com o aumento do
strain. Estes dados sugerem que, para as mesmas condições de contorno, as rochas são
mais facilmente deformadas por tração que por compressão. O gráfico (C) mostra os
dados do lado Leste do experimento. O rejeito da falha aumentou durante D1
gradativamente com o aumento da tração, enquanto em D2 o rejeito foi próximo a zero
nos primeiros incrementos deformacionais (até 14% de contração), período que a falha
permaneceu praticamente inativa. Depois de iniciada a reativação, ocorreu um rápido
aumento do rejeito. ......................................................................................................... 51
Figura 4.21. Padrões estruturais gerados pela inversão positiva de um sistema de
falhas. (A) Falhas normais completamente reativadas. (B) Parcialmente reativadas. (C)
Um segmento da falha normal coalesceu com uma falha reversa, sendo reativada. (D)
Inversão cinemática de falha normal após ser rotacionada. ........................................... 52
Figura 4.22. Principais características da arquitetura estrutural final da inversão
positiva dos sistemas de falhas gerados em cada experimento realizado neste artigo. .. 55
Figura 4.23. Principais interpretações e sua aplicabilidade dos dados obtidos
com o sistema PIV, durante a inversão de um sistema de falhas. Em (A) Interpretação:
No primeiro momento a deformação foi absorvida pela compactação do material
granular, seguido pela reativação (ou neoformação) das estruturas. Aplicabilidade do
dado: Mostra a trajetória e velocidade de cada partícula granular durante a deformação.
A cor das setas indica a velocidade de movimentação das partículas. Em (B):
Interpretação: Mostra regiões onde as falhas, ou segmentos de falhas, encontram-se
ativas (neste caso) ou inativas durante a deformação. Aplicabilidade: Discriminar zonas
de concentração de strain representando locais de nucleação ou reativação de falhas,
muitas vezes não discerníveis em fotografias normais. Em (C): Interpretação: O bloco
de teto apresenta magnitude de deslocamento superior a 60% enquanto no piso este
valor oscila entre 0-45%. Uma zona intermediária entre estes dois compartimentos
indica que a falha não é uma linha, mas uma zona onde a movimentação arrefece à
medida que adentramos no compartimento do piso, até torna-se zero, onde cessa a
xix
movimentação do material. Aplicabilidade: Mostra a compartimentação da zona de
falha através da magnitude do deslocamento das partículas granulares, através da
individualização dos blocos de teto e piso...................................................................... 57
1
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
Capítulo I – Introdução Sousa, L.K.A
2
1.1. Apresentação
O presente documento representa os resultados da pesquisa realizada pelo autor
sobre modelagem de falhas normais e reversas dentro do contexto de inversão positiva,
e que constitui a sua Dissertação de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Geodinâmica e Geofísica da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGG/UFRN). Sob orientação do Professor Doutor Fernando César Alves da
Silva (DG/PPGG – UFRN).
1.2. Justificativa
Além do interesse científico, a inversão positiva é tema de pesquisa por tratar-se
de um importante processo gerador de armadilhas para o acúmulo de hidrocarbonetos,
ou fluidos hidrotermais ou até mesmo por atuar, em alguns casos na destruição dessas
estruturas. Com isso, muitas pesquisas foram intensificadas a partir da década 80 como
os trabalhos de Cooper et al. (1989), Buchanan & McClay, 1991, Dubois, et al. 2002;
McClay & Dooley, 2004; Amilibia, et al. 2005; Panien et al. 2005; Ventisette et al.
2006; Schmatz et al. 2010; Bonini et al. 2012, entre outros. A modelagem analógica
vem sendo utilizada na investigação da inversão positiva com particular atenção ao
ângulo entre a direção de compressão e a direção da estrutura distensional pré-existente.
Alguns outros fatores não tem tido significativa atenção, tais como a erosão, a
influência da pressão de fluido nas falhas ou fraturas, a variação de temperatura durante
a deformação e ainda em menor foco a descontinuidade reológica entre camadas dúcteis
e rúpteis.
Com a necessidade de melhor entender o processo de inversão positiva, a
modelagem física vem ocupando grande espaço nas pesquisas e novos métodos de
aquisição de dados vêm sendo utilizados entre os quais podemos citar o Particle Image
Velocimetry (PIV). A partir do desenvolvimento de novos métodos, o processo de
inversão de bacia tem se tornado uma nova fronteira do conhecimento geológico a ser
estudada.
1.3. Objetivos
Este trabalho tem como objetivo caracterizar, em aparato “caixa de areia”, a
arquitetura estrutural de um sistema de falhas normais que sofre inversão positiva e
analisar a relação entre a geração de novas falhas e a reativação das falhas normais pré-
Capítulo I – Introdução Sousa, L.K.A
3
existentes, durante um evento contracional. Esta análise foi feita utilizando-se o sistema
Particle Image Velocimetry (PIV).
Dentre os objetivos específicos podemos citar:
Caracterização arquitetural de sistema de falhas lístricas e planas e sua inversão
cinemática, dentro de um contexto distensional seguido de um evento
contracional.
Analisar, com a ajuda do PIV, o comportamento e distribuição do strain ao
longo do processo deformacional de inversão positiva.
Analisar como o comportamento reológico do material granular e a geometria e
direção das falhas, influenciam na predisposição de determinadas falhas
reativarem.
4
CAPÍTULO II – ESTADO DA ARTE
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
5
2.1- Falhas
Uma falha geológica é definida como uma descontinuidade ao longo da qual os
blocos separados foram deslocados (Twiss & Moores, 1992). Uma falha ocorre quando
o limite de coesão interna de um corpo rochoso submetido a um campo de tensões
cisalhante é ultrapassado. Na superfície do plano da falha podem se desenvolver
ranhuras ocasionadas pelo atrito de fragmentos e pó de rocha, gerado durante o
fraturamento, denominada de estrias de falhas.
Diferentes tipos de falhas podem ser individualizados, a partir do modo de
deslocamento relativo entre os blocos, sendo denominadas rejeito normal (piso sobe em
relação ao teto), rejeito reversa (piso desce em relação ao teto) ou rejeito direcional
(movimentação é paralela a direção da falha). Esta última pode ser dextral ou sinistral,
dependendo de que bloco se aproxima do observador.
O termo “falha normal” tem sua origem nas minas de carvão do século XIX na
Inglaterra, onde este tipo de falha era o mais comum, chamando-lhe assim os minérios
de falha normal (Peacock, 2000). Este tipo de falha relaciona-se geralmente, com a
distensão, mas podem também, serem desenvolvidas associadas a estruturas dômicas
(Peacock, 2000). As falhas normais podem, segundo Wernicke & Burchfiel (1982, apud
Gaspar, 2010), ser divididas em duas classes, rotacionais e não-rotacionais, que por sua
vez podem ser subdivididas com base na sua geometria em falhas planas (rotacionais ou
não) e falhas lístricas rotacionais.
As falhas reversas, quando apresentam ângulo de mergulho inferior a 25º, são
comumente associadas a processos de encurtamento crustal (Boyer & Elliot, 1982; Park,
2004), implicando em esforços compressionais e tangencias, por isso são denominadas
também de falhas de empurrão (Park, 2004). Falhas reversas que apresentam ângulo de
mergulho maior que 25º, são geralmente associadas a reativações de falhas normais
(Davis & Reynolds, 1996) e nestes casos recebem a denominação de falhas inversas.
2.2- Inversão Tectônica
O termo inversão tectônica foi inicialmente definido como a mudança de regime
distensional para contracional em bacias intraplacas, marcada pela presença de
estruturas impostas em ambos os regimes (Cooper et al. 1989, Coward, 1994). Falhas
normais reativadas durante um evento contracional vêm sendo reconhecidas há muitos
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
6
anos, e o termo utilizado para definir esse processo é Inversão Positiva (Ziegler, 1987,
Costa et al. 1992). O contrário, o processo em que falhas reservas são reativadas como
falhas normais, durante um evento distensional, é definido como Inversão Negativa. O
presente trabalho foi direcionado à inversão positiva.
Inversão de bacia é o termo usado na bibliografia para indicar a compressão de
uma bacia distensional (England, 1983; Etheridge, 1986; Ziegler, 1987; Cooper &
Williams, 1989; Costa et al. 1992; Gawthorpe, 2000; Buiter et al. 2009; Bonini et al.
2012). Casos clássicos de inversão positiva vêm sendo estudados e reportados em várias
regiões (Bacia Broad Fourteens, Nalpas et al. 1995; Bacia de Paris, Minguely et al.
2010; Alborz Central, Zanchi et al. 2006; Bacia Baque-Cantabrian, Gómez et al. 2002;
Mar do Norte, Badley et al. 1989, Ziegler, 1987; Margem Continental: Grant 1987,
Godoy et al. 1999, Guerra et al. 2005, Amilibia et al. 2008, Yagupsky et al. 2008;
Alpes, Butler, 1989).
A reativação de um sistema de falhas pré-existentes pode ser um importante pré-
requisito no reconhecimento de uma inversão estrutural, mas isso implicará em uma
distinção entre dois conceitos: a inversão de falha, que descreve a reativação de uma
falha individual; e a inversão positiva, que descreve a reativação de um sistema de
falhas (Bonini et al. 2012).
Um elemento diagnóstico de inversão é representado pela coexistência de ambos
os deslocamentos normais e reversos ao longo de um mesmo plano de falha. Para
Cooper et al. (1989) a inversão positiva das estruturas não depende da geometria e
polaridade do sistema de falhas. Assim, falhas normais sintéticas favorecerão o
desenvolvimento de empurrões, enquanto as antitéticas favorecerão a formação de
retroempurrões.
A reativação de falhas é um processo seletivo, não sendo suscetível a todas as
falhas pré-existentes. Segundo Turner & Williams (2004) os principais fatores que
controlam a predisposição de determinadas falhas normais reativarem são: (1) a
inclinação da falha normal; (2) a orientação da falha em relação ao campo de tensões
atuantes durante a inversão; e (3) a resistência friccional ao longo do plano de falha.
Kusznir & Park (1987), Sandiford (1989) e Buiter & Torsvik, (2007) sugerem ainda que
a inversão positiva também pode sofrer influência de fatores como o gradiente
geotérmico da crosta, da quantidade e da taxa de deformação, do contraste reológico, da
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
7
sedimentação e da erosão superficial, que irá diminuir o peso exercido a cobertura
sedimentar.
Para Kelly et al. (1999), a reativação de determinadas falhas é controlada pela
diminuição do atrito ao longo do plano de falha, a rotação de blocos em dominó que
inicialmente estavam com grande inclinação e a conectividade das falhas. A inversão
positiva é um processo muito eficiente na produção de fluidos, uma vez que a contração
dos sedimentos pode diminuir a porosidade levando a expulsão dos fluidos que, ao
serem liberados, podem se concentrar ao longo de um plano de falha, gerando uma
pressão de fluido capaz de diminuir a resistência friccional, o que poderá causar a
reativação da falha (Sibson, 1985).
Sistemas de falhas que foram invertidos mostram variações importantes no estilo
e na distribuição da deformação interna, com isso diferentes padrões estruturais podem
ser desenvolvidos, tais como reativação completa de falhas normais (Fig. 2.1A, I, J, K),
reativação parcial (ou seja, apenas um segmento de falha é reativado, Fig. 2.1D), ou as
falhas normais podem ser truncadas por falhas reversas desenvolvidas durante a
compressão (Fig. 2.1B, C, E) (Bonini et al. 2012). A rotação de falhas normais durante
a inversão pode originar geometrias complexas. Tem sido amplamente reconhecido que,
mesmo quando as falhas normais não são reativadas, elas representam uma importante
descontinuidade mecânica capaz de gerar uma concentração do stress que pode localizar
o desenvolvimento e a posição dos sucessivos “thrust ramps” (Bonini et al. 2012). A
arquitetura estrutural final de uma inversão positiva, não é apenas gerada pela
reativação de falhas, mas também pelo desenvolvimento de empurrões e
retroempurrões, estruturas tipo pop-up, e a geração de leques imbricados (Figura 2.1).
