HUBERTO ROHDEN
EDUCAÇÃO DO HOMEM
INTEGRAL
UNIVERSALISMO
ADVERTÊNCIA
A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar
é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e
dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior,
porque deturpa o pensamento.
Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a
transição de uma existência para outra existência.
O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado.
Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se
aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa
mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer
convenções acadêmicas.
INTRODUÇÃO
Os leitores antigos deste livro, no Brasil e em Portugal, estranharão talvez a
modificação total do seu conteúdo, embora o assunto continue a ser o mesmo.
Visamos, de preferência, a tarefa do educador, e não tanto a do educando.
Nos últimos decênios, a elite mais avançada do mundo ocidental está
focalizando intensamente o problema central de autoconhecimento e auto-
realização – e esta mentalidade não pode deixar de ter o seu reflexo sobre o
problema da educação.
Devido a estas modificações, o livro se tornou quase um manual de auto-
realização para o educador. O leitor não encontrará, nas seguintes páginas,
esquemas cristalizados nem métodos fixos para serem usados em classe.
Tanto mais encontrará orientação para uma compreensão profunda da arte de
educar.
Os tempos modernos exigem cada vez mais uma nítida auto-determinação,
porque o ambiente social está avassalando tudo com o seu escravizante alo-
determinismo.
A fim de salvaguardar a dignidade e o destino humano, é necessário que o
homem tenha consciência nítida do seu verdadeiro ser, que deverá orientar
todo o seu dizer e fazer.
De propósito, repetimos em diversos capítulos esta idéia fundamental da auto-
educação e da auto-realização, para que a verticalidade da razão-de-ser da
existência prevaleça cada vez mais sobre a horizontalidade dos objetivos da
vida.
Esperamos que o educador saiba dar ao educando, em troco miúdo, o que o
autor apresenta apenas em notas grandes.
EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA
Este livro, quando em sua primeira edição, foi escrito após a promulgação do
Decreto-lei n- 869, de 1969, que estabelecia “base filosófica” para a educação.
Como Professor de Filosofia, julgava eu de meu dever falar e escrever sobre
essa base filosófica para a educação. Neste sentido, realizei conferências,
elucidando o assunto, no Sul e Centro-Oeste do Brasil, inclusive no EMFA
(Estado Maior das Forças Armadas) e na Universidade de Brasília, como
também, mais tarde, em Portugal.
Depois de diversos anos de experiências, porém, acabei por convencer-me de
que não é possível dar à educação uma base filosófica, se por filosofia e
educação se entende o que eu entendo. Semenhante base seria possível
unicamente para uma auto-educação, mas não para a alo-educação do
programa oficial. Mas a auto-educação é idêntica à auto-realização, que, como
tal, não é da alçada dos poderes públicos, mas de iniciativa particular.
Por isto, na presente edição, deixei de parte o programa oficial da alo-
educação, legal e social, e me limitei à auto-educação individual. A alo-
educação gira em torno do problema social da moralidade do agir, ao passo
que a auto-educação focaliza o assunto individual da verdade do ser.
Indiretamente, é verdade, a filosofia da verdade do ser afeta também a
sociologia da moralidade do agir, mas as escolas não tratam diretamente
daquela.
De maneira que este livro, na forma atual, é sobretudo um estudo sobre a
verdade do ser individual, que é idêntica à auto-realização baseada em
autoconhecimento.
Esta filosofia individual não é organizável como base da educação oficial. A
filosofia da auto-educação ou auto-realização seria a única base sólida para
uma pedagogia eficiente.
Os físicos conhecem o fenômeno da “indução magnética”, produzida por uma
corrente elétrica de alta voltagem, que cria um campo magnético por indução,
sem nenhum contato direto entre eletricidade e magnetismo.
E por que não teria a física a sua contraparte na metafísica? Por que não
poderia uma alta voltagem de auto-educação individual criar, por indução
espiritual, um poderoso campo magnético na zona da alo-educação social? Se
é verdade que agere sequitur esse, que o agir é um transbordamento do ser,
por que não poderia um educador plenamente realizado em si mesmo
influenciar beneficamente os educandos realizáveis, mesmo sem nenhum
programa de técnica externa?
Este livro deixou de ser, assim, um livro escolar, e se tornou, por assim dizer,
um manual de auto-realização. Indiretamente, porém, como dizíamos, pode
beneficiar a todos, por meio de indução espiritual. Basta que haja, na alma de
um indivíduo, uma fonte de alta voltagem parta que outros homens receptivos
sejam por ela beneficiados.
O PROBLEMA PARADOXAL
DA EDUCAÇÃO
Se possível fosse uma alo-educação, como os nossos programas parecem
supor, não haveria problema. Mas, como dizíamos, a única educação
verdadeira é uma auto-educação, que é totalmente individual.
Ninguém pode educar alguém.
Alguém só pode educar-se a si mesmo.
A verdadeira educação é essencialmente intransitiva, ou reflexiva, subjetiva.
Nem o próprio Cristo conseguiu alo-educar seus discípulos; do contrário não
teria Judas traído o Mestre. E mesmo os restantes discípulos não estavam
convertidos no dia da ascensão, depois de três anos de convivência com o
melhor dos educadores. Eles, e outros, se auto-educaram na gloriosa manhã
do Pentecostes, quando o espírito da verdade, que neles despertou, os
transformou total e definitivamente. O que o Mestre fez, e que todo mestre
pode e deve fazer, foi mostrar o caminho no qual o discípulo se pode auto-
educar. Mas nenhum mestre tem a certeza de que o seu discípulo siga esse
caminho. O livre-arbítrio do homem é uma fortaleza inexpugnável, cujas portas
não abrem para fora, mas só para dentro.
Não é verdade que o meio bom faça o homem necessariamente bom, embora
lhe facilite ser bom.
E, praticamente, é apenas isto que o educador pode fazer para seu educando.
De maneira que o educador se limita a mostrar o caminho certo ao educando.
Aqui, porém, entra em função um fator misterioso e dificilmente explicável: o
ser central do educador vitaliza o seu dizer periférico. E esse ser central
coincide com a auto-educação e a auto-realização do educador.
De maneira que, em última análise, o efeito decisivo da alo-educação radica na
auto-educação.
O exímio iniciado norte-americano Emerson ouviu o esplêndido discurso de um
elegante orador. Todos aplaudiram entusiasticamente, menos Emerson; à
pergunta sobre se não havia gostado, respondeu: “Não pude ouvir o que ele
disse, porque aquilo que ele é troveja mais alto”.
O nosso dizer e fazer só exerce impacto decisivo quando radica na plenitude
do nosso verdadeiro ser – que requer auto-educação. O nosso dizer e fazer
são canais, que têm de receber conteúdo do nosso ser.
De maneira que o impacto que o educador exerce sobre o educando é apenas
indireto, dependente do próprio educador.
Os programas educacionais não podem contar com esse ser individual do
educador, mas somente com o seu dizer e fazer social.
A educação moral, cívica e religiosa é, por conseguinte, uma alo-educação,
cujo efeito é sempre problemático, em face do livre-arbítrio do educando. Se no
educando não existe receptividade e ressonância propícia, o melhor dos
educadores não pode educar ou converter o educando.
Pergunta-se se o educador pode produzir no educando essa receptividade e
ressonância propícia. Diretamente, não.
Indiretamente, pode o educador despertar no educando potencialidades
dormentes, que melhorarão a receptividade dele. Praticamente, toda a arte de
educar consiste em descobrir e despertar no educando essas potencialidades
dormentes.
Se isto é base filosófica, então consiste ela no conhecimento exato da natureza
humana, que é fundamentalmente a mesma em todos os seres humanos.
Mas ninguém pode conhecer a natureza humana alheia sem conhecer a sua
natureza própria; só um autoconhecimento profundo abre o caminho para o
alo-conhecimento.
A educação é, portanto, antes uma arte do que uma ciência. A ciência joga
com análises intectuais, ao passo que a arte ultrapassa estas e atinge também
a intuição cósmica. O educador-artista sabe auscultar e vislumbrar os
imponderáveis existentes nas profundezas extraconscientes do educando.
O talento analisa.
O gênio intui.
A análise do talento é meridianamente consciente, ao passo que a intuição é
misteriosamente ultraconsciente.
Essa intuição do educador pode ser cultivada e aperfeiçoada através de
experiência e vivência, interna e externa.
Programas meramente analíticos e técnicos não atingem a verdadeira alma da
educação.
De maneira que, em qualquer hipótese, a alo-educação externa recai sempre
na auto-educação interna.
É este o problema paradoxal da educação. Não existe nenhum caminho
psicotécnico que resolva satisfatoriamente esse problema, que é antes um
problema do educador, e não do educando.
O problema educacional é uma síntese orgânica de ciência e arte, que exige do
educador plenitude de autoconhecimento e auto-realização.
Como já lembramos, existe na física o processo chamado indução magnética,
base de toda a nossa indústria atual: uma corrente elétrica de alta voltagem
produz um campo magnético sem nenhum contato direto, somente por
indução. O campo magnético assim induzido é uma espécie de aura ou alma
gerada pela vizinhança de uma alta voltagem. Também na metafísica e na arte
de educar existe uma espécie de indução, não magnética, mas espiritual. Essa
indução espiritual, porém, supõe a presença de um indutor ou educador.
Somente a plenitude do educador pode transbordar em benefício do educando.
E somente essa plenitude é que pode solucionar o problema paradoxal da
educação.
Quem julga ser bom por medo de castigo ou esperança de prêmio é um
egoísta disfarçado.
A CRISE EXISTENCIAL DO
HOMEM MODERNO
Tem-se dito que o grande problema moderno é a educação da juventude. Não
é bem exato – há um problema ainda maior. O grande problema, ou melhor, a
crise mais dolorosa do homem moderno é uma crise existencial – o homem de
hoje sofre de uma caótica frustração existencial. Outrora, escreveu Chesterton,
havia o homem perdido o seu caminho – hoje, porém, ele perdeu o seu próprio
endereço. Não sabe mais qual o seu destino, qual a finalidade da sua
existência, e nega até a existência de uma finalidade. O homem moderno
perdeu a noção da sua existencialidade. Escritores e filósofos proclamam
abertamente que a vida humana não tem finalidade alguma; o homem é um
simples joguete do acaso. Nascer, viver e morrer acontecem-nos à toa, assim
como a existência acontece a um cogumelo que nasce e morre num monturo;
dar uma finalidade à vida humana, dizem eles, é procurar num quarto escuro
um gato preto que não existe; é perder-se num matagal de misticismos e
mistificações.
Ora, se a vida humana não tem destino algum nem finalidade, o melhor é gozar
o que se pode gozar, evitar as coisas desagradáveis – e desaparecer no vácuo
de onde surgimos.
Esta desoladora mentalidade niilista de frustração existencial é o fruto maduro,
ou fruto podre, de uma visão visceralmente anticósmica da existência; é o
resultado de uma instrução unilateral do ego periférico, sem uma educação
unilateral do homem integral.
Toda a perspectiva parcial e unilateral do homem acaba fatalmente em
frustração, em pessimismo, em niilismo.
Há diversos séculos que a educação degenerou em simples instrução. Todas
as nações mantêm os seus Ministérios de Educação, mas todas tratam apenas
de instrução do ego periférico, intelectual, a que eles dão o nome fictício de
educação humana.
Uma vez que o homem moderno “perdeu o seu endereço”, não adianta que ele
corra cada vez mais, e mais aceleradamente, intensificando a instrução do ego
unilateral pela ciência e pela técnica. O que falta ao homem moderno é uma
orientação no meio da sua desorientação geral. O principal não é andar, e
correr muito: o principal é saber se é certa a direção em que ele vai.
E esta direção não pode ser indicada pelo ego periférico, porque esse ego é
essencialmente um círculo vicioso em torno de um vácuo. Se o homem não
tem uma direção certa, se nada sabe da sua verdadeira natureza, do seu
destino humano, da sua finalidade real, não adianta correr muito, voar com
velocidade supersônica, que são coisas do seu ego intelectual; o homem deve
antes de tudo saber se todo esse progresso científico e técnico tem uma razão
de ser.
No seu livro Mein Weltbild, bem como na coletânea Aus meine spaeten Jabren,
escreve Einstein coisas geniais sobre esse assunto. O progresso da ciência é
técnica, diz ele, é certamente uma coisa maravilhosa, e eu não cairei na
suspeita de ser inimigo desse progresso. Mas a ciência não nos pode indicar
nenhuma meta certa, nem pode sequer justificar todo esse esforço, não pode
fornecer ao homem nenhuma finalidade certa da sua existência terrestre. Essa
certeza não vem do descobrimento de fatos, que são o escopo da ciência; a
única certeza da finalidade da nossa existência vem da creação de valores
dentro de nós mesmos; mas do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho
para o mundo dos valores – estes vêm de outra região.
O mundo dos fatos é o mundo do ego, de que se ocupa a instrução; o mundo
dos valores é o mundo do Eu, que é o escopo da educação.
Em quase todos os países do mundo, sem excetuar o nosso Brasil, o mundo
dos valores é quase totalmente negligenciado; sofre de uma atrofia calamitosa,
enquanto o mundo dos fatos está unilateralmente hipertrofiado.
Esse pavoroso desequilíbrio entre o atrofiamento da educação e a hipertrofia
da instrução provocou a crise da frustração existencial, de que agoniza a nossa
humanidade.
Os profetas e clarividentes de todos os tempos prevêem uma catástrofe
universal para o ocaso do segundo milênio. Essa tragédia não é outra coisa
senão o resultado natural do desenvolvimento desequilibrado da nossa
humanidade, cujo início remonta a séculos passados, quando os interesses do
nosso ego periférico começaram a ser afirmados unilateralmente, e a causa de
nosso Eu central foi grandemente negligenciada.
Não é possível reestruturar a nossa pedagogia sem dar à educação pelo
menos o mesmo valor que a instrução reclama para si.
Por mais que certos poderes insistam na necessidade da “educação moral e
cívica”, o certo é que nenhuma educação eficiente pode existir, como não
existe uma laranja real sem laranjeira, como o telhado de uma casa não pode
existir sem as paredes e o alicerce.
