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Design Urbano e contexto ambiental no projeto de Equipamento

Urbano

Bicicletário para a Orla da Praia de Boa Viagem

Urban Design and environmental context in Urban Furniture Design

Bicycle racks to Boa Viagem beach pavement

Barbosa, A. C. M. A., BA Montenegro, Glielson N., Msc.

Resumo

Este trabalho à luz da metodologia de análise visual, aborda um

estudo sobre a criação e desenvolvimento de equipamentos para o espaço urbano dentro de um contexto específico. A aplicação desta metodologia tem por objetivo auxiliar no projeto de elementos urbanos destinados a um espaço urbano cujas características ambientais, paisagísticas, funcionais e de uso são fatores relevantes na configuração prático-funcional e estético-simbólica de um produto voltado àquele ambiente.

Com isso, a metodologia projetual para desenvolvimento de produtos industriais é associada aos métodos investigativos de análise visual do contexto ambiental com o objetivo de se obter um processo analítico mais eficaz na consecução de um projeto de produto. Neste caso, trata-se de um recorte da etapa do levantamento de dados para o desenvolvimento de um equipamento urbano para a Orla da Praia de Boa Viagem na cidade do Recife, PE, considerando as características do projeto de reordenamento daquela orla. Palavras Chave: Análise visual, Design, Espaço Urbano.

Abstract

This paper work uses visual analysis methodology as a way to

investigate the creation and development of equipments to urban space

within a specific context. Its application aims to facilitate the development

of urban elements concerned to an urban space where environmental,

functional and useful characteristics as well as the landscape are relevant

factors that must be taken into consideration to practical-functional and

aesthetics-symbolic configuration of products directed to that

environment. In this case, an interposition of the data collection is the

main point to be analyzed in the development of urban equipment to Boa

Viagem beach pavement in Recife/PE, taking into consideration the

characteristics of the new urbanization project to that area.

Keywords: Visual analysis, Design, Urban space.

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Introdução

Este trabalho teve como foco principal desenvolvimento de um equipamento urbano, bicicletário - analisado, como um estudo de caso -, à luz da metodologia de análise visual de equipamentos no meio urbanoi. O método proposto é baseado na articulação das modalidades de análise, que são agrupadas em três categorias: o modo visual, a qualidade da forma, e a configuração do meio, que por sua vez, compõem-se de diversas modalidades complementares: posicionamento, visualização, deslocamento, temporalidade, tipologia formal, proporção, orientação da forma, tratamento superficial, modalidade solo, forma arquitetônica, vegetação e forma dos equipamentos.

O método possui um caráter relacional, visto que as análises são efetuadas a partir da elaboração de arranjos que são formados entre as conexões das modalidades. Cada combinação mostra o caminho percorrido e revela parte do problema investigado. O resultado é um método que procura ordenar e explicitar os diversos níveis de complexidade que envolve a análise da forma dos equipamentos urbanos: uma abordagem em que o meio urbano é tratado como parte integrante da configuração geral dos equipamentos nele presentes.

A aplicação desta metodologia tem por objetivo auxiliar o projeto de um equipamento destinado a um espaço urbano. Com isso, a metodologia projetual para produtos industriais é trabalhada juntamente com os métodos investigativos de análise visual do contexto ambiental.

A adaptação da metodologia projetual de produtos associada à análise visual para o desenvolvimento de equipamentos urbanos se justifica pelo impacto perceptivo, paisagístico e funcional dos elementos em um espaço pertencente e caracterizado como meio urbano. Estes espaços possuem usos e atividades programáticas que são destinadas e levadas a cabo por uma gama diversificada de usuários que freqüentam um lugar e contextos específicos, e que possuem necessidades distintas, porém muitas vezes comum a todos os cidadãos.

O compromisso do Design Urbano caracteriza-se pelo estudo do espaço urbano não como um objeto isolado, mas integrado a todas as atividades existentes relacionadas à configuração do espaço estudado. Segundo Alexander (1977), os problemas de design, mais do que de ordem projetual, são de natureza contextual.

Este estudo tem o objetivo de, através da análise da imagem urbana do contexto avaliado, nortear os requisitos para o desenvolvimento de elementos de mobiliário urbano adequados ao contexto urbano estudado.

