LÍVIA DUTRA
LIDERANÇA CARISMÁTICA:
Análise da Construção da imagem de Adolf Hitler nos documentários
O Triunfo da Vontade e Arquitetura da Destruição
Belo Horizonte 2008
LÍVIA DUTRA
LIDERANÇA CARISMÁTICA:
Análise da Construção da imagem de Adolf Hitler nos documentários
O Triunfo da Vontade e Arquitetura da Destruição
Belo Horizonte 2008
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social, do Departamento de Ciência da Comunicação do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Jornalismo.
Orientador: Fabrício Marques
Dedico este trabalho única e exclusivamente a minha mãe, Cecília Dutra, por tornar minha vida cada dia mais colorida.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
1 LIDERANÇA CARISMÁTICA ......................................................................................... 13
2 SURGIMENTO E QUEDA DE UM LÍDER .................................................................... 21
3 AS ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DE HITLER ......... ..................................... 33
4 ANÁLISE ............................................................................................................................. 42
4.1 Metodologia ........................................................................................................................ 42
4.2 Filmografia ......................................................................................................................... 43 4.2.1 O Triunfo da Vontade ...................................................................................................... 43
4.2.2 Arquitetura da Destruição ............................................................................................... 44
4.3 Análise dos documentários ................................................................................................. 45 4.3.1 Um espetáculo cinematográfico hipnótico e terrificante ................................................. 45
4.3.2 A tentativa de estetização de um país .............................................................................. 51
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 59
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INTRODUÇÃO
Com o final da Primeira Guerra Mundial1 (1914-18), em que Inglaterra e França se fizeram
vitoriosas, a Alemanha encontrou-se enfraquecida e abalada pelas perdas durante os
confrontos. Além disso, a Europa ainda não tinha se desvinculado das hostilidades vividas no
período da Guerra. E é a partir do fim da Primeira Guerra Mundial e da derrota alemã que
surgiu o nazismo.
Por volta de 1918, o povo alemão, já cansado de tanta guerra e violência, passa a culpar o
Kaiser Guilherme por má administração do país, e ele renuncia ao poder. Friedrich Ebert, do
Partido Social Democrata, assume o poder. O partido de esquerda tinha como principal líder
Karl Kautsky, primeiro teórico do socialismo alemão. Nesse mesmo período, é assinado o
Tratado de Versalhes2. Por contrato, foi firmado que a Alemanha, como conseqüência dos
males que a Guerra causara, perderia 13,5% de seu território, o potencial econômico e sofreria
limitações para seu exército, o que traria, ao mesmo tempo, a paz para a Europa. Mesmo com
tantas restrições, a Alemanha consegue se reconstituir. A dependência de capital internacional
gera nos alemães o sentimento de anti-internacionalismo, em especial por motivos
econômicos.
1 “A Primeira Guerra Mundial (também conhecida como Grande Guerra antes de 1939, Guerra das Guerras ou
ainda como a Última Guerra Feudal) foi um conflito mundial ocorrido entre Agosto de 1914 a 11 de Novembro de 1918. A guerra ocorreu entre a Tríplice Entente (liderada pelo Império Britânico, França, Império Russo (até 1917) e Estados Unidos (a partir de 1917) que derrotou a Tríplice Aliança (liderada pelo Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano). A guerra causou o colapso de quatro impérios e mudou de forma radical o mapa geo-político da Europa e do Médio Oriente”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial. Acesso em 25 de maio de 2008. 2 “O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências européias que encerrou
oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Após seis meses de negociações, em Paris, o tratado foi assinado como uma continuação do armistício de Novembro de 1918, em Compiègne, que tinha posto um fim aos confrontos. O principal ponto do tratado determinava que a Alemanha aceitasse todas as responsabilidades por causar a guerra e que, sob os termos dos artigos 231-247, fizesse reparações a um certo número de nações da Tríplice Entente”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Versalhes. Acesso em 25 de maio de 2008.
8
Acontece assim, segundo Couto (2007), a motivação populacional por nacionalismo e a
construção do nazismo como ideologia popular. Para o autor, ainda hoje, muitos acreditam
que o Nazismo está diretamente ligado a Hitler, mas não é exatamente essa a real história.
Nascido em 20 de abril de 1889, Adolf Hitler era filho de Alois Hitler e Klara Polzl. Hitler
não teve uma boa relação com seu pai e o principal motivo das discussões era que Hitler
almejava ser pintor e seu pai queria que seguisse a carreira pública. Alois tinha fama de tirano
e impunha muitas leis dentro de casa.
Couto (2007) aponta que, em 1903, Alois morre vítima de alcoolismo e, no mesmo dia, Hitler
abandona a escola para tentar a vida como sempre imaginou. A morte do pai não abalou
Hitler, mas o pior ainda estava por vir. Em dezembro de 1907, após inúmeras tentativas de
salvação e até mesmo da ajuda de um médico judeu, Klara morre em decorrência de um
câncer no seio, o que deixou Hitler transtornado. Com a herança deixada por seus pais, Hitler
muda-se para Viena.
Hitler passou a vender quadros, mas nunca conseguiu entrar na Escola de Artes. Foi nesse
período que ele consolidou seus pensamentos e formou seu caráter; lia constantemente
periódicos anti-semitas que idolatravam a raça ariana, antes mesmo de culminar a Primeira
Guerra Mundial. Alistou-se no exército alemão, mas nunca foi promovido a cabo e, em seu
primeiro confronto, foi atingido e ficou cego por alguns dias. Em 1919, deixou o exército para
se aliar ao Partido dos Trabalhadores Alemães, DAP.
O povo alemão precisava de uma justificativa palpável para a falência decorrente da Guerra e
era isso que Hitler sabia fazer. De acordo com Lindholm (1993), Hitler era carismático e seus
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discursos traziam certo conforto aos alemães. Em 1932, torna-se presidente. A partir desse
momento, o Führer3 não exerce seu papel de líder carismático.
O Führer começa então a fazer propagandas de idéias nazistas: cartazes com emblemas
nazistas foram espalhados por todo o território alemão, ganhando assim o apoio de uma
nação. Hitler derrubou os termos do Tratado de Versalhes e se aliou a Mussolini4 na Itália.
Como forma de propagandear seus feitos e conquistas, financiou filmes nazistas em que se
valorizava o poder e a força do povo alemão.
Segundo Nichols (2005), um dos filmes mais conhecidos e questionados da época foi O
Triunfo da Vontade (1934), dirigido pela cineasta Leni Riefenstahl, que arquitetou como
Hitler deveria ser apresentado ao mundo. O documentário celebrava o poder das massas
agrupadas e coreografadas. Com movimentos das tropas coordenados com uma trilha sonora
marcante, ele mostra como os alemães estavam em estado de êxtase diante do Führer.
Sempre com intuito de poder, Hitler participa da guerra que marcaria a história da
humanidade: era iniciada a Segunda Guerra Mundial (1939-45) e, em decorrência da
participação da Alemanha, alguns estudantes e civis começaram a se manifestar contra o
regime nazista de Hitler. Nesse período de início de grandes rebeliões contra Hitler, podemos
constatar o momento de queda do Führer, já que seu poder carismático começa a se apagar.
3 “O termo Führer foi o título adotado por Adolf Hitler na Alemanha para designar o chefe máximo do Reich e
do Partido Nazi. O nome significa o chefe máximo de todas a organizações militares e políticas da Alemanha. Significa, em alemão, o "condutor", "guia" ou "líder" - usado também no trânsito e nos transportes”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%BChrer. Acesso em 25 de maio de 2008. 4 “Ditador que governou a Itália de 1922 a 1943, autodenominado "Il Duce" (O Condutor), foi jornalista de profissão. Mussolini foi influenciado pelas leituras de Nitzsche e de Georges Sorel. Durante certa fase de sua vida abraçou o socialismo, tendo inclusive escrito artigos em defesa do socialismo à época em que foi redator-chefe do jornal Avanti, mas tarde foi expulso do Partido Socialista Italiano e em 1919 fundou uma organização intitulada Fasci Italiani di Combatimento, embrião do futuro Partido Fascista.” Fonte http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/m/mussolini.htm. Acesso em 25 de maio de 2008.
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Hitler parece não mais agradar a todos e devido à sua teimosia irritou muitos militares. Sua
autoridade, no entanto, era irredutível e, em decorrência disso, muitas pessoas morreram, e o
Führer sofreu cerca de 40 atentados contra sua vida segundo Couto (2007). Em 1945, a guerra
teve fim. Hitler então cometeu suicídio no dia 30 de abril do mesmo ano. A Alemanha
terminou a Guerra com 22% a menos de seu território e apenas no país foram estimados cerca
de 5.500.000 mortos.
Contrapondo as idéias de propaganda de um líder carismático feitas pela cineasta Leni
Riefenstahl, com a queda do império nazista e a morte de Hitler, muitos filmes foram
lançados para retratar esse momento da história. Para Nichols (2005), um deles mostra como
se deu a queda e a destruição da imagem de Hitler como figura emblemática e salvadora da
Alemanha. Arquitetura da Destruição (1992), de Peter Cohen, apresenta uma Alemanha
derrotada prestes a presenciar a queda de seu líder. Já O Triunfo da Vontade (1934), mostra
um líder que exerce o papel de salvador de uma nação.
Durante todo o período da Segunda Guerra Mundial, a comunicação de massa era precária e
falha com relação aos dias de hoje. Os informativos sobre a guerra aconteciam por meio de
rádios, jornais e cinema. O cinema de fato representou naquela época, através de
documentários, para muitas pessoas, a visão da realidade. Era pelos famosos documentários
que se tinha uma noção do que realmente acontecia naquele período. Por ser o cinema o
grande projetor de informações daquela época, muito se manipulou e maquiou informações a
cerca da guerra.
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Pelo valor histórico devido ao Holocausto5, ao Nazismo, à Primeira e Segunda Guerras
Mundiais, Hitler foi protagonista de uma das histórias que marcaram a humanidade. A
pesquisa desenvolvida pretende elucidar questões referentes aos procedimentos adotados por
Hitler para se tornar um líder carismático e responsável por toda barbárie ocorrida na
Alemanha Nazista.
Desde o início da Primeira Guerra Mundial até o fim da Segunda Guerra e a queda de Hitler
na Alemanha, muito se discutiu a respeito da forma com que o Führer entrou e saiu do poder
alemão. Cerca de milhões de pessoas foram mortas pelos nazistas, pessoas essas que foram
expostas a uma guerra que de certa maneira só fazia bem para o próprio ego e loucura de
Hitler. O que podemos apresentar é que problemas éticos e econômicos cercaram toda a
trajetória do Führer. O dia 30 de janeiro de 1933 não é apenas a data em que Hitler chegou ao
poder na Alemanha, mas o dia em que foi assinada a sentença de morte de milhares de
pessoas.
A partir do III Reich6, em que Hitler soube conduzir o povo alemão, os meios de comunicação
se mostraram como uma das armas mais poderosas de guerra, capazes de persuadir e
manipular toda uma nação através de documentários que enfatizavam a raça ariana. O partido
nazista utilizou o cinema, em formato documental, para propagandear toda uma ideologia e
convencer que o nacional-socialismo era a melhor forma política para a nova Alemanha. 5 “A partir do século XIX, a palavra holocausto passou a designar grandes catástrofes e massacres, até que após a
Segunda Guerra Mundial o termo Holocausto (com inicial maiúscula) passou a ser utilizado especificamente para se referir ao extermínio de milhões de judeus e outros grupos considerados indesejados pelo regime nazista de Adolf Hitler. A maior parte dos exterminados eram judeus, mas também haviam militantes comunistas, homossexuais, ciganos, eslavos, deficientes motores, deficientes mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polaca, russa e de outros países do Leste Europeu, activistas políticos, Testemunhas de Jeová, alguns sacerdotes católicos e sindicalistas, pacientes psiquiátricos e criminosos de delito comum”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Holocausto. Acesso em 23 de maio de 2008. 6 “Nome que se dá ao período durante o qual vigorou na Alemanha o regime totalitário nazista (de 1933 a 1945), assim como no império formado pelas nações por ela conquistadas”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha_Nazi. Acesso em 21 de maio de 2008.
