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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Afetividade, neurociência e Educação Infantil: estabelecendo
reflexões
Eliane Horácio da Silva
ORIENTADOR: Prof. (Marta Pires Relvas)
Rio de Janeiro 2017
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Pós graduação em Neurociências). Por: Eliane Horácio da Silva
Afetividade, neurociência e Educação Infantil: estabelecendo
reflexões
Rio de Janeiro 2017
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AGRADECIMENTOS
Aos mestres da AVM que me ensinaram que professor é ser paciente, que tudo é possível, que não existem pessoas que não aprendam, mas educadores sempre prontos para tornar o impossível, realizável.
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DEDICATÓRIA
A todos educadores deste pais que, apesar das
dificuldades não desistem nunca e a todos que
buscam o conhecimento sempre.
“Para unir é preciso amor. Para amar é preciso
conhecer. Para conhecer é preciso ir ao encontro
do outro.”
(Cardeal Mercier)
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RESUMO
Este trabalho tem como principal objetivo discutir a importância da afetividade
na educação infantil à luz de alguns pressupostos teóricos de referência nesse
assunto, principalmente quando compreendemos/entendemos o funcionamento
do cérebro da criança. Teve como escopo a abordagem qualitativa através dos
estudos da neurociência como principal meio de entendimento do
funcionamento cerebral da criança. A neurociência nos permite compreender o
quanto a educação e afetividade estão diretamente ligadas ao processo de
aprendizagem, ou seja, se entendemos que determinada parte do cérebro
estimulada através do afeto, do carinho e do ambiente em que a criança está
inserida provoca um aprendizado prazeroso e positivo, é possível concluir que
a relação professor/aluno pode ser reconstruída por meio da afetividade
através do diálogo, respeito, carinho e compreensão incentivados pelos
professores e principalmente que através da neurociência conseguimos
perceber alguma dificuldade emocionalmente na criança e com isso o facilitar o
aprendizado.
Quando uma criança se depara com um professor preparado para lidar com
atitudes afetivas/amorosas essa criança se sente segura e adquire confiança,
uma vez que só a família transmite essa confiança, essa criança se sentirá feliz
e ter prazer em conviver num ambiente escolar.
Palavras chaves; aprendizagem, neurociência, afetividade, cérebro e educação
infantil.
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METODOLOGIA
Este trabalho enfoca a relação Afetividade, neurociência e Educação
Infantil, apontando o nível de comprometimento entre os elementos citados e
as ações desenvolvidas por estes no favorecimento do processo de ensino-
aprendizagem.
Especialistas defendem que os futuros profissionais de educação
conheçam o funcionamento do cérebro para melhorar suas práticas e lidar com
potencialidades e dificuldades dos alunos, entre os autores/estudiosos do
cérebro, Marta Pires Relvas, Ramon M. Cosenza e Roberto Lent, além das
Webgrafias:
www.institutocpfl.org.br/2009/02/20/ivan-capelatto-2/
www.psicologia.com.pt/artigos/ver_opinião.php?. Acesso em: 25 jun. 2009.
Partiu-se de uma pesquisa bibliográfica, cujo foco principal é a
importância de uma estreita relação entre afetividade e escola como
responsáveis na formação educacional do aluno.O trabalho analisa as
principais contribuições teóricas sobre o assunto no sentido de obter-se mais
conhecimentos que fundamentem novas e diversificadas posturas que possam
permear os caminhos que os agentes envolvidos acima descritos devem
percorrer.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Um olhar especial 10
CAPÍTULO II
Afeto transformador 18
CAPÍTULO III
A neurociência e o lado bom das dificuldades 26
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 38
ÍNDICE 39
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INTRODUÇÃO
Segundo Marta Relvas (2009) a ciência admite a existência de dois
cérebros, divididos pela diferença de suas funções ligadas às regiões que as
operam e se complementam. As emoções são conjuntos de reações químicas
e neurais que ocorrem no cérebro emocional e que usam o corpo como
“teatro”, ocasionando até as emoções viscerais, que afetam os órgãos internos,
de acordo com sua intensidade.
Partindo desse principio, uma criança bem estimulada, com atenção,
carinho, e principalmente percebendo até onde essa criança é estimada e
correspondida a este estímulo, temos a certeza que será um excelente aluno
com capacidade de aprendizagem maravilhosa e prazerosa.
Notadamente a afetividade deve ter importância central na formação
escolar e integral da criança, desde o ponto de vista de que a criança é um ser
complexo que não é dotado somente de razão, mas antes de afeto,
componente fundamental para que a aprendizagem ocorra, já que está
justamente na base da inteligência humana.
Wallon (1987) citado por Galvão (2008) ressalta que a emoção é o
primeiro e mais forte vínculo entre os seres humanos. Para ele, as emoções
podem ser causa de progresso no desenvolvimento, podem ser fonte de
conhecimento, pois enquanto expressões do sujeito, as emoções precedem,
acompanham e orientam as atividades de relação, sem as quais elas não
teriam como capturar o mundo exterior.
Logo conclui-se, que a ausência de afetividade na relação professor-
aluno pode trazer sérias consequências ao educando, como o desinteresse,
baixa auto estima ,raiva e alunos introspectivos.
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Demonstração de carinho, afeto e elogios ao desempenho das
crianças são exemplos de práticas pedagógicas positivas na relação
professor/aluno.
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CAPÍTULO I
Um olhar especial
Educação Infantil vem conquistando ao longo dos anos um olhar mais
sensível por parte das políticas públicas e por profissionais da educação,
principalmente depois da alteração promovida pela emenda 59/09 que tornou
obrigatória a matrícula dos alunos na escola dos 4 aos 17 anos de idade,
contemplando portanto, a etapa de escolarização da educação infantil. Sendo
esta, primeira etapa da educação básica no país, muito se discute a respeito do
que faz os pequenos no tempo em que estão na escola. Da mesma forma, o
espaço que esta etapa de educação ocupa é alvo de curiosidade.
Para tanto, temos que dar a devida importância a criança que
recebemos na creche/escola, como ela vive, seu meio social, sua família,
enfim, tudo que a criança precisa para ter um bom desempenho escolar e cada
vez mais se sentir feliz e gostar de estar na escola.
