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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura – Jornalismo
Ciberjornalismo
Discente: Filipa Garcia, nº. 20061430
3º ano, turma 3D2
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Existe ou não jornalismo cidadão? Afinal o que é o jornalismo cidadão?
Mas quem são os jornalistas cidadãos? O Jornalismo cidadão segue ou
não regras éticas e deontológicas? Todo nós temos a nossa opinião,
todos nós podemos ter um blog , mas será que isto faz de nós
jornalistas? Se qualquer cidadão pode ser jornalista quais são então o
limites da privacidade? De que forma é que a ausência de ética pode
determinar o futuro do jornalismo profissional?
“Jornalismo cidadão, você faz a notícia”. Hoje em dia, no seio do mundo
jornalístico, tem-se falado muito de um “novo tipo de jornalismo”, o jornalismo
cidadão. Para muitos este jornalismo cidadão é um atentado às regras e à ética
do jornalismo tradicional. Para outros, o jornalismo cidadão complementa o
jornalismo profissional/ tradicional. Mas afinal o que é o jornalismo cidadão?
Tem o nome de jornalismo-cidadão ou jornalismo participativo aquele em que
o cidadão comum participa na elaboração de trabalhos jornalísticos, sejam eles
notícias, reportagens ou qualquer outro género jornalístico.
Ao contrário dos cidadãos comuns que produzem trabalhos jornalísticos, como
é o exemplo dos bloggers, os jornalistas têm que obedecer a regras éticas,
nomeadamente ao Código Deontológico da sua profissão. Um jornalista para além de
ter mais qualidade no seu trabalho (regra geral) também há uma maior regularidade
na produção deste. Isto é, os jornalistas produzem notícias regularmente e não apenas
quando há algum acontecimento que lhes suscita mais curiosidade, como acontece no
caso do jornalista-cidadão.
Aos jornalistas profissionais, a sociedade tem o dever e o direito de exigir um
determinado profissionalismo e responsabilizá-los. Aos outros não.
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Responsabilidade, contrato social, exigência e regularidade são os conceitos
base para se estabelecer esta distinção entre jornalismo profissional e jornalismo
cidadão.
Entende-se então por jornalismo cidadão qualquer forma de conteúdo
produzido por cidadãos e divulgado sobretudo através de novas tecnologias
(telemóveis, PDA). Ou seja, tal como o próprio nome indica jornalismo cidadão, é
jornalismo feito pelo cidadão. Os cidadãos tem assim um intensivo papel de recolher,
seleccionar, analisar e difundir informação.
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J. D. Lasica é um estrategista, empresário, escritor, blogger, formador,
consultor e ainda co-fundador e director editorial da Ourmedia.org, presidente da
Social Media Group e um parceiro da Outhink Media. Para Lasica, jornalismo cidadão,
entende-se como sendo um conjunto de pequenas publicações e sites noticiosos,
através dos quais “amadores” enveredam pelo jornalismo. J.D. Lasica afirma que
quando os cidadãos contribuem com fotos, vídeos, etc, estão a fazer jornalismo
cidadão. Para J.D. Lasica, os jornalistas cidadão são pessoas antes conhecidas como
audiência. J.D. Lasica diz-nos, também, num texto publicado online, intitulado como
What is Participatory Journalism? que há jornalismo cidadão quando:
Uma audiência participa em muitos níveis (fóruns de discussão,
disponibilizam fotos, videos, reportagens, etc);
Surgem notícias independentes em sites independentes;
Cidadãos contribuem em sites de meios de comunicação;
Surgem outros tipos de media (digitais).
O jornalismo cidadão, é assim uma multiplicidade de ideias e realidades que
cada um de nós pode oferecer.
O jornalismo cidadão apareceu em 1988 nas eleições presidências nos EUA.