O gráfico, no final deste capítulo, ilustra a relação que pode haver entre a
realização ou a frustração do Eu, bem como a relação entre sucesso e
insucesso social do ego.
No diagrama a linha vertical simboliza o Eu. A linha horizontal representa o
ego.
As quatro linhas coordenadas pontilhadas indicam as quatro combinações
possíveis entre a realização ou frustração do Eu e o sucesso ou insucesso do
ego.
Na coordenada 1 temos a realização existencial do Eu combinada com o
sucesso social do ego.
Na coordenada 2 temos a realização existencial combinada com o insucesso
social.
Na coordenada 3 temos a frustração existencial do Eu combinada com o
sucesso social do ego.
Na coordenada 4 temos a frustração existencial do Eu e ao mesmo tempo o
insucesso social do ego.
Estas mesmas relações podem existir entre educação e instrução: pode haver
educação com instrução (1); educação sem instrução (2); instrução sem
educação (3); nem educação nem instrução (4).
O homem da realização existencial é sempre feliz, mesmo sem o gozo do
sucesso social.
O homem da frustração existencial é sempre infeliz, mesmo no gozo do
sucesso social.
É suprema sabedoria do Eu realizar a sua existência, porque o destino
supremo do homem é a sua felicidade. A felicidade é a única coisa que está
sempre ao alcance dele, porque depende da substância do seu Eu central, que
as circunstâncias do ego periférico não podem destruir.
É este o fim da verdadeira educação: a realização existencial do homem, que é
a sua felicidade.
O que faz o homem realmente bom é a consciência do seu ser e a
vivência do seu agir.
VISÃO PANORÂMICA DA
EXISTÊNCIA TOTAL
Toda e qualquer felicidade verdadeira do homem depende da visão
panorâmica que ele tenha da sua existência total.
Por outro lado, toda a infelicidade do homem depende da falta dessa visão
panorâmica.
A visão panorâmica ou total da existência humana não identifica os poucos
decênios da vida terrestre com essa existência; é uma visão da existência do
homem em qualquer zona do Universo, mesmo após a morte corporal.
É absolutamente certo de que o homem, quando deixa o corpo material,
continua a existir conscientemente, em outras regiões do cosmos, tão
verdadeiramente como está vivendo agora no pequeno planeta Terra. A
vivência terrestre é uma parcela insignificante da sua existência total.
É importante que o homem adquira, aqui na Terra, a certeza da sua vivência
cósmica.
A felicidade não consiste em que o homem goze aqui todos os prazeres – a
felicidade consiste em que o homem viva em perfeita harmonia com as leis
cósmicas, que regem o Universo inteiro e também a vida do homem.
Estas leis exigem imperiosamente que o homem, mesmo aqui na Terra, viva
em harmonia com a verdade, a justiça, a honestidade, o amor, a bondade, a
fraternidade universal.
Muitas vezes, essa harmonia com as leis cósmicas exige sofrimento e
sacrifícios, renúncia a prazeres imediatos.
E é precisamente aqui que se dividem os caminhos da humanidade feliz e da
humanidade infeliz.
O homem de visão panorâmica aceite tranqüilamente o sofrimento e
dissabores transitórios que lhe exijam a obediência das leis cósmicas – e então
o homem é feliz, seja no gozo, seja no sofrimento.
A imensa maioria da humanidade, porém, não tem essa visão da sua
existência total; desobedece às leis cósmicas por causa de alguma satisfação
pessoal momentânea – e estes homens são infelizes, mesmo em todos os
seus gozos e prazeres.
Ter e viver de acordo com a visão total da sua existência é sabedoria, é
felicidade.
Não ter essa visão panorâmica e não viver de acordo com as leis cósmicas é
ignorância, é infelicidade.
Esta visão panorâmica da existência integral do homem nada tem que ver com
esta ou aquela teologia, com esta ou aquela filosofia.
Esta visão panorâmica é uma experiência interna que o homem adquire
quando remove de si todos os obstáculos que possam impedir essas
experiências.
Essa experiência cósmica da fonte ou alma do próprio Universo flui para dentro
do homem somente quando este abre os seus canais humanos, quando
assume uma atitude da completa abertura ou recipiência em face da Fonte
cósmica, representada nele pela consciência.
É difícil explicar aos inexperientes em que consiste propriamente esta
experiência; o homem deve antes adivinhar e sentir, como que por empatia, o
que é essa experiência da Alma do Universo, que é a sua própria alma.
Quando o homem adquire certa facilidade em se esvaziar de todos os
conteúdos da sua personalidade, faz ele de si carta branca e silêncio total e
começa a auscultar a mensagem cósmica – e então está ele no caminho da
experiência da sua existência panorâmica, que o pode transformar e fazer
profundamente feliz.
Na vivência diária, o candidato a esta felicidade não deve jamais desobedecer
à voz da sua consciêcia, em troca de alguma satisfação pessoal. Deve antes
sofrer qualquer injustiça do que cometer uma só. Deve dizer a verdade, embora
lhe dê prejuízo e cause sofrimento. Deve incluir no seu amor todas as
creaturas. Não deve jamais odiar creatura alguma. Não deve enganar ou
defraudar alguém, a fim de ter alguma vantagem transitória.
Em todas as dificuldades deve o homem panorâmico dizer a si mesmo: a
minha felicidade permanente vale mais que todas as satisfações transitórias.
Nunca deve fazer o bem para receber alguma recompensa, mas unicamente
pelo próprio bem, porque ser bom é ser feliz, mesmo no meio de sofrimentos.
A visão nítida da sua existência total dará ao homem forças para tomar sobre si
qualquer desgosto ou sofrimento temporário.
A maior desgraça do homem está em não ter esta visão panorâmica da sua
existência total e permanente. E é este o fundamento de toda a educação
verdadeira.
Auto-educação é auto-realização.
INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO
A instrução tem por fim fornecer ao homem o conhecimento e uso dos objetos
necessários para sua vida profissional.
A educação tem por fim despertar e desenvolver no homem os valores da
natureza humana; porquanto a natureza humana existe em cada indivíduo
apenas em forma potencial, embrionária.
Diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita que o ego é o pior inimigo do Eu,
mas que o Eu é o melhor amigo do ego. Diz ainda que o ego é um péssimo
senhor da nossa vida, mas um ótimo servidor.
O homem que vive apenas na consciência do seu ego externo não pode deixar
de ser um egoísta que hostiliza o Eu interno. Mas quando o Eu desperta
devidamente e se põe na vanguarda da vida, aparece o homem harmonioso,
que faz o grande tratado de paz com seu ego servidor, sob os auspícios do Eu
dominador.
O fim da educação é crear o homem integral, o ego instruído integrado no Eu
educado.
Tem-se dito que abrir uma escola é fechar uma cadeia. Infelizmente, isto não é
verdade. Os grandes criminosos e malfeitores da humanidade não foram,
geralmente, analfabetos; muitos deles eram homens de elevada erudição. Se
as nossas escolas fossem centros de educação, poderíamos abrir escolas para
fechar cadeias. Mas, no mundo inteiro, as escolas dão apenas instrução, que é
do ego. E onde há um ego instruído sem um Eu educado, aí há um malfeitor
potencial. Os egos pouco instruídos pouco mal podem fazer, os egos muito
instruídos podem fazer muito mal, se lhes faltar a devida educação do Eu, se a
consciência não contrabalançar a ciência.
O homem da ciência, diz Einstein, descobre os fatos da natureza, mas o
homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo.
Mas, continua ele, do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o
mundo dos valores. Com outras palavras: do simples fato de o homem ser
instruído, não se segue que tenha valor, que seja bom. O ser-bom não é um
efeito do ser-instruído. Os valores diz Einstein, vêm de outra região.
Os valores existem porque são a própria alma ou essência do Universo – e o
homem deve captar em si esses valores, porque somente a captação de
valores pela consciência torna o homem valioso e bom.
Pela ciência o homem descobre os fatos da natureza material.
Pela consciência o homem capta os valores do mundo imaterial.
Ser amigo da verdade, da justiça, do amor, da honestidade, da fraternidade etc,
é crear valores pela consciência, e isto torna o homem bom.
Ser bom quer dizer estabelecer e manter harmonia entre a consciência
individual e a Consciência Universal, que alguns chamam a alma do Universo,
outros denominam Deus.
Uma teoria moderna diz que os valores não existem objetivamente, mas são
uma construção mental subjetiva do homem; dizem eles que o homem não
capta, mas fabrica valores.
Se o homem pudesse fazer os valores, também os poderia desfazer a bel-
prazer, e neste caso, não existiria nenhuma norma objetivamente real para os
valores, e cada homem poderia fabricar outra espécie de valores.
Por vezes, a obediência aos valores é difícil e dolorosa; mas a consciência, que
é o eco dos valores, exige imperiosamente que o homem obedeça a essa
norma imutável.
Einstein diz que a ciência é maravilhosa, mas ela não pode valorizar a vida do
homem; o homem 100% científico pode ser 0% bom; 100% de instrução não é
necessariamente 100% de educação, precisamente porque os valores vêm de
outra região.
Se compararmos os fatos da ciência com uma linha horizontal, e os valores da
consciência com uma linha vertical, podemos acumular milhares e milhões de
linhas horizontais, mas nunca teremos uma linha vertical, porque os valores
estão numa outra outra dimensão.
O homem de ciência é um descobridor de fatos – o homem de consciência é
um creador de valores.
A humanidade não viverá em paz, e o homem nunca será feliz enquanto não
for um creador de valores dentro de si mesmo.
Em resumo descobrir fatos é instrução – crear valores é educação.
Instrução e educação são como duas linhas paralelas que não convergem (se
favorecem), nem divergem (se desfavorecem).
A instrução está numa dimensão, e a educação está em outra dimensão. As
sua finalidades são totalmente diversas.
O ideal seria que um homem tivesse 100% de instrução e 100% de educação;
que fosse mestre em ciência e mestre na consciência.
Até hoje, os poderes públicos de todos os países insistem muito em instrução e
pouco em educação. Talvez tenham razão, porque a educação não é tarefa do
Estado ou de alguma organização social, mas sim do homem individual. O que
geralmente se chama educação moral e cívica não tem por finalidade tornar o
homem bom e consciencioso, mas sim torná-lo adaptável ao convívio social
com seus semelhantes. O motivo dessa educação não é de consciência, mas
apenas de conveniência.
Por esta razão, a educação moral e cívica não poderá jamais estabelecer uma
fraternidade geral e duradoura entre os homens e garantir a paz mundial.
Somente um homem educado pela consciência dos valores é que pode servir
de pedra fundamental da harmonia social e da paz mundial. Quando a ciência
se integrar totalmente na consciência, então o mundo terá paz e ordem
universal.
Ser educado é realizar explicitamente o que já é implicitamente.
O QUE O EDUCADOR DEVE
EDUZIR DO EDUCANDO
Se educar, como dissemos, quer dizer eduzir, que é que o educador deve
eduzir, ou conduzir para fora do seu educando?
Há quem considere a natureza humana como um repositório de coisas boas e
coisas más; e que o educador deva enduzir do educando as coisas boas e
reprimir as coisas más.
Na realidade, porém, não existe nada de bom nem de mau na natureza. O bom
e o mau só aparecem com o advento do livre-arbítrio, que faz o homem bom e
faz o homem mau. Bom é tudo que está em harmonia com as leis cósmicas;
mau é tudo que está em desarmonia. Bom e mau não são fatos objetivos, mas
são valores subjetivos. Não são facticidades físicas, são creações metafísicas.
O homem faz existir o que é bom, e o homem faz existir o que é mau.
O livre-arbítrio existe, potencialmente, em todo ser humano, porque faz parte
essencial da natureza do homem. Mas, no princípio, este livre-arbítrio potencial
não funciona; acha-se em estado dormente, latente. Nesse primeiro estágio, o
homem, embora potencialmente livre, não é atualmente livre.
Mas, depois de algum tempo, o livre-arbítrio potencial passa a ser um livre-
arbítrio atual – e a partir daí pode o homem ser bom ou mau. Se o homem der
preferência a valores positivos, ele é bom; se der preferência a valores
negativos, ele é mau.
Valores positivos são, por exemplo, a afirmação da verdade, da justiça, do
amor, da benevolência, da bondade, da fraternidade, etc. Valores negativos
são o seu contrário.
Quando o educando compreende que o despertar de valores positivos o faz
bom e feliz, então procura ele rrealizar em si esses valores – mesmo que essa
realização o faça sofrer e dê desvantagens a seu ego.
O educador não deve convidar o seu educando a agir para receber algum
prêmio por ser bom, nem a recear castigo por ser mau. Prêmio e castigo,
recebidos de fora, seja antes ou depois da morte, não são motivos honestos
para ser bom ou deixar de ser mau, porque essa mentalidade se baseia no
ego, que se guia por fatores egoístas, externos.
O único prêmio e o único castigo a que o educador deve apelar são a
realização ou frustração do próprio Eu central do homem. A realização
existencial é o único prêmio que o educador e o educando devem ter em vista;
e a frustração existencial é o único castigo que deve ser evitado.
Qualquer alo-prêmio ou alo-castigo é antipedagógico; somente o autoprêmio e
o autocastigo são fatores pedagógicos e eticamente aceitáveis.
A única finalidade da encarnação terrestre do homem é a sua auto-realização,
e o único desastre é a sua autofrustração.
Mas, para que o educador e o educando possam agir por esses motivos, é
necessário que tenham noção clara sobre a sua própria natureza integral. O
educador que não seja um auto-realizado não pode mostrar ao educando o
caminho a seguir. Palavras não são eficientes, se elas não forem o
transbordamento espontâneo da vivência do educador. O ser é a alma, o dizer
é apenas o corpo da verdadeira pedagogia. Assim como a alma gera o corpo
do homem e lhe dá vida, asssim o ser do educador dá vida e poder a todo o
seu dizer ou ensinar.
Antes de eduzir do seu educando esse valor, deve o educador eduzir de si
mesmo esse valor. A auto-educação é o segredo de toda a alo-educação.
Auto-realização é a raiz da alo-realização.