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
8
Figura 2.1. Estilos de deformação relacionada a inversão de um sistema de falhas normais. (A) Falha
normal completamente reativada. (B) Falha normal localizando o desenvolvimento de um “thrust ramp”.
(C) a (E) Empurrões seccionando falhas normais não reativadas. (F) Falha normal que está representando
uma descontinuidade mecânica, com isso gerando uma zona de concentração de stress. (G) Empurrões
seccionam o preenchimento sedimentar sin-rifte. (H) shortcut no piso da falha normal reativada. (I) “Pop-
up”. (J) Leque imbricado desenvolvido sobre uma falha normal. (K) Empurrão seccionando um conjunto
de falhas normais reativadas. (Fonte: Bonini et al. 2012).
2.3 - Modelagem Analógica
2.3.a. BREVE HISTÓRICO DA MODELAGEM
Sir James Hall foi o primeiro a realizar um experimento de modelagem
analógica em 1815 (Fig. 2.2, Koyi, 1997). A partir de então, vários outros pesquisadores
vêm utilizando essa ferramenta para análise de estruturas individuais tais como falhas,
dobras, fraturas, bem como ambientes geológicos onde elas se desenvolvem com bacias
sedimentares, cinturões orogênicos, zonas de subducção, etc.
A modelagem analógica evoluiu de mera inspiração no século XIX para uma
técnica quantitativa para simulação de processos geológicos. Sucessivas gerações de
modeladores contribuíram para o avanço da técnica, melhorando a semelhança dos
modelos analógicos em escala com os seus homólogos naturais. Novos materiais
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
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analógicos que podem simular uma gama de comportamento de rocha foram
caracterizados permitindo seu uso na modelagem, e novos métodos para a quantificação
da deformação foram introduzidos. O interesse demonstrado pela indústria do petróleo
tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento desta técnica (Koyi,
1997).
Figura 2.2. Fotografia de Sir James Hall, durante os seus experimentos, simulando a formação das cadeias
montanhas da Escócia (Fonte: Koyi, 1997).
2.3.b. MATERIAIS ANÁLOGOS
Para simular deformação frágil na crosta superior, materiais granulares secos são
geralmente usados (Schellart, 2000; Panien et al. 2005). Areia e argila seca são os
materiais mais utilizados para simular uma deformação rúptil em modelos análogos.
Geralmente esses modelos consistem de camadas de areia e argila, que são utilizadas
como marcadores passivos da deformação. Outros materiais granulares também são
utilizados para a criação de anisotropia estratigráfica a exemplo de microesfera de vidro,
hidróxido de alumínio, etc. Para se determinar qual material mais adequado na
modelagem de um determinado processo ou estrutura, geralmente se utiliza o estudo do
ângulo de cisalhamento interno dos materiais (Panien et al. 2005).
Materiais granulares com comportamento Navier-Coloumb ideal, apresentam
com aumento da tensão, um aumento da deformação elástica até atingir o ponto de
ruptura, onde o material assume um comportamento frágil e a partir deste ponto a
deformação não diminui (Lohrmann et al. 2003). Embora se comportem como materiais
com características Navier-Coulomb, areia e argila apresentam algumas diferenças em
termos de características na deformação, tais como, a propagação das falhas, o
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
10
espaçamento entre elas e a quantidade de falhas e dobras desenvolvidas (Eisenstadt &
Sims, 2005).
2.3.c. MODELOS ANALÓGICOS DE INVERSÃO DE BACIAS
Vários tipos de modelos analógicos têm sido utilizados para abordar a inversão
de bacias. Bonini et al. (2012) sugerem que esses modelos podem ser subdivididos em:
(i) Modelos em que a deformação é analisada no teto da falha, e se utiliza um bloco
rígido para induzir a geometria da falha; (ii) Modelos puramente rúpteis; e (iii) modelos
rúptil-dúcteis, em que utilizam uma camada dúctil na base do modelo.
(i) Modelos analógicos com um bloco rígido
Os primeiros estudos de modelagem analógicos tendo abordado a inversão
positiva utilizavam um bloco rígido para induzir a geometria da falha (lístrica, plana ou
rampa), e o pacote sedimentar consistia de areia, argila ou uma mistura desses materiais
granulares (Koopman et al. 1987; Szatmari & Aires, 1987; Ellis & McClay, 1988;
Buchanan & Mcclay, 1991; Vially et al. 1994; McClay, 1989, 1995; Keller& McClay,
1995; Roure & Colletta, 1996; Yamada & McClay, 2003; Gomes et al. 2010). Mesmo
com desvantagem dada pela não deformação de um bloco rígido, este tipo de
experimentos tem desempenhado um papel importante para decifrar e validar
informações sobre a arquitetura estrutural final e a geometria interna de uma bacia
invertida. O primeiro modelo analógico de inversão é relatado em Lowell (1974, apud
Bonini et al. 2012), onde se tinha o encurtamento e inversão de uma falha com
geometria lístrica, que foi nucleada a partir de um bloco rígido.
Koopman et al. (1987) modelaram o processo de inversão positiva utilizando
duas configurações de modelo em caixa de areia (Fig. 2.3), uma com a inversão
produzida pela subida de um bloco rígido (Fig. 2.3A), e em outra a inversão foi
resultado da rotação de um bloco rígido delimitado por duas falhas pré-existentes (Fig.
2.3B). No primeiro modelo, feito com sedimentação sintectônica, foi utilizado um bloco
central que, abatido no estágio de distensão, induziu o desenvolvimento das falhas de
borda e quando soerguido no estágio de contração reativa as falhas normais. No
segundo experimento, os autores utilizaram blocos triangulares (d e f na figura 2.3B),
que provocaram a rotação do bloco central, reativando as falhas pré-existentes.
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
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Figura 2.3. Exemplo da modelagem física da inversão positiva (Koopman et al. 1987). (A) Um bloco
central move-se para cima e para baixo, a partir da compressão de blocos laterais, durante os eventos
distensional e contracional. (B) Um bloco central sofre rotação, durante o processo de inversão positiva.
(C) a (F) diferentes estágios deformacionais do modelo.
Diversos experimentos analógicos de inversão positiva foram realizados com o
uso de descontinuador de velocidade, normalmente representado por uma folha de papel
ou borracha, que induzia o desenvolvimento do sistema de falha na posição em que se
desejava analisar (McClay, 1989; Buchanan & McClay, 1991).
A influência da geometria da falha na arquitetura estrutural de uma bacia
invertida foi analisada por Buchanan & McClay (1991). Para isso, estes autores
utilizaram dois blocos com geometria diferentes que induziriam o desenvolvimento de
uma falha lístrica e outro de uma falha plana (Fig. 2.4). Os resultados destes modelos
mostraram uma similaridade com a arquitetura estrutural de imagens de seções sísmicas
de bacias invertidas, com significativa reativação de falhas normais dentro do graben,
que ocorreu apenas na parte superior do modelo, sobre as falhas reversas. Outros
trabalhos que utilizaram blocos de madeira com geometria plana e lístrica, usaram
intercalações de camadas de areia com silicone. A compressão ocorreu com direção
ortogonal e obliqua em relação ao sistema de falhas, e foi monitorada por um
tomógrafo. Os resultados obtidos mostraram com grande detalhe a evolução da
deformação ao longo do tempo (Vially et al. 1994; Roure & Colletta, 1996).
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
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Figura 2.4. Modelagem física de uma inversão positiva com o uso de blocos rígidos (geometria plana e
lístrica) (Buchanan & McClay, 1991). (A) e (C) Estágio final da inversão de falha plana e (B) e (D) de
falha lístrica. (E) e (F) Seções sísmicas de inversão positiva mostrando a similaridade com o modelo
analógico. (Fonte: Buchanan & McClay, 1991).
A deformação no bloco do teto, e a relação da superfície do detachment com o
processo de inversão, através de dados 2D e 3D, foi estudada por Yamada & McClay
(2003). O resultado destes estudos sugere que a deformação do bloco do teto de um
sistema de falhas lístricas pode permitir a determinação aproximada da quantidade de
deformação imposta sobre as falhas. Os modelos 3D da deformação do teto indicam que
o detachment exerce um controle primário na variação lateral da deformação no bloco
do teto, e no deslocamento do material granular.
A influência da geometria (côncava e convexa) do backstop na arquitetura
estrutural de uma inversão positiva foi avaliada por Gomes et al. (2010) (Fig. 2.5). O
backstop convexo simulou o bloco do teto de uma falha lístrica, enquanto o côncavo
procurou simular as duas margens de um graben. Os resultados obtidos mostraram que
no pacote de areia, o encurtamento foi particionado em movimentos dirigidos a pós e
antepaís, e a cinemática da contração foi fortemente influenciada pela geometria
convexa ou côncava do backstop. A reativação da falha lístrica quando o backstop é
côncavo, ocorreu mais tardiamente em relação a quando a geometria é convexa.
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
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Figura 2.5. Modelagem analógica testando a influência da geometria do backstop sobre a arquitetura de
uma inversão de bacia (Gomes et al., 2010). (A) Backstop côncavo (B) Backstop convexo. Setas indicam
a direção da deformação durante três estágios (D1, D2 e D3). (1) embasamento. (2) Sequência sin-rifte.
(3) Sequência pós-rifte. (4) backstop convexo. (5) backstop côncavo.
(ii) Modelos puramente rúpteis
Alguns experimentos analógicos são concebidos de forma que tanto o bloco do
teto, quanto o do piso sejam deformados (McClay, 1989; Amilibia et al. 2005; Panien et
al. 2005; Pinto et al. 2010). Nesses modelos para induzir a nucleação das falhas é
utilizado um descontinuador de velocidade, colocado na base da caixa de areia.
Panien et al (2005) procuraram analisar a influência do material utilizado no
pacote sedimentar e a orientação da bacia sobre a inversão positiva. Para simular a
diferença reológica dos estratos que preenchem um graben, utilizaram diferentes
materiais granulares (areia, coríndon e microesferas de vidro) (Fig. 2.6). Os modelos
foram submetidos a um evento distensional seguido de um evento contracional. Em
ambos os eventos a direção da tração e compressão foi a mesma, e a deformação foi
analisada por meio de tomografia computadorizada de raios-X. Os resultados obtidos
por estes autores sugerem que as camadas que preenchem o graben favorecem a
reativação das falhas de borda e controlam a localização e o mergulho da falha reversa
principal, que produz a extrusão mecânica do material que preenche o graben.
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
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Figura 2.6. Modelagem física de inversão positiva. Sequência de imagens obtidas com a tomografia
computadorizado de raios-X: (A) Final do evento distensional. (B) a (E) Diferentes estágios do evento
contracional (q, quartzo; coríndon; m, microesferas de vidro). Fonte: Panien et al (2005).
(iii) Modelos rúpteis-dúcteis
Estes modelos analógicos abordam o papel de camadas dúcteis no processo de
inversão tectônica (Nalpas et al. 1995; Brun & Nalpas, 1996; Dubois et al. 2002, Panien
et al. 2005; Ventisette et al. 2006; Pinto et al. 2010). A camada dúctil é representada
por silicone, que pode ser posicionada na base do modelo, entre camadas de areia, ou
em ambas as posições. Essa abordagem pode ser usada para investigar o efeito de uma
camada dúctil separando o embasamento cristalino da cobertura sedimentar e o papel da
orientação das falhas em relação aos campos de tensões atuantes durante a inversão
(Nalpas et al. 1995).
2.3.d. O PAPEL DA SEDIMENTAÇÃO SINTECTÔNICA
Dubois et al. (2002) abordaram em seu estudo a influência da sedimentação
sintectônica no controle da reativação de falhas, considerando também a direção da
Capítulo II – Estado da Arte Sousa, L.K.A
15
compressão, neste caso sendo ortogonal e oblíqua em relação às falhas de borda do
graben (desenvolvido durante o evento distensional). Os resultados obtidos mostraram
que uma baixa taxa de sedimentação favorece a reativação das falhas de borda.