“Professores podem facilitar o processo, mas, em última analise, a
aprendizagem é um fenômeno individual e privado e vai obedecer as
circunstâncias históricas de cada um de nós.” Cosenza e Leonor Guerra
Já se foi o tempo em que os professores tinha como incumbência
preparar materiais, ministrar aulas, aplicar e corrigir exercícios e provas em um
cenário em que, muitas vezes, os alunos eram reconhecidos apenas como
números na lista de chamada.
A educação evoluiu e as características humanistas se tornaram
presentes na convivência de toda a comunidade escolar – pais, (família
presente e muito importante e uma escola aberta, respeitando as opiniões dos
pais) alunos e professores – fortalecendo a confiança, o apoio mútuo e,
consequentemente, aprimorando a aprendizagem do aluno.
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Durante a vida na escola, a criança e o jovem passam por diversos
desafios, que com acolhimento e intervenções individuais, podem ser
superados de forma positiva, formando cidadãos íntegros que convivam em
harmonia com as diversidades e diferenças, o que resulta em um bom
relacionamento nas experiências interpessoais. No entanto, a instituição deve
estar preparada para proporcionar aos seus alunos esse olhar diferenciado
desde a chegada à escola.
Adaptação escolar
Conhecer, aproximar-se e acolher. Esses são os princípios básicos para
que um aluno ingresse e permaneça na escola, sentindo-se seguro e apto para
iniciar a aprendizagem e o convívio social com os colegas.
Esse momento acontece, principalmente, na Educação Infantil, quando
as crianças têm o primeiro contato com o ambiente escolar. Por isso, é muito
importante que a instituição de ensino elabore uma programação com horários
e atividades especiais que, com o acompanhamento contínuo da família,
possam garantir que o processo de adaptação seja tranquilo e progressivo,
respeitando as particularidades de cada aluno.
“Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para o seu
desenvolvimento. O contato físico, o ouvir a voz da mãe, as diferentes
entonações vocais, as luzes e as cores....enfim, em cada experiência nova, em
cada contato dispensado na época certa, faz-se a realização de conexões
sinápticas, e criam-se condições favoráveis para o surgimento de determinadas
competências e habilidades, tais como: musicalidade, raciocínio lógico-
matemático, inteligência e social etc.., que são capacidades que se
estabelecem na primeira infância. As emoções e o equilíbrio psicológico
dependem do exercício cerebral realizado nos primeiros minutos da existência
e que se estende até a adolescência, além de estimular e fortalecer conexões
do sistema límbico. O estímulo certo, na hora certa, pode proporcionar à
criança a capacidade de controlar suas emoções ou vice-versa, ao longo de
sua vida.” Marta Relvas
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Desde o nascimento a afetividade faz parte da vida de um indivíduo,
acompanhando por toda vida, desempenhando um papel importante para todas
as relações do ser humano e seu desenvolvimento.
Os pais são os primeiros professores de uma criança, pois uma família
bem estruturada afetivamente trás resultados positivos relacionados do
desenvolvimento cognitivo de uma criança, uma criança amada, acolhida e
respeitada certamente desperta curiosidade para conhecer e desenvolver o
aprendizado.
É na família que a criança faz seu primeiro vínculo afetivo é por meio
dela o indivíduo é apresentado ao mundo cultural. Além da família, a escola
também é responsável pela formação integral de uma criança, o professor é o
espelho de um aluno, desta forma, a afetividade torna-se um importante papel
nas relações básicas de um indivíduo, além da influências na percepção da
memória, no pensamento e na iniciativa de ações, sendo assim através da
afetividade que a personalidade da criança é formada.
“Afetividade é o termo usado para designar e resumir não
só os afetos em sua acepção mais estreita mas também
os sentimentos ligeiros ou matizes de sentimentos de
agrado ou desagrado,enquanto o afeto PE definido como
qualquer espécie de sentimento e emoção associada a
idéias ou a complexas de idéias.”
(Cabral e Nick apud Oliveira e Ruiz, 2005, p.01)
Os primeiros professores do cérebro de uma criança são seus pais, uma
família estruturada afetivamente proporciona resultados significativos no
desenvolvimento cognitivo de uma criança mais motivada e em busca do
saber.
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A escola por si própria deveria ser modificada, transformando-se em
uma alternativa de equilíbrio cognitivo e afetivo para as crianças que passam
por ela, sempre visando os problemas que serão encontrados no perfil de cada
criança, deveria ser o espaço de segurança para o aluno, local onde ela se
sentisse acolhida, amada, respeitada, onde pudesse desenvolve-se
naturalmente, mas para isso primeiramente é necessário deixar esquecido
intolerâncias, preconceitos, e preferências, fatores esses que são muitas vezes
observados por ocorrer em sala de aula. Acima de tudo na escola deve ocorrer
a união e participação de todas as pessoas presentes de maneira que
demonstre para o aluno o laço de afeto que ocorre entre todos que ali
convivem.
Toda relação com uma criança deve-se manifestar afetividade, onde o
professor deve conhecer seu aluno, abraçar, perceber se ele está bem, ou se
está deixando transparecer algum problema, se tiver jamais deve ser deixado
esquecido, e sem mostrar sua preocupação com ele, desse modo ele se
sentirá importante, podendo mudar seu comportamento. A serenidade e a
paciência de um professor mesmo em situações difíceis fazem parte da paz
que a criança necessita.
“Observar a ansiedade, a perda de controle e
instabilidade de humor, vai assegurar à criança ser o
contenente de seus próprios conflitos e raivas, sem
explodir, elaborando-os sozinha ou em conjunto como o
educador. A serenidade faz parte do conjunto de
sensações e percepções que garantem a elaboração de
nossas raivas e conflitos. Ela conduz ao conhecimento de
si mesmo, tanto do educador quanto da criança.”
(Santini, 1997, p.91)
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Uma relação amorosa e contínua entre mãe e filho desempenha papel
importante para a saúde mental de uma criança, bem como a formação de sua
personalidade. Uma relação afetiva/amorosa com a criança deve envolver toda
a família e implica futuramente em agente importante de socialização e
inteligência de uma criança.
Na Teoria de Piaget, a afetividade é caracterizada como instrumento
propulsor das ações, estando à razão a seu serviço, sobre esse ponto, Taille,
Dantas e Oliveira (1992, p.66), explicam que para Piaget, “A afetividade seria a
energia, o que move a ação, enquanto a razão seria o que possibilita ao sujeito
identificar desejos, sentimentos variados e obter êxodo nas ações.”