VALORES VALORIZANDO
OS FATOS
As citadas palavras de Einstein “do mundo dos fatos não conduz nenhum
caminho para o mundo dos valores” são bem uma bandeira para uma nova
educação. A educação atual limita-se, quase exclusivamente, a fatos e
facticidades. E, por isto, é apenas instrução, e não educação. Nenhuma
instrução, por melhor que seja, torna o homem melhor, porque se limita ao
conhecimento de fatos já existentes. Como já dissemos, o velho slogan “abrir
uma escola é fechar uma cadeia” peca por uma ridícula ingenuidade. Os
maiores criminosos da humanidade não foram analfabetos; muitos deles eram
homens eruditos, conheciam os fatos da natureza pela ciência, mas não
crearam valores pela consciência.
Abrir uma escola é incentivar a ciência, mas não é intensificar a consciência.
Se houvesse consciência suficiente, não haveria necessidade de cadeias. Toda
a ciência das escolas não pode fechar uma cadeia; mas onde há consciência
não precisa haver cadeias.
As nossas escolas quase nunca tratam seriamente da educação, mas limitam-
se à instrução. A educação tem que ver com a consciência, a instrução é da
ciência. O nosso Ministério da Educação é, quase exclusivamente, um
ministério de instrução – e isto não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Nem o
governo nem as igrejas tratam seriamente da educação, no sentido verdadeiro
da palavra. O governo está interessado em instrução científica, e as igrejas
limitam-se à simples moralização. Mas nem isto nem aquilo é educação. Nem a
instrução nem a moralização tornam o homem realmente melhor. A instrução
torna o homem erudito, a moralização torna o homem altruísta. Mas nem
erudição nem altruísmo são educação verdadeira. Altruísmo é um egoísmo
sublimado, egoísmo que espera recompensa após-morte. O homem realmente
educado é bom, não simplesmente altruísta, não espera recompensa por ser
bom, nem antes nem depois da morte – ele é incondicionalmente bom.
É um equívoco generalizado que as teologias eclesiásticas eduquem o homem
para ser bom; elas apenas transferem o egoísmo terrrestre para um egoísmo
celeste, como diz o filósofo francês Bergson.
A metafísica de Einstein vale mais para a verdadeira educação do que todas as
instruções científicas dos governos e todas as teologias moralizantes das
igrejas.
Estamos denunciando os governos e as igrejas como responsáveis pela
situação calamitosa da educação. Estamos num vácuo educacional. Governos
e igrejas pecaram por omissão. Limitaram-se aos fatos – não se interessaram
pelos valores. E sem valores não há educação. Verdade, justiça, amor,
honestidade, veracidade, etc., são valores, creações da consciência, e não
simples descobertas da ciência, nem simples altruísmo moral.
O valor transforma radicalmente a natureza humana, assim como a realidade
do “1” realiza todas as irrealidades dos zeros: 1000000. Nenhuma nulidade se
pode desnulificar por si mesma; somente uma realidade pode realizar as
irrealidades; somente o valor da consciência pode valorizar os fatos da ciência.
A educação pode valorizar a instrução, mas nenhuma instrução pode valorizar
a si mesma.
Será que, algum dia, os governos e as igrejas vão tratar seriamente da
educação? Ou vão continuar a pecar por omissão, como fizeram e estão
fazendo até agora?
O homem instruído é erudito – o homem educado é bom.
DEVE O EDUCADOR CASTIGAR?
Andam por aí livros pedagógicos que proíbem todo e qualquer castigo; que
exigem do educador que deixe o educando fazer tudo o que ele quiser, realizar
todos os seus caprichos e veleidades. O castigo, dizem esses autores, cria no
educando complexos e traumas funestos para a vida futura; somente uma
natureza totalmente livre de quaisquer inibições externas é que se realiza
harmoniosamente.
Tão fascinante é essa teoria que seduz a muitos incautos.
Entretanto, as experiêcias da vida real provam que é uma teoria meramente
idealista, e não realista, e portanto deletéria e contraproducente. E isto por
motivos profundamente lógicos: o homem não pode adulterar impunemente as
leis da natureza. Toda a criança, adolescente, e mesmo o homem maduro,
enquanto está no plano do ego, sofre de insegurança. Essa insegurança, é
diretamente proporcional à liberdade: 100% de liberdade é 100% de
insegurança.
O homem integral, porém, necessita de segurança com liberdade, ou liberdade
com segurança.
Para que, na vida posterior, o homem tenha esse equilíbrio de segurança e
liberdade, é necessário que alguém, na infância, acrecente à segurança, que a
criança não tem, a liberdade, que ela deve ter. Centrifuguismo sem
centripetismo acaba fatalmente em desequilíbrio e catástrofe.
Durante a infância, e em parte na adolescência, a segurança do educador deve
complementar a liberdade do educando. Mais tarde, esse equilíbrio heterônimo
se transformará num equilíbrio autônomo.
A humanidade levou milhares e milhares de anos para estabelecer certo
equilíbrio entre liberdade e segurança; por isso, seria insensato querer iniciar a
educação unilateralmente com 100% de liberdade e 0% de segurança.
Quanto aos supostos complexos e traumas, mostra a experiência que uma
pessoa que na infância não teve educadores de mão firme continua insegura
também na fase adulta. Para que haja equilíbrio autônomo na fase adulta, deve
haver equilíbrio heterônimo na infância.
A natureza humana é essencialmente bipolar, mas apenas um pólo funciona
inicialmente: o da liberdade. Complexos e traumas não se originam quando o
educador sabe fazer ver ao educando a razão e racionalidade de uma
proibição.
Castigo não é punição. Punir para fazer sofrer é procedimento imoral; mas
castigar para melhorar é recomendável. Naturalmente, se o educando percebe
que o educador o faz sofrer para se vingar de alguma ofensa pessoal, cria ódio
dele e sente-se injustiçado; mas, quando o educador procede racionalmente, o
educando compreende que ele o castiga por amor, não por vingança, e, mais
tarde, lhe será grato pelo fato de o ter educado desse modo.
Por outro lado, porém, é experiência comum que um educando que teve todos
os seus caprichos e veleidades, mais tarde considera seu educador fraco, e
antes o despreza do que o estima.
É essencial que o educador faça ver ao educando que lhe proíbe isto ou aquilo
por amor, pelo bem dele. Neste caso, nenhuma proibição, nenhum castigo gera
complexos ou traumatismos, que são produtos de revolta e incompreensão
contra um educador insensato. Amor compeendido não gera complexos e
traumas.
De maneira que o principal problema da educação é o educador, e não o
educando.
O castigo, além de ser razoável e dado por amor, nunca deve degenerar em
violência ou brutalidade.
Quem conhece os fatos da natureza é instruído – quem realiza valores
dentro de si mesmo é educado.
É POSSÍVEL A EDUCAÇÃO
DO HOMEM INTEGRAL?
O homem integral pode ser representado graficamente por três círculos
parcialmente sobrepostos e parcialmente independentes, deixando no centro
uma área comum a todos os círculos.
O círculo chanfrado, à direita, simboliza o corpo; o da esquerda representa as
emoções; e o de cima indica a mente. O centro incolor representa a alma.
Todos os três círculos se sobrepõem parcialmente, todos os três são atingidos
pelo triângulo central.
É sabido que tudo que acontece num dos três componentes da natureza
humana se reflete nos outros componentes, afetando-os, positiva ou
negativamente. As sensações do corpo modificam a mente e as emoções, e
estas afetam o corpo, porque a natureza humana não é uma justaposição
mecânica de partes, mas uma interpenetração orgânica.
No centro está a zona incolor do espírito, que, depois de ser revestido pelo
corpo, se chama alma.
Segundo a física, a luz incolor é a síntese de todas as cores. Quando a luz
incolor passa por um prisma triangular, ela se desdobra nas sete cores do arco-
íris. Na realidade, as cores produzidas pelo prisma são milhares, mas a nossa
retina visual percebe normalmente apenas sete.
Tomando por símbolo da alma a luz incolor do centro, compreendemos que
todos os círculos periféricos podem ser afetados pela luz incolor do centro.
A verdadeira educação do homem integral só pode partir do centro do Eu,
porque só esta luz incolor atinge o corpo, a mente, e as emocões.
Geralmente, num desenho completo, o corpo é simbolizado pelo vermelho, a
mente pelo verde, e as emoções pela cor amarela.
Por aí se compreende que a verdadeira educação do homem integral só pode
ser uma auto-educação, partindo do centro da natureza humana, e não uma
alo-educação, partindo de algum dos círculos periféricos.
Se o educador não parte da perspectiva da luz integral, não exerce impacto
decisivo sobre as partes periféricas do corpo, da mente e das emoções.
O problema dessa educação central consiste na pergunta: como tomar
perspectiva na zona central do homem?
Einstein nos adverte: “Do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o
mundo dos valores, porque estes vêm de outra região”.
Os fatos são comparáveis aos três círculos periféricos, ao passo que os valores
são simbolizados pela zona incolor do centro.
Como chegar a esse centro senão através das periferias? Como ter noção dos
valores a não ser pelos fatos?
E, no entanto, os fatos, e mesmo a soma total dos fatos, não conduzem aos
valores. Os valores, diz acertadamente Einstein, vêm de outra região, isto é, da
Realidade Infinita, da Alma do Universo.
Mas se o homem não pode chegar aos valores, estes podem chegar ao
homem, suposto que o homem tenha canais abertos para essa entrada dos
valores.
Como explicamos em outra parte, todo o problema está na abertura ou
receptividade dos canais humanos. Um total esvaziamento é condição
preliminar para uma plenificação. E ao mesmo tempo, devem os canais estar
ligados com a fonte, deve o homem manter a consciência firmemente ligada ao
centro.
Nenhum homem pode achar Deus, mas Deus pode achar o homem, quando
este se torna achável, isto é, quando se esvazia dos conteúdos do seu ego e
fica na expectativa da alma do Universo.
Os fatos não conduzem aos valores, mas os valores conduzem aos fatos. E,
quando as facticidades estão repletas da Realidade, então está resolvido
também o problema das facticidades, do ego físico-mental-emocional.
Vai em tudo isso uma rigorosa lógica e perfeita matematicidade. Neste sentido,
diz o maior dos Mestres: “De mim mesmo, eu nada posso fazer; é o Pai em
mim que faz as obras”.
A educação do homem integral tem de principiar necessariamente no centro, e
daí invadir as periferias.
O homem profano só se interessa pelas periferias.
O homem místico isola-se no centro.
O homem cósmico, que é o homem integral, firma-se no centro, e desta base
parte rumo às periferias, plenificando-as com a luz e força do centro.
No plano espiritual, o centro é a consciência da presença de Deus, e desse
centro místico o homem permeia de vivência ética todas as periferias da sua
vida.
O centro é a fonte, as periferias são os canais. Ninguém pode tirar água de
canais sem fonte, mas podemos haurir água de uma fonte sem canal. O
homem integral, porém, descobriu a arte de canalizar a fonte do Eu pelos
canais do ego.
Pode o homem fazer bem sem ser bom – mas não pode ser bom sem
fazer bem.
DEVE O EDUCADOR
FALAR EM DEUS?
Há quem negue categoricamente que a idéia de Deus deva fazer parte da
educação.
E eles têm razão, quando pela palavra “Deus” se entende o que quase todos
os teólogos ocidentais entendem.
Mas quando por “Deus” se entende o que os grandes iniciados de todos os
povos entendem, então essa idéia é o próprio alicerce da verdadeira educação.
No século 17, o filósofo Spinoza disse que Deus é a alma do Universo, e no
século 20, Einstein, o pai da Era Atômica, encampou essa idéia de Spinoza.
Aliás, já no primeiro século, disse Paulo de Tarso aos filósofos atenienses que
Deus é aquele “no qual vivemos, nos movemos e temos a nossa existência”.
Nenhum homem de experiência profunda entende por Deus uma pessoa ou
individualidade, mesmo que eleve esse conceito à milionésima potência.
Pessoa significa invariavelmente uma limitação – e um Deus limitado não é
Deus, mas apenas um ídolo sublimado.
Deus é A REALIDADE UNIVERSAL, O SER, A INTELIGÊNCIA CREADORA, A
CONSCIÊNCIA CÓSMICA, A ALMA E O UNO DO UNIVERSO, cujo Verso é o
corpo visível do cosmos.
Para dar ao educando uma idéia mais ou menos adequada de Deus,
poderíamos simplesmente chamá-lo VIDA. E sobre esta base poderíamos
desenvolver o diálogo seguinte:
– Esta planta é viva?
– Sim, ela é viva, porque cresce, floresce e frutifica.
– Esta planta é a Vida?
– Não, ela é viva, mas não é a Vida.
– Que é que tu entendes por Vida?
– Vida é aquilo que faz os vivos serem vivos.
– Já viste a Vida?
– Não, a Vida não se pode ver; só poderemos ver os vivos.
– Quer dizer que a Vida é invisível, que fez os vivos visíveis?
– É isto mesmo. Ou talvez melhor seria dizer: a Vida é a Essência, que se
manifesta em existências vivas.
– Quer dizer que a Vida e os vivos são idênticos?
– Idênticos na Essência, mas não na existência.
– Suponhamos que esta planta morra; então a Vida morreu?
– Não, morreu somente o vivo, mas não a Vida.
– Para onde foi a Vida?
– Não foi para lugar algum. A Vida está em toda a parte; ela é, por assim
dizer, a Alma do Universo.
– E os vivos?
– Os vivos são formas visíveis da vida invisível. Quando as formas
desaparecem, nós dizemos que o vivo morreu.
– Quer dizer, “morrer” é o desaparecimento de uma forma da Vida, de um vivo?
– É isso mesmo. Assim, quando uma forma da Vida aparece, nós chamamos
isto “nascer”.
– A Vida nasce e morre?
– Não, a Vida vive, mas não começa a viver, nem acaba de viver.
– Quer dizer, a Vida é eterna e imortal?
– É isto mesmo: a Vida é eterna e imortal. Nunca nasceu, e nunca morrerá,
mas sempre viveu, sempre vive e sempre viverá.