Enquanto uma alta taxa de sedimentação favorece o desenvolvimento de novas falhas.
A influência da sedimentação sintectônica também é destacada no trabalho de Pinto et
al. (2010), que sugerem que a localização, a taxa de sedimentação durante a distensão e
a compressão influenciam diretamente no aumento ou diminuição da inversão positiva.
Estes autores confirmaram então que o aumento da taxa da sedimentação pode causar a
diminuição da inversão tectônica e o desenvolvimento de falhas reversas.
16
CAPÍTULO III – MÉTODOS E EXPERIMENTOS
Capítulo III – Métodos e Experimentos Sousa, L.K.A
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3.1. Aparato e materiais utilizados
Para simular a geração de falhas em ambiente distensional e posterior inversão
positiva, utilizou-se um aparato tipo “caixa de areia” existente no Laboratório de
Modelagem Estrutural (LME) do Laboratório de Geologia e Geofísica do Petróleo
(LGGP) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O aparato tipo “caixa de areia” consiste em uma caixa de vidro, prismática, cujas
dimensões são 52x34x24 cm (comprimento, largura e altura, respectivamente), com três
paredes fixas e uma móvel. A parede móvel é acoplada a um motor elétrico que a
movimenta a uma velocidade constante, que nos experimentos realizados foi de 0,42
mm/s, tanto para a tração quanto para a compressão. Na base da caixa foi colocada uma
folha de papel fixada à parede móvel durante a distensão, e descolada desta durante a
fase de compressão (Figura 3.1).
Neste trabalho, foram realizados duas séries de experimentos. Na Série I, além
da folha de papel, foram colocados blocos de madeira com diferentes geometrias, na
extremidade oposta à parede móvel, para simular/induzir a formação de uma falha
mestra. Nesta série, dois tipos de modelos foram realizados: um com a falha lístrica
ortogonal à direção de tração e compressão, e no outro a falha lístrica foi oblíqua, sendo
o ângulo entre a direção da falha mestra e a direção da tração e compressão será
denominado de α, para este experimento α igual a 80º. Na Série II, os blocos de madeira
não foram utilizados, apenas a folha de papel (Figura 3.1) funcionou como um
descontinuador de velocidade na formação e reativação de falha mestra plana, ortogonal
à direção de tração/compressão. Nesta Série o contraste reológico foi amplificado para o
estudo de sua influência no processo deformacional.
Na Série I para representar a sequência pré-tectônica, utilizou-se camadas
intercaladas de areia natural (1,0 cm de espessura) e areia tingida artificialmente (0,5 cm
de espessura), para servir de marcador tectônico. A espessura total da sequência foi de 7
cm. Em todos os experimentos, a distensão total foi de 8 cm e a contração foi de 11 cm.
Na Série II foram realizados três experimentos com pacotes pré-tectônicos
constituídos por diferentes tipos de material: (i) apenas areia; (ii) areia e pó de gesso; e
(iii) areia e argila. As camadas de areia natural tinham espessura variando entre 1,0 cm e
1,5 cm e foram intercaladas com camadas de areia tingida (0,5 cm de espessura), ou
camadas de 1,5 cm de espessura de pó de gesso ou argila, perfazendo uma espessura
Capítulo III – Métodos e Experimentos Sousa, L.K.A
18
total de 7 cm (experimento apenas com areia) e 6 cm (experimentos com areia
intercalada com pó de gesso ou argila). Como na Série I, a distensão/contração total foi
de 8 e 11 cm respectivamente.
Durante o evento de inversão cinemática, em ambos as séries, foi utilizado o
Particle Image Velocimetry (PIV) para obtenção de fotografias de alta resolução e seu
tratamento foi feito através do software DaVis8 e LaVision.
Figura 3.1. Esquema mostrando a caixa utilizada nos experimentos, antes da colocação da areia. Papel
vegetal recobre a base e blocos de madeira, representando uma descontinuidade e juntos induzem a
formação das falhas lístrica ortogonal e obliqua (Série I) e plana (Série II). A coluna de material pré-
tectônico também é mostrada.
3.2. Procedimento experimental em aparato “caixa de areia”
Para verificar a reprodutibilidade das estruturas geradas, os modelos foram
realizados pelo menos duas vezes, mantendo-se as mesmas condições de contorno.
Capítulo III – Métodos e Experimentos Sousa, L.K.A
19
Durante o evento de tração (D1) a cada intervalo de 0,5 cm de distensão, areia tingida
foi adicionada ao modelo simulando sedimentação sintectônica. O evento contracional
(D2) foi realizado sem sedimentação sintectônica.
O registro dos vários incrementos deformacionais do evento D1 foi feito em
intervalos constantes (a cada 0,5 cm de distensão) através de fotografias tiradas
sequencialmente nas laterais da caixa de areia. No evento D2, foram obtidas, com o
sistema PIV, 2 fotos por segundo (em média 12 fotos a cada 0,5 cm de contração). Após
a etapa de laboratório, as fotografias, tanto as obtidas com câmera fotográfica comum
quanto àquelas obtidas com o PIV (estas em tons de cinza) foram interpretadas.
Nas fotografias obtidas com a câmera fotográfica comum, não foi possível
visualizar parte da base da seção pré-tectônica devido ao suporte que prende as paredes
da caixa. Assim, nestas fotos, foi colocada uma faixa branca.
O evento contracional (D2) foi analisado através de fotografias comuns
coloridas e dados obtidos com o PIV. Alguns experimentos foram realizados duas
vezes, um com fotografia comum, outro com imagens obtidas com o sistema PIV.
3.3. Particle Image Velocimetry (PIV)
O PIV foi colocado no mercado há cerca de três décadas e, deste então, se tornou
uma técnica essencial de medição da dinâmica de fluidos e gases em laboratórios de
pesquisa pura (academia) ou aplicada (indústria) (Brossard et al. 2009). A partir de
2001, o monitoramento do deslocamento de materiais granulares pela técnica de
correlação de imagem ótica foi testado na investigação de processos granulares, como
nos trabalhos de White et al. (2001) e Wolf et al. (2003). Adams et al. (2005) utilizaram
o PIV em experimentos tipo “caixa de areia” com diferentes condições e propriedades
dos materiais. O PIV fornece uma medição exata da deformação não linear complexa,
como a distribuição da deformação e a acumulação de strain (Adam et al., 2005). O
campo de deslocamento das partículas do material granular é calculado por correlação
cruzada da translação e distorção do padrão das partículas de areia em sucessivas
imagens com um dado intervalo de tempo dt (Adam et al., 2005).
Através do processamento digital das imagens, este método pode fornecer
medições (em alta resolução) da evolução da deformação ao longo do tempo, em 2D e
Capítulo III – Métodos e Experimentos Sousa, L.K.A
20
3D, tanto dentro de zonas deformadas quanto no material circundante (Adam et al.,
2005). A figura 3.2 exemplifica alguns tipos de informações e interpretações que podem
ser obtidos através do processamento dos dados obtidos com o sistema PIV.
Figura 3.2. (A) Monitoramento dos vetores de deslocamento incremental. (B) Deslocamento horizontal.
(C) Distorção incremental visualizada através do vetor da malha de deformação. (D) Strain cisalhante.
(Reproduzido de: Adam et al., 2005)
No presente trabalho, o strain nos experimentos foi monitorado através do
sistema 2D em alta resolução a partir de imagens digitais sequenciais (em tons de
cinza), obtidas da lateral do modelo (Figura 3.3), com a câmera PIV 2D. Essas imagens
foram processadas com os softwares DaVis8 e LaVision.
Figura 3.3. Esquema representativo da montagem do sistema PIV utilizado nos experimentos realizados.
(Reproduzido de Oliveira, 2015).
O acompanhamento dos experimentos das Séries I e II com o PIV possibilitou
avaliar, em detalhe, a evolução da deformação ao longo do tempo. O processamento das
imagens obtidas durante os vários incrementos deformacionais mostrou os locais onde a
deformação estava concentrada em determinado intervalo de tempo e a sua migração ao
Capítulo III – Métodos e Experimentos Sousa, L.K.A
21
longo da porção da bacia modelada no experimento. Os dados obtidos nos experimentos
e processados com o uso do sistema PIV foram os vetores de velocidade, zonas
deformacionais ou de concentração de strain e de deslocamento (Figura 3.4).
Capítulo III – Métodos e Experimentos Sousa, L.K.A
22
Figura 3.4. Apresentação dos vários tipos de dados obtidos através do processamento realizado com o sistema PIV, para os experimentos realizados neste trabalho. (A)
Vetores de velocidade. (B) Zonas de concentração de strain (Faixas Azuis). (C) campo de deslocamento do material granular.
23
CAPÍTULO IV – ARTIGO CIENTÍFICO
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
24
ANÁLISE DA REATIVAÇÃO DE FALHAS NORMAIS ATRAVÉS DA
MODELAGEM FÍSICA COM O USO DO PARTICLE IMAGE
VELOCIMETRY.
Luís Kennedy Andrade de SOUSA¹, Fernando César ALVES DA SILVA², André João Palma Conde
BLANCO³.
¹Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica – PPGG – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, Natal, RN, Brasil. Bolsista CAPES, [email protected].
²Departamento de Geologia e Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica – PPGG –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Natal, RN, Brasil. [email protected].
³Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica – PPGG – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, Natal, RN, Brasil. Bolsista PRH22(ANP).
Resumo: Durante as últimas décadas, modelagem física tornou-se uma ferramenta
importante para melhorar a compreensão de algumas estruturas e processos geológicos,
incluindo inversão cinemática das bacias sedimentares. Nesse caso, impulcionado pela
indústria do petróleo, um melhor conhecimento da inversão positiva se fez necessário,
uma vez que este processo poderia gerar (ou destruir) armadilhas para acumulação de
hidrocarbonetos. Este artigo trata da relação entre a reativação de falhas normais pré-
existentes e a geração de novas falhas durante uma inversão positiva. Os nossos
resultados mostraram que a orientação de falhas, relativamente ao campo de tensão, e a
estratigrafia mecânica podem desempenhar um papel importante durante o processo de
inversão positiva, induzindo a reativação de algumas falhas prévias, bem como a
geometria das neoformadas. Os experimentos monitorados com o Particle Image
Velocimetry (PIV) mostraram em detalhe o comportamento de falhas ao longo do
evento D2, durante o qual a inversão ocorreu, evidenciando que o movimento ao longo
de certas falhas não é constante, sendo registrado alternância de períodos de atividade e
inatividade.
Palavras-chave: Modelagem física; Falhas normais; Inversão positiva.
Abstract: During the last decades, physical modeling has become an important tool to
improve understanding of some structures and geological processes, including
kinematics inversion of the sedimentary basins. In that case, motivated mainly by the
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
25
petroleum industry, a better knowledge of positive inversion was essential, since this
process could produce (or destroy) traps for hydrocarbon accumulation. This article
deals with the relationship between the reactivation of pre-existing normal faults and the
generation of new ones during a positive inversion. Our results showed that the
orientation fault, relative to the stress field, and mechanical stratigraphy, could play an
important role during the process of positive inversion, leading to reactivation of some
previous faults as well as determine the geometry of the new ones. The experiments
monitored by particle image velocimetry (PIV) shown in detail the fault behavior over
D2 event, during which the inversion occurred, revealing that the movement along
certain faults are not constant since they show alternating periods of activity and
inactivity.
Keywords: Physical modeling; Normal fault; Positive inversion.
