1. IHU ON-LINE Revista do Instituto Humanitas Unisinos N 402 -
Ano XII - 10/09/2012- ISSN 1981-8769 Edgar Morin e o pensamento
complexoJean Louis Le Edgard de Mario NovelloMoigne Assis Carvalho
Um pensamento queUm apelo ao eterno A revogao do no recebe
ordensperguntar antropocentrismo e a aquisio de saberes
transversaisE MAIS Pedro Trigo: James Alison: Telogos enclausurados
O perdo antecede o pecado. A superao na academia. Um desafio de uma
viso moralista e chantagista
2. Edgar Morin e oEditorial pensamento complexo O pensamento
complexo vida mais humana, alm de reencon- mesmo que provisria, aos
problemas seguindo as rotas abertas trarmos o sentido em nosso
mundo. da humanidade. por Edgar Morin o tema A autonomia dos
saberes acon- Um artigo e mais duas entrevis- da revista IHU
On-Line tece na relao criativa com outras tas completam a presente
edio. desta semana. Pesquisadores e pes- partes, e no atravs do
isolamento, Dnis de Moraes, professor do quisadoras de vrias reas
do conhe- que atesta miopia e morte, assinala Departamento de
Estudos Cultu- cimento contribuem no debate. Larcio Pilz, professor
na Unisinos. A rais e Mdia da Universidade Federal A fragmentao dos
saberes obs- abertura ao Outro e aos diferentes sa- Fluminense,
recorda a trajetria e o taculiza a consolidao do humanis- beres o
que alimenta o nosso viver testemunho de Valrio Brittos, re- mo,
atesta Edgard de Assis Carvalho, e o desejo pelo saber. centemente
falecido, descrevendo-o da Pontifcia Universidade Catlica de Gerson
Egas Severo, professor como um missionrio da tica e da So Paulo
PUC-SP. A cincia se tor- da Universidade Federal da Frontei-
solidariedade. naria menos arrogante e prepotente ra Sul UFFS,
examina o legado de James Alison reflete sobre a caso assumisse a
unidade indissolvel Morin para compreendermos a mio- doutrina do
pecado original luz da entre o sapiens e o demens dos seres pia dos
saberes que no dialogam, o Ressurreio de Jesus Cristo, seguin-
humanos, assinala. delrio arrogante de tudo conhecer- do as trilhas
de Paulo de Tarso e Ren Jean Louis Le Moigne, professor mos, e a
falta de sentido num ensino Girard. O telogo ingls busca superar
emrito da Universidade Aix-Marseille compartimentalizado. uma viso
moralista e chantagista do (Frana), analisa a importncia das Pode
parecer dramtico, mas pecado original. obras de Morin em conexo com
as realista: a necessidade da transdis- Apostando numa teologia
capaz cincias dos sistemas, a engenharia e ciplinaridade aparece
mesmo no in- de ler os sinais dos tempos sendo a inteligncia
artificial. Todos somos terior de uma cincia como a Fsica,
proftica, o telogo jesuta venezue- responsveis pela aventura do
conhe- constata o fsico Mario Novello. lano Pedro Trigo, refletindo
sobre cimento humano e de suas socieda- Na viso de Angelita Maders,
a caminhada da reflexo teolgica des, avalia. Defensora Pblica do
Estado do Rio latino-americana, aponta os riscos de Unir
conhecimentos, cincias exa- Grande do Sul, o pensamento aberto
telogos enclausurados na academia. tas e humanas o objetivo da
trans- transdisciplinaridade e o pensamen- A todas e a todos uma
tima se- disciplinaridade hoje, afirma o fsico to complexo auxiliam
a compreenso mana e uma excelente leitura! romeno Basarab
Nicolescu. Saberes do sujeito e o dilogo com outros sa- entrelaados
so esperana de uma beres para encontrar uma soluo,
www.ihu.unisinos.br IHU Instituto Humanitas REDAO Colaborao: Csar
Sanson, Unisinos Andr Langer e Darli Sampaio, Diretor de redao:
Incio do Centro de Pesquisa e Apoio Endereo: Av. IHU On-Line a
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Correa Schneider ([email protected]). ([email protected]).
Wagner Altes e Mariana Staudt 2
3. ndice Tema de CapaLEIA NESTA EDIO TEMA DE CAPA | Entrevistas
5 Quem Edgar Morin? 5 Ba da IHU On-Line 6 Edgard de Assis Carvalho:
A revogao do antropocentrismo e a aquisio de saberes transversais
11 Jean Louis Le Moigne: Um apelo ao eterno perguntar 17 Mario
Novello: Um pensamento que no recebe ordens 21 Angelita Maria
Maders: Morin e a compreenso do Direito como um sistema 25 Larcio
Pilz: Complexidade e pensamento vivo 29 Gerson Egas Severo: A
professora imaginria e o descentramento da humanidade 34 Basarab
Nicolescu: A incompatibilidade entre transdisciplinaridade e
pensamento nico DESTAQUES DA SEMANA 36 LIVRO DA SEMANA: James
Alison: O perdo antecede o pecado. A superao de uma viso moralista
e chantagista 40 TEOLOGIA PBLICA: Pedro Trigo: Telogos
enclausurados na academia. Um desafio 44 COLUNA DO CEPOS: Dnis de
Moraes: Valrio Brittos, missionrio da tica e da solidariedade 46
DESTAQUES ON-LINE IHU EM REVISTA 48 Agenda da Semana 50 IHU
Reprter: Srgio Trombetta www.ihu.unisinos.br www.ihu.unisinos.br
twitter.com/ihu bit.ly/ihufacebook www.ihu.unisinos.br 3
4. Tema de Capa Destaques da Semanawww.ihu.unisinos.br IHU em
Revista 4 SO LEOPOLDO, 00 DE XXX DE 0000 | EDIO 000
5. Tema de CapaQuem Edgar Morin? Edgar Morin nasceu em Pa-
Filho nico, seu pai, Vidal Nahoum, alternativa concepo de
paradig-ris, no dia 8 de julho de 1921. um era um comerciante
originrio de ma encontrada em Thomas Kuhn.antroplogo, socilogo e
filsofo Salnica. Sua me, Luna Beressi, fa- Seu primeiro livro
traduzido para ofrancs, judeu de origem sefardita. leceu quando ele
tinha 10 anos. Ateu portugus O cinema ou o homemPesquisador emrito
do Centre Na- declarado, descreve-se como um imaginrio, em
1958.tional de la Recherche Scientifique. neomarrano. Morin afirma
que diante dosFormado em Direito, Histria e Geo- A principal obra
de Edgar Morin problemas complexos que as socie-grafia, realizou
estudos em filosofia, a constituda por seis volumes, La dades
contemporneas hoje enfren-sociologia e epistemologia. autor mthode
(em portugus, O Mto- tam, apenas estudos de carter in-de mais de
trinta livros, entre eles: O do). Foi escrita durante trs dcadas
ter e politransdisciplinar poderiammtodo (6 volumes), Introduo ao e
meia. Trata-se de uma das maiores resultar em anlises satisfatrias
depensamento complexo, Cincia com obras de epistemologia disponvel.
