LEITURA E ANÁLISE LINGUÍSTICA:
UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE EJA
Valdir Roberto Siqueira1
RESUMOEste artigo descreve as atividades organizadas na forma de Unidade Didática, realizadas pelos alunos de EJA, Ensino Básico, Fase II, com o objetivo de atender às necessidades desses educandos no que se refere à prática de leitura e análise linguística. O “trabalho” foi o tema em torno do qual se organizaram as atividades, visto que os alunos desta modalidade de ensino são pessoas de quinze anos ou mais e que já têm conhecimentos e experiências relacionadas a esse tema, além de possuírem também o grau de cognição necessário para a realização das tarefas. Para o desenvolvimento da proposta, realizaram-se várias atividades de práticas de leitura e análise linguística, com base em textos centrados em um mesmo tema, mas em diferentes gêneros discursivos, tais como, informativo, poético e fábula. Por meio desse trabalho, os alunos tiveram a oportunidade de exercitar a prática da leitura, observando que esta contribui para a formação do leitor competente, capaz de compreender o que leu e, assim, posicionar-se diante do texto e também refletir sobre o uso da língua nas diversas esferas da sociedade.
Palavras-chave: Leitura. Análise linguística. EJA.
ABSTRACTThis article describes organized activities in the form of didactic unit accomplished by the students of EJA, Basic Education, Phase II. The aim is to assist these very same students' needs, concerning reading practice and linguistic analysis. The activities were organized based upon the “work”, once students are about fifteen year-old and they are already familiar with the theme. Moreover, they possess a sufficient cognition level to accomplish the tasks. In order to make the proposal feasible, several activities of reading practice as well as linguistic analysis were established. Different discursive genres such as informative, poetic and fable were employed. All of these genres have in common the same theme. Through this work, the students had the opportunity to practice reading, and realize that it contributes to the formation of a competent reader, able to comprehend what he/she reads as well as to reflect upon the use of language in different contexts of society.
Key words: Reading. Linguistic. Analysis. Eja.
1. INTRODUÇÃO
1 Professor da Rede Estadual de Ensino – PDE- e-mail: [email protected]
As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná trazem
como proposta para o Ensino Básico a formação de usuários competentes da língua,
de modo que pela oralidade, escrita e leitura exercitem a linguagem de forma
flexível. Antes desta proposta, por volta de 1990, o Currículo Básico para a Escola
Pública do Paraná e também os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em
1998, já apresentavam uma discussão sobre esse trabalho a ser desenvolvido pela
disciplina de Língua Portuguesa em nossas escolas.
Esses documentos oficiais evidenciavam uma nova concepção no que se
refere às práticas de leitura e conteúdos de natureza gramatical e estrutural. Na
nova perspectiva, as atividades de leitura devem ir além do simples processo de
associação de sons e letras ou decodificação de palavras isoladas e dar lugar a um
trabalho com a leitura a partir de uma reflexão sobre uma concepção de linguagem
fundamentada no processo de interação verbal em que textos de diversos gêneros
discursivos devem estar presentes.
Além da preocupação com as práticas de leitura, os documentos oficiais,
citados anteriormente neste trabalho, consideram que as práticas de escrita também
devem se fundamentar nesse mesmo processo de interação verbal, já que existe
uma relação intrínseca entre tais práticas. Consequentemente, a prática da análise
linguística apresenta-se como forma mais adequada para o professor trabalhar os
conteúdos gramaticais, a partir dos quais o texto se organiza, porque, ao analisar os
elementos gramaticais, os alunos perceberão que o texto não é constituído por
frases soltas, mas por um todo semântico.
Considerando esta preocupação com a prática escolar, não só na área de
Língua Portuguesa, mas em todas as outras áreas de ensino, a SEED criou o
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) com o objetivo de promover a
formação continuada dos professores que atuam nas escolas públicas estaduais do
Paraná. Por meio dessa proposta, os professores retornam às atividades
acadêmicas de sua formação inicial, o que lhes proporciona atualização e
aprofundamento de seus conhecimentos, possibilitando, portanto, mudanças na
prática escolar.
Neste contexto, inclui-se também a Educação de Jovens e Adultos (EJA), pois
a dificuldade dos alunos desta modalidade de ensino na realização da prática de
leitura e análise linguística apresenta-se como um problema que, como educador
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responsável pelo ensino de Língua Portuguesa, muito nos preocupa. Deste modo,
elaborou-se um material didático-pedagógico, em forma de Unidade Didática,
aplicado em sala de aula e relatado neste artigo, com o objetivo de contribuir para
melhoria do ensino de Língua Portuguesa na Educação de Jovens e Adultos, ensino
básico, fase II, das escolas públicas paranaenses.
Essa Unidade Didática é composta por textos de diversos gêneros
discursivos, centrados em um mesmo tema – o trabalho como prática humana –, em
torno do qual são organizadas atividades de leitura e análise linguística. A realização
desta proposta visa à abertura de perspectivas no sentido de formar um leitor
competente, capaz de compreender aquilo que lê e, assim, posicionar-se diante do
texto, bem como estar apto a refletir sobre o uso da língua nas diversas esferas da
sociedade, dominando, portanto, os usos efetivos da linguagem no seu meio social.
Os relatos constantes neste artigo apresentam os encaminhamentos por meio
dos quais oportunizou-se aos alunos a leitura de textos dos gêneros informativo,
poesia e fábula. A partir dessas leituras, eles puderam analisar as ideias a respeito
de um mesmo assunto, presentes nos diferentes textos, e comparar as formas
escolhidas por cada autor para organizar o seu texto. Os alunos também realizaram
atividades de reescrita de parágrafos, junção de períodos, produção de textos orais
e escritos, pesquisas e consultas a manuais de gramática e dicionários.