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Dentro desse contexto, este estudo é de fundamental importância para o conhecimento geral
para que todos saibam como aconteceu toda essa transformação histórica mundial e como
Hitler conseguiu enquanto líder levar até as últimas conseqüências uma catástrofe mundial. O
período relacionado à superioridade e queda de Hitler faz parte de modificações econômicas,
sociais e culturais. Analisar Hitler como líder é de total pertinência, pelo simples fato de se
ampliar nossa própria memória, já que os acontecimentos referentes à guerra podem fazer
parte da construção cultural de nossas vidas. Essa análise te como objetivo principal
demonstrar que em diferentes formatos de documentários pagos ou não, se era possível
administrar a imagem de Hitler como um Líder Carismático.
Para tanto, divide-se o trabalho em quatro capítulos. O capítulo inicial aborda a teoria
weberiana sobre Liderança Carismática. Já no segundo capítulo acontece uma
contextualização histórica e uma breve biografia de Hitler, já que o presente trabalho circunda
toda a problemática do Führer em sua posição diante do poder da Alemanha. O terceiro
capítulo trata de uma abordagem minuciosa das estratégias utilizadas por Hitler para
“divulgar” o nazismo pelo mundo e ainda faz uma discussão sobre o que é um filme
documentário. No quarto e último capítulo é apresentada a análise dos filmes: O Triunfo da
Vontade (1934), de Leni Riefenstahl e Arquitetura da Destruição (1994), de Peter Cohen, a
partir das teorias sobre Liderança Carismática discutidas no primeiro capítulo.
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1 LIDERANÇA CARISMÁTICA
A primeira arma de uma nova doutrinação que se inspire em grandes princípios, por mais que isso possa desagradar a certos indivíduos, deve ser o exercício da mais forte crítica contra aqueles que estão na liderança da sociedade. De observações superficiais sobre a história dos povos costuma-se chegar à conclusão de que a evolução dos mesmos, de nenhum modo, é devida à crítica negativa, mas ao trabalho construtivo. Essa cegueira "popular", infantil e sem sentido, é uma prova de como, nessas cabeças, até os acontecimentos dos dias de hoje passaram sem deixar vestígios.
Adolf Hitler em Minha Luta
O ato de dominar algo, ou alguém é para a Sociologia de Max Weber7 conseqüência da
obediência ou mera afeição por parte do dominado ao seu dominador. Dentro da análise de
Weber a busca da legitimação é destacada por três diferentes casos: dominação legal,
tradicional e carismática.
O primeiro tipo de dominação a ser abordado pelo autor é a dominação legal, que é
identificada quando a autoridade é legitimada não na pessoa física, mas, sim, na lei. Segundo
o autor, o tipo mais puro da dominação legal é a dominação burocrática, em que seu conceito
é determinado a partir de estatutos. Dessa maneira podemos afirmar que a dominação legal
tira a autonomia do indivíduo e o coloca hierarquicamente ao dispor do seu superior. Mas é
sabido que esse grau de dominação é coordenado por regras que visam o crescimento do
indivíduo com relação à sua capacidade, tornando-o cada vez mais nulo, apenas um objeto.
Nesse caso é de extrema importância ressaltar que essa dominação somente existe por estar
assegurada por um arcabouço legislativo. Assim, a dominação legal detém a autonomia do
indivíduo através do ordenamento, da padronização e da rotina. Ao invés de deixar o
7 “Max Weber, sociólogo alemão falecido em 1918, foi um dos primeiros cientistas sociais importantes a levar
em conta a importância da religião ou da mentalidade religiosa na configuração da economia política. O objetivo dele foi refutar a tese de Karl Marx, segundo a qual o capitalismo nascera somente da exploração do homem pelo homem.” Fonte http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2005/04/02/000.htm. Acesso em 19 de maio de 2008.
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indivíduo pensar por si próprio, o dominador legal mostra para o indivíduo que o que ele
precisa fazer já foi planejado anteriormente. Dessa forma, entendemos que o indivíduo
dominado é mera peça de funcionamento programável, já que a informação está ligada a
regras pré-estabelecidas.
Obedece-se não à pessoa em virtude de seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. Também quem ordena obedece, ao emitir uma ordem, a uma regra: à “lei” ou “regulamento” de uma norma formalmente abstrata. O tipo daquele que ordena é o “superior”, cujo direito de mando está legitimado por uma regra estatuída, no âmbito de uma competência concreta, cuja delimitação e especialização se baseiam na utilidade objetiva e nas exigências profissionais estipuladas para a atividade do funcionário, (WEBER, 1980, p.129).
Ainda ao analisar os tipos de dominação Weber (1980) aponta um segundo modelo, a
chamada dominação tradicional, da qual classifica como tipo mais puro a dominação
patriarcal. Nessa nova forma de dominação o poder, ou seja, a capacidade de um grupo ou
indivíduo de resignificar a conduta do outro, está diretamente ligado ao relacionamento da
hierarquia. A dominação tradicional é a mais efetiva e mais difícil de ser quebrada. Um
exemplo interessante seria a monarquia como processo de dominação tradicional, ou seja,
quando o indivíduo é membro de uma cultura que o reconhece como figura legítima.
Em princípio, considera-se impossível criar novo direito diante das normas e da tradição. Por conseguinte isso se dá, de fato, através do “reconhecimento” de um estatuto como “válido desde sempre” (por “sabedoria”). Por outro lado, fora das normas tradicionais, a vontade do senhor somente se acha fixada pelos limites que em cada caso lhe põe o sentido de equidade, ou seja, de forma sumamente elástica, (WEBER, 1980, p.131).
Portanto, a partir da análise weberiana podemos afirmar que a tradição é a temporalidade. Ela
deixa de ser um hábito de quem criou algo e passa a transcender outras pessoas. A tradição
pode ainda se perpetuar como forma, mas se modificar como conteúdo. Em uma organização
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a contratação de funcionários, no caso da dominação tradicional, acontece por meio de
conhecimento mais íntimo dos eventuais contratados e não por seu currículo ou
conhecimentos específicos para o trabalho.
Logo, podemos afirmar que na dominação tradicional o indivíduo somente é reconhecido se
for constatado grau de familiaridade, fidelidade e parentesco. As organizações que têm
influência patrimonial são geralmente concebidas pelo fundador e a história da instituição. A
relação de proximidade do núcleo fundador é o maior grau de avaliação dos indivíduos. A
autoridade na organização patrimonial não reconhece o indivíduo como bom funcionário, para
ela, o que valerá é o tempo de serviço destinado a organização e acima de tudo o grau de
proximidade e amizade entre o indivíduo e as autoridades. E ainda constatamos aqui que na
dominação patriarcal não existe a separação da vida pública e privada.
Weber (1980) em seu estudo aponta a existência da dominação carismática. Nessa dominação
é sabido que a autoridade é reconhecida e legitimada por seu carisma. E é exatamente esse
tipo de dominação que norteia toda a análise do presente estudo. É importante fazer a ressalva
de que carisma é diferente de simpatia. Carisma, segundo Weber (1980), seria um dom
natural, qualidades extraordinárias e a capacidade de envolvimento de um líder solado. Para
que ocorra a liderança carismática é necessária a utilização da imagem e da presença física de
um indivíduo. O líder carismático tem a facilidade para a persuasão, podendo assim dominar
intelectualmente outros indivíduos. Essa capacidade é comparável à sedução, ao
envolvimento emocional; dessa forma, o carismático se torna referência, parâmetro para
outros indivíduos.
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Obedece-se exclusivamente à pessoa do líder por suas qualidades excepcionais e não em virtude de sua posição estatuída ou de sua dignidade tradicional; e, portanto, também somente enquanto essas qualidades lhes são atribuídas, ou seja, enquanto seu carisma subsiste. (WEBER, 1980, p.135).
Nessa análise constatamos que ainda na mesma linha de raciocínio weberiana o autor Charles
Lindlholm (1993) questiona o porquê da capacidade de um indivíduo carismático atrair
discípulos. Para o autor, o carismático é fonte de magnetismo e normalmente são figuras
capazes de transparecer grandes emoções. A expressividade acentuada do carismático e a
fúria frenética espelhada em seus discípulos são características claras em todo carismático. E
ainda, podemos afirmar que o carismático é capaz de utilizar de técnicas de êxtase, músicas,
penitências e oratória para “dominar”.
Por ser uma liderança que precisa de um posicionamento físico, é criada uma expectativa
sobre o indivíduo dominador, que por vezes pode acarretar em frustrações, já que o líder
carismático pode não conseguir ser ou agir como as pessoas esperavam. Muitas vezes, o
indivíduo carismático é uma pessoa idolatrada, amada por determinado grupo.
A autoridade carismática baseia-se na “crença”, no profeta ou no “reconhecimento” que encontram pessoalmente o herói guerreiro, o herói da rua e o demagogo, e com eles cai. (...) Sem dúvida, a autoridade carismática é uma das grandes forças revolucionárias da História, porém em sua forma totalmente pura tem caráter eminentemente autoritário e dominador. (WEBER, 1980, p.136).
Assim podemos concluir que, com relação às dominações legitimadas e hierarquizadas, a
dominação carismática é diferentemente interpretada por Weber (1980). O líder carismático é
aquele personagem capaz de dominar mentalmente qualquer indivíduo de comum acordo com
o seu carisma. Segundo Weber (1980), esse tipo de dominação pode ocorrer por meio da
busca da qualificação de um líder, através de oráculo e/ou pela designação do qualificado.
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As paixões e desejos dos indivíduos, diz ele, estão sempre subordinados aos do grupo, e os impulsos que motivam o grupo são de tipo e caráter bem diferentes dos que motivam os indivíduos que o formam. São de ordem mais elevada, e transcendem interesses menores e desejos pessoais. (LINDHOLM, 1993, p.44).
De acordo Weber (1963), as estruturas burocráticas e patriarcais com relação ao poder
legitimado têm o fundamento comum, a permanência, e se enquadram nas rotinas diárias da
vida cotidiana. Nesse regime, o patriarca é o líder natural, já na burocracia seria uma contra-
imagem do poder patriarcal, sendo assim mais racional. É sabido que no passado, revendo a
história, as pessoas que tinham sido alçadas à liderança carismática não faziam parte de
nenhum tipo, em sua maioria, de serviço ou especialização. Eram consideradas pessoas com
um dom sobrenatural.
Weber foi o primeiro a questionar o termo “carisma” na literatura, como sendo algo vindo da
interação de um “grande homem” e seus seguidores. Segundo Lindholm (1993), o carisma
não foi definido de forma clara por Weber, já que ele só comenta sobre duas formas de
carisma, uma delas o carisma institucional que vem como um legado familiar, a outra aponta a
forma genuína do carisma.
O carisma desse tipo é revolucionário e criativo, ocorrendo em épocas de crise social, abrindo caminho para um novo futuro. Nos movimentos carismáticos, as pessoas não obedecem mais aos costumes ou à lei; em vez disso, os seguidores se submetem às exigências imperiosas de uma figura heróica, cujas ordens não são legitimadas pela lógica, nem pela posição do herói em qualquer hierarquia estabelecida, mas somente pelo “poder de comando” do indivíduo carismático. (LINDHOLM, 1993, p.40).
Portanto podemos afirmar que a figura de um líder carismático é aquela que cumpre sua tarefa
em virtude de sua missão e geralmente quando não consegue cumprir o que pretendia entra
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em colapso. O carisma é um dom particularizado, ou seja, é resultado de uma barreira
qualitativa onde seu efeito somente acontece dentro de determinado grupo.
Em sentido e conteúdo, a missão pode estar dirigida a um grupo de homens que são delimitados localmente, eticamente, socialmente, politicamente, ocupacionalmente ou de alguma outra forma. Se a missão dirigi-se assim a um grupo limitado de homens, como é comum, encontra seus limites dentro desse círculo. (WEBER, 1963:285).