tais complexidades. Afinal escreveconscincia e Os sete saberes
neces- Morin inicia os primeiros escritos de , de que serviriam
todos os sabe-srios para a educao do futuro. da obra em 1973, com a
publicao res parciais seno para formar umaDurante a Segunda Guerra
Mundial, do livro O paradigma perdido: a na- configurao que
responda a nossasparticipou da Resistncia Francesa. tureza humana,
uma transformao expectativas, nossos desejos, nossasconsiderado um
dos principais pen- epistemolgica por questionar o fe- interrogaes
cognitivas?sadores contemporneos e um dos chamento ideolgico e
paradigmtico Disponvel em: http://migre.me/principais tericos da
complexidade. das cincias, alm de apresentar uma aBgaN.O Mtodo em
portugusO Mtodo 1 A Natureza da Natureza (Europa Amrica: Portugal
1987. Porto Alegre: Sulina, 2003)O Mtodo 2 A vida da vida (Europa
Amrica, 1999. Sulina, 2001)O Mtodo 3 O Conhecimento do Conhecimento
(Europa Amrica, 1996. Sulina, 2002)O Mtodo 4 As ideias: habitat,
vida, costumes, organizao (Sulina, 2002. Europa Amrica, 2002)O
Mtodo 5 A humanidade da humanidade: a identidade humana (Sulina,
2003. Europa Amrica, 2003) www.ihu.unisinos.brO Mtodo 6 A tica
(Europa Amrica, 2005. Sulina, 2005)Ba da IHU On-LineConfira a edio
da IHU On-Line que trata sobre tema congneres aos de Edgar Morin: O
ser humano como sujeito social na Teoria dos sistemas,
auto-organizao e caos. Edio 142, de 23-05-2005, dispo- nvel em
http://bit.ly/jkjCb6EDIO 402 | SO LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012
5
6. Tema de Capa A revogao do antropocentrismo e a aquisio de
saberes transversais Fragmentao dos saberes obstaculiza a
consolidao do humanismo, frisa Edgard de Assis Carvalho. A cincia
se tornaria menos arrogante e prepotente caso assumisse a unidade
indissolvel entre o sapiens e o demens dos seres humanos Por Mrcia
Junges O antropocentrismo colocou os Edgard de Assis Carvalho
graduado em humanos em nvel superior a Cincias Sociais pela
Universidade de So todas as espcies vivas. Pulses Paulo USP, doutor
em Antropologia pela incontidas o levam a destruir o que tem e v
Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de pela frente. De nada
adiantou sabermos que a Rio Claro, ps-doutor pela Ecole des Hautes
Terra no era o centro do universo, que a evo- tudes e Sciences
Sociales (EHESS), na Frana, luo um processo descontnuo, que somos e
livre docente pela Universidade Estadual irremediavelmente regidos
pelo inconsciente. Paulista Jlio de Mesquita Filho Unesp. Achamos,
tambm, que somos nicos seres professor titular de Antropologia na
Pontifcia de cultura. A ponderao de Edgard de As- Universidade
Catlica de So Paulo PUC-SP, sis Carvalho, em entrevista exclusiva
concedi- coordenador do comit de tica em pesqui- da por e-mail IHU
On-Line. Em seu ponto de sa e coordenador do Ncleo de Estudos da
vista, revogar o antropocentrismo crucial Complexidade Complexus da
PUC-SP e para a concretizao da poltica de civilizao representante
brasileiro da Ctedra Itineran- proposta por Edgar Morin. E
acrescenta: a te Unesco Edgar Morin Ciuem. um dos aquisio de
saberes transversais a base que autores de Cultura e pensamento
complexo deve reger a reforma do ensino e da educa- (Natal: EDUFRN,
2009). De suas obras, des- o. A religao, portanto, no soluo para
tacamos: tica, solidariedade e complexida- nada, mas desafio
constante a ser posto em de (So Paulo: Palas Athena, 1998) e Edgar
prtica nas escolas do ensino fundamental, Morin: em busca dos
fundamentos perdidos. mdio e superior. A fragmentao que hoje Textos
sobre o marxismo (Porto Alegre: Edi- domina os campos do saber
impede a conso- tora Sulina, 2002). www.ihu.unisinos.br lidao do
humanismo. Confira a entrevista. IHU On-Line Qual a maior in- seu
primeiro livro publicado em 1946. tar um avano nas conquistas
sociais. tuio de Edgar Morin em seu pen- Em O ano zero da
Alemanha1, sob os O ano de 1989 que sinalizou para samento? Em que
as aspectos reside escombros do final da Segunda Guerra Eric
Hobsbawm2 o final do sculo XX sua atualidade? Mundial, ele imagina
que a Alemanha Edgard de Assis Carvalho No poderia vir a ser um
exemplo para o 2 Eric Hobsbawm: historiador marxista se trata
apenas de intuio, mas de mundo. Dividida entre as potncias do sculo
XX. Autor de inmeros livros, um trabalho sistemtico de pesquisa,
que saram vencedoras da Guerra, a entre os quais A era dos extremos
(So interpretao, criatividade. Com mais Alemanha socialista poderia
represen- Paulo: Companhia das Letras, 1995), A era do capital (Rio
de Janeiro: Paz e de 60 livros publicados, aos 91 anos, Terra,
1982), A era das revolues (Rio Edgar Morin hoje um dos maiores de
Janeiro: Paz e Terra, 1982), A era dos pensadores vivos. Judeu
sefardita, 1 LAn zro de lAllemagne (La Cit imprios (Rio de Janeiro:
Paz e Terra, Universelle, Paris, 1946). (Nota da IHU 1988),
Bandidos (Rio de Janeiro: Forense membro da resistncia francesa,
teve On-Line) Universitria, 1976) e sua autobiografia, 6 SO
LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012 | EDIO 402
7. incumbiu-se de demonstrar que essa A importncia noologias,
ou seja, esses circuitos de Tema de Capabipartio ficara invivel no
contexto ideias que organizam as percepespoltico-econmico da
modernidadeque varreu os socialismos da face da de Edgar Morin do
sujeito. Os sistemas de ideias que conformam as teorias e conceitos
de-Terra. Importante frisar, porm, quea semente da complexidade j
estava no pode ser vem ser abertos, biodegradveis, ja- mais eternos
e fixos. Funcionam comol, mesmo que ele fosse muito jovem
operadores de organizao do mundoe no tivesse ainda passado pelas
resumida aos da vida.trs reorganizaes gentico-cogni- O volume cinco
A humanidadetivas que iriam marcar sua trajetria seis volumes da
humanidade: a identidade humanaacadmica. (Sulina, 2003. Europa
Amrica, 2003) de O mtodo, estabelece uma relao crtica com o IHU
On-Line Nesse contexto, conceito de identidade e adverte con-qual a
importncia dos seis volumes publicados tra os sentidos do
relativismo que node O mtodo? consegue enxergar alm das fronteiras
Edgard de Assis Carvalho A im-portncia de Edgar Morin no pode de
modo no de raa, sexo, religio. A identidade nunca pura, pelo
simples fato de queser resumida aos seis volumes de Omtodo,
publicados de modo no se- sequencial ordens individuais, sociais e
csmicas esto em constante interao, e nemquencial no perodo
1977-2004. Suaobra dividida em macrotemas: m- no perodo sempre de
modo harmnico. Por ve- zes so antagnicas e contraditrias.todo,
pensamento complexo, trindadehumana, tetralogia pedaggica, era
1977-2004 Finalmente o volume seis A tica (Europa Amrica, 2005.