Dessa forma, este trabalho de pesquisa foi desenvolvido no sentido de
ampliar as habilidades de leitura e de escrita, na perspectiva de atender às
necessidades dos alunos de EJA, Ensino Básico, fase II, no que se refere à prática
da leitura e análise linguística e, consequentemente, dar-lhes condições para que
conquistem sua emancipação.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Silva (1996) considera a prática da leitura como condição fundamental para o
desenvolvimento do homem em qualquer área do conhecimento. Esse pensamento
parece ser consenso entre os profissionais da educação no Brasil. Neste sentido, as
dificuldades encontradas pelos alunos na efetivação da leitura trazem algumas
implicações que prejudicam a inserção do educando na sociedade, impedindo-o de
usufruir dos bens culturais escritos. É bom lembrar também que a prática da leitura
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está ligada ao sucesso escolar. Isso está posto em todas as modalidades de ensino
e de maneira mais acentuada na EJA, pois os jovens e adultos que frequentam essa
modalidade de ensino são oriundos das classes trabalhadoras e, muitas vezes, não
dispõem de tempo, de dinheiro e nem de locais apropriados em suas comunidades
para desenvolver a prática da leitura.
Há outro fator que deve ser considerado decisivo quando se trata das
dificuldades encontradas para o desenvolvimento da prática da leitura na escola – a
formação inadequada dos professores, que, às vezes, leva-os a conceber a leitura
apenas como decodificação, quando, na realidade, a prática da leitura é também
compreensão daquilo que é lido, e isso resulta em uma atitude por parte do leitor,
qual seja: a de se posicionar-se criticamente diante do texto.
De fato, o ouvinte que recebe e compreende o significado (linguístico) de um discurso adota simultaneamente para com este discurso uma atitude responsiva ativa: ele concorda ou discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se para executar, etc., [...] (BAKHTIN, 2000, p. 290).
Considerando essa interação entre leitor e texto como característica
fundamental da prática da leitura, podemos dizer que existe, essencialmente, uma
relação entre a leitura e a escrita: “Escrever e ler são atos complementares: um não
pode existir sem o outro.” (SILVA, 1996, p. 64).
Sobre esta relação intrínseca existente entre a leitura e escrita, Geraldi (1997)
observa que o conhecimento das categorias textuais e discursivas é fundamental no
ensino-aprendizagem da língua. Por conseguinte, as dificuldades de leitura e escrita
são decorrentes do desconhecimento de uma representação organizada e
hierarquizada do conteúdo semântico do texto, da composição textual e de sua
adequação discursiva à situação de interlocução. Sendo assim, é imprescindível
para um estudante da língua compreender que as ações se configuram na
sociedade por seus objetivos.
Refletindo sobre a prática da leitura na escola, entendemos que esta não
deve se atrelar tanto às exigências dos currículos e livros didáticos. Os textos
levados à sala de aula devem motivar o aluno para discutir determinado assunto, e,
para que esta discussão aconteça, o aluno deverá estar familiarizado com o tema
apresentado nestes textos, como observa Silva:
[...] uma pedagogia crítica da leitura da palavra deveria levar em conta as leituras preliminares que as pessoas já fizeram do real, levar em conta os limites do mundo completamente vivido por essas pessoas. E, ao longo de toda trajetória escolar, não confinar os estudantes às esferas livrescas do
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currículo, mas abrir-lhes perspectivas para um conjunto maior de experiências no território maior onde a escola se situa (SILVA, 1997, p. 19).
Pensando ainda sobre a obrigatoriedade da leitura presente nos currículos
escolares, o psicanalista e professor de literatura na Universidade de Paris, Pierre
Bayard, em entrevista à Revista Superintessante, edição de agosto de 2008, faz
algumas considerações relevantes. Para esse professor, é exatamente a obrigação
de ler que nos afasta dos livros, pois a leitura é um ato de liberdade. Bayard afirma
também que: “Quem incentiva a preguiça é a exigência de ler. Na escola, os alunos
são obrigados a decorar detalhes do texto. Isso os afasta da leitura”
(Superinteressante, 2008, p. 24). Esse distanciamento é prejudicial aos alunos, já
que é pela prática da leitura que eles poderão se apropriar dos conteúdos culturais,
por meio dos quais poderão fazer valer seus interesses dentro da sociedade, como
membros do grupo social a que pertencem.
A leitura (ou o resultante do ato de se atribuir um significado ao discurso escrito) passa a ser, então, uma via de acesso à participação do homem nas sociedades letradas, na medida em que permite a entrada e a participação no mundo da escrita; a experiência dos produtos culturais que fazem parte desse mundo só é possível pela existência de leitores (SILVA, 1996, p. 64).
Ainda sobre a leitura de textos escritos, os PCN afirmam:
A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem. Não se trata de extrair informação decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem os quais não é possível proficiência (BRASIL, 1998, P. 69).
É preciso dizer ainda que, apesar das iniciativas particulares e de outras
instituições, como a família e a igreja, as quais objetivam incentivar a leitura, a
escola ainda é a principal responsável pelo desenvolvimento da prática da leitura e
da escrita, já que estas estão intimamente ligadas.
Ainda sobre a função da escola, como instituição responsável pelo
desenvolvimento da capacidade comunicativa do aluno, Lopes-Rossi salienta que:
O papel da escola e a responsabilidade das aulas de língua portuguesa e de outras disciplinas no desenvolvimento dessa competência dos alunos que varia de acordo com as oportunidades de experiências sócio-culturais de cada um, é indiscutível. Devemos ter em mente, também, que o conhecimento e o domínio de um gênero não implica o domínio de todos. Por suas características típicas, cada gênero tem de ser conhecido e praticado em experiências sociais e escolares significativas (LOPES-ROSSI, 2002, p. 29).
Juntamente com as reflexões acerca dos conceitos relacionados à prática da
leitura, podemos também refletir sobre uma proposta de ensino de Língua
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Portuguesa e de leitura, especificamente, fundamentada na prática da análise
linguística.
O termo análise linguística “surgiu para denominar uma nova perspectiva de
reflexão sobre o sistema lingüístico e sobre os usos da língua, com vistas ao
tratamento escolar dos fenômenos gramaticais, textuais e discursivos”
(MENDONÇA, 2006, p. 205). Essa nova proposta se contrapõe ao ensino da
gramática baseado apenas na força da tradição. Nesse contexto, temos então uma
situação conflituosa entre as “velhas” e “novas” concepções que norteiam o ensino
de Língua Portuguesa atualmente em nossas escolas.