Durante as eleições os cidadãos perderam a confiança nos media pois aperceberam-se
que estes estavam ao serviço do poder vigente. Assim, vários cidadãos decidiram ser
eles próprios a fazerem o papel dos mass media. Simultaneamente, começaram a
emergir muitas tecnologias. Surgiu a Internet e por consequência começaram a
aparecer os blogs, os chats rooms, os wikis, os fóruns, etc, o que impulsionou o
desenvolvimento do jornalismo cidadão. Assim, o jornalista cidadão tem ao seu
dispor várias ferramentas:
os blogs- abreviatura de weblog, é uma página pessoal actualizada
regularmente por uma pessoa ou um grupo. É o fenómeno mais popular
deste universo da internet, com milhões de exemplos espalhados pelo
mundo. Num blog, é possível publicar qualquer tipo de conteúdo, de
textos a vídeos. Com ferramentas próprias de interacção, por meio de
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comentários adicionados por qualquer leitor a cada novo post, os blogs
tornaram-se a ferramenta de comunicação por excelência dos cidadãos
digitais. São fáceis de actualizar e há na web uma enorme variedade de
ofertas de serviços gratuitos;
os flogs- abreviatura de fotoblog, é um blog feito com fotos. O seu
número cresceu com a popularização das câmeras digitais e dos
telemóveis com câmeras. Flogs actualizados por telemóvel são os
chamados “moblogs” (de “mobile”, palavra que em inglês refere-se ao
telemóvel;
os vlogs- abreviatura de videoblog, o blog feito com vídeos. Um
fenómeno que evolui rapidamente, já que a maioria das câmeras
digitais e telemóveis também capturam imagens em movimento.;
podcasts- é uma forma de distribuir arquivos digitais pela internet. Vem
da fusão de duas palavras: iPod, um instruento de arquivos digitais da
Apple, e broadcast, que significa transmissão em inglês. O nome surgiu
relacionado ao iPod, mas extrapolou a associação e passou a ser
utilizado para definir um tipo de divulgação de arquivos de som, vídeo e
imagens. O podcast tem vários programas, ou episódios, como se fosse
uma série de arquivos. Eles ficam arquivados num endereço na internet
e, por download, chegam ao computador pessoal.
os wikis- Os sites wiki permitem alterar, apagar, reescrever ou adicionar
conteúdos sem a necessidade de muitos conhecimentos técnicos. O
modelo mais conhecido é a Wikipedia, a
enciclopédia virtual que surgiu em 2001, escrita e
actualizada pelos usuários. O Wikinotícias é outro
exemplo, no qual os leitores redigem e publicam
notícias, que podem ser editadas, ampliadas e reescritas por qualquer
outro leitor ou jornalista cidadão. Os Wikis são hoje muito utilizados
para a criação interactiva de documentos, inclusive dentro de empresas,
reforçando a ideia de colaboração e troca de conhecimentos.
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listas de e-mail- Trocar e-mails é uma das formas de participar da
internet, bem explorada em listas que reúnem pessoas com interesses
comuns. Nessas listas de debate, os integrantes de um grupo recebem
ou têm acesso a todas as mensagens enviadas para um determinado
endereço electrónico. É uma maneira de compartilhar informações.
fóruns- É um espaço na web para discussões e troca de ideias onde os
internautas deixam comentários, perguntas, críticas ou opiniões sobre
diversos tópicos. Ao lado das listas de e-mail, os fóruns estão entre as
formas mais antigas na web de agrupamento e prática de jornalismo
cidadão.
comunidade- Blogs, flogs, vlogs, podcasts, wikis, listas e fóruns
exploram o potencial da rede para criar comunidades. Participar
efectivamente nessas redes é uma forma de praticar o jornalismo
cidadão e nós podemos escolher entre actuar nas que já existem ou
criar uma nova.
Mas quem são os jornalistas cidadãos? O seu perfil é variado. Entre os mais
comuns estão:
Publicador - Tem páginas pessoais (blog, flog, vlog) ou produz podcasts
com notícias, independentemente do assunto abordado.
Observador – No universo do jornalismo cidadão, quem tem um
gravador, uma câmera ou um telemóvel está pronto para registrar
eventos imprevisíveis. Muitas vezes, esse observador torna-se fonte de
notícia por acaso.