Sulina, 2005)planetria, tempo presente, pensa- ilustra as
contradies contempor-mento poltico, caminho, voz, dirios, neas que
cercam a tica individual ecolquios. H tambm um site oficial
destacar algumas ideias nucleares a tica da polis. preciso
redefinir odo Centre Edgar Morin na internet: dessa fascinante
hexalogia. O volume pensamento da tica e a tica do
pen-www.iiac.cnrs.fr, em que a bibliografia um A natureza da
natureza (Europa samento. Qualquer ato tico uma re-completa
encontrada. Esses temas Amrica: Portugal 1987. Porto Alegre: ligao
com o mesmo e o outro, com ase entrecruzam a todo tempo. H, Sulina,
2003) estabelece a dialogia comunidade, a humanidade, o cosmo.porm,
algo que deve ser enfatizado. entre ordem e desordem que marca aSem
a leitura dos seis volumes, qual- passagem das leis da natureza
natu- IHU On-Line Para Edgar Morin,quer leitor no conseguir
estabele- reza das leis. A unidade complexa da somos sapiens e
demens concomitan-cer as conexes necessrias para a natureza contm
relaes entre todo e temente. Como conviver com essecompreenso das
bases, dos funda- partes, emergncias e reorganizaes lado oculto (e
inegvel) da nossa exis-mentos, das propostas que cercam o de padres
organizatrios aleatrios. tncia como apontara Nietzsche aopensamento
do autor. Se voc l, por A natureza no regida unicamente formular o
conceito de tragdia?exemplo, Meu caminho, livro de en- por relaes
de causa e efeito e, em si Edgard de Assis Carvalho Notrevistas
concedidas a Djnane Kareh mesma, no portadora de uma fina-
considero uma concomitncia, masTager, o prprio Morin se incumbe
lidade estabelecida a priori. uma convivncia. Como toda convi-de
revelar que a totalidade da obra O volume dois A vida da vida
vncia, a do sapiens e a do demensconstitui um mosaico de
interligaes (Europa Amrica, 1999. Sulina, 2001) simultaneamente
oposta e com-e interconexes entre vrias reas do penetra a fundo na
ecologia, pelo plementar. De um lado, temos o ladosaber, e no
apenas do ocidental. Da simples fato de que os ecossistemas
sistemtico das regulaes cotidianasresultam as crticas,
incompreenses e so sistemas vivos que, a todo tempo, e dos padres
culturais que prescre- www.ihu.unisinos.brressentimentos que os
intelectuais e integram a organizao biolgica na vem nossa vida
cotidiana; de outrono s os brasileiros dirigem ao con- ordem
csmica. O volume trs O Co- o descomedimento, a loucura, a hi-junto
de suas ideias. nhecimento do Conhecimento (Europa bris que
costumam ser recalcados Amrica, 1996. Sulina, 2002) abran- para os
subterrneos da mente e do IHU On-Line O que destacaria ge o
processo do conhecimento e a corpo. Assumir a dialogia necessriaem
cada um deles como fundamento abertura bioantropossociolgica e o
entre oposio e complementarida-para compreendermos sua obra? ponto
de partida para a anlise do ina- de implica reconhecer que somos
Edgard de Assis Carvalho A res- cabamento humano. Conhecer com-
sempre seres da falta e que, por isso,posta demandaria uma anlise
mais putar, e essa computao tecida pelo aprendemos a priorizar um
lado emaprofundada que excede os limites entrelaamento dos
itinerrios racio- detrimento do outro. Conviver simul-de uma
entrevista. possvel, porm, nal-lgico-dedutivo e simblico-mti-
taneamente com essas duas facetas co-imaginrio. O volume quatro As
requer o abandono do antropocen- ideias: habitat, vida, costumes,
organi- trismo e o reconhecimento de que Tempos Interessantes: uma
vida no sculo zao (Sulina, 2002. Europa Amrica, somos, como afirmou
Michel Cass, XX (So Paulo: Companhia das Letras, 2002).(Nota da IHU
On-Line) 2002) incursiona pelas noosferas e filhos do Cu, seres da
impermann-EDIO 402 | SO LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012 7
8. cia, insignificantes diante do mistrio Nietzsche um mos que,
em si mesma, a tcnica noTema de Capa e da incerteza da vida.
Nietzsche um boa nem m. Seus efeitos dependem dos interlocutores de
Edgar Morin e, certamente, O nascimento da trag- dos interlocutores
de ecopolticas postas em prtica pelo conjunto da sociedade civil. A
revoga- dia (So Paulo: Companhia das Letras, 1992), de 1872, mesmo
que no o cite de Edgar Morin o do antropocentrismo , portanto,
crucial para a concretizao da poltica constantemente, faz parte de
suas ba- de civilizao proposta por Edgar Mo- ses interpretativas.
Nesse ensaio per- e, certamente, rin. Em Rumo ao abismo (Rio de
Janei- turbador Nietzsche expe a relao ro: Bertrand Brasil, 2007),
por exem- entre o apolneo e o dionisaco. E no O nascimento plo,
publicado em 2007, encontramos faz isso para ser aplicado ao teatro
ou explicitados os fundamentos da crise a msica, mas a todas as
expresses da tragdia, de da mundializao. Se as mdias pro- do
humano. O que ele mostra como duziram e difundiram produtos cultu-
duas noes aparentemente opostas 1872, mesmo rais os mais
diferenciados, o acesso podem ser complementares. A rigor, cultura
permanece elitizado. A cultura todos somos, ao mesmo tempo, apo-
lneos e dionisacos. E aqui reside nos- que no o cite dita de massa
no se democratizou. Pelo contrrio, criou iluses, fantas- sa tragdia
contempornea. Sob a luz da razo, da tcnica, existem sombras
constantemente, mas, desejos mimticos que nunca se realizam. Seria
preciso perceber que que precisam ser identificadas. faz parte de a
humanidade , ao mesmo tempo, una e mltipla. Diversidades culturais
IHU On-Line Tomando em con- siderao o pensamento de Edgar suas
bases deveriam dialogar entre si, pois todas elas se inserem na
mesma identida- Morin, como se manifestam o homo sapiens e o
demens? interpretativas de terrena. A sociedade-mundo tem diante de
si o desafio de enfrentar o Edgard de Assis Carvalho No
terror-mundo que se dissemina por se trata de uma manifestao, mas
de toda parte. uma condio imanente dos homens sitado a Terra, em
vez de viver sim- em geral. Est presente em humanos bioticamente
com ela? IHU On-Line Podemos pensar de todos os tempos e lugares. O
sa- Edgard de Assis Carvalho A pre- esse comportamento
antropocntri- piens apolneo, o demens dionisaco. servao e a
sustentabilidade da Terra co a partir da ecologia da ao? Como Nos
tempos lquidos de hoje, o sapiens so metas prioritrias diante da
idade seria essa anlise? o legitimador da razo contempor- de ferro
planetria em que nos en- Edgard de Assis Carvalho A eco- nea,
comandada pelo quadrimotor contramos. Sustentabilidade implica
logia da ao um dos deflagradores cincia/tcnica/indstria/estado que
garantir para as geraes futuras uma desse processo. Em primeiro
lugar, conduz os processos da globaliza- destinao democrtica digna
que seria necessrio desfazer a separao o. Sabemos que, de um lado,
eles acabe de vez com as desigualdades e entre homem e natureza,
introduzida pregam a uniformizao e, de outro, isso contraditrio com
polticas de- no pensamento moderno, pelo menos geram processos
crescentes de exclu- senvolvimentistas baseadas numa su- desde
Descartes4. O antropocentrismo so, intolerncias, racismos. O demens
posta superioridade da tecnocincia. considera que a via racional no
a A perspectiva estadocntrica precisa nica forma de acesso
realidade. ser reequacionada em prol de rela- disponvel para
download em http:// migre.me/uNtv, e 187, de 3-07-2006, Por vezes,
a via imaginal acessa essa es sociais equitativas e equnimes.