Sobre tais conflitos, a autora afirma que “a tentativa de aliar uma nova
perspectiva a formas conhecidas de ensinar é natural num processo de apropriação,
por parte do docente, de uma proposta teórico-metodológica diferente da sua prática
cotidiana” (p. 201). Contudo, a abordagem dos conteúdos gramaticais, a partir da
análise linguística, não exclui a sistematização, pois em determinados momentos
isto se faz necessário para a efetivação da análise dos fenômenos linguísticos.
Para a análise linguística, os estudos gramaticais são importantes na medida
em que se tem como objetivo não o saber sobre a língua, mas sim como usá-la nas
diversas esferas da sociedade.
O que configura um trabalho de AL é a reflexão recorrente e organizada, voltada para a produção de sentidos para compreensão mais ampla dos usos e do sistema lingüístico, com o fim de contribuir para a formação de leitores-escritores de gêneros diversos, aptos a participarem de eventos de letramento com autonomia e eficiência (MENDONÇA, 2006, p. 208).
Quanto ao fato de se ensinar ou não as nomenclaturas, Mendonça (2006)
observa que:
Na verdade, é uma falsa questão, pois a nomenclatura técnica é parte dos objetos de ensino, ou seja, nomear os fenômenos é necessário para a construção de qualquer saber científico. A nomenclatura é mais uma ferramenta no processo de aprendizagem, o que não equivale a eleger como objetivo das aulas o domínio dos termos técnicos (MENDONÇA, 2006 p. 217).
Sobre a organização curricular, é preciso pensar em uma forma de integrar a
análise linguística com a leitura e a produção de texto. Isto só será possível à
medida que os currículos forem organizados a partir de “critérios discursivos,
relativos à produção de sentidos com base em recursos e estratégias lingüístico-
discursivos, que seriam o foco da análise lingüística” (MENDONÇA, 2006, p. 2l8,
2l9).
Sendo assim, à luz dos conceitos apresentados, esperamos poder apontar
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alguns caminhos por meio dos quais, ainda que gradualmente e com muitas
dúvidas, encontremos alternativas para desenvolver, de maneira mais adequada, a
prática da leitura e da análise linguística junto aos alunos de EJA.
3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
Costuma-se considerar a escola como um lugar privilegiado para se
desenvolver a leitura e a escrita, pois é no âmbito escolar que essas práticas se
efetivam e contribuem para que se tenha acesso aos bens culturais produzidos pela
humanidade. Entretanto, quando se tem como objetivo a formação do leitor crítico e
criativo, é preciso levar em conta que a leitura e a escrita não se restringem ao
contexto da sala de aula, e, portanto, torna-se necessário trabalhar com textos que
tenham relação com a realidade dos alunos e que possam desencadear reflexões
sobre a prática de leitura e análise linguística como fator de contribuição para
alcançar a emancipação.
Dessa forma, o encaminhamento dado a este trabalho, desenvolvido em
forma de Unidade Didática, direcionado aos alunos de EJA, Ensino Fundamental II,
justifica-se pela importância de se elaborar atividades de leitura e análise linguística.
Para tanto, organizou-se um material didático composto de gêneros informativo,
poético e fábula, centrados em um mesmo tema – o trabalho. As atividades
realizadas inicialmente, compostas de questões orais, e posteriormente de questões
de leitura e análise linguística, tinham como objetivo exercitar a prática da leitura no
sentido de contribuir para formação do leitor competente, capaz de compreender
aquilo que lê e, assim, posicionar-se diante do texto, bem como proporcionar ao
aluno a oportunidade de refletir sobre o uso da língua nas diversas esferas da
sociedade.
Antes de iniciar a primeira leitura, propôs-se uma reflexão a respeito do tema Trabalho, a partir das questões seguintes:
“O trabalho enobrece e dignifica o homem.” Você concorda com esta
afirmação? Por quê?
Existe um trabalho mais importante do que outro e que, por isso, deve ser
mais valorizado?
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O melhor trabalho é aquele que traz satisfação pessoal ou o que dá mais
dinheiro?
Os trabalhadores, de maneira geral, têm consciência de seus direitos e de
sua importância para a sociedade, ou são alienados? Se achar necessário,
procure no dicionário os significados da palavra alienado e veja qual deles
se aplica melhor neste contexto.
Durante a reflexão, as observações feitas pela turma foram registradas pelo
professor no quadro de giz e, em seguida, cada aluno também registrou em seu
caderno essas observações. No decorrer dessa discussão, os alunos foram bastante
receptivos em relação ao assunto em debate e também demonstraram ter
consciência da importância do trabalho na vida do homem e que cada trabalho deve
valorizado de acordo com o grau de dificuldade para a sua realização ser.
Prosseguindo com as atividades, os alunos foram informados de que o texto a
ser trabalhado apresentaria, inicialmente, informações sobre a forma pela qual os
poetas, ao longo do tempo, trataram o trabalho rural e o urbano.
Na sequência, foram entregues aos alunos cópias de um fragmento do texto
de Renato Pompeu (texto1), publicado na Coleção Cadernos de EJA – Emprego e
Trabalho, pela Unitrabalho, em 2005 –, para que lessem primeiro silenciosamente e,
em seguida, em voz alta.
Apresentação das atividades
TEXTO 1
O POEMA “O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO” DE VINICIUS DE MORAIS (Fragmento)
Renato Pompeu
É muito raro que os poetas cantem as situações de trabalho urbano. Sobre o
trabalho no campo, a agricultura e o pastoreio, os poetas fizeram durante milênios
obras épicas e líricas, como “As Geórgicas”, do poeta romano antigo Virgílio; no
próprio Brasil colonial tivemos o arcadismo, em que os poetas mineiros cantavam
pastores e pastoras, como Dirceu e Marília. Mas sobre os trabalhos urbanos, como
o milenar artesanato e a secular indústria, nunca houve muita poesia. O trabalho
rural era considerado pelos poetas ao mesmo tempo mais “dramático” e mais “belo”,
por envolver relações diretas com as forças da natureza e estar sujeito, por
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exemplo, aos caprichos do clima, sendo assim considerado mais “heróico” do que o
calculista trabalho industrial, previsto e medido nos seus mínimos detalhes.
