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Em MoViMEnto

Quem não sabia costurar, apren-deu rápido. Mulheres desemprega-das de Macaé (RJ) enxergaram em um curso de corte e costura a opor-tunidade de vencer a exclusão so-cial. Oferecido pela incubadora de Cooperativas do município, o curso desenvolvido em parceria com o do Serviço Nacional de Aprendiza-gem Comercial (Senac), deu origem à Cooperativa de Costureiras de Macaé – CoopCom.

As cooperativadas aprendem a enfrentar a falta de capital e as di-ficuldades de trabalhar em grupo. Todas são sócias do negócio e jun-tas decidem questões relacionadas ao processo produtivo e aos in-vestimentos. A falta de experiência em gestão é sanada com auxílio da incubadora, que oferece consultoria técnica em contabilidade, economia e direito, por exemplo.

De acordo com a gerente da incubadora de cooperativas, Aline Azeredo Barbosa, com a formação de novos profissionais, o curso proporciona o aperfeiçoamento das técnicas de costura industrial. “O investimento nesse curso tem o objetivo de trazer mais qualidade ao setor, atraindo novos clientes e gerando trabalho e renda para es-ses profissionais. É uma grande oportunidade para essas pessoas.”

INTEGRANTES DA REPIN Consórcio de Comércio Justo e Inserção

Social Catalão Potiguar (BraCat) – Núcleo de Estudos Brasileiros (NEB)

Incubadora de Bordadosdo Seridó (Inbordados)

Incubadora de Cooperativas Populares do Rio Grande do Norte (Incoop)

Incubadora do Agronegócio da Caprinovinocultura do Sertãodo Cabugi (Ineagro-Cabugi)

Incubadora do Agronegócio de Mossoró (Iagram) – Universidade Federal Regional do Semi-Árido – Ufersa

Núcleo de Incubação Tecnológica (NIT) – Centro Federal de Educação Tecnológica – Cefet/CE

Serviço Brasileiro de Apoioàs Micro e Pequenas Empresas doRio Grande do Norte (Sebrae/RN)

A necessidade de interação entre as incu-badoras do Rio Grande do Norte deu ori-gem à Rede Potiguar de Incubadoras e Par-ques Tecnológicos (Repin), lançada em março deste ano. Agora, as ações dos inte-grantes da rede estão voltadas para sua con-solidação, criando condições para prestação dos primeiros serviços às associadas.

De acordo com o gestor de incubadoras do Rio Grande do Norte, Walter Leite, a Re-pin proporciona a troca de informações e de conhecimento entre as incubadoras, o que favorece o crescimento do movimento no estado. “Os principais benefícios serão os resultados de uma atuação conjunta, em

busca da viabilização do alcance dos objetivos comuns e específi-cos de cada integrante da Rede”, afirma. Ele ressalta ainda que as principais ações da Repin estão ligadas à captação de recursos, intercâmbio comercial, acesso à tecnologia, ingresso no mercado e inovação em negócios, proces-sos, produtos e serviços.

As incubadoras potiguares atuam em diversos segmentos da economia (tradicionais e de ino-vação), que incluem associação de quilombolas, cooperativas,

grupos de teatro e em-preendedores dos Arran-jos Produtivos Locais das áreas de apicultura, caprinovinocul-tura e bordado. “A heterogeneidade da Repin é a cara do Rio Grande do Norte”, destaca o gestor.

Nova rede de integração

Fênix gradua primeiraempresa incubada na UEMS

A incubadora de empresas da Universi-dade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) graduou, no dia 27 de abril, a sua primeira empresa incubada: a Exclaim. Se-diada em Dourados, no Sul do estado, a graduada presta serviços de consultoria, desenvolvimento e implementação de pro-jetos na área tecnológica para ambiente corporativo (softwares personalizados).

A prova de que a Exclaim está pronta para se desenvolver sem o auxílio da incu-badora está em sua carteira de clientes, que conta com mais de 50 empresas. Incu-bada na Fênix em outubro de 2002, a Ex-claim desenvolveu diversos softwares, dentre os quais se destacam o Ana, volta-do para gestão financeira; o Amanda, para gerenciamento de empresas de varejo; o Alice, para controle de ponto, e o Aline, para administração escolar.