intitulada Ser e tempo. A desconstruo mesma realidade com certo
despudor A destruio sistemtica dos ecossis- da metafsica, que pode
ser acessado e liberdade. Por isso as artes em ge- temas tem a ver
com a suposta supe- em http://migre.me/uNtC. Confira,
www.ihu.unisinos.br ainda, o n 12 do Cadernos IHU Em ral so
elementos fundamentais de rioridade do homem que acredita na Formao
intitulado Martin Heidegger. compreenso do mundo. Para Edgar
dominao da natureza como fonte A desconstruo da metafsica, que pode
Morin, o cinema, a literatura, as artes de progresso. Desde
Heidegger3, sabe- ser acessado em http://migre.me/uNtL. Confira,
tambm, a entrevista concedida so desdobramentos da representa- por
Ernildo Stein edio 328 da revista o e, como tal, devem ser necessa-
3 Martin Heidegger (1889-1976): IHU On-Line, de 10-05-2010,
disponvel filsofo alemo. Sua obra mxima O em http://migre.me/FC8R,
intitulada O riamente includas nas interpretaes ser e o tempo
(1927). A problemtica biologismo radical de Nietzsche no pode que
fazemos a nosso prprio respeito. heideggeriana ampliada em Que ser
minimizado, na qual discute ideias de A cincia ficaria menos
arrogante e metafsica? (1929), Cartas sobre sua conferncia A crtica
de Heidegger o humanismo (1947), Introduo ao biologismo de
Nietzsche e a questo prepotente se admitisse esse fato e metafsica
(1953). Sobre Heidegger, a IHU da biopoltica, parte integrante do
Ciclo percebesse que o sapiens e o demens On-Line publicou na edio
139, de 2-05- de Estudos Filosofias da diferena - Pr- constituem
uma unidade indissolvel. 2005, o artigo O pensamento jurdico-
evento do XI Simpsio Internacional poltico de Heidegger e Carl
Schmitt. IHU: O (des)governo biopoltico da vida A fascinao por noes
fundadoras do humana. (Nota da IHU On-Line) IHU On-Line A partir do
cenrio nazismo, disponvel para download em 4 Ren Descartes
(1596-1650): filsofo, http://migre.me/uNtf. Sobre Heidegger, fsico
e matemtico francs. Notabilizou-se de devastao da natureza, correto
confira as edies 185, de 19-06-2006, sobretudo pelo seu trabalho
revolucionrio concluir que o ser humano tem para- intitulada O
sculo de Heidegger, da Filosofia, tendo tambm sido famoso 8 SO
LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012 | EDIO 402
9. colocou os humanos em nvel supe- A cincia ficaria na teoria
da complexidade de Morin. Tema de Caparior a todas as espcies
vivas. Pulses Acredita que a religao dos saberesincontidas o levam
a destruir o quetem e v pela frente. De nada adian- menos arrogante
pode tornar mais pacfica e ressignifi- car a existncia das pessoas?
Edgard de Assis Carvalho Atou sabermos que a terra no era ocentro
do universo, que a evoluo e prepotente se Teoria Geral dos Sistemas
e o pen- um processo descontnuo, que so- samento complexo so
complemen-mos irremediavelmente regidos pelo admitisse esse tares.
No podem ser igualados. Ainconsciente. Achamos, tambm, que
existncia humana pacfica, to pro-somos nicos seres de cultura.
Morin fato e percebesse clamada desde Kant8 a respeito da
pazrefere-se vrias vezes ao conceito de perptua, requer um trabalho
siste-cultura, considerando-o um conceito- que o sapiens mtico no
nvel das ideias. As noosfe--armadilha. Contaminado pelo carte- ras
e as noologias esto a para seremsianismo, esfacelou-se em
dualidades: e o demens retrabalhadas a todo tempo. A religa-cultura
erudita/cultura popular, cultu- o dos saberes uma base cognitivara
cientfica/cultura das humanidades,essas ltimas responsveis pela
conso- constituem e afetiva a ser aplicada em todos os nveis da
formao escolares. A aqui-lidao da fragmentao universitria.Patrimnio
universal, a cultura tem uma unidade sio de saberes transversais a
base que deve reger a reforma do ensinopadres, prescries, normas,
mastambm resistncias, zonas obscuras indissolvel e da educao. A
religao, portanto, no soluo para nada, mas desafiodifceis de serem
decifradas. A cultura constante a ser posto em prtica nasno apenas
uma fbrica da ordem. admitssemos esse fato, nossa supos- escolas do
ensino fundamental, m- igualmente desordem, interao, re- ta
arrogncia poderia ser minimizada. dio e superior. A fragmentao
queorganizao. A moderna etologia de- Passaramos a ser
coparticipantes de hoje domina os campos do saber im-monstra que
primatas no humanos nossa aventura hominescente. pede a consolidao
do humanismo.conseguem estabelecer polticas do uma reserva de poder
de reas dis-bem-viver baseadas em estratgias de IHU On-Line Diz-se
que no um- ciplinares que se contentam com ava-paz e tica. A
cultura no mais nos- bral da academia de Plato6 havia um liaes
quantitativas e produtivismosso privilgio. Trata-se, talvez, de uma
conselho de que s entrasse ali quem classificatrios. A pergunta que
deve-quarta ferida narcsica que seria acres- soubesse geometria.
Esse conselho ria ser dirigida aos avaliadores nome-centada
formulao de Freud5. Se tem sua verso moderna na teoria ados pelo
aparato de Estado quem geral dos sistemas de Bertalanffy7 e ir
avali-los. Essas comisses consa- por ser o inventor do sistema de
gram a fragmentao e, com isso, so coordenadas cartesiano, que
influenciou empecilhos construo do conheci- o desenvolvimento do
clculo moderno. disponvel para consulta no link http:// Descartes,
por vezes chamado o fundador migre.me/s8jc. A edio 207, de 04-12-
da filosofia e matemtica modernas, 2006, tem como tema de capa
Freud e 8 Immanuel Kant (1724-1804): filsofo inspirou os seus
contemporneos e a religio, disponvel para download em prussiano,
considerado como o ltimo geraes de filsofos. Na opinio de
http://migre.me/s8jF. A edio 16 dos grande filsofo dos princpios da
era alguns comentadores, ele iniciou a Cadernos IHU em formao tem
como moderna, representante do Iluminismo, formao daquilo a que
hoje se chama de ttulo Quer entender a modernidade?
indiscutivelmente um dos seus pensadores racionalismo continental
(supostamente Freud explica, disponvel para download mais
influentes da Filosofia. Kant teve um em oposio escola que
predominava em http://migre.me/s8jU. (Nota da IHU grande impacto no
Romantismo alemo nas ilhas britnicas, o empirismo), posio On-Line)
e nas filosofias idealistas do sculo XIX, filosfica dos sculos XVII
e XVIII na Europa. 6 Plato (427-347 a. C.): filsofo tendo esta
faceta idealista sido um ponto (Nota da IHU On-Line) ateniense.