As exceções ficam por conta dos trabalhos industriais a céu aberto, como a
construção civil, de estradas e de usinas de energia, em que também se tem de
enfrentar a fúria dos elementos. Além disso, os poetas não costumam visitar o chão
de fábricas, mas, circulando pelas ruas e estradas, vêem de relance os trabalhos de
construção; até há poucas décadas, quando não havia proteções que prejudicassem
a visibilidade, a construção civil era um espetáculo urbano, com os pedestres
detendo-se para apreciar o andamento das obras.
Também os poetas, na sua grande maioria, oriundos das classes mais altas,
se dirigiam ao público culto e não aos trabalhadores manuais, e em geral tratavam
de temas mais “nobres”, como o amor, a morte, a natureza, as artes em geral e a
própria poesia em particular. Apenas uma minoria de poetas que, nos conflitos
sociais, simpatizavam com as causas dos trabalhadores – independente da origem
de classe do poeta –, é que procuraram chamar a atenção para os dramas dos
trabalhadores. Mesmo esses, por não terem a vivência do trabalho manual, em geral
se limitaram a cantar o que consideravam a nobreza desse trabalho, sem entrarem
em detalhes concretos.
Uma exceção no Brasil, justamente sobre a construção civil, é o poema “O
operário em construção”, do poeta Vinicius de Moraes, que conhecia o trabalho de
pedreiros e serventes por suas contemplações dos canteiros de obras em seus
passeios de deambulador pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Devemos chamar a
atenção para o fato de que, como boa poesia, o título é ambíguo: tanto significa “o
operário na construção civil” como “o operário durante a construção de si próprio”, isto
é, durante a tomada de consciência de sua posição na sociedade.
(Fragmento extraído da Coleção Cadernos de EJA. Emprego e trabalho, UNITRABALHO, MEC, Brasil, 2005, p. 6, 7)
Depois de realizar as leituras propostas, sob a orientação do professor, foi
solicitado aos alunos que observassem as características presentes no texto no que
se refere às ideias e à maneira utilizada pelo autor para organizá-las, objetivando
mostrar aos alunos que o texto pertence ao gênero informativo, já que a intenção
principal do autor é apresentar informações a cerca de um determinado assunto,
qual seja, a forma de os poetas cantarem as situações de trabalho rural e urbano, no
decorrer dos tempos. Também durante a realização dessa atividade, foi solicitado
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aos alunos que tentassem identificar o significado de algumas palavras, de acordo
com contexto em que elas foram inseridas. Alguns alunos apresentaram dificuldades
para a realização dessa tarefa, e, por isso, nesse momento, houve a necessidade de
se pesquisar em dicionários o significado de algumas palavras.
Dando continuidade ao trabalho de levantamento das ideias contidas no texto
e das características pertencentes gênero informativo, foi solicitado aos alunos que
respondessem por escrito as questões a seguir, com o objetivo de verificar as
afirmações que podem ou não ser feitas com base na leitura do texto:
1) O texto de Renato Pompeu traz informações sobre a maneira pela qual os
poetas tratam o trabalho rural e urbano. Com base na leitura deste texto, diga se as
afirmações abaixo são falsas ou verdadeiras, corrigindo aquelas que são falsas.
a) Os poetas nunca cantam as situações de trabalho urbano.
b) O poeta romano Virgílio, em suas obras épicas e líricas, tinha como
personagens os pastores Marília e Dirceu.
c) O trabalho rural era cantado pelos poetas porque eles julgavam ser esta
atividade mais heróica, já que este trabalho estava ligado diretamente às
forças da natureza.
d) Alguns trabalhos realizados a céu aberto, tais como a construção civil, de
pontes e de usinas de energia não são cantados pelos poetas.
e) Atualmente a construção civil tornou-se um espetáculo urbano, podendo
ser observado pelos pedestres que quiserem apreciar o andamento das
obras.
f) Alguns poetas são originários das classes mais populares e por isso seu
público leitor é formado por trabalhadores.
g) Durante os conflitos sociais, alguns poetas simpatizam com a causa dos
trabalhadores e procuram chamar a atenção para o drama desses
trabalhadores.
h) No Brasil, O poema “O operário em construção”, de Vinícius de Moraes,
sobre a construção civil, retrata o operário como construtor da obra e também
construtor de si mesmo.
Diferentemente do que aconteceu no momento em que se trabalhou com as
questões orais, alguns alunos tiveram dificuldades durante a realização dessas
atividades escritas, necessitando da orientação do professor, para que a tarefa fosse
realizada a contento.
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Ainda com base no texto de Renato Pompeu, foram propostas as seguintes
questões de interpretação, pesquisa e análise linguística:
1) No início do primeiro parágrafo, o autor faz a seguinte afirmação: “É muito
raro que os poetas cantem as situações de trabalho urbano.” Reescreva esta frase
eliminando o que e modificando o verbo cantar de forma adequada. Em seguida,
compare as duas frases e veja como o verbo cantar mudou. Passou do presente
(cantem) para o futuro do subjuntivo (cantarem), mas o sentido das frases
permaneceu inalterado.
2) O texto faz referência a obras épicas e líricas da Roma antiga e do Brasil
colonial. Pesquise sobre este assunto e anote em seu caderno. Depois compare as
informações encontradas por você com as de seus colegas. Aproveite para
complementar seu trabalho com outros dados que julgar importantes, presentes na
pesquisa feita por seus colegas.
3) De acordo com o texto, quais as diferenças existentes entre o trabalho rural e o
trabalho urbano?
4) Reescreva o primeiro período do segundo parágrafo, começando assim:
Os trabalhos industriais a céu aberto... Faça as adaptações necessárias – retire ou
acrescente palavras, substitua-as por outras, mas não altere o significado da frase.
Entre a forma como está no texto e a reescrita, qual você acha que ficou melhor?