Nesse caso, não há conflito entre as duas partes. Porém, pensar a razão
contra a afetividade é problemático porque então deve-se-ia, de alguma forma
olhar a razão de algum poder semelhante da afetividade, ou seja, reconhecer
nela a característica do móvel,de energia.
“A família é essencial par que a criança ganhe confiança,
para que se sinta valorizada, par que se sinta assistida”.
Gabriel Chalita, 2004, p.26
Por isso, é de extrema importância criar um elo de comunicação entre família e
a escola, ambas necessitam uma da outra.
“Os professores precisam deixar de serem bons para se
tornarem fascinantes para que suas aulas e conteúdos
façam sentido e possam ser assimilados por seus
alunos.”
Augusto Cury, 2003,p.36
Na sala de aula na há necessidade de o professor ser “bonzinho” ele
precisa ser amoroso, saber separar os momentos que ocorrem em sala de aula
ele precisa deixar que sua afetividade penetre no aluno, só assim conseguirá
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ter o aluno para si e fazer com que o mesmo aprenda, em nossa era
precisamos do professor que fascinem o aluno, sem deixar de assumir o papel
de professor, é necessário que o professor cative o aluno, assim o próprio
aluno perceba que na escola tem a mesma influência que recebe em casa,
onde ficará cada vez mais motivado em buscar do saber.
“O grau de afetividade que envolve a relação do
professor com seus pares representam o fio condutor e o
suporte para a aquisição do conhecimento pelo sujeito. O
aluno, especialmente o da educação infantil, precisa
sentir-se integralmente aceito para que alcance
plenamente o desenvolvimento de seus aspectos
cognitivos, afetivos e social”.
Balestra, 2007, p.50)
Desta forma podemos notar que afetividade se constitui em fator de
grande importância no processo do desenvolvimento humano, e, por
conseguinte na determinação da natureza das relações que se estabelecem
entre pessoas. Para que essas relações sejam construtivas, a presença da
afetividade é indispensável, pois ela irá nortear o processo de interação e de
convivência entre elas.
Valorizar a identidade da criança nas pequenas ações do dia a dia
também faz a diferença na fase de adaptação. Por exemplo, ao escolher com
criança aonde ela deseja sentar ou quais podem ser as cores de seus
materiais, o professor dá a ela a liberdade de se expressar, além de permitir
uma maior interação com o ambiente.
Segundo Wallon considera a pessoa como um todo. Afetividade,
emoção, movimento e espaço físico se encontram em um mesmo plano.
Nas séries subsequentes, como no Ensino Fundamental, o processo de
adaptação deve respeitar as especificidades da faixa etária. O acolhimento
também é de extrema importância nessa fase, já que o medo de ficar longe dos
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pais, presente na Educação Infantil, foi substituído pela ansiedade em ser
aceito em um novo grupo.
Uma forma de integração interessante neste período são as brincadeiras
e as dinâmicas em grupo, oportunidades nas quais o aluno fala sobre sua
personalidade e experiências, além de ser um maneira efetiva de estreitar a
relação com os novos colegas.
As individualidades no aprendizado
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção” – Paulo Freire.
A frase acima do renomado educador do século XX, Paulo Freire, se encaixa
em uma das maiores tendências da educação no país: o olhar individualizado
para cada aluno.
Quando a escola assume o papel de oferecer ensino de excelência,
unido à atitudes humanistas, ela se propõe, também, a destinar uma atenção
individualizada para cada estudante.
Este acompanhamento próximo e contínuo, respeitando as
particularidades de cada um, permite que o professor tenha uma visão mais
detalhada de onde o aluno está, aonde ele pode chegar e quais estratégias
poderão ajudar esse processo a ser mais efetivo e que faça com que o próprio
aluno participe ativamente da construção do seu conhecimento.
Para alcançar esse objetivo é necessário que toda a equipe pedagógica
se dedique a conhecer seus alunos e a elaborar planos de ensino que
estimulem o estudante a alcançar o seu maior potencial.
O olhar individualizado não anula a genuína missão das escolas, que é
integrar a todos, sem distinções, possibilitando que todos os alunos tenham as
mesmas oportunidades. O diferencial, neste caso, é que as oportunidades
podem ser aplicadas de forma única, percebendo e respeitando as limitações
de cada aluno, cada um no seu tempo e modo de executar a atividade.
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Os trabalhos de Paul Broca (1878), James Papez (1937) e Paul
D.McLean (1952) sugerem que as emoções estão relacionadas a um grupo de
estruturas no meio do cérebro, chamamos de sistema límbico, embora se saiba
que há mais do que essas áreas relacionadas as emoções como: amigdas
cerebrais que detectam e aprendem quais partes do mundo tem significado
emocional, o tálamo que envia sinais sensoriais e motores, principalmente
estímulos visuais para o córtex, o hipotálamo que relaciona-se com as
respostas emocionais que afetam o humor, o hipocampo, estrutura no meio dos
lobos temporais basicamente relacionado a memória, fornix que o ponto no
controle das funções da memória espacial, dentre outros.
O Cérebro tem importante função na regulação das emoções, que
relacionam-se com a atividade naquelas áreas cerebrais e direcionam nossas
atenções,motivam nosso comportamento e determinam o significado do que
ocorre ao nosso redor.
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CAPÍTULO II
Afeto transformador
“A emoção não é uma ferramenta menos importante que o pensamento”(Vigotski 2003, p.121)
A afetividade acompanha o aluno desde o nascimento até a morte. Ela
“esta” em nós como uma fonte geradora de potência, de energia.
Segundo Piaget, “parece existir um estreito paralelismo entre o
desenvolvimento afetivo e o intelectual, com este último determinando as
formas de cada etapa da afetividade”.
Mas observamos no dia-a-dia é que a afetividade é a base sobre o qual
se constrói o conhecimento racional. Neste capitulo objetiva-se estabelecer
reflexões sobre o como as relações emocionais interferem no processo de ensino e
aprendizagem e o quanto as estratégias pedagógicas, podem potencializar o
processo educativo desde a elaboração do seu planejamento até a intervenção
didática que requer um olhar acurado em relação à emoção, sentimentos e reações
dos educandos no ambiente escolar.
Percebemos isso claramente nos bebês quando entra para a creche, na
afetividade adquire a confiança e a segurança daquele novo espaço que ele
está acabando de ser introduzido.
