FACULDADE ALFAUNIPAC CURSO DE PSICOLOGIA
KARLA FABIA RAMOS DOS SANTOS Discente da Alfa Unipac de Teófilo Otoni, [email protected]
Prof. Me. ROBERTO GOMES MARQUES
Professor Titular da Alfa Unipac de Teófilo Otoni,
A INTERVENÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA - ABA EM
CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA -TEA
THE INTERVENTION OF THE APPLIED BEHAVIOR ANALYSIS - ABA IN
CHILDREN WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDER - TEA
Teófilo Otoni
Novembro/2020
FACULDADE ALFAUNIPAC
CURSO DE PSICOLOGIA
Artigo apresentado à disciplina “TCC II” do Curso de
Psicologia, da Faculdade Alfa Unipac, como requisito
parcial para conclusão do curso de Psicologia.
Orientador: Roberto Gomes Marques
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________ Orientador Prof. Me. Roberto Gomes Marques
Faculdade Alfaunipac
________________________________________________ Professor (a) Examinador (a): Carlos Roberto Shutte Junior
Faculdade Alfa Unipac
_________________________________________________
Professor (a) Examinador (a) Faculdade Alfa Unipac
Aprovada em ____/___/_____
Teófilo Otoni Novembro/2020
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Resumo
Este artigo traz à tona a temática das crianças acometidas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA), que por muito tempo, foram mantidas as margens da sociedade. Essas crianças não recebiam nenhuma atenção dos profissionais dessa área que acolhessem suas necessidades de forma individualizada. Existem, vários métodos de intervenção utilizados no tratamento do TEA em crianças, reconhecidos e utilizados pelos profissionais da psicologia, no entanto, o presente trabalho tem por objetivo principal descrever o método de intervenção da Análise do Comportamento Aplicada – ABA, apontando de forma clara e objetiva as contribuições desse método no tratamento das crianças com TEA, descrevendo para tanto os objetivos específicos como: Conceituar a Análise do comportamento Aplicada; Apresentar um breve histórico sobre o conceito e diagnostico do TEA e Descrever o método ABA em crianças portadoras do transtorno. O artigo descreve ainda como a ABA proporciona uma melhora na qualidade de vida das crianças acometidas pelo TEA ao descrever algumas técnicas que auxiliam no ensino e aprendizagem desses indivíduos. Por fim espera-se que os esclarecimentos expostos neste artigo, realizado por meio da pesquisa de revisão bibliográfica de cunho qualitativo, permita vislumbra as contribuições oriundas da ABA como método de intervenção no tratamento das crianças portadores TEA. Palavras-chave: TEA; Análise do comportamento; Intervenção; ABA Abstract This article brings up the theme of children affected by Autistic Spectrum Disorder (ASD), which for a long time were kept on the margins of society. These children did not receive any attention from professionals in this area who received their needs individually. There are several methods of intervention used in the treatment of ASD in children, according to and used by psychology professionals, however, the main objective of this work is to describe the intervention method of Applied Behavior Analysis - ABA, to displace clearly and it aims at the contributions of this method in the treatment of children with ASD, describing the specific objectives, such as: Conceptualizing Applied Behavior Analysis; Presenting a brief history of the concept and diagnosis of ASD and Describing the ABA method in children with the disorder. The article articles, such as ABA, offers an improvement in the quality of life of children affected by TEA by describing some techniques that help in teaching and learning that they can. Finally, it is expected that the clarifications exposed in this article, carried out by means of a qualitative bibliographic review survey, allow us to glimpse the contributions from ABA as an intervention method in the treatment of children with ASD. Keywords: TEA; Behavior analysis; Intervention; ABA
1 Introdução
O Autismo, apresenta-se como um transtorno do desenvolvimento, cujas
características não podem ser universalizadas pois, cada sujeito exterioriza sua
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própria singularidade. Todavia por conta dessa variabilidade o Autismo foi incluso
como sendo um Transtorno do Espectro Autista como consta no DSM V (Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). (APA, DSM V, 2014).