Criador de sistemas filosficos de partida para Hegel. Kant
estabeleceu 5 Sigmund Freud (1856-1939): influentes at hoje, como a
Teoria das uma distino entre os fenmenos e a www.ihu.unisinos.br
neurologista e fundador da Psicanlise. Idias e a Dialtica. Discpulo
de Scrates, coisa-em-si (que chamou noumenon), Interessou-se,
inicialmente, pela histeria Plato foi mestre de Aristteles. Entre
isto , entre o que nos aparece e o que e, tendo como mtodo a
hipnose, suas obras, destacam-se A Repblica e o existiria em si
mesmo. A coisa-em-si estudava pessoas que apresentavam Fdon. Sobre
Plato, confira e entrevista no poderia, segundo Kant, ser objeto
esse quadro. Mais tarde, interessado As implicaes ticas da
cosmologia de de conhecimento cientfico, como at pelo inconsciente
e pelas pulses, foi Plato, concedida pelo filsofo Prof. Dr. ento
pretendera a metafsica clssica. A influenciado por Charcot e
Leibniz, Marcelo Perine edio 194 da revista cincia se restringiria,
assim, ao mundo abandonando a hipnose em favor da IHU On-Line, de
04-09-2006,disponvel dos fenmenos, e seria constituda associao
livre. Estes elementos em http://migre.me/uNq3. Leia, pelas formas
a priori da sensibilidade tornaram-se bases da Psicanlise. Freud,
tambm, a edio 294 da Revista IHU On- (espao e tempo) e pelas
categorias do alm de ter sido um grande cientista e Line, de
25-05-2009, intitulada Plato. A entendimento. A IHU On-Line nmero
escritor, realizou, assim como Darwin totalidade em movimento,
disponvel em 93, de 22-03-2004, dedicou sua matria e Coprnico, uma
revoluo no mbito http://migre.me/uNqj. (Nota da IHU On- de capa
vida e obra do pensador com humano: a idia de que somos movidos
Line) o ttulo Kant: razo, liberdade e tica, pelo inconsciente.
Freud, suas teorias e 7 Karl Ludwig von Bertalanffy (1901-
disponvel para download em http:// o tratamento com seus pacientes
foram 1972): bilogo criador da Teoria geral dos migre.me/uNrH.
Tambm sobre Kant foi controversos na Viena do sculo XIX, sistemas.
Cidado austraco, desenvolveu publicado este ano o Cadernos IHU em e
continuam muito debatidos hoje. A a maior parte do seu trabalho
cientfico formao nmero 2, intitulado Emmanuel edio 179 da IHU
On-Line, de 08-05- nos Estados Unidos da Amrica. autor Kant - Razo,
liberdade, lgica e tica, 2006, dedicou-lhe o tema de capa sob o de
Teoria Geral dos Sistemas (Petrpolis: que pode ser acessado em
http://migre. ttulo Sigmund Freud. Mestre da suspeita, Vozes,
1968). (Nota da IHU On-Line) me/uNrU. (Nota da IHU On-Line)EDIO 402
| SO LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012 9
10. mento pertinente, alis um dos sabe- A preservao e da
racionalizao. A desrazo estTema de Capa res propostos por Edgar
Morin. diante de ns e integr-la ao nvel dos IHU On-Line Como os
sete sa- e a susten- saberes sistematizados algo priorit- rio e
inadivel. Uma nova concepo beres podem se fazer presentes para as
pessoas nos dias de hoje? Qual tabilidade da de mundo exige que a
esperana se converta em meta prioritria. Sem ela, a grande esperana
que nasce a par- instalam-se o conformismo e a ade- tir de uma nova
concepo de vida e Terra so metas so s prticas convencionais. Com
relacionalidade? ela podem-se construir vias para o fu- Edgard de
Assis Carvalho A prioritrias diante turo da humanidade
desencadeadas proposta dos sete saberes as ce- por amplas reformas
do pensamento, gueiras do conhecimento: o erro e a da idade de
ferro da educao, da sociedade, da vida. iluso, o conhecimento
pertinente, a Esse o propsito do ltimo livro de condio humana, a
identidade terre- planetria em que Edgar Morin A via para o futuro
da na, as incertezas, a compreenso, ti- humanidade. ca do gnero
humano tem a ver com algo mais profundo. Foi um desafio nos
encontramos IHU On-Line Gostaria de proposto a Edgar Morin pelo
ministro acrescentar alguns aspectos no da educao nacional da
Frana, em questionados? 1999, no final segundo mandato de na IX
tese sobre Feuerbach12, alis Edgard de Assis Carvalho Como Franois
Mitterand. A proposta visa- sempre referida por Morin, deve ser
explicitei anteriormente, a complexi- va prioritariamente o ensino
mdio. o fio condutor de qualquer iniciativa dade no deve ser vista
como soluo Em sucessivas reunies preparatrias reformadora. O
pensamento comple- para os males do mundo, mas como e entrevistas
imprensa, Edgar Mo- xo no pensa contra Marx, mas com desafio
constante a ser posto em rin sempre enfatizava que os saberes Marx.
necessrio retomar os fun- prtica na vida social em seu conjun- no
deveriam ser concebidos como damentos perdidos, saturar a noo to em
prol de um mundo mais justo, disciplinas. Eles so deflagradores de
de homem genrico com emoo e equitativo e tico, e isso no nvel do
uma cosmoviso capaz de religar de- descomedimento. indivduo, da
sociedade e da espcie. finitivamente a cultura cientfica e a Somos
seres dotados de razo, Recentemente, Morin publicou um cultura das
humanidades. Essa neces- mas no podemos nos deixar domi- pequeno
livro O Caminho da espe- sidade j havia sido explicitada por nar
pelos atratores do racionalismo rana (Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, Charles Snow9 em 1957. Em As duas 2012), escrito com
Stphane Hessel13. culturas10, Snow enftico ao afir- nico
representante vivo dentre os mar que qualquer sistema social que
historiador e revolucionrio alemo, um signatrios da Declarao
Universal pensasse a si mesmo com sabedoria dos pensadores que
exerceram maior do Direitos do Homem, Hessel, hoje influncia sobre
o pensamento social deveria empenhar-se na busca dessa e sobre os
destinos da humanidade no com 93 anos, notabilizou-se em 2011 juno,
no por justaposio, mas por sculo XX. Marx foi estudado no Ciclo
pela publicao de um pequeno livro transversalidade. Talvez por isso
o de Estudos Repensando os Clssicos Indignai-vos no qual conclama
as da Economia. A edio nmero 41 dos projeto da reforma do ensino
mdio Cadernos IHU Ideias, de autoria de Leda novas geraes a se
revoltarem con- no tenha dado certo. Foram grandes Maria Paulani
tem como ttulo A (anti) tra o desmando generalizado instala- os
protestos sindicais. Restou uma re- filosofia de Karl Marx,
disponvel em do no mundo. Em O caminho da espe-
http://migre.me/s7lq. Tambm sobre serva de memria para ser
redefinida o autor, confira a edio nmero 278 da rana, ambos
reiteram que o objetivo nas escolas empenhadas numa edu- IHU
On-Line, de 20-10-2008, intitulada que pregam implica a denncia do
cao planetria. No Brasil, em 2010, A financeirizao do mundo e sua
crise. curso perverso da poltica insensata Uma leitura a partir de
Marx, disponvel ocorreu em Fortaleza uma confern- atual. Se ela
permanecer intocada, www.ihu.unisinos.br para download em
http://migre.me/ cia internacional presidida por Morin. s7lF. Leia,
igualmente, a entrevista que desastres irreversveis adviro. Os
saberes foram reiterados como Marx: os homens no so o que A salvao
pblica de que necessita- pensam e desejam, mas o que fazem,
prioritrios e o congresso lanou um concedida por Pedro de Alcntara
mos requer revolta, esperana, de- manifesto que foi
institucionalmente Figueira edio 327 da revista IHU terminao em
prol de uma poltica divulgado. preciso, porm, ter em On-Line, de
03-05-2010, disponvel de civilizao que abarque todos os para
download em http://migre.me/ mente que reforma da educao s Dt7Q.
