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INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, EXERCÍCIO PROFISSINONAL E CONDIÇÕES
DE TRABALHO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Este painel objetiva discutir as pesquisas sobre a inserção na carreira, abordando a
questão das dificuldades e descobertas nos processos de socialização de professores da
educação básica. Com base na análise de teses, dissertações e artigos, o primeiro
trabalho apresenta informes de investigações sobre o processo de inserção profissional
dos professores iniciantes na educação básica e busca realizar um estudo panorâmico
sobre o tema tendo como lócus de pesquisa o IV Congresso Internacional sobre
Professorado Principiante e a Inserção Profissional à Docência. O segundo artigo tem
como objetivo apresentar o estado do conhecimento sobre professores iniciantes na
educação infantil tendo como desafio mapear e discutir a produção acadêmica tentando
responder quais aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados nas
diferentes pesquisas publicadas. O terceiro artigo busca identificar e analisar, sob o
olhar do sujeito em exercício na função docente, quais são as dificuldades, desafios e
descobertas que caracterizam a construção da profissionalidade docente das professoras
em início de carreira na educação infantil, tendo como banco de dados os trabalhos
apresentados em grandes eventos como Anped, Endipe, Congreprinci e também os
artigos apresentados em periódicos Qualis A e B. Com esses estudos foi possível obter
um mapeamento teórico sobre como o processo de inserção profissional na Educação
básica está sendo caracterizada e discutida nas produções acadêmicas.
Palavras-chave: Inserção Profissional. Professor Iniciante. Educação Básica.
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PROCESSO DE INSERÇÃO PROFISSIONAL: PRINCIPAIS DIFICULDADES,
DESAFIOS E DESCOBERTAS DE PROFESSORES INICIANTES DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Letícia Marinho Eglem de Oliveira
RESUMO
Vários estudos e pesquisas sobre a estrutura da carreira docente delimitaram uma
sequência de fases que os professores vivenciam durante todo seu exercício profissional.
Cada docente vive essas fases de maneira única e singular, não havendo assim um
sequencia ou ordem pré-estabelecida. Uma dessas fases refere-se à entrada na carreira
(1-3 anos), período marcado por grandes aprendizagens e também por grandes
dificuldades e desafios que influenciam, de forma positiva ou negativa, no
desenvolvimento profissional, na construção da identidade e na permanência ou
desistência da carreira desses professores. Inserido nesse campo investigativo, estão as
professoras iniciantes que atuam na educação infantil, etapa da educação básica que
vem ganhando destaque nas últimas décadas por sua relevância na formação de crianças
entre 0 a 5 anos de idade, o que gerou uma grande preocupação com o processo de
profissionalização das profissionais que atuam e irão atuar nessa etapa. Diante destes
apontamentos, o presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar, sob o olhar
do sujeito em exercício na função docente, quais são as dificuldades, desafios e
descobertas que caracterizam a construção da profissionalidade docente das professoras
em início de carreira na educação infantil. Por meio de um levantamento bibliográfico,
tendo como banco de dados os trabalhos apresentados em grandes eventos como Anped,
Endipe e Congreprinci e também os artigos apresentados em periódicos classificados
em qualis A e B, foi possível obter um mapeamento teórico sobre como o processo de
inserção profissional, a profissionalização e a educação infantil estão sendo
caracterizadas e discutidas nas produções acadêmicas.
Palavras-chave: professores iniciantes, profissionalidade docente e educação infantil
Este trabalho tem como objetivo conhecer e estudar as produções já existentes
sobre a temática da professora iniciante na educação infantil no período entre 2000 a
2014. Esse levantamento foi realizado utilizando diferentes bancos de dados
possibilitando obter um mapeamento teórico sobre o objeto da pesquisa, identificando
assim como essa profissional e essa etapa da educação básica vem sendo caracterizada e
discutida nas produções acadêmicas.
Este levantamento bibliográfico foi organizado buscando selecionar produções
entre teses, dissertações, artigos apresentados nos GTs 7 e 8 de grandes eventos como:
ANPED, ENDIPE e CONGREPRINCI e periódicos (qualis A e B) que discutissem
sobre as especificidades do início da carreira docente dentro da realidade da educação
infantil sob diferentes contextos e abordagens.
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É necessário ressaltar que essa seleção atende aos seguintes critérios: a) ano de
conclusão, b) título dentro da temática, c) palavras-chave, d) leitura dos trabalhos
selecionados, e) fichamento das produções.
Mesmo obtendo uma grande quantidade de trabalhos analisados (136) foi
possível perceber que a temática da professora iniciante na educação infantil não está
chamando atenção de nossos pesquisadores, pois somente 19 trabalhos foram
selecionados, apesar dos anos iniciais da docência ser considerado como crucial para a
construção identidade profissional e permanência ou desistência da profissão.
Essa baixa produtividade pode ser observada no gráfico abaixo onde é
demonstrado a quantidade de produções analisadas e o número de trabalhos que
contemplam a temática.
QUADRO 1 – BANCO DE DADOS
Fonte: Dados analisados durante o primeiro semestre de 2015 e revisados em fevereiro de 2016
Durante a construção do levantamento bibliográfico alguns pontos se
destacaram, revelando aspectos importantes sobre a profissionalidade da professora
iniciante e da professora de educação infantil, especificidades do trabalho docente
(dessa etapa), pontos de similaridades entre os trabalhos selecionadas e dados
reveladores sobre o processo de inserção profissional, podendo até mesmo serem
classificados como pontos de mudança ou inclusão nas escolas que recebem esse novo
profissional.
Um dos primeiros elementos que mais chamou atenção durante toda a análise do
levantamento, diz respeito à similaridade das dificuldades, desafios e descobertas
apontados pelos sujeitos que participaram das pesquisas selecionadas. É impressionante
como a presença de sentimentos negativos, a preocupação em organizar o trabalho
Banco de Dados Trabalhos Analisados Trabalhos selecionados
Teses 7 -
Dissertações 23 -
Anped 11 3
Endipe 8 2
Congreprinci 51 9
Periódicos (qualis A) 10 -
Periódicos (qualis B) 26 5
Total 136 19
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pedagógico e o recebimento de críticas (tanta da equipe escolar como dos pais dos
alunos) aparecerem na grande maioria dos artigos.
Este dado permite afirmar que o início da docência é realmente um período de
grandes conflitos, tensões e desafios aos iniciantes. Afirmação essa não somente
levantada nessa pesquisa, mas também em várias outras, como os estudos realizados por
Castro (1995) e Fontana (2000), Huberman (1993), Imbernón (2001) e Marcelo Garcia
(1999), exemplificando alguns.
De acordo com Veenman (1984) os primeiros anos de exercício profissional dos
professores pode ser dramático e até mesmo traumático. Um dos maiores fatores que
contribui com essa tensa fase diz respeito ao “choque de realidade”, nesse momento os
docentes encontram a grande discrepância entre seus ideais de educação/ensino e a dura
realidade encontrada no dia-a-dia da sala de aula.
Contudo, não somente de desafios e dificuldades o início da docência é feito, os
iniciantes também vivenciam grandes descobertas que por muitas vezes permitem a
esses profissionais enfrentarem os aspectos negativos dessa etapa. Da mesma forma
como ocorreu anteriormente, foi possível identificar descobertas comuns entre as
pesquisas selecionadas.
A necessidade de continuar a formação e sua busca, a percepção da importância
em partilhar ideias, dúvidas e dificuldades para o desenvolvimento profissional, o
estágio como uma rica e poderosa ferramenta para a inserção profissional, conseguindo
até mesmo suavizar o choque de realidade tão comum nessa etapa da docência,
percepção que a formação inicial não proporcionou recursos suficientes para início da
carreira e a necessidade de organizar programas de iniciação à docência, foram alguns
dos elementos apontados pelos sujeitos dos trabalhos selecionados no levantamento.
Sobre a necessidade de organizar programas de iniciação à docência, Carlos
Marcelo Garcia comenta:
Os programas de iniciação para professores principiantes dão resposta à
necessidade de ser facultada assessoria e formação aos docentes que se
encontram no seu primeiro ano de ensino. Respondem, como vimos, à
concepção de que a formação de professores é um contínuo que tem de ser
oferecida de um modo adaptado às necessidades de cada momento da carreira
profissional. (GARCIA, 1999, p.112)
Para termos uma melhor visualização desses dados, foi construído um quadro
com todos os desafios, dificuldades e descobertas apontados pelos sujeitos das 19
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pesquisas selecionadas neste levantamento bibliográfico, assim poderemos obter uma
perspectiva mais exata sobre o processo de inserção profissional de professoras que
atuam na educação infantil.