Militante – É o cidadão jornalista que defende uma causa ou dedica-se a
um assunto com paixão. Nesse tipo encaixam-se os adeptos de clubes
de futebol, defensores de partidos políticos ou de causas como
ambientalismo e a defesa de minorias. O militante pode dedicar-se
também aos factos referentes à sua comunidade, seja ela um prédio,
um bairro ou uma associação.
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Comentarista – É o cidadão jornalista que se manifesta nas páginas já
existentes da web. Ele exercita o seu papel por meio de comentários em
blogs, flogs, vlogs, fóruns, comunidades ou em sites dos meios de
comunicação.
Editor - Selecciona notícias e participa em comunidades ou sites
colaborativos nos quais é possível sugerir links dos meios de
comunicação social ou de páginas pessoais. Esses tipos são apenas uma
maneira de explicar diferentes formas de participação e não são
categorias fixas, combinam-se. Um jornalista cidadão pode ser ao
mesmo tempo editor e publicador, por exemplo.
Um dos primeiros exemplos de
jornalismo cidadão surgiu no Norte da Coreia
e denominava-se de Oh My News. Este site
tornou-se muito popular pois afirmava que
“cada cidadão é um repórter”. O Oh My News
foi o primeiro jornal online a aceitar e a editar
a opinião dos leitores. Grande parte dos
contribuintes deste site são cidadãos que
contribuem com os seus textos. Actualmente este site tem à volta de 41000
contribuintes.
Outro site onde é possível fazer
jornalismo cidadão é o Independent Media
Center (Indymedia). Esta é uma rede
internacional de produtores de informação livre
e independente, de interesses governamentais
ou empresariais. Este site produz jornais, áudio e
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vídeo-jornalismo.
O Wikinotícias é também um site onde os
cidadãos podem publicar os seus artigos. É um
projecto de notícias livre. Qualquer pessoa pode
escrever, criar, ampliar ou editar um artigo.
Outro exemplo de um site onde se pode
fazer jornalismo cidadão é o iReport, lançado há
dois anos pela CNN, que permite a qualquer um publicar conteúdos noticiosos que
considere relevantes e que mereça ser partilhado. O site já conta com 225.000
colaboradores provenientes de várias regiões, como América do Norte, Europa e Ásia.
Apenas 1085 tiveram o seu material publicado na CNN até ao momento.
De facto, com o aparecimento da Internet o mundo da Comunicação Social
mudou radicalmente. A Internet é o meio mais importante desde a criação da
imprensa. Antes, ninguém conseguia escrever de forma alargada. Grande parte das
coisas que se escreviam estava confinada a um espaço muito restrito. Com o
aparecimento da Internet a informação começou atingir uma audiência global. Assim,
o aparecimento da Internet impulsionou muito o desenvolvimento do jornalismo
cidadão, permitiu que os cidadão assumissem o papel dos media.
Desta forma, o jornalismo cidadão surgiu como uma nova e emergente
perspectiva na forma de “fazer notícias”. Através da Internet os cidadãos trabalham
em algo muito real, num curto espaço de tempo. Na Internet, os cidadão são definidos
pelo que sabem e pelo que partilham.
No entanto, o aparecimento do jornalismo cidadão tem vindo a gerar muitas
discussões dentro do mundo da comunicação social. A primeira questão que se tem
colocado é: será que este serviço prestado pelos cidadãos pode ser mesmo
considerado jornalismo? Para muitos jornalistas profissionais isto é algo impensável.
Tal é impensável, primeiro porque estes cidadãos não têm qualquer tipo de formação.
Assim, muitos jornalistas profissionais consideram que os cidadãos não podem ser
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considerados jornalistas. Aliás vários jornalistas questionam como pessoas que não
têm formação profissional são capazes de escrever notícias.
Uma outra questão fundamental que se coloca constantemente é sobre a ética
das notícias produzidas por cidadãos. Vários jornalistas questionam como é que
noticias produzidas sem regras e sem técnicas jornalísticas podem seguir uma ética e
uma deontologia profissionais. De facto, no jornalismo cidadão não existem regras.