As crianças que possuem uma boa relação afetiva são seguras, têm
interesse pelo mundo que convive, pelas pessoas que fazem partem do seu
meio, entendem melhor a realidade e apresentam melhor desenvolvimento
intelectual. Por isso é essencial que tenhamos o conhecimento sobre o
cérebro humano, sua participação na aprendizagem, quais partes estão
intimamente ligadas e quais processos são desencadeados quando
relacionamos estímulos, conhecimento, memória de curto e longo prazo.
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Relvas, (2009, pag. 95 e 96) “as nossas emoções são fontes valiosas de
informações e ajudam-nos a toma decisões. Estas são resultado não só da
razão mas também da junção de ambas, associadas a outras competências
emocionais que podem nos levar ao sucesso na construção das relações no
trabalho, tais como: tolerância à ambigüidade, compostura, autoconfiança,
empatia, energia, humildade, criatividade e planejamento”.
Segundo Relvas, (2011, pag. 49):
O cérebro é um dispositivo criado ao longo da
evolução para observar o ambiente e aprender
o que for importante para a sobrevivência do
indivíduo ou da espécie. Ele prestará atenção
no que for julgado relevante ou com
significância.
É um trabalho que evidencia a mudança nos relacionamentos: o silêncio
e o medo cedem espaço ao afeto e à presença consciente de educadores
atentos que querem, decididamente, acertar.
Com sabedoria e clareza indica que, à luz da afetividade, realizar a educação
com qualidade é um processo contínuo que se estende do lar à escola e vice-
versa.
Segundo Relavas, 2011, pag.130):
O ambiente ao qual estamos expostos
influencia o processo de aprendizagem,
interferindo nos fatores psicológicos e
emocionais e induzindo comportamentos que
podem ser mais ou menos a aprendizagem.
As relações afetivas não podem ser ignoradas, pois estão presentes no
desenvolvimento, fazem parte da natureza humana e podem interferir de forma
positiva nos processos cognitivos. O que temos percebido em nossa prática
docente é que a escola e a família muitas vezes ignoram a importância da
afetividade na educação infantil. E é na Educação Infantil que a criança adquire
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suas primeiras experiências de vida escolar e serão essas experiências que
levarão as crianças a sentirem prazer ou desprazer pela escola. São muitas as
contribuições da relação afetiva para o processo de aprendizagem,
compreendendo assim como acontece o favorecimento das relações sócio –
afetivas no processo de desenvolvimento da criança.
O ambiente escolar será o primeiro agente socializador fora do círculo
familiar da criança, e deve oferecer todas as condições necessárias para que
ela se sinta segura e protegida. Cuidar e Educar são atos de amor, de
dedicação, que requerem tempo e disponibilidade. Assim, para que a criança
tenha um desenvolvimento saudável e adequado em sua vida social, intelectual
e escolar é necessário que haja um estabelecimento de relações interpessoais
positivas entre a família e a escola, sem essa parceria, dificilmente haverá um
resultado positivo. É importante que todos falem a mesma língua, para que,
aquilo que os pais ensinam em casa, não seja diferente do que a criança
aprende na escola.
Segundo ainda as ideias de Wallon (1954, p. 42).
“A afetividade seria a primeira forma de interação, com o
meio ambiente e a motivação primeira do movimento [...].
As emoções são, também, a base do desenvolvimento do
terceiro campo funcional, as inteligências”.
Neste sentido,Wallon fundamentou suas ideias em quatro elementos
básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a
inteligência e a formação do eu como pessoa. Para Wallon (1986): “As
emoções têm um papel predominante no desenvolvimento da pessoa. É por
meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades [...]”.
Vigotski (1934, p. 120), buscou delinear um percurso histórico a respeito do
tema afetividade, com a seguinte afirmação:
O desenvolvimento pessoal seria operado em dois níveis:
o do desenvolvimento real ou efetivo e o afetivo referente
às conquistas realizadas e o desenvolvimento potencial
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ou proximal relacionado às capacidades a serem
construídas [...] os processos pelos qual o afeto e o
intelecto se desenvolvem e estão inteiramente enraizados
em suas interrelações e influências mútuas no
aprendizado.
Em geral nas situações de Educação Infantil as manifestações de afeto
têm sido reduzidas meramente a beijos e abraços, isso quando ocorrem. No
entanto, para se desenvolver uma relação afetiva com o educando é preciso
estabelecer um vínculo verdadeiro e profundo. Além disso, à medida que a
criança se desenvolve cognitivamente suas necessidades afetivas tornam-se
mais exigentes.
Por conseguinte, manifestar afeto inclui não apenas beijar, abraçar, mas
também conhecer, ouvir, conversar, se interessar e se envolver de fato com a
criança e ser sensível a seus sentimentos e as suas necessidades.
Segundo Relvas, (2011, pag.49):
Terá mais chance de ser considerado como
significante e, portanto, alvo da atenção, aquilo
que faça sentido no contexto em que vive o
indivíduo, que tenha ligações com o que já é
conhecido, que atenda a expectativas ou que
seja estimulante e agradável.
O trocar de uma fralda é muito importante, pois cria vínculo de
confiança, de carinho com um bebê, principalmente numa fase difícil que é uma
adaptação numa creche, está saindo do colo da mãe e iniciando uma nova fase
da vida.
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Pensando sobre a afetividade no processo de aprendizagem, se percebe
muitas vezes o quanto este tema não é levado em consideração por alguns
professores. A questão é que muitos educadores pensam que só o
conhecimento é que importa, deixando de lado as questões afetivas.
Segundo Saltini (2008,pag.100):
A inter-relação da professora com o grupo de
alunos e com cada um em particular é constante,
se dá o tempo todo, sena na sala ou no pátio, e
é em função dessa proximidade afetiva que se
dá a interação com os objetos e a construção de
um conhecimento altamente envolvente. Essa
inter-relação é o fio condutor, o suporte afetivo
do conhecimento.
No entanto, Saltini (2088, p.101) afirma que para isso é necessário que o
“educador seja antes de tudo um curioso, um pesquisador, possibilitando
assim, à criança descobrir verdades, ao invés de impor conteúdos”.
Cabe ao professor estabelecer uma relação com o grupo todo e
individualmente, uma vez que cada ser é único e se diferencia dos demais.
Para ter uma postura de afetividade, cabe ao professor tratar a todos os
alunos com igualdade, sem demonstrar maior ou menor sentimento por um ou
por outro. Fazendo com que a vida na escola seja algo vibrante, alegre e de
interesse aos alunos.