Economicamente o domínio carismático também é bem diferente do burocrático. Segundo
Weber (1963), a figura carismática embora viva em um círculo econômico burocrático, não
faz questão de ter posse de dinheiro. Em geral, o líder carismático rejeita todo e qualquer tipo
de comportamento econômico racional. Ainda de acordo com Weber (1963), o indivíduo de
carisma é fadado a rejeitar tudo e qualquer coisa relacionada com o mundo exterior, existe
uma separação muito clara do que é patriarcal, racional e carismático.
Sendo assim, o indivíduo com carisma está fadado também ao “esquecimento” assim como
Jesus na Cruz. E ainda aponta que esse “esquecimento” de um líder carismático se dá porque
o dominado, ou seja, seus seguidores enxergam somente no carisma a força pessoal, portanto
o carisma é a força de um líder legitimada para determinado grupo. O carismático, segundo o
autor, está constantemente sendo provado por seus seguidores e às vezes um erro pode ser
fatal para a sua liderança. Weber (1963) ainda aponta que a figura do carismático não
conquista a sua autoridade por meios legais como códigos e estatutos, por isso está
constantemente a mercê da interpretação de seus seguidores.
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O líder carismático ganha e mantém a autoridade exclusivamente provando sua força na vida. Se quer ser profeta, deve realizar milagres; se quer ser senhor da guerra, deve realizar feitos heróicos. Acima de tudo, porém, sua missão divina deve ser “provocada”, fazendo que todos os que se entregam fielmente a ele se saiam bem. Se isso não acontecer, ele evidentemente não será o mestre enviado pelos deuses. (WEBER, 1963:287).
Weber (1963) anda afirma que, a figura, por exemplo, de um governante carismático é
responsável por aqueles que governam, ou seja, os dominados ou governados. Ele é
responsável por ser aquele indivíduo que é realmente desejado por Deus. Ainda afirma que o
domínio do carismático não reconhece as leis, pois a sua lei é aquela construída por
experiências estritamente pessoais.
A dominação carismática significa uma rejeição de todos os laços com qualquer ordem externa, em favor da glorificação exclusiva da mentalidade genuína do profeta e herói. Daí, sua atitude ser revolucionária e transpor todos os valores; faz que um soberano rompa todas as normas tradicionais ou racionais: “Está escrito, mas eu vos digo”. (WEBER, 1963:288).
Para Weber (1963) o reinado é como evolução do carisma político. O rei é um senhor da
guerra e seu reinado uma conseqüência de seu heroísmo carismático. Os predecessores do
reinado antigamente eram os detentores do carisma enquanto poder, esse rei era sempre tido
como uma figura dupla, o chefe de um clã e ao mesmo tempo um chefe carismático. Um
exemplo dado pelo autor é de que o chefe de uma guerra representa, prova seu carisma através
do reconhecimento de sua braveza e heroísmo diante de um povo. E dessa forma, Weber
(1963) conclui que o poder real e os grupos que nele tem interesses lutam sempre pela
legitimidade da figura por ele definida como governante carismaticamente qualificado.
Ainda na linha de raciocínio Weberiana, o autor Lindholm (1993), relata que a sociologia
apresentada por Weber é um estudo de ações sociais planejadas racionalmente e orientadas
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para determinado objetivo. Weber em sua narrativa, de acordo com o autor mostra que, muito
do que se acreditava na história e que parecia irracional, na verdade, podia se entender como
situação do ponto de vista de um ator de acordo com crenças e valores culturais. O autor ainda
afirma que Weber mostrou que o comportamento não-racional é um ciclo de repetições desses
atores.
De acordo com Lindholm (1993), a semelhança física entre membros de uma sociedade se dá
a partir de sua unificação. E ainda afirma que movimentos espontâneos fadados às multidões
acontecem através de energias físicas naturais. O autor então conclui que independente do que
o líder seja capaz ele será repudiado se algo de errado faça. Seja na forma de não
comprimento de um desejo coletivo ou, de um erro brutal. E ainda afirma que, Weber tem
como intenção principal chamar a atenção para um protótipo de herói cultural criativo que
seria aqui, o carismático.
Portanto de acordo com Lindholm (1993), em uma sociedade moderna, em que os indivíduos
se importam cada vez mais para problemas econômicos é produzida a ideologia de desunião e
diminuição da interdependência social. Sendo assim, o autor afirma que os indivíduos cada
vez menos têm se colocado em experiências de análise coletiva.
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2 SURGIMENTO E QUEDA DE UM LÍDER
Enquanto a resolução de meu pai de fazer-me funcionário público encontrou em mim apenas uma oposição de princípios, o conflito foi facilmente suportável. Eu podia, então dissimular minhas idéias íntimas, não sendo preciso contraditar constantemente. Para minha tranqüilidade, bastava-me a firme decisão de não entrar de futuro para a burocracia. Essa resolução era, porém, inabalável. A situação agravou-se quando ao plano de meu pai eu opus o meu. Esse fato aconteceu já aos treze anos. Como isso se deu, não sei bem hoje, mas um dia pareceu-me claro que eu deveria ser artista, pintor.
Adolf Hitler em Minha Luta
A palavra nazista normalmente é associada a algo terrível, abominável. De acordo com a
análise realizada por Ribeiro Júnior (1987), a palavra nazista deixou de ser um termo histórico
para ter conotação de adjetivo. O autor ainda aponta que, apesar da semelhança de
autoritarismo do nazismo e do fascismo8, ambos têm conotações diferentes. Por causa do uso
equivocado da palavra nazismo e de sua generalização, Ribeiro Júnior (1987) observa que há
quem não consiga definir seu limite. Ele afirma que o fascismo e o nazismo são uma resposta
a uma situação de ansiedade diante da destruição de uma sociedade.
Assim, nas origens, tanto do fascismo (Itália) como no nazismo (Alemanha) encontram-se os mesmos elementos: um regime democrático instável, ineficaz e sem autoridade; poderosos partidos de esquerda, especialmente o comunista; grupos que realizam plenamente a destruição da razão, através de um nacionalismo hipertrofiado, que se esteia sobre as glórias do passado remoto; desenvolvimento de uma grave crise econômica; e cristalização, na pessoa de um chefe (Duce/ Fuhrer) dos sentimentos nacionais e pessoais (RIBEIRO JÚNIOR, 1986, p.9).
8 “O fascismo é uma doutrina totalitária desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919, durante
seu governo (1922–1943 e 1943–1945). Fascismo deriva de fascio, nome de grupos políticos ou de militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela expressão camisas negras, em virtude do uniforme que utilizavam”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Fascismo. Acesso em 28 de maio de 2008.
22
Desde 1888, com o reinado do imperador Guilherme II, a conquista do crescimento
econômico e científico na Alemanha fez crescer o sentimento de superioridade nacional.
Porém, a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim com a vitória da Inglaterra e França. A
Alemanha encontrava-se totalmente enfraquecida e abalada. E a Europa estava em total
desordem, por não conseguir se desligar dos hábitos hostis de violência.
Segundo o autor, é nesse contexto que o nazismo surge. Lênin9 foi o único que percebeu a
mudança na ordem natural da Europa, porém não acreditou no poder eterno dos bolchevistas,
uma corrente marxista russa. Para Ribeiro Júnior (1987), a Alemanha foi a grande solução
para Lênin, e entre 1919 e 1923, os alemães tentaram tomar o poder, embora todas as
tentativas tivessem sido um fracasso.
Em meados de 1918, para evitar uma derrota maciça, foi aumentado o poder bélico alemão,
mas não havia preocupação com o povo, mas sim com o exército. Mas, naquele mesmo
momento, a sociedade alemã já estava saturada de tanta guerra e passa a culpar o Kaiser
Guilherme por má organização política. Houve então a renúncia do imperador.
A primeira renúncia alemã fora proclamada de um balcão do Reichstag (Parlamento) às 15 horas do dia 9 de novembro de1918, pelo social-democrata de direita Philipp Scheidemann, assumindo a chefia do governo o presidente do Partido Social Democrata, Friedrich Ebert (RIBEIRO JÚNIOR, 1986, p.16).
É sabido que, de acordo com autor, enquanto o Partido Social Democrata tomava o poder na
Alemanha à esquerda com os revisionistas cujo principal líder era Karl Kautsky, o primeiro
teórico do socialismo alemão. Dessa ala de esquerda nasceu o Partido Comunista alemão. 9 “Revolucionário russo, responsável em grande parte pela execução da Revolução Russa de 1917, líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da União Soviética”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenin. Acesso em 28 de maio de 2008.
23
Nessa época era assinado o Tratado de Versalhes em que estava estipulado que a Alemanha se
posicionasse a respeito das conseqüências da guerra e que desse apoio aos países da Tríplice
Entente (França, Inglaterra e Rússia).
O Tratado de Versalhes, que tinha 200 páginas e 440 artigos, fez com que a Alemanha perdesse cerca de 13,5% de seu território e potencial econômico e quase 10% de sua população; estabeleceu que o exército alemão não poderia ter mais de 100 000 homens entre oficiais e soldados, e a marinha ficaria com 15 0000. (RIBEIRO JÚNIOR, 1986, p.18).
De acordo com Ribeiro Júnior (1987), mesmo com tantas restrições feitas pelo tratado, a
Alemanha conseguiu reintegrar sua soberania nacional, o que contribuiu veementemente para
a expansão do nacionalismo e a construção do nazismo alemão. Mas sabemos que o Tratado
de Versalhes trouxe aos alemães a submissão ao capitalismo internacional, com seus
sacrifícios e privações; mesmo assim contribuiu para a criação de nacionalismo agressivo
capaz de transformar a idéia geral de uma sociedade.
A partir desse momento o nacionalismo alemão começa a criar o anti internacionalismo,
capitalismo em que também vislumbram-se a presença dos judeus no país. Segundo o autor,
foi em meio a todos esses fatos que nasceu a idéia do racismo alemão, característico do
fascismo.
Em meados de 1919, Adolf Hitler, ex cabo do exército, é efetivado como funcionário da
política de Munique para que possa supervisionar o Partido dos Trabalhadores Alemães, já
que à palavra, trabalhadores, se ligava diretamente a palavra comunismo. Mas, em 1920, por
causa do seu poder de oratória e liderança, Hitler já era líder do Partido Nacional Socialista
dos Trabalhadores Alemães. A partir da criação de um novo partido, foi elaborado um
24
programa político e econômico que se baseava na formação explícita de uma ideologia
nazista, em que a centralização do poder em um III Reich era legível.
Porém, em sua narração, o autor conta que em 1923 a nova república nacionalista alemã
começou a sofrer grande pressão de direita e esquerda. Essa crise colocou a população em
estado de miséria e desespero. Sabe-se que para Hitler o melhor a se ter feito naquela situação
era caracterizar o radicalismo de direita, revolucionário que traria assim frenesi em toda
sociedade alemã, podendo fazer com que os judeus fossem bode expiatório do Partido
Nazista.
De 1927 a 1928, o Partido Nazista divide a Alemanha em 34 distritos eleitorais sendo
protegido pelo serviço paramilitar denominado SA (Sturmabteilung, Seção de Assalto). Ele
também ajudou na difusão do nazismo na Alemanha. Temendo que a SA fosse um
instrumento de acesso ao poder, Hitler cria a SS (Schutzstaffel, Tropa de Proteção), que mais
tarde foi reconhecida como A Ordem Negra, sociedade secreta.
Em meados de 1929, a crise econômica gerada pela luta de classes faz aumentar ainda mais o
desemprego na Alemanha. Dessa maneira, de acordo com o autor, essas conseqüências sociais
trouxeram a Hitler uma grande força para a tomada do poder em 1932. Nesse ano, ele é
candidato à presidência da república alemã, mas mesmo assim quem tomou o poder do Reich
foi Hindenburg por mais seis anos. No poder, Hindenburg nomeia, em 1933, Hitler como seu
chanceler, achando assim que poderia fazer com que Hitler tornasse submisso, podendo
controlar melhor o avanço do nazismo, o que de fato foi um grande erro político. Em 1934, o
então presidente alemão morre, ficando no poder Hitler.
25
A consolidação do nazismo se deu a partir do firmamento de três frentes: o uso da autoridade
para gerir os recursos do Estado, o terrorismo que criou a atmosfera de ameaça e medo da
violência e, em terceiro, o uso maciço da propaganda nazista em toda a Alemanha.