Uma das regras principais do jornalismo tradicional é a veracidade dos factos, tal como
está consagrado no ponto 1 do Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses que
diz que “O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com
honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses
atendíveis no caso”. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos
do público.”1
Deste modo, se o jornalismo cidadão não segue regras jornalísticas como
podem os leitores ter a certeza que os factos relatados são verdadeiros? Esta é pois a
grande falha do jornalismo cidadão. Neste “novo jornalismo” ninguém nos garante a
veracidade dos factos, os leitores desconhecem que cuidados o autor não profissional
tem em relação ao que produz. Esta é pois a grande diferença entre o jornalismo
tradicional e o jornalismo cidadão. Enquanto o primeiro segue regras bastante rígidas,
o segundo é totalmente desprovido de qualquer tipo de regra. Simultaneamente, há
uma outra diferença entre estes dois tipos de jornalismo. No jornalismo tradicional, o
jornalista tem que se ser imparcial e está isento de ter qualquer tipo de opinião.
Contudo, segundo muitos jornalistas, no jornalismo cidadão tal não acontece.
Para muitos profissionais do jornalismo, o jornalismo cidadão não é mais do
que a mera opinião de alguém relativamente a um determinado assunto, pelo que este
novo jornalismo é visto como um jornalismo opinativo e parcial. Será então que a
opinião de um cidadão pode ser considerada jornalismo? Grande parte dos
profissionais da comunicação acredita que não.
1 Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses
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Mas, não são só os próprios jornalistas que criticam o jornalismo cidadão.
Muitos órgãos comunicacionais também estão contra este “novo jornalismo”. Tal é o
caso do New York Times, que considera que o jornalismo cidadão abandonou o grande
princípio do jornalismo: a objectividade.
José Luis Orihuela, pesquisador, conferencista, blogger e
professor na Faculdade de Comunicação da Universidade de
Navarra, também não é a favor do jornalismo cidadão. Contudo,
considera que os blogues são como uma memória extensiva, um
conceito muito rico. Para o professor, os blogues permitem três
coisas igualmente importantes: publicar, partilhar (através dos tags)
e reutilizar (optimizar a nossa matéria com a dos outros).
José Luis Orihuela considera que jornalismo cidadão é o conceito muito
inadequado para descrever o que se está a passar no mundo da comunicação social.
Para o professor, o jornalismo é algo que se estuda, algo que segue uma ética e uma
deontologia e que tem uma função social muito importante.
José Orihuela reconhece que os blogs são importantes e que têm uma
repercussão social muito importante. Tal como ele afirma, nenhum meio de
comunicação social pode substituir a presença das pessoas numa guerra, num desastre
natural, etc. Nenhum mass media pode substituir as imagens e a informação que a
pessoa presente no local pode captar, até porque se há coisa que os jornalistas não
controlam é o tempo. Luis Orihuela realça inclusive a importância da Wikipédia.
Mas, Orihuela diz que “los blogs no son periodismo, ni nuevo ni viejo; no hay,
en la inmensa mayoría de los blogs, la más mínima intención por hacer periodismo ni
los bloggers son considerados como periodistas. Lo que tienen los blogs es, por una
parte, un impacto sobre la esfera de la comunicación pública, ya que son cauces para
hacer periodismo. En estos cauces figuran periodistas en plantillas de diferentes
medios de comunicación escribiendo en blogs oficiales de estos medios o blogs
personales. Aún así, un periodista puede tener su propio blog, pero no le da la
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condición de periodista el hacho de trabajar en este formato, sino una formación
específica”.2
Orihuela afirma que é uma falta de respeito considerar estes blogs jornalismo e
considera portanto que apesar de os blogues serem importantes nunca vão substituir
o jornalismo tradicional. Para o professor um dos grandes problemas dos blogues
prende-se com o facto de grande parte dos escritores manterem-se no anonimato, o
que por si só retira credibilidade ao que é escrito.