Segundo Fátima Alves (2016,pag.39):
Para que haja um crescimento e aquisição de
conhecimento por meio do corpo, tem que haver
uma cumplicidade entre o educador e o aluno, e
esse corpo será o instrumento nas atividades
lúdicas, estimulando a participação muitas vezes
desafiadora, mas agradável. Não podemos
desprezar a natureza da criança que é gostar de
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brincar, e essa brincadeira pode se tornar
transmissão de conhecimento do professor e o
aluno receptor das experiências lúdicas que são
capazes de deslocar o eixo da aprendizagem. O
interesse e a aceitação por uma diretriz mais
prazerosa acabam sendo muito gratificantes. O
professor ensina, e a criança aprende da melhor
forma possível.
Comenius (2002, p.85) refere-se ao cérebro
na idade infantil como úmido, tenro, pronto para
receber todas as imagens que lhe chegam,
apreendendo rapidamente o que lhes é
ensinado.
No cérebro do homem, é sólido e duradouro apenas o que foi absorvido
na primeira idade. Segundo ele, o homem para ser homem, criatura racional,
deve ser instruído nas letras, nas virtudes e na religião, tornando-se capaz de
levar a vida presente de modo útil e de preparar-se dignamente para a vida
futura. Todos devem aprender a conhecer os fundamentos, as razões, os fins
de todas as coisas mais importantes, para que ninguém no mundo se depare
com alguma coisa que lhe seja tão desconhecida que não consiga sobre ela
emitir um juízo moderado ou dela fazer um uso adequado.
Diante disso, Comenius (2002, p.109) propõe
uma educação escolar na qual: I. Toda a
juventude nela seja educada (exceto aqueles
aos quais Deus negou inteligência). II. Seja
educada em todas as coisas que podem tornar
o homem sábio, honesto e piedoso. III. Essa
formação, que é a preparação para a vida, seja
concluída antes da vida adulta. IV. E seja tal
que se desenvolva sem severidade e sem
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pancadas, sem nenhuma coerção, com a
máxima delicadeza e suavidade, quase de
modo espontâneo (assim como um corpo vivo
aumenta lentamente sua estatura, sem que
seja preciso esticar e distender seus membros,
visto que, alimentado com prudência, assistido
e exercitado, o corpo, quase sem aperceber-se,
adquire altura e robustez); da mesma forma, os
alimentos, os nutrimentos, os exercícios se
convertem no espírito em sabedoria, virtude e
piedade. (COMENIUS, 2002, p.109).
O ponto fundamental é a relação que o professor deve ter com o aluno:
O aluno deve sobretudo ser amado, e que meios
tem um governante de se fazer amar por uma
criança a quem ele nunca tem a propor senão
ocupações contrarias ao seu gosto, se não tiver,
por outro, poder para conceder-lhe
esporadicamente pequenos agrados que quase
nada custam em despesas ou perda de tempo, e
que não deixam, se oportunamente
proporcionados, de causar profunda impressão
numa criança, e de ligá-la bastante ao seu mestre.
(ROUSSEAU, 1994, p.23-24).
Diante das discussões apresentadas, percebe-se o quanto o professor é
importante no processo de aprendizagem dos alunos. A escola deve participar
da construção da personalidade, e o professor deve conhecer cada um de seus
alunos, tratando-os como seres humanos com limitações e dificuldades. A
criança deve ter um espaço para se expressar e dialogar com a professora e
seus colegas.
Ao destacar a escola como ambiente relevante para o desenvolvimento
cognitivo e afetivo, Capelatto (p.8) diz que a afetividade é a dinâmica mais
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profunda na qual o ser humano pode participar, e que se inicia no momento em
que um sujeito se liga a outro por amor. A escola tem como função
proporcionar aos alunos oportunidades de evoluir como seres humanos; o
trabalho pedagógico deve fazer com que os alunos cumpram regras, impondo-
se limites.
Nesse sentido, a escola não deve ser só um lugar onde aconteça a
aprendizagem intelectual, mas um ambiente no qual se fale de amizade, da
importância do grupo e de questões afetivas.
“Antes mesmo de discorrer sobre a afetividade, há bem
pouco tempo, começou-se a esboçar teórica e
preliminarmente uma idéia que vem a ser a compreensão
de um ser humano psicológico. O ser humano não é
apenas um ser meramente racional, que constrói
relações lógicas entre a sua realidade externa e interna,
nem tampouco só é afetivo, com seus inúmeros
sentimentos e estados de ânimo, mas por que não dizer a
somatória dinâmica dessas duas dimensões; porquanto,
um ser cognitivo-afetivo, exprimindo aquilo que o ser
humano realmente é: as atitudes, os temperamentos e
tantos mais, o que corresponderia a um Self ou um Eu.
Podendo ainda tirar de sua consciência as suas
vivências, experiências e lembranças. É bom salientar
que nem tudo é processado pela consciência, mas sim
ligado a um plano inconsciente, que possui um caráter
vivo, inerente ao consciente, cujas reminiscências (boas
e/ou ruins) ficam guardadas, sem uma compreensão
cônscia da pessoa.”
//www.psicologia.com.pt/artigos
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CAPÍTULO III
A neurociência e o lado bom das dificuldades
A neurociência pode contribuir muito para a compreensão dos processos
de aprendizagem e não aprendizagem dos educandos, auxiliando o professor
nas intervenções e metodologias de trabalho mais efetivas. Agem de forma que
possibilitem atender às diferenças para educar na diversidade.
Revelar a importância do conhecimento das bases neurobiológicas da
aprendizagem, objetivando a construção de práticas pedagógicas mais
consistentes e assertivas, pautadas em evidências científicas, visando à
promoção da aprendizagem.
Segundo Relvas, (2011, pag.96):
“O importante na construção dessa relação é saber
usar essas competências para uma melhor
qualidade de vida, capacitando o ser humano para
suportar as adversidades, sendo generoso e
empreendedor, cultivando sempre o equilíbrio entre
a razão e a emoção”.
Apesar, de se tratar de conhecimentos científicos recentes, a
neurociências contribui para o entendimento dos profissionais de educação,
que todos os indivíduos são capazes de se desenvolverem e que há
estratégias específicas possibilitando a plasticidade cerebral e assim
alcançando resultados positivos nos processos de aprendizagem, que também
nos apresenta novas visões em seu entendimento. Além do mais, a
27
neurociência também contribui nas questões referentes às políticas de
inclusão, favorecendo a socialização dos portadores de atenção diferenciada.