Porém, para analisar melhor a questão do surgimento de um líder tido como Carismático, é
necessário nos aprofundarmos mais na história de vida do Führer. De acordo com Couto
(2007), “o mito”, como é chamado Hitler durante todo o livro, nasceu em Braunau am Inm, na
Áustrial, próximo à fronteira da Alemanha, em 20 de Abril de 1889. Seu pai, Alois Hitler,
tinha então 50 anos e era funcionário da alfândega; já sua mãe, Klara Polzl, 28 anos era dona
de casa. A relação entre Hitler e seu pai não era das melhores, Alois era muito severo. Mas,
para o autor, o principal ponto de discórdia entre pai e filho era que Hitler pretendia se tornar
pintor e seu pai queria que ele seguisse a carreira pública. O autor ainda afirma que o fato de
Alois ter sido tirano e imposto várias leis e ordens sob forma de castigo e tortura fizeram de
Hitler uma pessoa agressiva. Seria para ele uma “educação destrutiva”.
Assim, o próprio Hitler lembrou que sua maior discussão com o pai foi quando anunciou que queria ser pintor. Isso aconteceu quando ele tinha 11 anos e causou um verdadeiro rebuliço na mente do conservador Alois, que se opôs imediatamente à idéia. Curiosamente, Adolf nunca citou as agressões físicas, mas deixou claro que o relacionamento “pai e filho” havia se deteriorado muito a partir desse dia. O futuro ditador, contrariado pelas oposições do pai, sentiria o efeito psicológico disso muito rapidamente, quando se desinteressou definitivamente pelo estudo de qualquer coisa que não estivesse ligada diretamente às artes. (COUTO, 2007, p.11).
Conforme a análise do autor, a partir desse dia, Hitler tornou-se uma pessoa mal-humorada e
não conseguiu por duas vezes passar na prova para fazer a escola secundária. Mas em janeiro
de 1903 Alois morre vítima de alcoolismo e Hitler, no mesmo dia, abandona a escola. Sua
mãe Klara Polzl morreu em dezembro de 1907, vítima de câncer no seio. O autor descreve o
amor que Hitler sentia por ela e como foi capaz de tudo para tentar curá-la. Ele teria
26
contratado Edmund Bloch, médico judeu, para tratá-la. Mas de nada adiantou, Couto (2007)
ainda questiona em seu texto que esse poderia ter sido um dos muitos motivos para a sua idéia
futura de anti-semitismo10 e racismo. Mas o autor ainda constata que a idéia inicial de racismo
não partiu de Hitler, mas, sim da ideologia do próprio povo alemão desde o II Reich de
Bismark.
Couto (2007) relembra em seu texto que quando Alois faleceu, Hitler se apropriou da herança
e foi para Viena tentar a vida através da arte. Por lá, tentou entrar por duas vezes na escola de
artes, mas foi reprovado, pois aparentava ter tendência para a arquitetura. Nessa época, de
acordo com o autor, Hitler sobreviveu com a venda de quadros por ele pintados, freqüentava a
ópera de Viena, relacionadas ao seu ídolo Richard Wagner11, lia livros que o ajudaram a
estabelecer maior entendimento sobre as idéias anti-semitas, além de periódicos que
idolatravam a raça ariana. Para o autor, foi justamente nessa época, em que esteve em Viena
que Hitler consolidou seus pensamentos, formando assim o seu caráter.
10 “Anti-semitismo é a ideologia de aversão cultural, étnica e social aos judeus. O termo foi utilizado pela primeira vez pelo escritor anti-semita Wilhelm Marr, em 1873, surgindo como uma forma de eufemizar a palavra alemã "Judenhass", que significava ódio aos judeus”. Fonte http://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/antisemitismo.htm. Acesso em 23 de maio de 2008.
11 Wilhelm Richard Wagner (22 de maio de 1813, Leipzig — 13 de fevereiro de 1883, Veneza) foi um
compositor, maestro, teórico musical, ensaista e poeta alemão, considerado um dos expoentes do romantismo e dos mais influentes compositores de música erudita já surgidos. Com a sua criatividade, inúmeras inovações foram trazidas para a música, tanto em termos de composição quanto em termos de orquestração. Wagner expandiu e enriqueceu as possibilidades da orquestra sinfônica, chegando a inventar um novo instrumento, a trompa wagneriana. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Wagner. Acesso em 24 de maio de 2008.
27
Foi principalmente lá que o anti-semitismo, que já era uma característica própria da cultura católica reinante no sul da Alemanha e na própria Áustria, tomava forma. Lá havia uma grande comunidade de judeus, muitos dos quais ortodoxos, vindos do Leste Europeu. Intrigado com os judeus, o futuro ditador não tardou a obter panfletos abertamente anti-semitas e observar as tendências político-religiosas semelhantes, que apareciam na forma de escritos e idéias de homens como Jorg Lanz von Liebenfels – um ideólogo racista e ex-monge cisterciense, criador da Teozoologia (que pregava a esterilização das chamadas “raças inferiores” e autor de vários dos panfletos lidos por Hitler -, de políticos como Karl Lueger – o presidente da Câmara de Viena – e Georg Ritter von Schnerrer – fundador do partido Pan-Germânico. (COUTO, 2007, p.17).
O autor ainda explica sobre a “raça superior” tão elucidada pelos alemães, através do nazismo
esotérico e em relatos históricos da origem da idéia ariana vinda dos Estados Unidos. Para o
autor, a palavra ariano tem origem através dos povos indo-iranianos que falavam as línguas
indo-européias. Mais tarde, os povos romanos, gregos, alemães, celtas e eslavos também
foram considerados do mesmo grupo. O autor afirma que todos esses povos tinham como
origem a mesma língua, a proto-indo-européia de seus ancestrais. A partir de então, seus
descendentes foram chamados de arianos.
Segundo Couto (2007), o termo ariano se relaciona com o subgrupo dos indo-europeus que
estavam localizados no planalto iraniano no final do terceiro milênio a.C. Ele afirma que esse
grupo teria habitado a Península da Índia por volta de 1500 a.C. Em outra definição, o autor
observa que a origem do nome ariano poderia ter vindo dos gregos para definir povos
invasores. E ainda lembra que até hoje os armênios se autodenominam como arianos, de
sangue puro.
O autor ainda relata que, em maio de 1912, Hitler deixa Viena para fugir das obrigações de
seu alistamento militar. Em Munique, é encontrado e preso pelas forças austríacas, mas havia
sido liberado do serviço militar, pois tinha porte físico inadequado para tais atividades.
Poucos meses antes de culminar a Primeira Guerra Mundial, em Munique, Hitler continuou a
28
vender quadros e, segundo Couto (2007), a ter uma rotina de leitura diária de jornais e revistas
anti-semitas.
Conforme o autor, o assassinato de Francisco Fernandino, herdeiro do Império Austro-
Húngaro, por terroristas em Sarajevo e a Áustria declarando guerra aos sérvios, foram duas
boas notícias para os germanos, já que muitos eslavos e outros cidadãos estavam “roubando”
seus empregos e a guerra seria um alicerce para o extermínio dos não arianos. Os alemães se
uniram aos austríacos e a Sérvia teve o reforço da Rússia. Hitler então se rendeu ao estado e
se alistou ao exército, mas nunca foi promovido, não passou de cabo, o que, segundo o autor,
era motivo de vergonha para Hitler. No decorrer da guerra, Hitler foi atingido por uma bomba
de gás e ficou temporariamente cego, quando então recebeu a notícia da derrota Alemã. Para o
autor, Hitler achava que o resultado da guerra se deu por um boicote dos judeus dentro da
Alemanha. A partir daí desenvolveu um ódio mortal pelos judeus. Com a implantação do
Tratado de Versalhes, a Alemanha caiu em desgraça.
Couto (2007) observa que Hitler deixou o exército em 1919 e dedicou-se a atividades
relacionadas ao Partido dos Trabalhadores Alemães, DAP. Os adeptos desse movimento
passariam a se chamar Nazi, termo do nacional socialismo. Eles adotaram assim a suástica,
símbolo ariano, e a saudação romana. Para o autor, o povo precisava de uma justificativa para
a perda na guerra e o que Hitler fazia em seus discursos no DAP era exatamente isso. Nessa
época, Hitler treinava seus textos como um ator e muitas pessoas já percebiam o poder de
inspiração e lealdade que o futuro Führer aparentava.
Em novembro de 1923 Hitler, junto ao DAP, tenta tomar o poder do governo da Bavária, e
com isso posteriormente conseguiria tomar o poder alemão. Mas sua tentativa foi frustrada e
29
acabou sendo preso. Em dezembro de 1924 sai da prisão. Mas, segundo Couto (2007), é nessa
época que a Alemanha ganha força e começa a se reestruturar, e a população consegue mais
empregos com o crescimento industrial. Em 1929, quando houve a queda da Bolsa de Valores
em Nova Iorque, o planeta entrou em crise, o que acabou contribuindo para o crescimento do
fascismo na Europa. Quando a crise teve início, o governo alemão acreditou que cortes em
gastos públicos iriam estimular o crescimento econômico do país, assim cortando
drasticamente gastos estatais, incluindo o setor social.
De acordo com o autor o governo alemão esperava e acreditava que a recessão, iria deteriorar
a Alemanha socio-economicamente, esperando com o tempo, porém, a melhoria da estrutura
socio-econômica do país, sem intervenção do governo. Quando a recessão chegou ao seu auge
em 1932, a República de Weimar perdera toda sua credibilidade junto à população alemã,
fator que facilitou a ascensão do nazista Adolf Hitler ao governo do país, em 1933. Couto
(2007) afirma que Hitler fundou sua própria tropa de defesa pessoal, o que possibilitou a
execução de seus planos. E foi nas eleições de 1930 que o partido firmou o seu lugar na
opinião popular como o segundo maior partido alemão. Mas, em 1932, Hitler acabou
tornando-se presidente da Alemanha.
O Führer então começa a mostrar qual era a sua real intenção na construção de uma nova
Alemanha nazista. Sindicatos e partidos políticos foram extintos. A propaganda foi utilizada
por Hitler até o fim da Segunda Guerra Mundial para manipular fatos e conquistar a
Alemanha. Todas as leituras feitas por Hitler em Viena o fizeram querer ainda mais
transformar seus pensamentos em práticas.
30
Vale ressaltar que a corrente esotérica fala do carisma “sobrenatural” de Hitler com certa freqüência, além de afirmar que ele só teria tal poder de atração se estivesse envolvido com forças ocultas. Mas simplesmente ignoram o fato de que, como já dissemos, ele tomara algumas aulas de teatro e usava certas imposições e posturas junto a seus dons naturais de oratória que estavam em pleno desenvolvimento. Assim, não há nada de sobrenatural em seus discursos, mas sim cada movimento era calculado nos mínimos detalhes. E a manipulação da verdade por meio da propaganda nazista era essencial para obter esse sucesso. (COUTO, 2007, p.66).
Ainda com o objetivo de propagar o nazismo, segundo o autor, Hitler utiliza-se do cinema
para ganhar apoio de outras nações nazistas. Eram comuns cartazes de filmes com a suástica
espalhados pelas cidades. Uma das maiores colaboradoras para o cinema nazista foi Leni
Riefenstahl, cineasta oficial do partido nazista. De acordo com Couto (2007), Hitler financiou
vários filmes nazistas e os dois mais conhecidos são O Triunfo da Vontade e Olimpíadas, esse
último valorizava ainda mais o poder e a força do povo alemão.
Hitler fez de tudo para derrubar os termos do Tratado de Versalhes e assim rearmar a
Alemanha. Durante esse período, o país saiu da Liga das Nações, reimplantou o serviço
militar obrigatório e se tornou aliado de Mussolini na Itália. Em meados de 1939, Hitler
resolveu, de acordo com Couto (2007), se voltar contra a Tchecoslováquia, por causa de
supostas minorias de alemães lá existentes, a Polônia e o Leste Europeu. Em 1º de setembro
daquele ano, começou a guerra que marcaria a história da humanidade. A partir de 1942,
muitos estudantes começaram a se manifestar contra o regime nazista e Hitler irredutível
mandou prender e executar milhares de pessoas. Já em 1945, com a queda de Mussolini, essa
situação favoreceu aos alemães que algo muito parecido pudesse acontecer com Hitler.