4.1. Introdução
A modelagem analógica, desde o século XIX, vem sendo usada para simular o
desenvolvimento de estruturas geológicas com o objetivo de entender os mecanismos
que controlam sua geometria e cinemática. O conceito de inversão estrutural surgiu a
partir do estudo em bacias sedimentares portadoras de hidrocarbonetos (Voigt, 1963
apud Pinto et al. 2010). O termo inversão estrutural positiva descreve a passagem de
regime tectônico incialmente distensional para contracional (Costa et al. 1992),
enquanto a inversão estrutural negativa ocorre quando falhas reversas são reativadas
com rejeito normal (Cooper & Williams, 1989). O presente trabalho foi direcionado ao
estudo de modelos analógicos com inversão positiva.
Estudos envolvendo a modelagem analógica de inversão de bacias são
desenvolvidos para melhorar o entendimento dos fatores que influenciam na reativação
das estruturas pré-existentes, bem como sua geometria. Bonini et al. (2012) sugerem
que os vários modelos utilizados para abordar a inversão positiva podem ser agrupados
em três tipos: (1) Modelos em que a deformação é analisada no teto da falha e se utiliza
um bloco rígido para induzir a geometria da falha; (2) Modelos puramente rúptil; e (3)
modelos rúptil-dúctil, em que se utiliza uma camada dúctil na base do modelo.
Os estudos de modelagem analógica que abordam a inversão positiva utilizam
um bloco rígido para induzir a geometria da falha (lístrica, planar ou rampa) e o pacote
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
26
sedimentar representado por areia, argila ou uma mistura desses materiais (Koopman et
al. 1987; Buchanan & Mcclay, 1991; McClay, 1989, 1995; Keller & McClay, 1995;
Yamada & McClay, 2003; Gomes et al. 2006; Konstatinovskaya, et al. 2007; Gomes et
al. 2010; entre outros). Mesmo com desvantagem dada pela não deformação do bloco
rígido, este tipo de modelo analógico tem desempenhado um papel importante para
decifrar e validar informações sobre a arquitetura estrutural final e a geometria interna
de uma bacia invertida.
Em experimentos onde teto e piso são capazes de sofrer deformação um
descontinuador de velocidade (DV) é utilizado na base do modelo (Dubois et al. 2002;
Amilibia et al. 2005; Ventisette et al. 2006; Pinto et al. 2010; Bonini et al. 2012). Estes
estudos permitiram uma melhor compreensão da evolução geométrica e cinemática de
falhas em ambiente frágil, dentro de um contexto de inversão de bacias. A utilização de
diferentes materiais granulares para o preenchimento de uma estrutura grabenforme,
estabelecendo um contraste reológico entre eles, mostra que esta descontinuidade
favorece a reativação das falhas da borda e controlam a localização e o mergulho da
falha reversa principal, que produz a extrusão mecânica do material (Panien et al. 2005).
Os modelos analógicos também abordam o papel de camadas dúcteis no
processo de inversão tectônica (Nalpas et al. 1995; Dubois et al. 2002, Panien et al.
2005; Ventisette et al. 2006). Nesses modelos uma camada de silicone é posicionada ora
na base do modelo, ora entre as camadas de areia, ou em ambas as posições, para
investigar o efeito da separação do embasamento cristalino da cobertura sedimentar,
bem como o papel da orientação das falhas em relação aos campos de tensão atuantes
durante a inversão.
Nas últimas décadas novos métodos vêm sendo utilizados na modelagem física,
como é o caso do Particile Image Velocimetry (PIV) inicialmente usado para a medição
da dinâmica de fluidos e gases (Brossard et al. 2009). A partir de 2001, o PIV foi
testado na investigação de processos granulares (White et al. 2001; Wolf et al. 2003) e
Adams et al. (2005) utilizaram em experimentos em “caixa de areia”. O PIV fornece
uma medição exata da deformação não linear complexa, como a distribuição da
deformação e o acúmulo de strain, ao longo da deformação em 2D e 3D, tanto dentro de
zonas deformadas quanto no material circundante (Adam et al. 2005).
O presente estudo é baseado em dois tipos de experimentos: i) somente o teto é
capaz de se deformar; ii) o teto e o piso são livres para se deformarem. No primeiro caso
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
27
foram utilizados blocos de madeira com geometria similar a uma falha lístrica, enquanto
no segundo caso, utilizou-se um descontinuador de velocidade (DV) na base do
experimento. Os modelos foram submetidos primeiramente a uma fase de distensão,
seguida por uma de contração. O objetivo destes experimentos foi caracterizar a
arquitetura estrutural final de um modelo submetido a uma inversão positiva,
verificando a relação entre a geração de novas falhas e a reativação das pré-existentes,
além de analisar a predisposição de determinadas falhas reativarem e analisar os fatores
que possam controlar essa predisposição. Adicionalmente, efetuou-se a análise do
comportamento e distribuição do strain ao longo do processo deformacional a partir de
imagens obtidas e processadas pelo sistema PIV.
4.2. Métodos e Experimentos Realizados
4.2.1. APARATO E MATERIAIS UTILIZADOS
O aparato tipo “caixa de areia” utilizado, consiste em uma caixa de vidro,
prismática (52 cm x 34 cm x 24 cm), com três paredes fixas e uma móvel. A parede
móvel, acoplada a um motor elétrico, movimentou-se a uma velocidade constante de
0,42 mm/s, tanto na tração quanto na compressão. Na base da caixa foi colocada uma
folha de papel fixada à parede móvel. Duas séries de experimentos foram realizadas
(Fig. 4.1):
Série I – Na extremidade oposta à parede móvel foram colocados blocos de
madeira com diferentes geometrias para simular/induzir a formação de uma falha
mestra. Durante a fase de contração a folha de papel foi descolada da parede móvel.
Analisou-se a geração de falhas associadas à geração de uma falha lístrica principal e
sua reativação durante a inversão cinemática. Nesta série, dois tipos de modelos foram
realizados: um com a falha lístrica, ortogonal à direção de tração e compressão (Série
IA), e no outro a falha lístrica foi oblíqua, sendo o ângulo entre a direção da falha
mestra e a tração e compressão será denominado de α, que é igual a 80º (Série IB).
Série II – Realizado sem a utilização de blocos de madeira, uma folha de papel
na base do modelo funcionou como um descontinuador de velocidade. Nesta série
analisou-se a geração de falhas associadas à formação de uma falha mestra plana,
ortogonal à direção de tração/compressão. Nestes experimentos procurou-se também
observar o papel da reologia na predisposição de falhas normais serem reativadas.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
28
Para representar a sequência pré-tectônica na Série I, utilizou-se camadas
intercaladas de areia natural (1,0 cm de espessura) e areia tingida artificialmente (0,5 cm
de espessura), para servirem de marcador tectônico. A espessura total foi de 7 cm. Em
todos os modelos utilizados, a tração total foi de 8 cm, e a compressão foi de 11 cm.
Na Série II, três tipos de experimentos foram realizados com pacotes pré-
tectônicos constituídos por diferentes tipos de material: (i) apenas areia; (ii) areia e pó
de gesso; e (iii) areia e argila. As camadas de areia natural tinham espessura 1,5 cm ou 1
cm intercaladas com camadas de areia tingida com 0,5 cm de espessura, ou camadas de
pó de gesso ou argila com 1,5 cm de espessura. A espessura total variou entre 6 e 7 cm e
a tração e compressão total foram similares a série I.
Figura 4.1. Esquema mostrando a caixa antes da colocação da areia. Papel vegetal recobre a base e blocos
de madeira, representando um bloco rígido e induzem a formação da falha lístrica ortogonal e oblíqua
(Série I) e da falha plana (Série II). A estratigrafia da sequência pré-tectônica também é mostrada.
Durante o evento de inversão cinemática, em ambas as séries, foi utilizado o PIV
para obtenção de fotografias de alta resolução e seu tratamento foi feito através do
software DaVis8 e LaVision.
4.2.2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Para verificar a reprodutibilidade das estruturas geradas, os modelos foram
realizados pelo menos duas vezes, mantendo-se as mesmas condições de contorno.
Durante a distensão (evento D1) a cada intervalo de 0,5 cm foi adicionado areia tingida
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
29
simulando sedimentação sintectônica. O evento contracional (D2), foi realizado sem
sedimentação sintectônica.
O registro dos vários incrementos deformacionais foi feito em intervalos
constantes (a cada 0,5 cm) através de fotografias tiradas sequencialmente nas laterais da
caixa de areia. Nos experimentos da Série IB, fotografias foram obtidas também da
superfície do modelo, que, após a compressão, foi endurecido e seccionado gerando 12
seções paralelas à direção de distensão/contração. Nas fotografias obtidas com a câmera
fotográfica comum, não foi possível visualizar parte da base da seção pré-tectônica
devido ao suporte que prende as paredes da caixa. Assim, nestas fotos, foi colocada uma
faixa branca.
4.2.3. PARTICLE IMAGE VELOCIMETRY (PIV)
Neste trabalho, foram obtidos dados em 2D da evolução da deformação ao longo
dos experimentos. O acompanhamento dos experimentos das Séries I e II com o PIV
possibilitou avaliar em detalhe, sua evolução ao longo do tempo. O processamento das
imagens obtidas durante os vários incrementos deformacionais permitiu identificar
locais onde a deformação se concentrou em um dado intervalo de tempo e a sua
migração ao longo do processo deformacional. Três tipos de dados foram obtidos com o
sistema PIV, o primeiro mostra os vetores de velocidade absoluta do material granular,
o segundo mostra a distribuição do strain ao longo da deformação e o terceiro mostra os
campos de magnitude de deslocamento.
4.3. Resultados dos Experimentos
4.3.1. SÉRIE IA - FALHA MESTRA: LÍSTRICA ORTOGONAL À TRAÇÃO E
COMPRESSÃO
4.3.1.A - Evento Distensional (D1)
A formação da falha lístrica e nucleação de uma falha antitética ocorreram logo
nos primeiros estágios de deformação. As camadas pré-tectônicas foram basculadas
contra a falha lístrica e com o aumento da deformação e da sedimentação sintectônica,
houve o desenvolvimento de uma estrutura rollover clássica com crescimento da seção
sintectônica em direção à falha lístrica (Fig. 4.2A). Com a progressão da deformação
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
30
houve um aumento no crescimento da seção sintectônica e do basculamento das
camadas e as falhas sintéticas à falha lístrica são rotacionadas e se tornam mais
sinuosas, principalmente quando cortam as sequências sintectônicas. Duas pequenas
falhas reversas, com vergência contrária à falha lístrica, se desenvolveram a partir de
32% de deformação (Fig. 4.2B).
Figura 4.2. Exemplos de dois estágios da deformação D1: (A) Formação de rollover mostrando o
crescimento da seção, e o basculamento das camadas. (B) Estágio final da distensão, com o
desenvolvimento de falhas antitéticas seccionando as sintéticas. Os diagramas mostram o mergulho das
camadas pré-tectônicas medidos em uma camada guia, assinalada por um ponto vermelho, nos perfis.
4.3.1.B - Evento Contracional (D2)
A inversão cinemática foi realizada a partir da compressão horizontal do modelo
após 40% de distensão (estágio mostrado na figura 4.2B). O evento D2 foi realizado
sem sedimentação sintectônica. O primeiro sinal de inversão positiva foi registrado na
falha lístrica com o desenvolvimento de estrutura tipo “arpão” nas camadas adjacentes à
falha (Fig. 4.3A).
O desenvolvimento de falhas reversas teve início em torno de 14% de contração,
com a nucleação do retroempurrão (F8) na sequência pré-D1, com ângulo de mergulho
mais baixo que a falha normal da extremidade norte do modelo, e o empurrão (F9), com
vergência para sul, nucleado na sequência D1 (Fig. 4.3B). Novas falhas reversas, com
ângulo de mergulho entre 25º a 30º, desenvolvidas na porção norte do modelo
seccionaram as falhas normais ali pré-existentes, quando a contração alcançou 25%
(Fig. 4.3C). A falha lístrica continuou ativa (reativada), amplificando a estrutura em
arpão (Fig. 4.3C).