Primeiramente as respostas foram anotadas e separadas entre duas categorias,
descobertas e desafios e dificuldades. Após esse momento, as respostas foram
agrupadas de acordo com seus significados e temáticas, gerando assim, vários campos
de investigação sobre essa professora e seu período de inserção profissional. Os quadros
abaixo exemplificam essa organização com algumas respostas selecionadas.
QUADRO 2- DESCOBERTAS, DIFICULDADES E DESAFIOS
DESCOBERTAS DIFICULDADES E DESAFIOS
ANPED
Percepção da necessidade de continuar a formação. Formação continuada
Prática como fonte de conhecimento Partilhar ideias e dúvidas Novas demandas: organização escolar Desconhecimento sobre suas próprias
defasagens Necessidade de organizar programas de
iniciação à docência Necessidade de pesquisar mais, ler,
estudar Partilhar dificuldades
Autonomia na docência Lidar com crianças pequenas Ansiedade Domínio do conteúdo Desconhecimento sobre suas próprias
defasagens Choque de realidade Pressão dos pais dos alunos, da direção Controle de turma Organização do trabalho pedagógico Tomar decisões coerentes com seus valores Desconhecimento inicial sobre a ed. infantil
ENDIPE
Necessidade de ter estratégias de ensino Necessidade de acompanhamento
próximo para as professoras iniciantes, podendo até mesmo ser transformado em políticas públicas
Necessidade de pesquisar mais, ler, estudar
Partilhar dificuldades
Ansiedade, insegurança, medo e desamparo
Relação com os pais dos alunos ligada a legitimação do trabalho
Domínio de sala Preocupação em saber intervir no
desenvolvimento das crianças.
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CONGREPRINCI
DESCOBERTAS DESAFIOS E DIFICULDADES
Formação Inicial muito distante da realidade da ed. Infantil
Faculdade deixou a desejar, muita teoria Importância da formação inicial Necessidade de aprofundar os estudos
sobre ed. Infantil Importância dos cursos oferecidos pela
secretaria de educação Valorização do magistério Importância do estágio para a atuação
docente e como primeiro contato com a escola
Relação entre as professoras iniciantes e as experiências: encontro de construção de saberes docentes
Singularidade na construção da identidade profissional
Trabalho colaborativo é importante para o crescimento do iniciante
Estabelecer relação entre o que se estudou e o contexto educativo
Angústia ao se deparar com a turma nova
Insegurança ao desenvolver o trabalho docente
Trabalho colaborativo na escola: professores novos e antigos: relação difícil
Insegurança Infraestrutura e recursos materiais Formação continuada: escola deve
ser lócus de formação Professores experientes não
desejam continuar suas formações Não há tempo livre Choque com a realidade social das
crianças Turma com muitos alunos
PERIÓDICOS, QUALIS B
DESCOBERTAS DIFICULDADES E DESAFIOS
Quer ser identificado como uma pessoa esforçada, que gosta de inovar
Quer ser reconhecido pelo bom envolvimento com as crianças
Quer merecer o respeito e carinho dos alunos
Revela a importância do compromisso que o professor de educação infantil possui
Caráter de continuidade de aprendizagem da profissão
Ambiente de trabalho como espaço de formação
Necessidade de criar programas de iniciação ao ensino para professores iniciantes
Importância da parceria com a coordenação
Construção da identidade profissional na vivência da ed. Infantil
Busca de formação constante Prática cotidiana é um espaço de
aprendizagem
Sentimentos contraditórios que levam o pensamento para a desistência da profissão
Preocupação em manter a qualidade do ensino
Busca por autonomia em sala de aula Lidar com crianças pequenas Ansiedade Transformação do conhecimento em
ensino Pensamentos de desistência Receptividade Bom relacionamento com a equipe de
trabalho e com os pais dos alunos Fase de adaptação das crianças Busca de formação constante Angústia, medo, sofrimento, decepções Lidar com turmas lotadas Cobrança da equipe técnica da escola e
dos pais Tensão Relação com os colegas de trabalho Preocupação com as regras institucionais
da escola.
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Necessidade de estabelecer parcerias com outros profissionais docentes da instituição.
Falta de opção na escolha da etapa da educação básica
Angústia, solidão Fonte: Oliveira, Letícia
Como podemos observar a quantidade de dados é grande e as similaridades
também. Um dos pontos que mais me chamou atenção refere-se a duas temáticas, que
de certa forma estão interligadas, a necessidade de criação de programas de iniciação à
docência e a necessidade de partilhar dificuldades, ideias e descobertas juntamente com
a presença do professor mais experiente no próprio local de trabalho do iniciante.
No Distrito Federal ainda não existem programas ou projetos que acompanhem o
professor iniciante de uma forma mais sistemática e formal em seu próprio ambiente de
trabalho, contudo, os dados obtidos com esse trabalho indicam a real necessidade da
elaboração de programas, projetos e até mesmo políticas públicas com esse intuito, ação
que poderia minimizar o abandono tão visível desse profissional.
É necessário indicar que já existe esse tipo de iniciativa pelo mundo, inclusive
no Brasil. Um dos trabalhos selecionados, “Desafios enfrentados por professoras
iniciantes no processo de docência” (CALIL, ALMEIDA, 2012) discute sobre essa
temática de forma bastante aprofundada, trazendo informações sobre os mais diversos
programas em funcionamento, inclusive uma lei que regulamenta essa proposta.
O projeto de Lei n° 227 desenvolvido pelo senador Marco Maciel, Residência
Pedagógica da Unifesp, Residência Pedagógica da Unesp e o projeto “Percursos de
formação e experiências docentes: um estudo com egressos do curso de pedagogia da
faculdade de formação de professores da UERJ” são alguns exemplos das iniciativas
discutidas neste trabalho.
Apesar de não existir um programa específico de acompanhamento dos
iniciantes em seu ambiente de trabalho, o Ministério da Educação (MEC) possuiu
políticas de inserção à docência e trabalhos direcionados aos futuros professores. Essas
políticas são discutidas no estado da arte Políticas Docentes no Brasil (Gatti, Barreto,
André, 2011) e umas delas é o PIBID- Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência que tem como objetivo incentivar a iniciação à docência e melhor qualificá-la,
visando melhorar o ensino ofertado pela educação básica.
Nesse projeto qualquer aluno da licenciatura pode concorrer as bolsas do
programa, podendo vivenciar as metas estabelecidas pelo PIBID, tais como: inserir os
estudos na realidade escolar proporcionando “oportunidades de criação e participação
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em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e
interdisciplinar que busquem a superação dos problemas identificados no processo de
ensino-aprendizagem” (BRASIL, 2010, artigo 3°, inciso IV).
Apesar dessa grande iniciativa nem todos os estudantes têm oportunidade de
ingressar no PIBID, dessa forma, o estágio curricular também pode ser considerado
como um importante espaço para os futuros professores, e os dados obtidos nesse
trabalho comprovam essa afirmação. Cerca de 15% dos artigos selecionados apontam as
contribuições desse espaço de formação para os iniciantes, inclusive nas falas dos
sujeitos participantes, como é possível observar no quadro apresentado.
Ainda sobre o processo de inserção profissional os dados também apontam que
os iniciantes consideram como dificuldade e descoberta a necessidade de acolhimento e
acompanhamento durante o início da docência. Esse elemento é enquadrado nas duas
categorias pois inicialmente o professor iniciante encontra-se em um mix de
sentimentos negativos (medo, ansiedade, angústia, sofrimento) e percebe que não possui
um espaço em que possa compartilhar essas sensações e discutir sobre as dificuldades
que está enfrentando em sala de aula, dessa forma, esse momento transforma-se em uma
dificuldade, além de perceber que o trabalho docente pode ser muito solitário,
constituindo novamente como uma dificuldade e descoberta.
Para termos uma melhor compreensão da visão dos iniciantes sobre seus
processos de inserção profissional, os desafios, dificuldades e descobertas apresentadas
no quadro 2 foram agrupadas e transformadas em categorias de análise, identificando
assim as áreas que mais se destacam nessa primeira fase da profissão professor.