(Nota da IHU On-Line) domnios da vida. ocorrer a partir da reforma
dos edu- 12 Ludwig Feuerbach (1804-1872): cadores. Essa a formulao
de Marx11 filsofo alemo, reconhecido pela influncia que seu
pensamento exerce 13 Stphane Frdric Hessel (1917): sobre Karl Marx.
Abandona os estudos de diplomata, embaixador, combatente da 9
Charles Percy Snow (1905-1980): fsico Teologia para tornar-se aluno
de Hegel, resistncia francesa e agente da Bureau e romancista
ingls. (Nota da IHU On- durante dois anos, em Berlim. De acordo
Central de Renseignements et dAction Line) com sua filosofia, a
religio uma forma (o servio de inteligncia da Frana). The Two
Cultures (London: Cambridge de alienao que projeta os conceitos
Nascido como alemo, Stphane obteve University Press, 1959). (Nota
da IHU On- do ideal humano em um ser supremo. a nacionalidade
francesa em 1937. Ele Line) autor de A essncia do cristianismo (2.
participou da elaborao da Declarao 11 Karl Heinrich Marx
(1818-1883): ed. So Paulo: Papirus, 1997). (Nota da Universal dos
Direitos Humanos de 1948. filsofo, cientista social, economista,
IHU On-Line) (Nota da IHU On-Line) 10 SO LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO
DE 2012 | EDIO 402
11. Tema de CapaUm apelo ao eterno perguntarJean Louis Le
Moigne analisa a importncia das obras de Edgar Morin emconexo com
as cincias dos sistemas, a engenharia e a inteligncia
artificial.Todos somos responsveis pela aventura do conhecimento
humano e desuas sociedades, avaliaPor Mrcia Junges | Traduo: Vanise
Dresch D e acordo com o engenheiro francs epistemolgico exigente.
Fazendo isso, Morin Jean Louis Le Moigne, a complexi- esforou-se,
junto com outros obviamente, dade est vinculada tanto ao global
para documentar, argumentar e ilustrar essas como ao local. No
devemos reduzi-la glo- questes. balidade. Na mecnica celeste, j se
conside- Jean Louis Le Moigne nasceu em 1931, ra o problema da
gravitao atrativa de trs em Casablanca, formou-se em Engenharia
corpos (trs somente!) como muito comple- na Universidade de Harvard
(EUA), trabalhou xo, no sentido de potencialmente imprevis- entre
1956 e 1971, no grupo Shell francs e vel na prtica. Ele discute,
tambm, a auto- lecciona, desde 1971, na Universidade Aix-
-organizao e a Teoria Geral dos Sistemas, -Marseille (Frana) onde
atualmente pro- de Bertallanfy: para adquirir autonomia fessor
emrito. presidente do Programa e, portanto, auto-organizar-se, um
sistema Europeu de Modelizao da Complexidade deve ser aberto, estar
em interao efetiva e vice-presidente da Associao Para o Pen- com
seus ambientes, que ele transforma e samento Complexo APC. Publicou
mais de que o transformam. Analisando o legado de uma centena de
artigos e cerca de duas de- Morin, Le Moigne pontua que as
disciplinas zenas de livros, alguns dos quais, escritos em
cientficas no podem mais definir-se por um colaborao com autores to
importantes nico objeto de conhecimento, estritamen- como Edgar
Morin ou Herbert Simon, entre os te delimitado e tido como um dado
da Natu- quais Les systmes dinformation dans les or- reza: elas
devem ser entendidas tambm e ganisations (1973), Les systmes de
dcision primeiramente por seu projeto de conheci- dans les
organisations, (1973) La thorie du mento, conscientemente formulado
pelo es- systme gnral, thorie de la modlisation prito humano,
atravs do qual interligam-se (1977); La modlisation des systmes
com- a experincia do corpo e a compreenso do plexes (1990),
Sciences de lintelligence, scien- mundo. E ressalta: a contribuio
mais de- ces de lartificiel (1986) com Edgar Morin; cisiva da obra
de Edgar Morin nesse sentido Science et conscience de la complexit
(1984); foi o apelo permanente dirigido a todos os Lintelligence de
la complexit (1999). www.ihu.unisinos.br cientistas para que nunca
deixassem de fazer Confira a entrevista. essas perguntas e
praticassem esse trabalho IHU On-Line A partir da teoria Edgar
Morin fala mais precisamente to, a expresso cincia dos sistemasda
complexidade de Edgar Morin, do paradigma da complexidade: O
complexos surge, em nossas univer-qual o nexo que une as cincias
dos paradigma no explica, ele permite sidades, a partir de 1985,
reunindosistemas, a engenharia e a intelign- a compreenso. Do mesmo
modo, subdisciplinas da cincia da regula-cia artificial? a expresso
cincia de sistemas o (ciberntica de primeira ordem), Jean Louis Le
Moigne Em pri- inadequada, no sentido de que todas da informtica,
da inteligncia arti-meiro lugar, precisamos estar atentos as
disciplinas cientficas podem tam- ficial e da matemtica dos
sistemas escolha das palavras: a complexi- bm ser consideradas
cincias dos dinmicos lineares e no lineares.dade no uma teoria no
sentido da sistemas, de modo que a expresso porm, como cincia
autnoma, elateoria da gravitao ou da evoluo. no designa nenhuma
delas. Por cer- se esqueceu de alicerar ou arrai-EDIO 402 | SO
LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012 11
12. gar seus prprios fundamentos... tar e conceber unidades
complexas, finir a inteligncia artificial, a qual eleTema de Capa O
trabalho preliminar ainda est por constitudas por inter-relaes
orga- preferia ter denominado simulao ser feito: conceber os
objetos como nizacionais entre elementos, aes ou funcional dos
processos cognitivos. sistemas. outras unidades complexas. A cin-
Uma simulao computacional (por Foi a esta empreitada que se de- cia
dos sistemas torna-se, por assim programao de heursticas que dis-
dicou Edgar Morin a partir de 1970, dizer, a cincia da modelizao e
da pem de sistemas de memorizao) a partir de sua experincia como
so- concepo sistmica (como e por um pode muitas vezes possibilitar
uma cilogo e antroplogo, mas principal- sistema em geral). Antes
organizado e interpretao plausvel de compor- mente desde o seu
encontro com a fechado, o conceito de sistema passa tamentos
observveis de um sujeito obra de H. Von Foerster1 e, em par- ento a
organizar e a organizar-se. Em dotado de um projeto e exposto a
ticular, o artigo seminal deste autor, vez de ser a palavra-mestra
da totali- variaes de seu ambiente externo. de 1959, intitulado Os
sistemas au- dade (holismo), ele se torna a raiz da Nesse sentido,
a inteligncia artifi- to-organizadores e seu ambiente.
complexidade. cial torna-se uma ferramenta de ex- Para adquirir
autonomia e, portanto, Assim sendo, as novas cincias plorao de
situaes possveis e de auto-organizar-se, um sistema deve da
engenharia, cincias de concepo elaboraes de estratgias de aes ser
aberto, estar em interao efetiva ou do artificial, como dir H.