Enquanto os retroempurrões desenvolvidos na sequência pré-D1 se enraizaram
na parte de mergulho mais baixo da falha lístrica (Fig. 4.3D), empurrões menores
evoluíram a partir da sequência sin-D1 e, junto com os retroempurrões, soerguem esta
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
31
parte do modelo (Figs. 4.3D e 4.3E), com geração localizada de pop-up na sequência
pré-D1 (Fig. 4.3E).
Figura 4.3. Ilustração de alguns estágios da deformação D2. (A) Início da inversão positiva da falha
lístrica, com desenvolvimento de estrutura tipo “arpão”. (B) Desenvolvimento das primeiras falhas
reversas com vergências opostas. (C) e (D) Falhas reversas seccionam as normais pré-existentes. Notar a
ampliação da estrutura “arpão”. (E) Estágio final do evento D2, com falhas normais rotacionadas e
seccionadas por pelas falhas reversas, aumentando a complexidade estrutural.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
32
Durante todo o processo deformacional a falha lístrica esteve ativa e grande
parte da compressão foi acomodada na inversão positiva desta estrutura e no
desenvolvimento dos retroempurrões. A parte central do modelo foi elevada, flanqueada
pela falha lístrica na porção sul e os retroempurrões na porção norte. A interação das
falhas reversas com as falhas normais pré-existentes resultou em uma complexidade
estrutural significativa. As falhas normais geradas durante D1 foram rotacionadas no
sentido anti-horário durante o evento D2, sendo seccionadas pelas falhas reversas,
gerando vários segmentos, mas nenhumas delas (a exceção da lístrica) foi invertida
cinematicamente.
4.3.2. SÉRIE IB - FALHA MESTRA: LÍSTRICA OBLÍQUA (Α= 80º) À TRAÇÃO E
COMPRESSÃO
Devido à obliquidade da falha lístrica, neste modelo, os dois lados dos
experimentos foram analisados separadamente: lado leste, onde a falha estava mais
próxima à parede móvel; lado oeste, onde a falha estava mais distante (cf. Fig. 4.1).
4.3.2.A - Lado Leste: Evento Distensional (D1)
Nos primeiros incrementos deformacionais (4% de distensão) duas falhas se
desenvolveram, a falha lístrica e uma falha normal antitética de alto ângulo de mergulho
(F1), nucleada na base da sequência. Com a progressão da deformação e adição da
sedimentação sintectônica, um sinclinal rollover, desenvolveu-se associado à falha
lístrica enquanto a falha F1 rotacionou, diminuindo seu ângulo de mergulho. Um
sistema de falhas sintéticas à falha lístrica foi desenvolvido na base da seção pré-D1,
enquanto no topo da sequência uma nova falha antitética (F6) se desenvolveu, gerando
uma estrutura grabenforme (Fig. 4.4A). Nos estágios de deformação mais avançados
(Fig. 4.4B), a falha antitética F6 se propagou para a base da sequência, seccionando as
falhas sintéticas mais antigas, gerando uma estruturação mais complexa na porção do
modelo oposta à falha lístrica.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
33
.
Figura 4.4. Dois estágios deformacionais do evento D1. (A) Formação da falha lístrica e o
desenvolvimento de falhas normais sintéticas à falha lístrica, principalmente na base da sequência pré-
tectônica. (B) No estágio final da distensão a falha F6 se propagou para a base da sequência e seccionou
as falhas sintéticas à falha lístrica.
4.3.2.B - Lado Leste: Evento Contracional (D2)
O início do evento contracional foi marcado pela reativação, como falha inversa,
do segmento superior da falha F5, da falha antitética F7, e o desenvolvimento da falha
reversa F9 na base do modelo (Fig. 4.5A). A inversão cinemática da falha lístrica teve
início antes da contração atingir 8% mas torna-se mais perceptível a partir deste
momento (Fig. 4.5B). Neste estágio, algumas falhas antitéticas (F1 e F6) e sintética (F3)
à falha lístrica, também foram reativadas.
Empurrões com geometria em splay (F9 e F11), enraizando-se no décollement
associado à falha lístrica e retroempurrões (F10 e F13) desenvolveram-se à medida que
a deformação aumentou (Fig. 4.5C). A partir deste estágio, toda a deformação foi
concentrada na geração de falhas reversas, cessando a reativação das falhas normais
relacionadas ao evento D1 (Figs. 4.5D e 4.5E). Alguns segmentos das falhas normais
(F4 e F5), entre as falhas F1 e F6, sofreram rotação durante D2, invertendo a polaridade
do mergulho (comparar figuras 4.5A e 4.5E).
Os dados de vetores de velocidade, obtidos com o PIV, mostraram que a
deformação foi absorvida primeiramente pela porção do experimento junto ao backstop,
reativando e criando novas falhas, nesta extremidade do modelo (Figs. 4.6A e 4.6B).
Estes vetores atingem a falha lístrica em cerca de 5,6% da contração, marcando o início
da inversão cinemática desta falha (Fig. 4.6C).
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
34
Figura 4.5. Ilustração de alguns estágios da deformação D2. (A) Reativação, com inversão cinemática,
das falhas F5 e F7 logo nos primeiros incrementos deformacionais. (B) Reativação das falhas antitéticas
(F1 e F6), concomitante a reativação da falha lístrica. (C) Desenvolvimento de falhas com geometria tipo
splay (F9 e F11) além de retroempurrões (F10 e F13). (D) A propagação do retroempurrão F13, para a
base da sequência, seccionou o empurrão F9. (E) Segmentos de falhas normais não reativadas entre as
falhas F1 e F6, mostram inversão do mergulho devido ao processo de rotação.
Os dados de distribuição do strain mostraram que em 14% de encurtamento, a
deformação estava concentrada em três falhas, o retroempurrão F10 e as falhas reversas
F9 e F11, esta última exibiu geometria curva subparalela a falha lístrica (Fig. 4.6D) que
neste estágio estava inativa. Estes dados mostraram ainda que as falhas F9 e F10
tornaram-se inativas quando da geração e desenvolvimento da falha F13, que também
inibiu a nucleação da falha reversa F12, enquanto a falha F3 era reativada (embora com
pouca variação de rejeito) (Fig. 4.6E).
Em cerca de 30% da contração, a deformação estava concentrada quase que
exclusivamente na inversão da falha lístrica, na falha reversa F11 além da nucleação do
retroempurrão F14, observado apenas com os dados do PIV (Fig. 4.6F).
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
35
Figura 4.6. Ilustrações dos dois tipos de dados obtidos com PIV: vetores de velocidade (A a C) e zonas de
concentração de strain (D a F). (A) e (B) Mostram a progressão da deformação em direção à falha lístrica.
(C) Marca a chegada da deformação na falha lístrica, reativando-a com cinemática inversa. (D) A
concentração da deformação (faixas azuis) mostra as falhas ativas (F9, F10 e F11) neste estágio
deformacional. (E) Nucleação do retroempurrão F13 e pequena reativação da falha F3. (F) Neste estágio,
ocorreu a reativação da falha lístrica e nucleação da falha F14, que é vista apenas nos dados do PIV. (A
mancha que aparece no centro da figura A e nas demais, trata-se de um reflexo da câmera).
4.3.2.C - Lado Oeste: Evento Distensional (D1)
No início da deformação duas falhas se desenvolveram, sendo uma delas com
geometria lístrica (Fig. 4.7A). A falha lístrica, ao se propagar em direção ao topo da
sequência, não obedeceu a descontinuidade dada pelo bloco de madeira tendo se
desenvolvido próximo e subparalelo a esta descontinuidade (Fig. 4.7A). Ao contrário do
observado no lado leste, mesmo com o aumento da deformação e adição da
sedimentação sin-D1, um número reduzido de estruturas foi desenvolvido, incluindo
uma falha normal antitética (Fig. 4.7B). No piso da falha F1 uma pequena falha normal
de alto ângulo de mergulho (F4) foi desenvolvida.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
36
Figura 4.7. Ilustração dos estágios inicial e final do evento D1. (A) Desenvolvimento da falha lístrica e
uma falha sintética (F1). A falha lístrica não seguiu a orientação do molde de madeira. (B) Estágio final
do experimento. A falha antitética F3 seccionou as falhas sintéticas da porção norte do modelo.
4.3.2.D - Lado Oeste: Evento Contracional (D2)
O evento contracional foi realizado após 61% de distensão. Os primeiros sinais
de inversão positiva foram registrados na reativação das falhas F1 e F2, e do segmento
basal sub-horizontal da falha lístrica, como um decóllement (Fig. 4.8A). Com o
aumento da compressão, a falha lístrica é completamente reativada, com o
desenvolvimento de estrutura tipo “arpão” sobrepondo-se às estruturas de arrasto
criadas no evento D1 e ainda visível neste estágio deformacional (Fig. 4.8B).
Retroempurrões (F6 e F7) foram nucleados e se propagaram em direção à parte superior
da sequência nos estágios mais avançados da deformação, enquanto um empurrão (F5),
enraizado no decóllement, se propagou em direção à falha lístrica, definido juntamente
com esta uma estrutura tipo “cavalo” (Fig. 4.8C).
Depois da geração das falhas reversas, a falha normal F4 foi rotacionada (sentido
anti-horário) invertendo o sentido de seu mergulho e, juntamente com a falha F3, foram
reativadas com cinemática reversa (Fig. 4.8D). No estágio final da deformação, ocorreu
também, o desenvolvimento do retroempurrão F9 e dos empurrões F8 e F10
respectivamente nas porções basal e superior do modelo. Um “pop-up”, na parte
superior, extremidade norte do modelo, é delineado pelas falhas F6 e F8 (Fig. 4.8D).
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
37
Figura 4.8. Ilustrações de estruturas geradas durante o evento contracional. (A) Reativação das falhas F1 e
F2 no início da deformação. (B) Início da inversão positiva da falha lístrica, com o desenvolvimento de
estrutura tipo “arpão”. Estrutura de arrasto relacionada ao evento distensional ainda pode ser observada.
(C) Retroempurrões (F6 e F7) seccionaram falhas pré-existentes. O empurrão F5, enraizado no
decóllement, propagou-se em direção à falha lístrica. (D) Reativação das falhas normais F3 e F4, após o
desenvolvimento das falhas reservas F8, F9 e F10.
Os dados do PIV mostraram que na fase inicial da compressão três zonas de
concentração de strain representam a reativação das falhas normais F1 e F2 e o início
do desenvolvimento do decóllement (Fig. 4.9A). Nenhuma zona de concentração de
strain foi formada na região da falha lístrica, mostrando que, nos estágios iniciais de
D2, ela se manteve inativa (Fig. 4.9A). Entretanto, com o aumento da deformação, o
strain passou a se concentrar na região da falha lístrica demostrando sua inversão
cinemática (Fig. 4.9B), que perdurou até os estágios finais do evento D2 (Fig. 4.9C).
4.3.3. SÉRIE II – FALHA MESTRA PLANA ORTOGONAL À TRAÇÃO E
COMPRESSÃO
Esta série de experimentos foi realizada com variação reológica entre as
camadas constituintes da sequência pré-tectônica (areia, gesso e argila). A denominação
Série IIA, IIB e IIC, foi dada em função dos materiais empregados.
4.3.3.1 - Série IIA
Para servir de padrão, na comparação com os demais materiais utilizados, nesta
série utilizou-se apenas areia quartzosa (coloração natural e tingida).
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
38
Figura 4.9. Zonas de concentração de strain (faixas azuis) em diferentes estágios da contração
computadas através do sistema PIV. (A) Durante o início da contração, a deformação concentrou-se na
reativação das falhas normais F1 e F2. (B) Início da reativação, como falha reversa, da falha lístrica. (C)
A falha lístrica esteve ativa, até os estágios finais do evento D2, concentrando a maior parte da
deformação. A zona azul, sub-horizontal no topo do modelo (A e B) não representa deformação no perfil,
trata-se de uma pequena porção da superfície do modelo imageado pela câmera do PIV.