Ambiente, elementos e contextualização

A praia de Boa Viagem é um dos cartões postais do Recife e

também seu lugar de mais elevado índice de alta renda. Hoje, a infra-estrutura da orla com a avenida e o calçadão envolve estacionamentos e quiosques de água de coco; áreas de lazer como quadras de tênis, basquete e futebol; pistas de cooper, skate e patins; e equipamentos de ginástica. Nos últimos anos o espaço vem sofrendo intervenções como à construção dos banheiros públicos e da academia da cidade, programa

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implantado em toda a cidade como política de promoção à saúde, disponibilizando equipamentos adequados à prática de exercícios físicos e aulas de ginástica para os cidadãos em geral.

No caso da ciclo-faixa, os recifenses passaram a contar com o primeiro trajeto específico para ciclistas em setembro de 2004. Trata-se da Ciclovia Orla, no bairro de Boa Viagem, por onde circulam cerca de

1.460 bicicletas por dia3. Sua extensão vai do primeiro jardim de Boa Viagem até o girador no fim da Avenida Brasília Formosa, ver mapa abaixo.

FIGURA 01: Mapa da extensão da ciclovia da Orla de Boa Viagem.

Disponível em: http://maps.google.com.br/maps. Acessado em julho de

2007.

Em 2007, foi aprovado o Projeto Orla no qual cerca de R$ 18

milhões estão sendo investidos num novo planejamento urbano em toda a extensão da orla - aproximadamente oito quilômetros. O projeto inclui intervenções na área de calçadas, iluminação, quadras, playground, quiosques, pista de cooper, ciclo-faixa e estacionamentos.

A prefeitura da cidade prevê um novo planejamento para a ciclo-faixa, separando-a fisicamente da pista de automóveis tornando-a ciclovia que deverá ser implantada em toda a extensão da Avenida Boa Viagem.

Com o aumento do percurso, o uso de bicicletas se expandirá por toda a via, entretanto, o Projeto Orla não disponibiliza proposta para implantação de bicicletários naquele local.

Para os ciclistas, atualmente não existem condições seguras e adequadas para deixarem suas bicicletas enquanto trabalham, praticam exercícios ou utilizam a praia como banhistas devido a roubos e furtos de suas bicicletas ou partes dela. Por isso, durante a pesquisa de campo se observou o constante uso de árvores, postes, orelhões e chuveiros públicos como suportes alternativos.

Assim sendo, o estímulo ao uso de bicicletas proposto pelo Projeto Orla, bem como a aplicação da metodologia projetual do design para desenvolvimento de equipamentos urbanos a fim de configurar

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adequadamente os espaços que satisfaçam o público em suas necessidades de uso, conduziram a consecução deste trabalho. Análise da orla

Os referênciais imagéticos da orla são formados pela Praça de Boa Viagem, onde se localizam a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem e a feira de artesanato, os três Jardins, pontos de referência, os arrecifes e os altos prédios de luxo (ver figs. 02).

FIGURA 02: Praça de Boa Viagem. Primeiro Jardim. Recifes naturais e

barreira de prédios. Fotografias por Ana Carolina de M. A. Barbosa em

junho de 2007. Orla da Praia de Boa Viagem, Recife – PE.

Boa Viagem é uma orla urbana na qual se destacam os altos

investimentos em construções residenciais. O conjunto de prédios origina uma barreira física e visual criando um elemento bastante perceptivo no contexto paisagístico daquele local, adquirindo um valor imagético.

Além disso, o comércio e o lazer são voltados não apenas ao turismo, mas também, e, principalmente, aos habitantes e freqüentadores daquele sítio, sendo o calçadão formado por elementos de descanso, de lazer e de contemplação de uso. Análise dos equipamentos urbanos da orla

Os equipamentos urbanos da orla foram analisados a fim de se observar seus aspectos funcionais, e em especial, a inter-relação entre eles, a paisagem e o contexto. Analisar o equipamento urbano conjuntamente ao entorno facilita a compreensão dos aspectos configuracionais envolvidos nos equipamentos e na sua disposição no local.

A orla, no geral, dispõe de elementos de iluminação, de rede elétrica, de limpeza, de comunicação, comerciais e de descanso. Existem ainda telefones públicos, golas de árvores, brinquedos; equipamentos para ginástica, pistas e quadras esportivas, banheiros públicos, chuveiros e postos salva-vidas.