Simon prximas concebveis, sem, contudo, com seus ambientes, que ele
transfor- (1969), podem ser entendidas como impor a escolha da
deciso certa. ma e que o transformam. cincias fundamentais, e no
mais Os possveis nem sempre so os de- A partir desse apelo a um
pen- como disciplinas de aplicao, servas sejveis nas decises de
comporta- samento aberto (e no mais fechado, das cincias de anlise,
ditas exatas mento humano, que, na prtica, so como implicavam os
quatro preceitos (reducionistas, causalistas, fecha- muitas vezes
multicritrios, critrios fundadores do Discurso do mtodo, das em
torno de um objeto passivo). raramente hierarquizados de manei- de
Ren Descartes, 1637), Morin mo- Tornam-se tambm, sobretudo elas, ra
uniforme. biliza todos os recursos oferecidos responsveis por sua
prpria crtica pelas novas disciplinas que se desen- epistemolgica
interna. Perspectiva transhumanista volveram desde a
institucionalizao A inteligncia artificial torna-se Essas
consideraes metodo- da ciberntica (cincia da regulao uma dessas
novas cincias da enge- lgicas requerem, evidentemente, interativa e
da comunicao entre or- nharia, fontes de heursticas explo- um
exerccio permanente de crtica dem desejada e desordem percebida),
ratrias nos campos das cincias da epistemolgica. Devemos nos inter-
das cincias da informao, da com- computao, que se revelaro muitas
rogar aqui sobre a leviandade desses putao, da cognio etc. O
conceito vezes poderosas para orientar infe- questionamentos
tico-epistmicos rgido de estrutura no permitia con- rncias nas
cincias da cognio, da quando se observam desvios cientifi- siderar
nem dar conta da mirade de biologia computacional, da lingustica
cistas tais como aqueles desenvolvi- interaes entre ordem e
desordem computacional, etc. dos na perspectiva transumanista (ou
que cada um de ns observa nas ati- ps-humanista) de uma humanidade
vidades humanas. Fazia-se necessrio IHU On-Line O desenvolvimen-
transformada pelas tcnicas compu- restaurar o conceito de
organizao, to da inteligncia artificial foi not- tacionais, que
deveriam permitir me- entendendo-o em sua complexidade: vel nos
ltimos anos. De que modo lhorar as caractersticas fsicas e men-
Unitas multiplex. esta rea do conhecimento humano tais dos seres
humanos (a partir de pode contribuir para o avano da trabalhos
contemporneos sobre as Crtica epistemolgica interna compreenso
interligada do conhe- tcnicas informticas da vida artificial, A
partir dessa base paradigmti- cimento, da prpria vida e de suas da
concepo artificial, da engenharia ca, a complexidade de base, o
concei- possibilidades? artificial, trabalhos raramente atentos to
de sistema, ou unidade complexa Jean Louis Le Moigne Talvez eu s
questes ideolgicas). Ser que po- organizada, surge como um
conceito- possa responder com uma observa- demos estabelecer
definitivamente os www.ihu.unisinos.br -piloto resultante das
interaes entre o de Paul Valry2 em seus Cahiers, a critrios de uma
melhora certa e uni- um observador/conceptor e o univer- qual bem
anterior ao surgimento da versal da espcie humana? so fenomenal;
ele permite represen- expresso inteligncia artificial (MIT, 1956):
Ns compreendemos melhor Inteligncia artificial 1 Heinz Von Foerster
(1911-2002): os viventes medida que inventamos Resta que as tcnicas
da inteli- bilogo austraco e um dos arquitetos da e construmos
mquinas (Cahiers XIII, gncia artificial so tcnicas de simu-
ciberntica, chamado por Edgar Morin 617, 1929). lao informtica.
Enquanto tais, elas como Scrates ciberntico, fundou a Biociberntica
para estudar os fenmenos Foi este argumento que H. Si- levam ao
exame fenomenolgico de biolgicos a partir dessa nova matriz. mon
enfatizou, j em 1969, para de- comportamentos observveis, suge-
Concebeu o processo de vida como sistema fechado para informao e
aberto para a rindo hipteses heursticas program- energia,
destacando o papel da interao 2 Ambroise-Paul-Toussaint-Jules Valry
veis a fim de propor inferncias que e da auto-organizao. Na esteira
dos (1871-1945): filsofo, escritor e poeta autorizam compreenses
funcionais estudos de Von Foerster, surgiu a teoria francs da
escola simbolista cujos escritos de Maturana & Varela e o
conceito de incluem interesses em matemtica, plausveis dos fenmenos
considera- Autopoiesis. (Nota da IHU On-Line) filosofia e msica.
(Nota da IHU On-Line) dos. Se algumas dessas simulaes pa- 12 SO
LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012 | EDIO 402
13. ramtricas levam a comportamentos Vivemos hoje Sem dvida,
foi o desenvolvimen- Tema de Capatidos como desejveis em contextos
to do positivismo segundo Augustepredefinidos, elas permitiro ento
arealizao efetiva de robs e prteses a crise dessa Comte6 que
garantiu a longa sobrevi- vncia do paradigma da epistemolo-que
podem cumprir essas mesmasfunes no mesmo contexto, prestan- renovao
de gia cartesiana que observamos ainda hoje. E. Morin (1991) o
nomeia odo ateno nos efeitos ditos pleiotr- grande paradigma do
Ocidente ou opicos. O processador concebido para nossos paradigmas
paradigma da cincia clssica. No en-cumprir essa funo pode
revelar-se tanto, devemos lembrar que, j ema posteriori capaz de
exercer outras de referncia 1934, G. Bachelard7 conclui Le
nouvelfunes no antecipadas no caso de esprit scientifique8 com um
apelo amodificaes s vezes mnimas do uma epistemologia no
cartesiana,contexto, sejam elas exgenas ou en- cartesianos do
Discurso do mtodo que ia desenvolver-se e organizar-sedgenas,
provocadas por efeitos de (1637): independncia do objeto e nos
desenvolvimentos das novas ci-autoaprendizagem. do sujeito,
fundamento do postulado ncias, dentro do paradigma da com-
Lembremo-nos aqui do prin- fundador de objetividade dita cientfi-
plexidade que E. Morin nos apresentacpio de Jean Piaget3: Um
sistema ca; modelizao analtica por reduo nos seis tomos de O
mtodo.inteligente pode e deve construir e a elementos tidos como
simples e evi-memorizar os traos de seu prprio Pensamento aberto
dentes; determinismo universal porcomportamento. Este princpio nos
Doravante, o desafio deixa de cadeias causais lineares;
fechamentolembra que a inteligncia no pri- ser defensivo, contra um
pensamento absoluto dos modelos que implicammeiramente um
processador, mas fechado, o reducionismo e o determi- contagens
exaustivas. Esses preceitos,um processo que s pode ser com- nismo
integrista. Torna-se construtivo, essencialmente derivados dos
trspreendido e desenvolvido em intera- a favor de um pensamento
aberto: axiomas formais do silogismo perfeitoes, que, por sua vez,
so auto-eco- O pensamento complexo um pen- segundo Aristteles4, no
apresentam-organizadoras. Podemos concluir samento que interliga,
escreveu E. um carter de evidncia universal.com uma famosa expresso
de desse Morin em 1976: O nico mtodo que No surpreendente que
elespensador: A inteligncia no inicia adotei foi tentar captar as
ligaes no tenham sido considerados a ni-nem pelo autoconhecimento,
nem mveis. Interligar, sempre interligar, ca garantia de todas as
verdades cien-pelo conhecimento das coisas como era um mtodo mais
rico, mesmo no tficas nos sculos anteriores. J emtais, e sim pelo
conhecimento de sua nvel terico, do que as teorias blin- 1708, G.