Cooperativadas aprendem a costurar e a gerenciar negócios

Costurando cidadania

Equipe da Repin trabalhapara colocar planos em ação

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Setores de alta tecnologia1. Delphi (automobilística)2. Embraer (outros equipamentos de transporte) 3. Marcopolo (automobilística)

Setores de média-alta intensidade tecnológica1. Silvestre Labs (química) 2. Vallée (química) 3. Natura (química)

R$ 5,4 milhões para incubadorasPAC para C&T

A versão final do Plano de Ações para Ciência e Tec-no logia para o qua driênio 2007-2010 deve ser conhe-cida em 9 de julho, na 59ª Reunião Anual da SBPC, em Belém (PA). Desde o final de maio, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende (acima), vem apresentando as propostas a entidades ligadas à área. De acordo com o MCT, o plano apresenta quatro linhas de ação principais:

1 Expansão e consolidação do sistema nacional de C&T, que inclui a consolidação institucional do sistema, a formação de recursos humanos, infra-estrutura e fomento à pesquisa científica e tecnológica.

2 Promoção e inovação tecnológica nas empresas, com apoio especial para: serviços tecnológicos, tecnologias de informação e comunicação (TICs), biotecnologia, fármacos e medicamentos, nanotecnologia, biocombustíveis e energias do futuro.

3 Pesquisa e desenvolvimento em áreas estratégicas, entre elas: programa espacial, programa nuclear, segurança pública e defesa nacional, biodiversidade e recursos naturais, mar e Antártida, desenvolvimento sustentável da Amazônia, desenvolvimento sustentável do Semi-árido, meteorologia e mudanças climáticas.

4 C&T para o desenvolvimento social, que inclui a popularização da C&T e a melhoria do ensino de ciências e tecnologias para o desenvolvimento social.

Uma parceria entre o Sebrae e a Anprotec resultou em um edital de apoio às incubadoras brasilei-

ras, que distribuirá R$ 5,4 milhões entre entidades que

proponham proje-tos de prestação de serviços a pequenas

e microempresas criadas fora do ambiente de incubação. Para re-ceber os recursos, as candidatas devem, além de serem associadas à Anprotec, ter, no mínimo, quatro anos de operação, 10 empresas incubadas e duas graduadas. Ao todo, serão aprovadas até 30 pro-postas, sendo que 50% dos recursos são destinados a incubadoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. As inscrições foram recebidas até o dia 20 de junho. O resultado final será divulgado a partir de 24 de setembro, no site www.sebrae.com.br

Brasil tem novo indicador de inovaçãoAs empresas brasileiras contam com um novo método para

mensurar seus esforços e resultados na área de pesquisa e desen-volvimento. O Índice Brasil de Inovação (IBI) foi lançado em 24 de maio, com a premiação das 12 empresas apontadas, segundo o próprio IBI, como as mais inovadoras do país. Entre essas empre-sas está uma ex-incubada: a Silvestre Labs, do Pólo Bio-Rio (veja matéria na pág. 23). No total, 60 empresas participaram da pri-meira edição do IBI, que é uma iniciativa do Laboratório de Estu-dos Avançados em Jornalismo (Labjor) e do Instituto de Geociên-cias (IGE), ambos da Unicamp, em parceria com a revista Inovação Uniemp e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As empresas são avaliadas a partir do Indicador

Agregado de Resultado (IAR), que representa os impactos da inovação e as patentes deposita-das, e do Indicador Agregado de Esforço (IAE), que reflete os gastos com máquinas, equipa-mentos, produtos e processos inovadores. São consideradas mais inovadoras as que apresenta-

rem maior equilíbrio entre os indicadores de resultados e de esforços.

Setores de média-baixa intensidade tecnológica 1. Brasilata (produtos de metal) 2. Faber Castell (móveis e diversos) 3. Usiminas (metalurgia básica)

Setores de baixa intensidade tecnológica1. Santista Têxtil (têxtil) 2. Grendene (calçados) 3. Rigesa (papel e celulose)

As mais inovadoras

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Novo modelo para incubação

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Incubatep divulga resultado A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Estado

de Pernambuco (Incubatep) acaba de selecionar nove projetos para serem desenvolvidos no Instituto de Tecnologia de Per-nambuco (ITEP). As empresas escolhidas foram: Beraca, Ideia, Ecoenergia, Lavanderia, Mobilit, Qualihouse, Ros Ro-bótica e Sky Protector, além do projeto Software Educacional, voltado para portadores de síndrome de Down.

Gestores de incubadoras de todo o país reuniram-se em Florianópolis (SC) entre os dias 28 de maio e 1º de junho para discutir um novo conceito de incubação de empresas: o Centro de Referência para Apoio a No-vos Empreendimentos (Cerne). Baseado em progra-mas de apoio a pequenas e microempresas que obtive-ram sucesso nos Estados Unidos e na Europa, o novo modelo tem como objetivo capacitar as incubadoras para o oferecimento de serviços diferenciados que promovam o crescimento dos empreendimentos. “As incubadoras qualificadas no âmbito do conceito do Cerne deverão promover a potencialização, padroni-zação e inovação de infra-estrutura, equipe, serviços, networking e marca”, afirma José Eduardo Fiates, pre-sidente da Anprotec.