Os banheiros públicos, chuveiros e postos salva-vidas seguem características visuais similares, uma vez que são equipamentos de grande porte super-dimensionados para seu uso, utilizanado cores saturadas em sua composição e possuem predominantemente um sentido vertical, relacionado à verticalidade presente nas edificações da orla. O

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posicionamento deles, em relação ao calçadão atrapalha a circulação dos pedestres que não estão praticando cooper.

Alguns dos equipamentos urbanos implantados por não atenderem corretamente às demandas e usos aos quais deveriam corresponder, como por exemplo, os chuveiros e o bicicletário, acabam tornando-se elementos praticamente sem uso efetivo. Por conta disso, criam-se adaptações por força da necessidade. Os barraqueiros instalam chuveiros gratuitos na areia da praia para atender as solicitações dos clientes. E os ciclistas estacionam suas bicicletas junto a postes, árvores e telefones públicos, como já foi mencionado anteriormente.

Outro elemento que não é utilizado são os postos salva-vidas. Trata-se de equipamentos construídos na década de 50 que se tornaram estruturas com valor mais histórico para aquele local, do que prioritariamente funcional. Atualmente os salva-vidas trabalham na areia da praia com aparelhamento móvel e leve que facilita o desempenho da sua atividade profissional.

Convém salientar que os elementos urbanos que caracterizam a Praia de Boa Viagem são os quiosques de água de coco, as lixeiras, que também funcionam como painéis publicitários, e os bancos ou guarda-corpos (ver fig. 03).

FIGURA 03: Quiosque de água de coco e lixeira. Fotografias por Ana

Carolina de M. A. Barbosa em junho de 2007. Orla da Praia de Boa

Viagem, Recife – PE.

Observa-se que a aparente verticalidade na maioria dos

equipamentos urbanos relaciona-se visualmente com as edificações da Avenida Boa Viagem, pois, trata-se de prédios - em sua grande maioria – com alturas maiores que larguras.

Apesar de o conceito vertical ser condizente com as edificações, alguns equipamentos como os banheiros públicos, os chuveiros e os postos salva-vidas, juntamente com a excessiva quantidade de postes, causam uma desordem visual que interfere e confunde a paisagem. Com isso, vão de encontro às peculiaridades do contexto, principalmente em relação às funções de descanso e contemplação do local (ver fig. 04).

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FIGURA 04: Desordem visual causada pelo excesso de equipamentos

urbanos. Fotografia por Ana Carolina de M. A. Barbosa em dezembro

de 2007. Orla da Praia de Boa Viagem, Recife – PE.

Aspectos configuracionais e simbólicos do lugar

Para Lynch (1960: 1) o homem se comunica através da

construção do sentido em nossas mentes e este processo possui fases distintas: percepção, seleção e atribuição de significados, ação e memorização. Através dessas fases determinaram-se os aspectos simbólicos e estéticos relevantes para o projeto, estudando, por fim, os elementos configuracionais que atribuem significados à orla da praia de Boa Viagem.

A ocupação da praia se manifestou através do interesse de poucas famílias pioneiras que a ocupavam inclusive com casas de veraneio. Bem depois que a cidade já se encontrava urbanizada, em 1920, e cedendo a pressões políticas das burguesias, é o que o estado introduz melhorias na infra-estrutura viária e, mais tarde, na de saneamento e de comunicações.

A Avenida Boa Viagem, inaugurada no governo de Sérgio Loreto, em 20 de outubro de 1924, é uma via que marcou a urbanização do local, tornando a orla não só a mais famosa do Recife, como também, referência de modernidade do país. Já na década de 1970, a orla oceânica recifense começou a se transformar em local de residência permanente das camadas de alta renda.

A respeito da Avenida Boa Viagem MOREIRA apud VILLAÇA (2001: 111), afirma que: “A Avenida Boa viagem é um exemplo bem claro de como as elites procuravam a todo custo modernizar a cidade”. Assim sendo, a partir daquele momento, o mar passa a ser incorporado à cidade do Recife como signo definitivo da modernidade, criando uma identidade entre a orla e as elites.