Organização escolar e recursos: desafios e dificuldades
Universo da Ed. Infantil: dificuldade
Sentimentos Negativos: dificuldade
Estágio: descoberta
Construção da Identidade: descoberta
Relação professor, família e escola: dificuldades e desafios
Formação Continuada: descoberta
Choque de realidade: desafio e dificuldades
Novas percepções: descoberta, desafios e dificuldades
Programas de Iniciação à Docência: descoberta
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Escola, lócus de formação: descoberta
Lacunas de formação: descoberta, desafio e dificuldades.
Com o agrupamento das descobertas, dificuldades e desafios foi possível
identificar doze grandes categorias que influenciam diretamente no desenvolvimento do
trabalho das professoras iniciantes, tanto de forma positiva como de forma negativa.
As áreas estágio, programas de iniciação à docência, educação infantil e choque
de realidade se complementam, reforçando a noção de que os anos iniciais da docência
são um período de grandes desafios, tensões e aprendizagens para esse profissional.
Cada elemento abordado nessas áreas aponta para a necessidade de alguma forma de
acompanhamento ou auxílio para essa nova professora.
Já as áreas construção da identidade, novas percepções, sensações, organização
escolar e recursos e relação professor, família e escola sintetizam as maiores
dificuldades e desafios encontrados pelas professoras participantes das pesquisas. Esses
dados nos permitem identificar em quais elementos do trabalho docente a necessidade
de acompanhamento ou ajuda é mais necessária, podendo assim, direcionar o trabalho
que já vem sendo feito em alguns locais, conforme aponta este levantamento
bibliográfico e também servir de base para a criação de programas ou projetos que
auxiliam de forma sistematizada o professor iniciante.
Por último, temos as áreas formação continuada, lacunas de formação e escola,
lócus de formação, podendo ser identificadas como as principais descobertas das
iniciantes. Esses elementos podem ser considerados como reflexo das dificuldades e
desafios encontrados nos primeiros anos de docência, pois indicam combater o que foi
indicado com essas características. Por exemplo, muitas professoras apontaram que a
formação inicial foi insuficiente para lidar com a realidade escolar, principalmente
porque, na opinião das iniciantes, viram muita teoria e a prática foi pouco abordada.
Diante dessa situação, várias profissionais relataram que buscaram a formação
continuada para preencher essas lacunas e também acabaram descobrindo outros
espaços de aprendizagem válidos, como o ambiente escolar.
Outro fato que chamou bastante atenção durante a análise dos artigos diz
respeito a temática da educação infantil. Todos os trabalhos selecionados no
levantamento bibliográfico precisavam atender à vários critérios, e um deles seria
abordar a educação infantil como área de pesquisa dentro do objetivo do trabalho.
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Esse critério foi atendido, contudo, ao começar a leitura desses artigos foi
possível perceber que as especificidades do trabalho docente nessa etapa da educação
não estavam sendo discutidas ou apontadas nos trabalhos. Esse dado é bastante curioso
pois a maioria das pesquisas busca investigar o processo de inserção profissional das
professoras que atuam na educação infantil, mas acabam não entrando nesse aspecto do
trabalho docente. Apenas um trabalho, “Professores iniciantes e seus saberes para o
trabalho em creches” discute e analisa vários elementos que constituem o trabalho nessa
etapa de ensino, percorrendo a seleção de conteúdos, organização do espaço físico,
recursos materiais, características profissionais necessárias, planejamento das aulas,
relação com a família (específica dessa etapa) entre outros.
Esses dados parecem indicar uma falta de clareza ou até mesmo de importância
sobre as especificidades da educação infantil. Muitos artigos e muitas falas apontam
quase que exclusivamente para os polos cuidar e educar, sendo que o polo cuidar é mais
discutido, trazendo valores maternos e femininos como pertencentes da educação
infantil.
Essa forma identificar a educação infantil influencia fortemente os elementos
que constituem a profissionalidade dos sujeitos que atuem nessa área. Entendemos
profissionalidade neste trabalho, de acordo com o posicionamento de Ramalho, Nuñez e
Gauthier (2013) que a caracteriza pelo conjunto de conhecimentos/saberes necessários
ao exercício profissional, que no caso da docência seria a junção dos saberes das
disciplinas e os pedagógicos.
Por meio da posse desses conhecimentos e saberes, o docente começa a construir
as competências necessárias para exercer sua função. Mediante a formalização e
racionalização desses saberes é possível perceber que existe uma maneira mais ou
menos homogênea de trabalhar.
Esse caminho se faz necessário em qualquer etapa da educação básica e foi
identificado que apenas alguns elementos estão sendo apontados e discutidos nos
trabalhos aqui apresentados, não sendo possível identificar o que é específico da
educação infantil e o que já é considerado como universal, restando uma grande
questão: Como essa falta de especificidade está afetando a profissionalidade das
professoras iniciantes da educação infantil?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O processo de inserção profissional é um momento de grande importância para
todo indivíduo que inicia uma carreira. É o momento de entrar em contato com a
realidade profissional, talvez vista somente em textos, aulas e discussões durante sua
formação inicial e no caso da profissão docente, apresenta características marcantes que
necessitam ter uma maior atenção nos vários lócus de formação desse profissional.
A realidade estudada neste trabalho, professoras iniciantes que atuam na
educação infantil, trouxe várias contribuições para esse processo de inserção, indicando
pontos onde existe a necessidade de maior acompanhamento e atenção em relação a
esse profissional, tais como: acolhimento ao ingressar, apoio das profissionais mais
experientes, choque de realidade, relação família/escola, formação inicial insuficiente,
necessidade de criar programas de iniciação à docência, realidade social e econômica
dos alunos, entre outros.
Esses dados permitiram obter uma melhor visualização sobre o que os iniciantes
consideram como suas maiores dificuldades, desafios e descobertas no início da
carreira, possibilitando assim, traçar ações ou estratégias nas várias dimensões que
constituem o desenvolvimento profissional dos professores, ou seja, na formação inicial,
continuada e no espaço escolar.
Contudo, também foi possível perceber que não há uma discussão sistemática e
aprofundada sobre o que é específico do trabalho docente na educação infantil. Esse fato
trouxe grandes questionamentos sobre a profissionalidade dessa etapa da educação
básica e parece apontar para uma ausência dessa especificidade. Dessa forma, este
trabalho considera que o estudo do processo de inserção profissional é fundamental para
a investigação dessa aparente falta de especificidade encontrada nos trabalhos
analisados, revelando assim a importância e urgência dessa área de pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Decreto nº7.219, de 24 de junho de 2010. Dispõe sobre o Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID e dá outras providências. Diário
Oficial da União. Brasília: Casa Civil da Presidência da República, 2010. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/_03/_Ato2007-2010/Decreto/D7219.htm.
ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO, XVI, 2012, Campinas.
Desafios enfrentados por professoras iniciantes no processo de docência. Unicamp, 2012.
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(Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1995.
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CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PROFESSORADO PRINCIPIANTE E
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HUBERMAN, M. The lives of teachers. New York: Teachers College Press, Columbia
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1984, v. 54.
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DIFICULDADES E DESCOBERTAS DOS PROFESSORES INICIANTES NA
EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE FALAM AS PESQUISAS
Prof. Ms. Rodrigo Fideles Fernnandes – PUC Goiás
RESUMO
O presente texto tem como foco os informes de investigações sobre o processo de
inserção profissional dos professores iniciantes e busca realizar um estudo panorâmico
sobre o tema tendo como lócus de pesquisa o IV Congresso Internacional sobre
Professorado Principiante e a Inserção Profissional à Docência. A motivação para a
pesquisa origina-se das inquietações que, ao longo da trajetória profissional e de
pesquisas na formação de professores surgem sobre os professores no início de carreira.
O período caracterizado como o início da carreira – compreendido geralmente pelos três
primeiros anos de magistério – é identificado como a fase mais difícil, por ser a fase de
transição de aluno a professor, no qual é comum o sentimento de insegurança, medo e
de despreparado profissional. O período de iniciação é a etapa em que o professor busca
conhecer a sua própria situação e definir os comportamentos que serão adotados no
exercício da atividade profissional. Nessa etapa o professor encontra novos desafios,
podendo perceber um distanciamento entre o idealizado durante a formação inicial e a
realidade encontrada na sala de aula e na própria escola, o que coloca em conflito seus
conhecimentos, atitudes e crenças e que pode levá-lo a desistência da carreira docente.