Por quê?
5) Segundo o texto, os poetas sempre consideraram o trabalho rural como
“dramático”, “belo” e “heróico”. Você concorda com esta ideia? Justifique sua
resposta.
6) Junte as frases abaixo, empregando adequadamente uma das palavras
que estão entre parênteses. Faça as adaptações necessárias, eliminando o ponto
final e empregando corretamente a vírgula. Ao juntar as frases em uma só,
observaremos que elas expressam, entre si, uma relação de causa ou de
consequência em relação um fato.
a) O trabalho rural é considerado heróico pelos poetas. Eles quase não
cantam o trabalho urbano. (tanto que, porque)
b) Os poetas quase não cantam o trabalho urbano. Eles consideram o
trabalho rural como mais heróico. (porque, tanto que)
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c) Os trabalhos industriais a céu aberto também enfrentam a fúria dos
elementos naturais. Estes trabalhos, às vezes, são cantados pelos poetas.
(de forma que, pois)
Estas atividades foram realizadas com o objetivo de dar aos alunos a
oportunidade de perceber que o sentido de um enunciado, muitas vezes, depende
de outras informações que não estão explícitas nesse enunciado, sendo necessário,
portanto, recuperar tais informações implícitas e identificar os recursos linguísticos
adequados para expressar as relações existentes entre essas informações.
Finalizando a realização dos trabalhos a partir do texto de Renato Pompeu, foi
dada aos alunos a oportunidade de visitar a biblioteca e a sala de informática da
escola. Nesse momento, divididos em grupos, puderam pesquisar sobre as obras
épicas e líricas da Roma antiga e do Brasil colonial. Depois de fazer as anotações a
respeito do assunto pesquisado, de volta à sala de aula, a partir de tais informações,
organizou-se um texto coletivo que foi registrado pelos alunos em seus cadernos.
Logo após o encerramento das atividades relacionadas ao texto pertencente
ao gênero informativo, iniciaram-se os trabalhos com o gênero poesia. Nesse
momento, foram entregues aos alunos cópias de um fragmento do texto “O operário
em construção”, de Vinícius de Moraes (texto 2), extraído do site: www.cecac.org.br.
TEXTO 2
O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO (Fragmento extraído do site
WWW.cecac.org.br)
Vinícius de Moraes
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo
todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:– Dar-te-ei todo este poder e a sua
glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me
adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: – Vai-te, Satanás; porque
está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Lucas, cap. V, vs. 5-8.
Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:Não sabia, por exemplo,Que a casa de um homem é um temploUm templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele fazia
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Sendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.
E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreriaNão fosse, eventualmenteUm operário em construção.(...)
Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.(...)
Sentindo que a violênciaNão dobrava o operárioUm dia tentou o patrãoDobrá-lo de modo vário.De sorte que foi levandoAo alto da construçãoE num momento de tempoMostrou-lhe toda a regiãoE apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:Dar-te-ei todo este podersua satisfaçãoPorque a mim me foi entregueE dou-o a quem bem quiser.Dou-te tempo de lazerDou-te tempo de mulher.Portanto, tudo o que vêsSerá teu se me adoraresE, ainda mais, se abandonaresO que te faz dizer não.(...)
– Mentira! – disse o operárioNão podes dar-me o que é meu.(...)E o operário ouviu a vozDe todos os seus irmãosOs seus irmãos que morreramPor outros que viverão.Uma esperança sinceraCresceu no seu coração
E dentro da tarde mansaAgigantou-se a razãoDe um homem pobre e esquecidoRazão porém que fizeraEm operário construídoO operário em construção.
De posse do texto de Vinícius de Moraes, os alunos realizaram,
primeiramente, uma leitura silenciosa; depois em voz alta e em duplas. Durante as
leituras, observou-se a fluência e o ritmo característico do gênero poesia. Em
seguida, foi feito um debate sobre as ideias presentes no texto. Como já havia
acontecido em outros momentos do desenvolvimento dessa Unidade Didática, os
alunos se mostraram bastante receptivos, participando ativamente das atividades.
Prosseguindo com os trabalhos, foi solicitado aos alunos que se
organizassem em grupos e respondessem por escrito a questão seguinte, com o
objetivo de verificar as características do gênero poesia, fazendo uma comparação
com o texto informativo.
1) O texto que você acabou de ler, (texto 2) pertence ao gênero poesia,
diferente do texto 1, que é um texto informativo. Discuta com seus colegas e
descubra qual ou quais as diferenças e semelhanças que existem entre esses textos
e registre suas conclusões em seu caderno.
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Foram elaboradas também questões para que os alunos reescrevessem
períodos, as quais lhes deram a oportunidade de trabalhar com o uso efetivo da
língua. São elas:
1) Reescreva os cinco primeiros versos deste texto, substituindo o pronome
ele por “os operários”, fazendo as adaptações necessárias. Ao reescrever esses
versos do texto, você deve ter percebido que algumas palavras relacionadas ao
pronome ele, que foi substituído por “operários”, precisaram ser modificadas.
Consulte uma Gramática e tente explicar por que isso aconteceu.
2) No início do terceiro bloco do texto, temos a conjunção adversativa mas,
que introduz uma ideia contrária do que a dita anteriormente. Essa ideia de
adversidade pode ser expressa de outras maneiras. Veja como isso é possível,
reescrevendo os quatro versos deste bloco, substituindo tal palavra por outra de
igual sentido. Consulte uma Gramática, se necessário.
Na sequência das atividades realizadas a partir do texto “O operário em
construção”, foi solicitado aos alunos que respondessem as seguintes questões de
interpretação de texto:
1) O poeta inicia o poema citando um capítulo do Evangelho Escrito por São
Lucas, retirado da Bíblia. Isto mostra que os textos conversam entre si. O nome
dessa conversa é intertextualidade. Em que versos o poeta retoma uma citação
bíblica, dando mais um exemplo de intertextualidade?
2) Explique com suas palavras os seguintes versos do poema:
a) “que a casa de um homem é um templo,
um templo sem religião”.
b) “Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário”
c) “E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento”
d) “E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.”