Hoje, a praia de Boa Viagem, como qualquer espaço público, é um ambiente exterior, aberto, público, de uso comum, tanto no sentido real, físico, quanto no sentido simbólico, onde o espaço exterior é o da liberdade. O local é associado a alguns acontecimentos singulares da cidade, como campeonatos de esporte de praia, shows de abertura do verão, carnaval e reveillon, sendo um espaço público onde as pessoas costumam passar o tempo, desfrutando a paisagem ou se divertindo e praticando esportes na areia e nas quadras poli-esportivas. É um local prioritariamente de descanso para os banhistas; já para os comerciantes, de trabalho.

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As edificações atualmente construídas na orla são baseadas em vários estilos contemporâneos, como o high tech e o minimalista, por exemplo. Ou seja, os projetos arquitetônicos são voltados para utilização de materiais associados à indústria de alta tecnologia da década de 1980 e 1990, empregando materiais e tecnologias diversas e de ponta, como o revestimento metálico, vidros e pedras ornamentais, aliadas a simplicidade formal com linhas retas e predominância de formas geométricas, resultando, na maioria, em prédios com formato de paralelepípedo com largura e profundidade desproporcionalmente menores que a altura.

Grande parte das edificações com arquiteturas remanescentes da década de 50 e 60 foi substituída pelos prédios de luxo, com exceção de algumas casas, tombadas pelo Patrimônio Histórico, assim como a Praça de Boa Viagem e os Três Jardins, os quais sofreram reformas que interferiram no projeto original. Com isso, nota-se que a orla não se constitui de consideráveis apelos históricos em sua composição.

O Recife é a cidade do Frevo, ritmo tradicional do estado que completou 100 anos em fevereiro de 2007. O centenário foi utilizado como aspecto simbólico principal para o desenvolvimento do novo Projeto Orla, encontrado principalmente no desenho dos novos postes baseados em sobrinhas de frevo.

Conhecida como “Veneza Brasileira”, é no Recife que está o encontro dos Rios Beberibe e Capibaribe, por isso, a cidade é cortada por pontes históricas e ornamentais, além disso, é cheia de ilhas e mangues que dão a sua geografia um forte aspecto simbólico.

Entre outras manifestações culturais da cidade, a diversidade musical vem se destacando, sobretudo após o resgate de sons regionais misturados com a música pop, valorizando o som regional/local. Trata-se do Movimento Mangue Beat que enfatiza ritmos locais como o Maracatu, o Coco, o Forró e a Ciranda. Assim, o Recife se consolida como um centro aglutinador e disseminador de novas e tradicionais tendências culturais.

O bairro de Boa Viagem não possui em sua composição elementos que identifiquem estas características multiculturais da cidade do Recife. Portanto, considera-se o bairro como independente, não só em termos simbólicos, pela arquitetura dos seus edifícios e seus elementos urbanos, como também, comercial e socioeconômico.

Por fim, no que se refere à memória coletiva dos freqüentadores daquele local, vale salientar que os principais elementos configuracionais e simbólicos que guiaram a geração de conceitos do bicicletário neste trabalho, foram a paisagem litorânea e alguns aspectos que fazem referência aos estilos contemporâneos da orla, tais como; a simbologia histórica de modernidade da avenida; e à cidade em si, como aspectos estéticos que remetam à diversidade cultural, musical e arquitetônica. Análise Visual

Devido a grande extensão da orla estudada, foi definido um recorte geográfico específico para conduzir a análise visual daquele lugar. Seleciou-se o trecho nas imediações do Edifício Acaiaca na

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Avenida Boa Viagem para estudar seus usos, funções, necessidades e características contextuais que pudessem auxiliar na criação e implantação do produto proposto. Trata-se da região com a maior concentração de pessoas da orla, além de ser uma referência espacial, uma vez que o prédio é um dos poucos com arquitetura remanescente da década de 60 existentes na Avenida.

Vale ressaltar que os equipamentos urbanos dispostos em toda a extensão da Orla da Praia de Boa Viagem se repetem, tanto em termos quantitativos quanto estruturais e formais, numa seqüência quase que constante desses equipamentos, bem como das distâncias entre eles. Portanto, a delimitação física para este estudo objetivou a eficácia da implantação do projeto em outros locais da orla.