Em Florianópolis, durante o Workshop de Metade-sign do Programa Cerne, 21 incubadoras apresenta-ram processos internos, dificuldades enfrentadas e avaliações de resultados. Somadas às propostas desen-volvidas por grupos de trabalho no evento, essas ex-periências servirão para balizar a estruturação de um novo modelo para empreendimentos inovadores. O workshop foi promovido pela Anprotec, em parceria com o Sebrae.

ISENÇÃO FISCAL PARA FINANCIAMENTO DE PESQUISAS

A lei que concede isenção fiscal para empresas que atuarem em parcerias com instituições científicas tec-nológicas (ICTs) já foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). O texto cria o artigo 19-A na lei nº 11.487 – Lei do Bem – e prevê que toda pessoa jurídi-ca poderá excluir do lucro líquido, para efeito de apu-ração do lucro real e da base de cálculo da Contribui-ção Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), os dispêndios efetivados em projeto de pesquisa científica e tecnoló-gica e de inovação tecnológica a ser executado por ICT. Isso significa que todo investimento em P&D fei-to nas instituições poderá ter isenção fiscal. Nesse caso, não há limite para os investimentos.

A única restrição se refere ao direito à propriedade, que dependerá do valor investido pelas empresas. A lei prevê que a participa-ção da pessoa jurídica na titularidade dos direitos sobre a criação e a pro-priedade industrial e in-telectual gerada por um projeto cor responderá à razão entre a diferença do valor despendido pela pessoa jurídica e do va-lor do efetivo benefício fiscal utilizado, de um lado, e o valor total do projeto, de outro, cabendo à ICT a parte remanescente. Na prática, a empresa terá direito a no máximo 50% do produto. Se a empresa tiver isenção de 70% do que foi investido em ICTs, ela só terá direito à propriedade em 30% do produto. Se tiver isenção de 50%, terá di-reito de propriedade em relação à metade. Os finan-ciamentos que tiverem uma dedução de 100% estarão isentos de direito à propriedade.

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Câmera inteligente

Produzidas pela Invent Vision, graduada da Inova UFMG, as smart cameras têm como principal aplicaçãoa inspeção do processo produtivo industrial. Além de adquirir imagens com qualidade, o equipamento dispensa o uso de computador para processar as fotos, pois temuma CPU embutida. Em um mercado ainda dominado por importados, o produto da Invent Vision, 100% brasileiro, apresenta preços competitivos.

Saiba mais: www.inventvision.com.br

A G E N D A

Em MoViMEnto

Planejamento FinanceiroCurso promovido pela Empreende Consultoria voltado ao desenvolvimento e análise da seção financeira de um planode negócios. Ensinará como adequar pequenas empresas aos

requisitos exigidos por fundos de investimentoe agências de fomento. Data: 18 de julhoLocal: São Paulo (SP)Informações e inscrições:www.planodenegocios.com.br

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Destinado a identificar projetos quepromovam o desenvolvimento sustentávelda região Amazônica, o prêmio é dividido emtrês categorias: econômica e tecnológica, social e ambiental. Instituições públicas e privadas podem concorrer à premiação de R$ 65 mil – para cada categoria.Data final para inscrição: 31 de agostoInformações: www.amazonia.desenvolvimento.gov.br

Inscrições para Prêmio Professor Samuel Benchimol

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17º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas

De 17 a 21 de setembro, a Anprotec e o Sebrae promovem o maior evento latino-americano do setor de incubação. Durante uma semana, o 17º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas reunirá em Belo Horizonte (MG) representantes de diversas entidades governamentais e de apoio ao empreendedorismo, gestores de incubadoras, empreendedores e pesquisadores da área. Além de discutir diretrizes, estratégias e ações para o movimento no Brasil, o evento oferecerá oportunidades de capacitação, atualização, debates de tendências, apresentação de resultados e produção técnico-científica. Ao todo, serão realizados nove minicursos, abordando temas que vão desde rotinas de gestão até captação de recursos, exportação e avaliação de micro e pequenas empresas. Nos dias 17 e 18 ocorrerá o Workshop Anprotec, que proporciona aos participantes informações atuais sobre temas essenciais ao movimento, como oportunidades e tendências da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE). Os participantes que se inscreverem até o dia31 de julho recebem desconto na taxa de inscrição.A programação completa do evento pode ser conferidaem www.seminarionacional.com.brData: 17 a 21 de setembro de 2007Local: Belo Horizonte (MG)Informações: www.seminarionacional.com.br