– Essa Vida até parece ser Deus.
– A Vida é Deus, ou melhor, ela é a própria Divindade.
– Quer dizer que os que dizem que Deus é pessoa, confundem a Vida com os
vivos?
– Exatamente. Como não se pode perceber, nem mesmo pensar a Vida, os
homens se agarram a um vivo, que se pode ver, pensar e analisar.
– Se não se pode perceber nem pensar Deus, a Vida, como o podemos
descobrir?
– Nenhum homem pode descobrir Deus, mas Deus pode descobrir o homem.
– Deus pode descobrir o homem?
– Sim, quando o homem permite ser descoberto.
– Que quer dizer “permite”?
– Quando o homem vive de certo modo, Deus o descobre, e então o homem
tem certeza de Deus. Mas se o homem não vive de modo que Deus o possa
descobrir, o homem discute sobre Deus, mas não tem a certeza dele. Certeza
não é descobrir Deus; certeza é ser descoberto por Deus.
– A filosofia oriental diz: “Quando o discípulo está pronto, então o Mestre
aparece” – é isto ser descoberto por Deus?
– Exatamente.
– E quando é que o discípulo está pronto para ser descoberto pelo Mestre?
– O homem está pronto para essa descoberta divina quando ele diviniza toda a
sua consciência com a vida divina e harmoniza toda a sua vida ou vivência de
acordo com essa vida.
– Quer dizer que tudo depende do fato de o homem estar pronto, estar em
condições de ser descoberto pela Vida.
– E que tem isto que ver com educação?
– O educador, quando já foi descoberto por Deus, pode mostrar ao educando o
caminho certo onde Deus o possa descobrir.
– O caminho, quer dizer, a vivência do homem?
– Sim, o modo de viver dele.
– Isto é religião?
– Sim, isto é a única Religião, mas não é uma religião, uma teologia; é antes
uma sabedoria de ser e de agir. Se o homem está em harmonia com Deus,
pela consciência e pela vivência, então ele sabe o que é Deus, e vive de
acordo com esse saber. É religioso.
– Isto é felicidade?
– Sim, isto é a única felicidade.
Homem, conhece-te a ti mesmo.
A MEDITAÇÃO
FAVORECE A EDUCAÇÃO?
Nos últimos decênios, generalizou-se, no mundo inteiro, a prática da
meditação.
Se a verdadeira meditação fosse praticada diariamente, durante certo tempo,
exerceria impacto favorável sobre a vida da pessoa, e portanto sobre a
educação. A dificuldade está apenas na prática de uma verdadeira cosmo-
meditação, que alguns chamam meditação transcendental, e que não deve ser
apenas uma suspensão de outras atividades, nem degenerar em simples
acrobacia mental ou cochilo devocional.
Durante a verdadeira meditação, a pessoa suspende quaisquer atividades do
seu ego periférico, físico, mental e emocional, conservando-se, porém,
plenamente consciente no seu Eu espiritual.
Segundo as leis cósmicas, onde há uma vacuidade acontece uma plenitude;
quem se esvazia totalmente de todos os conteúdos da sua ego-consciência
será plenificado pela cosmo-consciência – e esta invasão da cosmo-plenitude
na ego-vacuidade resolve todos os problemas da vida.
Mas esse ego-esvaziamento é praticamente impossível a uma pessoa que viva
habitualmente na dispersividade material, mental e emocional, favorecida
sobretudo por leituras fúteis, por trabalhos puramente materiais e, em nossos
dias, sobretudo pelo cinema, pelo rádio e pela televisão. Para estas pessoas é
sumamente difícil interiorizar-se no seu Eu central.
Por isto, quem se interessa realmente pela meditação verdadeira deve reduzir
ao mínimo possível a sua dispersividade social e praticar freqüêntemente a
concentração, por mais difícil que lhe seja de início.
O melhor período para a meditação é de manhã cedo, logo depois de acordar.
O meditante começa com poucos minutos de interioridade, passando aos
poucos a períodos maiores, até poder isolar-se no mundo do seu interior por
meia hora ou mais.
Entretanto, a meditação não é um fim em si mesma, senão apenas um meio
para outro fim. A finalidade da meditação é retificar e orientar a vida diária.
Tanto vale a meditação quanto vale a melhoria da vida do meditante.
O principiante confunde facilmente a meditação com certos cochilos
devocionais sobre Deus, ou quando não pensa, desce ao transe ou à auto-
hipnose, frustrando assim o verdadeiro fim da meditação. Meditar, repetimos,
não é pensar nem descer ao subconsciente. Meditar é esvaziar-se de todas as
atividades do ego humano, para que o homem possa ser invadido pelo Eu
cósmico.
Outros dão demasiada importância a certas técnicas, a certas posturas
corporais, certo método de respiração, certa convergência do olhar, etc.
O chamado Eu cósmico ou divino é idêntico à própria alma do Universo
existente nas profundezas da natureza humana. O macrocosmo sideral e o
microcosmo hominal são concêntricos; o centro do Universo é o centro do
homem, como mostra o gráfico seguinte, onde o círculo maior e o círculo
menor são ambos centralizados na cruz, símbolo do Infinito ou alma do
Universo, que as filosofias e religiões chamam Deus, Brahmam, Tao, Yahveh,
o Absoluto, etc.
Na meditação pode o meditante dizer: “As obras que eu faço não sou eu que
as faz, é o Infinito em mim que faz as obras”.
O educador e o educando que praticarem assiduamente a verdadeira
meditação verificarão que esse encontro consigo mesmos melhora todos os
setores da sua vida.
Abrir os canais rumo à Fonte do Infinito é ser beneficiado pelas águas vivas do
nosso centro cósmico, de onde emanam todas as coisas finitas da vida.
Educar é eduzir de dentro do homem os valores humanos.
ORIGEM E NATUREZA
DO HOMEM
Não se pode tratar seriamente da educação sem ter noção exata sobre a
origem e a natureza do homem.
Até meados do século 19, era doutrina quase geral que o homem tinha vindo
diretamente de Deus, como um ser perfeito; mas que o diabo provocou a
queda do homem. Depois da queda, resolveu Deus mandar um Salvador à
humanidade para restabelecer o que o diabo havia destruído.
Desde a segunda metade do século 19, prevaleceu entre os cientistas a teria
de Darwin sobre a descendência animal do homem.
Nem uma nem outra teoria são aceitáveis em face da lógica e da história. O
educador tem de guiar-se por uma tese não-teológica, como a primeira, nem
pseudocientífica, como a segunda. O educador deve compreender a filosofia
correta sobre a origem e a natureza do homem.
O homem primitivo não foi creado em estado perfeito e definitivo, como a
teologia admite; nem como simples animal, como declara a ciência darwinista.
A verdade é que o homem de início aparece sobre a face da Terra como uma
creatura potencialmente humana, mas ainda não atualizada em sua
hominalidade. O corpo desse homem era o do animal, como é até hoje; mas
nesse corpo animal existia o germe ou a potencialidade para se tornar um
homem integral. O homem não era simplesmente animal; do contrário, não se
teria tornado homem, porque ninguém se torna o que não é, ninguém se torna
explicitamente o que não é implicitamente. Se um coquinho não fosse
implicitamente um coqueiro, nunca se tornaria explicitamente um coqueiro.
O homem era, desde o início, um ser humano em corpo animal.
Nesse homem primitivo existiam, desde o início, os dois pólos da natureza
hominal: o espírito e a matéria, mas o espírito ainda em estado primitivo. As
Potências Creadoras do Universo entregaram ao homem o seu destino futuro,
a sua evolução posterior. Disse um pensador moderno: “Deus creou o homem
o menos possível, para que o homem se pudesse crear o mais possível”.
É esta a verdade filosófica sobre a origem e a natureza do homem. O homem
era, de início, um verdadeiro ser humano, mas no estágio ínfimo da sua
evolução. Não ocorreu nenhuma “queda”, no sentido tradicional da teologia. O
que houve, e continua a haver, é uma luta entre os dois princípios básicos da
natureza humana: espírito e matéria; e essa matéria se manifesta, no princípio,
como mente, que, no Gênese, aparece na forma simbólica da serpente,
enquanto o espírito é chamado o sopro de Deus.
Esta luta entre o fator espiritual e o fator mental do homem não é uma queda,
mas uma luta necessária para que o homem se possa crear maior do que Deus
creou. Sem resistência não há evolução.
Quando prevalece o elemento mental, a serpente, o homem se torna “pecador”
– quando prevalece o elemento espiritual, o homem se torna “justo”.
A tarefa do homem não consiste em extinguir elemento mental e desenvolver
unilateralmente o fator espiritual. A tarefa da vida e da evolução humana
consiste em estabelecer perfeita harmonia e equilíbrio entre os dois fatores
componentes da natureza humana, entre o sopro de Deus e o sibilo da
serpente.
Sendo, porém, que, segundo as leis da evolução, o fator mental se desenvolve
antes do fator espiritual, insistem os mestres da humanidade em frisar de
preferência o fator espiritual, a fim de conseguir o equilíbrio desse
desequilíbrio.
A verdadeira educação não tem outra finalidade senão essa: ela deve
estabelecer perfeita harmonia e equilíbrio entre o ego mental e o Eu espiritual,
porque a educação, de acordo com a filosofia, tem por fim realizar o homem
integral. O homem integral não é unilateralmente espiritualista, nem
unilateralmente mentalista – menos ainda materialista. O homem integral é
uma perfeita harmonia de ser e agir, de todos os componentes da sua
natureza.
Esse homem integral pode ser denominado homem cósmico, homem universal,
homem univésico.
Assim como o macrocosmo sideral é uma perfeita harmonia automática entre o
pólo centrípeto e o pólo centrífugo, assim deve o microcosmo hominal fazer de
si uma perfeita harmonia espontânea entre o seu Eu central e o seu ego
periférico.
Nem a teoria teológica, nem a hipótese darwinista representam o homem
integral.
Somente a tese filosófica do homem em permanente evolução creadora é que
satisfaz plenamente a todos os requisitos.
Por isto, deve o educador ter noção exata sobre a origem e a natureza do
homem, a fim de poder promover a relização do homem integral, que é a
finalidade suprema da verdadeira educação.
POR QUE O HOMEM ESTÁ
NA TERRA?
Esta pergunta me foi feita, há tempo, por uma emissora de rádio-televisão em
São Paulo. Respondi para meus telespectadores e hoje respondo, mais
explicitamente, a todos os leitores no Brasil e em Portugal.
Quando eu era criança, tive de decorar na escola de catecismo que o homem
está na Terra para conhecer, amar e servir a Deus, e assim entrar no céu.
Esta resposta é oficial nas igrejas cristãs, embora nada diga da finalidade da
vida terrestre do homem; refere-se a uma teoria abstrata de conhecer, amar e
servir a Deus, com a finalidade póstuma de entrar no céu. Esta salvação
individual não visa à finalidade integral do homem, a sua auto-realização e seu
espontâneo transbordamento ético-social na vivência terrestre, a fraternidade e
o serviço à humanidade. A verdadeira fraternidade humana é impossível sem o
conhecimento e a realização do homem individual, sem uma educação do
homem integral.
Há quase 20 séculos que os governos e as igrejas cristãs falam em educação –
mas até hoje só tratam de instrução, ou então de uma educação para fins
póstumos, e não da educação do homem integral, aqui e além. A instrução visa
ao treinamento do ego intelectual, ao passo que a educação visa à realização
do homem integral, do homem como entidade hominal em todos os setores da
existência humana.
Os governos ameaçam com multa e cadeia o cidadão que cometer crimes –
mas nenhum governo do mundo fala da educação do homem integral. Evitar
castigos é um apelo para o egoísmo pessoal, mas nenhum homem é realmente
bom pelo fato de não cometer o mal para se preservar de sofrimentos.
As igrejas cristãs afirmam que vão além desses motivos de multa e cadeia na
vida presente, e convidam o homem a ser bom para evitar o castigo do inferno,
no mundo futuro, e, mais ainda, para ganhar o prêmio eterno do céu – como se
esses motivos não fossem igualmente motivos de egoísmo celeste, em vez de
egoísmo terrestre, como diz o filósofo francês Henry Bergson.
Quer dizer que os governos e as igrejas cristãs do mundo inteiro só conhecem
egoísmo, terrestre ou celeste, nesta vida ou na outra, como motivo de
educação – quando todo egoísmo é visceralmente antipedagógico,
antieducacional. Pretendem educar o homem com argumentos flagrantemente
antieducativos.
Que poderia resultar de uma pseudo-educação tão desastrosa senão aquilo
que estamos vendo: crimes, terrorismos, desordens de toda a espécie?
A árvore venenosa plantada e adubada há quase 20 séculos está produzindo
os frutos venenosos que não podia deixar de produzir. Os governos e as
igrejas cristãs se mostram horrorizados em face dessa pavorosa frutificação da
árvore que eles plantaram e adubam cuidadosamente. E, para mostrar a sua
desaprovação, arrancam, de vez em quando, um ou outro dos frutos
venenosos que a árvore da pseudo-educação produziu, mas evitam
cuidadosamente arrancar a árvore pela raiz.
Que outros frutos poderia produzir o ego senão egoísmo? E que outra coisa se
poderia esperar do egoísmo dominante senão crimes, terrorismos e o caos
universal? Será que os nossos educadores ignoram que o ego é o pior inimigo
do Eu, como já disse, milênios atrás, a sabedoria do Bhagavad Gita? E como
escreveu Paulo de Tarso, há quase 20 séculos: “O homem intelectual (o ego)
não compreende as coisas do espírito, que lhe parecem estultícia, nem as
pode compreender, porque as coisas do espírito devem ser compreendidas
espiritualmente”...
Mas, perguntam os nossos educadores, civis e eclesiásticos, que outro motivo
poderia haver senão esse egoísmo, terrestre ou celeste, da educação cívica ou
religiosa? Porque outro motivo devia o homem ser bom e honesto senão para
evitar multa e cadeia ou inferno e ganhar o céu?
Nas páginas deste livro tentamos mostrar um motivo muito mais profundo e
verdadeiro.