Outro ponto importante que o autor aborda são as “trapalhadas militares” exercidas por Hitler
diante de sua autoridade irredutível, o que acabou irritando muitos militares de alto escalão.
Para Couto (2007), a teimosia de Hitler causou sentimento de mal-estar, prejuízo financeiro e
31
humano, já que milhares de pessoas morreram por sua causa. Muitos tentaram matar Hitler:
de acordo com o autor, foram cerca de 40 atentados.
Com a situação na guerra cada vez mais próxima de uma derrota, Hitler não aparecia mais em público e raramente visitava Berlim, preferindo passar muito de seu tempo na Wolfschanze (Toca do Lobo), seu quartel localizado na Polônia, com algumas aparições ocasionais em seu retiro nas montanhas em Berchtesgaden, cidade nos Alpes alemães. (COUTO, 2007, p.98).
Foram criadas várias frentes de ataque aos nazistas vindas de toda a Europa, Rússia,
Normandia, forças anglo-americanas. Forças desembarcadas do Marrocos e da Armênia
também faziam parte da tropa que iria atacar cada vez mais a Alemanha enfraquecida. As
tropas aliadas, em 1945, ocuparam a Itália e os nazistas por lá se renderam em abril do mesmo
ano. Mussolini então foi capturado e, de acordo com Couto (2007), fuzilado por forças
guerrilheiras.
Segundo Couto (2007), o assassinato de Mussolini aparentemente foi o que tencionou Hitler a
cometer o suicídio e pedir a seus “discípulos” que ateassem fogo em seus restos mortais. A
Alemanha terminou a II Guerra Mundial com cerca de 20% a menos de território e
completamente dividida.
Antes da morte de Hitler, o autor ainda constata que Hitler desde 1944 já não estava bem de
saúde o que mais tarde se constataria ser portador do Mal de Parkinson12. Hitler cometeu
suicídio ao lado de sua esposa Eva Braun. O autor ainda determina dois grandes motivos para
12
“A doença de Parkinson ou mal de Parkinson é caracterizada por uma desordem progressiva do movimento devido à disfunção dos neurônios secretores de dopamina nos gânglios da base, que controlam e ajustam a transmissão dos comandos conscientes vindos do córtex cerebral para os músculos do corpo humano. Não somente os neurônios dopaminérgicos estão envolvidos, mas outras estruturas produtoras de serotonina, noradrenalina e acetilcolina estão envolvidos na gênese da doença.” Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Mal_de_Parkinson. Acesso em 25 de maio de 2008.
32
o suicídio: ele não queria ser capturado vivo e, o segundo, não queria ter o mesmo destino de
Mussolini. Hitler, como afirma Couto (2007), se matou no dia 30 de abril de 1945, ao lado de
Eva Braun às 15h30, com um único disparo de pistola no ouvido.
33
3 AS ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DE HITLER
O judaísmo provocou em mim forte repulsa quando consegui conhecer suas atividades, na imprensa, na arte, na literatura e no teatro. Protestos moles já não podiam ser aplicados. Bastava que se examinassem os seus cartazes e se conhecessem os nomes dos responsáveis intelectuais pelas monstruosas invenções no cinema e no drama, nas quais se reconhecia o dedo do judeu, para que se ficasse por muito tempo revoltado.
Adolf Hitler em Minha Luta
Em meados de 1933 o primeiro ano do III Reich já gerava um clima de insegurança e
ameaçava a democracia. Hitler já havia sofrido várias tentativas de assassinato por parte de
seus inimigos não somente externos, mas de seu próprio partido, um deles Ernst Rohm, que
segundo Diehl (1996), arquitetou um golpe contra o Führer.
Outro caso importante foi o incêndio do Parlamento alemão por membros do NSDAP, com a
chefia de Hermann Wilhelm Göring da AS, quando a culpa recaiu sobre os comunistas.
Assim, segundo a autora, os jornais comunistas e social-democratas são interditados e
colocados na ilegalidade.
Nessa mesma época, de acordo com Diehl (1996), os jovens alemães desfilavam nas ruas de
Berlim com uma nova bandeira alemã: as cores preto-vermelho-branca com o símbolo da
suástica no centro. E, em 13 de março de 1933, para proporcionar uma maior publicidade e
popularidade ao III Reich, é criado o Ministério da Propaganda chefiado, por Joseph
Goebbels. Segundo Diehl (1996), o novo ministério recebe o nome de Reichsministerium für
Volksauflklärung und Propaganda (Ministério do Reich para o Esclarecimento do Povo e
Propaganda). Nesse mesmo período, o NSDAP é declarado como sendo o único partido legal
da Alemanha, montando dessa forma as bases da ditadura totalitária.
34
De acordo com Diehl (1996), o Partido Nacional-Socialista promove por intermédio do
Ministério da Propaganda, a Campanha da Queima de Livros, encorajando os jovens alemães
a atearem fogo nos livros de conteúdo subversivo. Em 10 de maio de 1933 livros com autores
antigermânicos são queimados, dentre eles autores marxistas, pacifistas e judeus. A partir
desse momento, o III Reich tinha total controle alemão e a próxima etapa de controle era com
relação às crianças alemãs. Hitler passa a por em prática a idéia de raça ariana e ordena a
esterilização de doentes hereditários.
As organizações para jovens, antes presentes apenas no interior do partido, agora se expandem para toda a sociedade, ganhando força de instituição. A criança deveria passar o máximo de tempo possível sob os cuidados do Reich, que se responsabiliza pela educação intelectual e a diversão dos jovens. A sociedade fascista não deve apenas ser perfeitamente organizada, mas também obter como produto indivíduos perfeitos excluindo qualquer outra possibilidade que não a hegemônica. (DIEHL, 1996, p.65).
As estratégias de Propaganda Nazista de Hitler ainda contaram com o espetáculo dos Jogos
Olímpicos de 1936. Segundo a autora, Hitler proporciona desfiles militares e comícios do
partido nacional-socialista. Aquele momento era fundamental para que Hitler mostrasse para
todo o mundo uma Alemanha forte, ariana. É assim montada uma complexa rede de eventos e
informação com exposições de arte.
Outro fator importante relatado pela autora é que, com a chegada de um novo meio de
comunicação, no caso a TV, foram espalhados 28 televisores em salas populares em que a
população alemã pode assistir toda a cobertura das Olimpíadas.
35
Além disso, o Ministério da Propaganda monta uma rede especial de informação para a cobertura das competições, que tinha por objetivo servir os jornais estrangeiros que não dispunham de correspondentes in loco. A censura também é utilizada para filtrar e divulgar a boa imagem do Reich: os competidores alemães são submetidos a controles em suas correspondências, enquanto apenas fotógrafos alemães credenciados podem cobrir de perto as competições. Os outros devem se contentar com as entrevistas coletivas que os esportistas realizam após cada prova. (DIEHL, 1996, p.73).
Diehl (1996) ainda afirma que, durante todo o período das Olimpíadas, as propagandas anti-
semitas foram retiradas das ruas enquanto Hitler mostrava a sua outra face diante dos
microfones e lentes de todo o mundo. Durante os jogos foi rodado em Berlim o filme
Olympia, da cineasta Leni Riefenstahl. A Alemanha conquista 33 medalhas de ouro e 26 de
prata e deixa o povo alemão extasiado com a exibição do filme de Riefenstahl mostrando as
aquisições da raça ariana no esporte. Tudo isso, segundo a autora, acontece pouco antes da II
Guerra Mundial e o povo alemão não se dá conta do que estaria por vir. A propaganda
desempenhou um forte papel no nacional-socialismo, e ainda se afirma que a propaganda é a
principal base do partido nazista.
Assim, a propaganda se expande aos poucos para o cinema, música, comícios, eventos e arquitetura. Até mesmo os corpos dos indivíduos são usados como objetos propagandísticos. O corpo passa a ser treinado e disciplinado a fim de espelhar a “perfeição” nacional-socialista. Tudo torna-se passível de conversão propagandística. (DIEHL, 1996, p.82).
De acordo com Diehl (1996), o mundo totalitário de Hitler precisava do apoio da propaganda
como forma de sustentar uma realidade artificial. Era obrigação da propaganda assegurar que
a imagem de Hitler fosse vendida e propagada de maneira correta para que aquele sistema por
ele pretendido se tornasse possível. A autora ainda afirma que Hitler foi inovador ao utilizar
artifícios propagandísticos no III Reich e o que fez sua propaganda ser tão eficaz foram
principalmente elementos coletados de várias fontes, como teatro, ópera, propaganda política
36
e dos meios de comunicação de massa que tinham acabado de nascer em meados dos anos 20.
Todos esses elementos foram usados para convencer o povo alemão.
Para garantir seu sucesso, Hitler observou alguns pontos eficazes para a propaganda. Uma das principais regras citadas por ele era a de que não se deveria “dispensar o ódio das massas”, isto é, deveria-se apontar o mínimo de inimigos possível a serem combatidos e apenas um por vez. Assim, evitar-se-ia que as massas se confundissem. Era preciso que se apresentassem um mundo maniqueísta, de fácil compreensão e de idéias simplistas, pois essa massa deveria ser conquistada por “seus sentimentos” e não por sua capacidade de análise. Quanto mais simplista e radical a propaganda, mais seguro os resultados obtidos com ela. (DIEHL, 1996, p.86).
Podemos observar que alguns elementos foram explorados pelo Partido Nazista, dentre eles a
águia, tida como rainha das aves e também empregada por César 13e Napoleão14, personagens
que Hitler admirava. A ave era tida como símbolo do poder e força divina. Outro elemento
marcante na propaganda nazista foi o símbolo da suástica, que indicava o ciclo de perpétua
regeneração.
Além dos símbolos do nazismo, outro elemento milhares de vezes repetido durante o III
Reich, foi a saudação Hitlerista. De acordo com Diehl (1996), a sociedade nacional-socialista
caracterizava-se pela ritualização, e a saudação “Heil Hitler” passava a ser obrigatória para
toda a sociedade. A autora ainda afirma que o gesto era tido como um ato patriótico de união.
13
“Líder militar e político da República Romana. As suas conquistas na Gália estenderam o domínio romano até o Oceano Atlântico: um feito de consequências dramáticas na história da Europa. No fim da vida, lutou numa guerra civil com a facção conservadora do senado romano, cujo líder era Pompeu. Depois da derrota dos optimates, tornou-se ditador vitalício e iniciou uma série de reformas administrativas e económicas em Roma”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_C%C3%A9sar .Acesso em 21 de maio de 2008.
14 “Napoleão Bonaparte, em francês Napoléon Bonaparte, nascido Napoleone di Buonaparte, (Ajaccio, Córsega,
15 de Agosto de 1769 — Santa Helena, 5 de Maio de 1821) foi o dirigente efectivo da França a partir de 1799 e adoptando o nome de Napoleão I foi Imperador da França de 18 de Maio de 1804 a 6 de Abril de 1814, posição que voltou a ocupar rapidamente de 20 de março a 22 de junho de 1815. Além disso, conquistou e governou grande parte da Europa central e ocidental”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Napole%C3%A3o_Bonaparte. Acesso em 23 de maio de 2008.
37
Para Diehl (1996), um ponto importante para a propaganda e expansão de Hitler na Alemanha
foram os eventos de massa para a difusão do nacional-socialismo. Grandes eventos foram
realizados, proporcionando a mobilização das massas. E, de acordo com autora, sem essas
mobilizações o nacional-socialismo não seria possível.
Num sistema em que as massas são convocadas permanentemente a participar de forma estética e ritual, o nazismo reúne e organiza seu público nos eventos e cerimônias, permitindo, desta forma, a presença física da população no cenário político. No entanto essa presença é apenas decorativa. O que se forma no nacional-socialismo é a ilusão de que a população faz parte da política. Porém a participação objetiva alimentar o imaginário nacional-socialista onde ela se refugia e do qual acredita ser co-autora. (DIEHL, 1996, p.116).