Os indivíduos com algum tipo de transtorno do desenvolvimento infantil, por
muito tempo foram mantidas as margens da sociedade, esses indivíduos não
recebiam nenhuma atenção dos profissionais desta área que acolhessem suas
necessidades de forma individualizada.
Existem, vários métodos de intervenção utilizados no tratamento do Transtorno
do Espectro Autista - TEA em crianças, reconhecidos e utilizados pelos profissionais
da psicologia, no entanto, o método de intervenção da Análise do Comportamento
Aplicada – ABA foi o escolhido para ser objeto de estudo deste artigo, pelo fato de sua
eficácia ser validada mediante comprovações científicas embasadas a priori nos
estudos de aprendizagem operante de Skinner. (DUARTE; SILVA E VELLOSO, 2018)
O presente artigo visa apontar: quais as contribuições da Análise do
Comportamento no tratamento do TEA em crianças por meio da intervenção ABA?
Espera-se por meio desse artigo, apontar de forma clara e objetiva as
contribuições oriundas da Análise do Comportamento no tratamento das crianças
portadoras do TEA utilizando o método ABA, descrevendo para tanto os objetivos
específicos como: Conceituar a Análise do comportamento Aplicada; Apresentar um
breve histórico sobre o conceito e diagnostico do TEA e Descrever o método ABA em
crianças portadoras do transtorno.
Por se tratar de um transtorno com considerável incidência entre as crianças,
tornou-se necessário colocar em evidência um dos tipos de intervenção existente que
venha possibilitar uma melhora na qualidade de vida das crianças acometidas pelo
TEA, no tocante ao seu desenvolvimento e aprendizagem.
2. Metodologia
Para a concepção do presente artigo utilizou-se da pesquisa de revisão
bibliográfica de cunho qualitativo-descritivo, a partir de revisão de obras publicadas
entre o ano de 2010 e 2020, excetuando-se as obras consideradas clássicas bem
como algumas revisões de grandes contribuições encontradas em formato físico ou
digital disponíveis em sites de referências em pesquisas acadêmicas como o SCIELO
(Scientific Eletronic Library) PEPSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia) e
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GOOGLE ACADÊMICO (scholar.google.vom.br), utilizando-se dos seguintes
descritores: TEA, Análise do comportamento, Intervenção, ABA.
Por fim o presente trabalho irá abordar as contribuições da Análise do
comportamento Aplicada – ABA no tratamento das crianças portadoras do Transtorno
do Espectro Autista – TEA, para tanto será apresentado no primeiro tópico a
introdução do tema; no segundo a metodologia utilizada; no terceiro a revisão de
literatura e por fim no quarto tópico as considerações finais.
3 Revisão de Literatura
3.1 As Bases Filosóficas da Análise do Comportamento
Entende-se por Behaviorismo a filosofia que dá sustentação a ciência do
comportamento humano. Todavia a análise do comportamento fundamenta-se no
arcabouço de conjecturas e inclinações existentes em uma teoria do conhecimento
singular intitulada de behaviorismo radical, postulado pelo psicólogo norte americano
Burrhus Frederic Skinner.
A Análise do Comportamento segue a mesma linha do behaviorismo radical no
tocante a pesquisa, caracterização e intervenção nos fenômenos psíquicos. O estudo
do comportamento, praticado pelos analistas do comportamento resultam em um
conjunto de conhecimentos ao qual permite interferir de forma categórica no
comportamento individual ou coletivo do indivíduo no seu dia a dia.
Todas as intervenções proporcionadas pela Análise Comportamental são
embasadas em práticas científicas, propiciando assim uma maior credibilidade em seu
fazer no âmbito da psicologia.
“Em certa ocasião, Skinner (1987) afirmou que o comportamento humano é
“possivelmente o mais difícil objeto já submetido à análise científica” (p. 780).