Alguns anos atrás, após a primeira edição deste livro, fui chamado a Portugal
para dar conferências ou aulas sobre este assunto, que um grupo de leitores
lusitanos considerava de capital importância. O meu livro Educação do Homem
Integral achava-se esgotado.
Não julguei conveniente fazer nova edição do texto antigo, que não focalizava
suficientemente o desastre de uma educação baseada fundamentalmente em
egoísmo, terrestre ou celeste. Refundi totalmente o livro, frisando intensamente
a suprema necessidade de basearmos toda a educação em outros motivos. Fiz
ver que o homem não está aqui na Terra para conseguir certos objetivos da
vida, embora honestos, mas sim para realizar a razão de ser da existência
propriamente humana. Se o homem conseguir todos os objetivos da vida (que
são do ego), mas não realizar a razão de ser da sua existência (que é do Eu),
sucumbirá a uma frustração existencial, mas se realizar a razão de ser da sua
existência, cumprirá a sua realização existencial, o porquê da sua existência
terrestre, e mesmo extraterrestre.
Enquanto os governos e as igrejas não derem à verdadeira educação a mesma
importância que até agora estão dando à instrução, a humanidade não tem
esperança alguma de melhores dias; a árvore venenosa continuará a produzir
os mesmos frutos que produziu até hoje, e frutos cada vez piores.
Não se trata absolutamente de uma tal ou qual alopatia superficial, que procure
evitar os sintomas imediatos do mal – trata-se antes de uma cosmoterapia
radical que atinja a raiz do mal e dê à educação pelo menos a mesma
importância que até agora se está dando à instrução.
Essa erradicação do mal é impossível enquanto a nossa filosofia educacional
não mudar totalmente; enquanto os governos e as igrejas não tomarem a sério
o ensinamento da natureza integral do homem, desde a escola primária até o
curso superior.
Esse conhecimento do homem como espírito, mente e corpo – e não apenas
como corpo e mente – nada tem que ver com crença, teologia ou dogma, mas
é simplesmente o retrato fiel da realidade do homem que, finalmente, pode e
deve deixar de ser “esse desconhecido”, esse “misto de miséria e grandeza”,
esse “fenômeno paradoxal”, como dizem os nossos escritores; mas pode e
deve realizar o imperativo milenar de todos os grandes pensadores:
Homem, conhece-te a ti mesmo!
Homem, realiza-te!
Homem, sê explicitamente o que és implicitamente!
FALÊNCIA DA EDUCAÇÃO BASEADA
EM PRÊMIO E CASTIGO
A educação cívica e moral apela para fatores externos: o homem deve ser bom
e deve deixar de ser mau a fim de evitar castigo e receber prêmio.
A educação religiosa apela para o prêmio e castigo de Deus, após a morte.
Embora esses motivos externos devam ser tolerados temporariamente, eles
são ineficientes para tornarem o homem realmente bom. Toda idéia de prêmio
e castigo baseia-se em egoísmo, e com motivos egoísticos não se pode educar
e realizar o homem. Bergson, o filósofo francês contemporâneo, diz que as
religiões detestam o egoísmo terrestre, mas recomendam o egoísmo celeste,
porque argumentam com prêmio e castigo, com céu ou inferno, para educar o
homem.
Egoísmo não cura egoísmo, ainda que seja egoísmo póstumo.
Além desse caráter antipedagógico interno, o apelo para o céu e inferno, Deus
ou diabo, perde cada vez mais o seu impacto, porque muitos dos educandos
não crêem mais no Deus das teologias. Acresce a isto o aspecto antiético de
certas teologias, que prometem ao pecador que 5 minutos de arrependimento
possam cancelar 50 anos de maldades, invalidando assim o esforço ético do
pecador para se tornar melhor durante a vida, e só confiar na hora da morte.
O que poderíamos substituir por esses motivos inéticos de prêmio e castigo?
O único motivo ético e honesto para ser bom é o esforço para a realização da
sua verdadeira natureza humana em sua totalidade, do seu Eu central.
Mas, como já dissemos, essa auto-realização supõe autoconhecimento. Quem
se identifica com o seu ego ilusório vive num perpétuo círculo vicioso.
Por isto nenhum país do mundo pode estabelecer um sistema educacional
eficiente sem primeiro crear centros de autoconhecimento.
Mas esses centros supõe diretores que possuam em alto grau esse
autoconhecimento e o tenham demonstrado em forma de auto-realização. A
falta desses diretores torna praticamente impossível a educação em base de
autoconhecimento.
Assim como a falta de laranjas vem da falta de laranjeiras, a ausência de uma
educação eficiente vem da ausência de educadores. É certo que podemos
comprar laranjas artificiais, de plástico ou cera, por fora iguais a laranjas
verdadeiras, mas não são laranjas vivas. Toda a ciência e técnica humanas
não podem produzir uma única laranja verdadeira, nem outra fruta viva
qualquer.
Todas as nossas ciências e técnicas pedagógicas não podem substituir uma
pedagogia baseada em autoconhecimento e auto-realização.
O problema crucial da educação é, acima de tudo, um problema metafísico,
filosófico, cósmico – ou melhor, um problema profundamente humano. Os
poderes públicos deviam, em primeiro lugar, tratar de plantar laranjeiras, isto é,
de realizar educadores, em vez de se ocupar com métodos educacionais e
técnicas de ensino. Mas isto não é da sua alçada.
Quando, em 1969, o presidente Médici publicou o Decreto-lei n- 869 sobre a
necessidade de uma base filosófica para a educação, parece que ele se
inspirava na visão desta necessidade. A filosofia da educação seria o
conhecimento da natureza integral do homem.
TEOLOGIAS
ANTIEDUCACIONAIS
Voltamos a um assunto já focalizado em outra parte. Certas teologias
eclesiásticas dominantes no Brasil, em vez de favorecer, desfavorecem a
verdadeira educação. Algumas ensinam que o homem pode pecar a vida
inteira mas, se se arrepender nos últimos momentos da vida, é absolvido de
todos os seus pecados, seja pela absolvição sacramental, seja por um ato de
crença no sangue de Jesus. Semelhantes sistemas teológicos são um
verdadeiro convite para ser mau, contanto que o homem seja bom nos últimos
momentos. Uma boa morte parece cancelar uma vida má; 5 minutos de
arrependimento parecem neutralizar 50 anos de maldades.
Essas teologias apelam para certas palavras de Jesus, sobretudo para as que
ele dirigiu ao ladrão penitente: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. É
questionável que estas palavras tenham o sentido que eles lhes dão. É
provável que o tal paraíso seja o primeiro passo, o início da verdade, após
meio século de erros, o início de uma linha reta após longo período de
ziguezagues em que o criminoso vivera – mas não é a entrada num céu
definitivo e imutável.
Aliás, todas as nossas teologias, de quase 2000 anos, professam ainda a idéia
obsoleta de que a morte física do homem decida sobre o seu eterno destino, no
céu ou no inferno. A ciência mais avançada dos últimos tempos já provou que a
vida após a morte continua mais ou menos no mesmo teor em que se
desenrolou antes da morte. Ninguém está no céu, ninguém está no inferno,
definitiva e imutavelmente; todos continuam a viver em corpo imaterial, no
ambiente que crearam durante a vida terrestre. A vida continua em outro corpo,
com as mesmas luzes e as mesmas sombras, com as mesmas virtudes e os
mesmos vícios da vida terrestre. Se há tal coisa como “destino definitivo” (o
que é muito improvável), será no ciclo final da evolução, que pode ser de
milhões de anos. A “vida eterna” não é uma chegada, uma parada inerte, é
uma incessante evolução, um processo dinâmico, afetado por todos os atos e
por toda a atitude da vida presente. O que o homem semeou no ciclo presente,
isto colherá ele no ciclo futuro. A vida eterna não é um estático ser, mas um
incessante devir.
Podemos conceber a vida eterna ao modo de uma teoria de relatividade: no
mundo dos finitos nada é absoluto, tudo é relativo; o relativo de ontem
determina o relativo de hoje, e o relativo de hoje molda o relativo de amanhã.
O vocábulo teológico “salvação” já foi substituído pela palavra filosófica “auto-
realização”. O homem não é salvo após a morte, num tal céu, nem é perdido
após a morte, num tal inferno – o homem realiza-se incessantemente em plena
vida, através de todas as existências, telúrica e cósmicas.
As teologias salvacionistas fariam bem em passar para a filosofia da auto-
realização, que favorece a verdadeira ética educacional. O principal não é
morrer bem, mas viver corretamente.
O Brasil, que é um país sem lastro filosófico nem teológico, que não é onerado
de taras ideológicas, como certos povos europeus, o nosso Brasil poderia e
deveria ser o berço de uma nova humanidade. O Brasil, no qual “em nele se
plantando tudo se dá”, poderia e deveria iniciar uma pedagogia educacional
isenta das taras tradicionais. Mas se nem o governo nem as igrejas estão em
condições de iniciar esses novos rumos para a educação, devem pessoas
individuais ou grupos sem preconceitos realizar essa educação verdadeira.
Alo-educação é impossível sem auto-educação.
COBAÍSMO EDUCACIONAL
O maior problema da educação, como dizíamos, não são os educandos, mas
os educadores – e estes, por sua vez, dependem grandemente dos psicólogos
e dos respectivos governos, que dão ordens para realizar este ou aquele tipo
de educação.
No Brasil, tivemos ultimamente amostras desse cobaísmo educacional. E,
como a nossa cultura brasileira vem sempre meio século após a cultura
européia, a psicologia e psicanálise de Freud invadiram o Brasil, nos últimos 50
anos, quando, na Europa, o freudismo já estava em declínio, graças às idéias
mais sadias de Adler, Jung e outros.
Freud reduziu toda a vida humana a um produto da libido: tudo para ele, é
manifestação do sexo, desde do mamar da criança até o comer e o evacuar.
Nossas escolas, tempos atrás, tiveram ordem de ensinar sexualismo às
crianças da escola primária. Para que a criança, mais tarde, não tivesse
complexos e traumatismos sexuais, devia ela saber, desde o princípio, como a
criança era concebida na cama de casal e como nascia na maternidade.
Sobretudo a concepção era ponto central nesse cobaísmo. As fábricas de
celulóide e plásticos tiveram de fabricar os órgãos genitais do homem e da
mulher, e as professoras tiveram ordem de exibir nas escolas a função desses
órgãos. A tal ponto chegou esse pan-sexualismo freudiano que as crianças de
6 a 8 anos resolveram “brincar de casados”; uma menina de 8 anos pegou um
menino para brincarem de macho e fêmea no banheiro. Meninos e meninas
foram obrigados a se desnudarem em plena classe, para que a professora
pudesse descrever melhor a função dos órgãos genitais.
Felizmente, depois de muito descalabro, prevaleceu o bom senso dos pais
dessas cobaias; foi quase geral o protesto contra essa aberração da educação
infantil. Muitos pais se revoltaram contra essa profanação da infância – e os
poderes públicos tiveram o bom senso de bater em retirada.
A natureza é bem mais sábia que toda sapiência dos homens; ela sabe por que
circundou o paraíso da infância com a muralha protetora da ignorância e do
desinteresse pelas coisas sexuais. A própria natureza se encarrega de
despertar a libido no tempo da puberdade. E compete aos pais, sobretudo à
mãe, dar a seus filhos as necessárias explicações sobre o sexo. Aulas de
demonstrações sobre o uso do sexo são um verdadeiro atentado à natureza
humana.
Outro atentado à natureza é o cobaísmo educacional de Skinner e de outros
psicólogos desorientados, cuja influência deletéria se projetou sobre os
métodos da nossa educação.
Esses cientistas fizeram experiências psicotécnicas e, em face de seus testes,
proclamaram aos quatro ventos que o livre-arbítrio do homem é um mito, uma
fábula, uma ilusão tradicional; que o homem não passa de um joguete das
circunstâncias. O meio bom produz um homem bom, o meio mau produz o
homem mau. O homem é, portanto, uma máquina viva, que funciona
automaticamente como qualquer computador, cujos atos não podem ser
virtuosos nem viciosos, porque são todos necessários.
Se o homem não tem liberdade de agir, é evidente que não é responsável
pelos seus atos, bons ou maus. E, neste caso, é flagrantemente ilógico e
injusto infligir punição aos malfeitores; se eles agiram mal, agiram por
obrigação mecânica das circunstâncias, e não devem ser punidos, como não
se pune um computador que funcionou mal.
Esses psicólogos e psicanalistas erraram no ponto fundamental da lógica:
fizeram experiências com certo número de cobaias, provavelmente derrotadas
pelas circunstâncias, e daí tiraram a conclusão ilógica de que não há liberdade
em homem nenhum. Esse ilogismo inclui dois erros: 1) que de um certo
número de experiências se possa concluir para a totalidade do gênero humano;
2) que as cobaias que não fizeram funcionar a sua liberdade não possuíam a
possibilidade para isso. Se pelos gabinetes desses psicanalistas tivesse
passado um Buda, um Jesus ou um Gandhi, em vez de um Skinner, Marcuse
ou Reich, e suas cobaias, bem diferentes teriam sido os resultados.
Outro cobaísmo educacional em voga é a permissão de uma total indisciplina
para o educando. Os educadores, dizem eles, devem respeitar os direitos
humanos do educando; se este quiser espernear, quebrar móveis e janelas e
maltratar seus colegas, é dever do educador respeitar os sacrossantos direitos
do educando, porque através dele fala a própria natureza humana, que é
sempre boa e não deve ser cerceada em seus impulsos; a repressão dos
impulsos do educando malcriado, dizem, poderia traumatizá-lo e criar futuros
complexos negativos.
Esses psicólogos se esquecem de que a natureza humana funciona
bilateralmente, na base de instinto e de razão. Na infância e na adolescência
prevalece o instinto cego, que deve ser orientado e disciplinado pela razão dos
adultos. O contrário, o centrifuguismo do instinto sem o centripetismo da razão,
acaba em caos e catástrofe. Toda a arte de educar consiste em saber
equilibrar harmoniosamente essas duas forças da natureza humana,
aparentemente antagônicas, realmente complementares.