Possibilitando profissionais mais capacitados e atualizados nas instituições de
ensino. Objetivando a aprendizagem de todos, visando mais oportunidades de
igualdade nos bancos escolares.
Perguntados sobre sua opinião em qual o diferencial de um professor
que tem o conhecimento de Neurociências, as repostas mostraram-se
novamente correlacionadas enfocando o aspecto do modo de aprendizagem do
aluno. Que o professor com esse conhecimento é capaz de:
O professor com conhecimento de neurociências é mais consciente em
relação às limitações e potencialidades dos alunos e sabe como aproveitá-las
de modo positivo.
Ser capaz de correlacionar os objetivos de formação educacional com os
mecanismos neurobiológicos envolvidos na aquisição de conhecimento, de
forma a facilitar e persistência da informação transmitida.
Lembro em uma das aulas da Me. Martas Relvas, “....é importante
buscar correlacionar o que já se sabe há décadas em educação com todo o
material teórico-metodológico da neurociência nos permite, atualmente,
conhecer sobre o funcionamento o cérebro”.
“É indiscutível que a compreensão dos mecanismos de
funcionamento dos processos de ensino aprendizagem,
bem como o aperfeiçoamento das estratégias utilizadas
para a sua condução, seja o grande objetivo dessas duas
áreas do conhecimento. Contudo, acreditar que esse
processo seja uma via de mão única, que vai da
neurociência para a educação, pode ser um grande
28
equívoco tanto em termos de produção do conhecimento
quanto de uma efetivação concreta dessa fusão. Inúmeros
pesquisadores em todo o mundo estão se dedicando
fortemente aos estudos nessa interface, mesmo que
estejamos em um estágio bastante inicial dessa
empreitada.
Sabemos que ainda estamos bem distantes dos resultados
que tanto buscamos e, nesse sentido, é preciso que se
entenda a neuroeducação a partir de uma visão quem de
fato, interage esses dois campos de pesquisa, fugindo de
simplificações grosseiras ou de ligações totalmente
artificiais entre eles. Assim, mais do forçar o uso de
resultados neurocientifícos em processos educacionais,
pensamos que seja primordial buscar correlacionar o que já
se sabe há décadas em educação com o que todo o
aparato teórico-metodológico das neurociências nos
permite, atualmente,conhecer sobre o funcionamento do
cérebro. Isso porque, se a premissa que acentua a unidade
existente entre essas áreas é verdadeira (que conhecendo
melhor os mecanismos cerebrais, seremos melhor como
ocorrem os processos de ensino e aprendizagem, que ao
final, acontecem no cérebro), diversos conhecimentos
produzidos nesses dois campos de pesquisa deverão, em
algum momento, convergir. Além disso, qualquer
integração, de fato, entre duas áreas distintas do
29
conhecimento implica o desenvolvimento de ambas, e não
de uma sempre em detrimento da outra.
Revista Neuroeducação, nº 10- 2017”
O professor que começa a ter conhecimento da neurociência faz um
diferencial, pois começa a perceber que é preciso “ensinar o indivíduo a
aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a
se comunicar, e não apenas reproduzir e memorizar informações, mas, sim,
desenvolver competências de resolução de problemas”. Com as informações
adquiridas sobre o funcionamento do cérebro a aprendizagem será mais eficaz.
O aprendizado, no entanto, resulta de um comportamento complexo, que
não pode ser reduzido aos seus correlatos neurobiológicos, mas necessita ser
interpretado como um fenômeno social e cultural. Sendo assim, para a sua
compreensão, é necessário que se considerem conjuntamente todos os
elementos: biológicos, psicológicos e suas relações com os múltiplos
determinantes ambientais.
Portanto, o aprendizado e a afetividade se entrelaçam com o saber, com o
seu desenvolvimento e o indivíduo feliz reage positivamente a novas
informações, pois sua auto estima está organizada e equilibrada, pronta para
novos estímulos, sejam eles desafiadores, dramáticos, cômicos e físicos. A
capacidade dos indivíduos de se emocionarem os faz diferentes, podendo
reconstruir o mundo e o conhecimento, também, a partir das emoções e do
afeto que impulsionam a vida, e, não apenas do ensino mecanizado da vida.
Entendemos que o ambiente alegre e afetivo motiva as interações, gera
alegria, renova energias, gera mudança de ações, impulsiona o indivíduo a
30
crescer saudável emocionalmente e é por isso que o professor tem grande
influência na construção desse aprendizado, buscando sempre a melhor forma
de conduzir esse aluno em sala de aula.
“Está cada vez mais claro para a ciência que nosso cérebro
evoluiu para as interações sociais. Inúmeros estudos com
mamíferos indo dos pequenos ratinhos aos grandes gorilas,
evidenciam que estamos profundamente afetados por nosso
ambiente social. Além disso, quanto mais nosso civilização
evolui, mais se torna importante o papel das interações ente as
pessoas, de modo que os laços sociais são determinantes para
o nosso desenvolvimento integral como ser humano. Assim, do
ponto de vistas científico, nosso bem-estar depende
necessariamente de nossas conexões com os outros.
Isso acontece porque nossas ações, sentimentos e
pensamentos estão intrinsecamente vinculados à linguagem,
que nasce e se desenvolve imersa em um mundo social. Com o
avanço da neurociência, é possível entendermos cada vez mais
os processos cerebrais envolvidos no desenvolvimento e uso da
linguagem e suas relações com o pensamento e a
comunicação. Contudo, o que ocorre nos cérebros de duas
pessoas enquanto eles cestão engajadas em uma interação
social é muito pouco conhecido. Ao pensar na escola, não há
dúvida alguma acerca da influência do ambiente social e suas
interações no desenvolvimento da criança. Assim, a necessidade
de pesquisas que possam, da maneira mais natural possível,
investigar o que ocorre no cérebro dos alunos durante uma aula
é fundamental para quem trabalha com neurociência e
educação.”
Revista neuroeducação, nº 10- 2017
31
Sendo a afetividade presença constante na vida humana, citamos Vigotski
(2003, p.121) que diz:
As reações emocionais exercem influência essencial e
absoluta em todas as formas de nosso comportamento e
em todos os momentos do processo educativo. Se
quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem
mais seu pensamento, devemos fazer com que essas
atividades sejam emocionalmente estimuladas. A
experiência e a pesquisa tem demonstrado que um fato
impregnado de emoção é recordado de forma mais sólida,
firme e prolongada que um feito indiferente.