Compreender o comportamento humano é uma tarefa exigente, e a forma
como os analistas do comportamento buscam essa compreensão parte de
uma caracterização particular do comportamento – diferente do senso
comum, e diferente de outras abordagens da Psicologia”. SELLA E RIBEIRO
(2018, p. 61)
A Análise do Comportamento busca explicar as variáveis que impactam na
forma bem como na frequência do comportamento, para tanto torna-se necessário a
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utilização de métodos experimentais que afirmem os impactos dessas variáveis no
comportamento do indivíduo.
Para a Análise do Comportamento o comportamento não pode ser explicado
por si próprio, e sim pela relação comportamento e ambiente. Sendo assim o
comportamento é percebido como um evento natural e multideterminado em três
níveis de variação e seleção a saber: filogenético (história evolucionária da espécie)
ontogenético (história comportamental do indivíduo) e cultural (história cultural do
grupo ao que o indivíduo pertence). Tomando esse critério como base o
comportamento não pode ser tomado como produto de um agente iniciador ou de uma
mente não física. (HENKLAIN E CARMO, 2018)
Para SELLA E RIBEIRO (2018), diante do universo científico que abrange o
estudo do comportamento torna-se possível vislumbrar três áreas definidas, mas que
se complementam a saber: Behaviorismo Radical (Fundamentos Filosóficos da
Análise do Comportamento) Análise Experimental do Comportamento (Estudos
Empíricos Variáveis x Comportamento) e Análise do Comportamento Aplicada
(Estudos Empíricos acerca do Comportamento e sua Aplicação).
3.2 Transtorno do Espectro Autista (TEA): Conceito e Diagnóstico
3.2.1 Conceito
O termo Autismo foi cunhado a primeira vez por Eugen Bleuer em 1911, como
descrição para a perda de contato com a realidade bem como a falta ou a dificuldade
no âmbito da comunicação, tal feito se deve ao comportamento observado em
pacientes acometidos pela esquizofrenia. (AJURIAGUERRA,1977 apud SEELA E
RIBEIRO, 2018)
Para (KANNER, 1943 apud SELLA E RIBEIRO,2018). Em 1943 foi a vez de
Kanner caracterizar o Autismo Infantil a priori nomeado como Distúrbio Autístico do
Contato Afetivo. Tal transtorno apresentava condições comportamentais marcadas
por singularidades como alterações nos relacionamentos emocionais com o meio,
isolamento, incapacidade no tocante ao uso da linguagem e da comunicação,
cognição satisfatória, aparência física normal, comportamento ritual, manifestação
prematura bem como uma maior incidência sobre o sexo masculino.
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Por outro lado, Asperger em 1944, sinaliza por meio de suas pesquisas a
existência de um transtorno o qual classificou como sendo uma Psicopatia Autística,
externada por uma questão severa na interação social, na fala, desconforto motor com
predominância no sexo masculino. Para chegar à conclusão desse transtorno
Asperger utilizou-se de casos clínicos levando em consideração a história de vida
familiar, particularidades físicas e comportamental, atuação em avaliação de
inteligência bem como o grau educacional dos indivíduos. (LYONS;
FITZGERALD,2007; SANDERS,2009 apud SELLA E RIBEIRO, 20018)
Ressalta-se a importância e o impacto provocado por tais trabalhos na
bibliografia até então existente a nível mundial.
No tocante aos estudos de Kanner observou-se a adoção imediata da
sociedade científica. A teoria do Autismo Infantil, ofertada pelo autor, enfatizava haver
uma deformação do padrão familiar, que acarretaria variações na evolução
psicológica afetiva das crianças em virtude decorrente do intelecto dos pais da
criança. Vale ressaltar que Kanner, não deixou de levar em consideração que
possíveis questões biológicas existentes na criança poderiam resultar em tal
transtorno posto que as mudanças no tocante ao comportamento eram vislumbradas
de forma precoce, sendo assim a questão relacional poderia ser questionada. Em
1956, Kanner apontou que exames clínicos e laboratoriais não eram capazes de dar
embasamento em sua teoria etimológica apontado sua teórica como sendo uma
psicose. (KANNER,1956 apud SELLA E RIBEIRO, 2018).