Todos esses cobaísmos educacionais modernos têm por base comum o
mesmo mal: o desconhecimento da natureza integral do homem. A civilização
humana reduziu a cultura a favor da tecnologia; a cultura respeita a natureza
integral, ao passo que a tecnologia considera o homem como uma máquina,
um robô, um computador vivo, cujo imperativo categórico é apenas o seu ego
físico-mental-emocional. E, como os governos aceitam o que lhes é oferecido
pelos técnicos, pelos cientistas e pelos psicólogos, tivemos os descalabros da
tecnologia aplicada a problemas de educação.
Outrora, recebia o Brasil o influxo da sua cultura de países europeus,
sobretudo da França. Mas as duas guerras mundiais, do Kaiser e de Hitler,
dificultaram e quase impossibilitaram as relações do Brasil com o velho mundo,
e a nossa cultura é sobretudo influenciada pelos Estados Unidos, cuja
tecnologia é máxima e cuja cultura é mínima. Entre nós, nesse último meio
século, tudo se americanizou; o Brasil importa as coisas piores da grande
república do norte, sobretudo no setor educacional, que passou a ser uma
simples tecnologia.
A natureza humana, porém, que é multimilenar, não sofre impunemente essas
adulterações; ela reage violentamente a essa desumanização.
Os setores mais tragicamente afetados por essa adulteração são a infância e a
juventude, que não têm meios de defesa.
É de imperiosa necessidade que a educação conheça a natureza humana e
não se deixe desviar dos trilhos que ela traçou para o homem.
Ora, a natureza humana não é uma justaposição mecânica de corpo e alma, de
matéria e espírito; a natureza humana é um intercâmbio orgânico entre corpo e
alma. E quem controla e harmoniza esse intercâmbio é uma faculdade cósmica
que aparece com nomes vários, como razão, intuição, consciência, Eu divino,
etc.
O homem unilateralmente empírico-mental não faz jus à natureza integral do
homem, que é o reflexo do próprio macrocosmo mundial. O homem integral
não é materialista, nem mentalista, nem espiritualista – ele tem tudo isto, mas
ele é cósmico, univérsico, integrando em si tudo que é material, mental e
espiritual, mas ultrapassando todos esses componentes e culminando na
grande síntese do composto.
Ser cosmicamente humano é a suprema aspiração da verdadeira educação,
cuja base é auto-realização, transbordamento espontâneo do
autoconhecimento.
DISPERSIVIDADE E
CENTRALIDADE
Desde Freud, e muito antes, toda a nossa literatura de ficção está eivada de
sexualismo profano.
É fácil tirar edições de centenas de milhares de exemplares de um livro,
quando o escritor se faz fiel aliado das paixões animalescas que regem o
animal intelectualizado; 90% do seu sucesso literário já está de antemão
garantido pelos poderosos instintos da esfera animalesca do homem. E, com
esse poderoso contingente de sexualidade, é fácil ser um “gênio” – basta
acrescentar 10% do talento do escritor, e o sucesso é garantido. O escritor
pornográfico parece ter pouca confiança na sua capacidade, quando apela
para fatores alheios, já pré-existentes nos seus leitores. É fácil nadar à mercê
das paixões, é difícil orientar os instintos inferiores do homem.
Essa hipertrofia da libido sexual, disfarçada geralmente sob o eufemismo
“amor”, é um dos grandes percalços da verdadeira educação. Na educação
prevalece a razão superior, que impõe um freio ao instinto inferior.
Nos tempos modernos acresce a facilidade de difusão pela rádio-televisão, que
dispensa o telespectador de pensar – basta ver, ouvir e sentir.
É experiência geral que crianças e adolescentes habituados aos programas de
televisão são incapazes de disciplina e concentração mental; o seu
centrifuguismo derrota qualquer centripetismo. Muitas dessas cobaias são
incapazes de prestar 2 minutos de atenção a um determinado assunto. O seu
habitual derramamento exterior impossibilita qualquer concentração interior.
E não somente a educação, mas até a instrução sofre o impacto dispersivo
desses programas de televisão. Praticamente, não temos programas para
valorizar condignamente essas grandiosas conquistas da ciência e técnica do
século XX. A ciência e técnica progridem a passos de gigante, ao passo que a
moral e a ética continuam estagnando, ou até retrogradando.
Felizmente, nos últimos anos, se observa, ao menos numa elite da
humanidade, um interesse crescente por uma literatura mais sadia e mais
condizente com os valores humanitários do que com os instintos inferiores do
homem. Uma casa editora aqui em São Paulo – “Fundação Alvorada para o
Livro Educacional” – lança dezenas de livros de alto valor educativo, e até
filosófico, em grandes tiragens, que se esgotam rapidamente em edições
sucessivas.
Mesmo no cinema, se faz sentir, embora vagarosamente, essa evolução
ascensional. Como todos estão fartos de saber, o cinema foi avassalado por
uma avalanche de filmes repugnantes de sexo e selvageria. Filme sem
sexualismo desbragado e selvageria sangrenta não poderia contar com
sucesso de bilheteria – que interessa às casas de cinema. Parece que,
ultimamente, uma crescente elite se enfastiou desse bagaço primitivo e sente
fome de um alimente mais humano e sadio. Alguns filmes de alto valor
estiveram nos cinemas da Paulicéia semanas e semanas a fio, e sempre com
os salões repletos de assistências silenciosas e atentas. Quando o homem é
supersaturado de um alimento grosseiro, começa ele a sentir fastio – e, após o
fastio, vem uma fome de manjares mais delicados.
O grosso da humanidade, como expus no meu livro A Nova Humanidade, se
acha ainda no estágio primitivo do animal ligeiramente intelectualizado do
pescoço para cima; mas o resto da sua natureza não foi ainda atingido pela
verdadeira hominalidade. Estamos nas baixadas do homem animal; alguns
subiram até o homem hominal – mas quem alcançou as alturas do do homem
integral, do home cósmico? Quando um homem superior aparece, qual solitário
obelisco no vasto deserto do homem animal, é ele crucificado, morto e
sepultado e desce aos infernos... O maior dos homens que surgiu no planeta
Terra foi difamado como louco, blasfemo, aliado de satanás, subversivo,
comilão, amigo de publicanos e pecadores – mas, apesar disto, está em
permanente ressurreição e ascensão. Dificilmente os pigmeus toleram ser
eclipsados pela sombra de um gigante. Instintivamente, o homem animal, ou
mesmo o homem intelectualizado, tenta degradar para suas baixadas um
homem que está nas alturas do homem cósmico. É mais cômodo fazer descer
um Cristo ao nível do infra-homem do que fazer subir ao nível do super-homem
um homem comum. A lei da inércia e do menor esforço governa em todos os
setores da nossa humanidade.
Nunca foi tão difícil como hoje a terefa da educação. Todo o ambiente é hostil à
subida, tudo é favorável à descida. O educador e o educando de hoje têm de
nadar contra a corrente. Mas o pouco que alguém consegue contra a corrente
vale mais do que o muito dos outros que vão à mercê da corrente. As coisas
fáceis são dos covardes – as coisas difíceis são para os heróis.
O talento analisa – o gênio intui.
POR QUE DEVE
O HOMEM SER BOM
A educação tradicional, como vimos, proíbe ser mau e manda ser bom, para
não sofrer castigo e para ser recompensado, seja antes, seja depois da morte.
A verdadeira educação, porém, não apela para estes motivos,
fundamentalmente egoísticos, e, portanto, antiéticos e antipedagógicos.
Mas se o educando não se deve guiar por esses motivos de prêmio e castigo,
qual o motivo real para ele ser bom?
A resposta é que o homem deve ser bom e evitar ser mau por causa da sua
própria realização e aperfeiçoamento.
Entretanto, para muitos, é incompreensível esse motivo de auto-realização.
Por isto, passaremos a concretizar esse motivo. É absolutamente certo que a
consciência individual do homem, ou sua alma, não perece com o corpo físico,
mas continua a sobreviver conscientemente. Embora a ciência não possa
provar a imortalidade, contudo ela tem demonstrado com provas convincentes
a sobrevivência temporária da consciência individual, ou da alma humana.
E, nesse estado póstumo, o homem leva consigo os seus créditos e os seus
débitos adquiridos na vivência terrestre. Os créditos são o resultado dos seus
atos bons, honestos, da sua harmonia com as leis da verdade, da justiça, do
amor, da bondade, etc. Os seus débitos são os seus atos contrários, em
desarmonia com essas leis.
Nenhum homem entra, após a morte, num céu definitivo nem num inferno
definitivo, num lugar de gozo ou de sofrimento eterno. O céu é a sua
consciência de crédito, o inferno é sua consciência de débito. A morte não
assinala nenhum fim definitivo, nem um princípio novo; a morte é uma transição
para outro ambiente de existência; é uma continuação da vivência terrestre,
com todos os seus positivos e com todos os seus negativos. O homem, após-
morte, leva consigo todos os seus créditos e todos os seus débitos, que são o
seu céu e o seu inferno. Os créditos são felicidade, os débitos são infelicidade.
O escopo supremo da educação é tornar o homem feliz, realmente feliz.
Nem sempre a felicidade está isenta de dores, e nem sempre o gozo existe
sem a infelicidade. Pode um homem ser profundamente feliz no meio de
sofrimentos, e pode um homem ser infeliz no meio de gozos.
A verdadeira educação mostra ao homem o caminho para ser feliz, seja no
gozo, seja no sofrimento. Esta felicidade não é um “prêmio” dado ao homem
bom; a felicidade é ele mesmo, quando a sua consciência está em harmonia
com a alma do Universo. O homem bom é sempre um homem feliz, seja no
gozo, seja no sofrimento – e esta felicidade é o fim supremo da educação.
Gozo e sofrimento nos vêm das circunstâncias, que nem sempre estão sujeitas
ao nosso livre-arbítrio. Mas a felicidade ou a infelicidade vêm da nossa própria
substância, do nosso verdadeiro Eu. Não somos livres em gozar ou sofrer, mas
somos livres em sermos felizes ou infelizes.
A verdadeira educação visa portanto a felicidade do educando, que não é um
prêmio, mas que é o próprio homem plenamente realizado. Céu e inferno não
são lugares, mas são estados de consciência, creados pelo próprio homem.
Ninguém o manda para o céu nem para o inferno, senão ele mesmo.
É possível fazer compreender a qualquer educando que o fim da verdadeira
educação é a sua própria felicidade.
EDUCAÇÃO REAL
E EFICIENTE
Embora já tenhamos tratado deste item em outro capítulo deste livro, julgamos
necessário voltar ao mesmo assunto, por ser de uma importância fundamental
e decisiva.
Em todos os setores da educação os educadores continuam a apelar para um
fator diametralmente oposto à verdadeira educação, fator flagrantemente
antipedagógico, antiético, antieducacional – o fator prêmio e castigo, fator
visceralmente egoísta.
Esse fator antipedagógico prevalece sobretudo na chamada educação
religiosa, que promete um céu póstumo aos bons e ameaça com um inferno
póstumo os maus, ambos de duração eterna.
Nenhum educando medianamente sensato se tornará melhor por essa
promessa de prêmio, ou ameaça de castigo póstumo. E isto por dois motivos:
1) por que os mais sensatos não acreditam no céu ou no inferno da teologia; 2)
por que os crentes nesses lugares póstumos sabem, de acordo com as
próprias teologias, que bastam 5 minutos de arrependimento ou confissão para
cancelar 50 anos de crimes e maldades. E quem se sujeitaria a meio século de
vida honesta, em vez de alcançar um céu eterno em 5 minutos?
De maneira que esses apelos para céu e inferno, Deus ou diabo, prêmio ou
castigo, são educacionalmente nulos e totalmente ineficientes – talvez não para
os bobocas, mas para qualquer educando medianamente normal.
Se o educador moderno não descobrir outro motivo para levar o seu educando
a ser bom, perde o seu tempo e trabalho.
Que outro motivo haveria?
A nossa educação corriqueira e superficial não sabe a que outro motivo apelar.
O único motivo eficiente é o apelo à felicidade do próprio educando. Mas a
felicidade não é algo que alguém possa receber de presente, por obra e mercê
de terceiros, mas que ele mesmo tem de fazer.
Ser realmente feliz só é possível a quem esteja em harmonia com as leis da
natureza humana; quem não é amigo intransigente da verdade, da justiça, do
amor, da honestidade, da fraternidade, não pode ser feliz; mas que é amigo
intransigente da verdade, da justiça, do amor, da honestidade, da fraternidade,
esse é profundamente feliz, embora talvez sofra por circunstâncias externas.
Ninguém pode evitar todos os sofrimentos, que nos vêm das adversidades da
natureza ou da perversidade dos homens; mas cada um pode ser feliz, porque
a felicidade (ou a infelicidade) vem da própria substância ou consciência do
homem. O homem feliz pode sofrer, o homem infeliz pode gozar; mas o
principal não é sofrer ou gozar, o principal é ser feliz, seja no sofrimento, seja
no gozo.
Enquanto o educador não convencer disto o seu educando, perde o seu tempo
e trabalho.
Felizmente, é possível educar o educando neste sentido; depende sobretudo
da experiência pessoal do educador; se o seu íntimo ser não for felicidade, o
seu dizer não convencerá o educando. Só um educador realmente bom é que é
feliz. Bom não quer dizer bonachão, nem bonzinho ou bom-bonzinho; bom é
viver em perfeita harmonia com as eternas leis da verdade, da justiça, do amor,
da honestidade, da fraternidade.
Quando o íntimo ser do educador for ser-bom e ser-feliz, o educando, cedo ou
tarde, sentirá, como que por osmose ou indução vital, o ambiente interno do
educador e terá vontade de ser bom e feliz também ele. Mas, se o educador
apela a belas teorias pedagógicas, de que estão repletos os nossos livros,
perderá o seu tempo e trabalho. Nenhum educando tem vontade de ser bom e
feliz porque seu educador leu e decorou tais e tais teorias modernas e
morderníssimas.
O segredo da educação, como se vê, é essencialmente uma questão de ser e
não de dizer, nem mesmo de saber. É uma questão de auto-educação, de
auto-realização.