A troca afetiva entre professor/aluno também oportuniza um
desenvolvimento gradual e seguro em relação ao bem estar, a relacionar o
ambiente a aspectos positivos e a fazer dele um lugar de convívio prazeroso e
o aprendizado se dê de forma tranqüila.
Neste desenvolvimento afetivo trabalham em equipe: a família, a escola e
a sociedade, a primeira dando os primeiros aportes afetivos, sociais,
psicológicos e morais; a segunda dando segmento ao primeiro e promovendo
alegria e prazer no desenvolvimento integral do ser e o terceiro alicerçando o
bem estar, as oportunidades, o reconhecimento das potencialidades individuais
na diversidade da sociedade em que se vive e que se adquiriu durante o tempo
que freqüentou escola
A aprendizagem se faz em ambiente agradável, equilibrado, feliz e isto
deve ser pensado pelo educador e de que forma se dará. Conhecendo sua
clientela, se apropriando da afetividade, criando um ambiente motivacional,
ativará áreas do cérebro que estarão em conformidade com as propostas e
regras estabelecidas pelo grupo, desestressando o ambiente e promovendo
uma aprendizagem condizente. É necessário um trabalho de equipe –
32
educador e sujeitos da aprendizagem -, para que ela se sustente e se
perpetue. Ambiente estressante prejudica a aprendizagem e não promove a
permeabilidade e receptividade da mesma.
Ambiente estressante gera ativação dos hormônios de noradrenalina e
cortisol que segregam o cérebro em resposta a situações adversas ou de
sobrecarga tensional afetando os processos de consolidação da memória e
bloqueando o córtex pré-frontal, impedindo de dirigir e focar a atenção
experienciais de aprendizagem, que alteram a capacidade de resolução
inteligente de conflitos, embotando habilidades fundamentais para a resolução
dos mesmos, por isso cada vez mais as escolas estão tendo reconhecimento
que as turmas cheias, principalmente na educação infantil não permite um
aprendizado com qualidade, não consegue identificar as potencialidades de
cada criança.
Pensando aprendizagem constatamos que é possível tecer ações
concretas que possam ser experimentadas possibilitando a ativação do
hemisfério direito, que são: simulação de acontecimentos históricos, articulação
entre desenho e música, a língua e as letras, contação de histórias,
dramatizações, envolvendo o indivíduo num cenário construtor de habilidades e
possíveis ativações neuronais.
Sabe-se, então, que o cérebro é ativado em seu aspecto neuroquímico,
biológico, anatômico, psicossocial, fisiológico, celular e emocional. Nesse
aspecto, a neurociência vem como aporte para a aprendizagem, auxiliando o
educador em suas intervenções para melhor significar a cognição e interesse
para que o cérebro guarde na memória de longo prazo o conhecimento
promovido e, os recursos utilizados para tal, estimulando os canais sensoriais
dos envolvidos nos ensinamentos, pois com prazer todo o conhecimento
adquirido será aguardado na memória de longo prazo, o que não interessa se
dispersa.
33
Portanto, um clima emocional estável auxilia na aprendizagem, e se o
indivíduo não o tem em seu ambiente social, é possível que o tenha no
ambiente educativo de suas aprendizagens, e aqui aporta o educador-
pesquisador, ciente de seu compromisso com o outro e de sua
responsabilidade com o outro. Permanecem interligados emoção e atenção
que fundamentam as bases cognitivas, estabelecendo relações essenciais
entre interferência, afetividade, emoção e aprendizagem.
Nos estudos da monografia um artigo muito interessante trás essa tabela
sobre os princípios da neurociência com potencial no ambiente de sala de aula:
Princípios da neurociências Ambiente de sala de aula
1. Aprendizagem & memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de aprendizagem
Aprendizagem sendo atividade social, alunos precisam de oportunidades para discutir tópicos. Ambientes tranqüilo encoraja o estudante a expor seus sentimentos e idéias
2. O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como resultado da experiência.
Aulas práticas/exercícios físicos com envolvimento ativo dos participantes fazem associações entre experiências prévias com o entendimento atual.
3. O cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis) para certos tipos de aprendizagem, que não esgotam mesmo na idade adulta.
Ajuste de expectativas e padrões de desempenho às características etárias especificas dos alunos, uso de unidades temáticas integradoras.
4. O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogênese), na maior densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender.
Estudantes precisam sentir-se “detentores” das atividades e temas que são relevantes para suas vidas. Atividade pré-selecionadas com possibilidade de escolha das tarefas, aumenta a responsabilidade do aluno no seu aprendizado.
5. Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso de nova experiência de aprendizagem.
Situações que reflitam o contexto da vida real, de forma que a informação nova se “ancore” na compreensão anterior.
6. O cérebro foi evolutivamente concebido par perceber e gerar padrões quando testa hipóteses.
Promover situações em que se aceite tentativas e aproximações ao gerar hipóteses e apresentação de evidências. Uso de resolução de “casos” e simulações.
7. O cérebro responde, devido a herança primitiva, às gravuras, imagens e símbolos.
Propiciar ocasiões para alunos expressarem conhecimento através das artes visuais, música e dramatizações.
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(Modificado de Rushton & Larkin, 2001; Rushton et al., 2003)
Outra grande descoberta das neurociências é que através de atividades
prazerosas e desafiadoras o “disparo” entre as células neurais acontece mais
facilmente: as sinapses se fortalecem e redes neurais se estabelecem com
mais facilidade.
Mas como desencadear isso em sala de aula? Como o professor pode
ajudar nesse “fortalecimento neural”? Todo ensino desafiador ministrado de
forma lúdica tem esse efeito: aulas dinâmicas, divertidas, ricas em conteúdo
visual e concreto, onde o aluno não é um mero observador, passivo e distante,
mas sim, participante, questionador e ativo nessa construção do seu próprio
saber.
O conteúdo antes desestimulante e repetitivo para o aluno e professor
ganha uma nova roupagem: agora propicia novas descobertas, novos saberes,
é dinâmico e flexível, plugado em uma era informatizada aonde a cada
momento novas informações chegam ao mundo desse aluno. Professor e
aluno interagem ativamente, criam, viabilizam possibilidades e meios de fazer
esse saber, construindo juntos a aprendizagem.