José Luis Orihuela fala-nos ainda da existência de jornalistas que tem os seus
própios blogs. No entanto, Orihuela considera que mesmos nestes casos não podemos
considerar que se trata de jornalismo. Ou seja, um jornalista pode ter o seu próprio
blog e escrever lá o que quiser, mas enquanto o está a fazer, não está a exercer a sua
função de jornalista.
José Luis Orihuela traça um cenário colorido quanto ao futuro do jornalismo
profissional. O professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra,
em Espanha, pensa que não é possível imaginar-se um futuro sem jornalistas
profissionais, pois “Al contrario, cuanto más contenido se genere, más necesaria será
la función de quienes se dedican profesionalmente a la selección, el análisis, la
interpretación y la valoración de la información disponible.”
Para José Luis Orihuela, “pode-se escrever um blogue sobre tudo o que nos
apaixone”, como referiu no 3º Encontro Nacional e 1º Encontro Luso-Galaico sobre
Weblogs. Mas o professor não concorda com a expressão “jornalista cidadão”: “los
blogs no son periodismo, ni nuevo ni viejo; no hay, en la inmensa mayoría de los blogs,
la más mínima intención por hacer periodismo ni los bloggers son considerados como
periodistas.” Orihuela considera que os blogues “son un medio de comunicación
personal que tiene un impacto relativo sobre el ecosistema mediático en la medida en
que constituye un nuevo cauce de comunicación pública”.
2 El periodismo y los ciudadanos
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A expressão "jornalismo do cidadão" adoptada pela maioria dos órgãos de
comunicação social "é ridícula", defende João Canavilhas, professor da Universidade
da Beira Interior e jornalista. O investigador prefere chamar-lhe "participações do
cidadão" e não vê diferenças entre elas e as tradicionais cartas dos leitores para que se
justifique o rótulo "jornalismo do cidadão".
No entanto, se existem muitas pessoas que são contra o
jornalismo cidadão, também são muitos aqueles que estão do lado
deste “public journalism”.
É o caso do ex-colunista de tecnologia do jornal americano
San Jose Mercury News, Dan Gillmor, um dos mais defensores do
jornalismo cidadão. No seu livro “We the Media”, Gillmor utiliza a
expressão “we journalists”, pelo que subentendemos que Gillmor considera que todos
os cidadãos podem ser jornalistas. O ex-colunista fala-nos da existência de sites
através dos quais temos alertas noticiosos praticamente em tempo real. Este trabalho
tão exigente é feito por cidadãos repórteres.
Gillmor explica-nos que os cidadãos utilizam os media e as tecnologias para
contactarem com o público. Nesta nova era comunicacional as pessoas têm um
objectivo muito definido: entender o que se passa no mundo da comunicação social.
Em “We the media”, Dan Gillmor salienta a grande importância que o
jornalismo cidadão tem tido na cobertura de diversos desastres mundiais. O primeiro
caso deu-se em 2002 com a queda das Torres gémeas em Nova Iorque. Aí os cidadãos
fizeram o papel de repórteres e captaram imagens que nenhum órgão da comunicação
social conseguiu captar, pois nao presenciou o momento.
O mesmo aconteceu em 2004 com o Tsunami no Sul da Ásia, em 2005 com os
atentados em Londres e também com o furacão Katrina nos EUA. Durante estes
acontecimentos os mass media tinham um acesso muito difícil à informação, por isso
só os cidadãos que estiveram envolvidos directamente nos desastres puderam captar
imagens e fornecer informação. Nestes casos, os cidadãos tiveram um importante
papel e pela primeira vez assumiram o papel dos mass media. Ou seja, existem
momentos em que este papel activo dos cidadãos é extremamente necessário.
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Dan Gillmor tem o seu próprio blogue denominado Center for Citizen media,
onde aborda vários assuntos relacionados com o jornalismo cidadão.
Em relação aos media tradicionais, Gillmor afirma que cada vez mais estes
estão a adaptar e a utilizar as técnicas disponiveis na Internet.