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3) Por que a casa que o operário construía representava, ao mesmo tempo,
sua liberdade e sua escravidão?
Finalmente, ao término das atividades relativas ao texto de Vinícius de
Moraes, foram propostas questões de pesquisa por meio das quais os alunos
puderam ter acesso, na íntegra, ao poema “O operário em construção”, e, assim,
ampliar seus conhecimentos sobre esse poeta e ainda conhecer outros textos que
falam sobre o trabalhador:
1) Você leu fragmentos do poema “O operário em construção”, cujo autor é
Vinícius de Moraes. Agora, procure esse poema em livros ou em outras de fontes de
pesquisa e leia-o na íntegra. Isto é fundamental para que você tenha o entendimento
completo do poema. Pesquise também sobre esse nosso grande poeta, Vinícius de
Moraes, e sobre outros poemas que ele escreveu. Em seguida, escreva um pequeno
texto no qual você organizará tais informações. Leia o seu texto para seu colega. Ele
também lerá o dele para você. Juntos, vocês poderão acrescentar algumas
informações a cada um dos textos que escreveram.
2) Segundo o autor do texto 1, poucos poetas simpatizaram com as causas
dos trabalhadores. Pesquise e traga para a sala de aula, poesias ou letras de
músicas que falem sobre o trabalhador.
Dando continuidade às atividades desenvolvidas com os alunos na Unidade
Didática, iniciou-se um trabalho a partir do gênero fábula. Para tanto, os alunos
receberam cópias dos textos “A cigarra e formiga”, de La Fontaine, extraído do site:
www.saudeanimal.com.br/fabula12.htm, e “A cigarra e formiga” (A formiga boa), de
Monteiro Lobato, publicado na Coleção Cadernos de EJA. Emprego e trabalho,
UNITRABALHO, MEC, Brasil. 2005, p. 37.
Texto 3
A CIGARRA E A FORMIGA (La Fontaine)
A cigarra, sem pensar em guardar, a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno, e então, sem provisão na despensa, como saída,
ela pensa em recorrer a uma amiga: sua vizinha, a formiga, pedindo a ela,
emprestado, algum grão, qualquer bocado, até o bom tempo voltar.
“Antes de agosto chegar, pode estar certa a senhora: pago com juros, sem mora.”
Obsequiosa, certamente, a formiga não seria.
“Que fizeste até outro dia?”, perguntou à imprevidente.
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“Eu cantava, sim, senhora, noite e dia, sem tristeza.”
“Tu cantavas? Que beleza! Muito bem: pois dança agora...”
Extraído do site: WWW.saudeanimal.com.br/fabula12htm
Texto 4
A CIGARRA E A FORMIGA (A FORMIGA BOA) – Monteiro Lobato
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé do formigueiro.
Só parava quando cansadinha; e seu divertimento era observar as formigas na
eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos,
arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes
apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro.
Bateu – tique, tique, tique... Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho
de paina.
— Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a
tossir.
— Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...
A formiga olhou-a de alto a baixo.
— E que fez durante o bom tempo que não construiu a sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.
— Eu cantava, bem sabe...
— Ah!... exclamou a formiga recordando-se. Era você então que cantava
nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
— Isso mesmo, era eu...
— Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que
sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho.
Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga,
que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de
sol.
Extraído da Coleção Cadernos de EJA. Emprego e trabalho, UNITRABALHO, MEC, Brasil. 2005, p. 37.
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De posse dos textos 3 e 4, primeiramente os alunos realizaram leitura
silenciosa e depois em voz alta. Assim como se observou nos textos do gênero
poesia, os trabalhos realizados com as fábulas foram muito bem aceitos pelos
alunos. Posteriormente, com o objetivo de realizar o estudo do vocabulário,
reconhecer as características do gênero fábula e também promover uma discussão
das ideias apresentadas num e noutro texto, levando em conta o contexto de
produção, foram propostas as seguintes questões:
1) Os textos 3 e 4 pertencem ao gênero discursivo chamado fábula. Consulte
o dicionário e explique esta afirmação.
2) Procure se informar sobre os autores destes textos. Anote estas
informações em seu caderno e depois leia para seus colegas e para o professor. Em
seguida, vamos conversar sobre alguns aspectos como a data de publicação dos
textos e os diferentes modos de cada um desses autores interpretarem o trabalho.
3) Nos textos 3 e 4, temos as seguintes palavras: provisão; obsequiosa,
imprevidente; chiar; faina; manquitolando. Releia as partes dos textos em que
aparecem essas palavras e tente explicar o significado de cada uma delas de acordo
com o texto.
4) Em vários momentos, o narrador do texto 4 usa palavras e expressões
para demonstrar que a cigarra estava em situação difícil. Copie estas expressões
em seu caderno. Por que você acha que o autor usou essas palavras?
5) Provavelmente, o texto “A formiga boa”, de Monteiro Lobato, agradará mais
as crianças do que o texto de La Fontaine. Isto se deve não apenas ao fato de a
história ter um final feliz. Que outros elementos podemos encontrar no texto de
Monteiro Lobato que podem justificar esta afirmação?
6) Comparando os textos 3 e 4, vemos que o assunto em discussão é o
trabalho e o lazer. O que é valorizado num e noutro texto? Justifique sua resposta.
7) E você, o que pensa sobre o trabalho e o lazer? Como cada um deve ser
encarado em nossa vida?
8) Você já sabe que estes textos (3 e 4), devido às suas características, são
chamados de fábula. Você acha que a fábula é um gênero infantil? Comente.
Para que algumas dessas atividades fossem realizadas a contento, os alunos
tiveram a oportunidade de visitar a biblioteca e a sala de informática da escola e
assim puderam pesquisar e anotar, no caderno, várias informações sobre os autores
dos textos 3 e 4.