Palavras-chave: inserção profissional – dificuldade e descobertas - educação básica.
INTRODUÇÃO
Este estudo tem como foco a inserção profissional do professor iniciante e a
organização do trabalho pedagógico buscando compreender como se dá esse processo
em meio as dificuldades e descobertas encontradas nesta inserção, considerando a
centralidade do processo pedagógico para a profissionalidade docente. Os professores
ao iniciarem a sua atuação profissional vão constituindo o seu modo de ser docente em
meio à tensão existente entre conflitos, descobertas e realizações. Assim, se propôs
estudar este processo da profissionalidade docente, no intuito de contribuir com a
análise da realidade do trabalho docente, a fim de trazer elementos que possam subsidiar
propostas e programas de acompanhamento e fortalecimento da ação docente no início
da carreira, apoiando o professor iniciante e possibilitando a formação deste profissional
com maior segurança, desenvoltura e habilidade para lidar com o cotidiano do trabalho
pedagógico.
Huberman (2000) ressalta que este momento do início profissional da docência é
caracterizado pelos estágios de sobrevivência, desistência e descoberta. Este momento
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de sobrevivência está relacionado com o choque de realidade como “[...] o colapso das
ideias missionárias forjadas durante o curso de formação de professores, em virtude da
dura realidade da vida quotidiana na sala de aula” (VEENMAN, 1984 apud ESTEVE,
1995, p.109). No qual entre tantas experiências, o professor passa por um tatear
constante, percebe distância entre os seus ideais e as realidades cotidianas da sala de
aula, oscila entre relações demasiado íntimas e demasiado distantes, enfrenta
dificuldades com os alunos que criam problemas. Segundo o autor, o professor só
consegue enfrentar este primeiro aspecto por acontecer paralelamente à descoberta, que
é o entusiasmo do professor por estar em uma situação de responsabilidade. Entretanto,
pode ser também vivenciado um conflito tão forte que provoque a saída, ou seja, a
desistência da carreira do magistério.
Algumas pesquisas (Mariano, 2005; Bejarano; Carvalho, 2003; Quadros et al.,
2006) relatam que a insegurança, a cultura escolar, as condições de trabalho, somada a
um sentimento de isolamento tomam conta do professor iniciante. Além disso, ao
observar a realidade de seu trabalho pode desenvolver conflitos e preocupações
educacionais, especialmente em contextos que afrontem a sua perspectiva de trabalho e
podem desestimular a continuidade da carreira. Tais conflitos podem ser entendidos
como situações em que o professor não esperava encontrar ou que está em contradição
com suas próprias crenças e expectativas do que é ser professor.
Sabemos que a aprendizagem pode ocorrer em várias etapas do desenvolvimento
profissional docente, mas salienta-se que é no exercício do trabalho, entendo esse
trabalho como categoria fundante do ser social
[...] dá origem a complexos sociais que são, concomitantemente, fundados
elo trabalho e dele distintos. Sem as posições teleológicos primárias, as
secundárias não poderiam sequer existir. Sem as transformações do real por
meio da objetivação de posições teleológicos, não teria qualquer sentido
tentar conversar outros indivíduos para que exerçam uma dada ação sobre o
existente (LESSA, 1996, p.51).
Nos primeiros anos de ingresso, que os conhecimentos apreendidos são
acionados para desenvolver competências e saberes necessários no cotidiano escolar.
Nesse movimento vão se constituindo modos próprios de ser, estar, pensar e agir na
profissão, num processo que envolve aspectos coletivos e subjetivos e que pode ser
compreendido pelo conceito de profissionalidade docente, tendo em vista, que as
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especificidades do trabalho realizado pelos professores impossibilita compreendê-lo sob
a perspectiva das demais profissões.
Segundo Cunha (2006) “a docência é uma atividade complexa, que exige tanto
uma preparação cuidadosa, como singulares condições de exercício, o que pode
distingui-la de algumas outras profissões” (p.84). A autora destaca ainda, que o conceito
de profissionalidade apresenta-se como melhor opção para discutir a atividade docente,
por se aproximar do contexto em que se desenvolve a ação. A profissionalidade pode
ser compreendida como o processo que decorre do ato de ensinar e consiste na
apropriação e reconfiguração, de acordo com a dinâmica e vivencia de cada professor,
de elementos que resultam da sua relação com os alunos, com seus pares e com a
instituição escolar, numa dinâmica de intensa articulação com a profissionalização e
com a produção material da vida social.
A DESCOBERTA DA PROFISSIONALIDADE NA FASE INICIAL DA
CARREIRA DOCENTE
O número de pesquisas encontradas no Brasil sobre a temática corrobora a
afirmação de Lima (2004), quando considera que, embora o início da carreira seja uma
fase importante do processo de aprender a ser professor, essa tem merecido pouca
atenção por parte dos pesquisadores brasileiros.
Analisando os trabalhos apresentados na ANPEd (Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação) e no ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e
Prática de Ensino), Mariano (2005) levantou que poucos apresentavam como foco
principal o início da carreira docente. Em seu levantamento encontrou apenas 26
trabalhos, sendo 5 na ANPEd e 21 no ENDIPE, o que representava 0,5% em relação ao
número total de trabalhos apresentados nesses eventos.
Compartilhamos com Lima (como citado em MARIANO, 2005) que embora o
início da carreira docente seja uma fase importante do processo de aprender a ser
professor, esta não tem merecido a atenção que lhe é devida, por parte dos
pesquisadores. Fazendo referencia ao trabalho do professor em início de carreira, o
autor comenta que a solidão e o isolamento são sentimentos que tomam conta do
professor iniciante e com poucas pesquisas que possam fomentar políticas no sentido de
apoiar essa fase da profissionalidade docente.
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7617ISSN 2177-336X
16
Entretanto, o interesse pela temática vem crescendo nos últimos anos, devido o
reconhecimento que essa é uma fase crucial para a formação do novo professor e até
mesmo para sua continuidade na carreira docente e também para a construção da
profissionalidade e modelo de docência. Nesse sentido apresentamos a seguir alguns
recortes de pesquisa que evidenciam certos conflitos, dificuldades, descobertas e
realizações enfrentadas pelos professores em início de carreira. Esta breve revisão tem o
intuito de explicitar a dimensão do problema quando se trata da vivência do professor
em início de carreira frente ao trabalho pedagógico.
Para muitos autores o início do trabalho docente configura-se como uma fase
cujo professor vivencia situações inesperadas, difíceis e até constrangedoras (GARCIA,
1998; HUBERMAN, 2000; TARDIF; RAYMOND, 2000). Outros trabalhos evidenciam
as dificuldades enfrentadas pelos professores nos primeiros anos de efetivo exercício
docente (FONTANA, 2000; GUARNIERI, 1996; TABACHNICK; ZEICHNER, 1988).
Tabachnick; Zeichner (1988) em um estudo com duas professoras iniciantes dos
Estados Unidos analisaram as estratégias por elas empreendidas para reduzir a
contradição entre suas crenças e suas condutas em sala, os autores ressaltam as
diferentes formas que Beth e Hannah se comportaram frente aos conflitos vividos
apresentando momentos de descrença e de entusiasmo na relação com os alunos.
A autora Fontana (2000) acompanhou uma professora durante o primeiro ano de
exercício docente frente a salas de aula de Ensino Fundamental. A autora identificou
conflitos oriundos de vários fatores que, quando confrontados, trazem à tona as diversas
concepções de educação existentes entre os indivíduos que trabalham na escola. Analisa
ainda os dramas vivenciados pela professora, as formas como ela resolveu esses dramas
e a necessidade de apoio própria de quem entra num mundo falado, porém ainda muito
pouco vivenciado. É interessante notar a posição da autora de que um professor nunca
está pronto no momento em que começa a exercer sua função. Para a autora, a sensação
de fracasso profissional que por vezes toma conta dos professores iniciantes é devida à
falta de apoio, o isolamento e à indiferença da escola frente a esse professor iniciante.
Em um estudo de caso, Bejarano; Carvalho (2003), acompanharam uma
professora de Física que estava começando a ministrar aulas e ao mesmo tempo
concluía o curso de Licenciatura em Física na Universidade de São Paulo – USP. Os
autores descrevem os conflitos desta professora, chamada por eles de Ani, em uma
escola de Ensino Médio. Segundo eles, as crenças de Ani sobre o papel do professor
estavam sendo severamente checadas. Bejarano; Carvalho (2003) destacam que Ani
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apresentava dificuldades em se relacionar com os alunos e ao mesmo tempo
dificuldades no convívio com os outros professores. Ani percebia no discurso dos
professores mais antigos uma insatisfação com a situação de ser professor que a deixava
confusa em relação à carreira.