A CID -9 da organização Mundial da Saúde de 1975, classificou o Autismo
como sendo uma psicose da infância. (SELLA E RIBEIRO, 2018). Somente a partir de
1976 o Autismo deixou de ser considerado uma psicose e passou a ser visto como
uma síndrome relacionada a déficits cognitivos sendo reconhecido como um
transtorno do desenvolvimento.
SELLA E RIBEIRO apud (GILLBERG,1990). Em 1990, Gillberg, salientou a
importância das variáveis orgânicas envoltas no Autismo, para ele existe a
impossibilidade das causas do Autismo não serem orgânicas, inviabilizando a
participação dos pais no processo. A forma de ver o Autismo até então modifica-se e
ganha contornos biológicos. Tão somente Gillerg, passou a abordar o Autismo como
sendo uma síndrome comportamental, com várias questões biológicas passando pela
perturbação do desenvolvimento tendo como peculiaridades dificuldades na interação
social, relacionamento, alterações verbais e de comportamento.
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A teoria de Gillberg, acarretaram mudanças drásticas na forma em se
diagnosticar bem como nas escolhas terapêuticas no tratamento do Autismo.
Em 1992 Burak, fortalece o conceito do comprometimento cognitivo no tocante
ao Autismo, colocando que ele era vislumbrando em uma perspectiva
desenvolvimentista comparado ao retardo mental tendo como base para tal afirmação
o fato de que cerca de 70 a 80% dos portadores do Autismo serem acometidos do
retardo mental. SELLA E RIBEIRO apud (BURAK,1992).
Sendo assim, atualmente o que se percebe com grande predominância é o
estudo do Autismo dentro de uma teoria do neurodesenvolvimento.
Em 1993, a CID 10 traz a descrição do conceito do Transtorno Global do
Desenvolvimento.
[...] grupo de transtorno caracterizado por alterações qualitativas das interações sociais reciprocas e modalidade de comunicação e por um repertório de interesses é atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Estas anomalias qualitativas constituem uma característica global do funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões. (SELLA E RIBEIRO 2018, p.21)
A partir do ano de 2000, o DSM IV é publicado e traz três características de
domínio na classificação do Transtorno Global do desenvolvimento como: a) Déficit
na interação social, na comunicação e padrões restritos b) Repetitivos e
estereotipados do comportamento; c) Interesses e atividades.
O DSM 5 publicado em 2013 passa a apontar apenas duas características
fundamentais na classificação do transtorno que passa a ser intitulado de Transtorno
do Espectro Autista (TEA). As características de domínio são: a) Deficiências sociais
e de comunicação; b) Interesses restritos, fixos e intensos e comportamentos
repetitivos.
Impulsionado pelas mudanças conceituais e diagnósticas ao longo dos anos
o Transtorno do Espectro Autista, passa a ser percebido como um distúrbio altamente
complexo nos modos em que se apresenta, atingindo de forma irrestrita todos os
indivíduos, independentemente de sua raça ou cultura.
3.2.1.2 Diagnóstico
Atualmente o TEA tem por definição ser formado por um grupo de sintomas, ao
qual verifica-se ser preferivelmente caracterizado por uma classe diagnóstica
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ajustável de acordo a como se faz presente de forma singular na clínica, possibilitando
assim a inclusão de particularidades clínicas, não desconsiderando a priori a
gravidade sintomatológica estar ligada ao comprometimento cognitivo. As dificuldades
no quesito de comunicação e de comportamento social devem ser avaliadas em
conjunto não deixando de considerar as peculiaridades do contexto e do ambiente.
Para tanto, as questões ligadas as complicações da linguagem, não são típicas
apenas do transtorno, nem mesmo sempre presente, e que pode ser entendido
apenas como mais um componente que atua no conjunto de sintoma, sendo assim,
não o torna preceito para diagnóstico. (SELLA E RIBEIRO, 2018)
É de fundamental importância no tocante ao diagnóstico os dois critérios do
DSM V serem atestados a fim de se obter um resultado mais preciso acerca do TEA.