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Ainda com base nos textos de La Fontaine e Monteiro Lobato, com a
finalidade de dar aos alunos a oportunidade exercitar a escrita de maneira efetiva,
foram propostas algumas questões de reescrita de parágrafos, períodos e de análise
dos recursos linguísticos empregados pelos autores em seus textos:
1) As expressões destacadas nos trechos abaixo, retiradas do texto 3,
apresentam ideia de temporalidade. Reescreva esses trechos substituindo tais
expressões por outras equivalentes. Evite as repetições.
a) “Eis que chega o inverno...”
b) “Antes de agosto chegar...”
2) Em “...ela pensa em recorrer a uma amiga”, a que palavra dita
anteriormente, no texto 3, o pronome ela se refere? Por que o autor usou este
recurso? Vá ao texto “O operário em construção” e encontre outros exemplos deste
recurso.
3) Existem algumas palavras que são utilizadas para relacionar partes de um
texto, tais como: mas, e, porque, porém, por isso, entretanto, portanto, assim como.
Essas palavras são chamadas de conectivos. Junte as frases abaixo, usando o
conectivo adequado. Faça as adaptações necessárias.
a) Durante o inverno, a cigarra precisará de ajuda. A formiga, dificilmente,
ajudará a cigarra.
b) Ela é uma formiga má. Vive dizendo que a cigarra é preguiçosa.
c) Precisa sofrer para aprender a trabalhar. Existe também a formiga boa.
d)Esta formiga, certamente, ajudará a pobre cigarra. Ela se lembrará dos
momentos agradáveis proporcionados pelo canto da cigarra.
e) A formiga boa sabe que o trabalho é importante. Ela reconhece que o lazer
também tem sua importância.
4) Reescreva o período abaixo, substituindo a expressão destacada por cada
uma das expressões seguintes: ainda que, embora, apesar de, por mais que. Faça
as modificações necessárias. Use corretamente a vírgula.
“A formiga má, dificilmente valorizará o canto da cigarra, mesmo que isto alivie o
cansaço do trabalho.”
5) Reescreva o primeiro parágrafo do texto 4, passando as palavras “jovem
cigarra” para o plural. Além das alterações sofridas pelas palavras “jovem cigarra”,
que outras modificações você observou, após a reescrita desse parágrafo?
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6) Observe, nos textos 3 e 4, a maneira como cada narrador marca a fala das
personagens. Agora responda: De que maneira essas falas são marcadas num e
noutro texto? Reescreva as falas dos personagens de cada texto, fazendo a
inversão dessas marcas.
Logo após o término dessas atividades, realizou-se uma discussão sobre as
respostas dadas pelos alunos para cada uma das questões propostas, com o
objetivo de sanar as dificuldades encontradas por eles. Para tanto, o professor
apresentou no quadro de giz uma sugestão de resposta para as questões
consideradas mais difíceis pelos alunos, no momento da realização. Em seguida,
eles anotaram as sugestões e puderam comparar estas respostas com aquelas
feitas por eles. Dessa forma, essas atividades, além de lhes dar a oportunidade de
descobrir o que já sabiam, também ampliaram seus conhecimentos.
Para finalizar os trabalhos relativos ao gênero fábula, foi solicitada aos alunos
a produção de um texto com as características próprias desse gênero, a partir do
seguinte enunciado: “Escreva um texto em que você é o narrador e seus
personagens são: a formiga má, da fábula de La Fontaine, e a formiga boa, da
história de Monteiro Lobato. No seu texto, seus personagens devem dialogar.
Portanto procure utilizar a pontuação adequada para este tipo de texto. Não se
esqueça de dar um título para o seu texto.”
Antes de iniciar essa atividade, os alunos foram orientados a considerar
alguns aspectos antes de começar o trabalho de produção, tais como: a finalidade
para a qual se produz um determinado texto, uso dos conhecimentos adquiridos em
sala sobre o tema, a linguagem a ser utilizada e os recursos linguísticos
necessários.
Os textos produzidos por eles teriam como interlocutores os próprios colegas
de sala e o professor; assim, quem desejasse, poderia expor o seu texto aos
demais, o que realmente aconteceu, logo que a produção foi feita. No momento
seguinte, também aqueles que quiseram, puderam se organizar em grupos de três e
realizar uma leitura dramatizada de um dos textos produzidos em sala de aula. Esta
atividade, como a anterior, foi realizada a contento.
Por fim, os textos foram recolhidos pelo professor, revisados e devolvidos aos
alunos, para que, por meio da reescrita, pudessem fazer adequações necessárias e
relevantes para a prática de produção do gênero fábula.
Concluindo as tarefas dessa Unidade Didática, os alunos realizaram as
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seguintes atividades complementares:
1) As frases abaixo apresentam ambiguidade. Reescreva-as, a fim de que
elas permitam apenas uma interpretação. Para tanto, você poderá acrescentar,
deslocar palavras ou trechos e também usar a vírgula.
a) José encontrou Joana e disse que sua irmã estava doente.
b) A aluna enjoada saiu da sala.
c) Jose e João vão se separar.
d) A descrição de Pero Vaz de Caminha foi bem feita.
e) Comprei um carro rápido.
f) O juiz declarou ter julgado o réu errado.
g) O filho proibiu o pai de sair com seu carro.
h) Vi o acidente do caminhão.
i) O cachorro do Roberto escapou pela porta.
j) Os alunos visitaram a fábrica de ônibus.
2) Reescreva o texto abaixo, usando corretamente os seguintes sinais de
pontuação: travessão, vírgula e pontos. Lembre-se de que o uso incorreto desses
sinais pode interferir no entendimento da mensagem que se pretende transmitir. No
caso específico do travessão, é importante saber que este sinal gráfico é uma das
formas usadas para marcar a fala das personagens, quando há diálogos em um
texto escrito. Esse recurso recebe o nome de Discurso Direto.
O Fazendeiro e os filhos (parábola de domínio público)
Um fazendeiro sentiu a morte próxima e chamou os filhos para contar um
segredo.
Meus filhos eu vou morrer Quero dizer que no nosso terreno há um tesouro
escondido Se vocês cavarem vão encontrar.
Logo que o pai morreu os filhos pegaram pás e ancinhos e reviraram o
terreno de todo jeito procurando o tesouro Não acharam nada mas a terra
trabalhada produziu uma colheita nunca vista
3) Escreva um parágrafo comentando a atitude do fazendeiro. Você acha que
ele simplesmente mentiu ao contar o segredo aos filhos ou tinha outras intenções?