4.3.3.1.A - Evento Distensional (D1)
Falhas planas, com mergulhos fortes e opostos, foram desenvolvidas nos
primeiros estágios da deformação, dando origem a uma estrutura grabenforme, com as
camadas pré-tectônicas basculadas para sul, contra a falha F1 (Fig. 4.10A). Com o
aumento da distensão, um conjunto de falhas normais, fora de sequência, foi gerado. A
interação entre as falhas F1/F4 e F7/F8 gerou estrutura tipo “cavalo” nas porções sul e
central da estrutura grabenforme (Fig. 4.10B). Neste experimento, não foi observado a
rotação das falhas.
Figura 4.10. Ilustração de dois estágios da deformação D1. (A) Falhas planas, definindo uma estrutura
grabenforme nos estágios iniciais da deformação. (B) Estágio final do evento D1, mostrando “cavalos”
tectônicos na porção mais a sul da estrutura grabenforme.
4.3.3.1.B - Evento Contracional (D2)
As primeiras evidências visíveis deste evento foram a inversão das falhas
normais delimitadoras do depocentro da estrutura grabenforme gerada em D1 (F3 e
F10), e duas outras (F4 e F8), na extremidade sul do modelo (Fig. 4.11A). Os dados de
PIV (vetores de velocidade) confirmam este cenário inicial de D2 (Fig. 4.12). Depois
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
39
deste estágio nenhuma outra falha foi reativada, sendo a deformação representada pelo
desenvolvimento de novas falhas (F11 a F13), agora com ângulo de mergulho bem mais
baixo do que aquelas reativadas. Elas mostraram cinemática reversa e seccionaram as
falhas normais pré-existentes (Fig. 4.11B). Os empurrões se enraizaram no
descolamento basal enquanto o retroempurrão ficou limitado pela falha F11 (Fig.
4.11B). Nos incrementos deformacionais subsequentes apenas retroempurrões foram
formados, mas os empurrões F11 e F13, que definem um “cavalo” tectônico,
continuaram ativos, ampliando a separação entre os segmentos das falhas normais por
eles seccionados (Figs. 4.11C e 4.11D).
Figura 4.11. (A) Deformação D2 foi inicialmente representado pela reativação das falhas F3, F4, F8 e
F10. (B) Desenvolvimento de falhas reversas (empurrões F11 e F13 e retroempurrão 12). (C)
Desenvolvimento de retroempurrões, no compartimento basal do modelo, acima do empurrão F11. D)
Estágio final da deformação, mostrando que grande parte das falhas normais não sofreram modificação
em sua geometria durante o evento D2.
Os dados de strain obtidos com o PIV ratificam a concentração da deformação
ao longo dos empurrões F11 e F13 e do retroempurrão 12 a partir de 15% de
encurtamento (Fig. 4.12C). Estes dados mostram ainda a competição/partição da
deformação entre as falhas novas e antigas. O desenvolvimento de uma nova zona de
deformação, marcando a nucleação do retroempurrão F14, tornou o empurrão F11
inativo e houve um arrefecimento na movimentação do retroempurrão F12 (Fig. 4.12D).
A geração do retroempurrão F15 (entre 22% a 32% de compressão) provocou uma
acentuada diminuição da atividade do retroempurrão F14, a inatividade do
retroempurrão F12, e a retomada da movimentação do empurrão F11 (Figs. 4.12E e
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
40
4.12F). Até o fim da deformação, as falhas normais não reativadas comportaram-se de
forma passiva nos blocos soerguidos pelas falhas reversas, sem sofrerem rotação.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
41
Figura 4.12. Imagens dos dois tipos de dados obtido com PIV para a Série IIA durante o evento D2. (A) e (B) mostram os vetores de velocidade em dois estágios
deformacionais. Durante o início da contração, parte da deformação foi absorvida pela compactação do material seguindo-se a reativação das falhas primeiramente as mais a
norte e depois as mais a sul do modelo. (C) a (F) mostram as zonas de concentração da deformação (zonas azuis). (C) Concentração da deformação delineando os empurrões
F11 e F13 e do retroempurrão F12. (D) O empurrão F11 ficou inativo durante o desenvolvimento do retroempurrão F14. (E) O empurrão F11 voltou a ficar ativo enquanto a
movimentação ao longo de F14 diminuiu. (F) Desenvolvimento do retroempurrão F15 enquanto F12 e F14 tornaram-se praticamente inativos.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
42
4.3.3.2 - Série IIB
Neste experimento foram introduzidas duas camadas de pó de gesso,
intercaladas às camadas de areia quartzosa de coloração natural, no sentindo de criar
uma anisotropia reológica.
4.3.3.2.A - Evento Distensional (D1)
Como no experimento anterior, falhas normais com mergulho opostos foram
desenvolvidas, nos primeiros incrementos deformacionais (Fig. 4.13A). Com o aumento
da distensão, novas falhas, fora de sequência, foram geradas, no interior da estrutura
grabenforme. Uma destas falhas (F5) propagou-se na sequência sintectônica acima de
F1, delimitando, em superfície, a borda sul da estrutura grabenforme. A configuração
final do experimento mostrou um conjunto de falhas com ângulo de mergulho entre 60º
a 70º (Fig. 4.13B). De forma geral, há um pequeno aumento do mergulho das falhas
quando elas atravessaram a camada de pó de gesso. Uma estruturação particular foi
formada na parte basal do modelo, com o desenvolvimento de dobras formadas a partir
do arrasto das camadas junto às falhas normais (Fig. 4.13B).
Figura 4.13. Estágios inicial e final do evento D1. (A) Geração de falhas normais com ângulo de
mergulho opostos, delineando uma feição grabenforme. (B) Estágio final do evento D1, com
desenvolvimento de falhas fora de sequência. O conjunto de falhas normais exibe ângulo de mergulho
médio a alto e um arranjo mais complexo na parte basal do modelo.
4.3.3.2.B - Evento Contracional (D2)
A inversão positiva foi inicialmente marcada pela reativação como falhas
reversas, de segmentos mais superiores, de ângulo mais baixo, das falhas F5 e F10 (Fig.
4.14A) e o desenvolvimento das falhas reversas F14 e F15, respectivamente na base e
topo do modelo. Com o aumento da deformação, duas novas falhas reversas foram
nucleadas, F16 propagada a partir do descolamento basal, e F17, na parte superior,
limitada pela falha normal F1 (Fig. 4.14B).
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
43
Figura 4.14. Quatro estágios da deformação D2. (A) A deformação inicial foi acomodada pelo descolamento basal, desenvolvimento de falhas reversas F14 e F15 e reativação
dos segmentos superiores das falhas F5 e F9. (B) Desenvolvimento de novas falhas reversas com vergência para sul, representadas pelos empurrões F16 e F17. C) Reativação
da falha F11, e desenvolvimento das falhas reversas F18 a F23. D) Estágio final do experimento. As falhas reversas seccionaram as falhas normais e se enraizaram no
descolamento basal.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
44
A partir deste estágio, observou-se que com o aumento da deformação, a falha
reversa F16 se propagou em direção ao topo e quando atingiu a falha normal F11, até
então inativa, provoca a sua inversão (Fig. 4.14C). Concomitantemente, houve o
desenvolvimento de novos empurrões (F18 e F21), prioritariamente na sequência mais
antiga (Fig. 4.14D) e retroempurrões (F19, F20 e F22). A configuração final do
experimento mostra que os empurrões coalesceram na porção basal norte do modelo,
propagando-se a partir do descolamento basal (Fig. 4.14D).
A superposição de D2 nas estruturas D1 gerou sítios com maior complexidade
estrutural. Isto pode ser exemplificado pela evolução das dobras de arrasto junto às
falhas originadas em D1. Durante o evento contracional, essas dobras tiveram sua
geometria bastante modificada. A figura 4.15 mostra a evolução de uma dessas dobras,
localizada próxima às falhas F2 e F12. Nos primeiros estágios da compressão, a dobra
inicialmente aberta, teve o ângulo interlimbos diminuído e ocorreu a translação de seu
plano axial. Notou-se que a partir de 14% de encurtamento, a dobra apresentou dois
tipos de comportamento. Na camada de material mais competente (gesso) ocorre a
ruptura da dobra devido o desenvolvimento do empurrão F16, enquanto que na camada
menos competente (areia) essa ruptura não ocorreu. Com a continuação da deformação,
houve além da translação, a rotação do plano axial (a partir de 23% de encurtamento).
Figura 4.15. Alguns estágios deformacionais que ilustram o retrabalhamento de dobras D1 (próximo às
falhas F2 e F12) durante o evento contracional D2. A dobra evoluiu de aberta a isoclinal e seu plano axial
passou de vertical a inclinado. A geometria final reflete a complexidade estrutural local, dada a
superposição D2 a D1.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
45
Nesta série de experimentos os dados obtidos com o PIV foram processados de
forma a fornecer além de informações da concentração de strain, os campos de
magnitudes do deslocamento do material granular.
Tanto os dados de concentração de strain como os de deslocamento mostram a
ausência do desenvolvimento de zonas deformacionais até 1,56% de encurtamento, que
pudessem ser relacionados às falhas (Fig 4.16A). O deslocamento das partículas ocorreu
de forma mais generalizada nos primeiros incrementos deformacionais, principalmente
na porção norte do modelo, próximo ao backstop (Fig. 4.16B).
A geração de falhas reversas, representadas por uma faixa de concentração de
strain, ocorreu no topo da sequência pré-tectônica de D1 quando o encurtamento atingiu
10% (Fig. 4.16C). Depois do desenvolvimento desta zona deformacional, os dados de
deslocamentos mostraram a compartimentação do modelo em dois grandes setores,
separados por uma zona intermediária (Fig. 4.16D). O compartimento superior
denominado bloco do teto tem valores de deslocamento superior a 60% e corresponde a
porção superior do modelo, acima da falha de empurrão mais importante em cada
estágio analisado (F17 ou F21). A porção inferior destas falhas, onde o valor de
deslocamento ficou entre 0-45%, foi denominada bloco do piso, enquanto a porção
intermediaria, Zona ZI, teve deslocamento entre 45-60% (Fig. 4.16D).
Quando o encurtamento ultrapassou os 14%, observou-se que a deformação
estava compartimentada em duas zonas, que representavam falhas reversas com ângulo
aproximadamente 60º, localizadas na camada de areia acima e abaixo da camada de
gesso (Fig. 4.16E). Esta compartimentação da deformação, refletindo segmentos do
empurrão F21 é confirmada pelos dados de deslocamento, através de um hiato vertical
entre os dois segmentos como ilustrado na figura 4.16F. Com a junção dos dois
segmentos, fruto do aumento da deformação, o hiato foi eliminado, restando apenas
uma zona de concentração de strain (Figs. 4.16G e 4.16H).
Nos últimos incrementos do evento D2, a deformação concentrou-se em uma
nova zona, que representou o desenvolvimento de novas falhas reversas (Fig 4.16I). Os
dados de deslocamento mostraram que nesses estágios, os blocos do Teto e do Piso
estavam bem individualizados, em contatos mais retilíneos, enquanto a zona ZI, com
valores intermediários de deslocamento, apresentou-se de forma mais discreta (Fig.
4.16J).