H I - T E C H

Adesivo Cirúrgico Na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da

Universidade do Estado da Bahia (Incubatec/Uneb), está em desenvolvimento um adesivo destinado à realização de sutura da pele em homens e animais que dispensa o uso de anestésicos e de equipamentos cirúrgicos, como bisturi e agulhas. Idealizado para o atendimento emergencial a vítimas de acidentes em locais afastados de centros

urbanos, a inovação promete solução definitiva ou provisó-ria – até a remoção do paciente. A idéia foi patenteada em 2003 e o produto deve chegar ao mercado até 2008. Na foto ao lado, um protótipo artesanal do adesivo.

Saiba mais pelotelefone (71) 3247-3787

CHEGA DE CLORO!A Brasil Ozônio, empresa

incubada no Cietec (SP), fabrica sistemas para purificação à basede ozônio. Chamado de BRO3-3,o equipamento substitui produtos químicos, como o cloro, no tratamento da água de piscinas, poços artesianos, caixas d’água e efluentes industriais. “O ozônio é20 vezes mais forte que o cloro em sua ação, além de agir cerca de 3 mil vezes mais rápido e não poluir o meio ambiente”, explica o diretor da empresa Samy Menasce.

Saiba mais: www.brazilozonio.com.br

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Engenheiro, pesquisador, gestor, homem público, empreendedor. Cinco defini-

ções para alguém de múltiplas atividades, de múltiplas lutas. Telmo Silva de Araújo nasceu pernambucano, mas adotou a Pa-raíba como segunda terra natal. Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1965, cons-truiu uma carreira repleta de êxitos e con-tribuiu para o desenvolvimento científico, tecnológico e industrial do país. Entu-siasta do empreendedorismo inovador, foi um dos principais mentores da An-protec. A vida de Telmo teve fim no últi-mo dia 24 de maio, mas sua história dei-xa lições perenes.

No final da década de 1960, pediu de-missão do emprego na Companhia Ener-gética de Pernambuco (Celpe) ao aceitar um convite que mudaria sua trajetória: tornar-se professor do recém-implantado curso de Engenharia Elétrica da Universi-dade Federal da Paraíba (UFPB), na cida-de de Campina Grande. Apostou na car-reira acadêmica e, em 1975, concluiu o doutorado na Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, França. “Naquela época, ele já tinha a compreensão de que o conheci-mento gerado na academia deveria ser

O LEGADO DE UM GUERREIROO movimento de incubadoras e parquestecnológicos perdeu no mês de maio um de seus principais defensores. Telmo Silva de Araújodeixa lições de liderança e dignidade

H O M E N A G E M

voltado para o desenvolvimento regional”, afirma a esposa de Telmo, Francilene Gar-cia, também professora da UFPB.

A entrada no movimentoEm 1984, o Conselho Nacional de De-

senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), presidido por Linaldo Cavalcan-ti, criou cinco fundações que dariam ori-gem a parques tecnológicos. Uma delas foi implantada em Campina Grande, onde Telmo teve atuação decisiva. “Na Funda-ção Parque Tecnológico da Paraíba, ele foi um dos maiores batalhadores, sendo o se-gundo diretor-geral e o principal protago-nista do esforço para consolidar o Pólo Tecnológico de Campina Grande”, afirma Cavalcanti.

A liderança e o trabalho de Telmo es-tenderam-se também à gestão pública. Em 1988, Cássio Cunha Lima, hoje gover-nador do estado, foi eleito prefeito de Campina Grande e instituiu a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia – ini-ciativa pioneira no Brasil. Telmo foi o res-ponsável pela nova pasta, implantando na prefeitura seu jeito especial de gerenciar, que investia no relacionamento entre ins-tituições e pessoas. Com esse modelo de gestão, ele tornou-se, anos depois, secretá-rio de Planejamento de Campina Grande, diretor-presidente da Agência Municipal de Desenvolvimento (AMDE) e presidente do Centro de Apoio aos Pequenos Empre-endimentos da Paraíba (Ceape).

Em meados dos anos 1980, o movimen-to em prol do empreendedorismo inova-

Pionieirismo nas relações com a China.