As atribulações sensoriais atípicas podem ser importantes no diagnóstico de crianças
menores, outro ponto a ser considerado é a prevalência dos sintomas desde o
nascimento ou início da infância, embora tais sintomas nem sempre são percebidos
devido aos cuidados dispensados a criança por seus cuidadores nessa faixa etária,
bem como do quesito social ínfimo exigido nesse período.
O Transtorno do Espectro Autista, se faz presente em três níveis de gravidade
de acordo a classificação. (APA, 2014)
Nível 1 (Exigindo apoio): Sem suporte local, acarreta prejuízos, diminuto
relacionamento social. Se presentes comportamentos ritualísticos e repetitivos,
podem culminar em dificuldades no desempenho contextual. Presença de objeção no
tocante as iniciativas de corte nos rituais e desvio nos interesses fixados. (APA, 2014)
Nível 2 (Exigindo apoio substancial): Mesmo com suporte, dificuldades verbais
e não verbais sempre presentes, no contato social com outros indivíduos percebe-se
respostas curtas ou deficientes. (APA, 2014)
Nível 3: (Exigido apoio muito substancial): A comunicação verbal e não verbal
apresenta graves dificuldades, colaborando para um funcionamento social crítico,
respostas mínimas na interação com outros indivíduos. (APA, 2014)
Por fim o Transtorno do Espectro Autista é visto como uma disfunção
comportamental com bases variadas em virtude de uma perturbação do
desenvolvimento. Sua investigação pode se dar por meio de escalas diagnósticas a
serem utilizadas por vários profissionais, tendo como base uma suspeita diagnóstica,
sendo possível sua constatação ou não por um profissional especialista da área.
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Por conta da diversidade bem como da sua variabilidade o diagnóstico do TEA
necessita de um trabalho multidisciplinar que não se limite apenas a uma questão
biológica. A utilização dos mais variados tipos de avaliações permite a ampliação do
prognóstico além de auxiliar na escolha de métodos de recuperação mais efetivos.
3.3 A Intervenção por meio da Análise do Comportamento Aplica - ABA
A intervenção por meio da Análise do Comportamento Aplicada, tem como base
os princípios científicos de que tem sido uma das intervenções mais eficazes no
tratamento das crianças diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista.
Sabe-se que o método ABA possui grande suporte científico e tem sido o método de intervenção mais pesquisado e amplamente adotado, sobretudo nos Estados Unidos, para promover a qualidade de vida de pessoas com
transtorno do espectro do Autismo. (CAMARGO E RISPOLI, 2013).
A metodologia ABA apoia-se na análise, na explicação e na associação entre
comportamento humano e a aprendizagem. Quando um comportamento passa por
uma análise, pode-se desenvolver um plano de ação para alterar tal comportamento.
Para a aplicação do método ABA torna-se necessária a criação de um arranjo de
ensinamento com finalidades específicas e ações personalizadas, proporcionais as
carências de cada indivíduo, que seja um ensino intenso com o tempo médio de
duração de 30 a 40 horas semanais. As sessões devem contar com um aplicador e
com um receptor. O local deverá estar ajustado e acolhedor aos olhos da criança,
repelindo qualquer tipo de penalidade e contemplando o comportamento almejado.
Todavia são estabelecidos mecanismos de auxílio na tentativa de diminuir o contato
da criança com o erro. (BORBA E BARROS,2018)
Nada impede a mudança na forma de ensino caso haja necessidades pautadas
nas dificuldades, progressos e resultados da criança, sendo assim esta intervenção
requer muito mais que uma simples leitura de um manual, sendo necessário o
acompanhamento de um profissional capacitado durante sua aplicação.
Comportamento e ambiente são os dois conceitos mais importantes para o
entendimento da Análise do Comportamento Aplicada.