O autor acredita que, cada vez mais, o público vai-se tornar parte integrante do
processo de construção das notícias, mas não considera isso uma ameaça. Para
Gillmor, o jornalismo cidadão não vai substituir o lugar dos jornalistas profissionais,
que terão sempre de existir para recolherem factos, para fazerem perguntas com uma
certa disciplina e para se dirigirem a um público mais vasto. Dan Gillmor diz que o que
tem vindo a aprender é que o público, se tiver oportunidade, tem muito para dizer. A
Internet é o primeiro meio de informação de que o público é proprietário, o primeiro
meio que lhe deu voz (“That doesn’t mean there isn’t a place for pro-journalists, who
will always be there— who need to be there—to gather the facts, ask questions with
some measure of discipline and pull together a larger audience. What I’ve learned is
that the audience, given half a chance, has a lot to say. The Internet is the first medium
owned by the audience, the first medium to give the audience a voice.”)3. O autor
afirma mesmo que os seus leitores fazem dele um melhor profissional (“the major
value has been in the way my readers have made me better at my job.”).
Mas Dan Gillmor não esconde o receio de que o jornalismo de investigação, por
questões económicas, venha a diminuir, ou mesmo desaparecer. Pois não é possível
desenvolver este tipo de jornalismo através da Internet: “What blogger will take on the
next Watergate scandal the way The Washington Post did?”.
Por um lado, o autor de “We The Media” acredita que os jornalistas podem
aumentar a sua credibilidade se ouvirem os seus críticos online. Por outro lado,
reconhece que as notícias publicadas pelos jornalistas profissionais têm muitas vezes
origem nas informações concedidas pelos cidadãos. Dan Gillmor relembra-nos que
algumas das mais importantes fotografias e vídeos da história recente da informação
foram criados por amadores. Mas recorda que a participação do público na construção
3 We Media
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noticiosa não é de agora. Por exemplo, há muito tempo que os leitores escrevem
cartas ao director de um jornal ou os jornalistas atendem telefonemas de elementos
do público que fornecem dicas ou apresentam reclamações. A diferença reside na
quantidade e velocidade de transmissão de informação / de interacção entre
jornalistas e cidadãos. Dan Gillmor fala em “interactive Journalism” e “open source
journalism”.
Jay Rosen também é um dos que é a favor do jornalismo
cidadão. Rosen, é professor de jornalismo na Universidade de
Nova Iorque e é um dos grandes defensores do jornalismo
cidadão e define-o como “When the people formerly known as
the audience employ the press tools they have in their
possession to inform one another, that’s citizen journalism”.4
Jay Rosen tem um blogue intitulado Press Think, onde escreve sobre os mass
media e o seu desnvolvimento na era da Internet. Jay Rosen afirma que as pessoas
hoje conhecidas por jornalistas cidadãos, antigamente eram conhecidos por audiência.
O professor considera que o jornalismo cidadão é como uma base de dados, um
espaço que armazena fontes online.
A jornalista, Ana Carmen Foschini, de São Paulo trabalha
com novas tecnologias via internet. A jornalista editou livros como
Blog, Podcast, Flog&Vlog e Jornalismo Cidadão, que estão
disponíveis gratuitamente no seu site. Carmen Foschini defende
que "Só por sorte do destino -e ainda que assim mesmo há
inúmeros casos - a contribuição do cara que não é profissional de comunicação é
redondinha, pensante, estruturada, criativa, confiável, ética, pertinente, responsável,
dá voz aos dois lados, verifica informações antes de divulgá-las e reúne todos os
atributos imagináveis para o conteúdo de qualidade. É pura sorte, uma variável
4 Press Think
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metafísica. O leigo não tem ideia de que o que produz tem de ser assim ou assado, se o
faz, é por intuição ou porque sabe de orelhada. Uma saída para que haja um salto de
qualidade pode ser contar ao leigo o que é bacana fazer quando se publica na web."