Uma aula enriquecida com esses pré-requisitos é mágica, envolvente e
dinâmica. É saber fazer uso de uma estratégia assertiva onde conhecimentos
neurocientíficos e educação caminham lado a lado.
De modo a adicionar, a neurociência da aprendizagem, os transtornos
comportamentais e da aprendizagem passaram a ser mais facilmente
compreendidos pelos educadores uma vez que proporciona mais conteúdos
para a elaboração de estratégias mais adequadas a cada caso. Um professor
qualificado e capacitado, um método de ensino adequado e uma família
facilitadora dessa aprendizagem são fatores fundamentais para que todo esse
conhecimento que a neurociências nos viabiliza seja efetivo, interagindo com
as características do cérebro de nosso aluno. Esta nova base de
conhecimentos habilita o educador a ampliar ainda mais as suas atividades
35
educacionais, abrindo uma nova estrada no campo do aprendizado e
da transmissão do saber.
As evidências científicas que anunciam os processos neurais envolvidos
no chamado sincronismo cerebral materializam a unidade acentuada por
Vigotski entre os processos culturais e biológicos que marcam o
desenvolvimento humano. E acreditamos que sincronicidade neuronal ocorra
justamente dentro da zona de desenvolvimento iminente. Eis, agora, mais uma
vez nossa defesa primordial: a prática educativa é o coração dessa unidade. E
exatamente por isso cabe a todos nós, que de muitas maneiras lidamos com a
educação, o entendimento de que biologia, cultura e interação social são
dimensões que constituem integralmente. Com isso, queremos dizer que, se
avançamos na compreensão dos processos que determinam o seu
funcionamento biopsicossocial, avançamos também na direção da organização
dos procedimentos didáticos que podem conduzir a sua operacionalização de
maneira cada vez mais eficiente. Vigostski afirmou que o desenvolvimento
segue rumos revolucionários e que o encontro humano é muito mais do que
uma interação que influencia nossos modos de agir no mundo. Ele produz.,
isso sim, transformações genéticas, psiquismos que se desenvolvem
conjuntamente porq ue se conectam materialmente.
36
CONCLUSÃO
Em todos os ramos da educação conclui-se que a pesquisa é
fundamental para quem ensina, pois dessa forma ensinamos curiosidades, o
ensinamento analítico crítico e a reflexão sobre as experiências e
aprendizados. Logo nos primeiros anos da criança na creche, temos que já
começar a trabalhar dessa forma, e para que isso aconteça temos que saber
como esse cérebro se desenvolve e suas potencialidades. Produzimos
conhecimento a fim de contribuir para o desenvolvimento potencial das
crianças. Outro avanço na educação é o trabalho intersetorialidade entre
educação, saúde e social (família/assistente social) para temos iniciativas em
rede e compartilhar conhecimentos no atendimento integral das crianças.
A neurociência é muito importante na relação ensino/aprendizagem pois
trabalha na evolução da aprendizagem, como podemos trabalhar e de que
forma fazemos, pois elabora estratégias cognitivas, de ensaio, de elaboração,
de organização, de metacognitivas, de planejamento, etc.., tudo isso através do
conhecimento do funcionamento cerebral.
Com isso entender as funções cerebrais é de muita importância, porque
o professor sabe exatamente como aplicar esta estratégias dentro do conteúdo
e o mais importante,entendendo essas estratégias conseguimos entender que
todo cérebro é diferente e que todos tem capacidade de aprendizagem, uns
mais rápidos outros or caminhos mais longos, mais todos com capacidade de
desenvolver seus conhecimentos. Segundo a matéria da revista Neurociências:
...”fomentar nos alunos a capacidade de autorreflexão tem sido uma forma
importante de levá-los à mudança de comportamento e se constituído no cerne
de algumas propostas educativas. Para Judi Radi, da Universidade de New
Haven, professores e alunos se beneficiariam ao fazer parte de uma
comunidade reflexiva na qual os indivíduos examinassem a própria
aprendizagem. Instrumentos que favoreçam o desenvolvimento metacognitivo
e a tomada de consciência, como auto análise das estratégias, os diálogos
coletivos, os portfólios, os ciclos de reflexão, têm se mostrado frutíferos no
fortalecimento dos processos de aprender a aprender e são atividades que
podem ser introduzidas, gradativamente, desde cedo durante a escolarização.”
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Um dos problemas que enfrentamos é que o conteúdo programático
refere às estratégias de aprendizagem se encontra muito pouco presente nos
cursos de formação de professores.
Há que investir esforços na formação dos professores com essas
qualidades. Eles precisam de espaços para autorrefelxão sobre como
aprendem durante a sua formação.
38
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Fátima, A infância e a Psicomotricidade – A pedagogia do corpo e
movimento, WAK Editora, Rio de Janeiro, 2016
COMENIUS, Jan Amos. Didática Magna. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
COSENZA, Ramom M. / Guerra, Leonor B, Neurociência e educação, Como
o cérebro aprende, Artmed, Porto Alegre, 2011
Chalita, Gabriel, /educação: A solução está no afeto – Gente Editora, 19ª
edição, São Paulo, 2011
Freire, Paulo, Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática
educativa, Sãp Paulo – Paz e Terra, 1996
Wallon, Henri, Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.
Editora Vozes, 1995, Petrópolis, RJ
www.institutocpfl.org.br/2009/02/20/ivan-capelatto-2/
www.psicologia.com.pt/artigos/ver_opinião.php?. Acesso em: 25 jun. 2009.
Revista Mente e Cérebro – Ano XII, nº 287 – Dezembro/2016
Revista Mente e Cérebro – Ano XII, nº 288 – Janeiro/2017
PUEBLA, Eugenia, Educar com o coração. São Paulo: AGWM, São Paulo,
1992
Relvas, Marta Pires, Fundamentos Biológicos da Educação: despertando
inteligências e afetividade no processo de aprendizagem, Wak Editora, 4ª
Edição – Rio de Janeiro, 2009
Relvas, Marta Pires, Neurociências e transtornos de aprendizagem: as
múltiplas eficiências para uma Educação inclusiva, Wak Editora, 5ª Edição –
Rio de Janeiro, 200.
Revista Neuroeducação, nº 10 – 2017
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 01 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Um olhar especial. 10
CAPÍTULO II
Afeto transformador. 18
CAPÍTULO III
A neurociência e o lado bom das dificuldades. 26
CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA 38