Para BORBA E BARROS (2018) o comportamento pode ser entendido como a
ação ou a atividade exercida por uma pessoa no tocante ao seu ambiente. Podendo
ser entendido como comportamento o andar, o sorrir, chorar, o medo etc. O ambiente
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pode ser classificado como sendo os acontecimentos com os quais o indivíduo
conserva alguma classe de conexão. Todavia melhor convém dizermos de
acontecimentos ambientais ou estímulos particulares do que em ambiente, visto que
a palavra ambiente consegue ser muito ampla o que impede ao indivíduo o
relacionamento com ele de uma só vez.
Para MOREIRA E MEDEIROS (2019), um dos maiores desafios para a análise
do comportamento é o aprendizado do comportamento verbal em crianças
diagnosticadas com TEA. O comportamento verbal é caracterizado por diversas
maneiras de comunicação entre os indivíduos de um determinado grupo. Sendo
assim o comportamento verbal e tido como um comportamento operante. O
comportamento operante e classificado como sendo uma resposta manifestada pelo
organismo produzindo assim uma mudança no ambiente. Nesse contexto o
indivíduo é falante ao comportar-se verbalmente perante o outro e torna-se um
ouvinte ao comportar-se funcionalmente a estímulos verbais produzidos por outros
indivíduos.
Para (SIRACUSA, 2018) em seu livro Comportamento Verbal Skinner,
saliente que existem comportamentos operantes que modificam o ambiente por meio
de condutas mecânicas e comportamento operante em que o indivíduo age de forma
indireta sobre o ambiente de modo que as últimas consequências advindas de seu
comportamento surgem, promovendo um efeito sobre o comportamento de um outro
indivíduo desse modo, os principais comportamentos operantes verbais são: tato,
mando, ecoico e intraverbal. O tato consiste em nomear objetos, pessoas e
acontecimentos, o mando já expressa o comportamento de pedir, o ecoico é o
comportamento de repetição verbal e o intraverbal refere-se à capacidade de
responder. Considera-se de grande importância para as crianças acometidas pelo
TEA um trabalho que possa desenvolver de forma satisfatório seu aprendizado
verbal até os sete anos de idade. Tal feito impactará de forma positiva na vida adulta
desta criança.
No processo de intervenção ABA o profissional da psicologia desenvolve um
currículo, baseado na análise funcional que vai depender de cada criança, usualmente
é vasto, inclui capacidade acadêmica, linguagem, cuidados pessoais, sociais, brincar
e motoras. Torna-se de grande valia o envolvimento da família e da escola nessa
intervenção e com certeza irá contribuir para seu êxito, uma vez que propicia a adição
da potência da intervenção.
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A intervenção por meio da ABA, conta com dois métodos de ensino seja por
meio das tentativas discretas ou pelo Ensino Incidental.
Primeiramente, pelo ensino das tentativas discretas, há uma necessidade por
parte do ambiente onde ocorrerá o aprendizado em ser controlado e estruturado.
Neste caso o aplicador desse método, planeja situações em que se possa aplicar esse
ensino, bem como adotar os presumíveis reforçadores que possam aguçar o
comportamento da criança, fazendo com que as respostas desejáveis sejam
repetidas. Todavia esse ensino permite estabelecer a quantidade de tentativas a
serem realizadas, isto é quantas vezes a criança será solicitada a manifestar
determinadas respostas como por exemplo sentar-se. As várias tentativas podem ser
agrupadas em blocos de tentativas. Exemplificando: doze tentativas podem ser
consideradas como um bloco. Em uma folha de registro, os erros e acertos da criança
devem ser anotados em cada tentativa, dessa forma no final de todas as tentativas
que formam um bloco poderá ser calculada em percentagem os acertos realizados
pela criança afim de medir o desempenho e aprendizado da criança. (DUARTE; SILVA
E VELLOZO, 2018)
Já o método de ensino incidental consiste em usufruir das ocasiões do cotidiano
para ensinar esse método para a criança. Condições também podem ser
desenvolvidas para que uma tarefa não tão comum no dia a dia aconteça, uma
atividade doméstica por exemplo pode ser utilizada para o ensino incidental. Pode-se
utilizar do momento de uma refeição para realizar o ensino incidental da resposta
sentar-se. Decidimos que é preciso a criança sentar-se antes de começar a refeição.