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
46
Figura 4.16. Algumas imagens dos dois tipos de dados obtidos com PIV de alguns incrementos
deformacionais do evento D2: zonas de concentração de strain (faixas azuis, figuras A, C, E, G e I) e
deslocamento das partículas granulares (figuras B, D, F, H e J). (A) Ausência de faixas de concentração
de strain. (B) O deslocamento das partículas ocorreu principalmente junto ao backstop, causando
compactação do material, durante os primeiros incrementos deformacionais. (C) Desenvolvimento de
uma zona deformacional, representando os primeiros empurrões. (D) Os blocos do Teto e do Piso, a partir
deste estágio, são individualizados e separados por uma zona de deslocamento intermediário (ZI). (E)
Neste estágio, a deformação se concentrou em duas zonas deformacionais, que representaram dois
segmentos de falhas reversas. (F) Neste estágio há ausência de deslocamento na camada de gesso entre
dois segmentos da falha reversa. (G) Junção das duas zonas deformacionais, desenvolvida nos estágios
anteriores, formando uma única faixa de concentração de strain. (H) Os dados de deslocamento
confirmam que os segmentos de falha coalesceram. (I) Geração de novas falhas reversas, representadas
por uma nova zona de concentração de strain. (J) Os blocos do Teto com maior movimentação e do Piso
com menor, são bem individualizados e separados pela zona ZI, onde a movimentação foi mais discreta.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
47
4.3.3.3 - Série IIC
4.3.3.3.A - Evento Distensional (D1)
O início do evento distensional foi marcado pelo desenvolvimento de falhas
normais com geometria plana e curva, com ângulo de mergulho variando entre 60º a
subvertical (Fig. 4.17A). Com o aumento da distensão, algumas das novas falhas
geradas se enraizaram na parte basal da sequência pré-tectônica, enquanto outras foram
limitadas pela falha de borda F2. Como resultado final da deformação D1 o experimento
mostrou um conjunto de falhas normais de diferentes geometrias e com algumas falhas
de mergulho mais baixo seccionando falhas com mergulho alto, adicionando
complexidade a determinados setores do modelo (Fig. 4.17B).
Figura 4.17. (A) Estágio deformacional mostrando as primeiras falhas normais, com sentido de mergulho
opostos, geradas em D1. (B) Configuração final do evento D1, revelando um conjunto de falhas normais
com geometria plana ou curva, que se interceptam, evidenciando um arranjo mais complexo na porção sul
do modelo.
4.3.3.3.B - Evento Contracional (D2)
A reativação, com cinemática reversa, de segmentos de mais baixo ângulo das
falhas normais e o desenvolvimento de pequena falha reversa (F16), no topo da
sequência mais jovem marca o início do evento D2 (Fig. 4.18A). O primeiro grande
empurrão (F17), desenvolvido em torno de 9% de compressão, propagou-se a partir do
descolamento basal em direção à superfície, no sul do modelo, seccionando as falhas
normais pré-existentes (Fig. 4.18B). Com a progressão da deformação uma sequência
de novos empurrões foi desenvolvida paralelamente aos já existentes, além da inversão
cinemática da falha F15 (Fig. 4.18C). Nos incrementos finais da deformação D2, os
grandes empurrões se interligaram, gerando estruturas tipo “cavalo” tectônicos (Fig.
4.18D). Durante D2, não houve geração de retroempurrões, apenas a reativação de F2 e
F15 com cinemática inversa.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
48
Não foi possível visualizar, com os dados do PIV os primeiros indícios de
reativação nos segmentos superiores de algumas falhas. O registro da primeira zona
deformacional ocorreu com cerca de 9% de compressão e representou uma falha reversa
(F17) que seccionou a sequência pré-tectônica de D1 na porção sul do modelo (Fig.
4.19A). Nota-se ainda, neste estágio o início da nucleação de uma outra zona paralela a
esta.
A reativação das falhas normais pré-existentes com cinemática reversa torna-se
evidente quando a compressão alcançou 12%, com a deformação concentrando-se na
falha F2, e o empurrão F17 continua bem ativo neste estágio, mostrando um plano com
geometria sinuosa (Fig. 4.19B). No final do evento compressional os dados do PIV
mostraram a presença de nova zona de concentração de strain representando nova falha
reversa, mais próxima à porção basal do modelo, enquanto as zonas deformacionais
desenvolvidas nos estágios anteriores exibem geometria mais plana (Fig. 4.19C).
Figura 4.18. Imagens de alguns estágios deformacionais do evento D2. (A) Reativação de segmentos de
falhas normais, como falhas reversas em Ɛ = 7,8%. (B) Desenvolvimento do primeiro grande empurrão
(F17) em Ɛ = 9,36%, seccionando as falhas normais pré-existentes. (C) Novos empurrões são
desenvolvidos, que se enraizaram no deslocamento basal em Ɛ = 23,4%. (D) Arquitetura final do modelo
(Ɛ = 34,32%) mostrando estrutura tipo “cavalo” tectônico delineados por empurrões que seccionam as
falhas normais.
.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
49
Figura 4.19. Imagens dos dados de zonas de concentração de strain (faixas azuis) obtidos a partir do sistema PIV, durante o evento contracional (D2). (A) Surgimento da
primeira zona deformacional (nucleação da falha reversa F17). (B) Zonas deformacionais representando o ápice de movimentação do empurrão F17 e a inversão cinemática
da falha normal F2. (C) Desenvolvimento de nova faixa de concentração de deformação, representando o empurrão F21. Notar que, neste estágio a falha F17 apresenta
geometria mais planar.. O traço pontilhado representa o contorno da camada de argila.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
50
4.4. Discussões e Conclusões
Os experimentos realizados simularam a inversão positiva de falhas normais
formadas em um evento distensional D1 e a geração de novas estruturas durante um
evento contracional D2 subsequente.
4.4.1. REATIVAÇÃO DE FALHAS
A inversão positiva dos experimentos realizados neste artigo produziu a
reativação de determinadas falhas pré-existentes, com resultados similar aos obtidos por
Buchanan e McClay (1991), na modelagem de inversão de uma falha lístrica. A
reativação da falha lístrica, com cinemática reversa, ocorreu em nossos experimentos da
Série I (IA e IB), mas apresentaram comportamentos diferentes. Enquanto na Série IA
(α= 0º) a falha permaneceu ativa durante todo o evento de inversão (D2), na Série IB
(α= 80º), a reativação não ocorreu nos primeiros incrementos deformacionais (Fig.
4.20), o que difere dos dados de Buchanan e McClay (1991).
Os dados de rejeito da falha lístrica da Série IA, durante os eventos de distensão
e inversão, mostram que esta estrutura teve intensidade de movimentação similar em
ambos os eventos, ou seja, o rejeito aumentou gradativamente com o strain (figuras
4.20A e 4.20B). Durante a inversão positiva, para que o rejeito atingisse a mesma
intensidade daquele adquirido na fase distensional, foi necessário um maior strain
compressional (figura 4.20B). O comportamento da falha lístrica dos experimentos da
Série IB durante a distensão foi similar àquele dos experimentos da Série IA,
diferenciando-se deste, entretanto, por apresentar sempre uma maior intensidade do
rejeito para uma mesmo percentagem de tração (figura 4.20C). Durante a inversão, a
falha lístrica nas duas séries de experimentos tiveram comportamento distinto. Na Série
IB a falha lístrica se manteve praticamente inativa até os 14% de strain (figura 4.20D) e,
quando ativa, mostrou valores de rejeito bastante inferiores àqueles da Série IA.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
51
Figura 4.20. Comportamento (rejeito vs strain) da falha lístrica das Séries IA e IB. Gráficos (A) e (C)
durante a distensão (D1) enquanto (B) e (D) durante a contração (D2). (A) e (B) mostram que o rejeito
aumenta gradativamente com o aumento do strain. Estes dados sugerem que, para as mesmas condições
de contorno, os modelos foram mais facilmente deformados por tração que por compressão. O gráfico (C)
mostra os dados do lado Leste do experimento. O rejeito da falha aumentou durante D1 gradativamente
com o aumento da tração, enquanto em D2 o rejeito foi próximo a zero nos primeiros incrementos
deformacionais (até 14% de contração), período que a falha permaneceu praticamente inativa. Depois de
iniciada a reativação, ocorreu um rápido aumento do rejeito.
Nos experimentos da Série I, a reativação das falhas ocorreu de forma distinta.
Enquanto na Série IA apenas a falha principal foi reativada, na Série IB, além da falha
principal, várias falhas normais, foram reativadas, apresentando inversão cinemática. Na
Série II, independentemente do contraste reológico presente, a reativação das falhas em
D2 foi relativamente limitado. Este número limitada de reativações também é reportado
em outros trabalhos na literatura (Koopman et al. 1987; Buchanan & McClay, 1991;
Brun & Nalpas, 1996; Panien et al. 2005 e Ventisette et al. 2006). A reativação de
falhas normais com ângulo α superior a 450, como no caso da Série IB, contrasta com a
interpretação de Brun & Nalpas (1996) e Panien et al. (2005) para quem as falhas
normais são reativadas apenas se o ângulo α for menor que 45º, caso contrário a
deformação seria acomodada por falhas reversas. Diferentemente dos autores
supracitados, os nossos dados estão de acordo com aqueles apresentados por Ventisette
et al. (2006) mostram que a reativação de falhas normais ocorre independentemente do
valor do ângulo de obliquidade (α).
Durante o evento compressional D2 de nossos experimentos, diferentes padrões
estruturais foram gerados tais como, falhas normais total ou parcialmente reativadas,
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
52
reativação de segmentos de falhas normais como resultado de coalescência com falha
reversa, rotação de segmentos de falhas (com ou sem inversão cinemática) (Fig. 4.21).
Nas falhas parcialmente reativadas, observou-se que o segmento afetado, geralmente
localizava-se na porção superior do modelo e possuía ângulo de mergulho menor que o
resto da falha. Este fato sugere que além da orientação, a geometria da falha é um fator
importante no controle da inversão de um sistema de falha (William et al. 1989).
Figura 4.21. Padrões estruturais gerados pela inversão positiva de um sistema de falhas. (A) Falhas
normais completamente reativadas. (B) Parcialmente reativadas. (C) Um segmento da falha normal
coalesceu com uma falha reversa, sendo reativada. (D) Inversão cinemática de falha normal após ser
rotacionada.
A reativação cinemática de falhas normais com ângulo de mergulho maior que
60º, como demonstrado nos experimentos da Série IIA, não seria possível em um
sistema de compressão ortogonal, segundo Brun & Nalpas (1996). Entretanto Sibson
(1985) relata que uma exceção pode ocorrer quando o coeficiente de fricção da falha for
inferior a 0,55. As falhas da Série IIA foram reativadas apesar do coeficiente de fricção
(0,70 para o segundo pico de strenght, Blanco 2014) da areia utilizada ser mais elevado
que aquele sugerido por Sibson (1985). A reativação de falhas normais com ângulo
maior que 600, entretanto, não parece ser raro, ocorrendo também nos experimentos de
Konstatinovskaya et al. (2007). Panien et al. (2005) usa o argumento de Sibson (1985)
para explicar o fato de determinadas falhas, mesmo com geometria e orientação
favoráveis não são reativadas, sugerindo que o tipo de material granular utilizado pode
influenciar na predisposição de determinadas falhas reativarem. A descontinuidade
reológica entre camadas controla, em determinada escala, a geometria das falhas que,
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
53
quando atravessam estratos mais competentes, apresentam geometria plana e ângulo de
mergulho mais elevado do que nos estratos menos competentes (Oliveira & Alves da
Silva, 2016). Esta situação também é ilustrada na Série IIB.
4.4.2. ARQUITETURA ESTRUTURAL
O evento de inversão positiva D2 produziu diferenças significativas na
arquitetura estrutural final dos modelos desenvolvidos neste artigo. Nos experimentos
da Série I, a configuração final exibiu uma arquitetura que incluía tanto a falha principal
como as falhas normais que delimitam a estrutura grabenforme reativadas. Empurrões e
retroempurrões apresentaram-se enraizados na porção basal da falha lístrica, ou se
desenvolveram na parte superior da sequência, propagando-se em direção à base da
estrutura grabenforme. Por sua vez, a Série IA, apresentou um arcabouço estrutural
onde entre as falhas geradas em D1, apenas a falha principal foi reativada. Junto à falha
lístrica, as camadas sintectônicas a D1, com crescimento de seção, revelam a inversão
cinemática através da modificação de sua geometria e o desenvolvimento de estrutura
tipo arpão (Figura 4.22). Esse tipo de comportamento é descrito na natureza e mapeado
por sísmica na plataforma Leste de Sunda (Bonini et al. 2012).