Toda a teoria, toda a técnica, toda a tecnologia, que formam o cavalo de
batalha dos educadores modernos e moderníssimos, são pura camuflagem e
palhaçada.
É vital que o educador desista de qualquer apelo para prêmio e castigo
póstumo e faça ver ao educando que ele deve a si mesmo ser bom e feliz. Céu
e inferno não são lugares longínquos e póstumos, mas são o estado de
consciência do próprio educando. O seu céu portátil é a felicidade, o seu
inferno portátil é a infelicidade.
Um céu externo ou um inferno externo nada têm que ver com a educação.
Nunca nenhum defunto viu Deus nem o diabo, não está no céu nem num
inferno local, mas está dentro de si. O educando deve a si mesmo estar no céu
da sua felicidade, e não no inferno da sua infelicidade. Enquanto o homem não
fizer esta experiência própria, não tem base para uma educação real e
eficiente.
***
Se, por um lado, as nossas teologias humanas são antipedagógicas e
antieducacionais, por outro lado o espírito do Evangelho do Cristo oferece ao
educador a mais poderosa alavanca para uma educação real e eficiente.
Consideremos apenas as palavras do Cristo sobre o “reino de Deus que está
no homem”, isto é, o germe divino que faz parte da natureza humana e que
deve ser despertado e desenvolvido pelo homem. Diz o mestre que este
germe, o reino de Deus no homem, é um “tesouro oculto” que deve ser
descoberto; que é uma “luz debaixo do velador” que deve ser posta no alto do
candelabro; que é como uma “pérola preciosa no fundo do mar” que deve ser
trazida à tona.
Que é tudo isto senão puro autoconhecimento e auto-realização?
O educador tem de mostrar ao seu educando que ele é essencialmente bom e
divino, e que deve fazer a sua existência humana tão boa como é a sua
essência divina. Esta tarefa nada tem que ver com prêmio ou castigo depois da
morte, mas com realização em plena vida. O tesouro oculto deve ser revelado,
aqui e agora a luz sob o velador opaco tem de ser posta no alto do candelabro
da vida diária, individual e social; e a pérola preciosa do espírito divino no
homem deve ser trazida à tona e brilhar ao sol de cada dia.
O educando deve compreender que ele deve a si mesmo ser bom e feliz, aqui
e agora, porque é isto a razão de ser da sua existência, o sentido real da sua
vida terrestre.
O educando não deve nada a Deus ou ao diabo, após a morte; deve tudo a si,
à sua auto-realização humana, aqui e agora. O seu céu ou seu inferno não são
fenômenos póstumos em zonas longínquas, o seu céu é ser bom e feliz, aqui e
agora e para sempre, isto é obra sua, eminentemente sua.
“Eu sou o senhor do meu destino – eu sou o comandante da minha vida”.
LIBERDADE COM
RESPONSABILIDADE
Todo o ser livre é responsável pelos seus atos livremente cometidos – toda a
liberdade cria responsabilidade.
Nos seres da natureza infra-humana não há liberdade, e por isto não há
responsabilidade. Uma fera que mata um homem não se sente responsável por
esse homicídio, porque não agiu com liberdade.
Mas o homem que comete algo contra a sua consciência sente se culpado, tem
remorsos do seu ato. Esse senso de culpabilidade não é produto de uma falsa
educação, como querem certos autores, mas é a reação da própria natureza
humana, que se sabe livre para o bem e para o mal; mas a liberdade para o
mal gera o senso da culpa e cria remorsos.
A consciência do homem não é outra coisa senão a voz das leis cósmicas, que
dão liberdade ao homem para ser mau, mas exigem dele que seja livremente
bom.
Todo o homem não-adulterado em sua íntima natureza se sente responsável
por seus atos livremente cometidos.
E esse senso de responsabilidade cresce na razão direta da consciência da
liberdade. Quanto mais livre o homem for, tanto mais responsável se sente ele
por sua liberdade.
A consciência da responsabilidade é uma espécie de contrapeso à consciência
da liberdade.
Por mais que tentemos, não conseguiremos jamais matar totalmente a voz da
consciência, que é o eco das eternas leis cósmicas que regem o Universo.
O homem que tenta ser livre sem ser responsável tenta adulterar as leis
cósmicas, o que jamais conseguirá; pode suicidar-se, como Judas Iscariotes,
sob o peso dos remorsos, mas não consegue modificar a constituição infalível
do Universo, que no homem individual se chama consciência.
O homem sensato e sábio age livremente, sentindo-se constantemente
responsável por sua liberdade.
Compete ao educador consciencioso desenvolver no educando essa relação
entre liberdade e responsabilidade, que é o rim principal da verdadeira
educação.
Pode o homem instruído ser mau e infeliz – o homem educado é sempre
bom e feliz.
GUERRA E PAZ
ENTRE O EGO E O EU
Diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita: “O ego é o pior inimigo do Eu, mas
o Eu é o melhor amigo do ego”.
Tentaremos concretizar graficamente estas relações entre os dois pólos da
natureza humana. Representamos o ego por uma linha horizontal e o Eu por
uma linha vertical. Da combinação desses dois símbolos podem resultar
diagramas vários, como sejam:
Na primeira figura o ego oprime o Eu, e o Eu suporta o ego, isto é, o ego
hostiliza o Eu, mas o Eu tolera ou mesmo ama o ego. Quer dizer que o ego
(inferior) odeia o Eu (superior), mas o Eu ama o ego, assim como o tolo não
compreende o sábio, mas o sábio compreende o tolo.
No segundo caso, a linha horizontal do ego desceu pela linha vertical do Eu e
forma com este uma cruz, por enquanto uma cruz telúrica, com o pé mais
comprido, símbolo do sofrimento. Houve pois uma crucificação do ego pelo Eu,
ou melhor, o ego se espetou no Eu, sofrendo uma dilaceração, enquanto a
linha vertical do Eu continua intacta.
No terceiro desenho, o ego desceu pela metade do Eu, formando as duas
linhas uma cruz cósmica, com os quatro braços iguais, que é o símbolo da
glória e da vida eterna. Neste caso, o Eu fez um tratado de paz com o ego; não
o expulsou de si, mas integrou em si, como faz todo o homem plenamente
realizado.
No primeiro caso, teríamos o símbolo da instrução triunfante e da educação
oprimida, estado esse em que se encontra a quase totalidade do gênero
humano: 90% de instrução e 10%, de educação, se tanto. Nenhum governo do
mundo se interessa realmente pela educação do Eu, mas tão-somente pela
instrução do ego. Praticamente, nem é possível que um governo favoreça o Eu,
porque a tarefa da autoridade pública é meramente legal-social, e não
individual. Não interessa ao governo que o cidadão seja bom ou mau;
interessa-lhe que não faça o mal; nem o mesmo exige do cidadão que faça o
bem, mas simplesmente que evite o mal. Para o governo, é suficiente que o
cidadão não faça o mal, entendendo-se por bem ou mal o respeito ou
desrespeito à ordem legal e social vigentes no país. Enquanto o cidadão não
destrói ou prejudica o regime legal e a ordem social, é ele considerado um
“bom cidadão”. Esse “bom” se refere ao não fazer mal, não compreendendo
sequer o fazer bem, e menos ainda o “ser bom”, de que não cogita a
autoridade pública, consoante o texto do Direito Romano: “De intimis nen curat
praetor” (das coisas internas não se ocupa o magistrado).
Uma boa educação é para o governo aquela que respeita a ordem legal e
social, não a destruindo nem a prejudicando. Isto é educação cívica. Alguns
exigem também educação moral, incluindo na educação também o fazer o
bem. É isto que se chama educação em base filosófica.
As religiões organizadas parecem exigir do homem que, além de fazer o bem e
evitar o mal, também seja bom. Mas esse ser bom é simples camuflagem,
porque o ser bom exigido pelas religiões, como já dissemos, é um egoísmo
disfarçado, porquanto a chamada moral religiosa tem como motivos a
promessa de prêmio e a ameaça de castigo – prêmio e castigo, ainda que
póstumos, são motivos do ego, e nenhum ego pode deixar de ser egoísta. De
maneira que nem no plano religioso existe verdadeira idéia de educação, que
seria auto-educação, ou realização do Eu, auto-realização.
Aliás, nenhum governo pode interessar-se pela auto-realização individual, que
é da alçada do Eu individual, e não do ego social. O máximo que se requer do
ego é que evite o mal. Toda e qualquer sociedade é um produto do ego, e o
seu campo de ação é meramente produtivo, no plano horizontal do fazer, e não
creativo no plano vertical do ser.
A vertical creativa do ser é tarefa exclusiva do Eu individual e não do ego social
e seus derivados.
Para a sociedade não existe o Eu individual, porque a sociedade é um produto
do ego social.
Quando, anos atrás, foi publicado no Brasil o decreto-lei sobre uma base
filosófica da educação, aconteceu algo tão paradoxal como um círculo
quadrado – e a lei foi praticamente silenciada. A verdadeira educação no
sentido de auto-educação ou auto-realização não comporta essa base filosófica
social. Possivelmente a lei se referia a outra espécie de filosofia. A alo-
educação que interessa ao governo está invariavelmente na faixa do ego e da
lei, e não na do Eu e da justiça.
O lema “summum ius summa inioria”, gravado no frontispício do fórum de
Santa Maris (RS), é o perfeito paralelo às citadas palavras da Bhagavad Gita,
“o ego é o pior inimigo do Eu”; o ego só quer o “ius”, o direito, que, segundo o
lema citado, é a maior “iniaria” ou injustiça. O direito é do ego – a justiça é do
Eu.
Alo-educação corresponde ao direito do ego; auto-educação representa a
justiça do Eu. A justiça do ser bom é essencialmente creativa, ao passo que o
direito de fazer o bem é meramente produtivo. A creatividade se refere ao
sujeito do Eu, a produtividade refere-se aos objetos do ego; mesmo ao objeto
pessoal, que é o próprio ego, e que, por sua vez, produz os objetos
impessoais, que lhe dão segurança e garantia.
A educação, como ela é entendida pelos governos, tem por fim manter e
garantir a segurança nacional e a ordem social, que interessa ao ego. A
verdadeira auto-educação é creadora. Indiretamente, sim, essa creatividade
pode também favorecer a produtividade, mas não há um nexo causal e direto
entre a creatividade e produtividade. Às vezes, a creatividade do Eu é
flagrantemente improdutiva, e até antiprodutiva.
Quando o homem realiza plenamente o seu ser bom, então a sua plenitude
transborda na forma de fazer bem, queira ou não queira ele.
Voltando ao diagrama inicial, podemos dizer que o Eu e o ego, quando chegam
a formar a cruz cósmica da educação, beneficiam grandemente a cruz telúrica
da instrução. O ser bom próprio beneficia o fazer bem alheio.
Quando o grande iniciado hindu Ramana Maharishi foi interrogado sobre qual o
melhor modo de fazer bem à humanidade, respondeu ele: “O maior bem que
podeis fazer à humanidade é a vossa própria auto-realização.
O fim da educação é crear o homem integral.
DE ONDE VÊM A PERDIÇÃO E A
SALVAÇÃO DO HOMEM?
Quase todos nós fomos educados na idéia de que, no princípio, houve uma
“queda” trágica do homem, provocada pelo diabo. Quer dizer, que o homem
primitivo foi vítima de uma perdição vinda de fora.
Foi-nos dito também que, depois desta queda, teria Deus prometido mandar à
humanidade um salvador, o Cristo, que livraria o homem dessa suposta queda.
Seria pois uma alo-salvação, neutralizando uma alo-perdição.
Deste modo, seria o homem um joguete manipulado por duas forças adversas:
o diabo da perdição e o Cristo da salvação.
Se assim fosse, não existiria tal coisa como o livre-arbítrio próprio, responsável
tanto pela perdição como pela salvação do homem. O homem seria apenas um
objeto passivo, e não o sujeito ativo do seu destino bom ou mau.
Nós sabemos, porém, que o homem é o senhor do seu destino e o comandante
da sua vida como diz um filósofo-poeta; que Deus creou o homem o menos
possível para que o homem se possa crear o mais possível, no dizer de um
pensador moderno.
Perdição e salvação não acontecem ao homem pelo favor ou desfavor das
circunstâncias más (diabo) ou das circunstâncias boas (Cristo); perdição e
salvação provêm da íntima substância do próprio homem, isto é, só existe auto-
perdição e auto-salvação.
Se o homem fosse um joguete passivo, ou uma bola chutada pelas
circunstâncias externas, inútil seria toda a tentativa de educação, e teriam
razão certos psicólogos modernos que afirmam que o homem é produto do
meio; que o meio bom faz o homem bom, e o meio mau faz o homem mau.
Neste caso, não deveríamos tentar educar o homem, mas modificar as
circunstâncias externas; nada teríamos que eduzir do homem, como a
educação pretende, mas simplesmente modificar o ambiente.
Na realidade, não houve, no princípio da humanidade, uma alo-perdição, nem
houve depois uma alo-salvação. A perdição e a salvação vêm da própria
substância do homem, que é a sua consciência, o seu livre-arbítrio, que o torna
mau ou bom.
Esta atuação dúplice do homem é possível, porque a natureza humana é
bipolar, negativa-positiva, como são, aliás, todas as coisas da natureza.
Esses dois pólos da natureza humana – que a filosofia antiga chama Aham e
Atmam, e a psicologia moderna denomina ego e Eu – não são contrários ou
antagônicos, mas complementares e mutuamente compatíveis.
O antagonismo do negativo e do positivo é aparente, a compatibilidade é real.
Toda a educação consiste, em última análise, em levar o educando a
estabelecer em si a complementação ou síntese do seu ego e do seu Eu, que
parecem antíteses, mas podem e devem constituir a grande síntese da vida
humana.
A realização do homem integral consiste no descobrimento e realização da
harmonia entre os dois pólos da natureza humana.
Por isto, o homem integral não é espiritualista, nem materialista, nem tampouco
mentalista; o homem integral é o homem que tem a nítida consciência, e
subseqüente vivência, de que ele é uma creatura creadora, que se pode fazer
atualmente bom pela síntese das suas potencialidade sintetizáveis, que, ao
ignorante, parecem antíteses inconciliáveis.