Conforme relata a autora, durante os eventos proporcionados pelo III Reich Hitler ocupava
lugar central na estrutura, podendo, assim, explorar seu carisma e fascínio para a atração do
público e cativar as massas. A aparência do Führer era sempre perfeita. Hitler utilizava em
seus discursos expressões teatrais, cuidadosamente ensaiadas. O Führer nunca sorria enquanto
discursava, mas em contato com o público fazia questão de transmitir uma imagem de
protetor.
A realidade passa a confundir-se com o teatro e a política com o espetáculo. Esse teatro é comandado pelo Führer, de importância crucial para a nova organização psicológica. Ele comanda a massa que é convidada a participar ritualisticamente. A população, assim, indo às festas do partido e assistindo aos desfiles e Às paradas militares. Ela se entrega completamente ao regime totalitário. Dessa forma, a massa não consegue romper o elo fascinante que a prende às estruturas totalitárias do nacional-socialismo, vivendo em um estado de torpor coletivo. (DIEHL, 1996, p.138).
E é a partir da construção do espetáculo criado por Hitler, que se fez com seu poder de
persuasão algo que jamais foi visto no cenário público. O Führer utilizou-se do cinema, como
poder de massificação e construiu com a ajuda de Leni Riefenstahl documentários que
organizaram o pensamento alemão com relação a postura de Hitler.
38
Para entendermos melhor o propósito dos documentários da época, segundo Nichols (2005),
todo filme é um documentário. Ele os diferencia em documentários de satisfação de desejos,
ou seja, os chamados de ficção e documentários de representação social, os de não-ficção. Os
documentários de não-ficção são aqueles que representam aspectos da matéria de que é feita a
realidade social.
Literalmente, os documentários dão-nos a capacidade de ver questões oportunas que necessitam de atenção. Vemos visões (fílmicas) do mundo. Essas visões colocam diante de nós questões sociais e atualidades, problemas recorrentes e soluções possíveis. O vínculo entre o documentário e o mundo historio é forte e profundo. O documentário acrescenta uma nova dimensão à memória popular e à história social. (NICHOLS, 2005, p.27).
Nichols (2005) observa que no documentário existem três diferentes formas de
representações. A primeira é a que oferece um retrato reconhecível do mundo e que representa
situações com total fidelidade. A segunda representação colocada pelo autor diz respeito aos
interesses dos outros, ou seja, alguns documentários podem assumir o papel de representação
pública. Muitos desses documentários podem ser financiados por instituições públicas. Em
terceiro lugar Nichols (2005) apresenta os documentários que podem representar o mundo da
mesma maneira com que um advogado representa os interesses de um cliente. Nesse caso os
documentários passam a intervir na opinião pública.
Entendemos, portanto, que os documentários exercem a função de representação auditiva e
visual histórica de um determinado ponto de vista de indivíduos, grupos e ou instituições. No
caso dos documentários, Nichols (2005) afirma que, para tornar possível a filmagem de um
documentário, é importante que as pessoas ali apresentadas, ou seja, os atores sociais daquele
filme se portem de maneira mais natural possível diante das câmeras. Segundo Nichols
(2005), um documentário pode ter efeitos imprevisíveis sobre os que estão representados nele.
39
A ética existe para regular a conduta dos grupos nos assuntos em que regras inflexíveis, ou leis, não bastam. Devemos dizer às pessoas filmadas por nós que elas correm o risco de fazer papel de bobas ou que haverá muitos que julgarão sua conduta de maneira negativa? (NICHOLS, 2005, p.35).
E ainda podemos concluir, de acordo com as análises de Nichols (2005), que alguns cineastas,
ao representarem pessoas, que não conhecem, correm o risco de explorá-las. Já aqueles que
trabalharam com pessoas conhecidas têm o dever de representá-las de maneira responsável,
mesmo que, segundo o autor, isso signifique sacrificar a própria opinião. Para Nichols (2005),
alguns cineastas se vêem em situações adversas quando irão representar pessoas de
instituições que são patrocinadoras do próprio documentário. Esse é o caso do documentário
O Triunfo da Vontade, encomendado por Hitler e seu partido nazista.
Outro ponto importante discutido pelo autor é de que o documentário define-se pelo contraste
com filme de ficção e que não é uma representação da realidade, mas sim uma representação
do mundo em que vivemos.
Assim podemos dizer que a representação também está ligada às características da voz
expressada pelo documentarista. Segundo Nichols (2005) se os documentários representam
questões encontradas no mundo em que vivemos, ele fala desse mundo através de som e de
imagens. A voz no documentário defende uma causa, e essa voz está diretamente relacionada
ao estilo do filme. Essa voz, segundo Nichols (2005), representa o ponto de vista social do
cineasta.
A voz do documentário não está restrita ao que é dito verbalmente pelas vozes de “deuses” invisíveis e a”autoridades” plenamente visíveis que representam o ponto de vista do cineasta – e que falam pelo filme – nem pelos atores sociais que representam seus próprios pontos de vista – e que falam no filme. A voz do documentário fala através de todos os meios disponíveis para o criador. (NICHOLS, 2005, p.76).
40
Essa voz proposta por Nichols (2005) também utiliza-se de fatores como a disposição de sua
oratória durante o filme. Para o autor, a disposição mais freqüente é a abertura que chame a
atenção do público, esclarecimento do que já se conhece sobre a questão a ser discutida e um
argumento a favor de uma causa e ou ponto de vista. O poder do documentário, para governos
e outros patrocinadores institucionais, está na capacidade de unir prova e emoção na
organização de som e imagens marcantes.
A produção de O Triunfo da Vontade, de Leni Riefenstahl, por exemplo, continua sendo uma história controversa das ambições artísticas de Riefenstahl de fazer filmes de grande apelo emocional, mas livres de intenções propagandísticas – segundo relatos da própria Riefenstahl - , com a história da pressão do partido nazista por um filme que gerasse uma imagem positiva num momento em que seu poder ainda não estava inteiramente consolidado e sua liderança ainda não inteiramente concentrada em Hitler – do ponto de vista da maioria dos historiadores do cinema. As interpretações desse filme muitas vezes pegam o fio de uma ou outra dessas histórias, elogiando a obra, como grande peça cinematográfica, ou condenando-a, como exemplo acintoso de propaganda nazista. (NICHOLS, 2005, p.93).
O documentário, em geral, trata do esforço do cineasta de nos convencer, persuadir em uma
determinada visão do mundo. Dessa maneira o documentário ativa a nossa percepção estética
e também nossa consciência social. Essa persuasão, como relata Nichols (2005), também
acontece pela capacidade que os documentários têm de transmitir, através das imagens, uma
impressão da realidade.
O autor afirma que o documentário somente acontece quando adquire voz própria.
Historicamente o autor ainda revela que é a partir da década de 1920 que o documentário
começa a andar com as próprias pernas. Sabemos que um acontecimento encenado pode ser
filmado para ser parte de um registro histórico de maneira observacional. Mas sabe-se que
esses eventos não existiriam se não fosse a presença das câmeras.
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Essa inversão assumiu proporções gigantescas em um dos primeiros documentários “observativos” Triunfo da Vontade, de Leni Riefenstahl. Depois de um conjunto introdutório de legendas que montam o cenário para o comício do Partido Nacional-Socialista alemão em Nuremberg, em 1934, Riefenstahl observa os acontecimentos sem nenhum outro comentário. Os acontecimentos – predominantemente, desfiles – ocorrem como se a câmera simplesmente gravasse de qualquer maneira o que teria acontecido. Depois de duas horas de projeção, o filme pode dar a impressão de ter registrado acontecimentos históricos fieis e irrefletidamente demais. (NICHOLS, 2005, p.151).
Nichols (2005) ainda argumenta que muito pouco teria acontecido se não fosse o partido
nazista ter a intenção de propagandear o seu comício. E ainda afirma que os acontecimentos
presentes em O Triunfo da Vontade (1934) foram cuidadosamente planejados, demonstrando,
assim, o poder que a imagem tem de representar o mundo histórico.
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4 ANÁLISE A burguesia vê, como no teatro e no cinema, no lixo da literatura e na torpeza da imprensa, dia a dia, o veneno se derramar sobre o povo, em grandes quantidades, e admira-se ainda do precário "valor moral", da "indiferença nacional" da massa desse povo, como se a sujeira da imprensa e do cinema e coisas semelhantes pudessem fornecer base para o conhecimento das grandezas da Pátria, abstraindo-se mesmo a educação individual anterior.
Adolf Hitler em Minha Luta
4.1 Metodologia
O presente trabalho retrata a construção da imagem de Hitler como líder carismático, e se
propõe a fazer uma análise dos documentários, O Triunfo da Vontade (1934), de Leni
Riefenstahl e Arquitetura da Destruição (1994), de Peter Cohen. É importante ressaltar que os
documentários não foram analisados com uma visão de técnica cinematográfica, mas sim
como arcabouço ilustrativo das teorias de Max Weber com relação à idéia de construção ou
não de um líder.
A hipótese a ser verificada é a de que Hitler usou de estratégias muito bem definidas para
alcançar seus objetivos, mas seu carisma é algo legitimado nas teorias de Weber. Acreditamos
que carisma pode ser um dom, utilizado para o bem ou para o mal. No caso de Hitler, a
utilização do carisma teve conseqüências históricas que marcaram a humanidade. A partir das
teorias de Max Weber podemos criar um arcabouço teórico que melhor explica a colocação de
Hitler como líder na Alemanha nazista.
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4.2 Filmografia
4.2.1 O Triunfo da Vontade
Um documentário encomendado por Hitler e seu partido nazista, de 124 minutos, O Triunfo
da Vontade (1934), arquitetado por Leni Riefenstahl, cobre os acontecimentos ocorridos
durante o Sexto Congresso de Nuremberg em 1934. Com o intuito de documentar os
primeiros anos do partido nazista, para que as futuras gerações pudessem usufruir da história
obtida pelo III Reich, O Triunfo da Vontade se tornou ícone do cinema mundial.
O Triunfo da Vontade de Leni Riefenstahl é tido hoje como um dos grandes filmes
documentais de todos os tempos. Mesmo porque a cineasta Leni Riefenstahl para fazer a
filmagem utilizou de instrumentos nunca antes vistos em construções cinematográficas. Então
por si só o filme já causa efeito. Leni Riefenstahl nasceu na Alemanha em 1902, ou seja,
participou diretamente de todo o processo do nazismo na Alemanha. E em 1932 ela foi
escolhida por Hitler pra fazer um documentário sobre o 4º Congresso de Nurenberg. Esse
congresso acontecia anualmente e aproveitando toda a comossão popular rodou o filme e foi
paga pelo partido nazista para fazê-lo.
A visão de Leni Riefenstahl é explicitada em 12 cenas que alternam imagens celebrando a
raça, a unidade, a ordem e a disciplina com insistentes closes sobre Hitler, o personagem
principal de todo o documentário. Para que as filmagens acontecessem, foram utilizados
truques e artifícios cinematográficos nunca antes vistos até então. De elevadores içados a
topos de edifícios a patins, tudo foi feito pela cineasta para que se pudesse registrar os
melhores ângulos daquele evento. A cineasta conseguiu em menos de duas horas de filme
focar em Hitler a idéia de que ele seria a salvação do povo alemão.
44
4.2.2 Arquitetura da Destruição
No documentário Arquitetura da Destruição (1992), o diretor Peter Cohen exibe as táticas
utilizadas por Hitler para difundir a ideologia nazista. É importante ressaltar que o
documentarista em questão é um cineasta sueco, que nasceu um ano após o término da
Segunda Guerra Mundial. Seu pai foi um judeu alemão perseguido pelo regime nazista.
Portanto o cineasta narra com muita propriedadde a apropriação do líder da Alemanha.
Em um momento de decadência pós Primeira Guerra Mundial, no qual a Alemanha havia sido
derrotada, o povo alemão precisava de um apoio e encontrou-o em Hitler. Nesse período,
Adolf Hitler foi o próprio Messias encarregado de reerguer aquele país.