Anunciar a orientação “senta” explicar que a criança precisa sentar-se por meio da
ajuda física e leve, esse procedimento deverá ocorrer até a criança poder realizá-lo
de forma independente. Observa-se nesse que nesse caso, não ocorre um número
pré estabelecido de tentativas ou blocos de tentativas. Algumas vezes a criança é
quem inicia uma tarefa que pode ser avaliada como tentativa, sendo assim aproveita-
se essa oportunidade para aplicação do processo de treino. (BORBA E BARROS
2018)
A intervenção ABA conta também com os procedimentos de ajuda em seu
programa de intervenção. Quando está ocorrendo a aplicação do método de
intervenção em uma criança portadora do TEA faz-se necessário que a criança
consiga realizar o máximo de acerto possível, para tal torna-se necessário o
fornecimento de ajuda afim que estes acertos possam se concretizar. Os tipos de
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ajuda mais comuns utilizados pela ABA consiste em: dica física, ajuda leve, atraso,
diga gestual, dica visual, imitação (dica modelo) e dica modelo verbal.
A dica física, normalmente é utilizada quanto a criança não manifesta qualquer
tipo de ação que demonstre que a resposta será concretizada. Normalmente utiliza-
se das mãos para tal ajuda. (DUARTE; SILVA E VELLOZO, 2018)
Tem -se na ajuda leve algo parecido com a ajuda física, todavia essa ajuda
consiste em um grau menor, a ideia e fazer com que a criança tome iniciativa para a
realização do feito. O objetivo dessa ajuda consiste em que a criança seja capaz de
cumprir a metade e o final do feito de forma autônoma. (BORBA E BARROS, 2018)
O procedimento de atraso e bastante aplicado a fim de encorajar as respostas
de forma independente da criança. O tempo de aguardado nesse processo e relativo,
por um lado não deve ser curto pois corre o risco de a criança aguardar pela ajuda, já
por outro lado também não pode ser longo pois pode ocorrer a perda do interesse da
criança pela ação. (BORBA E BARROS, 2018)
Já na dica gestual como o nome já diz, ocorre pelo manifesto de dicas gestuais,
como exemplo ao dizer senta basta indicar a cadeira onde a criança deve sentar ou
mesmo solicitar que a criança pegue um livro e apontar para o livro que a criança deve
apanhar. (DUARTE; SILVA E VELLOZO, 2018)
A dica visual tem por objetivo ensinar habilidades acadêmicas, autocuidado e
vocacionais. Na dica visual, sua realização é feita por meio de imagens, em alguns
casos por meio de objetos. Aqui o que é ofertado como dica e a imagem. Por exemplo,
se a criança deseja biscoito, ela pode mostrar a imagem do biscoito para comunicar
isso; ou se deseja ir ao parque ela pode mostrar a imagem do parque. Possivelmente
no início do processo da dica visual a criança necessitará de apoio físico para começar
a comunicação. Na dica visual pode ser necessária a ajuda de um auxiliador da
criança que poderá ajudá-la a pegar o desenho correspondente a imagem de um
biscoito por exemplo e logo em seguida entregar para o aplicador essa imagem, que
expressa a vontade dessa criança de querer o biscoito. Nesta prática torna-se
necessário que o adulto auxiliador da criança fale o nome que corresponde a imagem
quando da entrega dessa ao aplicador questão. Essa ferramenta denominada de dica
visual é muito utilizada com crianças não possuidoras de repertório falante ou que
estejam em fase de promoção dele. (DUARTE; SILVA E VELLOZO, 2018)
Na imitação (dica modelo) é fornecido a criança o modelo da ação que ela
deverá fazer, logo em seguida solicita a criança repetir a ação.