Em outro trabalho, Bejarano; Carvalho (2003) acompanharam a trajetória de um
professor de Física chamado por eles de Eli, que também estava começando a ministrar
aulas, porém assim como Ani não havia concluído seu curso de graduação. Ao iniciar
seu trabalho, Eli logo notou o pouco apoio direção da escola e a dificuldade de
relacionamento com os alunos. Durante seu percurso Eli vivenciou diversos conflitos
relacionados com currículo e instrução da escola e relações interpessoais. A forma com
que Eli encontrou para lidar com conflitos foi proteger suas crenças e não aceitar as
contribuições vindas do programa de formação. Como afirma Quadros et al. (2006), o
resultado das pesquisas realizadas apontam que muitas vezes apesar de os professores
iniciantes terem estudado teorias contemporâneas de ensino e aprendizagem em sua
formação, acabam assumindo uma postura muito próxima àquela que eles condenavam
enquanto alunos.
Beach; Pearson (1998) em um estudo com vinte e oito (28)
professores/estudantes americanos categorizaram os principais conflitos e tensões que
surgem no início da profissionalização do professor, além de destacar formas ou
estratégias utilizadas no enfrentamento desses problemas. Segundo Beach; Pearson são
quatro as categorias fundamentais de conflitos:
1. Currículo e instrução: esta categoria de conflito pode ser subdividida em:
conflitos e tensões entre as percepções do que é relevante para o professor e as
percepções dos estudantes; entre o currículo da escola e o currículo do professor; e entre
cumprir o currículo proposto e ser ao mesmo tempo construtivista.
2. Relações interpessoais: conflitos pessoais em suas relações com os
estudantes, com colegas professores, administradores e sentimento de isolamento
pessoal do professor.
3. Contextual e institucional: conflitos e tensões relacionadas às expectativas
com os programas da universidade, as complexidades e políticas de sistemas escolares,
pressões para socializar a cultura das escolas e do ensino.
4. Ver-se como professor (conflitos de papel): conflitos e tensões relacionadas
ao autoconceito de ser professor e seu papel como professor, o papel da ambiguidade na
transição de estudante para professor, conflitos internos de se autodefinir.
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Segundo os autores, ao se depararem com os conflitos os professores iniciantes
buscam solucioná-los usando estratégias como: afastar-se dos conflitos, soluções de
curto prazo (chamadas de “técnicas de sobrevivência”) e mudanças de longo prazo
(checar suas crenças pessoais e examinar possíveis incongruências entre elas e os
próprios conflitos) e ou mesmo abandonar a carreira.
Veeman (1988) analisou 91 estudos realizados em diferentes países, e entre os
problemas mais sérios que os professores iniciantes enfrentam, aparece em primeiro
lugar a questão da disciplina, pelo motivo dos iniciantes não conseguirem explicitar
regras e procedimentos para a classe. Em seguida, a motivação dos alunos, a dificuldade
em lidar com as diferenças individuais e em avaliar a aprendizagem.
Concebendo a formação docente como um continuum, ou seja, um processo de
desenvolvimento ao longo e ao largo da vida, Lima (1996), enfatiza a obrigatoriedade
de se estabelecer um fio condutor que ofereça nexo entre a formação inicial, continuada
e as experiências vividas. Apresenta então, a reflexão coletiva e o apoio de um grupo
como um componente indispensável e capaz de promover esses nexos necessários.
Torres (1998) mostra a importância da aprendizagem profissional ocorrer
também no local de trabalho, num relacionamento horizontal de colegiado entre os
pares, quando os professores compartilham, dialogam, analisam e resolvem juntos os
problemas. Essa forma de capacitação precisa se estender para os outros componentes
da escola, e não só os professores de maneira isolada, sendo a equipe escolar o sujeito
privilegiado da capacitação.
Em síntese, o estudo de algumas das principais pesquisas sobre o professor no
início da carreira evidencia as dificuldades, descobertas e realizações que marcaram a
profissionalidade – o ser docente – no desenvolvimento de sua profissionalização.
Sendo assim, esta análise das pesquisas nos encoraja a sugerir que a discussão sobre a
vivência em sala de aula, e nela se insere crenças e conflitos, seja incorporada aos
cursos de formação inicial e continuada de professores e que é preciso pensar em uma
proposta de acompanhamento dos professores ingressantes, seja pelo professor tutor ou
pela perspectiva da “residência docente” considerando que é necessário conhecer as
dificuldades e transpor situações conflituosas que podem ser entraves ao processo de
ensino-aprendizagem e, sobretudo, ao ver-se professor.
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O QUE O IV CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PROFESSORADO
PRINCIPIANTE E INSERÇÃO PROFISSIONAL À DOCÊNCIA FALA SOBRE
A QUESTÃO
A inserção ao ensino representa um momento de grande importância para o
futuro docente. Tradicionalmente os sistemas educativos têm prestado pouca atenção
aos professores principiantes e a sua inserção profissional.
A preocupação pela qualidade da educação que as novas gerações recebem nas
escolas ressalta a importância em se cuidar dos primeiros anos dos docentes. Os altos
índices de abandono da docência, assim como a preocupação por melhorar a qualidade
da formação docente, estão mostrando a necessidade de atender, de maneira especial,
aos primeiros anos de exercício profissional docente.
Buscando uma melhor sistematização a organização do congresso criou e dividiu
em sete grandes temáticas as apresentações dos trabalhos, sendo assim distribuídos:
Tema 1: Desenvolvimento e avaliação de programas de inserção profissional para o
professorado principiante; Tema 2: Efeitos dos programas de inserção profissional à
docência na melhoria escolar; Tema 3: Novas tecnologias para a supervisão e
acompanhamento do professorado principiante; Tema 4: Papéis e funções dos
professores mentores, supervisores e tutores em relação aos professores principiantes;
Tema 5: Práticas de ensino na formação inicial do professorado; Tema 6: Problemas
sobre os professores principiantes em seus processos de inserção profissional; e Tema 7:
Processos de socialização profissional docente na cultura da escola.
Para realizar nosso levantamento e selecionar os trabalhos, decidimos como
eixos de pesquisa três palavras chave, sendo elas: inserção profissional; educação
básica; e dificuldade e descoberta, esse levantamento foi realizado primeiramente a
partir dos títulos dos trabalhos. O congresso além de dividir os sete temas, ele ainda
criou três formas de apresentações, havia simpósios, informe de investigação e informe
de experiência por uma escolha metodológica priorizamos os informes de investigação,
por serem resultados de pesquisas.
Para termos uma visão geral do congresso, criamos este gráfico, nele podemos
observar quantos simpósios, informes de investigação e informes de experiência foram
apresentados por tema do congresso. Ainda é importante salientar que nele também se
encontra os números de informes de investigação foram selecionados para a realização
deste estudo.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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GRAFICO 1 – Número de trabalhos apresentados no IV CONGREPINCI e
selecionados para este estudo
Fonte: trabalhos gravados no CD do IV CONGREPRINCI
Ainda podemos observar no gráfico 1 que há uma maior procura nos tema 5 e
tema 6. Para melhor observarmos, Tema 1: Desenvolvimento e avaliação de programas
de inserção profissional para o professorado principiante = 18 trabalhos; Tema 2:
Efeitos dos programas de inserção profissional à docência na melhoria escolar = 18
trabalhos; Tema 3: Novas tecnologias para a supervisão e acompanhamento do
professorado principiante = 09 trabalhos; Tema 4: Papéis e funções dos professores
mentores, supervisores e tutores em relação aos professores principiantes = 11
trabalhos; Tema 5: Práticas de ensino na formação inicial do professorado = 50
trabalhos; Tema 6: Problemas sobre os professores principiantes em seus processos de
inserção profissional = 74 trabalhos; e Tema 7: Processos de socialização profissional
docente na cultura da escola = 16 trabalhos. Com isso podemos concluir que existe uma
ênfase nas pesquisas sobre professores iniciantes no que diz respeito a sua prática de
ensino e seus problemas na inserção profissional.