A delimitação física teve por objetivo obter um maior controle sobre a observação da configuração espacial do local, facilitando a análise da relação estética e funcional do produto proposto e dos existentes, assim como o estudo de sua implantação e viabilidade de uso no que diz respeito à configuração ambiental local. Considerou-se também o posicionamento do bicicletário projetado em relação à circulação dos pedestres e os outros equipamentos urbanos dispostos naquele local e contexto específicos.

A partir disso, realizou-se uma análise visual com o objetivo de estudar algumas especificidades relevantes do local, tais como: deslocamento, temporalidade, solo e vegetação. Outras destas modalidades de análise foram consideradas anteriormente, avaliando toda a extensão da orla, como os equipamentos urbanos, e a forma arquitetônica. Deslocamento

Foi realizada uma análise de observação em diversos sentidos do espaço delimitado, com o objetivo de distinguir os ângulos de visualização mais representativos. O observador posiciona-se nos pontos A, B, C e D como representados no esquema que segue (figs. 05, e 06).

FIGURA 05: Esquema representativo do posicionamento do observador.

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FIGURA 06: Espaço de estudo representado em diferentes ângulos de

visualização. Fotografias por Ana Carolina de M. A. Barbosa em junho

de 2007. Orla da Praia de Boa Viagem, Recife – PE.

Os pontos A e B possuem as mesmas características visuais

formadaS pela composição contínua e repetitiva dos elementos da orla, como: prédios, carros, coqueiros, postes, calçadão e equipamentos de ginástica. Com relação ao ponto C, observa-se uma configuração completamente diferente das demais, uma vez que sua composição é formada por uma seqüência de elementos horizontais como a via, o calçadão, o banco e o mar, além da vegetação que funciona como uma barreira visual da paisagem. No caso do ponto D a característica mais forte é a barreira física e visual formada pelas edificações da Avenida Boa viagem.

De acordo com o trajeto percorrido na observação do meio, pode-se concluir que o local é regular, porém, com complexidades visuais já que se trata de um mesmo espaço com características naturais e urbanas. Temporalidade

Em seguida, realizou-se uma pesquisa de campo em dias e horários distintos (figs. 07 e 08). Esta análise de temporalidade teve como finalidade estudar as interferências configuracionais provocadas pelos efeitos temporais, considerando o tempo como parte integrante da análise. Os estudos foram realizados com o observador posicionado em frente ao Edifício Acaiaca.

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FIGURA 07: Quinta-feira, 22 de novembro de 2007. Fotografias por

Ana Carolina de M. A. Barbosa em junho de 2007. Orla da Praia de

Boa Viagem, Recife – PE.

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FIGURA 08: Quinta-feira, 22 de novembro de 2007. Fotografias por

Ana Carolina de M. A. Barbosa em junho de 2007. Orla da Praia de

Boa Viagem, Recife – PE.

A visualização dos elementos da orla possui maior contraste de

figura e fundo, e com isso, maior visibilidade, nos horários da manhã como os pedestres, a vegetação e os equipamentos urbanos como postes, lixeiras, orelhão e anúncios publicitários. Nos horários da noite, enfatizam-se os elementos iluminados, como os quiosques de água de coco, os carros e os postes com luminárias.

Com relação aos dias em que o local foi estudado, observa-se prioritariamente a mudança da ocupação do espaço. No domingo à tarde Na orla, não só aumenta consideravelmente a circulação de banhistas, como também a de vendedores ambulantes.

Os três horários escolhidos para a análise visual são considerados os de maior movimento de carros No local nos dias de semana. O tráfego é mais intenso na quinta-feira do que no domingo.

No domingo, nota-se, ainda, a diferença da circulação de automóveis na avenida entre o horário da manhã, com pouco movimento; em comparação com os da tarde e da noite, maior número de carros e motos estacionados e trafegando.

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Solo e vegetação

Com relação ao solo do local, trata-se de uma superfície plana retilínea. Os estudos foram realizados antes do término do Projeto Orla, iniciado pelo trecho do Pina, onde o piso em pedra portuguesa está sendo substituído por calçamento com módulos intertravados de cores variadas (ver fig. 09). A largura da calçada varia de cerca de 4 a 8 metros.

FIGURA 09: Representação gráfica do piso que está sendo implantado

na Orla de Boa viagem com calçamento intertravado. Disponível em:

http://www.skyscrapercity.com. Acessado em agosto de 2007.