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dor começava a se consolidar no Brasil, atingindo o ápice com a fundação da As-sociação Nacional de Entidades Promoto-ras de Empreendimentos Inovadores (An-protec), em 1987. Telmo integrou o grupo dos 12 sócios-fundadores da associação, da qual foi vice-presidente entre 1991 e 1993 e presidente de 1993 a 1995. “Sua gestão marca um ponto de inflexão na trajetória do empreendedorismo inovador no Brasil. Um índice relevante do que aconteceu a partir de sua gestão é o cres-cimento médio de 30% ao ano no número de incubadoras, desde 1994 até hoje”, afir-ma o atual vice-presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski.

A atuação de Telmo frente à entidade ocorreu em um momento de transição do movimento. “Juntamente com sua equipe, Telmo iniciou um bem-sucedido processo de reforço institucional da associação, com o estabelecimento da sede em Brasília, o fortalecimento da participação em conse-lhos de órgãos parceiros, a formalização do Seminário Nacional de Incubadoras e Par-ques, a criação do Informativo Locus e a reforma do estatuto”, afirma o presidente da Anprotec, José Eduardo Fiates.

Pioneirismo no OrienteQuando deixou a presidência da An-

protec, em 1996, Telmo foi convidado pelo CNPq para um novo desafio: implan-tar na China um escritório de cooperação do projeto Softex 2000 – Programa Nacio-nal de Software para Exportação, que bus-cava estimular o surgimento de uma in-dústria brasileira de software voltada à exportação. “No início, fomos para passar apenas um ano, mas as coisas deram tão certo que acabamos ficando até 1999”, con-ta a esposa Francilene. Um dos resultados da cooperação com a China foi a implanta-ção, em 2004, do projeto TecOut Center, desenvolvido no Parque Tecnológico da Paraíba sob coordenação de Telmo.

Apesar de ter deixado de dar aulas em 1991, o pesquisador continuava a produ-zir artigos acadêmicos – apresentou mais de 60 trabalhos em congressos e periódi-

cos nacionais e internacio-nais – e a orientar disserta-ções de mestrado e teses de doutorado na UFPB. A descoberta de um câncer na pelve renal, em 2005, não aba-lou suas atividades de trabalho. “Ele nun-ca escondeu a doença, apostou no trata-mento e manteve a esperança da cura até o fim”, afirma Francilene.

Para aqueles que conheceram Telmo, fi-caram inúmeras lições. “Era um líder aces-sível e parceiro, que não se apegava a car-gos, não inventava dificuldades e não criava barreiras para o crescimento das pessoas. Pelo contrário, era um visionário que buscava sempre novos desafios, novas experiências e novas formas de utilizar seu conhecimento e capacidade de construir em benefício da sociedade”, ressalta Fiates.

Plonski afirma que a principal marca de Telmo era a capacidade de combinar características aparentemente contraditó-rias: “Empreendedorismo e solidez; ousa-dia e tranqüilidade; promoção do capita-lismo empreendedor e defesa do interesse público; cosmopolitismo e valorização do local”. Para a esposa, fica como lição uma das frases mais repetidas por ele: “Meu maior prazer é trabalhar com gente”.

Creio que era final de 1978. Estávamos na Paraíba, em um semi-nário sobre “Tecnologias Apropriadas”, tema que vivia sua onda de glória naqueles tempos pré-globalização. De repente surge uma voz grave do fundo do auditório: “Olhe, esse negócio de quebrar estra-da usando marreta é muito bom pra gaúcho, que teve uma boa ali-mentação. Aqui no Nordeste, o nosso negócio é eletrônica”. Naquele dia conheci Telmo – pernambucano, filho de gaúcho – com sua enorme capacidade de dizer as coisas de forma clara e inteligente. Com precisão e sensibilidade. Esse era um dos traços mais marcan-tes da personalidade de Telmo – uma invejável capacidade de nos fazer pensar.

Pude conviver intensamente com Telmo no período de 93 a 95, quando tive a honra e a satisfação de ser o seu vice-presidente na Anprotec e seu suplente no Conselho Deliberativo Nacional do Se-brae. Trabalhamos juntos, sonhamos e caminhamos juntos, num momento em que as incubadoras de empresas no Brasil e o próprio Sebrae (com S) davam os seus primeiros passos. Telmo foi um exemplo de espírito público, retidão e empreendedorismo, combi-nação tão valiosa e infelizmente rara em nossos dias. Telmo vai fa-zer falta. Que a sua ausência nos faça pensar.

Maurício GuedesPresidente do Conselho

Editorial de LOCUS

Telmo silva de araújo 1942 2007

D E P O I M E N T O

Com a fi lhamais nova, Tainá

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