No que tange o campo de atuação dos professores iniciantes observamos que
está acontecendo uma mudança, pois as primeiras pesquisas realizadas nesse campo a
maioria dos professores investigados eram das áreas de exatas ou do curso de Educação
Física, agora dos 49 trabalhos selecionados (tendo como palavras chave, inserção
profissional; educação básica e dificuldade e descoberta) que representam 25% do total
dos trabalhos apresentados neste congresso, podemos observar que houve uma
pulverização na área de atuação dos professores investigados. É importante destacar que
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os 10 professores referentes ao eixo geral, significa que estas pesquisas não deram
ênfase a nenhum curso.
GRÁFICO 2 – Número de professores por área de atuação
Fonte: trabalhos gravados no CD do IV CONGREPRINCI
Na questão referente à metodologia das pesquisas apresentadas no congresso em
análise, percebemos uma grande ênfase no estudo de caso e pesquisa de cunho
etnográfico. O embasamento mais citado é o livro sobre “Pesquisa em educação:
abordagens qualitativas” das autoras LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A.,
publicado pela EPU em 1986. Mas sentimos falta de um referencial sobre o método,
existe uma preocupação em definir a metodologia e não método.
Para definir o conceito de professor iniciante trinte e dois artigos não busca
definir e apenas dezesseis faz essa definição. A maioria utiliza o professor Carlos
Marcelo Garcia (1999) para fazer isso,
[...] existem quatro fases diferenciadas pelas quais passa o professor em seu
processo de aprender a ensinar. A primeira fase é o pré-treino. Trata-se
daquilo que foi experienciado pelos professores ainda enquanto alunos, e que
pode influenciá-los mesmo que inconscientemente no exercício da sua
profissão. Em seguida, a formação inicial, etapa de preparação formal para
ser professor, objetivando-se em instituições especializadas. A terceira
denomina-se iniciação, compreendendo os primeiros anos do exercício
profissional, singular etapa na vida do professor. Por fim, a formação
permanente, a qual inclui as atividades de formação em nível institucional ou
individual, compreendendo o desenvolvimento profissional deste professor.
Sobre o tempo de carreira, ou seja, quanto tempo citar para definir quem é o
professor iniciante, temos 26,54% de artigos que usam a pesquisa de Huberman (1995)
para definir esse tempo. Sendo assim definido,
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considera a etapa de 2-3 anos de docência como o período inicial da carreira,
onde são definidos comportamentos e também é um momento desafiador
entre a idealização da profissão decorrente da formação inicial e a realidade
da sala de aula.
Podemos observar que ainda há um grande campo de pesquisa quando se trata de
inserção profissional do professor iniciante, já que antes a iniciativa do grupo de
pesquisadores que idealizaram e realizaram esse congresso havia poucos trabalhos
investigando essa temática, agora só nesse último houve 196 trabalhos apresentados
buscando compreender e avançar o conhecimento científico sobre esse período tão
complexo na construção da identidade docente.
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7625ISSN 2177-336X
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AS PESQUISAS SOBRE PROFESSORES INICIANTES NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Rosiris Pereira de Souza - CEPAE/UFG - PPGE/FE/UnB.
Resumo
O presente texto tem como objetivo apresentar o estado do conhecimento sobre
professores iniciantes na educação infantil tendo como desafio mapear e discutir a
produção acadêmica tentando responder quais aspectos e dimensões vêm sendo
destacados e privilegiados em diferentes pesquisas publicadas em periódicos,
congressos e eventos da área. A metodologia envolveu um levantamento bibliográfico
efetuado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Atuação de
Professores/Pedagogos (GEPFAPe/UnB) dentro de um recorte temporal de 14 anos
(2000 a 2014). A análise realizada da produção encontrada mostra que a pesquisa sobre
professores iniciantes vem sendo intensificadas no Brasil, porém, com pouca ênfase
para os desafios, dificuldades e especificidades dos professores iniciantes que atuam na
educação infantil.
PALAVRAS-CHAVE: Professores iniciantes; Educação infantil; Estado da arte.
INTRODUÇÃO
O presente texto tem como objetivo apresentar um panorama das pesquisas sobre
professores iniciantes na educação infantil. A metodologia utilizada envolveu a pesquisa
bibliográfica em bancos de dados de eventos científicos: Reuniões da Associação
Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação – ANPED, Encontros Nacionais de
Didática e Prática de Ensino – ENDIPE, Congressos Internacionais sobre Professorado
Principiante e Inserção profissional à Docência – CONGREPRINCI e busca no banco
de dados do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT.
No levantamento geral foram identificados 138 trabalhos que versam sobre
professores iniciantes e deste total foram encontrados 22 (vinte e dois) trabalhos que
tematizam especificamente a inserção profissional na educação infantil.
Nos trabalhos encontrados ressaltam-se principalmente os desafios, dificuldades
e descobertas dos professores de Educação infantil no início de carreira. Esses aspectos
se inserem em categorias mais amplas que dizem respeito ao exercício profissional, às
condições de trabalho, às representações sociais e às necessidades formativas.
Para Vaillant e Garcia (2012), o período de inserção na carreira apresenta um
caráter “distintivo e determinante para conseguir um desenvolvimento profissional
coerente e evolutivo” (p. 125). No processo de inserção na carreira docente na educação
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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infantil emergem especificidades que se somam às situações que exigem submissão à
normas externas e internas, imposições, negociações e resistências, compreendendo que
esses fatores marcam presença nas relações dentro da instituição e constroem
alternativas de permanência, convivência ou até mesmo de desistência da profissão.
PRODUÇÃO SOBRE PROFESSORES INCIANTES NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Nas produções da ANPED no período de 2000 a 2014 encontramos 05 (cinco)
trabalhos sobre inserção na carreira docente na educação infantil, sendo 02 (dois) no GT
07 – Educação de crianças de 0 a 6 anos em 2008 e 2012 e 03 (três) trabalhos no GT 08
- Formação de professores, nos anos de 2006, 2009 e 2013.
Nos eventos do ENDIPE encontramos 02 (dois) trabalhos de um total de 22
(vinte e dois) sobre o professor iniciante na educação infantil, os trabalhos foram
publicados no ano de 2012.
Nos encontros do CONGREPRINCI temos 10 (dez) trabalhos (19,6 % em um
total de 51 trabalhos de 2008 a 2014), todos os trabalhos sobre inserção profissional na
educação infantil foram apresentados no ano de 2014, representando um percentual de
26,3 %, esse quantitativo revela um leve crescimento na quantidade de trabalhos que
versam sobre a inserção da carreira na primeira etapa da educação básica neste evento.
Na busca em periódicos Qualis A e B foram encontrados 05 (cinco) trabalhos
com a temática da inserção de professores na Educação infantil em um total de 36
trabalhos representando um percentual de 13,9 %.
A partir da leitura destes 22 (vinte e dois) trabalhos identificamos as principais
categorias que emergiram dos objetos investigados que apontam para as seguintes
questões: a) o exercício profissional, b) as condições de trabalho, c) as necessidades
formativas e; d) as representações sociais.
EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Sobre o Exercício profissional ou exercício docente, concordamos com Penna
(2010) na afirmação de que este conceito ou expressão está vinculado às questões que
estão envolvidas na ação e no desempenho da função de ser professor, considerando que
essa função é específica, sendo instituída e constituída socialmente e está vinculada à
institucionalização da escola e seus processos decorrentes.
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26
É importante destacar a incidência dessa categoria na maioria das pesquisas
sobre professor iniciante na educação infantil o que pode sinalizar, de certa forma, que
há uma necessidade de compreender o exercício docente como uma prática social,
histórica e contextualizada. Isso pode contribuir para a compreensão do processo que
envolve as ações docentes nos mais variados aspectos e principalmente nos anos iniciais
do exercício da carreira docente e, ainda, estabelecer mediações e relações com a escola
e processos mais amplos (TARDIF e LESSARD, 2005).
Oliveira (2008), nos alerta que há uma demanda emergente em estudos que se
debruçam sobre o exercício docente para compreensão, entre outros aspectos, das
relações dessa atividade e as reformas educacionais implantadas nas últimas décadas e
que podem estar relacionadas com a perspectiva da racionalidade técnica na formação
de professores.
De acordo com os dados e apontamentos anteriores, o exercício profissional é a
categoria que aparece em 81,8 % dos trabalhos sobre professores iniciantes na Educação
infantil, ou seja, é a mais representativa. E a partir dessa constatação destacaremos os
achados das pesquisas.