Como forma de traçar a trajetória de Hitler, Peter Cohen apresenta gravuras compostas por
Hitler, (que, como já citado nos capítulos anteriores, sempre sonhou em ser artista plástico,
trabalhar com artes, mas na verdade era tido como um artista medíocre). Mesmo assim, suas
gravuras, como mostra Cohen, posteriormente viraram projetos de grandes obras
arquitetônicas na Alemanha nazista. O documentário feito no ano de 1992 é tipo como um dos
clássicos quando se trata da narração historiográfica de Hitler como arquiteto principal de
toda a barbárie ocorrida na Alemanha.
Um dos pontos chaves do documentário é a apresentação em meio a toda crise, no período
entre guerras, de uma exposição de Arte Degenerada15. Para Hitler toda e qualquer obra de
15
“Termo utilizado pelo regime nazista da Alemanha para descrever virtualmente toda a arte moderna. Tal arte foi banida com base de que era não-germânica ou de natureza "judia-bolchevique", e aqueles identificados como artistas degenerados estavam sujeitos a sanções. Tais incluíam ser despedido do magistério, ser proibido de exibir ou vender a própria arte e, em alguns casos, ser proibido inteiramente de produzir arte”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_degenerada. Acesso em 24 de maio de 2008.
45
arte moderna era medíocre e relacionada diretamente ao bolchevismo e aos judeus. Assim
como apresentado no documentário, essas obras, para Hitler, mostravam o pior da raça
humana, deformações, doenças mentais e genéticas.
Assim como Cohen apresenta em Arquitetura da Destruição, Hitler se desfez de toda aquela
“parafernália” moderna e implantou obras de arte renascentistas que enfatizavam a beleza e a
pureza da raça humana, querendo assim purificar a mente dos alemães e reformar o que o
cineasta nomeia de Medicina Nazista. É a partir desse momento que Cohen apresenta todas as
atrocidades absurdas feitas por médicos nazistas com o intuito de purificar a raça ariana.
Relatórios médicos eram forjados e muitas pessoas com bom estado de saúde eram registradas
como loucas, e, então, eliminadas por não se encaixarem nos padrões estéticos da beleza
ariana. O filme mostra as estratégias de Hitler para concretizar sua arquitetura e de como
pretendia dar dimensão à sua megalomania.
4.3 Análise dos documentários
4.3.1 Um espetáculo cinematográfico hipnótico e terrificante
O documentário O Triunfo da Vontade, rodado em Nuremberg em 1934, durante o Congresso
do Partido Nazista, é um dos documentários mais comentados no meio cinematográfico. A
cineasta Leni Riefenstahl usou e abusou de novas técnicas cinematográficas para colocar a
imagem de Hitler como salvador do povo alemão.
Como descrito no capítulo três toda forma de documentário nos mostra uma direção, uma
visão do mundo e da realidade. E é a partir da visão do cineasta que podemos entender
questões sociais, históricas e ou culturais. Assim como sabemos Leni Riefenstahl foi
46
contratada para criar um documentário sobre o Congresso do Partido Nazista, mas ao mesmo
tempo tinha como dever mostrar ao mundo como era a Alemanha nazista e por quem ela era
doutrinada.
Com o intuito de representar de maneira mais “messiânica” possível a imagem de Hitler, a
cineasta não poupou esforços para tornar O Triunfo da Vontade um documentário onde
encontramos imagens e argumentos que fazem-se reais diante de uma realidade maquiada.
Podemos aqui afirmar que o documentário de Riefenstahl utilizou-se de inúmeros truques de
câmeras e até mesmo teatros (que contavam com a participação do povo alemão), para que
melhor fosse vendida a imagem do Führer. Em determinados momentos do filme o
movimento coordenado das tropas nazistas com a trilha sonora deixam claro que os habitantes
da cidade estavam em um estado de êxtase diante de Hitler e seus discursos teatrais.
O que Leni Riefenstahl fez foi traçar um perfil do poder de Hitler, explorando as conquistas, a
consolidação e a expansão de seu poder carismático diante das massas. Construir o perfil do
Führer em O Triunfo da Vontade além de fazer uma leitura política de tudo o que acontecia na
época apresentou uma imagem messiânica de Hitler. Afinal, desde o primeiro momento do
documentário a cineasta abusa da grandiosidade de um espetáculo ambicioso.
Ao que tudo indica Hitler foi sem duvida um carismático consciente, ou seja ele sabia
exatamente o que queria e como conseguiria realizar seus planos. A idéia de uma líder
carismático é observada em O Triunfo da Vontade em que Hitler exerce um fascínio
magnético sobre todos os que estão ao seu redor, grita discursos (hoje incabíveis), mexe os
braços como se regesse uma orquestra e faz-se obedecer por inúmeras pessoas.
47
Podemos detectar um fanatismo quase que religioso por Hitler que em alguns momentos do
filme é ovacionado até mesmo por crianças. A cena que mais chama a atenção é um bebê no
colo de sua mãe fazendo o famoso gesto nazista para Hitler enquanto ele passava. A narrativa
utilizada por Riefenstahl traz ao público um Hitler forte e poderoso capaz de calar uma
multidão enquanto fala.
Em O Triunfo da Vontade é notável que a voz exercida pela documentarista defende uma
causa, o regime nazista e Hitler. O papel de Leni Riefenstahl na propagação do nazismo na
Alemanha. Para muitos a cineasta fez com que a imagem de Hitler tivesse uma representação
irreal, ou seja, mostrou um Hitler com ideais positivistas, em que o líder aparece sempre como
salvador e indivíduo bem feitor, o que na verdade seria o contrário.
A imagem negativa do contexto histórico, já relatado no capítulo dois, em que o povo alemão
estava em meio a falta de coerência cultural, derrotas pós-guerra faziam com que a Alemanha
buscasse sua unificação. Assim a idéia de um líder ditador para a Alemanha era como tida
como a salvação, mesmo que de uma forma cega para aquele país.
Dentre os elementos analisados em primeira ordem podemos ressaltar as imagens em que
Hitler aparece relacionado diretamente com a bandeira do nazismo e com a águia. Ainda
dentro dos elementos, destacam-se os narrativos nos quais se podem constatar os discursos
promovidos por Hitler em praça pública. Neles, o Führer apela para trunfos como doenças, a
fim de amedrontar os alemães quanto ao purismo da raça ariana.
A imagem composta por Riefenstahl de um líder salvador em seu documentário é realçada a
partir, por exemplo, de trilha sonora que tem papel de realçar os elementos que constroem a
48
imagem de Hitler. Com óperas de Wagner, Leni Riefenstahl mescla cenas de: imagens de
endeusamento da raça ariana, ou a população devotada a um messias ícone de disciplina e
força. Através de estudos relacionados a Weber (1963), podemos constatar, em um primeiro
entendimento, que a figura de um líder carismático não é muito comum, e que muitas vezes
esse líder passa a ser o próprio Deus na Terra para determinados grupos. E é exatamente o que
podemos notar no documentário de O Triunfo da Vontade.
Observamos que logo nos primeiros momentos do documentário, no dia 5 de setembro de
1934, exatos 20 anos após a Primeira Guerra Mundial, 16 anos após todo o sofrimento
alemão, Hitler voa sobre o céu de Nuremberg. E logo no início do documentário já se nota
como Riefenstahl elevou Hitler ao mais alto pedestal. Cenas filmadas de dentro do avião
mostram o céu de Nuremberg: grandes palacetes e casas imponentes apresentam a tentativa de
mostrar uma Alemanha fortificada. Do alto do avião já se podia notar homens marchando e a
população se arrumando para a chegada do Führer.
Logo quando desce do avião Hitler se depara com uma população enaltecida, inclusive as
crianças que ali estavam. É importante ressaltar que em vários momentos do documentário
Riefenstahl utiliza crianças e mulheres sorridentes para dar um ar delicado ao acontecimento.
Mulheres e crianças se apresentam em um fanatismo incomum, ouvem-se gritos de saudação
à chegada de Hitler, que acena animado.
Um momento interessante de se destacar no documentário é que Hitler sempre conseguiu
atingir seu público independente de qual fosse. Algumas cenas, como crianças subindo nas
pontas dos pés para que pudessem ver melhor o Führer, são impressionantes. Em
determinados momentos Hitler até apresenta semblantes angelicais, se é que isso é possível,
49
diante de senhoras com filhos no colo. Mas ao mesmo tempo, diante de seu exército Hitler se
transforma num homem poderoso capaz de calar uma multidão apenas com um olhar.
Outro momento impactante do filme é em meio a uma carreata em que Hitler se apresenta
ereto, fardado, e com semblante fechado uma criança de colo oferece um buquê de flores para
o Führer que por sua vez, retribui com um sorriso. Mas como sorrisos não eram o forte de
Hitler, Riefenstahl resolveu usar e abusar de imagens de crianças sorridentes e mulheres que
acenam com lencinhos brancos como se Hitler fosse um desses atores do cinema
hollywoodiano.
Assim podemos comprovar mais uma característica de liderança carismática em que o povo
demonstra devoção, amor incondicional ao Führer que mais parecia um messias. Como no
exemplo da imagem da criança no colo da mãe que praticamente pede a benção de Hitler em
meio a um enorme espetáculo.
Nota-se que a todo momento a cineasta tenta ressaltar que quem tem o poder é Hitler e que
somente ele poderá salvar a Alemanha do resto do mundo. Em determinados momentos Hitler
é ovacionado por centenas de pessoas, não importando o local ou horário. Em frente ao hotel
em que Hitler se hospeda em meio à escuridão, milhares de pessoas fazem vigília e bandas
tocam em homenagem ao Führer que observa atentamente da janela. Logo acima de sua
janela, no topo do hotel, a imagem da suástica se ilumina e mostra como Nuremberg se
preparou para sua chegada.
O Triunfo da Vontade também faz uma espécie de propaganda de como o III Reich tratava
seus soldados. Em uma das cenas a juventude nazista é apresentada em um acampamento fora
50
da cidade de Nuremberg para treinamento militar. Milhares de barracas e de jovens estão
enfileirados, milimetricamente, em campo aberto. Jovens tocam instrumentos, limpam seus
sapatos e uniformes, se barbeiam, brincam e se alimentam com uma felicidade aparente. A
comida parece farta, claramente tudo oferecido pelo Partido Nazista.
Durante todas as quase duas horas de documentário é notório que a cineasta tentou montar,
com a melhor precisão possível, como o povo alemão era feliz com Hitler no poder. Em
determinado momento do filme Hitler faz a revista dos soltados. Todos enfileirados e
fardados à espera que seu Führer lhes cumprimentassem. De fato é o que acontece: ele olha
nos olhos dos primeiros da fila e faz cara de quem gosta do que vê afinal seus companheiros
são jovens e arianos.
Um dos últimos momentos de O Triunfo da Vontade em uma cena de plano aberto, ao ar
livre, soldados gritam um texto, claramente decorado como um teatro, todos imóveis seguindo
um mesmo ritmo de fala, onde, em determinados momentos, alguns soldados falam
diretamente olhado para a câmera. Eles dizem que estão a serviço do III Reich e cantam o
hino da Alemanha. Enquanto isso, Hitler observa, de um palanque ao alto, com ar satisfeito, e
começa seu discurso que deixa as pessoas em estado de êxtase.
Gritando e gesticulando muito Hitler pede que os alemães lutem pelo país com toda devoção
de suas almas. Diz ainda que eles precisam aceitar privações sem nunca decair e sempre
serem corajosos em nome de sua honra e pátria. Enquanto isso as imagens mostram soldados
jovens, quase crianças, compenetrados no que o Führer transmite. Em seus discursos, fica
claro nas imagens do documentário que Hitler ficava “possuído” por algo inexplicável.
51
Sempre com a mesma imagem: fardado, com chicote, um pastor alemão ao lado o Führer
mantinha a característica de semideus.
4.3.2 A tentativa de estetização de um país
Diferentemente de O Triunfo da Vontade de Leni Riefenstahl, o documentário Arquitetura da
Destruição de Peter Cohen foi criado em 1992 após todo o fato histórico que norteia este
trabalho ter acontecido. Arquitetura da Destruição é tido como um dos melhores estudos
sobre o Nazismo. Com imagens verídicas, o cineasta mostra toda a trajetória de Hitler até o
fim da Segunda Guerra Mundial com a sua queda.