4) Veja outro exemplo de como a pontuação pode mudar o entendimento de
um texto.
“Um homem rico estava muito mal. Pediu papel e pena. Escreveu assim:
Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do
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alfaiate nada aos pobres. Morreu antes de pontuar a frase. A quem ele deixava a
fortuna?”
Reescreva este texto usando a vírgula de maneira que a fortuna fique:
a) com a irmã;
b) com o sobrinho;
c) com o alfaiate;
d) com os pobres.
Ao trabalhar essas questões, além de realizarem atividades de revisão, no
que se refere à pontuação, os alunos tiveram a oportunidade de desenvolver as
habilidades de uso adequado da escrita como forma de comunicação e interlocução.
Para isso, foi solicitado que lessem o último parágrafo do texto 1, no qual o autor diz
que uma característica de uma boa poesia é a ambiguidade, isto é, o duplo sentido
de algumas palavras usadas pelos poetas. Porém, nos casos em que se deseja
clareza no entendimento daquilo que se quer expressar, a ambiguidade é totalmente
indesejada.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os trabalhos desenvolvidos no decorrer desta Unidade Didática, junto aos
alunos de EJA, Ensino Básico, Fase II, mostraram resultados bastante satisfatórios e
animadores. É importante salientar que algumas condições dadas contribuíram de
maneira significativa para o bom andamento dos trabalhos. A turma de EJA, na qual
as atividades foram desenvolvidas, apresentava a maioria dos alunos com nível de
7ª e 8ª série, idade mínima de 18 anos e a sala de aula não possuía um grande
número de alunos. Dessa forma, as aulas serviram de espaço para realização de
práticas de leitura e análise linguística como fatores de contribuição para que os
alunos pudessem alcançar a emancipação.
Os textos que serviram de base para a realização das atividades
desenvolvidas contemplaram os gêneros informativo, poético e fabular. É importante
dizer que a formulação das questões sempre levou em conta o texto e o momento
da leitura. Embora os alunos demonstrassem interesse por todos os textos, ficou
claro que houve mais aceitação dos textos pertencentes aos gêneros poesia e
fábula. Assim, o texto1, pertencente ao gênero informativo, necessitou de uma maior
intervenção do professor durante as atividades de leitura.
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As atividades orais, sobre o tema “O Trabalho como Prática Humana”,
propostas logo no início da Unidade Didática, foram muito bem aceitas, havendo
excelente participação dos alunos. A partir das questões apresentadas, os alunos
falaram com facilidade sobre o assunto em discussão. Por outro lado, esta mesma
facilidade não ocorreu no momento da escrita, pois alguns alunos encontraram
dificuldades, mas isso não comprometeu sua realização, já que, a partir da
intervenção do professor, todas as tarefas foram realizadas a contento.
Considerando todas as ações desenvolvidas durante a realização da Unidade
Didática ora descrita, é importante destacar as visitas à sala de informática e à
biblioteca da escola, já que foram bem sucedidas, embora, no caso específico das
visitas à biblioteca, tenha se encontrado algumas dificuldades, dentre as quais,
podemos citar o acervo limitado e espaço físico inadequado. Contudo, foi possível
aos alunos realizarem algumas atividades fundamentais de práticas de leitura,
análise linguística e pesquisa, pois tiveram a oportunidade de desenvolver as
habilidades de consulta a dicionários e outros livros de referência, como, por
exemplo, manuais de gramática – o que também lhes deu condições de inferirem o
sentido de uma palavra pelo contexto em que aparece. Esse aspecto é de grande
importância, pois se apresenta como porta de entrada para a compreensão do texto.
Ainda sobre as visitas à biblioteca e à sala de informática, é preciso salientar
que, por meio delas, abriu-se um espaço à curiosidade, à capacidade de
observação, deixando claro que os alunos querem aprender com leituras que têm
relação com o mundo que os cerca, contrariando o senso comum, segundo o qual,
eles não gostam de ler.
Como já se expôs anteriormente, os alunos se mostraram muito receptivos
em relação às atividades orais. Assim, no decorrer dos trabalhos, aproveitando este
gosto pelo debate por eles manifestado, antes de realizar a leitura silenciosa,
algumas questões eram apresentadas e, a partir delas, organizaram-se rápidas
discussões que incentivaram os educandos para a realização das atividades
individuais de leitura. Essa proposta de abordagem do texto, realizada durante o
desenvolvimento da Unidade Didática, foi de grande importância, pois criou
subsídios para que, mais tarde, após as atividades coletivas de leitura, o ato de ler
acontecesse de forma mais efetiva.
Com relação ao processo de efetivação da escrita, as práticas foram
semelhantes às de leitura – inicialmente os alunos realizaram sozinhos várias
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atividades com questões de interpretação escrita do texto e de análise lingüística;
em seguida, as respostas dadas às questões foram discutidas coletivamente, e,
orientados pelo professor, puderam refletir sobre os usos da língua, ou seja, as
diversas formas de organizar frases e períodos, sem alterar o sentido.
Ao finalizar este trabalho, com base nas ações desenvolvidas e relatadas
neste artigo, concluímos que o objetivo de elaborar um material didático que
pudesse contribuir para a melhoria do ensino de Língua Portuguesa na Educação de
Jovens e Adultos, Ensino Básico, fase II, foi alcançado de maneira satisfatória, já
que as atividades realizadas surtiram efeitos positivos junto aos alunos envolvidos
no desenvolvimento do projeto.
REFERÊNCIAS
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BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
Coleção Cadernos de EJA, Emprego e Trabalho, UNITRABALHO, MEC, 2005, p. 6, 7, 37 e 43.GERALDI, João Wanderley. A produção de textos. In: ______. Portos de Passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 135-165.
LOPES-ROSSI, Maria A. Garcia (org). Gêneros discursivos no ensino da leitura e produção de textos. Taubaté, São Paulo: Cabral Editora e Livraria Universitária 2002.
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