Para Rosa e Nadal (2014) foi importante compreender como se constitui o
processo de iniciação profissional na educação infantil para identificar as principais
dificuldades enfrentadas pelos professores nos primeiros anos da docência. A partir
disso, foi possível conhecer as fontes e recursos utilizados pelos docentes no
enfrentamento dos desafios postos no exercício da docência nessa fase tão singular da
carreira. Indicam que a formação nos primeiros anos de docência é primordial para o
desenvolvimento profissional. Foi possível constatar, a partir das falas dos sujeitos da
pesquisa, que a formação inicial se mostrou insuficiente ou desencontrada das
necessidades/realidades no exercício da docência no início da carreira, o que motivou
uma ação docente sustentada em experimentações práticas, observações e imitação de
outros professores, levando esse grupo de docentes a um exercício profissional
assistemático e individualista.
Voltarelli e Monteiro (2014) investigaram a aprendizagem da docência na creche
e o que contribuiu para essa aprendizagem. Partiram das dificuldades encontradas para a
atuação profissional na educação infantil, apresentando práticas e saberes desenvolvidos
pelos professores no enfrentamento de algumas das dificuldades. Finalizam o trabalho
confirmando a grande importância do envolvimento dos futuros docentes com o campo
de atuação ainda na formação inicial e a importância da socialização das experiências
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com os demais professores das instituições. Foi ressaltado a importância do trabalho
colaborativo, da participação de todos os docentes da instituição e da troca de
experiências. Em relação aos saberes essenciais para atuar com crianças pequenas, os
sujeitos da pesquisa indicaram a necessidade dos conhecimentos sobre desenvolvimento
infantil e as especificidades das faixas etárias.
Ribeiro, Fidelis e Nogueira (2014) investigaram os contextos de inserção
profissional na educação infantil em Campo Grande – MS a partir do olhar dos
professores dessa etapa e buscaram compreender em que medida o caráter
assistencialista influencia as políticas de formação e atuação docente. As autoras
concluem que ainda na atualidade a compreensão sobre o professor de educação infantil
está vinculada aos cuidados maternos e que essa imagem ainda está presente no senso
comum e se instaura também no ambiente escolar. Para as autoras, de acordo com a
atual configuração da educação infantil nas políticas públicas e na prática educacional é
de fundamental importância que os professores compreendam seu exercício profissional
para além da afetividade.
Montaño (2014) apresenta um estudo que investiga a construção de saberes de
professoras iniciantes que foram inseridas nas funções de gestão simultaneamente a
atuação como docentes na educação infantil. Os resultados da pesquisa apontam que o
exercício profissional docente envolve outras ações além do ato de ensinar, permeia
processos e ações de gestão pedagógica, administrativa e social e implicam uma visão
mais ampla do que atualmente se considera importante para a formação de professores.
Zucolotto e Côco (2014) investigaram o exercício profissional na educação
básica tendo como foco os estudos e discussões sobre a formação inicial e continuada na
constituição dos sujeitos docentes, no desenvolvimento das funções na realização do
trabalho e as relações nas instituições educativas. As autoras focalizaram o estudo na
educação infantil por acreditarem que nessa etapa da educação básica há uma especial
necessidade de processos específicos na formação inicial, continuada e no
desenvolvimento profissional em decorrências das especificidades das crianças de 0 a 5
anos de idade. Identificaram as condições de trabalho como fatores importante para a
escolha da permanência (ou não) na educação infantil. As autoras perceberam que a
forma como os professores lidam com as dificuldades e desafios postos, perpassam sim,
pela opção do abandono da carreira nos primeiros anos, mas, percebem também a
contradição desse mesmo movimento quando identificaram algumas posturas de
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professores que foram se modificando em face das necessidades das crianças,
assumindo novas crenças, concepções, estratégias e focos para o ensino.
No trabalho de Silveira e Rausch (2014) o foco investigativo recaiu também
sobre os desafios de professores iniciantes na educação infantil e ensino fundamental.
Foram identificados como desafios o trabalho colaborativo na escola, a infraestrutura
escolar, a relação entre instituição e família, a formação continuada, a educação especial
e a valorização do professor. A identificação desses desafios, segundo os autores, pode
promover reflexões significativas na formação inicial e continuada de professores.
Para Macenhan e Tozetto (2014) a forma como acontece o processo de inserção
na carreira profissional docente demostra as características, orientação e modelos que os
professores desenvolvem nos seus processos de inclusão no mundo da docência.
Apontam como significativo no processo de superação das dificuldades e desafios a
utilização das memórias dos estágios, a partilha com professores mais experientes, as
lembranças da experiência enquanto alunos, assim como alguns perfis de antigos
professores. A pesquisa também investigou os recursos teóricos práticos que os
professores recorrem nos momentos de tomada de decisão no trabalho docente na
educação infantil, reafirmando a importância da formação inicial e continuada para a
construção dos saberes docentes.
Na pesquisa de Machado (2014) é evidenciada a formação inicial do professor
da educação infantil e como essa formação influencia alguns impasses no exercício da
docência. Para essa pesquisadora a educação infantil é uma etapa muito importante no
processo educativo de crianças e, portanto, torna-se importante e oportuno as
investigações sobre a formação dos professores para essa etapa e a repercussão dessa
formação no exercício docente. A autora afirma que, de acordo com a pesquisa, a
temática da educação infantil, na formação inicial, não é muito abordada (os cursos, em
geral, priorizam o ensino fundamental). Esse fato implica significativamente nas ações e
decisões profissionais. Os professores investigados mencionam aspectos demasiados
teóricos na formação inicial e valorizam a prática dos estágios.
Nogueira, Melin e Almeida (2011) investigaram a construção do trabalho
docente, seus desafios e seus fatores determinantes envolvendo professores iniciantes na
educação infantil e acadêmicos residentes. As autoras concluem que toda ação
formativa deve estar centrada na realidade dos professores, assim como, os conteúdos
trabalhados na formação devem partir dos interesses dos mesmos. A pesquisa buscou o
reconhecimento da formação como elemento fundamental na qualidade da ação
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educativa. Evidenciou ainda que o processo formativo se realiza principalmente na
formação inicial, mas sua consolidação só se torna possível quando os professores se
defrontam com a realidade em que irão atuar.
Perrelli, Teixeira, Nogueira e Rebolo (2013) desenvolveram uma pesquisa a
partir da metodologia da pesquisa-formação, tendo como sujeitos dessa pesquisa alunas
do último ano do curso de Pedagogia com algum tipo de experiência no trabalho
docente. O objetivo do estudo foi identificar os elementos que contribuem para a
aprendizagem dos professores e os condicionantes dessa aprendizagem. Os resultados
apontam para o impacto do início da carreira docente que é marcado pelo entusiasmo e
expectativa e ao mesmo tempo pela sensação de despreparo dos professores diante dos
desafios da profissão. As alunas do curso de Pedagogia puderam, por meio da pesquisa,
refletir sobre o caráter inconcluso da aprendizagem da docência e ainda sobre as
dimensões da formação inicial e da escola/ambiente de trabalho.
Brostolin e Oliveira (2013) desenvolveram um estudo sobre as dificuldades e
desafios dos professores iniciantes na educação infantil buscando identificar a forma
como esses professores lidam com as situações desafiadoras do cotidiano escolar
utilizando para isso os saberes adquiridos na formação inicial. Os resultados indicaram
que apesar das dificuldades e condições de trabalho há uma sensação de satisfação pela
profissão o que permitiu as autoras afirmarem que as experiências cotidianas
possibilitam a superação das perspectivas negativas, ressaltando ainda a importância do
apoio do coletivo da escola que possibilitou a criação de vínculos profissionais
necessários para as vivências exitosas e a permanência na carreira.
Brostolin (2012) investiga narrativas de professores iniciantes na educação
infantil para discutir a profissão docente, a identidade e o desenvolvimento profissional.
Os achados da pesquisa evidenciaram que a identidade dos professores é constituída
durante toda a carreira, destacando o momento da escolha da profissão, a formação
inicial e diferentes espaços institucionais onde se desenvolve o exercício da docência.