Esta jornalista deixa clara a sua posição em relação às controvérsias existentes
em volta do tema “Jornalismo versus Jornalismo do Cidadão”. Para Ana Foschini, o
jornalismo cidadão não é um concorrente do jornalismo tradicional: “Eles podem ser
aliados em alguns pontos e podem estar em campos opostos em determinados temas
e debates.” Quando ao futuro do jornalismo profissional a autora afirma que “Não
tenho respostas sobre a crise do jornalismo tradicional, não sei como conciliar a
profissão com o direito de todos à informação (...)”
O assunto é polémico, já que os utilizadores da internet se colocam no lugar do
jornalista produzindo uma ilimitada oferta de conteúdo, podendo até banalizar a
profissão. Por outro lado, acredita-se que o jornalismo cidadão colabora com o
trabalho dos jornalistas, pois expressa opiniões, e até mesmo, a visão da comunidade,
ou seja, complementa o trabalho do jornalista. Na realidade a credibilidade é um
ponto importante em qualquer tipo de jornalismo. Não se pode acreditar que tudo que
um jornalista escreve é perfeito, porém, quem não é jornalista e escreve, é duvidoso.
No meu entender, não podemos considerar que este papel desempenhado
pelos cidadãos comuns é jornalismo. Todos nós temos a nossa opinião, todos nós
podemos ter um blog, mas será que isto faz de nós jornalistas? Penso que não. Para
se fazer uma notícia temos que seguir certas regras e certas técnicas que só
aprendemos quando frequentamos um curso de jornalismo. Se qualquer cidadão
pode ser jornalista quais são então o limites da privacidade? Não poderíamos confiar
informações a ninguém, correndo o risco de vermos espelhado num blog informações
que não queríamos que fossem divulgadas.
A falta de regras éticas e deontológicas no trabalho de jornalismo cidadão foi
exactamente isto que aconteceu com o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.
A 11 de Junho de 2008, num evento da campanha de Hillary Clinton, em Dakota
do Sul, uma mulher de 61 anos se espremeu na multidão para apertar a mão do ex-
presidente Bill Clinton e trocar algumas palavras com ele sobre um artigo publicado na
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revista Vanity Fair. Poucas horas depois, o conteúdo desta
conversa – num gravador digital com duração de três
minutos – estava disponível no site Huffington Post. Nele, é
possível ouvir o ex-presidente chamar “desonesto”, (e
outras palavras nada simpáticas, como “nojento” e
“escumalha”) a Todd Purdum, autor do artigo na Vanity
Fair e ex-jornalista do New York Times.5 No artigo, Purdum
apelidava Clinton de mulherengo.
O ex-presidente provavelmente ficou surpreso ao
ver as suas afirmações no site, pois Mayhill Fowler, a
senhora com quem ele conversou brevemente, não tinha credencial que a
identificasse como repórter e não chegou a revelar a sua intenção de entrevistá-lo.
Esta não é a primeira vez que Mayhill omite factos para conseguir cumprir a sua
tarefa jornalística. Em abril, ela alegou ser colaboradora da campanha do senador
Barack Obama para conseguir acesso a um evento de arrecadação de fundos do
candidato, em São Francisco – evento para o qual os meios de comunicação não
tinham sido convidados. Na ocasião, o gravador digital da "jornalista cidadã" registou o
senador dizendo algo que não agradou aos moradores de Pensilvânia: "Não é surpresa
que, por não crescerem economicamente, eles se agarrem a armas ou à religião".
5 The Huffington Post
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Tal como, José Luis Orihuela, penso que os blogs e este jornalismo cidadão são
muito importantes para o jornalismo tradicional. Existem certos momentos e certas
situações em que os jornalistas não conseguem e nem podem noticiar certos factos.
Nesses momentos a ajuda dos cidadãos é muito importante. Por exemplo durante os
atentados de Londres só quem vivenciou o momento pode relatar com clareza e com
intensidade o que se viveu na altura. Só quem esteve lá naquela hora, naquele local é
que consegui captar imagens, coisa a que os jornalistas não conseguiram aceder. Neste
sentido penso que o jornalismo cidadão é importante pois é um complemento muito
importante para o jornalismo tradicional.