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Na dica modelo vocal o que ocorre é a apresentação de uma reprodução vocal
e não física. Consiste em falar diretamente o que deseja que a criança diga, esperar
a criança repetir e quando ocorrer essa repetição a interação entre ambos seguira
normalmente. (BORBA E BARROS, 2018)
Faz-se necessário encontrar o que seja prazeroso para a criança submetida a
intervenção bem como avaliar frequentemente se essas atividades estão sendo
capazes de deixar a criança estimulada em apresentar um bom desempenho, caso
não, mude as consequências para obter um melhor retorno da intervenção.
4. Considerações Finais
Espera-se que os esclarecimentos aqui expostos, obtidos por meio da pesquisa
de revisão bibliográfica tenham permitido elucidar quais as contribuições oriundas da
ABA como método de intervenção no tratamento das crianças portadores TEA. Para
tanto compreendeu-se que a Análise do Comportamento Aplicada tem suas origens
no Behaviorismo Radical de Skinner. Ademais tornou-se claro que o estudo do
comportamento, realizado pelos analistas do comportamento aplicado culminam em
um conjunto de conhecimentos ao qual permitem interferir de forma precisa no
comportamento individual ou coletivo dos indivíduos em seu dia a dia.
Como observado no artigo o TEA, ao longo do tempo sofreu algumas
alterações conceituais bem como em sua classificação diagnóstica. Em 1993 o
transtorno passa a ser denominado de Transtorno Global do Desenvolvimento e
posteriormente em 2013 o DSM V atualiza as características de classificação do
transtorno em: a) Deficiências sociais e de comunicação; b) Interesses restritos, fixos
e intensos e comportamentos repetitivos.
Considerou-se que o maior desafio da Análise do comportamento é o
aprendizado do comportamento verbal em crianças diagnosticadas com TEA,
destacando-se ainda a relevância em desenvolver um bom trabalho no tocante ao
aprendizado verbal da criança até os sete anos de idade. Tal feito implicaria de forma
positiva na vida adulta desta criança. O trabalho do psicólogo utilizando o método
ABA consiste na elaboração de um currículo, baseado na análise funcional que vai
depender de cada criança, usualmente deve ser vasto, levando em consideração para
tanto a capacidade acadêmica, de linguagem, cuidados pessoais, sociais, o brincar e
as questões motoras. Para que o processo de intervenção tenha mais sucesso, é
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necessário o envolvimento da família e da escola. Fora elencado dois métodos de
ensino utilizados pela ABA, sendo eles pelas tentativas discretas ou pelo Ensino
Incidental.
Pelo ensino das tentativas discretas é necessário que o ambiente onde ocorra
o aprendizado seja controlado e estruturado. Por outro lado, o método de ensino
incidental consiste em usufruir das ocasiões do cotidiano para ensinar esse método
para a criança.
Observou-se que o método de Intervenção ABA proporciona melhores
condições para o ensino e aprendizagem possibilitando assim uma melhora na
qualidade de vida das crianças acometidas pelo TEA.
Por se tratar de um tema muito amplo torna-se necessário mais pesquisas
acerca do método de intervenção ABA.
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Referências
ARAUJO, Álvaro Cabral; LOTUFO NETO, Francisco. A nova classificação
Americana para os Transtornos Mentais: o DSM-5. Rev. bras. ter. comport.
cogn.,São Paulo , v. 16, n. 1, p. 67-82, abr. 2014. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151755452014000100
007&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 11/10/2020
BORBA, M. M. C.; BARROS, R. S. Ele é autista: como posso ajudar na
intervenção? Um guia para profissionais e pais com crianças sob intervenção
analítico-comportamental ao Autismo. Cartilha da Associação Brasileira de
Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC,2018).
Camargo, S., & Rispoli, M. (2013). Análise do comportamento aplicada como
intervenção para o Autismo: definição, características e pressupostos
filosóficos. Revista Educação Especial, 26(47), 639-650. doi:
https://doi.org/10.5902/1984686X9694. Acesso em 12/11/2020
DUARTE, C.P; SILVA, L. C; VELLOSO, R. L. Estratégias para a Análise do
Comportamento Aplicada para pessoas com Transtorno do Espectro Autista/
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