Nono e Mizukami (2006) discutem os processos de formação de professores
iniciantes por meio de casos de ensino. Essa metodologia permitiu que professores
realizassem descrições e análises de suas trajetórias profissionais e nesse processo
emergiram as dúvidas, equívocos e contradições que orientam e caracterizam algumas
práticas docentes no início do exercício docente nas escolas. Os achados da pesquisa
evidenciaram que os professores, ao descreverem suas trajetórias profissionais e seus
processos formativos estabeleceram relações entre as situações vividas no início da
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carreira com a escolarização que tiveram antes da formação inicial, a própria graduação,
as exigências e expectativas da prática, a instituição de trabalho, as políticas públicas, os
conhecimentos acessados para enfrentamento das dificuldades, dilemas e obstáculos
vivenciados nos primeiros anos de ensino.
Os estudos de Nogueira, Almeida e Melin (2013) resultam do processo de
investigação realizado no ano de 2010 em que se propuseram a analisar as questões
pertinentes à formação de professores iniciantes na educação infantil. Os resultados
desse processo investigativo, realizado por meio da pesquisa-formação, evidenciaram
que o processo de reflexão sobre as próprias práticas ajuda os professores a mobilizarem
estratégias de transformação e a produzirem conhecimento no contexto escolar.
Nogueira e Almeida (2012) analisam processos de formação de professores
iniciantes e acadêmicos residentes com objetivo de construir diálogos que articulem
teoria e prática na formação inicial e no exercício profissional por meio de
acompanhamento pedagógico. As autoras defendem que a função dos formadores de
professores é realizar processos formativos alicerçados em saberes científicos que
possibilitem aos professores atuar criticamente em contextos sociais, tendo como
princípio orientador um diálogo que estabeleça uma rede de formação e de
aprofundamento de temáticas formativas.
No trabalho de Calil e Almeida (2012) são apontados os desafios enfrentados
por professores iniciantes no processo do exercício profissional. O diferencial desta
pesquisa é que a mesma foi realizada com professores em seu primeiro ano profissional
logo após a formação inicial sem nenhuma experiência no campo educacional com
crianças pequenas. Os resultados apontam para a necessidade de repensar os processos
da formação inicial, principalmente as questões relacionadas à didática e às políticas
públicas de apoio e acompanhamento dos professores iniciantes.
E por fim, apresentamos os apontamentos de Melin (2012) no qual aparecem
resultados parciais da pesquisa realizada com professores que atuam na educação
infantil e acadêmicos residentes. Ressaltam a construção docente, seus desafios e os
fatores determinantes. Os achados desta pesquisa apontam para aspectos
imprescindíveis à formação docente e ao exercício docente na fase inicial da carreira
além de indicar novos caminhos para a pesquisa e formação de professores.
CONDIÇÕES DE TRABALHO
As condições do trabalho docente estão inseridas em um conjunto de relações
que envolvem os processos de trabalho e as condições de emprego tais como: processos
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de contratação, remuneração, carreira e estabilidade (OLIVEIRA E ASSUNÇÃO,
2010). O impacto das condições de trabalho influencia a relação dos professores com a
profissão docente. Devemos considerar ainda que, as condições de trabalho, da mesma
forma que o exercício profissional da docência são categorias que estão situadas em um
contexto histórico social, ou seja, isso implica considerar que as condições de trabalho
são resultados de uma determinada forma de organização social, no nosso caso, no
modo de produção capitalista. De acordo com Antunes (2007) na atualidade vivemos
em um quadro de precarização estrutural do trabalho e de flexibilização da legislação
social do trabalho, o que aumenta incomensuravelmente os mecanismos e formas de
intensificação e os reflexos disso na saúde física e mental dos trabalhadores, ocorrendo,
entre outras coisas, a insatisfação dos professores com seu trabalho.
Na análise dos trabalhos sobre os professores iniciantes que atuam na educação
infantil identificamos dois artigos que tem como foco principal as condições de
trabalho.
No artigo de 2008, Côco e Siller apresentam a dinâmica de provimento de
cargos para as instituições públicas de educação infantil a partir da análise dos editais
públicos. Neste trabalho as autoras apresentam os dados de uma análise documental
sobre educação infantil com o objetivo de identificar as ramificações, temas e táticas
frente às demandas da realidade. Apontam para a importância dada pelos municípios ao
provimento de cargos no magistério por meio de concursos públicos, o que demonstra
respeito às políticas educacionais, no entanto, em uma análise mais acurada as
pesquisadoras identificam muitos desafios postos para o campo, para além dos avanços
nas políticas públicas. Os desafios dizem respeito aos mecanismos economicistas
adotados por gestores municipais, quando não dispõem de recursos para a área de
educação infantil. Esse fato implica na constituição da profissionalidade docente e no
exercício profissional. As autoras citam questões relacionadas à formação, jornada de
trabalho e salário para profissionais de categorias distintas que atuam com o mesmo
grupo de crianças (profissionais de apoio), esse fato prejudica a realização da integração
das ações pedagógicas.
No artigo de 2009 Côco focaliza as denominações, alternativas e formas de
vínculo e requisitos formativos necessários para provimentos de professores para atuar
na educação infantil nos editais públicos e os projetos de formação continuada.
Evidenciou que as transformações no campo da educação infantil vêm fortalecendo essa
área nos municípios, dentro de uma complexidade que envolve a atuação dos
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professores e nesse processo estão em jogo uma pluralidade de discursos e de
configuração de políticas educacionais que começam a indicar processos de valorização
que estão, de diferentes modos, permeando a configuração do trabalho docente na
educação infantil.
NECESSIDADES FORMATIVAS
Entendemos “Necessidades formativas” como um conceito que diz respeito aos
aspectos que são imprescindíveis à toda formação docente e ao mesmo tempo são
fundamentais para o trabalho do professor na fase de inserção na docência e demais
fases do desenvolvimento profissional e nesse aspecto enquadramos somente o trabalho
de Melin e Nogueira (2014) apresentado no CONGREPRINCI que descreveu resultados
de uma pesquisa desenvolvida com professores iniciantes na educação infantil dentro de
um projeto com acadêmicos do curso de pedagogia intitulado: Diálogos e
acompanhamento itinerários para a formação de professores iniciantes. O objetivo
principal foi a construção de diálogos que articulassem teoria e prática na formação
inicial e no exercício profissional de professores iniciantes que atuam na educação
infantil por meio de acompanhamento pedagógico.
REPRESENTAÇÃO SOCIAL
Representação social ou Representação social da prática docente é a forma como
os professores elaboram a compreensão sobre o conjunto de suas ações, crenças e
atitudes. Esse conceito é também definido como teoria do senso comum acerca do
trabalho realizado pelos docentes (CAMPOS, 2010).
A categoria Representação Social está presente em apenas 01 (um) trabalho e foi
apresentado no CONGREPRINCI. As autoras Souza; Rampazo e Rocha (2014)
pesquisaram os professores iniciantes, suas primeiras experiências de docência e o papel
da escola nesses processos. Para isso, analisaram relatos das expectativas, ideias e
anseios dos professores quanto à profissão nos primeiros anos de docência e a trajetória
desses professores narradas em memoriais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O panorama das pesquisas sobre professores iniciantes realizado a partir do
levantamento bibliográfico de 2000 a 2014 revela que houve um crescimento dos
estudos sobre essa temática, entretanto, na educação infantil percebemos uma escassez
de pesquisas. Esse fato indica a abertura de um novo campo de pesquisas e novas
demandas de formação de professores e políticas de acompanhamento pedagógico para
primeira etapa da educação básica.
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Sobre as categorias explicativas da inserção profissional identificadas nos
trabalhos encontrados ressaltam-se principalmente: a) exercício profissional; b)
condições de trabalho; c) necessidades formativas e; c) representações sociais.
Na maioria dos estudos, aparecem os interesses, preocupações, necessidades e
demandas dos docentes em seus processos formativos após sua inserção no campo do
trabalho e suas práticas. E para diagnosticar as descobertas, desafios e dificuldades e os
processos de desenvolvimento profissional dos professores estas pesquisas foram
realizadas a partir de metodologias distintas, no entanto há uma predominância nos
caminhos metodológicos percorridos pelos pesquisadores que apontam para a pesquisa-
formação, casos de ensino e análises de narrativas por meio da metodologia da
autobiografia.
A tendência fundamental indicada no conjunto das pesquisas sobre a inserção
profissional na educação infantil volta-se para a questão da formação do professor
principalmente na interação com o ambiente escolar e nas trocas de experiências com
professores mais experientes, ressaltando principalmente os conhecimentos que são
adquiridos com a experiência docente em seu exercício profissional.
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