A vegetação do local delimitado para análise é basicamente

formada por uma cobertura vegetal de coqueiros e árvores que projetam extensas áreas de sombras na calçada. As espécies vegetais se repetem periodicamente ao longo de toda a extensão da orla. A maioria das árvores está disposta nas proximidades do banco/guarda-corpo e do meio-fio, porém algumas se posicionam no local de circulação de pedestres (ver fig. 10).

FIGURA 10: Vegetação da orla. Disponível em: http://www.flickr.com.

Acessado em agosto de 2007.

O projeto de substituição do calçamento da Orla se justifica pela

irregularidade das pedras portuguesas que torna desconfortável a caminhada das pessoas. Porém, esta irregularidade ocorre devido à implantação das pedras que foram feitas de forma inadequada, sem o devido acabamento de planificação. Além disso, segundo a URB, as pedras serão substituídas por calçamento intertravado para facilitar a manutenção do piso, uma vez que as pedras quebram com facilidade e sua reposição requer minuciosos trabalhos de manuseio.

O posicionamento da vegetação do local atrapalha a circulação das pessoas no calçadão, porém, permite maior contato físico delas com o meio natural. Os altos coqueiros, apesar de dificultarem a visualização da praia e do mar, compõem a paisagem funcionando como molduras

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naturais, isto ocorre apenas para o observador que está posicionado nos prédios, na avenida, ou no calçadão.

Conclusões

O método utilizado propõe uma combinação de princípios e conceitos tanto de observação quanto de análise, com o objetivo de apreender as diversas interfaces do problema envolvidas na configuração de um produto voltado a utilização no meio urbano. Entende-se que são reduções de um todo complexo e que esta é uma das possibilidades encontradas para se efetivar a análise desejada e revelar como ocorre a relação entre os diversos fatores envolvidos.

Algumas modalidades complementares das três categorias de análise do método foram aplicadas ao estudo de caso referente à Orla da Praia de Boa Viagem, tais como: deslocamento, temporalidade, orientação da forma, solo, forma arquitetônica, vegetação e forma dos equipamentos. Estas categorias estudadas, associadas, revelaram aspectos diferenciados da relação formal dos equipamentos urbanos com o meio ambiente.

O método de observação e análise permitiu gerar algumas conclusões que conduziram a definição dos requisitos projetuais de maneira mais adequada a geração de soluções voltadas aos usos e necessidades daquela orla específica.

A solução final obtida é o resultado da combinação de princípios metodológicos aplicados ao desenvolvimento de produtos industrializados, mais que neste caso específico, leva em consideração características peculiares aos elementos do equipamento urbano de acordo com um contexto e local determinados.

O bicicletário foi desenvolvido como um elemento configuracional que compõem harmonicamente o ambiente. Porém, seguiu aspectos estéticos e simbólicos distintos dos equipamentos existentes, uma vez que, de acordo com as análises, foram considerados inadequados às características paisagísticas do local por causarem desordem visual.

O produto seguiu o principio da modularidade em sua estrutura, com os encaixes para os pneus em módulos, assim como a maioria dos equipamentos do local. A altura do bicicletário e a disposição dos módulos foram determinadas de forma que não funcione como barreira visual, levando-se em consideração o campo de visão do usuário posicionado na ciclovia: 15º para cima e 45º para baixo.

Os sistemas funcionais do produto são de baixa complexidade na sua configuração. O bicicletário possui sistemas de encaixe e trava adaptáveis à estrutura da bicicleta e sua configuração geral, a fim de evitar/dificultar furto da bicicleta ou de suas partes.

A estrutura do produto possui elementos configuracionais que estabelecem relações perceptivas com os aspectos culturais e simbólicos existentes no local, tais como: o formato do produto segue o conceito vertical dos edifícios da avenida e dos altos coqueiros, e o uso do aço inoxidável em sua estrutura é condizente com os estilos contemporâneos da orla.

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O produto propôs uma disposição retilínea dos módulos para promover a utilização racional e organizada do espaço onde será implantado, uma vez que o espaço de circulação de pedestre varia de 4 a 6m de largura do calçadão, além dos outros equipamentos dispostos no local. Referências

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