Os experimentos da Série II foram muito similares àqueles construídos por
Panien et al. (2005) que, utilizando materiais com reologia diferente, mostraram que,
dependendo do material utilizado, o ângulo de mergulho dos empurrões pode variar
entre 23º a 39º. Nos experimentos da Série IIA, onde utilizamos apenas a areia, a
arquitetura final do modelo mostra falhas normais completamente reativadas e a
presença de empurrões e retroempurrões que seccionam a porção basal da estrutura
grabenforme. Nos modelos contendo camadas de gesso (Série IIB), observou-se que
apenas alguns segmentos de falhas normais sofreram reativação, e que os empurrões
coalesceram no deslocamento basal. Nesta série de experimento, houve o
desenvolvimento de dobras de arrasto durante o evento D1 que, com o início da
inversão positiva, passam por um processo de encurtamento. Ao longo do evento
compressional essas dobras foram deformadas, comportando-se de forma distinta
quando desenvolvidas em material mais e menos competente. Na camada de pó de
gesso as dobras sofreram ruptura relacionada ao desenvolvimento de um empurrão,
enquanto que na camada de areia, o plano axial foi rotacionado, sem rupturas.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
54
Embora com modificação na estratigrafia reológica, o arranjo estrutural dos
experimentos da Série IIC ao final da deformação D2, foi muito similar ao da Série IIB.
Segmentos de falhas normais, principalmente na parte superior da sequência, foram
reativados e os empurrões coalesceram entre a passagem da camada de areia para argila,
ressaltando a influência do contraste reológico no desenvolvimento e reativação de
falhas. O processo de reativação atingindo apenas partes (segmentos) de determinadas
falhas, como na Série II, geralmente ocorre quando o ângulo de mergulho da falha
diminui, de forma similar àquela existente na seção offshore do Mar Adriático (Bonini
et al. 2012).
Alguma das principais características da arquitetura estrutural de cada série de
experimentos ao final do evento contracional são resumidas na figura 4.22.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
55
Figura 4.22. Principais características da arquitetura estrutural final da inversão positiva dos sistemas de
falhas gerados em cada experimento realizado neste artigo.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
56
4.4.3. APLICABILIDADE E RESULTADOS DOS DADOS DO PIV
O PIV mostrou ser a ferramenta importante na análise da história da deformação
durante o evento de inversão positiva (D2). Dependendo da estrutura ou processo a ser
estudado, diferentes dados obtidos com o PIV podem ser bastante úteis na interpretação
da deformação, como por exemplo na localização de zonas com concentração de strain
e estruturas ativas ou não durante o evento analisado.
Os vetores de velocidade absoluta utilizados neste trabalho (Fig. 4.23A)
possibilitaram a visualização e análise de strain durante o início da compressão e
mostraram que a deformação foi absorvida primeiramente pela compactação do material
granular e que só após este processo ocorreu a reativação e/ou criação de novas falhas.
Este tipo de dado mostra o percurso que cada partícula granular percorreu e a
progressão da compressão, localizando regiões onde ocorreram reativações e em que
momento da deformação este processo foi ativo.
A distribuição e concentração do strain durante o evento D2 (Fig. 4.23B)
forneceram subsídios para a análise da nucleação e desenvolvimento de falhas,
mostrando adicionalmente seus períodos de atividades e inatividades, este último
ocorrendo geralmente quando da nucleação de outra falha nas proximidades. Assim, foi
possível observar que a falha lístrica da Série IB, durante sua inversão, alternou estágios
ativos e inativos. Outras falhas também tiveram este comportamento a exemplo da falha
F11 da Série IIB (Figura 4.12). Fato importante a remarcar é que estes dados fornecem
o momento exato da nucleação da falha, o que não é observado por outros meios mais
comumente usados na modelagem.
Dados de magnitude deslocamento foram obtidos/analisados apenas para os
experimentos da Série IIB (Fig. 4.23C). Este tipo de dado mostra com bastante clareza,
a compartimentação e individualização das regiões acima e abaixo da falha (blocos do
teto e do piso) separados por uma zona intermediaria que marca o arrefecimento da
movimentação do material. Este tipo de dado mostrou ainda que durante a inversão
positiva, as camadas de comportamento mais competentes (gesso, no presente caso)
podem gerar hiatos verticais entre segmentos de falhas reversas.
Os dados aqui apesentados mostram que a modelagem física com a utilização do
sistema PIV pode contribuir bastante para o estudo de inversão cinemática (positiva ou
negativa).
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
57
Figura 4.23. Principais interpretações e sua aplicabilidade dos dados obtidos com o sistema PIV, durante
a inversão de um sistema de falhas. Em (A) Interpretação: No primeiro momento a deformação foi
absorvida pela compactação do material granular, seguido pela reativação (ou neoformação) das
estruturas. Aplicabilidade do dado: Mostra a trajetória e velocidade de cada partícula granular durante a
deformação. A cor das setas indica a velocidade de movimentação das partículas. Em (B): Interpretação:
Mostra regiões onde as falhas, ou segmentos de falhas, encontram-se ativas (neste caso) ou inativas
durante a deformação. Aplicabilidade: Discriminar zonas de concentração de strain representando locais
de nucleação ou reativação de falhas, muitas vezes não discerníveis em fotografias normais. Em (C):
Interpretação: O bloco de teto apresenta magnitude de deslocamento superior a 60% enquanto no piso
este valor oscila entre 0-45%. Uma zona intermediária entre estes dois compartimentos indica que a falha
não é uma linha, mas uma zona onde a movimentação arrefece à medida que adentramos no
compartimento do piso, até torna-se zero, onde cessa a movimentação do material. Aplicabilidade: Mostra
a compartimentação da zona de falha através da magnitude do deslocamento das partículas granulares,
através da individualização dos blocos de teto e piso.
Agradecimentos
L. K. A. de Sousa agradece à CAPES pela bolsa de mestrado no Programa de
Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). O Laboratório de Modelagem Física do PPGG recebe apoio
do CENPES/PETROBRAS.
Capítulo IV – Artigo Cientifico Sousa, L.K.A
58
Referências
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61
CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Capítulo V – Considerações Finais Sousa, L.K.A
62
Os experimentos apresentados nesta dissertação simularam a inversão positiva
de falhas normais formadas em um evento distensional D1 e a geração de novas falhas
durante um evento contracional D2 subsequente. Utilizou-se diferentes arranjos, com
variação na orientação da falha principal, em relação à direção de tração/compressão, e
diferentes materiais, de comportamento reológico distinto, representando as diferentes
sequências estratigráficas.
A Série I (IA e IB) foi realizada apenas com areia quartzosa, mas com variação
na orientação da falha lístrica em relação à direção da tração/compressão. A inversão
positiva produziu a reativação da falha lístrica, com cinemática reversa, mas apresentou
comportamentos diferentes em cada experimento. Enquanto na Série IA (α= 0º) a falha
lístrica permaneceu ativa durante todo o evento de inversão (D2), na Série IB (α= 80º), a
reativação não ocorreu nos primeiros incrementos deformacionais. Com base nos dados
de rejeito da falha lístrica, verificou-se que, no experimento Série IA, esta estrutura teve
intensidade de movimentação similar em ambos os eventos (D1 e D2), ou seja, o rejeito
aumentou gradativamente com o strain. Contudo durante a inversão positiva, para que o
rejeito atingisse a mesma intensidade daquele adquirido na fase distensional, foi
necessário um maior strain compressional. Na Série IA apenas a falha principal foi
reativada, na Série IB, além da falha principal, várias falhas normais, foram reativadas,
apresentando inversão cinemática.
Nos experimentos da Série II (IIA, IIB, IIC) avaliou-se a influência do contrate
reológico na reativação de falhas. Independentemente do contraste reológico presente,
verificou-se que a reativação das falhas durante D2 foi relativamente limitado. Nos
experimentos da Série IIA, onde apenas a areia foi utilizada, a arquitetura final do
modelo mostra algumas falhas normais completamente reativadas e a presença de
empurrões e retroempurrões que seccionam a porção basal da estrutura grabenforme.
Nos modelos contendo camadas de pó de gesso (Série IIB), observou-se que apenas
alguns segmentos de falhas normais sofreram reativação e que os empurrões
coalesceram no descolamento basal. Nesta série de experimentos, houve o
desenvolvimento de dobras de arrasto durante o evento D1 que, com o início da
inversão positiva, passam por um processo de encurtamento gerando geometrias mais
complexas. Durante o evento compressional essas estruturas comportaram-se de forma
distinta quando desenvolvida em material mais e menos competente. Na camada de pó
de gesso as dobras sofreram ruptura, relacionada ao desenvolvimento de um empurrão,
Capítulo V – Considerações Finais Sousa, L.K.A
63
enquanto que na camada de areia, o plano axial foi rotacionado, sem rupturas. Embora
com modificação na estratigrafia reológica, o arranjo estrutural dos experimentos da
Série IIC ao final da deformação D2, foi muito similar ao da Série IIB. A
descontinuidade reológica entre camadas controla, em determinada escala, a geometria
das falhas que, quando atravessam estratos mais competentes, apresentem geometria
plana e ângulo de mergulho mais elevado do que nos estratos menos competentes. Esta
situação também é ilustrada na Série IIB.
Durante o evento compressional D2 de nossos experimentos, diferentes padrões
estruturais foram gerados como falhas normais total ou parcialmente reativadas,
reativação de segmentos de falhas normais como resultado de coalescência com falha
reversa, rotação de segmentos de falhas (com ou sem inversão cinemática). Nas falhas
parcialmente reativadas, observou-se que o segmento reativado geralmente localizava-
se na porção superior do modelo e possuía ângulo de mergulho menor que o resto da
falha.
O PIV mostrou ser uma ferramenta importante na análise da história da
deformação durante o evento de inversão positiva (D2). Dependendo da estrutura ou
processo a ser estudado, diferentes dados obtidos com o PIV podem ser bastante úteis
na interpretação da deformação, como por exemplo na localização de zonas com
concentração de strain e estruturas ativas ou não durante o evento analisado.
Os vetores de velocidade absoluta mostram o percurso que cada partícula
granular percorreu e a progressão da compressão, localizando regiões onde ocorreram
reativações e em que momento da deformação este processo foi ativo. Assim,
possibilitaram a visualização e análise de strain durante o início da compressão e
mostraram que a deformação foi absorvida primeiramente pela compactação do material
granular, e que só após este processo, ocorreu a reativação e/ou criação de novas falhas.
A distribuição e concentração do strain durante o evento D2 forneceram
subsídios para a análise da nucleação e desenvolvimento de falhas, mostrando
adicionalmente seus períodos de atividades e inatividades, este último ocorreu
geralmente quando da nucleação de uma nova falha nas proximidades. Desta forma foi
possível observar que a falha lístrica da Série IB, durante sua inversão, alternou estágios
ativos e inativos. Fato importante a realçar é que estes dados fornecem o momento exato
da nucleação da falha, o que não é observado através do registro fotográfico comum,
comumente usado na modelagem.
Capítulo V – Considerações Finais Sousa, L.K.A
64
Dados de magnitude de deslocamento foram obtidos/analisados apenas para os
experimentos da Série IIB e mostraram a compartimentação das regiões acima (blocos
do teto) e abaixo (bloco do piso) da falha, separados por uma zona intermediaria que
marcou o arrefecimento da movimentação das estruturas. Este tipo de dado mostrou
ainda que durante a inversão positiva, as camadas de comportamento mais competentes
(pó de gesso, no presente caso) podem gerar hiatos verticais entre segmentos de falhas
reversas.
Por fim, este estudo demonstrou que a modelagem física com a utilização do
sistema PIV, pode contribuir bastante para o estudo de inversão cinemática (positiva ou
negativa).
65
REFERÊNCIAS
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