Autoconhecimento e auto-realização são a chave da verdadeira educação.
As circunstâncias externas podem dificultar, como também facilitar, a
realização do homem integral, mas não a podem jamais impossibilitar. De
resto, o próprio Cristo nunco afirmou que ele veio para nos fazer bons ou
justos; toda a sua doutrina gira em torno da possibilidade de o homem se tornar
bom ou mau. Ele, com o exemplo da sua própria vida, provou que o homem se
pode tornar integralmente bom, apesar das circunstâncias adversas.
A idéia de uma alo-perdição ou alo-salvação, que domina as teologias, é
visceralmente antipedagógica e antieducativa. Somente a verdade sobre a
natureza humana e sua realização pode tornar possível uma educação
eficiente.
Ninguém pode educar alguém, alguém só pode educar-se a si mesmo
AMOR À NATUREZA
É inexplicável o instinto de destruição que domina certos meninos.
Se encontram uma árvore recém-plantada à beira da rua, têm de quebrá-la ou
arrancá-la.
Se passam diante de uma janela de vidro, têm de jogar pedras na vidraça.
Se encontram um muro recém-pintado, têm de sujá-lo com seu nome e/ou o
nome de sua namorada – nome de louco em cada toco...
O respeito ou desrespeito à natureza e ao ambiente são indícios do caráter da
pessoa.
Em face dessa mania de destruição que observo em tantos meninos, pergunto
a mim mesmo: por que esse ódio a quem nunca lhe fez mal?
Disse-me alguém que é uma vingança instintiva, uma reação de ódio
recalcado. Mas ódio a quem?
Sentimentos inconsciêntes não tem explicação. Parece que a educação
religiosa que muitos recebem na infância gera um senso de revolta, de protesto
tácito, de mania de vingança.
Nunca tive essa mania de destruição, mas fui rememorando o que me
aconteceu mais de meio século atrás, e que bem poderia ter criado em mim
essa revolta inconsciente. O Deus que eu conheci em criança era um Deus de
temor, e não de amor. Foi-me dito que eu devia temer a Deus, que os homens
tementes a Deus eram os santos. Imaginava que Deus devia ser um papão
perigoso para ser tão temido.
Hoje me lembro do que aconteceu a Voltaire, chamado o pai do ateísmo;
perguntado porque não aceitava Deus, respondeu: não posso aceitar um Deus
a quem não posso amar; o Deus que me ensinaram deve ser temido, e, porque
não o quero temer, prefiro ignorá-lo – é o que eles chamam meu ateísmo.
Lembro-me dos meus oito anos, quando uma professora piedosa e piegas me
preparava para a primeira comunhão. Disse-me que eu não devia calar
nenhum pecado mortal na confissão, porque isto era sacrilégio. Eu não sabia
bem o que queria dizer sacrilégio, mas palavra tão feia só podia ser coisa ruim.
E, para não cometer o tal sacrilégio, fui copiar do meu catecismo todos os
pecados que lá estavam enumerados contra os dez mandamentos – muitas
dúzias, e muitos deles mortais. Levei comigo para o confessionário, inclusive
os meus homicídios contra o 5- mandamento e os meus adultérios contra o 6-
mandamento. Felizmente, o confessor, vendo um garotinho através da grade
do confessionário, não tomou a sério os meus homicídios e adultérios, e me
absolveu de tudo. Retirei-me, aliviado, e sem nenhum sacrilégio na
consciência, porque dizer pecados demais não podia ser sacrilégio; a
professora só dissera que eu não devia calar um pecado mortal. E, certamente,
Deus teria pena de mim por eu me ter feito mais pecador do que era.
Veio depois o tormento da minha primeira comunhão. A professora piedosa me
previnira severamente que eu não devia mastigar a hóstia sagrada, que era o
corpo de Jesus, e, para evitar tamanho sacrilégio, cortei em casa, uma série de
hóstis de papel e as fui engolindo cuidadosamente, sem as morder nem
encostar nos dentes. E, com tão cuidadoso ensaio, julgo não ter cometido
sacrilégios no dia da minha primeira comunhão.
Por muitos anos, durante a minha adolescência, só conheci, como Voltaire, um
Deus e um Cristo que deviam ser temidos. Não sei se não cheguei a odiar
secretamente esse papão do além...
Será que a revolta que muitos meninos têm contra as coisas inocentes da
natureza de Deus não revela uma revolta inconsciente contra o Deus da
natureza? Um complexo, um traumatismo, um recalque, como dizem os
eruditos?
Quem aprendeu a amar o Deus da natureza, ama também a natureza de Deus.
Naturalmente, não um Deus ausente e distante em algum céu longínquo, mas
um Deus presente em todas as suas creaturas, pequenas e grandes,
conscientes ou inconscientes. Por mais que os além-nistas afirmem que Deus
só está no céu, a alma cristã por sua própria natureza é aquém-nista e advinha
Deus em todas as coisas da terra, da água e do ar. Naturalmente, não um
Deus pessoal, tipo Papai Noel, mas um Deus em espírito e verdade, como dizia
o Divino Mestre, um Deus onipresente, sempre presente e nunca ausente.
Uma educação baseada na consciência da natureza de Deus e do Deus da
natureza já é uma educação religiosa, mesmo fora de qualquer “religião”.
Einstein, o maior matemático do século, e talvez de todos os tempos, diz de si
mesmo que ele era um homem “profundamente religioso”, porque via Deus em
todas as coisas do Universo.
Não adianta acoimar essa cosmo-vidência de “panteismo”; o certo é que todos
os homens realmente bons e felizes tinham e têm essa vidência, consciente ou
inconscientemente.
A nossa educação religiosa devia insistir menos num suposto Deus pessoal, e
mais em levar o educando a ver Deus em tudo e tudo em Deus. E a plenitude
do amor a Deus levaria espontaneamente ao amor da natureza.
Santo Antão, do Egito, fugiu para o deserto da Tebaida – com medo do inferno.
Santa Teresa de Ávila fugiu para um convento – com medo de Deus.
Quando compreenderão os cristãos as palavras do Cristo: “Amarás o senhor
teu Deus com toda a tua alma, com toda a tua mente, com todo o teu coração e
com todas as tuas forças?
Antes de educar os outros, deve o homem educar a si mesmo.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA
O PROBLEMA PARADOXAL DA EDUCAÇÃO
A CRISE EXISTENCIAL DO HOMEM MODERNO
VISÃO PANORÂMICA DA EXISTÊNCIA TOTAL
INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO
O QUE O EDUCADOR DEVE EDUZIR DO EDUCANDO
VALORES VALORIZANDO OS FATOS
DEVE O EDUCADOR CASTIGAR?
É POSSÍVEL A EDUCAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL?
DEVE O EDUCADOR FALAR EM DEUS?
A MEDITAÇÃO FAVORECE A EDUCAÇÃO?
ORIGEM E NATUREZA DO HOMEM
POR QUE O HOMEM ESTÁ NA TERRA?
FALÊNCIA DA EDUCAÇÃO BASEADA EM PRÊMIO E CASTIGO
TEOLOGIAS ANTIEDUCACIONAIS
COBAÍSMO EDUCACIONAL
DISPERSIVIDADE E CENTRALIDADE
POR QUE DEVE O HOMEM SER BOM
EDUCAÇÃO REAL E EFICIENTE
LIBERDADE COM RESPONSABILIDADE
GUERRA E PAZ ENTRE O EGO E O EU
DE ONDE VÊM A PERDIÇÃO E A SALVAÇÃO DO HOMEM?
AMOR À NATUREZA
HUBERTO ROHDEN
VIDA E OBRA
Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil
em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia
e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg
(Holanda) e Nápoles (Itália).
De regresso ao Brasil, trabalhou como professor, conferencista e escritor.
Publicou mais de 65 obras sobre ciência, filosofia e religião, entre as quais
várias foram traduzidas para outras línguas, inclusive para o esperanto;
algumas existem em braile, para institutos de cegos.
Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e
dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.
De 1945 a 1946 teve uma bolsa de estudos para pesquisas científicas, na
Universidade de Princeton, New Jersey (Estados Unidos), onde conviveu com
Albert Einstein e lançou os alicerces para o movimento de âmbito mundial da
Filosofia Univérsica, tomando por base do pensamento e da vida humana a
constituição do próprio Universo, evidenciando a afinidade entre Matemática,
Metafísica e Mística.
Em 1946, Huberto Rohden foi convidado pela American University, de
Washington, D.C., para reger as cátedras de Filosofia Universal e de Religiões
Comparadas, cargo esse que exerceu durante cinco anos.
Durante a última Guerra Mundial foi convidado pelo Bureau of lnter-American
Affairs, de Washington, para fazer parte do corpo de tradutores das notícias de
guerra, do inglês para o português. Ainda na American University, de
Washington, fundou o Brazilian Center, centro cultural brasileiro, com o fim de
manter intercâmbio cultural entre o Brasil e os Estados Unidos.
Na capital dos Estados Unidos, Rohden frequentou, durante três anos, o
Golden Lotus Temple, onde foi iniciado em Kriya Yôga por Swami
Premananda, diretor hindu desse ashram.
Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado
para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University
(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade
japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi
nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não
tomou posse.
Em 1952, fundou em São Paulo a Instituição Cultural e Beneficente Alvorada,
onde mantinha cursos permanentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia,
sobre Filosofia Univérsica e Filosofia do Evangelho, e dirigia Casas de Retiro
Espiritual (ashrams) em diversos Estados do Brasil.
Em 1969, Huberto Rohden empreendeu viagens de estudo e experiência
espiritual pela Palestina, Egito, Índia e Nepal, realizando diversas conferências
com grupos de yoguis na Índia.
Em 1976, Rohden foi chamado a Portugal para fazer conferências sobre
autoconhecimento e auto-realização. Em Lisboa fundou um setor do Centro de
Auto-Realização Alvorada.
Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia
alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos
definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com
a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.
Quando estava na capital, Rohden frequentava periodicamente a editora
responsável pela publicação de seus livros, dando-lhe orientação cultural e
inspiração.
À zero hora do dia 8 de outubro de 1981, após longa internação em uma clínica
naturista de São Paulo, aos 87 anos, o professor Huberto Rohden partiu deste
mundo e do convívio de seus amigos e discípulos. Suas últimas palavras em
estado consciente foram: “Eu vim para servir à Humanidade”.
Rohden deixa, para as gerações futuras, um legado cultural e um exemplo de
fé e trabalho, somente comparados aos dos grandes homens do século XX.
RELAÇÃO DE OBRAS DO PROF.
HUBERTO ROHDEN
COLEÇÃO FILOSOFIA UNIVERSAL:
O PENSAMENTO FILOSÓFICO DA ANTIGUIDADE
A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
O ESPÍRITO DA FILOSOFIA ORIENTAL
COLEÇÃO FILOSOFIA DO EVANGELHO:
FILOSOFIA CÓSMICA DO EVANGELHO
O SERMÃO DA MONTANHA
ASSIM DIZIA O MESTRE
O TRIUNFO DA VIDA SOBRE A MORTE
O NOSSO MESTRE
COLEÇÃO FILOSOFIA DA VIDA:
DE ALMA PARA ALMA
ÍDOLOS OU IDEAL?
ESCALANDO O HIMALAIA
O CAMINHO DA FELICIDADE
DEUS
EM ESPÍRITO E VERDADE
EM COMUNHÃO COM DEUS
COSMORAMA
PORQUE SOFREMOS
LÚCIFER E LÓGOS
A GRANDE LIBERTAÇÃO
BHAGAVAD GITA (TRADUÇÃO)
SETAS PARA O INFINITO
ENTRE DOIS MUNDOS
MINHAS VIVÊNCIAS NA PALESTINA, EGITO E ÍNDIA
FILOSOFIA DA ARTE
A ARTE DE CURAR PELO ESPÍRITO. AUTOR: JOEL GOLDSMITH
(TRADUÇÃO)
ORIENTANDO
“QUE VOS PARECE DO CRISTO?”
EDUCAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL
DIAS DE GRANDE PAZ (TRADUÇÃO)
O DRAMA MILENAR DO CRISTO E DO ANTICRISTO
LUZES E SOMBRAS DA ALVORADA
ROTEIRO CÓSMICO
A METAFÍSICA DO CRISTIANISMO
A VOZ DO SILÊNCIO
TAO TE CHING DE LAO-TSÉ (TRADUÇÃO)
SABEDORIA DAS PARÁBOLAS
O QUINTO EVANGELHO SEGUNDO TOMÉ (TRADUÇÃO)
A NOVA HUMANIDADE
A MENSAGEM VIVA DO CRISTO (OS QUATRO EVANGELHOS TRADUÇÃO)
RUMO À CONSCIÊNCIA CÓSMICA
O HOMEM
ESTRATÉGIAS DE LÚCIFER
O HOMEM E O UNIVERSO
IMPERATIVOS DA VIDA
PROFANOS E INICIADOS
NOVO TESTAMENTO
LAMPEJOS EVANGÉLICOS
O CRISTO CÓSMICO E OS ESSÊNIOS
A EXPERIÊNCIA CÓSMICA
COLEÇÃO MISTÉRIOS DA NATUREZA:
MARAVILHAS DO UNIVERSO
ALEGORIAS
ÍSIS
POR MUNDOS IGNOTOS
COLEÇÃO BIOGRAFIAS:
PAULO DE TARSO
AGOSTINHO
POR UM IDEAL – 2 VOLS. AUTOBIOGRAFIA
MAHATMA GANDHI
JESUS NAZARENO
EINSTEIN – O ENIGMA DO UNIVERSO
PASCAL
MYRIAM
COLEÇÃO OPÚSCULOS:
SAÚDE E FELICIDADE PELA COSMO-MEDITAÇÃO
CATECISMO DA FILOSOFIA
ASSIM DIZIA MAHATMA GANDHI (100 PENSAMENTOS)
ACONTECEU ENTRE 2000 E 3000
CIÊNCIA, MILAGRE E ORAÇÃO SÃO COMPATÍVEIS?
CENTROS DE AUTO-REALIZAÇÃO
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