Como sabemos e já discutimos anteriormente, todo documentário mostra a visão de uma
realidade e essa se dá a partir do olhar minucioso do documentarista. Ainda podemos pensar
que o discurso de um filme nos moldes de um documentário é uma narrativa composta por
imagens que serviram de base para afirmar a visão do documentarista.
A princípio, o filme revela a idéia de criação de uma nova raça, pura e livre de anomalias.
Para ilustrar esse fato Cohen apresenta filmes gravados na época contra a arte degenerativa.
Essa arte, como já citada anteriormente, era toda e qualquer obra que tinha cunho moderno.
Hitler associava muitas dessas obras com pessoas doentes e com grandes anomalias. Dessa
forma, o documentarista exprime de maneira direta a realidade dos fatos que circundavam a
trajetória de um líder carismático que, com seu poder de persuasão, disfarçou inúmeras
atrocidades.
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Um dos exemplos apresentados por Cohen é o filme Vítimas do Passado, que era divulgado
nos cinemas por toda a Alemanha. O filme nazista tinha o intuito de mostrar para a população
que todas as obras da modernidade eram tendenciosas à representação e tolerância do
bolchevismo e dos judeus. Além disso, as imagens mostram que a arte moderna confrontava
os valores e ideais de beleza e saúde almejados pelo III Reich. Como Hitler era contra a arte
moderna, resolveu assim criar sua própria galeria de arte em que divulgava apenas o que
achava realmente importante e belo para o povo alemão. Dessa forma, como mostra Peter
Cohen, todas as obras tidas como arte degenerada foram confiscadas.
O filme é um olhar crítico sobre tudo o que aconteceu durante o período em que Hitler esteve
no poder. De fato, podemos perceber que o tipo de narração, de discurso utilizado por Peter
Cohen é bem diferente do que Leni Riefenstahl apresentou em seu documentário que trazia
Hitler como um semideus. Portando, diferentemente de O Triunfo da Vontande, em que o
Führer aparece como Messias, em Arquitetura da Destruição, Hitler é tido como culpado por
toda a desgraça ocorrida. Alguns momentos retratados por Peter Cohen são de total relevância
para esse trabalho, já que orientam historicamente os passos de Hitler.
Com a idéia de pureza e beleza ariana Hitler resolve construir uma nova Alemanha ainda mais
genuína. Novas construções são realizadas e Hitler passa a ser o próprio arquiteto das
transformações. Em algumas cenas o cineasta mostra o Führer abaixado, com olhar fixo em
enormes maquetes de seus sonhos que cada vez mais tinha proporções inacreditáveis. O
Führer queria reconstruir Berlim e a base de seus ideais foi muito bem retratada pelo cineasta
com gravuras feitas pelo próprio Hitler. A maior parte das gravuras pintadas pelo ditador se
transformou em projetos que tinham a finalidade de embelezar o país.
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Um momento importante dessa idéia de megalomania de Hitler foi quando ele resolveu fazer
uma reforma em sua casa. Desenhou o projeto querendo assim transformar sua residência em
um castelo. As imagens das obras são apresentadas no documentário de Cohen e convalescem
de um comentário árduo – a obra obviamente não deu certo, erros no projeto.
Com o exemplo anterior podemos aqui concluir que o efeito do documentário de Peter Cohen
é diferente do que Leni Riefenstahl abordou. O documentarista lança mão da técnica de
franqueza e intimidade com o assunto. Ele se coloca como um documentário que ao mesmo
tempo pode ser objetivo e subjetivo. E é exatamente nessa subjetividade de seu discurso que
Peter Cohen faz com que cresça a sua credibilidade diante de uma análise histórica. Assim
como vimos no terceiro capítulo, a voz do documentário atesta o caráter do cineasta que,
como Peter Cohen, utiliza a narração com imagens, microdocumentários e fotografias
fundidas em uma locução com autoridade teórica.
Peter Cohen retratou o poder de liderança e dominação de Hitler no exemplo da eutanásia de
uma criança. A primeira morte por indução na Alemanha aconteceu quando uma criança
nasceu cega, sem uma perna e com uma anomalia nos braços. Hitler muito rapidamente
mandou matar a criança e obrigou o médico a assinar e forjar o atestado de óbito. Mais tarde,
como apresenta Cohen, esses casos obviamente aumentariam.
Ainda sobre a eutanásia, o documentarista apresenta uma cópia do primeiro Programa de
Eutanásia16 do país, assinado no dia 1 de setembro de 1939, data que coincide com o início da
guerra. Para o documentarista, a data foi escolhida porque a guerra chamaria mais atenção do
16
“Prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira controlada e assistida por um especialista”. Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Eutan%C3%A1sia. Acesso em 21 de maio de 2008.
54
que o programa, o que de fato aconteceu. Foram criados formulários médicos, estes
apresentados no documentário, para que durante as consultas os médicos os seguissem.
Dentre as perguntas rotineiras estavam: religião, raça, aparência e se o indivíduo era ou não
judeu. Dependendo da resposta, a pessoa, doente ou não, era assassinada.
Uma das cenas mais impactantes do documentário são as câmeras de gás, onde eram jogados
os corpos de pessoas tidas como não-puras. No documentário, Cohen relembra que em
determinado período tantas pessoas eram exterminadas que a fumaça que saía das chaminés
era tamanha que muitas vinham com fios de cabelos das vítimas. Com essa nova informação,
representada por imagens marcantes, Hitler, que antes é tido como um Messias salvador, na
visão do documentarista se transforma em um monstro capaz de cometer tamanha brutalidade
às custas de seu poder.
Como líder, Hitler tinha suas estratégia de auto-elevação diante das massas; assim, em meio à
guerra, foi a Paris e gravou sua visita em um mini documentário. Essas cenas são apresentadas
em Arquitetura da Destruição, mas com uma visão bem diferente da que foi apresentada na
época. Cohen afirma que as filmagens foram feitas em uma Paris deserta, eram por volta das 6
horas da manhã, e por esse motivo Hitler pôde desfilar pelo Arco do Triunfo e pela Torre
Eiffel em carro aberto. Tudo foi milimetricamente produzido e encenado.
Arquitetura da Destruição mostra o outro lado da história, apresenta o lado mais sombrio e
perverso de toda uma farsa teatral de Hitler e seu Nacional Socialismo. É nítido nesse
documentário que todas as idéias do Führer foram colocadas em prática. Uma delas está
relacionada com sua ida a Paris. Durante o documentário Cohen comenta que, ao partir de
55
Paris, Hitler comentou que sempre sonhou em conhecer a Cidade Luz, mas quando Berlim
estivesse reformada Paris se tornaria a sua sombra.
Outro ponto importante do documentário é quando Hitler decide utilizar a eutanásia em seus
próprios soldados feridos durante os ataques com a União Soviética. O Führer propõe assim a
política de extermínio: judeus, ciganos, oficiais políticos e soldados feridos eram mortos pela
SS. O documentarista apresenta os primeiros campos de extermínio e os caminhões de gases
onde eram presos os refugiados. Eram verdadeiraS fábricas de cadáveres. Como comenta
Cohen, em uma das cenas de campos de refugiados, as fábricas de morte faziam o saneamento
antropológico na Alemanha.
Fazendo uso da metalinguagem, dentro do próprio documentário Cohen apresenta pequenos
documentários feitos no período do genocídio. Um deles se chamava O Judeu Eterno, em que
os nazistas comparavam o povo judeu a ratos imundos. E ainda em um documentário que foi
divulgado em todos os cinemas alemães da época, denominado Pequena Guerra: modo
efetivo de matar as pragas, os nazistas mostravam donas de casa desinfetando seus lares com
gases, que eram totalmente eficientes, numa alusão ao antisemitismo ligado a uma questão de
higiene.
Dessa forma Arquitetura da Destruição mostra como Hitler utilizava de técnicas de lavagem
cerebral no povo alemão com respeito à formação de um novo homem. Hitler foi até o fim
com suas idéias e fantasias, envolvendo a Alemanha e todos aqueles que estavam diretamente
ligados àquele país. Com tudo isso, acreditamos que o documentário de Peter Cohen traz à
tona um ponto de vista importante sobre o poder que tem um líder. Sem dúvidas, Hitler foi
um dos maiores líderes carismáticos, mas passou de super-homem, semideus e messias a
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genocida paranóico. Para finalizar seu documentário Peter Cohen, utiliza uma das imagens
mais impactantes da história, que é de Berlim totalmente destruída pelos ataques soviéticos:
absolutamente nada restou do sonho de Hitler.
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5 CONCLUSÃO
Se, no começo e durante a Guerra, tivéssemos submetido à prova de gases asfixiantes uns doze ou quinze mil desses judeus, desses corruptores de povos, prova a que, nos campos de batalha, se submeteram centenas de milhares dos nossos melhores operários alemães de todas as Categorias, não se teria visto o sacrifício de milhões de nossos compatriotas das linhas da frente. A eliminação de doze mil patifes, no momento oportuno, teria talvez influído sobre a vida de um milhão de homens honestos que muito úteis poderiam 'ser à nação de futuro.
Adolf Hitler em Minha Luta
Durante toda a vida, Hitler se empenhou em dissimular e em idealizar um personagem para si
mesmo. Não há outro exemplo na história de um líder que tenha se dedicado tão
metodicamente a estilizar a própria imagem e a torná-la humanamente indecifrável. Sua vida
pública nada mais foi do que um grande teatro em que os maiores personagens foram as
vítimas de sua loucura.
Hitler tinha total domínio sobre sua vocação diante de milhares de pessoas e principalmente
da virtude do poder que viam nele. Soube colocar em prática a receita de como ser um
profeta, já que tinha o elemento-chave para achar que conquistaria o mundo, o fascínio do
carisma.
O Führer tornou-se a sua própria lenda e diante de suas dissimulações e peças teatrais, que por
sua vez, eram muito bem elaboradas, mergulhou em seu próprio mundo fantasioso. Assim
como entendemos que um líder carismático tem a capacidade de dominar toda uma nação,
essa mesma nação espera de seu líder respostas eficazes e eficientes para estar em tal posto.
Hitler sabia muito bem como fazer com que o povo alemão o escolhesse e aceitasse como
líder.
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A hipótese de que ambos os documentários, mesmo que um seja de cunho propagandista e o
outro analítico de um fato histórico, constroem a imagem de Hitler como um Líder
Carismático, de acordo com as categorizações de Max Weber foi confirmada.
Hitler utilizou-se de todas as estratégias comunicacionais existentes na época (cinema, rádio,
jornais e folhetins) para propagandear seus ideais e tentar dominar o mundo. O cinema, como
foi destacado nesta pesquisa, foi sem dúvida a maior “jogada” do Führer, já que muitas
pessoas só ficavam sabendo dos acontecimentos através dos telões. Criar um filme, no estilo
documentário, em meio a um Congresso do Partido Nazista que atendia cerca de 700.000
visitantes, com o apoio de mais de 170 trabalhadores, entre cinegrafistas, assistentes de
câmera, em 1934, realmente é algo digno de nota.
Em O Triunfo da Vontade, Hitler é um poderoso messias, perfeito para as mulheres, ídolo
para as crianças e exemplo de força e soberania para os homens. É dessa maneira que a
cineasta Leni Riefenstahl apresenta a adoração e comoção de toda uma nação diante do líder
que lhes trará proteção. Contrariando a idéia do messias em Arquitetura da Destruição, Peter
Cohen retrata anos depois do término da Segunda Guerra Mundial fatos espantosos desse
mesmo messias.
Afinal, Hitler, ao que tudo indica, não passou de um personagem no qual aos poucos a famosa
luz própria foi se apagando. Ser um líder requer não somente ser uma imagem, mas se firmar
em atos que comprovem e reafirmem sua capacidade de liderança. Como comentamos no
primeiro capítulo desse estudo, ser um líder carismático é mais complexo do que parece. Ao
que tudo indica o peso da derrota de um líder é muito mais demorado de se absorver do que o
simples fato de ser um Führer.
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