B. Vico5 publicou, na Univer-interao, e, orientando-se simul-
dadas, sob invlucro epistemolgico sidade de Npoles, um discurso
expli-taneamente para os dois polos des- e lgico, metodologicamente
aptas a citamente alternativo, O discurso dosa interao, ela
organiza o mundo enfrentar tudo, exceto, claro, a com- mtodo dos
estudos de nosso tempo,organizando-se a si mesma (Piaget, plexidade
do real. destacando as deficincias do reducio-1937). Sem dar ateno
a essa recur- assumindo essa relao crti- nismo analtico e
insistindo na riquezasividade constitutiva da inteligncia, ca
fundadora da legitimao antro- dessa faculdade da mente humana deser
que podemos falar apropriada- poltica dos conhecimentos a serem
relacionar, sempre relacionar emmente de inteligncia artificial?
ensinados e acionados, que renovam vez de separar primeiro.
constantemente a cincia, sempre en- IHU On-Line Nesse sentido,
gajada na aventura do conhecimento 4 Aristteles de Estagira (384
a.C. como o desenvolvimento transdis- 322 a.C.): filsofo nascido na
Calcdica, humano, que uma efetiva inter e trans-ciplinar das
cincias pode fornecer Estagira, um dos maiores pensadores
disciplinaridade pode desenvolver-se. de todos os tempos. Suas
reflexes As disciplinas cientficas no podemoutra compreenso sobre a
irreduti- filosficas por um lado originais e porbilidade dos
modelos analticos, cau- outro reformuladoras da tradio grega mais
definir-se por um nico objeto de www.ihu.unisinos.brsalistas,
deterministas e simples? acabaram por configurar um modo de
conhecimento, estritamente delimita- pensar que se estenderia por
sculos. Jean Louis Le Moigne A ques- Prestou inigualveis
contribuies parato nos convida expressamente a vol- o pensamento
humano, destacando-se 6 Augusto Comte (1798-1857): filsofo etar ao
enunciado dos quatro preceitos nos campos da tica, poltica, fsica,
pensador social francs. Fundou a escola metafsica, lgica,
psicologia, poesia, filosfica conhecida como positivismo e retrica,
zoologia, biologia, histria criou um conceito de cincia social a
que 3 Jean Piaget (1896-1980): psiclogo, natural e outras reas de
conhecimento. deu o nome de sociologia. O positivismo epistemlogo e
educador suo, professor considerado, por muitos, o filsofo que
comteano afirma que a verdade da de psicologia na Universidade de
Genebra mais influenciou o pensamento ocidental. cincia indiscutvel
e demonstrvel de 1929 a 1954, conhecido principalmente (Nota da IHU
On-Line) universalmente. (Nota da IHU On-Line) por organizar o
desenvolvimento cognitivo 5 Giambattista Vico ou Giovanni Battista
7 Gaston Bachelard (1884-1962): filsofo e em uma srie de estgios.
Escreveu Vico (1668-1744): filsofo italiano. poeta francs que
estudou sucessivamente inmeras obras, das quais citamos Discerniu a
explosiva mistura da razo as cincias e a filosofia. Seu pensamento
Tratado de Psicologia Experimental: A com a mecnica e ofereceu uma
nova est focado principalmente em questes inteligncia (Rio de
Janeiro: Forense, v. cincia que poderia trazer as mais altas
referentes filosofia da cincia. (Nota da 7, 1969) e A construo do
real na criana percepes da Renascena para dentro da IHU On-Line)
(Rio de Janeiro: Zahar, 1970). (Nota da metodologia dos primeiros
investigadores 8 O novo esprito cientfico (Lisboa: IHU On-Line)
modernos. (Nota da IHU On-Line) Editora 70, 1996). (Nota da IHU
On-Line)EDIO 402 | SO LEOPOLDO, 10 DE SETEMBRO DE 2012 13
14. do e tido como um dado da natureza: formalmente admissvel,
H. von Foers- emergncia autoeco-organizacional,Tema de Capa elas
devem ser entendidas tambm ter introduziu no pensamento cientfi- o
que levou E. Morin a desenvolver o e primeiramente por seu projeto
de co uma ideia muito renovadora: para paradigma da complexidade a
partir conhecimento, conscientemente for- que um sistema possa
evoluir aumen- do esquema de referncia de O mto- mulado pelo
esprito humano, atravs tando sua riqueza organizacional do, aquele
da autoeco-reorganizao. do qual interligam-se a experincia do
(emergncia de novos comportamen- Tornava-se assim possvel renovar a
corpo e a compreenso do mundo (cf. tos no pr-programados), ele
preci- modelizao dos sistemas complexos O paradigma corpo, esprito,
mundo, sa ser ativo em seu ambiente, rece- passando da modelizao
ciberntica dir P. Valry). bendo no s os inputs programados e
holstica inicial, fechada (autorre- Vivemos hoje a crise dessa
reno- ou ordenados, mas tambm o rudo, gulao do processador
caixa-preta), vao de nossos paradigmas de refe- a priori aleatrio,
no programado, modelizao sistmica aberta (fun- rncia. Precisamos
fazer do ideal de desordenado, que seguidamente os cionamento e
evoluo teleolgica e complexidade da cincia contempor- acompanha.
Potencialmente, em cer- contextualizada). nea aquele da restaurao
da solida- tas condies plausveis (um mnimo Caberia aqui completar a
inter- riedade entre todos os fenmenos, de redundncias na organizao
ini- pretao operatria do paradigma da lembrou G. Bachelard. No mais
sepa- cial), essa desordem imprevista pode, autoeco-reorganizao
pelos desen- rar o fazer e o compreender significa contudo,
suscitar a emergncia inter- volvimentos importantes introduzidos
tambm entender que o cientista tor- na de novos comportamentos, im-
por Morin acerca da interao recur- na-se cego sem os culos do
cidado. previstos, que se manifestaro na ati- siva dos processos
organizacionais e A aventura do conhecimento humano vidade da
organizao dentro de seu dos processos informacionais que eles
entrelaa-se constantemente com a ambiente. Desenvolve-se assim uma
formam e que os transformam recur- aventura das sociedades humanas:
recurso dita morfodinmica: agindo sivamente. A concepo dos sistemas
todos ns somos responsveis por ela. cinematicamente sobre seu
ambiente de informao encontra a um pla- que ento ela transforma, a
organi- no diretor que permite evitar que as IHU On-Line O que a
auto- zao transformada ela mesma. A restries prprias das
tecnologias da -eco-organizao dos fenmenos regulao ciberntica de
primeira or- informao e da comunicao prejudi- complexos? Em que
aspectos o co- dem engendra uma recurso cibern- quem a qualidade
potencial das inte- nhecimento dessa complexidade re- tica de
segunda ordem. raes poiticas entre os dois proces- sulta numa outra
compreenso tanto