Ao efectuar a minha pesquisa, descobri que ronda alguma controvérsia em
torno da própria definição de jornalismo, muitas vezes confundido com jornalismo
cívico. Também verifiquei que, por um lado, há autores que acreditam apenas no
jornalismo enquanto prática profissional. Para muitos, somente os jornalistas
profissionais são capazes de seguir os rigores e éticas envolvidas no processo de relatar
notícias. Por outro lado, há muitos jornalistas profissionais que apoiam o jornalismo do
cidadão, considerando-o indispensável para um desenvolvimento mais positivo do seu
trabalho. Muitas vezes os próprios jornalistas aderem ao jornalismo cidadão,
escrevendo em blogues pessoais, de forma livre, sem seguir obrigatoriamente uma
hierarquia tradicional do jornalismo.
Eu penso que se está a valorizar uma fonte (porque os jornalistas cidadãos não
são mais do que fontes). A única diferença é que podem ser eles próprios a publicar as
suas informações, como bem entenderem. Mas também eles (e só eles) devem
responder por aquilo que publicam. Penso que falar em jornalismo do cidadão é
misturar as coisas.
O jornalista tem que responder perante os conteúdos que publica. E um
jornalista cidadão? Que riscos corre e o que tem a pagar? Um jornalista profissional
põe a sua carreira em perigo. Mas um jornalista cidadão apenas se arrisca a responder
perante a justiça. Não vai ser “apontado” pela sociedade, pois esta não lhe atribuiu o
dever de informar.
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Assim, penso que o papel desempenhado pelos cidadãos não é jornalismo, é
sim um complemento do jornalismo. Todos nós temos as nossas opiniões, até os
próprios jornalistas tem a sua opinião e tem o direito a dar. No entanto o jornalismo
não deve nem pode ser opinativo. O jornalismo tradicional trata-se de relatar factos e
não comentá-los. Trata-se de contar a verdade”nua e crua”, objectiva e
imparcialmente.
Portanto, penso que não podemos dizer que há jornalismo cidadão. Até porque
como Orihuela diz “só há jornalismo quando há jornalistas”. Logo, se os cidadãos não
são jornalistas não existe jornalismo cidadão
Mas, apesar de considerar que não é jornalismo, penso que este papel
desempenhado pelos jornalistas é muito importante.
Em suma, penso que não existe um “jornalismo cidadão”. O que existe é um
importante trabalho de complemento de informação.
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Bibliografia
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www.pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo
Jornalismo cidadão:
www.pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo_cidadao
www.overmundo.com.br/banco/conquiste-a-rede-jornalismo-cidadao-voce-
faz-a-noticia
www.en.wikipedia.org/wiki/Citizen_journalism
Ana Carmen Foschini:
http://www.anacarmen.com/blog/2009/04/13/jornalismo-e-blogs/
http://www.anacarmen.com/blog/2008/04/23/o-que-se-comenta-a-respeito-
de-jornalismo-cidadao/
http://www.anacarmen.com/blog/2008/03/21/atropelou-o-verbo-e-fugiu-
qualidade-no-jornalismo/
http://www.anacarmen.com/download/jornalismocidadaomaio2008.pdf
Dan Gillmor
www.bayosphere.com/blog/dangillmor
www.dangillmor.com
www.wethemedia.oreilly.com
www.en.wikipedia.org/wiki/Dan_Gillmor
www.citmedia.org
Gillmor, Dan, We Media,
http://www.hypergene.net/wemedia/download/we_media.pdf
20
Jay Rosen:
www.journalism.nyu.edu/pubzone/weblogs/pressthink/
www.en.wikipedia.org/wiki/Jay_Rosen
www.thenation.com/doc/20050404/mackinnon
J.D. Lasica:
www.jdlasica.com
http://www.jdlasica.com/webjournalism.html
Outros :
www.unav.es/digilab/cv/jlo/
http://brunogomesjd.blogspot.com/2008/05/jornalismo-cidado-vs-
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http://route14.blogspot.com/2006/10/jornalismo-do-cidado.html
http://historiadordoinstante.blogs.sapo.pt/6920.html
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